sábado, 15 de abril de 2017

LONDONISTÃO: 423 MESQUITAS, 500 IGREJAS FECHADAS

- Os multiculturalistas britânicos estão alimentando o fundamentalismo islâmico. Os muçulmanos não precisam se tornar maioria no Reino Unido, eles precisam apenas islamizar gradualmente as principais cidades. A mudança já está acontecendo.


- Personalidades britânicas continuam abrindo a porta para a introdução da sharia. Um dos principais juízes da Grã-Bretanha, Sir James Munby, ressaltou que o cristianismo não influencia mais os tribunais e que os tribunais devem ser multiculturais - ou seja: mais islâmicos. Rowan Williams, ex-arcebispo de Canterbury e o Chefe de Justiça Lord Phillips também sugeriram que a lei britânica deveria "incorporar" elementos da Lei Islâmica (Sharia).

- As universidades britânicas também estão promovendo a lei islâmica. As diretrizes acadêmicas "alto-falantes externos em instituições de ensino superior", estabelecem que 'grupos religiosos ortodoxos' podem separar homens e mulheres durante os eventos. Na Queen Mary University of London, as mulheres tiveram que usar uma entrada separada e foram obrigadas a sentar em uma sala sem poderem fazer perguntas ou levantar as mãos, igualzinho ao que acontece em Riad e em Teerã.
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"Londres é mais islâmica do que muitos países muçulmanos juntos", de acordo com Maulana Syed Raza Rizvi, um dos pregadores islâmicos que lideram o "Londonistão", nome dado pela jornalista Melanie Phillips à capital inglesa. Não, Rizvi não é um extremista de direita. Wole Soyinka, Prêmio Nobel de Literatura, foi menos cortês, ele chamou o Reino Unido de "fossa dos islamistas".

"Os terroristas não suportam o multiculturalismo de Londres", ressaltou o prefeito da cidade Sadiq Khan após o recente ataque terrorista que deixou mortos e feridos em Westminster. A verdade é o inverso: os multiculturalistas britânicos estão alimentando o fundamentalismo islâmico. Acima de tudo, Londonistão, com suas 423 novas mesquitas, está sendo construído sobre as tristes ruínas do cristianismo inglês.

A Hyatt United Church foi comprada pela comunidade egípcia para ser transformada em mesquita. A St Peter's Church foi transformada na mesquita Madina. A Brick Lane Mosque foi construída em cima de uma antiga igreja metodista. Não são somente os imóveis são convertidos, as pessoas também o são. O número de convertidos ao Islã dobrou; muitas vezes esses convertidos abraçam o Islã radical, como aconteceu com Khalid Masood, o terrorista que atacou Westminster.

O jornal Daily Mail publicou fotos de uma igreja e de uma mesquita separadas poucos metros uma da outra no coração de Londres. A Igreja de San Giorgio, projetada para acomodar 1.230 fiéis, contava com apenas 12 pessoas para celebrar a missa. Na Igreja de Santa Maria, havia 20.

A mesquita ao lado, a Brune Street Estate enfrenta um problema diferente: a superlotação. O pequeno salão pode acomodar somente 100 pessoas. Na sexta-feira os fiéis precisam ficar na rua para poderem rezar. Pelo andar da carruagem, o cristianismo na Inglaterra está se tornando uma relíquia, enquanto o Islã será a religião do futuro.

Em Birmingham, a segunda maior cidade britânica, onde residem muitos jihadistas que orquestram os atentados, uma minarete islâmica domina o céu. Há petições para permitir que mesquitas britânicas convoquem, por meio de alto-falantes, os fiéis para a oração islâmica três vezes ao dia.

Em 2020, segundo estimativas, o número de muçulmanos que participarão de cultos chegará no mínimo a 683.000, enquanto o número de cristãos que participarão da missa semanal despencará para 679.000. "O novo cenário cultural das cidades inglesas já chegou. O cenário cristão, homogeneizado da religião do Estado está batendo em retirada", ressaltou Ceri Peach da Universidade de Oxford. Ao passo que quase a metade dos muçulmanos britânicos tem menos de 25 anos, um quarto dos cristãos estão acima dos 65. "Daqui a 20 anos haverá mais muçulmanos devotos do que cristãos praticantes", salientou Keith Porteous Wood, Diretor da National Secular Society.

Desde 2001, 500 igrejas de Londres das mais diferentes doutrinas foram transformadas em casas particulares. Nesse mesmo período mesquitas britânicas foram proliferando. Entre 2012 e 2014 a proporção de britânicos que se consideravam anglicanos caiu de 21% para 17%, uma retração de 1,7 milhões de pessoas, enquanto que, de acordo com uma sondagem conduzida pelo respeitado NatCen Social Research Institute, o número de muçulmanos saltou quase um milhão. Paroquianos estão decrescendo a uma taxa que em uma geração o número de fiéis praticantes será três vezes menor do que a dos muçulmanos que vão regularmente à mesquita às sextas-feiras.

Demograficamente falando a Grã-Bretanha está adquirindo cada vez mais um semblante islâmico em lugares como Birmingham, Bradford, Derby, Dewsbury, Leeds, Leicester, Liverpool, Luton, Manchester, Sheffield, Waltham Forest e Tower Hamlets. Em 2015 um estudo mostrou que o nome mais comum na Inglaterra era Mohammed, incluindo as variações ortográficas como Muhammad e Mohammad.

As cidades mais importantes contam com gigantescas populações muçulmanas: Manchester (15,8%), Birmingham (21,8%) e Bradford (24,7%). Em Birmingham a polícia acaba de desmantelar uma célula terrorista, há também uma probabilidade maior de um bebê nascer no seio de uma família muçulmana do que no seio de uma família cristã. Em Bradford e Leicester metade das crianças são muçulmanas. Os muçulmanos não precisam se tornar maioria no Reino Unido, eles precisam apenas islamizar gradualmente as principais cidades. A mudança já está acontecendo. "Londonistão" não é um pesadelo de maioria muçulmana, é um híbrido cultural, demográfico e religioso no qual o cristianismo declina e o Islã avança.


Milhares de muçulmanos participam de um culto ao ar livre em Birmingham, Inglaterra, 6 de Julho de 2016. (Imagem: captura de tela de vídeo Ruptly)


Conforme Innes Bowen assinala no The Spectator, apenas duas das 1.700 mesquitas na Grã-Bretanha de hoje seguem a interpretação modernista do Islã, comparada aos 56% nos Estados Unidos. Os wahhabitas controlam 6% das mesquitas no Reino Unido, enquanto o controle fundamentalista Deobandi chega a 45%. Segundo uma pesquisa do Knowledge Center um terço dos muçulmanos do Reino Unido não se sentem como "parte da cultura britânica".

Londres também está repleta de tribunais da sharia. Há oficialmente 100 desses tribunais. O advento deste sistema jurídico paralelo foi possível graças à British Arbitration Act e ao sistema Alternative Dispute Resolution. Estes novos tribunais se baseiam na rejeição da inviolabilidade dos direitos humanos: os valores de liberdade e igualdade que são a base do Direito Inglês.

Personalidades britânicas continuam abrindo a porta para introdução da sharia. Um dos principais juízes da Grã-Bretanha, Sir James Munby, ressaltou que o cristianismo não influencia mais os tribunais e que os tribunais devem ser multiculturais - ou seja: mais islâmicos. Rowan Williams, ex-arcebispo de Canterbury e o Chefe de Justiça Lord Phillips também sugeriram que a lei britânica deveria "incorporar" elementos da Lei Islâmica (Sharia). O establishment cultural britânico está rapidamente capitulando diante dos fundamentalistas islâmicos ao aceitarem suas exigências.

As universidades britânicas também estão promovendo a lei islâmica. As diretrizes oficiais "alto-falantes externos em instituições de ensino superior" da universidade publicados pela Universities UK, estabelecem que 'grupos religiosos ortodoxos' podem separar homens e mulheres durante os eventos. Na Queen Mary University of London, as mulheres tiveram que usar uma entrada separada e foram obrigadas a sentar em uma sala sem poderem fazer perguntas ou levantar as mãos - como acontece em Riad e em Teerã. A Sociedade Islâmica na London School of Economics realizou uma festa de gala na qual as mulheres e os homens ficaram separados por um painel de sete metros.

Após o ataque à revista satírica francesa Charlie Hebdo, o chefe do MI6, Sir John Sawers, recomendou a autocensura e "certa moderação" ao falar sobre o Islã. O embaixador britânico na Arábia Saudita, Simon Collis, se converteu ao Islã e realizou a peregrinação à Meca, o hajj. Ele agora se chama Haji Collis.
O que está por vir?
Por: Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.9 de Abril de 2017
Tradução: Joseph SkilnikDo site: https://pt.gatestoneinstitute.org

sexta-feira, 14 de abril de 2017

O VERDADEIRO HAMAS: LAMENTO, PESSOAL!

- O Hamas afirma, dia e noite, em árabe, a verdadeira história. Na realmente, os oficiais do Hamas são muito claros e diretos quando se dirigem ao seu povo em árabe. No entanto, alguns analistas ocidentais e israelenses não querem ser incomodados pelos fatos.


- Certos relatos sugerem que os líderes do Hamas Khaled Mashaal e Ismail Haniyeh são os que pressionam para que haja mudanças no estatuto do movimento. No entanto, mesmo que Mashaal e Haniyeh tenham êxito em sua missão, não há nenhuma garantia de que o braço armado do Hamas concorde com isso.

