sábado, 9 de setembro de 2017

O ENSINO DOS VALORES EM CONFÚCIO


A Vida
Pouco se sabe acerca de Confúcio (Kung-fu-tzu). Terá nascido em 551 a.C. e terá morrido em 479 a.C. Viveu, portanto, 72 anos. Sabe-se que era de origem nobre, mas por circunstâncias desconhecidas a sua família era bastante humilde. Nasceu no estado de Lu, na moderna Xantum, na época em que o regime imperial entrava em decadência, sacudido por lutas senhoriais e corrupção generalizada. A China Imperial passava com grandes e profundas mudanças, na economia e na sociedade. A criminalidade, a miséria e o fosso entre os muito ricos e os muito pobres cresciam. Na sua juventude, Confúcio arranjara uma reputação de amante do conhecimento e respeitador das tradições antigas. Era conhecido como um jovem educado, cortês e justo. Viajou muito e estudou durante vários anos na capital imperial de Zhou, onde teve oportunidade de conhecer Lao Zi, o fundador do Daoismo. Com o regresso a Lu, Confúcio tornou-se famoso como professor. Com a idade de 35 anos, viu a sua carreira de professor interrompida por uma prolongada e sangrenta guerra, conduzida pelo Duque Chao do estado de Lu. Terá sido durante esse período que Confúcio foi chamado a exercer funções políticas, por um breve período, como conselheiro político do Duque Chao. Cansado das intrigas da Corte, Confúcio troca a vida política pelo ensino. Aos 50 anos de idade, volta a exercer funções políticas, como Ministro da Justiça do estado de Lu e aos 56 anos alcança o lugar de Primeiro Ministro. Por volta dos 60 anos de idade, Confúcio abandona definitivamente a vida política e viaja durante anos pela China acompanhado dos seus discípulos. Durante as suas viagens é preso e vê-se envolvido em lutas de senhores da guerra rivais. Aos 67 anos de idade regressa a Lu, passando o resto dos seus dias a ensinar e a escrever. Morreu com 72 anos. Confúcio considerava-se mais como um transmissor das crenças antigas do que como um criador de teorias. Em jovem, passou algum tempo como ministro do estado, mas a maior parte da sua vida foi passada a ensinar. Viajou mais de dez anos por vários estados da China Imperial, servindo como conselheiro político. Desiludido com a corrupção reinante nas cortes dos senhores feudais, Confúcio regressou a Lu onde passou o resto da sua vida rodeado de um conjunto de discípulos devotados a quem lhe chamavam o Mestre. Terão sido os seus discípulos que escreveram Os Analectos, a única obra que é considerada um registo fidedigno do pensamento de Confúcio. Escrito há perto de 2500 anos, Os Analectos conheceram uma grande divulgação na China e foram objecto de traduções nas principais línguas do Mundo. O objectivo de Confúcio foi apresentar uma versão pura das antigas doutrinas, passadas de geração em geração na cultura Chou, de forma a dar corpo ao governo justo e benevolente. Confúcio acreditava que, algures no passado, teria havido uma idade mítica, na qual cada um conhecia o seu lugar e cumpria o seu dever. A finalidade de Confúcio era dar a conhecer os fundamentos éticos que permitissem um regresso a esse passado mítico, tão distante dos tempos conturbados que eram os seus. A expressão prática desse desejo era a forte predisposição de Confúcio para apoiar as instituições que assegurassem a harmonia, a justiça e a ordem: a família, a hierarquia, os anciãos e o Estado justo. O respeito pelo dever, pela hierarquia e pelos rituais seria capaz de produzir homens respeitadores da cultura tradicional, amantes do Bem e da Justiça, cumpridores dos deveres e das obrigações e reverentes para com as autoridades legítimas e os mais velhos.

Confúcio é, ainda hoje, o mais influente filósofo chinês. Os adeptos de Confúcio estão espalhados por Taiwan, Japão, Singapura, Coreia do Sul, Malásia e República Popular da China. Estima-se em mais de 400 milhões o número dos seus seguidores. Mencius (390 a.C.-305 a.C.) alarga e sistematiza a filosofia de Confúcio, tornando-se o seu discípulo mais destacado. Com a adopção da doutrina de Confúcio como a filosofia oficial do Estado, durante a Dinastia de Han, a influência de Confúcio, na China, tornou-se tão grande que o seu nome tornou-se sinónimo de intelectual e erudito. Durante a Dinastia Han, a doutrina de Confúcio e o pensamento dos seus seguidores tornaram-se as obras de referência para a realização dos exames públicos de acesso às magistraturas, ao funcionalismo público e à burocracia governamental.

A Obra

A maior parte dos trabalhos atribuídos a Confúcio, e em particular Os Analectos - foram escritos pelos seus discípulos após a sua morte. Há imensas traduções de Os Analectos, mas poucas credíveis, porque é extremamente difícil o respeito pelo original, já que a língua em que foram escritos sofreu muitas transformações. Para além de Os Analectos, são atribuídos a Confúcio ou aos seus discípulos A Grande Aprendizagem e A Doutrina do Meio.

Os Analectos encontram-se publicados em Portugal, na colecção Clássicos de Bolso da Europa-América. Se o leitor quiser ter acesso a traduções de Confúcio, terá de recorrer a livros em língua inglesa. Eis uma pequena lista:
Lin Yutang. (1995). The Wisdom of Confucius. Citadel 
Shih-Ching. (1979). The Classic Anthology Defined by Confucius. Viking Penguim
Confucius. (1969). Analects, Great Learning and Doctrine of the Mean. New Directions
Se o leitor quiser ter acesso a comentários sobre o pensamento de Confúcio, terá de recorrer igualmente a obras em língua inglesa:
David Hall e Roger Ames. (1992). Thinking Through Confucius. Charles Tuttle
Liu Chen. (1986). The Confucian Way: A New and Systematic Study of the Four Books. Routledge
Tsai Chung. (1996).Confucius Speaks: Words to Live By. Anchor
Liu Wu-Chi. (1972). Confucius, His Life and Time. Greenwood
Karl Jaspers. (1996). Socrates, Buddha, Confucius and Jesus. Harverst
Theodore de Bary. (1996). The Trouble with Confucionism. Harvard
Tu Wei-Ming. (1996). Confucian Traditions in East Asian Modernity: Moral Education and Economic Culture in Japan and the Four Mini-Dragons. Harvard.

Em Portugal, há duas edições de Os Analectos. Uma delas, com o título Os Analectos, Livros de Bolso, Publicações Europa-América. A outra, com o título Conversações, Editorial Estampa. Este último inclui uma interessante Introdução, assinada por Anne Cheng, com informações sobre a China no tempo de Confúcio, a biografia de Confúcio, a moral e a política em Confúcio e a herança de Confúcio.

