segunda-feira, 26 de maio de 2014

EM DEFESA DO LUXO


O que têm em comum um pingente de ouro, um violino Stradivarius, um relógio Cartier, um terno Armani, e um iPhone 5s? Nada tecnológico. Simplesmente há algo no luxuoso que sempre irritou profundamente estóicos, ascetas, mendicantes, esquerdistas e hippies ao longo da história. 


Os ataques contra o luxo vêm ocorrendo há pelo menos 2.500 anos, e sempre forneceram uma espécie de "estímulo intelectual" a vários pensadores (bem como aspirantes a pensadores), desde meninos ricos e mimados que se rebelam contra sua condição a filósofos de todos os matizes e credenciais, passando por sangrentos revolucionários igualitaristas.

No entanto, fica a pergunta: o que realmente é o luxo e por que ele gera tanto ódio de quando em vez? Um dicionário define luxo como "qualquer coisa dispendiosa ou difícil de se obter, que agrada aos sentidos sem ser uma necessidade". Outro define como "tudo que apresenta mais riqueza de execução do que é necessário para a sua utilidade". E outro define como "o que é supérfluo, que passa os limites do necessário". Por fim, mais um outro define como "magnificência, ostentação, suntuosidade; aqueles bens, acomodações, manufaturas, obras de arte e demais objetos que excedem o necessário".

Em comum, todos recorrem a uma variação da expressão "além do necessário". Mas o que é isso de "necessário"? Há sempre algum intelectual empedernido dizendo que o necessário para viver são apenas "alimentos, roupas e moradia", e que qualquer coisa além disso não passa de "ostentação".

O problema é que tal definição é incrivelmente retrógrada: além de negar todo o processo de criação de riqueza produzido pelos homens, ela reduz os seres humanos às suas mais puras necessidades biológicas (energia e proteção perante as intempéries). Em outras palavras, ela reduz os seres humanos exclusivamente ao seu lado animal. 

Só que nós seres humanos somos qualitativamente distintos: temos a capacidade de sonhar, de projetar e de criar. Isso significa que uma necessidade muito íntima do ser humano é a de criar, de dar vida às suas ideias, e de fazer arte. E é aqui que o luxo entra em cena: em todas essas coisas que, de um ponto de vista animalista-mecanicista, "não são necessárias", mas que enriquecem nossas vidas.

Para uma porcentagem importante da população, ter um iPod não é a mesma coisa do que ter qualquer outro reprodutor de MP3. E o motivo é simples: um produto da Apple não exerce apenas "função"; ele também é uma "declaração de status", ou seja, ele é um aporte à imagem de seu usuário. Como primatas avançados, temos a capacidade de embelezar e decorar as coisas, e é nessa capacidade que reside a essência daquilo que é humano. Um iPod ou um iate são facilmente criticáveis; já uma sinfonia de Beethoven ou uma receita gastronômica mediterrânea feita com 40 ingredientes orgânicos não apenas não são criticáveis, como são tidas como "cultura". 

Eis aí o ardil conceitual dos inimigos do luxo: criticam o consumidor do luxo — o usuário — mas não seu criador, o qual muitas vezes é tido como uma alma artística, sensível e até mesmo industriosa.

O luxo é obtido à custa da alguém? Nos tempos das teocracias e dos regimes feudais, o luxo sempre surgia à custa da qualidade de vida de terceiros. Faraós, ditadores socialistas ou emires árabes são exemplos de pessoas que conseguiram luxo à custa da qualidade de vida de sua população. Com efeito, no passado, muitas terras e fortunas foram adquiridas mediante o uso da força, e não mediante o comércio. Porém, nas sociedades industriais e comerciais atuais, a riqueza é criada com a produção e subsequente comércio. O que possuímos não foi criado à custa de outra pessoa.

Ao se analisar o luxo, há quase sempre uma tendência de se separar o "belo" do "funcional". Só que tal divisão não deixa de ser impossível. Muitos daqueles que atacam o "excessivo" em determinado aspecto, o defendem inflexivelmente em outra aplicação. Muitos amantes da música consideram uma escultura algo desnecessário, e muito artistas não entendem a beleza de uma invenção mecânica ou de uma fórmula matemática. A primeira defesa do luxo passa pela ética: o que terceiros fazem com seu corpo, com seus membros e com seus materiais adquiridos de maneira pacífica e voluntária não é problema nosso, não nos prejudica e nem sempre seremos capazes de entender suas motivações. 

Na economia, um bem de luxo é definido como aquele cuja demanda aumenta desproporcionalmente em relação ao aumento da renda. Disso, vale uma observação: o luxo só pode ser definido de forma relativa. O luxo só é luxo dentro de algum contexto específico.

Citando Ludwig von Mises, "os luxos de hoje são os bens triviais de amanhã". Assim como a filósofa russa Ayn Rand disse que "a função da arte é nos mostrar as coisas tal como poderiam ser", podemos dizer, parodiando Mises, que a função do luxo é nos mostrar o caminho massificador para que as coisas passem a ser para todos. O progresso humano não é estático: o que nos parece um bem absolutamente normal nos dias de hoje, começou sem nenhuma dúvida sendo um luxo (extravagância? Ostentação?) para poucos.

Pense em um sanduíche de presunto obtido em qualquer birosca de qualquer bairro da sua cidade. Sem dúvidas, ele seria uma delicatessen no Sudão, um país extremamente atrasado e pobre. No entanto, se formos para a Suíça ou para a Noruega, o sanduíche que come um pedreiro parecerá uma delicatessen — tomando por base seus ingredientes — se comparado aos sanduíches vendidos nos bairros pobres das cidades do Brasil, do Equador, do Peru ou da Bolívia. Por isso, o luxo sempre se dá dentro de um contexto específico. Certamente, para nossos antepassados da era paleolítica, qualquer moradia com dois recintos seria uma mansão. Cada filho de uma família ter suas próprias roupas e sapatos, em vez de herdá-los de seus irmãos mais velhos, é algo que, há não muito tempo, era visto como um luxo "dos ricos". O mesmo ocorreu com o automóvel, com o computador, com o telefone celular, com o relógio de pulso e com uma infinidade de outros bens.

Como disse Gustavo Cerati: "aquilo que para os de cima é excêntrico, para os de baixo é loucura". Que os mais prósperos ou criativos busquem adornar suas vidas com luxos não representa nenhuma ameaça para o resto de nós. Pelo contrário: representa um sistema de erros e acertos em termos de gostos, cujos resultados o resto de nós poderá usufruir sem prejuízo. Após seus fracassos — e acertos —, o resto de nós irá decidir, sem qualquer prejuízo, se é sensato e de bom gosto adquirir tais bens. 

A humanidade já viveu 5.000 séculos daquilo que Hobbes chamou de "vida curta, brutal e miserável". Já chegou a hora de nos darmos ao luxo de desfrutarmos um pouco todas essas coisas que para alguns são "desnecessárias", mas que melhoram sobremaneira nossa qualidade de vida — como, por exemplo, o computador (ou o tablet ou o smartphone) em que você está lendo este artigo.

Juan Fernando Carpio mora em Quito, Equador, possui mestrado em Economia Empreendedorial pela Universidad Francisco Marroquin, da Guatemala e é o presidente do Instituto para la Libertad, um think tank libertário equatoriano.

POR QUE A CHINA VAI IMPLODIR


O segredo para se entender a China é que o país não é apenas mais uma economia emergente que vivenciou um forte crescimento e que, agora, está momentaneamente se esforçando para conter seus excessos. Também não se trata de mais uma economia que incorreu em uma farra de investimentos errôneos em ativos fixos, como imóveis, e que agora quer fazer uma transição para algum tipo mais "normal" de economia, como uma baseada no consumo. 


Não.

A China é uma grotesca aberração econômica, cujo modelo econômico simplesmente não tem semelhança a nenhum outro modelo econômico já adotado por algum outro país em algum momento da história — nem mesmo ao modelo mercantilista de estímulo às exportações originalmente criado pelo Japão, e que já se comprovou insustentável. 

O governo chinês está nas mãos de um grupo de velhos comunistas que foram criados sob o regime de Mao. Eles acreditam em planejamento central, ainda que de uma maneira mais diluída. Eles enviaram seus jovens mais inteligentes para estudar economia nas universidades americanas. Esses jovens retornaram para a China keynesianos.

A economia chinesa é hoje uma mistura maluca de empreendedorismo de livre mercado, de investimentos subsidiados e dirigidos pelo Banco Central, de mercantilismo keynesiano, e de planejamento central comunista. Trata-se de um acidente monumental que está na iminência de acontecer.

A China é uma nação que, em decorrência de uma monumental bolha de crédito, incorreu em uma insana mania especulativa direcionada majoritariamente para a construção civil. As implicações desse endividamento (todo crédito é um endividamento) e dessa especulação imobiliária estão sendo resolutamente ignoradas por analistas que ainda estão iludidos pela noção de que a China criou um modelo econômico singular chamado "capitalismo vermelho".

Quando a dívida total (pública e privada) de um país explode de US$1 trilhão para US$25 trilhões em apenas 14 anos, isso não é capitalismo, nem mesmo vermelho. Trata-se de insanidade monetária conduzida pelo estado.

Há ocasiões em que uma imagem vale mais que mil palavras. Eis a seguir um gráfico que apareceu em uma matéria do Financial Times que falava sobre a rápida deterioração do mercado imobiliário chinês. Ao que parece, de acordo com dados da US Geological Survey e do Comitê Nacional de Estatísticas da China, durante um período de apenas dois anos, 2011 e 2012, o qual representou o ápice da tão aclamada "agressiva política de estímulos" do governo chinês em resposta à recessão do mundo desenvolvido, a China consumiu mais cimento do que os EUA consumiram durante todo o século XX!



