terça-feira, 30 de junho de 2015

A VERDADEIRA TRAGÉDIA GREGA FOI O SEU GASTO PÚBLICO


A Grécia foi à bancarrota não porque, como dizem os entusiastas do novo governo eleito, pagou taxas de juros "usurárias" sobre sua dívida, mas sim porque se endividou despreocupadamente para que seus políticos pudessem gastar como se não houvesse amanhã.

Vamos aos números.

Se levarmos em conta o valor total de juros pago pelo governo grego em relação ao estoque total de sua dívida, temos que, desde 2006, não houve nenhum ano em que a Grécia tenha pagado mais do que 4,5% de juros sobre sua dívida total. 

Isso dificilmente pode ser classificado como "usura", principalmente quando se leva em conta que a inflação de preços média na Grécia desde 2006 foi de 2%, o que significa que o estado grego jamais pagou juros reaissuperiores a 2,5% ao ano. [Nota do IMB: a título de comparação, o governo brasileiro pagar taxas superiores a 10% sobre sua dívida total, e as taxas reais sempre estiveram acima de 4,5%].

Com efeito, no ano de 2013, a Grécia pagou sobre sua dívida pública total taxas de juros nominais inferiores até mesmo às da Alemanha: em concreto, os gregos pagaram 2,28%, sendo que os alemães pagaram 2,62%.



Gráfico 1: taxa de juros média sobre a dívida pública, 2006-2013 Fonte: Eurostat

E não é só: em 2013, a Grécia foi o quarto país da zona do euro a pagar as menores taxas de juros sobre sua dívida pública:



Gráfico 2: taxa de juros média sobre a dívida pública em 2013 Fonte: Eurostat

Em que pese todo o bombardeio propagandístico sobre juros usurários contra a Grécia, ninguém deveria se surpreender com os resultados acima, pois foi em 2012 que a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) aprovou um segundo plano de resgate para a Grécia, pelo qual o governo grego obteve condições de financiamento extremamente benéficas.

O principal culpado: o descontrole do gasto público

Antes da crise, o volume total da dívida pública grega era de 250% das receitas do governo (2,5 vezes maior). Na Alemanha, a título de comparação, esse valor era de 150%. (1,5 vez maior).

No entanto, após a crise, o valor grego pula para 350%, chegando a superar 400% (4 vezes maior) no ano de 2011. Vale notar que tanto o resgate quanto as medidas de "austeridade" começaram a ser implantados na Grécia apenas no ano de 2010, só que em 2009 o governo já tinha um volume de dívida pública totalmente descontrolado.



Gráfico 3: relação entre dívida pública e receitas do governo, 2006-2013 Fonte: Eurostat

E o que fez aumentar essa dívida pública?

Enquanto a Alemanha conseguiu manter constante, em termos reais, seu gasto público por habitante entre 1996 e 2008, a Grécia o aumentou em nada menos que 80%. 



Gráfico 4: gasto público real por habitante, 1996-2013 Fonte: Eurostat

A hipertrofia do estado grego simplesmente não possui similares na Europa, especialmente se levarmos em conta como ele se financiou: a Grécia não apenas foi um dos países que mais aumentou seu gasto público, como também foi o que recorreu com mais obsessão ao endividamento para financiá-lo.



Gráfico 5: aumento da dívida pública entre 1996 e 2008 Fonte: Eurostat

Como consequência desse enorme crescimento do endividamento (e não como consequência de altas taxas de juros), o gasto anual com os juros sobre todo esse estoque de dívida superou, até o segundo pacote de resgate, o valor de 12% das receitas do governo (em 2011, antes do resgate, o total de juros pago por ano era 17% maior do que as receitas). Compare isso à Alemanha, cujos gastos com juros se mantiveram estáveis em 6% de todas as receitas.



Gráfico 6: total de juros pagos em relação às receitas do governo, 2006-2013 Fonte: Eurostat

Vale enfatizar: o problema não foi a taxa de juros que a Grécia pagou sobre sua dívida pública, mas sim o enorme volume de sua dívida pública, o que elevou sobremaneira o valor absoluto dos juros pagos. 

Matemática básica: 50% de 10 euros são 5 euros, 1% de 1 bilhão de euros são 10 milhões de euros. Uma taxa de juros baixa não fará com que seus gastos totais com juros sejam baixos se você deve muito dinheiro.

Sendo assim, a responsabilidade pela situação financeira grega deve ser atribuída a quem gerou esse elevado volume de endividamento: os políticos gregos e todos aqueles que aplaudiam e que foram beneficiados pelas políticas de endividamento do governo (antes e depois da crise). 

O fato é que o grosso da dívida pública grega foi emitido antes que a Grécia fosse socorrida pela Troika: 90% da dívida pública grega do ano de 2010 já havia sido emitida antes de 2010. 

Nem sequer é possível culpar as políticas de suposta austeridade ("suposta" porque um governo sob austeridade genuína não pode aumentar impostos; é como dizer que um trabalhador que está praticando austeridade pode aumentar seu salário): mesmo que o governo grego tivesse sido capaz de manter o mesmo volume de receitas de 2007 (algo muito difícil em meio a uma forte recessão), o tamanho de sua dívida pública em 2011 em relação às suas receitas seria de 391% (comparado aos 403% que realmente foram, e aos 180% da Alemanha), e o peso dos juros em relação às receitas totais teria sido de 15,8% (em relação aos 17,1% que realmente foram, e aos 5,8% da Alemanha).

Portanto, é necessário honestidade: o governo da Grécia não quebrou por causa da Troika e o governo da Grécia não está financeiramente na lona por causa da Troika. O governo grego está quebrado como consequência das políticas ilustradas nos gráficos 4 e 5.

Enquanto a Alemanha estabilizou seu gasto real por habitante (isto é, descontando a inflação de preços) entre 1996 e 2007, a Grécia o aumentou em mais de 80%, e recorreu ao mero endividamento para financiar a maior parte dessa brutal expansão do seu gasto público. O governo chegou a um ponto em que simplesmente não mais consegue pagar nem mesmo as prestações dessa dívida.

