quarta-feira, 15 de outubro de 2014

JEAN TIROLE, O PRÊMIO NOBEL, E A CRESCENTE MATEMATIZAÇÃO DA ECONOMIA

Tirole-Nobel.jpgEis uma notícia realmente "chocante": o Prêmio Nobel de Economia de 2014 não foi concedido — como chegou a ser cogitado fervorosamente por alguns austríacos — a Israel Kirzner. Em vez disso, o prêmio foi dado a Jean Tirole, um engenheiro, matemático e economista francês. E também, como não poderia deixar de ser, um keynesiano.


Antes, um adendo: o grande empreendedor sueco Alfred Nobel nunca patrocinou nenhum prêmio para a ciência econômica, e o comitê criado em sua homenagem (com o patrimônio que ele deixou) nunca concedeu nenhum prêmio desse tipo até hoje. No entanto, existe um "Prêmio para as Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel". Mas ele é patrocinado pelo Banco Central da Suécia. Desde 1969, este prêmio também vem sendo concedido anualmente no início de outubro.

Jean Tirole ganhou o prêmio por seu trabalho sobre "A Ciência de Domar Empresas Poderosas". Por maior que seja seu brilhantismo, Tirole é apenas mais um economista neoclássico convencional cuja noção de concorrência, eficiência e bem-estar econômico está distante galáxias da de Kirzner.

Plus ça change, plus c'est la même chose.

Tirole ganhou o prêmio por ter criado novos métodos — utilizando a teoria dos jogos — que visam a aperfeiçoar a regulação de indústrias dominadas por poucas empresas grandes, as quais detêm "poder de mercado". Tirole, de uma maneira nada criteriosa, simplesmente aceita a antiga e arraigada visão neoclássica de que empresas "oligopolistas" cometem uma imperdoável transgressão contra a eficiência econômica ao serem capazes de "influenciar os preços, a quantidade e a qualidade" dos produtos nos mercados em que elas operam. E elas conseguem fazer isso porque conseguem planejar a produção tomando por base as expectativas das decisões de suas poucas concorrentes.

Em outras palavras, Tirole simplesmente descobriu — e acreditou se tratar de uma falha de mercado — que, no mundo real, as empresas não operam de acordo com as fictícias hipóteses da teoria da concorrência perfeita, segundo a qual cada empresa é infinitesimamente pequena e incapaz de alterar, nem que seja de forma minúscula, o preço ou a qualidade de seu produto em relação aos seus milhares e ínfimos concorrentes — concorrentes esses que, ainda segundo a teoria, a empresa em questão não leva em conta quando toma suas próprias decisões de produção.

Ampliando esse efeito da "falha de mercado" do oligopólio está o intolerável fato de que as empresas dominantes sabem mais sobre o produto que estão vendendo do que a agência reguladora responsável por regular aquele mercado. Essa é apenas mais uma versão do problema da "informação assimétrica", segundo o qual cada empreendedor está — Deus nos proteja! — mais intimamente familiarizado com as características do produto que ele produz e vende do que os consumidores desse produto.

Em todo caso, ao utilizar a teoria dos jogos e a teoria dos contratos, Tirole foi capaz de inventar "um engenhoso arranjo de contratos de produção" entre o regulador e as empresas dominantes para solucionar o problema da informação assimétrica ao mesmo tempo em que concede às empresas um incentivo para produzir e cortar custos. Simultaneamente, o modelo inventado por Tirole impede que essas empresas tenham "lucros excessivos — que são ruins para a sociedade".

Ou seja, Tirole ganhou o Prêmio Nobel por ter inventado complexas soluções técnicas para um pseudo-problema que os austríacos há muito tempo já sabiam e já ensinaram a respeito: sempre haverá empresas dominantes em um determinado segmento de mercado justamente porque uma economia de mercado é dinâmica (e não estática, como prega a teoria da concorrência perfeita) e guiada pela concorrência entre empreendedores ávidos para auferir lucros, os quais eles obtêm ao saberem antecipar e servir as demandas dos consumidores, as quais estão em contínua mudança.

Ainda em 1962, Murray Rothbard já havia demonstrado que a teoria dos jogos era inaplicável para a questão do oligopólio, isso em uma época em que a teoria dos jogos ainda era uma misteriosa disciplina em gestação, conhecida apenas por um punhado de economistas matemáticos. Como argumentou Rothbard:

A consideração relevante não é a pequena quantidade de empresas ou a hostilidade ou amizade entre elas. Os economistas que discutem oligopólio em termos que são mais aplicáveis a jogos de pôquer ou a táticas de guerrilha militar estão totalmente equivocados. O objetivo fundamental de um empreendimento é servir o consumidor para obter ganhos monetários; e não fazer algum tipo de "jogo" com seus concorrentes. 

Os eventuais aumentos ou reduções de preços que porventura venham a ocorrer em indústrias "oligopolistas" não representam uma forma misteriosa de guerrilha, mas sim um nítido processo de se tentar encontrar um equilíbrio de mercado. Esse mesmo processo, com efeito, ocorre em qualquer outro mercado, inclusive nos mercados "não-oligopolistas" de produção de trigo ou de morango. 

Nesses mercados, o processo aparenta ser mais "impessoal" simplesmente porque as ações de cada empresa não são tão importantes ou tão claramente visíveis quanto são nas indústrias mais "oligopolistas". [...] 

E, em situações de oligopólio, as rivalidades e os sentimentos de cada indústria em relação às suas concorrentes podem até ser analisadas de um ponto de vista mais dramático e teatral; porém, em termos puramente de análise econômica, são irrelevantes.

Quanto a "informações assimétricas", Ludwig von Mises e F.A. Hayek já demonstraram há muito tempo que, longe de serem uma "falha de mercado", esse fenômeno é justamente uma condição fundamental para a própria existência de mercado. 

Afinal, quem sabe mais sobre construção de imóveis: incorporadoras ou compradores de imóveis? Quem sabe mais sobre o serviço de fornecimento de carne para supermercado: pecuaristas ou consumidores de carne? Quem sabe mais sobre fabricação de automóveis: engenheiros automotivos empregados em montadoras ou compradores de carros? Quem sabe mais sobre produção e venda de vestuário: fabricantes e distribuidoras de roupas ou compradores de roupas?

Esse ponto foi enfática e eloquentemente expressado por William Anderson neste artigo:

Uma "assimetria de informação" ocorre quando a informação necessária para que compradores e vendedores cheguem ao "equilíbrio" não está igualmente distribuída entre todos os participantes de mercado. Um bom exemplo é o mercado de carros usados.

De acordo com um ditado popular sobre o mercado de carros usados, quando alguém compra um carro usado, ele "está comprando os problemas de outra pessoa". Os compradores de carros usados possuem muito menos informação do que os vendedores. O que parece ser um bom carro no estacionamento da revendedora pode perfeitamente acabar se revelando uma tremenda barca furada tão logo o novo proprietário o estiver dirigindo no centro da cidade. [...]

Por causa dessa incerteza, compradores serão mais relutantes a pagar bem por um determinado carro usado, sendo que, caso eles de fato soubessem com certeza que o carro que estão comprando não é um limão, estariam dispostos a pagar mais. Em consequência dessa relutância em se pagar mais, os vendedores retirarão seus melhores carros do mercado, dado que consideram que os preços oferecidos são inadequados. Isso, por sua vez, induz os compradores a oferecer preços ainda menores, já que, com os melhores carros fora do mercado, as chances de se adquirir um limão aumentam substancialmente. Essa espiral descendente ameaça destruir esse mercado por completo.

A solução apresentado pelos economistas seguidores dessa teoria é que o governo imponha novas regulamentações ao mercado. A regulamentação, argumentam eles, obriga todos os lados a fornecerem todas as suas informações. [...]

Em primeiro lugar, o livre mercado possui meios para fornecer informações para aqueles que delas precisam. Por exemplo, empresas frequentemente oferecem todos os tipos de suporte aos seus produtos para mostrar que elas creem que seus produtos são dignos de serem adquiridos. Elas oferecem garantias e concedem reembolso para proteger os consumidores contra eventuais defeitos e para garantir que eles fiquem satisfeitos. Se os compradores de carros querem ter mais informações sobre carros usados, por que eles não conseguiriam obtê-la? Há várias maneiras de isso ser feito.

Tenho um conhecido que é especialista em assuntos automotivos. Frequentemente ele é chamado por seus amigos, e por amigos de seus amigos, para acompanhá-los até uma revendedora para analisar os carros lá vendidos. Ele leva consigo algumas ferramentas para testar a qualidade do carro e constatar a veracidade das informações fornecidas pelo vendedor. Dentre outras coisas, ele leva um ímã o qual ele desliza ao longo do carro para descobrir se a lataria já foi danificada e se o vendedor utilizou alguma substância à base de fibra de vidro para cobrir os amassados. Especialistas como esse meu amigo podem ser livremente contratados para ir às revendedoras e "equalizar" um pouco a assimetria de informações.

Ademais, vale notar que o mercado de carros usados nunca entrou em colapso em nenhum lugar do mundo (ao menos, não nas economias razoavelmente desenvolvidas). Em vários locais, inclusive, ele é ainda mais dinâmico do que o mercado de carros novos. Outra pergunta que vale ser feita é: por que se pressupõe que os vendedores dos melhores carros, ao estabelecerem seus preços, não irão levar em conta a falta da informação dos compradores?

É quase impossível encontrar uma transação na qual os indivíduos possuam exatamente as mesmas informações. Assimetrias de informações estão presentes em todos os lugares, e nenhum critério aceitável já foi proposto para separar as assimetrias "aceitáveis" das "inaceitáveis". 

No mais, empreendedores já criaram na internet vários websites em que consumidores fornecem suas opiniões sobre vários produtos e serviços, atribuindo notas aos vendedores destes produtos e serviços. Há também vários websites em que vendedores e potenciais compradores se "encontram" e fazem ofertas, expandindo desta forma a concorrência e abrindo novos mercados para todos que quiserem participar.

