terça-feira, 30 de setembro de 2014

O FRACASSO DO ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL

A política moderna está saturada de mitos. E de idiotas que acreditam neles.

Idiota, aqui, no sentido (grego) clássico do termo.

Na sua face mais medíocre, a política moderna virou enredo de filme da Walt Disney. Existem heróis e vilões, o bem e o mal, e milhões de soluções mágicas para tudo.

Hoje o debate político é definido nos seguintes termos: “caras bonzinhos” tentando salvar o mundo contra “caras maus” que visam apenas o lucro.

Ainda hoje tem gente que acha que só “caras maus” se opõem ao Estado de Bem-Estar Social, um modelo econômico paternalista no qual, basicamente, alguns cidadãos vivem sustentados por outros, que trabalham e pagam impostos.

É claro, ele é defendido com uma argumentação mais sofisticada. Um modelo econômico que visa o bem-estar geral da população, tributando mais (alguns) para distribuir mais (para muitos). Quem tem mais divide com quem tem menos.

Apenas gente sem coração seria contra esse modelo tão bonito, certo?

Só existe um problema: o Estado de Bem-Estar Social não funciona. Reportagem da Folha de S. Paulo comprova que a Escola Austríaca de economia sempre esteve correta na sua crítica sobre os resultados desastrosos da intervenção estatal.

Diz um trecho da reportagem:

Conhecida por ser um dos países mais igualitários do mundo, a Suécia teve sua paisagem social alterada nos últimos anos pelo crescimento no número de mendigos.

O frio não impede que pessoas passem dia e noite nas ruas implorando por ajuda.

“É vergonhoso mendigar, mas não temos alternativa. Se conseguíssemos emprego, trabalharíamos como pessoas normais”, diz Andreea (nome fictício), da Romênia, que mora com o marido em um carro abandonado.

A Suécia é sempre citada pelos devotos de mitos políticos como um exemplo. Mas, aos poucos, os fatos estão deixando claro que se trata de um péssimo exemplo.

O Estado de Bem-Estar Social nada mais é do que socialismo mitigado. Em ambos os casos temos uma minoria se servindo de uma maioria.

É claro que, ao longo prazo, isso é um suicídio econômico e social: em algum momento a minoria se torna a maioria e a conta não fecha.

Falamos de países ricos, mas alguma hora a riqueza deixa de ser suficiente pra sustentar a multidão que não trabalha ou produz, mas exige direitos.

E não dá pra argumentar que somos obrigados a isso por causa da “caridade cristã”. Isso sequer é um argumento. É apenas um apelo emocional, um slogan.

A caridade pressupõe um ato voluntário, que pode ou não ser regular. Para manter um Estado de Bem-Estar Social, pelo contrário, é preciso obrigar uma parcela da população a trabalhar para sustentar a outra.

A reportagem da Folha revela outro problema econômico-social que surge em países que oferecem almoço grátis pra todo mundo.

Segundo autoridades suecas, a maioria das pessoas que mendigam nas ruas do país vem de países do Leste Europeu, como Romênia e Bulgária.

É o cenário esperado quando se assume que o governo deve bancar a todos. Os pagadores de impostos da Suécia agora devem sustentar imigrantes do Leste Europeu?

É a grande questão que divide os suíços atualmente:

A mendicância se tornou um tema controverso no país. “Como membros da UE, temos a responsabilidade de garantir que ciganos da Romênia também tenham a possibilidade de se integrar à sociedade. Também já tivemos ciganos suecos em situação vulnerável”, disse Jens Orback, do partido Social Democrata, em julho, em debate sobre o tema.

A legenda de Orback venceu as eleições parlamentares do último dia 14, tirando do poder a Aliança pela Suécia, de centro-direita.

Richard Jomshof, do nacionalista Democratas Suecos, discorda: “Somos primeiramente responsáveis por nossos próprios cidadãos. Essas pessoas devem ser levadas de volta a seus países”. Em 2011, seu partido enviou ao Parlamento um projeto de lei para proibir a mendicância.

Claro, nada contra imigrantes. O problema é a manutenção de um modelo econômico paternalista que obriga uma parcela da população a trabalhar e produzir para sustentar os demais, inclusive, aqueles que vierem de outros países.

É suicídio econômico, mas não apenas isso. O Estado de Bem-Estar Social é uma política imoral que destrói a capacidade de autonomia dos indivíduos e das famílias.

Isso é uma fato não apenas na Suécia, mas em todos os países nos quais existe esse socialismo conta-gotas.

Não é por acaso que há ingleses na faixa entre os 30 e 40 anos que jamais trabalharam na vida; é claro muitos deles vivem em passeatas exigindo novos direitos.

O que é de graça nunca é o bastante. É a causa do fracasso do Estado de Bem-Estar Social.

Por: Thiago Cortês, jornalista.   Publicado no Gospel Mais.






"OS PERDEDORES"

A semente transgênica e o Código Florestal; a hidrelétrica e a licença ambiental; os evangélicos e os jovens libertários; o Estado e as ONGs; os serviços públicos e os tributos; a "nova política" e o Congresso; a política e os partidos; o PSB e a Rede. Na candidatura de Marina Silva, não é difícil traçar círculos de giz em torno de ângulos agudos, superfícies de tensão, contradições represadas. O PT preferiu investir na indignidade, na mentira, na difamação. Por isso, perdendo ou ganhando, já perdeu.


As peças incendiárias de marketing, referenciadas no pré-sal e na independência do Banco Central, inscrevem-se na esfera da delinquência eleitoral. A primeira organiza-se em torno de uma mentira (a suposta recusa de explorar o pré-sal), de cujo seio emana um corolário onírico (a "retirada" de centenas de bilhões de reais supostos e futuros da Educação). 

A segunda converte em escândalo um modelo que pode ser legitimamente combatido, mas está em vigor nos EUA, no Canadá, no Japão, na União Europeia, na Grã-Bretanha e no Chile –e que, no Brasil, surgiu embrionariamente sob Lula, durante a gestão de Henrique Meirelles.

Na TV, o partido do governo acusa a candidata desafiante de conspirar com banqueiros para lançar os pobres no abismo da miséria. O fenômeno vexaminoso não chega a causar comoção, pois tem precedentes. Contra Alckmin (2006) e Serra (2010), o PT difundiu as torpezas de que pretendiam privatizar a Petrobras e cortar os benefícios do Bolsa Família, ambas já reprisadas para atingir Marina. 

A diferença, significativa apenas no plano eleitoral, está na circunstância de que, agora, a ignomínia entrou no jogo antes do primeiro turno. A semelhança, por outro lado, evidencia que o PT aposta na ignorância, na desinformação, na pobreza intelectual –enfim, no fracasso do país.

Algo se rompeu quando eclodiu o escândalo do mensalão. Naquela hora, os intelectuais do PT depredaram a praça do debate político, ensinando ao partido que a saída era qualificar a imprensa como "mídia golpista" e descer às trincheiras de uma guerra contra a opinião pública. A lição deu frutos envenenados. O STF converteu-se em "tribunal de exceção", e os políticos corruptos, em "presos políticos". 

Os críticos passaram a ser classificados como representantes da "elite branca paulista" (se apontam as incongruências da "nova matriz econômica"), "fascistas" (se nomeiam como ditadura todas as ditaduras, inclusive as "de esquerda") ou "racistas" (se objetam às leis de preferências raciais).

O projeto de um partido moderno de esquerda dissolveu-se num pote de ácido que corrói a convivência com a opinião dissonante. Do antigo PT, partido da mudança, resta uma sombra esmaecida. As estatísticas desagregadas das sondagens eleitorais revelam o sentido da regressão histórica. A presidente-candidata tem suas fortalezas no Nordeste e no Norte, nas cidades pequenas e entre os menos escolarizados, mas enfrenta forte rejeição no Centro-Sul, nas metrópoles e entre os jovens. 

Não é um "voto de classe", como interpretam cientistas políticos embriagados com um economicismo primário que confundem com marxismo. É um voto do país que, ainda muito pobre, depende essencialmente do Estado. A antiga Arena vencia assim, espelhando um atraso social persistente.

Obviamente, a regressão tem causas múltiplas, ligadas à experiência de 12 anos de governos lulopetistas que estimularam o consumo de bens privados, mas não produziram bens públicos adequados a um país de renda média. A linguagem, contudo, ocupa um lugar significativo. O país moderno, cujos contornos atravessam todas as regiões, sabe identificar a empulhação, a mistificação e a truculência.

Na sua fúria destrutiva, a campanha de Dilma explode pontes, queima arquivos. O PT pode até triunfar nas eleições presidenciais, mas já perdeu o futuro.
Por Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

BOMBARDEIROS ATÔMICOS RUSSOS GERAM INCIDENTES EM TODOS OS QUADRANTES


Bombardeiro russo Tupolev.

A força aérea japonesa obrigou dois bombardeiros estratégicos russos Tupolev Tu-95 a se afastarem do espaço aéreo nipônico, do qual tinham se aproximado imprudentemente, informou o Ministério de Defesa de Tóquio, citado pela agência “RIA-NOVOSTI” de Moscou.

Após se aproximarem da ilha de Okinawa, sede da maior base americana no Oriente, os bombardeiros russos foram bordejando o arquipélago japonês.

O Ministério de Defesa do Sol Nascente ficou preocupado pelas intenções que esse voo revelou. Desde julho até setembro de 2013, o Japão teve de acionar seus caças 105 vezes, por causa da excessiva aproximação de aviões russos estratégicos de ataque.