A composição do gasto público grego

À luz dessa hipertrofia estatal, era óbvio que ao governo grego não restava outra solução senão cortar muito intensamente seus gastos caso quisesse sobreviver financeiramente. Mas será que mesmo isso foi feito?

O gráfico abaixo mostra a composição do gasto público grego. O gasto com educação, políticas sociais e saúde disparou de 24,6% do PIB em 2004 para 31,1% do PIB em 2012. Ou seja, não só os gastos do governo grego se concentram nos "gastos sociais", como também esta foi a rubrica que mais aumentou em termos relativos desde 1996.



Gráfico 7: composição do gasto público da Grécia, 1996-2012 Fonte: Eurostat

Sim, é verdade que, desde 2009, com as seguidas quedas do PIB, o fato de os gastos sociais terem subido em relação ao PIB não significa que eles aumentaram em termos absolutos, uma vez que o PIB vem se contraindo desde 2009. No entanto, o que isso realmente significa é que os gastos que menos foram reduzidos proporcionalmente foram justamente aqueles que mais cresceram até 2009: os gastos sociais.

Conclusão

A conclusão é fragorosa e deve servir de lição: sim, um país pode quebrar por gastar excessivamente com "políticas sociais". 

Não é questão de ideologia, mas sim de contabilidade. 

Mais ainda: para evitar essa quebra, é imprescindível que ele tenha de cortar de maneira intensa todos os gastos voltados às políticas sociais.

No entanto, longe de ter aprendido a lição e de assumir a culpa pelo próprio desastre, o novo governo grego não apenas aponta o dedo para terceiros, como ainda promete voltar a aumentar maciçamente o gasto público (estão prometendo mais benefícios sociais, energia gratuita para 300 mil gregos, e mais moradias populares).

É óbvio, portanto, que não entenderam nada.

A questão é simples: quem não pode pagar indefinidamente, não pode gastar indefinidamente. 

País nenhum.
Por: Juan Ramón Rallo, diretor do Instituto Juan de Mariana e professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri. É o autor do livro Los Errores de la Vieja Economía.  Do site: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2017

O CELULAR E A RAINHA MÁ


Recentemente, eu estava caminhando pela calçada quando vi uma mulher vindo na minha direção. O rosto dela estava colado ao celular e não estava prestando atenção para onde estava indo. Se eu não desse um passo para o lado, trombaríamos. Como secretamente sou uma pessoa má, eu parei de repente e dei meia volta. A mulher trombou nas minhas costas, derrubando seu celular. Ela percebeu que tinha trombado em alguém que não podia vê-la e que ela é quem deveria ter se desviado. Ela balbuciou um pedido de desculpas, enquanto eu gentilmente lhe disse para não se preocupar, já que hoje em dia essas coisas acontecem o tempo todo.

Eu espero que o celular da mulher tenha quebrado quando ela o derrubou e aconselho a todos aqueles que se vejam em uma situação semelhante que façam o mesmo que fiz. Sim, eu acho que usuários compulsivos de celulares deveriam ser estrangulados ao nascer, mas não é todo dia que surge um Herodes. E, mesmo se puníssemos essas pessoas na idade adulta, elas provavelmente nunca entenderiam a profundeza do abismo no qual caíram. No final, elas persistiriam em seu hábito irritante independentemente do que fizéssemos.

Estou ciente de que muito já foi escrito sobre o uso de celulares, de modo que não há muito o que possa acrescentar aqui. Mas, se pensarmos a respeito por um momento, é espantoso o fato de quase todos nós termos sido tomados pelo mesmo frenesi. Nós mal conversamos face a face hoje em dia, nem refletimos sobre assuntos importantes de vida e morte, nem mesmo olhamos para a paisagem enquanto passa pela nossa janela. Em vez disso, nós conversamos obsessivamente em nossos celulares, raramente sobre algo particularmente urgente, desperdiçando nossas vidas em um diálogo com alguém que nem mesmo vemos.

Hoje, estamos vivendo em uma era na qual, pela primeira vez, a humanidade conseguiu realizar um dos três desejos persistentes que por séculos apenas a magia podia satisfazer. O primeiro é a capacidade de voar –-não em um avião, mas com nossos próprios corpos, batendo nossos braços.

Outro é a habilidade de afetar diretamente nossos inimigos –-ou entes queridos-– ao espetar agulhas em um boneco ou proferindo palavras arcanas. E o terceiro é a capacidade de comunicação instantânea por longas distâncias. Nós sempre quisemos ter um gênio ou objeto mágico com poder de nos transportar em um estalar de dedos de Frosinone a Pamir, de Innisfree a Timbuktu, ou de Bagdá a Poughkeepsie. E agora podemos.

Por que as pessoas demonstraram tamanha inclinação a práticas mágicas ao longo dos séculos? Pressa. A magia promete que você possa saltar instantaneamente da causa ao efeito –-do ponto A ao ponto B-– por uma espécie de atalho, sem precisar de quaisquer etapas intermediárias. Eu pronuncio uma fórmula e mudo ferro em ouro. Eu convoco anjos e envio mensagens por eles. A fé na magia não desapareceu com o advento da ciência. Não, nosso desejo de imediatismo simplesmente foi transferido para a tecnologia. Você aperta um botão em seu celular em Roma e, em segundos, está falando com um amigo em Sydney.

Nós sabemos que a ciência e a tecnologia avançam lentamente por meio de pesquisa cuidadosa –-mas mesmo assim queremos uma cura para o câncer já, não amanhã. Assim, em vez de esperar por anos, nós depositamos nossa fé no médico guru que nos oferece uma poção milagrosa que funcione instantaneamente para curar nossos males.

O relacionamento entre nosso entusiasmo pelas conveniências tecnológicas e nossa inclinação pelo pensamento mágico é muito estreito e está atado profundamente à nossa esperança religiosa na ação rápida como um raio dos milagres. Por séculos os teólogos discutiram conosco sobre os mistérios, argumentando que são concebíveis, mas insondáveis. A fé nos milagres nos mostra o numinoso, o sagrado e o divino, que funcionam sem atraso.

