terça-feira, 31 de julho de 2012

DEZ CONCLUSÕES FALACIOSAS DA IDEOLOGIA DOMINANTE


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Em toda e qualquer situação, em qualquer época e em qualquer lugar do mundo, o que dominará o pensamento das pessoas, bem como a ação que elas exigirão de suas autoridades, é a ideologia dominante. A ideologia dominante possui o indelével poder de moldar a maneira como as pessoas interpretam o que está ocorrendo no campo social, por que isso está ocorrendo, e o que deve ser feito a respeito. A ideologia exerce seu poder em grande parte por meio daquilo que podemos chamar depoder da predisposição, isto é, o poder que ela possui de gerar conclusões padrões e predeterminadas, as quais, quando examinadas mais detidamente, nada mais são do que meros saltos de fé.

No presente, por uma conjunção sem precedentes de fatores, a ideologia dominante ao redor do mundo é o progressivismo. Embora haja pequenas nuanças aqui e ali, pequenas diferenças emocionais e intelectuais, o fato central é que o progressivismo, em todos os lugares, mantém coeso um elemento central: sua inabalável fé no estado, em seu poder de correção e em sua capacidade de agir vigorosamente nas mais variadas frentes possíveis, sempre com o intuito de aprimorar a sociedade e melhorar o comportamento dos cidadãos.

Um economista observa em particular que a ideologia progressivista hoje abraça de maneira inflexível as seguintes conclusões predeterminadas:


1. Se um problema econômico ou social parece existir, o estado deve impor regulações para corrigi-lo ou, no mínimo, remediá-lo;

2. Se as regulações já foram impostas e não funcionaram, elas devem se tornar mais severas e mais abrangentes;

3. Se houver uma recessão econômica ou uma simples desaceleração da economia, o estado deve adotar medidas de "estímulo", utilizando ativamente seus arsenais monetários e fiscais;

4. Se, não obstante todas as medidas estatais de "estímulo", a recessão ou estagnação persistir, o estado deve aumentar o tamanho, a duração e a abrangência destes programas;

5. Se o crescimento econômico parecer muito lento e não estiver satisfazendo o padrão de desempenho exigido por pessoas poderosas (como a mídia), o estado deve intervir para acelerar a taxa de crescimento fazendo "investimentos" em infraestrutura, em educação, em saúde e em tecnologia;

6. Se o estado já estiver fazendo tais "investimentos", então ele deve fazer ainda mais destes investimentos;

7. Durante uma recessão, para combater o aumento no déficit do orçamento do governo, os impostos sobre "os ricos" devem ser elevados;

8. Se a economia estiver crescendo, os impostos sobre "os ricos" também devem ser elevados, só para garantir que eles contribuam com uma "fatia justa" para a sociedade e ajudem o governo a equilibrar suas contas;

9. Se os progressistas perceberem qualquer tipo de "falha de mercado", o estado deve intervir de maneira tal que prometa a criação de um Nirvana;

10. Se as intervenções passadas e presentes não gerarem o prometido Nirvana, então o estado deve aumentar sua intervenção até o Nirvana ser finalmente alcançado.

As predisposições progressistas supracitadas, e várias outras numerosas demais para serem citadas aqui, fornecem as bases sobre as quais o estado justifica suas medidas correntes e suas propostas para agir ainda mais expansivamente. Progressistas não conseguem ver nenhuma situação em que a melhor medida a ser tomada seja a redução do tamanho do estado ou a diminuição de sua intervenção. Tampouco são eles capazes de admitir que o governo não pode fazer nada de construtivo em qualquer situação. Eles veem o estado como uma instituição benevolente, bem intencionada, suficientemente capacitada e corretamente motivada para corrigir absolutamente qualquer problema econômico e social. Para eles, todo o necessário para o estado funcionar bem é que os cidadãos concedam ao governo plena liberdade de ação, e aceitem de bom grado financiar seus custos, sem questionar.

Donde se conclui que os progressistas desejam que o tamanho, o escopo e o poder do estado mudem sempre em apenas uma direção, independentemente de quais sejam as condições passadas e presentes, e independentemente do sucesso com que tais panacéias progressistas foram implantadas no passado — com efeito, se honestamente avaliadas, virtualmente todas elas se revelam um completo fracasso. A fé progressista no estado, no entanto, segue eterna e inabalável.

É um grande infortúnio para os países do Ocidente que não haja desafios sérios a esta ideologia atualmente dominante. Os partidos políticos de hoje competem entre si apenas por cargos, cada um deles se esforçando para pilhar o estado ao máximo e direcionar os espólios para seus correligionários e apoiadores. Não há diferenças ideológicas substanciais entre eles. Todos os partidos políticos acreditam em um estado poderoso, dominante, difuso e engajado. Compreensível. Quanto maior o estado, maior o espaço para a corrupção, mais poderosos são os políticos e maior é o enriquecimento ilícito desta gente. O que é inconcebível é ver pessoas comuns defendendo sua própria espoliação. Hoje, toda a discussão política se limita apenas a debater qual grupo de escroques deve ficar com o comando do Leviatã.


Robert Higgs um scholar adjunto do Mises Institute, é o diretor de pesquisa do Independent Institute.

Tradução de Leandro Roque

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E GOVERNANÇA GLOBAL


Um resfriamento global, com mais invernos rigorosos e má distribuição de chuvas, é esperado nos próximos 20 anos, em vez do aquecimento global antropogênico (AGA) alardeado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

O AGA é uma hipótese sem base científica sólida. As suas projeções do clima, feitas com modelos matemáticos, são meros exercícios acadêmicos, inúteis quanto ao planejamento do desenvolvimento global.

Seu pilar básico é a intensificação do efeito estufa pelas ações humanas emissoras de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), por meio da queima de combustíveis fósseis e de florestas tropicais, das atividades agrícolas e da pecuária ruminante.

Porém, o efeito estufa jamais foi comprovado, nem sequer é mencionado nos textos de física. Ao contrário, há mais de cem anos o físico Robert W. Wood demonstrou que seu conceito é falso. As temperaturas já estiveram mais altas com concentrações de CO2 inferiores às atuais. Por exemplo, entre 1925 e 1946 o Ártico, em particular, registrou aumento de 4°C com CO2 inferior a 300 ppmv (partes por milhão em volume). Hoje, a concentração é de 390 ppmv.
Após a Segunda Guerra, quando as emissões aumentaram significativamente, a temperatura global diminuiu até a metade dos anos 1970.

Ou seja, é obvio que o CO2 não controla o clima global. Reduzir as emissões, a um custo enorme para a sociedade, não terá impacto no clima. Como mais de 80% da matriz energética global depende de combustíveis fósseis, reduzir emissões significa reduzir a geração de energia e condenar países subdesenvolvidos à pobreza eterna, aumentando as desigualdades sociais no planeta.

Essa foi, em essência, a mensagem central da carta aberta entregue à presidenta Dilma Rousseff antes da Rio+20 -assinada por 18 cientistas brasileiros, eu inclusive.

A trama do AGA não é novidade e seguiu a mesma receita da suposta destruição da camada de ozônio (O3) pelos clorofluorcarbonos (CFC) nos anos 1970 e 1980.

Criaram a hipótese que moléculas de CFC, cinco a sete vezes mais pesadas que o ar, subiam a mais de 40 km de altitude, onde ocorre a formação de O3. Cada átomo de cloro liberado destruiria milhares de moléculas de O3, reduzindo a sua concentração e permitindo a maior entrada de radiação ultravioleta na Terra, o que aumentaria os casos de câncer de pele e eliminaria milhares de espécies de seres vivos.

Reuniões com cientistas, inclusive de países subdesenvolvidos, foram feitas para dar um caráter pseudocientífico ao problema inexistente, foi criado o Painel de Tendência de Ozônio no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e foi elaborado o Protocolo de Montreal (1987), assinado pelos países subdesenvolvidos sob ameaças de sanções econômicas. O Brasil também assinou, para ter sua dívida externa renovada.

Em 1995, os autores das equações químicas que alegadamente destruíam o O3 receberam o Nobel de Química. Porém, em 2007 cientistas do Jet Propulsion Laboratory da NASA demonstraram que as suas equações não ocorrem nas condições da estratosfera antártica e que não são a causa da destruição do ozônio.

O AGA seguiu os mesmos passos, com reuniões científicas, a criação do IPCC, o Protocolo de Kyoto e o Nobel (da Paz?) para o IPCC e Al Gore.