- O Hamas também negou que tenha a intenção de cortar seus laços com a Irmandade Muçulmana. "Os relatos têm como objetivo prejudicar a imagem do Hamas aos olhos do mundo", esclareceu um alto funcionário do Hamas. Ele também negou que o Hamas estivesse planejando abandonar a luta armada contra Israel em favor de uma "resistência" popular pacífica.
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O que o Hamas quer dizer quando diz que "aceita" um estado palestino independente na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, sem reconhecer o direito de Israel de existir?

É um sinal de moderação e pragmatismo por parte do movimento terrorista extremista islâmico? Ou é apenas mais uma artimanha destinada a enganar a todos, especialmente os ocidentais crédulos a acreditarem que o Hamas abandonou a estratégia de destruir Israel em favor de uma solução de dois Estados?

Relatos recentes sugerem que o Hamas está se preparando para "declarar um estado palestino baseado nas fronteiras de 1967".

Segundo os relatos, o Hamas também está contemplando alterar seu estatuto de modo que não inclua referências antissemitas. O estatuto, elaborado em agosto de 1988, contém passagens e caracterizações antissemitas da sociedade israelense como nazistas quanto à sua crueldade. Os mesmos relatos também afirmam que o estatuto revisto do Hamas também irá afirmar que o movimento terrorista não faz parte da Irmandade Muçulmana.

Há analistas em Israel e no Ocidente que têm interpretado esses relatos como sinal de que o Hamas está finalmente endossando uma política de pragmatismo em relação a Israel e aos judeus. Eles estão particularmente animados no tocante à suposta intenção do Hamas de declarar (em seu estatuto revisto) que o conflito visa "apenas o sionismo e a ocupação e não os judeus ao redor do mundo".

A julgar pelas análises publicadas por alguns cronistas e "especialistas" em assuntos palestinos nos últimos dias, poder-se-ia concluir que o Hamas está prestes a fazer uma mudança dramática em sua malévola ideologia. Lamentavelmente, no entanto, os fatos sugerem o contrário.

Com ou sem mudanças, o movimento não tem nenhuma intenção de abandonar a sua jihad de destruir Israel e matar judeus.

A divulgada guinada na política do Hamas é ilusória. O Hamas afirma, dia e noite, em árabe, a verdadeira história. Na realidade os oficiais do Hamas são muito claros e diretos quando se dirigem ao seu povo em árabe. No entanto, alguns analistas ocidentais e israelenses não querem ser incomodados pelos fatos.

Quando o Hamas fala em "aceitar" um estado palestino nas fronteiras pré-1967 sem reconhecer o direito de Israel de existir, ele está na verdade dizendo: "dê-nos um estado para que possamos usá-lo como plataforma de lançamento para destruir Israel".

A bem da verdade, Ismail Radwan, alto funcionário do Hamas, não deixa margem para ambiguidades quando ele explica este posicionamento. O Hamas, ressalta ele , não se opõe ao estabelecimento de um estado palestino nas "fronteiras" de 1967, isso não significa que "iremos reconhecer a ocupação sionista, deixando claro que toda a terra palestina pertence às gerações palestinas e islâmicas". Ele também repetiu a oposição do Hamas a qualquer tipo de negociação com Israel.

O líder do Hamas Mahmoud Zahar também foi rápido em refutar as afirmações de que seu movimento estava disposto a aceitar a solução de dois estados. Defendendo a intensificação da "intifada" contra Israel, Zahar assinalou que o objetivo do Hamas era o de "libertar toda a Palestina".

O Hamas também negou que tenha a intenção de cortar os seus laços com a Irmandade Muçulmana. "Os relatos têm como objetivo prejudicar a imagem do Hamas aos olhos do mundo", esclareceu um alto funcionário do Hamas. Ele também negou que o Hamas estivesse planejando abandonar a luta armada contra Israel em favor de uma "resistência" popular pacífica.

Certos relatos sugerem que os líderes do Hamas Khaled Mashaal e Ismail Haniyeh são os que pressionam para que haja mudanças no estatuto do movimento. No entanto, mesmo que Mashaal e Haniyeh tenham êxito em sua missão, não há nenhuma garantia de que o braço armado do Hamas concorde com isso.

A recente eleição interna e secreta do Hamas contemplou a ascensão de Yahya Sinwar como principal líder do movimento na Faixa de Gaza. Sua eleição é vista como indício da crescente influência do braço armado do Hamas. Sinwar, um assassino condenado, foi solto da prisão israelense há alguns anos. A ascensão de Sinwar ao poder é também um sinal de que o Hamas está enveredando em direção a mais extremismo e mais terrorismo e se preparando para a próxima guerra com Israel.

O braço armado do Hamas tem uma história bastante inconsistente no tocante às diretivas dos líderes políticos do movimento. Por exemplo: as recorrentes tentativas de Mashaal e Haniyeh de acabar com as diferenças com a Autoridade Palestina de Mahmoud Abbas (AP) têm sido repetidamente frustradas pelo braço armado do Hamas e de outros líderes do movimento, acima de tudo por Zahar.

Lembremo-nos por um momento dos comícios anuais realizados pelo braço armado do Hamas na Faixa de Gaza. Nesses comícios os terroristas mascarados do Hamas lembram ao mundo que seu verdadeiro objetivo é "libertar toda a Palestina".


Milicianos armados do Hamas em uma parada com um lançador de foguetes montado em um veículo em Gaza, agosto de 2016. (Imagem: captura de tela de vídeo PressTV)


Em uma dessas manifestações, Zahar anunciou que o Hamas já conta com um exército cuja missão é "libertar toda a Palestina". Continuando ele ressaltou: "com a graça de Deus, esse exército chegará a Jerusalém".

O Hamas continua engajado em todas as formas de terrorismo contra os israelenses. Não há nenhum sinal de que o movimento esteja disposto a endossar uma resistência pacífica e popular contra Israel. O oposto sim é que está valendo: O Hamas nunca perde uma oportunidade de esclarecer que continua a incentivar o terrorismo contra Israel. A última assertiva disso veio esta semana quando o Hamas, por meio de um de seus porta-vozes, Abdel Latif Al-Kanou, emitiu um comunicado louvando um esfaqueamento contra dois policiais israelenses em Jerusalém. Saudando o ataque como uma "operação heróica", o porta-voz realçou que a "intifada" contra Israel irá continuar.

Esta não é a primeira vez que o Hamas fala em "aceitar" um estado palestino nas fronteiras pré-1967.

No passado alguns funcionários do Hamas, ao que consta, teriam dito que não descartam a possibilidade de seu movimento um dia aceitar uma ideia dessas. Mas declarações dessa natureza sempre vieram no contexto do esforço do Hamas de sair de seu crescente isolamento na Faixa de Gaza.

Os últimos relatos sobre a inconsistência quanto ao anúncio de mudanças no estatuto do Hamas também deve ser visto no contexto do esforço contínuo do movimento em acabar com seu isolamento. Mas não é nada mais do que uma cortina de fumaça para ludibriar a comunidade internacional para que acredite que o movimento está disposto a abrandar suas intenções assassinas.

O que então está por trás dessa hipócrita "mudança de opinião"?

Relatos segundo os quais a Administração Trump está analisando a possibilidade de considerar a Irmandade Muçulmana um grupo terrorista. Com certeza o Hamas está simplesmente procurando dar a impressão de que está indo na direção da moderação. Em outras palavras, o Hamas está pronto para mentir - pelo menos em inglês - sobre a sua independência em relação à Irmandade Muçulmana.

Preocupante é que ainda há certos ocidentais que já estão divulgando esse engodo tático de dissimulação do Hamas como se fosse uma "grande guinada" na ideologia e nos planos do movimento. O fato, no entanto, é que o Hamas continua sendo uma organização terrorista que não irá abandonar os planos de eliminar Israel e matar o maior número possível de judeus . Aqui vai uma dose da realidade assassina: o Hamas procura ampliar seu controle para a Cisjordânia como parte do plano de destruir Israel. Ele quer que Israel dê mais terras aos palestinos para elas possam ser usadas como plataformas de lançamento para jogar os judeus no mar. Assim é o Hamas, gostem ou não.
Por: Bassam Tawil, um pesquisador estabelecido no Oriente Médio. 5 de Abril de 2017
Original em inglês: The Real Hamas: Sorry, Folks!
Tradução: Joseph Skilnik Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org

quarta-feira, 12 de abril de 2017

INTELECTUAIS E ANTISSEMITISMO: A TRADIÇÃO MILENAR

- Até a sua morte em 2105 o Professor Robert Wistrich ocupou a Cadeira Neuberger de História Europeia e História Judaica Moderna na Universidade Hebraica de Jerusalém e foi Diretor do Centro Internacional de Estudos sobre o Antissemitismo da Universidade Vidal Sassoon.

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- "O antissemitismo que grassava na elite intelectual da antiguidade pagã começou em Alexandria há mais de 2.000 anos. Este tipo de antissemitismo - particularmente aquele existente nas culturas mais elevadas, ou seja: Egito, Grécia e Roma - tinha como foco as questões que pareciam ter uma ressonância perene. Em especial a acusação de que os judeus eram antissociais. Eles não comiam nem bebiam como seus vizinhos como era costume do ethos Mediterrâneo. Esta acusação milenar de exclusivismo e isolacionismo dos judeus forneceu uma infraestrutura sobre a qual inúmeras acusações mais graves foram sendo elaboradas ao longo dos milênios.

- "O papel do antissemitismo dos intelectuais persistiu através dos séculos. Os fundadores da Igreja, particularmente no Século IV da era cristã, estabeleceram as bases ideológicas sobre as quais foram desenvolvidas a demonização dos judeus, do judaísmo e do povo judeu. Eles tacharam, de maneira explícita, os judeus como os assassinos de Cristo, um povo deicida. Isso remonta ao início do Novo Testamento. Os únicos intelectuais da Europa cristã durante o período da Idade Média eram os clérigos. Por mais de mil anos muitos dos teólogos mais proeminentes doutrinavam desprezo em relação ao povo judeu. Após a Segunda Guerra Mundial o autor judeu francês Jules Isaac descreveu isso em detalhes".

