terça-feira, 15 de julho de 2014

FOME DE PODER


Se chegarmos ao cerne dos embates político-ideológicos, teremos dois grupos claros: (I) o dos famintos pelo poder; e, (II) o dos amantes da liberdade. No final das contas, ao que parece, essa é a divisão fundamental. Do primeiro grupo, surgem totalitaristas, ditadores e coletivistas de todos os matizes. Do segundo, liberais (clássicos), libertários e conservadores. Há, também, o meio do caminho, normalmente representado pelos socialdemocratas. Mas, aparentemente, estes últimos vêm se aproximando de liberais nos últimos tempos, desde que seus “welfare states” começaram a eclodir por toda a Europa. É uma esperança…

Qual seria a diferença central entre os defensores da liberdade e aqueles, que, a todo custo, pretendem reduzi-la? Defensores das liberdades, de um modo geral, querem um Estado mínimo, o império das leis, condições para a livre competição no mercado e meritocracia. Eles acreditam que esta filosofia seja capaz de expandir as oportunidades para todos, indistintamente.

Não se trata, portanto, de ser contra pobres. Não (!), é justamente o contrário. Em um ambiente livre – sem a influência excessiva de um Estado agigantado e dos famosos “amigos do rei” – o cidadão terá mais chances de alcançar seus objetivos, sejam eles quais forem. Alguns podem estar dispostos a gerar mais riquezas, outros imbuídos de alcançar uma vida mais tranquila. A escolha é uma das facetas da liberdade. Todavia, a liberdade para perseguir seus interesses gera consequências e responsabilidades.

No intuito de distorcer esse pensamento, os famintos pelo poder apresentam a seguinte lógica: os homens vão “explorar” uns aos outros, e, assim, o Estado deve intervir de modo a tornar as relações socialmente mais “justas”. Eles não explicam, contudo, em que consistiria essa “exploração”; nem, tampouco, como o Estado faria essa “justiça social”. Pior ainda. Por que razão o Estado e os governantes seriam tão magnânimos e mais eficientes do que a colaboração individual de cidadãos livres?

O primeiro ponto que eles escondem, avaramente, é que governantes são pessoas que passaram a vida toda buscando ter poder sobre os demais. Esse fato, ao menos, já os coloca em posição de dúvida. Por que essas pessoas, após alcançarem o poder, prefeririam buscar o bem-comum ao invés de perseguir seus próprios objetivos? Não há qualquer razão. A rigor, prevalece a regra básica: todos buscam, intrinsecamente, maximizar os seus interesses particulares. O segundo aspecto, consequência do primeiro, consiste em um embate: centralizar ou descentralizar?

A descentralização do poder é elemento fundamental para o exercício da liberdade. Por ocasião da Revolução Americana, os “Founding Fathers” entenderam isso muito bem, preservando a soberania dos estados membros. Daí surgiu um Federalismo real, muito diferente do que temos por aqui. Lá, cada Estado abriu mão de uma parcela de sua soberania em prol da União; cá – especialmente após a Constituição Federal de 1988 (esse texto não permite uma digressão histórica sobre o Brasil) – a União Federal relegou uma parcela diminuta de poder para os estados e municípios. Não é preciso conhecimento jurídico ou político para concluir que diversas questões seriam definidas de forma mais eficaz no âmbito estadual ou municipal.

Coletivistas, eminentemente centralizadores, precisam da concentração do poder para alcançar seus objetivos. Para tanto, não têm pudor em limitar as liberdades e manter as rédeas curtas. Como isso é feito? Por que os cidadãos aceitam as restrições em suas liberdades? Não é difícil responder.

Em grande parte isso é fruto da complacência e insegurança humanas. Cidadãos tendem a esperar por “salvadores da pátria” que vão solucionar os seus problemas. Além disso, é mais fácil colocar a culpa no coletivo do que assumir sua própria responsabilidade ou inércia. Totalitaristas, portanto, se alimentam da insegurança dos indivíduos e do “medo de perder”.

Após conquistar certas coisas, o indivíduo é tomado por um verdadeiro pavor de perder. Esse quadro faz com que ele se esqueça dos fundamentos que lhe permitiram alcançar seus objetivos. Assim, ele não se incomoda com a supressão de liberdades, desde que suas “posses” sejam aparentemente preservadas. O raciocínio é ilusório. Nada vai garantir a manutenção das conquistas, muito menos um Estado superpoderoso. Aliás, é muito provável que esse ente usurpe os “cofrinhos” dos indivíduos. Então, sem as liberdades de outrora, como reconstruir o seu “castelo”?

Defender a liberdade, portanto, é resultado do desapego, da autoconfiança e da consciência de que as soluções não vêm “de cima para baixo”. A colaboração individual é o elemento fundamental para uma sociedade próspera. Todavia, ela não é criada por decreto, mas, sim, de forma espontânea em um ambiente livre com baixos índices de regulamentação.

O sonho de um totalitarista é uma caneta poderosa com uma pilha de papel para ele legislar sobre tudo, conduzindo a sociedade por sua pena. O sonho dos amigos da liberdade, ao seu turno, consiste em diversas canetas e papéis distribuídos por todos em prol da criação e colaboração, bastando, apenas, um conjunto de regras comum aos cidadãos, com instituições sérias e firmes. Sejam protagonistas de seus próprios destinos, ao invés de coadjuvantes dos famintos pelo poder. 
Por: Leonardo Correa  Do site: http://www.institutoliberal.org.br/

segunda-feira, 14 de julho de 2014

BANDIDOS MANDAM NOS PRESÍDIOS TENDO POR CÚMPLICES A LEI E A COVARDIA DAS AUTORIDADES

Equivocada exoneração do secretário de Administração Penitenciária de Goiás — por conta de reportagem do “Fantástico” — é uma das muitas ações do Executivo, do Judiciário e do Ministério Público que só reforçam o poder dos bandidos.


Ninguém de relevância política neste País tem coragem de enfrentar a legislação pró-bandido ditada pelas universidades, sob a inspiração de Michel Foucault. E a imprensa é cúmplice das universidades na defesa dos direitos humanos de criminosos em detrimento da segurança da população.

O “Fantástico”, da Rede Globo, mostrou que duas grandes penitenciárias do Brasil — a de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e a de Aparecida de Goiânia, em Goiás — são comandadas pelos próprios presos. De dentro das cadeias, os chefões do crime encomendam roubos de veículos, que acompanham em tempo real pelos celulares de última geração, e extorquem dinheiro das famílias de outros presos, em quantias que podem chegar a R$ 500. Além disso, promovem churrascos com mais de mil espetinhos e bacanais com prostitutas todo final de semana. Em conversas telefônicas, um preso disse: “Mulher não falta. É todo domingo”. Outro arrematou: “Carne aqui é mato”. E a reportagem ainda mostrou celas com geladeiras duplex abarrotadas de comida, TV de tela plana, ventiladores e liquidificadores, entre outros eletrodomésticos.

Veiculada no domingo, 15 de junho, a reportagem do “Fantástico“ derrubou o titular da Secretaria de Administração Penitenciária e Justiça do Estado de Goiás, Edemundo Dias. Oficialmente, o secretário pediu demissão, mas extraoficialmente se sabe que foi exonerado pelo governador Marconi Perillo (PSDB). Lamentável efeito de uma reportagem que parece ter sido editada pela dupla Marcola & Beira-Mar, os respectivos chefes do PCC e do Comando Vermelho, que comandam os presídios e as favelas no País. Levando em conta que a reportagem denunciou as regalias dos bandidos dentro das penitenciárias, parece absurdo o que estou dizendo. Mas vou provar, ao longo deste artigo, que esse tipo de reportagem — como praticamente tudo o que a imprensa mostra sobre presídios — mais ajuda do que atrapalha os criminosos.

Adianto que jamais vejo o “Fantástico” ou qualquer outro programa jornalístico de televisão. A oligofrenia reinante no noticiário de TV embrutece o espírito e me dá nos nervos. Acompanho o que sai na TV pela repercussão na imprensa escrita e, quando o caso merece exame, vou atrás dos vídeos por meio da internet. Foi o caso da reportagem do “Fantástico” sobre os presídios de Goiás e do Rio Grande do Sul, que só vi após a repercussão no jornalismo impresso. O que chama a atenção de imediato é a diferença de tratamento da reportagem em relação às autoridades prisionais do governo tucano de Goiás, as autoridades prisionais do governo petista do Rio Grande do Sul e as autoridades judiciárias de ambos os Estados. As autoridades prisionais goianas foram acuadas, sem piedade, pela reportagem do “Fantástico”, que, todavia, não demonstrou o mesmo senso crítico, investigativo, em relação às autoridades prisionais gaúchas e, sobretudo, em relação ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, tratados com uma deferência que depõe contra o jornalismo.

