terça-feira, 24 de março de 2015

A PARÁBOLA DOS TALENTOS: A BÍBLIA, OS EMPREENDEDORES E A MORALIDADE DO LUCRO


As parábolas de Jesus nos ensinam verdades eternas, mas também oferecem lições práticas inesperadas para as questões mundanas.

No Evangelho de Mateus (Mt 25:14-30), encontramos a parábola dos talentos de Jesus. Como todas as parábolas bíblicas, elas têm muitos níveis de significado. Sua essência se relaciona a como utilizamos o dom da graça de Deus. Com relação ao mundo material, trata-se de uma história sobre capital, investimento, empreendedorismo, e o uso adequado de recursos econômicos escassos. É uma refutação direta àqueles que veem uma contradição entre o sucesso dos negócios e a vivência da vida cristã. 

Um homem rico, prestes a iniciar uma longa viagem, chamou os seus três servos e lhes disse que eles seriam os guardiões de seus bens enquanto estivesse ausente. Após o mestre analisar as habilidades naturais de cada um, ele deu 5 talentos a um servo, 2 a outro, e 1 ao terceiro. Em seguida, partiu para sua viagem.

Os servos não perderam tempo e imediatamente adentraram o mundo do empreendimento e dos investimentos. Aquele que recebera cinco talentos empreendeu e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas o que havia recebido apenas um fez uma cova no chão e escondeu ali a propriedade do seu mestre.

Depois de muito tempo, o mestre retornou e foi acertar as contas com seus servos. O servo que havia recebido 5 talentos se apresentou. "Meu senhor", ele disse, "o senhor me confiou 5 talentos; veja, aqui estão mais cinco que eu consegui!".

"Muito bem, servo bom e fiel!" o mestre respondeu. "Já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito; entra no gozo do teu senhor!"

Em seguida, o servo que havia recebido 2 talentos se aproximou do mestre. "Meu senhor", disse, "o senhor me confiou 2 talentos; veja, obtive mais dois!" O mestre disse: "Muito bem, servo bom e fiel, já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei o muito, entra no gozo do teu senhor". 

Finalmente, aquele que havia recebido 1 talento se aproximou de seu mestre. "Meu senhor", disse, "eu soube que és um homem severo, ceifas onde não semeaste e recolhes onde não joeiraste; e, atemorizado, fui esconder o teu talento na terra; aqui tens o que é teu!".

A resposta do mestre foi rápida e severa: "Servo mau e preguiçoso! Se sabias que ceifo onde não semeei e que recolho onde não joeirei, devias, então, ter entregado o meu dinheiro aos banqueiros e, ao meu retorno, teria recebido o que é meu com juros".

O mestre ordenou que o talento fosse tomado do servo preguiçoso e dado àquele que tinha dez talentos: "Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos; porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá o choro e o ranger de dentes!"

Essa não é a história que frequentemente ouvimos nos púlpitos e sermões. Nossos tempos ainda exaltam uma ética socialista na qual o lucro é suspeito, e o empreendedorismo é visto com suspeita e desagrado. Porém, a história apresenta um significado ético facilmente perceptível, e apresenta lições profundas que ajudam a compreender qual é a responsabilidade humana na vida econômica.

Uma análise mais atenta

Nessa parábola, a palavra "talento" possui dois significados. É uma unidade monetária: era a mais utilizada da época. O estudioso bíblico John R. Donovan relata que um único talento era equivalente ao salário de 15 anos de um trabalhador comum. Portanto, sabemos que a quantia dada a cada servo era considerável.

Se interpretarmos de uma forma mais ampla, os talentos se referem a todos os dons que Deus nos deu. Essa definição abarca todos os dons — naturais, espirituais e materiais. Inclui, também, nossas habilidades e recursos naturais — saúde e educação —, bem como nossas posses, dinheiro e oportunidades.

Uma das lições mais simples dessa parábola é que não é imoral lucrar por meio do uso de nossos recursos, inteligência e trabalho. A alternativa ao lucro é o prejuízo; e a perda de riqueza, especialmente por falta de iniciativa, certamente não constitui uma boa e sensata administração.

A parábola existente no Evangelho de São Mateus pressupõe uma compreensão básica da correta administração do dinheiro. De acordo com a lei rabínica, o ato de enterrar o dinheiro era considerado a forma mais segura contra o roubo. Se a uma pessoa fosse confiada uma quantia em dinheiro e ela o enterrasse tão logo estivesse em seu poder, ela estaria livre da culpa se algo acontecesse com ele. O oposto era verdade se o dinheiro fosse enrolado em um pano. Nesse caso, a pessoa era responsável por cobrir qualquer perda (prejuízo) incorrida devido à má administração do depósito que lhe foi confiado. 

Ainda nessa história, o mestre inverte o entendimento da lei rabínica. Ele considerou enterrar o talento — ficando elas por elas — como um prejuízo, pois ele pensava que o capital deveria receber uma taxa de retorno razoável. De acordo com esse entendimento, tempo é dinheiro (ou juros).

A parábola também contém uma lição crítica sobre como devemos utilizar as habilidades e recursos dados por Deus. No livro de Gênesis, Deus deu a Adão a Terra à qual ele deveria misturar seu trabalho para seu próprio uso. Na parábola, de forma similar, o mestre esperava que seus servos buscassem ganhos materiais. Em vez de preservar passivamente o que lhes tinha sido dado, o mestre esperava que investissem o dinheiro. O mestre ficou furioso diante da timidez do servo que tinha recebido um talento. Deus nos ordena a utilizar nossos talentos para fins produtivos. A parábola enfatiza a necessidade do trabalho e da criatividade, e condena a preguiça.

A busca por segurança

Ao longo da história, as pessoas tentaram construir instituições que assegurassem uma segurança perfeita, como o servo fracassado tentou. Tais esforços variam dos estados de bem-estar greco-romanos, passando pelo totalitarismo soviético em grande escala, até as comunidades luditas da década de 1960.

De tempos em tempos, esses esforços foram adotados como soluções cristãs para inseguranças futuras. Ainda assim, na Parábola dos Talentos, a coragem frente a um futuro incerto é recompensada no primeiro servo, que recebeu mais. Ele havia empreendido os 5 talentos, e ao fazê-lo, obteve mais 5. Teria sido mais seguro para o servo investir o dinheiro no banco para obter juros. Pela fé que demonstrou, foi-lhe permitido manter os 5 iniciais mais os 5 que havia recebido, compartilhando da alegria do mestre. 

Isso implica uma obrigação moral de confrontar a incerteza de maneira empreendedora. E ninguém o faz melhor que o empreendedor. Muito antes de saber se haverá retorno aos seus investimentos ou ideias, ele arrisca seu tempo e sua propriedade. Ele tem de pagar os salários de seus empregados muito antes de saber se o seu empreendimento terá algum retorno. Ele incorre em gastos muito antes de saber se previu os eventos futuros de forma acurada. Ele vê o futuro com esperança, coragem e um senso de oportunidade. Ao criar novos negócios, ele oferece alternativas para os trabalhadores, que agora podem optar por receber um salário e desenvolver suas habilidades.

Por que, então, os empreendedores são frequentemente punidos como maus servos de Deus? Muitos líderes religiosos falam e agem como se o uso dos talentos e recursos naturais dos empresários em busca do lucro fosse imoral, uma noção que deveria ser descartada à luz da Parábola dos Talentos. O servo preguiçoso poderia ter evitado seu destino sombrio ao ser mais empreendedor. Se houvesse feito um esforço para empreender o dinheiro do seu mestre e retornado com prejuízos, ele não teria sido tratado tão mal, pois ao menos teria trabalhado em nome do seu mestre.

Empreendedorismo e ganância

A religião deve reconhecer o empreendedorismo pelo que ele é — uma vocação. A capacidade de sucesso nos negócios, na bolsa de valores ou em um banco de investimentos é um talento. Como outros dons, não deveriam ser desperdiçados, mas usados em sua plenitude para a glória de Deus. Críticos ligam o capitalismo à ganância, mas a natureza fundamental da vocação empresarial é se concentrar nas necessidades dos consumidores e se esforçar para satisfazê-las. Para ter sucesso, o empreendedor tem de servir aos outros.

A ganância se torna um risco espiritual — que ameaça a todos nós, independentemente de nossa riqueza ou vocação — quando passa a haver um desejo excessivo ou insaciável por ganhos materiais, independentemente de nossa condição financeira. O desejo se torna excessivo quando, nas profundezas do seu ser, ele supera as preocupações morais e espirituais. Mas a parábola deixa claro que a riqueza por si só não é injusta — pois o primeiro servo recebeu mais do que o segundo e o terceiro. E quando o lucro é o objetivo a ser alcançado pelo uso do talento empresarial, isso não configura ganância. É apenas o uso apropriado do dom.

Além de condenar o lucro, os líderes religiosos frequentemente favorecem diversas variedades de igualdade social e redistribuição de renda. Sistema de saúde universal, maiores gastos com políticas assistencialistas, e tributação pesada sobre os ricos são todos promovidos em nome da ética cristã. O objetivo supremo de tais políticas é a igualdade, como se as desigualdades inatas que existem entre as pessoas fossem, de alguma forma, inerentemente injustas.

E não é assim que Jesus se posiciona na Parábola dos Talentos. O mestre confiou talentos a cada um de seus servos de acordo com suas respectivas habilidades e capacidades. Um recebeu 5, enquanto outro recebeu somente 1. Aquele que recebeu menos não recebe compaixão do mestre pela sua falta de recursos em comparação ao que seus outros colegas receberam. 

