segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

TRINTA ENSINAMENTOS

Trinta ensinamentos do filósofo Olavo de Carvalho para você começar a semana um pouco mais inteligente:


1- O tempo é a substância da vida humana. O dinheiro que se perde, ganha-se de novo. O tempo, nunca.

2- Um homem maduro é aquele em cuja alma todos os sentimentos e emoções – ternura, ódio, esperança, pressa, indiferença, todos eles – são balizados pela consciência da morte.

3- Não prostitua a sua personalidade em troca da aceitação pelo grupo. É um preço muito alto a ser pago.

4- O mistério da existência não é dado a qualquer um, mas para aquele que dá tudo e mais alguma coisa em troca de obtê-lo.

5- O medo de enxergar o tamanho do mal já é sinal de submissão ao demônio.

6- Aquilo que é nobre e elevado só transparece a quem o ama.

7- Quando você vê um casal bonito e fica sinceramente feliz com a felicidade deles, é sinal que Deus o está ajudando de muito perto.

8- Deus perdoa os adúlteros, os mentirosos, os ladrões e até os assassinos, mas não perdoa quem não perdoa. Posso estar enganado, mas suspeito que no inferno há menos adúlteros do que cônjuges virtuosos que lhes negaram o perdão.

9- A mais perfeita forma de amizade somente é possível para aqueles que buscam a Verdade. Pessoas mundanas, por melhores que sejam, jamais conhecerão a dimensão espiritual de um verdadeiro amigo.

10- Se um pai conseguir educar uma criança até os cinco anos sem nunca fazê-la chorar, ela vai amá-lo, respeitá-lo, admirá-lo e obedecê-lo pelo resto da vida.

11- As pessoas que mais se angustiam na vida são aquelas que padecem de uma desesperadora falta de problemas.

12- O capital intelectual é o que define o destino das nações.

13- A paciência é o começo da coragem. E é mesmo. Se você não consegue sofrer calado, sem choramingar nem amaldiçoar o destino, muito menos vai conseguir agir certo quando surgir a oportunidade.

14- O amor é sobretudo um instinto de defender o ser amado contra a tristeza.

15- As portas do espírito só se abrem à perfeita sinceridade de propósitos.

16- Não há ingenuidade maior do que querer parecer esperto.

17- O que você quer ter sido quando morrer?

18- O Brasil só tem DOIS problemas: uma incultura MONSTRUOSA e a ânsia do brilho fácil.

19- Pare de propor soluções nacionais, seu filho da puta. Faça algo para se educar e educar as pessoas em torno.

20- Não existe caminho das pedras. O Brasil só pode ser melhorado cérebro por cérebro.

21- Já expliquei mil vezes: Não tenho nenhuma solução para os problemas nacionais, mas tenho algumas para você deixar de ser burro.

22- Estudar pouco e discutir muito é a desgraça do brasileiro.

23- À medida que vai se empoderando, o sujeito sai logo enfoderando todo mundo em torno.

24- O comodismo conservador é tão obsceno quanto o fanatismo esquerdista.

25- A moral burguesa só se preocupa com pequenos deslizes sexuais porque é covarde demais para enxergar os grandes crimes do satanismo universal.

26- Ser jovem é uma doença que o tempo cura.

27- Em grego, “idios” quer dizer “o mesmo”. “Idiotes”, de onde veio o nosso termo “idiota”, é o sujeito que nada enxerga além dele mesmo, que julga tudo pela sua própria pequenez.

28- Quanto ao politicamente correto: só crianças acreditam que mudando o nome de algo, ele passa a ser o que elas desejam.

29- O Brasil é o país em que famílias de bandidos mortos em conflito de facções nos presídios tem o direito a uma indenização do Estado e as vítimas destes mesmos criminosos da sociedade não faz jus a nada.

30- A vocação é algo para o qual você tem uma resistência específica. A minha resistência específica é a burrice humana. 
Por: Marlon Belotti 
Do site: https://www.facebook.com/marlon.belotti/posts/1433621706736733

sábado, 2 de dezembro de 2017

BUTLER EM RECUO ESTRATÉGICO

“Escrevi essas notas por ocasião da leitura do artigo de Judith Butler na Folha de São Paulo em 20 de novembro de 2017, numa breve meditação filosófica. O texto é maior que as postagens habituais, mas penso que valha a pena sua leitura atenta e reflexão”


I. RECUO ESTRATÉGICO

Professora do departamento de retórica e literatura comparada da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e diretora do Consórcio Internacional de Teoria Crítica, não é de se admirar que Judith Butler remodele seu discurso para torná-lo mais palatável ao ouvido sensível dos brasileiros, sobretudo após a onda de protestos causados por sua última vinda ao Brasil.

“Um passo em frente, dois pra trás”. Este é o título do livro que Vladimir Lênin publicou em 1904, e que, de certo modo, marcou sempre o modus procedendi de toda a esquerda quando pretende avançar por cima dos obstáculos.

Quando Fidel Castro assumiu o poder em Cuba em nome da democracia e contra a ditadura batistiana, em seguida, implantou a sua ditadura. Hugo Chávez fez a mesma coisa, apresentou um discurso democrático para, na sequência, impor seu totalitarismo.

Até mesmo o ex-presidente Lula fez isso. Quando tentava se eleger, nos anos 90, era rechaçado pela população. Então, com o auxílio do marqueteiro Duda Mendonça, repaginou-se, dando à luz o “Lulinha paz e amor”, que o elevou à presidência da república em 2002.

Agora, Butler segue a mesma estratégia. Reapresenta a sua teoria em recortes mais essencialistas e até moralistas, para fazê-la avançar.

II. A TEORIA DE GÊNERO BUTLERIANA

Apesar de aliviar as tintas em seu texto, qualquer pessoa que tenha tido um contato com a teoria de gênero sabe que esta transcende em muito o objetivo de atender os indivíduos que não correspondem às expectativas relativas ao seu gênero (segundo o artigo de Butler, “ao gênero atribuído no nascimento”).

Como ela mesma afirma, “meu trabalho consiste em delinear a última etapa da batalha filosófica contra a vida do impulso, o esforço filosófico de domesticar o desejo como uma instância de lugar metafísico, a luta por aceitar o desejo como princípio de deslocamento metafísico e dissonância psíquica e o esforço orientado por deslocar o desejo com o fim de derrotar a metafísica da identidade” (Subjects of desire, p. 15).

Obviamente, para ela, como o desejo não se realiza de acordo com um sujeito que lhe dê suporte, o “eu” seria apenas um discurso. Não haveria um ser por detrás da performance de gênero. Seriam estas performances, estas ações, que constituiriam a ficção do sujeito, pois esta ficção seria requerida pelo discurso que nós herdamos da metafísica da substância, discurso que, segundo ela, precisamos superar (Problemas de gênero, p. 56).

Masculinidade e feminilidade, portanto, para ela, são ações desligadas da biologia. Ela afirma, inclusive, que “a ‘presença’ das assim chamadas convenções heterossexuais nos contextos homossexuais, bem como a proliferação de discursos especificamente gays da diferença sexual, como no caso de buth (a lésbica masculinizada) e femme (a lésbica feminilizada) como identidades históricas de estilo sexual, não pode ser explicada como representação quimérica de identidades originalmente heterossexuais. E tampouco elas podem ser compreendidas como a insistência perniciosa de construtos heterossexistas na sexualidade e na identidade gays. A repetição de construtos heterossexuais nas culturas sexuais gay e hétero bem pode representar o lugar inevitável de desnaturalização das categorias de gênero” (Problemas de gênero, p. 66).

Ademais, em diálogo com Witting, ela afirma que “a tarefa das mulheres é assumir a posição do sujeito falante autorizado e derrubar tanto a categoria de sexo como o sistema da heterossexualidade compulsória que está em sua origem. Para ela, a linguagem é o conjunto de atos, repetidos ao longo do tempo, que produzem efeitos de realidade que acabam sendo percebidos como ‘fatos’. Considerada coletivamente, a prática repetida de nomear a diferença sexual criou essa aparência de divisão natural. A ‘nomeação’ do sexo é um ato de dominação e coerção, um ato performativo, institucionalizado que cria e legisla a realidade social pela exigência de uma construção discursiva/perceptiva dos corpos, segundo os princípios da diferença sexual” (Problemas de gênero, p. 200).

Diante disso, soa completamente retórica e maquiada a seguinte pergunta de Butler em seu artigo da Folha: “O livro (Problemas de gênero) negou a existência de uma diferença natural entre os sexos? De maneira alguma, embora destaque a existência de paradigmas científicos divergentes para determinar as diferenças entre os sexos e observe que alguns corpos possuem atributos mistos que dificultam sua classificação”.

Então, Butler admite que existe a possibilidade de uma classificação objetiva, baseada na diferença biológica dos corpos? Obviamente, trata-se, aqui, de uma ginástica retórica para desorientar os menos informados em sua teoria.

III. IDEOLOGIA? SIM.

Segundo Butler, “em geral, uma ideologia é entendida como um ponto de vista que é tanto ilusório quanto dogmático, algo que ‘tomou conta’ do pensamento das pessoas de uma maneira acrítica. Meu ponto de vista, entretanto, é crítico, pois questiona o tipo de premissa que as pessoas adotam como certas em seu cotidiano” (artigo para a Folha).

