segunda-feira, 30 de março de 2015

LEIA ESTE ARTIGO ANTES DE RECLAMAR DOS PREÇOS DOS OVOS DE PÁSCOA


Sim, você tem razão, os ovos de páscoa são realmente muito caros. Mas só há um culpado por isso: você. Leia esse artigo antes de sair por aí reclamando.


Ovo de Páscoa Alpino, 700g: R$ 65,00. 750g de Alpino em barras: R$ 26,80. Ficou indignado? É pra ficar. Pagamos mais de três vezes o preço do chocolate para tê-lo em formato de ovo. Tá certo que o formato diferente traz um prazer diferenciado, associações psicológicas, tem uma produção mais robusta, etc. Mas três vezes mais caro? Imagine o incremento na sua felicidade se, com o mesmo dinheiro, comprasse chocolate para durar até junho?

Algumas sórdidas pessoas defendem esse diferencial de preços. Dizem que uma casa é muito mais cara que a pilha de tijolos necessária para construí-la. Veja: construir uma casa exige conhecimento, tempo e dedicação. Já fazer chocolate em formato de ovo, para quem já sabe fazer chocolate, é fácil. Basta a fôrma do ovo. Além disso, barra e ovo satisfazem basicamente o mesmo desejo, ao contrário da casa e da pilha de tijolos. Não tem como defender, o preço é exorbitante, revoltante. O culpado por isso deveria se envergonhar.

E o culpado é você. Você, sem nenhuma coação ou coerção, compra um produto barato tornado caro exclusivamente por ter um formato bizarro. Você sai de casa, pega fila, abre a carteira e praticamente implora para a Cacau Show levar todo seu dinheiro. Sim, é isso mesmo que você faz, ainda que as fantasias que passam dentro da sua cabeça – e que você erroneamente considera serem seu “verdadeiro eu” – digam outra coisa. São seus atos que determinam o preço atual, e é com eles que você pode afetar o comportamento da empresa.

Nem todas as nossas ações, contudo, afetam-na. Deitar na cama e sentir raiva do preço do ovo? Isso não afeta o comportamento da empresa. Reclamar no facebook? Não afeta o comportamento da empresa. Ir ao mercado, comprar os ovos de presente e ainda levar um de Nhá Benta só pra você? Isso afeta. O ato mostra que, de acordo com seu próprio juízo, dadas as circunstâncias atuais, o ovo vale mais do que o preço cobrado. Ficar com aquele dinheiro e sem ovo é pior do que ficar com ovo e sem o dinheiro. Para a empresa, seu desejo é uma ordem. Ela fica sabendo, aliás, que cobrou pouco.


Este é um bom momento para lembrar uma profunda verdade que só a ciência econômica traz pra você: o preço de um bem – seu valor no mercado – não tem nada a ver com os custos de produção. Barra e ovo, afinal, têm custos similares. O que define o preço é a escassez relativa do bem, ou seja, a importância que os consumidores dão aos desejos que ele é capaz de satisfazer. A relação de causa e efeito é o contrário do que a maioria pensa: é a expectativa de demanda pelo produto final que determina o valor dos insumos da produção. Se ano que vem, por algum motivo insondável, ninguém mais quiser chocolate no formato ovo, sabe o que acontece com o preço das formas para produzir ovos de Páscoa? Isso mesmo.

As empresas, essas malvadas, gostariam de cobrar ainda mais caro. Elas gostariam que todo dia fosse Páscoa e que os brasileiros fossem viciados em ovos de chocolate todos os dias do ano. Gostariam, só que não podem. Quem determina o que elas podem ou não cobrar são os desejos dos consumidores; se ela cobra a mais ou a menos, seu lucro cai. E como ela quer lucrar, isso não faz o menor sentido. Talvez o que realmente nos revolte não seja o preço em si, mas o que ele revela sobre nós mesmos: que estamos dispostos a pagá-lo.

O lucro significa que a empresa se antecipou a uma demanda real e relativamente pouco atendida da população. É também um convite para outros gananciosos malvados produzirem ovos. Por isso mesmo a produção artesanal e caseira tem crescido. Pequenas empresas e doceiros autônomos tentam entrar no jogo. Infelizmente não é fácil, primeiro por conta das regulamentações estatais feitas sob medida para as grandes corporações do setor alimentício: encarecem e dificultam a produção de modo que só os big players consigam se adequar às regras.

O outro fator nessa concentração do mercado em poucas marcas é, novamente, você. A maioria dos consumidores não quer fugir do tradicional e confiável. O ovo artesanal feito pela tia do coleguinha do filho é mais barato, quiçá melhor, mas vai saber… E se vier feio? E se for ruim? E se ficar parecendo que você não deu muito valor ao presente? Já se vislumbra uma Páscoa destruída, o sentimento do fracasso e outras coisas terríveis que é melhor nem pensar.

Por trás dessa necessidade de conseguir um chocolate de marca adequada e em formato de ovo para o grande dia (pois se adiasse em uma semana sairia muito mais barato), está um dos motores mais poderosos de nossas ações menos inteligentes: a introjeção da expectativa social.


Você, leitora, quando chegar o domingo, ficará desapontada se receber barras normais ao invés de um ovo; mesmo que sejam muitas. Não vai tirar foto pro Instagram. Os olhos do seu filhinho, pai, não irão brilhar, mesmo que você explique a esperteza do negócio. Ou melhor, me corrijo: talvez a criança, o homem e a mulher todos entendessem e até preferissem essa compra mais econômica e duradoura, mas o medo que você tem de fugir à regra, fazer menos que o socialmente esperado e ser julgado por isso falará mais alto.

Você poderia comprar barras. Poderia comprar depois do domingo de Páscoa. O prazer seria o mesmo e o rombo na conta muito menor. Mesmo assim, ainda nos próximos dias, antes do fatídico domingo, você estará lá no supermercado, lamentando a própria burrice, mas comprando. Sim, é burrice, não significa nada, é uma convenção arbitrária e cara; mas você não quer falhar; você precisa se adequar à expectativa alheia, ou melhor, à expectativa que você tem da expectativa alheia. Interesses poderosos se alimentam desse sentimento.

Por isso, deixo para você que se revolta com os preços dos ovos e quer ver mudança neste mundo meu apoio e também um conselho. Recomendo, aproveitando a data, um pouco da culpa católica. Enquanto estiver à caça do ovo ideal nestes dias que antecedem a páscoa, talvez quando for deixar para comprá-lo na sexta-feira santa, talvez até na manhã do domingo, oferecendo o dobro ou o triplo do preço já exorbitante, sentirá dentro de si aquele ódio amargo contra a ganância dessas empresas. Nesse momento, pare, medite na lição espiritual deste texto, bata no peito e repita comigo: mea culpa, mea maxima culpa.

Ou então você pode libertar sua mente e ter uma Páscoa em termos que façam sentido para você, aceitando de olhos abertos o preço das próprias escolhas. Pode ainda entrar na dança e aprender a fazer e vender seus próprios ovos de Páscoa ou criar novas e inesperadas formas de celebrar a data. E daí talvez você descubra a relação entre lucrar e não se curvar à expectativa alheia.

Por: Joel Pinheiro  Paulista, formado em Economia pelo Insper e mestre em Filosofia pela USP. Do site: http://spotniks.com

SOBRE PREPARAÇÕES BÉLICAS E ESTRUTURAS SECRETAS - PARTE 1

“Como se viu nos capítulos anteriores sobre a natureza e metodologia necessárias à guerra moderna, é praticamente impensável vencê-la sem a minuciosa e oportuna preparação do país e das forças armadas.”

V. D. Sokolovskii, Soviet Military Strategy, p. 281

Um artigo recente no The European diz que as sanções que a EU impôs à Rússia foram mal concebidas. “A política de sanções não está funcionando de maneira alguma”, diz o artigo. As sanções falharam porque Putin “controla as percepções” da população russa. Enquanto isso, sentimentos anti-guerra estão ganhando espaço na Alemanha e em toda Europa. A propaganda russa está gradualmente virando o jogo. Isso revela com clareza que o Ocidente não tem estratégia nenhuma, enquanto a Rússia é totalmente estratégica.

O capítulo 7 da clássica obra do marechal Sokolovskii, Soviet Military Strategy, é intitulada “Preparação de um país para repelir agressões”. É possivelmente o capítulo mais importante do livro, pois explica os passos necessários caso a vitória for o que se pretende assegurar. O objetivo dessa preparação inicial é tomar a iniciativa estratégica. A própria sociedade deve estar pronta para “resistir” a um “ataque nuclear maciço do inimigo, minimizando as perdas” e mantendo, enquanto isso, “o moral em alta e o anseio de vitória no seio da população”.

Há três “linhas mestras” na preparação de uma guerra de acordo com os estrategistas soviéticos: (1) preparação das forças armadas; (2) preparação da economia nacional e (3) preparação da população. No que diz respeito à preparação das forças armadas, é necessário construir um arsenal de mísseis com ogivas nucleares. Essas são as armas principais de uma guerra; todas as outras têm importância secundária. Até hoje a Rússia mantém o mais avançado arsenal nuclear do mundo, e agora já se reconhece que a Rússia possui superioridade nuclear no campo de batalha europeu.

