terça-feira, 31 de julho de 2018

INTIMAÇÃO

Até os anos 80 do século passado, programas como sex lib, feminismo, gayzismo, abortismo e liberação das drogas eram, para os governos comunistas, desvios pequeno-burgueses criados pelo imperialistas ianques para afastar a juventude da luta pelo socialismo.

Decorrida uma geração, todos esses temas foram absorvidos no discurso revolucionário e muito contribuíram para que o esquerdismo, aparentemente condenado à morte pela queda da URSS, não só sobrevivesse como se tornasse a força política dominante na Europa e nas Américas.

Se isso não basta para tornar evidente a potência de autotransformação camaleônica do movimento revolucionário mundial, não sei mais quantos desenhos seria preciso esboçar no quadro negro para ilustrá-la. No entanto, pouquíssimas são as inteligências que, nas hostes liberais e conservadoras, se deram clara conta desse fenômeno e de suas conseqüências.

Mas outras mutações concomitantes, tão vastas e profundas como essa, vieram a tornar o panorama ainda mais confuso.

Cito somente quatro:

1. A invasão islâmica, a “ocupação pela imigração”, cuja realidade muitos negavam até ontem, é agora um fato patente que ameaça a segurança de todas as nações ocidentais. Ao mesmo tempo, o cristianismo vem sendo cada vez mais banido da esfera pública, só deixando aos governos, mesmo soi disant conservadores, a saída de opor, à islamização crescente, o apelo aos mesmos valores laicos “politicamente corretos” que a esquerda conseguiu impor como normas universalmente válidas.

O resultado é óbvio: a invasão islâmica não cessa, mas a esquerda se afirma cada vez mais como a grande e única salvadora das democracias, que ao mesmo tempo ela solapa mediante o apoio ostensivo à imigração muçulmana em massa como alternativa “pacífica” ao terrorismo.

2. Instruído ao menos parcialmente pelo “eurasianismo” de Alexandre Duguin, o presidente russo Vladimir Putin decidiu empunhar a bandeira do cristianismo tradicional e brandi-la contra o Ocidente hedonista e agnóstico, ganhando com isso o apoio de amplas faixas de conservadores desiludidos.

Desiludidos seja com o establishment americano, impotente para livrar-se de um bandidinho chinfrim sem documentos que já mal esconde suas simpatias islâmicas; seja com a Igreja Católica, cujo Papa se parece cada vez mais com um upgrade improvisado do sr. Leonardo Boff.

Ao mesmo tempo que seduz esse público, porém, Putin vai, mediante acordos de cooperação econômica e militar, dando a maior força aos movimentos esquerdistas por toda parte, colocando os conservadores na posição desconfortável de servir a seus inimigos estratégicos em troca de um reconforto ideológico passageiro e muito provavelmente ilusório.

3. Também simultaneamente, muitos grupos capitalistas bilionários passaram a apoiar partidos e movimentos de esquerda de maneira cada vez mais ostensiva, culminando na declaração pública do sr. Bill Gates de que só o socialismo salvará o mundo.

Nesse panorama, a mera defesa da economia de mercado, que até ontem era a pièce de resistance do cardápio liberal-conservador, perde todo sentido estratégico e se torna um mero pretexto para adotar, em nome da “modernidade” e da “democracia”, todo o programa sociocultural da esquerda: gayzismo, abortismo, etc. etc.

4. Por fim, esse programa foi integralmente subscrito pela ONU e se tornou obrigatório para todas as nações — exceto as islâmicas, é claro, que assim se beneficiam duplamente da dissolução moral do Ocidente, por um lado aproveitando-se da debilitação das identidades nacionais (desprovidas cada vez mais de seus fundamentos religiosos) e arrombando portas para a entrada de novas levas de imigrantes, por outro lado oferecendo-se gentilmente como portadoras da esperança de uma possível “restauração da moralidade”.

Tudo parece calculado, enfim – pelo demônio em pessoa, quem mais?– para aprisionar a opinião pública mundial numa rede de ambigüidades e contradições paralisantes, de modo pegá-la desprevenida, sonsa e inerme no dia em que se realizar a profecia que Carlos Drummond de Andrade enunciou nos versos da “Intimação”:

Abre em nome da lei.

Abre sem nome e lei.

Abre mesmo sem rei.

Abre sozinho ou grei.

Não, não abras; à força

de intimar-te, repara:

eu já te desventrei.
Por: Olavo de Carvalho Do site: http://www.seminariodefilosofia.org/

sexta-feira, 27 de julho de 2018

INTELIGÊNCIA DE ESTADO DE OLHO NO FACEBOOK

Infiltração esquerdista no sistema de vigilância de conteúdo, pode explicar crises e expurgos na Rede Social.

Algo de grave está ocorrendo na rede social - e a falta de transparência só piora o clima


Fontes de inteligência informam que as agências de "fact checking" envolvidas no controle do fluxo de "fake news" e identificação de "falsos perfis", no FACEBOOK, não apenas podem não estar resolvendo o problema...como podem estar criando outros problemas.

O mapeamento de inteligência, efetuado meses atrás, pelo visto, antecipou com sucesso os conflitos que agora estão sendo protagonizados pelo Facebook, à véspera das eleições no Brasil.

Segundo essas fontes, as agências reunem um horizonte inicial de aproximadamente 40 supervisores de conteúdo. NENHUM desses quadros encontra-se identificado ideologicamente com qualquer posicionamento conservador ou de direita. Cinco perfis são tidos como "indefinidos" e 12 encontram-se alinhados com posições "progressistas" ou de esquerda. TODOS OS DEMAIS quadros pertencem a movimentos ou grupos alinhados ao PSOL, PCdoB e PT.

