terça-feira, 16 de agosto de 2016

REPETINDO ALGUMAS LIÇÕES BÁSICAS DE ECONOMIA

Repetindo algumas lições básicas de economia - que, inexplicavelmente, seguem sendo ignoradas

N. do E.: o artigo a seguir foi acrescido de temas econômicos com o intuito de torná-lo mais próximo da realidade brasileira


Entender de economia é saber reconhecer as consequências secundárias e nem sempre perceptíveis de uma política econômica. Entender de economia é entender as consequências gerais de tudo. 

A economia é a ciência que examina os efeitos de alguma política proposta ou existente, não apenas em relação a algum interesse especial, a curto prazo, mas também em relação ao interesse geral, a longo prazo.

Entendendo que a economia é a ciência que examina consequências, então, por definição, assim como a lógica e a matemática, a economia é a ciência que reconhece implicações inevitáveis.

Podemos ilustrar esse ponto por meio de uma elementar equação algébrica. Suponha que alguém diga que, se x é igual a 5, então x + y = 12. A "solução" dessa equação é que y é igual a 7. A equação não faz essa asserção diretamente, mas, inevitavelmente, indica isso.

O que é verdadeiro nessa equação elementar é também verdadeiro para as mais complicadas e abstrusas equações que se encontram na matemática. A resposta encontra-se na própria enunciação do problema. Ela tem de, é verdade, ser "calculada". O resultado, é verdade, pode às vezes chegar ao homem que resolve a equação como uma formidável surpresa. Pode ser ainda que ele tenha a sensação de estar descobrindo alguma coisa inteiramente nova, sensação semelhante à de "algum observador dos céus quando um novo planeta lhe surge à vista". Sua sensação de descoberta talvez seja justificada pelas consequências teóricas ou práticas da solução. Contudo, sua solução já se continha na formulação do problema. Apenas não fora reconhecida imediatamente, pois a matemática nos lembra que implicações inevitáveis não são, necessariamente, implicações óbvias.

Tudo isso é igualmente verdadeiro no que concerne a economia. A esse respeito, poderíamos também comparar a economia à engenharia. Quando um engenheiro tem um problema, ele deve em primeiro lugar determinar todos os fatos que com ele se relacionam. Se ele projeta uma ponte, para ligar dois pontos, ele deve primeiro conhecer a distância exata entres esses dois pontos, bem como sua precisa natureza topográfica, a carga máxima que a ponte estará destinada a suportar, a força de tensão e compressão do aço com que a ponte será construída e as vibrações e tensões a que será submetida. Boa parte dessas pesquisas factuais já foram feitas por outros.

Seus antecessores também já resolveram equações matemáticas complicadas pelas quais, conhecendo a resistência dos materiais e a tensão a que estes estão sujeitos, puderam determinar diâmetro, forma, número e estrutura das torres, cabos e vigas da ponte.

Igualmente, aquele economista a quem foi proposto um problema prático deve conhecer os fatos essenciais desse problema e as deduções válidas a serem tiradas desses fatos. O aspecto dedutivo da economia não é menos importante que o factual. Pode-se, sobre ele, dizer aquilo que George Santayana disse sobre a lógica (e que poderia, igualmente, ter dito sobre a matemática): "Ela investiga a radiação da verdade", de modo que "quando se sabe que um termo de um sistema lógico descreve um fato, todo o sistema ligado a esse termo torna-se, por assim dizer, incandescente".

Ora, poucas são as pessoas que reconhecem as necessárias implicações das declarações sobre economia que constantemente estão fazendo. 

Quando dizem que o governo deve estimular o crédito para salvar a economia, estão na realidade dizendo que a maneira de salvar a economia é aumentando o endividamento das pessoas. Crédito e dívida são nomes distintos para a mesma coisa, vista de lados opostos.

Quando dizem que o caminho para a prosperidade é aumentar os gastos do governo, estão na realidade dizendo que o governo deve ou tributar mais as pessoas ou incorrer em déficits ou imprimir dinheiro. 

A tributação retira renda (logo, capacidade de consumo e investimento) das pessoas e empresas. 

Déficits significam que pessoas e empresas estão emprestando para o governo, em vez de utilizarem esse dinheiro na própria economia. Significa também que os bancos, em vez de financiarem investimentos produtivos, estão financiando a folha de pagamento do governo. E significa também que haverá aumento de impostos no futuro para que o governo possa arcar com o serviço dessa dívida. 

E, por fim, a mera impressão de dinheiro gera inflação de preços, o que significa que as pessoas perdem poder de compra e as empresas ficam sem dinheiro suficiente para bancar os custos dos investimentos.

Portanto, aumentar os gastos do governo gera o contrário de prosperidade.

Quando dizem que o governo deve proteger a indústria nacional por meio de tarifas de importação, estão na realidade dizendo que o grande empresariado do país deve ser protegido das escolhas voluntárias dos consumidores, que agora ficam proibidos de comprar bens estrangeiros e acabam sendo obrigados a comprar bens nacionais mais caros e de menor qualidade deste baronato nacional. Proteção à indústria nacional significa criar uma reserva de mercado para grandes empresários e, com isso, garantir artificialmente seus lucros, à custa do bem-estar do povo, especialmente dos mais pobres, que agora estão proibidos de adquirir bens estrangeiros baratos e de qualidade. 

Quando dizem que o governo deve estimular a indústria nacional por meio de subsídios ou empréstimos subsidiados pelo governo, estão na realidade dizendo que o grande empresariado deve receber dinheiro de impostos do povo e, com isso, levar vantagem sobre os concorrentes menores. 

Quando dizem que o câmbio deve ser desvalorizado para estimular as exportações e frear as importações, estão na realidade dizendo que o poder de compra da moeda deve ser reduzido e a população deve ter seu bem-estar afetado apenas para garantir os lucros do grande empresariado nacional.

Quando dizem que as exportações devem ser aumentadas e as importações devem ser restringidas, estão na realidade dizendo que a quantidade de produtos à disposição da população nacional deve ser duplamente reduzida — gerando, no mínimo, mais carestia.

Quando dizem que as empresas devem ser controladas por agências reguladoras, estão na realidade dizendo que essas empresas devem operar dentro de um cartel protegido pelo estado, com preços garantidos e sem liberdade de entrada para potenciais concorrentes.

Quando dizem que os agricultores devem ter os preços de seus produtos elevados por programas de compras governamentais, estão na realidade dizendo que toda a população do país deve ter sua comida encarecida.

Quando dizem que todos têm direito a saúde, educação e transporte gratuitos, estão na realidade dizendo que toda a população deve dar mais dinheiro para burocratas do governo, os quais irão repassar esse dinheiro (retendo para si uma fatia) para outras pessoas, as quais irão então prover esses serviços de acordo com critérios especificados por burocratas e políticos, e não pelos consumidores.

Quando dizem que os salários — principalmente o salário mínimo — devem ser aumentados por decreto, estão na realidade dizendo que o segredo para a prosperidade econômica é aumentar os custos de produção.

Quando dizem que as empresas devem utilizar mais conteúdo nacional em seus produtos, estão na realidade dizendo que os fornecedores desse conteúdo nacional têm direito a uma reserva de mercado, podendo assim elevar seus preços e reduzir a qualidade de seus produtos despreocupadamente.

Quando dizem que um pouco mais de inflação gera mais crescimento econômico, estão na realidade dizendo que uma perda mais acentuada do poder de compra da moeda e uma maior incerteza quanto aos custos futuros estimulam mais empreendedores a fazerem investimentos produtivos de longo prazo.

Quando dizem que um pouco mais de inflação gera mais consumo e emprego, estão na realidade dizendo que um aumento no custo de vida estimula as pessoas a contratarem mais serviços (como empregadas domésticas) e a irem mais vezes aos shopping centers.

Quando dizem que mais gastos do governo estimulam o empreendedorismo, estão na realidade dizendo que a contratação de mais burocratas e a criação de mais burocracia, mais leis e mais regulamentações incentivam a produção e levam a mais geração de riqueza.

Conclusão

Para se fazer uma verdadeira análise econômica, ambas as faces da moeda devem ser consideradas, de modo que todas as implicações de uma proposta sejam devidamente entendidas e estudadas. E isso raramente é feito.

A análise dos exemplos acima nos mostra, incidentalmente, outra lição: quando estudamos os efeitos de várias propostas, não apenas sobre determinados grupos e a curto prazo, mas sobre todos os grupos e a longo prazo, as conclusões a que chegamos correspondem às do senso comum. Não ocorreria a pessoa alguma dizer que é economicamente estimulante ter vitrinas quebradas e cidades destruídas; que criar projetos públicos inúteis é uma boa maneira de gastar o dinheiro do povo; que as máquinas, que aumentam a produção e economizam o esforço humano, devem ser temidas; que obstruir a produção e o consumo aumenta a riqueza; que a nação se torna mais rica quando sua moeda perde poder de compra; que a prosperidade aumenta quando o comércio com os outros países é restringido; que poupar é algo prejudicial e que o consumismo e o endividamento trazem prosperidade.

