quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

LULA E O CASO ROSE

Um mês depois de revelado o escândalo, Lula continua fugindo de perguntas sobre o caso Rose. Logo saberá que é impossível escapar de quadrilheiras de estimação



O berreiro dos cardeais, os uivos dos apóstolos, a choradeira dos devotos, as lamentações das carpideiras ─ nada disso vai adiantar. Nenhuma espécie de chilique da seita lulopetista impedirá que o mestre seja obrigado a quebrar a mudez malandra. Desde 23 de novembro, quando a Operação Porto Seguro tornou nacionalmente conhecida uma certa Rosemary Noronha, Lula foge de comentários sobre a quadrilheira de estimação. O silêncio que começou há mais de um mês pode até estender-se por duas, três semanas. A trégua do Ano Novo ajuda. Mas o ex-presidente não escapará da hora da verdade.

A menos que todos os jornalistas resolvam perder definitivamente a voz, o homem que nunca sabe de nada será confrontado com perguntas e cobranças que exigirão álibis menos bisonhos e respostas mais criativas. Se repetir, por exemplo, que se sente “apunhalado pelas costas”, Lula se arriscará a ouvir de volta uma desmoralizante gargalhada nacional. Se confirmar que “não se surpreendeu” com o que houve, como balbuciou em Berlim, terá de ser menos ambíguo: não se surpreendeu com as gatunagens de Rose, com o atrevimento do bando, com a eficiência da Polícia Federal ou com o quê?

O colecionador de escândalos já deveria ter aprendido que nenhuma patifaria de grosso calibre deixa de existir ou fica menor só porque o protagonista da história finge ignorá-la. Atropelado pelas apurações da PF, passou as duas primeiras semanas enfurnado no Instituto Lula, de onde só saiu para uma festa no Rio e uma discurseira para catadores de papel em São Paulo. Sempre cercado por muros humanos, não concedeu aos repórteres um único segundo de sua preciosa atenção. Depois, viajou para longe do Brasil e passou uma semana driblando jornalistas com saídas pelos fundos e escapadas pela cozinha. Para quê? Para nada.

Se já era de bom tamanho quando partiu, a encrenca ficara um pouco maior quando voltou. Indiciada pela Polícia Federal, Rosemary Noronha foi em seguida denunciada pelo Ministério Público por formação de quadrilha, corrupção passiva, tráfico de influência e falsidade ideológica. Entre os comparsas incluídos na denúncia figuram os irmãos Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Rubens Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e Marcelo Vieira, que vive de expedientes. Os três bebês de Rosemary são os líderes da máfia dos pareceres técnicos forjados.

Os lucros da organização criminosa aumentaram extraordinariamente depois do recrutamento da chefe de gabinete do escritório paulista da Presidência. Rose apresentava-se aos interlocutores conforme o grau de intimidade. Para os íntimos, era a mulher do Lula. Para o resto, a namorada do presidente. Nas reuniões com subordinados, declamava o primeiro verso do hino dos novos-ricos: “Aqui tudo é chique”. Parecia-lhe especialmente chique a decoração do escritório na esquina da Paulista com a Augusta. Numa das paredes, um imenso pôster mostra Lula (com a camisa do Corinthians) batendo um pênalti.

Enquanto esteve acampada na casa da filha Mirele, também demitida da Anac, Rose pôde contabilizar os estragos causados pela brusca tempestade. De um dia para o outro, perdeu o emprego oficial, o posto de primeira-dama oficiosa, o escritório, o salário superior a R$ 10 mil, os amigos e o namorado. Acabou a vida mansa proporcionada pelos lucros da quadrilha. Acabaram as viagens internacionais ou mesmo domésticas: excluída das comitivas presidenciais desde a posse de Dilma Rousseff, agora não pode sequer sonhar com outro cruzeiro no mar de lhabela, ao som da dupla sertaneja Bruno e Marrone.

Sempre à beira de um ataque de nervos, Rose acha que os companheiros do PT não lhe estenderam a mão na hora da tormenta. É uma caixa-preta até aqui de mágoa. Tão perigosa quanto Paulo Vieira, que anda sondando o Ministério Público sobre as vantagens da delação premiada. Nesta segunda-feira, a sindicância aberta pelo Planalto para apurar o envolvimento de funcionários públicos com a quadrilha foi prorrogada por dez dias. Talvez dê em nada. Mas o processo judicial começou a andar. E o desfecho do julgamento do mensalão avisou que ninguém mais deve considerar-se condenado à perpétua impunidade.

Nos escândalos anteriores, havia entre Lula e os meliantes em ação um comando formado por companheiros ─ que funcionou como um oportuníssimo airbag na hora do estrondo. Desta vez nâo há intermediários entre o candidato a inimputável e a turma da delinquente que protege há quase 20 anos. As impressões digitais do ex-presidente estão por toda parte. Foi Lula quem instalou Rosemary Noronha no gabinete em São Paulo e pediu a Dilma que a mantivesse no cargo.

Foi Lula quem, a pedido de Rose, transformou os irmãos Vieira em diretores de agências reguladoras. Sem Lula, Rose não se teria juntado à comitiva presidencial em 23 viagens internacionais. Sem Lula, uma alpinista social de subúrbio jamais teria feito carreira como traficante de influência. Era Lula a fonte de poder da quadrilha, que não teria existido sem ele. Pouco importam os balidos do rebanho, a vassalagem dos governadores ou as genuflexões de Dilma Rousseff (que conhecia muito bem a representante da Presidência em São Paulo).

Rose é um caso de polícia criado por Lula. Todos são iguais perante a lei. Ele que trate de encontrar explicações ─ se é que existe alguma. Por: Augusto Nunes

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

MARKETING INFANTIL - O BODE EXPIATÓRIO DA VEZ


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Foi-se o tempo em que burocratas passavam o tempo procurando pêlo em ovo. A moda agora é passar o tempo procurando brinquedo em guloseima. E encontraram.

Um projeto do deputado Rui Falcão (PT), que proíbe a venda de alimentos e bebidas com inclusão de brinquedos promocionais e impede a veiculação de comerciais publicitários, entre 6h e 21h, de alimentos e bebidas pobres em nutrientes, foi aprovado pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Isso significa que propagandas de lanches, balas, chocolates e afins serão reservadas aos horários a que apenas adultos podem assistir; e que, na próxima Páscoa, os brinquedinhos dentro dos ovos de chocolate deverão ser substituídos por alguma outra coisa não tão divertida, como um figo, por exemplo. O projeto caminha para o endosso final do governador tucano.

O raciocínio desses legisladores reside na alegação de que a obesidade infantil é uma questão de saúde pública, de que alimentos ricos em açúcar, sal e gordura ajudam no ganho de peso de crianças, e de que, portanto, a criação de estímulos de venda para tais produtos é um desfavor à sociedade. A solução seria regular, reprimir e controlar o mercado.

Ao que tudo indica, mais uma vez — e na calada da noite —, os teóricos de gabinete, aqueles que decidem o que é o homem e como as pessoas devem pensar e agir, que tempos atrás proibiram a sacolinha plástica de mercado, o sopão dos pobres, o ovo com gema mole, agora encontraram mais um bom filão para justificar seus salários, e mais uma vez sem que a maioria saiba. A decisão desce com a força do carimbo; e aquilo que antes se podia fazer, e que nem o padre dizia que era errado, torna-se crime do dia para a noite.

Apesar do assunto interessar a pais, filhos e famílias em geral, o teor de tal projeto não foi alvo de debate na sociedade civil. Ele simplesmente foi decidido e pronto. E essa recusa em ouvir o que os verdadeiros responsáveis pela saúde das crianças — os pais — têm a dizer sobre a questão carrega uma mensagem perturbadora, cada vez mais frequente e sintomática: é o estado — e não os pais, a família — quem sabe o que é melhor para as crianças. É o Estado quem sabe e determina quais valores, qual imaginário, qual educação, qual alimentação as crianças devem seguir. Exagero? Não acredito.

É óbvio que nenhum pai deseja seu filho correndo risco de saúde por causa da obesidade, e que, se sentindo impotente e confuso diante de tal hipótese, acabe mesmo é por agradecer a existência de um estado que lhe diga que está aí para facilitar a sua vida.

Mas a questão é muito mais complexa do que simplesmente brinquedos ou propaganda de guloseimas, que sempre existiram. A sociedade de hoje, especialmente nas grandes metrópoles, se tornou hostil a uma vida saudável para nossas crianças. A busca por estabilidade econômica muitas vezes leva os pais a deixarem seus filhos sem sua companhia por longos períodos, e estes acabam preenchendo seu tempo na TV ou na internet.

O medo da violência impede que as crianças façam como eu, na minha infância, e saiam pelas ruas e parques desacompanhados para soltar pipa, pedalar, jogar bola e gastar energia. A falta de tempo inclina ao consumo de produtos industrializados, mais práticos, mas também menos saudáveis do que a comida fresca e balanceada que o brasileiro sempre aprendeu a comer. Diante de uma conjuntura que torna a obesidade infantil uma hipótese cada vez mais real, chega o estado com sua singular vocação para se capitalizar politicamente.

Poucos percebem a artimanha barata de associação de uma causa aparentemente boa com uma alegação torta e que, no fundo, trata da busca de vantagens políticas.

Quem iria se levantar contra um projeto que, para todos os efeitos, visa a proteger criancinhas? Quem está disposto a correr o risco de ser rotulado como promotor da obesidade infantil? Ninguém. E é por isso que tal projeto ganha relevância política ainda maior. A criança aqui, na realidade, não passa de um escudo, um instrumento para a promoção e expansão do estado sem limites, aquele estado já chamado, mais de uma vez, de estado-babá.