Será que há uma conexão entre aqueles que prometem uma cura instantânea para o câncer, místicos como o Padre Pio, celulares e a Rainha Má de "Branca de Neve"? De certo modo há. A mulher no início da minha história estava vivendo em um universo de contos de fadas, encantada pelo celular em seu ouvido, em vez de um espelho mágico.Tradutor: George El Khouri Andolfato

UMBERTO ECO

Umberto Eco é professor de semiótica, crítico literário e romancista. É autor de "O Nome da Rosa" e "O Pêndulo de Foucalt".

domingo, 28 de junho de 2015

MONOTEÍSMOS E POLITEÍSMOS


Os ventos da guerra estão soprando e não se trata de uma pequena guerra local. O risco vem de um plano fundamentalista para islamizar o mundo inteiro, e o conflito já envolve vários continentes. Na verdade, foi relatado que a ameaça do Estado Islâmico já chegou a Roma, apesar de nenhuma bandeira do grupo estar tremulando no topo da Basílica de São Pedro.

Ao que me parece, historicamente, as grandes ameaças intercontinentais sempre vieram de religiões monoteístas. Apenas cristãos e muçulmanos se envolveram em conquistas militares em nome de seu deus.

Os gregos e romanos não queriam conquistar a Pérsia ou Cartago para impor seus deuses. Eles eram movidos principalmente por metas territoriais e econômicas, e assim que encontravam deuses diferentes dos deles, eles simplesmente incorporavam essas deidades em seu panteão. Seu povo chama você de Hermes? Tudo bem, nós chamaremos você de Mercúrio e você será um de nossos deuses. Os fenícios adoravam Astarte. Mas isso não era um problema para os egípcios, que a chamaram de Ísis, ou para os gregos, para os quais ela se tornou Afrodite. Ninguém invadiu as terras fenícias para eliminar o culto a Astarte.

Os primeiros cristãos foram martirizados não por reconhecerem o deus de Israel (afinal, esse era o negócio deles), mas porque negavam a legitimidade dos outros deuses.

Não se trata das sociedades politeístas nunca terem travado guerras, mas sim que em grande parte eram conflitos tribais que não tinham nada a ver com religião ou imposição de seus deuses aos outros. Os bárbaros do norte invadiram a Europa, e os mongóis fizeram o mesmo em terras islâmicas, mas em vez de imporem seus deuses, esses povos rapidamente se converteram às religiões locais.

Quando muito, é curioso que os bárbaros do norte, ao se tornarem cristãos e construírem um império cristão, depois montaram as cruzadas no Oriente Médio para impor seu deus aos muçulmanos, apesar de, no final do dia, ambas as culturas estarem basicamente adorando ao mesmo deus.

Eu também contaria o colonialismo como guerras de conquista travadas em nome do cristianismo. Fora os interesses econômicos que sempre as justificaram, as campanhas coloniais também incluíam o projeto virtuoso de cristianização das populações conquistadas, sejam os astecas, incas ou etíopes (independentemente do fato de que a maioria dos etíopes era cristã).

Uma exceção curiosa sempre foi o monoteísmo judeu, que por sua própria natureza não impõe a conversão religiosa a outros povos. As guerras mencionadas no Velho Testamento visavam garantir uma terra para o povo escolhido, não converter outras populações ao judaísmo. E os judeus nunca incorporaram outros cultos e crenças aos seus próprios.

Certamente não quero dizer que é mais civilizado acreditar nas deidades iorubás ou nos espíritos vodu do que na Santíssima Trindade ou no Deus único cujo profeta é Maomé. Tudo o que estou dizendo é que ninguém nunca tentou conquistar o mundo em nome dos deuses da crença afro-brasileira do Candomblé. Nem a deidade Barão Samedi do vodu exigia fieis além dos limites do Caribe.

O império chinês foi um grande conquistador territorial, mas seu povo não acreditava em um único ser que criou o mundo. E a China nunca tentou disseminar suas crenças para a Europa ou a América. Poderia ser argumentado que a China atualmente está conquistando territórios economicamente, por meio da compra de empresas e ações ocidentais. Mas se o povo fora do país acredita em Jesus, Alá ou Jeová, isso não faz a menor diferença para os interesses de negócios chineses.

Talvez as ideologias seculares do nazismo e do marxismo soviético sejam equivalentes às grandes religiões monoteístas. Mas os fascistas e soviéticos nunca tentaram hipnotizar seus seguidores com qualquer tipo de deidade ou ser sobrenatural. E, de qualquer modo, suas guerras de conquista logo chegaram ao fim.

Tradução: George El Khouri Andolfato

UMBERTO ECO

Umberto Eco é professor de semiótica, crítico literário e romancista. É autor de "O Nome da Rosa" e "O Pêndulo de Foucalt".

BASTA! FORA!

O único partido da História que fomentou uma revolução contra si mesmo tem a obrigação de ser coerente e desaparecer do cenário o mais breve possível


Volto a explicar, agora ponto por ponto, a catástrofe estratégica monstruosa com que o PT destruiu a si mesmo e à nação. 

1. No incipiente capitalismo brasileiro, as grandes empresas são quase sempre sócias do Estado, o único cliente que pode remunerá-las à altura dos serviços que prestam.

2. Por isso elas acabam se incorporando ao “estamento burocrático” de que falava Raymundo Faoro: o círculo dos “donos do poder”, que fazem da burocracia estatal o instrumento dócil dos seus interesses grupais, em vez da máquina administrativa impessoal e científica que ela é nas democracias normais.

3. Nesse sentido, o sistema econômico brasileiro não é capitalista nem socialista, mas sim patrimonialista, como destacaram, além do próprio Faoro, vários estudiosos de orientação liberal, entre os quais Ricardo Velez Rodriguez, Antonio Paim e o embaixador J. O. de Meira Penna.