"O que é prudência na conduta de toda família em particular" — disse o bom senso de Adam Smith em resposta aos sofistas de seu tempo — "dificilmente pode ser loucura na de um grande reino." Homens menores, entretanto, perdem-se em complicações. Não reexaminam seus raciocínios mesmo quando emergem com conclusões que se evidenciam absurdas. 

Dependendo de suas próprias crenças, o leitor pode ou não aceitar o aforismo de Bacon, segundo o qual "uma pequena filosofia inclina o espírito do homem para o ateísmo, ao passo que a profundidade na filosofia conduz seu espírito para a religião". É verdade, no entanto, que uma pequena noção de economia pode, facilmente, conduzir às conclusões paradoxais e ridículas que acabamos de expor, ao passo que a profundidade nessa noção fará com que o homem retorne ao bom senso. 

A profundidade, na economia, está em procurar todas as consequências de uma política, em vez de apenas dirigir o olhar para as que são imediatamente visíveis.

Henry Hazlitt 
(1894-1993) foi um dos membros fundadores do Mises Institute. Ele foi um filósofo libertário, economista e jornalista do The Wall Street JournalThe New York TimesNewsweek e The American Mercury, entre outras publicações. Ele é mais conhecido pelo seu livro Economia em uma Única Lição. Do site: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2491

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

FRANÇA: DEPOIS DO TERCEIRO ATAQUE JIHADISTA

- Sucessivos governos franceses montaram uma armadilha; os franceses, que estão dentro dela, pensam apenas em uma maneira de escapar. A situação é bem mais grave do que muitos imaginam. Regiões inteiras da França estão sob controle de gangues e imãs radicais.


- O Primeiro Ministro Manuel Valls repetiu o que já havia dito há 18 meses: "a França está em guerra." Ele identificou o inimigo: "islamismo radical", mas logo se apressou acrescentando que o "islamismo radical" "nada tem a ver com o Islã." Ele então repetiu a mesma ladainha enfatizada em tantas ocasiões: os franceses terão que se acostumar a conviver com a "violência e com os ataques".

- Os franceses estão ficando cada vez mais cansados das tentativas de exonerar o Islã. Eles sabem muito bem que nem todos os muçulmanos são culpados. Eles também sabem que todos que cometeram atentados na França nos últimos anos eram muçulmanos. Os franceses não querem de jeito nenhum se acostumar com "violência e ataques." Eles não querem estar no lado dos derrotados e já sentem que estão sendo derrotados.


Nice, 14 de julho de 2016: Dia da Queda da Bastilha. As festividades da noite estavam chegando ao fim. Conforme a multidão assistia a queima de fogos de artifício começava a se dispersar, o motorista de um caminhão de 19 toneladas, dirigindo em zigue-zigue, atropelava todos que estavam em seu caminho. Dez minutos mais tarde, após ter assassinado 84 pessoas, ele foi baleado e morto. Dezenas ficaram feridas; muitos ficarão aleijados para o resto da vida. Sobreviventes atordoados vagavam pelas ruas da cidade durante horas.

Âncoras das redes de notícia da televisão francesa se apressaram em realçar que, com certeza, se tratava de um "acidente", quando as autoridades francesas começaram a falar de terrorismo, ressaltaram que o motorista só podia ser um louco. Quando a polícia divulgou o nome e a identidade do assassino, e que no passado ele já tinha estado em depressão, elaaventou que ele poderia ter atuado em um rompante de "alta ansiedade". Os policiais entrevistaram testemunhas que atestaram que ele "não era um muçulmano devoto" -- talvez nem sequer muçulmano.

O Presidente François Hollande fez um pronunciamento algumas horas mais tarde afirmando sua determinação em "proteger a população."

O Primeiro Ministro Manuel Valls repetiu o que já havia dito há 18 meses: "a França está em guerra." Ele identificou o inimigo: "islamismo radical", mas logo se apressou acrescentando que o "islamismo radical" "nada tem a ver com o Islã." Ele então repetiu o que já havia enfatizado em tantas ocasiões: os franceses terão que se acostumar a conviver com a "violência e com os ataques".

A reação popular mostrou que Valls não convenceu praticamente ninguém. Os franceses estão ficando cada vez mais cansados das tentativas de exonerar o Islã. Eles sabem muito bem que nem todos os muçulmanos são culpados. Eles também sabem que, no entanto, todos que cometeram atentados na França nos últimos anos eram muçulmanos. Eles não se sentem protegidos por François Hollande. Eles estão vendo que a França está sendo atacada com mais intensidade e que o Islã radical declarou guerra, mas não estão vendo a França reagir também declarando guerra ao Islã radical. Eles não querem de jeito nenhum se acostumar com "violência e ataques". Eles não querem estar no lado dos derrotados e já sentem que estão sendo derrotados.

Pelo fato do partido Frente Nacional usar uma linguagem mais robusta, boa parcela dos eleitores votarão em seus candidatos. A líder da Frente Nacional Marine Le Pen, vencerá, sem a menor sombra de dúvida, o primeiro turno da eleição presidencial no próximo ano. Ela provavelmente não será eleita no segundo turno, mas se nada for feito rápida e inequivocamente, ela terá boa chance da próxima vez.

Os políticos moderados leem as pesquisas de opinião, endurecem a sua retórica e recomendam políticas mais duras. Alguns podem exigir medidas mais duras, tais como a expulsão de terroristas detidos que têm dupla cidadania e a detenção daqueles que defendem os ataques. Há outros que até já pediram a instauração da lei marcial.

A calma voltará gradualmente, mas não há dúvida que a situação na França está se aproximando do ponto de ebulição.

Os recentes ataques serviram de catalisador. Quatro anos atrás, quando Mohamed Merah assassinou soldados e judeus em Toulouse, a população não reagiu. A maioria dos franceses não se sentiu diretamente afetada; soldados eram apenas soldados e judeus eram apenas judeus. Quando em janeiro de 2015 os cartunistas da redação da revista Charlie Hebdo foram massacrados, uma reação emocional tomou conta do país, desaparecendo logo em seguida. Foi organizada uma grande manifestação em nome da "liberdade de expressão" e dos "valores da república". Centenas de milhares entoavam palavras de ordem: "Je Suis Charlie" ("Eu sou Charlie"). Dois dias depois, novamente quando judeus foram assassinados em uma mercearia kasher, praticamente ninguém disse: "Eu sou Judeu."

Aqueles que tentaram se pronunciar sobre a jihad foram imediatamente silenciados. Nem mesmo um ano depois, em novembro, quando do banho de sangue na casa noturna Bataclan não motivou protestos mas causou um choque profundo. A grande mídia e o governo já não podiam mais esconder que se tratava de um ato de jihad. O número de mortos era tremendamente alto; já não era mais possível simplesmente seguir adiante. A grande mídia e o governo fizeram o máximo para minimizar a raiva e a frustração e maximizar a tristeza.Cerimônias solenes com flores e velas estavam por toda parte. Foi declarado "estado de emergência" e soldados foram para as ruas.

Então a sensação do perigo foi se esvaecendo. O campeonato de futebol Euro 2016 foi organizado na França e o bom desempenho da equipe francesa criou uma falsa sensação de união.

O ataque em Nice foi mais um sinal de alerta. Ele lembrou, de forma brutal, a todos que o perigo ainda estava presente, mais mortal do que nunca, e que as medidas tomadas pelas autoridades não passavam de gesticulações inúteis. Voltaram as lembranças das mortes anteriores.

Esforços para esconder que Mohamed Lahouaiej-Bouhlel, o terrorista de Nice, era jihadista não enganava mais ninguém. Apenas enfureceu mais, frustrou mais e aumentou o desejo para que houvesse uma atuação eficiente.

Dias antes do ataque em Nice, a mídia informou que o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o ataque à casa noturna Bataclan revelou que as vítimas foram brutalmente torturadas e mutiladas e que o governo tentou encobrir os fatos. Agora o público inteiro descobriu a extensão do horror, colocando mais lenha na fogueira.

Parece que agora a França está à beira de um momento revolucionário; não irá demorar muito para que haja uma explosão. A situação é muito mais grave do que muitos imaginam.

Regiões inteiras da França estão sob controle de gangues e imãs radicais. O governo delicadamente as chama de "zonas urbanas sensíveis". Em outros lugares são chamadas, franca e diretamente, de "zonas proibidas." Há mais de 570 delas.

Centenas de milhares de jovens muçulmanos vivem naquelas regiões. Muitos são bandidos, traficantes de drogas e ladrões. Outros tantos alimentam um ódio profundamente enraizado pela França e pelo Ocidente. Os recrutadores de organizações jihadistas dizem a eles, diretamente ou através das redes sociais, que se matarem em nome de Alá obterão o status de mártires. Centenas estão a postos. Eles são granadas sem o pino de segurança quepodem explodir em qualquer lugar, a qualquer momento.