Presídio não pode ser feira livre


Edemundo Dias, secretário exonerado em Goiás: humilhado pela reportagem 
do programa “Fantástico”. Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Na cinematografia e, por consequência, no telejornalismo, a câmara não é apenas um mecanismo que capta movimento e som — é, sobretudo, o olhar subjetivo do cinegrafista e do seu editor, capaz de qualificar a imagem que está sendo filmada, dependendo do ângulo em que isso é feito. A angulação da câmara é uma forma de adjetivar a cena, sendo suficiente para enaltecer ou vilipendiar uma pessoa que está sendo entrevistada mesmo que ela não faça nada de errado. O secretário de Admi­nis­tração Penitenciária de Goiás, Edemundo Dias, foi humilhado pela reportagem do “Fantástico”, que o filmou em plano alto, isto é, a câmara o focalizou de cima para baixo, de modo inquisitorial, apequenando sua imagem, acuando-o atrás da mesa, colocando-o na defensiva, numa situação de óbvia inferioridade diante dos repórteres. Essa edição de imagem, sem dúvida, pesou muito mais do que o teor das respostas do secretário goiano, que, de modo algum, se saiu pior do que os demais entrevistados — pelo contrário, eu diria que se saiu até melhor.

Já a conduta da reportagem do “Fantástico” diante do secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Airton Michels, foi completamente distinta. Ele aparece sentado com as pernas cruzadas e as mãos no respaldar de sua confortável poltrona, enquanto a câmara o focaliza de baixo para cima, realçando seu rosto decidido, levemente inclinado para trás, numa postura de superioridade diante do interlocutor. Mas as respostas do altivo Airton Michels, com seu tom professoral, seus olhos claros e a barba de intelectual trotskista, não foram melhores do que as do humilde Edemundo Dias, com seu perfil de retirante nordestino que, mesmo quando bem-sucedido, nunca parece confortável no terno. A rigor, a resposta do secretário gaúcho foi muito mais condenável do que a do secretário goiano, mas não provocou nenhuma reação crítica da reportagem do “Fantástico”, muito menos levou o governador Tarso Genro (PT) a exonerá-lo do cargo, em que pese ele merecer essa exoneração mais do que o secretário goiano.

O secretário Edemundo Dias, ao ser confrontado com as mordomias dos presos do complexo prisional de Aparecida de Goiânia, deu a resposta padrão de toda autoridade quando é surpreendida pela imprensa com um fato incômodo: “Disso eu não tenho conhecimento. Estou tomando conhecimento agora e vou mandar verificar. Se for constatada alguma irregularidade nesse sentido, nós vamos tomar as providências”. A reportagem do “Fantástico”, como era de se esperar, não se contentou com a resposta e pediu para entrar no pavilhão do presídio onde estão os presos com mordomias. O secretário chegou a acompanhar os repórteres até as proximidades do pavilhão, mas depois mudou de ideia e, perseguido pela câmara, deixou para trás a equipe dizendo que precisava trabalhar — é o que se depreende de sua fala à distância, quase inaudível. A reportagem passou a entrevistar, então, o superintendente de Segurança Peniten­ciá­ria, João Carvalho Coutinho Júnior, que, alegando razões de segurança, não permitiu a entrada da equipe.

A cena mostrada pelo “Fantás­tico” não poderia ser mais constrangedora para o sistema prisional goiano: o superintendente de Segurança Penitenciária é entrevistado à frente de uma barreira de policiais armados, como se eles estivessem lá para impedir a entrada da imprensa e resguardar um malfeito que a direção do presídio tentava esconder. Ora, aqueles policiais estavam ali para proteger a sociedade, inclusive a equipe de reportagem do “Fantástico”, pois um presídio que abriga bandidos perigosos não pode ser tratado como feira livre e, especialmente quando há visitas, em que sempre existe a possibilidade de rebeliões e reféns, é preciso que guardas armados reforcem a segurança do local, pois só agentes penitenciários desarmados são insuficientes para isso. Mas o “Fantástico”, conscientemente ou não, acabou retratando os policiais como se eles fossem meros capangas da direção do presídio goiano, interpondo-se indevidamente no caminho de sua reportagem.


Secretário gaúcho admite privilégio de presos
Mas as gaguejantes autoridades prisionais goianas, que foram intimidadas pela reportagem do “Fantás­tico”, deram respostas, sem dúvida, menos indecorosas do que as do secretário gaúcho Airton Michels, que, como o próprio “Fantástico” admite, reconheceu as mordomias dos presos do Presídio Central de Porto Alegre. Com sua professoral asser­tividade, o secretário de Segu­rança Pública do Rio Grande do Sul assim se expressou sobre essas mordomias: “Não deve, não pode, mas o resultado, a consequência de eliminar com alguns privilégios de algumas facções, pode ser uma tragédia”. Reparem na gravidade desta resposta de Airton Michels: ele admite que as facções criminosas gozam de privilégios dentro dos presídios de seu Estado, mas aceita essa situação, porque, segundo ele (provavelmente pensando em Carandiru), se cortasse os privilégios dos presos, ocorreria uma tragédia.

Ora, pode haver tragédia maior do que uma sociedade refém de criminosos que, mesmo presos, comandam latrocínios, sequestros, assaltos e extorsões de dentro das cadeias, obrigando o cidadão de bem a sustentá-los duas vezes — com o dinheiro dos impostos que mantêm os presídios e com o sangue das vítimas cujas vidas eles ceifam impunemente, protegidos pelo próprio Estado? Era essa a pergunta que devia ter sido feita à queima-roupa ao secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Sul. Mas a reportagem do “Fan­tástico” — tão impiedosa com o secretário goiano que disse desconhecer as mordomias dos presos — aceitou passivamente uma declaração muito mais grave do secretário gaúcho: a de que as mordomias das facções criminosas nas cadeias existem sim, mas que é preciso aceitá-las — o que, partindo de uma autoridade pública, é o mesmo que oficializá-las, legalizá-las, instituí-las.

Por que o “Fantástico” foi tão condescendente com o secretário de Segurança Pública gaúcho? Porque, ao contrário das autoridades prisionais goianas, ele não é um zé-ninguém no plano nacional e, consciente de seu poder, sabe colocar um repórter no seu devido lugar. Formado em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Airton Michels lecionou Direito Penal na Universidade do Vale do Rio dos Sinos e foi promotor de Justiça — um fato que, por si, já garante o respeito irrestrito da imprensa, que sempre se deixa cegar pelo Ministério Público. Além disso, Airton Michels se tornou uma estrela técnica do governo petista na área de segurança pública: durante o governo Lula, foi indicado por Tarso Genro, de quem é correligionário, para a direção geral do Depen (Departamento Peniten­ciá­rio Nacional), cargo que exerceu de meados de 2008 até o final de 2010, quando aceitou o convite do governador eleito Tarso Genro para ser secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Sul.


Tarso Genro: governador gaúcho não demitiu secretário que admitiu regalias de presos 
no Rio Grande do Sul 

Festanças em presídio não são novidade
A declaração de Michels, aceitando as mordomias das facções criminosas, é muito mais grave do que parece. Ele não fala apenas em nome da política prisional de seu Estado, mas em nome da política penitenciária do País, que, desde a Constituição de 88, mas, sobretudo a partir da Era Lula, vem sendo pautada pela perniciosa filosofia de Michel Foucault (1926-1984), que transforma o criminoso em vítima da sociedade. E a Rede Globo, em que pese sua reportagem sobre mordomias de presos, professa essa filosofia, tanto que a reportagem do “Fantástico” se encerra com uma fala asquerosa do juiz Sidney Brzusca, titular da Vara de Execuções Criminais do Rio Grande do Sul, que afirmou textualmente sobre as facções criminosas que gozam de privilégios nos presídios e comandam o crime de dentro das celas: “Não se combate facção com arma, com escudo, com gás; combate-se facção assegurando direitos. Os presídios que têm isso funcionando não têm facção”.

Essa afirmação do magistrado gaúcho — transformada pelo “Fantástico” em chave de ouro de sua reportagem — é absolutamente falsa. Basta o que aconteceu no complexo prisional de Aparecida de Goiânia para desmenti-la de forma cabal. E, no Brasil inteiro, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, quanto mais se asseguram direitos para os presos, mais poderosos eles se tornam, controlando não só os presídios, mas as próprias favelas das cidades. O sistema penitenciário goiano, por exemplo, chegou a essa situação de descalabro justamente porque, a exemplo dos demais sistemas prisionais do País, ele garante às facções criminosas diversas regalias travestidas de direitos, em vez de combatê-las com arma, escudo e gás. Prova disso é que, há quase um ano, em 21 de julho de 2013, em artigo sobre a Lei Maria da Penha, critiquei as autoridades penitenciárias goianas, acusando o Estado de Goiás de fomentar oficialmente o crime, com a nociva cumplicidade da imprensa, especialmente do jornal “O Popular”, que, com sua proverbial defesa dos modismos politicamente corretos, acaba sendo o maior defensor das regalias dos criminosos travestidas de direitos humanos.