Consumo de cimento per capita (eixo Y) versus PIB per capita (eixo X)

Esse fato insano tem de ser corretamente digerido. Eis uma maneira de colocar as coisas em suas devidas proporções.

Pense em todo o processo de urbanização ocorrido nos EUA ao longo dos últimos 100 anos. Pense na construção de todos os edifícios comerciais, de todos os prédios residenciais, de todas as casas, de todos os arranha-céus, e de todos os shoppings que adornam as milhares de cidades americanas da costa leste à oeste. Pense também na construção de toda a infraestrutura do país, desde as simples ruas e avenidas das cidades até as grandiosas represas Hoover, TVA e Grande Coulee, passando por toda a malha de rodovias, aeroportos, portos, rodoviárias, estações de trem, de metrô. Pense em todos os estádios de futebol americano, de beisebol, de basquete, de hóquei; em todos os auditórios e estacionamentos que já foram construídos no país. 

Todo o volume de cimento gasto nesse processo de 100 anos foi o mesmo que a China gastou em dois anos.

O resultado? Cidades completamente vazias.

Eis o busílis. É impossível olhar apenas para os frios números do PIB chinês e ter qualquer compreensão sobre o estrondoso colapso que irá ocorrer quando todo esse frenesi de obras acabar. A noção de que o governo, de maneira indolor, será capaz de reduzir os investimentos em ativos fixos de seu atual valor de 50% do PIB para "apenas" 25% — o que ainda seria consideravelmente alto — ignora o que realmente é a economia chinesa: um projeto de construção civil de dimensões continentais, na qual tudo está relacionado a transportar, fabricar, erigir e vender infraestrutura — públicas e privadas, varejista e industrial.

Portanto, quando as construções pararem — seja porque os preços inflados dos imóveis estão caindo ou porque a expansão creditícia não mais será capaz de continuar sustentando a bolha —, a implosão será trovejante. A produção de cimento pode cair dos atuais 2 bilhões de toneladas por ano para meros 500 milhões; o consumo de aço irá despencar proporcionalmente; frotas industriais de caminhões de cimento e de transporte de aço ficarão ociosas; a demanda por pneus, por componentes de motores, e por combustível para caminhão irá evaporar; empreendedores que fornecem os serviços que suprem este gigantesco fluxo de cimento e aço irão à bancarrota; os apartamentos vazios — ainda chamados de "investimentos" — em posse de seus proprietários serão inúteis.

E quando essa implosão ocorrer, mais de um bilhão de pessoas irá vivenciar em primeira mão como planejamento central, expansão do crédito e inflação monetária produzida por um Banco Central são eficientes em destruir recursos escassos.

Esse será o maior desafio dos oligarcas comunistas. Os chineses conhecem apenas dois sistemas econômicos: o sistema comunista sob Mao e o atual sistema, que é baseado na inflação monetária gerenciada pelo Banco Central e na alocação keynesiana de capital. As massas depositaram sua fé nesse sistema econômico. Quando ele entrar em colapso, as consequências serão interessantes.

Atualmente, há aproximadamente 90.000 manifestações populares por ano na China. O governo é relativamente eficaz em escondê-las do mundo. Quantas mais ocorrerão quando houver a implosão?

David Stockman é ex-congressista americano e ex-membro do governo Reagan.  Escreveu o livro The Great Deformation(resenhado aqui), que cita detalhes desconhecidos sobre os favorecimentos do governo americano aos grandes bancos do país.  Atualmente, Stockman é o editor do site David Stockman's Contra Corner.

domingo, 25 de maio de 2014

100 Jahre Erster Weltkrieg - Filmaufnahmen von der Front in FARBE ! (+pl...

RASCUNHO ACHADO NO LIXO

Enviam-me duas folhas A4 amassadas, supostamente recuperadas de uma lixeira do Palácio dos Bandeirantes. Nelas, um texto impresso, sem assinatura, intitulado "Comunicado da Sabesp". A hipótese é que se trata de uma sugestão rejeitada oriunda de assessores do governador Geraldo Alckmin. Gostei tanto do texto que o reproduzo a seguir.


"A Companhia de Saneamento Básico do Estado de S. Paulo (Sabesp) comunica o cancelamento da exibição de sua última peça publicitária, que enaltece a 'coragem', a 'determinação' e a 'solidariedade' dos paulistas diante da crise de abastecimento de água. As razões:

1) A peça infringe a Constituição, que restringe a publicidade oficial a campanhas de 'caráter educativo, informativo ou de orientação social'. É propaganda política e eleitoral (mal) dissimulada. No Brasil, governantes em todos os níveis apropriam-se das verbas publicitárias para promoção de seus interesses partidários. O governo federal faz isso todos os dias, por meio de ministérios e empresas estatais como a Petrobras e a Caixa Econômica Federal (CEF). A CEF chega ao cúmulo de financiar blogs oficialistas consagrados, hoje, à difamação sistemática do Poder Judiciário. O Ministério Público finge que não vê, outorgando aos políticos a prerrogativa de violar a lei. Mas nós decidimos seguir a lei, o que acarretará brutal redução das despesas publicitárias, que não levam água a nenhum consumidor.

2) A peça é mistificadora. Essa conversa de que 'paulista é aquele que nasceu para vencer, faça chuva ou faça sol', reminiscente da mitologia bandeirante, configura uma aposta anacrônica no 'patriotismo regional'. Não existe, a não ser num limitado sentido político-administrativo, 'o paulista', 'o gaúcho', 'o mineiro' ou 'o nordestino'. Sempre que governantes atribuem identidades essenciais aos habitantes de uma região ou Estado, falando de uma pluralidade no singular, estão usurpando os direitos do povo. Os paulistas não são súditos de Alckmin, que não tem a prerrogativa de defini-los.

3) A peça falseia a realidade. 'A chuva não veio', 'a maior seca da história' de São Paulo, é uma causa verdadeira da crise da água, mas nem tudo pode ser atribuído à natureza. A variabilidade climática é um dado óbvio na equação do planejamento. Reconhecemos as carências de investimentos na conservação de mananciais e na ampliação dos sistemas de represas que abastecem a macrometrópole. Não temos o direito de ocultar nossos erros apenas porque o governo federal rejeita suas responsabilidades sobre a crise na geração hidrelétrica no país –deflagrada, ela também, pela prolongada estiagem.

O cancelamento da peça publicitária não extingue o assunto. Nos próximos dias, iniciaremos um racionamento oficial no abastecimento de água. A medida prudencial destina-se a poupar a reserva do volume morto no sistema Cantareira, pois não se pode apostar tudo na temporada de chuvas da primavera. É um erro imperdoável converter os paulistas em reféns do imperativo político-eleitoral de aguardar que o governo federal anuncie o racionamento de eletricidade no país. A imprudência deles não justifica a nossa."

Fim do rascunho. Mas há algo mais. No alto da primeira página, aparece uma observação escrita à mão, com caneta vermelha, que diz: "Os marqueteiros tentarão vetar esse comunicado. Eles sempre subestimam a inteligência dos cidadãos (na linguagem deles, 'eleitores', ou seja, indivíduos irrelevantes fora do período eleitoral)".

Desconfio de todo o episódio. Meu instinto sugere que o tal rascunho nunca foi escrito no Palácio dos Bandeirantes: é uma falsificação de algum gaiato. Acho que Alckmin, Dilma "et caterva" pensam exatamente como seus marqueteiros –isto é, desprezam os cidadãos que pagam impostos. Teremos água e energia elétrica até as eleições. Depois, só Deus (ou são Pedro) sabe. 
Por: Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP


sábado, 24 de maio de 2014

IDEOLOGIA x VERDADE

Um grande protesto está sendo planejado para ocorrer na Rússia dia 18 de maio onde um número incontável de pessoas exigirá que o Presidente Putin renuncie.


O verdadeiro problema entre a Ucrânia e a Rússia é a concentração de poder no Kremlin 
e a corrupção que flui de lá.

Há uma tendência, especialmente nos dias de hoje, em reduzir toda a análise política a uma fórmula ideológica e julgar tudo de acordo com essa mesma fórmula. Tal reducionismo é usualmente errôneo – e até mesmo perigoso – quando aplicado em um mundo complicado como este. Evidentemente é muito mais fácil simplificar tudo em nome da compreensibilidade, mas o mundo não se tornará mais simples se recorrermos ao reducionismo ideológico. Quem se tornará mais simples seremos nós – ao ponto de tornarmo-nos estúpidos.

Muitos recorrem ao reducionismo ideológico por estarem distraídos ou por não terem tempo para estudos políticos ou históricos, e então eles adotam um modelo ideológico pronto. Isso possibilita a eles categorizar imediatamente todos os fenômenos políticos em duas categorias: (1) aqueles que concordam com aquele modelo ideológico pronto que se adotou; (2) aqueles que discordam daquele modelo ideológico pronto que se adotou. Essa nefasta prática serve para dizer se um fenômeno discordante à ideologia adotada é errado ou mau; Se o fenômeno for concordante, ele é justo e apropriado. Em outras palavras, sob o manto da simplificação ideológica não podemos julgar nada honestamente, pois quando julgamos pela régua ideológica nós nos esquecemos que a ideologia não é a realidade.

Hoje em dia é incontestável que todos têm uma ideologia. Até mesmo a negação da ideologia é tomada como uma ideologia. As pessoas se concebem como pertencentes à Direita ou à Esquerda. A divisão em cada um dos lados é também fragmentada em facções ou grupos. Alguém recentemente me perguntou quais as minhas crenças políticas. A resposta será dada em alguns dos próximos parágrafos.