Embora a posse, transporte e venda de armas sejam rigorosamente regulamentadas na França, armas de guerra circulam livremente. E obviamente o ataque em Nice demonstrou novamente que não há necessidade de arma de fogo para se cometer assassinato em massa.

Vinte mil pessoas estão na lista dos "arquivos-S" do governo, um sistema de alerta para identificar indivíduos ligados ao Islã radical. A maioria não é monitorada. Mohamed Merah o assassino de Toulouse, os assassinos dos cartunistas da revista Charlie Hebdo e muitos dos terroristas que atacaram a casa noturna Bataclan constavam dos arquivos-S. Mohamed Lahouaiej-Bouhlel, o terrorista que atacou em Nice, não estava na lista.

O chefe de inteligência da França ressaltou recentemente que mais ataques estão por vir e que muitos assassinos em potencial perambulam livremente, sem serem detectados.

Fazer o que o governo francês está fazendo hoje não vai ajudar em nada. Muito pelo contrário. A França está à mercê de outro ataque que irá incendiar o barril de pólvora.

Fazer mais do mesmo irá piorar as coisas antes que elas melhorem. Reconquistar o controle de muitas regiões acarretará mobilizar o exército; os esquerdistas e anarquistas com certeza se empenharão em aumentar ainda mais a desordem.

Colocar na prisão qualquer um que tenha algum motivo de estar preso em nome da segurança pública implicaria em algo mais do que a lei marcial; seria a suspensão das liberdades democráticas e mesmo assim seria uma tarefa impossível. As prisões da França já estão lotadas. A polícia está em desvantagem numérica, dando sinais de esgotamento. O exército francês está no limite da sua capacidade para a ação: ele já patrulha as ruas da França e está posicionado na África e no Oriente Médio.
O exército francês está no limite de sua capacidade de ação: ele já patrulha as ruas da França e está posicionado na África e no Oriente Médio. Foto: soldados franceses protegem uma escola judaica em Estrasburgo, fevereiro de 2015. (Imagem: Claude Truong-Ngoc/Wikimedia Commons)

Sucessivos governos montaram uma armadilha; os franceses, que estão dentro dela, pensam apenas em uma maneira de escapar.

Os responsáveis por isso são o Presidente François Hollande e o Primeiro Ministro Manuel Valls. Por anos a fio, muitos na França apoiaram qualquer movimento que condenasse o "racismo islamofóbico". Eles aprovaram leis definindo críticas ao Islã como "crime de ódio". Eles dependiam cada vez mais do voto muçulmano para vencer eleições. O mais importante instituto interdisciplinar de estudos de esquerda da França, Terra Nova, considerado próximo ao Partido Socialista, publicou vários levantamentos explicando que a única maneira da esquerda vencer eleições é atrair os votos dos imigrantes muçulmanos e incluir mais muçulmanos na população do país.

A direita moderada também é culpada. O Presidente Charles de Gaulle criou a "política árabe da França", um sistema de alianças com algumas das piores ditaduras árabes-muçulmanas do mundo, na crença de que a França iria recuperar seu poder graças a este sistema. O Presidente Jacques Chirac seguiu os passos de Charles de Gaulle. O Presidente Nicolas Sarkozy ajudou a derrubar o regime de Gaddafi na Líbia e carrega enorme responsabilidade pelo caos que se seguiu.

Há uma década a armadilha revelou seus efeitos letais. Em 2005 distúrbios em toda a França mostraram que as manifestações muçulmanas poderiam levar a França à beira da destruição. O incêndio foi extinto graças aos apelos de organizações muçulmanas pedindo calma. Desde então a França ficou à mercê de mais distúrbios.

A opção foi a de apaziguamento. O que não impediu a deterioração de ganhar terreno.

François Hollande tomou decisões precipitadas que colocaram a França no olho do furacão. Percebendo que os interesses estratégicos da França corriam perigo, lançou operações militares contra grupos islamistas na África Subsariana. Notando que muçulmanos franceses estavam indo treinar e participar ativamente da jihad na Síria, ele decidiu usar o exército francês em ações contra o Estado Islâmico.

Ele não previu que grupos islâmicos e o Estado Islâmico iriam retaliar e atacar a França. Ele não percebeu a extensão da vulnerabilidade da França, exaurida por dentro.

As consequências expuseram à luz do dia um cenário assustador. O islamitas viram o cenário e não deixaram de gostar do que viram.

Em seus Websites, eles muitas vezes citam uma mensagem de Osama bin Laden: "quando as pessoas veem um cavalo forte e um cavalo fraco, naturalmente irão querer ficar com o cavalo forte."

Ao que tudo indica eles acreditam que a França é um cavalo fraco e que o Islã radical pode fazer a França ficar de joelhos em cima de um amontoado de poeira e escombros. Também parece que eles acreditam que o tempo está a favor deles -- assim como a demografia. Os muçulmanos já compõem cerca de 10% da população francesa; 25% dos adolescentes na França são muçulmanos.

O número de muçulmanos franceses que querem a Lei Islâmica (Sharia) implementada na França cresce ano a ano, bem como o número de muçulmanos franceses que aprovam a jihad violenta. Franceses em número cada vez maior deploram o Islã, mas estão tomados pelo medo. Até mesmo os políticos que parecem estar prontos para lutar não mexem com o Islã.

Ao que tudo indica os islamitas acreditam que nenhum político francês irá superar o que mais parece uma perfeita tempestade árabe. Eles parecem ter a sensação de que o Ocidente já está derrotado e não tem mais condições de levar a melhor. Eles estão errados?
Por: Dr. Guy Millière, professor da Universidade de Paris, é autor de 27 livros sobre a França e a Europa. Original em inglês: France: After the Third Jihadist Attack
Tradução: Joseph Skilnik Do site: pt.gatestoneinstitute.org

domingo, 14 de agosto de 2016

A UTILIDADE DO INÚTIL E A NECESSIDADE DO SUPÉRFLUO

Louvre: quem diria que só há coisas inúteis nele?

Nem só de pão vive o homem. O materialismo utilitarista moderno, que transforma tudo em cálculo monetário, acaba deixando de lado o intangível, o “inútil” que, contudo, mostra-se fundamental para nossas vidas humanas. Vários pensadores enalteceram a “utilidade” desse inútil, ou a necessidade do “supérfluo”, tanto da esquerda como da direita (o caso, por exemplo, de Ortega y Gasset, que já comente iaqui).

Em A utilidade do inútil: um manifesto, o italiano Nuccio Ordine compila várias dessas defesas intelectuais das artes, da poesia, da literatura, desde Aristoteles até pensadores modernos, passando por Montaigne, Shakespeare, Kant e muitos outros. Seu tom é ácido demais contra o lucro, o mercado, a austeridade. Ordine pensa que o capitalismo é o grande vilão dessa vida mais espiritual, voltada ao belo. Faz uma defesa apaixonada das áreas de humanas nas universidades, lamentando o sucateamento crescente de verbas para se preservar o foco nesse “inútil”.

Mas não é preciso concordar com seu diagnóstico, tampouco com sua receita, para admitir que sua crítica tem um ponto legítimo. Creio, aliás, que esse seja o problema de muito liberal, principalmente da área econômica: a fim de rechaçar, com razão, as propostas estatizantes desses “intelectuais”, recusa-se a sequer escutar suas críticas ao sistema capitalista, muitas vezes válidas.

Vamos, antes de mais nada, aos maiores erros que vejo no manifesto. Ordine parece projetar que todos são ou deveriam ser como ele, mais contemplativos e menos “executores”, preocupados em admirar o belo em vez de acumular riquezas. Acha, como tantos socialistas, que todos poderiam ser caçadores de dia, pescadores de tarde e filósofos de noite. É uma visão elitista e arrogante do mundo.

Cada um é cada um, com seus interesses diversos, com suas fugas diferentes para as angústias inerentes à condição humana. Não nego que a “fuga” pelas artes seja mais atraente, refinada e talvez superior à “fuga” pelo consumismo, pelo acúmulo de bens, ou coisa do tipo. Mas não somos todos iguais, e é uma forma de autoritarismo querer impor nosso estilo de vida “superior” aos outros.

No mais, há sempre a questão da hipocrisia. Esses “intelectuais” gostam de cuspir no “sistema”, no lucro, mas não costumam dispensar as maravilhas que só o capitalismo pode lhes oferecer. Além disso, manter bibliotecas, orquestras sinfônicas, cursos de línguas clássicas e museus custa dinheiro, que não cai do céu nem brota do solo. Alguém precisa pagar por isso. Deve o trabalhador labutar no campo para o intelectual desfrutar de sua ópera? Também adoraria viver imerso em livros, músicas e obras de arte, mas quem pagaria por isso?

