terça-feira, 30 de janeiro de 2018

NOSSA SOBREVIVÊNCIA DEPENDE DAS FICÇÕES QUE CRIAMOS SOBRE QUEM SOMOS

O ano termina e a imprensa faz os seus balanços: filmes, livros, discos. Peças de teatro. Peças de lingerie. É um simpático ritual.


Não fujo à responsabilidade: o meu filme de 2017 foi filmado em 2014. Mas isso interessa? Não interessa. Quem perde tempo com pormenores cronológicos arrisca-se a ignorar "Força Maior", o inteligente e subversivo filme de Ruben Östlund que só agora assisti.

Imagine a leitora que era casada com um homem rico, bonitão, atlético. Imagine a leitora que a família resolvia passar férias em resort de ski onde só os abastados podem entrar. Depois de tudo isso, imagine também –atenção: vem aí o "spoiler"– que presenciava uma avalanche de neve no elegante terraço do hotel.
Ângelo Abu/Folhapress 

Primeiro, a beleza do fenômeno, captada pelo onipresente celular. Depois, a avalanche chegando cada vez mais perto, estranhamente perto, perigosamente perto.

Até o momento em que há pânico entre os hóspedes, gritos, fugas apressadas –e o maridão rico, lindo, atlético decide instintivamente fugir, deixando para trás a leitora e os dois filhos.

Felizmente, foi apenas um medo infundado –a neve ficou ainda longe do terraço. Mas podemos dizer, para usar a linguagem moderna, que a relação está com problemas?

Poder, podemos. Mas a vida continua e, no fim das contas, ninguém é perfeito –certo?

Errado, responde Ruben Östlund. Sobretudo quando o maridão regressa para a família, fazendo de conta que nada se passou. Mas nós sabemos, a mulher sabe, que tudo se passou naqueles segundos. Uma quebra de masculinidade, digamos; o maridão rico, lindo, atlético revelou a sua covardia.

"Força Maior", como o título indica, é um tratado sobre as forças maiores que definem as nossas vidas. Superficialmente, temos a força maior da natureza, que, de vez em quando, esmaga as vaidades humanas com esplendorosa brutalidade.

Mas o que interessa para Östlund não são as forças "exteriores"; são, antes, as forças "interiores", primitivas, instintivas que a civilização reprimiu (obrigado, dr. Sigmund) mas que nunca nos abandonam completamente.

No início, a família representa essa civilização com todos os símbolos do conforto "burguês": cartão de crédito generoso, roupa sofisticada para brincar na neve, até escovas de dente elétricas para eliminar as cáries com maior eficácia. Mas basta um soluço da natureza para que a fêmea proteja as crias –e o macho desapareça para salvar a pele.

Visualmente, esse contraste entre "civilização" e "estado de natureza" é reforçado pelos espaços centrais da narrativa: de um lado, o hotel de luxo; do outro, a paisagem gélida, desértica, quase lunar.

Mas o melhor do filme não está apenas nesse momento fugaz em que o animal humano, medroso, visceral, suplanta o ser civilizado. Está na pequena fenda que ele abre entre o casal. Sim, eles tentam ignorar, depois dialogar, depois fazer piada, depois enterrar o assunto com uma trégua racional.

Só que a fenda nunca desaparece; a mulher nunca se esquece –e o maridão começa a minguar aos nossos olhos, aos olhos da família, aos seus próprios olhos, até ser um farrapo de homem em busca de redenção.

Essa redenção surge por obra e graça da mulher, que oferece ao marido uma nova máscara de bravura. Só então percebemos como a nossa sobrevivência depende das ficções que criamos sobre as pessoas que somos. Sem essas mentiras piedosas, poucos suportariam a imagem crua da mais básica bestialidade.

E se o leitor pensa que jamais, em tempo algum, imitaria o amedrontado homem que abandonou mulher e filhos, cuidado: ignorar o animal que habita em nós é a forma mais imediata de nos comportarmos como ele.

*
P.S. Na coluna da semana passada, falei de Gore Vidal como um dos maiores ensaístas do século 20. Alguns leitores pediram bibliografia sobre o assunto. Aconselho três livros para saborear o talento do homem.

O primeiro é "United States", volume colossal com 40 anos de meditações sobre política, artes e assuntos pessoais. Os outros dois são os volumes de memórias "Palimpsest" e "Point to Point Navigation".

Sobre William Buckley, a sua nêmesis ideológica, recomendo "Miles Gone By" –a autobiografia de um conservador americano que ficaria horrorizado com o estado a que os republicanos chegaram.
Por: João Pereira Coutinho  Publicado na Folha de SP

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

FEMINISMO DE HOJE É TÃO REACIONÁRIO QUANTO O MACHISMO NEANDERTAL


Passei as festividades natalinas lendo Camille Paglia. Não sei se é pecado. Talvez seja. Mas que alegria –e que prazer!– ler uma feminista com atividade cerebral completa, que não se limita a defender a dignidade das mulheres –mas a dos homens também.

O título da sua coletânea de ensaios –"Free Women, Free Men: Sex, Gender, Feminism" (libertem mulheres, libertem homens: sexo, gênero e feminismo)– diz tudo: queremos uma sociedade de mulheres e homens livres –ou uma farsa infantil onde as mulheres são tratadas como espécies protegidas e os homens como selvagens inimputáveis?

O feminismo de Paglia, que provoca horrores mil nas "neofeministas", pode parecer demasiado severo para a sensibilidade histérica dos nossos dias. Mas subscrevo esse feminismo, não apenas por razões intelectuais –mas pessoais.

Cresci entre mulheres. Vivo entre elas. E quando relembro as mulheres da minha vida todas elas parecem encarnar o ideal de Paglia. Independentes. Irônicas. Corajosas. Que, sem surpresas, sempre gostaram de partilhar o espaço com homens adultos, dignos, refinados.

Para Paglia, o novo feminismo abandonou esse imperativo de exigência para que as mulheres sejam "amazonas", ou seja, senhoras da sua liberdade. Transformou as mulheres em seres débeis e vulneráveis, que devem ser constantemente protegidas de um mundo hostil e predatório.

Nota importante: Paglia não nega que o mundo é hostil e predatório. Sempre foi, sempre será. Ela apenas reafirma que as mulheres devem aprender a lidar com isso, não a retirar-se da arena como seres assustadiços.

Infelizmente, a voz de Camille Paglia foi abafada pela cultura da vitimização reinante. A Europa, nesse quesito, é terra devastada.

Leio na imprensa que a virada do ano em Berlim teve, pela primeira vez, uma "zona segura" para as mulheres. Em 2016, centenas foram abusadas por homens de "aparência árabe e norte-africana". Em 2017, houve uma espécie de "resort" para as espécies femininas que se sintam ameaçadas –e com a presença permanente da Cruz Vermelha.

Pode parecer piada. Ou cenário de guerra. Não é. As autoridades do país entenderam que a melhor forma de proteger as senhoras é pela segregação social (como nos países islâmicos). Será preciso elaborar sobre a aberração?

O papel de uma sociedade política civilizada não passa pela separação dos sexos. Passa pela garantia de segurança e ordem para todos. E de punição exemplar para os criminosos, independentemente da etnia, religião ou tara privada.

Será que a única coisa que o feminismo do século 21 tem para oferecer às mulheres é uma jaula? E não será essa oferta um insulto e uma degradação das próprias mulheres?

Mas a Alemanha não é caso isolado. Na Suécia, há uma nova lei a caminho para punir a violação. O premiê Stefan Löfven fala em "reforma histórica" –e eu tremo: relações sexuais, só com "consentimento explícito". Mas de que "consentimento" falamos? Verbal? Gestual? Só vejo uma forma de produzir uma prova de inocência irrefutável: um documento escrito.

Imagino: dois amantes, em momento de excitação. Subitamente, um deles para o andamento da dança e entrega um formulário para ser preenchido e assinado pela donzela arfante.