Essas foram duas tentativas de se estabelecer uma governança global. Qual será o próximo passo? A Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas da Biodiversidade e Serviços (IPBES)? Por: Luiz Carlos Baldicero Molion, Folha de SP

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E AS MINORIAS OPRIMIDAS


Um mito altamente destrutivo passou a dominar a noção de capitalismo laissez-faire: trata-se da falsa noção de que o livre mercado prejudica os "vulneráveis" dentro da sociedade; mais especificamente, diz-se que afeta mulheres e crianças ao cruelmente explorar sua mão-de-obra. Mas a verdade é exatamente oposta. O capitalismo laissez-faire oferece exatamente aquele elemento de que os vulneráveis mais necessitam para sobreviver e prosperar: a liberdade de escolha. A escolha mais libertadora que um indivíduo pode ter é a capacidade de se sustentar a si próprio, sem ter de depender de ninguém mais para que a comida chegue à sua boca.

Utilizando este mito como pressuposição inicial, os historiadores sempre se mostraram extremamente hostis ao analisarem um dos mais libertadores fenômenos da história ocidental: a Revolução Industrial. Do século XVIII ao século XIX, o mundo avançou acentuadamente em termos de tecnologia, indústria, transporte, comércio e inovações que mudaram o padrão de vida, como roupas de algodão feitas a baixo custo. Em um período de dois séculos, estima-se que a renda mundial per capita tenha aumentado dez vezes, e a população mundial, seis vezes. O economista prêmio Nobel Robert Lucas declarou que "Pela primeira vez na história, o padrão de vida das massas formadas por cidadãos comuns começou a apresentar um crescimento contínuo e constante.... Nada remotamente parecido com este fenômeno econômico havia acontecido até então." O acentuado avanço da prosperidade e do conhecimento havia sido alcançado sem nenhuma engenharia social e sem nenhum controle centralizado. Tudo foi possível em decorrência de se ter permitido que a criatividade humana e o interesse próprio se manifestassem livremente.

Certamente ocorreram abusos. Alguns podem ser imputados às tentativas governamentais de se aproveitar da energia e dos lucros daquele período. Outros abusos ocorreram simplesmente porque toda sociedade possui pessoas desumanas amorais que agem de má fé, especialmente quando querem lucro fácil; isto, obviamente, não é uma crítica à Revolução Industrial mas sim à natureza humana. Adicionalmente, os avanços econômicos sobrepujaram amplamente as mudanças nas atitudes culturalmente vitorianas; no século XVIII, mulheres e crianças eram vistas como cidadãos de segunda classe e, algumas vezes, como bens e posses que podiam ser livremente trocados. A revolução econômica foi o motor que impeliu a cultura e as leis a sofrerem mudanças similarmente drásticas. Quando as mulheres deixaram os campos em busca de emprego e educação, elas se tornaram uma força social que não mais podia ser negada. Consequentemente, os direitos das mulheres avançaram extraordinariamente durante o final do século XIX, algo que não teria ocorrido não fosse a Revolução Industrial.

Infelizmente, esta ligação salutar entre capitalismo laissez-faire e direitos das mulheres se perdeu ao longo do tempo. Durante a segunda metade do século XX, as feministas ortodoxas começaram uma cruzada para reverter esta força que havia contribuído tão acentuadamente para o progresso nos direitos das mulheres; em vez de defenderem a liberdade de mercado, elas exigiram, em nome da "igualdade", que vários privilégios para as mulheres se tornassem leis. O livre mercado e o laissez-faire foram demonizados como ferramentas opressoras que tinham de ser combatidas por meio de ações afirmativas, leis contra assédio sexual, ações judiciais contra qualquer tipo de discriminação, sistemas de quotas e uma miríade de outras regulações sobre o mercado de trabalho.

Durante este processo, a Revolução Industrial passou a ser retratada como o Grande Satã que destruiu o bem-estar de mulheres e crianças. Esta descrição da Revolução Industrial, além de ser um tolo preconceito ideológico, se baseou fortemente na deturpação dos fatos.

Deturpando fatos sobre as crianças

Sempre que os termos "crianças" e "Revolução Industrial" são citados na mesma frase, imagens horrendas imediatamente vêm à mente: uma criança de cinco anos sendo baixada, por meio de uma corda, em uma mina de carvão; crianças esqueléticas trabalhando precariamente em fábricas têxteis; o Oliver Twist, de Charles Dickens, oferecendo uma jarra de madeira em troca de uma colher de mingau. Estas imagens são utilizadas para condenar o livre mercado e a Revolução Industrial; algumas vezes elas são utilizadas para glorificar políticos "humanitários" que criam leis proibindo qualquer tipo de trabalho infantil. Tais imagens são extremamente eficazes em incitar um compreensível horror naquelas pessoas decentes que condenam qualquer exploração de qualquer criança. O problema é que este procedimento sofre de graves distorções.

Uma das distorções: ela ignora uma distinção essencial. No início do século XIX, a Grã-Bretanha apresentava duas formas de trabalho infantil: crianças livres e crianças "pobres" ou dos reformatórios, que eram entregues aos cuidados do governo. Os historiadores J.L. e Barbara Hammond, cuja obra sobre a Revolução Industrial Britânica e o trabalho infantil é considerada definitiva, reconheceram esta distinção. O economista Lawrence Reed, em seu ensaio "Child Labor and the British Industrial Revolution", foi ainda mais adiante e enfatizou a importância desta distinção. Escreveu ele: "Crianças livres moravam com seus pais ou guardiões e trabalhavam durante o dia em troca de salários propícios para aqueles adultos. Mas os pais frequentemente se recusavam a enviar seus filhos para situações de trabalho excepcionalmente severas ou perigosas". Observa Reed: "Os proprietários das fábricas não podiam subjugar violentamente as crianças livres; eles não podiam obrigá-las a trabalhar em condições que seus pais julgassem inaceitáveis".

Em contraste, as crianças dos reformatórios estavam sob a autoridade direta de funcionários do governo. Reformatórios já existiam há séculos, mas a empatia pelos oprimidos já havia sido arrefecida pelo fato de que os impostos criados exclusivamente para aliviar a situação dos pobres já estavam, em 1832, cinco vezes mais altos do em 1760, quando foram criados. (O livro de Gertrude Himmelfarb, The Idea of Poverty, faz uma narração cronológica desta mudança de atitude em relação aos pobres, da compaixão à condenação).

Em 1832, em parte a pedido de industriais ávidos por mão-de-obra, a Comissão Real Para a Lei dos Pobres começou uma pesquisa sobre o "funcionamento prático das leis para o alívio da pobreza". Seu relatório dividiu os pobres em duas categorias básicas: pobres preguiçosos que recebiam ajuda do governo, e pobres trabalhadores que se sustentavam a si próprios. O resultado foi a Lei dos Pobres de 1834, em nome da qual o estadista Benjamin Disraeli fez anúncios dizendo que "a pobreza é um crime".

A Lei dos Pobres substituiu a ajuda externa (subsídios e esmolas) por "abrigos para pobres", nos quais as crianças pobres ficavam virtualmente aprisionadas. Lá, as condições eram propositalmente severas, justamente para desincentivar as pessoas a irem buscar auxílio. Praticamente todas as comunidades da Grã-Bretanha apresentavam um "grande estoque" de crianças abandonadas em reformatórios, as quais passaram a ser virtualmente compradas e vendidas para as fábricas; estas sim vivenciaram os maiores horrores do trabalho infantil.

Considere a desprezível função de "carniceiro" nas fábricas têxteis. Tipicamente, "carniceiros" eram crianças novas — de aproximadamente 6 anos de idade — que recuperavam de sob as máquinas algodão que havia se desprendido durante os processos de produção. Como as máquinas estavam em funcionamento, este trabalho era extremamente perigoso e, como consequência, terríveis ferimentos eram totalmente comuns. "Felizmente" para aqueles donos de fábricas dispostos a usar o aparato do estado em benefício próprio, o governo não tinha problema algum em enviar as crianças dos reformatórios para trabalhar embaixo de máquinas funcionando. A maioria das crianças das comunidades tinha como alternativa a este trabalho morrer de fome ou viver na criminalidade.

Não é nenhuma coincidência que o primeiro romance sobre a Revolução Industrial publicado na Grã-Bretanha tenha sido Michael Armstrong: Factory Boy. Michael era um aprendiz de uma agência para crianças pobres que foi mandado para as fábricas. Também não é coincidência que Oliver Twist não era abusado por seus pais ou por agentes privados, mas sim por brutais funcionários públicos dos reformatórios, em comparação aos quais o antagonista Fagin era praticamente um humanitário. Lembre-se de que, aos 12 anos de idades, com sua família na prisão, Dickens havia sido ele próprio uma criança pobre que trabalhava em uma fábrica. O economista Lawrence Reed observa que "a primeira lei na Grã-Bretanha voltada para crianças de fábricas foi criada para proteger justamente estas crianças de reformatórios, e não as crianças 'livres'". A lei mencionava isso de maneira explícita.

