sábado, 7 de outubro de 2017

MUÇULMANOS AVISAM A EUROPA: "UM DIA, TUDO ISSO SERÁ NOSSO"

- O arcebispo de Estrasburgo, Luc Ravel, nomeado pelo Papa Francisco em fevereiro, declarou recentemente que "os muçulmanos devotos estão cansados de saber que a sua fertilidade é tal hoje, que eles a chamam de... a Grande Substituição. Eles afirmam de maneira tranquila e resoluta: "um dia, tudo isso, tudo isso, será nosso"...


- O primeiro-ministro da Hungria Viktor Orbán acaba de alertar para o perigo de uma "Europa muçulmanizada". Segundo ele, "a questão das próximas décadas é se a Europa continuará a pertencer aos europeus".

- "Nos próximos 30 anos, o número de africanos crescerá ultrapassando a marca de um bilhão de pessoas. É o dobro da população de toda a União Europeia... A pressão demográfica será gigantesca. No ano passado mais de 180 mil pessoas atravessaram o mar em barcos em péssimas condições, provenientes da Líbia. E isso é só o começo. De acordo com o representante da UE Avramopoulos, neste exato momento 3 milhões de migrantes estão a postos para entrarem na Europa". — Geert Wilders, parlamentar da Holanda e líder do Partido da Liberdade e Democracia (PVV).
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Esta semana, outro ataque terrorista islâmico teve como alvo a cidade espanhola de Barcelona. Como ela esteve por muitos anos sob o domínio muçulmano, é, portanto, assim como Israel, território que muitos islamistas acreditam estar no direito de reconquistar.

Ao mesmo tempo, longe da Espanha, escolas de ensino fundamental foram fechadas pelo governo quando o número de alunos caiu para menos de 10% da população. O governo está transformando os locais em asilos, para cuidar dos idosos em um país onde 40% da população têm 65 anos ou mais. Isso não é um romance de ficção científica. É o Japão, a nação com a maior concentração de idosos e a mais estéril do mundo, onde há a seguinte expressão popular: "civilização fantasma".

De acordo com o Instituto Nacional de População e Pesquisas de Previdência Social do Japão, por volta de 2040, a maioria das pequenas cidades japonesas verá a dramática queda de um terço até metade da população. Devido ao dramático decréscimo demográfico, muitas câmaras municipais japonesas não puderam mais operar, foram então fechadas. O número de restaurantes passou de 850 mil em 1990 para 350 mil nos dias de hoje, apontando para um "esgotamento da vitalidade". As previsões também sugerem que em 15 anos o Japão terá 20 milhões de casas abandonadas . Será este também o futuro da Europa?

Especialistas em demografia estão propensos a chamar a Europa de "Novo Japão". O Japão, no entanto, está lidando com a catástrofe demográfica com seus próprios meios, proibindo a imigração muçulmana.

"A Europa está cometendo suicídio demográfico, sistematicamente se depopulando, o que o historiador britânico Niall Ferguson chama de a maior redução sustentada da população europeia desde a Peste Negra ocorrida no século XIV", como George Weigel observou recentemente.

Ao que tudo indica, os muçulmanos da Europa estão sonhando em preencher esse vazio. O arcebispo de Estrasburgo, Luc Ravel, nomeado pelo Papa Francisco em fevereiro, declarourecentemente que "os muçulmanos devotos estão cansados de saber que a sua fertilidade é tal hoje, que eles a chamam de... a Grande Substituição. Eles afirmam de maneira tranquila e resoluta: "um dia, tudo isso, tudo isso, será nosso"...

Um novo estudo elaborado pelo instituto interdisciplinar de estudos italiano Centro Machiavelliacaba de revelar que, se as tendências atuais continuarem, por volta do ano 2.065, os imigrantes da primeira e segunda gerações ultrapassarão 22 milhões de pessoas, ou seja, mais de 40% da população da Itália. Na Alemanha, 36% das crianças menores de cinco anos são filhos de pais imigrantes. Em 13 dos 28 países membros da UE, mais pessoas morreram do que nasceram no ano passado. Sem a migração estima-se que as populações da Alemanha e da Itália diminuirão 18% e 16% respectivamente.

O impacto da queda livre demográfica é mais visível no que antes era chamada de "nova Europa", países do antigo bloco soviético, como Polônia, Hungria e Eslováquia, para que se possa distingui-los da "velha Europa", França e Alemanha. Esses países do leste europeu são agora os mais expostos à "bomba da depopulação", colapso devastador da taxa de natalidade que o analista e escritor sobre questões contemporâneas Mark Steyn chamou de "o maior problema da nossa época".

O jornal The New York Times perguntou porque, "apesar da diminuição da população, a Europa Oriental resiste em aceitar migrantes". A diminuição demográfica é exatamente a razão pela qual ela teme ser substituída pelos migrantes. Além disso, grande parte da Europa Oriental já teve o gostinho de ser ocupada pelos muçulmanos por centenas de anos, quando do domínio do Império Otomano e, todos estão bem cientes do que os aguarda se eles voltarem. Países em fase de envelhecimento temem que os valores hostis venham à tona se a população for substituída por outra jovem, estrangeira.

"Há hoje dois pontos de vista distintos na Europa a serem considerados (quanto ao declínio e envelhecimento da população)", o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán salientou recentemente. "Um é sustentado por aqueles que querem abordar os problemas demográficos da Europa por intermédio da imigração. E o outro, sustentado pela Europa Central - e, fazendo parte dela, a Hungria, tem como visão que devemos resolver nossos problemas demográficos lançando mão de nossos próprios recursos, mobilizando nossas próprias reservas, e - venhamos e convenhamos - renovando-nos espiritualmente". Orbán acaba de alertar para o perigo de uma "Europa muçulmanizada". Segundo ele, "a questão das próximas décadas é se a Europa continuará a pertencer aos europeus".

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, ressaltou recentemente: "nossa visão é que devemos resolver nossos problemas demográficos lançando mão de nossos próprios recursos, mobilizando nossas próprias reservas, e... venhamos e convenhamos - renovando-nos espiritualmente". (Imagem: David Plas/Wikimedia Commons)


A África também pressiona a Europa com uma bomba-relógio demográfica. De acordo com o parlamentar holandês Geert Wilders:

"Nos próximos 30 anos, o número de africanos crescerá ultrapassando a marca de um bilhão de pessoas. É o dobro da população de toda a União Européia... A pressão demográfica será gigantesca. Um terço dos africanos querem sair da Áfricae muitos querem ir para a Europa. Ano passado mais de 180 mil pessoasatravessaram o mar em barcos em péssimas condições, provenientes da Líbia. E isso é só o começo. De acordo com o representante da UE Avramopoulos, neste exato momento, 3 milhões de migrantes estão a postos para entrarem na Europa".

A Europa Oriental está definhando. A demografia já virou um problema de segurança para a Europa. Há menos pessoas para servirem nas funções militares e nos postos de bem-estar social. O presidente da Bulgária, Georgi Parvanov, de fato, convidou os líderes do país a participarem de uma reunião do Comitê Consultivo Nacional totalmente dedicado ao problema da segurança nacional. Houve uma época que os países da Europa Oriental temiam os tanques soviéticos, agora eles temem os berços vazios.

Segundo estimativas das Nações Unidas havia cerca de 292 milhões de habitantes na Europa Oriental no ano passado, 18 milhões a menos do que no início da década de 1990. O número é equivalente a toda a população da Holanda.

O jornal Financial Times chamou a situação na Europa Oriental como "a maior perda de população na história moderna". Sua população está diminuindo como nunca antes. Nem mesmo a Segunda Guerra Mundial, com os massacres, deportações e movimentos populacionais, chegou a tal abismo.

O caminho de Orbán - lidar com um declínio demográfico usando os próprios recursos do país - é o único jeito da Europa evitar que a previsão do Arcebispo Ravel de uma "grande substituição" se torne realidade. A imigração em massa provavelmente preencherá os berços vazios - mas a Europa então também se tornará somente uma "civilização fantasma", trata-se apenas de um tipo de diferente de suicídio.

Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.
APÊNDICE

A Romênia perderá 22% da população até 2.050, seguida pela Moldávia (20%), Letônia (19%), Lituânia (17%), Croácia (16%) e Hungria (16%). Romênia, Bulgária e Ucrânia são os países onde o declínio da população será mais drástico. Estima-se que a população da Polônia encolha em 2.050 para 32 milhões, em relação aos atuais 38 milhões. Cerca de 200 escolas foram fechadas, mas há crianças suficientes para preencherem as que ainda restam.

Na Europa Central, a proporção dos habitantes com "mais de 65 anos" aumentou em mais de um terço entre 1990 e 2010. A população húngara se encontra no ponto mais baixo em meio século. O número de pessoas diminuiu de 10.709.000 em 1980 para 9.986.000 milhões hoje. Em 2.050 haverá menos de 8 milhões de habitantes na Hungria e um em cada três habitantes terá mais de 65 anos. A Hungria de hoje conta com uma taxa de fertilidade de 1,5 filhos por mulher. Se excluirmos a população cigana, o número cai para 0,8, o mais baixo do mundo - motivo pelo qual o primeiro-ministro Orbán anunciou novas medidas para resolver a crise demográfica.

A Bulgária terá o declínio populacional mais célere do mundo entre 2015 e 2050. A Bulgária faz parte de um grupo de países que deverá diminuir a população em mais de 15% entre 2015 e 2050, juntamente com a Bósnia Herzegovina, Croácia, Hungria, Japão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Romênia, Sérvia e Ucrânia. A população da Bulgária de cerca de 7,15 milhões de habitantes deverá cair para 5,15 milhões em 30 anos - uma queda de 27,9%.

