sexta-feira, 10 de junho de 2016

SEXODUS

Sexodus: homens estão desistindo de mulheres e abandonando a sociedade

“Os meninos da minha geração estão acabados”, diz Rupert, um jovem alemão entusiasta de vídeo game. “Descobri esta realidade ao longo dos últimos meses. O casamento está morto. O divórcio significa que você estará ferrado a vida toda. As mulheres têm desistido de monogamia, o que as torna desinteressantes para quem deseja um relacionamento sério ou para formar uma família. É assim que as coisas funcionam agora. Mesmo se assumirmos o risco, há grandes chances de que os filhos não sejam nossos. Na França, os maridos precisam pagar pensão para as crianças geradas por adultério.”
“Na escola, os meninos são constantemente prejudicados. Escolas passaram a ser projetadas para as meninas. Nos EUA, meninos são forçados a tomar Ritalin para calá-los. E enquanto as meninas são favorecidas por cotas, os meninos estão ficando para trás.”

“Ninguém da minha geração acredita que irá obteruma aposentadoria significativa. Temos 1/3 ou 1/4 da riqueza das gerações anteriores, muitos fogem para o ensino superior na esperança de evitar o desemprego e a pobreza, porque não há empregos.”

“Tudo isso não seria tão ruim se pudéssemos, ao menos, aliviar nossa dor com as meninas. Mas somos tratados como potenciais pedófilos e estupradoresapenas por mostrar interesse. Minha geração é os ‘beautiful ones’“, suspira ele, referindo-se a umexperimento de 1960 em camundongos que supostamente previu um futuro sombrio para a raça humana.

Após a superpopulação sair de controle, os ratos do sexo feminino no experimento “universo dos ratos” do cientista John Calhoun pararam de reproduzir, os ratos machos passaram a fugir completamente do contato com outros indivíduos. Concentraram-se em comer, dormir e higienizarem-se, não fazendo nada além. Tal geração de machos tinha pelos brilhantes, mas vidas vazias.

“Os paralelos são surpreendentes”, diz Rupert.
Sexodus na Universidade

Nunca antes na história as relações entre os sexos foi tão cheia de ansiedade, hostilidade e mal-entendido. Para as feministas radicais, a força motriz por trás de muitas mudanças sociais nas últimas décadas, isso é um sinal de sucesso: elas querem derrubar as instituições e estruturas de poder que sustentam a sociedade sem se importarem com a queda. Destruição niilista é parte do roteiro delas.

Mas, para o resto de nós, a visão da sociedade desmoronando, e os homens e mulheres comuns sendo separados e conduzidos para misérias graças a um grupo pequeno, mas altamente organizado de agitadores, é angustiante. Especialmente porque, como um número cada vez maior de observadores sociais percebe, uma geração inteira de jovens, em sua maioria homens, está ficando para trás em meio aos destroços do projeto de engenharia social feminista.

Comentaristas sociais, jornalistas, acadêmicos, cientistas e os próprios jovens têm notado a tendência: entre os homens de cerca de 15 a 30 anos há um número crescente que decidiu abandonar a sociedade como um todo, passaram a desistir de mulheres, sexo e relacionamentos para refugiarem-se em pornografia, fetiches sexuais, drogas, jogos de vídeo game e, em alguns casos, cultura lad. Tudo com o objetivo de isolarem-se de um ambiente hostil e socialmente debilitante criado pelo feminismo moderno.

É difícil culpá-los. Serão cruelmente ridicularizados como “bebês chorões” apenas por contestarem as condições absurdamente desleais as quais estão submetidos na faculdade, bares, clubes. Pior ainda, os homens serão culpados se fizerem ou não fizerem: vistos como covardes “moradores de porão” que fogem de mulheres exigentes com irrealistas expectativas ou chamados de estupradores e misóginos apenas por expressarem interesse sexual.

Jack Rivlin, editor-chefe do tabloide de sucesso criado por alunos “The Tab“, é a inteligência responsável por mais de 30 jornais universitários. Ele talvez seja a pessoa mais bem colocada na Inglaterra para observar a mudança de comportamento da juventude. Rivlin concorda, a atual geração de jovens do sexo masculino acha particularmente difícil se envolver com as mulheres.

“Os adolescentes sempre foram ineficientes no contato com as meninas, mas agora há o medo de queser bem intencionado já não é suficiente, e você pode entrar em apuros apenas por ser desajeitado“, diz ele. “Por exemplo, inclinar-se para um beijo pode deixá-lo com a fama de esquisito, ao invés de apenas inapto.“

As novas regras de comportamento que se espera dos homens nunca foram claramente explicadas, diz Rivlin, os meninos estão ficando confusos e neuróticos sobre como devem intereagir com as meninas. “Isso poderia soar como uma coisa boa porque incentiva os homens a terem uma abordagem menos romântica e mais prática na hora de perguntar às mulheres como eles devem se comportar, mas isto tem feito muitos deles optarem por desistirem do jogo e retirarem-se para os seus grupos de rapazes, onde ser rude com as mulheres é motivo de aprovação, além de permitir evitar totalmente a socialização um-a-um com o sexo oposto.”

“Há um monte de homens que ignoram as mulheres porque estão com medo e não sabem como agir. Desnecessário dizer que meninos que nunca passaram algum tempo a sós com as meninas nãosão muito bons em relacionamentos.“

Rivlin também notou um aumento na dependência de substâncias químicas, normalmente álcool, que os meninos estão usando para acalmar os nervos. “Eu ouvi um monte de estudantes do sexo masculino se gabarem de nunca terem feito sexo sóbrios”, diz ele. “Eles estão, obviamente, com medo, o que é natural, mas estariam com muito menos medo se entendessem ‘as regras’.”

O resultado? “Um monte de jovens legais mas inábeis estão optando por não se aproximarem das mulheres, não há mais oportunidade para que eles cometam erros sem sofrer constrangimento.”

Pior ainda, este efeito é sentido de forma mais intensa entre as comunidades mais pobres e com menor nível educacional, onde o pacote de recursos de suporte disponíveis para os homens jovens é pequena. Na Universidade de Cambridge, o fenômeno mal é registrado, de acordo com a presidente da Union Society Tim Squirrell.

“Eu não notei mudanças”, diz ele. “Este ano foi a introdução de oficinas obrigatórias de ‘consentimento feminino’ para calouros, o que eu acredito que seja uma coisa boa, e tem havido um grande esforço por parte das Organizações de Mulheres, em particular, para tentar combater a lad culture no campus.

“Eu acho que as pessoas provavelmente estão fazendo tanto sexo quanto sempre fizeram”, acrescenta. Em Cambridge, é claro, pode não significar muito, e por uma variedade de razões socieconômicas e de classes as tribos de Oxford e Cambridge estão escapando do efeito do isolamento dos rapazes.

Mas, mesmo em uma universidade tão prestigiado, com uma maioria de classe alta e média-alta, aulas obirgatórias para ensinar a necessidade do “consentimento da mulher” estão sendo implementadas. Squirrell, que admite ser feminista com simpatia por políticas de esquerda, acha que as aulas são uma boa ideia.

Para a acadêmica Camille Paglia, as mulheres de hoje estão sendo educadas para se vitimizarem, ensinadas a serem vulnaráveis a agressões e convencidas de que as abordagens ou mal-entendidos representam abuso ou assédio. Isso pode funcionar nos limites seguros de campus, onde os homens podem ter suas carreiras acadêmicas destruídas pela mera acusação de uma aluna.

Mas, de acordo com Paglia, quando a mulher vai para o mundo real, sem a rede de segurança dos comitês de estupro da faculdade, ela é deixada totalmente despreparada para a realidade por vezes violenta da sexualidade masculina. E o pânico e medo estão piorando ainda mais a situação dos homens. No geral, este modelo de educação está se tornando uma experiência infeliz para os rapazes.
Autor: Milo Yiannopoulos.

Sexodus: meninos estão sendo prejudicados na vida escolar

Hoje em dia, nas escolas americanas e inglesas (NdT: de todo o Ocidente), os meninos sãoimplacavelmente tratados como se fossem doentes, tal como os acadêmicos começaram a avisar em 2001. Travessuras típicas da natureza dos meninos passaram a ser vistas como incômodo escolar, enquanto o comportamento das meninas tornou-se um padrão, uma regra de ouro a ser imitada por ambos os sexos, a métrica contra a qual os meninos são julgados e condenados como criançasproblemáticas. A solução para os garotos incapazes de se adaptarem muitas vezes é o uso de drogas.