O conceito de gênero é crítico apenas no sentido da “teoria crítica”, quer dizer, enquanto instrumento para criticar a realidade inteira, como ela mesma reconhece neste seu texto.

Contudo, como de praxe na teoria crítica, deve-se criticar tudo, menos a metodologia crítica ou seus instrumentos metodológicos críticos como, no caso, o conceito de gênero.

Ela mesma afirma que “se a noção estável de gênero dá mostras de não mais servir como premissa básica da política feminista, talvez um novo tipo de política feminista seja agora desejável para contestar as próprias reificações do gênero e da identidade – isto é, uma política feminista que tome a construção variável da identidade como um PRÉ-REQUISITO METODOLÓGICO E NORMATIVO, senão como um OBJETIVO POLÍTICO” (Problemas de gênero, p. 25).

Em outras palavras, a noção de gênero como identidade variável deve ser uma PREMISSA, aliás, a qual ela não procura demonstrar, antes, apenas apresenta de modo dogmático. A práxis da militância de gênero, ademais, sempre foi a de fazer com que a teoria de gênero “tomasse de conta” da sociedade inteira sem que ninguém se desse conta disso, portanto, de modo acrítico.

Aliás, por que fazem tanta questão de ensinar gênero para as criancinhas? Será que não é justamente porque as mesmas não têm suficientemente desenvolvida a sua capacidade crítica?

Portanto, segundo as próprias determinações de Butler, a sua teoria de gênero cabe muito bem nos limites daquilo que ela entende por uma ideologia.

Não, quem criou a ideologia de gênero não foi Joseph Ratzinger nem muito menos Jorge Scala. O “pai” da “criança” é a Judith Butler, mesmo!

IV. ESSENCIALISMO E A FALÁCIA DA ARQUEOLOGIA FOUCAULTIANA

Segundo Butler, “a noção de paródia de gênero aqui definida não presume a existência de um original que essas identidades parodísticas imitem (ela está falando da própria identidade de gênero…) Esse deslocamento perpétuo constitui uma fluidez de identidades que sugere uma abertura à ressignificação e à recontextualização; a proliferação parodística priva a cultura hegemônica e seus críticos da reinvindicação de identidades de gênero naturalizadas ou essencializadas” (Problemas de gênero, p. 238).

Servindo-se da metodologia própria da teoria crítica, Butler cria uma caricatura discursiva e começa a desconstruí-la, como se estivesse desconstruindo a realidade. Na verdade, ela está tão absorvida por seu próprio discurso que crê firmemente nele, substituindo a realidade por ele.

Deste modo, atribui a homem e mulher, termos que aparecem para ela sempre entre aspas, status de identidade essencialista, naturalista, sexista, binária, heterossexista, heteronormativa, fálica, reificada etc.

Para comprovar a ficção da identidade, ela analisa os discursos sobre o masculino e o feminino como se os mesmos fossem o homem e a mulher em si.

Aqui, ela é epistemologicamente dependente da metodologia de Foucault, o qual, partindo do pressuposto que a verdade não existe, passa a rastrear a história das “verdades” para demonstrar que as mesmas são apenas a projeção de um determinado poder regulador. Isto é aquilo que ele chama de arqueologia do saber.

Ora, se quiséssemos, por exemplo, fazer a arqueologia da ideia de “lei da gravidade”, obteríamos uma infinidade de discursos contraditórios e facilmente chegaríamos à conclusão de que a “teoria da gravidade não existe, é apenas um discurso de poder”. No entanto, se você se jogar da janela, de qualquer modo, com ou sem Foucault, vai se espatifar do mesmo modo!

Em outras palavras, estamos diante de um jogo de palavras, de um embaralhamento de discursos, daquilo que a filosofia chama de falácia. A realidade continua intocada, apenas se dribla o interlocutor com um lance desconstrucionista. É aquilo que no futebol chama-se de pedalada.

Como é possível que este tipo de artifício possa convencer alguém? Bem… Como ensinou Aristóteles (tanto nos Analíticos quanto no Peri hermeneias), não é fácil conhecer a essência das coisas. Precisamos proceder a um processo abstrativo complexo, que supõe um trabalho mental consideravelmente sofisticado. A história dos discursos pode ser a história dos bem ou mal sucedidos, e dos mal ou bem intencionados, esforços por alcançar a quididade, a essência das coisas reais. Por isso, o método foucaultiano é sofístico e pode enganar.

V. SOFISTAS DE GÊNERO

Butler é adepta da subversão da identidade através de atos corporais subversivos, típicos do movimento queer, quer dizer, a atuação de performances revolucionárias que choquem aquilo que ela chama de heteronormatividade.

Outra autora americana de gênero, Joan Scott, é mais ortodoxa, do ponto de vista foucaultiano: ela pretende reescrever a história a partir da noção de gênero (Gender and the politics of history, Nova York, 1999).

Estas são as duas autoras principais. Digamos, as mais representativas dos estudos de gênero.

Contudo, existem mais de 40 teorias diferentes de gênero, todas em disputa entre si. São modos diferentes de apresentar a mesma ideia, a saber: o gênero é um construto desligado da identidade sexual, vale dizer, biológica.

Este também é um expediente da teoria crítica: colocar um grupo imenso de pessoas para criticar implacavelmente a realidade, metralhando-a em todos os sentidos possíveis, sem necessariamente preocupar-se em justificar a própria crítica.

Uma pessoa que quiser encarar toda a aquarela dos estudos de gênero poderá gastar toda a vida apenas ocupando-se de entender as picuinhas intelectuais que os diferentes ativistas nutrem dialeticamente entre si. Decerto ficará perdido nesse labirinto sem saída e, completamente intoxicado de informações contraditórias, acabará por adotar uma entre elas, trocando a realidade pelo discurso.

Isso também aconteceu nos tempos de Sócrates (cf. Platão, O Sofista). Os sofistas eram retóricos pagos pelos políticos da época para convencerem o povo das ideias destes últimos. Destruíam a base mesma do saber, negando a existência do ser e da verdade, e submetiam o povo às suas opiniões. Sócrates os resistiu, pagou o preço de sua vida por isso, mas ao fim e ao cabo, desapareceram os sofistas e prevaleceu a verdadeira filosofia.

Hoje, os críticos, os desconstrucionistas, os ideólogos de gênero são os novos sofistas, pagos pelas fundações internacionais para convencerem o povo de que não existe a verdade, o ser, a essência, e imporem o seu totalitarismo disfarçado de democracia.

Com efeito, Judith Butler veio ao Brasil financiada pela Fundação Mellon para falar de democracia em nome do Consórcio Internacional de Teoria Crítica, fundado no final do ano passado com uma verba doada pela mesma Fundação de 1,5 milhões de dólares (vide o site do próprio Consórcio).

Submetam os ideólogos de gênero à arqueologia de suas ideias e à genealogia dos poderes que estão por trás deles, rastreiem a rota do dinheiro e verão que isso nada tem de amor desinteressado à humanidade.

VI. PEDOFILIA

Butler alega que a Igreja está por trás da estigmatização social da sua teoria de gênero e se defende da acusação de corruptora de crianças acusando a Igreja Católica de ter perdido a sua autoridade moral por proteger pedófilos em seu seio.

A generalização precipitada é um tipo de falácia de que abusam estes ideólogos em sua aversão ao catolicismo. É verdade que alguns delinquentes se esconderam na Igreja e que houve quem se omitisse em sua acusação, mas a Igreja os puniu severissimamente e, sobretudo, nunca os respaldou, justificando doutrinalmente seu desvio de conduta.

Ao contrário, o movimento feminista tem expoentes que defenderam abertamente o sexo com menores, e este não é um privilégio de Shulamith Firestone (The dialetic of sex, p. 215). Há quem queira despatologizar a pedofilia ou transformá-la numa opção sexual respeitável.

Butler apela para a teoria da projeção, sugerindo que os que a acusam de favorecer a pedofilia estão apenas lançando sobre ela o próprio vexame. Na verdade, a generalização precipitada é uma falácia em qualquer direção que se a aplique e o uso deste tipo de sofisma apenas demonstra malícia ou despreparo filosófico.

VII. FILOSOFIA, VERDADE E DEMOCRACIA

Algumas pessoas que trabalham com comunicação vieram queixar-se de que os protestos contra a vinda de Butler ao Brasil apenas projetaram-na ainda mais.

Tenho a impressão de que isto, do ponto de vista filosófico, não é necessariamente assim. Quero dizer apenas que os ideólogos sempre se favoreceram do anonimato e da difusão de ideias não conferidas, exatamente como Butler diz em seu artigo.

Quem coloca a questão nestes termos assume sem percebê-lo a premissa de que a verdade e o erro são equivalentes. Acontece que a força do erro está na hegemonia. Por isso, eles necessitam impô-la para todo o mundo. Mas a força da verdade está nela mesma!