"A percepção do caráter hipoteticamente satânico dos judeus persistiu por toda a Idade Média. Mais tarde, nesse mesmo período os judeus, literalmente, se tornaram uma generalização demoníaca. Quase tudo o que eles faziam era interpretado como algo de extraordinária malícia e perversidade. O reformador da Igreja Martinho Lutero era um homem de considerável capacidade intelectual. Suas acusações contra os judeus estão entre as mais violentas da história da difamação antissemita.

"No mundo católico, evangélico e da Igreja Ortodoxa Oriental, o antissemitismo se tornou um fenômeno generalizado. Os judeus foram definidos pelas igrejas como agentes do diabo e inimigos da religião. Esta demonização gerou um ethos pós-cristão, racionalista, adquirindo uma nova vitalidade secular. Por exemplo, o Iluminismo do Século XVII levantou a bandeira da revolta contra a igreja estabelecida. Ele (Iluminismo) proclamou a soberania da razão, da humanidade e da 'tolerância' universal. No entanto continuou mergulhado na tradição antissemita de antes. Seus proponentes intelectuais transformaram seu antissemitismo numa visão contrária à própria Igreja Católica. Era a abordagem voltairiana às cidadelas da 'superstição' e, em particular, à Igreja Católica e às Escrituras Sagradas. Isto se traduziu em um ataque total contra a Bíblia Hebraica, o povo judeu e o judaísmo como fonte de tudo o que havia de errado. Ele e outros filósofos franceses do Século XVIII proclamaram que o crime capital dos judeus era que eles tinham inventado Deus e o monoteísmo, a pior coisa que já aconteceu à civilização. Em outras palavras, o pecado dos judeus não foi ter crucificado Cristo e sim terem sido os responsáveis por seu nascimento.

"Todos os grandes filósofos idealistas alemães do Século XVIII, de Kant a Fichte e Hegel, eram antissemitas. Assim também eram os proeminentes intelectuais que os seguiram ou que foram contrários a eles, como Schopenhauer, Nietzsche e o jovem Karl Marx. Nietzsche e Kant eram menos antissemitas do que os demais. Esta tradição atingiu o ponto culminante com Martin Heidegger, que muitos consideram o maior filósofo do Século XX. Seu comprometimento com o nazismo era profundamente arraigado, influenciando sua atitude em relação aos judeus.

"Entre os herdeiros das tradições do Iluminismo se encontravam os primeiros socialistas franceses do Século XIX. Com raras exceções eles lançaram as bases do antissemitismo francês do final do Século XIX. Entre eles se encontravam Charles Fourier, Pierre-Joseph Proudhon - fundador do anarquismo e uma figura embrionária do movimento operário francês - e Alphonse Toussenel. A principal figura do antissemitismo francês na época do caso Dreyfus foi o semi-intelectual Edouard Drumont, autor do Best Seller La France Juive (A França Judaica). Com cerca de 100 edições, o livro deixou para trás todos os outros livros em voga no Fin-de-siècle na França.

"Karl Marx , o grande rival e antagonista de Proudhon escreveu que os marxistas sempre incluíam no panteão de suas obras a Zur Judenfrage (A Respeito da Questão Judaica). Entre as inúmeras pérolas de inspiração intelectual em seu trabalho encontram-se frases como: 'dinheiro é o deus mundano dos judeus', ou 'o mundo cristão atual na Europa e na América do Norte atingiram o ápice desse tipo de fenômeno e se tornaram totalmente judaizados'.

"O antissemitismo não é de nenhuma maneira a única província do ignorante e do inculto. Movimentos de massa como o nazismo e muitas formas de fascismo, nacionalismo e alguns tipos de socialismo têm entre seus componentes principais o anti-intelectualismo. No entanto, esses movimentos que são tanto anti-intelectuais quanto antissemitas, também têm uma base intelectual. Entre os inspiradores do fascismo europeu havia pensadores como George Sorel, Giovanni Gentile, Ernst Jünger, Oswald Spengler e muitos outros. 'Os Professores de Hitler', usando a frase de Max Weinreich, ajudaram a preparar o terreno para o genocídio dos judeus perpetrado pelos nazistas.

"A demonização intelectual dos judeus continua até o presente, apesar das mudanças radicais que tiveram lugar na história europeia intelectual, social e política. Deslegitimar Israel está hoje na moda entre as elites cultas da Europa. Inúmeros escritores, artistas, proeminentes jornalistas e acadêmicos estão na vanguarda fazendo comparações odiosas do sionismo em relação ao nazismo e Israel em relação à Alemanha de Hitler. O Prêmio Nobel português José Saramago era apenas um entre muitos. No entanto, todos eles se encaixam em uma longa tradição dos intelectuais de ódio aos judeus".
Por Manfred Gerstenfeld   Manfred Gerstenfeld entrevista Robert Wistrich
3 de Abril de 2017
Original em inglês: Intellektuella och Antisemitism: En Tusenårig Tradition
Tradução: Joseph Skilnik Do site:https://pt.gatestoneinstitute.org

segunda-feira, 10 de abril de 2017

JIHADISTAS VIVEM ÀS CUSTAS DE APOIO FINANCEIRO DA EUROPA QUE ELES JURAM DESTRUIR

- A história de Al Harith revela até onde chega um dos maiores escândalos da Europa: a utilização de benefícios vitalícios europeus pelos jihadistas para financiar a sua "guerra santa".


- A Europa forneceu tudo a eles: emprego, casa, saúde pública e assistência social, seguro desemprego, ajuda financeira, algo equivalente ao salário-família, benefícios para portadores de necessidades especiais, ajuda em dinheiro. Esses extremistas muçulmanos, no entanto, não veem esta "Dependistão", como Mark Steyn chamou o estado de bem estar social como sinal de generosidade, mas de fraqueza. Eles entendem que a Europa está pronta para ser destruída.

- Repletos de certezas religiosas e ódio ideológico contra o Ocidente, sem necessidade de assimilarem os valores e as normas da Europa, muitos dos muçulmanos europeus, ao que tudo indica, se sentem como se estivessem destinados a devorarem uma civilização exausta.

- As metas de política pública devem priorizar o incentivo para que as pessoas deixem de depender da assistência social - hoje denotando, basicamente, o desincentivo à procura de emprego - exceto em casos extraordinários e o desincentivo à responsabilidade pessoal. É preciso que haja limites legais para o uso dos fundos para o bem estar social - por exemplo: os fundos de assistência social não deveriam ser usados para a compra de drogas ilícitas, para os jogos de azar, para o terrorismo e, como já não há nenhuma liberdade de expressão na Europa mesmo, de promover o terrorismo. Poder-se-ia criar e ajustar detalhadamente uma lista desta natureza. Desprezar as ditas limitações resultariam na perda dos benefícios. Medidas como as apresentadas acima ajudariam a combater a guetização e a islamização de muçulmanos na Europa.
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Há quatro anos o jornal britânico The Guardian, de linha liberal, publicou uma reportagem sobre os "sobreviventes de Guantánamo", "vítimas do ícone da ilegalidade dos Estados Unidos" e sobre os "sobreviventes do centro de detenção da Grã-Bretanha conhecido como gulag dos nossos tempos". O artigo colocou em destaque uma foto de Jamal al Harith.

Al Harith, cujo nome original era Ronald Fiddler, cristão convertido ao Islã, voltou a Manchester da Prisão da Baía de Guantánamo graças ao ativismo de David Blunkett, Secretário do Interior do então primeiro-ministro Tony Blair. Al Harith foi logo recebido na Inglaterra como herói, vítima inocente da injusta "guerra contra o terror" relativa ao 11 de setembro. O jornal The Mirror e a ITV pagaram a ele (US$73.000) por uma entrevista exclusiva sobre sua passagem em Guantánamo. Al Harith também foi indenizado com um milhão de libras esterlinas pelas autoridades britânicas. A vítima do "gulag dos nossos tempos" comprou uma bela casa com dinheiro dos contribuintes.

Há poucas semanas al Harith fez a sua derradeira "viagem": ele se tornou um homem-bomba em Mossul, Iraque, em nome do Estado islâmico. Al Harith também havia sido recrutado pela organização não governamental "Cage" (anteriormente conhecida como "Cageprisoners") para prestar depoimento em defesa do fechamento do centro de detenção de Baía de Guantánamo.

Celebridades como Vanessa Redgrave, Victoria Brittain, Peter Oborne e Sadiq Khan apareceram em eventos para a captação de recursos para a CAGE. A ONG tem sido financiada pela Fundação Joseph Rowntree, um fundo criado pelo magnata do chocolate e pela Fundação Roddick, instituição beneficente de Anita Roddick. Al Harith também foi convidado ao Conselho da Europa para prestar depoimento contra as detenções na Prisão de Guantánamo.

A história de Al Harith revela até onde chega um dos maiores escândalos da Europa: a utilização de benefícios vitalícios europeus pelos jihadistas para financiar a sua "guerra santa". A Europa forneceu tudo a eles: emprego, casa, saúde pública e assistência social, seguro desemprego, ajuda financeira, algo equivalente ao salário-família, benefícios para portadores de necessidades especiais, ajuda em dinheiro. Esses extremistas muçulmanos, no entanto, não veem esta "Dependistão", como Mark Steyn chamou o estado de bem estar social como sinal de generosidade, mas de fraqueza. Eles entendem que a Europa está pronta para ser destruída. Eles não têm nenhum respeito por ela. De Marselha a Malmö muitas crianças muçulmanas são ensinadas a desprezar as sociedades que lhes oferecem uma vida com tanto conforto. A maioria dos islamistas da Europa agora vive às custas do apoio das nações que eles juraram destruir.