Um em cada sete meninos americanos será diagnosticado comTranstorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em algum momento desua carreira escolar. A milhões delesserá prescrito um potente estabilizador de humor, como o Ritalin, por terem cometido o crime de nascer homem. Os efeitos colaterais destasdrogas podem ser terríveis e incluir até amorte súbita.

Academicamente, os meninos estão ficando para trás das meninas, provavelmente porque o foco, nas últimas décadas, foi colocado nas realizações das alunas, sobrando pouco ou nenhum para os alunos, que passaram a obter notas mais baixas, menos honras acadêmicas, menor grau de instrução e piores habilidades informacionais úteis ao mercado de trabalho. A alfabetização dos meninos passa por uma crise em todo o Ocidente. Estivemos tão obcecados sobre a educação das meninas que não notamos que os meninos estão em apuros nas escolas.

Então, o que aconteceu com os meninos que, em 2001, perderam espaço para as meninas na escola, tiveram menos probabilidade de cursar uma faculdade, foram tratados com medicamentos que não precisavam e tiveram seus problemas de autoestima e confiança simplesmente ignorados, tudo isso enquanto ridicularizados por um sistema feminista e esquerdista com total controle sobre os sindicatos de educação? Em resumo, cresceram disfuncionais, mal servidos pela sociedade, profundamente miseráveis e, em muitos casos, totalmente incapazes de se relacionarem com o sexo oposto. 

Os rapazes foram traídos pelo sistema de educação e pela cultura em geral em um número tão grandeque representam a primeira geração do que está sendo chamado de sexodus, uma saída em larga escala do comportamento social “normal” por homens que decidiram não ter mais o incômodo de formar relacionamentos saudáveis ou participar plenamente de suas comunidades locais, dasdemocracias nacionais e de outras estruturas sociais do mundo real.

Uma segunda geração do sexodus está em gestação nos dias de hoje, potencialmente com um dano maior sendo feito a ela devido ao aparecimento de leis absurdas, inoperacionais, hipócritas e claramente misândricas tais como a legislação “Yes Means Yes” na Califórnia – e pela terceira onda do feminismo que domina jornais tais como o The Guardian e companhias tais como Vox e Gawker, mas que felizmente vem perdendo espaço ante as próprias mulheres que passaram a negar, em uma proporção de 1 em cada 3, terem qualquer relação com o feminismo.
Autor: Milo Yiannopoulos. Do site: http://www.observatoriodarede.com/

segunda-feira, 6 de junho de 2016

O PAPA CEDEU A EUROPA AO ISLÃ?

Em 2006, o Papa Bento XV ressaltou que nenhum Papa jamais ousou dizer que há um elo entre violência e Islã. Dez anos depois o Papa Francisco jamais invoca pelo nome os responsáveis pela violência anticristã e nunca menciona a palavra "Islã".


O Papa Francisco nem tentou 're-evangelizar' ou reconquistar a Europa. Ao que tudo indica, ele acredita piamente que o futuro do cristianismo está nas Filipinas, Brasil e África. Provavelmente pela mesma razão, o Papa utiliza menos de seu tempo e trabalho censurando o terrível destino dos cristãos no Oriente Médio.

O "multiculturalismo" na Europa é a mesquita erguida sobre as ruínas da igreja. Não é a síntese defendida pelo Papa Francisco. É o caminho da extinção.

Pedir à Europa para que seja "multicultural" enquanto passa por uma dramática 'descristianização' é extremamente arriscado. Na Alemanha, um relatório que acaba de ser divulgado, constatou que o "país se tornou, em termos demográficos, um país multireligioso". No Reino Unido, uma pesquisa de opinião abrangente constatou que a "Grã-Bretanha não é mais um país cristão". Na França, o Islã também está superando o cristianismo como religião dominante.

Ao desenrolarmos a lista das viagens apostólicas do Papa Francisco -- Brasil, Coreia do Sul, Albânia, Turquia, Sri Lanka, Equador, Cuba, Estados Unidos, México, Quênia, Uganda, Filipinas -- poder-se-ia dizer que a Europa não está exatamente no topo da sua agenda.

Os dois pontífices que o antecederam lutaram pela continuidade do cristianismo. O Papa João Paulo II enfrentou o Comunismo ao auxiliar na derrubada do Muro de Berlim e a Cortina de Ferro. O Papa Bento XVI atacou de frente "a ditadura do relativismo" (a crença segundo a qual a verdade está nos olhos de quem a vê) e apostou tudo na renovação da evangelização do continente ao viajar através dele (ele visitou três vezes a Espanha) e em discursos magnificentes como os proferidos em Regensburg, onde ele falou franca e firmemente a respeito da ameaça do Islã e no Parlamento Alemão, onde alertou os políticos presentes no tocante ao declínio da religiosidade e o "sacrifício de seus próprios ideais em nome do poder".

O Papa Francisco, diferentemente, simplesmente ignora a Europa, como se já a considerasse perdida. O Ex-cardeal argentino, representante do cristianismo "Sul global", realizou viagens espetaculares às ilhas dos migrantes de Lampedusa (Itália) e Lesbos (Grécia), mas nunca ao coração do continente. O Papa Francisco também dificultou o ingresso dos Anglicanos na Igreja Católica, ao menosprezar o diálogo com eles.

Acima de tudo, no entanto, em seu importante discurso proferido em 6 de maio durante a entrega do Prêmio Internacional Carlos Magno, o Papa perante líderes europeus, repreendeu severamente a Europa no tocante aos imigrantes pedindo-lhes que sejam mais generosos com eles. Em seguida ele introduziu algo revolucionário no discurso: "a identidade da Europa é, e sempre foi uma identidade multicultural", ressaltou o Papa. Essa concepção é questionável.

O multiculturalismo é uma política específica, formulada nos anos 1970, estando ausente do vocabulário político de Schuman e Adenauer, dois dos fundadores da Europa. Agora ela foi invocada pelo Papa que falou da necessidade de uma nova síntese. E essa síntese trata do quê?

Hoje o cristianismo na Europa parece não ter importância e ser irrelevante. A religião se defronta com um desafio ideológico e demográfico, ao mesmo tempo em que os remanescentes pós Auschwitz das comunidade judaicas estão fugindo do novo antissemitismo. Nessas condições, uma síntese do velho continente e o Islã equivaleria a rendição à pretensão da Europa em decidir seu próprio futuro.

O "multiculturalismo" é a mesquita erguida sobre as ruínas da igreja. Não é a síntese defendida pelo Papa. É o caminho da extinção.

Pedir à Europa para que ela seja "multicultural" enquanto está passando por uma dramática 'descristianização' também é extremamente arriscado. Na Alemanha, um relatório que acaba de ser divulgado, constatou que o "país se tornou, em termos demográficos, um país multireligioso". No Reino Unido, uma pesquisa de opinião abrangente constatou que a "Grã-Bretanha não é mais um país cristão". Na França, o Islã também está superando o cristianismo como religião dominante. É possível encontrar a mesma tendência em todos os lugares, da Protestante Escandinávia à Bélgica Católica. É por esta razão que o Papa Bento XVI estava convencido que a Europa precisava ser "'re-evangelizada'." O Papa Francisco nem tentou 're-evangelizar' ou reconquistar a Europa. Contrariamente, ao que tudo indica, ele acredita piamente que o futuro do cristianismo está nas Filipinas, Brasil e África.

Provavelmente pela mesma razão, o Papa utiliza menos de seu tempo censurando o terrível destino dos cristãos no Oriente Médio. Sandro Magister, o observador do Vaticano mais conceituado da Itália, lança uma luz sobre o silêncio do Papa:

"Ele permaneceu em silêncio em relação a centenas de estudantes nigerianas sequestradas pelo Boko Haram. Ele permaneceu em silêncio a respeito de Meriam, a jovem mãe sudanesa, sentenciada à morte exclusivamente por ser cristã e no final libertada com a intervenção de outros. Ele nada diz em relação à mãe paquistanesa Asia Bibi, que se encontra no corredor da morte há cinco anos porque ela também é uma 'infiel', o Papa sequer respondeu a duas cartas devastadoras que ela lhe enviou este ano, tanto antes quanto depois da reconfirmação da sentença".