A teoria moral

O Confucionismo constitui um código de conduta que guia e orienta o governo justo, as relações entre as pessoas, a conduta pública, a vida privada e a procura da rectidão. Os dois conceitos mais importantes da doutrina confuciana são o Li e o Jen. O Li são as cerimónias, a etiqueta, os rituais e os bons costumes. O Jen é a benevolência, a cortesia e a gentileza. A harmonia, a paz, a justiça e a ordem estariam asseguradas se todos praticassem o Li e o Jen. Confúcio acentua as virtudes da auto-disciplina e da generosidade. Sê rígido para contigo, mas benevolente para com os outros, tal é uma das principais máximas confucianas. Ser bom como um filho e obediente como um jovem é o que constitui a raiz do carácter da pessoa. Nunca exigir aos outros o que nós não estamos dispostos a fazer é a forma que Confúcio concebeu para formular a "regra de ouro": não faças aos outros o que não queres para ti. Há aqui semelhanças com a teoria da virtude em Aristóteles e até com o imperativo categórico de Kant. Trata os outros como um fim e nunca como um meio. Sê benevolente. O que é uma pessoa moralmente educada para Confúcio? No livro Os Analectos, dá-nos a seguinte resposta: "Eu conceberia que um homem recebeu instrução se ele aprecia homens de excelência enquanto outros homens apreciam belas mulheres, se ele se aplica ao máximo ao serviço dos seus pais e oferece a sua pessoa ao serviço do seu senhor e, se nas suas relações com os amigos, é digno de confiança no que diz, mesmo embora ele possa dizer que nunca foi ensinado" No Livro XIII, dirá: "enquanto em casa, conserva uma atitude respeitosa; quando a servir numa qualidade oficial, sê reverente; quando a tratar com outros, faz o melhor que te for possível" (Os Analectos, Livro XIII, 84). Mas Confúcio chama a atenção para a importância da constância das virtudes. Um comportamento errático, meramente oportunista e flutuando de acordo com as circunstâncias e os interesses, não é um comportamento virtuoso. Sendo certo que a moral se ensina através da instrução, também é verdade que o exemplo, o hábito e a reflexão exercem um papel primordial, de tal forma que uma pessoa que não recebeu instrução pode ser moralmente educada. A instrução, contudo, prepara a pessoa para a reflexão, ajuda a combater a rigidez e a inflexibilidade e ajuda a cultivar a humildade intelectual. Confúcio afirma que aquele que estuda é improvável que seja inflexível. A arrogância e o fanatismo são apanágio dos ignorantes: "o nobre está à vontade sem ser arrogante; o homem insignificante é arrogante sem estar à vontade" (Os Analectos, Livro XIII, 85). Obediente aos mais velhos, aos pais e àqueles de quem depende hierarquicamente, verdade e honestidade nas palavras, amigo dos amigos, reservado quanto baste e cumpridor dos ritos, tal é o homem nobre, o homem de carácter. "Aquele que é, por um lado, sincero e subtil e, por outro, amável merece ser chamado Nobre - sincero e subtil entre os amigos e amável entre os irmãos" (Os Analectos, Livro XIII, 86). Central na moral confuciana é a noção de respeito. O que é o respeito para Confúcio? "Ser respeitoso é próximo de ser observador dos ritos, o que possibilita uma pessoa a ficar isenta de desgraça e insulto. Se ao promover o bom relacionamento com parentes através do casamento, um homem consegue não perder a boa vontade dos seus próprios parentes, ele é digno de ser considerado como cabeça do clã" (Analectos, livro I, 13). O respeito pelos ritos, pelas tradições, pelos mais velhos e pelos pais é no pensamento de Confúcio o que o cumprimento do dever é no pensamento de Kant. A obediência é outro conceito chave para se compreender a moral confuciana. Ser filial é nunca deixar de obedecer, repete Confúcio nos Analectos. Deve-se obediência a quem? Em primeiro lugar aos pais, depois aos outros parentes mais velhos, de seguida aos nossos amigos mais velhos e, por último, a todos de quem dependemos hierarquicamente, na vida pública ou na vida profissional. O dever de obediência é acompanhado pela garantia da benevolência. Aqueles a quem devemos obediência só a merecem quando são benevolentes. Confúcio admite a revolta sempre que os governantes não são dignos de obediência pelos súbditos. E os governantes não são dignos de obediências quando não mostram benevolência. O governo benevolente é um governo justo e é o único capaz de manter o povo feliz e de assegurar a prosperidade. Um governo que reprime o povo mantém o povo afastado dos problemas, pode retardar a revolta, mas não é respeitado pelo povo. Um governo que recompensa os desonestos, promove a desonestidade: "levanta os rectos e coloca-os acima dos desonestos e o povo comum considerar-te-á um modelo. Ergue os desonestos e coloca-os acima dos rectos e o povo comum não olhará para ti como modelo" (Os Analectos, Livro II, 18). O que é uma pessoa moral? É aquele que não se desvia do caminho recto e que não deixa de fazer o que está correcto por falta de coragem. Confúcio afasta-se da noção, cara a Platão, de que a moral é do domínio do inteligível, da alma racional e da reflexão, aproximando-se, ao invés, da noção aristotélica de que a moral é a associação da sabedoria à conduta, do intelecto com a acção, do raciocínio com o hábito. No livro II dos Analectos, afirma: "Aos quinze anos dediquei o meu coração à aprendizagem; aos trinta assumi o meu lugar; aos quarenta fiquei livre de dúvidas; aos cinquenta compreendo o Decreto do Céu; aos sessenta o meu ouvido ficou afinado; aos setenta eu segui o desejo do meu coração sem ultrapassar a linha". A aprendizagem da moral é um processo longo e contínuo, é uma empresa para toda a vida. Exige um longo período de instrução, que começa na juventude, pressupõe a conquista da maturidade, através do exercício continuado de uma profissão e dos deveres de cidadania e obriga ao exercício continuado do respeito pelos ritos e pelas regras. Um homem só é digno de ser professor quando consegue saber o que é novo, mantendo vivo o que as gerações anteriores construíram. A aprendizagem da moral exige reflexão, hábito de seguir a via recta e o contacto com exemplos de pessoas virtuosas. Só o exemplo e o hábito, não é suficiente: "se uma pessoa aprende através das outras mas não pensa, essa pessoa pode ficar confusa. Se, por outro lado, uma pessoa pensa mas não aprende através dos outros, ela estará em perigo" (Os Analectos, Livro II, 17). O amor filial, o respeito e a reverência para com os pais, ocupam um lugar central na moral de Confúcio. É na família que a criança recebe a primeira instrução, é lá que ela se inicia nos ritos e que desenvolve os primeiros hábitos. Ser filial não é apenas assegurar a subsistência dos pais na velhice. É sobretudo ser reverente para com eles. Respeitá-los, obedecer-lhes e mostrar reverência: "enquanto os teus pais forem vivos, obedece aos ritos servindo-os; quando eles morrerem, obedece aos ritos sepultando-os; obedece aos ritos fazendo sacrifícios em sua honra" (Os Analectos, Livro II, 16). Outra noção essencial à moral confuciana é a reserva, a qual se aproxima bastante da noção aristotélica de moderação e de justo meio. Evita os extremos e afasta-te dos excessos. Em caso de dúvida, é preferível optar pela frugalidade do que pela extravagância. Reserva no falar, moderação nas acções, tolerância quando se está numa posição de poder, reverência para com os ritos e os mais velhos, benevolência para com os fracos, obediência aos pais e rectificação dos erros, tais são as qualidades da pessoa nobre, isto é, da pessoa moralmente educada. Coragem, tolerância, dedicação e humildade são outras qualidades a ter em conta. Há três coisas que definem o homem nobre: "ficar isento de violência ao mostrar um semblante sério, aproximar-se de ser digno de confiança por apresentar uma expressão correcta no seu rosto e evitar ser rude e irracional por falar em tons próprios" (Os Analectos, Livro VIII, 50). A tolerância implica ser capaz de rectificar o caminho quando este se desvia da via recta. Reconhecer os erros e emendá-los. Pedir conselhos a quem sabe mais do que nós e é mais experiente. A coragem é uma qualidade que se deve ter na medida certa. Em excesso é temeridade e daí ao ódio vai um passo curto. O ódio impede a benevolência e provoca comportamentos desregrados. A congruência surge como outra qualidade prezada por Confúcio. Graças a ela, "o homem de inteligência nunca tem duas mentes, o homem de benevolência nunca se preocupa; o homem de coragem nunca tem medo" (Os Analectos, Livro XIX, 59). A reserva no falar e no vestir são. igualmente, características do homem nobre: "na corte, quando falava com os conselheiros de posição inferior, ele era afável; quando falava com conselheiros de posição superior, era franco, embora respeitoso. Na presença do seu senhor, o seu comportamento, embora respeitoso, era composto" (Os Analectos, Livro X, 61). Mais à frente, no Livro XIV, afirma: "O meu Mestre apenas falava quando era altura de o fazer. Assim as pessoas nunca se cansavam de ele falar. Ria apenas quando se sentia feliz. Assim as pessoas nunca se sentiam cansadas do seu riso. Aceitava apenas quando achava que era correcto aceitar. Assim as pessoas nunca se cansavam de ele aceitar". A reserva e a parcimónia são duas qualidades centrais no homem moralmente educado. A benevolência é a qualidade maior dos justos: "regressar à observância dos ritos através da superação do ego constitui benevolência. Se, durante um único dia, um homem pudesse regressar à observância dos ritos através da superação de si próprio, então todo o Império consideraria que a benevolência era sua. No entanto, a prática da benevolência depende da própria pessoa, e não dos outros" (Os Analectos, Livro XII, 73). O homem benevolente é respeitoso e parco em palavras. Nada mais estranho a Confúcio do que a máxima: Quem o seu inimigo poupa, às mãos lhe morre". Face aos que optam pela desobediência, intolerância e indisciplina, Confúcio afirma: "os homens que rejeitam a disciplina e, no entanto, não são rectos, os homens que são ignorantes e, no entanto, não são cautelosos, os homens que são destituídos de habilidade e, no entanto, não são dignos de confiança, ultrapassam bastante a minha compreensão" (Os Analectos, Livro VIII, 52). E no livro XIX de Os Analectos, Confúcio acrescenta: "eu não posso fazer nada com o homem que concorda, mas não se rectifica, ou com o homem que está satisfeito, mas não se reforma". O homem de carácter sabe ser perspicaz e previdente. Quando um homem é capaz de resistir à difamação e às lamentações, o homem mostra-se perspicaz. Mas ser perspicaz é, também, ser capaz de aceitar o seu lugar na sociedade. Esta aceitação do lugar que cabe a cada um na estrutura social, definiu-a Confúcio da seguinte forma: "deixem o dirigente ser um dirigente, o súbdito um súbdito, o pai um pai, o filho um filho" (Os Analectos, Livro XII, 76). Sobre a benevolência dos governantes para com o povo comum, Confúcio afirma: "ao administrar o teu governo, que necessidade há que tu mates? Deseja apenas tu próprio o bem e o povo comum será bom. A virtude do nobre é como o vento; a virtude do homem pequeno é como a erva. Deixai o vento soprar sobre a erva e é certo que ela se dobre" (Os Analectos, Livro XII, 77). E, um pouco mais à frente, dirá que a benevolência é amar os nossos semelhantes. O respeito pelos outros constitui outra qualidade do homem nobre. A capacidade para se colocar na perspectiva dos outros, tão cara aos modelos cognitivistas da educação moral, definiu-a Confúcio da seguinte forma: "não imponhas aos outros o que tu próprio não desejas" (Os Analectos, Livro XV, 99). Nestas palavras, Confúcio revela bem o seu optimismo moral e o sentido reformador de quem acredita na capacidade da educação e da reflexão para reformar o homem e conduzi-lo no caminho da rectidão moral. Convém ter presente que Confúcio viveu numa época politicamente conturbada, marcada pela corrupção nas elites governantes e por guerras entre os senhores feudais. Esse ambiente caótico foi fértil na expansão do desregramento moral entre a população e provocou um aumento da criminalidade e da miséria. As referências constantes, nas páginas de Os Analectos, ao regime do duque de Chou e à sociedade reinante no estado de Lu, remetem-nos frequentemente para críticas ao desregramento moral, cobiça, ambição desmedida e império da desonestidade. Em oposição, Confúcio clama, com frequência, pela necessidade de levantar os rectos, colocando-os acima dos desonestos, para tornar os desonestos rectos. Confúcio chama a atenção para o poder do exemplo na educação moral. Em resposta a um conselho pedido por Chi Kang Tzu, sobre a maneira de acabar com os ladrões, Confúcio não receia responder que " se tu próprio não fosses um homem de desejos, ninguém roubaria, mesmo que roubar trouxesse recompensa" (Os Analectos, Livro XII, 77). O que Confúcio quis dizer é que se os governantes não roubassem, haveria mais honestidade entre o povo. No Livro XIII, explicita, um pouco melhor, o papel do exemplo na educação moral: "encoraja o povo a trabalhar bastante, estabelecendo tu próprio um exemplo. Tzu-lu perguntou mais. O Mestre disse: não deixes que os teus esforços afrouxem...Determina um exemplo que os teus oficiais sigam; mostra brandura para com os ofensores menores e promove homens de talento"(Os Analectos, Livro XIII, 80). Um pouco mais à frente, afirma: "quando aqueles que estão acima amam os ritos, ninguém de entre o povo comum ousará ser irreverente; quando amam o que está certo, ninguém de entre o povo comum ousará ser insubordinado; quando eles amam a probidade, ninguém de entre o povo comum ousará ser insincero...Se um homem é correcto em si mesmo, então haverá obediência sem que sejam dadas ordens; mas se ele não é correcto em si próprio, não haverá obediência, mesmo embora as ordens sejam dadas" (Os Analectos, Livro XIII, 81). É fácil levar um povo inteiro a desviar-se da rectidão moral. Difícil e moroso é conduzi-lo de novo à via da rectidão: "mesmo com um verdadeiro rei, é certo que a benevolência demora uma geração a tornar-se uma realidade" (Os Analectos, Livro XIII, 82). Como é que Confúcio define uma pessoa moralmente educada? A moralidade é a matéria-prima do nobre e a nobreza de carácter vê-se pela observância dos ritos, pela modéstia e humildade no agir, pela moderação nas palavras e pela constância das qualidades. O homem educado é íntegro, benevolente, obediente e respeitador. A pessoa moralmente educada mostra respeito, é tolerante e é generoso: "se um homem é respeitoso, não será tratado com insolência. Se é tolerante, quererá vencer a multidão. Se é digno de confiança na palavra, os seus semelhantes confiar-lhe-ão responsabilidade. Se é rápido obterá resultados. Se é generoso, será suficientemente bom para ser posto numa posição acima dos seus semelhantes" (Os Analectos, Livro XVII, 110). Um nobre, isto é, uma pessoa educada, nunca esquece o que é correcto, dá primazia à justiça face ao lucro e é reverente nas situações que exigem reverência. O nobre inspira respeito, mas não é feroz, faz-se respeitar, mas não é arrogante, é firme nas suas convicções, mas corrige os erros cometidos, é generoso sem que isso lhe custe, é flexível, mas nunca negligencia as suas maneiras, é elogioso para com os bons, mas piedoso para os que erram, faz amigos com os que lhe merecem a amizade, mas afasta-se dos que não são adequados. E há situações que a pessoa moralmente educada não aprecia: "ele não aprecia aqueles que proclamam o mal dos outros. Não aprecia aqueles que, estando numa posição inferior, difamam os seus superiores. Não aprecia aqueles que, embora possuindo coragem, lhes falta o espírito dos ritos. Não aprecia aqueles cuja determinação não é temperada pela compreensão" (Os Analectos, Livro XVII, 114). Enfim, a educação, na perspectiva de Confúcio, é um processo sem fim, a exigir o aperfeiçoamento através da aprendizagem, de forma a que a pessoa com nobreza de carácter possa apreciar as cinco excelentes práticas e seja capaz de afastar as práticas malévolas. E o que são as cinco excelentes práticas? Confúcio afirma no Livro XX, de Os Analectos: o nobre é generoso sem que lhe custe algo, faz trabalhar bastante os outros sem se queixarem, tem desejos sem ser sôfrego, é casual sem ser arrogante e inspira temor sem ser feroz. E o que são as práticas malévolas? Impor a pena de morte sem primeiro tentar reformar a pessoa, esperar resultados sem primeiro dizer como se faz e insistir num limite de tempo para cumprir uma tarefa sem dar o tempo necessário.

