domingo, 9 de fevereiro de 2014

POPULISMO, KEYNESIANISMO E A ARGENTINA NO BURACO


Perante o agora evidente fracasso da política econômica kirchnerista, um modelo populista que vigora na Argentina desde 2003, começam a surgir nos jornais argentinos várias colunas escritas por "especialistas" e por ex-integrantes do atual governo que tentam limpar sua imagem e apontar os responsáveis diretos pelos acontecimentos atuais, que envolvem saques a comércios e residências, disparada do dólar, queda acentuada das reservas internacionais,restrições à compra de dólares, inflação de preços em disparada e apagões.

O ex-presidente Eduardo Duhalde, por exemplo, que ficou no cargo de janeiro de 2002 a maio de 2003, vem fazendo elogios ao seu então ministro da economia, Roberto Lavagna, tentando resgatar sua imagem e chegando ao ponto de candidatá-lo como a pessoa com a experiência necessária para resolver a situação atual. Já o ex-presidente do Banco Central Martin Redrado (setembro de 2004 a janeiro de 2010), e o ex-ministro da economiaMartín Lousteau (dezembro de 2007 a abril de 2008), vêm escrevendo dezenas de artigos nos jornais tentando se desvencilhar de suas ligações com o atual governo, sendo que participaram dele até há poucos anos.

É correto dizer que, desde 2007, Cristina Fernandez de Kirchner pessoalmente se ocupou de aprofundar o atual populismo que nasceu após o fim do regime de conversibilidade em 2002. No entanto, cada um destes três economistas citados acima tem sua parcela de culpa pela atual situação que nós argentinos estamos vivenciando.

Em primeiro lugar, a saída do regime de conversibilidade foi feita da pior maneira que se poderia conceber. Eduardo Duhalde acusa o atual governo de improvisação, mas foi ele próprio quem, logo após ter prometido devolver os dólares que os argentinos haviam depositado nos bancos durante a década de 1990, tratou depesificar todas as contas bancárias, convertendo dólares em peso a uma taxa de câmbio extremamente desvalorizada, sendo assim o responsável pelo maior confisco da renda do povo argentino nas últimas décadas. (Leia os detalhes completos neste artigo).

Em segundo lugar, é preciso deixar claro que o abandono do regime de conversibilidade e a subsequente desvalorização cambial feita por Duhalde em 2002, algo que hoje ele diz ter sido a medida que gerou a "década do crescimento" da economia argentina, foi na realidade o começo de outra "década perdida". É verdade que, entre 1998 e 2001, ainda sob o regime de conversibilidade, a economia argentina estava em recessão e com alto desemprego; mas a súbita e acentuada desvalorização cambial ocorrida em 2002 transformou essa pequena recessão em uma profunda depressão, a qual fez o PIB despencar mais de 10% em 2002, além de destruir completamente o estado de direito do país. (Ver relato completo e em detalhes neste artigo.)

A partir de 2003 a economia começou a se recuperar, mas foi só em 2008 que o PIB real da Argentina voltou ao mesmo nível que já havia alcançado em 1998. Enquanto Chile e Brasil aproveitaram a década de 2000 — que foi a década mais afortunada para a América Latina em mais de um século, no que se refere ao contexto internacional — para vivenciar um processo de acelerado crescimento, a Argentina teve primeiro de retroceder para só então se aproveitar desta bonança e recuperar o que havia perdido. Em outras palavras, entre 1998 e 2008, a Argentina não cresceu; apenas recuperou o que havia perdido após a desastrosa desvalorização de sua moeda.

Vale ressaltar que, em 1999, havia outra opção, que era dolarização, a qual foi completamente ignorada. Caso houvesse implantando essa medida, a Argentina poderia ser hoje a primeira economia latino-americana a apresentar um PIB per capita de nível europeu.

Voltando aos três personagens atuais, Roberto Lavagna assumiu o cargo de ministro da economia durante a presidência interina de Eduardo Duhalde em abril de 2002, foi ratificado no posto pelo presidente eleito Néstor Kirchner em 2003, e acabou sendo destituído do cargo em 2005 por causa de divergências internas. Ele se destaca por ter liderado o processo de recuperação da economia argentina, mas vale ressaltar que foi durante sua gestão que também se iniciou o modelo econômico atual, caracterizado por um aumento acelerado dosgastos públicos e dos impostos. Com Lavagna no ministério da economia, a carga tributária subiu de 24% do PIB para 30%.

Ter sido substituído por Felisa Miceli, uma intervencionista radical, em novembro de 2005 claramente não melhorou em nada a situação. É válido dizer que, desde essa data até sua morte em outubro de 2010, Néstor Kirchner foi o verdadeiro ministro da economia, inclusive após a chegada de Cristina Kirchner ao poder, em dezembro de 2007. 

A nomeação do jovem Martín Lousteau para o ministério da economia, também em dezembro de 2007, estava em linha com o desejo de Néstor. A margem de decisão de Lousteau era muito restrita, e ainda assim ele cometeu o incompreensível erro de tentar aumentar ainda mais a carga tributária, que nesta época já era de 36% do PIB. Os argentinos bem se lembram de sua proposta de aumentar as retenções das exportações de soja para um valor acima dos já excessivos 35%, algo que só não ocorreu por causa de um veto do vice-presidente. Após várias desavenças internas, Lousteau saiu do governo em abril de 2008 e, desde então, se tornou um crítico do modelo.

Já o caso de Martín Redrado é um pouco mais complexo já que ele foi presidente do Banco Central entre setembro de 2004 e janeiro de 2010. Durante sua gestão, ele jamais reconheceu a inflação de preços real, uma vez que esta era frequentemente o dobro — e, às vezes, o triplo — da inflação de preços oficial declarada pela instituição que ele presidia. De 2007 até sua renúncia, a inflação real só ficou abaixo de 20% ao ano em 2009, ano da recessão global, da qual a Argentina também não escapou. Redrado jamais exigiu a independência do Banco Central e jamais se negou a imprimir dinheiro para financiar os descontrolados gastos do Executivo. Até que o oficialismo decidiu afastá-lo do governo.

Nesta seleção arbitrária de personagens responsáveis pela débâcle que nós argentinos estamos vivenciando, chegou a hora de analisarmos o atual e pitoresco ministro da economia, Axel Kicillof.

O estilo Kicillof

Doutor em economia pela Universidad Nacional de Buenos Aires, Kicillof (que foi meu professor) e sua equipe econômica tomaram posse em novembro de 2013 em um espetáculo constrangedor. Profundo estudioso de Karl Marx, Kicillof se doutorou em economia tendo como tese um estudo dos fundamentos da Teoria Geral de John Maynard Keynes.

O pensamento de Kicillof, portanto, se encontra entre Marx e Keynes, um conflito interno que não deve ser fácil de ser resolvido. Seu pensamento é apresentado utilizando termos marxistas — algo que se nota claramente quando ele fala —, mas ele também sabe moderar seu discurso recorrendo a Keynes, cuja obra parece conhecer de cor. Para Kicillof, o socialismo seria o arranjo desejável, embora entenda que uma transição para esse sistema é inviável no mundo moderno. O advento do socialismo será, quem sabe, uma etapa mais avançada do capitalismo, mas não é algo que caberá a ele acelerar em seu novo cargo. Suas propostas políticas são mais keynesianas do que marxistas.

Kicillof rejeita a ideia generalizada de que a Argentina se beneficiou, ao longo dos últimos dez anos, de um contexto internacional favorável. Para Kicillof, não houve e nem haverá ventos favoráveis, e sim apenas ventos contrários, os quais teriam destruído a economia argentina não fossem as "exitosas" políticas protecionistas que o país implementou ao longo destes últimos dez anos. Ele parece ignorar que foram justamente as políticas de expansão do crédito orquestradas pelo Federal Reserve e pelo Banco Central Europeu que injetaram liquidez no mercado e, consequentemente, elevaram substancialmente os preços das commodities — como trigo, soja e petróleo —, algo que claramente beneficiou tanto a América do Sul quanto a Argentina.

Kicillof compartilha da ideia de Robert Skidelsky — o principal biógrafo de John Maynard Keynes — de que este é o momento ideal para o "retorno do maestro". Kicillof recorre a Keynes para justificar uma série de medidas que devem ser implementadas para corrigir o capitalismo e regulá-lo, uma vez que, sem estas medidas, o mercado irá inevitavelmente nos levar a sucessivas crises.

Em sua tese de doutoramento, ele explica em detalhes como uma política anticíclica keynesiana deve ser usada para enfrentar uma situação de recessão: a demanda agregada deve ser impulsionada com políticas monetárias e fiscais expansionistas. Ou seja, deve haver mais gasto público — sem se importar que ele seja deficitário — e mais expansão do crédito por meio de taxas de juros baixas e até mesmo negativas (em termos reais), o que impulsionaria ao mesmo tempo o consumo e o investimento. Até o momento, no entanto, esta receita de Kicillof logrou apenas desvalorizar ainda mais a moeda e piorar o já acentuado desequilíbrio fiscal, justamente a fonte de todos os problemas da Argentina nas últimas décadas, e fonte do atual e real problema da inflação de preços que atormenta o país.

É de se imaginar que, além das já implantadas medidas que aumentaram o controle estatal sobre a economia (como as restrições à compra de dólares e o confisco da Repsol), novas expropriações e estatizações também estejam em seus planos, principalmente quando levamos em conta seu expresso desejo de "reverter os anos 1990".

Algo que Marx e Keynes tinham em comum, além da desconfiança em relação ao mercado, era seu desapreço pela função empresarial. Tanto em suas aulas quanto em seus discursos atuais, Kicillof deixa transparecer de forma cristalina seu ódio aos donos do capital. Ele enxerga os lucros das empresas como sendo uma indevida apropriação da mais-valia por parte do capitalista, sendo a "mais-valia" o valor monetário que o trabalhador assalariado cria acima do salário que recebe. Essa injustiça social justifica — em sua visão — qualquer ação do governo que vise a expropriar ou tomar medidas para limitar aquilo que para ele é basicamente um roubo.