Neste ano, o Japão enviou um protesto a Moscou, apontando que os aviões russos violaram seu espaço aéreo, acrescentou a “ITAR-TASS”.

Por sua vez, a mesma agência moscovita informou sobre mais uma ocorrência entre bombardeiros nucleares russos TU-95 e caças F-16, da Real Força Aérea da Holanda. No operativo participaram também dois F-16 da Força Aérea da Dinamarca e aviões da Grã-Bretanha. 

O Ministério da Defesa da Holanda mencionou que, após os bombardeiros suspeitos se afastarem de seu território e os caças holandeses retornarem às suas bases, os mesmos bombardeiros deram uma volta de 180º e vieram por cima da Holanda.

Mais um jato holandês foi acionado, até os bombardeiros suspeitos ingressarem na área de responsabilidade britânica. Ocorrência análoga foi registrada no mês de abril. 

Também a Finlândia está preocupada por esse tipo de voos russos, que não revelam intenções simpáticas.

Em apenas 10 dias do mês de agosto, bombardeiros estratégicos russos protagonizaram pelo menos 16 incursões em zonas defensivas de identificação ao noroeste dos EUA, numa abrupta escalada de incidentes, segundo oficiais da defesa americana mencionados pelo site “The Washington Free Beacon”. 

Os Tu-95 ‘Bear H’ geraram a reação dos jatos americanos em momentos que a tensão entre os EUA e a Rússia vinha crescendo de intensidade pela guerra na Ucrânia.

Numa incursão russa perto do Alaska um avião de inteligência russo ia entre os bombardeiros, e numa outra os russos invadiram o espaço aéreo do Canadá.

O major Beth Smith, porta-voz do U.S. Northern Command and the North American Aerospace Defense Command (NORAD), disse que os incidentes com russos estão num “pico de atividade”, mas achou que esses voos correspondem a missões e exercícios.

Oficiais americanos comentaram que as incomuns incursões fizeram voltar à Guerra Fria, tempo em que eram frequentes essas sondagens das defesas inimigas por parte da aviação soviética em preparação para um conflito nuclear.

Vladimir Putin ordenou um reequipamento das forças nucleares russas, que incluem testes de novos mísseis de diversos alcances, novos submarinos estratégicos e bombardeiros com grande raio de ação.

Em junho de 2014, mais dois bombardeiros nucleares Bear se aproximaram até 50 milhas da costa da Califórnia, a menor distância jamais atingida após a Guerra Fria, antes de serem interceptados por caças F-15.

Para um outro oficial de defesa que discrepou da opinião do NORAD, os russos “estão tentando testar nossas reações na defesa aérea, do nosso comando e dos nossos sistemas de controle. Não se trata apenas de missões de treinamento”.

Ele explicou o comunicado do NORAD como efeito da política conciliatória de Obama com Moscou.

Mas a retórica militar está ficando mais tensa após a anexação da Criméia pela Rússia. Em julho, o Departamento de Estado acusou Moscou de violar o tratado de limitação de foguetes nucleares, assinado em 1987, desenvolvendo um novo míssil de cruzeiro.

Como de costume, Moscou declarou que as acusações eram falsas.

Em Washington, o almirante Cecil Haney, chefe do Comando Estratégico americano, manifestou em 18 de junho sua preocupação com o aumento das atividades nucleares russas. 

O almirante sublinhou a coincidência dessas ações com o recrudescimento das tensões na Ucrânia e mencionou o lançamento de seis mísseis de cruzeiro russos como uma “demonstração de força”. 

Segundo o Ministério de Defesa russo, um bombardeiro Tu-95 “é capaz de destruir, com esses mísseis, instalações fixas do inimigo de dia ou de noite, em quaisquer condições climáticas e em qualquer parte do globo”. 

O almirante Haney apontou que “simultaneamente estamos vendo significativas operações de aviões estratégicos russos em países como Japão, Coreia e até na nossa costa oeste”. 

Também na Europa aviões americanos tiveram atritos com caças russos.

Notadamente com um RC-135, avião de inteligência que foi forçado a se pôr de resguardo no espaço aéreo sueco após ser hostilizado por um jato russo no dia 18 de julho.

O incidente aconteceu no dia seguinte à derrubada do voo MH17 da Malaysian Airlines sobre o leste ucraniano.

Por: Luis Dufaur edita o blog Flagelo Russo.


ELA E A TAÇA DE VINHO

Ela parecia ansiosa em meio àquelas pessoas, mas era apenas desejo. Bebera muitas taças de vinho. Sabe-se, há milênios, que a virtude de uma mulher depende do número de taças de vinho que bebe.


Aliás, segundo relatos genealógicos, os antigos praticavam um ritual bastante comum e que, segundo alguns especialistas, ainda é praticado hoje em dia. O ritual, apesar de pouco sabermos de seus detalhes, implicava no uso da mulher como taça de vinho.

As mulheres quando tomam muitas taças de vinhos (não todas, como pessoa que sabe se comportar à mesa, sei que nem todas são iguais, algumas são diferentes) sonham em ser elas mesmas usadas como taça de vinho.

Alguns homens, pouco informados, se perguntam, afinal, como uma mulher poderia ser usada como uma taça de vinho. A dúvida, antes de tudo anatômica, revela uma profunda ignorância, antes de tudo, espiritual.
Perguntas assim são como aquelas que, normalmente, homens chatos fazem no final da noite, e que exigiriam respostas semelhantes a explicar a razão de Deus ter criado o universo, sendo Ele todo poderoso e vivendo Ele muito bem em Sua solidão perfeita.

Já elas, nascem sabendo. Mas, muitas vezes, esse "saber" (como dizem os afetados teóricos pós-modernos pra se referirem ao conhecimento) é mesmo da ordem inconsciente, não do inconsciente da mente, mas da pele. Esse "saber" é aquele que torna úmido o coração entre as pernas.

Outra forma de perceber esse desejo avassalador de ser usada como taça de vinho é pelo olfato. Ela, seguramente, em meio a todas as palavras ditas ao vento, como é comum em ambientes sociais cheios
de gente inteligente, exala o odor típico de quando se quer misturar pele, saliva e vinho.

Certa feita, quando eu disse que a virtude de uma mulher dependia do número de taças de vinho que ela bebia, um desses jovens trêmulos e muito magros, que gostam de pensar que superaram o machismo por alguma forma de desejo inofensivo (ela sempre sabe que todo desejo que importa é ofensivo de alguma forma), me acusou de ser niilista.

Por quê? Simples. Porque eu negava a existência da virtude "em si" já que eu a reduzia, segundo ele, ao efeito da presença ou ausência da quantidade de álcool no sangue.

Claro, poderia ter dito a ele que desde a filosofia grega cética, caras como Enesidemo (nascido em Creta no século 1º antes de Cristo) ou Sexto Empírico (médico e filósofo grego que viveu entre Atenas, Alexandria e Roma entre os séculos 2 e 3 depois de Cristo) afirmavam que o comportamento de alguém nunca pode ser tomado como "verdadeiro" porque se ele (ou ela) bebeu algo, o comportamento fica diferente.

A dúvida cética aplicada a ela seria assim: afinal, quem é ela? A jovem e muito compenetrada intelectual ou a deliciosa bêbada que sonha em ser usada como taça de vinho? Quem é "seu verdadeiro ser"?

Óbvio que nada disse ao jovem trêmulo porque, na verdade, ele provavelmente nada entenderia uma vez que tendo ele já suposto que se pode desejar uma mulher "com respeito", isso significa que ele não conhece esse recôndito recanto da alma feminina e sua irresistível vocação para fundamentar sua virtude no número de taças de vinho que bebe numa noite.

Mas, a verdadeira crítica do jovem trêmulo à minha afirmação era que eu estaria duvidando da capacidade feminina de ser honesta "em si". Meu Deus, quanta cegueira num corpo tão magro.

As meninas à nossa volta, todas já tendo tomado algumas taças de vinho, imersas em pura misericórdia, sorriam pra mim pedindo que fosse piedoso.

Escravo como sou da virtude feminina máxima, sua beleza, cedi imediatamente ao impulso de me defender de tamanha absurda acusação de duvidar da honestidade feminina "em si".

A verdade, aquela altura da noite, é que eu estava de fato fazendo uma ode a mais pura honestidade feminina em si: a honestidade que vem diluída no número de taças de vinho que ela bebe.

A prova máxima, e que no passado os homens aprendiam desde jovens (hoje eles aprendem a ter medo das mulheres que os desejam), é que quando ela quer mentir, ela não bebe nada.
Por: Luiz Felipe Pondé Publicado na Folha de SP

domingo, 28 de setembro de 2014

NÓS, OS VERMES

Que beleza, leitor: um grupo intitulado Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) agora domina partes da Síria e do Iraque. Melhor: já faz vídeos. Com decapitações de ocidentais. E proclamações: existe um novo Califado, dizem os assassinos, renascido das cinzas otomanas que a Primeira Guerra provocou.


Essa utopia terrena está atraindo jihadistas do mundo inteiro. Do mundo inteiro, vírgula: do Reino Unido em especial. O premiê David Cameron está pasmo. Membros do seu governo, "idem". E a "inteligência" britânica quer saber como é possível que cidadãos britânicos, que nasceram e cresceram à sombra do Estado de bem-estar social, viram as costas ao Ocidente para lutarem contra o Ocidente.

Boas perguntas. Nenhuma delas é especialmente misteriosa. Qualquer pessoa com dois neurônios compreende que, no caso do Reino Unido, a produção de jihadistas explica-se pela belíssima cultura de "tolerância" que, durante duas gerações, permitiu que muitas mesquitas locais fossem antros de ódio e extremismo.