Em 2006, o Papa Bento XV, em sua palestra proferida em Regensburg, ressaltou que nenhum Papa jamais ousou dizer que havia um elo entre violência e Islã. Dez anos depois o Papa Francisco jamais invoca pelo nome os responsáveis pela violência anticristã e nunca menciona a palavra "Islã". Recentemente o Papa Francisco também reconheceu o "Estado da Palestina", antes mesmo dele existir -- uma estreia simbólica sem precedentes. O Papa também poderá abandonar a longa tradição da Igreja da "guerra justa", a guerra considerada justificável moral e teologicamente. O Papa Francisco sempre fala da "Europa dos povos", mas nunca da "Europa das Nações". Ele defende o acolhimento de migrantes e lava seus pés, ao passo que ignora que essas incontroladas ondas demográficas estão transformando a Europa, pouco a pouco, em um estado islâmico.



Em 2006, o Papa Bento XV (esquerda) ressaltou que nenhum Papa jamais ousou dizer que há um elo entre violência e Islã. Dez anos depois o Papa Francisco (direita) jamais invoca pelo nome os responsáveis pela violência anticristã e nunca menciona a palavra "Islã". (imagem: Benedict: Flickr/Igreja Católica da Inglaterra | Francis: Wikimedia Commons/korea.net)

O significado das viagens do Papa Francisco às ilhas de Lampedusa na Itália e Lesbos na Grécia: ambas símbolos de uma dramática fronteira geográfica e civilizacional. Também é este o significado do discurso do Papa na entrega do Prêmio Internacional Carlos Magno.

Será que o chefe do cristianismo desistiu da Europa como uma terra cristã?

Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.Original em inglês: Has the Pope Abandoned Europe to Islam?
Tradução: Joseph Skilnik
Do site: http://pt.gatestoneinstitute.org/8198/papa-francisco-isla

domingo, 5 de junho de 2016

DEMÊNCIA DIGITAL E MORTE POR GPS


"Veja na Internet."

No ano passado, no Rio de Janeiro, um casal foi recebido a balas – a mulher morreu – ao entrar por engano em uma favela após o GPS tê-los enviado para a RUA Quintino Bocaiúva em vez da AVENIDA homônima. O erro não foi do GPS mas da confiança que nós estamos depositando na informática (GPS, internet, smartphones etc.). Agora, a Ars Technica traz uma longa matéria sobre o mesmo problema intitulada Death by GPS – Why do we follow digital maps into dodgy places?

A resposta está nos ensinamentos do controverso neurocientista alemão Manfred Sptizer, autor do livro Digitale Demenz, sobre o impacto das novas tecnologias no aprendizado. O uso excessivo, prova o doutor, leva ao declínio das funções cognitivas. Uma criança, acostumada a “aprender” pelo Google, por exemplo, ficará totalmente desorientada ao ser retirado dele esse instrumento tecnológico. O mesmo vale para o GPS. As pessoas ficam desatentas e perdidas, nem sabem onde estão. Além da desatenção que provocam, as novas tecnologias deixam de lado uma fase muito importante do aprendizado: a memorização. No pain no gain, não tem jeito. Hoje, sabemos muito bem que os jovens sequer sabem quanto é 7×4. Experimente perguntar. Se quiser diversão de fato, vá para os números altos na tabuada do 7, 8 ou 9. (Demência Digital é um termo que surgiu na Coreia do Sul para designar a verdadeira dependência – igual drogas e sexo – de muitos coreanos em relação ao uso excessivo de computadores.)

Uma experiência recente levada a cabo pela Univesity of Missouri com donos de iPhones demonstrou como isso funciona. Voluntários participaram de um teste onde tinham sensores fixados ao corpo para medir temperatura, batimentos cardíacos, suor etc. Após uma primeira rodada, na qual os cobaias respondiam perguntas tendo perto deles o smartphone, a equipe de testes dizia que os sensores apresentavam comportamento errático, talvez por causa da influência dos celulares e os tiraram dos coitados. Resultado: na medição seguinte, aumentou o batimento cardíaco, o suor e ansiedade. mostrando a dependência – demência digital? – que os infelizes tinham dessas traquitanas. O resultado desse teste com iPhones é, logicamente, extensível a todos os smartphones.

O Dr. Sptizer é radical: as novas tecnologias não devem ser usadas no processo pedagógico até os estudantes atingirem 18 anos. Isso mesmo, você leu direito, vou escrever por extenso, não é erro de digitação: DEZOITO anos. Como sabe que isso é impraticável, ele dá uma tolerância: quinze anos. Isso mostra a maluquice de programas como “um computador por aluno”. Spitzer prevê o futuro desses alunos: “Eles não terão a capacidade básica de pensar nem conseguirão se relacionar face a face com as pessoas ao seu redor. Ao contrário, dependerão da internet e dos dispositivos móveis de modo muito doentio.”

Por seu posicionamento, digamos, inusitado, o doutor alemão enfrenta reações violentas, como a de um jovem que escreveu uma carta onde dizia mais ou menos o seguinte: “Estou no videogame matando inimigos com o meu kalashnikov virtual; se tivesse um de verdade, iria aí matar vocẽ.”
Por: Ricardo Hashimoto, engenheiro civil, edita o blog 13maio1917
Do site:http://www.midiasemmascara.org/ 


sexta-feira, 3 de junho de 2016

KEYNES TEM QUE MORRER PARA QUE A ECONOMIA SOBREVIVA


Nas eleições presidenciais americanas de 2012, Barack Obama alertou que os Estados Unidos mergulhariam numa profunda depressão se o plano de Ron Paul de cortar $ 1 trilhão do orçamento federal fosse posto em prática.

Opa, perdão. Não foi Obama quem alertou que os cortes orçamentários levariam à depressão.


Romney acabaria se tornando o candidato do Partido Republicano, o autointitulado "partido pró-livre mercado".

Uma ideologia se torna vitoriosa quando ambos os lados da "opinião respeitável" tomam suas ideias básicas como algo natural e inquestionável. Eis o quão completa foi a vitória keynesiana.

A bem da verdade, o keynesianismo já havia se tornado a ideologia prevalecente uma década antes de Romney sequer ter nascido.

A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, o influente tratado de John Maynard Keynes, surgiu durante a Grande Depressão, uma época em que um grande número de pessoas começava a duvidar dos méritos e da resiliência do capitalismo. Era uma obra de teoria econômica, mas seus propagandistas insistiam que ela oferecia também respostas práticas para questões contemporâneas urgentes, como: como ocorrera a Depressão, e por que estava sendo tão duradoura?

A resposta para ambas as perguntas, segundo Keynes e seus seguidores, era a mesma: falta de intervenção estatal.

No entanto, como demonstrou Murray Rothbard em seu livro de 1963 A Grande Depressão Americana, assim como Lionel Robbins e outros também já haviam escrito à época, a Depressão certamente não fora causada por falta de intervenção estatal. Ela foi causada pelas políticas de expansão de crédito orquestrada pelos bancos centrais em todo o mundo, e foi prolongada por causa da imposição de várias soluções burlescas que os governos seguiam improvisando e implantando.

Para começar, Herbert Hoover aumentou os gastos do governo federal em 43% em um único ano: o orçamento do governo, que havia sido de US$ 3 bilhões em 1930, saltou para US$ 4,3 bilhões em 1931. Já em junho de 1932, Hoover aumentou todas as alíquotas do imposto de renda, com a maior alíquota saltando de 25% para 63% (e Roosevelt, posteriormente, a elevaria para 82%). 

A Grande Depressão, na verdade, não precisaria durar mais de um ano caso o governo americano permitisse ampla liberdade de preços e salários (exatamente como havia feito na depressão de 1921, que foi ainda mais intensa, mas que durou menos de um ano justamente porque o governo permitiu que o mercado se ajustasse). Porém, o governo fez exatamente o contrário: além de aumentar impostos e gastos, ele também implantou políticas de controle de preços, controle de salários, aumento de tarifas de importação (que chegou ao maior nível da história), aumento do déficit e estimulou uma arregimentação sindical de modo a impedir que as empresas baixassem seus preços.

Contudo, a tese de que, durante uma recessão — e, principalmente, durante uma depressão — os governos nada deveriam fazer, não agradava aos próprios governos. Políticos não gostam de inação; eles gostam de serem vistos como "pessoas que fazem". Consequentemente, era bem mais atraente às autoridades a mensagem que lhes transmitia Keynes: o livre mercado gera depressões, e para que haja prosperidade é necessário aumentar os gastos e intervenções do governo.