A filosofia de Confúcio estabelece as bases das relações sociais entre as pessoas e entre as instituições. As "seis relações" dão expressão a essa base e fundamentam-se nas relações que os pais devem estabelecer com os filhos e, por isso, são todas variações do amor filial, ou o respeito e veneração dos filhos para com os pais. Originalmente, as "seis relações" incluem três conjuntos: os pais e os filhos; o marido e a esposa; o irmão mais velho e o irmão mais novo. Tomando como base aqueles três conjuntos de relações, é possível conceber uma infinidade de outros, tais como: professor e aluno; amigo e amigo; ancião e jovem. Emcada uma destas relações, o membro superior, os pais, os professores ou os irmãos mais velhos, têm o dever de benevolência e têm a responsabilidade de cuidar do membro subordinado e este tem o dever de obediência. A única excepção poderá ser a relação entre amigos, a qual pode estabelecer-se na base da igualdade, a não ser que um deles seja mais velho do que o outro. A atitude reverencial e o dever de obediência do membro subordinado face ao membro superior só se justifica enquanto este observar o dever de benevolência e cumprir a responsabilidade de cuidar do subordinado. Uma vez que a noção de obediência, em Confúcio, é sinónimo de fazer o que está certo, a verdadeira obediência aos pais ou aos irmãos mais velhos significa a recusa em obedecer a ordens injustas e moralmente incorrectas. Governantes injustos e corruptos não merecem a obediência dos seus súbditos. Nestes casos, Confúcio aceita que os súbditos se revoltem contra os governantes corruptos.

Central no pensamento de Confúcio é a crença numa ordem moral cósmica. Através da reflexão e da educação, é possível a qualquer um a distinção entre o bem e o mal.

Em conclusão, a filosofia de Confúcio oferece-nos uma ética, uma política e uma arte de viver, de simples compreensão: amar os outros, honrar os nossos pais, fazer o que está certo em vez de agir por interesse, respeitar a reciprocidade, isto é, "não faças aos outros aquilo que não queres para ti", dirigir e comandar através do exemplo moral e não pela violência ou pela força...