O estado-babá, que não é bobo e percebe, graças aos seus instrumentos de controle social (IBGE etc.), que os pais estão cada vez mais distantes de seus filhos, e que, portanto, têm cada vez menos autoridade dentro de casa, identifica um bode expiatório e associa sua destruição à solução do problema que apavora os pais. O lanche com brinquedo e a propaganda seriam então os culpados da vez.

É aí que entra a terceirização da culpa, analgesiando a mente desses pais que, se sentindo aliviados depois de comprarem seus filhos com um "sim" a tudo que desejam, devolverão sua gratidão em forma de votos à manutenção do poder arbitrário do estado.

Pela simples razão de que a verdade muitas vezes incomoda e quem incomoda não recebe votos é que o estado-babá sempre dará preferência à terceirização da culpa — e não à exposição da verdade.

Lembrar aos pais que a responsabilidade sobre a obesidade de seu filho pertence a eles mesmos, que aos pais cabe a decisão de ter ou não ter uma TV em casa, de que o controle do dinheiro da família não é da criança, e que, portanto, não há possibilidade de um filho se encher de gordura sem que o pai não tenha de alguma forma permitido tal lambança, pelo fornecimento de capital e pela falta de autoridade, seria inconveniente e impopular. Seria sincero demais.

Se políticos acreditassem mesmo que a propaganda que promete mais do que entrega é intrinsecamente má, também proibiriam a propaganda eleitoral, que já ajudou tantos brasileiros ignorantes — às vezes com menos instrução do que crianças — a colocar no comando do estado ladrões, fraudadores e quadrilhas que usam o poder que conquistam na base da mentira para extorquir o próprio eleitorado enganado.

Se políticos acreditassem mesmo que as crianças são instrumentalizadas pela lógica do mercado e são pobres vítimas de interesses escusos, também proibiriam candidatos segurando crianças em seus colos durante o período eleitoral, beijando testas de bebês, vendendo, por meio de comerciais e santinhos, a imagem falsa de amigos do povo, capaz de atrair a simpatia da gente inocente e de seus votos confiantes.

Não, não se trata da defesa dos direitos da criança. Trata-se, mais uma vez, da diminuição da liberdade do cidadão, do enfraquecimento da autoridade dos pais, da ingerência estatal no livre mercado e na mídia, da pulverização das responsabilidades individuais, do fortalecimento e da expansão do aparato estatal sobre as consciências e sobre toda a sociedade. Isso é que é venda casada.
Silvio Medeiros é publicitário e quatro vezes ganhador do Festival Internacional de Publicidade de Cannes.

INUDÚSTRIA PAGA POR SERVIÇOS DO ESTADO


Indústria desembolsa R$ 7,5 bilhões por ano para bancar serviços públicos


SÃO PAULO - Além de arcar com o peso excessivo da carga tributária sobre seus custos, a indústria se vê obrigada a desembolsar R$ 7,5 bilhões por ano para bancar serviços de saúde, previdência e assistência aos funcionários, cuja atribuição é do Estado. O custo desses serviços, segundo pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), eleva em 0,96% os preços do setor, prejudicando tanto o consumidor quanto o produto brasileiro, que perde espaço para a concorrência internacional.
Pesquisa mostra que indústrias bancam serviços no lugar do governo

"O problema é que o governo brasileiro arrecada muito e gasta mal o dinheiro dos impostos", diz o diretor do departamento de competitividade e tecnologia da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho, responsável pela pesquisa, que ouviu 1,2 mil empresas do setor.

O executivo argumenta que o País tem uma das cargas tributárias mais altas do mundo, mas não oferece serviços de qualidade ou suficientes, como contrapartida, na maioria das áreas. Diante desse quadro, os gastos com esses serviços acabam saindo do bolso do contribuinte, o que representa um peso extra na carga tributária.

"As empresas oferecem serviços que deveriam ser financiados com recursos tributários, porque consideram importante para melhoria na qualidade de vida e bem estar dos funcionários, o que resulta em melhor desempenho das atividades profissionais", ressalta Roriz Coelho.

Somente com planos de saúde, a indústria de transformação gasta R$ 6,44 bilhões anuais, o equivalente a 0,38% do faturamento do setor. Os serviços oferecidos pelas empresas também contemplam planos odontológicos, subsídios para aquisição de medicamentos e serviços diversos para prevenção de doenças, o que representa ônus de R$ 647 milhões por ano, ou 0,038% do faturamento.

As empresas do setor também arcam com despesas com planos de previdência privada, com intuito de complementar a aposentadoria da previdência social oficial (INSS) dos funcionários, e com auxílio creche e berçário. Esses gastos, no montante de R$ 354 milhões , correspondem a 0,02% do faturamento anual da indústria.

No total, os gastos com serviços de saúde, previdência e assistência atingem R$ 7,5 bilhões por ano, o que representa 0,44% do faturamento. Esse dinheiro, segundo a Fiesp, teria sido suficiente, por exemplo, para elevar o investimento do setor de 7,29% para 7,73% do faturamento em 2011, o que abriria espaço para a criação de 120 mil postos de trabalho na economia.

Impacto. O impacto do custo desses serviços varia consideravelmente no mundo. Um relatório da KPMG indica que o Brasil tem a maior taxa porcentual de custos trabalhistas não previstos em lei entre 14 países analisados (ver tabela). Esses custos incluem os gastos com plano de saúde, dentre outros.

No Brasil, esses benefícios representam 32,7% do custo de trabalho total, cuja média anual é de US$ 53,9 mil por trabalhador. Na Austrália, que tem a menor taxa entre os países pesquisados, a proporção é de 9,2% para um gasto total médio por trabalhador de US$ 103,7 mil por ano.

O diretor da Fiesp observa que, se paralelamente observarmos a carga tributária em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a brasileira é a quinta mais elevada na amostra da KPMG. "Logo, essa carga não é direcionada para atender adequadamente os serviços públicos que a sociedade brasileira necessita, fazendo com que as empresas paguem, por exemplo, planos de saúde para mitigar a deficiência estatal", diz Roriz Coelho.

A indústria de transformação respondeu por 33,9% do total da carga tributária em 2010, enquanto sua participação no PIB foi de apenas 16,2%, ressalta o executivo."O efeito disso é que 40,3% do preço dos bens industriais se deve a impostos." Por: Marcelo Rehder - O Estado de S.Paulo

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O ANO EM QUE KEYNES VOLTOU

A intensidade da crise econômica que, apesar de estar entrando em seu sexto ano, ainda domina a maior parte do planeta tem consolidado as chamadas terapias monetárias heterodoxas por parte dos bancos centrais de vários países. Ainda agora o Federal Reserve nos Estados Unidos (Fed) alterou - mais uma vez - os parâmetros para sua atuação ao vincular sua política de juros à recuperação na taxa do desemprego. Foi mais longe ainda ao elevar a meta para a inflação limite - agora 2,5% ao ano - que, se atingida, forçaria uma reversão na política monetária acomodatícia que prevalece há alguns anos.


O leitor pode imaginar os murmúrios e imprecações que devem estar sendo ouvidos nos corredores das instituições financeiras de Wall Street depois dessas decisões. Os marcos mais importantes que orientavam a atuação do Fed foram abandonados progressivamente nos últimos anos. A elevação da meta da inflação decidida agora representa um verdadeiro tapa na face dos conservadores.

No lugar das formas tradicionais de intervenção o Fed criou novos instrumentos de ação. Juros próximos de zero, recompras maciças de títulos públicos, linha de tempo para marcar compromissos com mudança de políticas foram os meios usados recentemente para enfrentar a recessão que se instalou na maior economia do mundo. Agora, a mais heterodoxa das medidas de combate ao elevado desemprego - que é a vinculação da política monetária a um nível mínimo de ocupação no mercado de trabalho - surpreendeu.

E preciso esperar um pouco para ver minha tese de recuperação mais sólida em 2013 e 2014 ser comprovada

Mas o mais difícil para os conservadores aceitarem - e que certamente está criando uma profunda melancolia dos velhos tempos - é que a inflação continua se reduzindo e não se acelerando. Afinal, já se vão quatro anos de política de juros baixos e crescimento soviético da quantidade de dólares em circulação nos mercados financeiros e a inflação não aparece. Tomemos o índice de preços ligados ao consumo dos americanos - chamado de PCE - e que é o indicador preferido do Fed para acompanhar a inflação. A taxa anual de variação dessa cesta de preços foi 1,5% em outubro de 2010, 1,6% em outubro de 2011 e 1,4% em outubro passado. Nessa última sexta-feira foram divulgados os índices de inflação relativos ao mês de novembro: apenas 1,8% superior ao do ano passado.

Claramente o Fed é hoje uma instituição totalmente controlada pelos seus membros mais heterodoxos, sob a liderança de Ben Bernanke. Os sucessos obtidos nos últimos anos - recuperação do crescimento e a ausência da inflação tão cantada pelos conservadores - têm aumentado a confiança da equipe na busca de uma vitória final e duradoura sobre a crise econômica que se seguiu à ruptura da bolha imobiliária em 2008. E tenho certeza de que, se o bom senso prevalecer nos partidos Republicano e Democrata, isto será conseguido ao longo de 2013.

Mas a grande vitoriosa, se isso ocorrer, será uma escola de pensamento econômico que tem por tradição uma leitura mais realista e livre das economias de mercado. Ao trocar dogmas rígidos, quase de fundo religioso, por uma metodologia aberta, os keynesianos se encontram em condição mais favorável para exercer sua profissão principalmente em duas situações: no início de períodos dominados pela euforia e durante os momentos em que os sentimentos que prevalecem são o medo futuro e de suas incertezas. Como vem ocorrendo nos últimos três anos.