A minha justificada ira decorreu do fato de que fora desbaratada uma das maiores quadrilhas de roubo de carros e tráfico de drogas do Estado de Goiás, com ramificações internacionais, e sete de seus 14 líderes eram bandidos que já cumpriam pena no complexo prisional de Aparecida de Goiânia, o que me levou a chamá-lo de “um dos muitos quartéis-generais do crime disfarçados de penitenciárias”. Todos os contatos externos dos presidiários que chefiavam a quadrilha eram mulheres, que ficavam responsáveis pelas contas correntes do bando e cuidavam de outras operações burocráticas. O próprio superintendente de Segurança Penitenciária de Goiás, João Carvalho Coutinho Júnior, que aparece na reportagem do “Fantástico”, em entrevista ao jornal “O Popular”, em 18 de julho de 2013, disse acreditar que os celulares eram levados para dentro dos presídios nas partes íntimas dos visitantes — o que me levou a afirmar que as mulheres dos presos estavam sendo transformadas por uma legislação penal leniente em “verdadeiras bocetas ambulantes no sentido machadiano do termo”.

Ou seja, se o governo estadual, o Ministério Público de Goiás e o Judiciário goiano estivessem, de fato, preocupados com a segurança da população, a cúpula do sistema prisional do Estado já deveria ter sido demitida em julho do ano passado — uma semana após a posse de Edemundo Dias em seu comando —, quando se descobriu que o complexo prisional de Aparecida de Goiânia não era um verdadeiro presídio, mas um valhacouto de criminosos, homiziados pela própria lei e pela covardia das autoridades brasileiras, que sacrificam a vida da população inocente apenas para não se indispor com os formadores de opinião encastelados nas universidades e, hoje, com poderes até no Supremo. Por que, já naquele momento, não foi exonerada a cúpula do sistema prisional do Estado? Ora, porque “O Popular” (um dos veículos do Grupo Jaime Câmara, que detém a filiada da Rede Globo em Goiás), noticiou o descalabro do sistema prisional goiano, mas teceu elogios à sua cúpula, poupando o governador do rompante midiático de agora, em que, diante da denúncia do “Fantástico”, decidiu exonerar Edemundo Dias.

Sim, a exoneração de Edemundo Dias é um inútil rompante midiático, que não tem sustentação nos fatos. Afirmo isso com a autoridade de quem abomina a ideologia dos direitos humanos do secretário exonerado, tanto que já o critiquei duramente em artigo de jornal e até numa edição do programa “Roda de Entrevista”, da TBC Cultura, comandado pelo jornalista Reynaldo Rocha, na qual ele era o entrevistado e lhe dirigi palavras ásperas, confesso, pois não suporto ver essa gente dos direitos humanos transformando o sangue inocente das vítimas em vistosas teorias acadêmicas para acumular títulos universitários, em nome da vaidade e da melhoria salarial, ainda que Ede­mun­do Dias pareça pecar mais por ingenuidade do que por vaidade. Ele deve ter achado que apenas o seu mestrado em Direito Público na Uni­ver­sidade de Extremadura, na Espanha, lhe daria um salvo-conduto intelectual para colocar os direitos humanos acima da segurança pública. Enga­nou-se, pois Marconi Perillo não é Tarso Genro e sabe que, ao contrário do governador petista, não desfruta de imunidade na imprensa nacional quando se trata de questões sociais.


Imprensa contribui para a crise dos presídios
Mas essa nefasta política de direitos humanos para criminosos — que desumaniza seus familiares e gangrena toda a sociedade — existe no sistema prisional goiano à revelia de Edemundo Dias, pois é a norma de todo o sistema penal brasileiro. Sua exoneração não vai impedir as facções criminosas de continuarem no comando do presídio. Afinal, toda a atual cúpula do sistema prisional goiano é a mesma de julho do ano passado, quando se constatou que havia uma quadrilha atuando dentro do presídio de Aparecida de Goiânia, graças ao fim das revistas íntimas de familiares de presos, em nome de seus direitos humanos, o que facilitou o contrabando de celulares para dentro do presídio. Na época, em 10 de julho de 2013, Edemundo Dias assumiu a Secretaria de Administração Penitenciária recém-criada, mas já era o presidente da Agência Prisional do Estado, cargo que ocupava desde 2011. E o secretário de Segurança Pública, então também responsável pelo sistema prisional, já era o delegado Joaquim Mesquita, da Polícia Federal, que, a convite do governador Marconi Perillo, tomou posse do cargo em 29 de outubro de 2012. Agora, com a exoneração de Edemundo Dias, ele assume interinamente a direção do sistema prisional — e, com certeza, continuará fracassando em sua missão de sanear o sistema, pois nem o secretário, nem o governador, nem ninguém de relevância política neste País tem coragem de enfrentar a legislação pró-bandido ditada pelas universidades, sob a inspiração de Michel Foucault.

E a imprensa é cúmplice das universidades na defesa dos direitos humanos de criminosos em detrimento da segurança da população. Prova disso é que, em julho do ano passado, mesmo depois de constatar que uma das maiores quadrilhas de tráfico de drogas e roubo de carro do País atuava dentro do complexo prisional de Aparecida de Goiânia, o jornal “O Popular” cobriu de elogios a decisão da cúpula do sistema prisional de abolir as revistas íntimas no presídio. Disse, então, o jornal: “Goiás foi um dos primeiros Estados a implantar a revista humanizada durante as visitas de familiares. Um dos avanços foi impedir que as mulheres sejam submetidas à chamada revista vexatória, que consistia em ficar nuas, com as pernas abertas, sobre um espelho para revista”. Ocorre que, como também não havia detectores de metais, a entrada de celulares corria solta. O que não impediu o superintendente João Carvalho Coutinho Júnior de garantir à época: “Não vamos voltar atrás nesse avanço. A visita humanizada será mantida, por isso temos de investir em tecnologia”.

Se a anunciada reforma do sistema prisional goiano fosse para valer, João Carvalho Coutinho deveria ter sido exonerado junto com Ede­mundo Dias, pois o “avanço” da visita humanizada que ele anunciou no ano passado serviu apenas para consolidar o poder das quadrilhas dentro do complexo prisional de Aparecida de Goiânia. Na época, enquanto o jornal “O Popular” batia palmas para a ação temerária do superintendente, eu o invectivei em meu artigo: “Ora, senhor João Carvalho Coutinho Júnior, o senhor já se perguntou, ao pôr a cabeça no travesseiro, quantas vítimas inocentes, inclusive mulheres e crianças, não passaram maus bocados nas mãos de facínoras ou foram feridas e mortas por conta do abjeto, covarde e imbecil humanismo que tomou conta das autoridades desse País, inclusive do governo que vossa senhoria representa?” E acrescentei: “Onde está o Ministério Público, que se empenhou em cavar uma pensão do Estado para a mãe de Pareja, o criminoso que rebelou o antigo Cepaigo, mas não é capaz de obrigar esse mesmo Estado a indenizar as vítimas dos presos que praticam crime de dentro das próprias cadeias custeadas por nossos impostos?”
O Estado patrocinando o crime


Ailton Michels, secretário de Segurança Pública gaúcho: tratado 
com total deferência pelo “Fantástico”

Infelizmente, a imprensa brasileira, sempre que trata de segurança pública, só faz cobranças ao Executivo e se esquece dos acadêmicos de ciências humanas, especialmente os operadores do direito, principais responsáveis pela legislação penal leniente, que resulta em mais de 60 mil homicídios por ano, pois, como mostrou um estudo de Daniel Cerqueira, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), muitos dos milhares de desaparecidos das estatísticas oficiais são, de fato, vítimas de assassinato. Na reportagem do “Fantástico”, por exemplo, os magistrados e promotores entrevistados colocam-se na confortável posição de críticos do Executivo, quando, na verdade, são cogestores do sistema prisional e, consequentemente, também culpados pelos seus problemas. Aliás, diretor de presídio, hoje, não passa de rainha da Inglaterra — tudo o que acontece com o preso é determinado pelo juiz da Vara de Execuções Penais.

A despeito disso, o juiz Sidney Brzusca, titular da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre — o mesmo que disse que facção criminosa não se combate com arma, escudo e gás, mas com direitos —, contou ao “Fantástico” que os presos são os verdadeiros comandantes dos presídios, chegando a ter cargos na cadeia, e deu um exemplo: “Um dia perguntei para um preso se estava trabalhando na galeria, e ele disse que não. ‘Faz o quê?’ ‘Eu sou ministro dos esportes’”. O juiz relatou esse fato com um sorriso nos lábios, como se fosse um cidadão comum, e o repórter da Globo não teve a coragem de lhe perguntar que atitude ele tomou, como autoridade, diante daquele preso que se autointitulava “ministro dos esportes” da cadeia. Imaginem se uma diretora de escola contasse à imprensa que seus alunos é que mandam e desmandam na escola e dissesse isso com um sorriso nos lábios, como fez o juiz — seria exonerada no ato. Mas juízes são vitalícios e inamovíveis — o que exige deles ainda mais gravidade no exercício dessa nobre função.

Já o procurador-geral de Justiça de Goiás, Lauro Machado Nogueira, afirma: “O escárnio é uma encomenda de 1.200 espetinhos para fazer uma festa dentro do presídio”. De fato, é um escárnio. Mas não será também um escárnio sete promotores, juntamente com magistrados, passarem mais de um ano gravando conversas telefônicas de bandidos que já estão presos, limitando-se a monitorar os crimes que eles cometem, quando seria muito mais decente cortar as abusivas visitas semanais, especialmente as íntimas, e mandar a PM fazer varreduras diárias nos presídios até que os presos aprendam, se preciso à força, que cadeia não é nem bar nem motel muito menos pode ser transformada em quartel-general do crime? Quantos inocentes não sofreram traumas, perderam bens ou foram mortos em assaltos, sequestros e latrocínios praticados por presos que estavam sendo monitorados pelas próprias autoridades nas cadeias de Aparecida de Goiânia e Porto Alegre?