James Burnham disse que a política trata-se de três coisas: (1) poder; (2) poder; (3) poder. Em outras palavras, a política trata de quem possui o poder político e se esse poder é concentrado ou separado, legítimo ou ilegítimo. Evidentemente pode-se perguntar o que significa a palavra “poder”. O grande historiador cultural, Jacob Burckhardt, disse que “o poder é o mal”. Ao meu ver, essa verdade é a fundação de toda a sabedoria política. Já o lorde Acton é famoso pelo dito “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Ele também disse: “Grandes homens são quase sempre homens maus”. Essa sombria verdade é engolida com grande dificuldade pelos entusiastas da política, pois os homens querem acreditar em heróis políticos e também querem acreditar em salvação política. Contudo, não há salvação como comumente se acredita, salvo no caso da limitação do poder. Burckhardt estava certo em dizer que o poder é mau, e o lorde Acton estava certo em dizer que o poder tende a corromper. A lição que fica, portanto, é aquela dos Pais Fundadores da América (Founding Fathers): limitar o poder do Estado e a corrupção que flui no poder estatal.

Esse princípio de poder que foi aplicado ao Estado também se aplica ao indivíduo. Olhar para si e dizer “farei tudo aquilo que quiser” é entrar no caminho da autodestruição e da desmoralização. Esse dito, entretanto, é o que anima nossa era (tanto o governo quando o indivíduo). Imagina-se, de alguma forma, que a propriedade é uma forma de opressão a qual o indivíduo deve ser libertado; e assim, por todos os lados, deu-se início a um processo de libertação. Mas no final das contas isso é apenas um processo corruptor em que o indivíduo dito libertado se torna cada vez mais degradado – às vezes até mais brutalizado e decadente.

Governos que desfrutam de poder ilimitado sobre seu povo também se tornam degradados e brutais. Considere o exemplo de Hitler, cuja brutalidade pode ser vista quando ele culpa o povo alemão pelo fracasso das suas políticas militares agressivas; ou considere Mao Tsé-Tung, o ditador da China comunista, que dormiu com diferentes garotas em diferentes noites, desejando dar a elas quaisquer doenças venéreas que ele possuía à época.

Se a política trata-se de poder, como disse Burnham, e o poder é mau, como disse Burckhardt, então um sistema político relativamente bom deve ser baseado em freios e contrapesos. Já um sistema político pernicioso provavelmente idealizará a concentração de poder (i.e., como se dá na ideia comunista do “centralismo democrático” ou no “Führerprinzip” de Hitler). Projetos utópicos também são perigosos: o socialismo igualitário porque seus partidários precisam de poder ilimitado para trazer a igualdade universal; o comunismo porque para se ter um controle absoluto sobre a economia é necessário um poderoso estado policial; o nacional-Socialismo porque todo poder está concentrado na mão de um homem, Adolf Hitler. A concentração de poder no século XX nos trouxe guerras catastróficas, escravização generalizada em campos de concentração e perdas econômicas. 

Aqueles que pedem poder total em nome de uma causa (seja ela qual for), ou são tolos perigosos ou criminosos. Não se deve confiar o poder a eles porque eles irão usá-lo para obter mais poder, e assim continuarão a acumulá-lo sem levar em conta os danos que possam causar ou as pessoas que possam vir a machucar. As únicas pessoas que se deve confiar o poder são aquelas que não o querem por saber que o poder é mau e aqueles que sentem que o poder é um fardo e não uma vantagem.

Há, todavia, uma ressalva nisso tudo que não pode ser facilmente conciliada. Quando uma comunidade é ameaçada pela guerra, o poder deve ser concentrado nas mãos do comandante-em-chefe. Isso não pode ser evitado, pois é necessário aplicar o princípio da unidade de comando. Guerras não podem ser vencidas sem estratégia, e estratégia requer um comandante que dá a última palavra em todas as coisas. Aqui podemos vislumbrar porque um sistema bélico coincide com as aspirações totalitárias. A guerra ajuda a justificar o ditador, enquanto a paz o faz parecer supérfluo. Assim temos a base para duas formas de sociedade: sociedade livre e sociedade totalitária.

Aplicar esses preceitos delineados acima em uma dada situação política não é sempre tarefa fácil. Tomando o caso da Ucrânia como exemplo, podemos ver logo de cara que a Rússia já invadiu, infiltrou e rompeu partes da Ucrânia com o fim de anexá-las (e assim adicionar terra e poder para si). O Kremlin obviamente espera subjugar toda a Ucrânia por meio do processo de “dividir e governar”. A maioria do povo ucraniano quer de verdade que seu Estado seja inviolável e soberano. Eles estão cansados de serem governados por criminosos de tipo soviético. A causa pela liberdade trouxe ganhos significantes, mesmo considerando que alguns dos novos líderes “democráticos” lá enxertados sejam criaturas secretas de Moscou. No momento, esses agentes não podem cumprir ordens de Moscou sem se traírem. A liberdade, portanto, tem uma chance, apesar de minúscula. Além do mais, um grande protesto está sendo planejado para ocorrer na Rússia dia 18 de maio onde um número incontável de pessoas exigirá que o Presidente Putin renuncie. Vemos nisso um movimento espontâneo de cidadãos preocupados entrando em ação para limitar o poder de um governo que não reconhece qualquer freio à sua autoridade. O Kremlin revidará? Centenas morrerão? Milhares serão presos?

Para dar um exemplo à Rússia, a Ucrânia deve estabelecer um modelo de governo limitado. Além disso, a resposta de Kiev às provocações paramilitares russas deve ser cuidadosamente medida. O derramar de sangue deve ser reduzido a um mínimo e os infiltrados russos devem ser expulsos (e isso é melhor feito por meio de pequenas ações sequenciais em vez de tudo de uma vez). Também seria imprudente nesse confronto fazer ameaças militares ou econômicas, pois a coisa certa seria o oferecimento de uma amizade com o povo russo em todas oportunidades que parecer apropriado. Deve-se sempre ser dito que os povos ucranianos e russos são irmãos. Qualquer um que começar uma guerra entre esses dois povos, ou espalhar ódio entre eles, é um inimigo a ser combatido por ambos, pois o verdadeiro problema entre a Ucrânia e a Rússia é a concentração de poder no Kremlin e a corrupção que flui de lá. É esse poder e essa corrupção que agora ameaça a paz na Europa.
http://jrnyquist.com  Tradução: Leonildo Trombela Junior


AMBIENTALISMO: UMA COLUNA INFILTRADA DE PUTIN NO OCIDENTE

Um importante número de grupos ambientalistas radicais procede da metamorfose operada por organizações montadas pela URSS no Ocidente com fachadas enganadoras no tempo da Guerra Fria.


O jornal “Washington Post” apontou que “a mais moderna arma da Europa” contra a agressividade do presidente russo Vladimir Putin jaz enterrada sob os belos pastos de pitorescas aldeias. 

Trata-se do gás e do petróleo de xisto – ou shale gas – que a Europa possui em quantidades suficientes para livrar-se das chantagens da “nova URSS”. 

Agora, muitas vozes europeias nos setores conservadores aumentam de volume pedindo essa arma pacífica. O premiê inglês David Cameron somou-se a esse coro.

Mas não se extrai esses combustíveis da noite para o dia. Por que não o fizeram antes?

A Polônia depende de modo angustiante dos combustíveis russos, mas detém uma das maiores reservas de gás de xisto da Europa. A França já foi qualificada de Qatar do gás europeu, mas tampouco extrai e depende do gás árabe. 

Os volumes de gás na Grã-Bretanha estão sendo comparados aos da Dakota do Norte (EUA), segundo o mesmo “Washington Post”. As reservas europeias mensuradas são apenas menores que as do EUA. Estas, sim, vêm sendo exploradas e estão mudando o jogo planetário dos recursos energéticos.

“O potencial é enorme. O recurso é muito grande no Reino Unido e na Europa”, diz Francis Egan, diretor-chefe de uma das maiores firmas especializadas no fracking, técnica para a exploração desse recurso. 

O fato é que uma campanha pertinaz do ambientalismo radical, sonolentamente acompanhada pela opinião pública, mas com forte apoio nos meios políticos oficiais, até o presente bloqueou qualquer aproveitamento sério desse maná energético e deixou a Europa de joelhos diante da ameaça russa e da instabilidade árabe.

Na Europa e também nos EUA, a bem paga militância ambientalista aprontou slogans, filmes e material propagandístico para assustar os habitantes das regiões onde se pode tirar o gás de xisto.

Água potável envenenada, torneiras saindo fogo, etc., destas fraudes propagandísticas já nos ocupamos em diversos posts. (Veja, por exemplo: Ardis cinematográficos para impedir exploração de gás de xisto).

Dessa maneira, já se fala em Terceira Guerra Mundial, e a grande cartada de Putin para ameaçar o Ocidente não é a vetusta indústria bélica russa nem sua desequilibrada economia. Nem mesmo as imensas jazidas de gás e petróleo.

Essa grande cartada foi-lhe fornecida pelo ambientalismo radical que desarmou o Ocidente e o deixou preso na “corda de aço” dos dutos russos.

Um importante número de grupos ambientalistas radicais procede da metamorfose operada por organizações montadas pela URSS no Ocidente com fachadas enganadoras no tempo da Guerra Fria.

A Alemanha é talvez um dos países mais visados por esse esquema. Ela decidiu acabar com suas usinas nucleares no prazo de uma década, fato que a deixou ainda mais dependente do gás russo. 

O ambientalismo insiste nas “energias renováveis”, mas seu discurso fica incompreensível quando se constata que não há ainda tecnologia que torne esses recursos substitutos viáveis das energias convencionais.