Discorramos brevemente sobre o livro que deu início a essa revolução ideológica. Para ser eufemista, a Teoria Geral não era exatamente o tipo de texto que alguém imaginaria que pudesse ter um poder avassalador.

Paul Samuelson, que viria a se tornar um dos mais notáveis propagandistas mundiais do keynesianismo, admitiu em um momento de rara sinceridade que, quando leu o livro pela primeira vez, não conseguiu ter "a menor ideia do que se tratava". "Acho que não estou revelando nenhum segredo", disse ele, "quando afirmo solenemente — com base em lembranças pessoais vívidas — que ninguém em Cambridge, Massachusetts, realmente conseguiu entender o que estava escrito no livro, até mais ou menos doze ou dezoito meses após a publicação."

A Teoria Geral, prosseguiu ele:



É um livro mal escrito e mal organizado; qualquer leigo que, ludibriado pela reputação passada do autor, comprasse o livro, teria sido lesado em cinco xelins. Não é adequado para uso em sala de aula. É arrogante, rancoroso, polêmico e pouco generoso em seus créditos. É cheio de mistificações e confusões. ... Em suma, uma obra de gênio.

Murray Rothbard, que após a morte de Ludwig von Mises passou a ser considerado o decano da Escola Austríaca de Economia, escreveu vários textos críticos importantes sobre Keynes, bem como um longo e revelador ensaio biográfico sobre o cidadão. O primeiro desses textos veio na forma de um ensaio escrito quando Murray tinha apenas 21 anos de idade: Spotlight on Keynesian Economics. O segundo surgiu em seu tratado de 1962, Man, Economy, and State, e o terceiro compôs um capítulo de seu livro Por uma Nova Liberdade.

Murray não mediu palavras, referindo-se ao keynesianismo como "o embuste mais nocivo e bem-sucedido da história do pensamento econômico". "Toda a lógica keynesiana", acrescentou, "é um amálgama de distorções, falácias e premissas drasticamente fantasiosas."

Além dos problemas do sistema keynesiano, havia os lamentáveis traços de Keynes como pessoa, dissecados nesta mini-biografia sobre Keynes. Deixarei Murray descrevê-los:



O primeiro era sua presunçosa vaidade, que lhe assegurava que pudesse lidar com todos os problemas intelectuais de forma rápida e acurada, e que o levou a desprezar qualquer princípio geral que pudesse limitar seu ego desenfreado. O segundo era seu forte sentimento de que não apenas havia nascido na elite britânica dominante, como também era predestinado a liderá-la. [...]

O terceiro elemento era seu profundo ódio e desprezo pelos valores e virtudes da burguesia, pela moralidade convencional, pela poupança, pela frugalidade, e pelas instituições básicas da vida familiar.

Quando ainda estudante na Universidade de Cambridge, Keynes integrou um grupo exclusivo e secreto denominado Os Apóstolos. Fazer parte desse grupo alimentou sua vaidade, sua egolatria e seu desprezo pelos outros. Em uma carta pessoal, ele escreveu: "Seria monomania esta avassaladora superioridade moral que sentimos? Tenho a sensação de que a maior parte do resto [do mundo além dos Apóstolos] nunca percebe absolutamente nada. São ou muito idiotas ou muito corrompidos."

Em sua juventude, Keynes e seus amigos se tornaram o que ele próprio denominava "imoralistas". Em um texto de 1938 intitulado "My Early Beliefs", ele escreveu:



Repudiávamos absolutamente qualquer obrigação pessoal nossa de obedecer a regras gerais. Tínhamos o direito de julgar cada indivíduo em seus méritos, e tínhamos a sabedoria para fazê-lo com êxito. Este era um componente muito importante da nossa crença, e a defendíamos com violência e agressividade. Para o mundo externo, essa era a nossa característica mais evidente e perigosa. Repudiávamos totalmente quaisquer formas de moralidade, convenção e sabedoria tradicionais. Éramos, em suma, e no sentido mais exato do termo, imoralistas.

Keynes tinha 55 anos quando publicou esse texto. E, mesmo naquele estágio já avançado de sua vida, ele afirmouque o imoralismo "ainda é, no fundo, a minha religião. [...] ainda sou e sempre serei um imoralista".

No campo da economia, Keynes exibiu o mesmo tipo de abordagem que adotara em relação à filosofia e à vida em geral. "Tenho medo de 'princípios'", disse ele a uma comissão parlamentar em 1930. Essa, naturalmente, é a atitude de qualquer pessoa que ambiciona influência, prestígio e o exercício do poder; ter princípios apenas obstruiria seu caminho.

Dessa maneira, Keynes inicialmente defendia o livre comércio, depois virou a casaca em 1931 e se tornou um protecionista, voltando depois a defender o livre comércio durante a Segunda Guerra Mundial. Como disse Rothbard: "Nunca qualquer exame de consciência ou até mesmo uma simples hesitação refrearam suas mudanças vertiginosas."

Seu livro a Teoria Geral dividiu a população mundial em vários grupos, cada um com suas características próprias. Aqui Keynes pôde dar vazão a seus ódios crônicos.

Primeiramente havia uma grande massa de consumidores, estúpidos e robóticos, cujas decisões de consumo eram fixas e determinadas por forças alheias, de forma que Keynes pôde reduzi-los a uma simples e matemática "função de consumo".

Depois havia um subconjunto de consumidores, os poupadores burgueses, por quem Keynes tinha um particular desprezo. No passado, tais pessoas eram louvadas por seu hábito de poupar, que era o que possibilitava os investimentos que elevaram o padrão de vida de toda a população. Mas o sistema keynesiano rompeu o vínculo entre poupança e investimento, alegando que os dois não tinham qualquer relação um com o outro. A poupança era, na verdade, um entrave ao sistema, dizia Keynes, e podia gerar recessões e depressões.

Assim, Keynes vituperou a burguesia, os hábitos burgueses e a respeitabilidade moral de se levar uma vida frugal e tradicional. Poupar era tolice, não sabedoria.

O terceiro grupo eram os investidores. Em relação a estes, Keynes era um pouco mais favorável. As atividades dessas pessoas não podiam ser reduzidas a uma mera função matemática. Elas eram dinâmicas e livres. Porém, e infelizmente, elas também eram dadas a oscilações selvagens e irracionais em seu comportamento e em sua visão de mundo. Essas oscilações irracionais faziam da economia uma montanha-russa.

Finalmente, chegamos ao quarto e último grupo. Esse grupo é supremamente racional, economicamente sábio, e indispensável à estabilidade da economia. Esse grupo não apenas é capaz de invalidar as decisões tolas de todos os anteriores, como também é perfeitamente apto a impedir a economia de cair em depressões ou excessos inflacionários.

Você provavelmente não ficará espantado ao descobrir que os oniscientes e perspicazes peritos que integram o quarto grupo de Keynes são os políticos e as autoridades do governo.

Para compreender exatamente o que Keynes esperava que os políticos fizessem, analisemos brevemente o sistema econômico desenvolvido por ele em seu livro a Teoria Geral. Sua argumentação básica é que a economia de mercado tende a um estado crônico de subutilização dos recursos. Para que não se caia na depressão e nela se permaneça para sempre, é necessária a sábia supervisão e intervenção da classe política.

De novo, podemos tranquilamente rejeitar a possibilidade de as classes políticas do mundo ocidental terem abraçado o keynesianismo porque os políticos fizeram um profundo estudo das obras de Keynes. Pelo contrário: o keynesianismo soube apelar às duas maiores motivações dos políticos: sua necessidade de parecer indispensáveis e sua gana por exercer o poder.

O keynesianismo apenas brandiu essas ideias diante da classe política, a qual, então, reagiu como um cão salivante. Lamento destruir sonhos romantizados e idílicos, mas o que houve foi apenas isso e nada mais do que isso. Nenhum político fez qualquer estudo aprofundado das obras de Keynes para então adotar suas idéias. Aliás, como o próprio Paul Samuleson confessou, nem ele próprio conseguiu entender Keynes.

[N. do E.: o keynesianismo é a teoria econômica favorita dos políticos simplesmente porque ela lhes concede um passe livre para fazer tudo aquilo que eles mais gostam de fazer: gastar dinheiro.