Podemos inferir dessa parábola que a igualdade de renda ou a realocação de recursos não é uma questão moral fundamental. Os talentos e matérias-primas que cada um de nós tem não são inerentemente injustos; sempre existirão desigualdades desenfreadas entre as pessoas. Um sistema moral é aquele que reconhece tal fato e permite que cada pessoa utilize seus talentos em sua plenitude. Todos nós temos a responsabilidade de empregar as capacidades e habilidades das quais fomos dotados.

Também podemos aplicar a lição dessa parábola às nossas políticas sociais. No sistema vigente, o salário do trabalhador é tributado para pagar os benefícios daqueles não trabalham. Frequentemente ouvimos que "não existem empregos" para a grande maioria dos pobres. No entanto, sempre existe trabalho a ser feito. A necessidade de trabalho é, por definição, infinita. Um homem com duas mãos saudáveis pode encontrar trabalho que pague $1 por hora. Ele decide trabalhar ou não, e o governo decide se ele pode ou não aceitar tal valor. Nosso sistema de bem-estar desencoraja o trabalho. Ele cria um incentivo perverso para se recorrer ao assistencialismo ao menos que exista um trabalho que pagará pelo menos o mesmo que o seguro-desemprego.

Deus ordena que todas as pessoas utilizem seus talentos; todavia, em nome da caridade, nosso sistema assistencialista encoraja as pessoas a deixarem que suas habilidades naturais atrofiem, ou que nem mesmo as venham a descobrir. 

Dessa maneira, estimula-se o pecado. A Parábola dos Talentos implica que a inatividade — ou o desperdício de talento empreendedorial — incita a ira de Deus. Afinal, o servente mais baixo não havia desperdiçado o talento; ele simplesmente o havia enterrado: algo que era permissível (aceitável) pela lei rabínica. A rapidez da reação do mestre surpreende. Ele o chama de "mau e preguiçoso" e o expulsa para sempre de sua convivência.

Aparentemente, não é somente a preguiça do servo que motiva tanta ira. Ele não mostrou nenhum arrependimento, e ainda culpou seu mestre pela sua timidez (incompetência). Sua desculpa para não investir o dinheiro é que ele considerava o seu mestre duro e exigente, embora a ele houvessem sido confiados recursos generosos. Por medo do fracasso, ele se recusou até mesmo a tentar ter sucesso.

Essa parábola também nos ensina algo sobre macroeconomia. O mestre seguiu viagem deixando o total de 8 talentos; ao retornar, os 8 haviam se transformado em 15. A parábola não é a história de um jogo de soma zero. O ganho de uma pessoa não ocorre à custa de outrem. O empreendimento exitoso do primeiro serve não prejudica as possibilidades do terceiro servo. O mesmo se aplica à economia atual. Ao contrário do que é normalmente pregado do púlpito, o sucesso dos ricos não vêm à custa dos pobres.

Se por se tornar rico o servo mais bem sucedido tivesse prejudicado a outrem, o mestre não o teria elogiado. O uso sábio dos recursos em investimentos ou em poupança a juros não somente é correto do ponto de vista individual, como também ajuda as outras pessoas. Como John Kennedy disse certa vez, uma onda que sobe levanta todos os barcos. Da mesma forma, a riqueza do mundo desenvolvido não ocorre nas costas das nações em desenvolvimento. A Parábola dos Talentos implica uma sociedade livre e aberta.

Cristãos de esquerda normalmente recorrem às palavras de Jesus: "Como é difícil entrar no Reino de Deus. É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus". Seus discípulos foram tomados de surpresa, e se perguntaram: quem poderia ser salvo, então? Jesus acalmou seus medos: "para um homem é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis".

Isso não significa que nosso sucesso material nos afastará do paraíso; implica, isso sim, a necessidade de levarmos uma vida moralmente, a qual deve estar acima de qualquer preocupação com bens materiais. Nossa preocupação para com Deus deve ser a mesma que os servos tiveram com relação aos interesses do seu mestre enquanto buscavam o lucro. Permanece verdade que, não obstante todas as nossas posses e feitos terrenos, dependemos completamente de Deus para alcançarmos a salvação.

No entanto, para a condução da economia, dependemos fortemente do empreendedorismo, do investimento, da tomada de risco e da expansão da riqueza e da prosperidade. Deveríamos ser mais críticos quanto à maneira como nossa cultura trata o empreendedorismo. As revistas de negócios estão repletas de histórias de sucesso. O herói é frequentemente o empreendedor corajoso, visionário e alegre, que se assemelha ao servo capaz que recebeu 5 talentos. Contudo, ao mesmo tempo, a fé religiosa popular continua a louvar e promover o comportamento endêmico do servo preguiçoso que foi expulso do convívio do mestre.

O cristianismo é frequentemente culpado pelo fracasso dos projetos socialistas ao redor do mundo. E, em muitos casos, cristãos desinformados participaram da construção desses tipos de projetos. A lição da Parábola dos Talentos precisa ser mais bem entendida. O sonho socialista é imoral. Ele simplesmente institucionaliza o comportamento condenável do servo preguiçoso. Onde Deus recomenda a ação criativa, o socialismo encoraja a preguiça. Onde Ele demanda fé e esperança no futuro, o socialismo promete uma falsa forma de segurança. Ao passo que a Parábola dos Talentos sugere a superioridade moral da livre iniciativa, do investimento e do lucro, o socialismo a nega.

Todas as pessoas de fé deveriam trabalhar tenazmente para acabar com a divergência entre religião e economia. Essa parábola de Jesus é um bom ponto para se começar a incorporar a moralidade do livre mercado e da livre iniciativa à ética cristã. 



Robert Sirico é fundador e presidente do Acton Institute.  Padre e mestre em teologia, ele também é membro da Mont Pèlerin Society, da Academia Americana de Religião e da Philadelphia Society, além de ser conselheiro do Instituto Cívico de Praga. 

segunda-feira, 23 de março de 2015

EXISTEM DOIS TIPOS DE GOVERNO



Segundo a ciência da administração existem dois tipos de governo.

E não é a dicotomia ensinada esquerda x direita, droit et la gauche, leftist and conservationist.

A dicotomia segundo a ciência da administração é outra:

A. Governos ditatoriais, como vocês incluem governos de direita e esquerda, monarquias e ditaduras, fascistas e socialistas.

B. Governos descentralizados, onde os habitantes são empoderados, países democráticos por excelência, e não só no papel.

Por que estes governos ditatoriais, mesmo de esquerda que prezam a liberdade, acabam optando por ditaduras como vemos em Cuba, Coreia do Norte, Venezuela, e de certa forma o Brasil?

E por que países descentralizados não se preocupam tanto com reeleição, e não se desesperam tanto quando a oposição entra no poder? 

Tudo tem a ver com o estado da Ciência da Administração nestes países.

Países que não possuem boas escolas de administração tendem a ser ditatoriais, ideológicos, e a lutar pela reeleição e perpetuação do poder.

São países onde se ouve a palavra “gestor”, mais do que administrador.

Administradores acreditam implantar sistemas administrativos que andam por si só.

Acreditamos em métodos, formas de organização que perduram, Built to Last, sem a nossa presença.

Nós não administramos o dia a dia, mas sim as exceções ou as falhas dos sistemas enquanto ocorrerem.

Nós delegamos poder, não concentramos poder.

Se a oposição tomar o controle da empresa, não ficamos desesperados. Porque os sistemas que implantamos, se funcionam, continuarão intactos.

A oposição não vai desmontar o que fizemos. Pelo contrário, vai nos consultar democraticamente com relação ao passado e até com relação ao futuro.

Por isto você não ouve sobre movimentos de guerrilha administrativa, frentes revolucionárias administrativas, partidos socialistas administrativos.

As ditaduras empresariais que existem são invariavelmente as de estatais e de empresas familiares, onde imperam o gestor e não o administrador.

Os países ditatoriais são normalmente atrasadíssimos com relação à ciência da administração. Lá impera a alquimia da “gestão”.

Eles têm gestores que dão ordens, gesticulam, apontam com o indicador o que tem de ser feito.

São durões como a Dilma, Serra, Castelo Branco e Getúlio Vargas.

Eles sabem que se não mandarem com pulso forte, as coisas desandam.

Acreditam na centralização porque acham que só assim haverá coerência e ações conjuntas.

Um ditador na concepção deles não é um ditador, mas a única forma de termos um governo organizado, onde todos falam a mesma língua, a do Ditador.

Onde todos trabalham no mesmo objetivo, do Ditador, e portanto de forma coordenada e não bagunçada.

A oposição ou troca de poder, para um Gestor, é um desastre.

Significa que o outro partido irá mandar em tudo, e tudo em que você acredita ou o partido acredita será desfeito.

O presidente do McDonald’s, da Apple ou da Samsung não tem pavor de ser substituído e tem certeza que mesmo se morrer nada irá mudar com o sistema por ele implantado. 

Administradores que acreditam em delegar poder, terceirizar funções, empoderar funcionários, orientar funcionários, e não dar ordens a empregados estão na contramão da História do Brasil. 

Queremos mandões, seja da direita militar ou da esquerda intervencionista. Ao invés de uma empresa livre e democrática, onde todos os stakeholders opinam e assumem as suas respectivas responsabilidades.

Até quando? Por: Stephen Kanitz  Do site: blotz.com.bg.kanir

POR QUE ESCREVER NÃO É ALGO SIMPLES?