O convênio para supervisão de conteúdos "fakes", firmado pela empresa de Zuckerberg, visa objetivos aparentemente nobres. No entanto, as vias escolhidas parecem conter vício de origem, denotando clara infiltração ideológica.

O chamado MAPA SEMÂNTICO, montado meses atrás pelas fontes de inteligência, reproduzido abaixo, revela um fluxo preocupante.

Fluxo de controle ideológico nas informações da rede do facebook, segundo fontes de inteligência

Interessante o destaque dado no mapa a um reconhecido profissional de mídia, porém engajado, oriundo do universo de blogueiros integrantes do esquema de mídia apoiado pelo governo Lula - nome omitido aqui por razões óbvias.

A menção a nomes pode não interessar à questão, vista objetivamente. Porém, no que tange objetivamente aos entes jurídicos envolvidos e à orientação ideológica de seus quadros, o fato torna-se relevante, na medida em que a busca pretendida pela Rede Social seria em defesa da NEUTRALIDADE, e a caça de manipuladores de notícias falsas visaria impedir que esses elementos pudessem influir "negativamente" no ambiente de debate político.

Porém, parece que o processo desbordou para objetivos menos nobres, estabelecendo prática de censura política, revelando estar o sistema contaminado pela infiltração ideológica.

A "caça às bruxas" - no melhor estilo "bolivariano", como o expurgo em massa de perfis e páginas identificadas "à direita", protagonizado pelo FACE, em pleno período eleitoral, como denunciado por vários alvos da ação, pode expor de forma desastrosa uma má gestão, pela empresa, de seu próprio compliance. No entanto, o caso, não surpreendeu os serviços de informação brasileiros, americanos ou mesmo o israelense.

Importante observar que o Facebook está se revelando, desde o episódio da eleição de Donald Trump, nos EUA, uma plataforma sujeita a todo tipo de manipulação, por censura, algoritmos e uso indevido de dados. Esse fenômeno não se resolve com pedidos de desculpas, muito menos com a contratação de "gente com problema" para resolver o problema...

A "redução" do ambiente de circulação de mensagens, estabelecida por julgamentos subjetivos dos quadros dessas agências de censura e, também, por algoritmos baseados em palavras-chave, constitui outra fonte de manipulação desleal e politicamente condenável. Esse mecanismo, malicioso, também é outro meio de "economia" que deve estar reduzindo o alcance de postagens ideologicamente contrárias ao "establisment facebookiano", consideradas "incômodas" pela rede.

O caso é grave, pois distorce o ambiente virtual, destrói a neutralidade da rede, fere o marco civil da internet (que pretensamente deveria proteger), manipula o fluxo de informações, distorce a opinião pública e induz o processo político eleitoral a vícios insanáveis. Não por outro motivo, o próprio Ministério Público Federal, atento à questão*, tratou de abrir procedimento para investigar os critérios do recente expurgo de movimentos reconhecidamente contrários à ideologia de esquerda, como o MBL.

Por isso mesmo, é muito importante divulgar o fato, e solicitar abertamente ao Facebook que responda com transparência, como estruturou seu sistema de checagem e identificação de fakes, até para que seja desmentido, ou confirmado esse levantamento, em defesa da liberdade de informação, de imprensa e de opinião.

Com a palavra, a Rede Social...
Notas: 
*https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,facebook-tera-de-justificar-retirada-de-paginas-e-perfis-da-rede-em-ate-48-horas-diz-mpf,70002415120
Por: Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB. Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API, é Editor - Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View. Do site: https://www.theeagleview.com.br

terça-feira, 24 de julho de 2018

PRISÃO ONDE 100% DOS DETENTOS TRABALHAM E ESTUDAM? EXISTE E FICA NO BRASIL


Apesar de serem exceção, penitenciárias-modelo viram exemplo de eficiência no sistema prisional brasileiro

Presos cuidam da hora da Unidade de Progressão do Complexo Penitenciário de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Albari Rosa/Gazeta do Povo


Apesar da superlotação e de diversos problemas de infraestrutura e gestão que afetam o sistema prisional brasileiro, o país possui alguns bons exemplos de presídios que são uma espécie de oásis em meio ao caos. São unidades que servem como projetos-piloto para testar políticas públicas em que o foco está na reabilitação do preso, para que ele tenha condições de voltar à sociedade.

Nunca foi tão importante estar bem informado.Sua assinatura financia o bom jornalismo.

Aposta-se, nesses casos, em oferecer ao detento o que está previsto na Lei de Execução Penal (Lei 7.210/1984), que é basicamente o direito de ser tratado com dignidade, tendo acesso a saúde, alimentação adequada, estudo e trabalho. Isso tudo sem esquecer das regras de disciplina que um presídio costuma ter.


Resultado de uma parceria entre o governo do Paraná e o Tribunal de Justiça do estado (TJ-PR), a Penitenciária Central do Estado – Unidade de Progressão (PCE-UP) é hoje o principal exemplo desse modelo de presídio no país.

Inaugurada em 2016 em um antigo prédio reformado do Complexo Penitenciário de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, a unidade possui atualmente cerca de 240 presos que cumprem pena em regime fechado. Enquanto no resto do estado o número de presidiários que estudam e trabalham chega a no máximo 40% e 30%, respectivamente, na Unidade de Progressão esse índice é de 100%. 


Para se ter uma ideia da disparidade dos números, no Brasil, só 12% dos presos, em média, estudam, e 15% trabalham, de acordo com o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen)

“Essa unidade de progressão tem índice de reincidência criminal zero. O objetivo é que quem saia de lá saia preparado para o convívio social”, diz o diretor geral do Departamento Penitenciário do Estado do Paraná (Depen-PR), Luiz Alberto Cartaxo Moura. 