Cadeia não pode ser transformada em Big Brother Brasil de promotor e juiz. Monitoramento eletrônico é para produzir prova contra criminosos que estão livres. Os que já estão presos devem ter suas ações cortadas pela raiz e não depois de um inquérito que se arrasta por mais de um ano. Isso já não é nem escárnio — é uma tragédia humana. E se a imprensa se limitar a pressionar o Executivo, sem cobrar responsabilidade do Ministério Público, do Judiciário, da OAB, das universidades e do Congresso, o genocídio da população brasileira vai continuar sendo praticado duplamente — não só pelos criminosos soltos, mas também pelos bandidos presos, sob o patrocínio do Estado brasileiro.
Por: José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.
Publicado no Jornal Opção.

sábado, 12 de julho de 2014

O 'POVO ORGANIZADO'

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) converteu-se numa linha de montagem de artefatos ideológicos. Entre tantos países, escolheu a Venezuela chavista como sede de sua única filial no exterior. Num relatório produzido pela filial, lê-se o seguinte: "O modelo bolivariano afasta-se, sem dúvidas, da democracia representativa despolitizadora que predomina ainda hoje no mundo. Supera o modelo idealizado pelos pais fundadores da república norte-americana". As duas frases ajudam a decifrar o sentido do decreto presidencial que instaura a "democracia participativa".


As palavras cruciais são "democracia representativa despolitizadora". De fato, o princípio da representação sustenta-se sobre o pressuposto de que os cidadãos têm outros afazeres além da política. A maioria esmagadora das pessoas consagra o seu tempo ao trabalho produtivo, aos estudos, ao lazer, aos afetos e aos amores. Os militantes políticos, pelo contrário, dedicam-se essencialmente à carreira política, que enxergam como fonte de poder, prestígio, dinheiro ou (raramente) como ferramenta para a "reforma do mundo". O Decreto 8.243, dos "conselhos participativos", procura reduzir a abrangência da "democracia representativa despolitizadora". É um golpe dos militantes políticos contra as pessoas comuns, cuja "participação" perde valor nos centros de decisão de políticas públicas.

O conceito de sociedade civil (ou "esfera pública") é objeto de complexas discussões filosóficas, mas existe um consenso básico enunciado por Habermas: a autoridade estatal não faz parte dela. O governo brasileiro, contudo, baixou um decreto que oferece uma definição oficial de sociedade civil ("o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações"). Em todo o debate sobre o Decreto 8.243 não há nada mais chocante do que a ausência de um grito coletivo de indignação da sociedade civil diante dessa suprema arrogância estatal. No Brasil, o Estado nasceu antes da nação e, de certo modo, a esculpiu segundo suas conveniências. Uma prova da persistente fragilidade de nossa sociedade civil encontra-se nesse silêncio –e, mais ainda, na recepção calorosa do decreto por intelectuais que ganham a vida falando sobre a sociedade civil.

A finalidade do Decreto 8.243 é moldar uma "sociedade civil" adaptada às estratégias de poder do governo: o "povo organizado", no dialeto dos militantes. Na prática, a seleção dos "coletivos" e "movimentos sociais" com assento nos "conselhos participativos" equivale à atribuição de rótulos de legitimidade oficial a determinadas lideranças sociais. Sob o lulopetismo, o Estado não apenas define a sociedade civil, mas também traça os seus contornos, excluindo os "indesejáveis" da esfera pública. "Participação"? Não: a "democracia participativa" pretende restringir a fiscalização social do Estado aos associados ideológicos do governo.

O Decreto 8.243 nasce no solo arado pela crise de legitimidade do sistema político-partidário e pela desmoralização do poder parlamentar. A "sociedade civil" que o decreto delineia tem a vocação de operar como um parlamento paralelo. Gilberto Carvalho, nomeado secretário-geral da "sociedade civil" estatizada, não mente quando diz que o embrião dessa "democracia participativa" já existe, na forma de "conselhos" e "conferências nacionais" controlados por "movimentos sociais" financiados, direta ou indiretamente, pelo governo.

No final do segundo mandato de Lula, realizou-se a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), um encontro desses "movimentos sociais" promovido pelo governo. A Confecom aprovou o "controle social da mídia" –isto é, no dialeto dos militantes, a censura à imprensa. Para florescer, a "sociedade civil" estatizada precisa amordaçar a sociedade civil. Por: Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

sexta-feira, 11 de julho de 2014

TUDO PRONTO PARA A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL


Bandeira do Estado Islâmico do Iraque e Síria.

Hoje, cada cidadão americano e todas as pessoas do Ocidente precisam largar o churrasco no quintal e seus divertimentos e olhar com muita atenção, um olhar demorado e firme, para a engenharia que está sendo feita no Iraque, pois a vida tal como nós a conhecemos em breve irá mudar. Para os americanos, o Iraque está a meio mundo de distância. Para outros, ele está muito mais próximo. No entanto, em breve e para todos ele irá se tornar algo muito pessoal para todos nós.

A América, o Ocidente e o mundo estão testemunhando o desenrolar de um dos eventos geopolíticos mais significativos do último século no Iraque e em todo o Oriente Médio. Mas poucos compreendem inteiramente a enormidade daquilo que está sendo visto. São ainda mais raros os que compreendem o panorama como um todo ou que pensam com a amplitude necessária; este panorama, como tudo o mais, não é aquilo que aparenta ser. Nós estamos testemunhando o segundo ato de uma trama sobre a qual escrevi anteriormente, na qual está sendo armado o palco para a III Guerra Mundial. Nosso mundo, tal como o conhecemos, em breve irá mudar e ninguém sairá impune dos eventos que estão sendo orquestrados pelos roteiristas e diretores globalistas.

O americano médio subitamente está vendo um caos inesperado, morte e destruição no Iraque. As lideranças eleitas, os meios de comunicação e as tietes dos políticos das facções partidárias estão apresentando estes eventos como sendo algo lamentável e imprevisível, ou até pior, como uma consequência da suposta incompetência do Traidor-no-Comando (1) e seu grupo de bandoleiros empedernidos. Estes acontecimentos, contudo, não estão ligados à incompetência nem eram imprevisíveis. Ao contrário disso, nós estamos assistindo a cena de abertura do “Segundo Ato”, que é o posicionamento final dos protagonistas em direção à III Guerra Mundial tal como sempre se tencionou e durante tanto tempo foram feitos os preparativos, esforço desconjuntado apenas por um breve introito devido à exposição pública do caso Benghazi.

Resumidamente, a primeira parte dessa última trama que se desenrola no palco global iniciou com o conto fictício da Primavera Árabe que supostamente foi um movimento de insurreição feito por guerreiros pela liberdade contra tiranos opressores. Ela não foi nem um movimento espontâneo, nem um engenho arquitetado pelas mãos dos defensores da liberdade. Ela foi uma operação da inteligência ocidental elaborada para mudar o equilíbrio do poder tendo em vista os eventos e as ações futuras na trama desenvolvida nesse palco que é o mundo. Um ato muito importante nessa peça envolveu a Líbia e a deposição do líder da Líbia Muammar Kaddafi, tal como detalhei na minha coluna intitulada 'Unmasking the Embassy Threat' escrita em 03 de agosto de 2013.

Numa coluna anterior de 08 de outubro de 2012 intitulada 'Lemmings...No precipício da III Guerra Mundial'', eu dei o alerta de que “nós estamos no precipício de um conflito global, a III Guerra Mundial. O assassinato do embaixador Stevens e de outros americanos na Líbia fora meramente um prelúdio, tal como as cenas que abrem os filmes do James Bond, mas não tínhamos compreendido ainda como aquilo se relacionava com o resto do script. Durante a 'Primavera Árabe' nós imaginamos que assistíamos trailers para vários filmes diferentes antes da exibição da atração principal, porém, sabíamos muito pouco sobre quão tênue era o liame que amarrava esses diversos trailers à ponta final. O espetáculo já havia começado.” Nós estamos agora exatamente no ato de abertura depois do intervalo.

Tal como escrevi, “Se o roteiro se passar da forma como foi escrito, a geopolítica mundial e o equilíbrio de poderes poderá, e muito provavelmente irá, mudar na sua integralidade no próximo abrir das cortinas.Ninguém sairá impune perante os eventos que estão porvir.” E agora, cá estamos. Seguindo-se à abertura das cortinas, nós estamos vendo o Estado Islâmico do Iraque e Síria (ISIS, na sigla em inglês) (2), uma organização patrocinada pela CIA e pelo Departamento de Estado, obtendo o controle do Iraque com relativa facilidade. Um indício são as câmeras de vídeo e a atenção da audiência voltadas para a embaixada dos Estados unidos em Bagdá, como um flashback para o resgate aéreo de 30 de abril de 1975 na Queda de Saigon (3). O avanço da marcha do ISIS seguirá tal como planejado, porém não irá estancar em Bagdá. Sua proa está voltada para a Síria e tem a sua alça de mira apontada para a remoção do Bashir al-Assad do poder.