Escrever não é algo simples, ainda que acessível a todos os alfabetizados, principalmente os que se exercitam de alguma forma, copiando receitas de bolo ou escrevendo e-mails no trabalho e redações na escola.


Se, nos dias de hoje, os jovens encontram grande dificuldade para escrever, isso se deve à pedagogia socioconstrutivista, que minimiza a importância da escrita1, dando maior relevância ao que denomina “comunicação”.

Décadas de submissão ao socioconstrutivismo criaram a ilusão de que a escrita equivale a um gesto ou a um sinal de trânsito — equiparação que só pode existir no cérebro de pedagogos que, antes de serem educadores, são ideólogos.

Mas meu objetivo aqui não é discutir os detalhes desse absurdo nivelamento. Olavo de Carvalho já o fez, com sua reconhecida maestria, em artigo publicado no Diário do Comércio, em 30 de outubro de 2012. E sintetizou suas idéias mais recentemente, num post em sua página do Facebook.

Quero falar aqui sobre a complexidade do ato de escrever.

Por que escrever não é algo simples?

Pense nos materiais que circundam a escrita. Quando, por exemplo, usamos um dicionário, não refletimos sobre o que se esconde nos verbetes: esforço de inteligência, disciplina para reunir e organizar informações, pesquisa acumulada ao longo da história, capacidade expressiva para explicar as múltiplas acepções de um vocábulo.

Você pode pensar em utensílios menos intelectuais. Entre numa papelaria e observe a diversidade de material relacionado à escrita. O aperfeiçoamento técnico — que hoje nos permite utilizar inclusive processadores de texto poderosos como Scrivener — faz com que escrever seja, literalmente, menos cansativo do que há dois mil anos.

Mas pense também na complexidade do ato de escrever sob uma perspectiva imaterial: a dos mecanismos cerebrais.

Escrever não é algo simples

O exercício de abstração é algo grandioso, sobre o qual não costumamos refletir.

Quando você escreve, seu ser inteiro conflui para cada sentença, cada escolha vocabular. Seu passado, tudo que sua família e seus antepassados lhe transmitiram, suas relações sociais, seus valores, suas emoções, sua fé, sua memória.6

Vamos supor que você deseja apenas descrever, em poucas linhas, o que sente quando saboreia um doce que sua bisavó fazia – ou qualquer outra sensação. Como seu cérebro trabalha para imaginar e, ao mesmo tempo, conceituar algo que, num primeiro instante, é apenas uma recordação fugidia?

Ou, ainda mais complexo, como escritores conseguem descrever sentimentos e atitudes que eles nunca experimentaram?

O exercício de abstração — separar mentalmente um ou mais elementos de certa totalidade complexa e colocá-lo em palavras — é algo grandioso, sobre o qual não costumamos refletir.2

Na verdade, qualquer experiência subjetiva parece ser indescritível.

Mas a história da literatura mostra que essa é apenas uma primeira impressão.

A representação das idéias ou dos sentimentos por meio de sinais gráficos, quando utilizada por um escritor experiente, pode sintetizar as emoções mais sutis.

Mas esse escritor só consegue alcançar seu objetivo se ordenar suas idéias; se conhecer as possibilidades que o idioma oferece; se tiver habilidade para julgar o que deve dizer, para escolher a forma específica por meio da qual se expressará e, por fim, decidir o que efetivamente deseja escrever.

Cada um desses atos, feitos de maneira automática, escondem séculos de permanente adaptação do nosso cérebro e de reelaboração do código lingüístico.

O escritor enlouqueceria se percorresse cada uma dessas etapas de forma consciente, se escrevesse raciocinando sobre tais questões, se consultasse o dicionário pensando no trabalho do dicionarista.

E é desnecessário que ele pense em tudo isso quando escreve.

Mas esse incrível acúmulo de recursos está ali, pulsando a cada escolha, a cada idéia. Só esse surpreendente acúmulo de recursos transformou o ato de escrever numa prática aparentemente simples. 
Por: Rodrigo Gurgel Do site: http://rodrigogurgel.com.br

sexta-feira, 20 de março de 2015

NÃO É A MERITOCRACIA; É O VALOR QUE SE CRIA


Não. Ele é pobre porque não conseguiu gerar valor para ninguém.

Meritocracia é uma palavra bonita. Não. É uma palavra que remete a uma coisa bonita: que cada um receba de acordo com seu mérito, que em geral é igual a esforço, dedicação; às vezes se inclui a inteligência.

E — é o que garantem alguns liberais — é isso que vigora no mercado. Quem se esforça, chega lá.

É questionável até que ponto esse tal mérito pessoal sequer exista. Hélio Schwartsman, na Folha, apontou aquele fato que ninguém gosta de lembrar: o esforço pessoal, o suor, a capacidade de trabalho, a inteligência; todos dependem de variáveis que estão fora da escolha pessoal — do mérito, portanto — do indivíduo. Essa esfera do que é só meu, do mérito próprio distinto das circunstâncias do ambiente e da história, simplesmente não existe. Ao menos, não da forma simplória que se vende.

E existindo ou não, será verdade que o mercado premia justamente o mérito? Se for, caro liberal, então você está obrigado a defender que Gugu Liberato e Faustão têm mais mérito do que um professor realmente excelente e que realmente ensine coisas úteis.

Nada contra o Gugu e o Faustão, mas eles não são meu exemplo ideal de disciplina, dedicação e trabalho duro. E, mesmo assim, o mercado os recompensa muito bem. Do outro lado, milhões de trabalhadores labutam dia e noite, e outros milhões de desempregados procuram o que fazer, e continuam pobres. Ainda falta esforço? São preguiçosos, burros talvez?

Nada disso.

O que realmente determina a remuneração no mercado não é o mérito, não é a virtude, não é o esforço ou a dedicação. É apenas a criação de valor; o valor que aquela pessoa consegue adicionar à vida dos demais.

Não importa se é por esforço, inteligência, sorte, talento natural, herança; quanto mais imprescindível ela for aos outros, mais os outros estarão dispostos a servi-la.

O esforço por si só não garante nada. É verdade que, tudo o mais constante, se a pessoa encontra um campo em que ela gera valor, o esperado é que mais esforço gere mais valor. Com o passar das gerações, a ascensão social se acumula: a filha da retirante nordestina que trabalha de empregada tem computador, aula de inglês e provavelmente não será doméstica quando crescer.

É assim que as sociedades enriquecem. Não é de uma hora para outra, e não tem nada a ver com a crença ingênua de que a renda é ou deveria ser proporcional ao mérito.

Nada é garantido. Às vezes o setor em que o sujeito trabalha fica obsoleto, e o valor produzido pela dedicação de uma vida cai abruptamente. Havia gente muito dedicada entre os técnicos de vitrola de meados dos anos 1990; e mesmo assim…

Meritocracia é um conceito que se aplica ao interior de organizações. Promover membros com base no mérito (em geral medido por algum indicador) pode ser melhor do que fazê-lo por tempo de serviço, pela opinião subjetiva de um superior etc. Meritocracia é um modelo de gestão. Até mesmo o governo, por exemplo, poderia se beneficiar dela, reduzindo suas ineficiências. Não é um modelo sem falhas: a necessidade de mostrar resultados cria uma pressão interna muito grande e pode minar a cooperação, a manipulação dos indicadores pode viciar o sistema de avaliação.

Encontrar o sistema mais adequado a cada contexto é uma questão de administração, de funcionamento interno de organizações, que nada tem a ver com o mercado. Mercado é o processo (sim, memorizem isso: o mercado é um processo) no qual algumas organizações existem e operam. Às vezes organizações nada meritocráticas prosperam no mercado, e organizações meritocráticas podem existir fora dele.

Satisfaça as necessidades dos outros, e as suas serão satisfeitas. Não importa se é por mérito, por sorte ou por talento. O cara mais esforçado e bem-intencionado do mundo, se não criar valor, ficará de mãos vazias.

Achou injusto? Então aqui vai um segredo: é você quem perpetua esse sistema. Se sua geladeira quebra, você vai querer um técnico esforçado e que dê tudo de si, ou vai querer um que faça um ótimo serviço, com pouco esforço e a um baixo custo? Quer um restaurante ruim mas com funcionários esforçados ou quer comer bem? O mundo reflete o seu código de valores e, veja só, ele não é meritocrático.

A vida não é e nem deve ser uma corrida que parte de condições iguais e na qual, no fim do jogo, vencem os melhores. Na medida em que esse sonho meritocrático é sequer possível (estamos muito longe de corrigir desigualdades genéticas, por exemplo), ele exigiria um investimento enorme só para produzi-lo; sacrificaríamos valor para criar condições artificiais que se adequem a esse ideal abstrato. Todos ficariam mais pobres para realizar esse sonho moral.

Mas quem disse que a igualdade é moralmente superior à desigualdade? Se um meteorito cai na minha casa e não na sua, isso é injusto? É imoral?

O sistema de mercado não premia a virtude; ele premia, e portanto incentiva, o valor. É feio dizê-lo? Pode ser, mas ele tem um lado bom: é o sistema que permite que a vida de todos melhore ao mesmo tempo. Que todo mundo que quer subir tenha que ajudar os outros a subir também. Ele não iguala o patamar de todo mundo, mas garante que a direção de mudança seja para cima.

O ideal da meritocracia tem o seu apelo, mas ele depende de meias-verdades: a ideia do mérito que é só meu e de mais ninguém, a de que meu suor justifica o que eu ganhei. Sem suor ou inteligência, o ganho é sujo, indevido. Mas o outro lado dessa moeda é feio: implica dizer que quem não chegou lá não teve mérito; que a pobreza é culpa do pobre.