Em outras palavras, as pessoas sabem criar maneiras de lidar com a questão da imperfeição das informações, as quais são, por si sós, uma mercadoria escassa e valiosa. Negar tal fato é se negar a examinar as transações que ocorrem no mundo real.

O ponto é que todas as informações sobre todos os produtos e serviços existentes são inevitavelmente assimétricas. E tem de ser assim em economias capitalistas bem-sucedidas por causa da divisão do conhecimento e do trabalho que há na sociedade. Se todos nós possuíssemos informações simétricas sobre tudo, nenhum empreendimento existiria. Não é possível e nem desejável que todos os indivíduos possuam informação simétrica.

De resto, o Nobel concedido a Tirole apenas comprova que a teoria dos jogos se tornou uma linguagem dominante não apenas para questões de organização industrial, mas também para a "economia do setor público", para as finanças corporativas, e para várias outras áreas da economia. Era inevitável que o prêmio fosse para Tirole e não para Israel Kirzner, cuja visão de concorrência como um processo dinâmico de rivalidade ao longo do tempo é oposta à de Tirole.

Por: Joseph Salerno, vice-presidente acadêmico do Mises Institute, professor de economia da Pace University, e editor do periódico Quarterly Journal of Austrian Economics.
Tradução de Leandro Roque

terça-feira, 14 de outubro de 2014

PUTIN E SUA OPÇÃO NUCLEAR CONTRA O OCIDENTE


Características do projeto do míssil Bulava recentemente testado mais uma vez, segundo a agência moscovita RIA-Novosti.

E se o presidente russo estivesse pensando em duas bombas atômicas táticas contra um membro da NATO – a Polônia ou a Lituânia, por exemplo? 

O pesadelo nuclear com a possibilidade de represálias poderia encerrar uma era histórica. Porém, segundo o correspondente na Rússia do The Atlantic, a enlouquecedora perspectiva não está longe de ser adotada pelo Kremlin.

Num foro da juventude realizado no final de agosto ao norte de Moscou, Vladimir Putin lembrou, em tom ameaçador, que “a Rússia é um dos países mais poderosamente nuclearizados do mundo. É uma realidade, não é um jogo de palavras”, enfatizou. 

No mesmo mês, em Yalta, Putin confidenciou aos líderes partidários da Duma – a Câmara dos Deputados – que ele pretendia em breve prazo “surpreender o Ocidente com nossos novos desenvolvimentos no campo de armas nucleares ofensivas que nós conservamos em segredo no momento”.

O jornal lembra que, simultaneamente, bombardeiros nucleares e caças estratégicos russos violavam – ou ameaçam violar – o espaço aéreo americano, europeu e do Mar da China. E que no fundo dos oceanos submarinos nucleares russos e americanos se enfrentavam como nos piores dias da Guerra Fria. 

A Rússia também teria violado o Tratado sobre as forças nucleares de alcance intermediário, que proíbe aos signatários possuir mísseis capazes de serem utilizados contra alvos europeus. 

Obama entrou na Casa Branca prometendo reduzir essas armas para fazer do mundo um lugar mais seguro. Mas, de fato, ele se prepara para despedir-se da mansão presidencial deixando atrás de si uma Rússia dotada de um arsenal nuclear mais mortífero do que nunca. 

A escalada, comenta o jornal, não pressagia nada de bom.

Putin se atreveria a apertar o botão a partir do qual não haveria mais volta atrás?

Para Andrei Piontkovski, ex-diretor do Centro de Estudos Estratégicos de Moscou e analista político do BBC World Service, ele seria perfeitamente capaz disso.

Ele até acha que Putin entrou numa enrascada com o Ocidente a propósito da Ucrânia e que, para sair como vencedor e ao mesmo destruir a OTAN e o resto de credibilidade dos EUA como guardião da paz planetária, ele não hesitaria na mais alucinante das alternativas.

O cenário entrevisto por Piontkovski reveste-se de uma aterrorizadora pertinência, diz The Atlantic. Pior, postas certas circunstâncias, poderá parecer lógico e talvez inevitável. 

Serguei Karaganov, diretor da Escola de Altos Estudos Econômicos de Moscou, representante do “campo da paz”, pede que Putin proclame unilateralmente que já ganhou na Ucrânia e encerre de vez o conflito. Mas essa posição não convence o Kremlin.

O “campo da guerra” propõe duas saídas, a primeira das quais é “um cenário romântico e edificante: o mundo russo ortodoxo desataria a Guerra Mundial contra o mundo anglo-saxão podre e decadente”. 

Essa Guerra Mundial seria uma guerra convencional contra a OTAN. Mas não funcionaria bem, diante da superioridade tecnológica ocidental e do atraso russo, acabando em derrota para o Kremlin.

Só ficaria a segunda opção: o ataque nuclear. Não uma ofensiva maciça contra os EUA e a Europa, mas uma ou duas “pequenas” bombas contra um ou dois membros da OTAN pelos quais os ocidentais não estariam dispostos a dar a vida.

Qual seria o pretexto? Qualquer um, montado em laboratório do Kremlin, aproveitando as experiências ucranianas.

Piontkovski imagina que o Kremlin poderia soprar um plebiscito, por exemplo, na cidade estoniana de Narva, de maioria russófona. Então, para ajudar os cidadãos a “exprimir livremente sua vontade” nas urnas, a Rússia enviaria uma brigada de “pequenos homens verdes” – na verdade armados até os dentes, como fez na Criméia. 

A Estônia invocaria o artigo 5 da Carta da OTAN: “um ataque armado contra um ou vários [membros da OTAN]… será considerado como um ataque contra todos os outros membros”. Precisamente após o presidente Obama ter declarado semanas atrás que “a defesa de Tallinn, Riga e Vilnius é tão importante como a defesa de Berlim, Paris e Londres”.

De repente o mais terrífico dos pesadelos se tornaria realidade: a OTAN estaria diante da eventualidade de fazer a guerra contra a Rússia.

Piontkovski acha que a OTAN não atacaria Moscou para defender uma nação tão longe do coração dos países membros. O mesmo bradariam muitos americanos que nessa hora agiriam como colaboracionistas do pior inimigo.

Putin lançaria então um ataque nuclear limitado contra uma ou duas capitais europeias – nunca Paris ou Londres – mas cidades pequenas. Talvez até Varsóvia, contra a qual a Rússia já realizou manobras de simulação de um ataque nuclear. Ou contra a capital lituana, Vilnius.

Neste cenário hipotético, Putin visaria a uma capitulação real da OTAN. E então ficaria livre para fazer o que bem entende com a Ucrânia e a Europa.

À primeira vista, o cenário parece ser puxado pelos cabelos, reconhece The Atlantic.

Os riscos são imensos. O mundo inteiro poderia ficar contra Putin.

A isso se acresce que o sentimento nacionalista pró-guerra na Rússia está muito misturado com o sentimentalismo e a contrainformação oficial, que anuncia vitórias russas dignas de cinema.

Quando a realidade da morte e da destruição atingisse a Rússia, Putin poderia perder o controle de seu próprio país. 

Mas, de outro lado, a moleza do Ocidente – por exemplo, diante do massacre dos cristãos no Oriente Médio – estimula uma aventura louca.

Os apelos inconsistentes à paz, ao diálogo e ao ecumenismo vindos da diplomacia vaticana e de altos prelados católicos aplaudidos pelo coro da mídia pacifista, sinalizam que o espírito de reação ocidental está sendo desarmado desde os púlpitos, eclesiásticos e/ou midiáticos.

Na hora de Putin tomar a decisão fatídica, as hesitações de Obama e dos dirigentes de potências nucleares europeias falariam no sentido de que eles não vão apertar qualquer botão em represália.

Poderia ainda haver não poucos cenáculos ou sacristias mais insuspeitados onde se torceria pelo “novo Carlos Magno” que vem do Oriente, pelo “cavaleiro do Norte” e “líder cristão” contrário à corrupção da família. 

Se essas condições se derem, Putin poderá julgar chegada a hora de desatar o holocausto nuclear. 

E então o sombrio chefe do Kremlin poderia levar a melhor.

Por: Luis Dufaur


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

UMA ANÁLISE PSIQUIÁTRICA DA ATUAL CONDIÇÃO DE LULA

Com mais de 50% de intenções de voto, muitos se perguntam por que Lula não concorre à Presidência? Do ponto de vista médico, há possíveis sinais de alguma encefalopatia hipertensiva - o paciente teve “desmaios” hipertensivos há alguns meses, sobrepeso, descontrole dietético ( hiper-dis-lipidemia ), mostra crescente irritabilidade, episódios de boca-rota e boca-suja, instabilidade e inquietação, tem inequívoca aterosclerose pós-tabágica, indícios de aumento da ansiedade. Além disto, depressão e apatia são comuns sinais de comprometimento cerebrovascular subcortical, por acometimento leucoencefalopático do centro oval. Etilismo sub-clínico pode vir a piorar isto tudo aí acima. 