Logo, ao defender a regulamentação da mão-de-obra infantil, os reformistas sociais pediram ao governo para remediar abusos pelos quais o próprio governo era o responsável. Mais uma vez, o governo era a doença que se fingia de cura.

Ideologia equivocada em relação às mulheres

A distorcida apresentação dos fatos no que diz respeito ao trabalho infantil e à Revolução Industrial só encontra paralelos na distorcida ideologia pela qual se analisa o status da mulher. É perfeitamente possível argumentar que as mulheres foram as principais beneficiárias econômicas da Revolução Industrial. Isto se deveu majoritariamente à sua baixa condição econômica no período anterior à Revolução. Elas simplesmente tinham mais a ganhar do que os homens.

Quando as mulheres tiveram a oportunidade de abandonar a vida rural em busca dos salários das fábricas e de trabalho doméstico, elas invadiram as cidades em quantias sem precedentes. Para a nossa vida moderna, as condições de vida e de trabalho eram obviamente terríveis, com várias mulheres recorrendo à prostituição como ocupação secundária, tudo para manter um teto sob suas cabeças. No entanto, por mais terríveis que as condições possam ter sido, um fato fundamental não pode ser ignorado: as próprias mulheres acreditavam que ir para as cidades era algo vantajoso — caso contrário, elas jamais teriam feito a jornada ou simplesmente retornariam à vida rural desencantadas. Dizer que o trabalho industrial "prejudicou" as mulheres dos séculos XVIII e XIX é ignorar a preferência que elas próprias demonstraram e expressaram; é ignorar a voz de suas escolhas. Claramente, as mulheres da época acreditavam que tal situação era um aprimoramento de suas atuais condições.

Uma fatia substancial do historicismo feminista nada mais é do que uma tentativa de ignorar as vozes de mulheres que de fato fizeram suas escolhas à época. Um método comum de se fazer isso é reinterpretar a realidade que cercava as escolhas e, então, impor esta reinterpretação de modo a fazer com que as "escolhas" não mais aparentem ter sido voluntárias, mas sim coagidas.[1]

Uma obra essencial para se compreender a análise histórica da Revolução Industrial feita à luz do feminismo é a imensamente influente The Origin of the Family, Private Property and the State, de Friedrich Engels, lançada em 1884. Engels argumenta que a opressão à mulher originou-se com o formato tradicional da família, mas ele próprio desdenha a noção de que a família por si só havia subordinado as mulheres ao longo da história. Em vez disso, ele firmemente coloca toda a culpa no capitalismo, o qual ele acreditava ter destruído o prestígio que as mulheres outrora usufruíam dentro da família.

Escreveu Engels,



Que a mulher era escrava do homem nos primórdios da sociedade é uma das idéias mais absurdas transmitidas pela filosofia do século XVIII.... As mulheres não apenas eram livres como também usufruíam uma posição altamente respeitada nos estágios iniciais da civilização, e representavam o grande poder entre as tribos.

Portanto, as épocas anteriores à Revolução Industrial foram romantizadas como sendo um período em que as mulheres tinham grandes poderes. Engels alegava que a industrialização provocou uma separação entre o trabalho doméstico e o trabalho produtivo, separação esta que fez com que a injustiça que era o formato da família tradicional se ampliasse. Sendo assim, o trabalho feminino se tornou um aspecto importante, porém subordinado ao uso maciço do trabalho masculino para alimentar a máquina capitalista. Presumivelmente, os inegáveis avanços gerados pela Revolução Industrial para as mulheres — incluindo-se um aumento na expectativa de vida e vários direitos políticos — foram adquiridos a um custo extremamente elevado.

A análise de Engels, no entanto, apresentava um problema para as feministas. Ele pressupôs que os homens não tinham nada a ganhar ao exercer poder sobre as mulheres, pois Engels analisava os seres humanos em termos de suas afiliações de classes — isto é, sua relação com os meios de produção. Feministas queriam uma abordagem que incluísse tanto uma opressão de sexos quanto uma opressão de classes. Para explicar por que as mulheres (ao contrário dos homens) possuem interesses que estão em conflito com o capitalismo, as feministas tiveram de ir além de Engels em suas análises. Elas desenvolveram uma 'teoria do patriarcado' — do capitalismo masculino —, segundo a qual as mulheres eram oprimidas pela cultura masculina por meio dos mecanismos criados pelo capitalismo laissez-faire. Tal teoria está em nítido contraste com as análises anteriores que diziam que as oportunidades geradas pelo livre mercado eram o remédio social para as mulheres culturalmente oprimidas pelo preconceito ou pelo privilégio masculino.

Em termos mais explícitos, como funciona este remédio? Um empregador quer maximizar seus lucros sobre cada $ gasto. Isto cria um forte incentivo para que ele leve em conta apenas o mérito de um empregado, desconsiderando por completo sua cor, etnia, religião ou sexo. Tudo o que importa é a produtividade do empregado. Uma mulher capacitada, que aceitar trabalhar por, digamos, um salário $100 menor que o de um homem similarmente capacitado, irá conseguir o emprego. Se ela não conseguir, então aquele concorrente isento de preconceitos, que possui um estabelecimento logo ali na esquina, irá contratá-la, e o empregador preconceituoso irá perder sua vantagem competitiva. Quando esta dinâmica ocorrer em escala maciça, as mulheres trabalhadoras serão crescentemente capazes de exigir salários continuamente maiores, reduzindo esta diferença de $100. Este fator "equalizador" não se manifesta de imediato, e não ocorre perfeitamente. Porém, com o tempo, movidos pelo interesse próprio, os empregadores tenderão a se tornar indiferentes a raça e gênero, pois é do interesse deles. Eles farão isso em busca do lucro, e todos se beneficiarão.

Feministas que se opõem a este processo de equalização não estão defendendo a igualdade por si só; elas estão defendendo uma igualdade que existe somente de acordo com os termos que elas consideram "justos" e "corretos". Suas objeções à Revolução Industrial não são empíricas, mas ideológicas. Assim como elas não gostam das vozes das mulheres dos séculos XVIII e XIX que correram para as fábricas, elas também rejeitam tudo que livre mercado está dizendo sobre seu desejo de igualdade.

Conclusão

Não importa se a "difamação" se deve a uma distorção dos fatos ou à imposição de uma ideologia; o fato é que a Revolução Industrial deveria processar a história por calúnia. Ou, mais especificamente, deveria processar a maioria dos historiadores.

Jocosidades à parte, e sem desconsiderar as injustiças que inevitavelmente ocorrem durante qualquer período, a Revolução Industrial estabeleceu a liberdade com a qual as pessoas se tornaram tão acostumadas, que até passaram a tratar a liberdade com desrespeito. Talvez o redentor da reputação da Revolução Industrial venha a ser a inegável prosperidade que ela criou. Atualmente, a prosperidade parece ser algo mais respeitado do que a liberdade, muito embora ambas sejam inextricavelmente relacionadas.
Leia também:

Dizer que as escolhas foram "coagidas" não é o mesmo que dizer que as mulheres dos séculos XVIII e XIX tinham escolhas severamente limitadas e podiam apenas escolher a melhor opção entre várias ruins. Significa dizer que o trabalho industrial representava um retrocesso, uma coerção pior do que a vida rural.

Wendy McElroy é escritora, conferencista, articulista freelancer, e membro sênior do Laissez Faire Club.

O TRABALHO DO MINISTRO DO TRABALHO


Daudt Brizola, para surpresa de muitos, é o ministro. Adepto radical de Lafargue ("O Direito à Preguiça"), aparece muito de vez em quando. Dilma sabe?

Carlos Daudt Brizola, para a surpresa de muitos, é o ministro do Trabalho. Sua passagem pelo ministério -hoje sem a mínima importância, ficou seis meses sem titular e ninguém notou- é a de um adepto radical de Paul Lafargue, o autor do clássico "O Direito à Preguiça".

Tomou posse no dia 3 de maio, quinta-feira. No dia seguinte teve um compromisso, às 10h. Reapareceu após quatro dias. Mas, de acordo com sua agenda oficial, seu expediente foi restrito: duas atividades pela manhã, não mais que duas horas. No dia 9, compareceu ao ministério, outra vez só pela manhã, para uma palestra. Na quinta, não mudou a rotina: um compromisso. No dia posterior, mais ociosidade: uma atividade, no final da tarde. Em seguida, três dias de folga. Reapareceu no dia 15, uma terça, para um evento às 10h30. Mais nada.