Só Deus sabe –ou Alá, já agora, para não ferir certas sensibilidades ecumênicas– a extrema dificuldade legal que Londres teve para extraditar Hamza al-Masri, o famoso "Capitão Gancho" da mesquita de Finsbury Park, em Londres, para os Estados Unidos, onde era acusado de vários complôs. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem estava preocupado com os "direitos humanos" de um terrorista, mas não com os direitos das vítimas que ele potencialmente causava com as suas palavras de loucura e morte.

E só agora a ministra do Interior britânica, a conservadora Theresa May, promete legislação pesada para o extremismo e as incitações ao ódio –em espaços públicos, escolas, mesquitas etc. Até os trabalhistas aplaudem a "coragem" da senhora.

Não admira: como informa o "Daily Telegraph", existem mais cidadãos britânicos de origem muçulmana marchando nas fileiras do EIIL do que no exército de Sua Majestade. Eis um retrato da pátria de Churchill.

Mas há outro. Porque não existem apenas fanáticos islamitas que, dentro do Ocidente, pregam a morte do Ocidente. É preciso relembrar os fanáticos revisionistas e multiculturalistas que, na mídia e nas universidades, foram oferecendo as doces pastagens da retórica antiocidental.

Caso clássico: anos atrás, Ian Buruma e Avishai Margalit escreverem um livro que inverte o título (e a tese) do celebrado "Orientalismo" de Edward Said. Chama-se "Ocidentalismo" e é um estudo sobre a visão deturpada e grotesca do Ocidente produzida pelos seus inimigos.

E, no topo da lista, está um longo rol de intelectuais ocidentais –de Spengler a Heidegger, sem esquecer o demencial Sartre– para quem o Ocidente era um antro de decadência/declínio/corrupção/brutalidade/desumanidade/exploração (pode escolher à vontade). Essa retórica, escreviam os autores, acabou por emigrar para o mundo inteiro, Oriente Médio em especial. E é hoje repetida, "ipsis verbis", pela turma do EIIL.

No livro, há até um episódio pícaro (e grotesco; atenção, famílias) que ilustra bem como as más ideias viajam depressa. Acontece quando o Taleban tomou Cabul em 1996, pendurou o presidente afegão Najibullah no poste, encheu os seus bolsos de dólares e colocou cigarros entre os dedos quebrados do cadáver.

Mensagem: esse aí é um produto degenerado do Ocidente em seus vícios e ganâncias.

(Curioso, lembrei agora: as campanhas antifumo poderiam usar a imagem do antigo presidente afegão enforcado e com cigarros entre os dedos. E o lema: "Fumar prejudica a saúde." Mas divago.)

Porque a questão é glacial: se nós, ocidentais, não respeitamos o que somos ou temos, independentemente de todos os erros cometidos (e corrigidos: será preciso lembrar a escravatura, abolida por aqui e praticada ainda no resto do mundo?), por que motivo devem os outros respeitar-nos?

Gostamos tanto de nos apresentar como vermes que os outros acabam olhando para nós como vermes.

Soluções?

Deixemos isso para os líderes do mundo, como Barack Obama, que tipicamente não sabe o que fazer. (Uma sugestão: que tal reduzir à Idade da Pedra quem tem a mentalidade de homens das cavernas, senhor presidente?)

Mas já seria um grande contributo se o Ocidente fosse um pouco mais intolerante com a intolerância daqueles que recebemos, alimentamos, sustentamos –e enlouquecemos de ódio com o ódio que sentimos por nós próprios. 
Por: João Pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O SILÊNCIO DE LULA

Ao escolher candidatos sem consulta à direção partidária, ele transformou o PT em instrumento de vontade pessoal


Na história republicana brasileira, não houve político mais influente do que Luiz Inácio Lula da Silva. Sua exitosa carreira percorreu o regime militar, passando da distensão à abertura. Esteve presente na Campanha das Diretas. Negou apoio a Tancredo Neves, que sepultou o regime militar, e participou, desde 1989, de todas as campanhas presidenciais.

Quando, no futuro, um pesquisador se debruçar sobre a história política do Brasil dos últimos 40 anos, lá encontrará como participante mais ativo o ex-presidente Lula. E poderá ter a difícil tarefa de explicar as razões desta presença, seu significado histórico e de como o país perdeu lideranças políticas sem conseguir renová-las.

Lula, com seu estilo peculiar de fazer política, por onde passou deixou um rastro de destruição. No sindicalismo acabou sufocando a emergência de autênticas lideranças. Ou elas se submetiam ao seu comando ou seriam destruídas. E este método foi utilizado contra adversários no mundo sindical e também aos que se submeteram ao seu jugo na Central Única dos Trabalhadores. O objetivo era impedir que florescessem lideranças independentes da sua vontade pessoal. Todos os líderes da CUT acabaram tendo de aceitar seu comando para sobreviver no mundo sindical, receberam prebendas e caminharam para o ocaso. Hoje não há na CUT — e em nenhuma outra central sindical — sindicalista algum com vida própria.

No Partido dos Trabalhadores — e que para os padrões partidários brasileiros já tem uma longa existência —, após três decênios, não há nenhum quadro que possa se transformar em referência para os petistas. Todos aqueles que se opuseram ao domínio lulista acabaram tendo de sair do partido ou se sujeitaram a meros estafetas.

Lula humilhou diversas lideranças históricas do PT. Quando iniciou o processo de escolher candidatos sem nenhuma consulta à direção partidária, os chamados “postes”, transformou o partido em instrumento da sua vontade pessoal, imperial, absolutista. Não era um meio de renovar lideranças. Não. Era uma estratégia de impedir que outras lideranças pudessem ter vida própria, o que, para ele, era inadmissível.

Os “postes” foram um fracasso administrativo. Como não lembrar Fernando Haddad, o “prefeito suvinil”, aquele que descobriu uma nova forma de solucionar os graves problemas de mobilidade urbana: basta pintar o asfalto que tudo estará magicamente resolvido. Sem talento, disposição para o trabalho e conhecimento da função, o prefeito já é um dos piores da história da cidade, rivalizando em impopularidade com o finado Celso Pitta.

Mas o símbolo maior do fracasso dos “postes” é a presidente Dilma Rousseff. Seu quadriênio presidencial está entre os piores da nossa história. Não deixou marca positiva em nenhum setor. Paralisou o país. Desmoralizou ainda mais a gestão pública com ministros indicados por partidos da base congressual — e aceitos por ela —, muitos deles acusados de graves irregularidades. Não conseguiu dar viabilidade a nenhum programa governamental e desacelerou o crescimento econômico por absoluta incompetência gerencial.

Lula poderia ter reconhecido o erro da indicação de Dilma e lançado à sucessão um novo quadro petista. Mas quem? Qual líder partidário de destacou nos últimos 12 anos? Qual ministro fez uma administração que pudesse servir de referência? Sem Dilma só havia uma opção: ele próprio. Contudo, impedir a presidente de ser novamente candidata seria admitir que a “sua” escolha tinha sido equivocada. E o oráculo de São Bernardo do Campo não erra.

A pobreza política brasileira deu um protagonismo a Lula que ele nunca mereceu. Importantes líderes políticos optaram pela subserviência ou discreta colaboração com ele, sem ter a coragem de enfrentá-lo. Seus aliados receberam generosas compensações. Seus opositores, a maioria deles, buscaram algum tipo de composição, evitando a todo custo o enfrentamento. Desta forma, foram diluindo as contradições e destruindo o mundo da política.

Na campanha presidencial de 2010, com todos os seus equívocos, 44% dos eleitores sufragaram, no segundo turno, o candidato oposicionista. Havia possibilidade de vencer mas a opção foi pela zona de conforto, trocando o Palácio do Planalto pelo controle de alguns governos estaduais.

Se em 2010 Lula teve um papel central na eleição de Dilma, agora o que assistimos é uma discreta participação, silenciosa, evitando exposição pública, contato com os jornalistas e — principalmente — associar sua figura à da presidente. Espertamente identificou a possibilidade de uma derrota e não deseja ser responsabilizado. Mais ainda: em caso de fracasso, a culpa deve ser atribuída a Dilma e, especialmente, à sua equipe econômica.

Lula já começa a preparar o novo figurino: o do criador que, apesar de todos os esforços, não conseguiu orientar devidamente a criatura, resistente aos seus conselhos. A derrota de Lula será atribuída a Dilma, que, obedientemente, aceitará a fúria do seu criador. Afinal, se não fosse ele, que papel ela teria na política brasileira?

O PT caminha para a derrota. Mais ainda: caminha para o ocaso. Não conseguirá sobreviver sem estar no aparelho de Estado. Foram 12 anos se locupletando. A derrota petista — e, mais ainda, a derrota de Lula — poderá permitir que o país retome seu rumo. E no futuro os historiadores vão ter muito trabalho para explicar um fato sem paralelo na nossa história: como o Brasil se submeteu durante tantos anos à vontade pessoal de Luiz Inácio Lula da Silva.

Por: Marco Antonio Villa é historiador  Do site: http://www.marcovilla.com.br/

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

'SIGA O DINHEIRO"!

A estagnação da economia é um reflexo da crise internacional. Mesmo assim, o povo tem emprego e renda. "Os políticos não podem trabalhar focados em PIB, inflação, deficit público ou câmbio." Não é urgente reajustar preços de energia ou combustíveis. 