Quadrados laranja: cidades controladas pelo ISIS; Quadrados circulados: cidades capturadas neste mês. Mancha: presença operacional do ISIS.


A evidência de uma operação financiada pelo Ocidente
É improvável que você venha a ver na televisão uma multitude de pick-ups novas da Toyota ou armamento militar da OTAN ou do Ocidente sendo utilizado pelo ISIS que é patrocinado pela Irmandade Muçulmana, uma vez que os agentes das potências globais preferirão manter tais imagens longe de qualquer um na América que possa estar prestando atenção. Foi o atual Secretário de Estado, John Kerry, seguindo a diretriz dada pelo seu predecessor, a Hillary Rodham Clinton, e obediente ao Traidor-no-Comando, que é um fantoche da manipulação globalista, quem – ao fazer seu tour pelo Oriente Médio no final de dezembro de 2013 – deu para o ISIS a carta branca para “fazer o que vocês quiserem” tendo em vista que os Estados Unidos não iriam interferir. Os Estados Unidos não iriam apenas recuar, nós deixaríamos também nossos equipamentos e armamentos militares intactos para que o ISIS pudesse fazer o seu sacrifício sangrento bem ao típico estilo Wahhabi.

É improvável que as organizações de mídia venham a revelar que o desenvolvimento do ISIS estava em preparação há anos, inicialmente desenvolvendo-se como “A Organização para o Monoteísmo e Jihad” (JTJ) em 2004 e depois como a al-Qaeda no Iraque. Em 2006, eles alteraram seu nome para Estado Islâmico do Iraque e mais recentemente para o Estado Islâmico do Iraque e Síria (ISIS) que é como são conhecidos hoje.


É ainda mais improvável que você venha a ouvir alguma coisa quanto ao financiamento do ISIS – que é talvez a organização terrorista mais densamente patrocinada no mundo. Mesmo antes do ISIS tomar Mossul e fazer uma pilhagem de centenas de milhões de dólares nos bancos iraquianos, na semana passada, documentos contábeis do ISIS capturados durante operações no Iraque revelaram que antes de invadir Mossul o seu patrimônio líquido era de, no mínimo, $900 milhões. Qual a origem desse montante tremendamente considerável? Uma avaliação desses meticulosos registros financeiros descobriu que muitas das riquezas em posse do ISIS são oriundas de campos petrolíferos confiscados no leste da Síria nos meses anteriores deste ano. Sim, da Síria. E agora eles possuem um patrimônio líquido de mais de $2 bilhões, ou, segundo algumas especulações, em torno de $200.000 para cada terrorista dos ISIS. Não se trata de uma farroupilha, um grupo de terroristas espontaneamente ou oportunisticamente reunidos e carentes de apoio, embora a narrativa Obama-Hillary-Rice-Benghazi esteja novamente sendo divulgada, dessa vez no Iraque.

Baseando-se apenas nos ativos financeiros e no equipamento militar deveria ser óbvio para qualquer pessoa minimamente atenta que o ISIS é algo criado e mantido por agências de inteligência do ocidente encabeçadas pelos Estados Unidos e financiado em parte por meio da Irmandade Muçulmana, uma organização que tem o seu próprio quartel-general localizado dentro da nossa Casa Branca, do nosso Departamento de Estado e da CIA.

O panorama amplo
Os acontecimentos de hoje não estão ocorrendo num vácuo. Eu escrevi muitas vezes sobre a significação de Benghazi, um tabu mortal da mídia e da política norte-americana. O ataque à Benghazi que ceifou a vida de quatro americanos foi um evento planejado na dimensão dos estados nacionais, um cavalo de guerra da Rússia para expor o fluxo de armas do norte da África para a Síria, Turquia, Jordânia e outras regiões estratégicas com o único propósito de derrubar Assad e instalar um governo da Irmandade Muçulmana, tal como ocorreu no Egito. A despeito das quatro tentativas de acusar Assad por crimes contra a humanidade, inclusive com o uso de armas químicas, as mídias não corporativas denunciaram tais ataques como aquilo que de fato eram: ataques de falsa bandeira. Por conta disso, os globalistas tiveram de acionar o “plano B” para derrotar Assad.


Hoje, os agentes globalistas estão utilizando o ISIS para marchar sobre Bagdá e sobre a Síria através de um novo canal aberto no front sudeste [da guerra Síria] através do Iraque. Eles estão utilizando nossos ativos e nosso encorajamento para fazê-lo, situação que deveria fazer os americanos questionar sobre “pelo quê os 4500 soldados norte-americanos morreram?” Conforme o Iraque vai sendo transformado numa nação-estado conhecida como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) relacionado a terroristas da linha dura da al-Qaeda e do Talibã, resta-nos lembrar da tristeza e do ultraje de cada família americana que foi tocada pessoalmente pela morte, pelo desfiguramento, ou pela invalidez permanente dos seus amados nas forças armadas. A areia e o solo de uma terra muito distante precisa ainda absorver todo aquele sangue que foi derramado declaradamente pela liberdade entremeada por um fervor patriótico, roteiro dramático escrito nos estúdios globalistas. Talvez, a revelação de que nós iríamos entregar as rédeas do controle do Iraque, informação conhecida apenas pelos escritores do plano globalista e por certos membros do elenco, seja a razão pela qual os veteranos que retornaram de lá acabariam sendo – um dia – considerados como uma ameaça de terrorismo doméstico, tendo em vista que esta seria uma reação compreensível para uma farsa e uma traição.

O panorama amplo sempre foi a Síria por meio da “Corrida da morte para Damasco” tal como detalhei numa coluna em 20 de janeiro de 2014. O panorama amplo de tudo isso sempre foi derribar Assad e conquistar a Síria. Desse modo, quando tudo isso for desvendado – e isso vai acontecer – podemos antecipar que irá explodir em direção ao leste, para a Arábia Saudita, para o mar arábico, o norte do Irã e ao longo de toda a faixa até o Estreito de Ormuz. E quando isso acontecer – e aqui não há espaço para “se” acontecer – este ataque não irá danificar apenas o transporte marítimo e o livre trânsito do petróleo para os mercados ocidentais, ele irá também assassinar o dólar e, junto dele, as esperanças e os sonhos não apenas dos Estados Unidos, mas de toda a civilização ocidental.

O objetivo final é destruir o dólar americano por meio de um cavalo de guerra da Rússia enquanto o Traidor-no-Comando, seu bando de criminosos e seus financiadores globais escondem-se sob o pretexto da negação plausível. Isto significa a destruição da classe média através do armagedon econômico, vis-à-vis com a destruição do dólar, etapas necessárias para criar uma nova ordem econômica global e, finalmente, operar a destruição da soberania dos Estados Unidos.

Por fim, talvez, ambos os lados de um espectro político falso e suas respectivas tietes compreenderão porque muitos entre nós estamos tão preocupados a respeito da elegibilidade Constitucional do Barack Hussein Obama na ocupação do cargo mais elevado dessa nação. Nunca se tratou de uma distração, mas matéria que diz respeito à fidelidade aos Estados Unidos. Veja você o que está se armando e pergunte para você mesmo sobre para quem o Obama está verdadeiramente trabalhando. Com toda a certeza não é para a população dos Estados Unidos da América.


Notas do tradutor:
1 - O autor usa a expressão Renegade-in-Chief, no artigo mencionado ele explica que a Agência de Comunicações da Casa Branca (WHCA, em inglês) junto com o Serviço Secreto dos Estados Unidos tem como prática dar um codinome para os presidentes. O escolhido para o Obama foi: “Renegado”. Diz o autor: “Como é possível explicar a precisão excepcional com que a WHCA forneceu para o Serviço Secreto dos Estados Unidos o codinome não muito secreto do Barack Hussein Obama logo no início do seu reino? Eis o codinome do Obama: Renegado. Segundo o dicionário Merriam-Webster, um renegado é definido como “um indivíduo que rejeita comportamento ordeiro ou convencional.” Sinônimos para renegado incluem fora da lei, radical e traidor. (…) Pense sobre isso. Logo após a sua nomeação pelo partido, alguém de dentro da WHCA tinha de escolher um codinome para o Obama e ela escolheu “Renegado”. De (aproximadamente) 171.000 palavras listadas no Dicionário da Língua Inglesa de Oxford, a palavra que sugere alguém com atitudes de traidor, fora-da-lei e radical foi escolhida antes que o Obama assumisse o cargo. Quais as chances! Quem é este grande mestre da magia e do psiquismo extraordinário que simplesmente conseguiu ver o reino futuro de tirania, desrespeito a lei, e traição do Obama, fazendo assim seu codinome coincidir perfeitamente com a sua agenda? (...) 
2 - Referências para o entendimento da situação dos Cristãos Iraquianos:
3 - O autor faz menção à Queda de Saigon em 1975, evento onde o exército americano entregou a capital do Vietnã do Sul aos exércitos comunistas do Vietnã do Norte. A queda de Saigon foi precedida por uma imensa operação de resgate aéreo de milhares de civis e militares americanos bem como de civis sul-vietnamitas ligados ao regime. Os vídeos e imagens da época mostram cenas de imenso desespero e terror da população que foi abandonada à própria sorte. Um dos eventos ligados à Queda de Saigon foi o Terror e Genocídio Cambojano. Apenas duas semanas antes da capitulação americana, o Khmer Vermelho conquistou a capital do Camboja, Phnom Penh. Imediatamente após esta conquista os 2 milhões de habitantes da capital foram deslocados para o interior do país, iniciando um processo brutal de ruralização comunista do Camboja. Dinheiro, propriedades, livros e religiões foram proscritas. Em menos de quatro anos de regime comunista 25% dos 8 milhões de cambojanos foram exterminados (1.7~2.5 milhões de mortos) por fome e exaustão, dezenas de milhares foram torturados e mortos nas prisões.
O caso todo é um exemplo perfeito de como a imbecilidade dos movimentos pela paz mundial, das ideiashippies condensadas no 'faça amor, não faça guerra' fomentada por artistas como John Lennon (e o seu “Imagine”) e por drogados ignorantes como Jimmy Hendrix, Janis Joplin, etc., e pseudo-intelectuais produzem consequências monstruosas e prejudiciais. Lênin disse em 1922: O objetivo final da paz é simplesmente chegar ao controle mundial comunista.”POR DOUGLAS J. HAGMANN
Fonte: Canada Free Press
Tradução e comentários: Francis Lauer