A lógica do mercado é outra: você criou valor, será recompensado. Sua riqueza não diz nada sobre o seu mérito; ela não justifica e nem precisa ser justificada. O resultado desse foco no valor é que mais valor é criado. Você recebe aquilo que entrega e todos ganham.

[Nota do IMB: por que Faustão, Gugu, jogadores de futebol e artistas globais ganham mais de R$ 1 milhão por mês ao passo que um professor realmente bom ganha apenas uns R$ 5 mil? Um bom professor pode realmente gerar valor, mas ele gera valor para uma quantidade ínfima de pessoas ao ano. Quantos alunos diferentes ele tem? Provavelmente, não mais do que 200 (um número bem exagerado). Portanto, ele cria valor para 200 pessoas por ano. É uma produtividade extremamente baixa. Já os indivíduos supracitados têm alcance nacional (alguns, mundial), milhões de pessoas consomem voluntariamente seus serviços, e eles geram retornos — goste você ou não deles — para seus empregadores semanalmente, que estão satisfeitos em lhes pagar salários milionários. Se não gerassem valor, seria simplesmente impossível terem esses salários.]
Por: Joel Pinheiro da Fonseca, mestre em filosofia e escreve no site spotniks.com." Siga-o no Twitter: @JoelPinheiro85  Do site: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2054



quarta-feira, 18 de março de 2015

POR QUÊ OS INTELECTUAIS ODEIAM O CAPITALISMO?

N. do T.: o artigo a seguir foi adaptado de um discurso improvisado feito pelo autor, daí o seu tom mais coloquial.

Por que os intelectuais sistematicamente odeiam o capitalismo? Foi essa pergunta que Bertrand de Jouvenel (1903-1987) fez a si próprio em seu artigo Os intelectuais europeus e o capitalismo.

Esta postura, na realidade, sempre foi uma constante ao longo da história. Desde a Grécia antiga, os intelectuais mais distintos — começando por Sócrates, passando por Platão e incluindo o próprio Aristóteles — viam com receio e desconfiança tudo o que envolvia atividades mercantis, empresariais, artesanais ou comerciais.

E, atualmente, não tenham nenhuma dúvida: desde atores e atrizes de cinema e televisão extremamente bem remunerados até intelectuais e escritores de renome mundial, que colocam seu labor criativo em obras literárias — todos são completamente contrários à economia de mercado e ao capitalismo. Eles são contra o processo espontâneo e de interações voluntárias que ocorre de mercado. Eles querem controlar o resultado destas interações. Eles são socialistas. Eles são de esquerda. Por que é assim?

Vocês, futuros empreendedores, têm de entender isso e já irem se acostumando. Amanhã, quando estiverem no mercado, gerenciando suas próprias empresas, vocês sentirão uma incompreensão diária e contínua, um genuíno desprezo dirigido a vocês por toda a chamada intelligentsia, a elite intelectual, aquele grupo de intelectuais que formam uma vanguarda. Todos estarão contra vocês.

"Por que razão eles agem assim?", perguntou-se Bertrand de Jouvenel, que em seguida pôs-se a escrever um artigo explicando as razões pelas quais os intelectuais — no geral e salvo poucas e honrosas exceções — são sempre contrários ao processo de cooperação social que ocorre no mercado.

Eis as três razões básicas fornecidas por de Jouvenel.

Primeira, o desconhecimento. Mais especificamente, o desconhecimento teórico de como funcionam os processos de mercado. Como bem explicou Hayek, a ordem social empreendedorial é a mais complexa que existe no universo. Qualquer pessoa que queira entender minimamente como funciona o processo de mercado deve se dedicar a várias horas de leituras diárias, e mesmo assim, do ponto de vista analítico, conseguirá entender apenas uma ínfima parte das leis que realmente governam os processos de interação espontânea que ocorrem no mercado. Este trabalho deliberado de análise para se compreender como funciona o processo espontâneo de mercado — o qual só a teoria econômica pode proporcionar — desgraçadamente está completamente ausente da rotina da maior parte dos intelectuais.

Intelectuais normalmente são egocêntricos e tendem a se dar muito importância; eles genuinamente creem que são estudiosos profundos dos assuntos sociais. Porém, a maioria é profundamente ignorante em relação a tudo o que diz respeito à ciência econômica.

A segunda razão, a soberba. Mais especificamente, a soberba do falso racionalista. O intelectual genuinamente acredita que é mais culto e que sabe muito mais do que o resto de seus concidadãos, seja porque fez vários cursos universitários ou porque se vê como uma pessoa refinada que leu muitos livros ou porque participa de muitas conferências ou porque já recebeu alguns prêmios. Em suma, ele se crê uma pessoa mais inteligente e muito mais preparada do que o restante da humanidade. Por agirem assim, tendem a cair no pecado fatal da arrogância ou da soberba com muita facilidade.

Chegam, inclusive, ao ponto de pensar que sabem mais do que nós mesmos sobre o que devemos fazer e como devemos agir. Creem genuinamente que estão legitimados a decidir o que temos de fazer. Riem dos cidadãos de ideias mais simplórias e mais práticas. É uma ofensa à sua fina sensibilidade assistir à televisão. Abominam anúncios comerciais. De alguma forma se escandalizam com a falta de cultura (na concepção deles) de toda a população. E, de seus pedestais, se colocam a pontificar e a criticar tudo o que fazemos porque se creem moral e intelectualmente acima de tudo e todos. 

E, no entanto, como dito, eles sabem muito pouco sobre o mundo real. E isso é um perigo. Por trás de cada intelectual há um ditador em potencial. Qualquer descuido da sociedade e tais pessoas cairão na tentação de se arrogarem a si próprias plenos poderes políticos para impor a toda a população seus peculiares pontos de vista, os quais eles, os intelectuais, consideram ser os melhores, os mais refinados e os mais cultos.

É justamente por causa desta ignorância, desta arrogância fatal de pensar que sabem mais do que nós todos, que são mais cultos e refinados, que não devemos estranhar o fato de que, por trás de cada grande ditador da história, por trás de cada Hitler e Stalin, sempre houve um corte de intelectuais aduladores que se apressaram e se esforçaram para lhes conferir base e legitimidade do ponto de vista ideológico, cultural e filosófico.

E a terceira e extremamente importante razão, o ressentimento e a inveja. O intelectual é geralmente uma pessoa profundamente ressentida. O intelectual se encontra em uma situação de mercado muito incômoda: na maior parte das circunstâncias, ele percebe que o valor de mercado que ele gera ao processo produtivo da economia é bastante pequeno. Apenas pense nisso: você estudou durante vários anos, passou vários maus bocados, teve de fazer o grande sacrifício de emigrar para Paris, passou boa parte da sua vida pintando quadros aos quais poucas pessoas dão valor e ainda menos pessoas se dispõem a comprá-los. Você se torna um ressentido. Há algo de muito podre na sociedade capitalista quando as pessoas não valorizam como deve os seus esforços, os seus belos quadros, os seus profundos poemas, os seus refinados artigos e seus geniais romances. 

Mesmo aqueles intelectuais que conseguem obter sucesso e prestígio no mercado capitalista nunca estão satisfeitos com o que lhes pagam. O raciocínio é sempre o mesmo: "Levando em conta tudo o que faço como intelectual, sobretudo levando em conta toda a miséria moral que me rodeia, meu trabalho e meu esforço não são devidamente reconhecidos e remunerados. Não posso aceitar, como intelectual de prestígio que sou, que um ignorante, um parvo, um inculto empresário ganhe 10 ou 100 vezes mais do que eu simplesmente por estar vendendo qualquer coisa absurda, como carne bovina, sapatos ou barbeadores em um mercado voltado para satisfazer os desejos artificiais das massas incultas."

"Essa é uma sociedade injusta", prossegue o intelectual. "A nós intelectuais não é pago o que valemos, ao passo que qualquer ignóbil que se dedica a produzir algo demandado pelas massas incultas ganha 100 ou 200 vezes mais do que eu". Ressentimento e inveja.

Segundo Bertrand de Jouvenel,

O mundo dos negócios é, para o intelectual, um mundo de valores falsos, de motivações vis, de recompensas injustas e mal direcionadas . . . para ele, o prejuízo é resultado natural da dedicação a algo superior, algo que deve ser feito, ao passo que o lucro representa apenas uma submissão às opiniões das massas.
[...]

Enquanto o homem de negócios tem de dizer que "O cliente sempre tem razão", nenhum intelectual aceita este modo de pensar.

E prossegue de Jouvenel:

Dentre todos os bens que são vendidos em busca do lucro, quantos podemos definir resolutamente como sendo prejudiciais? Por acaso não são muito mais numerosas as ideias prejudiciais que nós, intelectuais, defendemos e avançamos?

Conclusão

Somos humanos, meus caros. Se ao ressentimento e à inveja acrescentamos a soberba e a ignorância, não há por que estranhar que a corte de homens e mulheres do cinema, da televisão, da literatura e das universidades — considerando as possíveis exceções — sempre atue de maneira cega, obtusa e tendenciosa em relação ao processo empreendedorial de mercado, que seja profundamente anticapitalista e sempre se apresente como porta-voz do socialismo, do controle do modo de vida da população e da redistribuição de renda.