O keynesianismo diz que os gastos do governo impulsionam a economia; que expandir o crédito (melhor ainda se for subsidiado) gera crescimento econômico; que os déficits do governo são a cura para uma economia em recessão; que inchar a máquina estatal, dando emprego para burocratas, é uma medida válida contra o desemprego (quem irá pagar?); e que regulamentações, se feitas por keynesianos, são propícias a estimular o espírito animal dos empreendedores.

Qual político resiste a isso?]

Contudo, no início dos anos 1970, a economia keynesiana sofreu um golpe devastador; ou, para usar a expressão mais ilustrativa de Rothbard, "morreu do pescoço para cima".

O keynesianismo não era capaz de explicar — e nem muito menos de resolver — a estagflação, ou recessão inflacionária, vivida pelos EUA e pela Inglaterra nos anos 1970.

Supostamente, era a função dos planejadores keynesianos conduzir a economia de modo a impedir as ameaças gêmeas: de um lado, uma economia superaquecida e inflacionária; de outro, uma economia deprimida, com deflação, e com desempenho abaixo do ideal. Durante um boom econômico, os planejadores keynesianos deveriam "enxugar o excessivo poder de compra" da população elevando impostos e, com isso, diminuindo o consumo. Durante uma depressão, os keynesianos deveriam diminuir os impostos e aumentar os gastos do governo para injetar consumo na economia.

Porém, quando ocorreu uma recessão inflacionária com alto desemprego [como a atual do Brasil], toda essa abordagem teve de ser descartada. O componente inflacionário sugeria que os gastos tinham de ser reduzidos. Já o componente recessivo e do alto desemprego sugeria que os gastos tinham de ser aumentados. Como poderiam os planejadores keynesianos fazer ambos simultaneamente? Como poderiam eles pisar no acelerador e no freio ao mesmo tempo?

Obviamente, isso não era possível, o que explica por que o keynesianismo entrou em declínio no final dos anos 1970, tornando-se uma teoria obtusa.

Em seu livro Man, Economy, and State, Rothbard demoliu o sistema keynesiano em todos os seus alicerces, mostrando que as relações entre os grandes agregados econômicos pressupostos pelos keynesianos, e essenciais a seu sistema, são completamente destituídos de lógica e não se sustentam. Ele implodiu os principais conceitos empregados nas análises keynesianas: função de consumo, multiplicador e acelerador, só para começar.

Bem, por que isso importa hoje?

Os erros de Keynes acabaram por conceder poder a classes políticas sociopáticas ao redor de todo o globo, e privaram o mundo do progresso econômico que, sem o keynesianismo, teríamos tido.

O Japão é um grande exemplo de ruína keynesiana: o índice Nikkei 225, que atingiu 38.500 em 1990, ainda não conseguiu chegar a sequer metade desse valor desde então. Um quarto de século atrás, o índice de produção industrial no Japão era de 96,8; após 25 anos de uma política keynesiana agressiva que deu ao Japão a maior dívida em relação ao PIB em todo o mundo (229,2% do PIB), o índice de produção industrial atual... continua em 96,8.

Enquanto isso, os Estados Unidos tiveram dezesseis anos de estímulo fiscal e taxas de juros absurdamente baixas, tudo encorajado pelos keynesianos. O resultado? O número de empregos realmente capazes de sustentar uma família de classe média é hoje dois milhões a menos do que quando Bill Clinton deixou a presidência.

[N. do E.: já a devastação do keynesianismo no Brasil faz com que os resultados nos países acima pareçam um sonho adolescente. Veja os detalhes aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.]

Nenhuma quantidade de estímulo parece ser suficiente; e, quando o estímulo fracassa, a visão tacanha do establishment keynesiano só consegue pensar em dobrar a aposta [exatamente como sempre fez o governo Dilma], sem jamais questionar a política em si.

Mas há uma alternativa, e é aquela defendida por Murray N. Rothbard e Ludwig von Mises: a Escola Austríaca de Economia e sua análise da economia de mercado pura.

Contra todo o edifício da opinião predominante, o Instituto Mises sempre se posicionou e se impôs como um crítico ferrenho das políticas predominantes. Para os dissidentes, os intelectualmente curiosos, os propensos a duvidar dos ditos especialistas que não produziram nada além de ruína, o Instituto Mises tem sido um farol.

Formamos toda uma geração de austríacos no meio acadêmico, jornalístico e financeiro. Nosso trabalhamos duro fez com que, quando uma catástrofe como a crise de 2008 ocorreu, a explicação austríaca já estava pronta.

Mas, com a sua ajuda, podemos realizar muito mais. Os keynesianos estão fingindo ter tudo sob controle, mas sabemos que isso é uma fantasia. Uma oportunidade ainda maior que a de 2008 nos aguarda, e queremos ajudar a conduzir a opinião pública e formar um quadro de jovens e brilhantes acadêmicos e eruditos para esse dia. Com a sua ajuda, podemos, enfim, acordar do pesadelo keynesiano.

Como disse um tradutor coreano de um texto austríaco: "Keynes tem que morrer para que a economia sobreviva." Com a sua ajuda, podemos acelerar a chegada desse glorioso dia.



Lew Rockwell é o chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State
Do site: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2415

quinta-feira, 2 de junho de 2016

OS ECONOMISTAS AUSTRÍACOS CONTRA O MAINSTREAM ECONÔMICO NO BRASIL DE TEMER

Os governos do PT, especialmente sob a batuta da presidente afastada, Dilma Rousseff, facilitaram bastante o trabalho dos economistas seguidores da Escola Austríaca. Tantas foram as trapalhadas e os excessos praticados pelo PT, que o diagnóstico e as previsões feitos pelos austríacos não apenas se confirmaram, como também se tornaram consenso nacional.

A crise pela qual o país passa foi ampla e minuciosamente prognosticada pelos economistas austríacos. E, vale ressaltar, muito antes de aparecerem os primeiros sinais claros de que a pujança de 2009 e 2010 era absolutamente insustentável. O que muitos taxavam como mero pessimismo da Escola Austríaca hoje pode ser considerado até otimismo, dadas a dimensão e a profundidade das adversidades que assolam a nação. Simplesmente a pior crise da história brasileira.

O consenso sobre os equívocos da gestão petista uniu austríacos, chicaguenses, escolha pública, clássicos, e talvez até alguns keynesianos sensatos; enfim, colocou temporariamente dentro de um mesmo campo escolas de pensamento fundamentalmente distintas e, em diversos aspectos, irreconciliáveis.

Mas, em virtude do novo governo Temer e do "time dos sonhos" na Fazenda e no Banco Central, o contexto que aliou o mainstream aos austríacos não mais vigora.

As causas do desajuste econômico e fiscal são aparentemente conhecidas por todos os economistas acima citados. As soluções propostas para sair da crise e retomar o crescimento, contudo, dividirão novamente austríacos e omainstream, levando a Escola Austríaca de volta à sua posição singular na ciência econômica, epistemologicamente falando.

Tal constatação decorre do fato de que a EA detém posições firmes — quando não únicas — a respeito de diversos problemas a que a política econômica submete as sociedades modernas. Posições tidas como intransigentes por alguns — porém equivocadamente, como argumentaremos a seguir.

Algumas das noções da Escola Austríaca

Antes de prosseguirmos, revejamos algumas das principais pautas da conjuntura brasileira atual e o que a ciência econômica, de acordo com a Escola Austríaca, tem a dizer sobre cada uma delas.

Impostos: imposto significa expropriar riqueza do cidadão, independentemente da finalidade a que se destina. Tudo o que o estado gasta é pago pelo cidadão por meio da tributação. Na melhor das hipóteses, impostos nada adicionam à atividade econômica: o que seria gasto pelos indivíduos agora será gasto pelo estado. É tirar de X para dar a Y.

Porém, como o estado não está sujeito ao teste de lucros e prejuízos, o gasto público é sempre ineficiente. O desperdício é inevitável — aprofundaremos esse ponto mais adiante.

Ademais, impostos desincentivam — quando não impossibilitam por completo — a atividade econômica e a acumulação de capital, ao embutir um custo adicional à produção. Impostos dilapidam a riqueza de uma nação duplamente: ao impedir uma maior produção e a formação de capital e ao desperdiçar os recursos que seriam usados pela iniciativa privada.

Tudo o mais constante, tributos significam uma subtração da atividade econômica, uma dilapidação da riqueza atual e potencial futura. Taxar a sociedade significa empobrecê-la. Logo, qualquer aumento de impostos implica a redução da riqueza de uma nação.