UM MEXIDÃO ECONÔMICO POUCO NUTRITIVO

O novo pacote eleitoral da presidente Dilma Rousseff, um mexidão de velhas e fracassadas medidas econômicas, coincidiu com o anúncio de uma nova redução do emprego na indústria paulista. Foram fechados em maio 12.500 postos de trabalho, saldo final das demissões e contratações, segundo informou na quarta-feira a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Foi a maior queda nesse mês em oito anos. O quadro piorou mais sensivelmente nos últimos cinco. A partir de 2009 foram eliminados 130 mil empregos industriais no Estado, conforme estimativa da federação. Enquanto a informação era divulgada em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff e o ministro Guido Mantega, da Fazenda, apresentavam a 34 líderes empresariais, em Brasília, um cardápio de medidas conhecidas, requentadas e parcialmente recicladas. Os industriais saíram aparentemente satisfeitos. Teriam rebaixado suas ambições ou suas expectativas, a ponto de se contentar com um pouco mais de protecionismo e de remendos tributários?


Em 2008, no começo da crise, a produção geral da indústria cresceu 3,1%, porque a turbulência internacional só atingiu o Brasil no fim do ano. O efeito apareceu em 2009, com uma contração de 7,1%. No ano seguinte a expansão chegou a 10,2%, mas a maior parte dessa reação apenas compensou o desastre dos 12 meses anteriores. Nos três anos seguintes, já no mandato a presidente Dilma Rousseff, o cenário foi de estagnação. Em 2011 a indústria produziu apenas 0,4% mais que no ano anterior. Em 2012 o resultado encolheu 2,3%. Esse desastre nem sequer foi compensado pelo avanço de apenas 2,2% em 2013. Nos 12 meses terminados em abril de 2014 a produção foi 1,2% menor que no período imediatamente anterior.

Uma das medidas agora recicladas, o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), foi lançada em 2009. Com dinheiro do Tesouro, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deveria ter estimulado a compra de máquinas e equipamentos e a construção de instalações. Seria uma forma de combater a recessão e restabelecer o crescimento da economia.

O efeito foi muito limitado, esgotou-se em pouco tempo, e o programa, embora concebido como política de curto prazo, foi prorrogado várias vezes. A evolução da indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos) também mostra a baixa eficácia do PSI e de outros estímulos.

A fabricação de bens de capital encolheu 16,5% em 2009 e aumentou 21,3% em 2010, acompanhando a reação geral da indústria. Ainda se expandiu 5% em 2011 e diminuiu 11,2% no segundo ano do atual governo. O crescimento de 11,3% em 2013 apenas compensou aquela retração. Além disso, o investimento nesse período foi muito concentrado em caminhões e máquinas agrícolas, consequência evidente da boa safra. Sem a eficiência do agronegócio o cenário econômico teria sido muito pior. Finalmente, nos 12 meses até abril deste ano, novo recuo da produção de bens de capital, desta vez de 4,8%.

Como o governo também tem investido pouco e negociado muito lentamente as concessões na área de infraestrutura, a formação bruta de capital fixo - máquinas, equipamentos, construções particulares e infraestrutura - pouco avançou nos últimos anos.

No primeiro trimestre deste ano, essa formação de capital correspondeu a 17,7% do produto interno bruto (PIB). Um ano antes estava em 18,2%. Nos primeiros três meses de 2000 a taxa era 19%. Uma curva com os dados de investimento nos trimestres iniciais dos anos seguintes mostra um recuo até 16,1% em 2004 e 2005 e uma recuperação a partir daí. O pico, 19,5%, foi alcançado em 2011, no começo do atual governo. Desse ponto em diante, houve queda contínua.

Em outras economias latino-americanas a proporção está na faixa de 24% a 30% do PIB. Tem ficado acima disso em alguns países da Ásia e ultrapassado 40% na China. O governo brasileiro vem prometendo, há anos, elevar o investimento até 24% do PIB. O prazo para cumprir a promessa tem-se alongado seguidamente.

A escassez de investimentos públicos e privados, somada a outros fatores de atraso, como os baixos padrões educacionais, a burocracia excessiva, a tributação irracional e os erros da diplomacia econômica, explica o desempenho medíocre do País como exportador de manufaturados. Há cerca de um mês o Brasil apareceu em 54.º lugar, entre 60 países, numa classificação elaborada pelo Centro de Competitividade Mundial do IMD, entidade suíça de pesquisa e ensino.

Alguns analistas e empresários industriais atribuem esse quadro à política de juros altos e ao desajuste cambial. É preciso ser muito ingênuo ou desinformado para aceitar essa explicação. O Banco Central começou a reduzir os juros no fim de agosto de 2011 e só voltou a elevá-los no fim de abril deste ano. A taxa de investimentos caiu nesse período e a balança comercial se deteriorou. Ao mesmo tempo, o dólar oscilou e nem nas fases de câmbio mais favorável aumentou o dinamismo das exportações. Outros fatores são obviamente muito mais importantes para explicar os problemas de competitividade e o padrão de investimentos. Os erros de política, o intervencionismo desastrado e a insegurança dos empresários são respostas muito mais convincentes.

O desajuste das contas públicas e a inflação elevada e resistente são detalhes importantes desse quadro. Mas muito raramente algum empresário reclama da inflação, embora o descompasso entre os preços no Brasil e no exterior torne os produtos nacionais mais caros e alimente o desajuste cambial. Bem mais simples, politicamente, é reclamar dos juros e do câmbio e pedir mais proteção e favores tributários. Dispensado de seguir políticas sérias, o governo agradece.
Por: Rolf Kunz - Publicado no O Estado de S. Paulo

quinta-feira, 10 de julho de 2014

VIOLÊNCIAS CONJUGAIS

1. Confesse, leitor: sempre que a seleção joga, você sente a adrenalina a correr mais forte. O álcool é bebido com outra intensidade. E quando o jogo termina, surge a velha e shakespeariana pergunta: bater ou não bater, eis a questão.


Resumindo, aqui está um estudo recente do Reino Unido, divulgado pelo "Guardian", que traz avisos sérios para a Copa do Mundo: sempre que a Inglaterra joga, a violência doméstica aumenta. E aumenta em qualquer dos cenários: se a Inglaterra perde, alguém apanha; se a Inglaterra ganha, alguém apanha também.

Claro que existem diferenças: nas derrotas, há um crescimento de 38% na violência entre o casal; em caso de vitória, o crescimento é de 26%. Mas a conclusão é unívoca: futebol traz violência dentro de casa. E nem sequer discrimina sexualmente: eles batem nelas, sim; mas elas também batem neles.

E, para que as minorias não sejam esquecidas, a orientação sexual não altera o pugilato: eles batem neles; elas batem nelas.

Por isso as autoridade nativas estão atentas: o primeiro jogo da Inglaterra na Copa será contra a Itália. O que significa que as autoridades policiais já identificaram várias famílias nas quais esse tipo de violência tem histórico e pode irromper de forma selvática.

Não sei, honestamente, que tipo de intervenção está prevista para o dia da partida. Boicotar a transmissão do jogo —via rádio ou TV— para residências problemáticas? Separar preventivamente o casal em jaulas eletrificadas? Arrombar a porta ao mínimo sinal de discussão e louça quebrada?

Esperemos para ver. Mas o futuro promete: se o estudo ganha dimensão internacional, não será de excluir que apareça algures um comitê politicamente correto, de preferência sob o alto patrocínio das Nações Unidas, propondo seriamente a criminalização do futebol por suas influências nocivas na harmonia do lar.

Depois da Lei da Palmada infantil, só falta uma Lei da Porrada conjugal.

2. Provocou comoção a atitude do papa Francisco de rezar pela paz com os presidentes israelense e palestino. Pena que, no encontro histórico do Vaticano, não tenha havido a mais vaga menção aos obstáculos reais (e tradicionais) que definem o conflito. E que, hoje, em 2014, ainda não têm qualquer solução à vista.