A partir das primeiras batalhas teóricas de Lord Keynes contra os membros da chamada escola clássica, no início do século XX, essa forma de entender os fenômenos econômicos de mercado foi evoluindo. Depois de décadas no ostracismo, foi resgatada pela crise criada pela febre liberal, que atacou o mundo a partir de 2004. O dramático desses eventos é que foi o próprio Fed, com uma leitura radicalmente oposta à da direção atual, que funcionou como acelerador da crise instalada nas economias mais importantes do mundo. A crença na racionalidade intrínseca dos mercados e na necessidade de deixá-los com suas mãos livres para que o potencial de crescimento das sociedades seja atingido foi a marca dos quatro anos que antecederam a crise imobiliária americana.

Minha formação como economista sempre foi feita seguindo os conceitos e, principalmente, a metodologia de análise dessa escola de pensamento. Mas nunca fui dogmático e sempre procurei raciocinar com liberdade. E neste ano que se encerra, por seguir esses princípios, provei o gosto de muito acertos. O leitor do Valor pode acompanhar essas minhas "vitórias" no caso do colapso do euro, que eu nunca comprei, do "hard landing" na China, que nunca esperei, e da decadência final da economia americana, que nunca enxerguei. No caso do Brasil será preciso esperar um pouco mais para ver minha tese de uma recuperação mais sólida em 2013 e 2014 ser comprovada. Neste caso dependo ainda de que o governo deixe de lado alguns pontos de sua agenda econômica, principalmente o tabu das concessões de serviços públicos.Por: Luis Carlos Mendonça de Barros Valor Econômico

domingo, 23 de dezembro de 2012

O 'EIXO ANTIAUSTERIDADE' FRANCO-BRASILEIRO

"Abaixo a austeridade, viva o crescimento."

Dilma Rousseff e François Hollande (presidente da França) poderiam ter abandonado, na semana passada, o ambiente do Fórum pelo Progresso Social, organizado pela Fundação Jean-Jaurès e o Instituto Lula, para pichar com spray o slogan acima nas ruas de Paris, de onde, desde a queda da Bastilha, são despachadas para o mundo vibrantes palavras de ordem. "A imaginação no Poder!", de 1968, foi das mais bonitas, apesar de destituída de conteúdo prático e de não ter chegado a nenhum resultado.

Mas França e Brasil, com Dilma e Hollande, que, como diria o velho Pasquim, "raciocinam em bloco" - com perdão de Ziraldo, Jaguar & Cia. -, já formaram, segundo o respeitável Le Monde, um formidável "eixo antiausteridade", cuja primeira ação foi a proposta de criar, na ONU, um Conselho de Segurança da Estabilidade Econômica e Social, espelho do atual Conselho de Segurança, do qual o Brasil, não se sabe bem por que, se empenha em fazer parte.

O objetivo da formação desse novo conselho, explicou Hollande - segundo o nosso correspondente Andrei Netto -, é garantir que nenhuma política de reforma econômica seja adotada sem um plano (talvez ele tenha querido dizer sem um estudo) do impacto sobre o aumento do desemprego e da pobreza.

Independentemente do fato de que o que isso garante, na prática, é a impossibilidade da adoção de qualquer reforma econômica, o mais provável é o novo conselho - caso chegue de fato a ser criado, na esteira da enorme força política que Brasil e França já exibiram na ONU - se mostrar tão inoperante quanto o de Segurança. O que não seria uma probabilidade lamentável, já que muito pior seria ele se mostrar operante.

A ideia é sedutora e deverá contar com a adesão antecipada de alguns países como Grécia, Espanha, um pouco a Itália, talvez a Irlanda, Portugal e Argentina. São países que puseram abaixo a austeridade e, por isso, vivem hoje em busca de meios para tentar retomar algum crescimento econômico.

A charada, embutida nos princípios da boa governança, é que a austeridade é que gera os recursos necessários para promover o crescimento econômico saudável. Ora, dadas a ansiedade das sociedades modernas e a urgência com que suas demandas precisam ser atendidas, seu corpo político - e os governos são o corpo político das sociedades - não se dispõe a esperar que a austeridade proporcione os recursos para o crescimento.

Resultado mais imediato de crescimento se obtém com endividamento, o que é uma maneira de sacar, hoje, contra a promessa de austeridade no futuro. Só que, quando chega o momento de essa promessa se cumprir, o governo de plantão não vê por que deva apertar o cinto para cumprir o trato que seus antecessores acordaram. Na verdade, vai adiando, com novos tratos e novos compromissos, a hora da verdade, até que os credores digam "chega!". Como se dizia no tempo em que o Brasil entrou nesse processo: dívida não se paga, rola-se. Bem, rolamos até que não deu mais para rolar, naquele momento de 1982 em que o México se declarou em moratória e os guichês dos empréstimos internacionais se fecharam para todos os países "em desenvolvimento" (ainda não eram chamados de "emergentes").

Mas toda vez que governos de "centro-esquerda", no Brasil com o PT e na França com Hollande, por exemplo, chegam ao poder, torna-se moda jogar pedra na Geni da austeridade e defender as virtudes do crescimento.

No fórum parisiense, Hollande defendeu "uma virada" nas políticas macroeconômicas, com a redução da ênfase em medidas de austeridade e aumento da ênfase em estímulo ao crescimento, geração de emprego e de renda. Não sendo economista, não me aventuro a opinar, pois não sei se isso é possível nem saberia avaliar quais seus efeitos. Só sei que toda política econômica tem dupla face: uma, positiva; e outra, negativa. E o problema é saber qual o saldo líquido.

De qualquer forma, os economistas se dividem há muito tempo entre formalistas e experimentalistas. Os primeiros, orientados by the book, pelo manual; e os outros, pelo desejo de descobrir alguma fórmula que desafie o manual e de algum modo proporcione aquela satisfação especial que seria "comer do bolo e conservá-lo, ao mesmo tempo".

No Brasil do PT tem sido possível, pelo menos até agora, oferecer nacos cada vez maiores do bolo à comilança dos consumidores e fazê-lo crescer. O problema é que o crescimento do bolo tem sido a cada ano menor, sugerindo que, em algum momento, os nacos ofertados ao distinto público também terão de ser menores.

Mas essas são advertências pessimistas. O ministro Mantega, um otimista, que nunca perderá o emprego, porque nunca viu ninguém ser demitido por otimismo, garante-nos que o bolo vai voltar a crescer no ano que vem - e melhor, com nacos maiores sendo ofertados aos consumidores. Tomara!

Já sua chefe, contagiada, promete, da França, a construção de 800 aeroportos e 10 mil quilômetros de ferrovias, no seu governo. Apesar de nada disso ter acontecido em dez anos de PT, acho que esse fervor otimista não se via desde JK - que Deus o tenha! -, quando o Brasil avançou "50 anos em 5". Não foi?
Por: Marco Antonio Rocha O Estadão

O MARXISMO É UM DEFUNTO COM VERMES MAGROS


Houve um tempo que causava frenesi na direita e na esquerda falar a frase “o marxismo está morto”. Hoje é sabido que o marxismo é um cadáver cheio de vermes, ou já nem isso mais, pois os vermes vão embora quando não há mais nada para jantar.

É claro que Marx é um clássico e quem o lê junto com outros clássicos encontra um gênio. Mas a doutrina marxista, o “método” e, enfim, aquela baboseira toda de “materialismo histórico e dialético” não serve mais a ninguém que tenha ou algum juízo ou alguma inteligência. Ninguém hoje amarraria sua égua em alguma coisa rígida, capaz de impedir a digitação criativa. Aquilo que os marxistas diziam, a saber, que não podíamos usar da “teoria” como uma camisa de força, foi o que mais fizeram e, então, cansaram a todos e a si mesmos. Quando Habermas se libertou do marxismo ele nem precisou prestar contas disso. Ele simplesmente passou a escrever de modo diferente e pronto. E isso já faz tempo! Muitos agiram como ele. Outros nem precisaram de tanto, pois já estavam fora dessa ditadura mental bem antes.

Richard Rorty, amigo de Habermas, foi um intelectual da velha guarda, ao contrário do que pareceu para certos intelectuais no Brasil, ignorantes sobre filosofia americana e, de certo modo, sobre a cultura americana em geral. Caso ele tivesse tido formação europeia, teria de fazer o turn que Habermas fez. Mas, uma vez americano, Rorty podia ser um liberal ou, em termos europeus, um social democrata, sem qualquer vínculo com o marxismo. Isso fez dele uma das figuras mais criativas da cultura ocidental na transição do século XX para o XXI. Ele sabia bem o que era ser de esquerda, uma vez que seus pais foram militantes socialistas na América, mas isso não significava nenhum grande apego a Marx. Como ele mesmo costumava afirmar, logo após a Revolução Russa de 1917 os intelectuais americanos de esquerda se deslocaram para John Dewey e para o pragmatismo, deixando de lado qualquer idolatria a Marx. Isso foi uma benção para Rorty.

Em termos de história da filosofia, ele jamais teve de ficar preocupado em associar movimento cultural e classes sociais, como Marx, e em termos de metafísica, ele nunca teve de ficar preso à defesa do materialismo diante de outras posturas, como Engels. Rorty entendeu com facilidade o que Davidson estava propondo, um monismo ontológico (do lado do fisicalismo) associado a um dualismo linguístico (vocabulários para se falar da ordem do mental e da ordem do corporal), e ficou contente com isso. Chegou mesmo até em falar em fim da ontologia, junto com Ramberg. Bastaria apenas adotar a ideia de Wittgenstein, em que o mundo aparece como delimitado pela linguagem, e então viver como usuário de vocabulários úteis. Rorty ficou muito tranquilo com a posição filosófica que apostava que não precisamos resolver o problema da relação entre linguagem e mundo, uma vez que esse problema era alguma coisa mal formulada. Quem entende a palavra “montanha” é porque aprendeu jogos de linguagem em que ela faz sentido, e nesses jogos de linguagem em que ela faz sentido é um pouco fora de órbita duvidar que “montanha” é alguma coisa causalmente independente da linguagem e do pensamento. No limite, assim pensando, Rorty se livrou de debates, digamos assim, nucleares em filosofia, ao radicalizar seu pragmatismo. Usuários da linguagem devem ser bons usuários da linguagem e, então, não dar muito bola para vocabulários tão circunscritos a determinados grupos, como o vocabulário de determinados filósofos, como os kantianos, por exemplo. Pois estes diriam que a montanha que é causalmente independente da linguagem e do pensamento não seria a montanha (fenomênica), mas a montanha “em si”.