O mais bizarro é que o ministro desapareceu um mês -um mês! Será que quis gozar das férias? Já? Só voltou no dia 14 de junho. Estava na Suíça, que ninguém é de ferro.
Aí, como um homem de hábitos arraigados, tirou mais quatro dias de descanso. Em 19 de junho, uma terça, Daudt Brizola resolveu compensar a ociosidade. Marcou três audiências: das 15 às 18 horas, trabalhando três horas. Na quarta foi assistir a Rio+20. Na quinta, folga. Na sexta participou de um evento, pela manhã, no Rio, onde mora.

Pesquisando sua agenda, achei que ele finalmente iria assumir o trabalho no ministério do Trabalho. Sou um ingênuo. Submergiu mais cinco dias. Ressurgiu no dia 27. E aí, workaholic, trabalhou três horas pela manhã, duas e meia à tarde.

No dia posterior, repetiu a dose. Na sexta-feira, veio a São Paulo e em seis horas visitou quatro centrais sindicais. Em junho, trabalhou oito dias. Só em um deles a jornada se aproximou das oito horas diárias.

Em julho, Daudt Brizola só começou trabalhar na terça-feira: ele não gosta das segundas-feiras. Mas nada muito estafante: 90 minutos pela manhã, começando às 10h. À tarde, a mesma jornada, a partir das 16h. Na quarta, cinco horas. Na quinta, descansou pela manhã, almoçou tranquilo e só começou seu expediente às 14h30. Foi embora três horas depois. Na sexta, só compareceu ao ministério à tarde, por 60 minutos. Às 15h, estava liberado. Afinal, tem o happy hour.

Na segunda semana de julho, como um Stakhanov, resolveu ser um herói do trabalho. Registrou atividades de segunda a sexta. Claro que com o espírito macunaímico: em dois dias só teve um compromisso.

Parecia, apenas parecia, que finalmente o ministro do Trabalho iria trabalhar. Mais uma vez acabei me equivocando. Como de hábito, deixou a segunda de lado. Só apareceu na terça, à tarde, reservando 60 minutos para a labuta. Na quarta, mais três horas de expediente. No dia seguinte, o ministro sumiu. Só voltou seis dias depois, e somente à tarde. E voltou a se evadir do dia 25 -é devoto de São Cristovão?

Paro por aqui. Não vale a pena cansar o leitor da Folha com as ausências ao trabalho do ministro. Será que a presidente não tem conhecimento do absenteísmo do ministro? Com tanta greve, o que ele fez?

E o que diria Leonel Brizola -que trabalhou e estudou com enorme dificuldade, se formou engenheiro em um curso noturno, quando era deputado estadual- vendo um neto tão pouco afeito ao labor?

Em tempo: Brizola Neto é o irmão, não ele.

MARCO ANTONIO VILLA, 55, é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

domingo, 29 de julho de 2012

BUROCRACIA ESTATAL X ECONOMIA DE MERCADO


A diferença entre a burocracia estatal e a economia de mercado

Qual é a diferença mais notável entre o funcionamento do governo e o da economia de mercado?  Ludwig von Mises nos forneceu uma resposta surpreendente, uma resposta que ele explicou em detalhes em sensacional livro Liberalismo — Segundo a Tradição Clássica, publicado no longínquo ano de 1927.  Mises disse que a diferença toda estava na contabilidade, isto é, no cálculo de custos.
Dentro das burocracias não-comerciais do governo, tudo é um jogo de adivinhação.  Você não sabe exatamente o quanto deve gastar em quê; você não sabe se há algum objetivo racional naquilo que você está fazendo; você não sabe se este ou aquele plano será bem-sucedido ou se irá fracassar completamente; você não sabe onde cortar gastos caso tenha de fazê-lo; e você não sabe quais seções e quais pessoas estão fazendo um bom trabalho e quais não estão.  O setor público é um setor que, inevitavelmente, por pura lógica econômica, sempre funciona às escuras, sem ter a mínima ideia do que faz, e sempre tendo de fingir que está fazendo tudo certo.

Por quê?  Porque o governo não opera de acordo com os sinais de preços emitidos pelo mercado.  Ele não opera segundo a lógica do sistema de lucros e prejuízos.  Como ele não tem acesso aos sinais de preços, ele não é capaz de calcular lucros e prejuízos.  Por conseguinte, ele não tem uma bússola que possa guiá-lo em suas ações.  Ele não tem como avaliar e estimar a real valia econômica de qualquer coisa que faça.  Seus investimentos nunca poderão ser feitos da maneira correta, seus serviços nunca serão prestados de maneira satisfatória, sempre haverá desperdício de recursos e gritante ineficiência.  Esta é uma realidade inevitável.  Não se trata de ideologia; é pura ciência econômica. 

Por não ter esta racionalidade, as burocracias estatais sempre acabam seguindo os caprichos do governo do momento, preocupadas exclusivamente em satisfazer as demandas de políticos que visam apenas sua autopromoção e sua reeleição.  Consequentemente, as burocracias estatais sempre estarão sob os auspícios de uma gente cujo horizonte temporal é do no máximo quatro anos, e inevitavelmente se transformarão em fábricas de desperdício, ineficiência, confusão e ressentimento.

Já nas empresas privadas que operam em ambiente de livre concorrência a situação é diferente.  No mundo do comércio, os sinais de preços emitidos pelo mercado comandam as decisões.  O sistema de lucros e prejuízos mostra como os recursos escassos estão sendo empregados.  Se corretamente, os consumidores recompensam as empresas propiciando-lhes grandes lucros; se erroneamente, os consumidores punem as empresas impondo-lhes prejuízos.  Uma expansão ou um corte nos investimentos é algo que será guiado pelo balancete das empresas.  Os empregados são produtores que são valorados, e não explorados.  Não interessa se a empresa é grande ou micro: ela estará sempre em busca da lucratividade.  E a lucratividade sempre será, em última instância, determinada pela decisão voluntária dos consumidores.

Para ver como algo aparentemente simples possui ramificações muito mais complexas do que se poderia imaginar a princípio, peguemos o exemplo de um restaurante chique.  A estrutura de produção deste restaurante não se resume apenas à coordenação entre os garçons e a cozinha.  É necessário haver uma administração voltada exclusivamente para o controle dos estoques de todos os alimentos e de todas as bebidas.  Como não é possível saber com antecedência o que os clientes irão ordenar de seu variado menu, o estoque de alimentos e bebidas tem de ser vasto e plenamente adaptável às súbitas alterações de gosto e interesse de seus clientes.  Tal controle de estoque não seria possível de ser planejado sem preços de mercado, sem a contabilidade e sem o sistema de lucros e prejuízos.

Além da coordenação entre os chefs e os cozinheiros, e entre os cozinheiros e os garçons, a estrutura de produção deste restaurante se estende para muito além de suas paredes.  A comida tem de vir de todos os cantos do mundo.  Diversos meios de transporte têm de ser utilizados para fazer com que a comida chegue ao estabelecimento.  Mas não é possível servir comidas e bebidas se não houver agricultura, criação de gado e plantio de ervas e temperos em lugares remotos de do mundo.  E a coordenação não pára por aí.  Ela ainda volta no tempo — décadas e às vezes até séculos — para as primeiras sementes plantadas nos vinhedos que produziram os vinhos, e os primeiros centeios que produziram os uísques e as demais bebidas servidas no restaurante.  E a tecnologia que possibilita tudo isso é relativamente nova, desde a refrigeração até a comunicação digital entre a cozinha e o maître d'.  Nada disso seria possível sem o sistema de preços, que permite a contabilidade de custos e determina se há ou não lucratividade em qualquer uma das etapas envolvidas neste processo.

Este mecanismo extraordinariamente complexo — muito mais complicado do que qualquer operação já tentada por qualquer burocracia estatal — tem de funcionar harmoniosamente para todos os clientes que aparecerem no restaurante em qualquer momento.  E se ninguém aparecer?  Se isso acontecer com muita frequência, todo o investimento entra em colapso.  Todo o planejamento, todos os gastos, todas as habilidades envolvidas se revelarão um grande desperdício.  O mercado enviou seu sinal: o empreendimento não estava empregando recursos escassos da maneira mais eficiente possível.  O que determina se este empreendimento será pujante e lucrativo ou se ele desaparecerá rapidamente é simplesmente a decisão do consumidor de comer lá ou não.  Não há ninguém apontando armas para ninguém, não há coerção, não há chantagem.  Há apenas um empreendimento implorando para poder servir seus clientes.