O governo alemão estaria considerando a possibilidade de construir imensos portos para receber o gás liquefeito dos EUA, e ainda outras medidas caríssimas. Mas não age como um governo de fato soberano, pois depende da longa manus ambientalista que serve aos interesses de Moscou.

Num momento em que se joga a paz na Europa e no mundo, os defensores do fracking – a tecnologia que permite aproveitar as jazidas salvadoras de gás – tomam coragem, mais a oposição “verde” é ferina.

Por exemplo, o deputado Michael Fuchs, do partido CDU – ao qual pertence Angela Merkel –, falou em Berlim, pedindo para se prestar um pouco de atenção no fracking, Suas contas de Twitter e Facebook foram sepultadas com mensagens de ambientalistas fanatizados.

Na Polônia, país na mira do “novo-sovietismo”, as atitudes públicas em relação ao fracking estão mudando. Porém, após quatro anos de experiências, o país avançou pouco sobre suas imensas reservas. Estas poderiam satisfazer às suas necessidades domésticas de energia durante séculos.

A crise da vizinha Ucrânia estimulou novos esforços e o premiê Donald Tusk propôs uma suspensão dos impostos durante seis anos para a produção de gás de xisto.
Por; Luis Dufaur, escritor, edita o blog Verde, a cor nova do comunismo.


sexta-feira, 23 de maio de 2014

MILIONÁRIOS DA CHINA EM FUGA: PRENÚNCIO DE UMA NOVA PERESTROIKA?


O leitor médio é porcamente ludibriado pela mídia nacional e global que trata de ocultar as informações sobre a verdadeira China.

Elogiar o “modelo chinês” é elogiar o regime mais monstruoso, genocida e desumano de toda a história da humanidade – tanto no seu passado quanto no seu presente.

Duas visitantes tiram fotografias de uma banheira de ouro na Feira dos Milionários 
em Xangai, China.

Com as seguintes palavras o Ion Mihai Pacepa descreve a realidade da nomenklatura (“a elite”) comunista:

“(...) Para a população romena normal, a palavra nomenklatura significa a elite, a superestrutura social reconhecível por seus privilégios. As pessoas da nomenklatura não viajam de ônibus ou de carros. Eles utilizam carros do governo. A cor e o modelo do carro indicam a graduação do seu dono na hierarquia: quanto mais escuro, mais alta é a sua posição (…) Os integrantes da nomenklatura não vivem em apartamentos construídos no regime comunista. Tal como eu recebi, eles recebem villas nacionalizadas ou apartamentos de luxo que anteriormente pertenciam aos capitalistas (…) Durante o verão, as pessoas da nomenklatura não são vistas nas lotadas e suadas praias públicas de Bucareste. Eles vão a balneários em áreas especiais ou passam o fim de semana numa villa em Snagov, um resort há 40 km de Bucareste. Os integrantes da nomenklatura não passam suas férias aglomerados como sardinhas nas colônias em estilo soviético. Eles possuem as suas próprias casas de férias. Quanto mais escuro o automóvel, mais próxima à casa de férias fica da casa de veraneio de Ceausescu (…) Eles não ficam numa fila ao relento defronte uma policlínica de modelo soviético, onde o tratamento é gratuito, mas você é mal tratado desde o porteiro e onde não é possível gastar mais que 15 minutos com um doutor que tem de atender pelo menos 30 pacientes no seu turno de oito horas. Eles não têm de ir a hospitais normais, onde duas pessoas têm de dividir o mesmo leito. Eles possuem hospitais luxuosos no estilo ocidental dos hospitais Hellias, que foram construídos como uma fundação privada na época antes do comunismo (...) Quantos hospitais só seus a Rainha da Inglaterra tem? (…) Nenhum. Este é o número. O Camarada [Ceausescu] tem um hospital só para si. E médicos que tratam exclusivamente dele e da família dele. (...)” 
(Red Horizons. Pg. 171-172 e 419)

Peço ao leitor a gentileza de ler a notícia abaixo. Ela, por si só, é imensamente interessante. Ao término dela farei alguns comentários sobre o que essa movimentação oculta e sobre o inevitável colapso do sistema chinês.

Uma avalanche de milionários chineses invade a Austrália
Laura Millan Lombraña
Tradução: Francis Lauer

Uma iniciativa do governo australiano de conceder residência permanente a multimilionários estrangeiros fez disparar a presença de chineses endinheirados no país. A chegada deles catapultou os preços do mercado imobiliário assim como a demanda por produtos de luxo e por atividades nos megacassinos na Austrália.

O visto para investidores significativos (SIV na sigla em inglês) permite que qualquer cidadão estrangeiro obtenha uma permissão para residência permanente na Austrália caso invista 5 milhões de dólares australianos (10 milhões de reais) no país durante quatro anos e que permaneça no país, no mínimo, cem dias a cada ano.

Desde a introdução dessa medida, em novembro de 2012, o governo recebeu um total de 981 solicitações, 92% das quais oriundas de cidadãos chineses. Em dezembro havia sido concedidos 88 vistos, o que equivale a um investimento total de, no mínimo, 440 milhões de dólares australianos (907 milhões de reais). Os dados do Departamento de Imigração mostram que as solicitações de vistos em espera de aprovação equivalem a aproximadamente 3 bilhões e 500 milhões de dólares (9 bilhões e 100 milhões de reais).

“Os multimilionários chineses estão começando a olhar para fora, em busca de economias estáveis para investir seu dinheiro e onde também exista uma excelente qualidade de vida e um bom sistema educacional para seus filhos”, explica Mark Wright, sócio da Deloitte Austrália e especialista em fluxos migratórios.

Wright assegura que “os benefícios são óbvios: a maior parte desse capital destina-se à compra da dívida do Governo australiano, pois é um investimento seguro”. Os multimilionários chineses normalmente gastam o restante em infraestrutura ou em propriedades imobiliárias.


A “explosão” no mercado imobiliário
A Unique Estates é uma das agências que oferece oportunidades de investimento em propriedades de alto padrão em Sidney. Uma de suas agentes, Sally Taylor, afirma que o mercado vivenciou uma “explosão” desde que os novos vistos passaram a vigorar.

“Os compradores chineses agora são nossos principais clientes”, tantos aqueles que compram ativos imobiliários para investir como aqueles que adquirem residências de luxo para morar, afirma ela. Os investidores chineses entraram com tanta força no mercado que “restam poucos projetos disponíveis para investir e a oferta é muito limitada”.

O mercado de casas de luxo também começou a sofrer uma saturação. “Há um ano a demanda era de casas de quatro a seis milhões de dólares, porém, hoje, o movimento está em torno das de oito a dez milhões de dólares e começamos a ver alguma movimentação em residências de mais de vinte milhões que não enxergávamos fazia anos”, explica Taylor à reportagem.

A compra intensiva de propriedades por parte de investidores chineses é um dos fatos que tem elevado o preço de residências na Austrália e, sobretudo, em Sidney. Auxiliado também pela taxa de juros na mínima histórica, o preço dos imóveis naquela cidade subiram 15% apenas em 2013, frente a um aumento médio de 9,8% no restante da Austrália, segundo um estudo da RP Data.

Ao passo que o país debate a respeito da existência de uma bolha imobiliária que poderia estourar a qualquer momento, Taylor argumenta que “os preços seguirão subindo por existir demanda suficiente por parte do investidor chinês que os sustentem”.

Em uma cidade que, pouco a pouco, passa a ser propriedade de chineses milionários e onde nas lojas de produtos de luxo fala-se mais mandarim do que inglês, é difícil perceber esses investidores especialmente opacos que, além disso, viajam em jatinhos particulares e deslocam-se em carros com motorista. Os testemunhos mais confiáveis são daqueles que tratam diretamente com eles.


No 'The Star' – o maior cassino de Sidney – chá e camarotes
Lisa Song administra uma casa de chá junto ao The Star, o maior cassino de Sidney e o segundo maior da Austrália. À Lisa foi - “desesperada”, recorda ela – uma pessoa encarregada de atender os clientes mais ricos do cassino. “Os milionários chineses que iam ao cassino não bebiam o seu chá”, explica essa jovem mãe que trabalhou no distrito financeiro da cidade até juntar o suficiente para abrir a casa de chá.

Song resolveu o problema importando “o chá mais exclusivo da China; que cresce apenas em uma montanha e cujo preço por uma grama pode ir de um a dez dólares”, explica enquanto acaricia carinhosamente a caixinha onde guarda as folhas secas.

Dentro do cassino de Sidney, faz-se evidente a presença de jogadores asiáticos num labirinto de 1500 máquinas caça-níqueis e umas trinta mesas de black jack. A última novidade, uma máquina luminosa chamada Duo Fu Duo Cai, atrai dezenas de pessoas com traços asiáticos.

Porém, os multimilionários chineses se escondem na sala Sovereign. Esse lugar exclusivo e zelosamente vigiado por agentes de segurança com cara de poucos amigos abriga as mesas de jogo onde a aposta mínima gira em torno de 25.000 a 75.000 dólares australianos (51.000 a 155.000 reais) e uma terceira mesa onde a aposta mínima oscila entre 100.000 e 500.000 dólares australianos (205.000 a 1.030.000 reais).

A quantidade de conversíveis e limusines estacionados frente à porta do cassino em qualquer um dos dias e a ida e vinda de mulheres asiáticas com cabelo esplendoroso e compridas unhas avermelhadas não parecem indicar outra coisa a não ser uma pujante prosperidade. E, não obstante, o The Star encontra-se em plena decadência.