Por: Jesús Huerta de Soto , professor de economia da Universidade Rey Juan Carlos, em Madri, é o principal economista austríaco da Espanha. Autor, tradutor, editor e professor, ele também é um dos mais ativos embaixadores do capitalismo libertário ao redor do mundo. Ele é o autor de A Escola Austríaca: Mercado e Criatividade Empresarial, Socialismo, cálculo econômico e função empresarial e da monumental obra Moeda, Crédito Bancário e Ciclos Econômicos.

QUEDA DE BRAÇO

O PT é um partido ilegal, e a eleição de Dilma Rousseff foi resultado de fraude eleitoral maciça e ostensiva


Os fatos são patentes e inegáveis:

1. O PT é filiado a uma organização estrangeira, o Foro de São Paulo, que ele reconhece como “coordenação estratégica da esquerda na América Latina” (sic) e cujas resoluções, unanimemente assinadas nas suas assembleias anuais, ele acata e cumpre. Consultem-se, a respeito, o vídeo do III Congresso do partido (veja aqui), as atas das assembleias do Foro de São Paulo (leia aqui) e o discurso comemorativo pronunciado pelo sr. Luís Inácio Lula da Silva, então presidente da República, no décimo-quinto aniversário da entidade – discurso publicado na própria página oficial da Presidência, depois comentado e linkado no meu artigo (leia aqui). As provas não poderiam ser mais abundantes nem mais inquestionáveis.


A Lei dos Partidos Políticos (Lei número 9.096 de 19 de setembro de 1995) determina que o STF casse o registro desse partido, por violação do artigo 28, alínea II: “estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros.”

A violação independe de o partido ter ou não recebido fundos dessa entidade, o que é crime suplementar a ser investigado.

2. O PT tem sob o seu comando e alimenta com vultosas verbas públicas uma entidade paramilitar, armada, clandestina e sem registro legal, treinada por técnicos estrangeiros para atividades de guerrilha, especializada em invadir e queimar propriedades rurais e em bloquear pela força o direito do cidadão brasileiro de circular livremente pelo território nacional, e não hesita em convocar essa entidade, chamando-a mui apropriadamente de “exército”, a mostrar o seu poder e interferir na política nacional como instrumento de pressão e intimidação.


Isso viola a alínea IV da Lei dos Partidos Políticos (“manter organização paramilitar”), obrigando o STF a cancelar o registro do partido, mediante “denúncia de qualquer eleitor, de representante de partido, ou de representação do Procurador-Geral Eleitoral”.

O PT é portanto um partido ilegal, cuja possibilidade de existência continuada só é garantida por um conluio criminoso, regado a dinheiro público, do qual participam políticos, juízes e altos funcionários das estatais, tudo sob a proteção da “grande mídia”.


3. O governo Dilma Rousseff concedeu empréstimos ilegais a várias nações comunistas, violando o artigo 49 da Constituição Federal, segundo o qual assinar tratados e compromissos internacionais que impliquem despesas para os cofres públicos “é de competência exclusiva do Congresso Nacional”. Reconhecendo cinicamente que esses empréstimos são inconstitucionais e ilegais, o governo Rousseff ainda os tornou secretos, roubando ao Congresso e à nação a mera possibilidade de investigá-los.

Não poderia haver prova mais patente de crime de improbidade administrativa, tornando o impeachment da Sra. Rousseff não apenas legal, mas obrigatório, mesmo sem Mensalão, Petrolão e demais crimes coadjuvantes que esse governo jamais se eximiu de praticar.

Para maiores informações, veja.

4. A sra. Rousseff deve o seu segundo mandato à fraude eleitoral maciça e ostensiva da apuração secreta dos votos, que nega o mais elementar princípio de transparência sem o qual nenhuma eleição é válida ou legítima à luz da razão e do Direito. Para dar viabilidade ao truque sujo, colocou na presidência do Tribunal Eleitoral, após tê-lo feito passar pelo STF, um advogado do seu partido e homem notoriamente desprovido das qualificações para cargos superiores da magistratura.

Nessas condições, proclamar, como o faz praticamente a totalidade da classe política e da mídia, que a sra. Rousseff governa o país com base num mandato legítimo e democraticamente instituído é atitude de uma mendacidade e de um cinismo que raiam a amoralidade psicopática pura e simples.

Cansados de esperar e implorar que o Congresso e as autoridades judiciárias fizessem cumprir a lei, dois ou três milhões de cidadãos saíram às ruas, no maior protesto político de toda a nossa História, apenas para ver, no dia seguinte, o governo, auxiliado pelos políticos ditos “de oposição” e pela mídia, tentar tirar proveito do seu próprio descrédito e da sua própria torpeza, utilizando-se da ira popular como pretexto para vender, de novo, a fraudulenta proposta da “reforma política” bolivariana.

Com toda a evidência, a elite política e midiática deste país entrou num pacto calculado para impor a autoridade do PT acima da Constituição e das leis, incondicionalmente e sem possibilidade de discussão.

No tempo de Collor e FHC, qualquer passeata de umas dezenas de milhares de manifestantes, convocados e dirigidos por organizações políticas, era glorificada como “clamor popular” e alegada como razão iminente para um impeachment.

Dois milhões de pessoas clamando espontaneamente nas ruas pelo simples cumprimento das leis não bastam para demover essa elite da sua firme e inabalável decisão de vender como “democracia” um ritual grotesco de legitimação do crime e da iniquidade.

A ruptura entre o povo e a elite mandante é hoje profunda, radical e insanável. Não há diálogo nem conciliação possível. A vida política nacional tornou-se uma queda de braço entre os happy few e a massa indignada, entre a palhaçada de cima e a realidade de baixo.

Mais dia, menos dia, a realidade vencerá, mas quanto sofrimento isso ainda vai custar aos brasileiros?

Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio

segunda-feira, 16 de março de 2015

A HORA E A HISTÓRIA

O governo Dilma 2 acabou antes de começar. Batida pelo turbilhão da crise que ela mesma engendrou, a presidente perdeu, de fato, o poder, que é exercido por dois primeiros-ministros informais: Joaquim Levy comanda a economia; Eduardo Cunha controla as rédeas da política. Na oposição, entre setores da base aliada e, sobretudo, nas ruas, a palavra impeachment elevou-se, de murmúrio, à condição de grito ainda abafado. É melhor pensar de novo, para não transformar o Brasil num imenso Paraguai.


Nos sistemas parlamentares, um voto de desconfiança do Parlamento derruba o gabinete, provocando eleições antecipadas. No presidencialismo paraguaio, regras vagas de impeachment conferem aos congressistas a prerrogativa de depor um chefe de Estado que não enfrenta acusações criminais. Um parecer de Ives Gandra Martins sustenta a hipótese de impedimento presidencial por improbidade administrativa, mesmo sem dolo. Na prática, equivale a sugerir que Dilma poderia ser apeada com a facilidade com que se abreviou o mandato de Fernando Lugo. A adesão a essa tese faria o Brasil retroceder do estatuto de moderna democracia de massas ao de uma democracia oligárquica latino-americana.

Não são golpistas os cidadãos que fazem circular o grito abafado. Dilma Rousseff tornou-se um fardo pesado demais. Lula deu o beijo da morte no segundo mandato da presidente ao lançar sua candidatura para 2018 antes ainda da posse. No ato farsesco de "defesa da Petrobras", o criador da criatura emitiu sinais evidentes de que, em nome de sua campanha plurianual, prepara-se para assumir o papel um tanto ridículo de crítico do governo. Diante de uma presidente envolta na mortalha da solidão, os partidos oposicionistas parecem aguardar uma decisão das ruas. Fariam melhor oferecendo um rumo político para a indignação popular.

Antes de tudo, seria preciso dizer que, na nossa democracia, a hipótese de impeachment só se aplica quando há culpa e dolo. O complemento honesto da sentença é a explicação de que, salvo novas, dramáticas, informações da Lava Jato, inexiste uma base política e jurídica sólida para abrir um processo de impedimento da presidente. Contudo, só isso não basta, pois o país não suportará mais quatro anos de "dilmismo", essa mistura exótica de arrogância ideológica, incompetência e inoperância.

"Governe para todos –ou renuncie!". No atual estágio de deterioração de seu governo, a saída realista para Dilma é extrair as consequências do fracasso, desligando-se do lulopetismo e convidando a parcela responsável do Congresso a compor um governo transitório de união nacional. O Brasil precisa enfrentar a crise econômica, definir a moldura de regras para um novo ciclo de investimentos, restaurar a credibilidade da Petrobras, resgatar a administração pública das quadrilhas político-empresariais que a sequestraram. É um programa e tanto, mas também a plataforma de um consenso possível.

"Governe para todos –ou renuncie!". O repto é um exercício de pedagogia política, não uma aventura no reino encantado da ingenuidade. As probabilidades de Dilma romper com o lulopetismo são menores que as de despoluição da baía da Guanabara até a Olimpíada. Isso, porém, não forma uma justificativa suficiente para flertar com o atalho do impeachment. Se a presidente, cega e surda, prefere persistir no erro, resta apontar-lhe, e a seu vice, a alternativa da renúncia, o que abriria as portas à antecipação das eleições.