Kicillof entende o comércio como sendo um jogo de soma zero, no qual uns ganham (os empresários) e outros perdem (assalariados e consumidores). Tal raciocínio faz com que ele tenha uma enorme satisfação em tomar medidas que reduzam os lucros empresariais, que imponham estratégias de investimento ou que proíbam a remessa de lucros para o exterior. Seu discurso na ocasião da expropriação da Repsol-YPF foi justamente neste sentido. Ele parecia ignorar o fato de que o maior problema vivenciado pela Repsol-YPF foram as pesadas regulamentações sobre a empresa, as quais reduziram sua margem de lucro e, consequentemente, impediram novos investimentos na Argentina e estimularam mais investimentos no exterior.

Kicillof, assim como a maioria dos burocratas governamentais, sofre da arrogância fatal de acreditar que sabe melhor do que todos os empresários argentinos como e onde devem ser feitos os investimentos, e quais são os reais interesses coletivos do país. Em suma, para Kicillof, os interesses de um coletivo imaginário estão acima dos interesses individuais, de modo que, se for necessário sacrificar várias empresas para dar sustentação ao seu modelo econômico, ele não hesitará em fazê-lo.

O mesmo, aliás, pode ser dito sobre seu programa de controle cambial. Se for necessário encarecer ainda mais o turismo de argentinos no exterior, ele não terá nenhum problema em fazer isso. No que mais, confiscar dólares e proibir seu uso no exterior é uma função social que está muito acima das liberdades individuais.

Ironicamente, este atual modelo populista e inflacionário é chamado por Kicillof de "inclusão social".

As quatro etapas do populismo

O roteiro deste tango argentino é convencional: na primeira etapa de um programa populista, sempre se observa um suposto êxito do modelo, principalmente quando a economia parte de uma situação deteriorada em termos de PIB e emprego. Por isso, entre 2003 e 2007, o modelo populista mostrou uma recuperação da atividade econômica, do emprego e dos salários reais. Consequentemente, a continuidade do kirchnerismo era óbvia. 

No entanto, já naquela época, não eram poucos os economistas liberais alertando que tal etapa aparentemente exitosa era insustentável, que o gasto público estava saindo de controle, e que as tendências mostravam que nem os preços crescentes da soja e nem suas crescentes retenções poderiam sustentar a bonança.

Com o tempo, os dados começaram a mostrar que não apenas a carga tributária não parava de crescer, como também já estava se tornando corriqueira a monetização dos déficits orçamentários do governo. O surgimento de desequilíbrios fiscais, monetários e cambiais, bem como de uma resiliente inflação de preços, caracteriza exatamente a segunda etapa do populismo. Preocupados com este arranjo, estes economistas intensificaram seus alertas, mas foram sumariamente ignorados. 

A terceira etapa do populismo é justamente a atual, em que estes desequilíbrios básicos se ampliam e se tornam evidentes para toda a população na forma de uma acentuada inflação de preços, o que leva o governo a maquiar estatísticas e a impor o congelamento de vários preços, o que por sua vez gera desabastecimento e escassez de vários produtos. Quanto mais a economia se desarruma, mais intensas e desesperadas se tornam as medidas do governo para tentar ocultar esta realidade.

A quarta e última etapa, que ainda está por vir, é a etapa do "ajuste", uma etapa da qual ninguém quer falar, mas que dificilmente poderá ser evitada. O ajuste normalmente é composto por liberação de preços e sua subsequente disparada, ajuste monetário e fiscal, recessão, desemprego, queda do salário real e aumento da pobreza. Aqueles que negam a necessidade deste ajuste devem explicar como é possível sustentar este atual arranjo por um longo período de tempo.

Conclusão

Uma medida relativamente simples e que ajudaria a corrigir estes três desequilíbrios (fiscal, monetário e cambial), além de minimizar os efeitos do ajuste, seria a dolarização da economia, cujo plano está explicado em detalhes aqui. Porém, lamentavelmente, nem a oposição e nem mesmo aqueles economistas que identificaram corretamente os problemas parecem saber o que defender. 

Por: Adrián Ravier doutor em economia aplicada pela Universidad Rey Juan Carlos de Madri e professor da Escuela de Negocios da Universidad Francisco Marroquín, na Guatemala, e da Facultad de Ciencias Económicas y Jurídicas da Universidad Nacional de La Pampa, Argentina. Veja seu website. Do site: http://www.mises.org.br

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A DIVISÃO DO TRABALHO E A EXPLORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS GERAM RIQUEZA E BEM-ESTAR


A economia é a ciência que estuda a produção de riqueza que ocorre em um sistema baseado na divisão do trabalho. A divisão do trabalho é um sistema em que o indivíduo ganha seu sustento ao produzir — ou ao ajudar a produzir — um bem ou um serviço. Em algumas raras ocasiões, há indivíduos capazes de produzir, ou ajudar a produzir, vários bens ou vários serviços. 

A divisão do trabalho — que é uma característica dominante do capitalismo e cujo desenvolvimento pleno só pode existir sob o sistema capitalista — proporciona, entre outros benefícios, enormes ganhos para todos. Isso ocorre por meio da multiplicação da quantidade de conhecimento que entra no processo produtivo, fenômeno esse que gera, como consequência, um aumento contínuo e progressivo da própria quantidade de conhecimento. 

Apenas considere isso: cada ocupação distinta, cada sub-ocupação, possui seu próprio e único corpo de conhecimento (a soma de todo o conhecimento em uma dada especialidade). Em uma sociedade capitalista, baseada na divisão do trabalho, a quantidade de corpos de conhecimento distintos que participam do processo de produção é proporcional à quantidade de empregos existentes. A totalidade desse conhecimento opera em benefício de cada indivíduo consumidor, quando este compra os produtos produzidos por outros. E o mesmo é válido para o indivíduo produtor, na medida em que sua produção é auxiliada pelo uso de máquinas e equipamentos (bens de capital) previamente produzido por outros.

Assim, imagine um determinado indivíduo que trabalha como carpinteiro. Seu corpo de conhecimento é a carpintaria. Porém, na condição de consumidor, ele se beneficia de todas as outras ocupações distintas que existem no sistema econômico. A existência de um corpo de conhecimento tão extenso e disperso é essencial para a existência de uma infinidade de produtos — sendo que cada produto requer em seu processo de produção mais conhecimento do que um único indivíduo, ou um pequeno número de indivíduos, pode ter. Dentre tais produtos, temos o maquinário, algo que não poderia ser produzido na ausência de uma divisão do trabalho extremamente ampla e do vasto corpo de conhecimento que isso gera.

Ademais, em uma sociedade capitalista, baseada na divisão do trabalho, uma grande proporção dos membros mais inteligentes e ambiciosos da sociedade — tais como os gênios e outros indivíduos de grande talento — escolhem sua especialização exatamente naquelas áreas em que podem melhorar e aumentar progressivamente o volume de conhecimento que é aplicado na produção. Este é o efeito gerado quando tais indivíduos se especializam em áreas como ciência, invenção e negócios.

A divisão do trabalho, em suma, é um sistema em que as necessidades de um indivíduo são supridas pelo trabalho efetuado por outros indivíduos.

A riqueza e a exploração dos recursos oferecidos pela natureza

A divisão do trabalho gera riqueza. Riqueza são os bens materiais criados pelo homem e que melhoram sua qualidade de vida. Riqueza é muito mais do que ter alimentos, roupas e moradia. Riqueza é um conjunto de coisas que atende a todos os aspectos da vida humana, inclusive nossa capacidade de locomoção, de visão, de audição, de ação e de raciocínio.

A riqueza, em suas várias formas, aumenta o poder dos sentidos, da mente e dos membros do homem, de modo a melhorar sua qualidade de vida. Automóveis e aviões são riquezas que aumentam nossa capacidade de locomoção; máquinas e ferramentas de todos os tipos são riquezas que aumentam o poder de nossos músculos e membros. Óculos, microscópios e telescópios são riquezas que aumentam nosso poder de visão. Livros, jornais, televisores, filmes e computadores são riquezas que aumentam as informações disponíveis para nossos olhos, ouvidos e mentes.

A atividade econômica gerada pela divisão do trabalho e sua consequente produção de riqueza servem para melhorar o ambiente em que vive homem. Na medida em que o homem se torna capaz de converter recursos naturais em bens, sua riqueza e seu padrão de vida aumentam. 

A oferta de recursos naturais economicamente utilizáveis se expande à medida que o homem aumenta seu conhecimento em relação à natureza e seu poder físico sobre ela. A oferta se expande à medida que o homem obtém avanços na ciência e na tecnologia, e aprimora e amplia sua oferta de equipamentos.

Por exemplo, a oferta de ferro como um recurso natural economicamente utilizável era de zero para o povo da Idade da Pedra. O ferro passou a ser um recurso natural economicamente utilizável somente após terem descoberto alguma utilidade para ele e após terem percebido que o ferro poderia contribuir para a vida e bem-estar do homem ao ser forjado em vários objetos. A oferta de ferro economicamente utilizável era ínfima quando ele podia ser extraído somente por meio de escavação com pás. Ela se tornou substancialmente maior quando escavadoras mecânicas e de motor a vapor substituíram as pás manuais. E se tornou ainda maior quando se descobriram métodos para separar o ferro de compostos contendo enxofre. E assim tem sido, e pode continuar sendo, para cada recurso natural economicamente utilizável. Sua oferta aumentou e pode continuar aumentando por um período de tempo indefinido.

O fato de que a terra é feita de elementos químicos que o homem não pode criar e nem destruir implica que, do ponto de vista das ciências físicas, a produção e a atividade econômica podem ser entendidas como sendo meras alterações nas localizações e combinações dos elementos químicos. Assim, por exemplo, a produção de automóveis representa um mero deslocamento de parte do ferro que está localizada em uma região do planeta para alguma outra localidade onde está a montadora; e, nesse processo, o ferro é separado de elementos como oxigênio e enxofre e recombinado com outros elementos como cromo e níquel.