No que diz respeito à preparação da economia nacional para guerra, a Rússia continua a observar os princípios postulados pelo livro de Sokolovskii. Hoje as indústrias militares foram transferidas para cavernas subterrâneas, bunkers e túneis. Isso é algo que foi trabalhado por anos pelos russos. Cidades subterrâneas secretas, tal como a que está localizada sob a montanha Yamantau, possivelmente possuem mísseis nucleares e fábricas de ogivas. Yamantau é um dos vários locais subterrâneos superprotegidos que podem, com efeito, dar à Rússia bases militares-industriais virtualmente inatingíveis na ocasião de uma guerra global.

Seja importante o quanto for a preparação das forças armadas ou da economia nacional, os estrategistas soviéticos sempre insistiram que a população em geral não deve ser deixada de lado nas preparações bélicas. Guerras modernas não são travadas apenas por forças militares. Elas são travadas pelo povo inteiro. Deve-se ensinar a população a proteger-se de um ataque nuclear e a se mobilizar como uma milícia capaz de realizar várias funções de emergência. Mas o mais importante de tudo isso é a “preparação política do moral do povo”. Essa preparação é considerada decisiva (v. pp. 458-459 da tradução inglesa de Soviet Military Strategy). A preparação da população para a guerra traduz-se em doutrinação ideológica. Um espírito de patriotismo deve ser inculcado: “amor pela Pátria e... instigar no povo a prontidão para suportar qualquer dificuldade da guerra pelo bem da vitória”. A estrita doutrinação que retrata a perversidade inimiga é indispensável. “Ódio ao inimigo deve incitar o desejo de destruir as forças armadas e o potencial industrial-militar do agressor e conquistar a vitória completa em uma guerra justa”. Ao mesmo tempo, o povo “deve estar imbuído da crença no poder das nossas Forças Armadas e nutrir amor por eles”.

Hoje essa é a retórica da mídia russa. A América é culpada pela guerra na Ucrânia. Diz-se que a América planeja a destruição da Rússia. Ao mesmo tempo os russos dizem que seu maquinário bélico é invencível (NBC News noticia: “Vladimir Putin diz que o poderio militar russo não tem adversário à altura”). O moral político do povo russo está sendo reforçado através de mensagens positivas desse tipo. Por outro lado, na Europa ocidental só há discórdia e confusão. Não há uma voz de autoridade jactando-se da força militar da OTAN. O povo está cheio de incerteza e medo. A ideia de uma independência ucraniana foi posta em questão. Enquanto estas palavras foram escritas, o parlamento russo esteve considerado se declarava a unificação alemã em 1990 como ilegal.

Como afirma o texto de Soviet Military Strategy: “A preparação política do moral do povo para a guerra é dirigida [...] por todas organizações públicas e governamentais do país e por todo o sistema educacional e de informações públicas. Para esse propósito, todos os instrumentos de propaganda e agitação são usados...” (E sim, isso inclui o parlamento, que sempre foi o carimbo das velhas estruturas soviéticas — escondidas por trás de falsos partidos políticos e falsas regras parlamentares e falsas constituições.)

A razão para trazer à tona um velho livro militar soviético é para mostrar que a Rússia ainda está seguindo as velhas ideias soviéticas. Ao mesmo tempo, a América não considera seriamente preparar-se ela mesma para uma guerra. O lado americano não coloca suas principais indústrias militares sob montanhas e não ensina sua população os princípios de defesa civil nuclear (como os russos fazem). Mais crítico ainda é o fato que o povo americano jamais recebeu qualquer ensinamento escolar sobre a ameaça russa. Com raras exceções, as escolas americanas não ensinam seus alunos sobre quem são os inimigos da América. Isso sequer foi feito no auge da Guerra Fria. Na verdade, os marxistas estavam ocupados infiltrando-se nas escolas americanas e universidades durante os anos 1970 e 1980. Era mais provável que os alunos americanos recebessem uma doutrinação marxista mais sólida (que aquela repassada nos países comunistas) do que uma orientação apropriada acerca da ameaça comunista aos Estados Unidos. E assim, jamais houve similaridade entre as preparações bélicas russas e americanas. Esse é um fato que deveria causar profundo espanto, pois ele desmente a conhecida propaganda do todo-poderoso complexo militar-industrial americano.

Infelizmente, hoje em dia não há uma séria preparação bélica nos EUA. A América entrou em uma suposta guerra contra o “terrorismo”. Enquanto isso os russos espreitam-se no subterrâneo e preparam-se para um tipo diferente de guerra — posicionando misseis, navios de guerra e forças terrestres. Que já entramos em uma fase de pré-guerra deveria estar abundantemente claro. O general da OTAN, Frederick Hodges, disse recentemente em entrevista ao Wall Street Journal: “Acredito que os russos estão se mobilizando agora para uma guerra que eles pensam que vai acontecer em cinco ou seis anos”. O ex-chefe da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, alertou acerca da propabilidade de os russos atacarem um dos estados bálticos. “Isso não se trata da Ucrânia”, disse Rasmussen ao Daily Telegraph no começo de fevereiro. “Putin quer reestabelecer a Rússia à sua antiga posição de grande potência”.

Contudo, Rasmussen e Hodges foram modestos em suas estimativas. Não se trata de restaurar a grandeza passada da Rússia. Trata-se de uma mudança brusca no balanço das forças que fará uma reviravolta completa na ordem global. É esse o jogo que está sendo jogado. É essa a estratégia que está sendo usada. Tratam-se de intenções revolucionárias que querem transformar o mundo. Mas nossos generais e estadistas continuam a pensar pequeno e acreditam apenas no que está diante dos seus olhos. É necessário que vejam a coisa com os olhos de um estrategista. Deve-se reconhecer o padrão, a nuance, a relação entre ações do passado e do presente. Só assim pode o observador ver o que está para vir.

Quando o Secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, diz que a América está “tentando envolver a Federação Russa num conflito entre Estados” com fins de instigar uma mudança de regime em Moscou, ele está criando o pretexto e a cortina de fumaça para uma vasta mobilização militar russa que vai muito além da restauração da URSS. “Os americanos estão tentando [...] desmembrar nosso país através dos eventos na Ucrânia” diz Patrushev. Então o que merece a América em resposta? Afinal, a América está tentando “desmembrar” a Rússia. Então o certo e apropriado é que se desmembre a América. É isso que está dizendo Patrushev; é esse o significado real dos seus dizeres. Quando Rasmussen diz que toda a coisa “não se trata da Ucrânia” temos de concordar. Ainda assim ele não percebeu qual é o verdadeiro fim da mobilização russa. O verdadeiro alvo não é a OTAN, mas a América. E quando a América for derrotada, todos os países da Terra curvar-se-ão perante a Rússia.

Há todas as razões do mundo para suspeitar do que está acontecendo na Ucrânia, pois a crise em Kiev acaba por servir de pretexto contínuo para a mobilização militar e serve de justificativa para atacar os Estados Unidos, especialmente se os americanos derem armas para Kiev. A crise é fabricação de Putin, que manda ameaças aos montes para a Europa. Ele pode testar o Artigo 5 da OTAN; ele pode forçar a situação até surgir um racha na aliança. Os alemães por acaso querem suas cidades devastadas? E poloneses e romenos?

E quanto à América?

Mesmo na atual ocasião de mobilização russa, o lado americano se implode unilateralmente e espontaneamente. Veja a manchete: Sevier o corte orçamentário, Rússia e China superarão nossa tecnologia militar,diz oficial do alto escalão do Pentágono. Prepare-se para China e Rússia superar-nos militarmente, pois esse é o resultado do que vem acontecendo. O Vice-Secretário de Defesa, Robert Work, disse ao Congresso que os cortes orçamentários estão acabando com a vantagem militar tecnológica americana em relação à Rússia e China. E por que o presidente insiste em tal fórmula? Por que ele se recusa a negociar uma solução orçamentária mais sensata com os republicanos no Congresso?

O ex-prefeito de New York, Rudy Giuliani, disse ao New York Post que Obama foi influenciado por um comunista, Frank Marshall Davis, desde os nove anos de idade. Giuliani também falou do papel do Rev. Jeremiah Wright. “Ele passou 17 anos na igreja de Jeremiah Wright, e esse é o sujeito que disse ‘Deus amaldiçoe a América, e não Deus abençoe a América’... [e] Obama jamais deixou essa igreja”, disse Giuliani. Parece que o Prefeito Giuliani fez uma importante observação que deveria ter sido feita por vários outros políticos há muito tempo. Mas eles são todos covardes, incapazes de abrir suas bocas exceto para falar coisas patéticas e sem importância.

É evidente que não há chance de o país se colocar ao lado do ex-prefeito nova-iorquino. Muito provavelmente o Partido Republicano se distanciará de Giuliani e continuará no caminho da mediocridade. Isso mostra com clareza que não somos mais americanos, mas sim que “somos do mundo”. Essa mentira abjeta, que conta uma história que o próprio povo não pode contar de si, é agora a base do pensamento nacional — que sequer é nacional. Somos consumidores, cidadãos do planeta. Esse é a vaidade do momento que pode levar milhões à morte. O perigoso contrassenso é perigoso, e não importa o quão confortável ele faça você se sentir. O conforto, junto de um tratado desarmamentista, fará com que você seja alvejado por uma bomba nuclear.