Dados oficiais mostram que 178 mil bebês nasceram na Romênia. Em comparação com 1990 o primeiro ano pós-comunista, havia 315 mil nascimentos. No ano passado a Croácia teve 32 mil nascimentos, um declínio de 20% em relação a 2015. A depopulação da Croácia poderá chegar a mais de 50 mil pessoas por ano.

Quando a República Tcheca fazia parte do bloco comunista (como parte da Tchecoslováquia), sua taxa de fertilidade total se encontrava próxima da taxa de substituição populacional (2,1). Hoje é o quinto país mais estéril do mundo. A Eslovênia tem o PIB per capita mais alto na Europa Oriental, mas uma taxa de fertilidade extremamente baixa.
Por Giulio Meotti13 de Setembro de 2017
Tradução: Joseph Skilnik

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O QUE É DITO E O QUE NÃO É

Imagine a troca de experiências entre pessoas com uma bagagem literária muito grande. Elas possuem um monte de referências literárias em comum, de modo que ao trocar experiências elas parecem que estão tocando piano. E sempre que não conseguem expressar diretamente o que estão sentindo, elas recorrem a uma analogia literária. Escritores quando conversam entre si fazem isso o tempo todo. Eles têm muito mais bagagem de leituras feitas do que capacidade de expressão, assim como todo ser humano. Todos nós, como pertencemos à mesma espécie, temos potencialmente a capacidade para termos as mesmas experiências interiores. Mas você dificilmente terá a capacidade de expressá-las com palavras próprias. Então você deve usar os recursos que estão na cultura.


A conversa entre dois homens que estão culturalmente afinados está para a conversa entre duas pessoas incultas assim como uma ligação telefônica está para outra que foi feita para um número errado. Isso é o mesmo que dizer que pessoas incultas simplesmente não conversam. Os seus mundos interiores são incomunicáveis às vezes até para elas mesmas. Como elas não sabem dizer o que estão vivenciando, essa vivência não se registra na memória, porque a memória não pode registrar estados interiores sem um símbolo que os compacte. Isso é uma angústia terrível. Noventa e nove por cento das neuroses surgem porque a pessoa não sabe falar. Assim, a primeira função da educação é uma função libertadora; de você conseguir dizer, e dizendo você se exorciza. Para um homem inculto, qualquer conflito interno é único, singular, solitário e incomunicável. Já um homem que tem ao menos a cultura da literatura de ficção sabe que é o trilionésimo a ter os mesmos conflitos. Num meio inculto as pessoas estão muito isoladas. Elas só podem se comunicar numa faixa estreita de assuntos banais e pragmáticos. Nesse meio, a experiência interior se perde porque não há registro simbólico para gravá-las na memória ou se acumula numa massa de sentimentos confusos que isola as pessoas umas das outras. Basta isso para você entender que essa história de que o homem inculto é mais feliz é uma monstruosidade. O sofrimento indizível é um bilhão de vezes pior que o dizível.
 Por: Olavo de Carvalho 4 de setembro de 2017 - 16:03:46
Do site: http://diariofilosofico.midiasemmascara.org

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

GLOBALISMO E BIOÉTICA: A DESUMANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE


Alfie Evans corre o risco de ter o mesmo destino trágico de Charlie Gard.

“A vida que professar será para benefício dos doentes e para o meu próprio bem, nunca para prejuízo deles ou com malévolos propósitos. Mesmo instado, não darei droga mortífera nem a aconselharei; também não darei pessário abortivo às mulheres’’.
Juramento de Hipócrates

A pergunta que fazem: Por que tratar um doente dispendioso se é possível matá-lo?
Quantas vezes, no Brasil e no mundo, sob o jugo de um sistema unificado de Saúde,nos deparamos com hospitais mal geridos e postos de saúde burocratizados e sem estrutura, nos quais a medicina é colocada sob provas extremas? Quantas vezes, nas últimas décadas, não nos defrontamos com situações limítrofes, nas quais a dor causada pelo indiferença criminosa e pelos e maus tratos, notórios pela evidente negligência do Estado, se contrapoem aos princípios inspiradores de Hipócrates, o pai da medicina ocidental? Quantas vezes, no decorrer destes sombrios anos que marcam a escalada do socialismo, assistimos a morte ser exaltada em detrimento da vida, por parte de defensores de supostos “direitos humanos”, por meio de cânticos carregados de traição àqueles a quem juram salvaguardar e proteger?

Densas razões estratégicas de longo prazo
“É a demografia, estúpido, a única questão importante. A Europa no final do século será um continente depois da bomba de nêutron. As grandes construções ainda estarão lá, mas as pessoas que as fizeram terão desaparecido”.
Mark Steyn, analista político canadense.

O National Health Service (NHS), o sistema de saúde britânico, maior sistema público de saúde e o mais antigo do mundo, é designado pelos globalistas como ‘’a solução da saúde para o mundo’’. Implantado no Reino Unido, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, chegou a ser homenageado de forma enigmática na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, no verão de 2012. Ele forma a base dos cuidados médicos do Reino Unido. É interessante observar que os NHS foram criados por legislações separadas e começaram a funcionar em 5 de julho de 1948, logo após a Segunda Guerra Mundial. Seu slogan é : “Somos o Número Um”. ( “NHS ranked ‘number one’ health system”). Conforme o atual secretário de saúde da Inglaterra, Jeremy Hunt, “é motivo de orgulho e seu modelo é “classificado como o melhor sistema de saúde dentre 11 países ricos”. Para Hunt, “esse resultado excelente é um testemunho da dedicação da equipe do NHS. ”

Embora a propaganda estatal enalteça o sistema NHS, os fatos recentes demonstram claramente uma outra realidade, gritantemente invertida.

Apesar dos efusivos elogios vindos das mídias, o sistema não se sustenta, e financeiramente o NHS está um caos. Doentes graves acumulam-se em filas intermináveis sem receber tratamento. Em certa ocasião, Paul Corriggnan, secretário do então primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair, declarou que para o NHS corrigir seus problemas agudos no tratamento de doenças crônicas, teria que contratar serviços externos, algo tão grandioso (ou seja impossível), segundo ele, e que seria notado por todos. Sem recursos suficientes, os tratamentos não estão sendo realizados. Uma suposta correção para o problema, que foi a pauta de intensas discussões, e que parece ter sido implementada, foi disposta por meio três ações necessárias. Primeira, financiamento; segunda: hospitais eficientes e dedicados a tratar especialidades; terceira, e a mais crítica: reduzir a procura de tratamentos desnecessários, através de uma melhoria da saúde pública unida a cuidados individuais.

Passados quase um ano das supostas soluções apresentadas e perante os casos gritantes dos bebês ingleses (Charlie Gard e Alfie Evans, entre outros, que foram abandonados em hospitais sem receber tratamento algum), a verdade veio à tona.

Ao analisarmos o histórico ocorrido com Charlie Grad, torna-se patente que o NHS optou por reduzir essa “terceira ação”. Sobretudo no sentido de abandonar todo e qualquer investimento em pesquisa, medicina experimental, e o caminho do progresso científico. Por motivos econômicos, optou por designar todos seus doentes crônicos como desnecessários.

Kate Andrews, do Instituto Economic Affairs, expressou, publicamente: “O NHS está longe de ser a inveja do mundo”; “não são apenas aos trabalhadores pobres que recebem cuidados precários; a provisão de cuidados do NHS é igualmente precária para todos, independentemente da renda”.

A verdade é que o Reino Unido tem uma das taxas mais elevadas de mortes evitáveis ​​na Europa Ocidental e dezenas de milhares de vidas poderiam ser salvas a cada ano se os pacientes do NHS em condições graves fossem tratados por sistemas de seguro social de saúde em outros países, ou ainda em cooperação mútua.

A disputa judicial travada pelos pais de Charlie Gard
A batalha judicial entre o hospital britânico do sistema NHS, Great Ormond Street Hospital (GOSH), e os pais do bebê Charlie Gard, morto aos 11 meses de idade, foi amplamente divulgada. Charlie nasceu em 4 de agosto de 2016, e com dois meses de idade precisou de assistência médica. Após ter sido recebido atendido no pronto atendimento, foi transferido ao GOSH em 11 de outubro 2016, de onde somente saiu para ser executado em uma clínica ‘’hospício’’.

Constatou-se que o bebê Gard sofria de uma doença raríssima chamada de depelação mitocondrial, doença degenerativa que provoca a perda da força muscular, crescentes danos cerebrais e ainda sem tratamento comprovado. Com o diagnóstico, os pais buscaram alternativas para o tratamento e em janeiro de 2017, iniciaram uma arrecadação para custear, a terapia by-pass, nos EUA, que possui resultados promissores em casos similares ao de Charlie. Contudo, no exato momento em que o GOSH soube das intenções dos pais, a reação da instituição pública foi terrivelmente contrária. O GOSH, não apenas negou a possibilidade da saída do bebê da instituição, mas recorreu à Justiça, com um pedido de suspensão dos cuidados a Charlie Gard. Solicitou ainda à Suprema Corte Britânica, com o fundamento absurdo de “melhor interesse” do bebê, o desligamento do suporte que lhe mantinha a vida.

A Justiça britânica, através do juiz Nicholas Francis, acolheu o pedido do GOSH e imediatamente retirou dos pais o pátrio poder e entregou a tutoria do filho à advogada Victoria Butler-Cole, presidente de uma ONG pró-eutanásia. Foi nesse instante que iniciou-se uma luta desesperada para tentar salvar Charlie das garras do Estado e de ativistas jurídicos britânicos pró-eutanásia.