Se você propusesse a criação de algo assim para uma pessoa que jamais houvesse visto algo parecido em operação, ela nunca iria acreditar que tal coisa pudesse funcionar.  Muito menos existir.
É por tudo isso, escreveu Mises, que o cálculo monetário e a contabilidade de custos constituem as mais importantes ferramentas intelectuais do empreendedor capitalista.  Mises celebrou a famosa declaração de Goethe, que havia dito que o método contábil das partidas dobradas foi "uma das mais admiráveis invenções da mente humana."

Uma vez vislumbrado todo este processo, fica fácil entender por que vivenciamos recorrentemente o fenômeno dos ciclos econômicos.  Fica mais fácil entender por que empresas privadas muitas vezes parecem fazer coisas tão insensatas e imprudentes quanto o governo; por que elas também tomam decisões irracionais; por que elas também produzem burocracias; por que elas também seguem o capricho de políticos; por que elas também passam por ciclos de expansão e contração.

Mises explicou isso, neste mesmo livro.  A causa de tudo é aquilo que ele chamou de intervencionismo.  Quanto mais o governo regula, intromete, tributa, erige barreiras, produz inflação, confisca, proíbe e todo o resto, mais a iniciativa privada se torna sujeita à mesma irracionalidade que permanentemente assola o governo.  As intervenções do governo no mercado, por menores que aparentemente sejam, provocam distúrbios no sistema de preços, afetando toda a contabilidade de custos das empresas.  As intervenções estatais podem tanto fazer com que empreendimentos insustentáveis repentinamente aparentem ser lucrativos (sem que realmente o sejam), como também pode fazer com que empreendimentos genuinamente lucrativos se tornem rapidamente insolventes.  O governo expande até a iniciativa privada os mesmos males que o acometem.

A descrição feita por Mises em 1927 é interpretada hoje como se ele estivesse de posse de alguma bola de cristal.  Tudo se torna mais claro assim que você passa a ver o mundo da mesma maneira que ele.  Basta analisar a realidade atual.

Oito anos atrás, estimulados pela expansão artificial do crédito feita por seus respectivos bancos centrais, os mercados imobiliários da Europa e dos EUA estavam a pleno vapor, com preços e lucros em contínua ascensão, o que gerava vários milionários por minuto.  Parecia que o mundo havia entrado em uma nova era de prosperidade e de riqueza infinita para todos.  E então, da noite para o dia, tudo ruiu.  Depois de cinco anos, ainda há cadáveres por todos os lados.  Várias empresas quebradas, bancos zumbis com seus balancetes contaminados e as economias totalmente letárgicas.

Os governos e os bancos centrais ao redor do mundo estão hoje completamente perdidos.  Praticamente todas as semanas, um figurão do alto escalão de algum governo ou banco central vem a público anunciar uma nova medida intervencionista, e sempre termina seu anúncio dizendo que "agora vai!".  E tudo só piora.  E quase ninguém entende por quê.

O desconhecimento das obras de Mises é algo que continuará afetando nossa prosperidade e nosso bem-estar muito mais do que você pode imaginar.

é o presidente da  Laissez-Faire Books e consultor editorial do mises.org.  É também autor dos livros It's a Jetsons World: Private Miracles and Public Crimes e Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo

sexta-feira, 27 de julho de 2012

CUBA OU CRASTROLÂNDIA?


É impressionante o apoio dedicado por parte da intelectualidade brasileira (inclusive cantores e compositores da mais alta estima popular), aos ditadores que assumiram o poder em Cuba e que, para manter o domínio, impõem um dos mais bárbaros sistemas políticos atuais.

Comparável à Coreia do Norte, onde parentes se revezam no comando de um povo assustado e controlado nos mínimos detalhes, Cuba exerce, entretanto, um fascínio desonesto e inaceitável, embora dominada por uma “família” como outra qualquer.

Os nossos cubanistas odeiam o controle da imprensa. Desprezam a falta de liberdades. Detestam o exercício do poder por parentes dos políticos, suplentes e outros bichos. Não imaginam viver num país onde sejam proibidos a organização social ou o simples protesto. Não aceitariam, ainda que de forma coloquial, conversar sobre a retirada de direitos dos trabalhadores. Se alguém por aqui tentasse proibir o livre exercício do direito de greve, com certeza, correriam para as ruas em solenes protestos.

Se apenas alguns escolhidos pudessem compor o Congresso Nacional, que gritaria ouviríamos? E se houvesse uma imensa quantidade de presos políticos?

Mas, quando se trata de Cuba não tem problema! Aceitam e elogiam. Como podem apoiar um governo que proíbe a leitura de livros não aprovados por sua “stasi” particular? Como ajudam a um pais que faz eleição no modelo iraquiano do “Hussein” que ganhava todas com 100% dos votos?

Há pouco tempo, dois atletas cubanos pediram asilo político no Brasil. Não aceitos, foram enviados presos para o “paraíso” donde tentavam escapar. Ninguém reclamou.

O que tem os dirigentes antidemocráticos cubanos de encantador? O que pode agradar a brasileiros livres um pais dominado por um grupelho? Será que foi a simpatia do nosso heroi “fidel” da montanha, cantando liberdade contra um bandido chamado Batista? Ou o Fidel posterior? Fiel cumpridor das ordens da falida União Soviética e destruidor das liberdades e do livre pensamento do povo?

Precisamos iniciar um movimento anticastrista, da mesma forma que somos contra os sadans, assads e kim jongs. Como ficamos felizes com a queda dos "donos" do Egito, da Tunísia e do Iraque e nada fazemos contra os que dizimam o futuro dos cubanos?

Está na hora da inteligência da América Latina se juntar para acabar com este regime cruel que se eterniza à sombra da tortura, que se alimenta do silêncio das prisões e do sofrimento das famílias daqueles que ousam ser contra.

Ou bem fazemos isto ou seremos cúmplices históricos de um crime bárbaro contra um povo que se parece conosco, que canta como nós cantamos, que veio de onde viemos e que, se não o ajudarmos, ficará na rabeira do mundo.

Onde, aliás, seus títeres gostam de viver.

Por: Antenor Barros Leal, Jornal do Commercio (24 de Julho) *

* Presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro


E O MUNDO NÃO SE ACABOU



Apesar do bate-cabeças das lideranças políticas da zona do euro, acredito que uma solução será encontrada 

Fui buscar no fundo de minha memória -e no YouTube- a letra de um velho samba do compositor Assis Valente, "E o mundo não se acabou". Havia muito tempo vinha associando o comportamento dos mercados financeiros nos últimos meses à situação vivida pelo personagem deste samba delicioso dos velhos tempos.

Transcrevo a seguir algumas das frases cantadas pela Carmen Miranda ou pela Adriana Calcanhoto:

"Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar, Acreditei nesta conversa mole e fui tratando de me despedir, eijei a boca de quem não devia, Peguei na mão de quem não conhecia, Dancei um samba em traje de maiô, Chamei um gajo com quem não me dava e perdoei sua ingratidão,

E o tal mundo não se acabou...".

Na versão moderna do fim do mundo que os mercados esperam, as reações das pessoas são de natureza diferente.

No lugar de beijos e outros sinais de intimidade que aparecem nas palavras de Assis Valente, temos ações concretas de investimentos e de especulação por parte de empresas, de bancos e de indivíduos. Cito algumas delas que me parecem reproduzir o quadro descrito no samba de quase um século.

Os investidores estão colocando seu dinheiro em títulos do Tesouro americano, de dez anos de prazo, a uma taxa de juros de 1,4% ao ano. Para uma economia que nos últimos 20 anos tem apresentado taxa de inflação média superior a 2% ao ano, esse investimento representa perda real de mais de 5% no período. No caso dos títulos de cinco anos, que a preços de hoje rendem ao investidor 0,6% ao ano, as perdas são de cerca de 7% no período.

Mas esse ato de aparente delírio não é o único. Os investidores estão correndo para títulos do Tesouro alemão, emitidos em euros, como uma manada de elefantes em fuga.

Os juros dos títulos de dois anos de prazo já são negativos -recebe-se no final menos euros do que foram aplicados-, e os de dez anos não passam de 1,3% ao ano.

A média histórica da inflação, em euros, também é superior a 2% ao ano, o que reproduz a mesma situação de prejuízo real encontrada no caso dos papéis americanos. Mas outra contradição chama a atenção nesse caso: esses papéis estão denominados em uma moeda que, os mercados juram, vai entrar em colapso em poucos meses e pode levar a prejuízos brutais. Ou seja, nonsense total.