Há poucos dias a imprensa dinamarquesa revelou que o governo dinamarquês está pagando auxílio-doença e benefícios por invalidez a extremistas muçulmanos que estão combatendo na Síria ao lado do Estado islâmico. "É um enorme escândalo desembolsar dinheiro do fundo de assistência social da Dinamarca para pessoas que vão lutar na Síria", ressaltou o Ministro do trabalho e Emprego Troels Lund Poulsen. Os terroristas que atacaram Paris e Bruxelas também fizeram uso do generoso sistema de bem estar social britânico para financiar a sua jihad. Está começando a emergir a partir de um julgamento no Reino Unido que Mohamed Abrini, conhecido como "o homem do chapéu", recebeu £3.000 em benefícios logo após o ataque que deixou mortos e feridos no aeroporto de Bruxelas, antes de voar para Paris e desaparecer.

Esta não é a primeira vez que o papel do estado de bem estar social aparece na infraestrutura do terrorismo islâmico:

A família de Omar Abdel Hamid el Hussein, o terrorista que está por trás do ataque de fevereiro de 2015 em Copenhague, que matou duas pessoas, recebeu dinheiro dos programas sociais dinamarqueses.

O islamista britânico Anjem Choudary, condenado por incentivar pessoas a se juntarem ao Estado Islâmico, exortou os fiéis a deixarem o emprego e viverem às custas do seguro desemprego para poderem se dedicar em tempo integral à guerra contra os "infiéis". O próprio Choudary embolsou £25.000 por ano em benefícios.

Na Alemanha, quando o jornal Bild publicou uma análise sobre os 450 jihadistas alemães que estão lutando na Síria, constatou que mais de 20% deles estavam recebendo benefícios do sistema de bem estar social do estado alemão.

Na Holanda um jihadista chamado Khalid Abdurahman apareceu em um vídeo do Estado Islâmico juntamente com cinco cabeças que tinham acabado de ser decapitadas. O jornal holandês Volkskrant revelou que ele tinha sido declarado "incapaz para o exercício de qualquer atividade profissional" além de receber dinheiro para um tratamento de claustrofobia.

O sistema de bem estar da Europa criou uma toxina cultural para muitos que se encontram em uma subclasse muçulmana, taciturna, improdutiva, que vivem nos enclaves segregados, como os banlieues de Paris ou "Londonistão". Repletos de certezas religiosas, ódio ideológico contra o Ocidente, sem necessidade de assimilarem os valores e as normas da Europa, alguns desses muçulmanos europeus, ao que tudo indica, se sentem como se estivessem destinados a devorarem uma civilização exausta.
Muhammad Shamsuddin, islamista de 39 anos de idade de Londres, foi destaque em um documentário intitulado "Os Jihadistas que moram ao lado". Shamsuddin, pai divorciado com cinco filhos que vive de esmolas estaduais e afirma que não pode trabalhar porque sofre da "síndrome da fadiga crônica", foi filmado pregando ódio contra os não muçulmanos nas ruas britânicas. (Imagem: captura de tela de vídeo da Channel 4)

As metas de política pública devem priorizar o incentivo para que as pessoas deixem de depender da assistência social - hoje denotando, basicamente, o desincentivo à procura de emprego - exceto em casos extraordinários e o desincentivo à responsabilidade pessoal. É preciso que haja limites legais para o uso dos fundos para o bem estar social - por exemplo: os fundos de assistência social não deveriam ser usados para a compra de drogas ilícitas, para os jogos de azar, para o terrorismo e, como já não há nenhuma liberdade de expressão na Europa mesmo, de promover o terrorismo. Poder-se-ia criar e ajustar detalhadamente uma lista desta natureza. Desprezar as ditas limitações resultariam na perda dos benefícios. Medidas como as apresentadas acima ajudariam a combater a guetização e a islamização de muçulmanos na Europa.

Quem está vencendo? A democracia ou o extremismo islâmico? O ciclo dos benefícios do bem estar social em relação à jihad precisa ser interrompido. Agora.
Por: Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.por Giulio  Meotti31 de Março de 2017

Tradução: Joseph Skilnik Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org

sábado, 8 de abril de 2017

IMPEACHMENT - DO APOGEU À QUEDA

UM MILAGRE: STF DIMINUI A EXPROPRIAÇÃO ESTATAL E VOTA A FAVOR DO EMPREENDEDOR


Usufruamos deste momento enquanto ele dura

O Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 15 de março passado, decidiu que a inclusão do ICMS (um imposto estadual) na base de cálculo do PIS/COFINS (dois impostos federais) é inconstitucional.

O tema da mudança na base de cálculo do PIS e da Cofins estava em discussão no STF há quase duas décadas. A decisão foi por maioria de votos, com um placar de seis votos a favor da inconstitucionalidade e 4 contra. O Tribunal, à época, compunha-se de 10 membros.

O básico

Base de cálculo de um tributo é a grandeza matemática sobre a qual incide uma alíquota. Desta operação — a alíquota aplicada a um valor — surge o valor do tributo a pagar. Assim, incluir um tributo na base de cálculo de outro(s) tributo(s), além de aumentar a base de cálculo, nada mais é do que o estado cobrar tributo de tributo.

É uma forma de aumentar a arrecadação por meio de uma "esperteza" do legislador, constitucional ou não (a própria Constituição, votada pelos "representantes do povo", prevê esse expediente em algumas outras hipóteses, como no art. 155, § 2º, XII, "i").

Em outras palavras, o indivíduo paga imposto sobre outro imposto que pagou. Você paga tributo só pelo fato de ter pagado outro tributo, pois o valor de um é incluído no cálculo de outro.

O Portal Contábeis fez um excelente exemplo numérico, o qual vale a pena ser repetido na íntegra:

Cada um dos impostos tem bases distintas: o ICMS tem como fato gerador a circulação de mercadorias, e sua base de cálculo, em regra geral, é o valor total dos produtos; já os impostos federais têm como uma de suas bases de cálculo a receita ou faturamento.

Mas os três impostos têm algo incomum: o método de incorporar o seu valor aos produtos. Eles são calculados "por dentro do preço". Ou seja, já estão embutidos no preço e seu destaque em nota fiscal é meramente informativo.

Eis como funciona hoje:

Valor dos produtos: R$ 787,50

Percentuais a serem embutidos no preço:

12% ICMS + 9,25% PIS/COFINS = 21,25%

Valor final dos produtos: 787,50 / (100% - 21,25%) = R$ 1.000,00

Valor do ICMS: 1000 X 12% = R$ 120,00

Valor PIS/COFINS: 1000 X 9,25% = R$ 92,50

Portanto, hoje, o PIS/COFINS arrecada R$ 92,50 para o governo federal.

Porém, com a exclusão do ICMS da base das contribuições, teremos:

Valor do ICMS: 1000 X 12% = R$ 120,00 (inalterado)

Valor PIS/COFINS: (1000 - 120) X 9,25% = R$ 81,40

Portanto, com a alteração, o PIS/COFINS arrecadará R$ 81,40 para o governo federal. Houve uma redução de R$ 92,50 para R$ 81,40, o que dá uma redução de R$ 11,10 no valor das contribuições.

Com isso, o STF inesperadamente julgou em favor do pagador de tributos. Pelo menos no caso do PIS/COFINS, não se incluirá na base de cálculo o valor do ICMS.

Note-se que essa forma de tributar, além de expropriatória, como todas as demais, é ainda mais injustificável (mesmo quando prevista em lei), pois, ao cobrar tributo de tributo, o estado escancara de vez seu paroxismo arrecadatório.

A reação

Tão logo conhecido o resultado do julgamento, a imprensa veiculou opiniões contrárias à decisão; dentre essas, pelo menos uma proveio de quem foi voto vencido na sessão. A rigor, concluído o julgamento, já não têm relevância os votos contrários à tese vitoriosa, mas sim o resultado a que se chegou: prevaleceu a tese da inconstitucionalidade de, no caso, se cobrar tributo sobre tributo.

Opiniões de que haverá consequências desastrosas por causa da decisão, ou mesmo que sua repercussão pode ser catastrófica, abundaram na imprensa. Eu mesmo não vi nenhuma notícia favorável a esse julgamento do STF. A imprensa publica matérias ou desenvolve análises sobre temas que interessam aos grupos dominantes. E, neste campo, claramente o estado é o grupo dominante, e era destinatário do tributo arrecadado na forma agora vedada.

Ainda que alegadamente repasse o numerário para a seguridade social — que, em tese, é o destino da arrecadação do PIS (Programa de Integração Social) e a da COFINS (Contribuição social para financiamento da Seguridade Social) —, sabemos que parte da arrecadação tributária se destina à manutenção da máquina estatal, e se dissipa antes de chegar ao objetivo da tributação.

A imprensa registrou apenas uma posição favorável — da Confederação Nacional da Indústria (CNI) — em meio a toda a abordagem negativa que fez sobre a decisão do STF.

O "desastre" ou "catástrofe" consequentes deste julgamento consiste, segundo a mídia, em uma vultosa "perda de arrecadação". Fala-se que a União deixará de arrecadar R$ 250 bilhões, ou mesmo que haverá uma perda de R$ 20 bilhões por ano na arrecadação

Assim publicada a notícia, o povo automaticamente se coloca contra a medida, pois foi induzido a pensar que é por meio do estado que obtém seu bem-estar.