O governo australiano confirmou em outubro de 2013 a concessão dos terrenos de Barangaroo, em pleno distrito financeiro de Sidney e uma das zonas mais cobiçadas da Austrália, ao magnata do jogo James Packer, o qual anunciou um investimento de 1 bilhão e 300 milhões de dólares australianos (2 bilhões e 700 milhões de reais) para a construção de um complexo de hotéis e cassinos com uma torre de 70 andares de altura. O novo cassino de Barangaroo admitirá apenas os assim chamados “apostadores VIP”, ou seja, aqueles que são capazes de apostar um mínimo de 10.000 dólares australianos (21.000 reais).

Durante a apresentação do projeto, que incluirá hotéis de seis estrelas, 120 mesas de jogo e dez salões de jogo privativo, Packer tratou de recordar aos investidores – chineses em sua maioria – que os benefícios estão assegurados. O magnata do jogo calculou os impostos dos primeiros 15 anos de atividade em 1 bilhão de dólares australianos (2 bilhões e 100 milhões de reais) e relembrou outra cifra chave: 75% dos jogadores VIP no mundo provêm da China.

A brecha aberta pelas autoridades (australianas) desencadeou uma avalanche de capital chinês na Austrália. Enquanto o país esforça-se para abrir amplamente as portas ao gigante asiático, tudo indica que a transição de Sidney para uma nova Macau ou uma nova Hong Kong, ou outra Xangai, não fez nada mais do que começar.



Ao leitor desavisado esta notícia indicaria a pujança econômica do “modelo chinês” e o seu bom sucesso na promoção de uma imensa e benéfica prosperidade à população da China. Nada mais falso. Este tipo de interpretação só ocorre pois o leitor médio é porcamente ludibriado pela mídia nacional e global que trata de ocultar as informações sobre a verdadeira China ao mesmo tempo em que trata a China comunista com uma dignidade que é – de todo – indigna. Elogiar o “modelo chinês” é elogiar o regime mais monstruoso, genocida e desumano de toda a história da humanidade – tanto no seu passado quanto no seu presente.

Um panorama da China real está disponível na entrevista dos Editores do jornal Epoch Times à Radio Vox (1) onde ao longo de duas horas um cenário amplo, surpreendente, realista e aterrador é descrito. Os editores do Epoch Times revelam, por exemplo, que 27% dos milionários com mais de 18 milhões de dólares já foram embora da China e que metade planejam sair do país. Entre os ricos com mais de 1 milhão e 800 mil dólares, 60% já abandonaram o país (2). Mais grave do que isso: 90% dos integrantes do Comitê Central do Partido Comunista Chinês (“a elite da elite”) possui dupla cidadania ou já enviou seus parentes para o exterior (3). Essas informações revelam que há por parte da nomenklatura do regime comunista chinês uma percepção clara que o país está à beira do total colapso da sua estrutura social, de um cataclismo ambiental sem precedentes no mundo (4) e de uma acachapante falência econômica que não tem como ser solucionada (5).

Estaríamos vendo os sinais prévios de uma nova Perestroika (“reestruturação” ou mais vulgarmente “'queda' do regime comunista”)? As evidências históricas, factuais e teóricas parecem indicar que sim. Em artigo recente, o filósofo Roger Scruton fez uma reminiscência histórica condensada sobre o que se passou nos subterrâneos da “queda” da União Soviética. Disse ele: 

“(...) Por que razão, de forma súbita e sem nenhum aviso prévio verdadeiro, a elite soviética abdicou do poder de mando e silenciosamente retirou-se do governo? A resposta é simples: porque era do interesse deles fazer tal coisa. (...) Ao longo de um período de setenta anos, a União Soviética construiu um sistema de espionagem e um sistema bancário subterrâneo que em essência conferiu à elite da KGB praticamente total liberdade de movimento no continente Europeu, bem como um sistema de finanças pessoais seguro. Já em 1989 os oficiais de alta patente (...) possuíam propriedades no Ocidente e já haviam transferido para suas contas em bancos suíços a sua parcela de bens furtados ao povo russo no decorrer de décadas. Então eles perceberam que esse processo poderia ser completado sem nenhum custo adicional. Através da privatização da economia soviética para si próprios e, pela adoção de uma máscara de governo democrático, a elite apartou-se do comunismo, ingressando no mundo das celebridades (...)” 


O analista político Heitor de Paola aprofunda a questão (grifos do autor):

“(...) As relações dos EUA com os países comunistas sempre se pautaram pela oscilação entre enfrentamento e pacificação (...) Os soviéticos, e hoje os chineses, estão preparados para mudar sua táticade acordo com estas mudanças, porém perseguindo os mesmos objetivos estratégicos. A Perestroika não passou de uma continuação da mesma estratégia que desenvolve desde 1958. Como já disse anteriormente, o termo reestruturação não se aplica à aparência de 'profundas' transformações no mundo comunista, mas exclusivamente da reestruturação da visão que o Ocidente tem do mundo comunista, fazendo acreditar na dissolução da ideologia comunista (…) criar a impressão de que a burocracia soviética estava se tornando mais democrática e ocidentalizada (…) o que interessa é manter a Nova Classe no poder (...)” 
(Livro: O Eixo do Mal Latino-Americano e a Nova Ordem Mundial, Cap. IX. Pg. 183-184. É Realizações.)


Ambas as referências indicam que está ligada à aparente dissolução de um regime comunista: 1) o fluxo de pessoas e capitais para o exterior, rumo a paraísos fiscais e refúgios capitalistas seguros; e 2) o desenvolvimento de uma estratégia de longo prazo multifacetada que engloba o uso de um estratagema de ocultação de uma velha ordem sob a roupagem de uma “nova ordem”.

O ex-chefe de espionagem da Romênia Comunista, Ion Mihai Pacepa, logo no prefácio da edição de 1990 do seu primeiro livro publicado em 1987, num tom lúgubre e admonitório afirma (tradução e grifo meus): 

“(...) A destituição de Ceausescu fora, no entanto, o fim de um tirano, e não o fim do sistema que o alçou ao poder. Muitos dos líderes do governo atual são mencionados [neste livro]. Na ausência da qualquer oposição organizada e de um modelo democrático, a estrutura comunista de governo da Romênia permanece essencialmente no mesmo lugar, apta a, talvez, com o tempo, produzir outro Ceausescu. Tenhamos esperança que isto não aconteça, mas se acontecer, tenhamos esperança que o Ocidente não cometa os mesmos erros que cometeu com Ceausescu – erros que eu documento neste livro.” 
(Red Horizons. Ed. Regnery Gateway)


Lamentavelmente, passados quase trinta anos, o Ocidente ainda não aprendeu a lição. A crítica do filósofo Roger Scruton, a eleição do Barack Hussein Obama (descrito pelo Dr. Alan Keyes com a frase: “O Obama é um comunista radical e ele irá destruir este país; ou nós o paramos ou os EUA deixarão de existir”) e ainda o sucesso do Foro de São Paulo na América Latina, e também a ampliação do abismo moral e espiritual do Ocidente são provas que os erros mencionados pelo Pacepa continuam sendo cometidos impunemente.

O que esperar da dissolução traumática e inimaginada de um regime comunista que rege a vida de 20% da população mundial num espaço pouco maior que o Brasil, um país que possui arsenal nuclear, mas cujos recursos naturais (terra, ar e água) estão profundamente contaminados e espoliados? O que esperar de uma “nova era” pautada por um estado súbito de maior ou menor anomia de uma população que foi monstruosamente apartada das suas raízes e valores culturais, espirituais e tradicionais? Como a cristandade fará para responder a uma súbita liberação de uma imensa demanda reprimida por mais cristianismo? Quais serão os novos desafios que uma possível dissolução dos “últimos” (?) bastiões de um comunismo antigo e ortodoxo (China e Coréia do Norte) irá impor a conservadores e anti-comunistas? Estas são algumas das diversas questões que o avanço do projeto revolucionário na China descortinará em todo o mundo.

Dentro de três anos iremos rememorar os 100 anos (um século!) da Revolução Russa e da Aparição de Nossa Senhora em Fátima que a precedeu, um momento repleto de significação e de certo modo propício para novos grandes abalos na história humana.


Notas:

(1) Um índice completo para a Entrevista da Radio Vox com os editores da Epoch Times com todos os assuntos tratados pode ser encontrado aqui: http://bit.ly/1jO0Ef7.

(2) e (3) Imigração dos ricos da China (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 51:23) e 90% do Comitê Central do PCC tem duplo passaporte ou já enviou a família (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 1:30:53)
(4) Questão ambiental na China (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 34:00). Poluição atroz, fim dos recursos naturais baratos (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 1:19:20).
(5) Situação econômica (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 1:16:00). Mão de obra escrava. Beco sem saída do aspecto econômico (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 1:34:40).
Por:Francis Lauer é tradutor e aluno do Seminário de Filosofia do prof. Olavo de Carvalho.

O MUNDO ESTÁ SUPERPOVOADO? NÃO. e ISSO SERÁ RUIM PARA O FUTURO


O mundo está superpovoado. As ruas estão entupidas, o trânsito está sempre irritantemente congestionado, e as pessoas estão vivendo — tanto figurativa quanto literalmente — uma em cima das outras. É raro você encontrar um espaço livre para sequer dar uma volta com seu cachorro.

Certo?

Errado.

O mundo não está de modo algum superpovoado. Ao redor do globo, há enormes espaços de terra totalmente desabitados. Canadá, Austrália, África, Rússia, EUA e Brasil possuem uma inacreditável quantidade de espaços abertos e não-povoados. [No Brasil, apenas 0,2% do território está ocupado por cidades e infraestrutura]. Com efeito, toda a população do planeta caberia confortavelmente no estado americano do Texas. [E se toda ela fosse para o estado do Amazonas, a densidade populacional seria equivalente à da cidade de Curitiba].