Tenho reportado surpresa perante a reação dos chamados agentes econômicos de mercado em face da crise europeia. Não por falta de entendimento de sua complexidade -e gravidade-, mas sim pela desconsideração pelo que representaria um eventual colapso do euro do ponto de vista político e social.

A União Europeia de hoje é o estágio final de uma longa marcha de mais de 60 anos. Não custa lembrar ao leitor da Folha que tudo aconteceu nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, com a Europa arrasada e prostrada depois de mais de cinco anos de sofrimentos.

Por outro lado, é preciso ter em conta que, no desenho atual, a integração não é viável. As realidades nacionais dos países que fazem parte do euro não permitem a rigidez institucional do atual desenho. Esse é o desafio que os líderes de hoje enfrentam: reformar os marcos institucionais, mas sem voltar atrás na integração.

Mas essa realidade é sofisticada demais para a comunidade financeira, formada na sua grande maioria por indivíduos de limitada visão política e que não conseguem enxergar o mundo fora de sua perspectiva individualista e restrita a ganhos especulativos.

Por isso a dificuldade de analistas, que têm visão mais ampla, em navegar nesses tempos irracionais. Embora sinta isso na pele, ainda acredito que uma solução será encontrada, apesar do bate-cabeças das lideranças políticas.

Aliás, essa foi a mensagem corajosa do presidente do Banco Central Europeu, ontem, ao dizer que o BCE tudo fará para defender a integração europeia e o euro como moeda única. Por:

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 27/07

A TEORIA MARXISTA DA EXPLORAÇÃO E A REALIDADE


mais_valia.jpg
Dentre todas as vituperações e calúnias proferidas contra o capitalismo, a 'teoria da exploração' permanece sendo a mais popular — tanto nos círculos acadêmicos quanto entre os desinformados em geral.  O mais famoso defensor da teoria da exploração foi Karl Marx.
De acordo com a teoria da exploração, os lucros — na verdade, quaisquer outras receitas que não sejam convertidas em salário — representam uma dedução injusta daquilo que deveria ser, naturalmente e por direito, o salário do trabalhador.
Segundo Marx, o que possibilita a um capitalista obter uma renda superior ao salário que ele paga ao seu empregado é exatamente o mesmo fenômeno que torna possível a um dono de escravo auferir ganhos em decorrência do trabalho do seu escravo.  Mais especificamente, um trabalhador é capaz de produzir, em menos de um dia inteiro de trabalho, os bens de que ele necessita para ter a força e a energia necessárias para labutar um dia inteiro de trabalho.
Para utilizar um dos exemplos fornecidos pelo próprio Marx, um trabalhador é capaz de produzir em 6 horas todos os alimentos e todas as necessidades de que ele precisa para ser capaz de trabalhar 12 horas.  Estas 6 horas — ou qualquer que seja o número de horas necessárias para o trabalhador produzir essas suas necessidades — são rotuladas por Marx de "tempo de trabalho necessário".  Já as horas que o trabalhador trabalha além do tempo de trabalho necessário são rotuladas por Marx de "tempo de trabalho excedente."
Assim como o 'tempo de trabalho excedente' representa a fonte de ganho do dono de um escravo, ele também representa, de acordo com Marx, a fonte de lucro do capitalista.
Quando o trabalhador trabalha 12 horas para um capitalista, seu trabalho, de acordo com Marx, acrescenta aos materiais e aos outros meios de produção consumidos na manufatura do produto final um valor intrínseco correspondente a 12 horas de trabalho.  E, por sua vez, se estes materiais e outros meios de produção demandaram 48 horas de trabalho para serem produzidos, então o produto final conterá estas 48 horas de trabalho mais as 12 horas adicionais de trabalho desempenhado pelo trabalhador.  O produto final, portanto, terá um valor total correspondente a 60 horas de trabalho.
Sendo assim, o processo de produção, de acordo com Marx, resultou em um acréscimo de valor igual às 12 horas de trabalho do trabalhador.  Este valor adicionado pelo trabalho do trabalhador será dividido entre o trabalhador e o capitalista na forma de um salário para o primeiro e de um lucro para o último.  O valor que o capitalista deve pagar como salário, diz Marx, é determinado pela aplicação de um princípio supostamente universal de valoração da mercadoria — a saber, a teoria do valor-trabalho. 
O capitalista irá pagar ao trabalhador um salário correspondente às horas de trabalho necessárias para produzir suas necessidades — em nosso exemplo, 6 horas — e irá embolsar o valor acrescentado pelas 12 horas de trabalho do trabalhador.  Seu lucro será aquilo que sobrar após deduzir o salário do trabalhador, e irá corresponder exatamente ao 'tempo de trabalho excedente' do trabalhador.
Este exemplo pode ser facilmente expressado em termos monetários ao simplesmente assumirmos que cada hora de trabalho efetuado na produção de um produto corresponde a $1 acrescentado ao valor do produto.  Assim, os materiais e os outros meios de produção utilizados valiam $48, e o produto resultante da aplicação de 12 horas de trabalho do trabalhador vale $60.  As 12 horas de trabalho do trabalhador acrescentaram $12 ao valor do produto.
O lucro do capitalista supostamente advém do fato de que, para as 12 horas de trabalho efetuadas pelo trabalhador, com seu correspondente acréscimo de $12 ao valor do produto, o capitalista paga um salário de apenas $6.  Este valor corresponde ao tempo de trabalho necessário para produzir as necessidades de que o trabalhador precisa para desempenhar suas 12 horas de trabalho.  O lucro do capitalista, portanto, representa a "mais-valia", que corresponde ao "tempo de trabalho excedente".
A razão entre a mais-valia e o salário, ou entre o 'tempo de trabalho excedente' e o 'tempo de trabalho necessário', é rotulada por Marx de "taxa de exploração".  Nesta nossa ilustração ela é de 100% — ou seja, $6/$6 ou 6 hrs./6 hrs.
Ainda segundo Marx, uma combinação entre a ganância dos capitalistas e as forças que tendem a reduzir o lucro em relação ao capital investido faz com que os capitalistas aumentem a taxa de exploração.  Se os trabalhadores são capazes de trabalhar 18 horas por dia utilizando as necessidades produzidas em apenas 6 horas por dia, então a jornada de trabalho será elevada para 18 horas por dia.  Se os salários que os capitalistas pagam para seus empregados homens for o suficiente para permitir que estes sustentem uma esposa e duas crianças, então os capitalistas irão reduzir os salários para forçar mulheres e crianças a irem trabalhar nas fábricas, dando assim aos capitalistas o benefício de auferir mais 'tempo de trabalho excedente' e mais mais-valia. 
Os capitalistas também supostamente irão se esforçar para baratear a dieta do trabalhador, substituindo trigo por, digamos, arroz ou batatas, desta forma reduzindo o 'tempo de trabalho necessário' e aumentando a fatia do dia de trabalho que passa a ser 'tempo de trabalho excedente'.  As condições de trabalho, desnecessário dizer, serão sempre horríveis, uma vez que seu aprimoramento geralmente viria à custa de uma redução na mais-valia.