Ninguém sabe o que fazer com Jerusalém, cidade reivindicada pelos dois povos para futura capital dos dois Estados.

Ninguém sabe o que fazer com os 4 milhões de refugiados palestinos (estimativa conservadora) que a Autoridade Palestina exige que regressem a Israel (e que Israel, logicamente, recusa, por ver nesse regresso o seu suicídio demográfico como "Estado judaico").

Ninguém sabe como convencer Israel a retirar da Cisjordânia depois da experiência traumática da Faixa de Gaza, quando Ariel Sharon retirou do território e o Hamas passou a usá-lo como rampa de lançamento de foguetes para o interior de Israel.

E, por falar em Hamas, ainda ninguém sabe se, no novo governo de unidade palestino, o Hamas está disposto a renunciar totalmente ao terrorismo e a reconhecer, pela primeira vez na sua história, a existência da "entidade sionista" com a qual terá de dividir o território.

Uma oração pela paz talvez seja uma forma de pedir um milagre para o conflito israelense-palestino. O papa Francisco, com a sua habitual sabedoria, sabe bem que só um milagre pode ressuscitar um "processo de paz" sepultado.

3. Leitores vários não gostaram das comparações abusivas que fiz nesta Folha entre as campanhas antifumo de hoje e as utopias sanitárias do fascismo e do nacional-socialismo ("Fascismo light", 3/6/2014).

Entendo o desconforto: também eu abomino a ligeireza das analogias históricas, sobretudo quando abusivas e ofensivas.

Acontece que, desta vez, não há ligeireza alguma. E aos leitores indignados só posso aconselhar, pela milésima vez, a leitura de "The Nazi War on Cancer" (a guerra nazista contra o câncer), o estudo magistral de Robert N. Proctor sobre a primazia do Terceiro Reich na luta contra o fumo.

A propaganda que hoje domina essa luta, no estilo e no tom (o fumante como ser infecto; o culto do físico perfeito; etc.) foi uma moda iniciada pela Alemanha nazista, 80 anos atrás.

Por: João Pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O MUNDO É DOS BÁRBAROS

O Muro de Berlim caiu há 25 anos e alguns lunáticos acreditaram genuinamente que o mundo chegara ao "fim da História". Francis Fukuyama foi apenas um deles: com o descrédito do comunismo, só restava ao mundo a solução demo-liberal.

Poucos anos depois dessa proclamação pseudo-hegeliana, dois aviões rebentavam com as Twin Towers de Nova York.

E hoje, ano da graça de 2014, o Iraque está a ser devorado, pedaço a pedaço, por aquele grupo terrorista (a Al Qaeda) que toda a gente declarava morto e enterrado. Moral da história? A história não tem moral. Nem fim.

Mas há uma consequência da Queda do Muro que faz parte da história intelectual do nosso tempo: a emergência do pensamento politicamente correto nas pocilgas acadêmicas e editoriais.

Calma, povo: o pensamento politicamente correto é anterior a 1989. Para sermos rigorosos, começou com a ambição respeitável de garantir condições de igualdade a minorias várias que eram objetivamente destratadas pelo Estado.

A luta pelos direitos civis na América segregacionista de meados do século 20 foi uma luta politicamente correta. Em vários sentidos da palavra.

O problema é que situações de discriminação objetiva foram substituídas por delírios linguísticos que ganharam força de dogma depois de 1989. Porquê depois de 1989? Porque com a morte do comunismo não morreu a sua ideia motriz: a ideia de que a humanidade se define pela luta perpétua entre exploradores e explorados.

E se o proletariado já não era o explorado da situação –nas ruas de Berlim ou de Bucareste o proletariado desprezava o "materialismo histórico" e desejava ardentemente os confortos do mundo capitalista– então era preciso encontrar novas vítimas. E elas foram encontradas: os negros, as mulheres, os gays, os anões –a lista é infinda.

E, com essa lista, vieram as patrulhas: gente que copia os piores vícios dos velhos inquisidores, procurando sinais de corrupção onde eles nem sequer existem.

Por isso merece leitura obrigatória o texto publicado nesta Folha ("Tolerância intolerante", 15/6/2014) de Luís Pereira e Sílvio Pera. São dois professores de pré-vestibular que analisam o "neofundamentalismo politicamente correto" que hoje existe nas escolas.

Exemplos? Pereira e Pera contam esse: um professor dissertava na aula sobre a inferioridade da mulher na sociedade patriarcal do Ocidente. Não vou perder tempo com a natureza anacrônica da expressão "sociedade patriarcal". O que interessa é que o professor até admitiu que a história que existe nos livros é, sem grandes exceções, uma "história masculina".

Foi o que bastou para que uma aluna apenas escutasse "história masculina" (fora do contexto) e pulasse de indignação contra o professor "machista".

Nada disso me espanta. Anos atrás, ainda como aluno, um professor de Filosofia explicava pacientemente que, ao contrário da caricatura habitual, Sócrates até tinha uma opinião moderada sobre as mulheres (coisa rara entre os seus pares), apesar de as considerar seres intelectualmente inferiores.

A falange feminista abandonou ruidosamente a sala. Seguiu-se uma queixa contra o professor.

O professor não se atemorizou. Solidário com a luta das alunas, propôs que todos lavrassem em conjunto uma queixa contra Sócrates, o verdadeiro responsável pelo insulto. Até sugeriu um título: "O Julgamento de Sócrates".

As alunas, com o sentido de humor que as cabeças politicamente corretas normalmente têm, consideraram a sugestão um novo insulto. E resolveram apresentar os seus argumentos no carro do professor –com tinta, pregos e vidraças quebradas.

O professor, em idade de pré-aposentadoria, resolveu tratar da burocracia mais cedo. Aos bárbaros o que é dos bárbaros, disse ele.

Ou, pelo menos, eu quero muito acreditar que sim.

Por: João Pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

UMA DOENÇA SEM CURA

Números aterradores no "The Wall Street Journal": nos primeiros três meses de 2014, o governo francês registrou 170 atos de violência antissemita no país. É muito?


Digamos apenas isso: com 650 mil judeus na França, os crimes racistas contra judeus constituem 50% de todos os ataques racistas. Repito: 50%. Como explicar essa cifra?

Sim, o ódio e a destruição de grupos islamitas que operam na Europa não favorecem o ecumenismo. Recentemente, na Bélgica, um jiadista matou quatro judeus no Museu Judaico de Bruxelas.

E, claro, a emergência da Frente Nacional, com a sua vetusta tradição de antissemitismo patriótico, não permite imaginar um futuro risonho para os judeus gauleses.

Mas a minha pergunta vai mais longe: como explicar a sobrevivência do antissemitismo na Europa quando todos sabemos que a Europa ofereceu ao mundo o capítulo antissemita mais grotesco de toda a história da humanidade?

Os débeis dirão que a culpa é de Israel. Se, por hipótese, Israel não existisse, não existiria antissemitismo. No limite, o antissemitismo seria uma curiosidade histórica, própria de Hitlers, Stálins ou de outras personagens sinistras.

Não pretendo perder muito tempo com os débeis. Até porque eles desconhecem a própria história do antissemitismo -que é anterior a Israel; anterior a Hitler; anterior à União Soviética; anterior às perseguições czaristas do século 19; anterior às perseguições na Península Ibérica nos séculos 15 e 16. A história do antissemitismo é, no essencial, a história da nossa civilização.

Foi Paul Johnson, curiosamente um historiador cristão, quem explicou esse fato com um simplicidade glacial.

Em ensaio antigo para a revista "Commentary" ("The Anti-Semitic Disease", 6/1/2005), Johnson definiu o antissemitismo exatamente como ele merece ser apresentado: como uma doença da mente, altamente infecciosa e destrutiva, que pode atacar indivíduos ou sociedades aparentemente "saudáveis".

E essa doença está documentada ao longo dos tempos e sempre com os mesmos sintomas paranoicos (e paradoxais).

Como escreve Paul Johnson, os judeus são apresentados como demasiado exibicionistas —ou demasiado reservados. Eles recusam assimilar-se —ou, então, assimilam-se bem demais. São excessivamente religiosos —ou excessivamente materialistas. Evitam o trabalho duro —ou trabalham mais do que os outros. São os agentes do capitalismo —ou os agentes do comunismo. São gente desconfiada —ou gente falsamente prestável. A lista não tem fim.

Mas se os sintomas são os mesmos —uma desconfiança alucinada que devora o cérebro do antissemita como um câncer intelectual —o antissemitismo foi ganhando diferentes vestimentas no tempo e no espaço.

Começou por ser um antissemitismo religioso (o judeu como assassino de Cristo) que banhou de sangue as páginas negras da Idade Média europeia.

Depois passou para um antissemitismo nacionalista (o judeu como traidor da pátria), acusação que teve o seu momento infame no julgamento de Alfred Dreyfus, o oficial francês (e judeu) acusado e condenado, injustamente, de passar informações militares secretas à Alemanha.

Ironicamente, foi a Alemanha que continuou a tocha olímpica do antissemitismo, exterminando 6 milhões com uma ferocidade nunca vista.