Para ingressar na Unidade de Progressão, contudo, o preso tem que ter o seu perfil avaliado e aprovado, e nem todos passam pela peneira. A escolha é feita através de uma análise da ficha criminal, levado-se em conta o tipo de crime cometido e a personalidade do preso. Ele é entrevistado por assistentes sociais e psicólogos para se saber se é recuperável e/ou se ele se propõe a passar pelo processo de recuperação.

Depois, passa por um período de triagem, em que são observadas as suas reações. Se reagir bem, pode concluir a pena na UP. Caso contrário, volta para uma penitenciária comum. 

“Qualquer ação de indisciplina que o preso cometa ele é imediatamente removido”, explica o diretor geral do Depen-PR. 


Cartaxo ainda afirma que quando há progressão de pena, o detento da UP sai dali não para o regime semiaberto, como a Colônia Penal Agrícola, por exemplo, mas para o chamado regime harmonizado, em que o indivíduo fica em casa com a família, mas usando uma tornozeleira eletrônica e sendo monitorado pelo Escritório Social – órgão criado para controlar os presos que utilizam o dispositivo e egressos do sistema prisional. 

A advogada Isabel Kugler Mendes, presidente do Conselho da Comunidade de Curitiba, diz que aprova a ideia da Unidade de Progressão, pois o próprio Conselho da Comunidade ajudou a pintar, arrumar galerias, dar material de trabalho, entre outras coisas. 

“É uma experiência válida, pioneira no Brasil, e o pessoal do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do Paraná (GMF), ligado ao TJ-PR, faz um trabalho muito bom ali, então acho que tínhamos de dar um apoio mesmo”, afirma Isabel. 

Ela reforça, no entanto, que essa unidade é única no estado, pois a maioria das prisões está superlotada, com problemas estruturais, falta de pessoal e de condições mínimas para abrigar detentos. Cartaxo, por sua vez, vê que o modelo da Unidade de Progressão pode e deve ser aplicado a outras penitenciárias no Paraná e no Brasil. 

“O preso condenado tem que ser alvo de políticas de ressocialização que envolvam trabalho, estudo, leitura, atendimento sócio-educativo, médico e para a família do preso. Todo esse cabedal para que a gente possa reinserir o indivíduo na sociedade. E também antecipar gradativamente, através da remição de pena, a permanência dele no sistema prisional. Temos que investir pesado nisso”, diz Luiz Alberto Cartaxo Moura, diretor do Depen-PR. 
Apacs 

Apostar na ressocialização do preso por meio do trabalho e do estudo também é o objetivo das Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (Apacs). Assim como na Unidade de Progressão do Paraná, essas entidades fazem uma seleção dos seus presos.

Geralmente, são detentos que já passaram pelo sistema penitenciário comum e têm um perfil de reabilitação mais avançado. As Apacs estão espalhadas em pelo menos oito estados brasileiros e não tiveram registros de rebeliões ou mortes. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o índice de reincidência criminal dessas unidades gira em torno de 10%, enquanto que no resto do país chega a 70%. 

O diferencial das Apacs é dar forte assistência psicossocial e boas condições para a ressocialização do detento, que são chamados de recuperandos. As regras de disciplina, entretanto, são rígidas, e ao preso são dadas várias responsabilidades.

Nesses locais, não há guardas ou câmeras e os próprios recuperandos é que são responsáveis pela segurança. Eles também estudam, trabalham e cuidam da limpeza das suas celas e da unidade. Por outro lado, não há superlotação e o clima que prevalece é de harmonia e cordialidade com os funcionários. 
Segurança máxima 

Superlotação também não é um problema para os presídios federais, administrados pelo Ministério da Justiça. As cinco unidades somadas – Brasília (DF), Mossoró (RN), Catanduvas (PR), Porto Velho (RO) e Campo Grande (MS) - possuem capacidade para 832 presos, mas têm ocupação de apenas 492 detentos.

O sistema federal gaba-se de não ter registrado rebeliões ou tentativas de fuga nos últimos 11 anos. Nem mesmo da entrada de celulares, ocorrência comum em presídios estaduais, se teve notícia nessas unidades. Isso porque o nível de segurança é máximo. Há entre 200 e 250 agentes trabalhando em cada unidade. Um visitante, por exemplo, passa por quatro níveis de revista até chegar a ter contato com o preso. 

Aos internos, as regras são bem rígidas. Para locomover-se dentro do presídio federal ele deve estar sempre com as mãos algemadas, seja no percurso entre a cela e o local do banho de sol, ou para ir até o parlatório e o pátio de visitas.


As celas, que são individuais, têm sete metros quadrados e possuem dormitório, sanitário, chuveiro, pia, mesa e assento. O chuveiro liga em horário pré-determinado, uma vez por dia. Já a comida é servida por uma portinhola. Depois a bandeja é recolhida e inspecionada. Até o lixo que os presos produzem é vistoriado. Na cela são permitidas somente leituras de livros, revistas ou apostilas de cursos. Nada de televisão ou outro aparelho eletrônico. Até as visitas íntimas foram proibidas. 

Quem for pego infringindo as regras ou se registrar mau comportamento está sujeito ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), no qual o encarcerado vai para uma cela de 12 metros quadrados onde passará todas as horas do dia trancado. Só sai dali para atendimento médico ou se tiver audiência com o juiz ou advogado. Nada de visitas sociais ou contato com os demais presos. 