Crítica

O Confucionismo é uma filosofia que mantém uma enorme influência em países como Taiwan, Singapura, Coreia do Sul e, de uma forma quase clandestina, na República Popular da China. Nas comunidades sino-americanas, a sua influência é, também, muito grande. A filosofia de Confúcio e de alguns do seus seguidores, nomeadamente de Mencius, são objecto de estudo nas Escolas de Humanidades e de Ciências Sociais de muitas Universidades dos Estados Unidos da América e Os Analectos são leitura obrigatória nas escolas secundárias de Taiwan. Na China, apesar da enorme repressão que o regime comunista exerce sobre o povo chinês há cinco décadas, Confúcio continua a ser considerado como o maior dos sábios chineses e as suas cinco virtudes - caridade, justiça, propriedade, sabedoria e lealdade - continuam a ser apreciadas como condição necessária para o auto-esclarecimento e a melhoria da pessoa. O nascimento de Confúcio continua a ser celebrado pelos chineses como uma data festiva e, em Taiwan, é considerado feriado nacional. Confúcio desenvolveu a ideia de que o Governo justo tem de ser impregnado de ética. A política e a ética têm de andar associadas para que a justiça prevaleça. A educação para todos, ao longo de toda a vida, é um conceito central no pensamento confuciano e o facto de as comunidades chinesas no estrangeiro darem tanta importância à escola e à educação talvez se explique pela força da tradição confuciana. A influência do pensamento de Confúcio foi tão grande que, durante muitos séculos, a China foi governada por uma meritocracia, recrutada através de exames públicos. A ideia de que o Governo e a administração da coisa pública devem estar nas mãos dos mais instruídos e dos mais competentes, tão cara a Confúcio, continua a ter enorme influência em países como a Coreia do Sul, Singapura e Taiwan. O respeito pelos mais velhos e o amor aos pais - tão caros às comunidades chinesas espalhadas pelo Mundo - são, sem dúvida, uma herança da tradição confuciana. O gosto pelo trabalho, o apreço pelo investimento e pela poupança e o amor à escola constituem traços comuns às comunidades chinesas e explicam, em parte, o sucesso obtido por esses países na qualificação dos recursos humanos e no desenvolvimento das suas economias.

É possível, no entanto, colocar algumas reservas à ética confuciana. Uma delas é a desvalorização do indivíduo face à comunidade. Outra, é a tendência para o apagamento das diferenças, face ao poder tradições, da hierarquia e das regras. Podemos perguntar se esta filosofia não favorecerá o desenvolvimento de um pensamento convergente, uniforme e conformista e não abafará a criatividade e a inovação, tão necessárias a um Mundo caracterizado pela mudança e pela incerteza. Será que a doutrina de Confúcio, tão apostada na conservação das tradições, dos ritos e das hierarquias, ainda faz sentido numa sociedade onde a tecnologia e a ciência avançam tão rapidamente? Fará sentido um tal esforço para conservar as tradições, numa época de crescente mobilidade geográfica, social e cultural? Poderá o pensamento de Confúcio resistir à crescente atracção do multiculturalismo, da defesa da especificidade das minorias culturais e étnicas e do respeito pelos estilos de vida minoritários? Será o confucionismo um entrave à crescente emancipação das mulheres e ao aparecimento de modelos de família alternativos? Ou será que Confúcio pode, ainda, constituir um refúgio certo para a desordem crescente do Mundo e para a anarquia emergente nas relações interpessoais? Pode a ética confuciana constituir um entrave ao aumento da corrupção, à opressão dos fracos, à tirania dos governos e ao aumento das desigualdades sociais? Pode a ética confuciana e a sua aposta na estabilidade, na obediência aos ritos e no respeito pelas tradições, ajudar a colocar uma ordem na crescente desordem amorosa? Pode a sua ênfase na defesa da benevolência, da ordem, das regras, da obediência e da família constituir um antídoto para a crescente desordem familiar, com o seu cortejo de maus tratos nas mulheres, abuso das crianças, solidão e abandono das responsabilidades? Será que as sociedades ocidentais foram longe demais no alargamento dos direitos e no encurtamento das responsabilidades? A verdade é que os países e as comunidades onde a influência da ética de Confúcio é grande conhecem menores taxas de criminalidade, menores taxas de divórcio, mais elevados níveis de educação, menos desemprego e mais estabilidade social. Mas será que o preço que pagam é a falta de liberdade e o apagamento das diferenças face ao império da norma, da regra e das tradições? Valerá a pena pagar esse preço? Estamos perante um debate necessário. Contudo, estou em crer que a influência de Confúcio não irá parar de crescer e irá alastrar às sociedades ocidentais como resposta para aqueles que procuram mais segurança, mais estabilidade, mais justiça e mais benevolência. Há cada vez mais pessoas, nas nossas sociedades ocidentais, que lamentam a crescente desumanização das relações interpessoais, que criticam a maneira como as novas gerações tratam os idosos, que não aceitam o alastrar da ética da irresponsabilidade e que querem resistir a mudanças que colocam em perigo o equilíbrio das famílias e a integridade das comunidades. Para todos aqueles que temem o crescimento do individualismo, do hedonismo e do egoísmo social, a ética confuciana é um terno refúgio e é uma alternativa que reconforta e marca um caminho.
Por: Ramiro Marques ESE do Instituto Politécnico de Santarém
Referências
Confúcio.(as/d).Os Analectos. Lisboa. Publicações Europa-América
Confúcio.(1991). Conversações. Lisboa. Editorial Estampa
Do site: http://www.eses.pt

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A BÍBLIA, O PT E O MINISTÉRIO PÚBLICO

"Quem pariu Mateus, que o embale..."

Jesus chama Mateus - o coletor de impostos

A expressão tem origem em uma crítica atribuída pelos fariseus a Jesus, que decidira acolher um sujeito tido por arrogante, chamado Mateus, entre seus discípulos, mesmo sendo ele um cobrador de impostos nomeado por Herodes - o tetrarca da Galileia.

Mateus convidou Jesus para um banquete em sua casa.

"Como poderia o filho de Deus cear com coletores de impostos e pecadores? Só a mãe seria capaz de gostar de um áulico fiscal de Herodes. Somente ela, que pariu Mateus, teria a obrigação de embalá-lo"... criticavam, com o habitual humor sarcástico da região, os céticos da obra do Nazareno.

A frase passou a representar a responsabilidade que todos temos pelos próprios atos - da qual nem Jesus Cristo escapou - embora Mateus tenha sido mais um acerto divino.

O episódio nos lembra da necessidade de pensar para além do interesse atual, antes de decidir, para depois não ter de arcar com as consequências...

A passagem também aplica-se ao quadro político brasileiro, à profunda crise em que estamos atolados, pois diz respeito a escolhas feitas por vários atores institucionais, ao longo da história recente.

Caso exemplar dessa passagem é a mea culpa assumida pelo jornalista Breno Altman, nome de expressão da esquerda brasileira entrincheirada no Partido dos Trabalhadores, em postagem nas redes sociais.

Vale a pena ler a postagem para entender o quanto é difícil lidar com as consequências do aparelhamento ideológico empreendido pela esquerda petista na instituição do Ministério Público.

Esse aparelhamento - cujos efeitos danosos sentimos a partir de sua cúpula - o homem dos bambus e flechas... se deu, todavia à custa de enormes benesses financeiras e de uma teratológica autonomia, completamente sem controle, a qual, agora, ironicamente, volta-se contra a própria esquerdalha nacional.

Mas os corvos criados não comem os olhos do PT gratuitamente. Fazem-no por absoluta obrigação institucional, ante o volume de escândalos de corrupção, falcatruas, malversação de dinheiro público, incompetências explícitas e más decisões políticas em que este partido e seus satélites ideológicos se envolveram no período de Lula e Dilma... e ainda se envolvem.

Aliás, foi no esteio do denuncismo militante que se construiu o "ativismo judicial", tão caro aos petistas que buscavam "o direito achado nas ruas" (doutrina do grande pensador jurídico esquerdista Roberto Lyra Filho) e a "justiça alternativa" (iniciada pelos magistrados de esquerda do Rio Grande do Sul nos anos 80/90). Esse ativismo resultou na desconstrução sistemática da legislação em prol de um visionário direito baseado em "princípios", "republicanismo" e "supremacia do interesse público"... Um cipoal de proselitismos que instituiu a insegurança jurídica no país como regra.

Agora, vítimas do próprio veneno, os esquerdistas, acuados, recorrem ao "garantismo" e à "restauração"...