Julgar que a alocação de recursos escassos é equivocada por negligenciar tais áreas é adotar uma visão de mundo, que não necessariamente estará de acordo com a dos demais cidadãos. Condenar a austeridade em si, quando tantos governos europeus estão literalmente quebrados, é fingir que há alternativa, que é possível simplesmente abandonar a aritmética, ou que manter um museu é mais relevante do que manter um hospital. Não é maduro fingir que a escassez não existe.

Feitas essas ressalvas, considero o grande mérito do livro o ataque aos excessos do materialismo, tentando chamar a atenção para coisas que parecem efetivamente mais elevadas. É verdade que devemos tomar cuidado aqui, lembrando do alerta de Joãozinho Trinta: quem gosta de pobreza é intelectual; pobre gosta é de luxo. Todos queremos conforto material, e é fácil falar que não precisa de dinheiro quando se tem.

Isso não quer dizer que devemos simplesmente ignorar todos os argumentos desses intelectuais. Talvez seu maior defeito seja o monopólio da virtude: defendem coisas boas, importantes, mas acham que o único meio de preservá-las é com a intervenção estatal e o uso de mais recursos públicos. Quando mostramos como as matérias de humanas nas universidades se transformaram em antros de proselitismo ideológico e combate ao capitalismo, e talvez por isso vêm perdendo cada vez mais apoio e prestígio também, eles viram a cara e fogem das críticas.

Eis o ponto-chave: a obsessão das sociedades modernas com PIB, por exemplo, deixa de lado essa questão importante, fundamental até, eu diria, que acaba definindo sua identidade, sua cultura, seus valores. Os alertas que considero válidos vão na linha de lembrar que só enriquecer materialmente não pode ser o único objetivo, já que pode ocorrer um empobrecimento espiritual no processo. Não é preciso ser de esquerda para entender isso: muitos conservadores o fazem.

Em outras palavras: aquele que só pensa em ter, acaba esquecendo da relevância do ser. Não concordo com a premissa rousseauniana do autor, de que são o capitalismo, a propriedade privada e o lucro que causam isso, que afastam as pessoas de uma vida mais voltada para o ser. Acho que isso é culpar bodes expiatórios. E a tentativa de se criar o “novo homem” sob o comunismo se mostrou desastrosa ao extremo.

Vários liberais, como Thomas Sowell e Hayek, escreveram sobre o flerte dos intelectuais com o socialismo. O livro de Ordine demonstra esse perigo: no afã de defender coisas nobres, elevadas, ele acaba direcionando sua metralhadora giratória para o alvo errado, o capitalismo, o lucro, o mercado. Acha que se abandonarmos tais coisas todos irão, de repente, viver suas vidas procurando o sublime. É uma visão romântica demais, e perigosa.

Mas, repito, isso não deve ser sinônimo de jogar fora toda a sua crítica, que é válida. Qual o lugar mais útil de uma casa? A latrina. Mas não podemos viver voltados apenas para isso, para o útil, pois a latrina é também o lugar mais feio da casa. Reconhecer que a busca do belo é crucial em nossas vidas, e que o foco comercial excessivo ajuda a nos afastar dessa busca, é algo que podemos fazer sem cuspir no capitalismo ou abraçar o socialismo.

Basta citar como exemplo o mercado das “artes” pós-modernas, dominado pela lógica financeira ao extremo, invadido por ricaços de olho apenas na valorização de seus preços investidos ou em modismos, e que acabou deturpando completamente o conceito de arte tradicional, aquela que buscava o transcendental, o sublime, o eterno.

O autor argumenta que o mesmo teria acontecido na educação e na ciência, com o fim da busca desinteressada pelo saber, pelo conhecimento, bom por si mesmo, não somente por ser “útil” em alguma aplicação prática. Ou seja, não podemos abandonar jamais a preocupação com o qualitas, buscando apenas o quantitas. Em tempos em que tudo que importa para alguns parece ser a quantidade de curtidas, isso vem bem a calhar.

“Eu devo estudar a política e a guerra para que meus filhos possam ter liberdade para estudar a matemática e a filosofia. Meus filhos devem estudar matemática e filosofia, geografia, história natural, arquitetura naval, navegação, comércio e agricultura, a fim de dar aos seus filhos o direito de estudar pintura, poesia, música, arquitetura, tapeçaria, e porcelana”. Quem disse isso foi John Adams, um dos “pais fundadores” mais conservadores. 

Focar nas artes é crucial, mas também é preciso sobreviver, pagar as contas, derrotar inimigos. Ou seja, viver no mundo real. O maior perigo que existe não é só, como alega Ordine, os homens abandonarem de vez as artes para só pensar em acumular mais; mas também os artistas e intelectuais ignorarem aquilo que, para começo de conversa, possibilita a contemplação do sublime: o maior conforto material, que só o capitalismo nos garante.

Quando se vive sem o básico, quando falta até papel higiênico, fica mais difícil contemplar as belas artes e valorizar o ser, em vez do ter. Ou alguém acha que na Venezuela de hoje, destruída pelo socialismo, há espaço para a admiração da beleza natural e das artes humanas?
Por: Rodrigo Constantino  Do site: http://rodrigoconstantino.com/

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

PARA FRANCISCO E O DECLÍNIO DO OCIDENTE


Papa Francisco fez comentários na semana passada que revelam a única coisa mais importante que você precisa saber sobre o mundo moderno: a religião mais dinâmica dos últimos cem anos tem sido o esquerdismo. Não o cristianismo, não o Islã, mas o esquerdismo.

O esquerdismo conquistou as instituições educacionais líderes do mundo, os meios de comunicação do mundo e o entretenimento popular do mundo, e tem influenciado o cristianismo (e judaísmo) muito mais do que o cristianismo (ou o judaísmo) influenciou qualquer coisa.

Em 26 de julho, dois muçulmanos cortaram a garganta de um padre católico francês, o Rev. Jacques Hamel, 85, enquanto ele estava rezando missa em sua igreja.

Cinco dias depois, durante seu voo de volta a Roma do Dia Mundial da Juventude em Cracóvia, Polônia, o Papa Francisco deu uma coletiva de imprensa. Ele foi questionado sobre o padre francês e o Islã por Antoine-Marie Izoard, jornalista da I.Media, uma agência de notícias católica francesa. Izoard disse:

“Os católicos estão em estado de choque – e não só na França – após o assassinato bárbaro do padre Jacques Hamel em sua igreja, enquanto ele estava celebrando a Santa Missa. Quatro dias atrás… você nos disse mais uma vez que todas as religiões querem a paz. Mas esse santo sacerdote, oitenta e seis anos de idade, foi claramente morto em nome do Islã. Então, tenho duas perguntas breves, Santo Padre. Quando você fala desses atos de violência, por que você sempre fala de terroristas, mas não do Islã? … E então, qual … iniciativa concreta você pode lançar ou talvez sugerir, a fim de combater a violência islâmica?”

O papa Francisco respondeu:

“Eu não gosto de falar de violência islâmica porque todos os dias quando eu abro os jornais eu vejo atos de violência, aqui na Itália: alguém mata sua namorada, outro sua sogra… e essas pessoas violentas são batizadas católicos! Eles são católicos violentos… Se eu falar sobre a violência islâmica, eu também teria que falar sobre a violência Católica”.

O papa da Igreja Católica Romana, quando perguntado sobre o terror islâmico e o corte da garganta de um padre católico romano por terroristas islâmicos, responde que também há terror católico – que um homem que foi batizado católico que “mata a namorada” é o equivalente moral e religioso de muçulmanos que se envolvem em assassinatos em massa em nome do Islã.

Como alguém pode comparar: 

- uma pessoa que acontece de ter sido batizada católica quando criança – e pode não ter nenhuma identidade católica como um adulto – com um adulto que afirma uma identidade religiosa? 

- o assassinato de uma namorada (provavelmente um crime passional) com o assassinato ritual de um padre católico porque ele era um padre? 

- assassinatos individuais que não têm nada a ver com ideologias com assassinatos em massa cometidos em nome de uma ideologia? 

O papa Francisco acrescentou:

“O terrorismo está em todos os lugares! … O terrorismo … aumenta sempre que não há outra opção, quando a economia global está centrada no deus do dinheiro e não na pessoa humana, homens e mulheres. Isso já é uma primeira forma de terrorismo. Você expulsa a maravilha da criação, homem e mulher, e coloca dinheiro em seu lugar. Esse é um ato básico de terrorismo contra toda a humanidade. Devemos pensar sobre isso.”

O terrorismo aumenta “sempre que não há outra opção”?

A premissa de que o terrorismo islâmico é um ato desesperado decorrente da pobreza é amplamente difundida na esquerda. Mas ela é falsa. A maioria dos terroristas islâmicos vem da classe média ou acima. No caso recente dos terroristas de Bangladesh, por exemplo, quase todos vieram de algumas das famílias mais ricas em Bangladesh. E, como é bem conhecido, a maioria dos sequestradores de 11/9 veio de famílias de classe média e média-alta.