O Sistema Penitenciário Federal (SPF) foi pensado com tanta segurança justamente para abrigar presos de alta periculosidade, como líderes de facções criminosas, autores de crimes violentos ou que impactaram a ordem e a segurança nos estados de origem. Para lá são enviados também presos colaboradores ou delatores, que correm risco de morrer no sistema penitenciário comum. 
Justiça criminal 

Mas não é só nos modelos de gestão que são encontradas iniciativas para reduzir a superlotação dos presídios, melhorar as condições para os presos e agilizar os processos criminais e de execução da pena. 

Uma dessas iniciativas é o Mutirão Carcerário, realizado desde agosto de 2008 pelo CNJ. O projeto reúne magistrados que percorrem os estados para analisar a situação processual das pessoas que cumprem pena, além de inspecionar unidades carcerárias com o objetivo de evitar irregularidades e garantir o cumprimento da Lei de Execução Penal.


Normalmente, participam também dos mutirões outras instituições do sistema de Justiça, como o Ministério Público e a Defensoria Pública, além de órgãos e departamentos dos governos estaduais. 

Segundo o CNJ, os Mutirões Carcerários têm por objetivo garantir o devido processo legal, com a revisão das prisões de presos definitivos e provisórios, e a inspeção dos estabelecimentos prisionais dos estados. Desde que começou, o projeto libertou ao menos 45 mil presos que já haviam cumprido a pena decretada pela Justiça. 

No caso dos presos provisórios, que ainda não foram julgados, o diretor geral do Depen-PR, Luiz Alberto Cartaxo Moura, diz que é preciso agilizar os julgamentos e, em alguns casos, rever o conceito da custódia. Atualmente, 40% dos presos que abarrotam os presídios e celas de delegacias do Brasil são provisórios. 

“Muitas vezes, o indivíduo deixa de recolher uma fiança porque não tem dinheiro, outras vezes a prisão preventiva não se justifica. Aí, ele é preso por um crime de potencial ofensivo não tão grave e acaba permanecendo encarcerado por mais tempo do que deveria, mais do que a própria pena para aquele crime”, afirma Luiz Alberto Cartaxo Moura. 

Cartaxo fala de outras ideias que podem ser pensadas para evitar a superlotação dos presídios, como a Capacidade Prisional Taxativa, que estabelece um número definido de presos para cada unidade prisional. Com isso, quando se excede a capacidade do local, ou o juiz criminal determina que o excedente vá para o presídio, ou que seja solto. 

“A porta de entrada e a porta de saída têm de ter equilíbrio. Essa é a solução para o sistema penitenciário, não adianta ficarmos acumulando custódia. Isso só vai desconstruir o cidadão que está lá preso”, opina. 

No âmbito do CNJ, outra iniciativa importante é o Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP 2.0), nova ferramenta para contabilizar em tempo real a movimentação de presidiários no Brasil. O levantamento deve ser concluído até maio deste ano. Por enquanto, apenas quatro estados da federação concluíram o levantamento. 

O BNMP é importante porque no país não há um controle exato do número de presidiários. Os próprios dados oficiais, disponibilizados no Infopen, que contabiliza 727 mil detentos no Brasil, são questionados. Os números já consolidados do BNMP mostram que, de fato, em Sergipe, Goiás, Amapá e Roraima havia uma superestimativa do número de presos

Com uma base de dados mais confiável será possível planejar políticas públicas mais adequadas para o setor prisional, economizando recursos e dando agilidade aos procedimentos. Afinal, o banco de dados será abastecido pelos próprios juízes de cada comarca, com base nos mandados de prisão e alvarás de soltura. 
Cidadania nos presídios 

O CNJ também possui outra importante iniciativa: o projeto Cidadania nos Presídios, cuja proposta é discutir uma nova dinâmica e metodologia para o sistema de execução e fiscalização das penas, revendo o funcionamento das Varas de Execução Penal e a superlotação dos presídios.

A base dessa iniciativa é reforçar o diálogo e interação entre os órgãos de execução penal e de todos aqueles que intervêm no processo de alguma forma, com o objetivo de tornar o sistema de justiça “mais humano, aproximando o juiz e a sociedade do jurisdicionado”, conforme explica o CNJ. 

A Unidade de Progressão no Paraná é um exemplo de iniciativa que está dentro do escopo do projeto Cidadania nos Presídios, por exemplo. Pois o próprio CNJ reconhece que o modelo de encarceramento que se pratica no Brasil alimenta um ciclo de violência na sociedade, justamente pelo ambiente degradante e pouco afeito à recuperação do detento. Estima-se que de cada 10 presos, 7 voltam a cometer crimes. 


Para a advogada criminal Patrícia Piasecki, professora de Direito Penal da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e da Escola da Magistratura do Paraná, há outras iniciativas no âmbito da Justiça que podem ser pensadas para agilizar processos e oferecer condições de se fomentar a ressocialização do preso e avançar ainda mais. 

É o caso das aplicações da Justiça Restaurativa, modalidade de origem neozelandesa que consiste em não só ressocializar o autor de um delito, mas, acima de tudo, conscientizar a respeito da consequência do crime que ele praticou e fomentar o diálogo entre agressor, vítima e toda a comunidade, para entender as razões pelas quais se cometeu o delito. 

“Essa prática tem sido aplicada com bastante sucesso e reduzido de forma absurda o número de delitos, diminuindo a reincidência em 30%”, afirma Patrícia.