Por:Jeffrey Nyquist  Do site: http://www.midiasemmascara.org


Tradução: Leonildo Trombela Junior


sexta-feira, 27 de março de 2015

PRAZO DE VALIDADE

Aquela história da mentira infindavelmente repetida que se torna verdade é ela própria uma mentira infindavelmente repetida, que pode ser usada com algum sucesso se você não acredita nela mas leva aos mais desastrosos resultados quem acredita. Na maior parte dos casos, ela não passa de uma autopersuasão de avestruz, boa para induzir um cretino a caminhar com uma autoconfiança de sonâmbulo em terreno minado. O próprio dr. Joseph Goebbels, a quem se credita a invenção dessa frase, terminou muito mal.


Chavões e frases feitas são afirmações gerais de validade muito relativa, a que você apela como premissas autoprobantes para sustentar outras afirmações que em geral não têm validade nem mesmo relativa. São as ferramentas de eleição do automatismo mental, criadas para você pensar que está pensando quando na verdade está apenas falando. São o Petit Larousse do psitacismo.

O Príncipe de Maquiavel, o Manifesto Comunista e as obras de Antonio Gramsci são depósitos clássicos onde os necessitados sempre encontram as fórmulas de que necessitam para realizar, de novo e de novo, a proeza de não entender coisíssima nenhuma.

O prestígio do maquiavelismo é algo que não cessa de me deslumbrar. Como é possível que tantas pessoas aparentemente inteligentes continuem seguindo com devoção de coroinhas as lições de sucesso de um bobão cronicamente fracassado?

E como é possível alguém continuar acreditando na teoria marxista da luta de classes depois que Lênin demonstrou, por palavras e atos, que se queriam mesmo uma revolução proletária era preciso realizá-la sem proletários?

Desde que Jim Fixx, o inventor dos exercícios aeróbicos, morreu de ataque cardíaco em pleno jogging, aos 52 anos de idade, comecei a desconfiar que todas as fórmulas infalíveis são um perigo para a humanidade. A verdade é matéria de intelecção direta, o ato mais individual e intransferível que existe. Tão logo se cristaliza numa fórmula uniformemente repetível, a fórmula se torna o melhor pretexto para não ter intelecção nenhuma.

O sinal mais visível de esgotamento de uma corrente de idéias é quando seus porta-vozes insistem em apegar-se aos seus chavões consagrados justamente nas horas de desespero e confusão em que essas chavões se relevam mais deslocados da situação concreta, mais incapazes de descrever o que está se passando.

Quando noventa e três por cento dos brasileiros expressam claramente seu desprezo ao governo Dilma, não falta nos altos escalões do esquerdismo quem diga que isso é a “elite” voltada contra “o povo”. Nunca imaginei que, mesmo no mais excelso patamar de desenvolvimento econômico concebível, pudesse uma nação ter sete por cento de povo e noventa e três por cento de elite.

Em plena efervescência geral contra a roubalheira petista, Frei Betto, André Singer e mais dois bonecos de ventríloquo se reúnem na Apeoesp para discutir “a ameaça conservadora aos direitos sociais”, quando é patente que em todos os protestos populares anti-Dilma ninguém disse uma palavra contra “direito social” nenhum, exceto o direito social de meter a mão nos cofres públicos.

Quando milhões de brasileiros estavam batendo panelas em protesto contra o último discurso da presidenta, um líder petista, com ares de quem revela preciosa inside information, afirmou “haver indícios” de que os partidos de oposição haviam “financiado o panelaço”. Até agora me pergunto como, por que meios, mediante quais artifícios bancários esotéricos seria possível financiar um panelaço.

E, é claro, não poderia faltar quem, rastreando as pistas mais sutis e inefáveis, visse no panelaço a mão sinistra do governo de Washington. William F. Engdahl, o Emir Sader americano, nosso já velho conhecido (v.http://www.olavodecarvalho.org/semana/100503dc.html ehttp://www.olavodecarvalho.org/semana/100623dc.html), jura até que o “Movimento Passe Livre” foi inventado pelo sr. Joe Biden para “desestabilizar o governo Dilma Rousseff”, quando no Brasil até as crianças sabem que foi criado pelo próprio governo Dilma Rousseff para desestabilizar a administração estadual paulista.

Em suma, aconteça o que acontecer, o cérebro da esquerda, em avançado estado de decomposição, já não sabe senão repetir os mesmos chavões de sessenta, setenta anos atrás, desejando ardentemente que a mentira repetida não apenas seja acreditada, mas adquira, pela força mágica da repetição, a virtude transfigurante de uma profecia auto-realizável.

É verdade que a debacle intelectual não traz necessariamente a derrota política. Ao contrário. A própria história do PT mostra que é possível um partido alcançar o cume do sucesso político justamente numa época em que, intelectualmente, o seu discurso já estava morto e enterrado. Mas, quando a glória política começa a declinar, não há sinal de impotência mais deplorável e patético do que o esforço de apegar-se, retroativamente, a um discurso já mil vezes desmoralizado. As mentiras repetidas podem, às vezes, passar por verdades. Mas, como todos os utensílios, têm um prazo de validade limitado.
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio. 
Do site: http://www.midiasemmascara.org    http://olavodecarvalho.org

A FILOSOFIA DO HOMEM COMUM

1. O capitalismo tal como é e tal como é visto pelo homem comum


O surgimento da economia como nova forma de conhecimento foi um dos eventos mais significativos da história da humanidade. Ao preparar o caminho para a empresa capitalista privada, ela transformou, em poucas gerações, todos os acontecimentos humanos de forma mais radical do que milhares de anos anteriores haviam conseguido. Do dia em que nascem até o dia em que morrem, os habitantes de um país capitalista são beneficiados a cada minuto pelos empreendimentos maravilhosos do modo capitalista de pensar e de agir. 

A coisa mais impressionante com relação à mudança sem precedentes das condições universais proporcionadas pelo capitalismo é o fato de ele ter sido realizado por um pequeno número de autores e por uma quantidade pouco maior de homens de estado que assimilaram os ensinamentos desses autores. Não apenas as massas indolentes mas também a maioria dos homens de negócios que, por meio do seu comércio, tornaram eficientes os princípios do laissez-faire não conseguiram compreender as formas essenciais como agem esses princípios. Mesmo no apogeu do liberalismo, somente alguns tiveram conhecimento integral do funcionamento da economia de mercado. A civilização ocidental adotou o capitalismo por recomendação de uma pequena elite. 

Houve, nas primeiras décadas do século XIX, muitas pessoas que perceberam o seu desconhecimento dos problemas em questão como uma grave falha e desejaram corrigi-la. No período decorrido entre Waterloo e Sebastopol, nenhum livro foi mais avidamente consumido na Grã-Bretanha do que os tratados sobre economia. Mas a moda logo passou. O assunto era intragável para o leitor comum. 

A economia é, por um lado, tão diferente das ciências naturais e da tecnologia e, por um outro, da história e da jurisprudência, que parece estranha e antipática ao iniciante. Sua peculiaridade heurística é vista com desconfiança pelos que pesquisam em laboratórios, arquivos ou bibliotecas. Sua peculiaridade epistemológica parece absurda para os fanáticos limitados do positivismo. As pessoas gostariam de encontrar num livro de economia aquilo que se enquadra perfeitamente com a imagem preconcebida que têm do que a economia deve ser, isto é, uma disciplina moldada de acordo com a estrutura lógica da física ou da biologia. Ficam confusas e desistem de lutar seriamente com problemas cuja análise requer um forte esforço mental. 

O resultado dessa ignorância é que as pessoas atribuem todo o aperfeiçoamento das condições econômicas ao progresso das ciências naturais e da tecnologia. Em seu modo de ver, prevalece no decorrer da história da humanidade uma tendência automática no sentido do avanço progressivo das ciências naturais experimentais e de sua aplicação na solução dos problemas tecnológicos. Essa tendência é irresistível e inerente ao destino da humanidade, e sua ação se exerce independentemente da organização política e econômica da sociedade. Ainda no modo de ver dessas pessoas, os inéditos progressos tecnológicos dos últimos duzentos anos não foram causados ou favorecidos pelas políticas econômicas da época, não foram uma conquista do liberalismo clássico, do livre comércio, dolaissez-faire e do capitalismo. Prosseguirão, portanto, sob qualquer outro sistema de organização econômica da sociedade. 

As doutrinas de Marx foram bem aceitas simplesmente porque adotaram essa interpretação popular dos acontecimentos e a recobriram com um véu pseudofilosófico que as tornou agradáveis tanto ao espiritualismo hegeliano quanto ao rude materialismo. No esquema de Marx, as "forças materiais produtivas" são uma entidade sobre-humana independente da vontade e das ações dos homens. Seguem seu próprio caminho que é determinado pelas impenetráveis e inevitáveis leis de um poder mais alto. Transformam-se misteriosamente e forçam a humanidade a ajustar sua organização social a essas transformações; porque as forças materiais produtivas evitam apenas uma coisa: ser aprisionado pela organização social da humanidade. A matéria essencial da história consiste na luta das forças materiais produtivas para se livrarem das algemas sociais pelas quais estão agrilhoadas. 