4. Nos anos 70 do século passado os intelectuais de esquerda que sonhavam em formar um grande partido de massas tomaram conhecimento do livro de Raymundo Faoro, Os Donos do Poder. Formação do Patronato Político Brasileiro, então lançado em aumentadíssima segunda edição, e entenderam que o curso normal da revolução brasileira não deveria ser propriamente anticapitalista, mas antipatrimonialista: o ponto focal do combate já não seria propriamente “o capitalismo”, e sim – com nomes variados -- o “estamento burocrático”.

5. A definição do alvo era corretíssima, mas, ao mesmo tempo, o partido, como aliás toda a esquerda nacional, estava intoxicado de gramscismo e ansioso por tomar o poder por meio dos métodos do fundador do Partido Comunista Italiano, que preconizavam a infiltração generalizada e a “ocupação de espaços” destinadas a criar a “hegemonia”, isto é o controle do imaginário popular, da cultura, de modo a fazer do partido “o poder onipresente e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento divino”.

6. A aplicação do esquema gramscista obteve mais sucesso no Brasil do que em qualquer outro país do mundo. Por volta dos anos 80, o modo comunopetista de pensar já havia se tornado tão habitual e quase natural entre as classes falantes no país, que os liberais e conservadores, inimigos potenciais dessa corrente, abdicaram de todo discurso próprio e, para se fazer entender, tinham de falar na linguagem do adversário, reforçando-lhe a hegemonia ideológica, mesmo quando obtinham sobre ele alguma modesta vitória eleitoral em troca. Entre os anos 90 e a década seguinte, toda política “de direita” havia desaparecido do cenário público, deixando o campo livre para a concorrência exclusiva entre frações da esquerda, separadas pela disputa de cargos apenas, sem nenhuma divergência séria no terreno ideológico ou mesmo estratégico.

7. O sucesso da operação produziu sem grandes dificuldades a vitória eleitoral de Lula numa eleição presidencial na qual, como ele próprio reconheceu, todos os candidatos eram de esquerda, o que canalizava os votos quase espontaneamente na direção daquele que personificasse o esquerdismo da maneira mais consagrada e mais típica.

8. Com Lula na Presidência, intensificou-se formidavelmente a “ocupação de espaços”, fortalecendo a hegemonia ao ponto de levar ao completo aparelhamento da máquina estatal pelo comando comunopetista, que ao mesmo tempo precisava da ajuda das grandes empresas para cumprir o compromisso assumido no Foro de São Paulo, coordenação estratégica da política comunista no continente, no sentido de amparar e salvar do naufrágio os regimes e movimentos comunistas moribundos espalhados por toda parte.

9. Inevitavelmente, assim, o próprio partido governante se transformou no “estamento burocrático” que ele havia jurado destruir. E, imbuído da fé cega nos altos propósitos que alegava, atribuiu-se em nome deles o direito de trapacear e roubar em escala incomparavelmente maior que a de todos os seus antecessores, sem admitir acima de si nenhuma autoridade moral à qual devesse prestar satisfações. O próprio sr. Lula expressou esse sentimento com candura admirável, afirmando-se o mais insuperavelmente honesto dos brasileiros, ao qual ninguém teria o direito de julgar – e isso no momento em que seu partido, abalado por uma tremenda sucessão de escândalos, já era conhecido no país todo como o partido-ladrão por excelência.

10. Assim, não apenas o PT fortaleceu o patrimonialismo, como frisou o cientista político Ricardo Velez Rodriguez, mas se transformou ele próprio na encarnação mais pura e aparentemente mais indestrutível do poder patrimonialista, soldando numa liga indissolúvel a ilimitada pretensão esquerdista ao monopólio da autoridade moral, os anseios do movimento comunista continental, os interesses de grandes grupos industriais e bancários, o aparato cultural amestrado (mídia, show business, universidades) e, last not least, o instinto de sobrevivência da classe política praticamente inteira.

11. Tal foi o resultado da síntese macabra que denominei faoro-gramscismo -- a tentativa de realizar por meio da estratégia de Antonio Gramsci a revolução antipatrimonialista preconizada por Raymundo Faoro: na medida em que, ao mesmo tempo, instigava o ódio popular ao “estamento burocrático” e, por meio da “ocupação de espaços”, se transfigurava ele próprio no inimigo odiado, personificando-o com traços repugnantes aumentados até o nível do absurdo e do inimaginável, o PT acabou por atrair contra si próprio, em escala ampliada, a hostilidade justa e compreensível da população aos “donos do poder”, aos príncipes coroados do Estado cleptocrático.

"NÓS ENCONTRAMOS O INIMIGO E ELE SOMOS NÓS", DIZ O PERSONAGEM POGO, CRIADO POR WALT KELLY(1913-1973)

12. Ao longo do processo, a “ocupação de espaços” reduziu o sistema de ensino e o conjunto das instituições de cultura a instrumentos para a formação da militância e a repressão ao livre debate de ideias, destruindo implacavelmente a alta cultura no país e, na mesma medida, estupidificando a opinião pública para desarmar sua capacidade crítica. Ao mesmo tempo, no desejo de agradar a vários “movimentos de minorias” enxertados no Brasil por organismos internacionais, o governo petista fez tudo o que podia para desmantelar o sistema dos valores mais caros à maioria da população, contribuindo para espalhar a confusão moral, a anomia e a criminalidade, esta última particularmente favorecida por legislações que não se inspiravam propriamente em Antonio Gramsci, mas numa fonte mais remota do pensamento esquerdista, a apologia do Lumpenproletariat como classe revolucionária, muito em voga nos anos 60 do século XX.

O Brasil que o PT criou é feio, miserável, repugnante, tormentoso e absolutamente insustentável. Cumprida a sua missão histórica de encarnar, personificar e amplificar o mal que denunciava, o único partido da História que fomentou uma revolução contra si mesmo tem a obrigação de ser coerente e desaparecer do cenário o mais breve possível.