Assim, deixar esse tipo de kantismo de lado foi, para Rorty, em filosofia, um passo pragmatista equivalente ao passo que, na filosofia política, os parceiros de seu pai já haviam dado em Nova York, quando deixaram de ler Marx.

Creio que Rorty se sentiu bem livre quando viu que podia escrever poesia, como seu pai, sem ter de abandonar o que ele sabia fazer bem, que era reagir aos livros que lia com uma voracidade que nenhum outro intelectual possuiu. Sua escrita filosófica se tornou brilhantemente literária, dona de uma ironia sofisticada. Seu estilo de redescrever para, então, poder melhor conversar com filósofos vivos e mortos mostrou-se original e inconfundível. Para mim, a melhor forma autenticamente de escrever filosofia.

Essa escrita rortiana ensinou alguma coisa que era exatamente o oposto do estilo dos marxistas. Estes, sempre escreveram de uma maneira a combater o jargão de quem pensava diferente. Rorty escreveu de modo a colocar no seu próprio jargão o que outros haviam criado, e que se mostrava como vantajoso para a sua retórica, e fazia isso avisando o leitor que estava agindo desse modo. Rorty era um respeitador da criatividade daquele que ele lia. Ele podia fazer o seu leitor rir muito de quem ele comentava, mas o comentário, por mais duro que fosse, era sempre feito mostrando que as expressões criadas pelo autor que ele lia podiam ser incorporadas em uma outra narrativa. Esse estilo genial, que principalmente os marxistas nunca conseguiram possuir, foi um dos maiores legados de Rorty para as Humanidades. Quando de sua morte, Habermas foi direto nesse ponto, chamando Rorty de poeta.

O marxismo apodreceu no túmulo porque os marxistas não souberam utilizar nem mesmo as boas expressões que restaram da obra de Marx naquilo que ela se fez clássica. Eles desgastaram todas: alienação, luta de classes, ideologia, capitalismo, modo de produção, revolução, comunismo e por aí vai. Tudo isso foi usado em excesso em nome do rigor e, então, em determinado momento, começou a não soar mais como contendo algum conteúdo válido. As bocas dos marxistas continuarem mexendo, eles pareciam falar, mas o som não saía, ou seja, ninguém mais ouvia. Ninguém mais ouve. É tudo sem carne e sangue. O que é falado por um marxista é tido como tão vazio quanto os discursos da direita começaram a parecer após o nazifascismo ter perdido a guerra (ou quando hoje a direita ataca o marxismo ou comunismo!).

O marxismo modificou em muito nossa linguagem mas, ao mesmo tempo, perdeu a guerra semântica da qual participou. Felizmente! Porque durante o tempo que esteve ganhando, cerceou muitas bocas que poderiam ter dito coisa melhor.

Aqui e ali, em mestrados em educação ou em graduações de ciências sociais, há sempre algum marxista, exibindo um vocabulário que não tem corpo, um vocabulário no qual sobraram só os vermes do defunto. E hoje, vermes já magros.
Por: Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ


Safatle consulta o próprio Marx!


sábado, 22 de dezembro de 2012

O FIM DA HERANÇA BENDITA?

Nas décadas de 1950 a 1970 o Brasil deu um salto, com o produto interno bruto (PIB) per capita indo de 12% para 24% do americano. Mas o esforço de crescimento deixou cicatrizes. O endividamento do governo fez sucumbir o modelo e daí resultaram a hiperinflação, planos fracassados. queda do PIB e aumento da desigualdade e pobreza.


O modelo do "milagre" abusou do fechamento da economia e da proteção aos produtores domésticos. E também da intervenção do governo na economia, via estatais e crédito direcionado e subsidiado. Não houve foco nos motores do crescimento: a educação e a produtividade.

A partir dos anos 90, a agenda de reformas teve dois momentos. O primeiro foi nos governos Collor e, especialmente, FHC. Além da estabilização com o Plano Real e da posterior introdução do tripé macro que vigora até hoje, houve avanços em áreas críticas, como sustentabilidade da Previdência Social, institucionalidade da política fiscal, privatizações, regulação do sistema financeiro e corporativo, abertura da economia e ampliação da rede de proteção social.

No primeiro governo Lula houve aprofundamento das reformas no campo financeiro e nos mecanismos diretos de combate à pobreza, além de reforços na disciplina fiscal e monetária, que alavancaram um período de rápido crescimento do crédito e um bom aproveitamento da fase de boom global entre 2003 e o início de 2008. A partir do segundo mandato do presidente Lula, porém, essa agenda foi interrompida. Em áreas cruciais como institucionalidade da política monetária, regulação do mercado de trabalho, legislação tributária e tarifária, avaliação de políticas públicas, política educacional, eficiência do Judiciário e ambiente regulatório para o investimento em infraestrutura, não houve avanços.

Em lugar da sua continuidade, desde a crise de 2008 tem-se a segunda fase de reformas, com o uso de instrumentos regulatórios, fiscais e tributários com o objetivo de microgerenciar a atividade econômica. Aqui se incluem a lei do pré-sal, as regras de conteúdo nacional para as compras de estatais, o uso dos bancos públicos e empresas estatais para dirigir o investimento e o consumo, a elevação de tarifas de importação, a mudança na base de tributação da Previdência Social, a redução do IPI de bens duráveis, o subsídio ao consumo de petróleo, a imposição de IOF sobre investimentos estrangeiros em portfólio e a mudança do marco regulatório sobre produção e distribuição de energia.

Houve, assim, uma profunda guinada na agenda de reformas. A proposta da primeira fase, de criar um macroambiente propício ao investimento por meio de maior eficiência dos serviços e investimentos públicos, da transparência regulatória e do aumento da produtividade dos trabalhadores, foi substituída pela estratégia de criar mecanismos para incentivar a demanda, em especial o consumo e o emprego.

Uma tem como princípio a criação de um ambiente de igualdade de condições para todos os empresários e trabalhadores. A outra, a geração de incentivos que diferenciam os empresários e trabalhadores de acordo com o seu setor de atuação.

A distinção entre as duas abordagens é capturada pelo professor Luigi Zingales quando se refere a políticas pró-mercado e políticas pró-negócios. As primeiras favorecem a concorrência e a igualdade de tratamento entre grandes e pequenas empresas, em diferentes setores, e produtores nacionais e estrangeiros. As segundas buscam responder aos pleitos dos setores empresariais e trabalhistas na forma de tratamentos diferenciados em áreas como impostos, regulação e crédito.

Fazem-se duas críticas ao modelo pró-mercado. A primeira é que o aumento da concorrência produz perdas durante processos de reestruturação, como as privatizações e a abertura da economia, e acentua a desigualdade de renda. A segunda é que o mercado não propicia ganhos de escala que alavanquem investimentos e inovações - um argumento caro ao economista austríaco Joseph Schumpeter.

O modelo pró-negócios procura reduzir as desigualdades intervindo no funcionamento dos mercados - por exemplo, por meio do salário mínimo ou protegendo trabalhadores contra demissões. E oferece tratamento preferencial a empresas em setores estratégicos, de modo que se tornem empresas grandes e oligopolistas, com altos lucros para financiar investimentos e inovações.

Só que o tiro pode sair pela culatra. Ao eleger vencedores, a abordagem pró-negócios também elege os perdedores, que são, evidentemente, os empresários e trabalhadores da grande maioria das empresas, que não foram eleitas para serem as campeãs. Perde-se também em eficiência e produtividade, como bem sabemos do período do fim do "milagre econômico". Finalmente, a taxa agregada de investimento do Brasil continua em patamares bem inferiores aos dos nossos pares.

A resposta da abordagem pró- mercado aos efeitos distributivos não é limitar a concorrência, mas nivelar oportunidades, sendo educação pública a mais importante, e redistribuir renda com políticas de transferências focalizadas.

Enfim, é importante reconhecer que houve uma guinada na agenda de reformas. Até porque existe hoje grande ansiedade quanto aos resultados da nova estratégia. Depois do bom desempenho da economia brasileira até 2010, houve uma clara desaceleração da atividade e queda do investimento, em parte cíclica, em parte ligada à rigidez de oferta de nossa economia.

Nosso receio é que uma certa volta ao modelo dos anos 70 nos leve outra vez à frustração de nossos planos de desenvolvimento. Alguns sinais indicam que o modelo se está esgotando. Será que está acabando a herança bendita de Fernando Henrique Cardoso?

Com todo o esforço dos últimos 20 anos, ainda estamos em 20% do PIB per capita americano. Temos, portanto, um bom espaço para crescer. Mas sem investir mais e melhor, sem uma educação muito melhor e sem um Estado eficiente não vamos chegar ao nosso potencial. Por:  Edward Amadeo e Arminio Fraga O Estadão 



MEDO DO FIM

Como pessoas inteligentes creem numa besteira dessas, após centenas de profecias apocalípticas na história?


Segundo as profecias que andam aterrorizando uma boa fração da população mundial, esta será minha última coluna. Sexta-feira, dia 21, o mundo acaba. Venho recebendo dezenas de mensagens de pessoas visivelmente preocupadas, achando que desta vez é pra valer, que não temos como escapar.

Leitores, podem se acalmar. Garanto que sexta-feira, dia 21, será apenas mais um solstício de verão, o dia mais longo do ano. No sábado de manhã, você estará tomando seu café tranquilamente, com um sorriso nos lábios, convencido de que essa história de profecia de fim de mundo é mesmo uma bobagem. Tudo será devidamente esquecido e a vida continuará como antes. Pelo menos, até a próxima profecia.