Dizer que isso é um dramático "turn-off" é um eufemismo. Mas não é um eufemismo declarar que uma lei dessas, mesmo na versão oral ("sim, declaro solenemente que tens a minha autorização para contatos fálico-vaginais"), é uma caricatura grotesca da intimidade entre adultos.

Será que a única coisa que o feminismo do século 21 tem para oferecer às mulheres é um papel e uma lapiseira?

Não tenho filhas. Se tivesse, Camille Paglia seria leitura obrigatória. Só para que elas aprendessem que as mulheres não são vítimas naturais de um mundo que existe para as amedrontar ou violar.

As mulheres devem ser mulheres: livres, independentes, conscientes do seu poder sexual, capazes de avaliar os riscos (e os homens) sem a mão paternalista de outras mulheres (ou de outros homens) que gostam de defender as suas "honras".

"Defender a honra?" Precisamente. O feminismo contemporâneo é tão reacionário como o machismo neandertal: ambos tratam as mulheres com a mesma condescendência. Ambos olham para as mulheres como o "sexo fraco".

É o eterno retorno.
Foto Ângelo Abu/Folhapress
Por: João Pereira Coutinho  Publicado na Folha de SP

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

PERDER PARA UM DÉBIL MENTAL DIZ MAIS SOBRE OS RIVAIS DO QUE SOBRE O DÉBIL


Pois é: sou um fraco. Li "Fire and Fury: Inside the Trump White House" (fogo e fúria: por dentro da Casa Branca de Trump), o livro-escândalo de Michael Wolff sobre o primeiro ano do nosso Donald aos comandos do mundo. E gostei.

Sejamos sinceros: não sei –alguém sabe?– se os fatos que Wolff relata estão certos ou errados. Talvez sim, talvez não. Isso interessa? Para mim, nem um pouco. Como escreveu Mick Brown para o "Daily Telegraph", se aquilo não é verdade, parece verdade.

Essa, aliás, é a melhor definição de ficção que conheço –e, se Wolff não é um jornalista íntegro, pelo menos é um romancista talentoso: ele cria um mundo verosímil e nos transporta lá para dentro.

Os diálogos, por exemplo, conseguem a proeza de definir personagens em poucas palavras –cada uma com sua voz própria, gramática própria, ritmo próprio. Quando Trump fala, nós conseguimos escutá-lo nas páginas da obra. O mesmo acontece com Steve Bannon, a filha Ivanka e o genro Kushner.

Mas não é apenas a linguagem que é plausível. É a "atmosfera" criada. No "Telegraph", o mesmo Mick Brown fala de uma mistura de "Sopranos" com Kafka. Assino em baixo. Embora eu talvez acrescentasse um pouco de Luis Buñuel (na sua fase mexicana).

Vejamos a noite da vitória. Quando saem os resultados, a reação primeira de Trump é choque e pavor. Como o príncipe da Dinamarca, ele parece ter visto "um fantasma".

Mas é terror que dura pouco: depois da pergunta inevitável (como foi que isso aconteceu?), a certeza inevitável (isso só podia acontecer a um gênio como eu). Existe alguém que não consiga imaginar essa sucessão de estados de espírito no personagem em causa?

Aliás, o melhor do livro está nesses pormenores cotidianos que constroem (e destroem) o presidente. Como o medo de ser envenenado –um clássico de qualquer imperador romano, embora em Roma não existisse McDonald's para salvar o dia. Ou a solidão da besta, encerrada no seu quarto, comendo cheesebúrgueres e tendo o celular como única companhia.

E fora do quarto?

O caos. Um caos infantil, paranoico, surreal. Lá encontramos o defunto Steve Bannon tentando afastar qualquer conselheiro que diminua a sua autoridade sobre o Donald. Lá encontramos Ivanka, a pérfida, sonhando com uma candidatura presidencial futura –e revelando aos amigos, entre risos, a mecânica do cabelo do pai (demasiado complexa para explicar aqui).

E também temos o genro, Jared Kushner, desprezado por Trump como um "suck-up" (um reles bajulador, exatamente como eu o imagino pelo seu ar lânguido e timorato).

Uma vez mais, Wolff escolhe as palavras com mestria, mexendo com os preconceitos do público e cobrindo a prosa com um verniz de autenticidade que não está ao nível de qualquer um.

Para Trump, Bannon é "desleal" (e sempre com "um ar de bosta"; difícil discordar). Reince Priebus, ex-chefe de gabinete, é um "fraco" (e demasiado baixo, quase "um anão"). Sean Spicer, ex-porta-voz da Casa Branca, é "estúpido" (e igualmente foleiro). Etc. etc.

Não é preciso uma grande "suspensão da descrença" para imaginar Trump com esses comportamentos. Moral da história?

Para Wolff, o presidente não é apenas "impreparado" (a descrição de Trump aprendendo a Constituição americana é um primor de comédia: pelos vistos, o Donald perdeu o interesse a partir da Quarta Emenda –um "gag" digno de Woody Allen).

Trump, no retrato de Wolff, é um débil mental –e a Casa Branca é uma espécie de asilo psiquiátrico tomado de assalto pelos próprios doentes.

Claro que uma tese dessas, apesar do talento literário, choca frontalmente com duas perguntas óbvias a que Wolff é incapaz de responder.

A primeira é tentar explicar como foi possível a um débil mental vencer as eleições presidenciais. Não existe aqui uma terrível contradição?

A segunda pergunta, que procede da primeira, é ainda mais desconfortável para a "intelligentsia" progressista: se Trump é um débil mental, que dizer dos que perderam para ele?

É por isso que, depois de ler o livro, a minha última gargalhada não foi para Trump. Foi para os adversários de Trump, que gostam de exibir um estranho complexo de superioridade.

Perder para um "gênio", como Trump se considera, seria compreensível e até perdoável. Perder para um débil mental diz mais sobre a qualidade dos adversários do que sobre o débil propriamente dito.
Foto: Angelo Abu/Folhapress 
Por: João Pereira Coutinho  Publicado na Folha de SP.

domingo, 21 de janeiro de 2018

GRUPO DE EMPRESÁRIOS CONVOCA ELITE BRASILEIRA PARA ASSUMIR O PROTAGONISMO POLÍTICO

É uma grande alegria estar aqui com você na maior feira de varejo do mundo, neste momento tão especial em que o varejo brasileiro começa a mostrar sinais de recuperação. Somos duros na queda, resilientes, e estamos aqui para dizer ao mundo que não desistimos do Brasil.


Não tenho dúvida de que é o trabalho duro, o brilhantismo e o compromisso com o Brasil de todos vocês que permite que um país mergulhado na pior crise econômica e também ética e moral da sua história possa ter um pouco de esperança. Meus mais sinceros parabéns a todos vocês por esse resultado.

Minha mensagem para vocês hoje não é apenas para aplaudir os bons números da economia e do varejo mas para lembrar como a recuperação econômica do Brasil ainda é frágil, como ainda somos vulneráveis, como cada pequeno avanço que estamos fazendo pode nos deixar esquecer o tamanho do abismo que está logo na esquina.

O rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard & Poor’s na semana passada foi um duro lembrete de quanto ainda temos que caminhar para um crescimento realmente sustentável e que abra mais oportunidades para um país com mais de 12 milhões de desempregados. Cada desempregado é um drama de todos nós, uma família desestruturada, uma vida em compasso de espera, um brasileiro que tem problemas para prover para si e para sua família.

A leve recuperação do Brasil atual não pode significar, de forma alguma, o esquecimento de como chegamos até aqui. O Brasil é um país sem memória, mas não é possível que em pleno ano eleitoral não se fale a cada oportunidade, todos os dias, do período nefasto de quase 15 anos em que uma quadrilha saqueou o Brasil, aparelhou as instituições, usou bancos e obras públicas para enriquecimento privado numa proporção jamais vista e que, espero, nunca mais aconteça.