Outrora, ensina Marx, as forças materiais produtivas estavam contidas na forma da manufatura e, assim, harmonizaram as questões humanas de acordo com o padrão do feudalismo. Quando, posteriormente, impenetráveis leis que determinam a evolução das forças materiais produtivas substituíram a manufatura pela fábrica a vapor, o feudalismo teve que ceder lugar ao capitalismo. Desde então, as forças materiais produtivas se desenvolveram ainda mais e sua forma atual exige de modo imperativo a substituição do capitalismo pelo socialismo. Quem tentar impedir a revolução socialista está diante de uma árdua tarefa. É impossível deter a maré do progresso histórico. 

As ideias dos chamados partidos de esquerda diferem entre si de várias maneiras. Concordam, porém, em um ponto. Todos consideram o aperfeiçoamento material progressivo como um processo automático. O membro do sindicato norte-americano acha que o seu padrão de vida é garantido. O destino determinou que ele deve desfrutar do conforto que não estava ao alcance mesmo das pessoas abastadas das gerações anteriores e que ainda não está ao alcance de quem não é norte-americano. Não lhe ocorre que o "individualismo grosseiro" do mundo dos negócios possa ter desempenhado algum papel no surgimento do que se chama o "estilo de vida americano". A seus olhos, "administrar" corresponde às injustas pretensões dos "exploradores" que planejam despojá-lo do patrimônio que lhe cabe por nascença. Ele acha que, no curso da evolução histórica, há uma tendência incoercível ao contínuo aumento da "produtividade" do seu trabalho; julga evidente que os frutos desse progresso pertencem-lhe exclusivamente e por direito. Teria sido por seu mérito que — na era do capitalismo — (o quociente) entre o valor dos produtos gerados pelas indústrias processadoras e o número de mãos empregadas a produtividade tendeu a aumentar. 

A verdade é que o aumento da assim chamada produtividade do trabalho deve-se ao emprego de melhores ferramentas e máquinas. Cem operários numa fábrica moderna produzem numa unidade de tempo muito mais do que cem operários costumavam produzir nas oficinas dos artesãos pré-capitalistas. Tal progresso não depende de uma maior destreza, competência ou empenho da parte de cada operário. (De fato a competência do artesão medieval era muito superior à de inúmeras categorias das atuais manufaturas.) Decorre do emprego de ferramentas e de máquinas mais eficientes que, por sua vez, resultam da acumulação e do investimento de mais capital. 

Os termos capitalismo, capital e capitalista foram empregados por Marx e são hoje empregados pela maioria das pessoas — inclusive pelas agências oficiais de propaganda do governo dos Estados Unidos — com conotação infamante. Essas palavras, porém, indicam com pertinência o principal fator cuja ação produziu todos os empreendimentos maravilhosos dos últimos duzentos anos: a melhoria sem precedentes do padrão médio de vida para uma população constantemente maior. O que distingue as condições industriais modernas nos países capitalistas das condições das eras pré-capitalistas assim como das que existem hoje nos países chamados subdesenvolvidos é o volume de oferta de capital. Nenhum progresso tecnológico funciona se o capital necessário não for previamente acumulado por poupança. 

Poupar, acumular capital é a atividade que transformou, passo a passo, a complicada procura de alimento pelo homem das cavernas em formas modernas da indústria. Os arautos dessa evolução foram as ideias que criaram a estrutura institucional no interior da qual a acumulação de capital foi preservada através do principio da propriedade privada dos meios de produção. Cada passada em direção à prosperidade é efeito da poupança. Os mais engenhosos inventos tecnológicos seriam praticamente inúteis se os bens de capital indispensáveis ao seu uso não fossem acumulados pela poupança. 

Os empresários empregam os bens de capital tornados disponíveis pelos poupadores para a satisfação mais econômica das necessidades mais urgentes dentre as necessidades ainda não satisfeitas dos consumidores. Junto com os tecnólogos, na busca de aperfeiçoar os métodos de processamento, os empresários, próximos aos poupadores, desempenham papel ativo no curso dos acontecimentos, o que é chamado de progresso econômico. O resto da humanidade aproveita das atividades dessas três classes de pioneiros. Mas, quaisquer que sejam suas ações, eles apenas se beneficiam das mudanças para as quais nada contribuíram. 

O aspecto principal da economia de mercado está no fato de ela distribuir a maior parte das melhorias conseguidas pelos esforços das três classes progressistas — os que poupam, os que investem em bens de capital e os que elaboram novos métodos para a aplicação dos bens de capital — à maioria das pessoas não progressistas. A acumulação de capital que ultrapassa o aumento da população, por um lado, eleva a produtividade marginal do trabalho e, por outro, barateia os produtos. O processo do mercado oferece ao homem comum a oportunidade de colher os frutos fornecidos pelos feitos de outras pessoas. Ele força as três classes progressistas a servir da melhor maneira possível à maioria não progressista. 

Todos têm a liberdade de se juntarem às fileiras das três classes progressistas da sociedade capitalista. Elas não são castas fechadas. Ser membro delas não é privilégio concedido ao indivíduo por uma autoridade maior ou privilégio herdado de um antepassado. Também não são clubes, e seus membros não têm o direito de impedir a entrada de nenhum recém-chegado. O indispensável para tornar-se capitalista, empresário ou projetista de novos métodos tecnológicos é ter inteligência e força de vontade. O herdeiro de um milionário goza de certa vantagem pois começa em condições mais favoráveis que outros. Mas sua tarefa na disputa pelo mercado não é fácil e pode, às vezes, tornar-se mais cansativa e menos recompensadora do que a de um recém-chegado. Ele tem de reorganizar sua herança de modo a ajustá-la às mudanças das condições do mercado. Assim, por exemplo, os problemas que o herdeiro de um "império" ferroviário teve de enfrentar, nas últimas décadas, foram certamente mais complicados do que os encontrados por alguém que, vindo do nada, tenha entrado no transporte rodoviário ou aéreo. 

A filosofia popular do homem comum deturpa de modo lamentável todos esses fatos. No entender de Fulano de Tal, todas essas novas indústrias que lhe fornecem produtos desconhecidos de seu pai surgiram por obra de uma entidade mítica chamada progresso. A acumulação de capital, o empresariado e a inventividade tecnológica em nada contribuíram para a geração espontânea da prosperidade. Se alguém tem de ser favorecido com o que Fulano de Tal julga ser um aumento da produtividade do trabalho, deve ser o operário na linha de montagem. Infelizmente, nesta terra cheia de pecados há a exploração do homem pelo homem. O mundo dos negócios rapa tudo e deixa, como indica o Manifesto Comunista, ao criador de todas as coisas boas, ao trabalhador manual, apenas "o de que ele necessita para o seu sustento e para a propagação de sua raça". Em consequência, "o operário moderno, em vez de acompanhar o progresso da indústria, afunda cada vez mais... Torna-se um indigente, e a indigência cresce mais rápido do que a população e a riqueza". Os autores dessa descrição da indústria capitalista são considerados nas universidades como os maiores filósofos e benfeitores da humanidade; seus ensinamentos são aceitos com respeito e reverência por milhões de pessoas cujas casas, além de outros acessórios, estão equipadas com aparelhos de rádio e de televisão. 

A pior exploração, segundo professores, líderes "trabalhistas" e políticos, é a efetuada pelos grandes negócios. Eles não percebem que a característica dos grandes negócios é a produção em massa a fim de satisfazer as necessidades das massas, no regime capitalista, os próprios operários são, direta ou indiretamente, os principais consumidores de tudo o que as fábricas estão produzindo. 

No início do capitalismo, ainda havia um considerável lapso de tempo entre o surgimento de uma novidade e o momento em que ela se tornava acessível às massas. Há aproximadamente sessenta anos, Gabriel Tarde tinha razão ao afirmar que uma inovação industrial é a extravagância de uma minoria até tornar-se a necessidade de todos; o que antes era considerado extravagância tornava-se depois um requisito habitual de tudo e de todos. Essa afirmação ainda cabia com respeito à popularização do automóvel. Porém, a produção em larga escala pelas grandes empresas diminuiu e quase eliminou esse lapso de tempo. As modernas inovações só podem ser produzidas com lucro se estiverem de acordo com os métodos da produção de massa e, então, tornarem-se acessíveis a todos no exato momento de seu lançamento. Não houve, por exemplo, nos Estados Unidos, nenhum período, em que se pudesse notar que desfrutar de inovações tais como televisão, meias de náilon ou comida enlatada para bebês era reservado a uma minoria abastada. Os grandes negócios tendem, na verdade, a uma padronização das formas de consumo e de divertimento do povo. 

Ninguém sofre necessidade na economia de mercado pelo fato de algumas pessoas serem ricas. As posses dos ricos não são a causa da pobreza de ninguém. O processo que torna algumas pessoas ricas é, ao contrário, o corolário do processo que aumenta a satisfação das necessidades de muitos. Os empresários, os capitalistas e os tecnólogos prosperam na medida em que melhor atendem aos consumidores. 