As mudanças nas localizações e combinações dos elementos químicos que constituem a produção e a atividade econômica não são aleatórias, mas, sim, voltadas precisamente para o aprimoramento da relação dos elementos químicos com a vida e o bem-estar humano. O ferro presente nos automóveis, nos eletrodomésticos e nas vigas de aço que sustentam prédios e pontes possui uma relação muito mais útil e valiosa para a vida e bem-estar humano do que o mesmo ferro soterrado, intocado e inutilizado no subsolo. O mesmo é válido para o petróleo e o carvão trazidos para a terra e utilizados para gerar calor, iluminar casas e fornecer energia para as máquinas e ferramentas do homem. O mesmo também é válido para todos os elementos químicos que se transformaram em componentes essenciais de produtos importantes quando comparados ao que eram esses mesmos elementos quando jaziam inertes no subsolo.

Do ponto de vista da física e da química, toda a produção consiste em rearranjar, em combinações distintas, os elementos químicos fornecidos pela natureza, e transportá-los para diferentes localidades geográficas. O propósito que norteia esse rearranjo e transportação é essencialmente fazer com que os elementos químicos possibilitem um aprimoramento da relação entre a vida humana e o bem-estar. Tal procedimento coloca os elementos químicos em combinações e localidades nas quais eles podem fornecer uma maior utilidade e um maior benefício aos seres humanos.

Sendo assim, a relação dos elementos químicos ferro e cobre com a vida e o bem-estar do homem é enormemente melhorada quando ambos são extraídos de debaixo da terra e utilizados para fabricar produtos como automóveis, geladeiras e cabos elétricos. A relação de elementos químicos como carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio com a vida e o bem-estar do homem é aperfeiçoada quando eles podem ser combinados para produzir energia e luz elétrica. A relação de um pedaço de terra com a vida e o bem-estar do homem é aprimorada quando, em vez de ter de dormir sobre a terra dentro de um saco de dormir e ter de tomar precauções contra cobras, escorpiões e animais selvagens, ele pode dormir dentro de uma moderna e bem construída casa erigida sobre esse pedaço de terra, com todos os utensílios e confortos que já consideramos rotineiros.

A totalidade dos elementos químicos constitui o ambiente externo material do homem, e é precisamente para aprimorar essa relação que servem a produção e a atividade econômica.

Na medida em que a natureza essencial da produção e da atividade econômica é aprimorar a relação entre os elementos químicos e a vida e o bem-estar do homem, ela também tem o objetivo de necessariamente aprimorar o ambiente do homem, o qual é formado por esses mesmos elementos químicos e suas forças energéticas correlacionadas. A ideia de que a produção e a atividade econômica são nocivas para o meio ambiente significa dizer que o homem e sua vida não são fonte de valor algum para o mundo, e que, portanto, tal fonte de valor deve ser substituída por um critério de valor não-humano — ou seja, pela crença de que a natureza tem valor intrínseco, quando, na verdade, todo o seu valor lhe é imputado pelo homem.

Sem a exploração dos recursos naturais e sua subsequente transformação em riqueza, seria impossível a existência tanto de elementos essenciais para a nossa sobrevivência quanto de artigos de luxo que hoje são tidos como básicos.

Instrumentos musicais, salas de concertos, escolas de música, CDs, iPods são riquezas que servem à execução e à apreciação da música. Tintas, pincéis, quadros, museus e escolas são riquezas que servem à criação e à apreciação da arte. Livros científicos, universidades, laboratórios e todos os seus equipamentos (de tubos de ensaio a cíclotrons) são riquezas que servem à busca da ciência. Hospitais, ambulâncias, instrumentos cirúrgicos e remédios são riquezas que servem à superação de doenças e enfermidades. 

Sem essas respectivas riquezas, a música, a arte, as ciências e a medicina seriam praticamente inexistentes. Tire a riqueza da música e tudo o que restará será o canto destreinado da voz humana perante uma pequena plateia. Tire a riqueza da arte e tudo o que restará serão rabiscos nas paredes das cavernas. Tire a riqueza da ciência e tudo o que restará serão moldes feitos de areia. Tire a riqueza da medicina e tudo o que restará serão orações e mandingas.

A riqueza deve ser mensurada em termos de como ela nos permite viver e usufruir a vida.

Conclusão

Quando o homem e sua vida são considerados os critérios básicos para se determinar o valor das coisas, então é correto dizer que o ambiente é aprimorado com a construção de casas, áreas agrícolas, fábricas e estradas — pois todas essas obras tornam, direta ou indiretamente, a vida mais fácil. Quando a natureza por si só é vista como valiosa, então diz-se que o ambiente é danificado sempre que o homem constrói algumas dessas obras ou faz algo que altera o estado atual da natureza, pois ele estará destruindo algo que supostamente possui valor intrínseco.

Um dos principais problemas de nossa época não é a poluição ambiental, mas sim a corrupção filosófica. É exatamente aí que jaz a crença de que melhorias nas condições materiais da vida humana são, de alguma forma, danosas ao meio ambiente.

Por: George Reisman  Ph.D e autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: www.capitalism.net. Seu blog georgereismansblog.blogspot.com

Tradução de Leandro Roque  Do site:  http://www.mises.org.br

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

SE A ECONOMIA VAI MAL, MUDE-SE A COMUNICAÇÃO

O governo gastou demais, desperdiçou bilhões com incentivos errados, ajeitou as contas com receitas extraordinárias e chega a fevereiro sem meta fiscal e com perspectiva de mais um ano de baixo crescimento, inflação alta e resultado pífio no setor externo. Mas a presidente mostra-se muito menos preocupada com a qualidade e os resultados da administração federal do que com a imagem de sua política e, é claro, com os arranjos eleitorais. Todos os ministros substituídos, exceto um, saem do governo para cuidar de suas candidaturas. A exceção é a ministra Helena Chagas, da Secretaria de Comunicação (Secom). Seu sucessor será o atual porta-voz do Executivo, Thomas Traumann, escolhido, segundo se informa em Brasília, para enfrentar com mais vigor as notícias negativas e cuidar melhor dos interesses partidários. Esta mudança é a mais, com perdão da palavra, emblemática. A ideia, tudo indica, é transformar a Secom num Ministério da Imagem. Os principais condutores da fracassada política econômica permanecerão nos postos.


É cedo para dizer como funcionará no dia a dia o novo Ministério da Imagem, como serão distribuídas as verbas publicitárias, como serão orientados os blogueiros chapa-branca e como se apresentará o próprio ministro, mas um ponto é certo: nenhum esforço de comunicação será suficiente para neutralizar os efeitos reais de uma política econômica abaixo de medíocre. Não há como imputar à ministra Helena Chagas a inflação de 5,91%, o déficit em conta corrente de US$ 81,4 bilhões, a estagnação da indústria, o investimento ainda inferior a 20% do produto interno bruto (PIB) e a baixa disposição dos empresários, indicada em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de investir neste ano.

Para muitos desses empresários, a ministra Helena Chagas e seu sucessor devem ser figuras desconhecidas ou vagamente lembradas. Mas com certeza todos são capazes de citar o nome do ministro da Fazenda, dos presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) e do Banco Central (BC) e de outras personagens associadas, para o bem ou para o mal, às condições, em geral ruins, da economia brasileira. Os muito atentos talvez até se lembrem do assim chamado ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Mas quem vinculará os percalços econômicos do País à Secom?

Há, de fato, problemas de imagem e de credibilidade, associados, por exemplo, à famosa contabilidade criativa, à promiscuidade entre o Tesouro e os bancos federais, ao desastrado controle de preços e de tarifas e ao uso - discutibilíssimo, embora legal - das exportações fictícias de plataformas de petróleo para reforçar o saldo comercial. Sem esse expediente o resultado do comércio de 2013 teria sido um déficit de US$ 5,18 bilhões, em vez de um superávit de US$ 2,56 bilhões. A perda de credibilidade expõe o Brasil ao risco de rebaixamento de sua nota de crédito. Essa é uma das preocupações evidentes da presidente Dilma Rousseff e foi uma das motivações de sua viagem a Davos, depois de três anos esnobando o Fórum Econômico Mundial.

Mas nenhuma estratégia de informação ou propaganda apagará os números publicados pelo governo ou descobertos por analistas ou repórteres atentos. O último relatório do BC sobre as contas fiscais, divulgado na sexta-feira, confirma a redução do superávit primário do setor público de 2,39% do PIB em 2012 para 1,9% em 2013, a menor proporção da série iniciada em 2001. O déficit nominal (incluída, portanto, a conta de juros) aumentou de 2,48% para 3,28% do PIB.

As contas do Tesouro divulgadas no dia anterior são igualmente ruins. O resultado primário de R$ 77,07 bilhões só foi obtido com grande volume de receitas extraordinárias, ou atípicas, como R$ 22,07 bilhões correspondentes a bônus de concessões. A soma de todos os extras chega a 79% do superávit primário, isto é, do dinheiro destinado ao pagamento de juros da dívida pública. Não houve, de fato, economia para a geração desse resultado. A despesa do governo central foi 13,6% maior que a do ano anterior, enquanto a receita líquida, isto é, descontadas as transferências a Estados e municípios, cresceu 12,5%.

Funcionários do Ministério da Fazenda têm consultado especialistas do mercado financeiro sobre a meta fiscal desejável e crível para este ano. Um superávit primário equivalente a 2% do PIB deve parecer adequado, segundo avaliações divulgadas nos últimos dias. Mas ainda é incerto se a presidente Dilma Rousseff estará disposta a assumir um compromisso dessa proporção.

Ao tomar a decisão, a presidente levará em conta, quase certamente, as agências de classificação de risco, os interesses eleitorais e os perigos associados às novas condições do mercado financeiro, resultantes da redução gradual dos estímulos monetários nos Estados Unidos. A política de comunicação poderá influenciar uma parte do eleitorado. Mas dificilmente afetará as avaliações dos especialistas e do público mais informado. Além do mais, as informações - espera-se - continuarão disponíveis.