Hoje, a verdade precisa mais de homens com uma verdadeira mente filosófica que da propaganda, é ela que gera os propagandistas, os comunicadores, a cultura e tudo o mais. Foi sobre estes cânones que se erigiu a civilização ocidental e é contra eles que estes bárbaros a estão destruindo.

Uma democracia que se propusesse como alternativa à verdade, caricaturizando-a como autoritarismo, apenas seria uma ditadura disfarçada, a imposição de uma hegemonia.

Notem que a própria Butler defende a identidade de suas ideias e protesta contra falsificações. E com razão. Contudo, ela o faz apenas em benefício de sua crítica, sem submeter-se a uma autocrítica.

Como afirma Butler em seu artigo na Folha, “liberdade não é – nunca é – a liberdade de fazer o mal. Se uma ação faz mal a outra pessoa ou a priva de liberdade, essa ação não pode ser qualificada como livre – ela se torna uma ação lesiva”.

No caso, a ideologia de gênero não nos quer apenas privar da identidade, mas também da liberdade e da verdade. De fato, se ninguém é alguém, como pode ter direitos?
Por: Pe. José Eduardo de Oliveira e Silva Do site: http://midiasemmascara.org/


terça-feira, 28 de novembro de 2017

LONGA NOITE

Se há uma coisa que, quanto mais você perde, menos sente falta dela, é a inteligência. Uso a palavra não no sentido vulgar de habilidadezinhas mensuráveis, mas no de percepção da realidade. Quanto menos você percebe, menos percebe que não percebe. Quase que invariavelmente, a perda vem por isso acompanhada de um sentimento de plenitude, de segurança, quase de infalibilidade. É claro: quanto mais burro você fica, menos atina com as contradições e dificuldades, e tudo lhe parece explicável em meia dúzia de palavras. Se as palavras vêm com a chancela da intelligentzia falante, então, meu filho, nada mais no mundo pode se opor à força avassaladora dos chavões que, num estalar de dedos, respondem a todas as perguntas, dirimem todas as dúvidas e instalam, com soberana tranqüilidade, o império do consenso final. Refiro-me especialmente a expressões como “desigualdade social”, “diversidade”, “fundamentalismo”, “direitos”, “extremismo”, “intolerância”, “tortura”, “medieval”, “racismo”, “ditadura”, “crença religiosa” e similares. O leitor pode, se quiser, completar o repertório mediante breve consulta às seções de opinião da chamada “grande imprensa”. Na mais ousada das hipóteses, não passam de uns vinte ou trinta vocábulos. Existe algo, entre os céus e a terra, que esses termos não exprimam com perfeição, não expliquem nos seus mais mínimos detalhes, não transmutem em conclusões inabaláveis que só um louco ousaria contestar? Em torno deles gira a mente brasileira hoje em dia, incapaz de conceber o que quer que esteja para além do que esse exíguo vocabulário pode abranger.


Que essas certezas sejam ostentadas por pessoas que ao mesmo tempo fazem profissão-de-fé relativista e até mesmo neguem peremptoriamente a existência de verdades objetivas, eis uma prova suplementar daquilo que eu vinha dizendo: quanto menos você entende, menos entende que não entende. Ao inverso da economia, onde vigora o princípio da escassez, na esfera da inteligência rege o princípio da abundância: quanto mais falta, mais dá a impressão de que sobra. A estupidez completa, se tão sublime ideal se pudesse atingir, corresponderia assim à plena auto-satisfação universal.

A mais eloqüente indício é o fato de que, num país onde há trinta anos não se publica um romance, uma novela, uma peça de teatro que valha a pena ler, ninguém dê pela falta de uma coisa outrora tão abundante, tão rica nestas plagas, que era a – como se chamava mesmo? – “literatura”. Digo que essa entidade sumiu porque – creiam – não cesso de procurá-la. Vasculho catálogos de editoras, reviro a internet em busca de sitesliterários, leio dezenas de obras de ficção e poesias que seus autores têm o sadismo de me enviar, e no fim das contas encontrei o quê? Nada. Tudo é monstruosamente bobo, vazio, presunçoso e escrito em língua de orangotangos. No máximo aponta aqui e ali algum talento anêmico, que para vingar precisaria ainda de muita leitura, experiência da vida e uns bons tabefes.

Mas, assim como não vejo nenhuma obra de literatura imaginativa que mereça atenção, muito menos deparo, nas resenhas de jornais e nas revistas “de cultura” que não cessam de aparecer, com alguém que se dê conta do descalabro, do supremo escândalo interectual que é um país de quase duzentos milhões de habitantes, com uma universidade em cada esquina, sem nenhuma literatura superior. Ninguém se mostra assustado, ninguém reclama, ninguém diz um “ai”. Todos parecem sentir que a casa está na mais perfeita ordem, e alguns até são loucos o bastante para acreditar que o grande sinal de saúde cultural do país são eles próprios. Pois não houve até um ministro da Cultura que assegurou estar a nossa produção cultural atravessando um dos seus momentos mais brilhantes, mais criativos? Media, decerto, pelo número de shows de funk.

Estão vendo como, no reino da inteligência, a escassez é abundância?

Mas o pior não é a penúria quantitativa.

Da Independência até os anos 70 do século XX, a história social e psicológica do Brasil aparecia, translúcida, na literatura nacional. Lendo os livros de Machado de Assis, Raul Pompéia, Lima Barreto, Antônio de Alcântara Machado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado, Marques Rebelo, José Geraldo Vieira, Ciro dos Anjos, Octávio de Faria, Anníbal M. Machado e tantos outros, obtínhamos a imagem vívida da experiência de ser brasileiro, refletida com toda a variedade das suas manifestações regionais e epocais e com toda a complexidade das relações entre alma e História, indivíduo e sociedade.

A partir da década de 80, a literatura brasileira desaparece. A complexa e rica imagem da vida nacional que se via nas obras dos melhores escritores é então substituída por um sistema de estereótipos, vulgares e mecânicos até o desespero, infinitamente repetidos pela TV, pelo jornalismo, pelos livros didáticos e pelos discursos dos políticos.

No mesmo período, o Brasil sofreu mudanças histórico-culturais avassaladoras, que, sem o testemunho da literatura, não podem se integrar no imaginário coletivo nem muito menos tornar-se objeto de reflexão. Foram trinta anos de metamorfoses vividas em estado de sono hipnótico, talvez irrecuperáveis para sempre.

O tom de certeza definitiva com que qualquer bobagem politicamente correta se apresenta hoje como o nec plus ultra da inteligência humana jamais teria se tornado possível sem esse longo período de entorpecimento e de trevas, essa longa noite da inteligência, ao fim da qual estava perdida a simples capacidade de discernir entre o normal e o aberrante, o sensato e o absurdo, a obviedade gritante e o ilogismo impenetrável.
Por: Olavo de CarvalhoDiário do Comércio, 4 de junho de 2012 
Do site: http://www.olavodecarvalho.org

sábado, 25 de novembro de 2017

O NOVO IMBECIL COLETIVO

Quando entre os anos 80 e 90 comecei a redigir as notas que viriam a compor O Imbecil Coletivo, os personagens a que ali eu me referia eram indivíduos inteligentes, razoavelmente cultos, apenas corrompidos pela auto-intoxicação ideológica e por um corporativismo de partido que, alçando-os a posições muito superiores aos seus méritos, deformavam completamente sua visão do universo e de si mesmos. Foi por isso que os defini como “um grupo de pessoas de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem com a finalidade de imbecilizar-se umas às outras”.


Essa definição já não se aplica aos novos tagarelas e opinadores, que atuam sobretudo através da internete que hoje estão entre os vinte e os quarenta anos de idade. Tal como seus antecessores, são pessoas de inteligência normal ou superior separadas do pleno uso de seus dons pela intervenção de forças sociais e culturais. A diferença é que essas forças os atacaram numa idade mais tenra e já não são bem as mesmas que lesaram os seus antecessores.

Até os anos 70, os brasileiros recebiam no primário e no ginásio uma educação normal, deficiente o quanto fosse. Só vinham a corromper-se quando chegavam à universidade e, em vez de uma abertura efetiva para o mundo da alta cultura, recebiam doses maciças de doutrinação comunista, oferecida sob o pretexto, àquela altura bastante verossímil, da luta pela restauração das liberdades democráticas. A pressão do ambiente, a imposição do vocabulário e o controle altamente seletivo dos temas e da bibliografia faziam com que a aquisição do status de brasileiro culto se identificasse, na mente de cada estudante, com a absorção do estilo esquerdista de pensar, de sentir e de ser – na verdade, nada mais que um conjunto de cacoetes mentais.

O trabalho dos professores-doutrinadores era complementado pela grande mídia, que, então já amplamente dominada por ativistas e simpatizantes de esquerda, envolvia os intelectuais e artistas de sua preferência ideológica numa aura de prestígio sublime, ao mesmo tempo que jogava na lata de lixo do esquecimento os escritores e pensadores considerados inconvenientes, exceto quando podia explorá-los como exceções que por sua própria raridade e exotismo confirmavam a regra.

Criada e mantida pelas universidades, pelo movimento editorial e pela mídia impressa, a atmosfera de imbecilização ideológica era, por assim dizer, um produto de luxo, só acessível às classes média e alta, deixando intacta a massa popular.