2. A frente anticapitalista

Desde o início do movimento socialista e dos esforços para restaurar as políticas intervencionistas das eras pré-capitalistas, tanto o socialismo quanto o intervencionismo ficaram totalmente desacreditados aos olhos dos que entendem de teoria econômica. Mas as ideias dos revolucionários e dos reformadores encontraram respaldo junto à grande maioria de pessoas ignorantes levadas exclusivamente pelas fortes paixões humanas de inveja e de ódio. 

A filosofia social do Iluminismo, que preparou o caminho para a efetivação do programa liberal — liberdade econômica, consumada na economia de mercado (capitalismo), e no seu corolário constitutivo, o governo representativo —, não propôs a extinção dos três velhos poderes: monarquia, aristocracia e Igreja. Os liberais europeus preconizavam a substituição do absolutismo real pela monarquia parlamentar, e não o estabelecimento de um governo republicano. Queriam abolir os privilégios dos aristocratas, mas não destituí-los de seus títulos, brasões e patrimônio. Lutavam para garantir a todos a liberdade de consciência e para terminar com a perseguição de dissidentes e hereges, mas também preocupavam-se em conceder a todas as Igrejas e seitas a mais perfeita liberdade para a consecução de seus objetivos espirituais. Assim, os três grandes poderes do ancien regime foram preservados. Podia-se esperar que príncipes, aristocratas e clérigos, que infatigavelmente declaravam seu conservadorismo, estivessem preparados para fazer oposição ao ataque socialista dirigido aos valores da civilização ocidental. Afinal de contas, os arautos do socialismo não esconderam que, sob o totalitarismo socialista, não sobrava lugar para o que eles chamaram, de remanescentes da tirania, do privilégio e da superstição. 

Entretanto, até nesses grupos privilegiados, o ressentimento e a inveja prevaleceram sobre o raciocínio isento. Praticamente eles ficaram de braços dados com os socialistas, desprezando o fato de o socialismo propor também o confisco de seus bens e o de não poder haver nenhuma liberdade religiosa sob um regime totalitário. O Hohenzollern na Alemanha inaugurou uma política que foi chamada por um observador norte-americano de socialismo monárquico[1]. Os autocráticos Romanoffs da Rússia usaram o sindicalismo trabalhista como arma contra os esforços "burgueses" no sentido de estabelecer um governo representativo.[2] Em todos os países europeus, os aristocratas virtualmente cooperaram com os inimigos do capitalismo. Por toda parte, eminentes teólogos tentaram desacreditar o sistema de livre empresa e, como consequência, apoiar tanto o socialismo quanto o intervencionismo radical. Alguns dos mais destacados líderes do protestantismo atual — Barth e Brunner na Suíça, Miebuhr e Tillich nos Estados Unidos, e o último arcebispo de Canterbury, William Temple — condenam abertamente o capitalismo e ainda atribuem às supostas falhas do capitalismo a responsabilidade por todos os excessos do bolchevismo russo. 

É de se perguntar se Sir William Harcourt estava certo quando, há mais de 60 anos, proclamou: Agora somos todos socialistas. O fato é que hoje, governos, partidos políticos, professores e escritores, ateus militantes e teólogos cristãos são praticamente unânimes em rejeitar apaixonadamente a economia de mercado e em louvar os supostos benefícios da onipotência do estado. A geração presente está sendo educada num ambiente preso às ideias socialistas. 

A influência da ideologia pró-socialista contribui para o modo como a opinião pública, quase sem exceção, explica as razões que induzem as pessoas a filiar-se aos partidos socialistas ou comunistas. Ao lidar com a política interna, supõe-se que "natural e necessariamente" os que não são ricos são favoráveis aos programas radicais — planejamento, socialismo, comunismo —, ao passo que apenas os ricos têm motivos para votar pela preservação da economia de mercado. Esta suposição dá como evidente a principal ideia socialista segundo a qual os interesses econômicos das massas são prejudicados pela ação do capitalismo, em proveito exclusivo dos "exploradores", e que o socialismo elevará o padrão de vida do homem comum. 

Contudo, as pessoas não desejam o socialismo porque sabem que o socialismo vai melhorar suas condições de vida, nem rejeitam o capitalismo porque sabem que é um sistema nocivo a seus interesses. São socialistas porque creem que o socialismo vai melhorar suas condições de vida e odeiam o capitalismo porquecreem que ele as prejudica. São socialistas porque estão cegas pela inveja e pela ignorância. Recusam-se obstinadamente a estudar economia e desprezam a devastadora crítica que os economistas fazem ao planejamento socialista porque, a seus olhos, por ser uma teoria abstrata, a economia é simplesmente absurda. Fingem acreditar apenas na experiência. Mas também obstinadamente recusam-se a tomar conhecimento de inegáveis fatos da experiência, como, por exemplo, que o padrão de vida do homem comum é incomparavelmente mais elevado na América capitalista do que no paraíso socialista soviético. 

Ao lidar com a situação dos países economicamente atrasados, os indivíduos mostram o mesmo raciocínio errôneo. Acham que esses povos devem simpatizar "naturalmente" com o comunismo porque estão atingidos pela pobreza. É óbvio que as nações pobres querem livrar-se da penúria, na busca de melhora das suas condições insatisfatórias, elas devem, portanto, adotar o sistema de organização econômica da sociedade que melhor atenda a esse objetivo; devem decidir a favor do capitalismo. Iludidas, porém, por hipotéticas ideias anticapitalistas, elas tornam-se favoráveis ao comunismo. De fato, é bem paradoxal que os líderes desses povos orientais, ao mesmo tempo em que invejam a prosperidade das nações ocidentais, rejeitam os métodos que trouxeram prosperidade ao ocidente e se deixam fascinar pelo comunismo russo que mantém pobres os russos e seus adeptos. E, mais paradoxal ainda, é o fato de os norte-americanos, que desfrutam dos produtos gerados pela empresa capitalista exaltarem o sistema soviético e considerarem perfeitamente "natural" que os países pobres da Ásia e da África prefiram o comunismo ao capitalismo. 

As pessoas podem discordar quanto a saber se todos devem estudar economia a fundo. Mas uma coisa é certa. O homem que fala em público ou escreve sobre a oposição entre capitalismo e socialismo, sem estar bem familiarizado com tudo o que a economia tem a dizer sobre o assunto, não passa de um tagarela irresponsável. 



NOTAS

[1] Cf. Elmer Roberts, Monarchical Socialism in Germany, New York, 1913.

[2] Cf. Mania Gordon, Workers Before and After Lenin, New York, 1941, pp. 30e seg.

Capítulo 1 - As Características Sociais do Capitalismo e as Causas Psicológicas de seu Descrédito[índice]Capítulo 3 - A Literatura sob o Capitalismo 
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Ludwig von Mises  foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico.  Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política.  Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico.  Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".

quinta-feira, 26 de março de 2015

Teologia da Libertação (da KGB) - pt 3-3

Desejo x Vontade

Marco Villa - Um País Abandonado - 23/03/2015

DEMOCRACIA, CRISES, INTELECTUAIS E FALSA OPOSIÇÃO - AS ARMAS DO ESTADO E O PAPEL DOS LIBERTÁRIOS


Democracia, quando a tirania inicia a sua eternização

A democracia criou praticamente todas as ditaduras do mundo. Não é de hoje que isso acontece e não é à toa que boa parte das piores ditaduras carrega palavras derivadas de "democracia" no nome. 

Por exemplo, a Coreia do Norte se chama República Democrática Popular da Coreia; o Camboja na época do Pol Pot se chamava Kampuchea Democrático; a Alemanha Oriental se chamava República Democrática da Alemanha, e p Laos se chama República Democrática Popular Lau.

Em suma, geralmente um país com alguma alusão à democracia no nome está muito longe de ser um país livre.

A palavra democracia é enganosa. Ela não nos garante a liberdade e nem a proteção dos nossos "direitos". Pelo contrário, é ela quem vai sepultá-las de vez.

Não é necessário voltar muito no tempo para perceber isso. A escolha da maioria ou a eleição daqueles que mais obtiveram votos nunca foi o meio mais eficiente de garantir os direitos dos indivíduos numa sociedade. Colocar nas mãos de uma população a escolha de um governante não é muito diferente de um grupo de escravo escolher o seu capataz.[1]

O que acontece exatamente quando temos uma democracia? Nada mais do que a violação, agora legalizada, ao direto à propriedade privada feita por uma maioria sobre uma minoria. Uma parcela da população irá querer que a outra pague por seus estudos, por seus tratamentos médicos, por sua segurança, por seus transportes, por seus subsídios, por seu assistencialismo e assim por diante.

Como explicou Hans-Hermann Hoppe:

Dado que o homem é como ele é, em todas as sociedades existem pessoas que cobiçam a propriedade de outros.[...] 

Quando a entrada no aparato governamental é livre, qualquer um pode expressar abertamente seu desejo pela propriedade alheia. O que antes era considerado imoral e era adequadamente suprimido, agora passa a ser considerado um sentimento legítimo. Todos agora podem cobiçar abertamente a propriedade de outros em nome da democracia; e todos podem agir de acordo com esse desejo pela propriedade alheia, desde que ele já tenha conseguido entrar no governo. Assim, em uma democracia, qualquer um pode legalmente se tornar uma ameaça.