O "modelo da década de 90" gerava desemprego. As críticas ao governo partem de empresários rancorosos "da Faria Lima". "Não podemos continuar esse Fla-Flu político estimulado por São Paulo." 

Os diagnósticos de Murilo Ferreira, presidente da Vale (Folha, 7/9), repetem, linha por linha, o discurso da campanha de Dilma. Há um problema com o jornalismo: na ficha sobre o executivo e a empresa, o leitor não fica sabendo que o entrevistado é "Fla" (ou, metáfora mais apropriada, "Flu").

A Vale só foi privatizada no universo fantasioso do direito empresarial. Seu controle acionário é exercido por fundos de pensão de estatais e pelo BNDES. No mapa de projetos financiados pelo BNDES em território brasileiro, aparecem cerca de R$ 20 bilhões destinados à Vale. 

Um novo financiamento, para o Complexo Carajás, elevará o total a mais de R$ 26 bilhões. 

O governo tem ações especiais, as golden share, que conferem direito de veto nas decisões estratégicas da empresa. Ferreira é o interventor informal do governo na Vale, alçado à presidência em operação articulada entre o BNDES e os fundos de pensão, que derrubaram Roger Agnelli. Quando ele move os lábios, quem fala é Lula.

O capitalismo de Estado brasileiro, restaurado e atualizado nos três mandatos do lulismo, circula nas entrelinhas de um jornalismo cada vez mais timorato. A Vale é uma das joias da coroa. Seus negócios globais, espalhados por mais de 30 países, foram impulsionados pela diplomacia presidencial de Lula. 

Suas alianças com empresas transnacionais amparam-se na certeza de que, em circunstâncias adversas, o BNDES (isto é, os títulos de dívida do Tesouro) socializará os prejuízos. 

No dia da primeira posse de Lula, em 2003, pagava-se R$ 97 por uma ação da empresa; hoje, ela vale menos de R$ 30 (atenção, Ferreira: o colapso começou bem antes da crise internacional, seu bode expiatório preferido).

A história política recente do capitalismo de Estado brasileiro pode ser narrada como um romance policial ou como um conto eleitoral. 

No primeiro registro, a escritura depende da vontade da Polícia Federal de seguir até o fim as pistas da Operação Lava Jato, remontando a teia que liga os partidos (PT, PMDB e PP) à Petrobras e às empreiteiras mencionadas pela contadora do doleiro Youssef (OAS, Mendes Júnior e Camargo Corrêa). 

No segundo, o texto está à disposição do público, sob a forma do quadro de financiadores legais de campanha. As empreiteiras lideram de longe as doações e distribuíram 65% dos recursos para Dilma. 

A OAS, segunda maior doadora singular, direcionou 85% do dinheiro para a presidente-candidata. O maior financiador é o Grupo JBS, do agronegócio, que recebeu R$ 4,8 bilhões do BNDES e "devolveu" para Dilma cerca de R$ 20 milhões, ou 65% de suas doações.

Rui Falcão, o presidente do PT, anunciou os novos rumos da campanha de Dilma, que tenta colar os rótulos de "antinacionalista" e "privatista" à candidatura de Marina, trocando o nome do inimigo público nos versos antigos, desengavetados para Aécio. 

É preciso traduzir o significado do conceito de "nação" na narrativa lulopetista. No fim, para eles, nação é a tela de interesses entrelaçados das grandes empresas associadas ao Estado. 

Do ponto de vista da pessoa jurídica, Brasil significa Vale, OAS, Odebrecht, JBS e similares. Do ponto de vista da pessoa física, é Lula e um cortejo de coadjuvantes maiores ou menores, alguns relacionados nos depoimentos do delator Paulo Roberto Costa.

P.S.: Cerqueira Leite pensa que fé é fundamentalismo e insulto é argumento. Os deuses roubaram-lhe a razão. 
Por Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A ABERTURA DO BAÚ RUSSO DE TRUQUES ESTRATÉGICOS E POLÍTICOS

O politicamente correto foi uma invenção marxista com o fim de destruir a sociedade ocidental desde dentro... E na Rússia não há qualquer vestígio de politicamente correto! A razão para isso é que os marxistas não precisam solapar a sociedade russa desde dentro, pois ela já é marxista.

Konstantin Preobrazhensky, “Como o Ocidente foi enganado por Vladimir Putin”

Para entender o que se passa na Ucrânia, é proveitoso ter em conta o baú russo de truques estratégicos e políticos. É nossa incapacidade de entender esses truques que nos levou a avaliar erroneamente as jogadas e as intenções russas. Falando só aqui entre nós, é o caso de perguntar se nosso atual método de ameaça de sanções econômicas é algo solidamente realista, dado que temos em nosso meio tanto agentes quanto amigos russos. Afinal de contas, há algo estranho em um sistema econômico vulnerável como o nosso perseguindo um Estado (Rússia) que tem um longo histórico semi-autárquico.

Sem dúvidas as sanções contra a Rússia são necessárias, mas os gigantes do mercado estariam dispostos a abrir mão do mercado russo? Será que algum político agiria contra os interesses econômicos dos gigantes do mercado? Lembremos novamente que não se deve subestimar a influência russa na nossa própria economia. Além do mais, mesmo que fossem viáveis politicamente as sanções contra a Rússia, o Ocidente tornou-se vulnerável às contramedidas russas, pois a Rússia representa o capital do crime organizado internacional e, como tal, funciona como uma ‘câmara de compensação’ internacional das chantagens políticas, da corrupção bancária através da lavagem de dinheiro, da infiltração na CIA e no FBI, e como conspiradora para o enfraquecimento do dólar americano. Pode-se até perguntar: dadas as ferramentas disponíveis aos estrategistas russos, como eles poderiam fracassar?

E há também o potencial militar russo. A respeito dos seus maiores oponentes, o Ocidente subestimou seriamente seus inimigos duas vezes no último século: primeiro em 1939 quando os Aliados acreditavam ter contido a Alemanha nazista com a “garantia” que eles deram sobre a Polônia; e depois com as sanções ao Japão em 1941. No primeiro caso, a Alemanha massacrou a Polônia e quebrou a França. No segundo caso, o Japão destruiu a frota americana em Pearl Harbor, derrotou as forças americanas nas Filipinas e capturou tropas britânicas na Cingapura.

Alguns podem afirmar que os russos não são tão capazes quanto os alemães e japoneses. Afinal, a Rússia é um país atrasado; a economia russa cheira mal; os equipamentos russos são obsoletos e seu povo está desmoralizado. Ainda mais notável é que os comandantes russos são bonecos políticos que seguem ordens. Mas espere! A Rússia foi a primeira a mandar o homem para o espaço. A Rússia lançou o primeiro satélite. A Rússia construiu a primeira versão operacional da bomba de hidrogênio. Não vamos cometer o erro de subestimar a Rússia.

Adolf Hitler subestimou a Rússia. Sim, em 1942, da boca do próprio Hitler, em uma conversação gravada com o Barão Mannerheim, houve a seguinte conversa:

Mannerheim: [Incrível] o que eles tinham guardado!

Hitler: Absolutamente... bem... se alguém me dissesse que uma nação [a URSS] pudesse começar com 35.000 tanques, eu diria: ‘Você é louco!’

Mannerheim: Trinta e cinco? — disse surpreso

Hitler: Trinta e cinco mil tanques.

Outra voz de fundo: Trinta e cinco mil!

Hitler: Destruímos — até agora — mais de 34.000 tanques. Se alguém tivesse me dito isso, eu teria dito ‘Você é louco, está vendo fantasmas’. Eu afirmaria que isso não é possível. Como eu havia dito anteriormente, achamos fábricas, sendo uma delas em Kramatorskaia. Dois anos atrás haviam lá umas duas centenas [de tanques]. Não sabíamos de nada além. Hoje existe lá uma fábrica de tanques que durante o turno do dia contava mais de 30.000 trabalhadores e outros 60.000 nos demais turnos trabalhando — em uma única fábrica! Uma fábrica gigantesca! Massas de trabalhadores que, certamente, viviam como animais e...

A Rússia tinha 35.000 tanques em 1941? Esse número inimaginável era várias vezes maior do que todos os tanques possuídos pelos outros países combatentes da Segunda Guerra Mundial até aqueles dias. E o que é mais interessante, antes de os alemães fazerem essa desagradável descoberta, ninguém tinha a vaga idéia de que esses números não só eram possíveis, como eles eram reais. Foi apenas após o bem-sucedido ataque surpresa de 22 de junho de 1941 que esses tanques foram destruídos ou capturados. Tivessem sido usados esses tanques num primeiro ataque contra Hitler, toda a Europa teria se tornado território soviético.

Se qualquer expert hoje disser que sabe qual o verdadeiro poderio militar russo, ou afirmar conhecer as capacidades estratégicas russas, há grandes chances de ele estar errado. E não fiquemos apenas nos números de tanques. Os exércitos de tanques não são mais decisivos. Mísseis são decisivos. Terroristas são decisivos, ou seja, “exércitos terroristas” cercando e atacando os campos petrolíferos no Oriente Médio. Drogas que visam o controle mental são decisivas. Uma nova arma biológica pode vir a ser decisiva.

Além disso, leve em conta a fraqueza estratégica presente do lado americano. A posição estratégica americana tem sido há muito comprometida pela fixação idiota em questões ideológicas tais como aquecimento global, feminismo, direitos homossexuais, multiculturalismo e internacionalismo. Na maneira que se faz política atualmente nos EUA, o politicamente correto vem primeiro e a segurança nacional em segundo. Isso também vale para a economia, área em que o politicamente correto também nos levou à bancarrota. E é esse mesmo país politicamente correto, com sua economia cada vez mais frágil, que se prontificou a confrontar a Rússia após um período de desmantelamento e diminuição do seu próprio poderio militar.