O que ocorre com os que hoje se julgam vítimas da sanha persecutória, é, portanto, mero reflexo de suas próprias e nefastas decisões.

Vale para o PT, a propósito, o provérbio registrado pelo próprio Mateus, em seu livro inserto na Bíblia:

"Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, para que não suceda de que eles as pisem com os pés e que, voltando-se contra vós, vos dilacerem."
(Bíblia, Novo Testamento, Livro de Mateus, Capítulo 7, versículo 6)

Segue a postagem:

"cría cuervos, que te comerán los ojos."

Breno Altman - MEA CULPA

A bem da verdade, o PT é cúmplice no surgimento do Ministerio Público como um quarto poder, sem qualquer controle e com um nível de autonomia inexistente em qualquer outro país relevante do planeta.

Já na Constituinte de 1988, sob a batuta do então deputado petista Plinio de Arruda Sampaio, egresso do MP, que depois foi para o PSOL, o partido se alinhou às medidas autonomistas, sob um conceito que não escondia a contaminação das ideias liberais no pensamento de esquerda: a Procuradoria recebia status de representante da sociedade, não mais do Estado, e portanto deixava de ser um braço do poder executivo.

Essa raciocínio era fruto de uma lógica na qual a contradição entre Estado e sociedade seria o princípio reitor da democracia, mais restrita quando prevalecia o primeiro elemento, mais ampla quando predominava o segundo.

A luta de classes, nesse modo de entender o país, era apenas um pano de fundo, que se expressaria de forma protagonista nas questões econômicas e sociais, mas não naquelas relativas ao poder político.

No correr dos anos, esse viés apenas se aprofundou. Chegou ao seu clímax durante os governos Lula e Dilma, quando se chancelou como soberana a lista tríplice formatada pela corporação (através de eleição na qual participam exclusivamente os filiados de uma das sete associações de procuradores federais), escolhendo-se o mais votado como uma espécie de obrigação moral.

A brutalidade do erro hoje salta às vistas: o petismo criou jacaré no tanque. Ou, como diz o ditado espanhol: "cría cuervos, que te comerán los ojos."

Tal situação seria impensável em democracias burguesas consolidadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o secretário de Justiça é o procurador-geral, nomeado ou demitido por livre escolha do presidente da República, com poder de indicar ou deslocar procuradores federais por todo o país.

Por lá, assim como na Franca, Inglaterra ou Alemanha, somente existiria uma operação como a Lava Jato se fosse decisão do governo legitimamente eleito pelo povo. Qualquer governante ou parlamentar poderia ser investigado, é claro, mas uma operação que coloca em risco a vida econômica ou a segurança jurídica caberia apenas a quem dirige o Estado e a própria procuradoria.

O Brasil, no entanto, inventou também essa jaboticaba, que agora corrói as garantias constitucionais e a própria ordem democrática.

Mais cedo ou mais tarde, o PT e a esquerda deveriam acertar contas com esse mau passo, em uma revisão transparente do erro cometido e propondo as medidas legais cabíveis que possam repara-lo.
Por: Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e das Comissões de Política Criminal e Infraestrutura da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SP. É Vice-Presidente da Associação Paulista de imprensa - API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

SANTO AGOSTINHO: SUAS RELAÇÕES ENTRE A FÉ E A RAZÃO

Santo Agostinho (354-430) foi um filósofo, escritor, bispo e importante teólogo cristão do norte da África, durante a dominação romana.

Suas concepções sobre as relações entre a fé e a razão, entre a Igreja e o Estado, dominaram toda a Idade Média.


Santo Agostinho, conhecido também como Agostinho de Hipona, nasceu em Tagaste, na cidade da Numídia (hoje Argélia), no norte da África, região dominada pelo Império Romano, no dia 13 de novembro de 354. Sua infância e adolescência transcorreram principalmente em sua cidade natal, em um ambiente limitado por um povoado perdido entre montanhas. Seu pai era pagão e sua mãe uma cristã devota que exerceu grande influência sobre a conversão do filho.

Aurélio Agostinho destaca-se entre os Padres como Tomás de Aquino se destaca entre os Escolásticos. E como Tomás de Aquino se inspira na filosofia de Aristóteles, e será o maior vulto da filosofia metafísica cristã, Agostinho inspira-se em Platão, ou melhor, no neoplatonismo. Agostinho, pela profundidade do seu sentir e pelo seu gênio compreensivo, fundiu em si mesmo o caráter especulativo da patrística grega com o caráter prático da patrística latina, ainda que os problemas que fundamentalmente o preocupam sejam sempre os problemas práticos e morais: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação.

Aurélio Agostinho nasceu em Tagasta, cidade da Numídia, de uma família burguesa, a 13 de novembro do ano 354. Seu pai, Patrício, era pagão, recebido o batismo pouco antes de morrer; sua mãe, Mônica, pelo contrário, era uma cristã fervorosa, e exercia sobre o filho uma notável influência religiosa. Indo para Cartago, a fim de aperfeiçoar seus estudos, começados na pátria, desviou-se moralmente. Caiu em uma profunda sensualidade, que, segundo ele, é uma das maiores conseqüências do pecado original; dominou-o longamente, moral e intelectualmente, fazendo com que aderisse ao maniqueísmo, que atribuía realidade substancial tanto ao bem como ao mal, julgando achar neste dualismo maniqueu a solução do problema do mal e, por conseqüência, uma justificação da sua vida. Tendo terminado os estudos, abriu uma escola em Cartago, donde partiu para Roma e, em seguida, para Milão. Afastou-se definitivamente do ensino em 386, aos trinta e dois anos, por razões de saúde e, mais ainda, por razões de ordem espiritual.

Entrementes - depois de maduro exame crítico - abandonara o maniqueísmo, abraçando a filosofia neoplatônica que lhe ensinou a espiritualidade de Deus e a negatividade do mal. Destarte chegara a uma concepção cristã da vida - no começo do ano 386. Entretanto a conversão moral demorou ainda, por razões de luxúria. Finalmente, como por uma fulguração do céu, sobreveio a conversão moral e absoluta, no mês de setembro do ano 386. Agostinho renuncia inteiramente ao mundo, à carreira, ao matrimônio; retira-se, durante alguns meses, para a solidão e o recolhimento, em companhia da mãe, do filho e dalguns discípulos, perto de Milão. Aí escreveu seus diálogos filosóficos, e, na Páscoa do ano 387, juntamente com o filho Adeodato e o amigo Alípio, recebeu o batismo em Milão das mãos de Santo Ambrósio, cuja doutrina e eloqüência muito contribuíram para a sua conversão. Tinha trinta e três anos de idade.

Depois da conversão, Agostinho abandona Milão, e, falecida a mãe em Óstia, volta para Tagasta. Aí vendeu todos os haveres e, distribuído o dinheiro entre os pobres, funda um mosteiro numa das suas propriedades alienadas. Ordenado padre em 391, e consagrado bispo em 395, governou a igreja de Hipona até à morte, que se deu durante o assédio da cidade pelos vândalos, a 28 de agosto do ano 430. Tinha setenta e cinco anos de idade.

Após a sua conversão, Agostinho dedicou-se inteiramente ao estudo da Sagrada Escritura, da teologia revelada, e à redação de suas obras, entre as quais têm lugar de destaque as filosóficas. As obras de Agostinho que apresentam interesse filosófico são, sobretudo, os diálogos filosóficos: Contra os acadêmicos, Da vida beata, Os solilóquios, Sobre a imortalidade da alma, Sobre a quantidade da alma, Sobre o mestre, Sobre a música . Interessam também à filosofia os escritos contra os maniqueus: Sobre os costumes, Do livre arbítrio, Sobre as duas almas, Da natureza do bem .

Dada, porém, a mentalidade agostiniana, em que a filosofia e a teologia andam juntas, compreende-se que interessam à filosofia também as obras teológicas e religiosas, especialmente: Da Verdadeira Religião, As Confissões, A Cidade de Deus, Da Trindade, Da Mentira.

O Pensamento: A Gnosiologia

Agostinho considera a filosofia praticamente, platonicamente, como solucionadora do problema da vida, ao qual só o cristianismo pode dar uma solução integral. Todo o seu interesse central está portanto, circunscrito aos problemas de Deus e da alma, visto serem os mais importantes e os mais imediatos para a solução integral do problema da vida.