Cenário jurídico que envolveu o bebê Charlie Gard
O cenário jurídico estava cercado de ativistas jurídicos pró-morte, reconhecidos publicamente como defensores da ‘’eutanásia como forma de caridade’’. Aos olhos do mundo, a Suprema Corte britânica, ao retirar o pátrio poder dos pais de Charlie Gard, o entregou a uma advogada, presidente da organização Compassion in Dying,instituição irmã da Dignity in Dying, que está à frente da campanha legal para a morte assistida no Reino Unido. Diante de tamanha perversão do direito, os pró-vida, no mundo inteiro, inclusive os brasileiros, acessaram em massa o perfil oficail do Facebook da Família Real Britânica, cobrando da monarquia inglesa a defesa de seu inocente súdito. O silêncio apontou para diversos significados sombrios sobre o que estava por vir.

O caso foi arrastando-se por meses, e para um bebê que apresentava uma epilepsia grave, foi fatal. Os médicos americanos que desenvolveram o tratamento experimental, somente tiveram acesso a Charlie após 6 meses do processo jurídico instaurado, o que acabou levando-os a constatar que a saúde do bebê havia se deteriorando muitíssimo. Os pais optaram por desistir da disputa judicial. Mesmo com a intervenção do presidente dos EUA, Donald Trump, do Papa Francisco e a pressão pública mundial, o bebê foi transferido a um hospício e os aparelhos foram desligados sumariamente em 30 de julho de 2017.

Novos casos similares ao Charlie Gard
Ainda em meio a toda essa disputa, apareciam inúmeros casos similares ao do Charlie num sistema de saúde que, em lugar de tratar os doentes, opta, pasmem, pela inatividade até a morte dos pacientes. Um desses doentes graves é o bebê Alfie Evans (foto), hoje com 13 meses de idade.

Alfie começou a sofrer convulsões e epilepsia grave, sintomas similares ao de Charlie Gard. Alfie foi levado a um hospital em Liverpool e para a sorte do bebê, não foi transferido para o Gosh. No hospital, as convulsões pioraram, o bebê foi colocado em um respirador, em virtude de insuficiência respiratória, e agora encontra-se num estado de coma induzido. Contudo, ainda possui capacidade pulmonar. Em dezembro de 2016, o bebê teve uma piora relevante e o hospital avisou que iria retirar o suporte à sua vida. Os pais, é claro, se negaram a aceitar; Porém, como por milagre, o bebê teve uma pequena estabilização e a ideia macabra por enquanto foi deixada de lado.

Sem diagnóstico e sem tratamento
Alfie até hoje, inacreditavelmente, sobretudo para um país desenvolvido e que pretensamente anuncia possuir o maior e o melhor sistema de saúde pública do mundo, não possui um diagnóstico! Está recebendo apenas 5 medicamentos e nenhum tratamento para a sua doença desconhecida – apenas os cuidados paliativos.

Em julho, o hospital indicou a possibilidade de uma ação judicial contra os pais de Alfie. Ou seja, mais um caso de ativismo judicial pró-eutanásia, como o sofrido pelo bebê Charlie Gard, e de evidente condução jurídica em direção à morte.

O NHS, denominado como “modelo público de saúde de excelência para o mundo”, tem como bandeira não tratar seus doentes crônicos e ignorar o valor da vida humana. Com esse posicionamento, os casos graves considerados caros são abandonados, e a partir da evolução da doença pela falta de cuidados, o quadro clínico desses pacientes inevitavelmente acaba por piorar. É aqui que revela-se o real interesse do sistema jurídico pró-morte, quando se alega que o “melhor interesse” do paciente esquecido seja a morte ‘’assistida’’.

O que está obviamente em curso é a implementação da eutanásia passiva, seguida daeutanásia ativa e um de novo “plano de negócios em Saúde“, no qual a vida humana é tratada somente como índice estatístico e de rentabilidade. Isto é, caso se afaste da curva-padrão, deve-se seguir ao plano de descarte e venda associada de órgãos. Aos olhos do mundo, o NHS revela-se não um sistema de saúde, mas um anti-sistema, em que pacientes crônicos são descaracterizados em sua humanidade e violentados os seus direitos fundamentais.

O controle populacional é um dos grandes objetivos desse milênio anticristão.

“Mas eles me disseram uma vez que Alfie nunca mais abriria os olhos, e ele tem aberto, então eu quero apenas que ele tenha uma chance justa.’’
Tomas Evans, pai de Alfie.

Referências:







Por: Ilza Sousa, engenheira civil e pesquisadora católica pró-vida e  Adriana Martel Poggi, pesquisadora, especialista em Comunicação.
6 de setembro de 2017 Do site: midiasemmascara.org

sábado, 16 de setembro de 2017

O GOOGLE E A HIPOCRISIA MODERNA


Da teologia à embriologia, da moral sexual à nutrição, não há nada que escape ao cacoete moderno de ser contraditoriamente hipócrita.

Um dos engenheiros de software do Google enviou a toda a companhia um memorando em que afirmava que a empresa criou uma “câmara de eco ideológica”. “O Google”, escreveu ele, “possui uma série de preconceitos, e a ideologia dominante tem silenciado a discussão honesta sobre estes preconceitos”. A resposta do Google às acusações do memorando consistiu, por um lado, em rebatê-las por palavra, proclamando o seu comprometimento com a diversidade e o diálogo aberto, e em confirmá-las, por outro, demitindo o engenheiro que as formulou.

Se você não enxerga a ironia da situação, então você tem provavelmente a mesma mentalidade que a “ideologia dominante” das universidades, dos meios de comunicação e das corporações — em particular, da indústria tecnológica — de hoje. Mas se você foi capaz de perceber a inconsistência da resposta do Google, então é provável que já tenha notado uma certa epidemia de “duplipensar”. (Termos orwellianos talvez se tenham desgastado pelo uso, mas isso só foi possível porque eles são cada vez mais apropriados à nossa realidade.)

A controvérsia em torno do memorando do Google é só mais um exemplo de como o mundo nos diz que devemos ser tolerantes e acolhedores, permitindo que todas as opiniões e estilos de vida sejam expressos e vividos… a menos que a sua opinião ou estilo de vida entre em conflito com os temas dominantes da sociedade secular, em cujo caso você será publicamente desprezado, e o seu sustento e a sua honra correrão sérios riscos.

Querem fazer-nos crer, como diz uma recente representação do seriado Sherlock Holmes, que Deus não passa de “uma fantasia absurda, concebida para dar alguma oportunidade profissional ao idiota da família”. E quem o diz são as mesmas pessoas que sugerem, com toda seriedade, ser possível que estejamos vivendo em uma “simulação” do tipo Matrix.

Insistem que a criança no ventre materno não é uma pessoa humana, embora já tenha orientação sexual firmemente determinada, mas não a própria “identidade de gênero”. (Trata-se, é claro, de um conjunto metafisicamente inconsistente de afirmações; mas, dizem-nos, a metafísica foi destruída de vez pelos filósofos iluministas, ainda que não nos expliquem como, exatamente, eles lograram tamanho feito.)

Dizem-nos que, para sermos saudáveis, precisamos sacrificar-nos, ter disciplina, que precisamos ser, efetivamente, atletas em treinamento (ou, como diríamos em grego, “ascetas”): nada de gordura saturada; nada de xarope de milho com altas doses de frutose; distância total dos carboidratos e do glúten; nem pensar em organismos geneticamente modificados ou vegetais com agrotóxico — pelo contrário, coma enormes quantidades de couve e de pescado sustentável e você viverá para sempre.

Na verdade, dizem eles, deveríamos sobretaxar ou banir por completo as chamadas “porcarias”, e é assim que, de uma hora para outra, o preço do seu refrigerante aumenta em 12%. No entanto, à mera sugestão de que outros tipos de apetite devem ser moderados e controlados — como, por exemplo, o apetite sexual, que afeta não apenas a saúde e o bem-estar das pessoas envolvidas no ato, mas tem ainda o potencial de gerar ali mesmo um novo ser humano — responde-se com uivos de: “Deixe o governo fora do meu quarto!” E quando perguntamos por que razão o governo teria o direito de se intrometer na sua cozinha, mas não no seu quarto, a única resposta que podemos esperar são zombarias.

A expressão “hipocrisia” é frequentemente mal empregada, ou, melhor dizendo, utilizada de forma imprecisa. Um “hipócrita”, na maioria das vezes, é visto como alguém que não vive à altura dos ideais que ele mesmo professa; essa caracterização, no entanto, parece insuficiente. Ninguém segue com perfeição o próprio código moral. De fato, todos somos pecadores, necessitados da misericórdia e da graça de Deus. Ora, se essa definição de “hipócrita” abrange todo o mundo e não é capaz de descrever algum atributo constitutivo da natureza humana, então ela não é lá muito útil.

Mas se acrescentarmos a ela um outro elemento, as coisas começarão a ficar mais claras. Um hipócrita, com efeito, não é apenas o sujeito que diz: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. O hipócrita é aquele que diz: “Eu tenho permissão de fazer isso, mas você não”. Os hipócritas aplicam às outras pessoas critérios distintos dos que eles aplicam a si mesmos. Não se trata, portanto, de fracassar em observar as próprias regras; é uma questão de querer submeter os outros a um conjunto de regras diferente daquele a que o hipócrita mesmo se submete.

É justamente isto que verificamos nos exemplos acima. Em todos eles, as pessoas pensam ser perfeitamente coerente agir de forma incoerente. É em nome do diálogo aberto que o Google manda um funcionário embora, pelo simples fato de ele querer ter um diálogo aberto. Chamam a Deus uma “ideia absurda”, e ao mesmo tempo propõem como modelo explicativo do mundo uma ideia flagrantemente absurda. Afirmando que os fetos ainda não são seres humanos, o pensamento social da moda reconhece no feto, não obstante, determinadas características que só um ser humano poderia ter. Exigindo liberdade de toda e qualquer coação externa, o ativista pretende policiar nos mínimos detalhes a dieta alheia.