Nos dias recentes tem aparecido uma enxurrada de informações vindas da Ucrânia sobre os planos russos, sobre a complexidade da própria crise e sobre as consequências advindas dos confrontos entre patriotas ucranianos e russos/separatistas. Na segunda-feira houve relatos de uma preparação russa para invadir e capturar Odessa, a importante cidade portuária.

Estariam os russos blefando? Estamos no meio da névoa de guerra, por assim dizer, com um vislumbre aqui e outro ali. Para entender o grande cenário, precisamos admitir três pontos acerca da política russa: (1) O grupo dominante na Rússia age conspirando contra todos, inclusive contra a própria Rússia; (2) A contínua referência que Moscou faz das maquinações ocidentais (i.e., especialmente falando do Reino Unido e dos EUA) representa um tipo de paralelo comum à prática de regimes totalitários; (3) A vil agressão militar contra os povos vizinhos — primeiro a Chechênia, depois a Geórgia, e então as províncias do leste e do sul da Ucrânia — é uma realidade. Esta última agressão entende-se quando percebemos que a independência ucraniana é algo fictício para Moscou. “A Ucrânia não é um país de verdade”, disse Putin. E ele está falando seríssimo. Um dia a França também não será mais um país, assim como a Alemanha.

Acredito que o curso dos eventos é ditado por uma cultura política leninista e estalinista que cresceu à partir dos precedentes czarismo e bolchevismo, e que envolve um baú de truques em que seis elementos são usados para conquistar resultados econômicos e políticos: (1) provocação; (2) divisão e conquista; (3) infiltração em todos os campos inimigos; (4) desinformação; (5) oposição controlada e (6) fraude estratégica. Várias formações especiais e sub-armas ideológicas foram desenvolvidas por Moscou com o fim de ampliar o poder operacional desses seis elementos, sendo eles: crime organizado, tráfico de drogas, terrorismo internacional, movimentos de liberação nacional, islã revolucionário, livre comércio, aquecimento global, feminismo, movimento homossexual, controle de armas e multiculturalismo.

O atual governo de Moscou herdou esses elementos e ferramentas dos tempos soviéticos e até de antes. O Ocidente, por sua vez, não compreende a sofisticação dessas ferramentas e dificilmente consegue compreender o que se pode conquistar com elas. Para citar o testemunho de um ex-oficial de inteligência soviético, Konstantin Preobrazhensky, a KGB manteve um departamento cuja função era unicamente gerenciar os chefes de estado que eram agentes soviéticos.

Não entendemos esse regime agora e nem o entendemos no passado. Uma falsa e distorcida história da Rússia soviética foi produzida para fazer com que esqueçamos os fatos operacionais vitais. Por exemplo, os 35.000 tanques citados por Hitler. A Segunda Guerra Mundial foi a guerra mais mal compreendida de toda a história porque ela foi a primeira guerra a ser travada junto do aparato soviético de fraude em massa. As mentiras ditas sobre essa guerra pelo lado soviético, combinadas com as costumeiras falsificações dos alemães e Aliados, nos deixa diante de uma colagem mitológica e sem a verdadeira noção do porquê o desastre ocorreu ou quem inicialmente esperava lucrar com ele. As falsificações são tão profundas e tão bem sucedidas, que não se pode deixar de pensar que ainda é necessário um esforço para escapar das consequências dessas falsificações ainda hoje.

A Segunda Guerra Mundial ainda é importante para Moscou. Essa guerra cede ao regime um tipo de legitimidade. A guerra estendeu o controle comunista até à Europa central. Ela quebrou a espinha dorsal do Império Britânico e abriu caminho para o politicamente correto. A guerra também transformou os Estados Unidos em polícia global quando a elite americana não estava culturalmente dotada da competência necessária para desempenhar esse novo papel.

Como observou Diana West em seu livro, nossa aliança militar com a União Soviética deixou os Estados Unidos abertos à ulteriores infiltrações e manipulações de agentes soviéticos. Armas nucleares e outras tecnologias foram roubadas por Moscou. Na China, assim como na Coréia do Norte, instaurou-se uma tomada de poder pelos comunistas. O Japão e a Alemanha, que são barreiras militares naturais contra a expansão soviética, foram militarmente destruídos e precisaram de proteção das forças americanas. O rompimento dos impérios coloniais, como citado acima, abriu um vasto leque de possibilidades para os estragos soviéticos.

Com todas essas questões a se considerar, devemos nos perguntar até que ponto a União Soviética foi a principal instigadora da Segunda Guerra Mundial. Uma prova de valor pode ser encontrada, como dito anteriormente, na conversa de Hitler com Mannerheim. Uma peça chave de evidência, que pode ser confirmada por outras fontes, é o assombroso número de 35.000 tanques! Esse número significa uma preparação bélica que diminui a importância de todas as outras preparações bélicas dos outros países. Uma preparação como essa não é um mero fenômeno dos anos 1930. Ela continuou a ser um aspecto crucial do Estado soviético até sua morte oficial em 1991. E não devemos imaginar, mesmo agora, que essa preparação se suspendeu.

Enquanto a pressão militar russa sobre a Ucrânia se intensifica, enquanto o Estado Islâmico do Iraque e Levante (EI) avança e se fortifica, e enquanto hackers ameaçam bancos americanos como o J.P. Morgan, podemos ver um padrão que se encaixa num projeto maior. Quando descobrimos que um dos principais comandantes do EI nasceu na União Soviética e foi treinado na Rússia, devemos nos perguntar: o que está havendo? Quando lemos que imagina-se que ciberataques aos bancos americanos saíram da Rússia, então devemos parar de acreditar em coincidências.

Há um baú de truques e há vigaristas operando.

Por: Jeffrey Nyquist

Tradução: Leonildo Trombela Junior




O IMPASSE CONSERVADOR

A pergunta que toda pessoa de sensibilidade conservadora se deve fazer hoje é: "conservar o quê?", uma vez que o mundo de Edmund Burke (século 18), pai do pensamento "liberal-conservative", não existe mais.


O americano Russel Kirk (século 20) se faz pergunta semelhante em sua obra. O mundo americano em que ele vivia, Mecosta, no estado de Michigan, sua pequena cidade, recolhida num paraíso longe da "rat race", também não existe mais. Ou, se existe, não suportaria o impacto de milhões de pessoas querendo viver assim. Ao final, uma vida "recolhida" como esta acaba por ser um artigo de luxo num mundo em que o comum é a "rat race". Tampouco a religião é solução.

Se acompanharmos Kirk, por exemplo, na sua defesa do "espírito conservador", veremos que ele entende o "contrato social" conservador como sendo o seguinte: "a sociedade é uma comunidade de almas que reúne os mortos, os vivos e os que ainda não nasceram", segundo Burke, claro.

Pessoalmente, não conheço forma mais poética de ver a vida social e histórica, e olha que já li, como diz um amigo meu jornalista, uns dois livros na minha vida.

Temo que esta linda imagem tenha perdido validade porque ela supõe outra ideia: a de que exista uma misteriosa sabedoria na heterogênea experiência humana (Kirk pensa assim), e que esta misteriosa sabedoria está "depositada" na continuidade quase inconsciente da vida. Será?

Temo que seja impossível qualquer "misteriosa heterogeneidade" num mundo como o nosso, afogado no corre-corre utilitarista e narcisista sempre igual. Não vejo retorno possível.

Além disso, o estrago causado pela vida moderna e sua tagarelice digital acaba por nos fazer questionar se há mesmo uma sabedoria na história ou no "povo".

Pelo contrário, e aqui sigo outro autor de sensibilidade conservadora, Nelson Rodrigues (século 20), o mundo moderno deu a vitória aos "idiotas". Acrescentaria, "tagarelas", fazendo uso de uma imagem de outro autor de sensibilidade conservadora, Alexis de Tocqueville (século 19).

Talvez o único argumento possível a favor ainda de alguma sabedoria fosse defender a ideia que a experiência pré-histórica (a violência que sempre retorna) em algum momento se imponha e nos cure dos delírios contemporâneos. Mas aí o remédio seria demasiado amargo, não sei se vale a pena.

Por outro lado, a ideia de "hábito", tão afeita a Michael Oakeshott (século 20), se perdeu, uma vez que os hábitos hoje são todos submetidos à lógica da desqualificação do passado. Mesmo a "espontaneidade" de Friedrich Hayek (século 20) não tem mais lugar num mundo que não crê mais na liberdade e autonomia, e prefere a mediocridade da igualdade imposta.

Isaiah Berlin (século 20), e sua defesa da "liberdade negativa" ("live and let live"), me parece também inviável no mundo em que vivemos, no qual, os mecanismos de controle da vida pelo Estado e pelo mercado assumem proporções antes impensáveis.

A ideia de que o Estado "nos deixe em paz" é inviável porque, associado ao mercado e seus mecanismos de produção de riqueza, sem os quais não sobrevivemos num mundo com bilhões de pessoas (muitas delas da tribo descrita pelo Nelson), não há saída a não ser racionalizando cada vez mais a vida cotidiana. Nós mesmos pedimos o controle para que a vida seja segura e "tiremos férias seguras".

O simples fato que optamos pela "felicidade" compreendida como otimização da vida (os utilitaristas como Jeremy Bentham e John Stuart Mill do século 19 venceram) implica um impasse: como resistir ao desejo por um "mundo melhor" pensado como uma sociedade "parque temático" de indivíduos que consomem matéria e espírito ao sabor da moda?