A mente de Lula vive também grandes conflitos psicológico-familiares. Vejamos: Lula valoriza o caráter de sua mãe, que nordestina retirante, cuidou sozinha de muitos filhos; enquanto o pai de Lula, “homem sem escrúpulos afetivos”, mulherengo, abandonou a família e foi correr atrás de outros rabos-de-saia). A mãe, segundo Lula, era um exemplo e uma influência virtuosa, pregando sempre a honestidade, justiça, retidão de caráter. A mãe de Lula, mulher, pobre, sozinha, trabalhadora, nordestina, analfabeta, representa o nicho de “marginalidade”, “minorias oprimidas”, que ele optou por “defender”. O “esquerdismo” é, além de coitadista, feminino - não é difícil entender. E esta política, hoje em dia, nestes tempos de anti-autoridade, é a política vencedora, não só no Brasil, mas no mundo todo. O pai de Lula já representa toda a “maldade” do “homem capitalista”, opressivo, “patrão”, frio, distante, egoísta, auto-provedor (“nunca se preocupou em colocar uma rapadura dentro de casa”), materialista, “violento”, antiassistencialista (“nos deixou passando fome”). A “luta de Lula” é uma analogia da "vingança de sua mãe contra seu pai". Quando entrou na “selva” da luta política, é claro, Lula foi-se transformando cada vez mais no que era o pai dele, inclusive com amantes. No entanto, ele sempre tinha uma “justificativa materna” na cabeça que aplacava sua consciência: “não é que estou virando um “tubarão capitalista frio” (como meu pai), é que tenho de lutar com tubarões, como um tubarão, tudo para melhorar a vida deste povo sofrido (a “vida desta minha mãe sofrida”)”. Com o tempo, no entanto, a consciência foi pesando e ele foi vendo, com certo horror, que, de fato, sem subterfúgios, estava mesmo é se afastando da mãe e se aproximando cada vez mais do que o pai fora. 

Não bastassem esses motivos médicos, psicológicos, para sua desistência, há também motivos psicossociais: há o medo de perder as eleições, e com isto o enorme capital narcísico que amealhou como um “grande presidente do Brasil”. A mãe, como toda boa mãe, aliás, insuflou-lhe um molde de moralidade (que ele conspurcou, como vimos), mas também uma dose de narcisismo: “você não deve ser como os demais”, “você é queridinho da mamãe”. Este narcisismo faz com que Lula tenha medo de entrar na “canoa furada” em que ele e o PT colocaram o Brasil. O modelo petista esgotou-se: a) falta de composição com a Sociedade Civil. A sociedade civil, hoje, quer, mais que nunca, participar dos processos decisórios-governamentais, e o PT totalitarista-estatizante vai no sentido contrário a isto. O PT não só não acredita na Sociedade Civil , ele é contra ela, nomeia-a de “elite”. b) O modelo estatizante, que paralisa o país, enferruja a máquina administrativa. Os 12 anos do poder encastelaram o comunismo estatizante no poder, paralisando a máquina. c) o modelo assistencialista esgotou-se por vários motivos: c.1 - a sociedade já vislumbrou que o PT suga seu trabalho para angariar votos (bolsas, cotas, benesses, casas, tablets, móveis, etc) c.2. a sociedade já não suporta mais aumentos de impostos. c.3. altos índices de inadimplência. d) o que é pior para o PT e Lula: os assistidos agora , ingratos, se insuflam contra eles: querem mais. e) Querem mais e o governo não tem como lhes dar, pois não criou empregos, não ensinou-lhes que é o trabalho que gera riqueza, desacostumou-os a trabalhar, açulou-os para só pedir e reivindicar, não melhorou o nível educacional, não melhorou a produtividade, vem acabando com a indústria, vem acabando pouco-a-pouca com o espírito da Iniciativa Privada. f) então, o PT/Lula estão com insatisfeitos dos dois lados : dos assistidos (os coitadinhos) e dos assistentes (os tubarões). g) por conta de sua política comunista, ou seja, anti-iniciativa-privada, a economia vem estagnando-se, ninguém quer investir, ninguém quer empreender. O único ambiente de segurança é para o funcionário publico. A massa crítica que poderia mudar o país só pensa em fazer concurso e virar funcionário público, o país perde a juventude empreendedora. Neste ambiente inseguro, os mais equilibrados querem virar funcionário público e só vão se lançar no empreendimento os picaretas e os aventureiros e isto não constrói um país. Lula, como gênio político que é, já vislumbrou este beco sem saída em que se meteu e, nestas circunstâncias, que perca a Dilma mesmo. 
Por: Marcelo Caixeta, médico psiquiatra. Publicado no Diário da amanhã.

AOS FUTUROS EMPREENDEDORES

Aos futuros empreendedores: para ser realmente bem sucedido, crie algo que não tenha concorrentes


Existem várias empresas que criam muito valor, mas que não são consideradas valiosas pelo mercado. Criar valor não é o suficiente; é necessário saber capturar uma parte do valor que uma empresa cria.

Isso significa que até mesmo grandes corporações podem ser um empreendimento ruim. Por exemplo, as empresas aéreas americanas servem milhões de passageiros e ganham, anualmente, centenas de bilhões de dólares. No entanto, em 2012, quando o preço médio das passagens aéreas foi de US$178, as companhias aéreas ganharam apenas 37 centavos por passageiro. 

Compare isso à Google, que cria menos valor mas captura muito mais valor. A Google teve uma receita de US$50 bilhões em 2012 (enquanto as empresas aéreas tiveram receitas de US$160 bilhões), mas conseguiu fazer com que 21% dessa receita se convertesse em lucro — mais de 100 vezes a margem de lucro do setor aéreo. 

A Google ganha tanto dinheiro, que hoje a empresa vale três vezes mais do que todas as companhias aéreas americanas juntas.

As empresas aéreas concorrem entre si ao passo que a Google está isolada em seu mercado. Economistas utilizam dois modelos simplificados (e extremamente falhos) para explicar essa diferença: concorrência perfeita e monopólio.

Em qualquer livro de microeconomia, a "concorrência perfeita" é considerada o modelo ideal. Um mercado que supostamente está em concorrência perfeita alcança o equilíbrio quando a oferta dos produtores satisfaz a demanda dos consumidores. Em um mercado perfeitamente competitivo, não há nenhuma diferença entre as empresas e todas elas vendem os mesmos produtos homogêneos. Dado que nenhuma empresa possui qualquer poder de mercado, todas elas têm de vender a qualquer que seja o preço determinado pelo mercado. Se houver perspectivas de lucro, novas empresas entrarão no mercado, aumentarão a oferta, reduzirão os preços e, com isso, acabarão eliminando os próprios lucros que as atraíram ao mercado. Se muitas empresas entrarem no mercado, todas sofrerão prejuízos, algumas irão à falência, e os preços voltarão aos níveis de antes. No modelo de concorrência perfeita, nenhuma empresa aufere lucros no longo prazo.

Ainda segundo a teoria microeconômica convencional, o oposto da concorrência perfeita é o monopólio. Enquanto uma empresa em um mercado de concorrência perfeita tem de vender a preços de mercado, uma empresa monopolista é dona exclusiva de seu mercado, de modo que é ela quem determina seus preços. Dado que não há concorrência, ela produz seus bens e serviços na quantidade e aos preços que irão maximizar seus lucros. 

Para um economista convencional, todos os monopólios são iguais, não importa se a empresa é do tipo que maliciosamente elimina seus rivais, ou se ela obtém uma concessão do estado, ou se ela é eficiente e, por meio de inovações, adquire uma posição de proeminência. 

Meu objetivo aqui, no entanto, não é analisar as duas primeiras (empresas que utilizam métodos ilegais e empresas favoritas do governo), mas sim aquelas empresas que são tão boas naquilo que fazem, que nenhuma outra é capaz de oferecer um substituto à altura. Farei aqui uma defesa desse tipo de "monopólio", que não é um monopólio no sentido clássico do termo — quando há barreira legais (impostas pelo estado) à entrada de concorrência —, mas sim no sentido de empresas que conseguiram grandes fatias de mercado exclusivamente por meio de sua competência, de sua eficiência, e de seus bons serviços.

Portanto, até o restante deste artigo, sempre que me referir a "monopólio", estarei me referindo especificamente a esse tipo de empresa.

A Google é um bom exemplo de uma empresa que saiu do zero e obteve esse tipo de monopólio: desde o início da década de 2000, quando ela se distanciou da Microsoft e da Yahoo!, ela praticamente não tem concorrentes no quesito ferramenta de busca.

Economistas convencionais criaram um mito em torno da concorrência perfeita, uma fantasia segundo a qual, como descrito acima, firmas idênticas e minúsculas existem de forma estática, não fazendo nada diferenciado e não obtendo nenhum lucro. Já eu digo que quem realmente melhora o padrão de vida das pessoas são empreendedores que criam esse tipo de "monopólio" que eu defendo.

Com efeito, a teoria da concorrência perfeita é totalmente oposta à ideia do capitalismo: o capitalismo tem como base a acumulação de capital, ao passo que, sob um arranjo de concorrência perfeita, todos os lucros são abolidos. Logo, a primeira lição para empreendedores é clara: se você quer criar valor e quer capturar esse valor, não crie um empreendimento que não se diferença de outros já existentes.

Seguindo essa minha definição de monopólio, quanto do mundo é realmente monopolista? Quanto está realmente sob concorrência quase perfeita? É difícil dizer com precisão porque nossas observações cotidianas sobre esse fenômeno são bastante confusas. Para o observador externo, todos os empreendimentos podem ser vistos como razoavelmente semelhantes, do modo que conseguimos perceber apenas pequenas diferenças entre eles. Mas a realidade é bem mais binária do que isso: muitas empresas estão mais próximas de um extremo do que somos capazes de perceber.

A confusão advém do fato de que empresas que estão nessa posição "monopolista" são obrigadas a distorcer a verdade apenas para se proteger. Elas sabem que, caso se vangloriem de sua posição, elas serão imediatamente auditadas, escrutinadas e atacadas pelo governo. E dado que elas compreensivelmente querem que seus lucros obtidos com essa posição "monopolista" se mantenham intactos, elas tendem a fazer de tudo para ocultar esse seu "monopólio" — normalmente exagerando o poder de sua (inexistente) concorrência.

Por exemplo, veja como a Google fala a respeito de seus negócios. Ela certamente não alega ser um monopólio. E, segundo a definição clássica — que diz que monopólio é quando há barreiras legais à entrada de concorrentes —, ela de fato não é monopolista. Mas e segundo a minha definição de monopólio? Ela é ou não é? Se sim, um monopólio em quê? 