Não há nada de casual na crise brasileira. Desde 2009, quando nasceu a famigerada e insana “Nova Matriz Econômica”, o Brasil foi jogado num buraco que ainda levaremos muitos anos para sair. E nós varejistas sabemos isso como ninguém, sabemos da dificuldade do povo brasileiro de manter seu nome limpo, de pagar suas contas, de ter condições mínimas de consumo.

O Brasil hoje não tem um governo, é o governo que tem um país que vive para sustentar sua gastança, seu desperdício, seu endividamento, seus ralos bilionários de corrupção e clientelismo, suas regulações insanas, seu intervencionismo retrógrado, sua aversão ao liberalismo e ao empreendedorismo, seu paternalismo autoritário, sua incompetência criminosa e sua fome insaciável por poder, dinheiro e ingerência na vida do cidadão e das empresas. É preciso dar um basta!

O livre mercado não é apenas a melhor arma contra a pobreza, é a única. Todos nós, em algum momento da vida, precisamos fazer uma escolha: ou estamos ao lado dos pobres ou da pobreza. Ou temos amor aos mais necessitados ou temos ódio aos ricos. São sentimentos incompatíveis. Se você é solidário ao pobres, faz tudo para que saiam da pobreza. E é o livre mercado que pode gerar oportunidades e riqueza para todos, especialmente os mais pobres. Quando vamos aprender esta que é a mais básica das lições da história?

Se você quer o melhor para os pobres, você luta por uma sociedade mais livre, que crie mais riquezas e oportunidades para todos. Se você odeia os ricos, você quer expropriar seus bens e destruir sua capacidade produtiva, jogando todos no caos e na miséria. Há décadas que o Brasil optou por odiar os empreendedores, os investidores, os inovadores e os resultados falam por si.

Agora é hora de mostrar que é possível um outro caminho. O próximo presidente governará o país de janeiro de 2019 até o final de 2022. Numa dessas coincidências mágicas, 2022 é exatamente o ano em que o país completará 200 anos do dia em que, às margens do Rio Ipiranga, Pedro I deu o grito que tornou o Brasil uma nação independente de Portugal.

Quero sugerir a todos vocês que chegou a hora de uma nova independência: é preciso tirar o estado das costas da sociedade, do cidadão, dos empreendedores, que estão sufocados e não aguentam mais seu peso. Chegou o momento da independência de cada um de nós das garras governamentais. Liberdade ou morte!

É por isso que estou lançando, junto com outras lideranças da sociedade civil, o movimento Brasil 200 anos. Nós queremos que você diga que país espera para 2022, como você quer o Brasil na comemoração dos seus 200 anos, ao final do mandato dos candidatos eleitos este ano. 2022 começa em 2018, os 200 anos do Brasil começam aqui e agora. Em quatro anos não é possível fazer tudo, mas é possível fazer muito.

Estamos conversando com cidadãos brasileiros para que juntos tenhamos uma pauta comum para entregar aos candidatos ao executivo e ao legislativo com compromisso verdadeiro com a liberdade para que eles saibam, sem sombra de dúvidas, o que o Brasil espera deles. Vamos contribuir com propostas, metas, dados, idéias e, claro, vamos cobrar a cada momento, durante os 4 anos que nos separam do bicentenário, o andamento da implementação destas propostas.

Não é possível que o líder das pesquisas no Brasil para presidente hoje seja não apenas o maior responsável pela crise como um criminoso condenado a 9 anos e meio de prisão em apenas um de inúmeros processos que responde. Que mensagem o país está passando para a classe política e para o mundo? Que aqui o crime compensa? Que o brasileiro aprova a roubalheira? Não é possível que a lição, a mais dura de todas, não tenha sido aprendida.

Eu não espero que toda a imprensa, com honrosas exceções, tenha a isenção de reportar estes fatos durante a campanha, mas espero estar errado. Foram quase 15 anos de uma farra de gastos públicos e créditos subsidiados para os amigos do rei, o que incluiu vários grupos de comunicação que infelizmente jogam contra a estabilidade econômica que estamos buscando hoje com tanta dificuldade sonhando com a volta do dinheiro fácil.

A apropriação privada dos ganhos provenientes de empréstimos de pai para filho dos bancos públicos infelizmente comprou corações e mentes nos últimos anos e muitos fingem não perceber os riscos da volta do projeto bolivariano e cleptomaníaco de poder ao comando do país.

Infelizmente a elite empresarial brasileira, da qual faço parte, não tem liderado como deveria o processo de tornar o Brasil um país mais livre, parte dela sócia do assalto ao estado com prejuízos incalculáveis para a população mais carente. Sem uma elite comprometida de corpo e alma com o progresso, com o avanço institucional, com mais liberdade e menos intervencionismo, com a diminuição do estado hipertrofiado, não vamos a lugar algum.

Por mais que a Operação Lava Jato me orgulhe como cidadão, não tenho como não ficar triste por ver empresários que deveriam estar pensando nas próximas gerações de brasileiros, incluindo em seus próprios filhos, envolvidos nos piores escândalos de corrupção da nossa história. Quantos empresários ainda vivem nas suas pequenas bolhas acreditando que podem tocar suas vidas e seus negócios sem se preocupar com a deteriorização do país, sem lutar pelas instituições, pela ética e pela democracia? Mais cedo ou mais tarde, essa omissão baterá na porta de cada um de nós e cobrará a conta.

Os empresários e empreendedores do país devem ser os guardiões mais intransigentes da competitividade e da liberdade, pré-requisitos para a criação de riqueza que move a economia e a sociedade no caminho da prosperidade e da verdadeira justiça social, com autonomia, dignidade e oportunidades para todos. Chegou a hora de pararmos de ser parte do problema e viramos parte da solução e é essa a convocação que faço hoje para cada um de vocês.

Um país mais livre é também uma declaração de confiança ao nosso povo, uma prova de que juntos podemos construir mais oportunidades para todos, sem a intermediação nefasta da burocracia estatal. Tenho certeza de que cada um de vocês vai tomar parte nessa luta que é de todos nós.

Tenho muita fé no Brasil e nos brasileiros e provo isso saindo da minha zona de conforto e me expondo aqui para vocês na luta para devolver o Brasil aos seus verdadeiros donos, o povo brasileiro. O cidadão independente é aquele que consegue estudar, trabalhar, empreender, gerar valor para a sociedade, para si e sua família, que participa voluntariamente da comunidade e que é solidário com quem precisa.

Peço a todos vocês que participem do Brasil 200 anos com sugestões, propostas, idéias e muito mais. O Brasil 200 só tem um dono: o povo brasileiro, cada um de vocês. Aqui em Nova York, na capital do mundo, podemos nos unir para refundar o Brasil em bases mais livres e solidárias, mais modernas e prósperas para todos. É a minha ideologia, é o meu compromisso, e espero que seja o de vocês também.
Por Flávio Rocha e outros. Artigo publicado em 19.01.2018
Do site: http://www.puggina.org

esse seria o real motivo da rede globo detonar wilian wack?

domingo, 14 de janeiro de 2018

O PROBLEMA DO PODER CONFERIDO A GENTE COM PROBLEMAS


Agora não se pode mais comer carne às segundas...

Acabou o virado à paulista, o prato comercial mais tradicional servido ás segundas feiras em São Paulo. "Iluminados" decidiram, agora, que a linguiça e a bisteca servidos com arroz, ovo, feijão e couve... é infração administrativa, punida com multa, no primeiro dia útil da semana. 

Em verdade, a lei aprovada pelo legislativo paulista decorre da necessidade que muitos têm... de interferir na vida alheia. É o ápice de um regime político comandado por "gente com problema".

Quando gente com problema... era apenas gente com problema.

Quando eu era jovem, tipos extremamente arrogantes ou humildes, muito agressivos ou muito covardes, excessivamente lascivos ou puritanos, invejosos ou soberbos, exageradamente introvertidos ou extrovertidos, intrometidos ou donos da verdade, eram vistos com reserva, porque "tinham problema"...