Consequentemente, sob condições democráticas, o popular — embora imoral e anti-social — desejo pela propriedade de outro homem é sistematicamente fortalecido. Toda e qualquer exigência passa a ser legítima, desde que seja proclamada publicamente. Em nome da "liberdade de expressão", todos são livres para exigir a tomada e a consequente redistribuição da propriedade alheia. Tudo pode ser dito e reivindicado, e tudo passa a ser de todos. Nem mesmo o mais aparentemente seguro direito de propriedade está isento das demandas redistributivas. 

Pior: em decorrência da existência de eleições em massa, aqueles membros da sociedade com pouca ou nenhuma inibição em relação ao confisco da propriedade de terceiros — ou seja, amorais vulgares que possuem enorme talento em agregar uma turba de seguidores adeptos de demandas populares moralmente desinibidas e mutuamente incompatíveis (demagogos eficientes) — terão as maiores chances de entrar no aparato governamental e ascender até o topo da linha de comando. Daí, uma situação ruim se torna ainda pior.

Isso explica o porquê de os partidos declarados de esquerda terem obtido sucesso nas eleições. A bandeira da esquerda sempre foi essa e os partidos que se dizem de "direita" acabam abraçando boa parte dos programas da esquerda para conseguir votos.

A prova disso é que não são raros os direitistas que hoje adotam as propostas de F.A. Hayek e Milton Friedmanapenas para isso.[2]

A crise amiga

O que acontece hoje?

Não é um cenário muito diferente do que ocorreu após o crash de 1929 e a consequente Grande Depressão. Crises sempre fazem com que muitas pessoas se convençam de que políticas autoritárias, medidas antimercado e confisco de propriedades privadas sejam a solução. As crises sempre são estranhamente prolongadas e não seria surpreendente se fosse de propósito.
"Por que você não pode dar um emprego ao meu pai?"Certamente a resposta certa seria "Porque o governo não deixa."
No entanto, não há como provar isso, ainda que se possa mostrar premissas que evidenciem tal suspeita. A maioria da população em si sempre é instruída a cobrar algo do governo e sempre olha para os mais bem sucedidos com um ar de inveja achando que os bem sucedidos devem obrigatoriamente colaborar mais com a "sociedade".


Quando ocorre uma crise econômica os mais pobres sempre são os mais atingidos, e, ao ver os mais ricos menos atingidos e ainda demitindo seus empregados, a esquerda acaba se aproveitando da situação.

Não é difícil entender a estratégia da esquerda nessa parte. Primeiramente, em qualquer sociedade, os mais ricos compõem uma minoria numérica por serem os empregadores dos mais pobres, que são a maioria. Em seguida, basta gerar uma crise. Mas como gerar?

O estado tem uma arma e tanto para isso: o monopólio da moeda. Dado que o dinheiro representa a metade de toda a qualquer transação econômica, qualquer manipulação do dinheiro pode gerar crises. E, com o monopólio sobre a moeda garantido, o governo tem o virtual controle da economia.

Vamos supor que o governo gere uma crise de inflação: a inflação nada mais é do que uma expansão monetária — ou seja, um aumento da quantidade de dinheiro. O governo não pode simplesmente distribuir o dinheiro para a população, mas ele pode colocar esse dinheiro na economia utilizando o sistema bancário — que irá conceder empréstimos a pessoas e empresas — ou incorrendo em déficits orçamentários que também são financiados por empréstimos bancários.

Com esse aumento da oferta monetária, o valor de cada unidade monetária cai, e os preços e custos sobem. Quem percebe isso é quem oferta o bem, o empresário, o empregador, o capitalista. Ao perceberem o aumento da oferta monetária, os empresários aumentam o preço dos produtos que ofertam para evitar a escassez dos mesmos, e o nome dado isso é remarcação dos preços. Nessa hora o governo acaba colocando toda a população contra os empresários, acusando-os de "abusadores", "ladrões" e outros adjetivos pouco elogiosos.

Isso aconteceu no Brasil durante a gestão do presidente José Sarney com o fracassado Plano Cruzado, quando foram convocados os "fiscais do Sarney". Os fiscais do Sarney (os próprios clientes) basicamente denunciavam os aumentos "abusivos" de preços e a Sunab (Superintendência Nacional do Abastecimento) se encarregava de multar e fechar a lojas e ainda chamar a polícia para prender os funcionários e os gerentes.

O Brasil da Era Sarney em pouco diferia da Venezuela de Chávez e Maduro, apesar de a Venezuela enfrentar uma ditadura por muito mais tempo.

Outra forma de gerar uma crise é pela expansão de crédito para populares. Mises observou que, com o surgimento dos bancos, surgia a expansão do crédito sem um equivalente aumento da poupança, pois os bancos podem simplesmente criar dinheiro do nada.

Mises afirmou que o "pai da expansão de crédito foi o banqueiro e não a autoridade pública", e continuou:

Hoje, entretanto, a expansão de crédito é exclusivamente uma prática governamental. A participação dos bancos e banqueiros privados na emissão de meios fiduciários [o dinheiro criado pelos bancos] é subalterna e limitada a aspectos técnicos. São os governos que comandam o funcionamento da atividade bancária; são eles que determinam as circunstâncias de todas as operações creditícias.

Enquanto os bancos privados, no mercado não obstruído, têm a sua capacidade de expandir o crédito estritamente limitada, os governos procuram expandir ao máximo o volume de créditos injetados na economia. A expansão do crédito é a principal ferramenta do governo na sua luta contra a economia de mercado. É a varinha de condão que trará a abundância de bens de capital, que diminuirá a taxa de juros ou a abolirá de uma vez por todas, que financiará o desperdício dos gastos públicos, que expropriará os capitalistas, que conseguirá promover o boom permanente e tornar prósperas todas as pessoas.

A Grande Depressão surgiu com a expansão de crédito mais diversas outras medidas inflacionárias, e se agravou ainda mais com diversos programas intervencionistas que dificultaram a abertura de empresas e criação de empregos, o que, por consequência, provocou o fechamento de diversas empresas e demissões em massa.

Intelectuais e o controle das massas

Da esquerda para direita em sentido horário: Marilena Chauí, Juca Kfouri, Emir Sader e Leonardo Sakamoto. Exemplos de intelectuais a serviço de defender o estado
Agora, vamos a uma outra questão: como convencer a multidão de incautos e desavisados?

Vamos pensar em um ambiente em que esse povo tenha de necessariamente ler e absorver informações. O estado não quer que as pessoas absorvam os valores da família e de escolas independentes, não credenciadas pelos burocratas MEC. Logo, a primeira coisa que ele fará é obrigar os pais a colocarem os seus filhos crianças na escola (credenciada pelo MEC) e proibi-las de trabalhar. 

A segunda fase é escolher o material que será estudado.

Obviamente não haverá tanta doutrinação na matemática e nas ciências naturais e exatas, mas haverá muita nos estudos sociais e história. Os autores escolhidos serão os que mais defendem o estado. Geralmente serão os que possuem forte influência de Marx e seus influenciados (Lukács, Adorno, Marcuse, Gramsci etc) e mais os iluministas franceses (principalmente Montesquieu, Rousseau, Robespierre, etc) e influenciados (Deleuze e Foucault).

A doutrinação nas instituições de ensino está formada, mas não é o suficiente. É necessário espalhar na mídia: televisão, jornais, revistas, rádio, internet etc.

Em ditaduras declaradas, como na China de Mao, estatizar todos os veículos de comunicação foi o suficiente, assim como na Coreia do Norte. No entanto, na América Latina, como há uma democracia, a liberdade de faz-de-conta é necessária. É necessário formar pessoas que formam opiniões. Consequentemente, o estado contrata os intelectuais.

O papel do estado é esse: formar intelectuais para disseminar opiniões favoráveis a ele mesmo. Provar que a melhor solução para um problema que jamais existiria sem o estado é o próprio estado. Rothbard explica:

É evidente que o estado precisa de intelectuais; mas não é algo tão evidente por que os intelectuais precisam do estado. Posto de forma simples, podemos afirmar que o sustento do intelectual no livre mercado nunca é algo garantido, pois o intelectual tem de depender dos valores e das escolhas das massas dos seus concidadãos, e é uma característica indelével das massas o fato de serem geralmente desinteressadas de assuntos intelectuais.

O estado, por outro lado, está disposto a oferecer aos intelectuais um nicho seguro e permanente no seio do aparato estatal; e, consequentemente, um rendimento certo e um arsenal de prestígios. E os intelectuais serão generosamente recompensados pela importante função que executam para os governantes do estado, grupo ao qual eles agora pertencem.

A partir daí, o pensamento favorável ao estado começa a ser cada vez mais consolidado. O estado patrocina esses intelectuais para que eles o defendam mesmo que seja da maneira mais refutável e ridícula possível.