O terrorismo islâmico não vem da economia; ele vem da sua teologia.

O terrorismo aumenta “quando a economia global está centrada no deus do dinheiro”?

A busca de dinheiro e terror não têm nada a ver um com o outro. Terrorismo cresce somente quando alguma ideologia o prega. Tudo que esta declaração faz é fornecer uma desculpa para o terrorismo islâmico, culpando a “economia global” e o “deus do dinheiro” em vez de os terroristas e seu deus da morte.

Uma “primeira forma de terrorismo” ocorre quando “a economia global está centrada no deus do dinheiro”?

É uma coisa ruim quando o dinheiro se torna um deus, mas não há comparação entre o “deus do dinheiro” e os horrores do terrorismo islâmico. As mulheres Yazidi não foram estupradas e queimadas vivas por causa da “economia global” e seu “deus do dinheiro”.

A única explicação para essas declarações é que o papa Francisco herdou sua teologia do catolicismo, mas ao contrário de seu antecessor imediato, o Papa Bento XVI, herdou boa parte de sua visão moral do esquerdismo.

A combinação ocidental da moral judaico-cristã e o liberalismo político – com a sua doutrina de responsabilidade moral, absolutos morais, confrontando o mal, e a liberdade política e social – tem produzido sociedades mais morais na história do mundo.

O papa da Igreja Católica Romana deveria ser seu maior defensor. Mas, por conta de seu esquerdismo, ele não é.
Por Dennis Prager * Publicado originalmente no Townhall.com

domingo, 7 de agosto de 2016

O SOL ANUNCIA: VEM AÍ UMA MINI-ERA DO GELO

Explosões solares nas últimos três ciclos (1985-2015 em diante) estão diminuindo.
(Dr. David Hathaway, NASA-MSFC)

No dia 7 de julho de 2016 o sol ficou completamente ‘em branco’, o que quer dizer que não se observou nele mancha alguma de explosão solar.

O fenômeno não durou muito, mas foi suficiente para caracterizar a baixa atividade solar que os cientistas vêm observando nos últimos anos. O atual ciclo solar, o mais fraco do último século, corresponde ao 24º, desde que começaram os registros em 1755.

A diminuição não implica tragédia alguma, pois se inscreve no atual ciclo solar normal. Mas é um sinal de que o “mínimo solar”, ou período de baixa atividade do astro-rei, está se aproximando.

Por causa disso, os especialistas sugerem que uma nova “mini-era do gelo” pode estar a caminho.

Paul Dorian, especialista em meteorologia do site Vencore Weather, explicou:

“Pela segunda vez neste mês, o sol ficou completamente em branco”.
“O sol sem manchas é um sinal de que o mínimo solar está se aproximando e de que haverá um número crescente de dias sem manchas ao longo dos próximos anos.
“No início, a ausência das manchas vai se estender por apenas alguns dias de cada vez, depois por semanas e finalmente meses, período em que o ciclo de manchas solares chegará ao seu ponto mais baixo.
“A próxima fase do mínimo solar está prevista para 2019 ou 2020”.

No "Mínimo de Maunder", iniciado em 1645, o rio Tamisa congelava, fazia frio mas era uma festa.

A evolução do ciclo leva os especialistas a achar que poderemos entrar em breve em outra fase do “Mínimo de Maunder” — uma mini Era Glacial -, similar à que começou em 1645.

Durante o “Mínimo de Maunder”, as temperaturas caíram a ponto de o rio Tâmisa congelar no inverno, para festa das crianças e negócio dos feirantes!

O memorialista duque de Saint-Simon conta que as taças de água congelavam e estouravam na mesa do rei Luís XIV, no Palácio de Versailles! Mas ninguém dos presentes morreu, ou coisa que o dera.

A professora Valentina Zharkova, da Universidade de Northumbria, Grã-Bretanha, prevê um declínio acentuado da atividade solar entre 2020 e 2050.

No ano passado, ela declarou:

“Estou absolutamente confiante em nossa pesquisa. Ela tem bom suporte matemático e dados confiáveis, que foram manipulados corretamente.
“De fato, os nossos resultados podem ser repetidos por qualquer investigador, usando dados similares disponíveis em muitos observatórios solares, para que ele possa chegar à sua própria evidência de um iminente ‘Mínimo de Maunder’ no campo magnético solar e sua atividade.”

O sol é o grande determinante do calor e do frio na Terra, mas não há nenhuma razão para temer nada de parecido com um apocalipse. Verificar-se-á uma diminuição da temperatura média global para a qual o homem e suas atividades poderão se adatar.

A evolução detectada esvazia as pretensões do terrorismo propagandístico sobre um aquecimento susceptível de convulsionar a vida da Humanidade ou induzir a dramáticas tragédias planetárias.
O rio Tamisa congelado era ocasião boa para feiras. 
Se por acaso a cena vier a se repetir nossos catastrofistas verdes profetizarão a morte do planeta por 'frio antropogênico'?

Mas os pânicos soprados a partir de gabinetes ambientalistas radicais obedecem a interesses ideológicos. Eles pouco se importam com a verdade da ciência ou com o comportamento da natureza.

Os mesmos ambientalistas tentaram impor outrora suas teorias anti-civilização e anti-propriedade privada, espalhando o pânico de uma era do gelo iminente e devastadora.

Como não deu certo, passaram a pregar com o mesmo fim ideológico neocomunista um aquecimento global que justifique uma governança planetária pela aplicação de medidas drásticas e ditatoriais.

Se amanhã eles perceberem que o pânico aquecimentista não atende aos seus interesses extracientíficos, não hesitarão em virar a casaca mais uma vez.

Meu blog terá então de divulgar os estudos futuros dos cientistas sérios desmontando os exageros ideológicos ambientalistas sobre o “resfriamento global”!

Em qualquer hipótese, o dogma socialista de um dirigismo planetário ficará sempre intensamente vermelho sob uma casca enganosamente verde.
POR LUIS DUFAUR | 01 AGOSTO 2016
http://ecologia-clima-aquecimento.blogspot.com Do site: http://www.midiasemmascara.org/


sexta-feira, 5 de agosto de 2016

ESCOLA SEM CENSURA

O nome "Escola Sem Partido" evoca o isentismo hipócrita que os jornais brasileiros encarnam tão bem, que só serve à esquerda e que ainda dá a ela a chance de acusar os adversários de querer praticá-lo


No imaginário popular, criado e alimentado por essas três classes de vendedores de drogas que são os jornalistas, os professores e o pessoal do show business, o termo “universidade medieval” evoca imediatamente um ambiente mental opressivo e rigidamente dogmático, hostil à linda “liberdade de discussão” que a modernidade viria a inaugurar para a felicidade e conforto do gênero humano.

Como praticamente tudo o que vem dessas três fontes, isso é a exata inversão da realidade.

Nas universidades medievais, o principal método de ensino, ao lado da lectio ou comentário de texto, era a disputatio, ou debate organizado, que, dada uma questão, começava justamente pelo levantamento de todas as opiniões pró e contra disponíveis e em seguida prosseguia pela confrontação sistemática dos argumentos que as sustentavam.

O aluno que desejasse defender alguma ideia era convidado primeiro a reproduzi-la fielmente e argumentar contra ela, da maneira mais eficiente que pudesse, levando em conta todos os argumentos preexistentes, para ter a certeza de que se movia em terreno firme.

Ao contestar uma opinião, devia, antes, anunciar se negava alguma das suas premissas, o desenvolvimento lógico do argumento ou a sua concordância com os fatos conhecidos.

Em nenhuma universidade do mundo, nos dias que correm, vigora tamanho respeito pela liberdade de opinião e pela honestidade do debate. Nem mesmo no campo das ciências naturais, onde a distribuição das verbas de pesquisa, a mando de governos, de grupos bilionários e de interesses corporativos, já bloqueia in limine a mera possibilidade de discussão das teorias julgadas inconvenientes.

Mas, se isso é assim em praticamente todas as universidades do mundo, no Brasil a seletividade autoritária é ainda agravada até à demência pelo império dos professores ineptos –cinqüenta por cento deles, entre os recém-formados, analfabetos funcionais –, que defendem ferozmente os seus privilégios grupais e os seus interesses partidários contra o risco de discussões abertas que terminariam inevitavelmente pela sua desmoralização pública.

É esse estado de coisas que seus criadores e mantenedores descrevem, cinicamente, como “pluralismo”, “liberdade democrática” e “respeito pelas diferenças”.

O fenômeno do Dicionário Crítico do Pensamento da Direita (leiam aqui), em que cento e vinte professores universitários, subsidiados por verbas oficiais e privadas, prometiam um vasto panorama dessa corrente de opinião e em lugar dela promoviam a sua ocultação sistemática, ludibriando desavergonhadamente seus alunos e os leitores em geral, já bastava para ilustrar no ano de 2000, com amostragem estatística mais que suficiente, um estado de controle ditatorial que desde essa época não cessou de se ampliar formidavelmente e que seus beneficiários defendem com a bravura de militantes fanatizados e a mendacidade de criminosos psicopáticos contra a intrusão do “Escola Sem Partido”.