Segundo ela, não é necessário mudança de legislação ou construção de presídios. Basta o Judiciário aplicá-la. É usada principalmente em casos de violência doméstica, atos infracionais de adolescentes, lesões corporais e outros delitos graves. No Brasil, contudo, ainda é pouco utilizada. Por: João Rodrigo Maroni, especial para a Gazeta do Povo 
[17/04/2018] Do site: www.gazetadopovo.com.br 

quinta-feira, 19 de julho de 2018

O QUE ESTOU FAZENDO AQUI

A característica fundamental das ideologias é o seu caráter normativo, a ênfase no “dever ser”. Todos os demais elementos do seu discurso, por mais denso ou mais ralo que pareça o seu conteúdo descritivo, analítico ou explicativo, concorrem a esse fim e são por ele determinados, ao ponto de que as normas e valores adotados decidem retroativamente o perfil da realidade descrita, e não ao inverso.


Isso não quer dizer que às ideologias falte racionalidade: ao contrário, elas são edifícios racionais, às vezes primores de argumentação lógica, mas construídos em cima de premissas valorativas e opções seletivas que jamais podem ser colocadas em questão.

Daí que, como diz A. James Gregor, o grande estudioso do fenômeno revolucionário moderno, o discurso ideológico seja “enganosamente descritivo”: quando parece estar falando da realidade, nada mais faz do que buscar superfícies de contraste e pontos de apoio para o “mundo melhor” cuja realização é seu objetivo e sua razão de ser.

Se o cidadão optou pelo socialismo, ele descreverá o capitalismo como antecessor e adversário, suprimindo tudo aquilo que, na sociedade capitalista, não possa ser descrito nesses termos.

Se escolheu a visão iluminista da democracia como filha e culminação da razão científica, descreverá o fascismo como truculência irracional pura, suprimindo da História as décadas de argumentação fascista – tão racional quanto qualquer outro discurso ideológico – que prepararam o advento de Mussolini ao poder.

Tendo isso em vista, a coisa mais óbvia do mundo é que nenhum dos meus escritos e nada do que eu tenha ensinado em aula tem caráter ideológico, e que descrever-me como “ideólogo da direita”, ou ideólogo do que quer que seja, só vale como pejorativo difamatório, tentativa de me reduzir à estatura mental do anão que assim me rotula.

Podem procurar nos meus livros, artigos e aulas. Não encontrarão qualquer especulação sobre a “boa sociedade”, muito menos um modelo dela.

Posso, no máximo, ter subscrito aqui ou ali, de passagem e sem lhe prestar grande atenção, este ou aquele preceito normativo menor em economia, em educação, em política eleitoral ou em qualquer outro domínio especializado, sem nenhuma tentativa de articulá-los e muito menos de sistematizá-los numa concepção geral, numa “ideologia”.

Isso deveria ser claro para qualquer pessoa que saiba ler, e de fato o seria se a fusão de analfabetismo funcional, malícia e medo caipira do desconhecido não formasse aquele composto indissolúvel e inalteravelmente fedorento que constitui a forma mentis dos nossos “formadores de opinião” hoje em dia (refiro-me, é claro, aos mais populares e vistosos e à sua vasta plateia de repetidores no universo bloguístico, não às exceções tão honrosas quanto obscuras, das quais encontro alguns exemplos neste mesmo Diário do Comércio).

É óbvio que essas pessoas são incapazes de raciocinar na clave do discurso descritivo. Não dizem uma palavra que não seja para “tomar posição”, ou melhor, para ostentar uma auto-imagem lisonjeira perante os leitores, devendo, para isso, contrastá-la com algum antimodelo odioso que, se não for encontrado, tem de ser inventado com deboches, caricaturações pueris e retalhos de aparências.

A coisa mais importante na vida, para essas criaturas, é personificar ante os holofotes alguns valores tidos como bons e desejáveis, como por exemplo “a democracia”, “os direitos humanos”, “a ordem constitucional”, “a defesa das minorias”, etc. e tal, colocando nos antípodas dessas coisas excelentíssimas qualquer palavra que lhes desagrade.

Alguns desses indivíduos tiveram as suas personalidades tão completamente engolidas por esses símbolos convencionais do bem, que chegam a tomar qualquer reclamação, insulto ou crítica que se dirija às suas distintas pessoas como um atentado contra a democracia, um virtual golpe de Estado.

O desejo de personificar coisas bonitas como a democracia e a ordem constitucional é aí tão intenso que, no confronto entre esquerda e direita, os dois lados se acusam mutualmente de “golpistas” e “fascistas”. Melhor prova de que se trata de meros discursos ideológicos não se poderia exigir.

Da minha parte, meus escritos políticos dividem-se entre a busca de conceitos descritivos cientificamente fundados e a aplicação desses conceitos ao diagnóstico de situações concretas, complementado às vezes por prognósticos que, ao longo de mais de vinte anos, jamais deixaram de se cumprir.

Dessas duas partes, a primeira está documentada nas minhas apostilas de aulas (especialmente dos cursos que dei na PUC do Paraná), a segunda nos meus artigos de jornal.

Os leitores destes últimos não têm acesso direto à fundamentação teórica, mas encontram neles indicações suficientes de que ela existe, de que não se trata de opiniões soltas no ar, mas, como observou Martin Pagnan, de ciência política no sentido estrito em que a compreendia o seu mestre e amigo, Eric Voegelin.

Não há, entre os mais incensados “formadores de opinião” deste país — jornalísticos ou universitários –, um só que tenha a capacidade requerida, já não digo para discutir esse material, mas para apreendê-lo como conjunto.

Descrevo aí as coisas como as vejo por meio de instrumentos científicos de observação, pouco me importando se vou “dar a impressão” de ser democrata ou fascista, socialista, neocon, sionista, católico tradicionalista, gnóstico ou muçulmano.

Tanto que já fui chamado de todas essas coisas, o que por si já demonstra que os rotuladores não estão interessados em diagnósticos da realidade, mas apenas em inventar, naquilo que lêem, o perfil oculto do amigo ou do inimigo, para saber se, na luta ideológica, devem louvá-lo ou achincalhá-lo.