As duas óticas

É claro que a notícia, como veiculada, expressa apenas um lado da equação: mostra apenas a perda de arrecadação estatal.

Mas ela se esquece do outro lado: o que deixa de ser expropriado do setor produtivo, o único setor que produz riqueza no país.

Ao dar relevo à redução da arrecadação, a imprensa imediatamente se alia aos setores do estado responsáveis pela expropriação, mais especificamente aqueles que são mantidos pela arrecadação. Vale lembrar que todos aqueles diversos tipos de "penduricalhos" não-tributados nos proventos de privilegiados advêm da arrecadação de tributos (auxílio refeição, moradia, educação, transporte, classe executiva em voos internacionais e planos de saúde de elevado nível).

Por isso, seria desejável que essa decisão de retirar a incidência do ICMS no cálculo do PIS/COFINS fosse também examinada pela ótica dos pagadores de tributos. Era de se obter opinião de empreendedores (não aqueles dependentes do estado) sobre o que verdadeiramente representa a não-expropriação deste volume de recursos, que agora poderão ser aplicados em suas atividades.

Se o resultado do julgamento fosse divulgado por suas duas faces principais, a da perda estatal e a do ganho do empreendedorismo, a notícia estaria completa, e o leitor teria visão ampla da matéria. O país ganharia com isso, pois a disseminação da discussão levaria a que se refletisse sobre o "tamanho" real do estado no dia a dia das pessoas.

O esquecido aspecto positivo da decisão

A primeira consequência da perda de arrecadação, e da qual todas as outras derivam, é que os recursos "perdidos" ficarão na posse dos empreendedores. Com isso, eles poderão fazer novos investimentos, expandir seus negócios, criar novos produtos que atendam às necessidades dos clientes, contratar mais mão-de-obra ou simplesmente gastar o excedente em lazer próprio (o que também gera renda para terceiros, vale lembrar).

Tudo isso tende a gerar mais empregos e, consequentemente, até mesmo mais arrecadação. Uma fatia dos recursos que seria destinada a programas assistencialistas (PIS/COFINS), avaliados como benéficos pelo próprio estado, será agora paga na forma de salários, e não como esmolas, o que eleva a autoestima do indivíduo muito mais do que receber migalhas "sociais".

Mas é possível expandir ainda mais o raciocínio: uma diminuição das receitas do governo, por definição, reduz a capacidade interventora do estado. O simples fato de o estado dispor de menos recursos dificultará a negativa ação de planejadores estatais. Com menos estado e com menos confisco de recursos, há maior expansão da atividade empreendedorial.

E agora vem o melhor: essa escassez de recursos para o estado tornará mais evidente, tanto para setores do próprio estado quanto para a população em geral, a existência de grupos de funcionários privilegiados, bem como o real custo dessa casta. Isso pode causar uma benéfica reação em prol da abolição de normas que criam privilégios estatais.

Ok, concordo: estes dois últimos parágrafos não irão ocorrer, pois o governo dificilmente cortará seus gastos (a perda de arrecadação tributária será compensada com um aumento do endividamento). Mas tal raciocínio ao menos serve para descrever as consequências benéficas de uma real redução do estado tanto do lado da arrecadação quanto dos gastos.

O fato é que a relevância da histórica decisão não decorre apenas do montante dos recursos que deixará de ser arrecadado pelo governo, mas também, e como dito, da permanência de mais recursos em posse dos empreendedores. É claro que já existe reação ao julgamento; inclusive, já se fala na apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para postergar seu efeito para 2020, sob o argumento de "segurança fiscal". Ora, que segurança fiscal é essa? Manter os níveis de arrecadação?

Curioso é que essa PEC viria do Congresso Nacional, onde atuam os "representantes do povo"; só que, neste caso, atuariam em favor da arrecadação e da casta de funcionários dela beneficiários. E não do fortalecimento do empreendedorismo.

Conclusão

É extremamente necessário entender que qualquer recurso não apropriado pelo estado é mais bem empregado pelo indivíduo: dado que foi ele quem criou o bem ou serviço do qual surgiu o tributo, e considerando que é ele quem cria os recursos e a riqueza, nada mais racional e justo que deles usufrua.

Nenhuma visão social de utilização de recursos supera a utilização por quem o gera, visto que o objetivo precípuo de funcionários públicos é se apropriar de parte da riqueza confiscada para a régia manutenção de seus privilégios. E como esse grupo tem de se manter ativo — pois não seria admissível ganhar no usufruto do ócio —, ele cria rotinas, regras e normas de intervenção na esfera de atuação do indivíduo que lhe dificultam e encarecem sua atividade.

O placar de 6 X 4 na vitória da exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da COFINS surpreende porque geralmente a ideia que se tem é a de que o STF julga também por parâmetros políticos. Neste caso, a política que prevaleceu foi a de diminuir o avanço do estado na esfera de interesses do indivíduo.

Não nos iludamos, porém, sobre uma eventual chegada de uma nova fase no Judiciário. Isso não irá ocorrer. Apenas usufruamos deste momento enquanto dure.
Por: José Carlos Zanforlin  Do site: http://www.mises.org.br/

quinta-feira, 6 de abril de 2017

FRANÇA: DESRADICALIZAÇÃO DE JIHADISTAS É UM "TOTAL FIASCO"

- O relatório conclui que a desradicalização, seja em centros especializados ou em prisões, não funciona pelo fato da maioria dos radicais islâmicos não aceitarem a desradicalização.


- Estima-se que haja na França cerca de 8.250 radicais islâmicos extremamente violentos, apenas 17 apresentaram a papelada e apenas nove de fato foram até lá. Nenhum dos residentes permaneceu para completar o currículo de dez meses.

- Ao alojá-los em pavilhões prisionais separados, os islamistas na realidade se tornaram ainda mais violentos por se sentirem encorajados pelo que eles chamavam de "efeito grupal", segundo o Ministro da Justiça Jean-Jacques Urvoas.

- "Desradicalizar uma pessoa não é um trabalho de seis meses. Essas pessoas, às quais não foram dadas um ideal e que ainda não abraçaram a ideologia do Estado Islâmico, não irão se livrar dela facilmente. Não há um abre-te sésamo" — Senadora Esther Benbassa.

- "O programa de desradicalização é um total fiasco. Tudo tem que ser repensado, tudo deve ser redesenhado a partir do zero". — Senador Philippe Bas, presidente da Comissão do Senado que encomendou o relatório.
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O principal programa do governo francês para desradicalizar jihadistas é um "fracasso total" e deve ser "completamente reconceituado" segundo as conclusões iniciais de uma comissão parlamentar de inquérito sobre a desradicalização.

O relatório preliminar revela que o governo não tem nada de positivo para mostrar no tocante às dezenas de milhões de euros dos contribuintes gastos ao longo dos últimos anos para combater a radicalização islâmica na França, onde 238 pessoas foram mortas em ataques jihadistas desde janeiro de 2015. O relatório conclui que a desradicalização, seja em centros especializados ou em prisões, não funciona pelo fato da maioria dos radicais islâmicos não aceitarem a desradicalização.

O relatório chamado de "Desdoutrinação, Desrecrutamento e Reintegração de Jihadistas na França e na Europa" (Désendoctrinement, désembrigadement et réinsertion des djihadistes en France et en Europe) - o título evita usar a palavra "desradicalização" por ser considerada por alguns como sendo politicamente incorreta - foi apresentado em 22 de fevereiro ao Comitê do Senado para Assuntos Constitucionais e Jurídicos.

O relatório é a versão preliminar de um estudo abrangente que está sendo conduzido por uma força-tarefa multipartidária encarregada de avaliar a eficácia dos programas de desradicalização do governo. O relatório final deverá ser entregue em julho.

Grande parte das críticas se concentra em um programa de US$42 bilhões para construir 13 centros de desradicalização - conhecidos como Centros de Prevenção, Integração e Cidadania (Centre de prévention, d'insertion et de citoyenneté, CPIC) - um em cada uma das regiões metropolitanas da França, que visa desradicalizar futuros jihadistas.

O plano original apresentado com grande alarde em maio de 2016, conclamou que cada centro devesse acolher no máximo 25 pessoas com idades entre 18 e 30 anos, por períodos de dez meses. O governo comunicou que 3.600 indivíduos radicalizados seriam acolhidos nestes centros de desradicalização nos próximos dois anos.

O primeiro e único centro de desradicalização do governo existente até agora instalado no Château de Pontourny, uma mansão isolada do século 18 na região central da França, foi inaugurado em setembro de 2016.

Quando as senadoras Esther Benbassa e Catherine Troendle, ambas líderes da força-tarefa visitaram Pontourny em 3 de fevereiro, encontraram apenas um residente naquele abrigo. Desde estão o referido residente encontra-se preso por ter cometido "atos de violência doméstica".

Depois de apenas cinco meses de operação, Pontourny encontra-se vazia, muito embora empregue 27 funcionários, incluindo cinco psicólogos, um psiquiatra e nove educadores, a um custo anual US$2,6 milhões).
"Centro de Prevenção, Integração e Cidadania" Château de Pontourny, na França. (Imagem: captura de tela de vídeo ARTE − 28 minutos)

Estima-se que haja na França cerca de 8.250 radicais islâmicos extremamente violentos, apenas 59 pessoas indagaram sobre a possibilidade de irem para Pontourny desde a sua inauguração. Destas, apenas 17 apresentaram a papelada e apenas nove de fato foram até lá. Nenhum dos residentes permaneceu para completar o currículo de dez meses.