Há alguma coisa errada com o "Escola Sem Partido"? Há. O nome. Deveria chamar-se "Escola Sem Censura", porque a parte mais decisiva da dominação comunista na educação brasileira não consiste na propaganda ativa, que pode ser eficiente mesmo quando em doses mínimas, e sim na exclusão sistemática de tudo o que a contraria.

A mente do estudante pode se defender do que lhe dizem, mas fica impotente quando os meios de reagir lhe permanecem totalmente desconhecidos.

O nome "Escola Sem Partido" evoca o isentismo hipócrita que os jornais brasileiros encarnam tão bem, que só serve à esquerda e que ainda dá a ela a chance de acusar os adversários de querer praticá-lo.

Outro erro é a insistência na palavra “doutrinação”. Doutrinação é a inculcação sistemática de um corpo de sentenças ou teorias, de uma visão da realidade, que não pode nem mesmo ser compreendida sem alguma confrontação, por modesta que seja, com hipóteses adversas ou alternativas.

Como dizia Benedetto Croce, “é impossível compreender um filósofo sem saber contra quem ele se levantou polemicamente”. E Julián Marías explicava que a fórmula de qualquer tese filosófica não é simplesmente “A é C”, mas “A não é B e sim C”.

Nesse sentido, pode-se dizer que nas escolas brasileiras, mesmo de nível superior, a quantidade de doutrinação é mínima.

Pascal Bernardin demonstrou, no já clássico Maquiavel Pedagogo, que as técnicas pedagógicas, algumas velhas de muitas décadas, utilizadas hoje em dia para escravizar mentalmente a população estudantil, do primário à universidade, são ardis psicológicos calculados para produzir mudanças de comportamento sem passar pelos processos normais de formação de opiniões, isto é, subtraindo-se não somente à confrontação crítica mas a qualquer exame consciente do que está sendo ensinado.

Freqüentemente as condutas induzidas permanecem no nível pré-verbal, como por exemplo no caso do menininho que, em vez de ouvir uma apologia ao homossexualismo, é convidado – por experiência, só por experiência – a dar um beijo sensual na boca do seu coleguinha.

Ou, na universidade, o aluno que, antes de ter ouvido dois minutos de teoria marxista, é liberado da aula para juntar-se a uma assembléia “contra o golpe”, tendo de escolher entre curvar-se à pressão dos pares ou tornar-se um réprobo, um excluído, um maldito fascista, sem ter tido ao menos a oportunidade de esboçar mentalmente alguma objeção formal à conduta pretendida.

A indução de comportamentos, a engenharia social, a pressão dos pares, a chantagem psicológica e a intimidação velada ou aberta são os procedimentos usuais empregados em praticamente todas as universidades brasileiras para manter a população estudantil obediente a padrões de conduta cujo alcance ideológico ela pode permanecer até mesmo incapaz de formular verbalmente.

Desde os estudos de Kurt Lewin, nos anos 40 do século passado, está demonstrado que procedimentos desse tipo são muito mais eficientes do que qualquer propaganda ou “doutrinação” explícita. E hoje em dia é notório que o emprego maciço desses recursos psicológicos é recomendado e imposto até mesmo pelos organismos internacionais.

O professor que aplique essas técnicas até transformar os seus alunos no mais obediente dos rebanhos pode mesmo reagir com indignação ante a sugestão de que os esteja “doutrinando”. E não é impossível que em alguns casos ele esteja mesmo sendo “sincero”, no sentido da autopersuasão histérica que se apega a uma auto-imagem grupal defensiva para não precisar julgar moralmente o que faz na realidade.

Esses dois pontos fracos deram aos inimigos do “Escola Sem Partido” , de mão beijada, a oportunidade de ouro de inverter o quadro todo da situação, apresentando as reivindicações do movimento como se fossem as deles próprios e atribuindo a ele as propostas simetricamente inversas.

Os cinco pontos fundamentais do "Escola Sem Partido" são tão obviamente justos e tão solidamente amparados na Constituição Federal, que os inimigos do movimento, para combatê-lo, não tiveram outro remédio senão roubá-los e fingir que o movimento defendia as propostas contrárias.
Isso não é discussão, é difamação proposital, ardilosa, dolosa no mais alto grau.
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Jornal Diário do Comércio

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

QUANTO DA NOSSA CULTURA ESTAMOS CEDENDO AO ISLÃ?

- O mesmo ódio dos nazistas vem dos islamistas e de seus aliados politicamente corretos. Sequer temos uma vaga ideia de quanto da cultura ocidental nós cedemos ao Islã.


- As democracias são, ou pelo menos deveriam ser, custodiantes de um tesouro perecível: liberdade de expressão. Esta é a maior diferença entre Paris e Havana, Londres e Riad, Berlim e Teerã, Roma e Beirute. Liberdade de expressão é o que temos de melhor da cultura ocidental.

- É autodestrutivo polemizar sobre a beleza de charges, poemas ou pinturas. No Ocidente, pagamos um preço muito alto pela liberdade para podermos usufruir dela. Devemos todos, portanto, protestar quando um juiz alemão proíbe versos "ofensivos" de um poema, quando uma editora francesa despede um editor "islamofóbico" ou quando um festival de música bane uma banda politicamente incorreta.

Tudo isso aconteceu na mesma semana. Um juiz alemão proibiu o comediante Jan Böhmermann de repetir versos "obscenos" de seu famoso poema sobre o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Um teatro dinamarquês aparentemente cancelou a apresentação dos "Versos Satânicos" da sua temporada por medo de "represálias". Dois festivais de música franceses não apresentarão o Eagles of Death Metal -- a banda americana que tocava no Bataclan, uma sala de espetáculos em Paris, quando ela foi alvo do ataque dos terroristas do ISIS (89 pessoas foram assassinadas), -- por conta de comentários "islamofóbicos" de Jesse Hughes, vocalista do grupo. Hughes sugeriu que os muçulmanos passem por uma revista mais minuciosa , ressaltando que "está certo ser mais exigente quando se tratar de muçulmanos a esta altura", acrescentando:

"Eles sabem que há um belo grupo de menores brancos que são idiotas e cegos. Temos esses adolescentes brancos que cresceram em um ambiente liberal desde o jardim de infância, cercados com essas imponentes noções que nada mais são do que conversa fiada".

Brendan O'Neill ressalta, "os liberais ocidentais estão fazendo o trabalho sujo para eles; eles estão silenciando aqueles que o ISIS considera blasfemos; eles estão completando os atos de terror do ISIS".

Há algumas semanas, a editora mais importante da França, a Gallimard, despediu o seu mais famoso editor, Richard Millet, que escreveu um ensaio no qual ele assinala:

"O declínio da literatura e as profundas mudanças ocorridas na França e na Europa em consequência da ininterrupta e extensa imigração de fora da Europa, com seus assustadores elementos do salafismo militante e da correção política alojadas no coração do capitalismo global; vale dizer, significa o perigo da destruição da Europa juntamente com seu humanismo cultural ou humanismo cristão, em nome do humanismo em sua versão multicultural".

Kenneth Baker acaba de publicar sua nova obra On the Burning of Books: How Flames Fail to Destroy the Written Word (Sobre a Queima de Livros: Porque as Chamas Não Conseguem Destruir a Palavra Escrita). Trata-se de um compêndio do assim chamado "bibliocausto", a queima de livros desde o Califa Omar a Hitler, incluindo a fatwa contra Salman Rushdie. Quando os nazistas incineraram livros em Berlim eles declararam que das cinzas desses romances se "levantará a fênix de um novo espírito". O mesmo ódio vem dos islamistas e de seus aliados politicamente corretos. Sequer temos uma vaga ideia de quanto da cultura ocidental nós cedemos ao Islã.

O filme "Submissão" de Theo Van Gogh, pelo qual ele foi assassinado, desapareceu de muitosfestivais de cinema. Os desenhos do Profeta Maomé da revista Charlie Hebdo estão fora do alcance dos olhares do público: depois do massacre, pouquíssimas mídias reeditaram aquelas caricaturas. As postagens no blog de Raif Badawi, que lhe custaram 1.000 chibatadas além de dez anos de prisão na Arábia Saudita, foram apagadas pelas autoridades sauditas e agora circulam como a Samizdat, a literatura proibida na União Soviética.

Após o massacre do staff da revista Charlie Hebdo, pouquíssimos veículos de imprensa republicaram as caricaturas de Maomé. Stéphane Charbonnier, editor da Charlie Hebdo, que foi assassinado em 7 de janeiro de 2015 juntamente com vários colegas, na foto acima, em frente da antiga redação da revista, logo após ela ter sido atacada com bombas incendiárias em novembro de 2011.