Todavia, não aceito as utopias da esquerda que continuam a prometer uma saída mentindo sobre o custo dela: o autoritarismo centralizado do Estado ou o populismo dos "idiotas" do Nelson mobilizados. Esconder-se na natureza tampouco é possível: todo lugar tem IPTU.

Resta-nos, talvez, a companhia de românticos como Friedrich Nietzsche (século 19) ou Albert Camus (século 20): diante do absurdo, mal-estar e revolta. 
Por: Luiz Felipe Pondé Publicado na Folha de SP

terça-feira, 23 de setembro de 2014

PUTIN FÊNIX

Obama esteve nesta quarta (3) na Estônia e se reuniu com os presidentes de Estônia, Letônia e Lituânia. Donald Tusk, primeiro-ministro da Polônia, em março, apelou à Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) pela presença permanente de 10 mil soldados da aliança em seu país. Angela Merkel, a chanceler alemã, rejeitou a ideia da presença de longo prazo da Otan na Europa Oriental. Tusk defende a linha dura quanto à Ucrânia e Rússia e, em dezembro, assumirá a presidência do Conselho Europeu.


Hoje (4), Obama participará da conferência de cúpula semestral da Otan. Os chefes de Estado discutirão a crise na Ucrânia, no Oriente Médio e no Afeganistão. Mas o que mais os ocupará será o presidente russo Vladimir Putin. Terão de decidir como devolver à Otan seu papel original: a defesa territorial da Europa contra potencial agressão por Moscou.

Não será fácil. Os líderes europeus e Obama discordam consideravelmente em suas reações a Putin. Ontem, sob grande pressão da Otan, o presidente francês François Hollande suspendeu a entrega de um porta-helicópteros para a Rússia. A Noruega manteve seu contrato com a estatal russa Rosneft para o fornecimento de US$ 4,25 bilhões em plataformas de petróleo na região ártica russa. Os EUA respondem por 66,6% das despesas militares da Otan, o Reino Unido contribui com 6,1%, a França com 6,6%, e a Alemanha com 5,3%.

A percepção de fraqueza alimenta uma narrativa perigosa. Putin evidentemente calcula que pode ignorar os protestos retóricos de Merkel e Obama enquanto avança a fim de abocanhar uma porção maior da Ucrânia, possivelmente criando uma ponte terrestre entre a Rússia e a Crimeia. Ele aposta em ganhos estratégicos a longo prazo, e que a Europa, no fim, evitará um confronto.

Dmitry Rogozin, primeiro-ministro assistente da Rússia, postou imagens de Putin e Obama no Twitter. Putin, como "Macho Man", acaricia um leopardo, e Obama, um cachorrinho. Putin tem mais de 80% de aprovação na Rússia. A Otan certamente fechará o acordo para estabelecer uma força de cerca de 10 mil soldados. Mas isso não é resposta para os 150 mil soldados que a Rússia mobilizou para manobras ao longo das fronteiras dos Países Bálticos e da Ucrânia, em fevereiro. Tampouco responde ao nacionalismo, irredentismo e agressão militar camufladas empregadas na Ucrânia.

Gideon Rachman, em artigo no "Financial Times", alerta que "a percepção de declínio do poderio ocidental é uma profecia que ameaça se confirmar. A única maneira de norte-americanos e europeus evitarem isso é trabalharem juntos com maior determinação e propósito a fim de combater as crises que queimam sem controle na Europa e no Oriente Médio". Putin está calculando que a tarefa será difícil demais.
Por: Kenneth Maxwell Publicado na Folha de SP

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A TERCEIRA UTOPIA

Assustados, PSDB e PT espalham a lenda de que a ascensão de Marina Silva deriva da comoção gerada pela morte trágica de Eduardo Campos. Eles sabem que é outra coisa. No Brasil, os eleitores procuram administradores, gerentes, quando se trata de disputas municipais e estaduais. Nas eleições presidenciais, contudo, buscam a personificação de uma utopia possível. FHC e Lula chegaram ao Planalto nas asas de grandes ambições. Hoje, é Marina quem aparece como a representação de uma ruptura profunda.


A utopia associada a FHC pode ser sintetizada pelas ideias de estabilização e modernização. Desde o segundo mandato tucano, porém, o PSDB abandonou a trilha das reformas e, sob o fogo da crítica petista, borrou o horizonte utópico com as cores cinzentas da "capacidade gerencial". As candidaturas de Alckmin (2006) e Serra (2010) não foram previsíveis fracassos eleitorais, mas inegáveis desastres políticos. Aécio Neves é um herdeiro da perda de rumo e, mesmo que tateie na direção correta, jamais conseguiu atravessar a fronteira do eleitorado tucano para seduzir a maioria desencantada com o lulopetismo.

A utopia associada a Lula pode ser sintetizada pelas ideias de igualdade e justiça social. Inflado pelos ventos de popa da economia mundial, o potencial utópico do lulopetismo durou um mandato mais que o dos tucanos, mas encerrou-se no quadriênio de Dilma Rousseff. As suas reformas sociais praticamente esgotaram-se nas políticas de crédito e transferência de renda que ajudaram a estimular o boom de consumo popular. Hoje, num sentido fundamental, o PT converteu-se na nova Arena: o partido cuja força emana do controle da máquina pública. O mapa das intenções de voto na candidata-presidente evidencia a regressão política do partido que traçou seu caminho para o poder entre os eleitores de alta e média escolaridade dos grandes centros urbanos.

Marina aparece como representação da terceira utopia, tão nitidamente expressa nas Jornadas de Junho de 2013. O mapa do voto "marinista", bastante inclinado na direção do Centro-Sul e das maiores cidades, revela que a vontade majoritária de mudança tende a se coagular em torno dela. A "nova política", dístico um tanto misterioso da candidata, traduz a ambição de recuperação do Estado como coisa pública, isto é, como instrumento dos cidadãos para a geração de bens públicos.

A ruptura proposta por Marina aninha-se na palha de um paradoxo. De um lado, a candidata investe contra o PT e o PSDB, apresentando-os como facetas polares da mesma "velha ordem" que deve ser superada. De outro, ensaia um estranho convite para que os dois partidos rivais ocupem lugares no seu hipotético governo. FHC e Lula juntos, sob o guarda-chuva de Marina, como sugeriu Eduardo Giannetti, um conselheiro do círculo interno do "marinismo", significaria a repentina abolição, por um mero ato de vontade, das divergências de fundo sobre o Estado, a economia e a sociedade que marcam o debate brasileiro desde o fim da ditadura militar.

O discurso da "terceira via" é, sempre, tão atraente quanto perigoso. Defini-la como a união dos polos políticos tradicionais equivale a dissolver a ideia de mudança no caldo ralo de um falso consenso. As palavras de Giannetti obedeceram, talvez, à finalidade utilitária de rebater a crítica que aponta as carências de uma estrutura partidária sólida e de quadros administrativos experimentados no movimento "marinista". Contudo, atrás delas, divisa-se o espectro do governo de unidade nacional, recurso ao qual as democracias apelam somente em casos de guerra ou colapso social.

Em princípio, eleições são sobre verossimilhança, não sobre verdade. Uma boa campanha eleitoral é aquela capaz de reduzir a distância entre uma e outra. Por enquanto, a utopia mudancista personificada em Marina circula na esfera da verossimilhança.
Por: Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

'DINHEIRO FALSO'

Governos que mentem para o público o tempo todo acabam mais cedo ou mais tarde mentindo para si mesmos e, pior ainda, acreditando nas mentiras que dizem; o resultado é que sempre chegam a uma situação em que não sabem mais fazer a diferença entre o que é verdadeiro e o que é falso. Eis aí onde veio parar o governo da presidente Dilma Rousseff nestes momentos decisivos da campanha eleitoral. Muito pouco do que está dizendo faz nexo – resultado inevitável do hábito, desenvolvido já há doze anos, de navegar com o piloto automático cravado na contrafação dos fatos e na falsificação das realidades.


Entre atender à sua consciência e atender a seus interesses, o governo jogou todas as fichas na segunda alternativa, ao se convencer de que seria muito mais proveitoso tapear o maior número possível de brasileiros com a invenção de virtudes do que ganhar seu apoio com a demonstração de resultados. Não compensa: para que fazer toda essa força se dá para comprar admiração, cartaz e votos com dinheiro falso? Foi o que concluíram, lá atrás, os atuais donos do país. Agora, como viciados em substâncias tóxicas, vivem na dependência da embromação; está muito tarde para mudar, e a única opção é continuar mentindo até o dia das eleições. Sua esperança é que a maioria dos eleitores, como acontece com frequência, ache mais fácil acreditar do que compreender.

Para se ter uma ideia de onde foram amarrar nosso burro: o estado-maior da campanha de Dilma considerou que sua vitória mais importante no primeiro debate entre os candidatos foi ter escapado “de todas as perguntas difíceis”. É triste. Quando a verdade é substituída pelo silêncio, ensina o poeta Ievgeni Ievtushenko, o silêncio torna-se uma mentira – talvez seja, aliás, sua modalidade mais eficiente. A partir daí, vale tudo, e por conta disso os brasileiros têm ouvido as coisas mais extraordinárias por parte do governo.