A variedade mesma das ideologias que me atribuem é a prova cabal de que não subscrevo nenhuma delas, mas falo numa clave cuja compreensão escapa ao estreito horizonte de consciência dos ideólogos que hoje ocupam o espaço inteiro da mídia e das cátedras universitárias.

Suas reações histéricas e odientas, suas poses fingidas de superioridade olímpica, sua invencionice entre maliciosa e pueril, seus afagos teatrais de condescendência paternalista entremeados de insinuações pérfidas, são os sintomas vivos de uma inépcia coletiva monstruosa, como jamais se viu antes em qualquer época ou nação.

O que neste país se chama de “debate político” é de uma miséria intelectual indescritível, que por si só já fornece a explicação suficiente do fracasso nacional em todos os domínios – economia, segurança pública, justiça, educação, saúde, relações internacionais etc.

Digo isso porque a intelectualidade falante demarca a envergadura e a altitude máximas da consciência de um povo. Sua incapacidade e sua baixeza, que venho documentando desde os tempos do Imbecil Coletivo (1996), mas que depois dessa época vieram saltando do alarmante ao calamitoso e daí ao catastrófico e ao infernal, refletem-se na degradação mental e moral da população inteira.

De todos os bens humanos, a inteligência –e inteligência não quer dizer senão consciência –se distingue dos demais por um traço distintivo peculiar: quanto mais a perdemos, menos damos pela sua falta. Aí as mais óbvias conexões de causa e efeito se tornam um mistério inacessível, um segredo esotérico impensável. A conduta desencontrada e absurda torna-se, então, a norma geral.

Durante quarenta anos, os brasileiros deixaram, sem reclamar, que seu país se transformasse no maior consumidor de drogas da América Latina; deixaram que suas escolas se tornassem centrais de propaganda comunista e bordéis para crianças; deixaram, sem reclamar, que sua cultura superior fosse substituída pelo império de farsantes semi-analfabetos; deixaram, sem reclamar, que sua religião tradicional se prostituísse no leito do comunismo, e correram para buscar abrigo fictício em pseudo-igrejas improvisadas onde se vendiam falsos milagres por alto preço; deixaram, sem reclamar, que seus irmãos fossem assassinados em quantidades cada vez maiores, até que toda a nação tivesse medo de sair às ruas e começasse a aprisionar-se a si própria atrás de grades impotentes para protegê-la; deixaram, sem reclamar, que o governo tomasse as suas armas, e até se apressaram em entregá-las, largando suas famílias desprotegidas, para mostrar o quanto eram bonzinhos e obedientes. Depois de tudo isso, descobriram que os políticos estavam desviando verbas do Estado, e aí explodiram num grito de revolta: “Não! No nosso rico e santo dinheirinho ninguém mexe!”

A rebelião popular contra os comunolarápios não nasce de nenhuma indignação moral legítima, mas emana da mesma mentalidade dinheirista que inspira os corruptos mais cínicos.

Não só o dinheiro é aí o valor mais alto, talvez o único, mas tudo parece inspirar-se na regra: “Eu também quero, senão eu conto para todo mundo.” É óbvio que, se essa mentalidade não prevalecesse no nosso meio social, jamais a corrupção teria subido aos níveis estratosféricos que alcançou com o Mensalão, o Petrolão etc.

O ódio ao mal não é sinal de bondade e honradez: faz parte da dialética do mal odiar-se a si mesmo, mover guerra a si mesmo e proliferar por cissiparidade.

O mais significativo de tudo é que fenômeno de teratologia moral tão patente, tão visível e tão escandaloso não mereça sequer um comentariozinho num jornal, quando deveria ser matéria de mil estudos sociológicos.

Querem maior prova de que os luminares da mídia e das universidades não têm o menor interesse em conhecer a realidade, mas somente em promover suas malditas agendas ideológicas?

Foi por isso que, mais de vinte anos atrás, cheguei à conclusão de que toda solução política para os males do país estava, desde a raiz, inviabilizada pelo caráter fútil e perverso das discussões públicas.

Só havia um meio – difícil e trabalhoso, mas realista — de mudar para melhor o curso das coisas neste país, e esse curso não passava pela ação político-eleitoral. Era preciso seguir, “sem parar, sem precipitar e sem retroceder”, como ensinava o Paulo Mercadante, as seguintes etapas:

1. Revigorar a cultura superior, treinando jovens para que pudessem produzir obras à altura daquilo que o Brasil tinha até os anos 50-60 do século passado.

2. Higienizar, assim, o mercado editorial e a mídia cultural, criando aos poucos um novo ambiente consumidor de alta cultura e saneando, dessa maneira, os debates públicos.

3. Sanear a grande mídia, mediante pressão, boicote e ocupação de espaços.

4. Sanear o ambiente religioso — católico e protestante.

5. Sanear, gradativamente, as instituições de ensino.

6. Por fim, elevar o nível do debate político, fazendo-o tocar nas realidades do país em vez de perder-se em chavões imateriais e tiradas de retórica vazia. Esta etapa não seria atingida em menos de vinte ou trinta anos, mas não existe “caminho das pedras”, não há solução política, não há fórmula ideológica salvadora. Ou se percorrem todas essas etapas, com paciência, determinação e firmeza, ou tudo não passará de uma sucessão patética de ejaculações precoces.

Esse é o projeto a que dediquei minha vida, e do qual os artigos que publico na mídia não são senão uma amostra parcial e fragmentária. Imaginar que fiz tudo o que fiz só para criar um “movimento de direita” é, na mais generosa das hipóteses, uma estupidez intolerável.