Por isso a mensagem que o povo lhe envia nas ruas, nos panelaços, nas vaias e nas sondagens de opinião é hoje a mesma que, em circunstâncias muito menos deprimentes e muito menos alarmantes, surpreendeu o desastrado e atônito presidente João Goulart em 1964:

- Basta! Fora!
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio

segunda-feira, 22 de junho de 2015

"DONOS DA FAIXA DA ESQUERDA"

É assim que se acaba com os “donos da faixa da esquerda”… nos EUA

O ódio aos chamados “donos da esquerda” é universal. Tão universal que mereceu o capítulo 2 do livro “O Colesterol do Trânsito” como um dos maiores entraves ao trânsito livre nas estradas. No Canadá, os policiais se encarregam de tirar quem anda devagar na faixa da esquerda, atrapalhando o trânsito e semeando a insegurança. Nos EUA, a polícia também começou a fazer isso — na maior parte de seus Estados, pelo menos.

Indiana é o mais recente Estado a mandar quem empata a esquerda encostar o carro e assinar uma multinha. Dos 50 estados americanos, 38 têm leis que impedem o motorista de ficar moscando na faixa rápida/de ultrapassagem. Em 5 dos Estados americanos, as multas podem passar de US$ 1.000.

O deputado estadual Declan O’Scanlon, de Nova Jersey, é um dos defensores de leis mais duras no Estado para punir os “donos da esquerda”. Segundo ele, trata-se de uma questão de segurança no trânsito, já que quem trava a esquerda provoca a chamada road rage — ou a “fúria sobre rodas” como chamamos no FlatOut —, além de colaborar indiretamente para a ocorrência de acidentes. “As faixas da esquerda são para ultrapassagens. Não é uma infração leve. Quando um carro fica ali as pessoas mudam de faixa com mais frequência ou até mesmo ultrapassam pela direita, que é quando os acidentes mais graves acontecem”, disse o congressista ao programa Wink News. Eis um parlamentar com noção de trânsito.

No Brasil, também há um artigo do Código de Trânsito Brasileiro, o 62, que estabelece a velocidade mínima em que se pode rodar em qualquer via. Ela não pode ser inferior a metade da velocidade máxima permitida. Se você considerar que é possível que alguém rode a apenas 60 km/h em uma estrada cuja velocidade máxima é de 120 km/h, já começará a entender que o artigo 62 ficou ultrapassado. Mas será ainda pior porque o CTB não traz nenhuma recomendação ou punição para baixa velocidade na faixa da esquerda.

O que o código fala a respeito dela se limita ao artigo 30, inciso I, que diz que o condutor na faixa da esquerda, quando notar que alguém quer ultrapassá-lo, deve cair para a faixa da direita, e o artigo 198, que determina que quem não ceder a ultrapassagem incorrerá em infração média, punível com quatro pontos na carteira e R$ 85,13 de multa. Já viu alguém tomar multa por isso? Nós também não.

Na legislação brasileira, o inciso IV do artigo 29 do CTB estabelece que a faixa da esquerda, quando existe, deve servir “à ultrapassagem e ao deslocamento dos veículos de maior velocidade”, ficando a direita reservada “ao deslocamento dos veículos mais lentos e de maior porte, quando não houver faixa especial a eles destinada”. Mas não fala o que seria a “maior velocidade”. Portanto, alguém pode rodar nela a 60 km/h em uma estrada com limite de 120 km/h. Legalmente. Pode até ser permitido, mas não é prudente. Só deveriam estar na esquerda carros próximos da velocidade máxima permitida e a lei não faz nenhuma menção a isso. Se ainda tivéssemos um sistema de emissão de carteiras de motorista à prova de fraude, e essa postagem do Facebook, da página Não Foi Acidente, mostra que não é bem assim, ainda teríamos de pedir para que ele fosse eficiente e realmente ensinasse as pessoas a dirigir. Mas nem isso temos.

Os principais responsáveis pela fiscalização são os policiais rodoviários, nos EUA. Quantos policiais você já viu abordando quem anda devagar na esquerda, por aqui? Ou mesmo fiscalizando quem anda abaixo da velocidade mínima? Que policiais brasileiros têm as ferramentas necessárias para fazer essa fiscalização, a começar pelos carros que usam?

Empatar a faixa da esquerda, como o deputado americano colocou muito bem, é fator de risco aos demais motoristas. Quem vem rápido tem de frear subitamente. Ou tem de desviar para a direita para não bater.

Tem quem nem queira se estressar, pedindo passagem toda hora na esquerda, e simplesmente pega a faixa mais livre à direita para rodar na velocidade que deseja. Tem quem abuse e voe na direita, ameaçando quem quer rodar sem pressa. E é à direita que estão as entradas e saídas da estrada, aumentando o perigo de uma colisão.

Não adianta andar na velocidade máxima permitida na esquerda e bancar o fiscal de faixa. A lei determina que é preciso dar passagem a quem vem mais rápido mesmo que acima da velocidade máxima da via. Se a faixa da direita estiver livre, é lá que se deve estar, deixando a esquerda tão desocupada quanto possível. Enquanto o Estado não providencia carros dignos e radares para um contingente suficiente de policiais, um sistema de habilitação que verdadeiramente habilite e uma legislação em sintonia com o que há de mais moderno em matéria de trânsito, só podemos contar uns com os outros. Será que podemos? 
Por: GUSTAVO HENRIQUE RUFFO
Do site: http://www.flatout.com.br/e-assim-que-se-acaba-com-os-donos-da-faixa-da-esquerda-nos-eua/




sexta-feira, 19 de junho de 2015

QUANDO APRENDERÃO?

Chegamos a uma situação em que mesmo dois milhões de brasileiros clamando nas ruas e 90% da população exigindo nas pesquisas o fim do império petista são impotentes para remover de seus postos os delinquentes que se apossaram do país


Excetuadas algumas frustrações e desencantos banais que não vêm ao caso, só guardo uma única tristeza na alma: a de não sido ouvido numa época em que ainda havia tempo de bloquear a ascensão comunopetista e impedir que o Brasil mergulhasse no lodaçal em que vai afundando hoje em dia.

Não vai nisso o menor ressentimento pessoal. A indiferença à mensagem quase nunca implicou hostilidade ou desprezo ao mensageiro. Sempre fui muito bem recebido em toda parte. As pessoas me ouviam, aplaudiam e, com ares de amável ceticismo, prometiam pensar no assunto.

Ficaram pensando até agora. Nada fizeram.