A partir dos anos 80, a elite esquerdista tomou posse da educação pública, aí introduzindo o sistema de alfabetização “socioconstrutivista”, concebido por pedagogos esquerdistas como Emilia Ferrero, Lev Vigotsky e Paulo Freire para implantar na mente infantil as estruturas cognitivas aptas a preparar o desenvolvimento mais ou menos espontâneo de uma cosmovisão socialista, praticamente sem necessidade de “doutrinação” explícita.

Do ponto de vista do aprendizado, do rendimento escolar dos alunos, e sobretudo da alfabetização, os resultados foram catastróficos.

Não há espaço aqui para explicar a coisa toda, mas, em resumidas contas, é o seguinte. Todo idioma compõe-se de uma parte mais ou menos fechada, estável e mecânica – o alfabeto, a ortografia, a lista de fonemas e suas combinações, as regras básicas da morfologia e da sintaxe — e de uma parte aberta, movente e fluida: o universo inteiro dos significados, dos valores, das nuances e das intenções de discurso. A primeira aprende-se eminentemente por memorização e exercícios repetitivos. A segunda, pelo auto-enriquecimento intelectual permanente, pelo acesso aos bens de alta cultura, pelo uso da inteligência comparativa, crítica e analítica e, last not least, pelo exercício das habilidades pessoais de comunicação e expressão. Sem o domínio adequado da primeira parte, é impossível orientar-se na segunda. Seria como saltar e dançar antes de ter aprendido a andar. É exatamente essa inversão que o socioconstrutivismo impõe aos alunos, pretendendo que participem ativamente – e até criativamente – do “universo da cultura” antes de ter os instrumentos de base necessários à articulação verbal de seus pensamentos, percepções e estados interiores.

O socioconstrutivismo mistura a alfabetização com a aquisição de conteúdos, com a socialização e até com o exercício da reflexão crítica, tornando o processo enormemente complicado e, no caminho, negligenciando a aquisição das habilidades fonético-silábicas elementares sem as quais ninguém pode chegar a um domínio suficiente da linguagem. 

O produto dessa monstruosidade pedagógica são estudantes que chegam ao mestrado e ao doutorado sem conhecimentos mínimos de ortografia e com uma reduzida capacidade de articular experiência e linguagem. Na universidade aprendem a macaquear o jargão de uma ou várias especialidades acadêmicas que, na falta de um domínio razoável da língua geral e literária, compreendem de maneira coisificada, quase fetichista, permanecendo quase sempre insensíveis às nuances de sentido e incapazes de apreender, na prática, a diferença entre um conceito e uma figura de linguagem. Em geral não têm sequer o senso da “forma”, seja no que lêem, seja no que escrevem.

Aplicado em escala nacional, o socioconstrutivismo resultou numa espetacular democratização da inépcia, que hoje se distribui mais ou menos equitativamente entre todos os jovens brasileiros estudantes ou diplomados, sem distinções de credo ou de ideologia. O novo imbecil coletivo, ao contrário do antigo, não tem carteirinha de partido. Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 30 de outubro de 2012 Do site: http://www.olavodecarvalho.org

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

SALVE GANGA ZUMBA E ZUMBI!


O novo quilombo brasileiro é a educação

Monumento a Zumbi dos Palmares - Bahia


20 de novembro marca do dia em que Zumbi desparece no sangue da batalha contra Domingos Jorge Velho e seus mercenários, contratados pela Corôa Portuguesa para destruir o Quilombo dos Palmares. Zumbi morre para ganhar vida eterna na história. Zumbi é um termo derivado do quimbundo "nzumbi", que significa "duende", "homem morto", com "nzambi" quicongo, que significa "deus". Daí a lenda do homem que reina mesmo depois de morto.

O dia de Zumbi do Palmares, portanto, é o dia de comemorar a irmandade. Dia de celebrar as firmes e profundas raízes africanas na história do Brasil. Dia de meditarmos sobre os milhões de irmãos que aqui chegaram acorrentados, vendidos em praça pública e escravizados... por quatro séculos de regime imperial, cruel e racista.

Os números e datas de nossa história revelam que a vergonha da escravidão combatida por Zumbi, praticamente cessou "ontem"...

De fato, o Brasil chafurdou na ignorância e ignomínia por quase quatrocentos anos, e busca recuperar o tempo perdido, entre idas e vindas, a pouco mais de cem. Em quinhentos e dezessete anos de história, o brasileiro só pôde ler o primeiro jornal e editar o primeiro livro há duzentos e dez anos. O primeiro curso universitário brasileiro foi implementado efetivamente há cento e oitenta e seis e... o país livrou-se da escravidão há cento e trinta. 

O Brasil foi o último país do mundo ocidental a retirar o trabalho escravo do seu modo oficial de produção. Isso significa que há, no Brasil, quem ainda viva para contar uma história de um pai ou mãe que tenha sofrido com a escravidão...

Daí a importância da data, que não deslustra a comemoração da Lei Aurea, mas vai muito adiante dela. Resgata a dignidade que só é auferida na luta, na ação afirmativa.

O quilombo de Zumbi, o quilombo dos Palmares, resgata a busca pela liberdade. Revela que a exploração do homem pelo homem no Brasil não se deu sem resistência e luta pela dignidade.

Ganga Zumba e depois Zumbi, representam a formação de uma organização territorial de resistência em pleno estado colonial português. Sequer os arraiais brancos, ao longo da história, incluso os episódios de resistência bandeirante ou de guararapes, tiveram tamanha expressão econômica, territorial e mesmo militar.

Milhões de irmãos representam essa luta. Expressam a vitória sobre o preconceito e simbolizam superação com mérito pessoal, na construção de uma nação plural e justa.

Mas o quilombo é muito mais que um arraial.

O quilombo substituiu a estrutura familiar no organismo social da sociedade escravagista colonial.

Aos escravos, no Brasil, era negado desenvolver família. Casais eram separados, os filhos vendidos.
O senso de irmandade, de unidade, de proteção familiar e de acumulação de capital, portanto, só pôde firmar-se no quilombo.

O quilombo foi a unidade comunal construída no Brasil pelos que buscavam a liberdade. Por séculos, substituiu a família negada aos negros.

Somente após a Lei Aurea, o quilombo pôde ver-se aos poucos substituído pela unidade familiar, entre e com os afrodescendentes. Essa substituição, que conta com pouco mais de três gerações, só pôde ser obtida ao abrigo da cultura quilombola, transferida às comunidades organizadas nas favelas e mocambos, nos arredores dos centros urbanos brasileiros.

A família é a célula da sociedade e, também, fonte da acumulação do capital. A riqueza se firma com a unidade familiar.

A família, no entanto, foi negada aos negros no Brasil, por decisão do Estado.

Para se ter ideia do que isso representa, nos EUA, graças à formação puritana, as famílias afrodescendentes puderam se organizar ainda no regime escravocrata. 

Aliás, o regime de propriedade privada americana (que não existia no Brasil das sesmarias), permitiu aos negros livres organizarem sua primeira universidade já em 1830, sendo que hoje, nos EUA, há mais de cem campus universitários afroamericanos. Isso torna o histórico de lutas e de afirmação racial norte americano algo totalmente diferenciado.

Não há paralelo entre a escravidão nos EUA e no Brasil. Aqui, a crueldade e a perversão compunham a cultura.

Se os negros americanos já possuiam sua universidade em 1830. Os brancos brasileiros ainda vegetavam na ignorância e no analfabetismo - massacrando negros, que não podiam formar família.

A família foi, portanto, duramente conquistada pelo negro brasileiro.

Quando os imigrantes chegaram, a partir da Lei de 1850, até o regime de terras particulares foi instituído para abrigar suas famílias. Com a imigração, o regime da propriedade privada foi instituído no Brasil.

Aos negros...a família ainda era negada, pois neste mesmo ano se estabeleceu que o filho do negro nasceria livre (mas os pais, continuariam escravos).

A propriedade, "dada" aos imigrantes, por lei, foi negada no mesmo ano, por lei, aos negros.
Mais de trinta anos depois, milhões de escravos viram-se livres...sem família, sem casa, sem terras, sem sobrenome...

Aliás, nunca houve qualquer lei que organizasse uma distribuição de terras ou conferisse indenização de qq espécie aos milhões de escravos libertos e deixados ao abandono.

Pelo contrário. O governo brasileiro QUEIMOU todos os registros. Impedindo até mesmo que os afrodescendentes pudessem conhecer sua origem.

Em meio a tamanha desproporção de tratamento, é criminoso comparar a economia da imigração estrangeira com a deseconomia da escravidão brasileira.

Nesse massacre secular, os negros que se destacaram, superando todas as barreiras, merecem todas as honras de heróis.


Logo da Faculdade Zumbi dos Palmares - 87% de alunos afrodescendentes - 60% de professores-doutores negros

Guardo isso, com muito orgulho, no meu sangue. Meu avô materno, Antenor Alves Pinheiro, é símbolo dessa luta gloriosa. Antenor foi um privilegiado, pois ele e seu irmão Amador já eram fruto de uma família constituída, filhos do Antenor- pai, homem livre que viveu no Espírito Santo, terra dos Rezende, no século XIX.