Havia também aquela gente que trazia na testa a marca de idiota, "afetada", desonesta, rancorosa ou inconveniente. Essa gente devia ser também tratada sem nos deixarmos envolver...

O mundo daquela época era cordial. Não era de bom tom discriminar ostensivamente ou ser deseducado mas... "essa gente com problema devia ser observada com o devido cuidado".

Ocorre que a tolerância imposta pelo regime da Constituição "ZUMBI" de 1988, permitiu aos esquisitos, aos corruptos, aos idiotas, galgarem cargos expressivos na estrutura do Estado brasileiro e ganhar destaque em nossa sociedade.

O nerdismo, o idiotismo, a mediocridade e a covardia, em determinado momento de nossa história, tornaram-se forças hegemônicas, ocupando cargos concursados, galgando nomeações em assessoria a outros idiotas bem postados, aparelhando a mídia idiotizada e...principalmente, tomando conta dos partidos políticos e canalizando votos de outros idiotas.

Nelson Rodrigues já havia identificado esse fenômeno, segundo ele iniciado a partir do momento que os idiotas perceberam-se maioria...

Felizmente, Nelson Rodrigues faleceu sem ter o desprazer de conhecer as supremas idiotias do "politicamente correto"...

A supremacia dos idiotas

O problema, no Brasil...é que, hoje, graças a essa supremacia dos idiotas, passamos a ser tutelados por "gente com problema" - idiotas, imbecis, malandros, hipócritas e psicopatas perigosos, todos postados no comando dos poderes da federação.

Essa cadeia da mediocridade afeta o balcão do cartório do juízo da comarca do interior, o centro acadêmico da fábrica de militontos em que se transformou a universidade pública com cotas para tudo, cargos importantes nos poderes da República e até a municipalidade perdida no rincão do país. Tudo está dominado pela supremacia do tipos problemáticos...

Assim, direitos do cidadão tornaram-se crimes, a inteligência passou a ser ameaça, a riqueza honesta virou desaforo, o crime atividade respeitável, a saúde pública desculpa e a justiça... válvula de escape para tiranetes.

Hoje, gente com problema decide, corrompe, investiga, acusa, fiscaliza, aplica e...principalmente, faz a lei.

Exemplos dos danos que essa gente imbecil causa ao país, não faltam. Basta ler o diário oficial ou ouvir a "Voz do Brasil" (programa este, certamente feito para gente com problema).

De fato, não há limites para a mediocridade. Jamais se poderá subestimar um imbecil (ele sempre se supera...). Por isso, não surpreende que Deputados estaduais tenham aprovado e pretendam tornar lei a chamada "Segunda sem Carne" no Estado de São Paulo. No parlamento paulista, até mesmo políticos inteligentes encontram-se envolvidos na névoa da idiotia institucional - difícil de evitar.

Se sancionado o projeto aprovado pelo governador Geraldo Alckmin, o cidadão paulista ficará privado de consumir proteína animal às segundas feiras e será proibido o fornecimento de carne em bares, restaurantes e refeitórios de órgãos públicos, todo primeiro dia útil da semana.

Virado à paulista afeta o clima do planeta

Um primor de inconstitucionalidade, constitucionalmente justificado pelos bem intencionados, aparentemente preocupados com a saúde alimentar do cidadão paulista... e com o clima do planeta.

A medida, dizem os pressurosos deputados neo-naturebas, é sustentada por estudos médicos, econômicos e climáticos - relacionados ao papel da proteína animal no organismo humano, no manejo da pecuária, nos impactos da flatulência e da aerofagia na atmosfera e no clima. 

O instinto de imitação, herdado dos símios, de "copiar" padrões da "Europa-Maravilha", com o apoio de celebridades do mundo Pop e comedores de sucrilhos (orgânicos), também integrou o cardápio lotado de ingredientes ecológicos e vegetarianos. 

Lideranças importantes do mundo ambientalista surgiram para apoiar a lei "vegano por um dia" - incluso parlamentares com currículo respeitável nesse campo, próceres de uma convicção que remete à educação alimentar e ao convencimento político - JAMAIS, porém, á imposição legal. 

Todo esse discurso pretensamente natureba e fortemente paternalista não condiz com a garantia democrática da autonomia privada do cidadão, cada vez mais limitada pelo Estado no Brasil.

Impor uma mudança de habito alimentar e interferir no mercado de alimentação e abastecimento - por meio de uma "lei de calendário", configura inaceitável invasibilidade. Desequilibra o pluralismo democrático e fere o conceito de "bem comum". 

Afinal, o que seria um "bem comum", ou na visão de Rousseau, uma "vontade geral" que justificaria tamanha interferência do Poder Público na livre iniciativa e na livre escolha do cidadão? A convicção de grupos de pressão "bem intencionados" em busca de um maior "equilíbrio ambiental" no planeta... às segundas feiras? 

Esopo já preconizava que todo tirano exerce sua tirania buscando pretextos justos. O psicanalista Jorge Forbes também já ponderou que normas proibitivas de hábitos individuais geralmente decorrem da necessidade que muitos têm... de interferir na vida de outros. Vale dizer, leis como a da "segunda sem carne", fazem a festa dos que "têm problema".

Diria Freud, se estivesse vivo: "sintomático"...

Desastre jurídico e conceitual

Do ponto de vista jurídico, a medida é um desastre conceitual. Na relação material de custo-benefício, o "interesse público" em causa não resiste à notória assimetria do conflito de natureza conceitual e difusa em causa. Vale dizer: o entendimento de "interesse público" sobre os interesses da cada um, no campo das assimetrias envolvendo interesses difusos - intrinsecamente conflituosos - é igualmente difuso e intrinsecamente conflituoso.

Tendo por parâmetro o Estado Democrático de Direito e o direito á dignidade e às escolhas privadas (incluso as alimentares), o marco legal votado pelo parlamento paulista, não passa de entulho autoritário - imposição de grupos ideologicamente vocacionados que pretendem exercer o monopólio da virtude ambiental, ditando normas de conduta aos outros (no caso, á população paulista). 

Todo cuidado é pouco quando se trata de delimitar autonomias e adicionar na grade de restrições legais, convicções plenas de invasibilidade que irão interferir no cardápio de restaurantes, no regime alimentar de funcionários públicos e na alimentação de crianças em idade escolar. 

Choca, outrossim, constatar que essa norma estrambólica foi editada pela mesma assembleia legislativa que, não faz muito tempo, transformou em circo a CPI da Merenda Escolar - um crime de corrupção inaceitável que afetou a alimentação de milhões de crianças. Agora, pelo visto, o parlamento paulista resolveu vestir o cidadão com uma tanga de crochê e colocá-lo no centro do picadeiro, sem direito a picadinho (às segundas, bem entendido...).

Para essa "gente com problema" devemos mesmo ser hiposuficientes - uma gentalha que clama para ser cuidada por agentes públicos tão bem intencionados quanto incompetentes. 

Não é novidade. Já foi assim com o desarmamento civil, com os juros bancários, com a burocracia cotidiana, com os serviços de saúde, o transporte público, o fisco, as normas de trânsito, etc... 

Portanto, no caso da "Segunda Sem Carne", pouco importa o hábito alimentar ou a escolha do cidadão. Algum imbecil, doravante, cuidará disso para todos nós... incluindo nossos irmãos que não comem carne também nos outros dias da semana, porque não têm dinheiro para comprar.

O virado a paulista tornou-se uma questão de saúde pública. 

E não se surpreendam. É quase certo que o governador sancionará a obra prima dessa gente problemática. 