O problema gnosiológico é profundamente sentido por Agostinho, que o resolve, superando o ceticismo acadêmico mediante o iluminismo platônico. Inicialmente, ele conquista uma certeza: a certeza da própria existência espiritual; daí tira uma verdade superior, imutável, condição e origem de toda verdade particular. Embora desvalorizando, platonicamente, o conhecimento sensível em relação ao conhecimento intelectual, admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto, são fontes de conhecimento. E como para a visão sensível além do olho e da coisa, é necessária a luz física, do mesmo modo, para o conhecimento intelectual, seria necessária uma luz espiritual. Esta vem de Deus, é a Verdade de Deus, o Verbo de Deus, para o qual são transferidas as idéias platônicas.

No Verbo de Deus existem as verdades eternas, as idéias, as espécies, os princípios formais das coisas, e são os modelos dos seres criados; e conhecemos as verdades eternas e as idéias das coisas reais por meio da luz intelectual a nós participada pelo Verbo de Deus. Como se vê, é a transformação do inatismo, da reminiscência platônica, em sentido teísta e cristão. Permanece, porém, a característica fundamental, que distingue a gnosiologia platônica da aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia platônica-agostiniana, não bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as forças naturais do espírito, mas é mister uma particular e direta iluminação de Deus.

A Metafísica

Em relação com esta gnosiologia, e dependente dela, a existência de Deus é provada, fundamentalmente, a priori , enquanto no espírito humano haveria uma presença particular de Deus. Ao lado desta prova a priori , não nega Agostinho as provas a posteriori da existência de Deus, em especial a que se afirma sobre a mudança e a imperfeição de todas as coisas. Quanto à natureza de Deus, Agostinho possui uma noção exata, ortodoxa, cristã: Deus é poder racional infinito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa, consciência, o que era excluído pelo platonismo. Deus é ainda ser, saber, amor. Quanto, enfim, às relações com o mundo, Deus é concebido exatamente como livre criador. 

No pensamento clássico grego, tínhamos um dualismo metafísico; no pensamento cristão - agostiniano - temos ainda um dualismo, porém moral, pelo pecado dos espíritos livres, insurgidos orgulhosamente contra Deus e, portanto, preferindo o mundo a Deus. No cristianismo, o mal é, metafisicamente, negação, privação; moralmente, porém, tem uma realidade na vontade má, aberrante de Deus. O problema que Agostinho tratou, em especial, é o das relações entre Deus e o tempo. Deus não é no tempo, o qual é uma criatura de Deus: o tempo começa com a criação. Antes da criação não há tempo, dependendo o tempo da existência de coisas que vem-a-ser e são, portanto, criadas.

Também a psicologia agostiniana harmonizou-se com o seu platonismo cristão. Por certo, o corpo não é mau por natureza, porquanto a matéria não pode ser essencialmente má, sendo criada por Deus, que fez boas todas as coisas. Mas a união do corpo com a alma é, de certo modo, extrínseca, acidental: alma e corpo não formam aquela unidade metafísica, substancial, como na concepção aristotélico-tomista, em virtude da doutrina da forma e da matéria. A alma nasce com o indivíduo humano e, absolutamente, é uma específica criatura divina, como todas as demais. Entretanto, Agostinho fica indeciso entre o criacionismo e o traducionismo, isto é, se a alma é criada diretamente por Deus, ou provém da alma dos pais. Certo é que a alma é imortal, pela sua simplicidade. Agostinho, pois, distingue, platonicamente, a alma em vegetativa, sensitiva e intelectiva, mas afirma que elas são fundidas em uma substância humana. A inteligência é divina em intelecto intuitivo e razão discursiva; e é atribuída a primazia à vontade. No homem a vontade é amor, no animal é instinto, nos seres inferiores cego apetite.

Quanto à cosmologia, pouco temos a dizer. Como já mais acima se salientou, a natureza não entra nos interesses filosóficos de Agostinho, preso pelos problemas éticos, religiosos, Deus e a alma. Mencionaremos a sua famosa doutrina dos germes específicos dos seres - rationes seminales . Deus, a princípio, criou alguns seres já completamente realizados; de outros criou as causas que, mais tarde, desenvolvendo-se, deram origem às existências dos seres específicos. Esta concepção nada tem que ver com o moderno evolucionismo , como alguns erroneamente pensaram, porquanto Agostinho admite a imutabilidade das espécies, negada pelo moderno evolucionismo. 

A Moral

Evidentemente, a moral agostiniana é teísta e cristã e, logo, transcendente e ascética. Nota característica da sua moral é o voluntarismo, a saber, a primazia do prático, da ação - própria do pensamento latino - , contrariamente ao primado do teorético, do conhecimento - próprio do pensamento grego. A vontade não é determinada pelo intelecto, mas precede-o. Não obstante, Agostinho tem também atitudes teoréticas como, por exemplo, quando afirma que Deus, fim último das criaturas, é possuído por um ato de inteligência. A virtude não é uma ordem de razão, hábito conforme à razão, como dizia Aristóteles, mas uma ordem do amor.

Entretanto a vontade é livre, e pode querer o mal, pois é um ser limitado, podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. E deve-se considerar não causa eficiente, mas deficiente da sua ação viciosa, porquanto o mal não tem realidade metafísica. O pecado, pois, tem em si mesmo imanente a pena da sua desordem, porquanto a criatura, não podendo lesar a Deus, prejudica a si mesma, determinando a dilaceração da sua natureza. A fórmula agostiniana em torno da liberdade em Adão - antes do pecado original - é: poder não pecar ; depois do pecado original é: não poder não pecar ; nos bem-aventurados será: não poder pecar . A vontade humana, portanto, já é impotente sem a graça. O problema da graça - que tanto preocupa Agostinho - tem, além de um interesse teológico, também um interesse filosófico, porquanto se trata de conciliar a causalidade absoluta de Deus com o livre arbítrio do homem. Como é sabido, Agostinho, para salvar o primeiro elemento, tende a descurar o segundo.

Quanto à família , Agostinho, como Paulo apóstolo, considera o celibato superior ao matrimônio; se o mundo terminasse por causa do celibato, ele alegrar-se-ia, como da passagem do tempo para a eternidade. Quanto à política , ele tem uma concepção negativa da função estatal; se não houvesse pecado e os homens fossem todos justos, o Estado seria inútil. Consoante Agostinho, a propriedade seria de direito positivo, e não natural. Nem a escravidão é de direito natural, mas conseqüência do pecado original, que perturbou a natureza humana, individual e social. Ela não pode ser superada naturalmente, racionalmente, porquanto a natureza humana já é corrompida; pode ser superada sobrenaturalmente, asceticamente, mediante a conformação cristã de quem é escravo e a caridade de quem é amo.

O Mal

Agostinho foi profundamente impressionado pelo problema do mal - de que dá uma vasta e viva fenomenologia. Foi também longamente desviado pela solução dualista dos maniqueus, que lhe impediu o conhecimento do justo conceito de Deus e da possibilidade da vida moral. A solução deste problema por ele achada foi a sua libertação e a sua grande descoberta filosófico-teológica, e marca uma diferença fundamental entre o pensamento grego e o pensamento cristão.

Antes de tudo, nega a realidade metafísica do mal. O mal não é ser, mas privação de ser, como a obscuridade é ausência de luz. Tal privação é imprescindível em todo ser que não seja Deus, enquanto criado, limitado. Destarte é explicado o assim chamado mal metafísico , que não é verdadeiro mal, porquanto não tira aos seres o lhes é devido por natureza.

Quanto ao mal físico , que atinge também a perfeição natural dos seres, Agostinho procura justificá-lo mediante um velho argumento, digamos assim, estético: o contraste dos seres contribuiria para a harmonia do conjunto. Mas é esta a parte menos afortunada da doutrina agostiniana do mal.

Quanto ao mal moral, finalmente existe realmente a má vontade que livremente faz o mal; ela, porém, não é causa eficiente, mas deficiente, sendo o mal não-ser. Este não-ser pode unicamente provir do homem, livre e limitado, e não de Deus, que é puro ser e produz unicamente o ser. O mal moral entrou no mundo humano pelo pecado original e atual; por isso, a humanidade foi punida com o sofrimento, físico e moral, além de o ter sido com a perda dos dons gratuitos de Deus. Como se vê, o mal físico tem, deste modo, uma outra explicação mais profunda. 

Remediou este mal moral a redenção de Cristo, Homem-Deus, que restituiu à humanidade os dons sobrenaturais e a possibilidade do bem moral; mas deixou permanecer o sofrimento, conseqüência do pecado, como meio de purificação e expiação. E a explicação última de tudo isso - do mal moral e de suas conseqüências - estaria no fato de que é mais glorioso para Deus tirar o bem do mal, do que não permitir o mal. Resumindo a doutrina agostiniana a respeito do mal, diremos: o mal é, fundamentalmente, privação de bem (de ser); este bem pode ser não devido (mal metafísico) ou devido (mal físico e moral) a uma determinada natureza; se o bem é devido nasce o verdadeiro problema do mal; a solução deste problema é estética para o mal físico, moral (pecado original e Redenção) para o mal moral (e físico).