Digamos que a Google seja, acima de tudo, uma ferramenta de busca. Segundo dados de maio de 2014, ela detém 68% do mercado de busca. (Seus maiores concorrentes, Microsoft e Yahoo!, detêm 19% e 10%, respectivamente). Se isso ainda não parece ser dominante o bastante, considere o fato de que a palavra "google" já é hoje um verbete oficial no Oxford English Dictionary — mais especificamente como um verbo "googlar". Sugiro não ter expectativas de que o mesmo irá acontecer com o Bing.

Agora, suponha que a Google seja primordialmente uma empresa de publicidade. Isso muda as coisas. Nos EUA, o mercado de publicidade em ferramentas de busca é de US$17 bilhões por ano. A publicidade online é de US$37 bilhões por ano. Todo o mercado americano de publicidade é de US$150 bilhões por ano. E o mercado global de publicidade é de US$495 bilhões por ano. Portanto, mesmo se a Google monopolizasse completamente o mercado de publicidade em ferramentas de busca nos EUA, ela ainda assim deteria apenas 3,4% do mercado de publicidade global. Sob essa perspectiva, a Google é apenas um pequeno concorrente em um mundo competitivo.

Mas e se classificarmos a Google como uma multifacetada empresa de tecnologia? Essa me parece ser uma classificação sensata; além de seu motor de busca, a Google cria dezenas de outros produtos de software, sem contar seus carros robotizados, seus celulares Android e seus aparelhos de computação vestível. Mas 95% das receitas da Google advém da publicidade em seu mecanismo de busca; seus outros produtos geraram apenas US$2,35 bilhões em 2012, e seus produtos tecnológicos apenas uma fração disso. Dado que o mercado mundial de produtos tecnológicos é de US$964 bilhões, a Google detém apenas 0,24% disso — algo praticamente irrelevante. 

Portanto, ao se classificar como apenas mais uma empresa de tecnologia, a Google consegue fugir de todo os tipos de atenção indesejada.

Já os não-monopolistas adotam uma postura exatamente oposta. Para tentar se distinguir da sua concorrência, eles dizem estar em uma categoria à parte. Empreendedores sempre tendem a minimizar o tamanho da concorrência, mas esse é o maior erro que um empreendedor iniciante pode cometer. A tentação fatal é a de descrever seu mercado de maneira excessivamente estreita e limitada, de modo que você, por definição, acaba sendo o dominante.

Por exemplo, suponha que você queira abrir um restaurante na sua vizinhança especializado em comida britânica. "Ninguém pensou nisso e não há ninguém fazendo isso!", você pode dizer. "Vamos dominar todo o mercado." Mas isso só irá realmente ocorrer se o mercado relevante, isto é, se o mercado esperando para ser descoberto, for especificamente o mercado de comida britânica. Mas e se o mercado relevante for o mercado de restaurantes em geral? E se todos os restaurantes da redondeza já fizerem parte do mercado relevante?

Essas são perguntas difíceis, mas o principal problema é que há um incentivo para que você não faça essas perguntas. Quando você ouve que a maioria dos novos restaurantes vai à falência em apenas um ou dois anos, seu instinto é o de dizer que o seu será diferente. Você gastará um bom tempo tentando convencer as pessoas de que você será um empreendedor excepcional e diferenciado, em vez de apenas considerar seriamente a probabilidade de que você irá ser mais um na lista dos fracassos. O mais recomendado seria você fazer uma pausa no seu entusiasmo e considerar se realmente há pessoas na sua vizinhança que prefeririam comer comida britânica em vez de todas as outras opções já existentes. Pode ser que tais pessoas não existam.

Ainda em 2001, sempre que eu e meus companheiros de trabalho na PayPal íamos almoçar na rua Castro, em Mountain View, Califórnia, fazíamos nossa escolha de restaurante, começando pelas categorias mais óbvias, como comida indiana, sushi ou sanduíches. Tão logo decidíamos por uma categoria, havia outras opções dentro daquela categoria: comida indiana do norte da Índia ou do sul da Índia, restaurante mais chique ou mais barato etc. 

Em contraste a esse mercado de restaurantes extremamente competitivo, o PayPal era, até então, a única empresa do mundo que oferecia um serviço de pagamentos via email. Nós empregávamos menos pessoas do que os restaurantes da rua Castro, mas nosso empreendimento valia muito mais do que todos aqueles restaurantes juntos. Abrir um novo restaurante indiano ali na rua Castro dificilmente seria uma boa maneira de ganhar muito dinheiro. 

A lição é: se você perder o foco da questão principal, que é a realidade da concorrência, e se deixar levar por frivolidades e por fatores diferenciais triviais — por exemplo, talvez você pense que seu restaurante irá bombar só porque ele terá um molho melhor feito com uma receita de sua bisavó —, seu empreendimento dificilmente sobreviverá.

O problema de abrir um empreendimento em um ambiente concorrencial vai muito além da falta de lucros. Imagine que você seja o dono de um daqueles restaurantes da rua Castro. Você não é tão diferente das outras dezenas de restaurantes concorrentes, o que significa que você tem de se esforçar bravamente para sobreviver. Se você oferecer comida barata, com baixas margens de lucro, você provavelmente irá pagar aos seus empregados apenas o salário mínimo. E você ainda terá de extrair deles o máximo de eficiência. É exatamente por isso que, em restaurantes pequenos, a avó trabalha no caixa e os filhos lavam os pratos.

Já um "monopólio" — segundo minha definição — como a Google é diferente. Dado que a empresa não tem de se preocupar em competir com ninguém, ela tem maior amplitude para se preocupar com seus empregados, com seus produtos e com seu impacto no resto do mundo. O lema da Google — "Não seja mau" —, embora seja em parte um estratagema de marketing, é característico de um tipo de empreendimento que é bem-sucedido o bastante para levar a ética a sério sem colocar em risco sua própria existência. Nos negócios, o dinheiro ou é tudo ou é um objetivo muito importante. Monopolistas podem se dar ao luxo de pensar em outras coisas além de ganhar dinheiro; já os não-monopolistas não. Em um cenário de "concorrência perfeita" — ou algo próximo disso —, uma empresa está tão concentrada em conseguir uma margem de lucro de hoje, que é impossível ela fazer um planejamento de longo prazo. 

Logo, apenas uma coisa pode permitir que uma empresa vá além de sua luta diária pela sobrevivência e possa dar atenção a outros fatores: obter lucros "monopolistas".

Então um monopólio é bom para todos que participam dele, certo? Mas o que dizer das pessoas que estão fora dele? Procede a crítica de que lucros superdimensionados são obtidos à custa do resto da sociedade? De certa forma, sim: lucros vêm do bolso dos consumidores, e, sendo assim, vários monopólios (segundo a minha definição) merecem sua má reputação — mas somente em um mundo em que nada muda.

Em um mundo estático, um monopolista é somente um coletor de receitas. Se você detém uma reserva de mercado sobre um determinado bem, então você pode elevar o preço o tanto que quiser; os consumidores não terão alternativa senão comprar de você. Pense no jogo Banco Imobiliário: as escrituras apenas trocam de mão entre os jogadores, mas o tabuleiro nunca muda. Não há como vencer criando um tipo melhor de empreendimento imobiliário. Os valores relativos das propriedades estão permanentemente fixados, de modo que tudo o que você pode tentar fazer é comprar todas elas.

Por outro lado, o mundo em que nós vivemos é dinâmico: podemos inventar e criar coisas novas e melhores. Monopolistas (na minha definição) criativos dão aos consumidores mais escolhas ao acrescentarem categoriais totalmente novas à abundância do mundo. Monopolistas (na minha definição) criativos não são apenas bons para o resto da sociedade; eles são poderosas forças-motrizes para torná-la melhor.

Neste sentido, podemos dizer que a Apple obtém lucros monopolistas ao criar, produzir e comercializar o iPhone, e que esses lucros são a recompensa pelo fato de a empresa ter criado maior abundância, e não — ao contrário de monopolistas no sentido clássico do termo — escassez artificial: os consumidores demonstraram estar felizes em finalmente ter a escolha de pagar um pouco mais caro para ter um smartphone que realmente funciona. 

O próprio dinamismo desse tipo de monopólio explica por que os monopólios (na minha definição) mais antigos não impedem a inovação: com o iOS da Apple na vanguarda, o aumento do uso do celular como instrumento de informática reduziu dramaticamente a dominância de décadas do sistema operacional da Microsoft.

Antes disso, o monopólio da IBM sobre hardware durante as décadas de 1960 e 1970 já havia sido sobrepujado pelo monopólio da Microsoft sobre softwares. Nos EUA, a AT&T deteve um monopólio sobre serviços de telefonia durante boa parte do século XX, mas hoje qualquer americano pode obter um plano barato de telefonia celular de qualquer uma das várias operadoras.

Se esses monopólios (na minha definição) realmente tivessem a tendência de restringir o progresso, eles seriam perigosos, e todos nós deveríamos nos opor a eles. Porém, a história do progresso é uma história de melhores e mais eficientes empresas monopolistas (na minha definição) substituindo as mais antiquadas e ineficientes. Monopólios (na minha definição) estimulam o progresso porque a perspectiva de anos, ou até mesmo décadas, de lucros monopolistas fornece um poderoso incentivo para a inovação. Os monopólios (na minha definição) podem continuar inovando porque seus lucros lhes permitem fazer planos de longo prazo e financiar ambiciosos projetos de pesquisa. Já empresas que operam em ambiente fortemente concorrencial, e cujas margens de lucro são apertadas, não podem nem sequer sonhar com esses tipos de projetos ambiciosos.

Portanto, resta a pergunta: por que os economistas são tão obcecados com este tipo de monopólio que nada tem de coercivo? Em minha opinião, trata-se de uma relíquia da história. Economistas copiaram seus modelos matemáticos dos físicos do século XIX: eles veem indivíduos e empresas como átomos intercambiáveis, e não como criadores exclusivos, singulares e excepcionais. Suas teorias descrevem um estado de equilíbrio em que há uma fictícia concorrência perfeita simplesmente porque tal arranjo é o mais fácil de ser modelado, e não porque tal modelo representa a mais acurada descrição da realidade. 