Sendo assim, por que tantas pessoas ainda acreditam tão piamente nesse mito do superpovoamento? A razão é simples: a maioria delas — especialmente aquelas que têm tempo e predisposição para reclamar do excesso de pessoas — vive em áreas de alta densidade populacional, as quais não são uma amostra nada representativa da real situação do mundo. 

Essas áreas de alta densidade populacional são chamadas de 'cidades', e o motivo pelo qual as pessoas vivem em cidades — não obstante suas constantes lamúrias — é que há enormes benefícios gerados quando um grande número de pessoas convive em proximidade.

É muito conveniente viver em um local repleto de pessoas simplesmente porque cada uma dessas pessoas tem o potencial de ofertar vários bens e serviços para você. Quanto mais pessoas à sua volta, maior a oferta de pessoas dispostas a fazer coisas como lavar e passar suas roupas, consertar seus sapatos, consertar seu carro, cozinhar suas refeições, oferecer variadas opções de entretenimento, curar uma eventual doença, e, talvez ainda mais importante, oferecer a você um emprego que remunera bem. 

Tente viver isolado do mundo, no meio do mato, e você descobrirá quão "simples" é se alimentar, subsistir e sobreviver a problemas de saúde. A divisão do trabalho significa que, quanto mais pessoas houver por perto, mais fácil será satisfazermos nossos desejos e necessidades. Igualmente, maior será a nossa comodidade para resolvermos certos problemas. Daí as cidades superpovoadas.

Esse mito de que o mundo está superpovoado — em conjunto com a errônea conclusão de que isso está gerando problemas — fez com que várias pessoas celebrassem a notícia de que a taxa de natalidade está caindo em todo o mundo, mais acentuadamente nos países mais ricos. 

Em 2012, os casais nas cinco maiores economias do mundo — EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido — tiveram 350 mil filhos a menos do que em 2008, uma queda de quase 5%. A ONU prevê que as mulheres desses países terão uma média de 1,7 filhos ao longo de suas vidas. Demógrafos dizem que a taxa de fecundidade tem de ser de pelo menos 2,1 apenas para compensar as mortes e, com isso, manter a população constante.

A expectativa de que essa redução da natalidade irá gerar mais conforto e mais ar respirável para o resto do mundo ignora completamente os impactos econômicos decorrentes de um declínio populacional. Isso tem a ver com uma compreensão incompleta sobre a ação humana.

Aqueles que se preocupam com uma superpopulação tendem a ver os seres humanos como nada mais do que meros consumidores de recursos. A lógica é simples: os recursos são finitos; os seres humanos consomem recursos. Logo, menos seres humanos significa mais recursos disponíveis. Esse é o cerne de todas as ideias contrárias à expansão populacional. 

Porém, embora as premissas desse silogismo sejam verdadeiras, elas são calamitosamente incompletas, fazendo com que a conclusão seja igualmente (e perigosamente) incorreta.

Em primeiro lugar, os seres humanos não são apenas consumidores. Cada consumidor é também um produtor. Por exemplo, eu só consigo almoçar (consumir) porque produzi (trabalhei) e alguém me remunerou por isso. E foi justamente essa nossa contínua produção o que aprimorou sobremaneira o nosso padrão de vida desde o nosso surgimento até a época atual. Todos os luxos que usufruímos, todas as grandes invenções que melhoraram nossas vidas, todas as modernas conveniências que nos atendem, e todos os tipos de lazer que nos fazem relaxar foram produzidas por uma mente humana. 

Logo, a conclusão óbvia é que, quando mais mentes existirem, mais inovações surgirão para melhorar nossas vidas. Uma simples reductio ad absudum revela a óbvia verdade de que a cura para o câncer tem mais chances de ser descoberta em uma sociedade com um bilhão de pessoas do que em uma com apenas um punhado de indivíduos.

Ainda mais importante é o fato de que essas inovações resultam em uma multiplicação de recursos, de modo que o silogismo sofre uma importante alteração: os recursos são finitos; os seres humanos consomem recursos; os seres humanos produzem recursos; logo, se os seres humanos produzirem mais recursos do que consomem, um aumento populacional será benéfico para a nossa espécie.

Que nós produzimos mais do que consumimos é um fato autoevidente: basta olharmos para o padrão de vida que usufruímos hoje e compará-lo àquele que tínhamos há 50, 100 ou 1.000 anos. À medida que a população aumentou, aumentou também a nossa prosperidade, e a redução no sofrimento humano foi impressionante.

Tendo tudo isso em mente, a conclusão é que a acentuada queda nas taxas de natalidade é algo alarmante. Ironicamente, o primeiro arranjo a ser atingido será justamente aquele que é tão caro às esquerdas que defendem o controle populacional: a seguridade social. E isso não é nem uma questão ideológica ou econômica, mas sim puramente matemática: uma população crescente tem um número suficiente de pessoas trabalhando para sustentar os idosos. Já uma população declinante simplesmente não terá mão-de-obra jovem para pagar a aposentadoria desses idosos. Uma coisa é você ter 10 pessoas trabalhando para pagar a Previdência de um aposentado; outra coisa é você ter apenas 2 pessoas trabalhando para pagar a Previdência desse mesmo aposentado. Alguém terá de ceder.

Nos países onde há uma generosa rede de seguridade social, um encolhimento na população significa que uma fatia cada vez maior dos recursos será consumida pelos idosos, uma vez que as gerações mais jovens estarão em número insuficiente para compensar essa diferença. A consequência inevitável é que, à medida que a força de trabalho vai declinando, toda a produção vai junto. Se a força de trabalho encolhe, máquinas e equipamentos deixam de receber manutenção, começam a se deteriorar e caem em desuso. Fábricas são abandonadas. Empreendimentos imobiliários não são vendidos e os imóveis ficam desocupados. 

Tudo isso resulta em menos crescimento econômico, menos criação de riqueza, e menos prosperidade para todos. Até mesmo os keynesianos, que são obcecados com a tal "demanda agregada", deveriam entender esse conceito. Menos pessoas significa menos atividade econômica.

A celebração de que a população está crescendo menos advém majoritariamente do movimento ambientalista, cujo sentimento anti-humano é frequentemente explícito. No entanto, até mesmo naqueles círculos menos cáusticos o preconceito contra a humanidade já se espalhou. Hoje, é algo generalizado e que praticamente já adentrou a consciência popular. Entre as esquerdas, tal sentimento é predominante; há um instinto de que as pessoas são naturalmente ruins.

Essa postura só é defensável se você for do tipo que anseia por um retorno à época da varíola, da inanição, da água contaminada, e do perigo iminente de ser devorado por predadores famintos. Se, por outro lado, você não vê essas coisas como parte de uma existência idílica e natural, você deveria parar de propagar alguns mitos e ter mais consideração pelos seres humanos.
Por: Logan Albright é escritor e economista.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

OS PESTANAS E O TERRORISMO DO PT

Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, confessou a esta Folha, em entrevista publicada na quarta-feira, que o governo segura as tarifas para controlar a inflação. Chamou tal prática de "política anticíclica", o que certamente deixou de cabelo em pé economistas gregos e troianos, guelfos e gibelinos, liberais e desenvolvimentistas, carnívoros e herbívoros. A originalidade de seu pensamento econômico sempre foi assombrosa.


Estou certo de que, ao fazer a revelação, experimentou no cérebro o mesmo frêmito que Pestana, a personagem de Machado de Assis de "Um Homem Célebre", experimentava na ponta dos dedos quando sentia que a grande obra estava a caminho –a definitiva, aquela que o alçaria ao panteão dos gênios... E, no entanto, coitado do Pestana!, lá lhe saía mais uma polca. Seguiu até o fim da vida condenado a fazer... polcas!

O Pestana da Dilma julgou que estava tendo uma grande ideia: "Agora levo as oposições para o ringue, faço-as defender a correção de tarifas de combustíveis e energia, e a gente, em seguida, as acusa de inimigas dos pobres e de defensoras da inflação". Ninguém caiu no truque porque é óbvio demais. E ainda restou a suspeita de que Mercadante estava no conto errado de Machado. Teria ficado melhor no papel de Simão
Bacamarte, o médico de loucos, que não batia bem dos pinos. Quem teve de contestá-lo foi Guido Mantega, que, para incredulidade geral, negou que os preços estejam represados. A que extremos nos leva o petismo, não é mesmo? Entre a verdade indecorosa e a mentira decorosa! Nos dois casos, os propósitos não são bons. É um concerto de Pestanas.

No mesmo dia em que Mercadante derramou sua falta de sabedoria sincera, o PT levou ao ar uma peça publicitária infame, opondo um presente que não há a um passado que não houve: na gestão tucana, a fome, a miséria, o abandono e a desesperança resumiram o Brasil; no governo companheiro, o contrário. Uma voz cavernosa alerta: "Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos com tanto esforço. Nosso emprego de hoje não pode voltar a ser o desemprego de ontem. Não podemos dar ouvidos a falsas promessas. O Brasil não quer voltar atrás".

Eu poderia me estender aqui sobre o caráter essencialmente fascistoide desse entendimento da política, que busca excluir o outro do mundo dos vivos –Lula chegou a dizer que a "reeleição de Dilma será a desgraça da oposição"–, mas acho que esse aspecto perdeu relevância.

Depois de quase 12 anos no poder, o PT não tem futuro a oferecer. Por mais que o filminho de João Santana tenha as suas espertezas técnicas, a verdade é que a peça terrorista revela o esgotamento de uma mitologia, e tenho cá minhas desconfianças se o vídeo não será contraproducente, ainda que peças assim sejam submetidas previamente a pesquisas qualitativas.