Esses intelectuais fazem verdadeiras apologias ao crime, defendendo aumento de impostos, censura (para defender a "regulação da mídia" usarão de diversos tipos de preconceito, "discurso de ódio", "terrorismo eleitoral" etc.), violações de propriedade (expropriação, movimentos terroristas como o Movimento dos "Trabalhadores" Sem-Terra, etc.) e até mesmo que a população seja proibida de garantir a própria segurança (desarmamento civil).

Eles não hesitarão em mentir também, dizendo que as crises são solucionadas pelo estado e que apenas ele pode prover certos bens como hospitais, escolas e serviço judiciário.

A falsa oposição

Jair Bolsonaro e Marco Feliciano: juntos eles criaram mais esquerdistas do que todos os militantes do PT juntos.
Quando se estabelece o controle estatal sobre a mídia — que pode ser na base da força bruta como na Venezuela ou em forma de agrado, como são as concessões no Brasil —, o estado passa a criar um falsa oposição. Intelectuais que podem até atacar o governo da situação, mas sempre de maneira caricata. E, que o ataque seja mais agressivo, ele ainda assim defenderá uma forma de estado, e nunca muito diferente do governo da situação.

Criar uma oposição para fortalecer a situação não é uma ideia nova. O estado sempre consegue se fortalecer mesmo que seja criando uma falsa oposição. Sempre surgirão pequenas aberrações que acabam justificando, por parte do governo da situação, um meio de se fortalecer na opinião pública.

No caso de um governo de esquerda, como acontece no Brasil, podemos citar os defensores do Regime Militar, que acabam servindo de propaganda negativa, já que são claros defensores de uma suposta ditadura "de direita", que de direita não tinha absolutamente nada.

Em um simples parágrafo Mises explicou bem:

Um movimento 'anti-qualquer-coisa' demonstra uma atitude puramente negativa. Não tem a menor chance de sucesso. Suas críticas acerbas virtualmente promovem o programa que atacam. As pessoas devem lutar por algo que desejam realizar e não simplesmente evitar um mal, por pior que seja.
O papel dos libertários militantes


Murray N. Rothbard, exemplo de libertário militante.
O libertário é aquele que é partidário da liberdade, ou seja, defensor do direito natural à propriedade privada e, consequentemente, aquele que condena a sua violação. Porém, são poucos os que participam de militâncias. Ao contrário dos militantes de esquerda ou direita, os libertários não recorrem a agressões e vandalismo. A preferência sempre será pela militância acadêmica, com artigos, palestras, publicações de livros e financiamentos de projetos que podem ajudar a fugir da agressão estatal.

Podemos dizer que o libertário militante utiliza um meio parecido com aquele que o estado usa, mas com diferenças cruciais. 

A primeira é que ele não usa recursos obtidos por meios criminosos. Ao passo que o estado sempre financia os seus intelectuais com dinheiro roubado devido à sua incapacidade de gerar riquezas, os libertários se financiam com o suor do próprio rosto.

Outra diferença é que o libertário tem a realidade a seu favor. Apontar falhas do estado é facílimo, já os intelectuais do estado precisam inventar estatísticas mirabolantes, fazer malabarismo argumentativo ou simplesmente inventar uma mentira que servirá de desculpa. No entanto, contra o libertário há o poderoso arsenal de marketing do estado. E esse é muito forte.

Ainda assim, mesmo com o poderoso marketing estatal — que conta com recursos virtualmente infinitos — jogando contra, o libertarianismo tem crescido muito. A própria propaganda negativa por parte da massa de manobra (os famosos idiotas úteis) tem ajudado.

O problema é que o financiamento de atividades não ligadas à propaganda negativa ainda faz gerar muitos estatistas. Mas é visível que, quando a crise de um governo se torna insustentável, os próprios libertários militantes têm se apressado em apontar as grotescas falhas que geraram tais crises. Ainda existem os extremo-esquerdistas que acreditam que a solução é o governo controlar tudo, mas as fracassadas experiências de governos comunistas denunciam a sua ignorância.

Está cada vez mais evidente para os incautos que a liberdade é a solução e que apenas uma sociedade livre, sem o governo atrapalhando e com total respeito à propriedade, é que gera a prosperidade e a paz. Não basta a liberdade ser um fim. A sua defesa deve ser o meio.



[1] Claro que me inspirei no grande anarco-individualista Lysander Spooner que escreveu:
"A man is none the less a slave because he is allowed to choose a new master once in a term of years."
"Um homem não é menos escravo só porque pode escolher um novo mestre a cada mandato." em tradução livre.
Lysander Spooner; No Treason: The Constitution of No Authority (Boston, 1867), p. 24

[2] Hayek e Friedman na verdade sempre foram social-democratas. O próprio Mises chamou ambos e toda a Sociedade Mont Pelerin de "um bando de socialistas".  (Ver aqui em artigo e aqui em vídeo).


Luciano Takaki é economista, praxeologista, libertário radical e colunista do Instituto Liberal.
 

quarta-feira, 25 de março de 2015

ESPIRITUALIDADE E PENSAMENTO LIBERAL


O Instituto Liberal está com uma nova série chamada “Espiritualidade e pensamento liberal”, criada por Lucas Berlanza, que tenta compreender melhor, por meio de entrevistas, qual a possível ligação entre religião e liberalismo. Fui o primeiro entrevistado da série. Segue a entrevista abaixo:

Neste primeiro momento, começarei sempre pedindo ao entrevistado uma definição básica de sua crença. No seu caso, como se apresenta como ateu, pergunto apenas: esse ateísmo consiste na negação convicta de que Deus existe, ou está mais para o agnosticismo (isto é, haveria dúvida, com tendência a negar)?

Está mais para um agnosticismo filosófico. Se não há provas, então não posso afirmar que Deus existe. Mas o ateísmo militante, que garante a não-existência, parece insustentável também. Não se prova a inexistência de algo usando o conceito de refutabilidade popperiana. Quando me digo ateu, é mais porque todos somos “ateus” em relação aos deuses dos outros. Ninguém hoje se diz “agnóstico” em relação a Zeus. Mas quando se trata do conceito mais amplo e abstrato de “uma força superior” ou um “criador” de tudo isso, acho que o agnosticismo é mesmo a postura filosófica mais adequada.

Para firmar sua convicção como ateu, você teve alguma influência de autores com a mesma posição ou é apenas uma disposição pessoal isolada? Se você se inspira em alguns, quais seriam eles? As produções textuais desses autores, se existem, têm alguma implicação política?

Se não me falha a memória, foi com 16 ou 17 anos que me defini como ateu. O caminho foi o comum: questionamentos e reflexões sobre a incoerência de alguns postulados religiosos, e o dilema atribuído a Epicuro: Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. É capaz, mas não deseja? Então é malevolente. É capaz e deseja? Então por que o mal existe? Não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus? Com o tempo, passei a ler alguns ateus sim, como George H. Smith, Dawkins, Sam Harris, Michel Onfray. Acho que há implicação política nesses escritos, e hoje entendo que há um lado negativo também, pois o que começa como apelo à racionalidade e à tolerância pode muito bem terminar como uma nova forma de seita irracional e intolerante.

Como você encara a “religião”? O que é a religião para você, e qual o lugar dela no mundo?

Vejo a religião como uma tentativa de o ser humano se “re-ligar” a um sentido pleno para a própria vida, a algo maior que justifique nossa existência e, talvez mais importante ainda, console nossa finitude. Talvez seja uma forma primitiva de filosofia, talvez seja a filosofia possível para as massas. Não um ópio, como dizia Marx, mas uma espécie de amuleto necessário para muitos, sob o risco de caírem no niilismo destrutivo sem ele. A busca de algo mais elevado, eterno, em meio a uma vida um tanto sem sentido e efêmera. Pode despertar sentimentos nobres, e pode, se virar dogmatismo exacerbado, descambar para o fundamentalismo intransigente.

A religião é constantemente apontada como motivação para conflitos políticos, guerras, opressões das mais variadas espécies, sendo isso normalmente feito por teóricos e militantes de esquerda – na maioria das vezes, apontando suas munições contra as tradições cristãs, preponderantes no que se convencionou chamar de Ocidente. Analisando a questão sob o ponto de vista mais genérico, e também especificando na forma como ela é tratada no mundo ocidental atualmente, você concorda com essa ideia de que a religião seria uma grande vilã na história humana?

Não. Acho que já foi pretexto para muito conflito, sem dúvida, e é tolice negar um fato histórico, mas é absolutamente ingênuo e romântico colocar a culpa na religião em si, como se fosse possível viver em paz eterna só abandonando Deus. O homem lutaria pela ideologia (uma religião secular), pelo time de futebol, pela propriedade, etc. A música de John Lennon, “Imagine”, especula como seria lindo abrir mão da religião e todos viverem felizes em comunhão. Isso é utopia. Uma perigosa utopia. Os comunistas atacaram as religiões, criando uma laica muito mais fanática, e deu no que deu. Os jacobinos, antes dos bolcheviques, também atacaram com fúria e ódio a religião, sem perceber que a sua fé nada tinha de racional. A Notre Dame virou o “templo da razão”, de forma arrogante, enquanto vidas inocentes eram ceifadas pelas guilhotinas do Terror. A esquerda ataca a religião pois quer o monopólio da virtude e de nossas consciências. Se não temos as respostas básicas, então sejamos tolerantes de verdade, em vez de endossar uma cartilha que supostamente já chegou a todas as respostas de maneira “racional”.