Parte dessas informações é de origem oficial. O BC continua prevendo inflação bem acima da meta pelo menos até o próximo ano. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fornecerá, se nada mudar, informações mensais sobre produção industrial, emprego, renda e consumo, e a cada trimestre deverá atualizar os dados do PIB. Especialistas do setor privado serão consultados semanalmente pelo BC sobre suas previsões. Por enquanto, são ruins: crescimento econômico próximo de 2%, inflação perto de 6% e contas externas fracas. O governo da presidente Cristina Kirchner tem sido mais direto. Além de pressionar a imprensa e proibir a divulgação de cálculos privados de inflação, interferiu nas estatísticas oficiais. Deve haver em Brasília defensores desse modelo. Terão sucesso?

Por: ROLF KUNTZ - O Estado de S.Paulo


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

CANUDOS E OS NOVOS TERRITÓRIOS LULISTAS

Canudos resiste. A pequena cidade fundada por Antonio Conselheiro no nordeste da Bahia em 1893 e destruída quatro anos depois continua abandonada pelo poder público. Reconstruída no início do século 20, após o retorno de parte da população conselheirista, a cidade manteve-se isolada até a visita de Getúlio Vargas, em outubro de 1940, e a decisão governamental de construir um açude, obras que terminaram em 1969, obrigando a população a se transferir para o povoado de Cocorobó. Hoje o município tem uma ampla área territorial (2.985 quilômetros quadrados) e uma população de 13.760 pessoas. 

É paradigmático para tentarmos entender os resultados da eleição presidencial e a grande vitória obtida por Luiz Inácio Lula da Silva na região Nordeste.


A Bahia tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH): está em 22º lugar, entre os 27 Estados. A cidade melhor classificada é a capital, Salvador: ocupa o 475º lugar entre os municípios brasileiros. A região de Canudos é a mais pobre do Estado. Isolada pelas péssimas estradas, sem um eficaz sistema de telefonia (celular não tem sinal na área) e assolada pela seca (o índice pluviométrico do município é um dos mais baixos do estado), os canudenses sobrevivem no limite da pobreza. O poder público federal está ausente: há somente uma agência do Banco do Brasil (e que funciona apenas das 9h às 12h).

O Produto Interno Bruto (PIB) é de pouco mais de R$ 32 milhões. O número de pessoas com registro na carteira profissional não chega a 200 (não há condições para pagar o salário mínimo e muito menos os encargos sociais). No município não há nenhum trator e o principal meio de transporte são as motos (quase 300).

A cidade depende do Fundo de Participação dos Municípios (recebe cerca de R$ 3,5 milhões), pois a receita de impostos é mínima: de IPTU foi arrecadado apenas R$ 8 mil. Há dois hospitais, cada um controlado por um dos coronéis da cidade. Ambos atendem pelo SUS. Em um ano ocorreram 13.563 internações, a média de uma por habitante (segundo dados do IBGE), apesar ter apenas 62 leitos, o que dá uma média de 218 internações por leito (a cidade tem 13 médicos, parte não reside no município).

Canudos vive de uma agricultura de baixíssima produtividade, uma pecuária baseada na criação de bode e do pequeno comércio. Apesar do açude de Cocorobó, com capacidade para armazenar 245 milhões de metros cúbicos de água, metade da cidade não recebe em suas casas o precioso líquido.

Grande parte das águas estão salinizadas e o pequeno distrito irrigado (com a presença de 150 famílias) está em péssimas condições, com a canalização arruinada, fazendo com que a renda média de cada família gire em torno de um salário mínimo mensal, segundo dados do pesquisador Luiz Paulo Neiva da Universidade do Estado da Bahia.

Mesmo com a melhoria dos índices de escolaridade, a maior parte dos jovens não tem emprego fixo. Quando trabalham, vivem de bicos. Não há indústria, atividade agrícola ou comercial que gerem empregos em quantidade suficiente para absorver a força de trabalho. O lazer é inexistente, a gravidez precoce ocorre em escala considerável e a única “diversão” são os bares. Só na principal rua, a avenida Juscelino Kubitschek, em três quarteirões há uma dúzia de bares. O alcoolismo atinge parte da população, assim como o consumo de drogas.

Foi nesta espécie de microcosmos do sertão nordestino que Lula obteve uma folgada vitória no primeiro turno, com 68,4% dos votos, e no segundo ampliou ainda mais a votação, obtendo 78,06%. Alckmin conseguiu 27,3% no primeiro turno e caiu no segundo para 21,94%. Para o governo estadual, o candidato petista, Jaques Wagner, obteve a maioria absoluta dos votos: 54,7%, em grande parte produto da “onda Lula”.

As eleições romperam o domínio dos dois políticos que apresam a cidade, um do PFL, o atual prefeito (Vavá), e o outro do PSDB, ex-prefeito (Zito), que se alternam no poder desde a emancipação do município, em 1985. Na eleição presidencial tinham o mesmo candidato, Geraldo Alckmin, e foram derrotados. Mas o que chama a atenção é o número de eleitores da cidade: 10.655, isto com uma população de 13.760 pessoas, muito acima da média nacional.

O que reforça a necessidade de um recadastramento eleitoral, principalmente se for correta a informação do ministro Carlos Veloso, ex-presidente do TSE, de que no Brasil há 10 milhões de títulos fantasmas (ver Folha de S.Paulo de 16 de setembro de 2006).

É difícil encontrar alguém que não seja beneficiado pelo Bolsa Família. Se em maio eram 1.673 famílias inscritas no programa, em cinco meses, às vésperas da eleição, este número saltou para 2.246: “Não temos emprego. Tenho três filhos. Meu marido só agora arranjou um trabalho. Preferia estar trabalhando. Bolsa Família é bom mas preferia um emprego”, diz Maria José Varjão, 29 anos, estudando o segundo ano do ensino médio. 

Em 1998 votou em FHC, em 2002 em José Serra, já em 2006 escolheu Lula. Participava dos programas sociais do governo anterior. Dos seis irmãos, três migraram, dois para São Paulo e um para Salvador. Graças a um deles construiu uma casa com o dinheiro que manda mensalmente. Mora ao lado da casa da mãe, aposentada, e que acabou se transformando em arrimo da família. “É o único dinheiro garantido que tem lá em casa.

Meus outros dois irmãos não tem trabalho fixo e quando conseguem algo é provisório: aqui ninguém é registrado”, diz ela. A professora Maria Cláudia Jesus da Silva, 26 anos, nasceu em Canudos. É solteira. Tem nove irmãos. Cinco migraram para Juazeiro, Petrolina e Salvador. Migraram “porque aqui não tem trabalho”. O pai também recebe aposentadoria: “Sem ela não sobrevivemos”.

Uma tia está inscrita no Bolsa Família: tem nove filhos. A professora discorda do programa. Diz que “é um dinheiro fácil”, “não precisa suar”, diz que muitos que recebem não trabalham por vadiagem. Votou em FHC em 1998, mudou para Lula em 2002 e neste ano votou novamente nele.

O padre Lívio, da Igreja Católica, um italiano que está há vários anos em Canudos, considera que o governo Lula pouco fez pela região. Reclama que faltam investimentos. A presença do Estado manifesta-se através do programa Bolsa Família. Tem esperança de que algo pode melhorar. A ação da igreja é muito importante organizando a população na construção de cisternas, apoiando programas de saúde preventiva e no incentivo à agricultura familiar. Na semana anterior ao segundo turno, no sábado à noite teve até carreata. Com fogos.

Claro que pró-Lula. Ninguém dizia que iria votar em Alckmin. E não é exagero. A imagem que os canudenses têm do candidato opositor é de alguém muito distante do cotidiano do sertão. Muitos disseram nem sequer entender o que ele fala, outros que só o conheceram agora, na eleição. Dizem que Lula foi o único presidente “que olhou para nós”. Reconhecem que falta emprego, falam da corrupção (“todo mundo rouba, mas ninguém provou que Lula é ladrão”), estabelecem identidade com a sua história (“Ele sabe o que é seca, o que é sofrimento”) e relacionam Alckmin com ACM.

O semi-árido nordestino virou um território lulista. Sem estabelecer um diálogo político com os milhões que sobrevivem na região, a oposição sofrerá outra grande derrota na próxima eleição. Como disse uma canudense: “Sei que o Lula não vai ser candidato em 2010. Votarei em quem ele mandar”.

Por: Marco Antonio Villa Folha de SP  Publicado em 2010





NOVA ERA GLACIAL

Preparem seus casacos: cientistas russos preveem início de nova era glacial

Pesquisadores afirmam que a partir do ano que vem a temperatura no planeta deve entrar em uma fase de queda gradual

Maria Luciana Rincon
27/11/2013
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Fonte da imagem: Wallpaper source

Se você adora sol, calor e praia, não vai gostar muito da previsão apresentada por uma dupla de cientistas russos do Instituto Gazprom VNIIGAZ. De acordo com a Global Warming Policy Foundation, Rauf Galiulin e Vladimir Bashkin afirmam que no ano que vem a Terra entrará em uma fase de queda gradual de temperatura que deve culminar dentro de um período de 50 anos, resultando em uma nova era do gelo.

Segundo a publicação, os pesquisadores afirmam ainda que, ao contrário do que ditam todas as teorias relacionadas ao aquecimento global, a ação dos humanos exerce pouca influência sobre o clima do planeta. Conforme explicaram, a variação da temperatura estaria associada aos ciclos de atividade solar, que devem sofrer uma redução.