Enquanto Amador resolveu seguir o comércio no Rio de Janeiro, Antenor partiu para tentar a vida, como padeiro, no interior de Goiás, na passagem do século. Ali, abriu seu próprio estabelecimento, comprou terra, ampliou os negócios e casou com uma moça branca, descendente de um Rezende que havia também partido para Goiás. Com Dona Julieta gerou nove filhos, todos criados com amor e sacrifício.

Antenor não recebeu seu espaço na sociedade de graça. Conquistou-o com luta. Enfrentou o preconceito covarde, que não se revela, mas é infligido em doses mortais e cotidianas. Ganhou o respeito no trabalho, na inteligência e não raro na bala. Enquanto desenvolvia seus negócios, defendia suas ideias e posições e não fugia ao enfrentamento político. Isso, no rude interior do sertão goiano, na primeira metade do século passado.

Com dignidade, Antenor fez seus filhos estudarem nos colégios de primeira linha. Ia visitá-los nos colégios maristas montado em sua motocicleta - detalhe que expressa toda a diferença, nos anos 30.
Antenor era cuidafos com a formação da prole. Embora duro e rigoroso, patrocinava um reforço nas férias, em matemática e...música. Fez todos os filhos diplomados, capazes de criar e formar netos igualmente fortes e cidadãos. Seus netos, hoje, já formam mais de 30 núcleos de familias Pinheiro... todos vitoriosos.

Antenor é um herói. Está presente em nossa vida e ligado ao nosso passado. Ao seu modo, a partir do seu pai, meu bisavô construiu com sucesso a estrutura familiar, permitindo a acumulação de capital.

Isso, no entanto, ainda é exceção. A economia afrodescendente ainda mantém uma base na estrutura quilombola, ainda permanece refém de uma estrutura fundiária dos tempos das sesmarias, concentrada nos mocambos e favelas e assediada pelo Estado.

A classe média brasileira, hoje, já é ocupada em sua maioria por afrodescendentes. É bastante miscigenada, mas ainda guarda no fundo do baú as fotografias e registros dos negros antepassados - um "passado negro" muitas vezes não registrado.

Daí a importância de relembrar Zumbi. O significado do quilombo.



José Vicente - Reitor da Zumbi dos Palmares - o novo Quilombo é a educação





No presente, quero deixar aqui minha homenagem a um irmão de lutas e companheiro de jornadas, Prof. Jose Vicente, o Magnífico Reitor das Faculdades Zumbi dos Palmares.

Como os vários outros heróis negros da história cotidiana, Vicente também enfrentou, e ainda enfrenta, a enorme muralha do preconceito racial, que só cede pelo temor atávico do Estado brasileiro à figura libertadora de Zumbi.

Jose Vicente resgatou, nos anos 90, o projeto dos negros americanos de 1830: fundou a primeira faculdade afrodescendente ao sul do equador, nos moldes americanos. Pôs de pé, no Brasil, sem ajuda (pelo contrário), um projeto diferenciado de educação que permitiu como nunca antes, ampla inserção do negro no mercado de trabalho e na academia.

O novo quilombo brasileiro é a educação.





Por: José Vicente e Pinheiro Pedro

Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB. É Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View. Pinheiro Pedro é um dos fundadores da Afrobrás, presidida pelo Prof. José Vicente, e mantenedora das Faculdades Zumbi dos Palmeres. Do site: http://www.theeagleview.com.br/

terça-feira, 21 de novembro de 2017

TRÊS VEGAS POR DIA


Fala-se muito por estes dias, e com razão, do horrendo massacre perpetrado por um louco assassino em Las Vegas, nos Estados Unidos. Afinal, em cerca de dez minutos foram assassinadas tantas pessoas quanto as que o são em oito horas no Brasil. A cada dia temos aqui, em média, 170 assassinatos, cerca de três vezes o saldo macabro do massacre americano. Isto não é normal, e isto não é aceitável. É uma situação crítica, em que a cada dia lemos mais e mais notícias de mortes, a cada dia nós mesmos e nossos amigos, familiares e conhecidos defrontam-se com a violência real e cotidiana, perdendo bens ou mesmo a vida para assaltantes, e nada é feito pelas autoridades constituídas.

A população brasileira decidiu em plebiscito, 12 anos atrás, que não concordava com a absurda legislação que retirou do alcance do cidadão as armas de fogo com que poderia, talvez, defender-se. Afinal, ao colocar as armas fora da lei, os políticos brasileiros fizeram com que apenas os fora-da-lei tivessem acesso a elas. Isto só fez aumentar o regime de medo constante e de domínio do crime. Os mesmos políticos, todavia, recusaram-se a aceitar o resultado do plebiscito e vêm se fazendo de mortos desde então, mantendo a legislação absurda que continua garantindo que o Brasil seja o paraíso dos criminosos, em que um revólver enferrujado torna um bandido o rei do mundo, e onde as cadeias parecem ter portas rotatórias de banco, com pelo menos um preso saindo a cada outro que entra. Temos até mesmo a vergonha nacional de vermos estupradores que atacaram centenas de mulheres andando livres, e matricidas saindo da cadeia para comemorar o dia das mães. Assim, senhores, não dá.

Uma situação como a brasileira, em que a criminalidade mata cotidianamente mais que em uma guerra – as estatísticas de mortos por dia do Afeganistão e da Síria são menores que as nossas! –, deveria fazer do combate ao crime a prioridade absoluta daqueles que compõem o governo. O governo, não nos esqueçamos, é feito de pessoas; dois dos poderes (Executivo e Legislativo) são entregues a políticos eleitos, e um a funcionários concursados ou nomeados (Judiciário). Mas todos eles são pessoas, com interesses próprios frequentemente divergentes dos da população como um todo. O combate ao crime não parece interessar aos governantes, eles mesmos protegidos por seguranças armados e com raro contato com a população mais pobre, que é a que mais sofre a criminalidade. Afinal, suas prioridades são outras.

Por exemplo, acaba de ser aprovada uma cláusula de barreira para acesso ao por si já obsceno fundo eleitoral – uma distribuição de dinheiro público diretamente proporcional ao poder dos partidos, criada com o fim evidente de manter no poder quem nele já está e impedir que entre gente nova que não tenha o rabo preso com a corja atualmente dominante. Com a cláusula de barreira, os partidos menores (ou seja, quaisquer partidos que ainda não tenham conseguido, graças aos conchavos e à politicagem da pior espécie que dominam a política brasileira, eleger um número maior de deputados) ficarão de fora da boca livre.

Ora, já não faz sentido algum que, em um momento de crise institucional como este por que ora passamos, os partidos ganhem dinheiro público; faz ainda menos sentido que esse dinheiro seja distribuído de forma a que sirva apenas para manter no poder quem nele já está; finalmente, é obsceno adicionar a este sistema, já votado a impedir a renovação, uma gradual punição dos partidos menores. Se fosse moral dar dinheiro público a partidos, ele deveria ser dado aos que têm menos poder, não aos que têm mais. Parece evidente. Mas o que querem os ratos é simples: não querem largar o queijo. Querem manter-se no poder, e a população, e as vicissitudes por que esta passa, não lhes interessa em nada.

A situação, assim, é de crise institucional: quem está no governo está preocupado, do presidente ao menor dos vereadores, com a própria sobrevida política em primeiro, segundo e terceiro lugar, enquanto a população sofre com a chaga da criminalidade. As próprias Forças Armadas já estão perto de não mais conseguir agir contra a criminalidade quando solicitadas, por simples falta de verbas. Há quartéis que dispensam o soldado sexta de manhã e o recebem novamente na segunda de tarde, para poupar o dinheiro das refeições que lhes teriam de dar.

Os culpados desta crise são aqueles que nos governam desde o fim dos governos militares. Os militares devolveram aos civis (depois de o segurarem muito além do prazo previsto quando de sua intervenção, a pedido do povo, em 1964) um país em relativamente bom estado, com criminalidade baixa, mas com alguma inflação. Os governos civis, contudo, o transformaram no pesadelo em que vivemos agora. Ataram as mãos das polícias militares, retiraram a capacidade investigativa das polícias civis ao ponto de chegarmos hoje a descobrir o autor de apenas 6% dos homicídios – o que é pouquíssimo mais que os homicídios passionais em que o autor é encontrado chorando, arrependido, ao lado do cadáver –, retiraram a capacidade do cidadão de exercer seu direito à autodefesa, desenvolveram uma cultura e prática jurídica garantista em que furto e uso de drogas não dão mais cadeia, o que faz com que o ciclo vicioso de usar droga e furtar para comprá-la não possa mais ser interrompido pela ação policial…

Em suma, foram eles mesmos, os nossos governantes, os membros dos três poderes, que nos colocaram nesta situação. Mas para eles não faltam seguranças armados; a palhaçada que é a “Polícia do Senado”, por exemplo, na verdade nada mais que um pequeno corpo de pouco mais de uma centena de guardinhas de seguranças, dispõe de equipamentos que policiais de verdade apenas sonham em um dia ver, que dirá ter; de salários altíssimos – um novato ganha cerca do dobro do salário de um coronel da PM; e de uma verba mensal da casa dos milhões.