A História

Como é notório, Agostinho trata do problema da história na Cidade de Deus , e resolve-o ainda com os conceitos de criação, de pecado original e de Redenção. A Cidade de Deus representa, talvez, o maior monumento da antigüidade cristã e, certamente, a obra prima de Agostinho. Nesta obra é contida a metafísica original do cristianismo, que é uma visão orgânica e inteligível da história humana. O conceito de criação é indispensável para o conceito de providência, que é o governo divino do mundo; este conceito de providência é, por sua vez, necessário, a fim de que a história seja suscetível de racionalidade. O conceito de providência era impossível no pensamento clássico, por causa do basilar dualismo metafísico. Entretanto, para entender realmente, plenamente, o plano da história, é mister a Redenção, graças aos quais é explicado o enigma da existência do mal no mundo e a sua função. Cristo tornara-se o centro sobrenatural da história: o seu reino, a cidade de Deus , é representada pelo povo de Israel antes da sua vinda sobre a terra, e pela Igreja depois de seu advento. Contra este cidade se ergue a cidade terrena , mundana, satânica, que será absolutamente separada e eternamente punida nos fins dos tempos.

Agostinho distingue em três grandes seções a história antes de Cristo. A primeira concerne à história das duas cidades , após o pecado original, até que ficaram confundidas em um único caos humano, e chega até a Abraão, época em que começou a separação. Na Segunda descreve Agostinho a história da cidade de Deus , recolhida e configurada em Israel, de Abraão até Cristo. A terceira retoma, em separado, a narrativa do ponto em que começa a história da Cidade de Deus separada, isto é, desde Abraão, para tratar paralela e separadamente da Cidade do mundo, que culmina no império romano. 

Esta história, pois, fragmentária e dividida, onde parece que Satanás e o mal têm o seu reino, representa, no fundo, uma unidade e um progresso. É o progresso para Cristo, sempre mais claramente, conscientemente e divinamente esperado e profetizado em Israel; e profetizado também, a seu modo, pelos povos pagãos, que, consciente ou inconscientemente, lhe preparavam diretamente o caminho. Depois de Cristo cessa a divisão política entre as duas cidades ; elas se confundem como nos primeiros tempos da humanidade, com a diferença, porém, de que já não é mais união caótica, mas configurada na unidade da Igreja.

Esta não é limitada por nenhuma divisão política, mas supera todas as sociedades políticas na universal unidade dos homens e na unidade dos homens com Deus. A Igreja, pois, é acessível, invisivelmente, também às almas de boa vontade que, exteriormente, dela não podem participar. A Igreja transcende, ainda, os confins do mundo terreno, além do qual está a pátria verdadeira. Entretanto, visto que todos, predestinados e ímpios, se encontram empiricamente confundidos na Igreja - ainda que só na unidade dialética das duas cidades , para o triunfo da Cidade de Deus - a divisão definitiva, eterna, absoluta, justíssima, realizar-se-á nos fins dos tempos, depois da morte, depois do juízo universal, no paraíso e no inferno. É uma grande visão unitária da história, não é uma visão filosófica, mas teológica: é uma teologia, não uma filosofia da história.
Do site: http://www.catolicismoromano.com.br









quarta-feira, 23 de agosto de 2017

CIDADES EUROPEIAS ASSIMILAM A LEI DA SHARIA

-  O prefeito de Londres, Sadiq Khan, proibiu anúncios que promovam "expectativas não realistas no tocante à imagem do corpo e da saúde das mulheres". Agora Berlim está planejando proibir imagens onde as mulheres são retratadas como "lindas mas fracas, histéricas, idiotas, loucas, ingênuas ou governadas pelas emoções". O escritor e jornalista do jornal Der Tagesspiegel, Harald Martenstein, afirmou que é possível que a orientação "tenha sido incorporada do manifesto do Talibã".


-  A ironia é que esta onda de moralidade e "virtude" vem de cidades governadas por políticos esquerdistas desinibidos, que durante anos fizeram campanha a favor da liberação sexual. Virou tema de discussão "feminista" defender a conduta da sharia.

-  Parafraseando o escritor americano Daniel Greenfield: a ironia das mulheres celebrarem sua própria opressão é tanto de cortar o coração como de estupefazer.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Dias após o Estado Islâmico ter conquistado a cidade de Sirte na Líbia há dois anos, apareceram gigantescos outdoors na fortaleza islamista, alertando as mulheres que elas deveriam usar hijabs para esconderem o corpo todo e nada de perfume. Entre outras coisas esses "mandamentos da sharia em relação à hijab" incluíam o uso de tecido grosso e opaco e que a hijab não "lembrasse trajes de infiéis".

Dois anos mais tarde, as três cidades mais importantes da Europa - Londres, Paris e Berlim - estão seguindo a mesma moda da sharia.

Paris disse Au revoir aos anúncios "machistas" em outdoors. A Câmara Municipal de Parisanunciou a proibição depois que a prefeita socialista Anne Hidalgo salientou que a medida denotava que Paris estava "mostrando o caminho" na luta contra o machismo. O prefeito de Londres, Sadiq Khan, também proibiu anúncios que promovam "expectativas não realistas no tocante à imagem do corpo e da saúde das mulheres". Agora Berlim está planejando proibir imagens onde as mulheres são retratadas como "lindas mas fracas, histéricas, idiotas, loucas, ingênuas ou governadas pelas emoções". O escritor e jornalista do jornal Der Tagesspiegel, Harald Martenstein, afirmou que é possível que a orientação "tenha sido incorporada do manifesto do Talibã".

A ironia é que esta onda de moralidade e "virtude" vem de cidades governadas por políticos esquerdistas desinibidos, que durante anos fizeram campanha a favor da liberação sexual.

Há uma razão para esta campanha grotesca que proíbe essas imagens. Essas cidades possuem consideráveis populações muçulmanas e classe política - a mesma que promove freneticamente o multiculturalismo obrigatório - que deseja agradar o "Islã". Virou tema de discussão "feminista" defender a conduta da sharia, como faz Linda Sarsour. A consequência é que hoje em dia pouquíssimas feministas se atrevem a criticar o Islã.

Isso está acontecendo em todos os lugares. Cidades holandesas estão "orientando" suas funcionárias a não usarem mini saias. Foi implantado horários somente para mulheres nas piscinas públicas suecas. Escolas alemãs estão enviando cartas aos pais pedindo que as crianças evitem usar "trajes vistosos".

O primeiro a sugerir a proibição de cartazes e propaganda que "reduzam mulheres ou homens a objetos sexuais" foi o Ministro da Justiça da Alemanha Heiko Maas, social-democrata.

"A exigência de cobrir o corpo das mulheres ou domesticar os homens", enfatizou o líder do Partido Liberal Democrata Christian Lindner, "é algo comum nos círculos de líderes religiosos islâmicos radicais, mas não vindo do Ministro da Justiça da Alemanha".

Em 1969 a Alemanha estava sufocada devido a uma celeuma sobre a introdução nas escolas do "Sexualkundeatlas", um "atlas" sobre a ciência sexual. Agora, a meta é dessexualizar a sociedade alemã. O jornal Die Welt comenta:

"Graças ao ministro da Justiça, Heiko Maas, finalmente ficamos sabendo porque, na Passagem do Ano Novo, na Estação Central de Trens de Colônia, cerca de mil mulheres foram vítimas de violência sexual: por causa da publicidade machista. Muitas modelos erotizadas, muita pele nua em nossos outdoors, muitas bocas eróticas, muitas mini saias em revistas de moda, muitos traseiros rebolantes e seios volumosos na publicidade televisiva. Mais um passo na direção da "submissão".

Em vez de mamilos e nádegas, Die Welt conclui: "devemos exortar o uso da burca ou do véu como faz a Sra. Erdogan?"

As mesmas elites alemãs que sugerem a proibição de outdoors "machistas" censuraram os detalhes aterrorizantes dos ataques sexuais em massa em Colônia. Enquanto isso, uma mesquita liberal em Berlim, que proibiu as burcas e abriu as portas aos homossexuais e às mulheres sem véus, encontra-se agora sob proteção da polícia devido às ameaças dos supremacistas muçulmanos.