Afinal, os idiotas votam...
Por: Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View. 
Do site: http://www.theeagleview.com.br/












sábado, 13 de janeiro de 2018

CINCO POTENCIAIS CRIMES QUE GERAÇÕES FUTURAS TERÃO RECEIO DE COMETER


Quando estou em São Paulo, alguns amigos aconselham-me a não usar o celular enquanto caminho na calçada. Sempre ri do conselho —mas, supersticioso como sou, evito. Quando o celular toca, eu paro.  E depois entro numa loja —ou, no
 mínimo, fico à porta— e atendo.                                                             
Os meus amigos preocupam-se com a minha segurança. Mas eles, sem o saberem, são autênticos visionários. Exibir o celular em público não é apenas um convite ao assalto. É uma forma de sofrer acidentes graves ou mesmo fatais.

Na capital do Havaí, foi aprovada uma lei que criminaliza o uso do celular enquanto caminhamos. Informa a revista "Time" que milhares de pessoas são atendidas nos hospitais porque a junção desses gestos —caminhar e usar o celular— não dá bons resultados.

Pior: o número de acidentes com celular suplanta o número de acidentes de viação.

O caso não me espanta. Se virmos bem, a criminalização da insegurança tem sido uma constante nas sociedades ocidentais. Pode ser insegurança física -como dirigir sem cinto. Pode ser insegurança metafísica -como escutar opiniões ofensivas em público. A rede aumenta.

Aliás, a rede aumenta sempre. Dias atrás, esteve em Lisboa o filósofo Jonathan Jacobs, um autor versado em questões de ética criminal. Duas ideias ficaram da visita.

A primeira é que o número de condutas que merecem punição legal tem aumentado nos Estados Unidos de forma dramática. A segunda é que isso não torna uma sociedade mais virtuosa.

Pelo contrário: a obsessão do Estado em controlar todos os comportamentos dos cidadãos tem como resultado um enfraquecimento da responsabilidade moral e cívica dos mesmos. A lei deveria ser o último recurso —depois da educação, da ética, da negociação e do compromisso entre os indivíduos. É agora o primeiro recurso.

Assino por baixo. Entendo que a sociedade moderna não se pode resumir aos Dez Mandamentos que Moisés trouxe do Sinai. E muitos comportamentos que os nossos antepassados consideravam "normais" —violência doméstica, por exemplo— são hoje punidos como crimes públicos (e ainda bem).

Mas como garantir que outros comportamentos normais (agora sem aspas) não serão apanhados pela rede da sobrecriminalização?

Imagino cinco potenciais crimes que os filhos dos nossos filhos terão receio de cometer:

Crime de imposição de gênero
Os pais deverão abster-se de identificar o gênero dos filhos tomando como referência o sexo biológico dos mesmos.

Durante os primeiros 16 anos de vida da descendência, as tradicionais distinções entre "feminino" e "masculino" serão abolidas —na linguagem, no vestuário, nos brinquedos, até na onomástica. "Ele" e "ela", por exemplo, darão origem à palavra "el@" (pronunciada "el-arroba", como em "El-arroba já voltou da escola?").

Crime de ódio privado
Qualquer cidadão que expresse preconceitos raciais, sexuais, culturais ou religiosos em privado poderá conhecer denúncia se alguma testemunha entender fazê-lo. Com a evolução tecnológica, os apartamentos serão obrigatoriamente equipados com sensores antiódio, bastante semelhantes aos sensores antifumo, diretamente conectados com a delegacia do bairro.

Crime de apropriação cultural
Serão severamente punidos os cidadãos que, alegando interesse cultural ou razões artísticas, se apropriem de práticas e temáticas de um grupo étnico a que não pertencem. (Exemplos: caucasianos preparando sushi; escritor asiático publicando romance sobre personagem negro).

Crime de envelhecimento público
Com os avanços da medicina, será intolerável que um cidadão recuse tratamentos/cirurgias para ocultar/reverter o seu processo de envelhecimento, exibindo em público as marcas da decadência física e/ou neurológica. A imposição da velhice à sociedade será equiparada a um ato obsceno.

Crime de interesse sentimental não solicitado
Será punido qualquer adulto que manifeste interesse sentimental não solicitado por outro adulto —através de sorriso, elogio, convite para jantar etc.

O interesse sentimental de um adulto por outro será mediado por um advogado que apresentará ao advogado da parte desejada as intenções do seu cliente. Só mediante autorização da parte desejada é que o proponente poderá avançar para contato telefônico ou digital.
Qualquer outro ato sentimental que envolva "risco de intimidade" implica obrigatoriamente a presença de um tabelião.Por: João Pereira Coutinho  Do site: http://www1.folha.uol.com.br
Imagem de:  Angelo Abu/Folhapress

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O "PATRIOTISMO RACIONAL" DE OLAVO DE CARVALHO COMO ALTERNATIVA


Uma das melhores surpresas do final deste ano foi um debate realizado pelo Brasil Paralelo entre o filósofo e jornalista Olavo de Carvalho e o diplomata Paulo Roberto de Almeida. O tema era o internacionalmente polêmico conceito de “Globalismo”. O termo diz respeito à interpretação de que determinados agentes e forças políticas estão agindo no sentido de ampliar a autoridade de instituições supranacionais e erodir a relevância dos Estados-nações. Gostaríamos de dedicar alguns comentários a esse debate.

As posições dos dois intelectuais foram em direções opostas. Para Paulo Roberto, organizações como a ONU são muito inofensivas e o conceito de que existiriam forças agindo nessa direção centralizadora é obra de ficção, criada para sustentar a teoria “paranoica” de um “fantasmagórico governo mundial”, derivada de um “nacionalismo estreito” e um “soberanismo introspectivo”. O “globalismo” seria, portanto, apenas uma desculpa de movimentos nacionalistas e protecionistas para atacar a globalização.

Olavo discorda. Para ele, o que existe é um movimento de centralização de poder burocrático – inclusive, sem nada de essencialmente liberal na economia; as milhares de páginas de regulamentos da União Europeia já deveriam deixar os liberais desconfiados – que patrocina agendas com vistas à dissolução das culturas nacionais e que também “dissolve as identidades individuais”, construídas “sobre uma base cultural e histórica”. A consequência seria a oferta de oportunidades para projetos políticos de homogeneização de viés “racionalista” dogmático.

Avaliemos esses argumentos por partes. Em primeiro lugar, com todos os respeitos que o professor Paulo Roberto de Almeida merece, afirmar que não existe nenhuma “ideologia globalista” é, isto sim, sem base; a expressão, como pontuamos e repetimos, é usada para conceituar encaminhamentos ideológicos que sustentam a cessão de autoridade a instituições supranacionais de modo a esvaziar ao máximo possível a relevância da ideia de Estado-nação. Ora, basta consultar a obra clássica do socialista fabiano H. G. Wells, A Conspiração Aberta, de 1928, para constatar que toda essa agenda já estava sendo apresentada naquela época, e de maneira deliberada. Não se trata de nenhum clã secreto que trama a dominação mundial com a ajuda de Satanás, alienígenas reptilianos ou qualquer bizarrice do gênero; é uma agenda objetiva, que faz parte do repertório simbólico e intelectual de muitos atores sociais. A afirmação de que nenhuma força política jamais propôs a orquestração dessa estratégia e desse plano, por utópico que seja, é comprovada pelo fabianismo como objetivamente falsa.

Há quem acredite pura e simplesmente na falência da nacionalidade e do localismo, com base em uma argumentação tecnológica. Alguns liberais de mentalidade muito respeitável e razoável, sob o adorno de um cosmopolitismo fluido e plástico, defendem certa crença exagerada em que as redes, a Internet como um todo, estariam dissolvendo a importância das concretudes, diluindo as fronteiras, aniquilando as identidades nacionais, na medida em que estabelecem uma interação muito mais ágil e intensa entre todas as partes do mundo, o compartilhamento de imagens, áudios e vídeos que as fronteiras de qualquer natureza não podem obstar a que se processem e espalhem. Esse “apocalipse revolucionário e transgressor” parece estar, em alguns círculos, assumindo uma retórica voltada a pontificar o que será o futuro, muito semelhante às certezas destroçadas do Positivismo oitocentista. Estaremos cometendo o mesmo erro?