Há também os que afirmam o contrário; para eles, seriam religiosas as matrizes culturais das maiores conquistas da civilização, e os princípios políticos e éticos mais eficazes e nobres – normalmente, sob uma perspectiva liberal ou conservadora – viriam dessa fonte. Em que medida estão certos ou errados os que o afirmam? De que maneira um ateu pode encarar essa ideia?

Estão parcialmente certos, creio eu. Sem dúvida a religião contribuiu com muito dos valores da civilização ocidental. O próprio foco no indivíduo terá ligação com o Cristianismo. Mas os conservadores que lembram esse legado positivo costumam ignorar o lado mais sombrio, talvez por se colocarem na defensiva contra a difamação da esquerda. Um índice de livros proibidos, por exemplo, é inadmissível do ponto de vista liberal, assim como tantas atitudes bárbaras da Inquisição. É preciso ter em mente que as religiões foram “domesticadas” no Ocidente. O Iluminismo, especialmente o francês racionalista, merece muitas críticas pela arrogância, mas serviu para importantes conquistas que mitigaram os riscos do fanatismo religioso.

O que você, como ateu e liberal clássico, pensa sobre as discussões entre religião e política na atualidade? Qual seria o ponto de interseção, onde deveria haver maior afastamento? Qual a intensidade exata em que uma pode se fazer presente na outra?

Sou defensor, naturalmente, de um Estado laico, ou seja, que separa a religião do Estado, por entender que cada cidadão tem direito à sua própria crença e que o Estado não deve ter uma religião oficial. Mas acho que fomos longe demais com esse conceito, e hoje Estado laico mais parece Estado antirreligioso. As pessoas acham que as crenças religiosas devem ficar totalmente afastadas de qualquer debate público, mas isso não faz sentido se muitos valores morais são derivados das crenças religiosas. E achar que é possível responder a todos os dilemas éticos com base somente na razão é um tanto arrogante e temerário. Logo, estou com Michael Sandel nessa: o Estado não deve ser religioso, mas os religiosos podem trazer ao debate público suas crenças e tentar influenciar as decisões coletivas com base nelas.

Que benefícios uma ordem liberal pode trazer às mais diversas comunidades religiosas? Você acredita que a maioria dos religiosos está disposta a compreender esses benefícios?

O maior benefício é garantir a própria liberdade religiosa e de consciência. Política é a decisão da maioria, e a grande conquista ocidental foi preservar os direitos das minorias nesse modelo. O risco para o crente que defende mais simbiose entre religião e Estado é viver sob uma maioria que adota uma fé diferente da sua. Como fica? Logo, o melhor mecanismo de defesa é a ordem liberal, para que cada um tenha garantida a sua própria fé, sem medo de retaliação ou punição pelo “crime” de apostasia ou heresia. Acho que muitos religiosos já compreendem bem isso. Minorias religiosas costumaram ser perseguidas historicamente, e perseguiram outras quando tomaram o poder. O melhor antídoto é defender como um princípio básico e inegociável o direito independente de crença religiosa.

Por fim, você considera que temos um debate cultural interessante a provocar, estimulando integrantes de comunidades religiosas a promover um diálogo entre suas correntes e o pensamento liberal, chamando a atenção de seus companheiros de crença para a reflexão sobre o tema?

Sim, acho que é uma iniciativa válida, mas deve ser tratada com cautela. Mises, um grande liberal, achava que o liberalismo não devia se meter com religião, pois um fala de coisas terrenas, e outro do pós-morte. Não concordo muito, pelos motivos expostos acima, mas entendo seu receio: o tema religioso pode produzir faíscas e brigas até mesmo dentro de grupos liberais, pois é caro demais aos religiosos. O desafio é trazer o assunto religião para o debate liberal sem produzir ressentimento nas partes envolvidas. Acho louvável a empreitada. Existem muitos religiosos liberais por aí, e muitos ateus autoritários. A crença religiosa não define a postura ideológica. O liberal saberá respeitar a crença alheia, e defender uma postura de tolerância, dentro dos limites da própria sobrevivência da tolerância e das liberdades individuais básicas.
Por: Rodrigo Constantino  Do site:http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/

POR QUE A ESQUERDA SE CORROMPE TÃO FACILMENTE?


Por que os jovens esquerdistas se corrompem quando velhos?

Não me refiro à corrupção financeira, mas a corrupção de seus mais queridos valores. 

Veja o caso do líder supremo da esquerda brasileira, a cabeça pensante do PT, o guerreiro do povo brasileiro – José Dirceu. 

Tendo se aposentado aos 66 anos, mesmo que involuntariamente, em vez de se dedicar à filantropia, ao ensino, aos netos, ele passa a buscar avidamente o enriquecimento.

O primeiro cliente de sua consultoria foi nada mais nada menos do que um capitalista dos mais ricos do mundo, Carlos Slim.

Pior, de uma multinacional.

Pior ainda, com a intenção de ser oligopolista no setor da banda larga.

Que ética é essa Dirceu, e seus valores? 

Dirceu passou a vida inteira combatendo os trustes internacionais, o capital estrangeiro, a má distribuição da renda, os monopólios; e agora, por dinheiro, quer ajudar uma multinacional a ter o monopólio da Banda Larga.

E mais, agora descobrimos que ele prestava consultoria para três empreiteiras brasileiras, UTC, OAS e Galvão Engenharia, empreiteiras que têm contratos com o governo. 

Era necessário, o líder supremo da esquerda brasileira, ganhar dinheiro justamente com seus ex inimigos?

Ele não poderia ser menos ganancioso, e ganhar os mesmos R$ 30.000,00 por mês dando palestras?

Sem vínculo nenhum, divulgando seus conhecimentos para a plateia, em vez de vender “insider information” e tráfico de influências para três empreiteiras? 

Posso entender uma freira, depois de 30 anos, se desiludir e abandonar a sua religião e ética religiosa. 

Mas daí se tornar dona de um puteiro já é demais.

Não entendo como tantos jovens brasileiros ainda acreditam no PT, no PSOL, no PSDB, no PMDB.

E como Dirceu, dezenas de líderes da esquerda que em vez de trabalhar em ONGs como voluntários, foram vender seus préstimos a banqueiros e empreiteiros.

Se prostituíram em seus valores. 

Por que a esquerda se vende na velhice?

Esta é a verdadeira questão. Muito simples.

Enquanto Dirceu fazia política estudantil, eu e tantos outros, hoje considerados de direita, estudávamos. 

Enquanto José Dirceu gastava tempo com dezenas de mulheres, no conhecido “Antro do Dirceu”, nós nos preparávamos para sustentar uma única mulher, a mãe de nossos filhos que prometemos cuidar.

Enquanto ele foi estudar em Cuba métodos de guerrilha, eu fui estudar em Harvard, Administração Responsável das Nações. 

Enquanto ele torrava seu dinheiro em presentes para as mulheres, eu poupava. 

Eu também trabalhei para o governo, portanto isto não é desculpa.

Tenho três amigos de esquerda que aos 50 anos me confessaram que tinham pesadelos à noite, sonhavam que se tornariam mendigos na velhice. 

Eu tive este mesmo medo aos 20 anos, como tantos outros filhos de pobres, vendo nossos pais gramarem na velhice.

Por isto nós nos preocupávamos em não nos tornarmos corruptos morais na velhice.

E usamos nossa juventude para nos preocuparmos com o estudo, trabalho, preparação, poupança, comedimento sexual, paternidade responsável.

Cansei de recusar cola para “companheiros” do centro acadêmico, início da derrocada ética deste pessoal.

Ao contrário da maioria desta “esquerda”, chegamos na velhice com dinheiro poupado.

Eu também fui “aposentado”, mas ao contrário do Dirceu eu já sabia que isto fatalmente iria acontecer um dia.

E em vez de me prostituir, eu passei a usar o meu “capital acumulado”, que Dirceu e a esquerda brasileira tanto odeiam. 

Criei o site filantropia.org, criei o Prêmio Bem Eficiente, em vez de puxar o saco de Carlos Slim. 

Ou seja, ser de “esquerda” no Brasil significa não se preparar para a velhice.

Ser de “esquerda” no Brasil significa usar a juventude para atrapalhar a vida de quem trabalha, sendo guerrilheiro, sequestrando embaixadores, ensinando marxismo, numa vida de luxúria sem o mínimo de comedimento.

E na velhice, se corromper financeiramente, ideologicamente, e eticamente para sobreviver.

Ser de “esquerda” é querer salvar o mundo quando se é jovem. É ser corrupto, traidor, espião, lobista e calhorda na velhice. 

Se você é um jovem de “esquerda”, a vida do maior “esquerdista” da História do Brasil, deveria servir como uma lição de vida. 

E do grande erro que você estará cometendo com sua própria velhice. 

José Dirceu, você deveria envergonhar-se de sua vida e de seu legado.

Você foi um blefe, um predador, um irresponsável sexual, um traidor de seus próprios valores, esta é a grande verdade de sua ingloriosa vida. 
Por: Stephen Kanitz Do site: http://blog.kanitz.com.br/