Na visão do mainstream, entretanto, impostos não significam necessariamente uma redução da riqueza em uma economia, e isso depende, segundo eles, da destinação e do uso "eficiente" dos impostos. O que nos leva ao próximo tópico.

Despesa e gestão pública: o estado está sempre em uma posição de total cegueira quanto à demanda pelos seus serviços ou atribuições constitucionais. Não estando submetido ao teste do mercado, o ente público não tem como saber no que gastar, onde gastar, quanto gastar nem quando gastar. Somente empresas utilizando recursos escassos, sujeitas ao sistema de preços do mercado, e competindo pela clientela têm capacidade de tomar decisões racionais de modo a alocar o capital da forma mais eficiente possível.

A despesa pública, em total contraste, é uma decisão altamente arbitrária; o voto democrático pode, na melhor das hipóteses, apenas influenciar a destinação do gasto, mas as demais questões persistem sem solução.

Aliás, na prática, o arranjo é ainda pior, pois os cidadãos pagam ao estado na forma de impostos, os quais, no fim, formam uma espécie de saco sem fundo do qual o governo se utiliza para sacar todo o dinheiro coletado e "alocá-lo" de acordo com as demandas populares. Isso significa que os cidadãos não pagam exatamente pelo que querem, e, por consequência, o governo não gasta exatamente naquilo que estão demandando.

Os dois lados estão cegos. Um não sabe pelo que está pagando; o outro não tem como saber onde e quanto gastar. Por essas razões, a gestão pública é ineficiente por definição, e isso é igualmente válido para todo e qualquer serviço provido pelo governo, da administração da justiça à operação dos portos, da saúde à educação, da segurança à construção de estradas. "Gestão pública eficiente" é a quadratura do círculo.

Investimento público: se a gestão pública é ineficiente por definição e todo gasto é um desperdício, o mesmo vale para todo e qualquer investimento público. Dessa forma, quando economistas do mainstream defendem mais investimentos do estado visando maior crescimento do PIB, eles estão, inadvertidamente, advogando o desperdício de recursos escassos em projetos sobre cujas reais demandas o ente público não tem nada além de um mero indicativo.

Investimento público, seja ele qual for, não enriquece uma nação, independentemente do que o PIB registrar.

Déficits fiscais: despesa maior que receita resulta em déficits fiscais. Déficits podem ser financiados com dívida pública ou com emissão de moeda. Em ambos os casos, a economia empobrece.

Ao emitir moeda, o governo dilui o poder de compra do dinheiro, expropriando riqueza do cidadão sorrateiramente. Inflação nada mais é que um imposto obscuro.

Ao contrair dívida pública, o governo suga a poupança da nação para gastos questionáveis, em que o desperdício é inevitável. Poupança é direcionada ao financiamento de atividades improdutivas, privando investimentos lucrativos de recursos escassos.

Dívida pública: como dito acima, o endividamento governamental suga poupança da economia para financiar atividades improdutivas que pouco ou nada agregam à economia. Quanto maior a dívida pública, menos poupança é investida em atividades privadas capazes de gerar riqueza.

Crédito público e subsídios: se a gestão pública é ineficiente por definição, empresas estatais sofrem do mesmo problema. Seja uma petroleira, seja um banco, uma empresa estatal não submetida ao teste de lucros e prejuízos de mercado padece dos mesmos males que qualquer burocracia governamental.

Crédito de banco estatal é, em larga medida, concedido com base em critérios políticos, e não econômicos. Investimentos que em condições normais nunca seriam financiados acabam recebendo crédito amplo e barato, tornando viáveis operações que não se sustentariam em um mercado livre.

Crédito bancário subsidiado significa conceder financiamento àqueles que não precisam ou aos que jamais deveriam se endividar. Financiam-se investimentos mais arriscados e com menores taxas de retorno.

Comércio internacional: qual a causa da riqueza das nações? Se pudéssemos resumir em apenas um princípio, afirmaríamos que a riqueza das nações tem origem nas trocas voluntárias entre indivíduos. Onde o comércio livre e desimpedido impera, a riqueza é abundante. Onde o comércio é obstruído ou impossibilitado, a estagnação ou redução do padrão de vida é inevitável.

Destarte, tarifas de importação e restrições alfandegárias constituem um fardo à nação, pois inibem todo o potencial de formação de riqueza oriundo do comércio internacional.

Câmbio: poucos temas em economia são tão mal compreendidos como a questão do câmbio e da moeda. A inflação monetária e a consequente perda do poder de compra do dinheiro influem diretamente na atividade econômica, especialmente sobre os investimentos de mais longo prazo. Quanto mais incertezas com relação ao poder de compra futuro da moeda, mais arriscados se tornam os investimentos, mais receosos são os empresários, pois têm mais dificuldade de prever os fluxos de caixa futuros de seus empreendimentos.

Quanto maior a inflação monetária, quanto mais desvalorizada é uma moeda, mais complexo e incerto acaba sendo o cálculo econômico. Quanto mais incerto o cálculo econômico, menos intensa é a atividade econômica, menor é a quantidade de trocas em uma sociedade, menos riqueza é gerada.

Moeda fraca, economia fraca. Moeda forte, economia forte. E não, a desvalorização do câmbio não aumenta as exportações, muito menos eleva a competitividade de nenhum país. A teoria e a empiria comprovam.

Então qual a saída para o Brasil?

Henrique Meirelles deve propor aumentos de impostos para equilibrar as contas públicas? Mas um aumento de impostos não pode acabar aprofundando a crise econômica? O gasto público deve ser apenas controlado? Ou devemos "cortar na carne" a despesa governamental? Déficits fiscais são capazes de trazer benefícios à economia? Depende? O foco deve ser a redução das atribuições do estado ou o importante é tornar a gestão pública mais eficiente?

As respostas a essas importantes perguntas dependem diretamente da visão de mundo de cada escola de pensamento econômico. E, como elencado anteriormente, o entendimento da EA acerca dessas questões costuma divergir do mainstream e do senso comum.

Então, enquanto economistas da Escola Austríaca, como devemos nos posicionar diante dos dilemas enfrentados pela economia brasileira?

Se entendemos que impostos reduzem a atividade econômica e empobrecem uma nação, aumentos de tributos deveriam ser evitados a qualquer custo. Se entendemos que a despesa pública representa um desperdício, deveríamos reduzir ao máximo o tamanho e as atribuições do governo.

Se a gestão pública é inerentemente ineficiente, adotar práticas de gestão das empresas privadas é não apenas inócuo como também contraproducente, pois retarda a tomada de medidas efetivas na vã esperança de otimizar a administração da burocracia governamental.

Se a infraestrutura brasileira se encontra em uma situação calamitosa, a última coisa de que necessitamos é de investimento público como solução para as estradas, portos, aeroportos. Que se conceda à livre-iniciativa a possibilidade de realizar investimentos nesses setores — sem amarras artificiais, obviamente.

Se compreendemos o quão nocivo podem ser déficits fiscais, é premente eliminá-los. Mas jamais recorrendo a aumento de impostos, porque estes, além de serem prejudiciais à economia, podem reduzir a arrecadação tributária — em virtude de um aprofundamento da recessão econômica —, amplificando ainda mais o rombo nas contas públicas.

Se concluímos que a despesa pública pouco ou nada agrega, não há dúvidas quanto ao foco do ajuste fiscal: cortar o gasto orçamentário do governo é a única via capaz de sanar déficits fiscais sem jogar a economia para o buraco.

Se a dívida pública consome a poupança da nação em atividades nocivas à geração de riqueza, conter e reduzir o endividamento do governo deve ser compromisso precípuo da sociedade.

Se as trocas voluntárias são a fonte da riqueza, toda e qualquer obstrução do livre-comércio deve ser combatida.

Se câmbio desvalorizado é uma das principais causas do desarranjo econômico, a busca por uma moeda forte deve ser o pilar primeiro da política monetária.

Infelizmente, grande parte dos economistas do mainstream — como os membros da equipe econômica atual — não compartilha integralmente do posicionamento dos austríacos.

Se a meta principal é levar a cabo o ajuste fiscal, não há maiores complicações em alcançar esse objetivo com uma mescla entre corte de gasto e aumento de impostos, defendem eles. O essencial é conter o déficit. Essa posição deriva de um errôneo entendimento de teoria econômica e de uma mentalidade um tanto estatista.