Quanto ao ítem número um, não se impressionem com os apressadinhos que, tendo absorvido superficialmente alguns ensinamentos meus, já quiseram sair por aí, brilhando e pontificando, numa ânsia frenética de aparecer como substitutos melhorados do Olavo de Carvalho.

Esses são apenas a espuma, bolhas de sabão que o tempo se encarregará de desfazer. Tenho ainda uma boa quantidade de alunos sérios que continuam se preparando, em silêncio, para fazer o bom trabalho no tempo devido.
Por: Olavo de Carvalho  Do site: http://www.seminariodefilosofia.org/

terça-feira, 10 de julho de 2018

EUROPA: "A VISÃO É A DE UM ESTADO ISLÂMICO"

- "A crescente religiosidade não é uma expressão de marginalização. Estamos falando de pessoas bem integradas que querem ser religiosas". — Professor Viggo Mortensen.

- "A visão é a de um Estado Islâmico, uma sociedade islâmica... Os muçulmanos irão preferir um governo baseado na Lei Islâmica (Sharia). Mas a visão para daqui a vinte anos é que a lei da sharia faça parte da Alemanha, que a sharia será institucionalizada pelo próprio estado". — "Yusuf", na série de documentários Falsa Identidade.

- "Vou selecioná-los a dedo, um de cada vez. Começarei com as pessoas ao meu redor... Se todo muçulmano fizer o mesmo em sua redondeza, dará certo sem nenhum problema... Não se confronta o alemão através da força, é um processo a conta gotas. Haverá confrontos, mas aos poucos os choques diminuirão, as pessoas aceitarão a realidade." — "Yusuf", na série de documentários Falsa Identidade.
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A Europa ainda existirá mas, assim como ocorreu com o grande Império Bizantino Cristão que agora é a Turquia, ela ainda incorporará a civilização judaico-cristã?

Um levantamento do governo holandês publicado em junho mostrou que os muçulmanos da Holanda estão se tornando cada vez mais religiosos. O levantamento que foi realizado com base em informações de 2006 a 2015 é um estudo sobre mais de 7.249 cidadãos holandeses com raízes marroquinas e turcas. Dois terços dos muçulmanos da Holanda são provenientes da Turquia ou do Marrocos.

Segundo o levantamento, 78% dos muçulmanos marroquinos rezam cinco vezes por dia, bem como 33% dos muçulmanos turcos. Aproximadamente 40% dos dois grupos vão à mesquita pelo menos uma vez por semana. Mais jovens marroquinas usam o véu muçulmano (um salto de 64% em 2006 para 78% em 2015) e a maioria esmagadora de ambos os grupos comem halal (93% dos muçulmanos marroquinos e 80% dos muçulmanos turcos). Para 96% dos muçulmanos marroquinos a fé é um elemento extremamente importante em suas vidas, para os muçulmanos turcos é de 89%. O número de muçulmanos marroquinos holandeses que podem ser considerados praticantes do Islã saltou de 77% em 2006 para 84% em 2015. No caso dos muçulmanos turcos, o salto foi de 37% para 45%. Há poucos muçulmanos seculares: 7% dos muçulmanos turcos, 2% dos muçulmanos marroquinos.

Na Dinamarca, a propensão dos muçulmanos de se tornarem mais religiosos já era visível em 2004, quando uma enquete mostrou que os muçulmanos estavam se tornando mais religiosos que seus pais, especialmente "jovens do sexo feminino, com boa formação profissional e bem integradas". Na época, o professor Viggo Mortensen salientou: "a crescente religiosidade não é uma expressão de marginalização. Estamos falando de pessoas bem integradas e que querem ser religiosas".

Uma enquete dinamarquesa mais detalhada realizada em 2015 constatou que os muçulmanos se tornaram mais religiosos desde que uma pesquisa, nos mesmos moldes, foi realizada em 2006: naquele ano, 37% oravam cinco vezes por dia, essa percentagem saltou para 50% em 2015. Em 2006, 63% acreditavam que o Alcorão deveria ser seguido ao pé da letra, em 2015 saltou para 77%. Brian Arly Jacobsen, sociólogo especializado em religião da Universidade de Copenhague, ficou surpreso com os resultados da pesquisa de opinião. "Com o passar do tempo esperávamos que os muçulmanos se tornariam mais parecidos com o restante dos dinamarqueses, que não são particularmente ativos na esfera religiosa", ressaltouele. Jacobsen acredita que uma explicação plausível foi a construção de 20 a 30 novas mesquitas na década anterior a 2015.

As tendências reveladas pelas enquetes são corroboradas por estudos e pesquisas de opinião que mostram que muitos muçulmanos na Europa querem viver conforme a Lei Islâmica (Sharia). De acordo com um estudo realizado em 2014 sobre os muçulmanos marroquinos e turcos na Alemanha, França, Holanda, Bélgica, Áustria e Suécia, em média 60% dos muçulmanos entrevistados concordaram que os muçulmanos deveriam retornar às raízes do Islã. Para 75% só há uma interpretação do Alcorão, 65% disseram que a Sharia é mais importante para eles do que as leis do país onde vivem. Uma enquete de 2016 realizada no Reino Unido mostrou que 43% dos muçulmanos britânicos "acreditam que partes do sistema jurídico islâmico deveriam substituir a lei britânica e apenas 22% são contrários à ideia". Em um estudo realizado em 2017, que incluía uma pesquisa de opinião realizada com 400 muçulmanos belgas, 29% disseram acreditar que as leis do Islã são superiores à lei belga e 34% disseram que "sem a menor sombra de dúvida prefeririam um sistema político inspirado no Alcorão".
De acordo com um estudo realizado em 2014 sobre os muçulmanos marroquinos e turcos na Alemanha, França, Holanda, Bélgica, Áustria e Suécia, em média 60% dos muçulmanos entrevistados concordaram que os muçulmanos deveriam retornar às raízes do Islã e 65% disseram que a Sharia é mais importante para eles do que as leis do país onde vivem. Foto: orações de sexta-feira na Mesquita IZW em Viena, Áustria. (Foto: Thomas Kronsteiner/Getty Images)