Dilma diz que a culpa é de FHC. Lula diz que é da imprensa, enquanto reúne-se com o cartel das empreiteiras. A inflação fará o ajuste fiscal. Por aqui, os camisas negras usam camisas vermelhas. A justa indignação da hora faz do impeachment uma solução sedutora. Mas a história não é a hora. Dilma vai passar, cedo ou tarde. Ela não vale o preço da redução do Brasil a um Paraguai.
Por: Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

GERAÇÃO "X" CHUTA O BALDE


Essa semana recebi um e-mail de despedida de uma amiga e parceira de trabalho. Ela vendeu sua parte na sociedade da empresa que ela mesma havia montado, anos atrás, para tirar um período sabático. Vai para a Europa estudar gastronomia e fotografia, suas duas paixões. Não é a primeira nem última amiga minha, por volta dos 35 anos, com uma carreira bem sucedida e vida estável, que toma essa decisão. Uns três anos atrás, um amigo próximo um dia disse adeus ao emprego que tinha. Todos ficaram meio surpresos. O cara trabalhava há mais de uma década em grandes empresas, era respeitado e tinha uma vida confortável no Rio de Janeiro. Mas encheu o saco. Resolveu estudar Gestalt, voltou pra Florianópolis – sua cidade natal – e abdicou de grande parte do conforto em busca do que o faria feliz de verdade. Ele nunca mais fez uma apresentação de power point na vida, usa o excel apenas para controlar seus gastos mensais e esbanja um brilho nos olhos toda vez que nos vemos.

Fato é que histórias como essas têm sido cada vez mais comuns na minha geração. Enquanto todos se preocupam com a urgência e ambição da Geração Y, a Geração X, imediatamente anterior, está repensando seus conceitos e valores. Fomos criados acreditando que uma vida feliz era falar línguas, fazer carreira, trabalhar a vida inteira numa ou duas grandes empresas, comprar o apartamento próprio, construir uma família para sempre e ir pra Disney (ou Paris) uma vez por ano. Uma vida estável e fixa, sem rompantes de aventura. Acontece que grande parte da Geração X chegou aos 30, 40 anos e descobriu que para juntar meio milhão e dar entrada, com sorte, num apartamento modesto que irá pagar até seus 60 anos, o caminho é longo e o preço é alto, bem alto. Os poucos que conseguem, heroicamente, conquistar seus bens e sonhos sem a ajuda dos pais, estão exaustos. Olham em volta e mal têm tempo de curtir os filhos ou as férias exóticas que sonham (e têm dinheiro para tirar) para a Tailândia, Marrocos ou Havaí. Há também aqueles que ficaram tão ocupados em conquistar aquilo que lhes foi prometido que deixaram para “daqui a pouco” os filhos, os hobbies e a felicidade e perceberam, agora, que “desaprenderam a dividir”.

No meio disso, veio essa sedutora mobilidade contemporânea, mostrando a nós o que nossos pais ainda não podiam nos ensinar, que é possível existir estando em qualquer lugar e que não é uma mesa de escritório ou um cartão de visitas que nos faz mais nobre, mas sim aquilo que de melhor podemos oferecer ao mundo. Só que descobrimos isso depois de passarmos grande parte da nossa juventude preocupados em nos sustentar, sermos bem sucedidos, conquistar prestigio e reconhecimento. Para, enfim, ter a liberdade de chutar o balde e sair por aí…
Fabiana Gabriel é jornalista, tem cartão de visitas, mas ainda não comprou sua casa própria, nem chutou o balde…
Fonte: http://revistacarneseca.com/a-geracao-x-esta-chutando-o-balde/

domingo, 15 de março de 2015

'VOZ DO BRASIL'

Eu sabia que eles assinariam um manifesto. Ingênuo, imaginei que, desta vez, seria um texto contra o pacote fiscal de Dilma Rousseff (culpando, bem entendido, o mordomo, que se chama Joaquim).


Contudo, eles desistiram de fingir: o inevitável manifesto, intitulado “O que está em jogo agora”, é tão oficialista como “A voz do Brasil” dos velhos tempos. Num lance vulgar de prestidigitação, o texto dos “intelectuais de esquerda”, assinado por figuras como Marilena Chaui, Celso Amorim, Emir Sader, Fabio Comparato, Leonardo Boff, Maria da Conceição Tavares e Samuel Pinheiro Guimarães, apresenta-se como uma defesa da Petrobras — mas, de fato, é outra coisa.

O ofício intelectual não combina bem com manifestos. Dos intelectuais, espera-se o pensamento criativo, a crítica do consenso, a dissonância — não o chavão, a palavra de ordem ou o grito coletivo. Por isso, eles deveriam produzir manifestos apenas em circunstâncias excepcionais.

Os “intelectuais de esquerda”, porém, cultivam o estranho hábito de assinar manifestos. Vale tudo: crismar um crítico literário como inimigo da humanidade, condenar a palavra equivocada no editorial de um jornal, tomar o partido de algum ditador antiamericano, denunciar a opinião desviante de um parlamentar. O manifesto sobre a Petrobras é parte da série — mas, num sentido preciso, distingue-se negativamente dos demais.

A fabricação em série de manifestos é um negócio inscrito na lógica do marketing. De fato, pouco importa a substância do texto, desde que ele ganhe suficiente publicidade, promovendo a circulação do nome dos signatários.

Como os demais, o manifesto da Petrobras é uma iniciativa em proveito próprio. Mas, nesse caso, o proveito tem dupla face: além do marketing da marca, busca-se ocultar o fracasso de uma ideologia. Por isso — e só por isso! — ele merece a crítica de quem não quer contribuir, involuntariamente, com a operação mercantil dos “intelectuais de esquerda”.

Segundo o manifesto, a Operação Lava-Jato desencadeou uma campanha da mídia malvada para entregar a Petrobras, junto com nosso petróleo verde-amarelo, aos ambiciosos imperialistas.

A meta imediata da conspiração dos agentes estrangeiros infiltrados seria restabelecer o regime de concessão. Sua meta final seria remeter-nos “uma vez mais a uma condição subalterna e colonial”. A fábula, dirigida a mentes infantis, esbarra numa dificuldade óbvia: sem o aval do governo, é impossível alterar o regime de partilha.

A Petrobras não foi derrubada à lona pelo escândalo revelado por meio da Lava-Jato, que apenas acelerou o nocaute. Os golpes decisivos foram assestados ao longo de anos, pela política conduzida nos governos lulopetistas, sob os aplausos extasiados dos “intelectuais de esquerda”.

No desesperador cenário atual, a direção da Petrobras anuncia uma redução brutal de investimentos na prospecção e extração, precisamente os setores em que a estatal opera com eficiência. O regime de partilha obriga a empresa a investir em todos os campos do pré-sal.

A troca pelo regime de concessão será, provavelmente, a saída adotada pelo governo Dilma. Os “intelectuais de esquerda”, móveis e utensílios do Planalto, escreveram o manifesto para, preventivamente, atribuir a mudança de rumo aos “conspiradores da mídia”. Por meio dessa trapaça, conciliam a fidelidade ao “governo popular” com seus discursos ideológicos anacrônicos. Ficam com o pirulito e a roupa limpa.

Há uma diferença de escala, de zeros à direita, entre as perdas decorrentes da corrupção e as geradas pelo neonacionalismo reacionário. A Petrobras é vítima, antes de tudo, do investimento excessivo movido a dívida, da diversificação ineficiente e do controle de preços de combustíveis.

Numa vida inteira de falcatruas, Paulo Roberto Costa, o “Paulinho”, e Renato Duque, o “My Way”, seriam incapazes de causar danos remotamente comparáveis aos provocados pelos devaneios ideológicos do lulopetismo — que são os dos signatários do manifesto.

“A História dirá!”: os “intelectuais de esquerda” invocam, ritualmente, o veredito de um futuro sempre adiável. O manifesto é uma manobra diversionista. Ele existe para desviar a atenção pública de um singelo, mas preciso, veredito histórico: a falência da Petrobras é obra de uma visão de mundo.

Franklin Martins, o verdadeiro autor do manifesto, cometeu um erro tático ao colocar seu nome entre os signatários. Ao fazê-lo, o ex-ministro descerra o diáfano véu de independência que cobriria a nudez do texto. O manifesto não é a “voz da sociedade”, nem mesmo de uma parte dela, mas a Voz do Brasil.

Nasceu no Instituto Lula, como elemento de uma operação de limitação dos efeitos da Lava Jato. Enquanto os “intelectuais de esquerda” assinavam uma folha de papel, Lula reunia-se com representantes do cartel das empreiteiras e Dilma preparava o “acordo de leniência” destinado a restaurar os laços de solidariedade entre as empresas e os políticos.

Sem surpresa, no último parágrafo, o manifesto menciona o ano mágico. A conspiração “antinacional” e “antidemocrática” dos inimigos da Petrobras almejaria provocar uma “comoção nacional” e, finalmente, a “repetição” do golpe militar de 1964.

Na Venezuela, que deixou de ser uma democracia, o regime aprisiona líderes opositores sob acusações fantasiosas de conspiração golpista. No Brasil, que é uma democracia, acusações similares partem dos “intelectuais de esquerda”.

Os signatários do manifesto, sempre encantados por regimes nos quais a divergência política equivale à traição da pátria, sonham com o dia em que falariam sozinhos, como porta-vozes de um poder incontestável.

O manifesto é uma peça de corrupção intelectual. Ele contamina a praça do debate público com os resíduos de um discurso farsesco. A Petrobras é um pretexto. Os “intelectuais de esquerda” enrolam-se no pendão auriverde para fingir que não estão pelados.
Por: Demétrio Magnoli Publicado em O Globo

O POVO DO LIVRO: OS JUDEUS E AS PALAVRAS


Contando com apenas 0,2% da população mundial e 2% da população americana, os judeus ganharam 22% de todos os Prêmios Nobel, 20% das Medalhas Fields para matemáticos e 67% das Medalhas John Clarke Bates para economistas com menos de 40 anos. Judeus também ganharam 38% de todos os prêmios Oscar para melhor diretor, 20% dos Pullitzer Prizes para não-ficção e 13% dos Grammy Lifetime Achievement Awards.