O que é pior, para o mainstream, basta manter o déficit em níveis constantes sobre o PIB que o apuro fiscal está resolvido. Basta as despesas do governo crescerem menos que o PIB e não haverá crise orçamentária. Basta manter a trajetória da dívida em relação ao PIB controlada, e a economia estará sanada.

Refrear o aumento descontrolado do endividamento público e reduzir os déficits fiscais não são garantia de crescimento econômico e aumento sustentável do padrão de vida da sociedade. Podem, sim, impedir a falência do estado e evitar uma crise de confiança temporariamente; mas não asseguram a retomada do crescimento, muito menos uma sociedade mais próspera e rica.

A relativização dos impostos leva economistas renomados — e normalmente sensatos — a defender posições alarmantes dignas de execração pública, como é o caso recente de Fábio Giambiagi. Em entrevista ao portal InfoMoney, Giambiagi disse:

Eu fui durante muitos anos contra a CPMF, por diversas razões, mas aqui me aproprio da resposta de Lord Keynes quando uma senhora o encarou dizendo que o que ele estava defendendo era contraditório com o que ele havia defendido anos antes, ao que ele respondeu, fleumaticamente: 'Minha senhora, quando as circunstâncias mudam, eu mudo. E a senhora?'. Ano passado tivemos um déficit público de 10% do PIB, mas penso que ser contra a CPMF hoje porque é um imposto ruim é como negar a entrada dos bombeiros numa casa que está pegando fogo porque vão estragar o sofá da sala. A situação é catastrófica e não vejo muito sentido em abrir mão de uma receita de 1,5% do PIB que pode ser aprovada em pouco tempo, uma vez que a emenda já começou a tramitar.

O economista não apenas cunhou uma das analogias mais infelizes da história — na verdade, a casa deveria ser a economia, e a CPMF, a gasolina —, como também atestou sua incompreensão sobre o fenômeno tributário e revelou sua mente estatista.

Em primeiro lugar, CPMF não é um imposto ruim por alguma outra característica além de ser o que é, um imposto. CPMF é ruim precisamente porque é um imposto, e ponto. Se imposto fosse bom, não seria imposto, seria contribuição voluntária — e seríamos então genuinamente "contribuintes".

Segundo, a única circunstância que mudou foi a gravidade do déficit; mas um imposto é sempre destrutivo à economia, seja em um governo superavitário, seja em um deficitário. Sua natureza não se altera de acordo com a situação das contas públicas.

Por fim, Giambiagi evidencia como pensa um estatista: sendo a contenção do déficit fiscal o objetivo principal, o importante é arrecadar. Nada melhor que um imposto fácil de ser cobrado como a CPMF. Quaisquer considerações sobre o efeito nocivo à economia são secundárias.

Giambiagi não está sozinho. Preocupa-nos a quantidade de economistas liberais que, atualmente, defendem o aumento de impostos como medida absolutamente imprescindível ao ajuste fiscal. "Sempre fui contra aumentar impostos, mas hoje a situação é dramática, não há outro jeito", justificam eles.

Intransigência ou moderação?

O correto entendimento das relações de causa e feito conduz inevitavelmente à busca pelas soluções que levarão a uma sociedade mais próspera e livre. Implantar as medidas corretas, porém, passa, obviamente, pelo processo político legislativo. Não basta entendermos o que é bom para a economia; é preciso convencer os políticos e a sociedade — para que esta apoie tenazmente — da necessidade de se adotar as políticas certas.

Mas quando partimos das premissas equivocadas e relativizamos o poder destrutivo da taxação, do gasto público, do gigantismo estatal e da moeda fraca, a probabilidade de fraquejo e hesitação dos políticos torna-se uma certeza, e as medidas corretas seguirão sendo postergadas para um futuro incerto.

E nessa conjuntura, a diferença entre os economistas sensatos (ou mais liberais), os marxistas e os keynesianos extremados é, frequentemente, apenas uma questão de grau, e não de essência. Porque, segundo estes, o problema não é o subsídio per se, mas a magnitude dos programas. Não é a existência do BNDES a questão nevrálgica, apenas a dimensão dos seus empréstimos é que deve ser mais bem calibrada.

Por divergirem frontalmente dessas posições, os economistas austríacos, sob a ótica do mainstream, não passam de seres intransigentes. Não levamos em consideração a realidade política e insistimos em propostas quiméricas. É preciso mais moderação, alegam eles. Será mesmo?

Vejamos.

Se partimos do pressuposto de que impostos são ruins para a economia, seria intransigência advogar a redução da carga tributária ou rechaçar propostas de novos tributos? Se admitimos a premissa de que moeda forte é uma condição para uma economia saudável, seria radicalismo condenar assertivamente toda investida de desvalorização da moeda?

Não há intransigência em afirmar que 1+1=2. Tampouco é moderação afirmar que 1+1, dependendo do lugar e instante no tempo, pode ser 3 ou 4. Não confundamos rigor científico com conveniências políticas. Ou entendemos cientificamente as relações de causa e efeito, ou rezemos para que, da próxima vez, por algum motivo inaudito, as consequências de políticas erradas não sejam desastrosas.

Enquanto essas noções não forem absorvidas e devidamente internalizadas, o Brasil permanecerá condenado à armadilha da renda média, à desigualdade abismal, à concentração de riqueza nas mãos de políticos e burocratas, ao capitalismo de laços e à baixa produtividade.

As ideias defendidas pelos economistas austríacos deveriam balizar as políticas públicas para conduzir o país de volta ao crescimento econômico e à prosperidade. Ceder às soluções politicamente mais factíveis é uma via expressa para a mediocridade econômica.

O fato inconteste é que hoje somente os austríacos estão preparados para condenar todo e qualquer aumento de impostos, independentemente da conjuntura ou do partido governante. Hoje somente os austríacos defendem com veemência a redução do estado, da despesa pública, e não apenas o controle orçamentário. Hoje somente os austríacos defendem a adoção de uma política genuína de moeda forte. Precisamos de mais "intransigência" e menos "moderação".

Por: Fernando Ulrich é mestre em Economia da Escola Austríaca, com experiência mundial na indústria de elevadores e nos mercados financeiro e imobiliário brasileiros. É conselheiro do Instituto Mises Brasil, estudioso de teoria monetária, entusiasta de moedas digitais, e mantém um blog no portal InfoMoney chamado "Moeda na era digital". Também é autor do livro "Bitcoin - a moeda na era digital". Do site: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2413

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Murilo Gun e Luciano Pires: sobre fazer acontecer.

ALEMANHA: "PRECISAMOS DE UMA LAI ISLÂMICA"

A proposta visa proibir o financiamento externo de mesquitas na Alemanha


"Todos os imãs devem ser formados na Alemanha e compartilhar os nossos valores fundamentais. ... Não é possível aceitarmos a importação de valores diferentes, parcialmente radicais de outros países. O alemão deve ser a língua falada nas mesquitas. A Europa evoluída deve cultivar seu próprio Islã". – Andreas Scheuer, Secretário Geral do partido da União Social Cristã (CSU).

O governo turco enviou 970 clérigos — cuja maioria não fala alemão — para conduzir 900 mesquitas na Alemanha controladas por um ramo da Superintendência para Assuntos Religiosos do governo turco. Os clérigos turcos na Alemanha são efetivamente servidores públicos a serviço do governo turco.

Erdogan alertou, repetidamente, os imigrantes turcos a não se assimilarem à sociedade alemã. Durante uma visita a Berlim em novembro de 2011, Erdogan declarou: "assimilação é uma violação dos direitos humanos".

Um político alemão do primeiro escalão defendeu a introdução de uma "lei islâmica" que limitaria a influência de imãs estrangeiros e proibiria o financiamento externo de mesquitas na Alemanha.

A proposta — baseada na Lei Islâmica promulgada na Áustria em fevereiro de 2015 — tem como objetivo manter distância do extremismo e promover a integração muçulmana através da criação de um "Islã europeu" moderado.

A iniciativa ocorre em meio a revelações de que o governo turco está pagando os salários de cerca de 1.000 imãs conservadores, dentro da Alemanha, que conduzem mesquitas ao redor do país. Além disso, a Arábia Saudita recentemente se comprometeu em financiar a construção de 200 mesquitas na Alemanha para dar assistência aos candidatos a asilo.