No caso dessa, o calendário maia recomeça a cada 13 "baktuns", e cada ciclo tem 5.126 anos. O calendário maia foi iniciado no dia 13 de agosto de 3114 a.C. É apenas o fim de um ciclo e o começo de outro, típico de culturas que acreditam num tempo circular, ao oposto da nossa, na qual o tempo é linear, com apenas um começo e um fim.

Nenhum tablete de barro ou papiro misterioso prevê o fim do mundo. Ao contrário, os pouquíssimos documentos que sobreviveram à dilapidação tropical e ao fanatismo dos padres espanhóis, que queimaram tudo o que encontraram, não oferecem qualquer indicação de fim de mundo.

O mesmo ocorre com a ciência. Várias causas foram oferecidas para provocar o fim: a reversão dos polos magnéticos da Terra, a colisão com um asteroide, instabilidade solar, o planeta Nibiru, alinhamento galáctico etc. A Nasa preparou respostas para todas essas "ameaças" em seu portal e em um vídeo. (Se você entende inglês, eis o link do video:http://www.youtube.com/watch?v=QY_Gc1bF8ds) A história do planeta Nibiru, por exemplo, foi inventada pela médium americana Nancy Lieder, que diz ter um implante na cabeça que permite a ela se comunicar com alienígenas do sistema planetário Zeta Reticuli, a 39 anos-luz de distância.

Como milhões de pessoas inteligentes acreditam numa besteira dessas e se esquecem de que o mundo ainda não acabou, mesmo após centenas de profecias apocalípticas no decorrer da história?

Entre outras coisas, o medo do fim do mundo reflete nosso medo de perder o controle da vida, do nosso destino. Reflete o medo ancestral, encravado em nossa memória coletiva e reconfirmado todos os anos em dezenas de desastres cataclísmicos, de que a natureza é muito mais poderosa do que nós e tem o poder de nos aniquilar a qualquer instante.

Se nos séculos passados o fim do mundo refletia a ira divina ou a chegada da ressurreição, hoje, com os avanços da ciência, as causas são fenômenos cósmicos devastadores. Mas, como explico em meu livro "O Fim da Terra e do Céu", a simbologia é sempre a mesma: o fim vindo dos céus, sem que possamos nos defender, vítimas de nossos pecados ou de nossa fragilidade.

Mas não precisa ser assim. Temos um poder enorme para nos defender de medos ancestrais e infundados: a razão. Nossa compreensão da natureza não nos traz apenas celulares e DVDs mas também a certeza de que o conhecimento é a melhor forma de liberdade. 
Por:  Marcelo Gleiser   Folha de SP

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

ARQUITETURA E HUMANIDADE

Os comentários nas redes sociais sobre o falecimento de Oscar Niemeyer mostraram que ainda hoje a arquitetura moderna é polêmica. Seu mestre Le Corbusier dizia que seus prédios eram “máquinas de morar”; quem se viu obrigado a morar neles completa: “máquina de morar mal”. O arquiteto indignava-se ao perceber que os moradores tentavam logo tornar o espaço adequado ao uso humano, com cortininhas e vasos de plantas.


É inegável a completa inadequação ao uso humano dos espaços planejados pela arquitetura moderna: praças sem árvores e sem sombras, edifícios quentíssimos, de péssima acústica e com escadas sem corrimões; ambientes em que apenas robôs se sentiriam à vontade – ainda que, no caso de Niemeyer, dessem maquetes belíssimas.

Seu talento plástico superou o de Le Corbusier; comparar as obras de um e de outro é como comparar um pássaro em voo a um caixote. Infelizmente, contudo, a visão desumana que orienta a arquitetura moderna também orientou a obra do brasileiro.

As arquiteturas tradicionais têm elementos em várias escalas, dos pequenos arabescos do tamanho de uma mão a almofadas de porta de menos de um metro, a portas emolduradas com dois metros, abrindo caminho para pés-direitos de altura adequada ao clima. Estas escalas, presentes igualmente na natureza – em que uma árvore pode ter um tronco de 30 metros de diâmetro, mas tem também galhos progressivamente mais finos, folhas, flores, nervuras... – fazem com que as pessoas se sintam confortáveis.

Na arquitetura moderna, o efeito buscado é o oposto; os detalhes inexistem, as escalas dão saltos, passando imediatamente do minúsculo ao monumental. O ser humano é um intruso, uma formiga na mesa de jantar. Os nichos que nos dão conforto – um espaço aconchegante junto à janela, a transição da rua à sala que uma varanda proporciona – não existem; é o homem que deve se adaptar à arquitetura, não o contrário. É a negação do humano, nas dimensões, no conforto, em tudo que não a beleza dos edifícios vistos de longe ou em maquete.

Trata-se, na verdade, de uma expressão mais refinada duma visão arquitetônica orientada pelos totalitarismos do século passado – a um dos quais, aliás, Niemeyer permaneceu sempre fiel. Stálin e Hitler mandaram construir edifícios gigantescos, em que o homem desaparecia como uma formiga numa mesa. Niemeyer fez edifícios em que o homem desaparecia como uma formiga numa bela escultura; a visão é a mesma, o erro é o mesmo. Difere apenas o talento de quem rascunha as leves linhas com que o humano é negado.

Por: POR CARLOS RAMALHETE Publicado na Gazeta do Povo.


CHAVISMO: FIM DE UMA ERA MALDITA?

Chávez nunca pediu perdão por seus incontáveis crimes, nem ao povo e muito menos a Deus mas agora, de maneira asquerosa e blasfema quando sente o cheiro da morte rondando-o, aparece em público beijando a Cruz e pedindo ao povo que reze por ele.


No domingo passado, depois de acabar de voltar de Havana onde ficou durante 22 dias para exames - e confabulando com os cabeças das FARC -, Chávez anunciou em cadeia de rádio e televisão que deveria voltar a Cuba para submeter-se a uma nova e perigosa cirurgia. No seu discurso de despedida ele pede aos venezuelanos que, caso não possa voltar à presidência, que votem por Nicolás Maduro, o ex-chofer de ônibus alçado a Chanceler da Venezuela, e agora nomeado vice-presidente da República nas descaradamente fraudulentas eleições do último pleito em 7 de outubro passado. Tentei publicar o vídeo mas creio que o código para publicação oferecido pelo portal está com defeito, então, segue o link aqui para que possam assistir.

Hoje, Maduro falou desde o Palácio de Miraflores, para informar aos venezuelanos que a cirurgia feita ontem correu bem, embora tenha sido muito difícil e que o pós-operatório será igualmente difícil. Nessa alocução Maduro, visivelmente com voz embargada (porque sabe que se Chávez morrer antes da posse seu próximo posto vai ser o de presidiário), pediu as orações dos venezuelanos, pediu que a oposição pare de odiar a Chávez, reafirmou a excessiva “democracia” do ditador e aproveitou para fazer campanha política a favor do PSUV, conclamando os venezuelanos a votar massivamente no próximo domingo para eleger os governadores dos estados. A propósito dessas eleições, recomendo ler o artigo “O pior cenário”, traduzido por mim e publicado no site do Heitor De Paola, pois faz uma análise muito boa e realista da situação.

Estes são os fatos. Agora vamos à análise dos mesmos, pois a imprensa nacional e internacional limita-se a isto, a relatar “fatos”, sem sequer pensar nas conseqüências de tudo o que está se passando no vizinho país, tão intimamente ligado ao Brasil através de numerosos convênios, por seu ingresso no MERCOSUL mas, sobretudo, pelas alianças no Foro de São Paulo e nos Movimentos Bolivarianos existentes no nosso país.

Bem, Chávez parece ter finalmente reconhecido - quando já não há mais tempo - que seus dias de déspota sanguinário e mau estão chegando ao fim. Desde que soube da doença e a tornou pública em junho do ano passado, ele, que sempre blasfemou contra Deus e os cristãos, há anos proibiu decoração de Natal e tudo alusivo à sagrada festa, assim como o Papai Noel, insultou com impropérios e amaldiçoou o Cardeal Don Rosalio Castillo Lara (já falecido), passou a pedir a Deus que lhe curasse, que desse mais anos de vida porque “ainda tinha muito o que fazer pelo país”. Simultaneamente, mandava fazer santerías em Cuba e Vodu no Haiti. Mentiu, fraudou,planejou e encomendou assassinatos de desafetos, perseguiu seus opositores encarcerando-os com provas e testemunhos falsos, os quais, muito deles também enfermos de câncer, continuam encarcerados sem sequer ter direito a banho de sol.

Hugo Chávez nunca pediu perdão por seus incontáveis crimes, nem ao povo e muito menos a Deus mas agora, de maneira asquerosa e blasfema quando sente o cheiro da morte rondando-o, aparece em público beijando a Cruz e pedindo ao povo que reze por ele. O mesmo faz agora seu cão perdigueiro, o capacho inepto e arrogante Nicolás Maduro, como se o povo venezuelano cuja maioria é cristã, pudesse cair nessa pieguice demagógica barata. Eu não desejo a morte de ninguém, sempre disse isto e reafirmo aqui. Entretanto, se me lembrar dele em minhas orações será tão-somente para pedir a Deus, que é O Juiz Justo, que dê a Chávez o que ele merece, seja isso o que for.

Maduro falou direto do Palácio de Miraflores como se já estivesse em funções mas esta é a primeira aberração que se está cometendo à revelia dos venezuelanos e a imprensa não fala, por ignorância ou conivência. Em primeiro lugar, é preciso compreender como é a eleição presidencial na Venezuela. Diferente da maioria dos países democráticos, o cargo de vice-presidente é indicado pelo presidente vencedor, após as eleições, e que só se torna válido após a posse do eleito que, neste caso, será em 10 de janeiro de 2013. Reza a Constituição que, no caso de necessidade de afastamento do mandatário por dois meses consecutivos ou declarada sua incapacidade definitiva de continuar governando, o Vice-Presidente assume interinamente e convocam-se novas eleições. 