Ora, a raiz dessa hipocrisia não é senão o desejo de controlar os demais. Os hipócritas desejam que todos cumpram a cláusula do contrato, enquanto eles mesmos vivem livres e desimpedidos de qualquer obrigação. Os hipócritas tendem a usar o “plural não inclusivo” — noutras palavras, quando dizem “nós”, o que na verdade estão dizendo é: “vocês todos, menos eu”. A classe política, só, poderia oferecer-nos uma multidão de exemplos: há os que se opõem à isenção de impostos para ricos e, ao mesmo tempo, fazem de tudo para contornar a taxação e, assim, pagar muito menos do que o “povo trabalhador” que eles dizem representar; há os que elaboram leis de seguridade médica que oprimem a população com planos de saúde obrigatórios e impagáveis, reforçados ainda por cláusulas penais contra os inadimplentes, planos porém de que eles mesmos estão isentos; há os que dão a volta no mundo em seus jatos particulares, denunciando a emissão de gases e o desperdício de recursos; há ainda os que negam a concessão de cheques escolares e tecem loas ao sistema público de educação, quando os seus próprios filhos frequentam colégios particulares caríssimos. E a lista poderia crescer indefinidamente.

Em nome da liberdade, impõe-se a conformidade. É a “ditadura do relativismo” de que falava o Papa Emérito Bento XVI. É a ascensão da classe dos tecnocratas, que modelariam uma humanidade nova, enquanto eles mesmos permanecem intocados, inalterados, desimpedidos, como já prenunciava C. S. Lewis em A Abolição do Homem. Só uma visão alternativa, que arraste consigo os corações com a força da verdade, do bem e da beleza, pode fazer frente a tudo isso: uma visão do homem como imagem de Deus, digno em si mesmo, valioso, inestimável, criado para unir-se ao seu Criador. Assim entendido, o homem não pode ser controlado ou manipulado; antes, tem o direito de amadurecer, o que não vai acontecer enquanto o obrigarem a viver à base de couve.
Por: Nicholas Senz 9 de setembro de 2017 - 17:21:25
Tradução, adaptação e divulgação: Equipe CNP – https://padrepauloricardo.org


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

E O VENTO LEVOU "E O VENTO LEVOU"...


No vendaval dos imbecis a onda é revisar a história suprimindo da paisagem símbolos inconformes com a estética do politicamente correto...

Vivian Leigh e Clark Gable, como Scarlett O'Hara e Rhett Butler.
O filme que ensinou norte coreanos sobre o amor é alvo dos racialistas que o acusam de insensibilidade racial...


Cria corvos... e eles comerão seus olhos.

O Orpheum, tradicional sala de teatro e cinema de Memphis, nos EUA, resolveu interromper a exibição anual de "Gone With the Wind" ("E o Vento Levou"), motivado pelo "vendaval de protestos" articulado pelos revisionistas politicamente corretos, que classificaram o filme como "insensível à questão racial". 

O teatro Orpheum mostrou o filme nos últimos 34 anos, como parte de sua série clássica. 

O filme é considerado uma obra prima cinematográfica, e uma fonte histórica para o entendimento da Guerra Civil Americana. 

Produzido pela Metro, o filme mostra a vida da uma jovem sulista, aristocrática, bela e petulante, Scarlett O'Hara, começando por ambientá-la em plena expansão do plantation, passando por sua sobrevivência na trágica história do sul durante a Guerra da Secessão e a luta pela reconstrução em sua propriedade. Mostra, ainda, seus casos de amor com Ashley Wilkes e Rhett Butler. Expõe o escravagismo, a exploração econômica da guerra e perda da inocência da elite sulista. 

Com mais de três horas de duração o filme consagrou Viven Leigh e Clark Gable. A obra ganhou 10 Oscars, incluindo o de Hattie McDaniel como melhor atriz coadjuvante, no personagem da escrava Mammy, tornando-se a primeira afrodescendente a ganhar um Oscar na história do cinema. 

A ação dos revisionistas não foi gratuita. O "enxame" ocorreu logo após a exibição do filme, em 11 de agosto, a mesma noite em que supremacistas marcharam com tochas em Charlottesville, Virginia. No dia seguinte, 12, enquanto ocorria a reunião "Unite the Right", o teatro recebeu o ataque de reclamações em linha, de clientes, jornalistas e cibermanifestantes nas redes sociais. 

O vendaval de denúncias versava sobre o fato do filme retratar os negros "sob uma visão romantizada do Velho Sul", o que identificaria a obra com o conflito da derrubada da estátua do General Lee. Não foi apenas um protesto. Foi uma provocação com consequências funestas para a arte cinematográfica - ainda que restrita (por enquanto) a uma sala de cinema.

Brett Batterson, presidente do Orpheum Theatre Group, temeroso das consequências e temendo atos violentos, resolveu ceder ao enxame articulado de protestos e fez um comunicado à imprensa, no qual informou que "o Orpheum revisou cuidadosamente todos os filmes do festival" e, "como uma organização cuja missão declarada é entreter, educar e iluminar as comunidades que serve", não mais mostraria "um filme insensível a um grande segmento de sua população local ".

Não faltaram, no entanto, protestos contra a atitude de auto-censura. Vários foram os comentários nas redes sociais e na imprensa classificando a atitude de vergonhosa, de representar um insulto ao elenco e equipe que produziu o filme, de considerar uma atitude de submissão à intolerância e de quebra de uma tradição de oitenta anos do próprio cinema. 

O fato é que um dos filmes mais importantes da história mundial foi "censurado" na sua própria terra de origem, em pleno século XXI e no seio de uma das mais democráticas nações do mundo. Tornou-se alvo de "banimento", pela ação coordenada de intolerantes "politicamente corretos".

A patrulha da chatura rancorosa e da infelicidade militante conseguiu, com o banimento, algo similar a outros "grandes feitos" da história, como a "queima de livros" dos nazistas, nos anos 30 ou a "limpeza de retratos", efetuada pelos stalinistas e maoistas,nos registros fotográficos das revoluções, retirando personagens que se tornavam politicamente inconvenientes da paisagem e da história.

Conseguiram, também, produzir um paradoxo contemporâneo. 

Em recente entrevista, uma refugiada norte coreana informou ter compreendido o que era o amor graças à oportunidade de assistir ao filme "E o Vento Levou", gravado em um pendrive e clandestinamente despejado naquele país pela organização "Flash Drives for Freedom", entidade de direitos humanos que, via balões, despeja centenas desses minúsculos dispositivos avidamente consumidos pela população, clandestinamente, sob pena de incorrer em crime com punições severas, determinadas pelo ditador Kim Jong-un. 

Com certeza, Kim Jong-un terá lugar reservado no panteão dos heróis politicamente corretos...

Os donos e monopolistas da verdade histórica, ao articularem o "enxame virtual", fizeram o mesmo que o "Ministério da Verdade" faria na ficção "1984", de George Orwell.

Os revisionistas provocaram a direita racista americana no episódio da derrubada de uma estátua do General Lee e atuaram contra a apresentação de um filme em um cinema. Assim, de "um em um", não tardará implodirem a estátua de George Washington em Boston ou a estatua do bandeirante escravagista Borba-Gato, na Avenida Santo Amaro, em São Paulo... 

No que tange ao Borba-Gato, aliás, os revisionistas já o fizeram - picharam vergonhosamente a estátua do bandeirante, bem como a das bandeiras, no Parque do Ibirapuera... e não faz muito tempo. O mesmo ocorreu com a obra do "racista" Monteiro Lobato, que os próceres do politicamente correto ousaram sugerir banimento das escolas...

O objetivo cristalino desta gente é revisar a história suprimindo da paisagem os símbolos inconformes com a nova estética do politicamente correto. Fazem o que fizeram os bárbaros, os nazistas, os stalinistas, o talibã... e ainda fazem o Estado Islâmico, os bolivarianos da Venezuela e o grande líder politicamente correto Kim Jong-un...

Com certeza, os racialistas militantes classificarão como supremacista e racista todo aquele que ousar protestar contra a censura ao "E o Vento Levou". 

Amanhã, quem saberá o que ou quem sobrará para protestar...

Será que permitiremos todos a vitória do duplipensar orwelliano sobre a cultura e a democracia?

Uma coisa é certa. O conflito é resultado do apoio dos imbecis ao discurso idiota do "politicamente correto", professado pelos cultivadores do rancor racialista que vegeta por aí...

Perde a cultura, a história a humanidade e a inteligência...



Por: Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e das Comissões de Política Criminal e Infraestrutura da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SP. É Vice-Presidente da Associação Paulista de imprensa - API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

CASO SANTANDER: VILIPÊNDIO DE CULTO É ILEGAL, E ISSO BASTA


Discutir gayzismo e antigayzismo a propósito do caso Santander só prova incapacidade de discernir entre o confronto de opiniões e o quadro legal que o regula. Isso denota pura e simples IMATURIDADE PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA. O que está em questão no episódio não são opiniões pró e contra isto ou aquilo, mas a simples TIPIFICAÇÃO LEGAL DE UM CRIME. O texto da lei é claro: “Vilipendiar objeto de culto.” Ponto final. É só disso que se trata. A lei é a mesma para gayzistas e antigayzistas, progressistas e conservadores, cristãos e anticristãos. Dissolver essa evidência numa tagarelice ideológica é trapaça, da parte do acusado, e burrice, da parte dos queixosos.