O desarmamentismo delirante que tanto contribuiu para nos colocar nesta situação é fruto de uma campanha internacional, cujo porta-estandarte primeiro é a esquerda americana. Tendo o Brasil uma legislação já muito mais restritiva que a dos EUA, mas ainda aceitável, no fim do período de governos militares, foi a repetição do discurso da esquerda gringa que moveu os legisladores tupiniquins a fazer tanta besteira. Servimos aqui de cobaia para as experiências sociais que eles desejariam fazer lá. Ora, nos EUA a esquerda já está usando o crime de Las Vegas para tentar retirar as armas das mãos dos cidadãos. Como a nossa esquerda segue fielmente a cartilha da esquerda gringa, é certo que repetirá aqui como papagaios as besteiras ditas pelos seus mestres do Hemisfério Norte. É crucial que resistamos. Afinal, ora bolas, já é proibido matar as pessoas, e já eram proibidas as armas usadas pelo assassino. O crime de Las Vegas é uma gota no oceano perto da criminalidade brasileira, e as condições legais e práticas dos dois países simplesmente não têm comparação.

Devemos lembrar sempre que proibições não afetam pessoas que já estão dispostas a violar a lei; se elas já são criminosas, um crime a mais não faz diferença. Quem sai de casa para roubar, estuprar ou matar não se incomoda de usar um instrumento proibido para fazê-lo; vemo-lo claramente a cada dia no Brasil. Já um pai de família, ou uma moça sozinha que volta à noite da faculdade por ruas escuras, não gosta de violar lei alguma e não sairia com uma arma na cintura se isso fizer dele e dela um criminoso ou, pior ainda, puder fazer com que seja conduzido a uma delegacia e talvez até mesmo preso, sem ter cometido crime real algum. É por isso que recomendo sempre a todos que procurem comprar pelo menos uma maquininha de choque ou spray de pimenta para não ser uma vítima totalmente desarmada. Às moças, então, este conselho é ainda mais importante, pois o que o criminoso pode estar buscando ao atacá-las é muito mais valioso que qualquer dinheiro ou joia que pode ser roubado de um homem.

É importante, importantíssimo, que aqui no Brasil não caiamos na armadilha da repetição inane do discurso da esquerda americana, que já nos colocou nesta triste situação. Nosso momento, e nosso movimento, deve ser na direção contrária, buscando fazer valer a voz do povo já manifestada no plebiscito de 2005. Urge que reconquistemos o reconhecimento legal do nosso direito natural de acesso e uso de armas para que possamos fazer a nossa parte na redução da criminalidade e na proteção de nossas famílias. Esta é uma campanha que tem de ser conduzida pelos cidadãos e crescer ao ponto de incomodar os políticos e fazer com que eles percebam que é provável que só aderindo a ela e, por uma vez que seja, servindo à população é que eles poderão manter-se confortavelmente refestelados em suas poltronas, à prova de todo perigo, no ar condicionado, servidos por um garçom e protegidos por seguranças armados. Afinal, da iniciativa dos políticos em prol do povo sabemos que não podemos depender. Por: Carlos Ramalhete  Publicado originalmente em Gazeta do Povo   Foto: Daniel Castellano/Arquivo Gazeta do Povo

sábado, 18 de novembro de 2017

ÓDIO CONCENTRADO


Costumo apontar neste espaço os perigos que corremos ao importar os aspectos mais daninhos da cultura e da política norte-americanas para o Brasil. Por esses dias eu vim a descobrir uma importação cuja maldade chega a me dar calafrios. Na matriz de nossos subdesenvolvidos pseudopensadores, chama-se doxing. Esta prática de ódio consiste em aproveitar a falta de intimidade que as redes sociais e a internet dão para assediar em bando o entorno social, de trabalho e familiar, de qualquer pessoa que manifeste opiniões diversas do pensamento único esquerdista. Sendo este apoiado pelos meios de comunicação em massa e pelo próprio governo, todos envolvidos num frenesi de apologia ao comportamento homossexual, teoria de gêneros, racismo e demais importações do norte selvagem, é comum que os efeitos sejam extremamente daninhos. Um patrão que é assediado por dezenas de mensagens afirmando maldades contra um funcionário seu pode pensar estar fazendo a coisa certa ao demiti-lo, ou ao menos chamar a sua atenção; a vida de parentes da vítima do doxing também pode ser bastante prejudicada por este tipo de comportamento.

Como sempre, a esquerda se quer proprietária exclusiva da acusação de “ódio”, que pespega a toda palavra com que não concordem, mostrando assim a verdade do dito olaviano de que eles acusam do que fazem. Ao mesmo tempo, todavia, é ela que protagoniza as piores cenas de ódio. O ódio concentrado de que os esquerdistas são capazes só encontra parelho histórico nas tropas de assalto de partidos totalitários do século passado. Inventa-se um absurdo qualquer, que passa imediatamente a ter foros de verdade absoluta (por exemplo, que um rapagão com um vestido magicamente se transforma em uma linda mocinha). Não se permite qualquer debate, criminalizando-se e condenando liminarmente qualquer manifestação contrária como sendo – vejam, senhores, que truque curioso – “crime de ódio”, pintando imaginariamente o amor à estabilidade social e de modos de suposto ódio a algo que nem fica muito bem explicado. Daí a invenção de termos pseudomédicos como “homofobia” (etimologicamente, “medo do igual”) para tratar do que na verdade é apenas pensar como sempre se pensou, sem que haja nisso absolutamente ódio algum. Pelo contrário: o alvo da maior parte dos ataques da extrema-esquerda é o amor demonstrado às instituições, à pátria, à família, a Deus… O ódio está todo concentrado do outro lado, do lado dos revolucionários, que odeiam visceralmente o que encontraram pronto ao nascer, e desejam substituir a sociedade por uma outra coisa que via de regra nem mesmo eles sabem direito o que é.

E é aí que entra o tal doxing. É uma maneira de levar ao nível pessoal a ação das hordas fascistas da extrema-esquerda (pois é como hordas fascistas que eles se comportam; deixo de lado o debate sobre se o fascismo era de esquerda ou de direita, contentando-me em afirmar que é do Demônio). Enquanto seus antepassados espirituais apenas pichavam “amigo de judeus” ou “amante de negros” nas portas daqueles com quem não concordavam, os ativistas pós-modernos pesquisam minuciosamente a vida de suas vítimas, de forma a atrapalhar ao máximo a sua vida, causar brigas familiares, levá-lo a ser demitido de seu trabalho e perder o ganha-pão. Ora, a família e o ganha-pão são sagrados. São necessidades universais, e ninguém, absolutamente ninguém, pode ser privado de tê-los. Mesmo os presos na cadeia não deixam de ter família e receber visitas e cartas (deixemos as tais “visitas íntimas” de lado; são um exemplo da sexomania atual), e mesmo eles deveriam poder trabalhar e ganhar o próprio pão com o suor do próprio rosto. Mas nada disso importa aos revolucionários. A vida humana não tem valor para eles, como não tem valor algum a vida social e familiar de quem comete o pecado sem perdão de não concordar plenamente com a última loucura desses grupos (aliás, alguém sabe com quantas letras anda a sigla LGBTFBICIAKGBPTPSOL?).

O tal doxing, como muita coisa na ação revolucionária hodierna, é uma prática motivada e mantida por um nível tão alto de ódio que confesso me ser impossível apreender. Não conseguiria dirigir tamanho nível de ódio a pessoas que não conheço e que nunca me fizeram nada; e não creio, mesmo, que conseguisse dirigi-lo a quem tenha realmente me prejudicado. Eu posso ter desejos sinceros de matar alguém, e mesmo justas razões para tal; não consigo me imaginar, contudo, querendo privar alguém de trabalho e família. Seria menos mau privar de vida. Atacar de tal maneira pessoas cuja opinião simplesmente difere da minha, mais ainda se é a minha a novidade (e tenho, sim, senhores, algumas opiniões bem novidadosas), aí é que não seria mesmo possível. Quem propõe a mudança é quem tem de justificá-la e convencer os demais que, se tiverem a cabeça no lugar, vão demorar bastante para mudar de opinião. Opiniões que o vento leva não valem os bits em que são escritas.

É importante, assim, que aprendamos todos a lidar com isso; quando a lista de imperativos morais categóricos da extrema-esquerda dominante muda a cada dia, como ocorre agora, é fácil, mesmo a quem tenta se manter a par, ficar um pouco atrasado e ver-se objeto de ódio assim intenso e de táticas de ataque à identidade e ao ganha-pão assim odiosas. Qualquer pessoa, por mais inocente e alheia a questões político-sociais, está sujeita a um belo dia ver-se acusada implacavelmente, de maneira praticamente anônima – pois dezenas de mensagens assinadas por desconhecidos perfazem uma denúncia na prática anônima – de serem monstros, malvados quase tão cheios de ódio quanto os agentes revolucionários que fazem isso com eles. Cuidado. Ajamos com hombridade e coragem, e não cedamos jamais à tentação de combater o mal com o mal.
Por: Carlos Ramalhete  Publicado originalmente em Gazeta do Povo 
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr 

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

(oficial) Episódio 3 | A Guilhotina da Igualdade - Série Brasil - A Últi...