Semana após semana os acontecimentos foram se avolumando exatamente como eu havia previsto, e ainda assim até os melhores entre os meus ouvintes continuaram acreditando que tudo passaria com o tempo, que nada de mau sucederia que não viesse a ser corrigido automaticamente pela mágica do mero rodízio eleitoral.

Isso era impossível, protestava eu. Onze anos atrás escrevi:

“Quem quer que, a esta altura, ainda sonhe em ‘vencer o PT’, seja nas próximas eleições, seja ao longo das décadas vindouras, deve ser considerado in limine um bobão incurável, indigno de atenção.

“O PT, como digo há anos, não veio para alternar-se no poder com outros partidos -- muito menos com os da ‘direita’ -- segundo o rodízio normal do sistema constitucional-democrático. Ele veio para destruir esse sistema, para soterrá-lo para sempre nas brumas do passado, trocando-o por algo que os próprios petistas não sabem muito bem o que há de ser, mas a respeito do qual têm uma certeza: seja o que for, será definitivo e irrevogável.

“Não haverá retorno. O Brasil em que vivemos é, já, o ‘novo Brasil’ prometido pelo PT, e não tem a menor perspectiva de virar outra coisa a médio ou longo prazo, exceto se forçado a isso pela vontade divina ou por mudanças imprevisíveis do quadro internacional.”

Continuava:

“É deplorável ter de insistir numa coisa tão evidente, mas uma estratégia de escala continental, escorada numa rede global de organizações e no completo domínio da atmosfera cultural não pode ser enfrentada por meio de resistências locais, de espertezas provincianas, de críticas pontuais a erros econômico-administrativos ou da aposta louca nas brigas internas da facção dominante, que só a revigoram. A desproporção de forças, aí, é tão brutal, tão avassaladora, que não vale nem mais a pena insistir no assunto.”

Isso foi em 2004 (leia aqui).

Hoje até as crianças sabem que o establishment brasileiro – a administração pública, três quartos do Congresso, o STF, o sistema judiciário praticamente inteiro, a justiça eleitoral, a educação desde o primário até a universidade, a CNBB, parte considerável da “grande mídia” e um punhado de mega-empresas – se reduziu a uma máquina dócil e bem azeitada para amparar as tramas do PT, assessorar e acobertar os seus crimes, ajudá-lo na realização dos planos do Foro de São Paulo e na instauração da Pátria Grande comunista dos sonhos dos irmãos Castro e de Nicolás Maduro.

Chegamos finalmente a uma situação em que mesmo dois milhões de brasileiros clamando nas ruas, multidões xingando Lula e Dilma por toda parte e 90% da população exigindo nas pesquisas de opinião o fim do império petista são impotentes para remover de seus postos os delinquentes que se apossaram do país e dele fizeram um bordel de luxo para os poucos, um favelão para os demais.

Na melhor das hipóteses, ela mesma remota e dificultosa, conseguirão obter do Congresso, como prêmio de consolação pela legitimação de eleições notoriamente fraudulentas, um miserável impeachment presidencial, medida simbólica que bem pode deixar intacto o restante do sistema comunocleptocrático instalado em Brasília.

Quer isso dizer que minhas previsões de 2004 fossem proféticas? Que nada. Estavam é atrasadíssimas. Em 1993, no livro A Nova Era e a Revolução Cultural, eu já havia exposto o plano praticamente inteiro do PT para a dominação do país. O livro não foi ignorado. Vendeu uma edição inteira no dia do lançamento, outra nas semanas seguintes. A terceira esgotou-se, a quarta (Vide Editorial, 2014) já está no fim. Foi lido e guardado na estante, bem longe da possibilidade de inspirar qualquer ação, mesmo tímida.

Em 1989, em conferência na Casa do Estudante no Brasil, sob o título “O fim do ciclo nacionalista”, eu já equacionava o drama de um país cuja cultura se formara sob o signo do nacionalismo e da busca da identidade (o “senso da nacionalidade” de que falava Machado de Assis) e ao qual coubera o destino infeliz de começar a projetar-se no cenário do mundo justamente numa época em que a tendência geral é dissolver as soberanias nacionais e absorvê-las em conglomerados regionais que vão tentando aplanar o caminho para a ambição utópica mas persistente de um governo mundial.

Ao ver hoje a marcha triunfante da Pátria Grande, que o povo odeia mas da qual não sabe como se livrar, pergunto-me por que, de tantos intelectuais, políticos e militares que me ouviram na ocasião (pois repeti a conferência em vários lugares), nenhum entendeu que, naquele momento, a inventividade, a audácia criadora, em vez da acomodação preguiçosa no culto beócio da “estabilidade das nossas instituições”, eram uma questão de sobrevivência, não de livre escolha?

Por que tantas pessoas aparentemente inteligentes, em vez de vasculhar os livros e documentos a que eu me referia, preferiram crer na lenga-lenga anestésica da TV Globo e da Folha, para cujos porta-vozes eu era apenas um alarmista histérico, um “saudosista da Guerra Fria”, ou, como disse textualmente o sr. Otavio Frias Filho, um açoitador de cavalos mortos?

Quem, hoje, exceto o alucinado Marco Antonio Villa, que ama tanto a chacota que a atrai toda para si, seria ainda louco de negar que praticamente tudo o que expliquei e previ ao longo dos anos era no mínimo o que havia de mais próximo à verdade, enquanto em volta os luminares, os bem-pensantes, os senhores doutores, os consultores pagos a peso de ouro, só repetiam chavões soporíferos tipo “Lula mudou”, “o socialismo morreu”, “as nossas instituições são sólidas” etc. etc.?

Aos poucos, porém, fui notando que as mudanças históricas que eu descrevia -- e que as inteligências mais vigorosas da platéia não negavam, mas nas quais nada viam além de uma caminhada brilhante em direção a “mais democracia” – traziam, em si mesmas, a causa da incompreensão com que minhas palavras eram recebidas.