As redes terão diluído as identidades calcadas no que se elabora no processo histórico, o nosso ethos? Será que os brasileiros, bem como o caldo cultural que os constitui como sendo o que são, são rigorosamente iguais aos franceses, ingleses, russos ou americanos? Parece-nos claro que não. Será que faz sentido dizer a um israelense que a Internet diluiu a razão de ser de suas fronteiras e do que torna seu povo uma comunidade com identidade histórica e política? Ou será essa absoluta “cidadania mundial” uma fantasia útil a teses globalistas, próprias de um intervencionismo invasivo às particularidades locais, que querem exatamente transportar essa identificação para um centro supranacional? Será essa fluidez das redes suficiente para aglutinar o povo e negar raízes calcadas na língua, nas interações e negociações culturais e políticas dos séculos, como diria o filósofo britânico Roger Scruton?

Irá esse cosmopolitismo virtual absorver e destruir as identidades, criando outras, com base em associações, que as substituam? Terá ele esse poder? Não nos parece. Não nos parece que ele tenha dado, mais do que a Ciência aos positivistas, as provas de que vai jogar ao lixo tudo que somos e construímos até hoje. Não nos parece que irá deslegitimar o apelo de uma sabedoria de séculos e de milênios que ainda nos fala tão ao íntimo, e que o poder da máquina não soa capaz de suplantar. Não nos parece que o forte e construtivo apelo ao nosso lugar no mundo e à nossa identidade concretamente desenvolvida, alicerçada em fenômenos e fatos do mundo real, tenha perdido sua utilidade de integração sob os apelos imperativos do virtual.

Daqui a um tempo na escala histórica, poderemos voltar a conversar. Ideias como Brasil, América, União Europeia, NAFTA, não faziam sentido há 500 anos. As nações e fronteiras modernas não existiam na Antiguidade ou na Idade Média – mas havia realidades, tais como as Coroas e as terras dos senhores feudais, ou as instituições religiosas, que tomavam seu lugar na experiência de pertencimento. Levando em consideração até uma escala astronômica, todos os países cessarão de existir e com eles as identidades que os constituem, já que o próprio planeta um dia sumirá. Tudo que conversamos existe em uma escala de transitoriedade no cosmos.

Por isso, significa que está superado? Que já não nos serve? É essa a discussão. O entendimento que sustentamos, pessoalmente, é de que não. O tempo dirá quem está certo. O que não se pode admitir como premissa é que uma grande transformação seja sinônimo de uma ruptura dilaceradora do edifício do passado; tal quebra do senso de continuidade é um erro que custou muito caro às arrogâncias filosóficas e políticas dos últimos séculos, erro esse que não devemos atualizar, à busca de um agente “refundante” que, num sentido total, fabrique um novo mundo.

Hoje, parece mais razoável ouvir o que diz Olavo sobre o sentimento patriótico. Diz ele que no Brasil, criou raízes um “nacionalismo estatizante” baseado em três principais inspirações: o ambiente militar (que pode desembocar no puro militarismo), o viés fascistoide-varguista ou uma perversão socialista, que manipula o sentimento popular contra reformas econômicas e capitaliza politicamente a ideia da “privatização” como ato de um “inimigo entreguista” ou “imperialista americano”. Em seu lugar, para Olavo, deveríamos cultivar um “patriotismo racional”, “economicamente esclarecido”, que não precisasse abdicar da racionalidade das teses econômicas liberais e que não se transformasse em protecionismo econômico e culto ao Estado-Leviatã.

O conselho de Olavo nos toca fundo, mas não é novo. O liberal Roberto Campos já diferenciava o “nacionalismo de fins” do “nacionalismo de meios”, dizendo-se adepto do primeiro. O intelectual católico Gustavo Corção já distinguia “nacionalismo” de “patriotismo”, atribuindo caráter positivo ao segundo. O intrépido tribuno da antiga UDN, Carlos Lacerda, já era antifascista, anticomunista e antipático à ideia de regimes militares, mas entusiasmado defensor do patriotismo. Olavo, portanto, não está inventando nada. Trata-se antes de resgatar algo e qualificar que de inventar.

Em defesa dessa plataforma de um patriotismo de vocação econômica e institucional liberal, parece válido recuperar algo que dissemos em artigo sobre a retórica de Donald Trump e seu slogan “America First”.Lembramo-nos ali de que o filósofo britânico Roger Scruton, novamente ele, em seu livro Como ser um conservador, abordou o conceito de nacionalismo como algo que pode ser encarado e vivido como uma ideologia totalizante, transcendendo em relevância a religião, a filosofia, os direitos individuais e o sentimento humanitário, com o que se pode tornar um dogma fanático, autoritário e relativista moral tão terrível quanto os adversários que se propuser a combater – razão pela qual argumentos nacionalistas e socialistas já andaram juntos em diversas ocasiões.

Porém, Scruton destaca, “para as pessoas comuns, (…) ‘nação’ significa simplesmente a identidade histórica e a lealdade que as une no corpo político”. Para ele, “é porque somos capazes de definir a nossa condição de membro de uma sociedade em termos territoriais que, nos países ocidentais, desfrutamos das liberdades elementares que são, para nós, o fundamento da ordem política”, afinal, “nos países baseados em obediência religiosa e não secular, a liberdade de consciência é um ativo escasso e ameaçado”.

Em analogia interessante, Scruton recorda que as diferenças de opinião só não dilaceram completamente as boas famílias porque elas entendem haver algo que as deve manter unidas em um conjunto; da mesma forma, “tem de haver uma primeira pessoa do plural, um ‘nós’, se os muitos indivíduos existem para ficar juntos, aceitando as opiniões e os desejos dos demais, independentemente das divergências”. Um “nós” nacional, cuja “liga” é mantida pela sensibilidade patriótica, é importante, porque, melhor do que um “nós” religioso, étnico ou baseado em segmentos fragmentados, serve à acomodação das divergências. Seriam “um Estado de Direito secular, uma jurisdição territorial e um idioma comum em um lugar em que as pessoas reivindicavam como sendo a sua pátria (lar)” justamente o substrato do sucesso dos Estados Unidos, ainda que a religião e demais aspectos da cultura popular tenham influência prática sobre ele – o que não é contraditório.

A reação às medidas centralizadoras da União Europeia apenas sugere que as nacionalidades ali presentes são, de algum modo, forças vivas que não permanecem caladas perante uma intromissão artificial. Não professamos um completo atomismo moral e, por isso, consideramos a “nação” e a “pátria” conceitos afetivos que, bem compreendidos e conceituados, não precisam se expressar em termos estatizantes.

O apreço ao Brasil não precisa ser o apreço a monopólios estatais ou empresas públicas. Pode ser também pela iniciativa privada, fruto do labor e dos valores dos filhos da pátria, fazendo florescer em seu seio mais prosperidade e riqueza. Pode ser também um apreço às nossas boas referências históricas, a um futuro como coletividade e à comunidade política a que pertencemos – cujo legado cultural, sucessos e até problemas são nossos, são conhecidos e próximos, em vez de uma identificação com autoridades anônimas em uma organização internacional desconhecida.
Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal 
Do site: https://www.institutoliberal.org.br/

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

SOBERANIA AFIRMATIVA DEFINE O CONTROLE ISRAELENSE SOBRE JERUSALÉM

"Que teremos que morrer um dia, é tão certo como não se pode recolher a água que se espalhou pela terra. Mas Deus não tira a vida; ao contrário, cria meios para que o banido não permaneça afastado dele." (2 Samuel 14)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu, no dia 6 de dezembro de 2017, Jerusalém como capital do Estado de Israel. A decisão deu-se em cumprimento da própria lei, aprovada pelo Congresso Americano em 1995 e, no entanto, não implementada.