FRANÇA: LEI ANTITERRORISMO ENTRA EM VIGOR

- A nova lei autoriza os prefeitos a baixarem portarias determinando o fechamento de mesquitas e outros lugares de culto por um período de até seis meses se os pregadores defenderem "ideias ou teorias" que "incitem violência, ódio ou discriminação, que estimulem a perpetração de atos terroristas ou que enalteçam tais atos."


- A polícia francesa e os serviços de inteligência estão monitorando cerca de 15 mil jihadistas que vivem em solo francês, segundo denuncia do Le Journal du Dimanche de 9 de outubro. Desses 15 mil, cerca de 4.000 estão no "topo da lista", os mais propensos a desfecharem um ataque.

- Dos 1.900 jihadistas franceses que lutam nas fileiras do Estado Islâmico, cerca de um quinto recebeu até US$580.000 em proventos de assistência social do estado francês, segundo denúncia do Le Figaro de 26 de outubro.
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O presidente francês Emmanuel Macron sancionou uma nova lei contra o terrorismo que confere amplos poderes a prefeitos, polícia e forças de segurança de fazerem buscas em domicílios privados, aplicarem prisão domiciliar e fecharem lugares de culto, sem que haja a necessidade de mandado judicial. A medida também autoriza a polícia a realizar checagens de identidade ao longo das fronteiras francesas.

A nova lei, aprovada pelo senado francês em 18 de outubro, torna permanente inúmeras medidas antes excepcionais, impostas pelo estado de emergência de dois anos introduzido após os ataques jihadistas em Paris em novembro de 2015. O estado de emergência estava previsto para terminar em 1º de novembro de 2017.

Na cerimônia de assinatura no Palácio do Eliseu, ocorrida em 30 de outubro, Macron ressaltou que a medida comedida atinge o equilíbrio certo entre segurança e respeito pelas liberdades civis. Defensores da linha dura rebatem que a nova lei não vai longe o suficiente, já os grupos de defesa dos direitos humanos se queixam que a medida deixará a França em permanente estado de emergência.

A nova lei, Lei para Fortalecer a Segurança Interna e o Combate ao Terrorismo (Loi renforçant la sécurité intérieure et la lutte contre le terrorisme) - é formada por sete itens centrais:

Zonas de Segurança. A nova lei confere aos prefeitos e a altos funcionários do governo em cada um dos departamentos ou regiões da França o poder de designar áreas públicas e eventos esportivos ou culturais, incluindo concertos musicais, que estejam correndo o risco de sofrerem ataques terroristas, como zonas de segurança. A lei autoriza a polícia a revistar qualquer pessoa ou veículo que tente entrar nessas áreas ou nesses eventos. Quem se recusar a ser revistado será barrado.

Fechamento de Lugares de Culto. A nova lei autoriza os prefeitos a baixarem portarias determinando o fechamento de mesquitas e outros lugares de culto por um período de até seis meses, se os pregadores defenderem "ideias ou teorias" que "incitem violência, ódio ou discriminação, que estimulem a perpetração de atos terroristas ou que enalteçam tais atos". As violações são puníveis com seis meses de prisão e multa de US$8.750. Os que se opõem à lei argumentam que "ideias" e "teorias" são subjetivas e, portanto, passíveis de abuso.

Prisão Domiciliar. A nova lei autoriza o Ministro do Interior a confinar islamistas suspeitos em sua cidade de domicílio, mesmo os que não estejam sendo acusados de terem cometido um determinado crime. Caso haja "sérios motivos para se acreditar que a sua conduta constitui uma ameaça grave à segurança pública e à ordem pública", poderá ser aplicada a prisão domiciliar, sem necessidade de autorização prévia de um juiz, por um período de três meses, renovável por períodos adicionais de três meses até o máximo de um ano. Os indivíduos sujeitos que forem confinados serão obrigados a se apresentarem à delegacia local todo santo dia. Outra possibilidade é o monitoramento eletrônico móvel. O Ministro do Interior também pode proibir que indivíduos tenham contato direto ou indireto com determinadas pessoas claramente identificadas, se constar que elas representam uma ameaça à segurança pública. O descumprimento poderá resultar em três anos de prisão e multa de US$52.500.

Busca e Apreensão. A nova lei autoriza o prefeito a solicitar a um juiz a emissão de mandado de busca e apreensão domiciliar a qualquer pessoa suspeita de ser uma ameaça à segurança pública. O suspeito pode ser detido por até quatro horas se ele ou ela representar "uma ameaça grave para a segurança e ordem pública" e se tiver "contato habitual com pessoas ou organizações com objetivos terroristas" ou que apoie e abrace ideias que incitem tais atos. A lei também autoriza a polícia a confiscar documentos, objetos ou dados eletrônicos encontrados no local.

Servidores Radicalizados. Um servidor público que trabalhe em áreas relacionadas à segurança ou defesa nacional poderá ser transferido ou mesmo demitido do serviço público se ele ou ela abraçar ideias "incompatíveis com o exercício de sua função". Soldados também podem ser destituídos de suas funções pelos mesmos motivos.

Monitoramento Eletrônico e Coleta de Dados. A nova lei autoriza o Ministro do Interior, o Ministro da Defesa e o Ministro dos Transportes a monitorarem comunicações telefônicas e de email de pessoas suspeitas "para prevenção, detecção, investigação e ação penal contra terroristas e crimes graves". A lei também autoriza que os serviços de segurança acessem informações sobre viagens, inclusive de agências de viagens de passageiros que fazem uso de transportes aéreos e marítimos. A coleta de dados "deverá excluir dados pessoais que possam revelar a origem racial ou étnica do monitorado, crenças religiosas ou filosóficas, opiniões políticas, associação sindical ou dados relacionados à saúde ou à vida sexual".

Controle de Fronteiras. A nova lei autoriza a polícia a realizar checagens de identidade sem mandados em mais de 118 áreas fronteiriças e em 373 aeroportos, portos marítimos e estações de trens, bem como em áreas circunvizinhas até um raio de 20 quilômetros. Isso abrange 28,6% do território francês e 67% da população francesa de acordo com o Le Monde. Analistas dizem que as regiões incluem inúmeros subúrbios principalmente de imigrantes e poderá levar a hostilidades contra minorias étnicas.

Macron insistiu que a nova lei permitirá que as autoridades combatam o terrorismo "sem abandonar nossos valores e princípios" e que consagrará "o pleno e permanente respeito pela ordem constitucional e pelas tradições da liberdade da França". Ele também prometeu revisar a lei em dois anos e fazer as mudanças consideradas necessárias.


Foto: policiais patrulham os Campos Elísios em Paris após um ataque terrorista em 21 de abril de 2017 no qual um policial foi morto e outro ficou ferido. (Foto Jeff J Mitchell/Getty Images)



Marine Le Pen, líder do partido anti-imigração Frente Nacional, criticou a lei por ela ser branda demais:

"A lei é uma farsa, é um subestado de emergência, não votaremos a favor deste texto desastroso. Será ainda menos eficaz do que o estado de emergência porque é menos aplicável. O texto não aborda a especificidade da dimensão islâmica do terrorismo nem a ideologia islâmica que declarou guerra contra nós".

Grupos de direitos civis, em contrapartida reclamam do que eles chamam de "normalização dos poderes de emergência". A Human Rights Watch ressalta:

"A lei se apropria de elementos de práticas de emergência, poderes invasivos de busca, restrições à liberdade individual chegando à prisão domiciliar e fechamento de lugares de culto usados de forma abusiva desde novembro de 2015, tornando-a uma prática criminal e administrativa corriqueira. Tal prática enfraquece o controle do judiciário e a capacidade de checar o abuso praticado pelos novos poderes antiterrorismo usados pelos prefeitos e delegados designados pelo Ministério do Interior em cada região".

A Anistia Internacional ecoou estas apreensões:

"Em vez de inaugurar um período de liberdades restauradas e liberdades civis, a legislação ameaça fazer o contrário, incorporando uma série de medidas repressivas à lei ordinária".

A nova lei teve pouca resistência da população. Uma pesquisa de opinião realizada em 26 de setembro encomendada pelo Le Fígaro constatou que 57% dos entrevistados responderam que eram a favor da nova lei, 62% disseram que a medida infringirá as liberdades civis, 85% disseram que melhorará a segurança.

Mais de 230 pessoas foram assassinadas em ataques jihadistas na França desde janeiro de 2015 quando radicais islâmicos atacaram a redação da revista satírica Charlie Hebdo no centro de Paris.

Os assassinatos mais recentes ocorreram em 1º de outubro, quando um imigrante ilegal de 29 anos da Tunísia esfaqueou duas mulheres até a morte na estação central de trens de Marselha. O homem, identificado como Ahmed A., usava sete identidades diferentes e tinha um longo histórico de pequenos delitos. Ele tinha sido preso poucos dias antes do ataque, foi acusado de furto em lojas, mas a acusação foi retirada por falta de provas. Ainda não está claro porque ele nunca foi deportado.