E a doença continua hoje, nas livrarias do Oriente Médio, onde os "Protocolos dos Sábios do Sião" (o documento forjado pela polícia czarista para justificar os "pogroms" antissemitas de finais do século 19) continuam a ser vendidos com sucesso. O que não admira: os "Protocolos" pretendem "provar" a conspiração judaica para dominar o mundo. Haverá coisa mais deliciosa para a cabeça doente de um antissemita?

Com as eleições europeias, a extrema-direita voltou a mostrar as suas garras. E o antissemitismo islamita, pelos vistos, gosta de mostrá-las com uma regularidade assombrosa.

Mas esses dois fenômenos são parte de um problema maior: os séculos passam, os cadáveres amontoam-se, o mundo jura que aprendeu a lição. Mas a doença antissemita continua latente. E sem perspectiva de cura. 

Por: João pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

terça-feira, 8 de julho de 2014

AFETAÇÕES DE UM VIRA-LATA

A afetação com vinhos é um sintoma clássico. Chegamos ao ponto de ser melhor não falar sobre vinhos em jantares inteligentes para que não pensem que somos gente que faz curso de enologia. Na verdade, quem entende mesmo de vinhos deve ficar calado quando os outros começam a expor seus cursos feitos por aí. Nunca se deve usar expressões como "amadeirado".


Sim, falo das afetações típicas de brasileiros e paulistanos, mais especificamente. A burguesia sempre sofreu de um complexo de vira-lata em relação à aristocracia medieval, porque esta era o que era, enquanto a burguesia é o que tem, e nada mais.

Quando atravessamos o Atlântico e chegamos ao Brasil, a agonia da burguesia com sua condição vira-lata piora. Desesperados buscam passaportes italianos para poderem, num momento de glória, pegar a fila dos passaportes europeus ao entrar na Europa. O desespero fica maior se não tiver ninguém pra ver os 15 minutos de fama na fila dos passaportes europeus. Quem viaja sozinho busca com o coração na boca algum brasileiro coitado com passaporte brasileiro para que ele veja a glória do pseudo-italiano.

Outro sintoma da mesma patologia é a tentativa de encontrar nobreza na ancestralidade. Hipótese pouco provável porque normalmente quem está bem nunca imigra para lugar nenhum. Todo imigrante é um coitado, por definição.

Mas, talvez uma das afetações mais terríveis, e muito comum nesta época de Copa do Mundo, é ficar falando mal do Brasil. Claro, o Brasil é mesmo um problema. A Copa do Mundo trouxe à tona de forma evidente, sob os holofotes do mundo, nossa incompetência em infraestrutura. E, de fato, o Brasil é levado pouco a sério por aí. O jornalismo internacional está muito mais atento à África e à Ásia do que à América Latina. Somos um continente esquecido, para o bem e para o mal. Mas, a afetação vira-lata vai muito além da consciência de nossas mazelas.

Vejamos. Ela se manifesta na mania de usar expressões (hoje um pouco fora de moda) como "coisa de primeiro mundo". A tentação de comparar o Brasil com a Europa é a mais "chique", porque inclusive mostra que o fulano é "viajado" -expressão triste por definição. Os mais ingênuos comparam o Brasil com os EUA, os mais afetados comparam com a Europa ocidental porque os EUA "eram" capitalistas selvagens. Digo "eram" porque os EUA paulatinamente se transformam em um dos países de maior invasão da vida privada pelo governo federal.

Quer um exemplo banal? A vida real é mesmo banal, quem não sabe disso e imagina que existe uma "vida chique e especial" por aí é gente que sofre de bovarismo cultural. Sofrer de bovarismo cultural é achar que existe uma vida maravilhosa do outro lado do Atlântico que só gente inteligente conhece.

Mas, voltemos ao exemplo banal. Dizer que no Brasil não se respeita fila e que na Europa se respeita é coisa de quem nunca viajou muito mesmo. Muitos europeus furam a fila na maior cara de pau, dando as mais variadas razões. Às vezes, tenho a impressão que os brasileiros respeitam fila com muito mais frequência.

Outra afetação é querer ir a restaurantes "melhores do mundo". A fila de espera pode durar meses. Restaurantes assim são aquele tipo de lugar que você vai mais pra ser visto lá do que pela comida mesmo, que às vezes é tão chique que o gosto se perde na sofisticação fake.

Claro, bons restaurantes existem, mas nada tem a ver com excessos de propaganda.

No final das contas, como sempre, toda elegância é discreta, assim como toda virtude é silenciosa. Esta é, talvez, uma das maiores contradições do mundo contemporâneo pautado pelo ridículo das redes sociais: todo mundo tem que aparecer para existir. Esta contradição aparece, por exemplo, quando reclamamos de que as pessoas invadem nossa privacidade quando a maioria de nós "posta tudo" pra ser visto.

A propósito, a entrevista de Zygmunt Bauman, "Vigilância Líquida", recém-publicada no Brasil, é uma boa reflexão sobre este desejo infantil de ser visto, desejo este que faz de todos nós reféns das informações que nós mesmos "postamos".
Por: Luiz Felipe Pondé Publicado na Folha de SP


U.B.S.S.

União Brasileira Socialista Soviética. Piada de mau gosto mesmo, também acho, mas a pena mesmo é que a discussão política entre nós seja da idade da pedra e o socialismo ainda seja levado a sério. A piada de mau gosto mesmo é que estamos à beira de um golpe de Estado invisível no Brasil.


O leitor e a leitora já estão a par do decreto do governo que institui a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social? Trata-se de decreto para aparelhar movimentos como o MST (gente que quer tomar a terra alheia), o MTST (gente que discorda da ideia de que se deve pagar pelo teto em que mora) e outros movimentos que englobam gente "sem algo" e acham que a sociedade deve dar pra eles. Esses grupos darão um golpe de Estado invisível. Tudo fruto, é claro, de setores do PT radical e os raivosos ex-PT, hoje em pequenos partidos.

Esse decreto é um golpe de Estado sem dizer que é. Lentamente, os setores mais totalitários do país, amantes de ditaduras do proletariado (ou bolivarianas) voltam à cena no Brasil. Comitês como esses tornam os poderes da República reféns de gente que passa a vida sendo profissional militante. Quando você acordar, já era, leis serão passadas sem que você possa fazer algo porque estava ocupado ganhando a vida.

Pergunte a si mesmo uma coisa: você tem tempo de ficar parando a cidade todo dia, acampando em ruas todo dia, discutindo todo dia? Provavelmente não, porque tem que trabalhar, pagar contas, levar filhos na escola, no hospital, e, acima de tudo, pagar impostos que em parte vão para as mãos desses movimentos sociais que se dizem representantes da "sociedade".

Mas a verdade é que a maioria esmagadora de nós, a "sociedade", não pode participar desses comitês porque não é profissional da revolução.

Tais movimentos que se dizem sociais, que afirmam que as ruas são deles, mentem sobre representarem a sociedade. Mesmo greves como a do metrô, capitaneada por uma filial do PSTU, não visa apenas aumentar salários. Visa instaurar a desordem para que o Brasil vire o que eles acham que o Brasil deve ser.

Afinal, de onde vem a grana que sustenta essa moçada dos movimentos sociais? A dos sindicatos, sabemos, vem dos salários que são obrigatoriamente onerados para que quem trabalha sustente os profissionais dos sindicatos. Mas, até aí, estamos na legalidade de alguma forma. Mas e os "sem-Macs" ou "sem-iPhones", vivem do quê? Quando os vemos na rua, não parecem estar passando fome e frio como dizem que estão. Essa gente é motivada e sustentada de alguma forma.

Por que não se exige entrar nas contas do MST e MTST e descobrir de onde vem a grana deles? Quem banca toda essa estrutura militante? Temo, caro leitor e cara leitora, que sejamos nós, os mesmos que eles consideram inimigos, a menos que concordemos com eles.

Uma das grandes mentiras desses movimentos sociais é dizer que combatem a "elite econômica", que, aliás, em dia de greve, fica em casa porque não precisa de fato se virar pra ir trabalhar.

Quem sofre com esses movimentos que arrebentam o cotidiano é gente que perde o emprego, perde o negócio, perde a vida se fica parada no trânsito ou na fila. É gente que, quando muito, anda de carro 1.0, não gente que anda de helicóptero.

É diarista, empregada doméstica, porteiro de prédio, professor, estudante sem grana e que tem que pagar a faculdade, não riquinhos da zona oeste paulistana que fazem sociais para infernizar a vida dos colegas.

É médico que tem três empregos, é dona de casa que cuida de filhos e trabalha fora, é trabalhador da construção civil, é gente "mortal", comum, que não pode se defender dos caras que fecham a cidade dizendo que fazem isso em nome do "povo".

Os movimentos sociais têm demonstrado seu caráter autoritário. Pensam que as ruas são o quintal de seus comitês, que aparelharão os poderes da República.

Se não bastasse isso tudo, vem aí o controle social da mídia. Dizer que será apenas para evitar monopólios é achar que somos idiotas. Veja o que aconteceu na Argentina. 
Por: Lui Felipe Pondé Publicado na Folha de SP