A nova “era do gelo” dever ter início em 2014, com uma queda de temperatura bem lenta em um primeiro momento. No entanto, depois de algumas décadas, a diminuição será mais ativa. Por certo, de acordo com uma matéria publicada pelo Times, a baixa atividade do ciclo solar atual — o chamado “Ciclo 24” — vem deixando alguns cientistas intrigados, além de despertar questões sobre quais podem ser as consequências disso para o nosso planeta.
Calmaria solar


Os ciclos solares têm duração de aproximadamente 11 anos, e os períodos de atividade mais intensa são marcados pelo surgimento de manchas solares. Além disso, normalmente ao final do ciclo ocorre a inversão dos campos magnéticos do Sol, quando se observa uma mudança de polaridade — quase sempre simultânea — entre os hemisférios Norte e Sul. Durante a inversão, a força do campo magnético fica perto de zero, voltando ao normal depois da troca.

Contudo, os astrônomos observaram algo diferente neste ciclo. A polaridade do hemisfério Norte sofreu inversão há vários meses, apresentando, portanto, a mesma polaridade do que o hemisfério Sul. E mais: a incomum calmaria observada na superfície do Sol durante este último ciclo — com um número de manchas inferior à metade da média registrada nos últimos 250 anos! — levou alguns cientistas a sugerir que este pode ser o início de um período de baixa atividade.

De acordo com o Times, a última vez que isso aconteceu foi entre os anos de 1650 e 1715, durantes os quais quase nenhuma mancha solar foi observada. Coincidentemente, nesse período ocorreu uma drástica queda das temperaturas no planeta, provocando o que ficou conhecido como a “Pequena Era do Gelo” na Europa e América do Norte. Estariam os cientistas russos corretos em sua previsão?
Polêmica


Para os pesquisadores russos, que afirmam que o aquecimento global não é resultado de atividades humanas, toda a polêmica sobre as mudanças climáticas não passa de exagero e de pura conspiração. Conforme alegam, o objetivo é o de desacelerar o consumo de gás natural, carvão e petróleo — três combustíveis essenciais em nossas vidas — para que, então, se possa controlar o seu preço de mercado.

Aliás, Galiulin e Bashkin não são os únicos a defender essa teoria, e declarações semelhantes foram feitas por outro cientista russo — Jabibula Absusamatov, membro da Academia Russa de Ciências e diretor do setor de Investigações Espaciais do Observatório de Pulkovo —, que alertou que a diminuição de temperatura provavelmente afetará a todo mundo.

Os defensores do aquecimento global também acreditam que a baixa atividade solar possa afetar o clima do planeta, embora não pensem que estamos prestes a testemunhar uma nova era do gelo. Afinal, para eles, apesar de o ritmo aparentemente ter caído, as temperaturas não param de subir.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

6 FATOS QUE SEU PROFESSOR ESQUERDISTA NÃO TE CONTOU


1. O comunismo falhou miseravelmente

Estima-se que os regimes comunistas ao longo do século XX tenham matado pelo menos 100 milhões de pessoas em todo mundo. Alguns podem até contestar esse número, mas precisam admitir que é impossível esconder tantas mortes varrendo tudo pra debaixo do tapete. Crimes de tamanhas proporções deixam rastros visíveis demais para serem ignorados.

Este número inclui não só as pessoas que foram mortas pela repressão típica destes regimes totalitários mas também em consequência de suas políticas econômicas desastrosas, tais como os confiscos que resultaram na fome russa de 1921 e no Holodomor ou a coletivização forçada do campo, implementada por Mao Tse Tung que resultou na Grande Fome Chinesa e por sua vez matou cerca de 20 milhões de pessoas.

Alguns regimes foram letais ao extremo. É o caso do Khmer Vermelho no Camboja que conseguiu exterminar nada mais, nada menos que um terço da população do país. 

O pior de tudo é que o comunismo acabou desmoronando em todos estes países e seu modelo teve que ser abandonado. Todas estas pessoas morreram em vão. Em nome de um ideal fracassado. O muro de Berlim caiu. A União Soviética não existe mais e a China mergulha de cabeça no capitalismo.

Mas não só o velho comunismo falhou. Os novos modelos de socialismo parecem fadados ao mesmo destino. O assim chamado "socialismo do século XXI" praticado na vizinha Venezuela dá claros sinais de que não poderá se sustentar por muito tempo. O país, mesmo tendo uma das maiores reservas de petróleo do mundo é assolado hoje por escassez de todo tipo de bem imaginável, de energia elétrica à papel higiênico, passando por frango, leite e outros produtos essenciais. Tem uma das taxas de inflação mais altas do mundo e uma taxa de homicídios também entre as mais altas do mundo.

2. A teoria de Marx foi refutada

Karl Marx construiu toda a sua teoria em cima de uma idéia errada herdada dos economistas clássicos: A teoria do Valor Trabalho. Segundo a teoria do Valor Trabalho, o valor real de uma mercadoria era definido pela quantidade de trabalho investido na sua produção.

Com base nisso, Marx arroga ter descoberto o conceito da Mais Valia que dizia o seguinte: Se a mercadoria vale a quantidade de trabalho investida na sua produção, para que o patrão, que não trabalha diretamente, tenha lucro, ele precisa pagar aos funcionários, um valor menor do que o trabalho que eles investiram na produção da mercadoria. Dessa forma os patrões exploram o proletariado.

Porém Marx estava errado em vários pontos, desde o diagnóstico do problema, até a sua solução. A Teoria do Valor Trabalho foi refutada pela teoria da Utilidade Marginal, desenvolvida simultaneamente por três economistas: Stanley Jevons na Inglaterra, Leon Walras na França e Carl Menger na Áustria. Os três, ao mesmo tempo, em países diferentes e praticamente sem entrar em contato um com o outro, perceberam que o que confere valor a uma mercadoria não é o trabalho, mas a sua utilidade. 
Uma mercadoria que exigiu muito trabalho pra ser produzida não terá nenhum valor se não for útil. Portanto, é a utilidade que as pessoas conferem às mercadorias que determina seu valor. Os custos de produção, entre eles o do trabalho, é que precisa se ajustar aos preços de mercado.

Especula-se que este desmascaramento esteja por trás da atitude de Marx de adiar a publicação dos volumes seguintes da sua obra máxima: O Capital, que só foram publicados após sua morte, por Engels. 

Outros economistas posteriores como Ludwig von Mises e Friedrich A. Hayek dariam mais detalhes sobre a inviabilidade do socialismo, explicando que dessa forma, a única maneira de medir a utilidade de um produto é através do mecanismo de oferta e demanda do livre mercado. 
Se o livre mercado é suprimido, não há o mecanismo de oferta e demanda, se não há livre equilíbrio entre oferta e demanda, a economia se torna um caos. Por isso, abolir o mercado e concentrar as decisões econômicas no estado que tenta calcular o preço das mercadorias com base no trabalho é impossível e tende ao fracasso.

3. As previsões de Marx não se cumpriram até o presente momento

Com base na sua ideia de Mais Valia e de exploração do proletariado, Marx previu que a situação dos trabalhadores iria se deteriorar cada vez mais. Como, segundo Marx, para garantir o lucro do patrão, o valor das mercadorias é vendido sempre acima daquilo que os trabalhadores recebem para produzi-las, o custo de vida destes aumentaria cada vez mais.
Isso iria gerar ciclos econômicos e crises frequentes, com cada nova crise sendo pior que a anterior, até que chegaria o momento em que o capitalismo entraria em total colapso, os trabalhadores se revoltariam, fariam uma revolução e implantariam o socialismo.

Só que nada disso aconteceu. Na verdade aconteceu o exato inverso.

O capitalismo é marcado por crises constantes sim, mas ele sai mais forte de cada uma delas.
A Grande Depressão foi com certeza a maior de todas as crises do capitalismo, mas isso já foi há mais de 80 anos. O capitalismo jamais passou por outra crise semelhante. Desde então é inegável que a qualidade de vida e a economia prosperaram enormemente nos países capitalistas.
Ao contrário do que Marx previra, a qualidade de vida das classes menos favorecidas aumentou e a pobreza extrema está sendo reduzida gradualmente em todo mundo. 

Para entender a velocidade desse progresso considere as Metas do Milênio apresentadas em 2000 pela ONU. O objetivo era reduzir pela metade o número de pessoas vivendo com 1 dólar por dia até 2015. Essa meta foi atingida cinco anos mais cedo.

4. A maioria dos países mais pobres do mundo tiveram regimes de inspiração socialista por longos anos


Você já deve ter ouvido falar que a culpa pela fome e pela miséria no mundo é do capitalismo.
Mas o que seu professor esquerdista não te contou é que o socialismo já foi e continua sendo, uma força extremamente influente no mundo. As idéias socialistas não vão contra o Status Quo, ela é parte do Status Quo. Ela é a parte ruim dele diga-se de passagem.

Muitos países que você imagina serem vitimas do capitalismo já tiveram regimes de inspiração socialista. Só no continente africano: Angola, Moçambique, Benin, República do Congo, Etiópia e Somália tiveram suas economias destruídas por regimes comunistas que duraram vários anos e quase todos continuaram tendo economias bastante controladas pelo estado mesmo depois disso.

Seu professor esquerdista também deve ter falado pouco sobre regimes de inspiração socialista na Líbia e no Iêmen. Sobre o partido Baath no Iraque e na Síria. Que países que fizeram parte da União Soviética e que mantiveram um modelo parecido, mesmo com o fim do comunismo, como é o caso do Uzbequistão, tem a maioria da sua população na miséria.

Também não deve ter falado nada sobre como políticas socialistas devastaram o Zimbábue. Nem que a Índia, país que concentra a maioria dos miseráveis do mundo, por quase 40 anos teve uma sucessão de governos populistas, paternalistas, intervencionistas e que se inspiravam na economia soviética. Durante todo este período o país esteve completamente estagnado e só começou a crescer nos anos 90, justamente depois que o governo promoveu amplas reformas liberais, que apesar de tímidas, já conseguiram reduzir drasticamente a miséria no pais.