A polícia francesa e os serviços de inteligência estão monitorando cerca de 15 mil jihadistas que vivem em solo francês, segundo denuncia do Le Journal du Dimanche de 9 de outubro. Desses 15 mil, cerca de 4.000 estão no "topo da lista", os mais propensos a desfecharem um ataque.

Dos 1.900 jihadistas franceses que lutam nas fileiras do Estado Islâmico, cerca de um quinto recebeu até US$580.000 em proventos de assistência social do estado francês, segundo denúncia do Le Figaro de 26 de outubro.
Por: Soeren Kern, membro sênior do Instituto Gatestone sediado em Nova Iorque.Original em inglês: France: New Anti-Terrorism Law Takes Effect
Tradução: Joseph Skilnik  Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

CHE GUEVARA É VENERADO PORQUE TEM SANGUE VERDADEIRO PARA MOSTRAR


Che Guevara morreu há 50 anos e ainda há quem lhe conceda o benefício da dúvida. Na semana passada, recebi um convite para um "debate" sobre Guevara e o seu legado. Pensei que era piada. Ainda perguntei: "Vocês querem saber se ele matou muito ou pouco?".

Ninguém riu. A ideia era mesmo "debater". Eu estaria entre os "críticos" (muito obrigado) e, do outro lado da mesa, estariam os apologistas. Recusei.

Aliás, quando o assunto são psicopatas, eu recuso sempre —uma questão de respeito pela minha própria sanidade. Nunca me passaria pela cabeça debater seriamente o Holocausto com um negacionista. Por que motivo o comunismo seria diferente? Escutar alguém a defender a União Soviética é tão grotesco como estar na presença de um neonazi a defender Hitler e o Terceiro Reich.

De igual forma, também nunca me passaria pela cabeça convencer terceiros sobre a monstruosidade do nazismo —ou a do comunismo. Como se ainda houvesse dúvidas.

Não há -e, no caso de Guevara, o próprio deixou amplos testemunhos a comprovar a sua excelência. O culto do ódio; a excitação do cheiro a sangue; a necessidade de um revolucionário ser uma "máquina de matar" -o Che não enganava.

E os fuzilamentos, que ele executou ou mandou executar, são ostentados pelo nosso Ernesto como se fossem medalhas na farda de um general. A criminalidade de Che Guevara não é questão de opinião. Isso seria um insulto ao próprio.

Mas há um ponto que me interessa sobre o Che: a sua sobrevivência como símbolo. Atenção: não falo de adolescentes retardados que desconhecem o verdadeiro Che e ostentam na camiseta o retrato que Alberto Korda lhe tirou. A adolescência é uma fase inimputável que, nos piores casos, pode durar uma vida inteira.

Não. Falo dos intelectuais que, conhecendo Che Guevara e o seu "curriculum vitae", o canonizam sem hesitar. O que leva pessoas inteligentes a aplaudir um criminoso?

O sociólogo Paul Hollander dá uma ajuda no seu "From Benito Mussolini to Hugo Chávez - Intellectuals and a Century of Political Hero Worship". O título, apesar de longo, é importante.

Em primeiro lugar, porque Hollander não discrimina entre "direita" ou "esquerda". O totalitarismo só tem um sentido —a sepultura.

Em segundo lugar, porque não é a natureza dos regimes que interessa ao sociólogo; é a devoção dos intelectuais pelos "heróis" revolucionários do século.

No caso de Che, existem explicações históricas —e psicológicas.

As históricas lidam com a Revolução Cubana de 1959, ou seja, três anos depois de Nikita Khrushchev ter denunciado os crimes do camarada Stálin.

A desilusão foi profunda —e, para a "nova esquerda", a União Soviética deixava de ser o farol da humanidade. Era apenas mais um estado opressor (como os Estados Unidos, claro) que atraiçoara a beleza do ideal marxista.

A partir da década de 1960, os "peregrinos políticos" (expressão de outro livro famoso de Hollander) passaram a ver o Terceiro Mundo —Cuba, China, Vietnã, Nicarágua— como o paladino virginal da libertação do homem. Fidel Castro e o seu ajudante Che Guevara ocuparam os papéis principais como "bons selvagens".

Mas existe um motivo suplementar para Che palpitar no peito dos intelectuais, escreve Hollander: o fato de ele não ser um intelectual "defeituoso".

Uma história ajuda a compreender o adjetivo: em 1960, Sartre visitou Cuba e comoveu-se com as confissões de Fidel. "Nunca suportei a injustiça", disse o Comandante. Sartre concluiu que Fidel entendeu como ninguém "a inanidade das palavras".

Tradução: não basta falar contra o imperialismo/capitalismo/colonialismo; é preciso agir. Che Guevara, que Sartre batizou como "o mais completo ser humano do nosso tempo", simboliza essa totalidade. Alguém que não se fica pelas palavras —e passa aos atos. Che Guevara é venerado porque tem sangue verdadeiro para mostrar.

É um erro afirmar que os "intelectuais revolucionários" que admiram Che Guevara continuam a prestar-lhe homenagem apesar da violência e do crime. Pelo contrário: a violência e o crime estão no centro dessa homenagem.
Che sobrevive porque foi capaz de ser o "anjo exterminador" que todos eles sonharam e não conseguiram. 
Por: João Pereira Coutinho Escritor português, é doutor em ciência política. Do site: http://www1.folha.uol.com.br   Angelo Abu/Folhapress 

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

COMO É BOM VIVER NA SUÍÇA!

A CPI do Senado brasileiro concluiu: a Previdência não tem déficit, e sim superávit. Concluiu também que nós somos mais ricos que os suecos, que nunca houve corrupção no país e que, com a vitória na Copa de 2014, o Brasil é o único hexacampeão mundial.

É fácil nos enganar quando queremos ser enganados. Isso não é novidade. Eu já tinha alertado aqui sobre o uso disso pelos políticos antes das eleições de 2014. No ano que vem, com o justificadíssimo desejo de renovação política que toma conta do país, as propostas de soluções simplistas de falsos salvadores da pátria vão bater recordes.

Pensando bem, não será fácil bater o recorde desta CPI. Temos os senadores mais geniais do mundo! Pode haver forma melhor de resolver um problema do que decretar que ele não existe?!

A CPI concluiu que não só não há déficit, como o teto dos benefícios do INSS pode ser elevado em quase 70%, dos atuais R$ 5.531 para R$ 9.370. O número de aposentados cresce mais de 3% a.a. devido ao envelhecimento da população? Irrelevante. O Brasil já gasta mais com aposentados do que a Alemanha e o Japão, que têm proporcionalmente o triplo de idosos do que nós? Quem se importa?

A contabilidade criativa da CPI faz as pedaladas fiscais da Dilma parecerem fichinha. Segundo ela, os números que importam não são os da Previdência, mas os da Seguridade Social, que engloba Previdência, Saúde e Assistência Social. Quer dizer que somando os três temos superávit? Não. No ano passado, só no âmbito federal tivemos um déficit de R$ 257 bilhões, sem nem contar um déficit adicional de cerca de R$ 100 bilhões em estados e municípios.
É fácil nos enganar quando queremos ser enganados. Isso não é novidade. 

Qual a mágica da CPI, então? Comece desconsiderando o déficit de R$ 77 bilhões da Previdência dos servidores da União, embora seja coberto pelos mesmos impostos que cobrem o rombo do INSS. Em seguida, desconsidere as desvinculações de receitas da Seguridade – que, entre outras coisas, tiram recursos da Saúde para bancar o déficit da Previdência. Por fim, faça de conta que os benefícios podem ser pagos com recursos que nunca foram arrecadados, como as receitas das desonerações sociais e a sonegação de mais de R$ 400 bilhões que o INSS tem a receber, mas que nunca receberá integralmente porque a maior parte é de empresas que nem existem mais, como Varig, Transbrasil e Vasp, para citar só o setor aéreo.

Fazendo tudo isso, a Seguridade Social é superavitária? Ainda não. Segundo a própria CPI, mesmo com esta contabilidade de araque, a Seguridade Social teve um déficit de R$ 57 bilhões no ano passado.É fácil nos enganar quando queremos ser enganados. Isto não é novidade. 

Aí, a CPI dá o golpe final. Apesar do resultado desta contabilidade maluca piorar todo ano desde 2013 - ainda antes da recessão começar - os números vão melhorar significativamente a partir deste ano, eliminando o déficit. A mágica? Crescimento econômico acelerado que vai inflar as receitas acima do crescimento das despesas.

Em resumo, a CPI, presidida por Paulo Paim (PT) e relatada por Hélio José (PROS), está convencida de que, por conta das reformas de Temer e seu governo, o Brasil vai começar a crescer mais rapidamente do que a China.

É muito bom viver aqui na Suíça! Melhor que isto, só ser senador no Brasil.

Por: Ricardo Amorim, autor do bestseller Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews, o economista mais influente do Brasil segundo a revista Forbes, o brasileiro mais influente no LinkedIn, único brasileiro entre os melhores palestrantes mundiais do Speakers Corner e ganhador do prêmio Os + Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças. Do site: https://www.linkedin.com