Molly Norris, a cartunista americana que em 2010 fez desenhos de Maomé e proclamou o "Dia de Todo Mundo Desenhar Maomé", ainda vive escondida, teve que mudar de nome e de vida. O Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque retirou as imagens de Maomé de umaexposição, enquanto a imprensa de Yale baniu as imagens de Maomé de um livro sobre charges. A Joia de Medina, um romance sobre a esposa de Maomé, também foi retirado.

Na Holanda, uma ópera sobre Aisha, uma das esposas de Maomé, foi cancelada em Roterdam depois que a peça foi boicotada pelos atores muçulmanos da companhia teatral, quando ficou evidente que seriam alvos de islamistas. O jornal NRC Handelsblad publicou na manchete da primeira página "Teerã no Meuse", o rio que passa pela cidade holandesa.

Na Inglaterra, o Museu Victoria e Albert retirou a imagem de Maomé. "Os museus e as bibliotecas britânicos têm em seu acervo dezenas dessas imagens, em sua maioria miniaturas de manuscritos de vários séculos, mas estão, em grande medida, longe dos olhos do público", segundo matéria do The Guardian. Na Alemanha, a Deutsche Opera cancelou a óperaIdomeneo de Mozart em Berlim, porque ela retratava a cabeça cortada de Maomé.

A peça "Tamerlão o Grande" de Christopher Marlowe, que inclui uma passagem em que Maomé "não merece ser adorado", foi reescrita no teatro Barbican de Londres, ao passo que os organizadores do carnaval de Colônia cancelaram os carros alegóricos em homenagem aCharlie Hebdo.

Na cidade holandesa de Huizen, duas pinturas de nus foram removidas de uma exposição após a reação desfavorável de muçulmanos. A obra da artista holandesa/iraniana Sooreh Hera, foi retirada de vários museus holandeses porque algumas das fotografias retratavam Maomé e seu genro Ali. Em conformidade com o exposto, um dia a National Gallery de Londres, Uffizi de Florença, Louvre de Paris ou Prado de Madri poderão resolver censurar Michelangelo, Rafael, Bosch e Balthus para não ofender a "suscetibilidade" dos muçulmanos.

O dramaturgo inglês Richard Bean foi obrigado a censurar uma adaptação da comédia "Lisístrata" de Aristófanes, na qual as mulheres gregas entram em "greve de sexo" para impedir seus companheiros de irem para a guerra (no script de Bean, virgens muçulmanas entram em greve para impedir a ação de homens bomba). Diversos vilarejos espanhóis pararam de queimar efígies de Maomé nas solenidades que celebram a reconquista do país na Idade Média.

Há um vídeo gravado em 2006, no qual as ameaças de morte contra Charlie Hebdo se tornaram preocupantes. No vídeo jornalistas e cartunistas estão reunidos em volta de uma mesa para decidir qual será a capa da próxima edição da revista. Eles conversam sobre o Islã. Jean Cabu, um dos cartunistas que depois foi assassinado por islamistas, coloca a questão da seguinte maneira: "ninguém na União Soviética tinha o direito de fazer sátiras sobre Brezhnev."

Depois, outra futura vítima, Georges Wolinski, diz, "Cuba está cheia de cartunistas, mas não fazem caricaturas sobre Castro. De modo que somos felizardos. Sim, somos felizardos, a França é um paraíso".

Cabu e Wolinski estavam certos. As democracias são, ou pelo menos deveriam ser, custodiantes de um tesouro perecível: liberdade de expressão. Esta é a maior diferença entre Paris e Havana, Londres e Riad, Berlim e Teerã, Roma e Beirute. Liberdade de expressão é o que temos de melhor da cultura ocidental.

Graças a campanha dos islamistas e o fato de que agora somente alguns "malucos" ainda se aventuram no exercício da liberdade. Iremos apenas ficar amedrontados? Cartunistas, jornalistas e escritores "islamofóbicos", são os primeiros europeus desde 1945 a se retiraram da vida pública para protegerem suas próprias vidas. Pela primeira vez na Europa desde que Hitler ordenou a queima de livros na Bebelplatz em Berlim, filmes, pinturas, poemas, romances, charges, artigos e peças estão sendo literal e figurativamente queimados.

O jovem matemático francês Jean Cavailles, que para explicar seu fatídico envolvimento com a Resistência antinazista, costumava dizer: "nós lutamos para podermos ler o Paris Soir em vez do Völkischer Beobachter". E por esta razão somente, é autodestrutivo polemizar sobre a beleza de charges, poemas ou pinturas. No Ocidente, pagamos um preço muito alto pela liberdade para podermos usufruir dela. Devemos todos, portanto, protestar quando um juiz alemão proíbe versos "ofensivos", quando uma editora francesa despede um editor "islamofóbico" ou quando um festival de música bane uma banda politicamente incorreta.
Ou será que já é tarde demais?
Por: Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.Original em inglês: How Much of our Culture Are We Surrendering to Islam?
Tradução: Joseph Skilnik Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org


quarta-feira, 3 de agosto de 2016

ALGUÉM SABE DEFINIR O QUE É "JUSTIÇA SOCIAL"?


Você conhece alguém que saiba a definição de justiça social?

Se você perguntar a dez progressistas o que significa justiça social, você terá dez respostas diferentes. E é assim porque "justiça social" significa qualquer coisa que seus proponentes queiram que signifique. 

O "social" é um adjetivo mustelídeo, que confere ao termo "justiça" ampla diversificação de significados.

Quase que sem exceção, sindicatos, universidades, movimentos organizados, instituições de caridade e igrejas clamam que pelo menos uma parte da sua missão é o aprofundamento da justiça social. A própria ONU criou o Dia Mundial da Justiça Social.

Sucintamente, "justiça social" é um código que designa coisas boas em prol das quais ninguém precisa argumentar — e ninguém ousaria ser contra.

Isso incomodou imensamente o grande economista Friedrich Hayek. Eis o que ele escreveu ainda em 1976, dois anos após ganhar o Prêmio Nobel de Economia:

'Justiça social' é uma das expressões mais enganosas (e talvez por isso mesmo mais frequentemente usada) do discurso político contemporâneo. Com efeito, trata-se de uma miragem, uma fórmula ilusória que, por conter atrativos quiméricos, é constantemente utilizada pelos políticos para conseguir que uma determinada pretensão seja considerada plenamente justificada sem ter de dar razões morais para sua adoção.

Passei a acreditar que o maior serviço que ainda posso prestar aos meus semelhantes é o de fazer com que oradores, políticos, escritores, jornalistas e todos os pensadores responsáveis venham a sentir, para sempre, total vergonha de empregar a expressão 'justiça social'.

Por que Hayek se sentiu tão incomodado por uma expressão que possui uma conotação tão positiva e tão incontestável? Porque ele conseguiu enxergar, como frequentemente o fazia, perfeitamente o cerne da questão. E o que ele viu o assustou.

Hayek entendeu que, por trás do oportunismo político e da preguiça intelectual do termo "justiça social" há uma perniciosa alegação filosófica: a de que a liberdade deve ser sacrificada em prol da redistribuição de renda.

Em última instância, "justiça social" se resume ao estado acumular poderes cada vez maiores com o intuito de "fazer coisas boas". E o que seriam essas "coisas boas"? Tudo aquilo que os defensores da justiça social decidirem esta semana. 

Mas sempre, tanto em primeiro quanto em último lugar, está a causa da redistribuição de renda. 

De acordo com a doutrina da Justiça Social, quem tem dinheiro tem muito dinheiro, e quem tem pouco dinheiro não tem dinheiro e precisa de mais dinheiro. E isso não é uma caricatura, não. É exatamente assim que um relatório da ONU sobre Justiça Social define o termo:

Justiça social pode ser amplamente entendida como a justa e misericordiosa distribuição dos frutos do crescimento econômico. A justiça social não é possível sem fortes e coesas políticas redistributivas concebidas e implantadas por agências públicas.

Vale a pena repetir essa parte: "fortes e coesas políticas redistributivas concebidas e implantadas por agências públicas".

E tudo piora.

O relatório prossegue e diz que: "aqueles que hoje acreditam em uma verdade absoluta identificada com a virtude e a justiça não são companhias desejáveis para os defensores da justiça social."

Tradução: se você acredita que verdade e justiça são conceitos independentes da agenda progressista capitaneada pela esquerda, então você é um inimigo declarado da justiça social.

Assim, justiça social — ou "demonstração de compaixão" — é quando o governo toma o seu dinheiro, ganhado honestamente por meio do seu trabalho e com o suor do seu próprio rosto, e o entrega para terceiros escolhidos pelo próprio governo. Já se você simplesmente quiser manter para si esse dinheiro, isso é uma intolerável demonstração de ganância.

Isso levou o grande Thomas Sowell a fazer sua afirmação antológica: "Nunca entendi por que é 'ganância' querer manter para si o dinheiro que você ganhou com o suor do próprio rosto, mas não é ganância querer tomar o dinheiro dos outros".