Comecei a documentar esse aspecto do processo em O Imbecil Coletivo, de 1995: estrangulada pela “ocupação de espaços” gramsciana, onde o critério do prestígio intelectual e artístico passava a ser uma carteirinha do PT ou do PSOL, a alta cultura no Brasil agonizava.

As inteligências definhavam a olhos vistos, tornando impossível um debate sério sobre o que quer que fosse e substituindo tudo por uma linguagem de clichês na qual nada se podia dizer que já não tivesse sido dito mil vezes.

A juventude, nascida já no meio da debacle, não podia ver nela nada de anormal, por lhe faltar a escala comparativa. Acomodava-se à degradação confortavelmente, prazerosamente, embriagada pela promessa de deleites sensuais espetaculares sob a proteção do Estado-babá.

Mas, para quem tinha sido criado na época em que os debates culturais e políticos eram conduzidos por leões como um Otto Maria Carpeaux, um Álvaro Lins, um Nicolas Boer, um Julio de Mesquita Filho, um Antônio Olinto, um Mário Ferreira dos Santos, um Vilem Flusser, ver de repente o cenário intelectual ocupado inteiramente por micos-leões-dourados tipo Emir Sader, Marilena Chauí, Renato Janine Ribeiro, Vladimir Safatle, Gilberto Felisberto de Vasconcelos, Luís Fernando Veríssimo e tutti quanti era algo que prenunciava, para esta parte do mundo, uma idade das trevas.

Analisado à luz da regra de Hugo von Hoffmanstal, de que “nada está na política de um país que não esteja primeiro na sua literatura”, o Brasil do futuro que se vislumbrava nos debates públicos dos anos 90 era exatamente o que temos hoje: um vácuo sangrento, um Nada crescente e invencível que tudo devora.

Documentei o fenômeno em linguagem satírica, que a evolução posterior dos acontecimentos veio a tornar inadequada à medida que o ridículo e o grotesco, passando da esfera das idéias à dos atos e das leis, afirmaram o poder da sua autoridade incontrastável e se consolidaram nas formas monstruosas do deprimente, do abjeto, do indescritivelmente vergonhoso. Daquilo que não pode ser satirizado porque, como diria Karl Kraus, já ultrapassou as fronteiras da sátira.

Não posso repassar mentalmente esse trajeto sem que me volte à memória o refrão de uma velha canção folclórica americana: “Oh, when will they ever learn?”
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio

domingo, 14 de junho de 2015

FIM DE CONVERSA

Noam Chomsky passou por Portugal e, nas entrevistas de praxe, defendeu as ideias de praxe: o Ocidente pode horrorizar-se com o terrorismo islamita. Mas não será o Ocidente, e em particular os Estados Unidos, o maior terrorista que existe? Por que motivo não condenamos os crimes do império americano com o mesmo vigor com que descemos o pau sobre os fanáticos jihadistas?

A melhor forma de responder a essas perguntas passa por ler uma espantosa troca de argumentos entre Noam Chomsky e o neurocientista Sam Harris, agora tornada pública.

Esse duelo está disponível no site de Harris (www.samharris.org) e, com a imparcialidade possível (mentira: não há imparcialidade nenhuma), estou com Harris: o problema de Chomsky, nas suas comparações entre o terrorismo islamita e atos de violência bélica cometidos por Washington, está na incapacidade para distinguir diferentes tipos de violência e até comportamentos humanos que justificam essa violência.

Senão, vejamos: para Chomsky, as sanções econômicas que os Estados Unidos fizeram recair sobre o Iraque de Saddam Hussein foram responsáveis pela morte de meio milhão de crianças; e, como exemplo suplementar, o bombardeamento sobre uma fábrica de produtos farmacêuticos no Sudão levou à morte de milhares de pessoas, que morreram de doenças facilmente tratáveis com os medicamentos certos (tuberculose, malária etc.).

Sam Harris aceita uma das premissas de Chomsky: a guerra é um negócio brutal. E não há nenhum motivo para ficarmos nas sanções ao Iraque ou nos bombardeamentos ao Sudão. Olhamos para a história dos Estados Unidos e que vemos nós?

Matança de índios. Escravidão. Bombardeamentos criminosos no Camboja e, acrescento eu, na Guerra do Vietnã. Por outras palavras: só um fanático acredita que existe um governo, qualquer que ele seja, que detém a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade.

O problema, porém, é que a moralidade dos atos de um governo depende da intenção com que esse governo os comete. Para Sam Harris, quando Bill Clinton ordenou o bombardeamento da fábrica sudanesa de Al-Shifa, o objetivo de Washington não era matar milhares de seres humanos com malária ou tuberculose.

O objetivo, compreensível e até louvável, era neutralizar uma fábrica que Clinton acreditava (erradamente) que servia para a produção de armamento químico para a Al Qaeda.

E existe uma diferença moral significativa entre atacar para eliminar um mal objetivo, mesmo que esse ataque seja um erro "a posteriori", e atacar em massa para infligir o maior dano possível a pessoas inocentes "a priori". Quem não entende essa diferença tem a bússola moral avariada.

Mas existe ainda uma segunda diferença entre a violência antiterrorista do Ocidente e os atos de terrorismo cometidos contra o Ocidente. E essa diferença está na reação dos seus autores.

Quando se ataca um complexo químico que é apenas uma fábrica de medicamentos, não há festejos nem proclamações de vitória. Há, isso sim, sentimentos de vergonha e, em certos casos, investigação criminal (como sucedeu, por exemplo, com os abusos americanos na prisão de Abu Ghraib).

O mesmo não sucede quando o único objetivo é derrubar Torres Gêmeas que não se confundem com nenhum complexo químico, biológico ou militar. No primeiro caso, mata-se por engano. No segundo, mata-se por instinto desumano.

Noam Chomsky responde a Sam Harris. E depois de afirmar (sem provas) que Clinton sabia que Al-Shifa era simplesmente uma fábrica de medicamentos, Chomsky tenta mostrar que a "política das boas intenções" é sempre ambígua em qualquer discussão ética. E dá um exemplo: aos seus olhos, Hitler tinha boas intenções quando liderou a máquina nazista no Holocausto.