Essas informações constam em uma nota de rodapé do livro Civilization, de Niall Ferguson, de 2011. Desde então, judeus acumularam mais alguns desses prêmios. Além disso, Israel, com apenas 8 milhões de habitantes, é a grande locomotiva mundial quando o assunto é tecnologia, e possui mais empresas listadas no Nasdaq do que toda a Comunidade Europeia junta.

Diante desses dados, o leitor pode concluir que os judeus fazem parte de um grande complô mundial, uma conspiração planetária que os coloca no domínio de tudo, como queriam os antissemitas que produziram Os Protocolos do Sábio de Sião; ou então que eles possuem uma inegável superioridade genética. Não aprecio nenhuma das duas alternativas, e fico com uma terceira, mais plausível: o ambiente cultural do judaísmo é um fator de diferenciação que abre certa vantagem na hora de competir no mercado.

E o que justificaria tal vantagem? Que segredo cultural seria este? O novo livro do escritor israelense Amós Oz, escrito com sua filha, a historiadora Fania Oz-Salzberger, oferece uma boa dica. Em Os judeus e as palavras, os autores mergulham no grande legado do judaísmo, que não seria apenas ou principalmente religioso, muito menos genético, e sim cultural. No princípio era o verbo, e desde então também. O conteúdo verbal, transmitido de geração em geração, é o que forma esse continuum único, que sempre serviu como cola para unir os hebreus e lhes transmitir certas características interessantes.

Vale notar que os autores são judeus seculares, e com viés de esquerda quando o assunto é política. Isso não os impediu de defender a tradição, a importância da Bíblia judaica como fonte de valores, alegorias e mitos fundadores. Ao mesmo tempo em que buscam no legado das palavras de antepassados a inspiração para explicar a continuidade judaica, reconhecem que uma das características mais marcantes desse legado é justamente a ousadia de questionar, de inovar, e isso faz toda a diferença. Não só os judeus foram historicamente mais alfabetizados, por depositar grande importância na palavra, como eram questionadores e adoravam um bom debate.

“Nenhuma civilização antiga”, escreveu Mordecai Kaplan, “pode oferecer um paralelo comparável em intensidade com a insistência do judaísmo em ensinar os jovens e inculcar neles as tradições e costumes de seu povo”. Não eram apenas os ricos, mas todos os jovens que eram colocados em contato com a palavra escrita, e numa idade bastante tenra. E mais: eles aprendiam desde cedo a perguntar, questionar. No Talmude, uma opinião inteligente de um jovem às vezes prevalecia sobre a de seu mestre. Um bom aluno deve ser livre para criticar seu mestre. No judaísmo, os alunos eram encorajados a se erguer contra o professor, discordar dele, tentar provar que ele estava errado.

“Uma descendência informada é a chave para a sobrevivência coletiva”, escrevem os autores. Como povo exilado, os judeus compreenderam cedo que precisavam transmitir a memória nacional em forma de textos, o que permitiu esse foco na educação. Além disso, as histórias hebraicas presentes nesses textos não eram somente morais ou religiosas, mas também legais. Versavam sobre detalhes da vida no cotidiano, suas personagens, ainda que fictícias (ou não), eram indivíduos com problemas reais. Regras de conduta eram assim transmitidas.

Enquanto outras culturas tratavam as crianças como “puras”, vendo inocência na ignorância, os judeus eram mais realistas e sabiam que crianças não eram anjos, e que precisavam ser aculturadas. Os judeus valorizam a erudição. Não há sancta simplicitas para eles. Era preciso “passar a tocha” intelectual para a próxima geração, para que a mensagem pudesse sobreviver, assim como os valores e costumes. Essa educação baseada em perguntas era espirituosa, tratava de ideias, encorajava a curiosidade e exigia leitura.

“A propensão a discutir e o humor geram aquele outro traço judaico, a irreverência”, afirmam os autores. A palavra chutzpá captura bem essa ideia. Nem mesmo o Todo Poderoso ficou livre dessa irreverência, dos questionamentos, cobranças ou mesmo humor. “Não só não existe Deus, mas tente conseguir um encanador no fim de semana”, disse o sacrílego judeu Woody Allen, herdeiro dessa tradição. Mas não pense que está só ou é um caso isolado. Quando o repórter da BBC perguntou a um rabino de Jerusalém qual a sensação de rezar pela paz entre judeus e árabes no Muro Ocidental (das lamentações) nos últimos trinta anos, ele respondeu: “É como falar com um muro de tijolos”.

Apesar de patriarcal ou mesmo machista, como todas as civilizações antigas, o judaísmo antigo dava um crédito enorme às mulheres. A Bíblia é plena de mulheres fortes, poderosas, ativas, vocais e individualizadas, que fazem a diferença. Ninguém vai sustentar que as meninas eram tratadas como os meninos, mas poucas culturas abriram tanto espaço para a educação feminina. “E assim”, argumentam os autores, “quando as universidades abriram seus portões havia muito fechados, tanto para judeus quanto para mulheres, elas estavam mais que prontas”. Não por acaso as judias despontaram em várias áreas no século XX.

“As palavras eram suas catedrais”, dizem de forma poética pai e filha no livro. Eram histórias de indivíduos, sem deixar de lado a importância do coletivo, e sem valorizar o martírio ou a morte, e sim a vida e a sobrevivência, até porque os judeus já tinham sofrido o suficiente com o exílio e as perseguições. Isso alimentava a esperança, o desejo de superação, e tudo por meio da educação formal, da leitura dos livros sagrados. Foi assim que os judeus preservaram sua civilização, mas uma civilização viva, aberta ao questionamento, ao novo, com disputas infindáveis de diferentes interpretações. Bastam três judeus para termos quatro opiniões diferentes, diz a “piada”.

Se há uma razão para o relativo sucesso dos judeus, talvez a explicação esteja aí: nessa obsessão pela palavra, nesse incrível legado transmitido por meio da educação. O Povo do Livro, como é dito. No princípio era o verbo. E desde então continua sendo…
Por:Rodrigo Constantino Do site: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/

sábado, 14 de março de 2015

O EXPERIMENTO KEYNESIANO DA CORÉIA DO SUL SE TORNA GLOBAL


Aqueles que já atingiram uma determinada idade certamente devem se lembrar de que, no final da década de 1980 e início da década de 1990, era dado como certo que o Japão estava dominando o mundo economicamente. Os melhores e mais desejados carros eram japoneses. Seus videogames eram onipresentes. Todos os países desenvolvidos utilizavam tecnologia japonesa em tudo.

Os japoneses estavam destinados a conquistar o mundo, era o que diziam. Eles sabiam como trabalhar em equipe. Eles colocavam mais ênfase no grupo do que no indivíduo. Eles trabalhavam mais duro. Em 1992, um político japonês do alto escalão, Yoshio Sakurauchi, declarou que os americanos eram "preguiçosos demais" para competir com os trabalhadores japoneses, e que um terço dos trabalhadores americanos "não sabiam nem ler". O livro de Michael Crichton, Sol Nascente, lançado em 1992 (e que virou filme em 1993, com Sean Connery e Wesley Snipes) estimulou ainda mais essas controvérsias na mente dos americanos.

Atualmente, ninguém mais pensa que os japoneses estão dominando o mundo. O que aconteceu é que a supostamente robusta e inquebrantável economia japonesa era fundamentada menos em trabalho duro e em equipe e mais em planejamento centralizado, crédito farto e barato, subsídios às grandes corporações, e protecionismo às gigantes de vários setores. Por isso, quando a economia japonesa se estagnou após uma década de forte crescimento, tal fenômeno não deveria ter surpreendido ninguém versado na teoria dos ciclos econômicos.

Hoje, a Coréia do Sul parece ter, em vários aspectos, assumido o posto do Japão. Ao passo que a japonesa Sony entrou em profundo declínio, as coreanas Samsung e LG são hoje marcas internacionalmente respeitadas. A Hyundai, embora ainda considerada por muitos como sendo de baixa qualidade, ainda assim se expandiu maciçamente na última década. Apenas nos EUA, a marca já abriu duas fábricas de um bilhão de dólares: uma no Alabama, em 2005, e a outra na Geórgia, em 2009.

A ascensão da Coréia do Sul no cenário global

Mas a estratégia sul-coreana de dominação global é diferente da japonesa. Enquanto a cultura pop japonesa — música, filmes e seriados — jamais alcançou muita popularidade fora do Japão [Nota do IMB: os americanos certamente não foram expostos a Jaspion, Changeman e Jiraya], a cultura pop sul-coreana se transformou em um fenômeno global. Além de utilizarmos seus carros e seus celulares, também ouvimos as suas musicas a assistimos aos seus filmes.

Poucos notaram a ascensão da cultura pop sul-coreana antes de 2012, quando o clipe "Gangnam Style", do rapper sul-coreano PSY, se tornou um dos mais visualizados do YouTube em todos os tempos. Repentinamente, todos passaram a conhecer a cultura pop sul-coreana.

Adicionalmente, aqueles acostumados a baixar filmes e seriados pelo Netflix muito provavelmente já perceberam um sensível aumento na oferta de filmes sul-coreanos, incluindo-se aí filmes de grande êxito internacional, como o filme de ação Oldboy, de 2003, e o filme de monstro O Hospedeiro, de 2006.