Mas o equilíbrio de longo prazo previsto pela física do século XIX era um estado em que toda a energia está igualmente distribuída e todo o resto está estático — também conhecido como a morte térmica do universo. Qualquer que seja suas visão sobre termodinâmica, trata-se de uma metáfora poderosa. 

Já no verdadeiro ambiente empreendedorial, o equilíbrio significa imobilismo, e imobilismo significa falência. Se sua indústria está em um equilíbrio concorrencial, então a eventual falência dela simplesmente não fará nenhuma falta ao mundo; algum outro concorrente idêntico a você sempre estará pronto para assumir o seu lugar.

O equilíbrio perfeito pode descrever um vazio que existe no universo. Pode até mesmo caracterizar vários empreendimentos. Mas toda e qualquer nova criação ocorre longe do equilíbrio. No mundo real — ou seja, fora da teoria econômica —, um empreendimento só se torna bem-sucedido na exata medida em que ele fornece algo que outros não sabem fornecer. Sendo assim, um monopólio (na minha definição) não é uma patologia ou uma exceção. O monopólio (na minha definição) é a condição precípua para um empreendimento bem-sucedido.

Tolstoi famosamente começou sua obra "Anna Karenina" observando que "Todas as famílias felizes são iguais; já as infelizes o são cada uma à sua maneira". Com os negócios ocorre justamente o oposto: todas as empresas felizes são diferentes; cada uma obtém um monopólio (na minha definição) ao demonstrar saber solucionar um problema único. Já todas as empresas fracassadas são iguais; elas não conseguiram fugir da concorrência.

Inovar, criar valor, superar os rivais e aumentar as receitas e os lucros: essa é a minha noção de concorrência e esse é o tipo de comportamento empreendedorial que deve ser aplaudido. 

Por: Peter Thiel, co-fundador do PayPal e da Palantir, e foi o primeiro a investir -- estando de fora -- no Facebook.

domingo, 12 de outubro de 2014

O FILHO DO IMBECIL COLETIVO


O traço estilístico mais constante e saliente nos escritos dos imbecis é a indistinção entre coisas objetivamente diferentes que têm o mesmo nome. Levado pelo potente automatismo da construção verbal separado da percepção, da memória e da imaginação, o sujeito extrai, de premissas referentes a um objeto, conclusões sobre outro objeto completamente diverso designado pela mesma palavra. Isso é o que propriamente se chama "equívoco": tomar a identidade nominal como real. O estilo característico dos imbecis é um arquitetura de equívocos.

Desfazer um equívoco não é difícil. O problema com o imbecil é que ele não sabe que o é, nem imagina, pois, que deveria deixar de sê-lo; e os equívocos que comete são tantos e tão grosseiros que não é possível desfazê-los sem tornar evidente que o desempenho da sua inteligência está abaixo do normal – um dano à sua querida auto-imagem contra o qual ele se defenderá com todas as suas forças. A imbecilidade, como o segredo esotérico, protege-se a si mesma.

Pessoas normais podem superar seus erros porque apreciam a inteligência superior e desejam aprender com ela, ao passo que o imbecil genuíno não percebe superioridade nenhuma ou, quando a percebe, deseja achincalhá-la ou exorcizá-la para libertar-se de toda obrigação de melhorar.

O imbecil a que aqui me refiro não é o mesmo que o "imbecil coletivo" do qual falei outrora. Este, conforme o defini na ocasião, era "uma comunidade de pessoas de inteligência normal ou superior que se reúnem com o propósito de imbecilizar-se umas às outras". Decorrida uma geração, o imbecil de agora já é o filho ou produto acabado do imbecil coletivo: não precisa imbecilizar-se porque imbecilizado está. Não tendo participado dos afazeres da alta cultura como o seu antepassado e mentor, nem procura macaquear o exercício da inteligência, porque o desconhece e não imagina em que possa consistir semelhante coisa.

Um exemplo irrisório, típico, veio-me de um rapaz que, diante da minha asserção de que a caça esportiva é hoje o meio mais eficaz de manter o equilíbrio entre as várias populações animais num dado território, proclamou indignado que, nos EUA, os caçadores extinguiram, no século 19, não sei quantas espécies de bichos.

A ira do cidadão contra o símbolo "caça" o impedia de ver que por trás desse nome se ocultavam duas atividades diferentes e antagônicas. Os homens que mataram lobos, ursos, raposas e bisões em quantidade descomunal e obscena, na época da ocupação do Oeste americano, eram eminentemente comerciantes de peles, que esfolavam os animais abatidos e saíam em busca de mais peles, deixando a carne apodrecendo sob a chuva e sob o sol.

Essa atividade, cujo análogo residual persiste na África sob a forma do comércio ilegal de marfim malgrado toda a repressão governamental, está rigorosamente excluída da caça esportiva tal como se pratica hoje no Ocidente. Aqui o caçador, ao abater um veado, um alce, um urso, está sobretudo em busca de algo que possa abastecer a sua geladeira, a de seus amigos ou a de alguma instituição de caridade, considerando a pele (ou os chifres) como um bônus ou troféu que atesta sua qualificação no exercício da tarefa.

Isso é assim não apenas por uma convenção unânime entre os caçadores, mas pela força das leis. Leis que não foram instituídas contra os caçadores, mas por eles mesmos e pelas organizações que os representam, e aliás por uma razão muito simples: o controle dos efeitos objetivos da ação humana sobre o meio natural é inerente a toda busca organizada de alimentos, seja na agricultura ou na caça.

Ninguém em seu juízo perfeito, muito menos um caçador esportivo, é louco de destruir as fontes do alimento que procura. Por isso mesmo é que a única exceção à caça como busca de alimentos é a liquidação de predadores que destroem fontes de alimentos. E é também por isso que as associações de caçadores têm sido, desde os tempos de Theodore Roosevelt, as maiores promotoras do conservacionismo.

Você pode, se quiser, chamar de "caça" essas duas atividades opostas: a do destruidor de espécies animais e a do caçador conservacionista de hoje em dia. Contudo, não pode, exceto por imbecilidade, aplicar ao segundo as conclusões daquilo que acha que sabe do primeiro. E, se o faz com eloquência indignada, só acrescenta à inépcia o ridículo da presunção.

A arte imbecil da conclusão equívoca tem ligação profunda e orgânica com outros dois fenômenos de patologia intelectual a que já me referi em artigos anteriores: a verbalização histérica e o pensamento metonímico.

A primeira consiste em o sujeito acreditar em algo, não porque o viu ou dele teve ciência, mas porque conseguiu dizê-lo e porque a mera forma gramatical da frase acabada tem para ele um valor de prova. O pensamento reduz-se, dessa maneira, à autopersuasão barata, em que a ênfase emocional postiça faz as vezes da convicção profunda e séria.

O vício do raciocínio metonímico consiste em tomar a parte pelo todo, ou o instrumento pela ação, mas enxergando aí uma identidade real em vez de uma mera figura de linguagem. No exemplo citado, a "caça" é tomada como sinônimo de "matar o animal", quando, na realidade, o ato de matar é apenas o instrumento, o meio pelo qual se perfazem duas atividades objetivamente diversas e incompatíveis.
Por: Olavo de Carvalho é jornalista, ensaísta e prof. de Filosofia  Publicado no Diário do Comércio


sábado, 11 de outubro de 2014

"A BARRA VAI PESAR"

Deu a lógica nos resultados iguais das primeiras pesquisas dos dois maiores institutos brasileiros, Ibope e Datafolha, sobre a intenção de voto para o segundo turno da eleição presidencial: o oposicionista Aécio Neves à frente de Dilma Rousseff, 51% contra 49% dos votos válidos, por enquanto dentro da margem de erro. Deu a lógica porque, afinal, a soma dos votos recebidos pelos dois principais candidatos oposicionistas no primeiro turno - Aécio Neves e Marina Silva -, no total de 57 milhões (56,8%), superou com folga os 43,2 milhões (41,8%) dados a Dilma Rousseff.

Esses números dizem que a considerável maioria dos brasileiros quer mudança. E mudança significa apear o PT do poder. Se alguém tem alguma dúvida sobre o caráter antipetista dos votos dados a Marina Silva no primeiro turno, basta lembrar que a própria campanha de Dilma Rousseff se encarregou, de forma brutal e indigna, de estigmatizar a candidatura do PSB. É difícil de acreditar que o eleitor de Marina deixe de se ater agora à opção que lhe resta: votar em Aécio.

Mas também é óbvio que nem todos os votos que Marina teve em 5 de outubro serão automaticamente transferidos para Aécio. Mas o forte efeito psicológico tanto, por um lado, da tendência de crescimento da candidatura tucana nas últimas três semanas quanto, por outro lado, da frustrante reversão das expectativas petistas, somado ao substancial apoio a Aécio anunciado por antigos adversários e lideranças políticas ao longo da semana que passou - e ainda as recentes más notícias para Dilma Rousseff e o PT a respeito do desempenho da economia e do escândalo da Petrobrás -, tudo isso certamente influenciará a decisão do eleitor.

É preciso levar em conta, contudo, que na defesa de seu projeto de poder o lulopetismo não terá escrúpulos de apelar a qualquer recurso que estiver a seu alcance, como a ominosa falácia de que o PT tem o monopólio da virtude e todos os seus adversários são também inimigos do povo que só pensam em sacrificar os despossuídos em benefício das elites perversas.