A linguagem e a estética de esquerda repudiam, por natureza, o presente. Sem os amanhãs sorridentes, o dia que virá, a Idade do Ouro, como cobrar o sacrifício do povo, a sua mobilização, o seu ímpeto revolucionário, suas paixões sanguinolentas? Nas campanhas petistas de 2002, 2006 e 2010, o passado era demonizado, sim, mas o eixo estava num presente que mirava o futuro. Jamais me esquecerei daquelas grávidas descendo uma colina ao som do "Bolero", de Ravel, cena que chamei, então, de "A Marcha das Rosemarys" –sim, referia-me ao filme de Roman Polanski. Na peça publicitária terrorista que foi ao ar na quarta, o eixo está num presente que contempla o passado, faccioso e fictício como sempre. Restou ao governo Dilma o discurso reacionário. O que aquelas grávidas tinham a dar à luz está aí.

Estou a antever a derrota de Dilma? Ainda não. Apenas evidencio que o PT não tem mais nada a oferecer. Se emplacar mais quatro anos de mandato, o país ficará refém da capacidade de planejamento e de administração de gestores e estrategistas como Aloizio Mercadante e Guido Mantega. Se a presidente for reeleita, são eles os portadores da utopia. E isso parece pavoroso.
Por: Reinaldo Azevedo Publicado na Folha de SP


quarta-feira, 21 de maio de 2014

BEM-VINDOS DE VOLTA AOS ANOS 50

Bem-vindos de volta aos anos 50, ou, melhor, bem-vindos ao arremedo dos anos 50, a história repetida como farsa. As professoras do curso primário ainda apresentavam o Brasil, naquele tempo, como "um país essencialmente agrícola", apesar da onda de mudanças – a criação recente da grande siderurgia, a fundação da Petrobrás, a organização do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico, a expansão das fábricas de bens de consumo e a bandeira da industrialização acelerada. Hoje, como há seis décadas, a exportação depende dos produtos básicos. De janeiro a abril deste ano, só essa categoria proporcionou uma receita maior que a de um ano antes. Esse faturamento, US$ 33,91 bilhões, foi 4,2% superior ao dos primeiros quatro meses de 2013. Ao mesmo tempo, recuaram as vendas de industrializados. Também como nos tempos de Getúlio e JK, incentivos especiais e esquemas de proteção comercial são usados para favorecer a indústria local. Mas essa indústria há muito tempo deixou de ser nascente, a substituição de importações perdeu sentido e muitos países naquele tempo subdesenvolvidos tornaram-se potências dinâmicas e competitivas.


Na repetição farsesca dos anos 50, o governo atribui à oposição o desejo de privatizar a Petrobrás, quando a privatização de fato é promovida pelo grupo no poder, ao aparelhar, lotear e submeter as estatais a interesses partidários e pessoais dos governantes e de seus aliados. Esse mesmo padrão de comando levou a Petrobrás a negócios desastrosos, prejudicou sua receita, dificultou seus investimentos, converteu-a na empresa mais endividada do mundo – como noticiou a imprensa internacional – e corroeu seu valor de mercado. Tudo isso bastaria para compor uma história de incompetência, irresponsabilidade e abuso, mesmo sem o complemento das suspeitas de pilhagem, das prisões e da investigação criminal.

Na farsa do retorno aos anos 50, a sexta ou sétima economia mundial aparece em 22.º lugar entre os exportadores e só escapa de uma posição mais humilhante graças ao agronegócio e a um setor de mineração ainda com sinais de vitalidade. A nova pesquisa da indústria, recém apresentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com universo mais amplo e ponderação atualizada, serviu principalmente para confirmar as más condições do setor. Pelas novas contas, a produção industrial cresceu 2,3% em 2013, quase o dobro da taxa indicada pelo velho critério, 1,2%. Mas esse crescimento mal bastou para compensar o recuo do ano anterior, 2,3%.

Pelas novas contas, a produção de bens de capital – máquinas e equipamentos – também continuou em crise, com redução de 11,2% em 2012 e expansão de 11,3% no ano passado. No primeiro trimestre deste ano, as fábricas desses bens produziram 0,9% menos que entre janeiro e março de 2013. Esses dados confirmam a pouca disposição dos empresários de ampliar e modernizar a capacidade produtiva e tornam risível, mais uma vez, a promessa oficial de avanço econômico puxado pelo investimento.

Nos anos 50 o presidente Juscelino Kubitschek instalou uma administração paralela – os grupos executivos – para cuidar da implementação do Plano de Metas. A alternativa, segundo a avaliação da equipe de governo, seria atrasar o plano para reformar a máquina federal. Pode-se discutir se um caminho intermediário seria possível, mas um dado é inegável. No fim de cinco anos, a maior parte das metas havia sido alcançada: a industrialização havia avançado e uma nova capital havia sido plantada no centro do País.

Sobraram custos importantes e pressões inflacionárias, mas o governo seguinte, com alguma competência, poderia ter realizado os ajustes. Não se pode culpar JK nem pela renúncia de Jânio nem pelo desperdício de oportunidades na gestão de João Goulart, incapaz de sustentar politicamente a dupla Celso Furtado-San Tiago Dantas e garantir a execução do Plano Trienal.

Na reprodução em forma de farsa, o planejamento foi alardeado na retórica e abandonado na prática. Nem se planejou, nem se reformou a administração, nem se buscaram alternativas para maior eficiência. Falar em produtividade do setor público foi estigmatizado como discurso neoliberal. Escolheu-se como política a distribuição de postos a companheiros e aliados, tanto na administração direta quanto nas autarquias e empresas. Ao ocupar o Palácio do Planalto, em 2011, a presidente Dilma Rousseff prometeu cuidar da qualidade da gestão federal. Nunca deu um passo para isso.

A farsa da repetição teve improvisação no lugar do planejamento, distribuição arbitrária de benefícios, excesso de gastos, promiscuidade entre Tesouro e bancos oficiais, interferência desastrada na formação de preços e muito mais estímulo ao consumo do que à produção. Um déficit em conta corrente próximo de 3,5% do PIB, bem maior que o investimento estrangeiro direto, foi uma das consequências. Outro resultado importante, além, é claro, da estagnação industrial, foi uma inflação sempre na vizinhança de 6% ao ano, muito acima da meta, 4,5%.

Em abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,67%. O governo pode apontar uma melhora, depois da taxa de 0,92% em março. Mas uma alta de 0,67% ao mês corresponderia, em um ano, a 8,34%. O acumulado efetivo em 12 meses ficou em 6,28%, muito perto do limite de tolerância (6,5%). Em outras economias emergentes, bem mais dinâmicas, a alta de preços tem raramente superado 3%. Mas o quadro da inflação brasileira pode piorar, com a descompressão de preços contidos politicamente e nenhum esforço do governo para conter seus gastos.

Há, no entanto, pelo menos uma boa notícia. Segundo o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, os torcedores ingleses podem vir tranquilos para a Copa da Fifa. Não haverá, garantiu, perigo maior que o enfrentado pelos soldados britânicos no Iraque. Faltou explicar se os torcedores deverão vir armados, como os militares enviados à guerra. 
Por: Rolf Kuntz Jornalista - O Estado de S. Paulo


NEY MATOGROSSO ESCANCARA A REALIDADE DO BRASIL, EM PORTUGAL

terça-feira, 20 de maio de 2014

O DIREITISTA IDEAL


Em suma: seja um burguês, pense como um burguês, fale como um burguês. Seja aquele adversário-padrão do qual a esquerda jamais tem de esperar alguma surpresa.

Entre os direitistas chiques no Brasil de hoje, a maior das virtudes é a pusilanimidade: nunca diga nada com que a mídia já não tenha concordado, nunca cite o Olavo de Carvalho ao repetir o que ele dizia dez anos antes, e sobretudo capriche na moderação ao ponto de não parecer mais direitista do que o compatível com a admiração pelas grandes figuras do esquerdismo internacional, especialmente Barack Hussein Obama. Nelson Mandela, então, nem se fala. Afinal, quem sintetiza melhor os ideais da “zé-lite” do que um comunista vendido aos Rockefellers? (Melhor que isso, só o Lula, homenageado na mesma semana, em Davos e em Havana, por sua conversão ao capitalismo e por sua fidelidade ao comunismo.) Sem dizer pelo menos umas quinze palavrinhas em louvor desse grande homem, ninguém no Brasil adquire o salvo-conduto para ser um direitista de respeito.

Se ao criticar alguma idéia do Frei Betto você puder chamá-lo de "meu querido", você será, no consenso da mídia, o direitista perfeito. Afinal, só pessoas de mentalidade truculenta, reencarnações talvez do nefando Dr. Fleury, podem imaginar que os comunistas têm más intenções.

Assegure a seus leitores e ouvintes que a diferença entre esquerda e direita é só a preferência pelo intervencionismo estatal ou pela economia de mercado; e, quando um comunista aparecer fazendo a apologia do livre comércio – como, em seu tempo, já o fizeram Karl Marx e Lênin, sem que você o saiba –, elogie-o por ser um esquerdista esclarecido, “aberto à modernidade”.

E nunca esqueça de dizer que quem não foi comunista aos dezoito anos não tem coração. Mediante essa frase maravilhosa, você provará superior moderação e equilíbrio, dividindo o universo em duas partes iguais e concedendo ao comunismo o monopólio da virtude moral, ao capitalismo o da eficiência econômica. Se puder, cite em apoio dessa tese a “Fábula das Abelhas” de Bernard de Mandeville ou alguma coisinha de Ayn Rand.

Sobretudo, nunca tenha a menor consciência de que, ao fazer isso, você é o bilionésimo que consagra como uma fatalidade metafísica o abismo entre o ideal e o real, o qual um século e meio atrás Karl Marx já identificou como um chavão infalível do pensamento burguês.