A decisão de Trump implica na instalação da embaixada dos EUA na cidade santa, selando mais de duas décadas de indefinições americanas quanto ao cumprimento da própria determinação legal de reconhecer materialmente a capital do estado israelense e definindo a posição do líder mundial quanto ao domínio de Jerusalém, em mais de seis décadas de conflitos.

Do Vaticano à ONU, todos criticaram a decisão norte americana. No entanto, há uma razão de ordem afirmativa no reconhecimento da soberania israelense sobre a cidade. Senão vejamos.

Uma soberania conquistada com sangue

Criado após o fim da II Guerra e apoiado pelo governo brasileiro na primeira hora, o Estado de Israel não foi um presente. Foi conquistado pelos judeus e consolidado com sangue, após um milênio e vários séculos de fugas, lutas, diásporas, ocupações, perseguições, progroms, segregação, extermínios em massa, duas guerras mundiais e quatro guerras convencionais contra as nações árabes unidas, após reconhecido o domínio territorial, em 1948/49, 1956, 1967 e 1973.

Jerusalém, desde 1948, é materialmente a Capital de Israel. No entanto, somente após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, os israelenses a unificaram.

Até então, Jerusalém era uma cidade dividida, sitiada em território jordaniano, com acessos segregados às religiões não muçulmanas.

De acordo com o Plano de Partição da Palestina elaborado em 1947, pela ONU, Jerusalém seria um corpus separatum - entidade separada dos territórios destinados aos israelenses e aos palestinos, submetida a domínio e administração internacional. A ONU conferia esse status especial reconhecendo a importância cultural e religiosa de Jerusalém, declarada patrimônio da Humanidade.

Porém, as Nações Unidas nunca executaram o plano e o documento jamais entrou em vigor - embora prometido desde 1948.

Jerusalém, então foi ocupada por Israel e dividida com a Jordânia até a explosão da terceira guerra entre árabes e israelenses, em 1967. 

Em 1967 o Egito, Jordânia e Síria, apoiados pelo Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Argélia e Sudão (sendo o Egito e Síria apoiados estrategicamente pela União Soviética), formaram uma ampla aliança militar, configurando um dispositivo de guerra capaz de varrer os judeus de seu território. No entanto, a empreitada terminou frustrada graças ao genio estratégico e brilho militar dos generais responsáveis pela defesa do pequeno país sitiado. 

Sob o comando do general Moshe Dayan, as forças israelenses se anteciparam aos arabes, tomaram porções territoriais importantes enquanto aniquilavam, em ataques aéreos cirúrgicos e precisos, as bases das forças do Egito, Jordania e Síria, destruindo seus aviões de combate antes que pudessem decolar. 

Em seis dias, Israel havia consolidado sua vitória contra todos.

A vitória militar, ante a terceira injusta e desproporcional agressão dos países árabes, foi dessa feita consolidada territorialmente, com efetiva ocupação israelense e devoluções pontuais apenas de algumas porções, reservando-se o Estado de Israel em ampliar sua soberania para não mais tornar-se estrategicamente vulnerável.

Foi assim que Israel uniu as antes divididas porções oriental e ocidental de Jerusalém, ocupando a "cisjordânia" (também conhecida como "judéia"). 

Jerusalém, sob domínio israelense, tornou-se uma cidade livre. Aberta aos cidadãos de todas as religiões.
Guerra dos Seis Dias - impressionante feito israelense e marco da história da estratégia militar

Unificação e soberania afirmativa sobre Jerusalém

Em 1995, na gestão do presidente Clinton, o Congresso Americano aprovou o "Jerusalem Embassy Act", determinando a instalação da embaixada norte americana na capital declarada por Israel.

O ato era consequência natural do reconhecimento de um estado nacional soberano. Aduzia o próprio marco legal que "Jerusalém era administrada como uma cidade unificada, onde as religiões se encontravam respeitadas e protegidas".

De fato, a decisão do Estado americano era necessária. O "status internacional" de Jerusalém, antes e mesmo depois da decisão do congresso, gerava conflitos nos campos jurisprudencial e administrativo nos EUA, com relação à aceitação de passaportes e reconhecimento de cidadãos provindos daquela cidade, como sendo israelenses.

Práticos, os norte americanos optaram pela realidade material e adotaram um princípio que denomino de "soberania afirmativa" - o reconhecimento da soberania a partir do efetivo controle demonstrado pelo Estado nacional sobre o território (*1). 

No mundo repleto de relativismos, expressados até mesmo em tratados internacionais, o instrumento da "soberania afirmativa" revela-se importantíssimo para resolução de conflitos assimétricos e legitimação territorial em guerras híbridas, envolvendo interesses de ordem difusa, nacional, religiosa e cultural (*2).

A afirmação de soberania é, ao mesmo tempo, um contraconceito à ideologia de "globalização" e um arma de reivindicação de domínio territorial face à "Nova Ordem Mundial". 

De fato, a relativização de soberanias vem sendo inoculada no direito internacional e já consta cristalizada em vários diplomas internacionais, como é o caso do Tratado de Direitos do Mar, que reduziu a faixa marítima territorial dos países subscritores à 12 milhas, permitindo que estes Estados exercessem "direitos de soberania", condicionados à afirmação do interessse sobre zona econômica mediante inventário e levantamento dos recursos existentes nessa área. 

"A Soberania Afirmativa, portanto, é um remédio institucional e uma reação política material à relativização da soberania aplicada pelos novos tratados internacionais, que entendem haver direito à soberania como um bem a ser reclamado, e não mais respeito à soberania como um fato jurídico presumido. Destarte, respeito implicará em afirmação material de um controle soberano do Estado sobre o seu território".(*3)

Donald Trump, eleito com uma agenda de "back to basics"(*4) e comprometido a lutar contra a relativização da soberania expressa pela doutrina da "Nova Ordem Mundial", não poderia fazer diferente: reconheceu a afimação soberana de Israel e, com 22 anos de atraso, finalmente cumpriu a própria lei americana.

Trump agiu bem. Terminou com décadas de hipocrisia e sinalizou que não mais cederia aos caprichos "politicamente corretos" dos que sempre insistiram em negar soberania a Israel.

ONU muda seu papel

Dentre os que sempre insistiram em negar, nos últimos trinta anos, de forma "politicamente correta" a soberania israelense sobre Jerusalém, está a ONU.

De fato, embora omissa desde sempre no seu dever de cumprir com o que decidira ainda em 1948, a ONU - por meio das resoluções 476 e 478 / 1980, de seu Conselho de Segurança - intentou anular a "Lei Básica de Jerusalém", aprovada pelo Knesset (o parlamento de Israel, sediado na cidade santa).

E não parou mais. Tratou a organização multilateral de somar moções, resoluções e declarações atacando a soberania israelense sobre Jerusalém e demais territórios estratégicamente ocupados, tomados aos estados árabes nas guerras de agressão por eles próprios provocadas. 

A ideologia da "Nova Ordem Mundial" explica as sucessivas invectivas da própria ONU contra as ações de afirmação de soberania do Estado de Israel. E essa doutrina, de fato, já é um instituto a ser considerado no campo do direito internacional. 

A propósito, expressa a declaração da Comissão das Nações Unicas para o Governo Global, de 1999: 
“O conceito de soberania nacional têm sido imutável, por um principio sagrado das relações internacionais. É um principio que cederá lentamente e enfaticamente 
aos novos imperativos da cooperação ambiental global.”

Assim, se há um organismo que tem mudado a postura, contrariando a estabilidade e gerando insegurança jurídica no campo das divisões políticas internacionais, é justamente a Organização das Nações Unidas. 

Criado o Estado de Israel, a ONU também prometeu apoiar a formação de um Estado Palestino (embora a Jordânia seja palestina - incluindo a família real). Porém, somente há poucos anos resolveu admitir a autoridade palestina no rol de convidados à Assembleia. Um escárnio final na relativização de relativismos e contradições que têm assaltado a importante organização internacional. 