É claro que só quem é mal informado acredita em patranhas como a de que qualquer presidente eleito que não seja do PT acabará com todos os projetos sociais dos governos petistas, principalmente o Bolsa Família. E Lula e Dilma decidiram também proclamar agora que a infâmia está em afirmar que há pessoas mal informadas no Brasil, deturpando deliberadamente declaração feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A direção em que os ventos eleitorais estão soprando indica que a tropa de choque petista terá trabalho pesado até o dia 26. Por exemplo, uma vez que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está cumprindo aviso prévio e anda com a credibilidade em baixa, Dilma designou Aloizio Mercadante, atual ocupante do Gabinete Civil, para não deixar sem resposta qualquer ataque da oposição na área da Economia. Aloizio tem credenciais para a missão: foi, em 1994, o arauto petista do fracasso antecipado do Plano Real.

Na Comunicação, além do notório João Santana, marqueteiro do Brasil dos Sonhos e das Malvadezas, anda assoberbado o jornalista Franklin Martins, aquele que desde que era ministro da Comunicação Social de Lula está obcecado pela ideia de decretar o "controle social" da mídia. No comando do site oficial da campanha de Dilma, Martins tem a responsabilidade de municiar a militância que atua nas redes sociais com toda sorte de informação que não pega bem na boca de quem fala oficialmente em nome do PT e de sua candidata.

À frente do partido permanece vigilante Rui Falcão, com a importante missão, que não lhe tem dado descanso nos últimos dias, de protestar com indignação contra as denúncias de corrupção no governo que a mídia se vê na obrigação de divulgar todos os dias e de prometer que vai processar criminalmente quem quer que seja que se atreva a questionar os elevados padrões morais da companheirada.

É esse o circo de horrores que provavelmente os brasileiros serão obrigados a assistir nas duas próximas semanas, como preço a pagar pela ousadia de cogitar a alternância no poder.

Editorial do Estadão

"EDUARDO SUPLICY E UMAS BOLACHAS"

Eu já o esperava, como combinado, diante de sua casa, em São Paulo. O senador chegou depois das onze da noite, vindo de Brasília. Esfaimado, investigou os armários vazios e a geladeira, idem. Encontrou apenas um pacote com meia dúzia de bolachas de água e sal. Por insistência dele, sentados à mesa da cozinha, dividimos as bolachas, junto com um café de cafeteira elétrica. 

Eduardo Suplicy, definitivamente, não parece um Matarazzo. Depois de 24 anos, ele deixa o Senado. É um ponto final –e não só para ele.

O encontro em volta das bolachas deu-se a meu pedido, em setembro de 2009. O livro da blogueira Yoani Sánchez estava na gráfica, mas o regime cubano negava-lhe autorização de viagem. Suplicy poderia convencer o Senado a convidá-la para um lançamento do livro, pressionando Havana a conceder-lhe o direito de ir e vir.

O senador desviou a conversa para os alardeados milagres do castrismo na saúde pública, compelindo-me a retrucar que os anuários estatísticos da ONU colocavam Cuba em posição invejável quanto a indicadores de saúde, vários anos antes da chegada de Fidel ao poder. No passo seguinte, disse-lhe que a teoria da "ditadura benigna", ritualmente aplicada pela esquerda a Cuba, não combinava com seu perfil político.

Xeque-mate. Suplicy ainda solicitou ler os originais. Respondi que, no máximo, teria acesso ao prefácio assinado por mim. O livro, ele leria após a publicação, pois os direitos de Yoani não poderiam depender do seu julgamento sobre as opiniões dela. Dias depois, em dobradinha com o então senador Demóstenes Torres, Suplicy extraiu o convite na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. 

Demóstenes iludia a todos, inclusive a mim, ocultando sua sociedade com um bandido atrás da máscara de parlamentar imaculado. O Eduardo das bolachas também elaborara uma persona política, mas não tinha esqueletos no armário.

Suplicy já era, cinco anos atrás, uma figura estranha no seu partido, algo como a relíquia de uma era histórica encerrada. Pouco antes da segunda campanha presidencial de Lula, em 1994, um editorial da revista teórica do PT classificara Cuba como uma ditadura –e explicara que não existem ditaduras defensáveis. O senador à minha frente era um registro daquele tempo e daquele partido. 

Desde a ascensão de Lula ao Planalto, Suplicy perdeu o gosto pela investigação de denúncias de corrupção, convertendo-se num disco de vinil riscado, a repetir a estrofe da renda mínima. Fora isso, permaneceu fiel a si mesmo, enquanto seu partido mudava até tornar-se irreconhecível para milhões de antigos eleitores. 

Nesse descolamento encontra-se a causa da derrota do Matarazzo rebelde.

A derrota tem um número: 2,8 milhões de eleitores abandonaram Suplicy entre 2006 e domingo passado. Não é culpa dele, mas uma das expressões do recuo geral do PT em São Paulo. Seguindo sua lógica própria, orientada pela emoção, o Eduardo das bolachas permaneceu fiel à sigla e à estrela: os símbolos de um tempo pleno de esperanças. 

Seguindo outra lógica, pautada pela razão, seus eleitores permaneceram fiéis aos princípios traídos pelo PT, negando a sujeição fetichista do presente ao passado. No anoitecer de seu mandato derradeiro, o senador tem a oportunidade de confrontar as duas lógicas e revisitar, de olhos abertos, esse segmento crucial da história política do país.

Tolamente, na madrugada, antes da despedida, eu disse a ele que sua intervenção pelo direito de viagem da blogueira provocaria recriminações num PT rendido aos anacronismos da esquerda latino-americana. Suplicy escutou, mal disfarçando o enfado. 

Li a resposta óbvia, escrita no seu olhar: "Conte-me algo que não sei". O Eduardo das bolachas falaria ao Senado, em nome de nossas convicções comuns, mesmo contrariando seu partido. Mas não mudaria de partido, nem mesmo em nome de suas convicções.
Por Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

EXTINGUINDO O INEXISTENTE

Semanas atrás escrevi no meu Facebook que, se Marina Silva rompesse publicamente com o Foro de São Paulo e prometesse liquidá-lo caso eleita para a Presidência da República, não hesitaria em votar nela e apoiar sua candidatura pelos modestos meios ao meu alcance. Logo apareceu na internet uma entrevista à CNT


(http://sbt-canal.blogspot.com.br/2014/09/marina-responde-boatos-do-foro-sao-paulo.html), na qual a candidata anunciava a intenção de acabar com o Foro.

Dizem que a entrevista é falsa, e até acredito que seja, mas de qualquer modo ela expressa o que os admiradores de Marina querem que os eleitores "de direita" pensem dela, e nesse sentido é muito significativa, precisamente pelos atos falhos freudianos que, por trás da boa imagem pretendida, revelam uma ambiguidade inquietante.

Por um lado, Marina – ou quem pôs palavras na sua boca -– prometia extinguir até "o último vestígio" da maligna entidade, o que é uma notícia animadora. Mas, de outro afirmava que o Foro não existe na prática, jamais tendo passado de uma tentativa do sr. Lula, o que é manifestamente falso. O Foro continua em plena atividade, numa atmosfera de euforia que seus feitos justificam integralmente.

A Declaração Final do XX Encontro, realizado em La Paz, Bolívia, de 25 a 29 de agosto último, deixa isso claro: "Decorridos vinte e cinco anos da criação do Foro de São Paulo, uma das experiências mais bem sucedidas e unitárias da esquerda na região latino-americana e caribenha, o balanço da situação é indubitavelmente favorável às forças que o compõem. Quando o Foro de São Paulo foi criado, um só país dessa região era governado por um partido pertencente a ele, e hoje são mais de dez." ( http://forodesaopaulo.org/declaracion-final-del-xx-encuentro-del-foro-de-sao-paulo/). Para um agente histórico que "não existe na prática", essas vitórias são mais do que espetaculares: são mágicas. Na verdade, o Foro continua sendo a maior, mais poderosa e mais eficiente organização política que já existiu no continente latino-americano.

O texto de "Marina" dizia ainda que a ligação do PSB com o Foro de São Paulo "é um boato espalhado em tempo de eleição para confundir leigos" e que "quem fazia parte (do Foro) era uma ala do PSB ligada ao governo, desativada há anos". Isso também é falso. O PSB ainda é um membro ativo do Foro e participou do seu mais recente encontro (www. psb40.org.br/ not_det.asp?det=5808) em La Paz.

Por fim, vinha a afirmativa de que "esses boatos são plantados pela turma do Aécio Neves". Isso talvez seja o mais falso de tudo. Tanto o sr. Neves quanto os seus adeptos e, de modo geral, o seu partido, têm-se notabilizado, sobretudo, pelo silêncio obstinado que mantêm em torno do Foro de São Paulo, ao ponto de despertar a suspeita de cumplicidade ao menos passiva.

Que algo nas relações entre o PSDB e o Foro não está claro nem pretende estar, é algo que se percebe sem dificuldade pela reunião discreta entre dirigentes do Foro e o sr. Fernando Henrique Cardoso, na presença de alguns líderes do Partido Democrata americano, realizada em Miami em maio de 1993.

Essa reunião só foi noticiada por um único jornal, o Granma (edição cubana, não internacional), e justamente as cópias dessa edição, quando pus um aluno meu a procurá-las em 2008, haviam desaparecido da Biblioteca do Congresso e das suas subsidiárias. Coincidência ou não, a diretora da seção latino-americana da Biblioteca do Congresso em 2008 era a mesma pessoa que tinha organizado a reunião de 1993.

Quem levantou a lebre da ligação entre o PSB e o Foro tão logo apareceu a candidatura Marina não foi nenhum emissário do sr. Aécio Neves. Fui eu, que sou tão entusiasta do sr. Neves quanto do consumo de pudim de alface diet. E não puxei o assunto para favorecer candidatura nenhuma, porém, bem ao contrário, para sugerir que a presente eleição presidencial deveria ser suspensa pelo TSE, dada a ilegalidade dos dois partidos mais favorecidos para o segundo turno.

Esta é, seguramente, a eleição mais irregular, mais ilegal que já se realizou no Brasil. A Lei Eleitoral de 1995 é categórica e inequívoca: diz o Art. 28: " O Tribunal Superior Eleitoral... determina o cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado... (II) estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros."