Em suma: seja um burguês, pense como um burguês, fale como um burguês. Seja aquele adversário-padrão do qual a esquerda jamais tem de esperar alguma surpresa.

Ah, em tempo: ao falar do PT, chame-o de "jurássico". Isso não pode faltar. O primeiro a chamar a esquerda de "jurássica" foi o Roberto Campos, nos anos 70 do século XX. Naquele momento, foi um achado. Entre os meus modestos títulos de glória literária, está o de jamais ter copiado essa expressão. Mas há pessoas que, quando a empregam hoje em dia, sentem um orgasmo de originalidade estilística. E seus leitores acreditam piamente que aí reside o argumento mais devastador contra o petismo. Use esse termo repetidamente e obterá um lugar no conselho consultivo de alguma entidade liberal.

Quando alguém lhe mostrar algum sinal patente da hegemonia gramsciana nas universidades ou no show business, responda que isso é paranóia, já que indícios similares aparecem de montão nos EUA, país onde, como todo mundo sabe, não existem comunistas. Afinal, o ex-ou-futuro-presidente Lula já não nos ensinou que (sic) “Não existe nada de mais anticomunista do que o cinema americano”?

Se por acaso ouvir falar da invasão muçulmana no Ocidente, diga, com ares de superior tranqüilidade olímpica, que nada disso existe, que o terrorismo islâmico é puro atraso cultural e fundamentalismo religioso, coisas já superadas no nosso mundo de progresso científico-tecnológico.

E, se algum engraçadinho vier lembrar que em 2002 você assegurou que a vitória do PT era impossível; que você um dia jurou que o Foro de São Paulo não existia; que uns anos atrás você assegurava que a ligação PT-Farc era uma invencionice de adeptos da ditadura: que você acreditou que Barack Hussein Obama era a salvação dos EUA; que a idéia de a Rússia invadir países em torno sempre lhe pareceu loucura de saudosistas da Guerra Fria; e que, em suma, você nunca acertou uma previsão ou análise política ao longo de toda sua porca vida, faça como fazem todos os seus iguais: Diga: “O que vem de baixo não me atinge”, e continue, impávido colosso, treinando diante do espelho essa esplêndida aparência de normalidade, maturidade e equilíbrio, que tem sido o segredo do seu sucesso na existência. 
Por: OLAVO DE CARVALHO Publicado no Diário do Comércio.




POSSIBILIDADES ESTRATÉGICAS E JOGOS DIALÉTICOS

A entrada da Ucrânia na OTAN significa morte para a Rússia. (Alexander Prokhanov)


Na primeira fase do estabelecimento do Partido Comunista, Zyuganov (não sem minha participação e a participação de Prokhanov,...) tentou compreender e avaliar conceitualmente o componente nacional na ideologia soviética (nacional-bolchevismo); porém, as autoridades do Partido Comunista logo desistiram dessa iniciativa, ligando com algumas outras – provavelmente mais importantes – questões. Ainda assim, no nível da retórica e da reação primária, os comunistas russos falam como nacional-conservadores e às vezes como “monarquistas ortodoxos”.
Aleksandr Dugin, A Quarta Teoria Política

O supracitado Aleksandr Dugin não é um ideólogo, é um estrategista. Todavia, antes de aprofundarmo-nos sobre o que é ou o que pode ser estratégia, consideremos primeiro a situação na Ucrânia. Ou as tropas russas entrarão em território ucraniano após 9 de maio ou a Rússia contará com agentes secretos infiltrados no governo ucraniano para reestabelecer (ou manter) controle indireto do país. Se esta última estratégia for adotada, ela poderá proporcionar a Moscou uma nova maneira de causar danos à União Europeia desde dentro. O fato de que as estruturas clandestinas russas já estejam estabelecidas por toda a Europa é pouco reconhecido ou não recebe apreciação suficiente pelos analistas da área. A dependência energética que a Europa tem da Rússia é fato reconhecido, claro, mas isso é trivial se for comparar.

A grande estratégia de Moscou sempre foi multidimensional. Para atingir um objetivo, os russos não seguem uma única linha de ação; eles seguem simultaneamente várias linhas paralelas e opostas em sua abordagem. Isto torna difícil para os estrategistas ocidentais anteciparem os movimentos da Rússia. Novamente a Rússia nos desconcerta. Continuamos iludidos e impossibilitados de perceber que a Rússia possui instrumentos clandestinos desenvolvidos durante o regime soviético que são indisputavelmente mais sofisticados. Não temos nada que possa competir com eles. Para se ter ideia, existe a penetração econômica e financeira da Europa pelos negócios e empresas de fachada da Rússia. Também há o papel desempenhado pelo crime organizado russo que apela ao expediente de chantagens e lavagem de dinheiro. Não obstante, há, assim como havia na Guerra Fria, as clássicas redes de agentes secretos empenhados na infiltração de governos e no exercício de influência política. Levando em consideração todos esses elementos, enquanto os países europeus não souberem quais possibilidades o governo russo realmente – e clandestinamente – goza, nunca haverá uma apreciação completa de como Moscou articula suas forças militares e usa sua influência diplomática.

Foi Clausewitz quem disse que a guerra é a continuação da política por outros meios (i.e. violentos). Foi Lênin que inverteu esse dito, dizendo que a política é a continuação da guerra por outros meios. A Revolução Bolchevique não foi apenas uma revolução política e social; ela significou uma revolução no pensamento estratégico que até hoje não foi devidamente apreciada. A vitória pode ser alcançada com uma combinação de meios militares e não militares. Ela pode ser alcançada por meio da sabotagem econômica, pela guerra de informações ou até mesmo pela corrupção do governo, da língua e da cultura.

As famosas palavras do velho estrategista chinês Sun Tzu podem servir de inspiração para uma nova e abrangente ciência estratégica. A estratégia se torna o deus governante de todos, o princípio de governança e a resposta oriental à política constitucional do Ocidente. Oh sim, mesmo que estejam em decadência, os Estados Unidos ainda são (pelo menos parcialmente) guiados pela Constituição. Já a Federação Russa é guiada pela sua política de longo alcance baseada nos princípios de Sun Tzu: “A arte da guerra é baseada em truques”, disse o chinês. “Portanto, quando estivermos prontos para atacar, devemos parecer incapazes. Quando usarmos nossas tropas devemos parecer inativos. Quando estivermos perto, devemos fazer o inimigo acreditar que estamos longe. Quando estivermos longe, devemos fazê-lo acreditar que estamos perto. Use armadilhas para atrair o inimigo. Finja desordem e o destrua-o.”

O brilhantismo de Sun Tzu reside no fato de que sua abordagem dialética do truque pode ser aplicada a qualquer conjunto de opostos. Sendo assim, poderíamos reescrever as palavras de Sun Tzu da seguinte maneira: “A arte da guerra é baseada em truques. Portanto, quando você é um comunista, você deve parecer que é um observante capitalista (e.g. Beijing). Quando você é um ateísta cínico, você deve parecer cristão (e.g. Putin). Quando você atacar um oponente usando sucedâneos islâmicos, você deve parecer estar sendo atacado por esses mesmos sucedâneos (e.g. Chechênia). Quando você possui supremacia nuclear estratégica (como possui a Rússia), você deve se mostrar como uma mera potência regional (é o que diz Obama sobre a Rússia). Use armadilhas para atrair o inimigo. Finja desordem e o destrua-o”.

A transposição de opostos que vão da dimensão espaço-temporal à dimensão ideológica esquerda-direita é apenas uma das possibilidades. Se foi possível Putin ter seu álibi checheno antes da destruição das Torres Gêmeas no 11 de setembro, também foi possível para ele ter um álibi cristão (prendendo as integrantes do Pussy Riot) no meio da derrocada cultural dos Estados Unidos. Enquanto o aquecimento global é usado como pretexto para sabotar as economias ocidentais, Putin, a fim de manter as aparências, diz acreditar no “resfriamento global”. Novamente, pode-se usar a analogia de um álibi. Dados esses exemplos, não podemos tomar as intenções declaradas de Moscou pelo valor de face. Então Moscou quer mesmo anexar a Ucrânia ou empurrá-la para os braços da Europa? Seria a própria Ucrânia um barril de veneno pronto para ser derramado sobre a Europa? Novamente Putin está criando seu álibi. Assim, quando a cultura ocidental se tornar gay, Putin não será culpado; quando se descobrir que o aquecimento global é um boato, Putin não será culpado; quando a Ucrânia for ajudada pela UE e se mostrar o canudo que sugará a Europa até à falência, Putin não será culpado. (Com efeito, ele será visto como o salvador da Europa.)

Sun Tzu sugeriu que a excelência na arte da guerra consiste em vencer sem precisar lutar. Para conseguir isso é necessário infiltrar o terreno inimigo e atrapalhar seus planos por meio de provocação, sabotagem e semeio de confusão. Deve-se desmoralizar a cultura, espalhar ideias irracionais por toda a intelligentsia e promover a ilegalidade e a bebedeira entre as classes profissionais trabalhadoras. Como disse Sun Tzu, “em todas as lutas, métodos diretos podem ser usados para dar início a uma batalha, mas métodos indiretos serão necessários para assegurar a vitória”.

É necessário saber para qual direção o inimigo marcha e é igualmente necessário que ele desconheça a sua. A melhor estratégia é aquela que é desconhecida pelos outros e o guerreiro mais efetivo é aquele que entra em terreno inimigo sem ser reconhecido. Para atingir qualquer objetivo, descreva a si mesmo como alguém cujo objetivo é inconcebível. Muitos serão capazes de impedi-lo. Entretanto, quem pensará que se deve fazer isso?
Por: JEFFREY NYQUIST
Tradução: Leonildo Trombela Junior