As elites europeias estão adotando o padrão de dois pesos e duas medidas: eles se orgulham em organizar uma exposição de um crucifixo cristão mergulhado em urina e mais que depressa capitulam às demandas muçulmanas de censurar caricaturas do Profeta Maomé. As autoridades italianas fizeram esforços hercúleos a fim de evitar que o presidente do Irã, Hassan Rouhani, tivesse um vislumbre da nudez de esculturas milenares dos Museus Capitolinos de Roma.

Parece que o Ocidente está fascinado pelos véus islâmicos. Ismail Sacranie, fundador da Modestly Active, fabricante e designer de burquínis, disse ao jornal New York Times que 35% de suas clientes não são muçulmanas. Aheda Zanetti, libanesa que reside na Austrália, que inventou o burquíni, afirma que 40% das suas vendas são para mulheres não muçulmanas. O público ocidental, que romanceia o islã, está, ao que tudo indica, absorvendo a devoção à Lei Islâmica (Sharia). The Spectator disse que isso é "um novo puritanismo" e "o porquê de certas feministas serem solidárias com o Islã".

Parafraseando o escritor americano Daniel Greenfield: a ironia das mulheres celebrarem sua própria opressão é tanto de cortar o coração como de estupefazer.

A Europa poderá logo logo ter que se retratar diante da prefeita de Colônia, Henriette Reker. Ela foi duramente criticada -- vituperada até -- por aconselhar mulheres a "manterem distância" de estranhos para evitarem ataques sexuais.

Se o Ocidente continuar traindo os valores democráticos de liberdade individual no qual se baseia a civilização ocidental, os fundamentalistas islâmicos, como aqueles que impuseram o uso de burcas às mulheres líbias, começarão a impô-las às mulheres do Ocidente. Eles podem até começar com as elites feministas que primeiramente fizeram a revolução sexual para emancipar as mulheres na década de 1960 e que agora estão apaixonadas por uma roupa obscurantista que esconde as mulheres em uma prisão portátil.

Se o Ocidente continuar traindo o valor democrático da liberdade individual, os fundamentalistas islâmicos, como aqueles que impuseram burcas às mulheres líbias, farão o mesmo com as mulheres do Ocidente. (Foto Alexander Hassenstein/Getty Images)







Por: Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano. 20 de Agosto de 2017
Original em inglês: Europe's Cities Absorb Sharia Law
Tradução: Joseph Skilnik  Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A revolução iraniana (parte 1 de 3)

A SUPREMACIA DOS CELERADOS

Quando a imagem de uma foto resume todas as respostas...

Para quem não entende o porquê do Rio estar no atoleiro em que se encontra, basta ver a imagem...

Não se trata apenas da corrupção, da violência urbana, do tráfico de drogas. Trata-se da lassidão moral de todos os personagens da paisagem carioca. Trata-se da desconexão ética, social e familiar de gerações de tolos levianos criados na cultura do hedonismo. Trata-se da estética da malandragem e do ódio militante contra o trabalho, a humildade e a honestidade.

A imagem é atemporal. Vale para ontem e vale para hoje. A crítica não faz qualquer diferenciação social. Vale para o celerado da foto, vale para o playboy do posto 9, que costuma fazer o mesmo gesto para a mesma autoridade. Afinal, essa estética da malandragem está disseminada em todas as classes sociais. Ela não discrimina..

O cinismo é a regra na sociedade carioca e o preço dessa escolha está aí, no gesto e nas expressões contidas na imagem da foto.

Mas não é mais um problema regional. Esse cancro já ganhou escala nacional. 

A podridão é retroalimentada pela criminalidade em simbiose com uma larga cepa de agentes culturais ideologicamente contaminados, que replicam o modelo fétido Brasil afora, por meio da radiodifusão, da arte, da educação e da política.

Há razões históricas, antropológicas, e sociais que até explicam a escolha dos celerados. Aliás, todos os malefícios decorrem dessas escolhas.

Há hipócritas que justificam as escolhas vitimizando os celerados. Aliás, há toda uma imensa burocracia que incentiva a hipocrisia a partir do Poder Público, desmotivando o civismo, ridicularizando o patriotismo e substituindo a educação pela cultura torta das incorreções "politicamente corretas". 

O povo brasileiro, em sua imensa, mansa e tristemente pacífica maioria, não escolheu o atoleiro moral. Porém, vota e contribui para a manutenção dos cartórios que legitimam a podridão. Contribui para o atoleiro por não ter alternativas na conjuntura - mas pouco faz para alterar a conjuntura. 

Em verdade, a questão sempre foi, é e será conjuntural. Vivemos uma espiral viciosa em direção à entropia - inefável e carregada de "ismos" salvacionistas.

A conclusão é inevitável. Somos todos vítimas da supremacia cultural dos celerados morais, sobretudo porque somos dóceis... e só resolveremos isso se reagirmos, de forma dura e eficaz.

Não há outra saída. Só haverá algum conserto se o aprendizado ocorrer pela dor... pelo sangue e pelo resgate da Justiça.
Por: Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e das Comissões de Política Criminal e Infraestrutura da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SP. É Vice-Presidente da Associação Paulista de imprensa - API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.
Do site: http://www.theeagleview.com.br


POR QUE DEVEMOS CALAR O AIATOLÁ?


O sábio liberal Karl Popper (1902-1994) – austríaco que testemunhou de perto os males do totalitarismo – deixou aos defensores da liberdade uma lição valiosíssima, que ficou conhecida como “Paradoxo da Tolerância”.

Popper ensinou que se formos de uma tolerância desmedida para com todos, paradoxalmente, estaremos sabotando nossos próprios esforços em manter o Ocidente livre e tolerante.

Porque a tolerância ilimitada permitirá (e, na verdade, incentivará) o florescimento descontrolado dos intolerantes. E os intolerantes, por sua vez, erradicarão os tolerantes e, com eles, a própria tolerância.

“Devemos, portanto, em nome da tolerância, reivindicar o direito de não tolerar os intolerantes”, advogou Popper. O alerta foi dado em 1945, ano da publicação da sua obra magistral: “A Sociedade Aberta e Seus Inimigos”.

Hoje a Europa é a realização da profecia de Popper: ameaçada pelos bárbaros intramuros do fascismo islâmico que se aproveitaram das portas abertas e da permissão para manter a Sharia em seus guetos intocáveis.

Porque devemos calar o aiatolá
São Paulo recebeu nesta quinta-feira (28) o aiatolá Mohsen Araki, que tem fortes e conhecidas ligações com o Hezbollah, organização terrorista que prega a destruição do Estado de Israel.

O aiatolá é um antissemita sujo que tenta camuflar seu antissemitismo com um discurso falso de luta pelos direitos dos palestinos. Ele não se importa com os palestinos! Ele os usa para pregar o ódio contra os judeus e Israel.

Além disso, de acordo com o jornalista Claudio Tognolli, Mohsen Araki está ligado a atentados contra alvos judaicos no início dos anos 90, na Argentina:

Araki está conectado, segundo a PF, aos atentados na Argentina contra a embaixada de Israel – ocorrido em 1992 e que deixou 29 mortos – e a associação judia AMIA – de 1994, com 85 mortos – que continuam sem esclarecimento.

Os dois ataques ocorridos em Buenos Aires contra a comunidade judia, a maior da América Latina, e registrados durante o mandato do presidente Carlos Menem (1989-1999), ressurgiram na mídia com o assassinato do promotor encarregado, Alberto Nisman.

Esse rato sujo do antissemitismo entrou em nosso País sem nenhuma restrição e agora está aqui em São Paulo, à convite do Centro Islâmico no Brasil, para irradiar seu discurso de ódio sem nenhum receio.

Pois o aiatolá deve ser IMPEDIDO de falar. Se não pelos meios legais, que parecem ter falhado, por meio de atos de desobediência civil daqueles que sabem os riscos que estamos correndo ao abrir tal precedente.

Como bem escreveu Claudia Wild, “a visita da pústula em questão será monitorada pela Polícia Federal a pedido do Ministério da Justiça, depois dos mais variados protestos”.


“Entretanto, esta figura nefasta não deveria ser aceita nem para colocar os pés no país. Se observarem o disposto na lei de Segurança Nacional, esta seria a atitude do governo; impedir sua entrada no território nacional.”

O velho Popper sempre esteve certo. Agora o Brasil será cada vez mais submetido ao teste no qual a Europa tragicamente fracassou, resultando em ondas de mortes e terror.

Os intolerantes não podem ser tolerados ou bem vindos!
Por: Thiago Cortês, jornalista. Do site: midiasemmascara.org