5. Os países mais liberais estão entre os mais desenvolvidos ou entre os que mais rápido se desenvolvem

Outra coisa que seu professor esquerdista não deve ter te contado, é que todos os países com IDH considerado "muito alto" são, de uma forma ou de outra, capitalistas. Aposto que você não sabia que a Nova Zelândia estava completamente quebrada nos anos 80, mas que depois de uma reforma liberal radical, conseguiu se reerguer e chegar ao posto de 6º melhor IDH do mundo. Que os Estados Unidos, 3º melhor IDH do mundo, maior economia do mundo e país mais inovador do mundo em número de patentes, tem a liberdade de mercado e a propriedade privada como parte inseparável da sua história, da sua cultura, das suas instituições e da sua própria identidade nacional.

Não deve saber que a carga tributária da Austrália (2º melhor país pra se viver do mundo) é de apenas 33,2% do PIB, que o Canadá foi considerado o 2º melhor país para se fazer negócios pelo Fórum Econômico Mundial, nem que Hong Kong e Singapura (13º e 18º melhores IDHs respectivamente) eram países miseráveis até bem pouco tempo atrás. Conseguiram chegar ao posto em que estão hoje em menos de 30 anos e são justamente, os dois países mais liberais do mundo.

Nem todo país liberal é desenvolvido, mas com certeza todos eles estão no caminho. Um exemplo é o Panamá, o país da América Central que teve o 8º maior crescimento do PIB em 2012 e que está entre os que mais reduziram a pobreza nos últimos anos, ou o Peru, que apesar de ainda ser bastante pobre, também vem conseguindo reduzir drasticamente a pobreza e teve o maior crescimento do PIB da América do Sul em 2012.

6. Distribuição de Renda pode não servir pra nada

Os socialistas dão a entender, através de seu discurso, que a desigualdade é o grande mal do mundo. Para descreditar as políticas liberais, apontam para um "aumento da desigualdade" como se isso fosse sempre um mal e como se igualdade fosse sempre um bem.

São incapazes de perceber que desigualdade não significa pobreza e que igualdade não significa riqueza. Um povo pode ter igualdade, mas serem todos iguais na pobreza. Da mesma forma, outro povo pode, apesar da desigualdade, garantir um nível de vida satisfatório para os mais pobres.

A prova disso é que a desigualdade medida pelo Coeficiente GINI, revela algumas coisas bem interessantes:

- A Etiópia é um dos países mais igualitários do mundo. É inclusive mais igualitária que a média dos países da União Européia. Outro que também está entre os mais igualitários é o Paquistão.
Mas onde é que existe mais pobreza? No Paquistão e na Etiópia ou na União Européia?

- O Timor Leste é mais igualitário que Espanha, Canadá e França

- O Bangladesh, outro país que concentra massas de miseráveis é mais igualitário que Irlanda e Nova Zelândia.

- A Índia é mais igualitária que o Japão.

- O Malawi é mais igualitário que o Reino Unido.

E a lista segue adiante. Os exemplos são inúmeros mas todos eles levam a uma conclusão inequívoca: Igualdade não serve pra porcaria nenhuma.

Fontes:

Ranking de Países por IDH (qualidade de vida)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_%C3%8Dndice_de_Desenvolvimento_Humano

Ranking de Países por Distribuição de Renda (Índice GINI)
https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2172rank.html

Ranking de Países por Índice de Homicídios
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_taxa_de_homic%C3%ADdio_intencional

Países onde é mais fácil fazer negócios:
http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200902031523_RED_77804209

Ranking de Países por tamanho da Carga Tributária
https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2221rank.html

Ranking de Países por crescimento do PIB em 2012
https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2003rank.html

Sobre os governos socialistas na Índia e sua posterior reforma liberal:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Economia_da_%C3%8Dndia

Sobre as reformas liberais na Nova Zelândia:
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=692

Países que já foram socialistas:
Angola - http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Popular_de_Angola
Benim - http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Popular_do_Benim
Congo - http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Popular_do_Congo
Etiópia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Democr%C3%A1tica_Popular_da_Eti%C3%B3pia
Moçambique - http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Popular_de_Mo%C3%A7ambique
Somália - http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Democr%C3%A1tica_da_Som%C3%A1lia
Iêmen - http://pt.wikipedia.org/wiki/I%C3%A9men_do_Sul

Sobre o partido socialista Baath que governou Iraque e Síria
http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Baath

Sobre os 100 milhões de mortos deixados pelo comunismo
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Livro_Negro_do_Comunismo

Sobre o regime socialista que exterminou um terço da população do Camboja
http://pt.wikipedia.org/wiki/Khmer_vermelho

Sobre a teoria da Utilidade Marginal que refutou as teorias de Marx
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_marginalista

Gráficos mostrando a redução da miséria absoluta em todo o Mundo e quais países foram mais eficientes nisso:
http://povertydata.worldbank.org/poverty/hom
Do site: http://www.porcocapitalista.com.br/

SEXO E DINHEIRO, FUTEBOL E BORRACHA: O ANO DO REDESCOBRIMENTO DO BRASIL

“Os brasileiros têm os dois pés no chão… E as duas mãos também.” Desde quando as primeiras caravelas dos europeus atracaram no Brasil, mais de cinco séculos atrás, muitos narradores tentaram compreender e descrever o caráter de nosso povo. Navegadores, jesuítas, piratas, garimpeiros, naturalistas, traficantes de escravos, aventureiros, filósofos, antropólogos, escritores: cada um deles tentou explicar aos seus semelhantes os traços marcantes do Brasil e do nosso povo pitoresco. Pouquíssimos conseguiram.

2014 será o ano da redescoberta do Brasil. Cronistas oriundos dos lugares mais improváveis irão atravessar o oceano e por seis meses, precisamente até o final da Copa do Mundo, 13 de julho, irão encher seus desinteressados e desinformados compatriotas com notícias sobre o Brasil. Recomenda-se a todos que renunciem imediatamente a qualquer tentativa de originalidade e passem a plagiar despudoradamente o mais feroz dos nossos humoristas, Ivan Lessa, que foi capaz de resumir a essência da nossa espécie em uma única frase: “Nós temos os pés no chão e as mãos também.”

Se Ivan Lessa, o nosso Apuleio, se destacou pela capacidade de revelar nossa natureza quadrúpede – os jumentos verde-amarelos – o historiador Paulo Prado, muito antes dele, deve ser lembrado por uma façanha igualmente relevante: ele diagnosticou nossa psique patologicamente melancólica. O seu “Retrato do Brasil”, com o subtítulo “Um ensaio sobre a tristeza brasileira” de 1926, é ainda hoje um guia insuperável para orientar os observadores menos afeitos às questões nacionais. A introdução não deixa dúvidas: “Em uma terra radiante, vive um povo triste”. Os brasileiros não são normalmente associados a estados de humor mais depressivos. Na verdade, é exatamente o oposto: somos festejados em todo o mundo pela nossa ritmada e ensurdecedora despreocupação, pelos nossos modos festivos e lascivos. Mas a tristeza mencionada por Paulo Prado não é fruto de uma angústia existencial, reflexiva, leopardiana; antes, é o resultado da própria luxúria. Sexo, sexo, sexo. Na nossa história não existe mais nada. O Brasil será sempre e só isso: o lugar onde o homem é livre para se comportar como “um bode em um cercado cheio de cabras, sem ideais, sem preocupações estéticas, políticas, intelectuais e artísticas.”

Nas primeiras páginas de “Retrato do Brasil”, carregadas com um pesado e obsoleto sentido de moralidade, Paulo Prado cita o testemunho de Américo Vespúcio sobre os costumes lascivos dos nossos antepassados: “Eles têm tantas esposas quanto queiram, o filho vive com sua mãe, o irmão com a irmã, a prima com seu primo, e todo homem com a primeira que aparece.” Em 14 de junho de 2014, após o jogo entre Itália e Inglaterra, um padeiro de Castelfranco Veneto, em visita à cidade de Manaus, próximo de onde estava Américo Vespúcio quinhentos anos atrás, poderá repetir as impressões do navegador italiano, usando as mesmas palavras daquele. O sexo, portanto, é o primeiro fator para explicar a nossa tristeza atávica, segundo Paulo Prado. Post coitum animal triste. Mas há um segundo fator não menos importante: a ganância. Enquanto a carnalidade selvagem estrangulou nossas escassas capacidades mentais, a ganância contaminou o nosso precário equilíbrio social. O Brasil foi fundado por bodes gananciosos e sem escrúpulos, dispostos a qualquer ignomínia a fim de conseguir acumular a maior quantidade possível de dinheiro o mais rápido possível e depois voltar com os despojos às suas terras de origem. Os ecos dessa gênese saqueadora são ouvidos ainda hoje na vida cotidiana. De fato, mais que os cinquenta mil assassinatos cometidos todos os anos – em 2013 foram assassinadas mais pessoas no Brasil que na Síria, e será assim também em 2014 –, o que realmente desconcerta é a aceitação resignada desse massacre permanente, como se fosse um elemento inevitável da natureza.

Mas a ganância descrita por Paulo Prado não produz apenas a ruína social: ela também produz frustração pessoal. Porque quase nunca é recompensada. Ciclicamente, o Brasil teve saltos de desenvolvimento e de dinheiro fácil, durante os os quais foi aclamado como o novo Eldorado, mas todos acabaram em poucos anos. Em nossa história tivemos o ciclo da madeira, o ciclo da cana-de-açúcar, o ciclo do ouro, o ciclo da borracha. Todos acabaram, deixando apenas desolação. Recentemente, houve um novo momento de euforia econômica em relação ao Brasil: o ciclo das commodities.