Esta suposta situação de salários de subsistência — aliás, de salários abaixo da subsistência —, jornada de trabalho desumana e condições precárias, além de crianças trabalhando em carvoarias, seria o resultado do funcionamento do capitalismo e da busca pelo lucro, diz Marx, tendo por base sua teoria da exploração.
À luz da teoria da exploração, os capitalistas devem ser considerados inimigos mortais da esmagadora maioria de humanidade, merecendo ser colocados contra paredões e fuzilados — exatamente o que aconteceu sempre que os marxistas tomaram o poder em algum país.
Os capitalistas, e não os trabalhadores, são os produtores principais
Ao contrário do que diz a teoria da exploração, e ao contrário do que a maioria das pessoas imagina, os assalariados que os supostos exploradores capitalistas empregam não são os produtores principais dos produtos manufaturados por uma empresa.  Assim como Cristóvão Colombo foi o descobridor da América, e não os marujos que tripulavam os navios e que foram seus auxiliares na realização de seus (de Colombo) planos e projetos, os capitalistas é que são os produtores principais dos produtos produzidos por suas empresas. 
Os empregados do capitalista podem ser mais corretamente descritos como "os auxiliares" na produção dos produtos do capitalista.  Os lucros do capitalista não representam uma dedução daquele valor que, segundo Marx, pertence por direito aos trabalhadores na forma de salários.  Os lucros representam aquilo que o capitalista ganhou em decorrência principalmente de seu trabalho intelectual, de seu planejamento e de suas decisões.  O capitalista produz um produto próprio, embora utilize a ajuda de terceiros cuja mão-de-obra ele emprega com o propósito de implementar seus planos e consequentemente produzir seus produtos.
Sendo assim, por exemplo, Henry Ford era o produtor principal na Ford Motor Company; John D. Rockefeller, na Standard Oil; Bill Gates, na Microsoft; Jeff Bezos, na Amazon; e Warren Buffet, na Berkshire Hathaway.
Marx teve sim uma grande ideia, a qual era em si totalmente correta, e que pode jogar mais luz sobre esta discussão.  Esta sua ideia foi fazer uma distinção entre aquilo que ele chamou de "circulação capitalista" e aquilo que ele chamou de "circulação simples".  Mas Marx, infelizmente, ignorou por completo e contradisse totalmente as reais implicações desta sua ideia.   
Aquilo que todos os "capitalistas exploradores" praticam é a circulação capitalista.  A circulação capitalista, como Marx a descreveu, é o gasto de dinheiro, D, para a compra de materiais, M, que serão utilizados na produção de produtos que serão vendidos por uma quantia maior de dinheiro, D'.  A circulação capitalista, em suma, é D-M-D'.  Se os capitalistas exploradores deixassem de existir, e a circulação capitalista desaparecesse do mundo, os sobreviventes entre aqueles que hoje trabalham como assalariados estariam vivendo em um mundo de circulação simples, isto é, M-D-M.  Ou seja, sem ter com o que gastar inicialmente seu dinheiro, eles tentariam imediatamente produzir materiais, M, os quais eles venderiam em troca de dinheiro, D, o qual, por sua vez, eles usariam para comprar outros materiais, M.
Os capitalistas não são os responsáveis pelo fenômeno do lucro, mas sim pelo surgimento dos salários e dos custos
Tanto Marx quanto Adam Smith, que veio antes de Marx, presumiram erroneamente que, em um mundo de circulação simples — o qual Smith chamou de "o estado rude e primitivo da sociedade" —, todas as rendas obtidas eram salários.  Para eles, não havia lucro neste modelo.  O lucro, segundo eles, só passou a existir quando surgiu a circulação capitalista.  Mais ainda: o lucro seria uma dedução daquilo que originalmente era salário.
Mas a verdade é que, em um mundo de circulação simples, o que está ausente não é o lucro, mas sim os gastos monetários — o D inicial — com o pagamento de salários e com a aquisição de bens de capital, e que são computados como custos de produção.
Um mundo de circulação simples seria um mundo em que não há custos de produção mensurados em termos monetários.  Seria um mundo em que os gastos com materiais — utilizando-se dinheiro obtido com a venda de outros materiais — constituiriam receitas para os vendedores destes materiais.  E estes vendedores, dado que eles não tiveram nenhum gasto anterior para obter os materiais que estão vendendo, não teriam de computar nenhum custo de produção em termos monetários.  Eles teriam apenas receitas de venda. Seria, portanto, um mundo em que o trabalho é a única fonte de renda.  Mas um mundo no qual toda a receita auferida pelos indivíduos é um lucro, e não um salário.  Seria um mundo de trabalhadores produzindo produtos primitivos e escassos, pelos quais eles receberiam receitas de venda das quais eles não teriam custos para deduzir.  Sendo assim, estas receitas representariam o lucro total.
O surgimento da circulação capitalista, portanto, não é responsável nem pela dedução dos salários e nem pelo surgimento do lucro.  Ao contrário: ela é responsável pela criação dos salários, pelo surgimento dos gastos com bens de capital e pelo surgimento dos custos de produção mensurados em termos monetários.  Estes custos serão deduzidos das receitas, produzindo então o lucro.  As receitas de venda, no cenário anterior, representavam o lucro total.  Não havia custos a serem deduzidos das receitas.  Agora, com o surgimento da circulação capitalista, surgiu o salário dos trabalhadores, os quais são deduzidos dos lucros dos capitalistas.  Portanto, primeiro surgiu o lucro; só depois é que surgiu o salário.  É o salário que é deduzido do lucro dos capitalistas, e não o lucro que é deduzido do salário dos trabalhadores.
Quanto mais economicamente capitalista for o sistema econômico, no sentido de um maior grau de circulação capitalista — isto é, uma maior proporção de D em relação a D' —, maiores serão os salários e os outros custos em relação às receitas, e menores serão os lucros em relação às receitas.  Ao mesmo tempo, se o sistema econômico permitir que os capitalistas se concentrem mais na compra e, consequentemente, na produção e na oferta de bens de capital, este aumento na oferta de bens de capital levará a um aumento na produtividade da mão-de-obra e a um aumento generalizado na capacidade de produção.  A oferta de produtos crescerá em relação à oferta de mão-de-obra e, com isso, os preços cairão em relação aos salários.  O resultado é que os salários reaisaumentarão e continuarão aumentando enquanto a produtividade da mão-de-obra continuar crescendo.
Portanto, no que concerne à relação entre capitalistas e assalariados, a verdade é exatamente o inverso daquilo que é alegado pela teoria da exploração.  Os capitalistas não deduzem seus lucros dos salários dos trabalhadores; os capitalistas são os responsáveis pelo surgimento dos salários.  Sendo um custo de produção, os salários são deduzidos das receitas, as quais, na ausência de capitalistas, representariam o lucro total.  Logo, pode-se dizer que os capitalistas são os responsáveis pelo aumento dos salários em relação aos lucros e pela redução dos lucros em relação aos salários.  Ao mesmo tempo, por meio do aumento na produção e na oferta de produtos, o que leva à redução de seus preços, os capitalistas aumentam o poder de compra dos salários que eles pagam.
Isto não é nenhuma exploração dos trabalhadores assalariados.  É, isto sim, a maciça e progressiva melhoria de seu bem-estar econômico.