Os mais de dois milhões de migrantes predominantemente muçulmanos que chegaram à Europa nos últimos anos estão dando suporte à tendência da crescente religiosidade muçulmana no continente europeu. Um estudo de 2017 sobre candidatos a asilo predominantemente afegãos na cidade austríaca de Graz mostrou que eles, a maioria homens com idade inferior a 30 anos, eram todos favoráveis a preservarem seus valores islâmicos tradicionais, sendo que 70% vão à mesquita todas as sextas-feiras. As mulheres eram ainda mais religiosas, 62,6% rezam cinco vezes ao dia, manifestamente mais que os homens (39,7%). Além disso, 66,3% das mulheres usam o véu muçulmano em público. Metade dos migrantes dizem que a religião agora desempenha um papel mais importante em suas vidas na Europa do que em sua terra natal e 51,6% dos entrevistados disseram que a supremacia do Islã sobre outras religiões é indiscutível.

A tendência de muitos muçulmanos se tornarem mais religiosos uma vez que chegam à Europa também pode ser constatada na nova série de documentários "Falsa Identidade," do jornalista de língua árabe Zvi Yehezkeli, que, disfarçado, fez reportagens sobre as atividades da Irmandade Muçulmana na Europa e nos EUA. Na Alemanha encontrou dois jovens muçulmanos da Síria, que vieram para a Alemanha via Kosovo, onde receberam ajuda de uma "organização islâmica britânica". Eles deixaram a Síria como muçulmanos seculares, mas no caminho para a Alemanha ficaram durante um ano em Pristina, no Kosovo, onde, segundo Yehezkeli, "as organizações da Irmandade Muçulmana são atuantes e ajudam os refugiados, ao mesmo tempo em que os transformam em muçulmanos devotos. Ahmed e Yusuf chegaram na Alemanha já rezando cinco vezes ao dia".[1]

Segundo Ahmed:

"Quando eu deixei a Síria, mentalmente me sentia mais tranquilo. A instituição de caridade islâmica desempenhou um papel importante nesse quesito. Olha, na primeira vez que você os encontra, eles começam te ajudando. Você senta, olha para eles, eles oram na sua frente e aqui estou eu, sou muçulmano, estudei o Alcorão, mas não rezo. De repente eu me vejo sozinho perguntando: por que não rezar como os demais?"

Yehezkeli perguntou a eles qual era o sonho deles. "A visão é a de um Estado Islâmico, uma sociedade islâmica", disse Yusuf, "os muçulmanos irão preferir um governo baseado na Lei Islâmica (Sharia). Mas a visão para daqui a vinte anos é que a lei da sharia faça parte da Alemanha, que a sharia será institucionalizada pelo próprio estado".

Contrastando com a crescente religiosidade dos muçulmanos na Europa, os cristãos estão se tornando cada vez menos religiosos. Em um estudo sobre jovens europeus com idades entre 16 e 29 anos, publicado em março, com base em dados de 2014 a 2016, o autor Stephen Bullivant, professor de teologia e sociologia da religião na St. Mary's University de Londres, concluiu o seguinte:

"Apesar do pequeno número das famosas exceções, os jovens cada vez mais não se identificam ou não praticam a religião... O cristianismo como padrão, como norma, desapareceu e provavelmente desapareceu para sempre ou pelo menos para os próximos 100 anos".

Segundo o estudo, entre 70% e 80% dos jovens da Estônia, Suécia e Holanda se consideram não religiosos. Entre 64% e 70% dos jovens se consideram não religiosos na França, Bélgica, Hungria e no Reino Unido. Os jovens mais religiosos encontram-se na Polônia, onde apenas 17% dos jovens se consideram não religiosos, seguidos pela Lituânia com 25%.

Jovens muçulmanos como Yusuf e Ahmed da Síria afirmam que querem disseminar o Islã convertendo os europeus, também conhecidos como dawa. Eles são exemplos perfeitos do público-alvo da dawa, tornam-se muçulmanos devotos através da organização islâmica no Kosovo e na sequência se engajam na dawa. "Vou selecioná-los a dedo, um de cada vez. Começarei com as pessoas ao meu redor. Eles irão ouvir. Se todo muçulmano fizer o mesmo em sua redondeza, dará certo sem nenhum problema", disse Yusuf. Perguntado se os alemães poderiam resistir à dawa, ele respondeu:

"Não se confronta o alemão através da força, é um processo a conta gotas... Haverá confrontos, mas aos poucos os choques diminuirão, as pessoas aceitarão a realidade. Não há como escapar, toda mudança envolve confrontos".

Dada a falta de identidade religiosa dos jovens europeus e o vácuo deixado pela saída do cristianismo das vidas da maioria, a pergunta que não quer calar é o quão resistente será a sua capacidade de suportar as investidas do proselitismo. A Europa ainda existirá mas, assim como ocorreu com o grande Império Bizantino Cristão que agora é a Turquia, ela ainda incorporará a civilização judaico-cristã?
Por: Judith Bergman é colunista, advogada e analista política. 10 de Julho de 2018
Tradução: Joseph Skilnik Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org