A opulência criada pela bolha das matérias-primas foi representada na capa da The Economist, que em novembro de 2009, estampou a imagem da estátua do Cristo Redentor decolando como um foguete em direção a um futuro magnífico. Quatro anos depois, a mesma revista precisou se retratar, mostrando o Cristo Redentor despencando tragicamente rumo ao chão, enquanto o título indaga: “o Brasil desperdiçou tudo?” Ao longo da história, o Brasil sempre passou desapercebido, uma espécie de apêndice da humanidade, um adendo estranho e inútil. Tudo vai mudar em 2014. Até meados do ano, o país será analisado e debatido por uma multidão de incautos cheia de opiniões equivocadas a nosso respeito. Então vamos submergir uma vez mais. Em outubro serão realizadas as eleições presidenciais, mas essas não interessam a ninguém, nem mesmo aos brasileiros. Apesar de a cúpula do seu partido ter sido presa por corrupção há alguns meses, Dilma Rousseff vai ganhar de novo, porque os eleitores estão acostumados há séculos com bodes gananciosos e desprovidos de escrúpulos. Então, para nossa sorte, 2014 vai terminar sem deixar vestígios. Como disse Ivan Lessa: “A cada quinze anos o Brasil esquece o que aconteceu nos últimos quinze anos.”

domingo, 2 de fevereiro de 2014

MUDAR, COM O PÉ NO CHÃO E VISÃO DE FUTURO

As pesquisas eleitorais estão a indicar que os eleitores começam a mostrar cansaço. Fadiga de material. Há 12 anos o lulopetismo impõe um estilo de governar e de se comunicar que, se teve êxito como propaganda, demonstra agora fragilidade. Toda a comunicação política foi centralizada, criou-se uma rede eficaz de difusão de versões e difamações oficiais pelo País afora, os assessores de comunicação e blogueiros distribuem comunicados e conteúdos a granel (pagos pelos cofres públicos e empresas estatais) e se difundiu o "Brasil maravilha", que teria começado em 2002. Ocorre que a realidade existe e às vezes se produz o que os psicólogos chamam de "incongruências cognitivas". Enquanto os efeitos das políticas de distribuição de renda (criadas pelos tucanos) eram novidade e a situação fiscal permitia aumentos salariais sem acarretar consequências negativas na economia, tudo bem. O cântico de louvor da propaganda encontrava eco na percepção da população.


Desde as manifestações de junho passado, que pegaram governo, oposição e sociedade de surpresa, deu para ver que nem tudo ia bem. A insatisfação estava nas ruas, a despeito das melhorias inegáveis do consumo popular e de alguns avanços na área social. É que a própria dinâmica da mobilidade social e da melhoria de vida e, principalmente, o aumento da informação geram novas disposições anímicas. As pessoas têm novas aspirações e veem criticamente o que antes não percebiam. Começam a desejar melhor qualidade, mais acesso aos bens e serviços e menos desigualdade.

O estopim imediato da reação popular foram os gastos da Copa, o custo do transporte, a ineficiência, a carestia e a eventual corrupção nas obras públicas. Ao lado disso, a péssima qualidade do transporte urbano, da saúde, da educação, da segurança, tudo de cambulhada. Nada é novo, nem a reação provocada por esse mal-estar se orientou, de início, contra um governo específico ou um partido. Significou o rechaço de tudo o que é autoridade. Na medida em que o governo federal reagiu propondo "pactos", que não deslancharam, e vestiu a carapuça, a tonalidade política mudou um pouco. Mas o rescaldo dos protestos - e não esqueçamos que eles têm causas - foi antes a criação de um vago sentimento mudancista do que um movimento político com consciência sobre o que se quer mudar.

Os donos do poder e da publicidade perceberam a situação e se aprestam a se apresentar com máscaras novas. Só que talvez a população queira eleger gente com maior capacidade organizacional e técnica, que conheça os nós que apertam o País e saiba como desatá-los. Essa será a batalha eleitoral do ano em curso. O petismo, solidário com os condenados do mensalão a ponto de coletar "vaquinhas" para pagar as dívidas deles, porá em marcha seus magos para dizer aos eleitores que são capazes da renovação.

E a oposição? Terá de desmascarar com firmeza, simplicidade e clareza truque por truque do adversário e, principalmente, deverá mostrar um caminho novo e convencer os eleitores de que só ela sabe trilhá-lo. Os erros da máquina pública, seu custo escorchante, a incompetência política e administrativa estão dando show no dia a dia. As falhas aparecem nas pequenas coisas, como na confusão armada a partir de uma simples parada da comitiva presidencial em Lisboa, e nas mais graves, como o inexplicável sigilo dos gastos do Tesouro para financiar obras em "países amigos". Isso abriu espaço, por exemplo, para o futuro candidato do PSDB dizer, com singeleza: "Uai, pena que a principal obra da presidente Dilma tenha sido feita em Cuba, e não no Nordeste, tão carente de infraestrutura". Sei que há razões estratégicas a motivar tais decisões. Mas na linguagem das eleições o povo quer saber "quanto do meu foi para o outro". E disso se trata: em quem o eleitor vai confiar mais para que suas expectativas, seus valores e interesses sejam atendidos.

Daí que a oposição deve concentrar-se no que aborrece o povo no cotidiano, sem desconhecer os erros macroeconômicos, que não são poucos.

Quanto à insegurança causada pela violência e pelo banditismo, é preciso reprimi-los e está na hora de o PSDB apresentar um plano bem embasado de construção de penitenciárias modernas, inclusive algumas sob a forma de parcerias público-privadas, como foi feito em Minas Gerais. É o momento para refazer a Lei de Execuções Penais e incentivar os mutirões que tirem das prisões quem já cumpriu pena, como também pôr fim, como está fazendo São Paulo, às cadeias em delegacias e, ainda, incentivar os juízes à adoção de penas alternativas.

Não será possível, sem negar eventuais benefícios de mais médicos, mostrar que a desatenção às pessoas, as filas nos hospitais, a demora na assistência aos enfermos, nada mudou? E que isso se deve à incompetência e à penetração de militantes partidários na máquina pública?

Por que não mostrar que o festejado programa Minha Casa, Minha Vida tem um desempenho ruim quando se trata de moradias para a camada de trabalhadores também pobres, mas cuja renda ultrapassa a dos menos aquinhoados, teoricamente atendidos pelo programa? Sobra uma enorme parcela da população trabalhadora sem acesso à casa própria, tendo de pagar aluguéis escorchantes.

Isso para não falar de um estilo de governo mais simples, mais honesto, que diga a verdade, mostre os problemas e não se fie no estilo "Brasil maravilha". De um governo mais poupador de impostos, reduzindo-os para todos e não apenas para beneficiar as empresas "campeãs" ou "estratégicas". As oposições precisam ser mais específicas e mostrar como reduzirão os absurdos 39 ministérios, como eliminarão o inchaço de funcionários e fortalecerão critérios profissionais para as nomeações. Também chegou a hora de uma reforma política e eleitoral. Não dá para governar com 30 partidos, dos quais boa parte não passa de legenda de aluguel.

Em suma, está na hora de mudar e quem tem a boca torta pelo cachimbo da conivência com a corrupção, o desperdício e a incompetência administrativa, por mais que faça mímica, não é capaz dessa proeza. O passado recente teve suas virtudes, mas se esgotou. Construamos um futuro de menos arrogância, com realismo e competência, que nos leve a dias melhores.
Por: Fernando Henrique Cardoso Sociologo, foi presidente da republica O Estado de S. Paulo


VOI CHE ENTRATE...

O mundo televisivo em nada em atrai. Para começar, exceção feita do Globo News, não assisto televisão nacional. A TV paga tampouco atrai muito. Me resumo a filmes e mesmo assim a vida não é fácil. Se em cada cem filmes exibidos você encontra cinco ou seis que valham a pena ser vistos, dê-se por contente.

A bem da verdade, já curti a mediocridade audiovisual. Em certa época, dediquei alguns minutos na madrugada para assistir às pregações dos pastores. Mas logo cansei. Não que pretendesse ouvir suas baboseiras. O que me fascinava era ver aqueles templos imensos lotados, com quatro mil, cinco mil ou mais pessoas, sem que se veja uma só cadeira vazia, todos fanatizados por um discurso estúpido e obviamente desonesto. Gosto de ver quando a câmera foca rostos. Pessoas de boa aparência, com traços até mesmo inteligentes, hipnotizadas pela lábia precária do pastor.

É meu modo de entender melhor o mundo. Vivo em um pequeno universo rarefeito, de poucos amigos, todos cultos e inteligentes. Corro o risco de achar que o mundo é mais ou menos assim. A televisão então me mostra, sem que eu precise sair de casa, a verdadeira face dessa pobre humanidade. Os pastores, sem nenhum pudor, ensinam como preencher cheques e boletos bancários.

Os tais de pastores evangélicos, que há muito deviam estar na cadeia, controlam, isto sim, cadeias de televisão. Não administram religiões, mas caça-níqueis. Isso sem falar no exercício ilegal da medicina. Em cada emissão televisiva, os milagres superam de longe o número de milagres que Cristo realizou em toda sua vida. Ocorrem em cadeia industrial, ao ritmo de dois ou três por minuto. O pastor até parece entediar-se com a freqüência dos mesmos e descarta rapidamente o miraculado que tem nos braços para abraçar o seguinte.

Ultimamente, em função de minhas auxiliares, tenho a televisão como música de fundo. Para elas, o silêncio é tortura. Como não posso pensar em torturar quem me serve, libero a mediocridade. De qualquer forma, as notícias que tenho da televisão, eu as leio em jornal.

Desde há muito as novelas ocuparam, para o brasileiro médio – e nem tão médio assim – o lugar antes destinado à literatura. A novela mostra o personagem como ele é, coisa que no livro só se deduz. A ação, cinematográfica, é mais rápida e dispensa palavras. Melhor ainda, a novela dispensa esse terrível esforço mental, o ato de ler. Neste sentido, é até espantoso que no Brasil ainda se leiam livros.

Assim sendo, foi pelos jornais que tomei conhecimento deste fato insólito – e certamente de grande significado histórico – o beijo gay culminando o final de uma novela. Pelo que se lê, é um marco na história da cultura nacional e seria algo inevitável na evolução do gênero. Milhões de basbaques se plantaram frente à tela para ver dois barbados trançando os bigodes. Haja apreço pela vulgaridade neste país nosso.