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A existência de um quadro legal que regula os confrontos de opiniões é o que define uma DEMOCRACIA. Sem o quadro legal, há só o império do mais forte. Numa democracia, todas as opiniões são lícitas, mas nem tudo o que você faz em nome delas é lícito. Posso ser antigayzista, mas não posso sair batendo em gays. Posso ser anticristão, mas não posso vilipendiar objeto de culto cristão, porque isso é crime definido no Código Penal, Art. 208.
Praticamente todos os palpites que ouvi até agora sobre o caso Santander provam ignorância dessa distinção elementar. Todo mundo enche a boca ao falar de “cidadania”, mas não tem A MENOR IDÉIA do que seja isso.

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Se para impor a obediência às leis você tem de impor também a sua crença religiosa, a obediência às leis se torna inviável. Se para livrar-se de obedecer a lei você alega sua crença gayzista, a obediência à lei tornou-se opcional.

Lei é lei, opinião é opinião. O curador da exposição Santander, Gaudência Fidelis, não entende isso. Não tem maturidade para ser cidadão de uma democracia. Muitos dos que o acusam também não têm: ao alegar opiniões morais e religiosas contra a conduta dele, em vez de ater-se ao texto da lei, transformam numa discussão ideológica o que deveria ser a pura e simples aplicação de uma lei.

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De modo geral, os brasileiros não distinguem entre lei e partidarismo, ou entre lei e preferências pessoais. A impessoalidade da lei parece-lhes demasiado abstrata, e tem de ser referendada por um sentimento ou impressão pessoal. Convidados a depor em favor ou contra um réu, não perguntam se, objetivamente, ele é inocente ou culpado. Perguntam se gostam dele ou o detestam.

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No caso Santander, uma retórica moralista só serve para debilitar a causa. O vilipêndio a culto é ilegal, e isso basta. A mais velha regra da técnica retórica é: Se você pode vencer usando um argumento, não use dois.
Por: Olavo de Carvalho 12 de setembro de 2017 - 4:07:34
Do site: http://diariofilosofico.midiasemmascara.org


sábado, 9 de setembro de 2017

O ENSINO DOS VALORES EM CONFÚCIO


A Vida
Pouco se sabe acerca de Confúcio (Kung-fu-tzu). Terá nascido em 551 a.C. e terá morrido em 479 a.C. Viveu, portanto, 72 anos. Sabe-se que era de origem nobre, mas por circunstâncias desconhecidas a sua família era bastante humilde. Nasceu no estado de Lu, na moderna Xantum, na época em que o regime imperial entrava em decadência, sacudido por lutas senhoriais e corrupção generalizada. A China Imperial passava com grandes e profundas mudanças, na economia e na sociedade. A criminalidade, a miséria e o fosso entre os muito ricos e os muito pobres cresciam. Na sua juventude, Confúcio arranjara uma reputação de amante do conhecimento e respeitador das tradições antigas. Era conhecido como um jovem educado, cortês e justo. Viajou muito e estudou durante vários anos na capital imperial de Zhou, onde teve oportunidade de conhecer Lao Zi, o fundador do Daoismo. Com o regresso a Lu, Confúcio tornou-se famoso como professor. Com a idade de 35 anos, viu a sua carreira de professor interrompida por uma prolongada e sangrenta guerra, conduzida pelo Duque Chao do estado de Lu. Terá sido durante esse período que Confúcio foi chamado a exercer funções políticas, por um breve período, como conselheiro político do Duque Chao. Cansado das intrigas da Corte, Confúcio troca a vida política pelo ensino. Aos 50 anos de idade, volta a exercer funções políticas, como Ministro da Justiça do estado de Lu e aos 56 anos alcança o lugar de Primeiro Ministro. Por volta dos 60 anos de idade, Confúcio abandona definitivamente a vida política e viaja durante anos pela China acompanhado dos seus discípulos. Durante as suas viagens é preso e vê-se envolvido em lutas de senhores da guerra rivais. Aos 67 anos de idade regressa a Lu, passando o resto dos seus dias a ensinar e a escrever. Morreu com 72 anos. Confúcio considerava-se mais como um transmissor das crenças antigas do que como um criador de teorias. Em jovem, passou algum tempo como ministro do estado, mas a maior parte da sua vida foi passada a ensinar. Viajou mais de dez anos por vários estados da China Imperial, servindo como conselheiro político. Desiludido com a corrupção reinante nas cortes dos senhores feudais, Confúcio regressou a Lu onde passou o resto da sua vida rodeado de um conjunto de discípulos devotados a quem lhe chamavam o Mestre. Terão sido os seus discípulos que escreveram Os Analectos, a única obra que é considerada um registo fidedigno do pensamento de Confúcio. Escrito há perto de 2500 anos, Os Analectos conheceram uma grande divulgação na China e foram objecto de traduções nas principais línguas do Mundo. O objectivo de Confúcio foi apresentar uma versão pura das antigas doutrinas, passadas de geração em geração na cultura Chou, de forma a dar corpo ao governo justo e benevolente. Confúcio acreditava que, algures no passado, teria havido uma idade mítica, na qual cada um conhecia o seu lugar e cumpria o seu dever. A finalidade de Confúcio era dar a conhecer os fundamentos éticos que permitissem um regresso a esse passado mítico, tão distante dos tempos conturbados que eram os seus. A expressão prática desse desejo era a forte predisposição de Confúcio para apoiar as instituições que assegurassem a harmonia, a justiça e a ordem: a família, a hierarquia, os anciãos e o Estado justo. O respeito pelo dever, pela hierarquia e pelos rituais seria capaz de produzir homens respeitadores da cultura tradicional, amantes do Bem e da Justiça, cumpridores dos deveres e das obrigações e reverentes para com as autoridades legítimas e os mais velhos.

Confúcio é, ainda hoje, o mais influente filósofo chinês. Os adeptos de Confúcio estão espalhados por Taiwan, Japão, Singapura, Coreia do Sul, Malásia e República Popular da China. Estima-se em mais de 400 milhões o número dos seus seguidores. Mencius (390 a.C.-305 a.C.) alarga e sistematiza a filosofia de Confúcio, tornando-se o seu discípulo mais destacado. Com a adopção da doutrina de Confúcio como a filosofia oficial do Estado, durante a Dinastia de Han, a influência de Confúcio, na China, tornou-se tão grande que o seu nome tornou-se sinónimo de intelectual e erudito. Durante a Dinastia Han, a doutrina de Confúcio e o pensamento dos seus seguidores tornaram-se as obras de referência para a realização dos exames públicos de acesso às magistraturas, ao funcionalismo público e à burocracia governamental.

A Obra

A maior parte dos trabalhos atribuídos a Confúcio, e em particular Os Analectos - foram escritos pelos seus discípulos após a sua morte. Há imensas traduções de Os Analectos, mas poucas credíveis, porque é extremamente difícil o respeito pelo original, já que a língua em que foram escritos sofreu muitas transformações. Para além de Os Analectos, são atribuídos a Confúcio ou aos seus discípulos A Grande Aprendizagem e A Doutrina do Meio.

Os Analectos encontram-se publicados em Portugal, na colecção Clássicos de Bolso da Europa-América. Se o leitor quiser ter acesso a traduções de Confúcio, terá de recorrer a livros em língua inglesa. Eis uma pequena lista:
Lin Yutang. (1995). The Wisdom of Confucius. Citadel 
Shih-Ching. (1979). The Classic Anthology Defined by Confucius. Viking Penguim
Confucius. (1969). Analects, Great Learning and Doctrine of the Mean. New Directions
Se o leitor quiser ter acesso a comentários sobre o pensamento de Confúcio, terá de recorrer igualmente a obras em língua inglesa:
David Hall e Roger Ames. (1992). Thinking Through Confucius. Charles Tuttle
Liu Chen. (1986). The Confucian Way: A New and Systematic Study of the Four Books. Routledge
Tsai Chung. (1996).Confucius Speaks: Words to Live By. Anchor
Liu Wu-Chi. (1972). Confucius, His Life and Time. Greenwood
Karl Jaspers. (1996). Socrates, Buddha, Confucius and Jesus. Harverst
Theodore de Bary. (1996). The Trouble with Confucionism. Harvard
Tu Wei-Ming. (1996). Confucian Traditions in East Asian Modernity: Moral Education and Economic Culture in Japan and the Four Mini-Dragons. Harvard.

Em Portugal, há duas edições de Os Analectos. Uma delas, com o título Os Analectos, Livros de Bolso, Publicações Europa-América. A outra, com o título Conversações, Editorial Estampa. Este último inclui uma interessante Introdução, assinada por Anne Cheng, com informações sobre a China no tempo de Confúcio, a biografia de Confúcio, a moral e a política em Confúcio e a herança de Confúcio.