O mais curioso é que os maiores proponentes da redistribuição de renda são os primeiros a não se submeter a ela, como bem comprovou o recente caso dos "Panama Papers", em que se descobriu que proeminentes políticos defensores da redistribuição de renda enviaram seu dinheiro para paraísos fiscais, protegendo-o da própria redistribuição que defendem.

Isso deu ainda mais significado àquele antigo provérbio, que diz que "Muitos dos interessados na distribuição do bolo querem sobretudo o controle da faca".

A condenação da liberdade

Defensores da justiça social supostamente querem que todo e qualquer infortúnio, aflição ou desejo econômico seja resolvido por mais um programa governamental criado especificamente para remediar esse infortúnio, essa aflição ou esse desejo econômico.

A "justiça social" atribui ao governo e seus burocratas a responsabilidade suprema pelo bem-estar de cada indivíduo, tornando os funcionários públicos juízes supremos dos direitos individuais. Ela coloca os políticos no centro da ordem econômica. Legisladores aprovam leis econômicas, governantes adotam as regulações, os juízes as adjudicam, e os cobradores de impostos e a polícia as impingem. O dinheiro assim coletado pode ser alocado tanto para a saúde quanto para universidades quanto para uma grande indústria que está em dificuldade e precisa de subsídios para "manter os empregos". 

Em cada um desses casos, a "justiça social" leva a uma expansão dos poderes do governo, dos políticos e dos funcionários públicos, tornando todos esses os principais beneficiários do sistema.

O ponto subjacente à justiça social, portanto, se resume a uma impetuosa e radical condenação da sociedade livre. À medida que as regulamentações e os poderes do estado se expandem, e o confisco da renda aumenta, a liberdade do indivíduo encolhe.

No entanto, para os "guerreiros sociais", todo o necessário é invocar a frase abracadabra "justiça social", e tudo irá se resolver.

A invocação da justiça social sempre parte do princípio de que "as pessoas certas" — alguns poucos ungidos — podem simplesmente impor a justiça, a prosperidade e qualquer outra "coisa boa" que você puder imaginar. E a única instituição capaz de impor a justiça social é o estado.

Os auto-declarados defensores da justiça social acreditam que o estado pode, e deve, remediar tudo aquilo que eles julgam estar errado com o mundo. Qualquer um que discorde se torna automaticamente um inimigo de tudo aquilo que é bom e correto. Consequentemente, o estado — ou seja, os políticos — deve coagir esses desalmados a agir de acordo com o que é "socialmente justo". E isso, como Hayek já havia profetizado, não mais é uma sociedade livre.

É nesse tipo de sociedade que você quer viver? Se não é, cuidado com aquilo que será feito em nome da justiça social.



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Por Jonah Goldberg, um colunista e autor do best seller Fascismo de Esquerda, publicado em 2008, que alcançou o primeiro lugar na lista do New York Times dos livros de não-ficção mais vendidos nos Estados Unidos.
Hans F. Sennholz foi o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos.  Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim que chegou.  Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic Education, 1992-1997.  Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004, ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade. Do site:http://www.mises.org.br/

terça-feira, 2 de agosto de 2016

A POSSIBILIDADE DA VOLTA DA MONARQUIA NO BRASIL


Um amigo me perguntou se acho possível a volta da monarquia no Brasil. A minha resposta foi: somente se acontecer algo totalmente imprevisto; um acontecimento tão imprevisível que só tenha explicação ex post facto; enfim, um Cisne Negro¹.

Apesar de termos um movimento monarquista dotado de pessoas inteligentes, podemos dizer que ainda estamos na etapa “pré-imaginativa” do processo de implantação de uma monarquia brasileira, pois sequer existe romance, peça de teatro, filme ou obra artística que possa colocar no campo da imaginação a existência de uma Casa Imperial governando o Brasil em pleno século XXI. Como disse Hugo von Hofmannsthal, sempre lembrado nas colunas do professor Olavo de Carvalho, “Nada está na realidade política de um país se não estiver primeiro na sua literatura”. Talvez meia dúzia dos que frequentam o encontro monárquico anual consigam imaginar um governo imperial, mas e o povo? Não é possível exigir do povo algo que ainda é inimaginável. Seria até macabra tal exigência.

Se um dia for transpassada essa barreira artística do discurso poético, há ainda o desafio do discurso retórico, isto é, o discurso que trata da verossimilhança. Como diz o professor Olavo de Carvalho, enquanto o primeiro discurso aristotélico opera em camadas muito mais profundas a ponto de predispor-nos de longe a certas atitudes, o segundo discurso é menos profundo, porém mais imediato; é um comando “prático” que pode ser entendido graças à disposição imaginativa proporcionada pelo primeiro discurso.

Para a segunda etapa, Olavo também já deu a dica para a casa monárquica brasileira: façam um shadow cabinet². Até o presente momento, parece que o conselho foi solenemente ignorado (ou pior: talvez sequer tenha sido repassado aos responsáveis)…

Essa superação imaginativa e prática, todavia, é apenas a inscrição para a “batalha rumo ao trono”, pois sabemos que o mundo de hoje é bem mais complexo do que era no século XIX. Há hoje um número muito maior de variáveis que aumentam formidavelmente a complexidade e a imprevisibilidade dos campos político e econômico. Para citar apenas um exemplo, existem hoje sociedades e poderes secretos internacionais com alcance e influência política e social praticamente inimagináveis 130 anos atrás. Há também literalmentemilhares de outros obstáculos gigantescos (a ocupação de espaço perpetrada pelos comunistas nas últimas décadas, os psicopatas no poder, a inexistência de uma cultura católica que daria suporte moral ao regime imperial, o problema dos militares, etc. etc.). Desnecessário dizer que ele, Olavo de Carvalho, também já deu o caminho das pedras para combater esses problemas.

E se essa monarquia ascender ao poder, ela poderia dar certo?

Que a monarquia é o melhor regime para o Brasil pouco duvido, considerando a história do país. O Segundo Reinado — um modelo monárquico inspirado no britânico, mas completamente adaptado à realidade local — foi o modelo que fez o país “dar certo”³. Durante as décadas de Segundo Reinado houve maior predomínio da ordem política e econômica e da superação dos conflitos, se comparadas às demais décadas. (Há, evidentemente, o risco de cairmos numa falácia indutiva ao supormos que uma experiência passada prova um prognóstico; todavia, considerando a formação, o patriotismo, a envergadura moral e os interesses da Casa Imperial atual, tudo leva a crer que eles têm o potencial para fazer um trabalho muitíssimo melhor que qualquer opção republicana disponível.)

Ademais, como mostrou José Pedro Galvão de Sousa em Raízes Históricas da Crise Política Brasileira, a república brasileira é fruto do apriorismo político⁴; daí podemos concluir que a república foi coisa empreendida por pessoas que obviamente sofriam da incapacidade cognitiva chamada efeito Dunning-Kruger. Esse apriorismo político resultou num sistema de governo cuja base é um amálgama de “Revolução de 1789, instituições americanas e filosofia de Augusto Comte”.

Assim, por conta desse sistema criado por sujeitos “Dunning-Kruger”, vivemos desde 1889 uma sucessão de golpes, crises econômicas e instabilidades que já beira os 130 anos. Difícil imaginar que uma monarquia possa ser pior que isso.

Notas:

1. Aqui, o termo Cisne Negro tem a acepção dada pelo ensaísta Nassim Nicholas Taleb, no livro The Black Swan — The Impact of the High Improbable, para referir-se a acontecimentos que estão fora do âmbito das expectativas comuns e que não poderiam ser previstos no presente estado de coisas, embora esses acontecimentos sejam caracteristicamente explicáveis retroativamente. O termo, que já foi usado por outros autores para tratar do problema da indução, faz referência à crença de que, até dado momento da história acreditava-se que todos os cisnes eram brancos, até o dia em que descobriram a Austrália e, respectivamente, seus cisnes negros.

2. O conselho foi dado por Olavo numa teleconferência do canal Terça Livre. Shadow cabinet é um gabinete paralelo — uma espécie de “gabinete espelho” do gabinete oficial — com os melhores nomes da oposição. Cada um dos seus integrantes analisa seu contraparte oficial e propõe medidas alternativas. Desnecessário enfatizar que o shadow cabinet teria de ser um modelo próprio, e não um modelo copiado de maneira apriorística de modelos internacionais — como foi nosso modelo de República. Outra das razões de ser de um shadow cabinet é combater o discurso único imposto pelo governo.

3. Espero que ninguém interprete “dar certo” como um “dar-certo-como-o-Canadá-deu-certo”. Sejamos modestos.

4. Nas palavras do próprio Galvão de Sousa, “O raciocínio apriorístico, em matéria política, é aquele que desdenha da realidade e dos conhecimentos da história para construir sistemas baseados tão somente em princípios jurídicos.”
Por:Leonildo Trombela Júnior é jornalista e tradutor.
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