Um dos residentes era um jihadista de 24 anos de idade chamado Mustafa S., que foi preso durante uma operação antiterrorista perto de Estrasburgo em 20 de Janeiro de 2017. A polícia disse que ele tinha ligações com um dos autores do ataque jihadista de novembro 2015 na Casa de Espetáculos Bataclan em Paris. Mustafa S. foi preso quando estava de licença de Pontourny: ao que tudo indica, ele estava a caminho para se juntar ao Estado Islâmico na Síria.

Outra residente de Pontourny era uma mulher de 24 anos de idade, grávida, chamada Sabrina C., que morou no alojamento de 19 de setembro a 15 de dezembro. Ela revelou a um jornal local que nunca foi radicalizada, mas aproveitou a oportunidade oferecida por Pontourny para escapar de seu "casulo familiar" e respirar um pouco de "ar fresco":


"Eu jamais me interessei por nenhuma religião. A minha família é católica, não praticante, nós vamos à igreja de vez em quando, mas não mais do que isso. Meu namorado queria que eu usasse o véu islâmico, mas eu sempre me recusei a usá-lo".

A mãe de Sabrina disse que o centro de desradicalização "foi a oportunidade para a nossa filha participar da formação profissional, aprender a cozinhar, estar perto de animais". Sabrina acrescentou que a permanência dela naquele lugar foi um pesadelo, sua filha ressaltou: "eu chorava todas as noites, eu não me sentia à vontade. Em Pontourny me tratavam como uma criminosa". Ela acredita que a única razão dela ter sido autorizada a ficar no centro foi porque o governo precisava "mostrar serviço".

O governo também fracassou em seus programas para erradicar a radicalização islâmica nas prisões francesas. Em outubro de 2016 o governo voltou atrás sobre a política de alojar presidiários radicalizados em unidades separadas após o aumento de ataques a guardas prisionais.

A ideia original era isolar os islamistas a fim de evitar que eles radicalizassem os demais detentos, mas o Ministro da Justiça Jean-Jacques Urvoas reconheceu que ao alojá-los em pavilhões prisionais separados, os islamistas na realidade se tornaram ainda mais violentos por se sentirem encorajados pelo que eles chamavam de "efeito grupal".

O relatório também denunciou o surgimento de uma "indústria da desradicalização", na qual associações e organizações não governamentais, sem nenhuma experiência em desradicalização, obtiveram contratos lucrativos do governo. "Várias associações, buscando financiamento público em períodos de vacas magras, se viraram para o setor de desradicalização, sem nenhuma experiência", de acordo com a senadora Benbassa.

Benbassa ressaltou que o programa de desradicalização do governo foi mal concebido, implantado apressadamente por razões políticas em meio à crescente ameaça jihadista. "O governo estava em pânico em consequência dos ataques jihadistas" assinalou ela. "Foi o pânico que guiou as ações do governo. O timing político era curto, se fazia necessário tranquilizar o público em geral."

O sociólogo franco-iraniano Farhad Khosrokhavar, especialista em radicalização, realçou à France 24 que a única opção do governo para lidar com os jihadistas violentos é encarcerá-los:

"Há aqueles passíveis de serem desradicalizados, mas nem todos. Isso é impossível com os jihadistas violentos, aqueles totalmente convictos. Os jihadistas com estes perfis são extremamente perigosos, eles representam cerca de 10% a 15% dos radicalizados. A prisão provavelmente é uma das únicas maneiras de lidar com esses obstinados fiéis".

Em entrevista concedida ao L'Obs, Benbassa assinalou que o governo também não teve sucesso quanto à prevenção:

"Jovens candidatos ao jihadismo devem ser socializados. Temos que profissionalizá-los, dar-lhes um acompanhamento individualizado. Isto envolve a ajuda da família, imãs, policiais locais, educadores, psicólogos e líderes empresariais, que também podem colaborar..."

"Eu também acho que os nossos líderes políticos deveriam adotar um pouco mais de sobriedade e humildade ao abordarem esse complexo fenômeno. A tarefa é extremamente complicada". 'Desradicalizar' uma pessoa não é um trabalho de seis meses. Essas pessoas, às quais não foram dadas um ideal e que ainda não abraçaram a ideologia do Estado Islâmico, não irão se livrar dela facilmente. Não há um abre-te sésamo".

O Senador Philippe Bas, presidente da Comissão do Senado que encomendou o relatório descreveu o programa de desradicalização do governo da seguinte maneira: "é um total fiasco. Tudo tem que ser repensado, tudo deve ser redesenhado a partir do zero".

Por: Soeren Kern é Colaborador Sênior do Gatestone Institute de Nova Iorque.por Soeren Kern  22 de Março de 2017
Tradução: Joseph Skilnik Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org


terça-feira, 4 de abril de 2017

ATACAR O LUXO É ATACAR O FUTURO PADRÃO DE VIDA DOS MAIS POBRES


Um dos efeitos benéficos da desigualdade da riqueza existente em nossa ordem social é que ela estimula vários indivíduos a produzirem ao máximo que consigam para tentar ascender ao padrão de vida dos mais ricos. Essa foi uma das principais forças-motrizes que fez com que a humanidade enriquecesse.

O nosso nível atual de riqueza não é um fenômeno natural ou tecnológico, independente de todas as condições sociais; é, em sua totalidade, o resultado de nossas instituições sociais. Pelo fato de a desigualdade da riqueza ser permitida em nossa ordem social, pelo fato de ela estimular a que todos produzam o máximo, é que a humanidade hoje conta com toda a riqueza anual de que dispõe para consumo. 

Fosse tal incentivo destruído, fosse a desigualdade de renda abolida, a produtividade seria de tal forma reduzida, que a fatia de riqueza média recebida por cada indivíduo seria bem menor do que aquilo que hoje recebe mesmo o mais pobre. 

A desigualdade da distribuição da renda, contudo, tem ainda uma segunda função tão importante quanto: torna possível o luxo dos ricos. 

Muitas bobagens têm sido ditas e escritas sobre o luxo. Contra o consumo dos bens de luxo tem sido posta a objeção de que é injusto que alguns gozem da enorme abundância, enquanto outros estão na penúria. Este argumento parece ter algum mérito. Mas apenas aparenta tê-lo. Pois, se demonstrarmos que o consumo de bens de luxo executa uma função útil no sistema de cooperação social, este argumento será, então, invalidado. É isto, portanto, o que procuraremos demonstrar. 

Em primeiro lugar, a defesa do consumo de luxo não deve ser feita com o argumento de que esse tipo de consumo distribui dinheiro entre as pessoas. Segundo esse argumento, se os ricos não se permitissem usufruir do luxo, o pobre não teria renda. Isto é uma bobagem, pois se não houvesse o consumo de bens de luxo, o capital e o trabalho neles empregados seriam aplicados à produção de outros bens: artigos de consumo de massa, artigos necessários, e não "supérfluos". 

Portanto, para formar um conceito correto do significado social do consumo de luxo é necessário, acima de tudo, compreender que o conceito de luxo é inteiramente relativo. 

Luxo consiste em um modo de vida de alguém que se coloca em total contraste com o da grande massa de seus contemporâneos. O conceito de luxo é, por conseguinte, essencialmente histórico. 

Muitas das coisas que nos parecem constituir necessidades hoje em dia foram, em algum momento do passado, consideradas coisas de luxo. Quando, na Idade Média, uma senhora da aristocracia bizantina, casada com um doge veneziano, em vez de utilizar seus próprios dedos para se alimentar, fazia uso de um objeto de ouro que poderia ser considerado um precursor do garfo, os venezianos o considerariam um luxo ímpio, e considerariam muito justo se essa senhora fosse acometida de uma terrível doença. Isto seria, assim supunham, uma punição bem merecida, vinda de Deus, por esta extravagância antinatural. 

Em meados do século XIX, considerava-se um luxo ter um banheiro dentro de casa, mesmo na Inglaterra. Hoje, a casa de todo trabalhador inglês, do melhor tipo, contém um. Ao final do século XIX, não havia automóveis; no início do século XX, a posse de um desses veículos era sinal de um modo de vida particularmente luxuoso. Hoje, até um operário possui o seu. Este é o curso da história econômica. 

O luxo de hoje é a necessidade de amanhã. Cada avanço, primeiro, surge como um luxo de poucos ricos, para, daí a pouco, tornar-se uma necessidade por todos julgada indispensável. O consumo de luxo dá à indústria o estímulo para descobrir e introduzir novas coisas. É um dos fatores dinâmicos da nossa economia. A ele devemos as progressivas inovações, por meio das quais o padrão de vida de todos os estratos da população se tem elevado gradativamente. 

Ainda no final do século XIX, Jean-Gabriel de Tarde (1843-1904), o grande sociólogo francês, abordou o problema da popularização dos itens de luxo. Uma inovação industrial, disse ele, adentra o mercado para atender exclusivamente às extravagâncias de uma pequena elite; porém, com tempo, passo a passo, tal produto finalmente vai se tornando uma necessidade até que, no final, se torna um item massificado e indispensável para todos. Aquilo que antes era apenas um bem supérfluo de luxo passa a ser, com o tempo, uma necessidade.

A história da tecnologia e do comércio fornece inúmeros exemplos que confirmam a tese de Tarde. No passado, havia um considerável intervalo de tempo entre o surgimento de algo até então completamente desconhecido e sua popularização no uso cotidiano. Algumas vezes, passavam-se vários séculos até que uma inovação se tornasse amplamente aceita por todos — ao menos dentro da órbita da civilização ocidental. Pense na lenta popularização do uso de garfos, sabonetes, lenços, papeis higiênicos e inúmeras outras variedades de coisas.