Ocorre que Chávez já está pedindo aos venezuelanos que dêem seu voto a Maduro, significando que ele SABEque não volta a governar! Entretanto, como ainda não foi empossado - e provavelmente não será -, quem deveria estar assumindo as rédeas do país era Elías Jaua, vice-presidente do atual mandato - que ainda está vigente até 9 de janeiro de 2013 - e não Maduro que é apenas o “indicado” e ainda não empossado. Percebem a sutileza da patifaria? 

Ao contrário do que leio na mídia brasileira, Maduro é a pessoa mais forte da Venezuela atualmente e foi a pessoa indicada por Fidel Castro por vários motivos: 1. É jovem e saudável, o que pode garantir muitas décadas de governança ditatorial, garantindo não somente os 100 mil barris de petróleo diário a Cuba, mas tudo o mais que o ditador ordenar, como a alcovitagem às FARC. 2. É o amigo mais fiel a Chávez, que nunca o trairá e que vem acompanhando-o desde o anúncio da doença. 3. É “maleável” e “obediente” a tudo o que os Castro ordenarem e, para se manter no tão ambicionado cargo de Presidente da Venezuela, fará tudo o que o senhor rei mandar. 

Os venezuelanos NÃO PODEM deixar isto passar como se fosse normal, NÃO PODEM permitir que este desqualificado delinqüente usurpe um cargo que NÃO lhe pertence e devem estar atentos e alertas ao que vai acontecer nos próximos dias. Domingo que vem (16) vão ocorrer eleições para Governador, onde o PSUV está apostando todas as suas fichas por questão de sobrevivência. É imprescindível que os venezuelanos elejam o maior número possível de candidatos opositores porque isso irá facilitar a assepsia que o país tanto necessita e abrirá as portas para uma eleição à Presidência que ponha o país nos trilhos do desenvolvimento e da verdadeira democracia. E com isso eles podem começar a sonhar com o fim de uma era maldita e amaldiçoada, que destruiu as riquezas nacionais financiando países fracassados, como Cuba, Bolívia, Equador, Nicarágua, além de proteger a apoiar bandos terroristas como as FARC, o ELN, o Hizbolah, o Hamas, a Al-Qaeda e ditadores sanguinários do Irã, China, Rússia.

É hora de Chávez pedir perdão ao povo venezuelano e sobretudo a Deus pelos incontáveis crimes cometidos, pois tem as mãos manchadas do sangue inocente de seus compatriotas, e fazer uma verdadeira metanóia antes que seja tarde. Aqui está o vídeo do pronunciamento do pseudo vice-presidente Nicolás Maduro. ONotalatina vai ficar atento aos próximos pronunciamentos sobre este episódio tão grotesco e misterioso, quanto personagem principal da trama. Fiquem com Deus e até a próxima! Por: POR GRAÇA SALGUEIRO


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

MEUS PROGNÓSTICOS PARA 2013

Nunca dou palpites sobre câmbio, inflação, PIB e catástrofes, porque acredito serem perda de tempo. 

Minha competência tem sido prever pontos de inflexão, como ter previsto em 1994 o fim da inflação, não a sua taxa. 

Também olho as coisas que já estão acontecendo hoje e que se nada for feito, afetarão o futuro. 

A Dilma, apesar de ser bem intencionada, com seu estilo de gestão afugentou a maioria das fontes de investimentos internacionais e nacionais para os setores de portos, elétrico, álcool, aeroportos, petrolífero, infraestrutura e setores intensivos de capital com esta nova taxação, etc. 

Lembrem-se que para gerar um único emprego no Brasil, precisamos de investimentos novos em máquinas, equipamentos, prédios, computadores, sistemas contábeis etc. da ordem de R$ 30.000 a R$ 5.000.000 por trabalhador, este último no setor de siderurgia. 

Reduzir o IPI dos carros é uma Medida Macro Prudencial que aumenta o consumo, não o investimento. 

A única esperança que nos resta é um tipo de investidor no Brasil que ainda está disposto a investir. 

Este entende do Brasil como nenhum analista estrangeiro entende, e entende do setor específico, melhor que o melhor analista brasileiro. 

Se você nao sabe de quem estou falando, o seu QI econômico e administrativo anda baixo. Muito baixo. 

A segunda pergunta é ainda mais importante. 

Qual é a única fonte de recursos para investimento que sobrou para o Brasil em 2013, já que as demais estão secando? 

O único recurso financeiro que sobrou é o reinvestimentos de lucros. 

E este investidor que sobrou é o próprio empresário e pequeno acionista que conhece o Brasil e o seu setor, e este sim, está disposto a reinvestir seus lucros. 

Se o governo permitisse! 

Isto mesmo, um dos maiores absurdos econômicos e financeiros deste país, é que o governo impede o reinvestimento dos lucros no Brasil, de duas maneiras. 

1. Obrigando as empresas a distribuir 25% dos seus lucros como dividendos. 

2. Taxando os lucros que sobraram e forem reinvestidos em nada menos de 45%. Um tiro no pé. 

Ou seja, 60% dos lucros neste país, por lei, não podem ser reinvestidos. 

E como todos deveriam saber, o lucro reinvestido hoje gera 30% de ICMS e IPI amanhã, ano após ano. 

Taxar uma única vez lucro reinvestido, para deixar de receber 30% ou mais de receitas anualmente, é burrice. 

Taxar lucro reinvestido é o cúmulo da ganância a curto prazo. Nossos impostos indiretos são 10 vezes maiores do que os impostos diretos como Imposto de Renda. 

O assustador é que nada disto é óbvio no Brasil. 

E pelo comentários abaixo, ficará claro que iremos taxar os lucros reinvestidos por muitos e muitos anos. 

Para aqueles que não sabiam que a taxação dos lucros é de 45%, estudem Nominalismo Econômico e suas consequências. 

Por: Stephen Kanitz 

NOVO DICIONÁRIO REVOLUCIONÁRIO - 1

O envenenamento da língua produziu não apenas mentes distorcidas, mas também distorções morais e afetivas, pois atingiu a vida pública e a privada, a política, a justiça, a economia, a arte e atinge escolas elementares e até jardins da infância.

“A língua conduz o meu sentimento, dirige a minha mente de forma tão mais natural quanto mais inconscientemente eu me entregar a ela.O que acontece se a língua culta tiver sido constituída ou for portadora de elementos venenosos? Palavras podem ser como minúsculas doses de arsênico: são engolidas de maneira despercebida e aparentam ser inofensivas. Passado um tempo, o efeito do veneno se faz notar.”
Victor Klemperer - Lingua Tertii Imperii (LTI) – A Linguagem do III Reich

Klemperer era um filólogo judeu convertido ao luteranismo que, casado com uma ‘ariana’ escapou do Holocausto. Viveu em Dresden e escreveu um extenso diário dos dias de guerra. No pós-guerra permaneceu na zona de ocupação soviética, lecionando na Universidade de Dresden. Seu livro ‘LTI: Notizbuch eines Philologen ‘[[i]] é precioso para todos quantos se interessam pelas perversões revolucionárias de qualquer ideologia.


Sobre a linguagem, dizia:

Se puder se expressar com liberdade, qualquer língua consegue dar conta de todos os anseios humanos. As palavras se prestam à razão e ao sentimento, são comunicação, diálogo e monólogo, oração e súplica, ordem e invocação. A linguagem do III Reich só se prestava à invocação. (...) Nela tudo é discurso, arenga, alocução, invocação, incitamento à ação. O estilo é vociferante: quem berra mais alto, ganha. Era o estilo do Ministro da Propaganda (e do próprio Führer).

Desde os últimos estertores do ciclo de governos militares contra-revolucionários iniciou-se no Brasil um novo ciclo revolucionário que visa estabelecer aqui um estado totalitário onipotente e onipresente. Uma das principais áreas de ação foi envenenar lentamente a linguagem, a moral e os costumes da juventude. Deram por perdido os de meia idade e mais velhos. O período que vai de 1985 a 1994, escassos nova anos, pode ser comparado, modus in rebus, com a República de Weimar sem a I Guerra Mundial, mas após um período de intensas ações revolucionárias no campo e nas cidades. Com certa licença pode-se repetir a afirmação de Klemperer de que a República (democrática) liberou de forma suicida a palavra escrita e falada.

Os revolucionários apareceram em todo esplendor de seu cinismo, hipocrisia e despudor. Diziam que queriam a democracia e respeitavam a Constituição, enquanto atacavam as instituições e se lançaram furiosamente contra tudo que não coubesse em sua ideologia pseudo-democrática, satirizando tudo em sermões onde imperava o ‘você não está pensando direito, junte-se a nós para conhecer a verdade’. Não vou comentar a já tão discutida novilíngua de Orwell, ou o politicamente correto. Abordarei a perversão de expressões já usadas classicamente. O envenenamento da língua produziu não apenas mentes distorcidas, mas também distorções morais e afetivas, pois atingiu a vida pública e a privada, a política, a justiça, a economia, a arte e atinge escolas elementares e até jardins da infância.

1. Primeiramente vejamos a palavra ditadura. Quando a expressão é usada, as pessoas, tal qual cães de Pavlov, começam a salivar ódio puro! E isto uma maioria que nem era nascida em 1964 e não tem nenhuma idéia do que realmente se passou. Ela funciona como um mero desencadeador de emoções e age subliminarmente: todos sabem, emocionalmente, o que ela quer dizer, mas racionalmente não são capazes de elaborar um conceito minimamente razoável e muito menos o conhecimento da história. Imediatamente relembram o que lhes foi implantado como um chip mental que a liga com outras palavras como militar, tortura, torturadores, opressão, censura, etc.