A teoria moral

O Confucionismo constitui um código de conduta que guia e orienta o governo justo, as relações entre as pessoas, a conduta pública, a vida privada e a procura da rectidão. Os dois conceitos mais importantes da doutrina confuciana são o Li e o Jen. O Li são as cerimónias, a etiqueta, os rituais e os bons costumes. O Jen é a benevolência, a cortesia e a gentileza. A harmonia, a paz, a justiça e a ordem estariam asseguradas se todos praticassem o Li e o Jen. Confúcio acentua as virtudes da auto-disciplina e da generosidade. Sê rígido para contigo, mas benevolente para com os outros, tal é uma das principais máximas confucianas. Ser bom como um filho e obediente como um jovem é o que constitui a raiz do carácter da pessoa. Nunca exigir aos outros o que nós não estamos dispostos a fazer é a forma que Confúcio concebeu para formular a "regra de ouro": não faças aos outros o que não queres para ti. Há aqui semelhanças com a teoria da virtude em Aristóteles e até com o imperativo categórico de Kant. Trata os outros como um fim e nunca como um meio. Sê benevolente. O que é uma pessoa moralmente educada para Confúcio? No livro Os Analectos, dá-nos a seguinte resposta: "Eu conceberia que um homem recebeu instrução se ele aprecia homens de excelência enquanto outros homens apreciam belas mulheres, se ele se aplica ao máximo ao serviço dos seus pais e oferece a sua pessoa ao serviço do seu senhor e, se nas suas relações com os amigos, é digno de confiança no que diz, mesmo embora ele possa dizer que nunca foi ensinado" No Livro XIII, dirá: "enquanto em casa, conserva uma atitude respeitosa; quando a servir numa qualidade oficial, sê reverente; quando a tratar com outros, faz o melhor que te for possível" (Os Analectos, Livro XIII, 84). Mas Confúcio chama a atenção para a importância da constância das virtudes. Um comportamento errático, meramente oportunista e flutuando de acordo com as circunstâncias e os interesses, não é um comportamento virtuoso. Sendo certo que a moral se ensina através da instrução, também é verdade que o exemplo, o hábito e a reflexão exercem um papel primordial, de tal forma que uma pessoa que não recebeu instrução pode ser moralmente educada. A instrução, contudo, prepara a pessoa para a reflexão, ajuda a combater a rigidez e a inflexibilidade e ajuda a cultivar a humildade intelectual. Confúcio afirma que aquele que estuda é improvável que seja inflexível. A arrogância e o fanatismo são apanágio dos ignorantes: "o nobre está à vontade sem ser arrogante; o homem insignificante é arrogante sem estar à vontade" (Os Analectos, Livro XIII, 85). Obediente aos mais velhos, aos pais e àqueles de quem depende hierarquicamente, verdade e honestidade nas palavras, amigo dos amigos, reservado quanto baste e cumpridor dos ritos, tal é o homem nobre, o homem de carácter. "Aquele que é, por um lado, sincero e subtil e, por outro, amável merece ser chamado Nobre - sincero e subtil entre os amigos e amável entre os irmãos" (Os Analectos, Livro XIII, 86). Central na moral confuciana é a noção de respeito. O que é o respeito para Confúcio? "Ser respeitoso é próximo de ser observador dos ritos, o que possibilita uma pessoa a ficar isenta de desgraça e insulto. Se ao promover o bom relacionamento com parentes através do casamento, um homem consegue não perder a boa vontade dos seus próprios parentes, ele é digno de ser considerado como cabeça do clã" (Analectos, livro I, 13). O respeito pelos ritos, pelas tradições, pelos mais velhos e pelos pais é no pensamento de Confúcio o que o cumprimento do dever é no pensamento de Kant. A obediência é outro conceito chave para se compreender a moral confuciana. Ser filial é nunca deixar de obedecer, repete Confúcio nos Analectos. Deve-se obediência a quem? Em primeiro lugar aos pais, depois aos outros parentes mais velhos, de seguida aos nossos amigos mais velhos e, por último, a todos de quem dependemos hierarquicamente, na vida pública ou na vida profissional. O dever de obediência é acompanhado pela garantia da benevolência. Aqueles a quem devemos obediência só a merecem quando são benevolentes. Confúcio admite a revolta sempre que os governantes não são dignos de obediência pelos súbditos. E os governantes não são dignos de obediências quando não mostram benevolência. O governo benevolente é um governo justo e é o único capaz de manter o povo feliz e de assegurar a prosperidade. Um governo que reprime o povo mantém o povo afastado dos problemas, pode retardar a revolta, mas não é respeitado pelo povo. Um governo que recompensa os desonestos, promove a desonestidade: "levanta os rectos e coloca-os acima dos desonestos e o povo comum considerar-te-á um modelo. Ergue os desonestos e coloca-os acima dos rectos e o povo comum não olhará para ti como modelo" (Os Analectos, Livro II, 18). O que é uma pessoa moral? É aquele que não se desvia do caminho recto e que não deixa de fazer o que está correcto por falta de coragem. Confúcio afasta-se da noção, cara a Platão, de que a moral é do domínio do inteligível, da alma racional e da reflexão, aproximando-se, ao invés, da noção aristotélica de que a moral é a associação da sabedoria à conduta, do intelecto com a acção, do raciocínio com o hábito. No livro II dos Analectos, afirma: "Aos quinze anos dediquei o meu coração à aprendizagem; aos trinta assumi o meu lugar; aos quarenta fiquei livre de dúvidas; aos cinquenta compreendo o Decreto do Céu; aos sessenta o meu ouvido ficou afinado; aos setenta eu segui o desejo do meu coração sem ultrapassar a linha". A aprendizagem da moral é um processo longo e contínuo, é uma empresa para toda a vida. Exige um longo período de instrução, que começa na juventude, pressupõe a conquista da maturidade, através do exercício continuado de uma profissão e dos deveres de cidadania e obriga ao exercício continuado do respeito pelos ritos e pelas regras. Um homem só é digno de ser professor quando consegue saber o que é novo, mantendo vivo o que as gerações anteriores construíram. A aprendizagem da moral exige reflexão, hábito de seguir a via recta e o contacto com exemplos de pessoas virtuosas. Só o exemplo e o hábito, não é suficiente: "se uma pessoa aprende através das outras mas não pensa, essa pessoa pode ficar confusa. Se, por outro lado, uma pessoa pensa mas não aprende através dos outros, ela estará em perigo" (Os Analectos, Livro II, 17). O amor filial, o respeito e a reverência para com os pais, ocupam um lugar central na moral de Confúcio. É na família que a criança recebe a primeira instrução, é lá que ela se inicia nos ritos e que desenvolve os primeiros hábitos. Ser filial não é apenas assegurar a subsistência dos pais na velhice. É sobretudo ser reverente para com eles. Respeitá-los, obedecer-lhes e mostrar reverência: "enquanto os teus pais forem vivos, obedece aos ritos servindo-os; quando eles morrerem, obedece aos ritos sepultando-os; obedece aos ritos fazendo sacrifícios em sua honra" (Os Analectos, Livro II, 16). Outra noção essencial à moral confuciana é a reserva, a qual se aproxima bastante da noção aristotélica de moderação e de justo meio. Evita os extremos e afasta-te dos excessos. Em caso de dúvida, é preferível optar pela frugalidade do que pela extravagância. Reserva no falar, moderação nas acções, tolerância quando se está numa posição de poder, reverência para com os ritos e os mais velhos, benevolência para com os fracos, obediência aos pais e rectificação dos erros, tais são as qualidades da pessoa nobre, isto é, da pessoa moralmente educada. Coragem, tolerância, dedicação e humildade são outras qualidades a ter em conta. Há três coisas que definem o homem nobre: "ficar isento de violência ao mostrar um semblante sério, aproximar-se de ser digno de confiança por apresentar uma expressão correcta no seu rosto e evitar ser rude e irracional por falar em tons próprios" (Os Analectos, Livro VIII, 50). A tolerância implica ser capaz de rectificar o caminho quando este se desvia da via recta. Reconhecer os erros e emendá-los. Pedir conselhos a quem sabe mais do que nós e é mais experiente. A coragem é uma qualidade que se deve ter na medida certa. Em excesso é temeridade e daí ao ódio vai um passo curto. O ódio impede a benevolência e provoca comportamentos desregrados. A congruência surge como outra qualidade prezada por Confúcio. Graças a ela, "o homem de inteligência nunca tem duas mentes, o homem de benevolência nunca se preocupa; o homem de coragem nunca tem medo" (Os Analectos, Livro XIX, 59). A reserva no falar e no vestir são. igualmente, características do homem nobre: "na corte, quando falava com os conselheiros de posição inferior, ele era afável; quando falava com conselheiros de posição superior, era franco, embora respeitoso. Na presença do seu senhor, o seu comportamento, embora respeitoso, era composto" (Os Analectos, Livro X, 61). Mais à frente, no Livro XIV, afirma: "O meu Mestre apenas falava quando era altura de o fazer. Assim as pessoas nunca se cansavam de ele falar. Ria apenas quando se sentia feliz. Assim as pessoas nunca se sentiam cansadas do seu riso. Aceitava apenas quando achava que era correcto aceitar. Assim as pessoas nunca se cansavam de ele aceitar". A reserva e a parcimónia são duas qualidades centrais no homem moralmente educado. A benevolência é a qualidade maior dos justos: "regressar à observância dos ritos através da superação do ego constitui benevolência. Se, durante um único dia, um homem pudesse regressar à observância dos ritos através da superação de si próprio, então todo o Império consideraria que a benevolência era sua. No entanto, a prática da benevolência depende da própria pessoa, e não dos outros" (Os Analectos, Livro XII, 73). O homem benevolente é respeitoso e parco em palavras. Nada mais estranho a Confúcio do que a máxima: Quem o seu inimigo poupa, às mãos lhe morre". Face aos que optam pela desobediência, intolerância e indisciplina, Confúcio afirma: "os homens que rejeitam a disciplina e, no entanto, não são rectos, os homens que são ignorantes e, no entanto, não são cautelosos, os homens que são destituídos de habilidade e, no entanto, não são dignos de confiança, ultrapassam bastante a minha compreensão" (Os Analectos, Livro VIII, 52). E no livro XIX de Os Analectos, Confúcio acrescenta: "eu não posso fazer nada com o homem que concorda, mas não se rectifica, ou com o homem que está satisfeito, mas não se reforma". O homem de carácter sabe ser perspicaz e previdente. Quando um homem é capaz de resistir à difamação e às lamentações, o homem mostra-se perspicaz. Mas ser perspicaz é, também, ser capaz de aceitar o seu lugar na sociedade. Esta aceitação do lugar que cabe a cada um na estrutura social, definiu-a Confúcio da seguinte forma: "deixem o dirigente ser um dirigente, o súbdito um súbdito, o pai um pai, o filho um filho" (Os Analectos, Livro XII, 76). Sobre a benevolência dos governantes para com o povo comum, Confúcio afirma: "ao administrar o teu governo, que necessidade há que tu mates? Deseja apenas tu próprio o bem e o povo comum será bom. A virtude do nobre é como o vento; a virtude do homem pequeno é como a erva. Deixai o vento soprar sobre a erva e é certo que ela se dobre" (Os Analectos, Livro XII, 77). E, um pouco mais à frente, dirá que a benevolência é amar os nossos semelhantes. O respeito pelos outros constitui outra qualidade do homem nobre. A capacidade para se colocar na perspectiva dos outros, tão cara aos modelos cognitivistas da educação moral, definiu-a Confúcio da seguinte forma: "não imponhas aos outros o que tu próprio não desejas" (Os Analectos, Livro XV, 99). Nestas palavras, Confúcio revela bem o seu optimismo moral e o sentido reformador de quem acredita na capacidade da educação e da reflexão para reformar o homem e conduzi-lo no caminho da rectidão moral. Convém ter presente que Confúcio viveu numa época politicamente conturbada, marcada pela corrupção nas elites governantes e por guerras entre os senhores feudais. Esse ambiente caótico foi fértil na expansão do desregramento moral entre a população e provocou um aumento da criminalidade e da miséria. As referências constantes, nas páginas de Os Analectos, ao regime do duque de Chou e à sociedade reinante no estado de Lu, remetem-nos frequentemente para críticas ao desregramento moral, cobiça, ambição desmedida e império da desonestidade. Em oposição, Confúcio clama, com frequência, pela necessidade de levantar os rectos, colocando-os acima dos desonestos, para tornar os desonestos rectos. Confúcio chama a atenção para o poder do exemplo na educação moral. Em resposta a um conselho pedido por Chi Kang Tzu, sobre a maneira de acabar com os ladrões, Confúcio não receia responder que " se tu próprio não fosses um homem de desejos, ninguém roubaria, mesmo que roubar trouxesse recompensa" (Os Analectos, Livro XII, 77). O que Confúcio quis dizer é que se os governantes não roubassem, haveria mais honestidade entre o povo. No Livro XIII, explicita, um pouco melhor, o papel do exemplo na educação moral: "encoraja o povo a trabalhar bastante, estabelecendo tu próprio um exemplo. Tzu-lu perguntou mais. O Mestre disse: não deixes que os teus esforços afrouxem...Determina um exemplo que os teus oficiais sigam; mostra brandura para com os ofensores menores e promove homens de talento"(Os Analectos, Livro XIII, 80). Um pouco mais à frente, afirma: "quando aqueles que estão acima amam os ritos, ninguém de entre o povo comum ousará ser irreverente; quando amam o que está certo, ninguém de entre o povo comum ousará ser insubordinado; quando eles amam a probidade, ninguém de entre o povo comum ousará ser insincero...Se um homem é correcto em si mesmo, então haverá obediência sem que sejam dadas ordens; mas se ele não é correcto em si próprio, não haverá obediência, mesmo embora as ordens sejam dadas" (Os Analectos, Livro XIII, 81). É fácil levar um povo inteiro a desviar-se da rectidão moral. Difícil e moroso é conduzi-lo de novo à via da rectidão: "mesmo com um verdadeiro rei, é certo que a benevolência demora uma geração a tornar-se uma realidade" (Os Analectos, Livro XIII, 82). Como é que Confúcio define uma pessoa moralmente educada? A moralidade é a matéria-prima do nobre e a nobreza de carácter vê-se pela observância dos ritos, pela modéstia e humildade no agir, pela moderação nas palavras e pela constância das qualidades. O homem educado é íntegro, benevolente, obediente e respeitador. A pessoa moralmente educada mostra respeito, é tolerante e é generoso: "se um homem é respeitoso, não será tratado com insolência. Se é tolerante, quererá vencer a multidão. Se é digno de confiança na palavra, os seus semelhantes confiar-lhe-ão responsabilidade. Se é rápido obterá resultados. Se é generoso, será suficientemente bom para ser posto numa posição acima dos seus semelhantes" (Os Analectos, Livro XVII, 110). Um nobre, isto é, uma pessoa educada, nunca esquece o que é correcto, dá primazia à justiça face ao lucro e é reverente nas situações que exigem reverência. O nobre inspira respeito, mas não é feroz, faz-se respeitar, mas não é arrogante, é firme nas suas convicções, mas corrige os erros cometidos, é generoso sem que isso lhe custe, é flexível, mas nunca negligencia as suas maneiras, é elogioso para com os bons, mas piedoso para os que erram, faz amigos com os que lhe merecem a amizade, mas afasta-se dos que não são adequados. E há situações que a pessoa moralmente educada não aprecia: "ele não aprecia aqueles que proclamam o mal dos outros. Não aprecia aqueles que, estando numa posição inferior, difamam os seus superiores. Não aprecia aqueles que, embora possuindo coragem, lhes falta o espírito dos ritos. Não aprecia aqueles cuja determinação não é temperada pela compreensão" (Os Analectos, Livro XVII, 114). Enfim, a educação, na perspectiva de Confúcio, é um processo sem fim, a exigir o aperfeiçoamento através da aprendizagem, de forma a que a pessoa com nobreza de carácter possa apreciar as cinco excelentes práticas e seja capaz de afastar as práticas malévolas. E o que são as cinco excelentes práticas? Confúcio afirma no Livro XX, de Os Analectos: o nobre é generoso sem que lhe custe algo, faz trabalhar bastante os outros sem se queixarem, tem desejos sem ser sôfrego, é casual sem ser arrogante e inspira temor sem ser feroz. E o que são as práticas malévolas? Impor a pena de morte sem primeiro tentar reformar a pessoa, esperar resultados sem primeiro dizer como se faz e insistir num limite de tempo para cumprir uma tarefa sem dar o tempo necessário.