Os candidatos da oposição, sobretudo Aécio Neves, foram publicamente acusados, por exemplo, de já terem decidido fazer uma recessão econômica se forem eleitos; no mesmo momento, comicamente, saíram os resultados da economia nos primeiros seis meses de 2014, mostrando que o Brasil andou para trás nos dois primeiros trimestres do ano. Ou seja: a recessão que os adversários iriam provocar no futuro já está sendo praticada pelo governo Dilma no presente. Na média dos seus quatro anos, por sinal, será o pior desempenho econômico do Brasil desde o presidente Floriano Peixoto.

Diante dos canais de concreto em ruínas na obra de transposição do Rio São Francisco, que, segundo as mais solenes promessas do ex-presidente Lula, estaria pronta em 2010, depois em 2012 e hoje é um mistério em termos de prazo, Dilma disse em sua propaganda eleitoral que a culpa do atraso é da “curva do aprendizado” – ou seja, pelo que dá para entender, ainda não aprendemos a fazer direito esse tipo de coisa. Ainda? O Canal de Suez está pronto desde 1869, o do Panamá desde 1914; será que já não deu tempo de aprender?

A Ferrovia Norte-Sul, que vem sendo construída pelos governos Lu­la-Dilma desde 2005, e que foi inaugurada mais uma vez em maio, continua fechada ao tráfego de trens, por falta de equipamentos – para piorar, ladrões vêm roubando os trilhos. São os únicos, além das empreiteiras, para quem a ferrovia tem tido alguma utilidade. O programa de formação de mão de obra técnica, descrito como “o maior do mundo”, formou até agora mais de 100 000 recepcionistas e manicures – o triplo do número de mecânicos. Em suma: já nem é mais um caso de mau governo. É anarquia.

Um dos diretores mais influentes da Petrobras durante o governo do PT, tão graduado que assumiu 24 vezes a presidência da empresa em substituição aos titulares, está na cadeia desde março, entalado em espetaculares denúncias de corrupção; foi figura-chave na tenebrosa compra da refinaria americana de Pasadena e está no centro da investigação sobre as negociatas na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, um pesadelo cujo custo final pode passar dos 20 bilhões de dólares. Indagada a respeito, Dilma nada respondeu. Preferiu dizer que o grande problema da empresa foi a sugestão, feita no governo Fernando Henrique, de trocar o nome da Petrobras para “Petrobrax” – apenas uma ideia tola, de vida curtíssima e sem importância nenhuma. E a economia parada? “Eu criei 5,5 milhões de empregos”, diz a candidata. Como assim – “eu criei”?

Uma mentira começa com o ato de fazer o que é falso parecer verdadeiro. Acaba deste jeito: em alucinação.
Por: J.R. Guzzo Publicado na Veja

domingo, 21 de setembro de 2014

FOGUEIRAS DA RAZÃO

Política, ao menos na democracia, é diálogo. A condição para o diálogo é a disposição genuína de ouvir –isto é, de mudar de ideia. O fanático não dialoga, prega. Ele pretende converter o interlocutor, mas não contempla a hipótese de rever suas próprias convicções. No fundo, almeja um poder absoluto: moldar o outro segundo o figurino de crenças que selecionou como verdadeiro. O artigo "Desvendando Marina", de Rogério Cezar de Cerqueira Leite (Folha, 31/8), não desvenda a candidata do PSB/Rede, mas atesta a virulência antidemocrática dos fanáticos da Razão.


O articulista classifica Marina Silva como uma fundamentalista cristã. No universo da ciência política, o conceito de fundamentalismo religioso aplica-se às correntes que exigem a subordinação das instituições públicas e da vida civil aos dogmas de uma fé. Os fundamentalistas querem substituir o livro das leis (o contrato constitucional) pela Lei do Livro (a Bíblia, o Corão ou a Torá). Marina não é, portanto, uma fundamentalista –e, assim como a teoria da evolução, tal conclusão não é uma questão de opinião.

O pensamento científico assenta-se sobre modelos e evidências, abrindo-se ao teste da falseabilidade. Do alto de uma torre erguida com a argamassa da arrogância, o fanático da Razão viola as regras que simula seguir, operando por espasmos de subjetividade. Cerqueira Leite escandaliza-se com as "crenças íntimas" de Marina, mas nem tenta apontar nas propostas políticas da candidata alguma contaminação fundamentalista. Marina defende a laicidade do Estado, sugere submeter o tema do aborto a plebiscito e alinha-se com a decisão do STF sobre a união civil de homossexuais. São posições semelhantes às de Dilma e Aécio, que também não reproduzem o catecismo do movimento LGBT. No fim, o "desconforto" do Inquisidor da Razão é com a liberdade de religião.

As grandes fogueiras da Igreja apagaram-se no passado, ainda que suas brasas continuem queimando aqui e ali. No Ocidente, as fogueiras do último século foram acesas por Estados totalitários que falavam a linguagem da Razão. A URSS de Stálin e a China de Mao eliminaram milhões de pessoas em nome da Ciência da História, que decifrara o enigma do futuro da humanidade. A Alemanha de Hitler construiu as engrenagens do exterminismo sobre o alicerce da Ciência da Raça, que prometia a salvação nacional no Reich de mil anos. O fanático da Razão, tanto quanto o da religião, quer um governo que administre as almas, não as coisas. Na democracia, contudo, as almas não fazem parte da esfera de autoridade do Estado.

A pecha de fundamentalista religiosa lançada contra Marina circula no submundo da internet, propagada por blogueiros governistas sustentados por patrocínios de empresas estatais. Simultaneamente, e de acordo com uma calculada lógica da duplicidade, o governo ensaia reativar um projeto de lei que concede benefícios tributários às igrejas. Mas o Inquisidor da Razão parece não sentir "desconforto" com a privatização partidária da máquina pública nem com a transgressão do princípio elementar da separação entre Estado e religião. Ele se incomoda, de fato, com "crenças íntimas".

Sou agnóstico. Acho graça nos mitos religiosos da Criação –e aborreço-me com pregadores que têm a exagerada pretensão de retificar minhas "crenças íntimas". Só existem superficiais diferenças de linguagem entre eles e os intragáveis pregadores do ateísmo, que querem matar Deus, erradicando-o da mente dos seres humanos. Uns e outros sonham com um Estado inquisitorial, aparelhado para desentranhar as "ideias daninhas" que envenenam seus concidadãos.

Marina já não é uma esfinge. A candidata divulgou um extenso programa de governo, atravessado por tensões e não isento de contradições. Melhor criticá-lo que acender uma fogueira com os galhos secos da árvore da intolerância. 
Por: Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

URSOS E BUROCRATAS

Meu plano, esta semana, era interromper a série de considerações deprimentes sobre a hedionda política nacional e mundial e oferecer aos leitores alguma coisa mais divertida. Tinha tudo para isso. Aos 67 anos, pela primeira vez na vida fiz uma viagem de recreio e estou em plena floresta do Maine, com meu filho Pedro e meu amigo Sílvio Grimaldo, caçando ursos pretos.

É uma região de beleza indescritível; os guias são pessoas gentilíssimas, de maneira que a gente se sente em família. O alojamento até parece um jogo de casinhas de brinquedo e a comida é de primeira ordem. Todo dia os guias nos levam por uma estrada de terra de onde partem as trilhas individuais que seguem pelo meio do mato até a cadeirinha onde nos encarapitamos para esperar o urso, atraído – espera-se – pela isca plantada num barril aberto.

Meu urso não deu ainda o ar da sua graça, especialmente porque ontem choveu um bocado e urso preto não gosta de chuva, mas vou continuar tentando. Levo uma Browning calibre 300 Winchester Magnum, suficiente para derrubar três ursos em fila, e minha pontaria não é de todo má.

Tinha uma boa oportunidade, portanto, para entreter os leitores com umas histórias de caçadas, mas, porca miséria, até aqui a maldita política globalista já chegou, firmemente decidida a estragar tudo e provar que "outro mundo é possível". É claro que é possível. Impossível será viver nele sem começar a pensar em suicídio aos trinta anos de idade. 

Será um mundo totalmente administrado, sem o mínimo espaço para a espontaneidade humana, onde o último arremedo de emoção consistirá em consumir drogas fornecidas pelo governo e praticar sexo industrializado. Traços desse mundo já se vêem por toda parte, exceto na Rússia, na China e nos países islâmicos, que preferem versões mais antiquadas do inferno.

A situação por aqui é a seguinte. O Maine tem uns trinta mil ursos pretos. Para impedir que comam todos os bebês de alces, é preciso matar uns cinco mil por ano. As leis e regulamentos já complicaram a coisa de tal modo que não se consegue matar nem a metade disso. Em resultado, a caçada de alces, antes um esporte popular, tornou-se privilégio de um punhado de ricaços, e mesmo estes têm de entrar numa loteria e esperar sua chance. 

A carne de alce é uma delícia, e no meu modesto entender é muito mais decente comer um bicho perigoso que você mesmo matou com risco próprio do que devorar cinicamente uma vaca indefesa assassinada a marretadas na ponta de uma baia sem saída.

Mas agora a tal da Humane Society, uma organização gigantesca subsidiada por George Soros e outras criaturas adoráveis, inventou um referendo para proibir a caça com isca, com cachorros e com armadilha, restando só a chamada “still hunting”, que consiste em andar pelo mato até encontrar um urso, o que é quase impossível. 

Tom Hamilton, nosso guia, disse que em dez anos só viu assim um único urso, de longe. O urso preto não é metido a valentão como o grizly. É bicho arisco, que se esconde como um ladrão furtivo. Se o voto "Sim" vencer, a superpopulação de ursos vai acabar de vez com os alces, invadir o espaço humano e ameaçar os animais domésticos. Será o perfeito paraíso ecológico.