2. Fanático, fanatismo: expressões unicamente utilizadas para se referir a cristãos, principalmente católicos, geralmente acompanhada de “intolerante” ou “intolerância”. Algumas vezes também usadas como sinônimo de fundamentalismo. Se uma pessoa vai à missa ou ao culto e rege sua vida pelos preceitos dos Evangelhos, não aceitando o aborto nem a eutanásia e/ou a união gay nem a adoção de crianças pelos ‘casais’ gays, é intolerante, fanático, fundamentalista e extremista.

3. Extremista: termo antes importante para diferenciar de moderados de qualquer ideologia, passou a ser usado unicamente para quem defende o conservadorismo moral e o liberalismo econômico. É geralmente usado com o adjetivo de direita, ou direitista, jamais um comunista que apoiou os crimes de Stalin é considerado extremista.

4. Histórico: esta é uma palavra que sofreu as maiores distorções! Qualquer insignificância ou besteira que sirva aos propósitos revolucionários, qualquer discurso dos poderosos é histórico. Qualquer encontro de Lula ou Dilma com Chávez ou Kirchner é histórico, mesmo que apenas tomem umas e outras. A distorção foi tão longe que até mesmo para os democratas de verdade, conservadores e liberais, o julgamento do Mensalão foi “histórico”. Ora, para Calígula, qualquer defecada de Incitatus, seu cavalo nomeado senador, era histórica! Aliás, no nosso Senado, haja Incitatus!
(Continua)

Nota:
Publicado em português pela editora Contraponto, 2009:Rio, em Tradução de Miriam Bettina Paulina Oelsner, do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância – Módulo Holocausto, USP
Por: ESCRITO POR HEITOR DE PAOLA  Para o jornal Inconfidência, de Belo Horizonte.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A TIRANIA DOS CONTROLES DE PREÇOS


Peixoto, Eustórgia, Azevedo, Macedo e a tirania dos controles de preços

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O bem que o estado pode eventualmente fazer é bastante limitado, mas o mal que pode provocar é imenso. E o que ele nos retira compulsoriamente com suas intervenções na ordem espontânea dos mercados é, foi e será sempre, em qualquer lugar e em qualquer época, muito mais do que ele repõe em termos de serviços prestados aos que o sustentam, ou seja, aos pagadores compulsórios de tributos, eufemisticamente denominados de "contribuintes".

Hoje quero dar um exemplo muito simples do arrasa-quarteirão que o Leviatã, em sua modalidade estado-babá, costuma provocar nas vidas dos indivíduos. Vou explicar com o exemplo dos controles de preços, lembrando dois dados históricos a seu respeito: o primeiro é que eles existem desde os tempos do Velho Testamento, passando por Nabucodonosor da Babilônia, por Diocleciano em Roma, pelo período que antecedeu a Revolução de 1789 em França e por muitos outros casos; e o segundo é que todas essas intervenções dos governos fracassaram rotundamente, sem ao menos uma solitária e "robinsoncruseana" exceção.

Vou dar um exemplo muito simples. Suponha dois consumidores com hábitos alimentares peculiares: Peixoto, que não passa sem comer feijão e não suporta lentilhas e Eustórgia, que se delicia diariamente com lentilhas, mas se recusa a comer feijão. Suponha agora que o governo do país em que ambos vivem resolve estabelecer uma política de preços máximos para o feijão, alegando que se trata de um bem essencial para a população e que seu preço de mercado é muito alto, o que, segundo os tecnocratas e demagogos de todas as épocas "prejudica os pobres e favorece os ricos". Medidas assim costumam ser populares e dão votos para o governo, daí sua insistência nelas ao longo da História.

Os bons economistas sabem que qualquer medida do governo provoca dois efeitos, um de curto prazo, que é o efeito que se vê na nomenclatura de Bastiat e outro que aparece depois, que é o efeito que não se vê, mas que se pode e se deve prever. Sabem também que na maioria das vezes, se os resultados iniciais são bons, os que se lhes seguem são ruins e vice-versa. Bons economistas sabem discernir entre ambos; maus economistas apenas enxergam o primeiro, aquilo que se pode identificar "a olho nu".

Bem, o governo, então, decreta que o feijão não poderá ser vendido por mais do que certo preço P1, inferior ao preço de mercado P0 (que os economistas não austríacos costumam chamar de "preço de equilíbrio"). Felicidade geral em toda a nação! Comentaristas econômicos festejam, economistas intervencionistas aplaudem, consumidores de feijão gritam urra! E o governo, de olho nas eleições que já se aproximam, comemora.

O bom Peixoto, no entanto, que ficara feliz porque o bem que tanto aprecia ficou mais barato, começa a perceber que está ficando difícil encontrar o feijão de sua marca preferida no supermercado em que costuma fazer suas compras. Resolve ir a outros mercados e observa o mesmo fenômeno. Tenta então outra marca, mas também não consegue. Eustórgia, por enquanto, está "na dela", porque a medida do governo não afetou o preço do produto que tanto lhe agrada, as lentilhas.

No momento mesmo em que o governo tabelou o preço do feijão qualquer economista da tradição austríaca já sabia de cor e salteado todas as etapas que se sucederiam. Sabiam que o preço P0 era, naquele momento, o que melhor traduzia as transações voluntárias, as ações dos agentes nos mercados e que ele, como qualquer preço, certamente se alteraria de maneira natural ao longo do tempo, porque as complexas circunstâncias que influenciam o processo de mercado estão em permanente mutação. Sabiam também que o "preço" estabelecido pelas autoridades — P1 — não é um preço, mas uma ficção criada em gabinetes, um pseudo preço, como o denominava Mises.

Por que Peixoto começou a encontrar dificuldades para comprar sua comida favorita? Evidentemente, é porque o governo, ao reduzir "na marra" o preço, criou uma escassez, ou seja, provocou um aumento na demanda de feijão, ao mesmo tempo em que desestimulou a oferta desse produto. Esses fatos, que nada mais são do que efeitos líquidos e certos da ação humana, farão o preço verdadeiro (que não é o que foi fixado pelos burocratas) do feijão subir de P0 para P2 e esse aumento vai alargar a diferença (ágio) entre o preço verdadeiro e o falso, de (P0 - P1) para (P2 - P1). O resultado é que Peixoto e todos os demais "peixotos" do país — ou seja, os consumidores de feijão — perderão. Só poderão consumir esse produto os que tiverem condições para pagar o ágio — que certamente não são os pobres que o governo alegou estar protegendo ao baixar a medida. Ou então quem se plantar em uma fila no supermercado por volta das três horas da madrugada, na expectativa de que, quando o estabelecimento abrir suas portas, ele conseguirá o produto, desde que tenha bom preparo físico para correr e chegar à frente dos demais...

E quanto a Eustórgia, "a papa-lentilhas"? Bem, ao estabelecer um preço máximo para o feijão, o governo não mexeu diretamente no preço da lentilha, mas o preço relativo entre os dois produtos se alterou artificialmente: agora, as lentilhas estão relativamente mais caras do que o feijão (porque o preço deste caiu e o da lentilha permaneceu constante). Esse fato, um acontecimento espontâneo nos mercados em reação à agressão que o governo praticou sobre eles, reduzirá a demanda de lentilhas e aumentará ainda mais a demanda de feijão! Portanto, Peixoto e todos os consumidores de feijão perdem, assim como Eustórgia e todos os demais compradores com o seu perfil "lentilhesco".

Os efeitos do controle do preço do feijão pelo governo não param aí. Quer saber por quê? Vou usar um exemplo muito fácil de entender: admita que Peixoto não tenha uma renda alta, mas que goste tanto de feijão a ponto de abandonar a academia em que fazia musculação, para que possa, com o dinheiro que não gastará deixando de "malhar", possa pagar o ágio sobre o preço do feijão e assim não ficar sem seu prato diário favorito. Nesse caso, o dono da academia perderá receita, isso por sua vez afetará seus fornecedores que fabricam aparelhos de treino, bem como funcionários e professores de seu ginásio. É evidente que, quando pensamos em um indivíduo isolado – Peixoto – sua saída da academia produziria distorções bem menos fortes, mas, se pensarmos em todos os consumidores de feijão (cuja demanda, por sinal, é inelástica no Brasil) e nos sacrifícios que vão fazer para continuarem consumindo seu produto predileto, seja abandonando a musculação, seja comprando menos laranjas, menos aparelhos celulares, menos pizzas, etc., podemos formar uma pálida ideia da desordem que a tirania dos controles de preços desencadeia em toda a economia. É evidente que com Eustórgia e os consumidores de lentilhas aconteceriam efeitos semelhantes. Esta é a história de Peixoto e Eustórgia, ou seja, a história vista pelo lado da demanda. Mas falta o da oferta.

Mas antes de olhar para a oferta, é bom notar que no exemplo eu utilizei dois bens substitutos, mas poderia ter escolhido bens complementares, como, por exemplo, aparelhos de som e DVDs e os efeitos seriam bem parecidos, embora com alguns sinais trocados: se o governo resolvesse fixar o preço dos primeiros abaixo de seu preço de mercado, sua demanda aumentaria e a demanda de DVDs também, o que faria os preços absolutos de ambos os bens subirem. Quanto ao preço relativo, nada podemos afirmar a priori, mas muito provavelmente ele também mudaria.