Que o Foro de São Paulo é uma entidade estrangeira, multinacional, criada em Havana por Fidel Castro e Lula; que a maior parte das organizações que o compõem são de fala espanhola; e que uma das especialidades do Foro, conforme confessou o próprio Lula, é ajudar os governantes esquerdistas a interferir em segredo na política interna dos países vizinhos – nada disso é coisa de que se possa duvidar razoavelmente.

Pouco importando quem leve a maioria dos votos, se Marina Silva ou Dilma, esta eleição já tem um único vencedor previsto e assegurado: o Foro de São Paulo.

Para piorar as coisas, a candidata que aparece na entrevista com a promessa de eliminar o monstro já vai desde logo acobertando as atividade dele sob o pretexto pueril de que ele não existe na prática. Cabe portanto perguntar se, por "extinguir os seus últimos vestígios”, os autores da farsa não estão confessando, involuntariamente, que Marina, uma vez no poder, vai eliminar só os vestígios, os traços patentes do Foro, deixando que por baixo disso a coisa real continue existindo sob outra identidade, sob outro nome ou sem nome nenhum, mais invisível e onipresente do que nunca.

Afinal, quem pode levar a sério uma promessa de extinguir o que não existe?
Por: Olavo de Carvalho é jornalista, ensaísta e prof. de Filosofia Publicado no Diário do Comercio

MEDICALIZAÇÃO, A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA INVASIVA E SUA FALSA NEUROCIÊNCIA

A tristeza não é uma enfermidade. Sentir dor pela morte de alguém querido não é patológico. E tremer quando se fala em público pela primeira vez, tampouco. A vida não pode ser tratada com comprimidos e, entretanto, cada vez mais recorremos a eles para combater o que não é outra coisa que o simples mal-estar de viver. Em vez de assumir pela manhã as nuvens negras com um “bom-dia tristeza”, corremos ao médico para que nos receite anti-depressivos. E em vez de encararmos o chefe tóxico que nos oprime, corremos ao psiquiatra em busca de ansiolíticos.


Em 10 anos produziu-se na Espanha um aumento não justificado do consumo de medicamentos psiquiátricos. Não há na Espanha, país alegre e ensolarado onde haja, por muito que a crise aperte, tanta depressão como indicam as vendas de Prozac e outros anti-depressivos. Nem se justifica que nas estatísticas da OCDE, a Espanha figure em segundo lugar em consumo de tranqüilizantes.

O quê propiciou este salto tão espetacular? A pressão da indústria farmacêutica, com sua estratégia de ganhar mercados inventando novas síndromes, é assinalada por muitos autores como o desencadeador da espiral medicalizadora. Resulta mais barato e mais lucrativo criar novos mercados para velhos princípios ativos reciclados como novos fármacos do que encontrar novos tratamentos. Ray Moynihan revolveu nos mecanismos que levaram a rotular como enfermidades, processos que não são: desde a fobia social à síndrome das pernas inquietas. A psiquiatria infantil, com o espetacular aumento de diagnóstico de autismo, déficit de atenção e hiper-atividade, resultou o campo melhor abonado.

Byung-Chul Han, escreveu em ‘A sociedade do cansaço’, as conseqüências de submergirmos na sociedade do rendimento, cujo paradigma é esse indivíduo exausto por uma competitividade sem limite que o obriga a estar sempre alerta e em forma, que percebe qualquer distração como uma ameaça para sua carreira. Se ele fracassa, será por sua culpa. Para Zygmunt Bauman, nestes tempos hiper-competitivos, os que não seguem ficam excluídos e isso cria muita angústia. As pessoas veem a vida como o jogo das cadeiras, no qual um momento de distração “pode comportar uma derrota irreversível”. Assim é como, “incapazes de controlar a direção e a velocidade do carro que nos leva, nos dedicamos a escrutinar os sinais do câncer, os sintomas da depressão, os fantasmas da hipertensão ou o colesterol, para nos entregarmos à compra compulsiva de saúde”.

Esta pressão se canaliza para a consulta ao médico de cabeceira, que só tem o talonário de receitas para fazer frente a tão peremptórias demandas. Porém, os medicamentos não são inócuos. Barbara Starfield, da Universidade John Hopkins, assinalava já em 2002 em ‘To erris human’ que a iatrogenia dos tratamentos era a terceira causa de morte nos Estados Unidos. O problema é que, como indica Enrique Gavilán, médico de família que investigou os processos de medicalização, se não se faz um seguimento adequado, alguns destes fármacos criam dependência. E aí temos uma nova forma de se fazer adictos. Andreu Segura, especialista em saúde pública, lamenta que a sociedade não seja consciente de que os comprimidos também têm efeitos adversos, e isso é a única coisa que produzem quando se receitam sem justificativa.

Para nos defendermos dos falsos neuro-cientistas e a invasiva indústria farmacêutica, envie sua adesão a:plataformaicmi@comunicar.e.telefonica.net - Plataforma Internacional contra a Medicalização da Infância. Presidente: Dr. Juan Pundik

Por: Milagros Perez Oliva
Tradução: Graça Salgueiro


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

UCRÂNIA COMO TRAMPOLIM ESTRATÉGICO

O objetivo de Putin é tomar para si a indústria de defesa presente no leste ucraniano. Ele precisa de fábricas que construirão turbinas para seus submarinos e fábricas de mísseis balísticos em Dnepropetrovsk.


O Memorando de Minsk, que em teoria trouxe paz à Ucrânia, dá à Rússia um tempo de folga para que ela reagrupe, para futuras ações ofensivas, suas forças convencionais e clandestinas. Escrevendo direto da Criméia, um observador acredita que as forças russas movimentarão suas tropas em direção à Ucrânia quando o clima esfriar. Pelo menos um jornalista polonês acredita que os russos na verdade farão isso em questão de semanas. Previsivelmente nomeadas de República Popular de Lugansk e República Popular de Donetsk, esses dois territórios passaram a ser, de acordo com o memorando, enclaves russos permanentes instalados em território ucraniano. Será que a Rússia se satisfará com isso?

O que vimos anteriormente na Ucrânia foi uma série de insucessos russos que não se assemelham aos insucessos vistos de 1989 a 1991. Não, não, não devemos pensar em termos de uma retirada ou de uma ruína russa. Não é esse tipo de insucesso que vemos na Ucrânia. O que vemos é um insucesso russo ao tentar conquistar aquilo que se deseja no plano permanente, isto é, Odessa e uma grande porção do oriente ucraniano (além da Criméia). Devemos ter em mente que a política russa dos dias atuais não está baseada em enganar o Ocidente e fazê-lo acreditar que a Rússia é um país amigável. A atual política russa, que é uma política de teor bélico, lembra a política de Stálin nas décadas de 1930 e 40, quando o Exército Vermelho anexou o leste da Polônia, os Estados bálticos e invadiu a Finlândia. Nessa política não há qualquer pretensão de amizade com o Ocidente. Neste caso a hostilidade é aberta, francamente reconhecida, e acompanhada de efetivas manobras de tropas. Ou, como Putin supostamente vangloriou-se diante do presidente ucraniano: “Se eu quisesse, as tropas russas poderiam não apenas estar em Kiev em dois dias, mas também em Riga, Vilnius, Tallinn, Varsóvia ou também Bucareste”.

Com efeito, conforme reportagem do Daily Mail, Putin afirmou ter a habilidade de bloquear a tomada de decisões até mesmo no Conselho Europeu. Ele poderia até mesmo afirmar ter mais habilidades se ele estivesse inclinado a ser indiscreto, já que um departamento inteiro da KGB fora outrora inteiramente devotado ao gerenciamento de chefes de estado que eram agentes soviéticos. Pode-se imaginar que agora existam também subdepartamentos para o gerenciamento de burocratas do médio escalão. Sim, com efeito as tropas russas podem ir para muitos lugares. E elas irão, conforme o mundo verá.

No entanto, a Rússia foi rechaçada em sua primeira tentativa em território ucraniano. Para esclarecer, esse insucesso russo consiste em dizer que eles roubaram 1/5 do território em vez da totalidade dele (algo desse gênero). E assim, esse insucesso remonta ao dos anos 1939-40 na Finlândia. Não é um revés permanente. Não é nem mesmo uma verdadeira derrota, já que territórios foram conquistados; é apenas uma decepção por conta de ter conseguido menos do que se esperava. A intenção em 1939 era conquistar a Finlândia e tomar todo o país. Foram dadas às tropas russas instruções de conduta quando elas já estavam se aproximando da fronteira sueca. Evidentemente, a guerra não foi como se planejava. A Finlândia revidou e manteve sua independência (com alguma perda de território, assim como no caso atual da Ucrânia). Temos aí um tipo de paralelo que pode ser sugestivo.

Mas será que o Kremlin deixará a Ucrânia em paz?

Em 1940 a Finlândia conseguiu um acordo de paz não muito diferente do atual Memorando de Minsk. Algum território foi apartado, mas a Finlândia manteve-se independente. Há evidências de que após 1940, a Rússia soviética tinha intenção de re-invadir a Finlândia na primeira oportunidade que surgisse, mas eles acabaram sendo distraídos pelos nazistas. Em seu encontro em 1940 com o Ministro soviético de Relações Exteriores, Molotov, Hitler ficou perplexo e infeliz quando os soviéticos afirmaram propriedade sobre a Finlândia. Da mesma maneira, Moscou veio a fazer a mesma coisa nos dias de hoje em relação à Ucrânia (como se isso não tivesse implicações políticas no atual momento); sendo assim, é de se esperar um futuro ataque russo em terras ucranianas. Esperemos mais anexações e mais insurreições “separatistas”. Dado que todos os elementos da primeira ofensiva russa em 2014 não se solidificaram a ponto de produzir o resultado desejado, Moscou precisa apenas de tempo para inventar um novo plano (e para consolidar logo em breve suas alianças com China e Irã). Considerando também a política interna ucraniana, os agentes de influência são uma força multiplicadora que falhou nas recentes batalhas de desinformação, dado que não conseguiram sabotar totalmente as defesas ucranianas. Desta maneira, é necessário tempo para consertar os vários problemas para que tudo dê certo numa segunda ofensiva.