A filosofia de Confúcio estabelece as bases das relações sociais entre as pessoas e entre as instituições. As "seis relações" dão expressão a essa base e fundamentam-se nas relações que os pais devem estabelecer com os filhos e, por isso, são todas variações do amor filial, ou o respeito e veneração dos filhos para com os pais. Originalmente, as "seis relações" incluem três conjuntos: os pais e os filhos; o marido e a esposa; o irmão mais velho e o irmão mais novo. Tomando como base aqueles três conjuntos de relações, é possível conceber uma infinidade de outros, tais como: professor e aluno; amigo e amigo; ancião e jovem. Emcada uma destas relações, o membro superior, os pais, os professores ou os irmãos mais velhos, têm o dever de benevolência e têm a responsabilidade de cuidar do membro subordinado e este tem o dever de obediência. A única excepção poderá ser a relação entre amigos, a qual pode estabelecer-se na base da igualdade, a não ser que um deles seja mais velho do que o outro. A atitude reverencial e o dever de obediência do membro subordinado face ao membro superior só se justifica enquanto este observar o dever de benevolência e cumprir a responsabilidade de cuidar do subordinado. Uma vez que a noção de obediência, em Confúcio, é sinónimo de fazer o que está certo, a verdadeira obediência aos pais ou aos irmãos mais velhos significa a recusa em obedecer a ordens injustas e moralmente incorrectas. Governantes injustos e corruptos não merecem a obediência dos seus súbditos. Nestes casos, Confúcio aceita que os súbditos se revoltem contra os governantes corruptos.

Central no pensamento de Confúcio é a crença numa ordem moral cósmica. Através da reflexão e da educação, é possível a qualquer um a distinção entre o bem e o mal.

Em conclusão, a filosofia de Confúcio oferece-nos uma ética, uma política e uma arte de viver, de simples compreensão: amar os outros, honrar os nossos pais, fazer o que está certo em vez de agir por interesse, respeitar a reciprocidade, isto é, "não faças aos outros aquilo que não queres para ti", dirigir e comandar através do exemplo moral e não pela violência ou pela força...

Crítica

O Confucionismo é uma filosofia que mantém uma enorme influência em países como Taiwan, Singapura, Coreia do Sul e, de uma forma quase clandestina, na República Popular da China. Nas comunidades sino-americanas, a sua influência é, também, muito grande. A filosofia de Confúcio e de alguns do seus seguidores, nomeadamente de Mencius, são objecto de estudo nas Escolas de Humanidades e de Ciências Sociais de muitas Universidades dos Estados Unidos da América e Os Analectos são leitura obrigatória nas escolas secundárias de Taiwan. Na China, apesar da enorme repressão que o regime comunista exerce sobre o povo chinês há cinco décadas, Confúcio continua a ser considerado como o maior dos sábios chineses e as suas cinco virtudes - caridade, justiça, propriedade, sabedoria e lealdade - continuam a ser apreciadas como condição necessária para o auto-esclarecimento e a melhoria da pessoa. O nascimento de Confúcio continua a ser celebrado pelos chineses como uma data festiva e, em Taiwan, é considerado feriado nacional. Confúcio desenvolveu a ideia de que o Governo justo tem de ser impregnado de ética. A política e a ética têm de andar associadas para que a justiça prevaleça. A educação para todos, ao longo de toda a vida, é um conceito central no pensamento confuciano e o facto de as comunidades chinesas no estrangeiro darem tanta importância à escola e à educação talvez se explique pela força da tradição confuciana. A influência do pensamento de Confúcio foi tão grande que, durante muitos séculos, a China foi governada por uma meritocracia, recrutada através de exames públicos. A ideia de que o Governo e a administração da coisa pública devem estar nas mãos dos mais instruídos e dos mais competentes, tão cara a Confúcio, continua a ter enorme influência em países como a Coreia do Sul, Singapura e Taiwan. O respeito pelos mais velhos e o amor aos pais - tão caros às comunidades chinesas espalhadas pelo Mundo - são, sem dúvida, uma herança da tradição confuciana. O gosto pelo trabalho, o apreço pelo investimento e pela poupança e o amor à escola constituem traços comuns às comunidades chinesas e explicam, em parte, o sucesso obtido por esses países na qualificação dos recursos humanos e no desenvolvimento das suas economias.