Nada tenho contra homossexualismo, quem me acompanha sabe muito bem disso. Sempre defendi toda e qualquer opção sexual, desde que não implique violência. Assim sendo, os barbados que se beijem à vontade. O que me espanta é ver um país todo esperando pela cena. 

Ainda há pouco, falando das badernas que a imprensa houve por bem chamar de rolezinhos, eu dizia não ver futuro brilhante neste país nosso. Uma boa amiga tentava me dar um pouco de esperança: “talvez com outras gerações, daqui a uns trinta anos...”

Ora, pelo andar da carroça, não vejo esperança nem daqui a um século. A ignorância, em vez de recuar, se multiplica. A Veja da semana passada, com o pretexto de uma reportagem sobre a periferia, faz uma extensa ode ao funk. Que o funk seja o hino de quatorze milhões de brasileiros, como afirma a pesquisa, isto até se entende. Em uma cultura que vive pregada à televisão, aos BBBs da vida e demais programas de auditório, não espanta. O que causa espécie é ver uma revista que se pretende séria dando um enfoque simpático à indigência nacional. Isso sem falar em rock e futebol.

Pelas circunstâncias que vivo, andei vendo trechos da programação da Globo aos domingos. Meu Deus – nestas horas viro místico! – nunca imaginei que a estupidez e a ausência de qualquer pingo de inteligência fossem tamanhas. Que esperar de uma nação que senta e baba diante de tais programas?

Comentei há pouco um filme de meus dias de juventude, Les Amants, de Louis Malle. O filme é de 1958, é obra das mais castas, mas causou repulsa no país todo, por uma cena na qual Jean-Marc Bory, no papel de Bernard, desce os lábios pelo corpo de Jeanne Moureau, a musa da época. 

A cena é tão sutil que, nos dias de hoje, ninguém pensaria em sexo oral. A única sugestão do gesto nefando é a cabeça de Bory que some da tela, enquanto a mão de La Moureau faz um leve gesto, que poderia significar tanto desconforto quanto prazer. Mas o público viu bem mais longe.

A cena terminava aí. Ao ser exibido em Porto Alegre, já nos anos 60, um grupo de espectadores criou a Turma do Apito. No momento da cena, a turma apitava em protesto ao gesto abominável. Isso que a câmera não descia nem mesmo até os seios! A Turma do Apito, talvez intuindo o próprio ridículo, se manteve sempre no anonimato. Hoje, meio século depois, quando sexo oral é praticamente obrigatório em qualquer filme que trate de relações homem/mulher, é difícil conceber que haja quem espere como novidade dois marmanjos se beijando. É difícil conceber, mas eles existem aos milhões. 

Que se pode esperar desta miséria humana?

Por: Janer Cristaldo Do site: http://cristaldo.blogspot.com.br/

ALGUNS CONSELHOS PARA AQUELES QUE GENUINAMENTE QUEREM AJUDAR OS POBRES


Se você está preocupado com a 'justiça social' e quer genuinamente ajudar os pobres a subir na vida de maneira permanente e independente, há alguns procedimentos que você pode seguir.

Sua primeira e imprescindível obrigação para com os pobres é: não se torne um deles e não faça com que outros se tornem um deles. Será muito mais difícil ajudar pessoas pobres se você ou seu vizinho se tornar pobre. Assim como você não deve se tornar pobre, você também não deve defender políticas que levem ao empobrecimento de ricos na crença de que isso levará ao enriquecimento dos pobres. Para o pobre, não interessa se foi você ou o seu vizinho que empobreceu por meio de medidas do governo; a situação dele não melhorará. Um rico empobrecido não cria um pobre enriquecido. A economia não é um jogo de soma zero.

Não sendo pobre, você tem uma escolha: você pode dar o peixe para os pobres comerem ou você pode lhes arrumar um emprego e ensiná-los a pescar o peixe por conta própria — isto é, ensiná-los a serem seres humanos produtivos.

O que nos leva à sua segunda obrigação: se você quer ensinar os pobres a serem independentes e capazes de se auto-ajudar, comece dando o exemplo ainda dentro de sua própria casa. Crie seus filhos de maneira austera. Filhos independentes e não-mimados se tornam mais produtivos, mais solícitos, mais realistas e menos propensos a roubar ou a ser desonestos. No futuro, seu filho poderá servir de exemplo comportamental para aquelas pessoas que você está preocupado em ajudar.

Dado que todos vivemos no mesmo planeta (e não há como fugir dele — vivos), todos enfrentamos o mesmo problema sobre como alocar recursos escassos da maneira mais eficiente possível do modo a satisfazer desejos cada vez maiores (já são quase 7 bilhões de pessoas na terra). Há duas maneiras de se alocar recursos: 1) por meio da força, ou seja, por meio de decretos e coerções governamentais; ou 2) voluntariamente, por meio do sistema de preços fornecido pelo mercado. 

Esta segunda maneira é mais duradoura e, logo, preferível para ser adotada com o intuito de sustentar a vida de um enorme número de pessoas. Por isso, é também sua obrigação explicar às pessoas — principalmente aos seus amigos igualmente sedentos por 'justiça social' — como funciona uma economia de mercado e por que apenas ela pode criar a maior quantidade possível de bens e serviços para os mais pobres, melhorando seu padrão de vida. Todo e qualquer sistema econômico socialista sempre culmina em escassez e em racionamento de recursos, exatamente o contrário do que você quer para os mais pobres.

Sua terceira obrigação para com os pobres é dar bons exemplos, de modo que eles se sintam estimulados a emular seu sucesso. Não minta, não roube, não trapaceie e não tome dinheiro das pessoas, tampouco utilize o governo para fazer isso por você. Não enriqueça por meio de políticas governamentais. Não aceite dinheiro nem privilégios do governo — dado que o governo nada cria, tudo o que ele lhe dá foi adquirido coercivamente de terceiros (na esmagadora maioria dos casos, contra a vontade de seus legítimos proprietários), uma medida que gera apenas ressentimento destes pagadores de impostos. Uma civilização que é erigida sobre o roubo e sobre privilégios não pode ser duradoura. Dê o exemplo não contribuindo para o perpetuamento deste arranjo.

Em um futuro muito próximo, será cada vez mais difícil para um indivíduo preservar sua riqueza. Governos falidos ao redor do mundo — consequência econômica inevitável de estados assistencialistas e inchados — estarão sedentos para confiscar quaisquer ativos remanescentes em uma desesperada tentativa de prolongar sua sobrevivência (mas sempre em nome do "bem público"). Os direitos individuais serão abolidos em nome do 'bem comum' e várias leis serão criadas com o intuito de tornar ilegal qualquer medida que vise a proteger a riqueza dos indivíduos mais ricos — e aí sim veremos uma verdadeira caça às bruxas.

Algumas pessoas acreditam que poderão evitar problemas caso voluntariamente entreguem seu dinheiro para o governo (ou peçam para que o governo o tribute). Pode ser, mas o fato é que durante a hiperinflação da França nos anos 1790, os ricos que não fugiram foram decapitados. Talvez a França tenha sido um caso extremo, mas a história mostra que sempre que os ricos foram pilhados por políticos populistas, os resultados não foram bonitos. Portanto, não empreste sua retórica e nem dê seu apoio a políticos ou movimentos políticos que defendam o confisco direto da riqueza dos mais ricos. Além de os pobres nunca terem sido beneficiados por tais medidas (algo economicamente impossível), você estará apenas aumentando o número de pobres.

Portanto, sua quarta obrigação para com os pobres é assegurar parte da sua riqueza para as gerações futuras. Dado que você genuinamente quer ajudar os pobres, acumule o máximo possível de ativos, trabalhe bastante e produza muita riqueza durante seu tempo de vida. Ao produzir riqueza, você não apenas estará empregando pessoas e enriquecendo-as também, como estará produzindo para toda a humanidade uma maior quantidade de bens e serviços. É assim que você fará com que as pessoas subam na vida. 

Caso prefira o assistencialismo puro, você também tem a opção de distribuir toda a sua riqueza quando se aposentar ou quando morrer. Quanto mais riqueza você produzir, mais você poderá distribuir. Você tem liberdade de escolha. Em vez de folgadamente defender o esbulho da riqueza alheia, crie você próprio a sua riqueza e então a distribua para os pobres — ou, melhor ainda, empregue-os neste processo de criação de riqueza.

Durante este processo, você terá de saber manter seus ativos a salvo do perigo, evitando que sejam confiscados pelo governo ou que simplesmente sejam esbanjados e dissipados. É neste quesito que você terá seus maiores problemas, muito embora várias famílias já tenham demonstrado ser possível manter sua riqueza ao longo de gerações. Sua riqueza provavelmente estará na forma de ativos produtivos que são difíceis de serem movidos de um país para o outro. Isso tornará mais difícil se proteger do governo doméstico, que estará ávido para confiscar sua riqueza quando ele precisar do dinheiro. Conclusão: você terá de diversificar seus ativos ao redor do mundo, de modo que, quando o governo de um país se tornar muito ganancioso (sempre para ajudar os pobres), você terá outra base de operações da qual operar. Isso irá garantir que você se mantenha fiel à sua primeira obrigação para com os pobres. Quem disse que é fácil concorrer com o amor do governo pelos pobres?

Caso continue preferindo ensinar a pescar em vez de dar o peixe, sua quinta e última obrigação para com os pobres é legar em herança sua riqueza para alguém (ou para um grupo de pessoas) que irá dar continuidade ao seu trabalho de fazer deste mundo um lugar melhor para os pobres viverem, com uma maior produtividade e uma mais eficiente alocação de ativos. Esta poderá ser a tarefa mais difícil de todas. 

Ser caridoso com a riqueza dos outros é uma delícia. Arregaçar as mangas e produzir por conta própria aquilo que você quer ver distribuído já é um pouco mais trabalhoso. Mas seu amor genuíno aos pobres servirá de estímulo todas as manhãs. Boa sorte!

Por: Hans F. Sennholz (1922-2007) o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos. Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim que chegou. Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic Education, 1992-1997. Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004, ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade.

Tradução de Leandro Roque