A ascensão das músicas, dos filmes e dos seriados sul-coreanos — e também dos videogames — não foi, no entanto, uma obra do livre mercado. Foi, isso sim, resultado de uma política do governo sul-coreano voltada para coordenar, subsidiar e proteger a indústria da cultura pop sul-coreana, bem como também outras indústrias.

Em seu novo livro The Birth of Korean Cool, a autora Euny Hong explora as origens e os sucessos desse programa — que é pesadamente financiado e coordenado por agências governamentais sul-coreanos — conhecido como Hallyu, ou "A Onda Sul-Coreana". Não se trata apenas de poder econômico, mas também de relações internacionais. O governo sul-coreano utiliza a Hallyu como parte de um amplo programa criado para proteger o "poder brando" da Coréia do Sul.

Na Coréia do Sul, eles fazem de maneira diferente

Hong, que é jornalista, aborda o tópico utilizando sua própria experiência como uma sul-coreana que nasceu nos EUA e que viveu na Coréia do Sul durante sua adolescência. Ela relata o crescente nacionalismo que impregnou as escolas da Coréia do Sul e toda a sociedade, a necessidade de ser conformar com a ordem vigente, e a deferência geral que os sul-coreanos têm para com o estado e a nação, ao mesmo tempo em que um comportamento "individualista" é considerado uma espécie de patologia social.

Hong relata vários episódios que ilustram cada uma dessas características com grande compaixão pela Coréia do Sul e pelos sul-coreanos. Para qualquer ocidental com uma mentalidade mais laissez-faire, tais experiências são vistas como estupefação e talvez até mesmo com horror. Personalidades do tipo "bad boy", muito proeminentes na cultura americana, não existem na Coréia do Sul, explica Hong.

E isso pode ser visto na cultura popular do país. O mais próximo que a música pop sul-coreana já produziu de um "bad boy" é justamente o rapper PSY, que é considerado um rebelde simplesmente porque ele não tirava notas máximas na escola e ocasionalmente desapontava seus pais.

Nada surpreendentemente, relata Hong, a cultura popular na Coréia do Sul é do tipo corporativista, arregimentada, planejada e, acima de tudo, governada por uma ética de comprometimento ao grupo e de supressão do artista individual.

Por meio de uma agência governamental chamada "Ministério da Criação Futura", o governo sul-coreano trabalha em parceria com empresas privadas ostensivamente voltadas para a cultura pop com o intuito de disseminar e maximizar a influência da cultura pop sul-coreana tanto domesticamente quanto no estrangeiro.

Historicamente, o governo sul-coreano sempre recorreu ao protecionismo para estimular a cultura pop do país. Hong observa, por exemplo, que nas décadas passadas o governo sul-coreano exigiu que os cinemas do país exibissem filmes nacionais durante um mínimo de 146 dias por ano, e que "a indústria cinematográfica nacional produzisse um filme sul-coreano para cada filme estrangeiro exibido. É seguro dizer que a indústria cinematográfica nacional foi beneficiada por esse tipo de protecionismo. ... O governo também construía e gerenciava as casas de teatro".

Desde a crise financeira asiática ocorrida no final da década de 1990, no entanto, o governo sul-coreano também passou a ajudar a cultura pop sul-coreana no mercado internacional, utilizando impostos para financiar a dublagem de programas sul-coreanos em língua estrangeira e utilizando diplomatas para negociar a exibição de programas sul-coreanos nas redes de televisão de outros países.

A "cooperação" entre governo e empresas privadas

Assim como a economia japonesa é há muito tempo influenciada e até mesmo dominada por grandes corporações ligadas umbilicalmente ao governo — entidades essas conhecidas como keiretsu e zaibatsu —, a Coréia do Sul também apresenta um arranjo análogo, cujas empresas são conhecidas como chaebols. Sendo a versão sul-coreana do "grande demais para falir", mas muito mais significativas para economia sul-coreana como um todo, essas entidades têm sido essenciais para executar as políticas do governo sul-coreano por meio da "pareceria governo-chaebol".

Hong observa que a ascensão, na Coréia do Sul, da cultura pop promovida pelo governo não pode ser completamente entendida fora desse contexto. Essa tradição de parceria entre governo e grandes corporações fez com que Samsung, LG e outras grandes empresas fossem criadas por meio de favores governamentais e com dinheiro de impostos.

Como explica Hong em seu livro: "Assim como várias histórias de sucesso discutidas neste livro, a ascensão da Samsung no cenário mundial é atribuível [à] ... intervenção direta do governo sul-coreano durante estágios cruciais do desenvolvimento da empresa".

E caso alguém pense que a Samsung é apenas uma corporação como outra qualquer, Hong nos lembra que "a Samsung sozinha é responsável por um quinto do PIB do país". Não é difícil entender por que o estado sul-coreano vê a Samsung como sendo essencialmente uma continuação de si próprio. "O que é bom para a Samsung é bom para a Coréia do Sul" é um sentimento que, sem dúvidas, perpassa todos os corredores de todas as agências governamentais da Coréia do Sul.

Hong, como jornalista, simplesmente aceita a política econômica do governo sul-coreano como um dado da natureza. "É claro que todo esse planejamento centralizado da economia sul-coreana foi um enorme sucesso", é o que ela dá a entender. É perceptível como o padrão de vida do país cresceu acentuadamente desde 1960, quando a Coréia do Sul era essencialmente um país de terceiro mundo.

Trata-se de uma grande história de sucesso — ao menos é o que nos dizem — do neo-mercantilismo keynesiano, no qual grandes corporações controladas ou subsidiadas pelo governo executam planos e estratégias governamentais para aprimorar a economia, e tudo isso baseando-se em decisões de funcionários públicos.

Já aqueles que realmente conhecem os fundamentos da teoria econômica, e que seguem os ensinamentos de Bastiat, apenas olham para esse arranjo econômico e pensam em tudo aquilo que "não é visto" e que está oculto sob todo esse arranjo de favoritismo governamental e decisões centralizadas. Como os sul-coreanos gastariam seu dinheiro se ele não lhes fosse confiscado pelo governo e repassado para as poderosas chaebols? O que eles consumiriam se o governo não tomasse sua renda para subsidiar empresas ligadas a políticos? Mais ainda: quais inovações poderiam ter sido criadas se as pequenas e médias empresas da Coréia do Sul tivessem a oportunidade de pelo menos poder concorrer com esses grandes conglomerados protegidos e subsidiados pelo governo?

Jamais saberemos.

[Nota do IMB: esse modelo sul-coreano de parceria entre governo e grandes corporações, e de estímulo governamental — por meio do BNDES — para a criação das "campeãs nacionais" já existe há muito tempo no Brasil. Só que não deu muito certo... Enriqueceu sobremaneira os empresários ligados ao regime, mas não trouxe nenhum benefício à população, que ficou apenas com a fatura]

Histórias que exigem cautela

O que realmente sabemos, no entanto, é que, quando um governo decide colocar todos os ovos em uma única cesta, como fez o estado sul-coreano, o sucesso pode ser bastante efêmero. E se a Samsung for pelo mesmo caminho da Sony? E se a Hyundai tiver o mesmo destino da General Motors? O governo sul-coreano simplesmente recorrerá a mais pacotes de socorro, mais "estímulos" e, como sugerem as experiências japonesas e americanas, mais programas de crédito farto e barato?

Em uma cultura que preza o trabalho duro, que vê o lazer como algo suspeito, e cujos estudantes têm de estudar dezoito horas por dia, é bem possível que esse arranjo dure por bastante tempo: enquanto os investimentos errôneos subsidiados pelo governo vão se avolumando, cada vez mais riqueza é confiscada da população trabalhadora (e condescendente) para continuar sustentando grandes corporações. 

Enquanto houver uma população trabalhadora, dedicada e que produz uma riqueza que é confiscada sem protestos, esses desequilíbrios podem se perpetuar por muito tempo.

Porém, como o Japão — e cada vez mais os EUA — demonstrou, tais políticas acabam em estagnação e destruição de capital. Sob tais condições, os trabalhadores japoneses e americanos trabalham mais apenas para manter o padrão de vida de antes, mas a renda disponível não aumenta.

O Japão, que já foi visto como "o futuro dominador do mundo", é um exemplo de cautela. A Coréia do Sul, como mostra o livro The Birth of Korean Cool, ainda está na fase do crescimento. Mas já vimos esse filme antes, só que em outro idioma.

[Nota do IMB: Não deixa de ser extremamente curioso ver progressistas brasileiros — que defendem a redução da jornada de trabalho, o aumento do assistencialismo, o fim da família tradicional, a supressão de provas e vestibulares, e até mesmo o fim da competição entre estudantes — defendendo a adoção do modelo sul-coreano, que impõe longas jornadas de trabalho e de estudo, uma rigorosa competição entre alunos, a submissão dos filhos aos pais, o controle estatal da produção cultural (o governo proíbe qualquer coisa considerada "subversiva") e que vê o ócio e o lazer como um comportamento típico de derrotados e preguiçosos. 

Mais ainda: toda essa cultura sul-coreana foi implantada por um governo militar.

De resto, vale repetir, a parceria entre governo e grandes corporações, e o estímulo governamental — por meio do BNDES — para a criação das "campeãs nacionais" já existe há muito tempo no Brasil. Enriqueceu sobremaneira os empresários ligados ao regime, mas não trouxe nenhum benefício à população, que ficou apenas com a fatura.]




Ryan McMaken é o editor do Mises Institute americano.