Em uma entrevista concedida ao jornal Die Welt, Andreas Scheuer, Secretário Geral da União Social Cristã (CSU), partido bávaro irmão da União Democrata Cristã (CDU) da Chanceler Alemã Angela, assinalou que Berlim deveria restringir o financiamento turco de mesquitas na Alemanha e começar a formar e certificar seus próprios imãs. Senão, argumenta ele, a integração muçulmana será difícil ou até impossível de se concretizar. Ele ressaltou o seguinte:


"Precisamos ser mais críticos ao lidarmos com o Islã político, porque ele obstaculiza a integração muçulmana em nosso país. Precisamos de uma Lei Islâmica. O financiamento de mesquitas e jardins de infância que vem do exterior, por exemplo da Turquia ou Arábia Saudita, deveria ser proibido. Todos os imãs devem ser formados na Alemanha e compartilhar nossos valores fundamentais.

"Não é possível aceitarmos a importação de valores diferentes, alguns deles radicais, de outros países. O alemão deve ser a língua falada nas mesquitas. A Europa evoluída deve cultivar seu próprio Islã.

"Ainda estamos no início da nossa jornada. Temos que começar agora. Não podemos de um lado promulgar uma Lei de Integração e de outro fechar os olhos em relação ao discurso religioso pregado nas mesquitas e por quem ele é pregado".

As observações de Scheuer vêm em meio a denúncias de que o governo turco enviou 970 clérigos — cuja maioria não fala alemão — para conduzir 900 mesquitas na Alemanha controladas pela União Turco-Islâmica para Assuntos Religiosos (DITIB), ramo da Superintendência para Assuntos Religiosos do governo turco, conhecido em turco comoDiyanet.

Os sucessivos governos alemães são os responsáveis por este estado de coisas. Em um artigo o jornal Der Tagesspiegel observa: "nas últimas décadas, o governo federal comemorou o fato da autoridade religiosa turca exercer forte influência sobre as mesquitas alemãs. A Turquia era considerada um estado secular e a sua influência era vista como escudo contra o extremismo religioso".

Isso foi antes do Presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan embarcar em uma missão para transformar a antiga nação secular em um país islâmico.

De acordo com o jornal Die Welt, Erdogan aumentou o tamanho, alcance e poder do Diyanet, que atualmente conta com um orçamento de 6,4 Liras turcas (US$2,3 bilhões; €1,8 bilhões), que representa mais do que 12 ministérios turcos, incluindo o ministério do interior e o ministério das relações exteriores. O Diyanet conta com um quadro de 120.000 funcionários, um salto dos 72.000 em 2004.

Os clérigos turcos na Alemanha são efetivamente servidores públicos a serviço do governo turco. Críticos de Erdogan o acusam de usar as mesquitas da DITIB para impedir que os migrantes turcos se integrem à sociedade alemã.

O político alemão Cem Özdemir, co-presidente do Partido Verde, ressaltou que a DITIB "nada mais é do que a extensão do braço do estado turco". Ele acrescenta: "em vez de ser uma organização religiosa legítima, o governo turco transformou a DITIB em uma organização política de fachada do partido AKP de Erdogan. A Turquia precisa abrir mão dos muçulmanos na Alemanha".

Erdogan alertou repetidamente os imigrantes turcos a não se assimilarem à sociedade alemã.

A Mesquita Central de Colônia, dirigida pela DITIB é usada como base central na Alemanha da agência de inteligência turca, de onde é dirigido o "esquadrão de criminosos" cuja tarefa é aplicar "severas punições" aos dissidentes turcos na Alemanha. (imagem: © Raimond Spekking/CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons)



Durante uma visita a Berlim em novembro de 2011, Erdogan declarou: "assimilação é uma violação dos direitos humanos". Em fevereiro de 2011, Erdogan disse a uma multidão de mais de 10.000 imigrantes turcos em Düsseldorf: "somos contra a assimilação. Ninguém deve ter condições de arrancar de nós nossa cultura e civilização". Em fevereiro de 2008, Erdogan dissea 16.000 imigrantes turcos em Colônia que a "assimilação é um crime contra a humanidade".

Por seu lado, o Rei Salman da Arábia Saudita anunciou recentemente um plano para financiar a construção de 200 mesquitas na Alemanha a fim de prover as necessidades espirituais aos migrantes e refugiados que aportaram em 2015. As mesquitas irão, presumivelmente, professar o wahhabismo, a forma oficial e dominante do Islã sunita da Arábia Saudita. O wahhabismo é uma forma rigorosa do Islã que insiste na interpretação literal do Alcorão.

Em 11 de abril, Hans-Georg Maassen, chefe da Agência de Inteligência Interna da Alemanha (BfV), soou o alarme diante do crescente número de mesquitas radicais de língua árabe na Alemanha. "Muitas mesquitas são controladas por fundamentalistas e estão sendo monitoradas por conta da sua orientação salafista", ressaltou Maassen em uma entrevista concedida ao jornal Welt am Sonntag. Ele acrescentou que muitas dessas mesquitas estavam sendo mantidas por doadores da Arábia Saudita.

Ainda é incerto, contudo, se Merkel irá apoiar a "Lei Islâmica", que certamente irá contrariar Erdogan, visto que ele efetivamente controla as comportas da imigração em massa de muçulmanos para a Europa. Se Merkel apoiar abertamente a proibição de financiamento externo de mesquitas na Alemanha, Erdogan provavelmente irá rescindir o acordo EU/Turquia no tocante aos migrantes, acordo este que Merkel necessita desesperadamente para conter o fluxo da migração em massa para a Alemanha. Este é mais um indício do tremendo poder acumulado por Erdogan frente à estratégia política de Merkel e da Alemanha.

O governo de coalizão da Alemanha, entretanto, fechou um acordo quanto à nova "Lei de Integração".

Em 14 de abril Merkel anunciou as linhas gerais da nova legislação, que irá explicar claramente os direitos e as responsabilidades dos migrantes na Alemanha. Segundo a lei, cujo texto será concluído até 24 de maio, os candidatos a asilo serão obrigados a comparecerem às aulas da língua alemã e participarem de treinamento para a integração, caso contrário seus benefícios serão cortados.

O governo se comprometeu a facilitar aos candidatos a asilo o acesso ao mercado de trabalho alemão com a promessa de criar 100.000 novas "oportunidades de trabalho". O governo também irá suspender uma lei que determina aos empregadores que deem preferência aos candidatos alemães ou da União Européia em relação aos candidatos a asilo.

No afã de evitar a disseminação de guetos de imigrantes na Alemanha, a nova lei, cuja expectativa é que entre em vigor ainda neste verão, irá proibir aos refugiados que escolham onde irão morar até a concessão do asilo. Os migrantes que abandonarem as moradias designadas pelo estado sofrerão sanções ainda não especificadas.

A nova lei também incluirá cláusulas contra o terrorismo, que permitirão às agências de inteligência alemã trabalharem em estreita colaboração com seus colegas europeus, da OTAN e israelenses.

"Nós teremos uma lei alemã no tocante à integração", assinalou Merkel. "Esta é a primeira vez desde a Alemanha do pós guerra que isso acontece. É um passo importante e qualitativo".

Os críticos porém dizem que a lei proposta não vai longe o suficiente porque ela não ameaça com deportação os imigrantes que se recusarem a se integrar. Na entrevista ao Die Welt, Scheuer insistiu que os imigrantes muçulmanos terão que se integrar ou serão deportados:

"Qualquer um que não comparecer aos cursos de integração e de língua alemã atesta que não está disposto a se integrar ou a aceitar nossos valores. Além disso, é importante que as pessoas que queiram ficar na Alemanha se registrem na Agência Federal de Emprego (Bundesagentur für Arbeit) e cuidem da sua própria subsistência. A mensagem é clara: aqueles que não se integrarem não poderão ficar aqui. Temos que acabar com as visões românticas da integração. O multiculturalismo não deu certo. Aqueles que não se integrarem devem contar com a deportação".

Por: Soeren Kern, colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque. Ele também é colaborador sênior do European Politics do Grupo de Estudios Estratégicos / Strategic Studies Group sediado em Madri. Siga-o no Facebook e no Twitter. Seu primeiro livro, Global Fire, estará nas livrarias em 2016.  24 de Maio de 2016
Original em inglês: Germany: "We Need an Islam Law"
Tradução: Joseph Skilnik
Do site: http://pt.gatestoneinstitute.org/8119/alemanha-lei-islamica