Vamos agora ao lado da oferta? Bem, para entendermos melhor o comportamento dos produtores de feijão e lentilhas precisamos ter bem claro algo essencial nos mercados: a oferta é sempre mais lenta do que a demanda!Portanto, os efeitos sobre a oferta da agressão governamental à liberdade econômica provocada pela fixação de um preço máximo para o feijão só acontecem depois dos efeitos sobre a demanda que vimos logo aí em cima. Os efeitos iniciais sobre a demanda são os que se veem, enquanto os impactos sobre a oferta são os que se podem e se devem prever; os primeiros são visíveis a olho nu, os segundos não são. Caso o governo insista com sua política populista de tabelar o preço do feijão, os produtores desse bem terão um desestímulo e, com o tempo, alguns (ou muitos, dependendo da situação) deixarão de produzi-lo (deixando de plantá-lo ou diminuindo a área semeada). Consequentemente, a oferta de feijão vai cair no longo prazo, fato que aumentará ainda mais o ágio. Quanto aos produtores de lentilhas, como a demanda pelas mesmas caiu, também serão desestimulados, o que os levará no longo prazo a produzir outros bens, digamos, batatas. Vão todos plantar batatas, mas o certo seria que todos dissessem ao governo; "Vá você plantar batatas e nos deixe em paz"!...

Agora, além de Peixoto e Eustórgia, vamos introduzir mais dois indivíduos, Azevedo e Macedo. Ambos não suportam nem feijão e nem lentilhas, mas mesmo assim serão afetados, porque o ato do Grande Agressor (o estado) de fixar um preço, seja de que produto for, causa reações ao longo de toda a estrutura de capital da economia. Por exemplo — apenas um entre tantos possíveis! — Azevedo pode ser prejudicado porque, embora não coma feijão e nem lentilhas, gosta muito de grão de bico, cujo mercado, cedo ou tarde, também será afetado pelo aumento do preço relativo do grão de bico comparativamente ao feijão. Então Macedo, que já era um plantador de batatas estabelecido, agora terá que enfrentar novos competidores, aqueles que deixaram de produzir feijão e lentilhas para produzir batatas. Perderam, então, Peixoto, Eustórgia, Azevedo, Macedo, bem como os produtores de feijão, lentilhas e grão de bico. Ganhou o governo, que provavelmente venceu as eleições, pois a fixação do preço máximo foi quase certamente decretada estrategicamente antes das eleições e, portanto, antes que os efeitos nocivos, que lhe roubariam votos, fossem sentidos.

Então, no longo prazo, a boa teoria econômica ensina que: (1) o ágio cresce absurdamente quanto mais tempo durar o controle do preço; (2) os "pobres" não terão mais acesso ao bem, porque não têm condições de pagar o ágio; (3) os "ricos", que podem pagá-lo, aparentemente serão beneficiados, mas só aparentemente, pois terão que pagar muito mais caro pelo bem; (4) o governo só fez a intervenção no mercado de feijão, mas provocou uma reação em cadeia em muitos outros mercados, tanto os dos bens substitutos (as lentilhas do exemplo, mas também grão-de-bico, soja, ervilhas, grãos de milho, etc.) como os dos bens complementares (toucinho, paio, linguiça, couve, laranja, carne seca, etc.); (5) quando governos tentam substituir os mercados mediante a fixação de preços, os efeitos gerados são tão complexos e se estendem de tal firma por toda a economia que se torna impossível saber tudo o que vai acontecer; (6) controles de preços são atos de tirania, porque eles abolem a liberdade econômica de compradores e vendedores transacionarem a preços voluntariamente acordados. Se imaginarmos então um congelamento geral de todos os preços (como aconteceu no Brasil cinco vezes, entre 1986 e 1991), a tirania é ainda mais cruel, porque desorganiza toda a atividade econômica.

Good intentions and unintended consequences! E olhe que mesmo assim estou supondo que as intenções do governo em meu exemplo tenham sido realmente boas, atributo que, sincramente, não acredito que algum governo possa possuir.

Podemos, a partir desse exemplo, extrair duas conclusões mais amplas: a primeira é que o governo, quando mete sua mão na economia, estraga tudo e a segunda é que a boa teoria econômica é simples e fácil de ser entendida por qualquer leigo, porque ela reflete, como a teoria da Escola Austríaca de Economia, o comportamento de indivíduos comuns, aqueles que não têm diplomas nem láureas de economistas, mas que fazem o mundo real funcionar!

A propósito de que dei esses exemplos? Bom, é que tenho muitas razões para supor que a atual equipe econômica não conhece nossos amigos Peixoto, Eustórgia, Azevedo e Macedo, bem como os efeitos que não se veem, mas que podem e devem ser previstos. Cá entre nós, tenho receios de que muitos erros de um passado não muito distante sejam repetidos no Brasil.

Ubiratan Jorge Iorio é economista, Diretor Acadêmico do IMB e Professor Associado de Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 

OS HISTÉRICOS NO PODER

Uma das experiências mais perturbadoras que tive na vida foi a de perceber, de novo e de novo ao longo dos anos, o quanto é impossível falar ao coração, à consciência profunda de indivíduos que trocaram sua personalidade genuína por um estereótipo grupal ou ideológico. 


Diga você o que disser, mostre-lhes mesmo as realidades mais óbvias e gritantes, nada os toca. Só enxergam o que querem. Perderam a flexibilidade da inteligência. Trocaram-na por um sistema fixo de emoções repetitivas, acionadas por um reflexo insano de autodefesa grupal.

No começo não é bem uma troca. O estereótipo é adotado como um revestimento, um sinal de identidade, uma senha que facilita a integração do sujeito num grupo social e, libertando-o do seu isolamento, faz com que ele se sinta até mais humano. Depois a progressiva identificação com os valores e objetivos do grupo vai substituindo as percepções diretas e os sentimentos originários por uma imitação esquemática das condutas e trejeitos mentais do grupo, até que a individualidade concreta, com todo o seu mistério irredutível, desapareça sob a máscara da identidade coletiva.

Essa transformação torna-se praticamente inevitável quando a unidade do grupo tem uma forte base emocional, como acontece em todos os movimentos fundados num sentimento de "exclusão", "discriminação" e similares. 

Não me refiro, é claro, aos casos efetivos de perseguição política, racial ou religiosa. A simples reação a um estado de coisas objetivamente perigoso não implica nenhuma deformação da personalidade. Ao contrário: quanto mais exageradas e irrealistas são as queixas grupais, tanto mais facilmente elas fornecem ao militante um "Ersatz" de identidade pessoal, precisamente porque não têm outra substância exceto a ênfase mesma do discurso que as veicula. 

À dessensibilização da consciência profunda corresponde, em contrapartida, uma hipersensibilização de superfície, uma suscetibilidade postiça, uma predisposição a sentir-se ofendido ou ameaçado por qualquer coisinha que se oponha à vontade do grupo.

No curso desse processo, é inevitável que o amortecimento da consciência individual traga consigo o decréscimo da inteligência intuitiva. As capacidades intelectuais menores, puramente instrumentais, como o raciocínio lógico verbal ou matemático, podem permanecer intactas, mas o núcleo vivo da inteligência, que é a capacidade de apreender num relance o sentido da experiência direta, sai completamente arruinada, às vezes para sempre.

A partir daí, qualquer tentativa de apelar ao testemunho interior dessas pessoas está condenada ao fracasso. A experiência que elas têm das situações vividas tornou-se opaca, encoberta sob densas camadas de interpretações artificiais cujo poder de expressar as paixões grupais serve como um sucedâneo, hipnoticamente convincente, da percepção direta. 

O indivíduo "sente" que está expressando a realidade direta quando seu discurso coincide com as emoções padronizadas do grupo, com os desejos, temores, preconceitos e ódios que constituem o ponto de intersecção, o lugar geométrico da unidade grupal.

O mais cruel de tudo é que, como esse processo acompanha "pari passu" o progresso do indivíduo no domínio da linguagem grupal, são justamente os mais lesados na sua inteligência intuitiva que acabam se destacando aos olhos de seus pares e se tornando os líderes do grupo.

Um grau elevado de imbecilidade moral coincide aí com a perfeita representatividade que faz do indivíduo o porta-voz por excelência dos interesses do grupo e, na mesma medida, o reveste de uma aura de qualidades morais e intelectuais perfeitamente fictícias.

Não conheço um só líder esquerdista, petista, gayzista, africanista ou feminista que não corresponda ponto por ponto a essa descrição, que corresponde por sua vez ao quadro clássico da histeria. 

O histérico não sente o que percebe, mas o que imagina. Quando o orador gayzista aponta a presença de cento e poucos homossexuais entre cinquenta mil vítimas de homicídios como prova de que há uma epidemia de violência anti-gay no Brasil, é evidente que o seu senso natural das proporções foi substituído pelo hiperbolismo retórico do discurso grupal que, no teatro da sua mente, vale como reação genuína à experiência direta. 

Quando a esposa americana, armada de instrumentos legais para destruir a vida do marido em cinco minutos, continua se queixando de discriminação da mulher, ela evidentemente não sente a sua situação real, mas o drama imaginário consagrado pelo discurso feminista. 

Quando o presidente mais mimado e blindado da nossa História choraminga que levou mais chicotadas do que Jesus Cristo, ele literalmente não se enxerga: enxerga um personagem de fantasia criado pela propaganda partidária, e acredita que esse personagem é ele. Todas essas pessoas são histéricas no sentido mais exato e técnico do termo. E se não sentem nem a realidade da sua situação pessoal imediata, como poderiam ser sensíveis ao apelo de uma verdade que não chega a eles por via direta, e sim pelas palavras de alguém que temem, que odeiam, e que só conseguem enxergar como um inimigo a ser destruído?

A raiz de todo diálogo é a desenvoltura da imaginação que transita livremente entre perspectivas opostas, como a de um espectador de teatro que sente, como se fossem suas, as emoções de cada um dos personagens em conflito. Essa é também a base do amor ao próximo e de toda convivência civilizada. 

A presença de um grande número de histéricos nos altos postos de uma sociedade é garantia de deterioração de todas as relações humanas, de proliferação incontrolável da mentira, da desonestidade e do crime. 
Por: Olavo de CarvalhoDiário do Comércio, 12 de dezembro de 2012