Em termos militares convencionais, a Rússia parece estar reforçando seu poderio de várias maneiras. Lê-se que há uma tropa de 4.000 na Criméia. Há relatos de planos para insurreições separatistas em outras cidades ucranianas (como Zaporizhia) e o reforço das tropas russas na Transnístria e em Kaliningrado. As aeronaves militares russas têm testado o espaço aéreo norte-americano. De fato tudo parece-se mais com 1939 do que com 1989.

Outra vítima de 1939 foi a Polônia, de maneira que é natural que os astutos observadores poloneses tenham uma percepção melhor que a dos demais da situação. Recentemente perguntei a um jornalista polonês bem informado acerca da situação na Ucrânia:

NYQUIST: Estava imaginando se você pensa que o cessar-fogo será mantido na Ucrânia e se você tem idéia do porquê os russos decidiram destruir a própria posição econômica através da beligerância.

JORNALISTA POLONÊS: O cessar-fogo na Ucrânia é pura ficção. Em algumas semanas veremos uma retomada da luta. O objetivo de Putin é tomar para si a indústria de defesa presente no leste ucraniano. Ele precisa de fábricas que construirão turbinas para seus submarinos e fábricas de mísseis balísticos em Dnepropetrovsk. Ele precisa de 2.000 motores de helicópteros militares por ano; As fábricas russas podem construir apenas 50 por ano. Ele precisa desesperadamente dos suprimentos ucranianos. Se ele não saquear o equipamento dessas fábricas, todo o programa de rearmamento será adiado. Ele não liga para sanções. Ele pensa no conflito com os países do centro-leste europeu e para isso está lutando para conseguir as ferramentas para esse tipo de guerra. Além disso, seu plano estratégico é isolar a Ucrânia do Mar Negro.

NYQUIST: O que você diz sobre o que move Moscou é interessante. Eu me pergunto quais as chances você acredita existir de que o povo russo se desencante com Putin quando sentir em sua plenitude o impacto econômico da isolação internacional da Rússia. Ou eles simplesmente se tornarão violentamente anti-ocidentais e culparão a OTAN e a América pelos seus próprios problemas? Ou será que a idéia de restrições comerciais em relação à Rússia (ou por parte da Rússia contra os outros) será solapada por aqueles na Alemanha e em outros lugares que prefeririam não ter sanções efetivas?

JORNALISTA POLONÊS: Visitei Moscou em novembro de 2012 e testemunhei a “Marcha Russkiy” — uma grande manifestação de opositores russos anti-Putin e nacionalistas. Conversei com essas pessoas, e muitas delas diziam que Putin é um bandido comunista que está destruindo a nação. Havia alguns milhares de pessoas nessa manifestação — apertadas em uma pequena rua próxima à margem do rio Moskva (o único lugar que se permitiu que eles protestassem) — enquanto que a multidão era maior num concerto em que Putin estava presente. Mais tarde olhei a mídia russa, polonesa e ocidental. Todas elas estavam dizendo que o pessoal da “Marcha Russkiy” não passava de um bando de neonazistas sedentos de sangue e manifestando apoio a Breivik e Mitt Romney. A mídia russa estava dizendo que os manifestantes estavam cantando “Romney vpyeryod!” “Vai Romney, vai!”

NYQUIST: [Então essas pessoas não contam?]

JORNALISTA POLONÊS: Noventa por cento da sociedade russa é politicamente inativa — eles sofrem lavagem cerebral da TV ou não querem se colocar em perigo ao se envolver com a política. A parte mais ativa dessa sociedade é nacionalista e anti-Putin, apoiadores de [Alexei] Navalny, etc. Assim, Putin está inflamando o nacionalismo extremo, não apenas para consolidar sua posição e reunir a nação em volta de um ditador, mas também para roubar o apoio dos seus opositores. Penso que após a empolgação nacional esfriar, muitos russos se desencantarão com Putin. Eles apoiavam-no porque ele deu a eles “estabilidade econômica”. O fracasso nesse caso não levará a uma revolução, mas servirá de apoio aos rivais que Putin tem na “elite” (Penso que a GRU e Serguei Choigu estão tentando solapá-lo). A coisa mais interessante nisso é como essa luta pelo poder poderia influenciar a situação em países como a Polônia. Até imagino porque caras como o General Stanislaw Kozeij (o verdadeiro manipulador do Presidente Komorowski) estão dando apoio à presença militar americana na Polônia.

NYQUIST: Recentemente, um ex-general do SBU [Serviço Secreto Ucraniano] chamado Alexander Skipalski explicou que “A Rússia opera por meio de redes de agentes que nem sempre sabem que estão trabalhando para a Rússia”. Mesmo confirmando a extensão dessas redes em Kiev e o verdadeiro grau de controle ao qual a Rússia desfruta (apesar de tudo), Skipalski não conseguia entender a razão da invasão russa à Ucrânia e as provocações separatistas. Por que irritar toda a Europa ao desencadear uma guerra sangrenta na Ucrânia? Por que colocar a Europa contra a Rússia? Por que aceitar tantos riscos quando a Ucrânia estava em condições de se recuperar facilmente? Que país não poderia ser tomado desde dentro pelos métodos de infiltração, chantagem, subversão e desinformação que os russos usam? Motores de helicópteros militares: quem mais compraria da Ucrânia? Certamente os russos manter-se-iam os principais consumidores desse tipo de mercadoria ucraniana. Por que então criar um sentimento anti-russo e tornar verdadeiros nossos medos ao invadir a Ucrânia com soldados russos? Por que anexar uma grande porção de um país que sempre cooperou com você, e que precisa continuar, por um conjunto de razões? Isso tudo trata-se de fábricas em Donbas ou estaria a Rússia buscando um pretexto para uma guerra maior? Se nenhuma agressão maior está no campo de intenções, parece ser o caso de dizer que Moscou perdeu o controle de Kiev e já vê a capital ucraniana orbitando a Europa Ocidental.

JORNALISTA POLONÊS: Os russos estão sondando a reação ocidental. [A verdadeira questão é:] O quanto eles podem fazer sem começar um confronto total? A Ucrânia é um ponto importante no calendário russo (assim como a Tchecoslováquia era importante para o calendário de Hitler, dado que a maioria dos tanques alemães usados eram tanques checos, feitos na fábrica da Skoda). A Ucrânia é um trampolim para outros planos. Putin está se convencendo de que a OTAN não travará uma guerra para defender os Estados bálticos, assim como Hitler estava convencido de que o Reino Unido e a França não declarariam guerra à Alemanha por causa da Polônia. De acordo com Illarianov, os russos começaram os preparativos para a invasão na Ucrânia em 2008 — muito antes da Revolução em Maidan. O conceito de Novorosya nasceu em 2003 — antes da Revolução Laranja. A guerra econômica contra a Geórgia começou em 2002 — antes da Revolução Rosa. Quanto ao General Koziej, não o considero um imbecil ordinário ou um agente de baixo escalão. Ele é um comandante do grupo de poloneses que comandam a Polônia pós-comunista, assim como Putin é o comandante da contraparte russa.

Ao apresentar minha conversa com o jornalista polonês, não posso deixar de citar algo dito pelo Ministro de Relações Exteriores, V. Molotov, para o Ministro de Relações Exteriores lituano no dia 30 de junho de 1940, e que tem um tipo de reminiscência que lembra o pensamento moscovita atual: “Estamos agora mais do que nunca convencidos de que nosso brilhante camarada Lênin não errou quando ele afirmou que a Segunda Guerra Mundial nos proporcionaria a possibilidade de tomar o poder na Europa, assim como fizemos com a Rússia após a Primeira Guerra Mundial. Por essa razão, você deveria começar agora a introduzir o sistema soviético no seu povo, pois no futuro ele dominará toda a Europa”. [ver S. Myllyniem, Die baltische Krise 1938-1941, Stuttgart 1979, pp. 118, 126.]

Há outra citação de Molotov que também se encaixa bem e que foi dada dia 1 de agosto de 1940: “Tivemos muitos sucessos, mas não temos intenção de nos satisfazer com o que já conquistamos [i.e. a anexação dos Estados bálticos, do leste polonês e do leste finlandês]. Para que possamos garantir sucessos cruciais no futuro, devemos sempre ter em mente as palavras de Stálin. Devemos manter toda a nação em um estado de mobilização, de preparação para um ataque militar, para que assim nenhum ‘acidente’ ou truque dos inimigos estrangeiros possa encontrar-nos despreparados. Se continuarmos a ter isso em mente... então nada que acontecer poderá nos surpreender, e assim teremos ainda mais vitórias gloriosas para a União Soviética”.

A natureza provocativa dos recentes exercícios nucleares russos deve ser vista sob essa ótica. A Rússia está pressionando e deve ficar vigilante para que alguém não a pressione de volta com um ataque nuclear. Conforme aprendeu amargamente Moscou da sua experiência, a questão da guerra preventiva não é infrutífera. Não era uma questão infrutífera para Hitler em 1940 quando ele leu as afirmações de Molotov numa reunião do gabinete de segurança, ou quando foram enunciadas as exigências russas em um encontro pessoal dele com Molotov. Hoje ouvimos as observações de Putin, mas evidentemente nossos líderes não são loucos como Hitler. Não haverá uma invasão da Rússia ou um primeiro ataque nuclear ordenado por Washington. Em vez de Hitler, temos Obama; até onde os russos sabem, ele é um doce; sim, um anti-Churchill (para colocar de maneira clara).

De fato, é hora de pressionar!

Por: Jeffrey Nyquist


Tradução: Leonildo Trombela Junior