Trump e Netanyahu - duas presenças antipáticas que no entanto não prejudicam a afirmação soberana de Israel

Setembro Negro, Sabra e Chatila

A autoridade palestina é uma realidade. Porém, o grande problema para o encaminhamento pacífico de um entendimento territorial - que poderá envolver Gaza ou a península do Sinai, é o próprio conflito intestino palestino. Esse conflito envolve Hezbolah, Hammas e Fatah, facções que não se entendem, destroem-se mutuamente, prejudicam a causa palestina e projetam seu ódio sobre a existência do Estado de Israel - cuja destruição é enumerada como um objetivo estatutário daquelas organizações. 

A cultura do ódio a Israel e a adoção sistemática de ações violentas como forma de expressão, não criam margem para qualquer progressão de uma consolidação da demanda nacionalista palestina.

Traumas históricos devem, também ser considerados.

Dentre inúmeras cicatrizes que ainda doem no conflito territorial entre judeus e palestinos, há o massacre de Sabra e Chatila - um deslize imperdoável que maculou a carreira heróica e firme do General Ariel Sharon, líder histórico de Israel.

O assunto do massacre sempre é erguido como uma tocha a arder na noite escura das indefinições do conflito bíblico entre judeus e seus vizinhos, no oriente médio. No entanto, é preciso lembrar a origem do desastre - o Setembro Negro, vinculado à guerra fria e ao conflito ideológico das facções palestinas contra o Rei Hussein, da Jordânia.

O Setembro Negro resultou na expulsão de 1,5 milhão de palestinos da Jordânia, na década de 70, gerando uma das maiores "diásporas" já registradas na história.

Mais de 20 mil palestinos foram mortos no Setembro Negro, e o responsável pelo massacre (que atingiu o pico em setembro de 1970), foi o Rei Hussein da Jordânia. 

A Jordânia é praticamente um Estado palestino. Sua população é composta de 70% de palestinos e 30% de beduínos. A Jordânia foi criada artificialmente, fruto de uma manobra tipicamente britânica justamente para impedir a consecução do "Lar Nacional Judaico", definido pela Liga das Nações em 1922.

Após o fracasso da Guerra dos Seis dias, o Rei Hussein, um monarca eurocolonizado e enfraquecido, foi obrigado a enfrentar uma massa cada vez maior de descontentes com a falta de apoio árabe à causa palestina. 

Estimulados pela União Soviética, interessada geopoliticamente no território da Jordânia, os cada vez mais radicalizados grupos palestinos, principalmente a Organização para Libertação da Palestina (OLP) e a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), desafiaram o reino jordaniano.

Nos moldes da Frente Nacional de Libertação argelina, na década anterior, as forças palestinas de libertação (então aparelhadas por lideranças marxistas) organizaram sua própria força policial, e tribunais independentes; passaram a realizar prisões e impor um sistema de educação socializado, claramente hostil às madrassas islâmicas. Criaram também serviços sociais e de saúde, estações de rádio e jornais independentes. Praticamente um Estado Palestino dentro do Estado Jordaniano.

Com a Jordânia à beira da guerra civil, tendo sofrido três tentativas de assassinato, o rei Hussein decidiu reagir violentamente. Com o apoio da Arábia Saudita e demais emirados, entre junho e setembro de 1970, promoveu um verdadeiro massacre contra a população, combatendo os guerrilheiros das facções e expulsando para fora do território jordaniano uma massa impressionante de palestinos.

O Setembro Negro é um episódio meticulosamente ignorado pelos "politicamente corretos" e pelos líderes islâmicos - inclusive os palestinos. 

A multidão de refugiados foi acolhida no Líbano. Porém, o pequeno país, democrático, multirreligioso e civilizado, pagou um alto preço pela hospitalidade. 

A população de refugiados equivalia praticamente à população original do Líbano. Essa massa de refugiados reativou a ação de radicais e transferiu todos os conflitos religiosos e atritos intestinos das facções para dentro do território libanês, originando uma guerra civil entre facções e destas contra os cristãos, que destruiu Beirute e várias outras cidades, promoveu carnificinas e durou mais de uma década. De fato, o "Setembro Negro" destruiu o Libano.

Sabra e Chatila, fique bem claro, não foi uma ação judia, foi um massacre organizado pelos milicianos cristãos maronitas do próprio Líbano.

Inegável que o desastre não ocorreria se os israelenses não houvessem criminosamente se omitido, permitindo que milicianos cristâos transpusessem suas linhas para praticar atrocidades nos acampamentos de refugiados palestinos. 

No entanto, ainda que tenham contado com a conivência do exército de ocupação israelense, os cristãos libaneses assim o fizeram movidos por razões próprias, advindas da guerra civil, tal qual o Rei Hussein da Jordânia - razões derivadas das contradições de ordem ideológica, religiosa e política, que envolvem os grupos conflagrados no mundo árabe-muçulmano, nem um pouco identificadas com razões de Estado de Israel (a não ser com referência ao interesse na destruição deste)...

A marca do passado, no entanto, ainda condiciona emoções e nubla a razão no debate das afirmações de soberania na região.

Antipatias que não ajudam...e não atrapalham

No campo das antipatias históricas, outrossim, dois personagens decididamente não ajudam na afirmação de Jerusalém: Donald Trump e Benjamin Netanyahu.

Da mesma forma que já critiquei (e elogiei) Trump, também já analisei, em longo artigo (*5), a simbiose sinistra do Likud (partido-mãe da direita israelense) com o Hammas, que beneficia Netanyahu.

Porém, não é a antipatia política para com os dois personagens, líderes dos EUA e de Israel, que irá desfigurar a afirmação histórica de Jerusalém como capital do Povo Judeu.

Quanto à prometida tutela da ONU sobre a cidade sagrada. Torna-se à essa altura evidente, sempre tratou-se de mera ficção. 

Conclusão

Jerusalém é sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos. No entanto, estivesse Jerusalém entregue aos muçulmanos, é um fato, não poderíamos, cristãos e judeus, para lá peregrinar. 

Isso já ocorreu inúmeras vezes ao longo dos séculos, e só cessou com o domínio israelense.

Os fatos e a história não deixam dúvida quanto ao fato de Jerusalém, sob domínio judeu, ser mais segura ao mundo e constituir uma garantia ao exercício da fé por todos os povos - mesmo os de religião muçulmana.

Ou seja; reconhecer Jerusalém como capital israelense significa garantir o livre exercício da fé por todos os povos, que a ela se dirigem em peregrinação.

O mundo livre agradece.

Notas:

(*1) Pedro, Antonio Fernando Pinheiro: "Soberania Afirmativa", in "Revista Ambiente Legal", Ano 1, n. 2, Jan.Fev.Mar. 2006 - The Eagle View - Blog, in http://www.theeagleview.com.br/2013/09/soberania-afirmativa-sobre-nosso.html, visto em 13/12/2017. 
(*2) Pedro, Antonio Fernando Pinheiro: "Neoparamilitarismo, Conflitos Assimétricos, Interesses Difusos e Guerra de 4ª Geração", in The Eagle View - Blog, in http://www.theeagleview.com.br/2015/09/paramilitarismo-direito-e-conflitos-de.html, visto em 13/12/2017.
(*3) idem *1
(*4) Pedro, Antonio Fernando Pinheiro: "Back to Basics, Americanos Resgatam os mais Simples Valores Americanos", in The Eagle View - Blog, in http://www.theeagleview.com.br/2016/11/back-to-basics-americanos-resgatam-os.html, visto em 13/12/2017.
(*5) Pedro, Antonio Fernando Pinheiro: "Simbiose Sinistra", in The Eagle View - Blog, in http://www.theeagleview.com.br/2014/07/simbiose-sinistra_29.html, visto em 13/12/2017 
Por: Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.