É possível, no entanto, colocar algumas reservas à ética confuciana. Uma delas é a desvalorização do indivíduo face à comunidade. Outra, é a tendência para o apagamento das diferenças, face ao poder tradições, da hierarquia e das regras. Podemos perguntar se esta filosofia não favorecerá o desenvolvimento de um pensamento convergente, uniforme e conformista e não abafará a criatividade e a inovação, tão necessárias a um Mundo caracterizado pela mudança e pela incerteza. Será que a doutrina de Confúcio, tão apostada na conservação das tradições, dos ritos e das hierarquias, ainda faz sentido numa sociedade onde a tecnologia e a ciência avançam tão rapidamente? Fará sentido um tal esforço para conservar as tradições, numa época de crescente mobilidade geográfica, social e cultural? Poderá o pensamento de Confúcio resistir à crescente atracção do multiculturalismo, da defesa da especificidade das minorias culturais e étnicas e do respeito pelos estilos de vida minoritários? Será o confucionismo um entrave à crescente emancipação das mulheres e ao aparecimento de modelos de família alternativos? Ou será que Confúcio pode, ainda, constituir um refúgio certo para a desordem crescente do Mundo e para a anarquia emergente nas relações interpessoais? Pode a ética confuciana constituir um entrave ao aumento da corrupção, à opressão dos fracos, à tirania dos governos e ao aumento das desigualdades sociais? Pode a ética confuciana e a sua aposta na estabilidade, na obediência aos ritos e no respeito pelas tradições, ajudar a colocar uma ordem na crescente desordem amorosa? Pode a sua ênfase na defesa da benevolência, da ordem, das regras, da obediência e da família constituir um antídoto para a crescente desordem familiar, com o seu cortejo de maus tratos nas mulheres, abuso das crianças, solidão e abandono das responsabilidades? Será que as sociedades ocidentais foram longe demais no alargamento dos direitos e no encurtamento das responsabilidades? A verdade é que os países e as comunidades onde a influência da ética de Confúcio é grande conhecem menores taxas de criminalidade, menores taxas de divórcio, mais elevados níveis de educação, menos desemprego e mais estabilidade social. Mas será que o preço que pagam é a falta de liberdade e o apagamento das diferenças face ao império da norma, da regra e das tradições? Valerá a pena pagar esse preço? Estamos perante um debate necessário. Contudo, estou em crer que a influência de Confúcio não irá parar de crescer e irá alastrar às sociedades ocidentais como resposta para aqueles que procuram mais segurança, mais estabilidade, mais justiça e mais benevolência. Há cada vez mais pessoas, nas nossas sociedades ocidentais, que lamentam a crescente desumanização das relações interpessoais, que criticam a maneira como as novas gerações tratam os idosos, que não aceitam o alastrar da ética da irresponsabilidade e que querem resistir a mudanças que colocam em perigo o equilíbrio das famílias e a integridade das comunidades. Para todos aqueles que temem o crescimento do individualismo, do hedonismo e do egoísmo social, a ética confuciana é um terno refúgio e é uma alternativa que reconforta e marca um caminho.
Por: Ramiro Marques ESE do Instituto Politécnico de Santarém
Referências
Confúcio.(as/d).Os Analectos. Lisboa. Publicações Europa-América
Confúcio.(1991). Conversações. Lisboa. Editorial Estampa
Do site: http://www.eses.pt

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A BÍBLIA, O PT E O MINISTÉRIO PÚBLICO

"Quem pariu Mateus, que o embale..."

Jesus chama Mateus - o coletor de impostos

A expressão tem origem em uma crítica atribuída pelos fariseus a Jesus, que decidira acolher um sujeito tido por arrogante, chamado Mateus, entre seus discípulos, mesmo sendo ele um cobrador de impostos nomeado por Herodes - o tetrarca da Galileia.

Mateus convidou Jesus para um banquete em sua casa.

"Como poderia o filho de Deus cear com coletores de impostos e pecadores? Só a mãe seria capaz de gostar de um áulico fiscal de Herodes. Somente ela, que pariu Mateus, teria a obrigação de embalá-lo"... criticavam, com o habitual humor sarcástico da região, os céticos da obra do Nazareno.

A frase passou a representar a responsabilidade que todos temos pelos próprios atos - da qual nem Jesus Cristo escapou - embora Mateus tenha sido mais um acerto divino.

O episódio nos lembra da necessidade de pensar para além do interesse atual, antes de decidir, para depois não ter de arcar com as consequências...

A passagem também aplica-se ao quadro político brasileiro, à profunda crise em que estamos atolados, pois diz respeito a escolhas feitas por vários atores institucionais, ao longo da história recente.

Caso exemplar dessa passagem é a mea culpa assumida pelo jornalista Breno Altman, nome de expressão da esquerda brasileira entrincheirada no Partido dos Trabalhadores, em postagem nas redes sociais.

Vale a pena ler a postagem para entender o quanto é difícil lidar com as consequências do aparelhamento ideológico empreendido pela esquerda petista na instituição do Ministério Público.

Esse aparelhamento - cujos efeitos danosos sentimos a partir de sua cúpula - o homem dos bambus e flechas... se deu, todavia à custa de enormes benesses financeiras e de uma teratológica autonomia, completamente sem controle, a qual, agora, ironicamente, volta-se contra a própria esquerdalha nacional.

Mas os corvos criados não comem os olhos do PT gratuitamente. Fazem-no por absoluta obrigação institucional, ante o volume de escândalos de corrupção, falcatruas, malversação de dinheiro público, incompetências explícitas e más decisões políticas em que este partido e seus satélites ideológicos se envolveram no período de Lula e Dilma... e ainda se envolvem.

Aliás, foi no esteio do denuncismo militante que se construiu o "ativismo judicial", tão caro aos petistas que buscavam "o direito achado nas ruas" (doutrina do grande pensador jurídico esquerdista Roberto Lyra Filho) e a "justiça alternativa" (iniciada pelos magistrados de esquerda do Rio Grande do Sul nos anos 80/90). Esse ativismo resultou na desconstrução sistemática da legislação em prol de um visionário direito baseado em "princípios", "republicanismo" e "supremacia do interesse público"... Um cipoal de proselitismos que instituiu a insegurança jurídica no país como regra.

Agora, vítimas do próprio veneno, os esquerdistas, acuados, recorrem ao "garantismo" e à "restauração"...

O que ocorre com os que hoje se julgam vítimas da sanha persecutória, é, portanto, mero reflexo de suas próprias e nefastas decisões.

Vale para o PT, a propósito, o provérbio registrado pelo próprio Mateus, em seu livro inserto na Bíblia:

"Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, para que não suceda de que eles as pisem com os pés e que, voltando-se contra vós, vos dilacerem."
(Bíblia, Novo Testamento, Livro de Mateus, Capítulo 7, versículo 6)

Segue a postagem:

"cría cuervos, que te comerán los ojos."

Breno Altman - MEA CULPA

A bem da verdade, o PT é cúmplice no surgimento do Ministerio Público como um quarto poder, sem qualquer controle e com um nível de autonomia inexistente em qualquer outro país relevante do planeta.

Já na Constituinte de 1988, sob a batuta do então deputado petista Plinio de Arruda Sampaio, egresso do MP, que depois foi para o PSOL, o partido se alinhou às medidas autonomistas, sob um conceito que não escondia a contaminação das ideias liberais no pensamento de esquerda: a Procuradoria recebia status de representante da sociedade, não mais do Estado, e portanto deixava de ser um braço do poder executivo.

Essa raciocínio era fruto de uma lógica na qual a contradição entre Estado e sociedade seria o princípio reitor da democracia, mais restrita quando prevalecia o primeiro elemento, mais ampla quando predominava o segundo.

A luta de classes, nesse modo de entender o país, era apenas um pano de fundo, que se expressaria de forma protagonista nas questões econômicas e sociais, mas não naquelas relativas ao poder político.

No correr dos anos, esse viés apenas se aprofundou. Chegou ao seu clímax durante os governos Lula e Dilma, quando se chancelou como soberana a lista tríplice formatada pela corporação (através de eleição na qual participam exclusivamente os filiados de uma das sete associações de procuradores federais), escolhendo-se o mais votado como uma espécie de obrigação moral.

A brutalidade do erro hoje salta às vistas: o petismo criou jacaré no tanque. Ou, como diz o ditado espanhol: "cría cuervos, que te comerán los ojos."

Tal situação seria impensável em democracias burguesas consolidadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o secretário de Justiça é o procurador-geral, nomeado ou demitido por livre escolha do presidente da República, com poder de indicar ou deslocar procuradores federais por todo o país.

Por lá, assim como na Franca, Inglaterra ou Alemanha, somente existiria uma operação como a Lava Jato se fosse decisão do governo legitimamente eleito pelo povo. Qualquer governante ou parlamentar poderia ser investigado, é claro, mas uma operação que coloca em risco a vida econômica ou a segurança jurídica caberia apenas a quem dirige o Estado e a própria procuradoria.

O Brasil, no entanto, inventou também essa jaboticaba, que agora corrói as garantias constitucionais e a própria ordem democrática.

Mais cedo ou mais tarde, o PT e a esquerda deveriam acertar contas com esse mau passo, em uma revisão transparente do erro cometido e propondo as medidas legais cabíveis que possam repara-lo.
Por: Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e das Comissões de Política Criminal e Infraestrutura da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SP. É Vice-Presidente da Associação Paulista de imprensa - API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.