Desde seus primórdios, o capitalismo demonstrou uma tendência de ir encurtando esse intervalo de tempo, até ele finalmente ser eliminado quase que por completo. Tal fenômeno não é uma característica meramente acidental da produção capitalista; trata-se de algo inerente à sua própria natureza. A essência do capitalismo é a produção em larga escala para a satisfação dos desejos das massas. Sua característica distintiva é a produção em massa feita pelas grandes empresas. 

Para o grande capital, não há a opção de produzir apenas quantias limitadas de bens que irão satisfazer apenas a uma pequena elite. Quanto maior uma empresa se torna, mais rapidamente e de maneira mais massificada ela possibilita às pessoas o acesso aos novos êxitos da tecnologia.

Séculos se passaram até que o garfo deixasse de ser um utensílio utilizado apenas por homens efeminados e se transformasse em um instrumento de uso universal. Antes visto meramente como um brinquedo de ricos ociosos, o automóvel levou mais de 20 anos para se tornar um meio de transporte utilizado universalmente. Já as meias de nylon, ao menos nos EUA, se transformaram em artigo de uso diário de todas as mulheres em pouco mais de dois ou três anos após sua invenção. 

E praticamente não houve nenhum período de tempo em que o usufruto de inovações como a televisão ou produtos da indústria de comida congelada fosse restrito a uma pequena minoria.

Os discípulos de Marx sempre se mostraram muito ávidos para descrever em seus livros os "inenarráveis horrores do capitalismo", os quais, como seu mestre havia prognosticado, resultam "de maneira tão inexorável como uma lei da natureza" no progressivo empobrecimento das "massas". O preconceito anticapitalista deles impedia que percebessem o fato de que o capitalismo tende, com o auxílio da produção em larga escala, a eliminar o notável contraste que há entre o modo de vida de uma elite afortunada e o modo de vida de todo o resto da população de um país.

A maioria de nós não tem qualquer simpatia pelo rico ocioso, que passa sua vida gozando os prazeres, sem ter trabalho algum. Mas até mesmo este cumpre uma função na vida do organismo social: dá um exemplo de luxo que faz despertar, na multidão, a consciência de novas necessidades, e dá à indústria um incentivo para satisfazê-las. 

Havia um tempo em que somente os ricos podiam se dar ao luxo de visitar países estrangeiros. O poeta Friedrich Schiller nunca viu as montanhas suíças que tornou célebres em sua peça William Tell, embora fizessem fronteira com sua terra natal, situada na Suábia. Goethe não conheceu Paris, nem Viena, nem Londres. 

Hoje, milhares de pessoas viajam por toda parte e, em breve, milhões farão o mesmo. 

O abismo que separava o homem que podia viajar de carruagem e o homem que ficava em casa porque não tinha o dinheiro para a passagem foi reduzido à diferença entre viajar de avião e viajar de ônibus.
Originalmente escrito no início da década de 1950
Por: Ludwig von Mises  Do site: http://www.mises.org.br

domingo, 2 de abril de 2017

O MITO HIROSHIMA


Todos os anos, durante as duas primeiras semanas de agosto, os noticiários de massa e muitos políticos nacionais pelo mundo reafirmam o mito político “patriótico” de que jogar duas bombas atômicas no Japão em agosto de 1945 fez com que ele se rendesse e, portanto, salvou as vidas de 500 mil a um milhão de soldados americanos, que não tiveram que invadir as ilhas. Pesquisas nos últimos 50 anos mostram que a esmagadora maioria (entre 80% e 90%) dos cidadãos americanos acredita nessa falsa história que, obviamente, os fazem se sentir melhor sobre o assassinato de centenas de milhares de civis japoneses (a maioria mulheres e crianças), salvando vidas americanas para conseguir acabar com a guerra.

Em minha opinião, o melhor livro para detonar este mito é The Decision to Use the Bomb (A decisão de usar a bomba) de Gar Alperovitz, porque ele não apenas explica as verdadeiras razões das bombas terem sido jogadas, mas também fornece uma história detalhada de como e porquê foi criado o mito que este massacre de civis inocentes era justificado e, portanto, moralmente aceitável. O problema essencial começa na política do presidente Franklin Roosevelt de rendição incondicional, que foi adotada relutantemente por Churchill e Stalin, e que o presidente Truman decidiu adotar quando sucedeu Roosevelt em abril de 1945. Hanson Baldwin era o principal jornalista do The New York Times que cobriu a Segunda Guerra Mundial e ele escreveu um livro importante imediatamente após a guerra intitulado Great Mistakes of the War (Grandes erros da guerra). Baldwin conclui que a política de rendição incondicional foi talvez o maior erro político da guerra…. Rendição incondicional era um convite aberto a resistência incondicional; ela desencorajava uma oposição a Hitler, provavelmente prolongou a guerra, custou vidas e ajudou a levar a presente malograda paz.

O duro fato é que os líderes japoneses, ambos militares e civis, incluindo o imperador, estavam dispostos a se render em maio de 1945, se o imperador pudesse permanecer em sua posição e não ser julgado por crimes de guerra. Este fato chegou ao conhecimento do presidente Truman no início de maio de 1945. A monarquia japonesa era uma das mais antigas de toda história vinda desde 660 A.C. A religião japonesa continha a crença de que todos os imperadores eram descendentes diretos da deusa do Sol, Amaterasu. O reinante imperador Hirohito era o 124º na linha direta de descendentes. Após as bombas terem sido jogadas em 6 e 9 de agosto de 1945, e sua subsequente rendição, foi permitido que os japoneses mantivessem seu imperador no trono e ele não foi submetido a nenhum julgamento de crimes de guerra. O imperador, Hirohito, assumiu o trono em 1926 e continuou no posto até sua morte em 1989. Uma vez que o presidente em vigor Truman aceitou a rendição condicional oferecida pelos japoneses já em maio de 1945, a questão é; “Por que então as bombas foram jogadas?”

O autor Alperovitz nos dá a resposta detalhada que só pode ser resumida aqui, mas ele declara, “Notamos uma série de propostas de paz japonesas na Suíça que o chefe da OSS William Donovan reportou a Truman em maio e junho [1945]. Isto sugere que, mesmo neste ponto, a exigência dos EUA de uma rendição incondicional poderia muito bem ser o único obstáculo sério para a paz. No centro das explorações, como também vimos, estava Allen Dulles, chefe das operações da OSS na Suíça (e subsequentemente diretor da CIA). No seu livro de 1966, The Secret Surrender (A Rendição Secreta), Dulles lembra que ‘Em 20 de julho de 1945, sob instruções de Washington, fui a Conferência de Potsdam e me reportei ao secretário [de guerra] Stimson sobre o que soube em Tóquio – eles desejavam se render se eles pudessem manter o imperador e sua constituição como base para manter a disciplina e a ordem no Japão depois que a devastadora notícia da rendição chegasse ao povo japonês. É documentado por Alperovitz que Stimson reportou isso diretamente a Truman. Alperovitz ainda aponta detalhadamente a prova documental que todos os principais conselheiros civis e militares do presidente, com a exceção de James Byrnes, juntamente com o primeiro ministro Churchill e seu principal líder militar britânico, insistiram para que Truman reconsiderasse a política de rendição incondicional para permitir que os japoneses se rendessem e mantivessem seu imperador. Todos estes conselhos foram dados a Truman antes da Proclamação de Potsdam que ocorreu em 26 de julho de 1945. Esta proclamação fez uma demanda final ao Japão para se render incondicionalmente ou sofrer as drásticas consequências.

Outro fato surpreendente sobre a conexão militar do lançamento da bomba é a falta de conhecimento da parte do general MacArthur sobre a existência da bomba e se ela deveria ser jogada. Alperovitz declara,

MacArthur não sabia nada sobre o progresso dos planos para o uso da bomba atômica até praticamente o último minuto. Nem estava ele pessoalmente na linha de comando nesta conexão; a ordem veio diretamente de Washington. Na verdade, o Departamento de Guerra esperou até cinco dias antes do bombardeio a Hiroshima para sequer avisar MacArthur – o comandante geral das Forças Armadas americanas no Pacífico – sobre a existência da bomba atômica.

Alperovitz deixa muito claro que a principal pessoa que Truman estava dando ouvidos enquanto ignorava todos estes conselhos civis e militares era James Byrnes, a pessoa que virtualmente controlava Truman no começo de seu governo. Byrnes era uma das figuras políticas mais experientes em Washington, cumprindo mandatos há mais de 30 anos tanto na Câmara como no Senado. Ele também esteve no Supremo Tribunal dos EUA, e a pedido do presidente Roosevelt, renunciou seu cargo e aceitou o papel no governo Roosevelt de gerenciar a economia doméstica. Byrnes foi para a Conferência Yalta com Roosevelt e então recebeu a responsabilidade de fazer o congresso e o povo americano aceitarem os acordos feitos em Yalta.

Quando Truman se tornou senador em 1935, Byrnes imediatamente se tornou seu amigo e mentor e permaneceu próximo a Truman até que Truman se tornasse presidente. Truman nunca esqueceu isso e imediatamente pediu que Byrnes fosse seu homem de confiança no novo governo. Byrnes esperava ter sido indicado como candidato a vice presidente para substituir Wallace e ficou desapontado quando Truman foi nomeado, mesmo assim ele e Truman continuaram muito próximos. Byrnes também era muito próximo a Roosevelt, enquanto Truman era mantido na obscuridade por Roosevelt durante quase todo o tempo que foi vice presidente. Em abril, Truman pediu imediatamente que Byrnes fosse seu Secretário de Estado, mas eles adiaram a nomeação oficial até 3 de julho de 1945, para evitar ofender o incumbente. Byrnes também aceitou um cargo no comitê temporário que tinha controle sobre a política em relação a bomba atômica, e, portanto, em abril de 1945 se tornou o principal conselheiro de política externa de Truman, e especialmente seu conselheiro a respeito do uso da bomba atômica. Foi Byrnes que encorajou Truman a adiar a Conferência Potsdam e seu encontro com Stalin até que eles pudessem saber, na conferência, se os testes da bomba atômica tinham dado certo. Durante a Conferência Potsdam os experimentos já haviam sido concluídos com sucesso e Truman avisou Stalin que uma nova arma de destruição em massa estava agora disponível para os EUA, o que Byrnes esperava que fizesse Stalin recuar de qualquer atividade ou demanda excessivas no período pós guerra.