Durante milênios as comunidades humanas mantiveram-se a salvo de animais ferozes graças a um vasto círculo de proteção constituído de caçadores, guardas florestais, fazendeiros etc. É assim até hoje. O típico cidadão urbano dos nossos dias ignora a existência desse círculo e imagina que é simplesmente natural os bichos ficarem em paz no seu "habitat", como que obedientes a um imenso Registro Cósmico de Imóveis, só se tornando perigosos quando seu território é "invadido" por malvados seres humanos.

Isso é de uma estupidez monstruosa. O "habitat natural" de um urso ou de um lobo não é um lugar fixo: é onde ele encontra uma comida do seu agrado. Pode ser um galinheiro, uma fazenda de gado ou uma pequena cidade. Se ele não passa daí é porque alguém lhe deu um tiro. 

O idiota urbano, a milhares de milhas, intoxicado de maconha, tagarelice ideológica e programas de TV, acredita-se protegido pela gentileza das feras e pelo milagre do "equilíbrio ecológico". É preciso ser muito, muito burro para acreditar que, deixada a si mesma, ou mantida como um santuário inviolável pelos cultores do animalismo, a Mãe Natureza resolverá tudo na mais perfeita harmonia. 

Essa gentil progenitora já liquidou mais espécies animais do que toda a humanidade caçadora reunida. De todos os fatores naturais, o homem é o menos mortífero. É aliás o único que se preocupa em preservar as outras espécies. Nenhum tigre faz passeata de protesto quando um de seus parentes come quatrocentos indianos pobres e desarmados. Nenhum grizly publica editoriais indignados quando um da sua espécie mata dezenas de filhotes, fêmeas e ursos mais fracos.

Não por coincidência, todo o movimento pela proteção às espécies animais foi uma invenção de caçadores, como Theodore Roosevelt nos EUA e Jim Corbett na Índia. Caçadores sabem o que é bom para os animais, para os seres humanos e para a convivência razoável entre as espécies. Políticos e intelectuais iluminados só pensam em si mesmos e inventam os mais belos pretextos para mandar em tudo.

Façam as contas. No Maine, onde a caça aos ursos ainda é um hábito comum, acontecem quarenta – sim, quarenta – vezes menos situações de risco entre ursos e pessoas do que em Connecticut, onde a caça é totalmente proibida e existem apenas 450 ursos em vez dos trinta mil do Maine. Quem protege melhor a população humana e animal? Os caçadores ou o governo?

P. S – Meu amigo Sílvio matou seu urso na quarta-feira. O meu e o do Pedro não deram as caras ainda. Na foto da página não apareço com a minha Browning, mas com a CZ 550 que emprestei ao Sílvio.
Por: Olavo de Carvalho é jornalista, ensaísta e prof. de Filosofia Publicado no Diário do Comercio





DE KEYNES AO PRESIDENTE

O colapso da União Soviética e a queda do Muro de Berlim geraram mudanças importantes em diversos partidos socialistas na Europa e em outras partes do mundo.


O Partido Socialista espanhol é um bom exemplo das transformações. Após amplo debate, as propostas de estatização dos meios de produção e controle da economia pelo Estado foram abandonadas, adotando-se a economia de mercado e o uso da riqueza gerada pela economia privada para financiar o governo e os programas sociais da socialdemocracia europeia.

Muitos políticos e governantes, em diversas regiões do mundo, têm dificuldades de lidar com essa equação, já resolvida há algumas décadas na Europa e em outras regiões. Por trás disso está a dificuldade de aceitar o papel central das empresas privadas na geração de emprego e de riqueza em uma economia de mercado.

Na medida em que o Estado produtor fracassou, a produção é organizada e conduzida pelo setor privado e, para ser financiada, ela passa necessariamente pelo lucro. Este precisa ser regulado por meio da prevenção de monopólios ou oligopólios e do estabelecimento da concorrência visando o aumento da qualidade e a diminuição do custo. Quanto mais aberta for a economia, mais eficiente será esse processo.

Os governantes que tentam impor suas visões de governo e de política econômica ao setor privado têm grande dificuldade de aceitar este conceito.

Uma carta escrita pelo economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946) ao presidente americano Franklin D. Roosevelt (1882-1945), na década de 1930, segue muito útil para orientar os políticos a lidarem com essas questões. Reproduzo um trecho (em tradução livre):

"Você pode conseguir que os empresários façam o que você gostaria, desde que os trate –mesmo os muito grandes– não como lobos ou tigres, mas como animais domésticos por natureza, mesmo que eles não tenham sido criados e treinados como você desejaria. É um erro pensar que eles sejam menos éticos do que os políticos. Se você os confronta e os deixa irritados, obstinados ou aterrorizados, como os animais domésticos tratados de maneira errada são capazes de ficar, a produção nacional não chegará aos mercados e, no final, a opinião pública vai reagir a isto".

É uma carta extremamente útil, particularmente no debate eleitoral presente. É importante que os políticos entendam que no Brasil prevalece a economia de livre mercado. Portanto, deve-se propiciar as condições para que as empresas possam existir, crescer, criar empregos, pagar mais salários, gerar riqueza, pagar impostos e aumentar o padrão de renda do país.
Por: Henrique Meirelles Publicado na Folha de SP

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O SOLDADO E OS MIMADOS

Uma cena da semana: um soldado na tela da CNN. Alta patente do exército conhecido como Peshmerga, o Exército curdo. Povo distante este, o curdo. Muitos de nós nem sabe que existem. Viviam, até agora, na solidão de nossa ignorância. Só quem se ocupa do Oriente Médio sabia da existência deles.


Mas, pouco importa conhecer algo hoje em dia, basta ter opiniões. Todo mundo tem opinião, a começar pelos idiotas do bem. Pergunto-me o que faria um desses diante do inimigo que este soldado enfrenta todo dia.

De volta ao soldado peshmerga. Rosto tenso, inglês difícil, pedido de socorro ao Ocidente –esta região do mundo que mergulhou nos delírios de intelectuais que se preocupam mais com os direitos dos terroristas do que com os das vítimas.

Os peshmergas combatem o Estado Islâmico (EI), grupo fundamentalista e terrorista sunita (será que algum inteligentinho discorda dos termos "fundamentalista e terrorista" aqui?) que gosta de cortar cabeças e clitóris em nome de Alá (Alá nada tem a ver com isso, coitado!).

Surgiu em meio à ridícula visão ocidental de que existiu um dia uma coisa chamada "Primavera Árabe" pela democracia, quando, na realidade, o que houve foi o que há naqueles lados do mundo há séculos: grupos brigando pelas mais variadas questões, inclusive pré-históricas. Mas ainda temos que viver mais mil anos pra passar esta febre do "moderno" que se pensa "novo" na face da Terra.

Um soldado como aquele, com o rosto marcado pelo medo e pela coragem (problema de quem de fato enfrenta a morte e não apenas assina manifestos afetados), pedia socorro ao Ocidente.

Ele, caso caia nas mãos do Estado Islâmico, terá, muito provavelmente, sua cabeça cortada. Ou será crucificado. Sua mulher e filhas vendidas como escravas, seus filhos crucificados também. Mas, em nossas terras de queijos e vinhos, os manifestos dos mimados contra a violência no Oriente Médio, quem sabe, deveriam pedir dinheiro ao Estado Islâmico, que é, aliás, bem rico.

Alguns intelectuais culpam os EUA pelo surgimento do Estado Islâmico. Mas o que fazer? Faz parte da infância mental acreditar em Papai Noel e culpar os EUA e Israel por tudo o que acontece.

Talvez, melhor, seria responsabilizar alguns professores dos departamentos de ciências humanas no Ocidente, por brincarem com coisa séria em suas sessões de queijos e vinhos.

O soldado peshmerga sabe o que é sério e o que é afetação de manifestos. Nós, não. Cremos no relativismo de butique que assola nossas universidades.

Existe sim um relativismo filosófico, desde Protágoras na Grécia, mas este é sempre uma demanda ao intelecto atento (desde Sócrates e Platão), não uma desculpa para afetações de quem confunde o mundo real com queijos e vinhos.

Não só muitos intelectuais vestiram o manto da pureza. Muitos artistas também manifestam sua superioridade moral. Formam o novo clero hipócrita do mundo. Confundem seus mundos seguros de ideias e formas com o mundo onde amor e ódio pesam mais do que ideias e formas de amor e ódio.

O soldado, que sabe que sua atitude pode custar sua vida, segue na sua solidão da guerra. A guerra é solitária. A solidão da morte.

Sonham, esses corajosos curdos que enfrentam de peito aberto os terroristas do Estado Islâmico, com uma democracia estável, na qual possam trabalhar, estudar e viver suas vidas comuns, como a de todos nós.

Sonham que um dia, em meio ao Oriente Médio, essa terra de sangue, possam ter, como eles dizem, uma sociedade como os EUA e Israel. Mas estou seguro que nosso clero de puros no Ocidente não concordaria com esses homens e mulheres que de fato podem morrer pelo que se recusam a fazer: aceitar o fundamentalismo do Estado Islâmico.

Agora o Reino Unido terá de enfrentar seus filhos do EI, criados pelo relativismo de butique de Oxford Street.

Imagino que poderíamos chamar todos os membros do clero puro de intelectuais e artistas para assessorarem o governo britânico em seu pânico com os passaportes europeus que os terroristas têm em mãos.

Afinal, uma nova era para o terrorismo islâmico se abre.
Por: Luiz Felipe Pondé Publicado na Folha de SP