George Reisman Ph.D. é o autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: http://www.capitalism.net/. Seu blogwww.georgereisman.com/blog/.

O "NÓS" É UMA FALÁCIA



Antwerp1920Olympics.jpgQuando assistimos às Olimpíadas ou a qualquer competição esportiva internacional, temos a tendência a torcer de acordo com as nacionalidades.  Torcemos para os atletas de nosso país contra os do resto do mundo.  Embora não haja nada de errado com esse tipo de diversão, o conceito do indivíduo nunca deve ser perdido em meio ao ideal coletivista — a crença de que os membros do coletivo (a nação, nesse exemplo) são robôs sem personalidade dedicados a servir ao todo.
Antes de continuar, deixe-me introduzir um termo matemático que irá ajudar a expor a falácia do coletivo: o fractal.  Resumidamente, um fractal é uma forma geométrica que pode ser dividida em partes que são, cada uma, tão complexas quanto o formato original da figura.  Ou seja: após essa divisão, cada parte terá sempre o mesmo formato da figura original.
Considere uma árvore: os principais galhos são tão complexos quanto a árvore em si.  Em essência, o galho é "uma cópia em escala reduzida do todo".  Um galho plantado no chão seria indistinguível de uma árvore.  Iterativamente, os galhos dos galhos são eles próprios cópias em escala reduzida da árvore, e assim por diante.
Adicionalmente, considere imagens geradas por computador que tenham qualidades fractais.  Nesse caso, desenha-se uma estrutura complexa que aparentemente possui bordas irregulares, conquanto bem definidas.  Uma análise mais detalhada de uma borda vai revelar uma estrutura que é tão complexa quanto a imagem original.  Mantendo-se esse procedimento iterativamente, uma análise mais detalhada da borda dessa borda irá revelar novas e igualmente complexas estruturas, ad infinitum.
fractal.jpgA ideia básica é que cada observação revela uma nova complexidade e singularidade.  Essencialmente, quanto mais conhecemos, menos sabemos.
Agora voltemos nossa atenção para a estrutura da sociedade.
A topologia da sociedade possui qualidades fractais.  Partindo-se de um ponto de vista global, tendemos a ver os países como agregados homogêneos.  Pressupomos que cada país possui certos atributos que automaticamente se reproduzem em todos os seus habitantes — existem chineses, existem americanos, existem indianos, existem russos e existem brasileiros.
De acordo com essa visão, o cidadão A do país X nada mais é do que uma personificação ideal das características agregadas que são atribuídas a X.  Imediatamente alegamos saber tudo sobre A simplesmente porque sabemos que A é um cidadão de X.  "Eles agem dessa forma porque ele é francês e ela é russa".  Essa é uma maneira perigosa e excessivamente simplista de classificar homens e mulheres que agem, como veremos.
Agora, vamos aplicar o conceito de fractais e centrar nossa atenção apenas no país X.  Olhando-se exclusivamente para X, percebemos variações dentre suas várias regiões.  Ao invés de um grupo homogêneo, descobrimos uma complexidade que é similar à complexidade observada em relação aos outros países do mundo.  Pegando-se os Estados Unidos como exemplo, é possível perceber diferenças entre os residentes de Ohio e os da Califórnia, por exemplo.  Repentinamente, o americano que até então víamos como um ser homogêneo passa a ser o agregado de vários agrupamentos singulares.
Seríamos arrojados a ponto de criar o tipo ideal do nativo de Ohio?  É óbvio que não, uma vez que uma análise mais detalhada de Ohio vai revelar variações dentro do estado que são tão complexas quanto aquelas entre os estados.  À medida que vamos aprofundando essa análise iterativa, acabamos por chegar ao pior dos agregados: a comunidade.
Escolhi a comunidade porque ela é o conceito que permite que todas as análises mais amplas tenham significado.
Todas as ideias coletivistas começam pela comunidade.  Desde os primeiros dias no jardim de infância, as escolas martelam o conceito de comunidade na mente das crianças.  As escolas instruem as crianças a se verem a si próprias como componentes similares e indistinguíveis de suas comunidades, independente de se a comunidade é a escola, um distrito escolar ou alguma outra agregação.
Com esse fim, as escolas se definem a si próprias como "comunidades de aprendizes" — não como uma comunidade de indivíduos, mas como uma comunidade cujos membros anônimos esforçam-se pelo bem coletivo.
Questões que afetam uma comunidade afetam cada membro (ou criança) igualmente.  As crianças devem agir de maneira que deixem orgulhosas suas escolas.  Elas são encorajadas a propor projetos comunitários e são obrigadas a se voluntariar para serviços comunitários.  A mensagem implícita é a de que morrer — de modo figurado, nesse caso — pelo coletivo é o destino a ser aspirado durante a vida.  Como disse Mises,
O universalismo e o coletivismo não podem aceitar a solução democrática para o problema do poder. Na sua opinião, o indivíduo, ao sujeitar-se ao código ético vigente, não o faz em benefício direto de seus interesses particulares; ao contrário, ele está abstendo-se de realizar seus próprios objetivos em benefício dos desígnios da Divindade ou da comunidade.
Entretanto, a comunidade sempre é mal definida.  A sua comunidade é a sua vizinhança ou uma das várias e sobrepostas subdivisões políticas?  Ou a sua comunidade é formada por aqueles cuja companhia você aprecia?
Quem pretende iniciar o estudo da ação humana a partir de entidades coletivas esbarra num obstáculo insuperável, qual seja, o fato de que um indivíduo pode pertencer ao mesmo tempo, e na realidade pertence — com exceção das tribos mais primitivas —, a várias entidades coletivas.  Os problemas suscitados pela coexistência de um grande número de entidades sociais e seus antagonismos recíprocos só podem ser resolvidos pelo individualismo metodológico.
Uma vez que a ideia de comunidade cria raízes, as crianças passam a ter dificuldades em se ver como qualquer outra coisa que não seja parte do coletivo.  Lamentavelmente, isso vai seguir na criança por toda a sua vida adulta.  Assuntos tributários, por exemplo, são propostos para o bem da comunidade.  E os bons membros da comunidade devem sempre apoiar as finalidades coletivas.
Portanto, partindo-se da ideia de comunidade coletiva, é fácil ampliar o escopo de atuação (ou tirar o zoom, se preferir) e incorporar maiores horizontes, até que, finalmente, a nação coletiva e o seu governo são abordados.  Se você deve se sacrificar para ser um membro de sua comunidade local, você também deve se sacrificar para ser um membro da sua nação, independentemente de suas políticas e ações.
Se a sociedade, ou o Estado, é uma entidade dotada de vontade e intenção e de todas as outras qualidades que lhe são atribuídas pela doutrina coletivista, então é simplesmente absurdo confrontar as aspirações triviais do pobre indivíduo com seus majestosos desígnios.
Entretanto, homens e mulheres dotados da capacidade de agir não são abelhas que trabalham para o bem da colméia.  Quando humanos são controlados pela autoridade central, eles não mais estão agindo; eles estão reagindo.  E, como Mises demonstrou há muito tempo, humanos que reagem aos comandos do ditador não estão construindo uma colméia, eles estão simplesmente consumindo o mel remanescente — o capital — e esperando passivamente períodos inevitavelmente mais difíceis à frente.
Porém mesmo a comunidade é em si um agregado de vários agrupamentos singulares.  Uma análise mais detalhada vai revelar a existência de famílias.  E mesmo as famílias são o produto de várias entidades singulares: homens, mulheres e crianças que agem individualmente.  É essa complexidade — a complexidade essencial do indivíduo — que explica por que discutir política e assuntos paternais entre membros de família é algo tão delicado.  Ela também explica por que assistir a um jogo de futebol é mais seguro do que conversar informalmente à mesa durante uma tarde de reunião familiar.  Mas é essa complexidade que permite o crescimento da divisão do trabalho, que faz aprimorar e prosperar as economias.
Há duas visões da estrutura da sociedade.  Há a visão coletivista, que falsamente cria agregações características e pressupõe que todos os membros são personificações ideais dessas características agregadas.  E há a visão austríaca, que enxerga apenas o indivíduo e não tenta criar qualquer tipo de agregação.
Todas as variantes de credos coletivistas estão unidas na sua implacável hostilidade às instituições políticas fundamentais do sistema liberal: governo da maioria, tolerância para com as opiniões divergentes, liberdade de pensamento, de expressão e de imprensa, igualdade de todos perante a lei.
O coletivista mancha a face do indivíduo, fazendo com que o caminho para os maléficos "ismos" do nosso mundo seja relativamente fácil e desejável.
Os austríacos, por outro lado, veem o indivíduo independentemente da geopolítica em voga, e é o foco no indivíduo que leva cada vez mais à liberdade.
Torça para seu time.  E alegre-se com os fractais que são seus vizinhos, amigos e colegas.  Não os perca em uma neblina coletiva.

Jim Fedako  vive em Ohio, EUA, é pai de seis crianças que ele próprio educou em casa e mantém o blog Anti-Positivist.

Tradução de Leandro Roque

MAIS UMA DOSE



Mais uma dose?
É claro que eu estou a fim
A noite nunca tem fim
Por que que a gente é assim?


A música de Cazuza expressa bem a sensação predominante nos mercados financeiros do mundo todo atualmente. A apreensão dos investidores é grande, pois há riscos enormes de crise em todo lugar. A China está desacelerando rapidamente, os Estados Unidos não conseguem crescer mesmo com tanto estímulo e a Europa pode ir para a UTI a qualquer momento (ruptura do euro). Os fundamentos econômicos são ruins, o clima é de pessimismo generalizado.

Todos os olhares se voltam neste momento para os donos das impressoras de moeda fiduciária. Como Santo Agostinho, os investidores sabem que a castidade (austeridade) é fundamental, pois há excessos no organismo (endividamento insustentável), mas eles pedem em coro: não agora! Os ajustes seriam dolorosos demais. Deixem-nos curtir um pouco mais o aqui e agora como se não houvesse amanhã. A noite nunca tem fim...

E, como viciados em heroína, todos lançam olhares suplicantes ao fornecedor da droga, implorando por mais uma dose. Sim, cada rodada produz efeito eufórico menor, e mais estragos no organismo. Sim, a ressaca pela manhã será braba. Sim, há o risco de que, em algum momento, o organismo acuse o golpe e a overdose seja fatal. Mas entre o sofrimento certo da abstinência hoje, e o risco de morte amanhã, o viciado “escolhe” jogar todas as fichas na sorte.

Isso explica as reações dos mercados ontem, após a firme declaração de Mario Draghi, presidente do BCE, de que faria “o que for preciso” para salvar o euro (e seu emprego, diriam os mais cínicos). É música para o ouvido dos dependentes “químicos”. O fornecedor deu o sinal: nova rodada de droga a caminho! Hora de celebrar. Até porque a euforia dura pouco. Cada vez menos. Por que que a gente é assim? Por: Rodrigo Constantino


quarta-feira, 25 de julho de 2012

NÚMEROS DA SEGURANÇA NO BRASIL


Abaixo quadro demonstrativo de assassinatos por 100 mil habitantes por estado.
Santa Catarina aparece com o menor índice, 12,9 porém com crescimento.
A média Brasil está em 26,2. São 50 mil mortes ao ano. Mata-se mais que muitas guerras. Uma verdadeira carnificina.