Truman secretamente deu as ordens em 25 de julho de 1945 para que as bombas fossem jogadas em agosto, enquanto ele estivesse retornando aos EUA. Em 26 de julho ele emitiu a Proclamação de Potsdam, ou ultimato, para o Japão se render, contendo a política de rendição incondicional, com isso fazendo com que Truman e Byrnes acreditassem que os termos não seriam aceitos pelo Japão.

A conclusão que inequivocamente se tira da evidência apresentada é que Byrnes é o homem que convenceu Truman a manter a política de rendição incondicional e não aceitar a rendição do Japão para que as bombas pudessem ser realmente jogadas, demonstrando assim aos russos que os EUA tinham um novo poderoso líder, um “novo xerife na cidade” que, diferentemente de Roosevelt, seria duro com os russos na política externa e que os russos precisariam “recuar” durante o que ficaria conhecido como a “Guerra Fria”. Uma razão secundária foi que o Congresso seria agora avisado sobre o porquê de ter sido feita uma apropriação secreta para um Projeto Manhattan e o grande gasto seria justificado ao mostrar que não apenas as bombas funcionam como também elas trariam um fim a guerra, fariam os russos recuar e permitiriam que os EUA se tornassem a força militar mais poderosa do mundo.

Se a rendição dos japoneses tivesse sido aceita entre maio e o fim de julho de1945 e o imperador tivesse sido mantido, como de fato foi após as bombas, isto teria mantido a Rússia fora da guerra. A Rússia concordou em Yalta a ir a guerra japonesa três meses depois que a Alemanha se rendeu. De fato, a Alemanha se rendeu em 8 de maio de 1945 e a Rússia anunciou em 8 de agosto, (exatamente três meses depois) que ela estava abandonando sua política de neutralidade com o Japão e entrando na guerra. A entrada da Rússia na guerra por seis dias permitiu que ela ganhasse tremendos poder e influência na China, Coréia e outros locais chaves na Ásia. Os japoneses estavam morrendo de medo dos comunistas e se a Proclamação Potsdam tivesse indicado que os EUA aceitariam a rendição condicional permitindo que o imperador permanecesse e informassem os japoneses que a Rússia entraria na guerra se eles não se rendessem, então isto certamente teria garantido uma rápida rendição japonesa.

A segunda questão que Alperovitz responde na última metade do livro é como e porque o mito Hiroshima foi criado. A história do mito começa com a pessoa de James B. Conant, o presidente da Universidade Harvard, que era um cientista proeminente, tendo inicialmente deixado sua marca como um químico por seus trabalhos com gases tóxicos durante a Segunda Guerra Mundial. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi o chefe executivo do Comitê de Pesquisa de Defesa Nacional, do verão de 1941 até o fim da guerra, e ele foi uma das figuras centrais que supervisionaram o Projeto Manhattan. Conant começou a ficar preocupado com o futuro de sua carreira acadêmica, e também com seus cargos na indústria privada, porque muitas pessoas passaram a falar abertamente sobre o porquê das bombas terem sido jogadas. Em 9 de setembro de 1945, o almirante William F. Halsey, comandante da Terceira Frota, teve uma citação sua intensamente divulgada ao público dizendo que a bomba atômica tinha sido usada porque os cientistas tinham um “brinquedo e eles queriam testa-lo…” Ele ainda disse, “A primeira bomba atômica foi um experimento desnecessário… Joga-la foi um erro que jamais deveria ter sido cometido.” Albert Einstein, um dos mais importantes cientistas do mundo, que também era uma pessoa importante ligada ao desenvolvimento da bomba atômica, respondeu e suas palavras foram manchete do The New York Times “Einstein deplora o uso da bomba atômica”. A história relata que Einstein declarou que “Uma grande maioria de cientistas se opunha ao súbito uso da bomba atômica.” Na opinião de Einstein, o uso da bomba foi político – uma decisão diplomática ao invés de uma decisão militar ou científica.

Provavelmente a pessoa mais próxima de Truman, do ponto de vista militar, era o Chairman of the Joint Chiefs of Staff, almirante William Leahy, e diziam que ele também deplorava o uso da bomba e tinha aconselhado insistentemente Truman a não usa-la, ao invés disso aconselhando-o a reconsiderar a política de rendição incondicional para que os japoneses pudessem se render e manter o imperador. A opinião de Leahy foi posteriormente relatada por Hanson Baldwin em uma entrevista em que Leahy “achava que o assunto de reconhecer a continuidade do imperador era um detalhe que deveria ter sido resolvido facilmente.” A secretária de Leahy, Dorothy Ringquist, relatou que Leahy contou para ela no dia que a bomba de Hiroshima foi jogada, “Dorothy, nós iremos nos arrepender deste dia. Os EUA irão sofrer, pois a guerra não deve ser travada contra mulheres e crianças”. Outra importante voz da marinha, o comandante em chefe da Frota Americana e Chefe de Operações Navais, Ernest J. King, declarou que o bloqueio naval e o prévio bombardeio do Japão em março de 1945 deixaram o Japão impotente e que o uso da bomba atômica foi tanto desnecessário quanto imoral. Além disso, a opinião do Almirante da Frota Chester W. Nimitz foi relatada em uma conferência de imprensa em 22 de setembro de 1945; “O Almirante aproveitou a oportunidade para somar sua voz àqueles que insistiam que o Japão havia sido derrotado antes da bomba atômica e da entrada da Rússia na guerra”. Em um discurso subsequente no Monumento a Washington em 5 de outubro de 1945, o almirante Nimitz declarou que “O Japão já tinha, de fato, suplicado pela paz antes da era atômica ter sido revelada ao mundo com a destruição de Hiroshima e antes da entrada da Rússia na guerra”. Também era sabido que em, ou próximo de, 20 de julho de 1945, o general Eisenhower, em um encontro pessoal, insistiu que Truman não usasse a bomba atômica. A avaliação de Eisenhower era “Que não era necessário ataca-los com esta coisa abominável… usar a bomba atômica para matar e aterrorizar civis, sem mesmo tentativas [de negociações], era um crime duplo.” Eisenhower também declarou que não havia necessidade de Truman “sucumbir” a Byrnes.

James Conant chegou a conclusão que alguma pessoa importante no governo deveria ir a público para mostrar que jogar as bombas tinha sido uma necessidade militar, deste modo salvando a vida de centenas de milhares de soldados americanos, então ele contatou Harvey Bundy e seu filho, McGeorge Bundy. Eles concordaram que a pessoa mais importante na criação deste mito era o Secretário de Guerra Henry Stimson. Foi decidido que Stimson redigiria um longo artigo a ser amplamente circulado em uma proeminente revista nacional. Este artigo foi repetidamente revisado por McGeorge Bundy e Conant antes de ser publicado na revista Harper em fevereiro de 1947. O longo artigo se tornou o assunto de um artigo de primeira página e de um editorial do The New York Times e no editorial foi declarado que “Não pode haver nenhuma dúvida de que o presidente e o senhor Stimson estão certos quando eles mencionam que foi a bomba que fez com que os japoneses se rendessem”. Depois, em 1959, o presidente Truman especificamente endossou esta conclusão, incluindo a ideia que ela salvou a vida de um milhão de soldados americanos. O mito tem sido renovado anualmente pela imprensa e por diversos líderes políticos desde então.

É muito pertinente que, na autobiografia de Henry Stimson intitulada On Active Service in Peace and War, ele declara, “Infelizmente, vivi o suficiente para saber que a história geralmente não é o que realmente aconteceu mas o que foi registrado como tendo ocorrido.”

Para um ponto de vista mais focado na tragédia humana deste assunto, recomendo a leitura de um livro intitulado Hiroshima Diary: The Journal of a Japanese Physician, August 6, September 30, 1945, de Michiko Hachiya. Ele foi um sobrevivente de Hiroshima e manteve um diário sobre as mulheres, crianças e idosos que ele tratou diariamente no hospital. O próprio médico foi severamente ferido mas recuperou-se o suficiente para ajudar outros e seu registro das tragédias pessoais de civis inocentes que foram queimados gravemente ou morreram por conta das bombas permite que consideremos o tema moral em uma perspectiva clara.

Agora que vivemos na era nuclear e há suficientes armas nucleares espalhadas pelo mundo para destruir a civilização, precisamos encarar o fato que os EUA é o único país que usou esta arma abominável e que foi desnecessário ter feito isso. Se os americanos viessem a reconhecer a verdade, ao invés do mito, poderia causar uma revolta moral que faria com que nós conduzíssemos o mundo para uma conscientização de que as guerras no futuro podem se tornar nucleares, e, portanto, todas as guerras devem ser evitadas a quase qualquer preço. Esperemos que nosso conhecimento científico não tenha ultrapassado nossa habilidade em exercer julgamentos políticos e morais prudentes e humanos ao ponto de estarmos destinados ao extermínio.
Por:John V. Denson  08/02/2006
Tradução de Fernando Chiocca
Artigo original aqui. Do site: http://rothbardbrasil.com/