O argumento é débil e obviamente desonesto: não é possível comparar um ditador que tem como objetivo exterminar um povo inocente; e um político ocidental que procura neutralizar organizações terroristas que matam inocentes.

Não existem sociedades perfeitas. Não existem governos perfeitos. Mas se o leitor joga na mesma sacola Clinton e Bin Laden, Bush e Hitler, não há espaço para nenhuma conversa racional. Essa, aliás, foi a conclusão de Harris depois de tentar falar com Chomsky: o silêncio final entre ambos é o silêncio de um abismo. 
Por: João pereira Coutinha Publicado na Folha de SP

sábado, 13 de junho de 2015

CRETINICES GRAMSCIANAS (II)

A teoria da hegemonia ultrapassa os últimos limites da vigarice razoável e tenta nos fazer engolir como realidade universal e constante algo que é uma impossibilidade material pura e simples

A teoria embutida no espaço entre o fato e a generalização que Gramsci dela extrai é a própria teoria gramsciana da hegemonia, segundo a qual a cultura reinante em qualquer época ou lugar é o instrumento pelo qual a classe dominante impõe sua ditadura mental a toda a população.

Interpor uma teoria entre os fatos e a conclusão, em vez de esperar que a própria acumulação de fatos sugira a conclusão, já é trapaça suficiente para desmoralizar qualquer teorizador.

Mas a teoria da hegemonia ultrapassa os últimos limites da vigarice razoável e tenta nos fazer engolir como realidade universal e constante algo que é uma impossibilidade material pura e simples.

Essa impossibilidade já estava presente na teoria marxista da “ideologia de classe”, da qual a “hegemonia” gramsciana é um prolongamento.

Se cada classe tem uma ideologia que é a expressão idealizada dos seus interesses materiais, então, das duas uma: ou cada um dos seus membros está atrelado de uma vez para sempre à ideologia da sua classe como se fosse uma segunda natureza; ou, ao contrário, pode abjurar dela e aderir à ideologia de outra classe, como fez, ou acreditava fazer, o próprio Karl Marx.

Só que neste caso não há mais conexão orgânica entre classe e ideologia; tudo se torna uma questão de livre escolha e não há mais “ideologia de classe” nenhuma, só a ideologia que cada indivíduo, livremente, atribui à sua classe ou a uma outra qualquer, conforme a interpretação que faça dos interesses desta ou daquela.

Gramsci agrava formidavelmente a situação ao declarar que quem produz a ideologia não são propriamente os membros de cada classe, mas sim os “intelectuais” que a representam sem ter de pertencer necessariamente a ela.

Esses representantes são “intelectuais orgânicos” da burguesia e do proletariado. Mas, se o são sem precisar ser eles próprios burgueses ou proletários, a conexão entre eles e a classe que representam não pode ser “orgânica” de maneira nenhuma e sim matéria de livre escolha, nada impedindo que um intelectual passe, ideologicamente, da “burguesia” para o “proletariado” (como Georg Lukács) ou vice-versa (Eric Hoffer, por exemplo).

Ademais, quem infunde nos intelectuais a “ideologia de classe”? Para que o burguês adestrasse intelectuais na ideologia burguesa seria preciso que ele, na condição de mestre, a dominasse melhor que os discípulos: esse burguês seria, então, um superintelectual, um intelectual dos intelectuais, o maître à penser da intelectualidade, reduzindo-a à condição de mera repetidora do discurso aprendido.

Mutatis mutandis, e piorando ainda mais as coisas, os “intelectuais orgânicos” do proletariado se tornariam meninos de escola operária, tomando lições de dialética hegeliana e materialismo histórico com professores pedreiros e ferramenteiros.

Essas situações caricaturais não existem na realidade, no mínimo porque o próprio Gramsci nos assegura que quem cria as ideologias das classes não são as próprias classes, e sim os intelectuais.

Nem poderia ser de outra forma. No mínimo a transposição de interesses materiais numa linguagem de valores, ideias e teorias requer um considerável treinamento especializado nas áreas de filosofia e ciências humanas, que nem um capitalista nem um operário poderiam adquirir nas horas vagas. (Sob esse aspecto é interessante comparar o gramscismo com a teoria da “violência simbólica” de Pierre Bourdieu, outro ídolo, ainda que menorzinho, da intelectualidade esquerdista; (leia aqui e aqui).

Mas, então, nem a ideologia proletária é proletária nem a burguesa é burguesa: são ambas puras criações de intelectuais, que as atribuem a esta ou àquela classe, sem precisar consultá-las, conforme interpretem livremente os “interesses” de cada uma. Não é coincidência, pois, que Karl Marx já tivesse descrito a “ideologia proletária” inteira antes de ter visto de perto um único proletário.

Na melhor das hipóteses, o burguês e o proletário se tornam “tipos ideais” que existem apenas na cabeça do intelectual para fins de comparação com personagens reais que só se parecem com eles de maneira longínqua e esquemática.

Gramsci não admite explicitamente essa conclusão inevitável da sua teoria, mas, como quem não quer nada, extrai dela uma consequência prática que, para o bom entendedor, já denuncia a falácia da construção inteira.

Quem cria as ideologias de classe? Os intelectuais. Quem, com base nela, cria a hegemonia, o controle geral do pensável e do impensável? Os intelectuais. Quem lidera a revolução? Os intelectuais. Quem assume o poder por meio da revolução? Os intelectuais.

Burgueses e proletários são, no fim das contas, apenas os emblemas dos times em jogo. É de espantar que no paraíso burguês os burgueses sejam esfolados com impostos, induzidos a financiar filmes e shows que os demonizam e a contribuir com rios de dinheiro para organizações esquerdistas que prometem matá-los?

É de espantar que no paraíso proletário os proletários sejam submetidos a condições de trabalho escravo, privados do direito de greve, removidos de um lugar para outro sem poder reclamar, policiados vinte e quatro horas por dia e obrigados a entoar cânticos de glória ao Supremo Intelectual e Guia dos Povos?

Tudo não passa, então, de uma disputa de poder entre dois grupos de intelectuais, cada um defendendo os interesses que atribui a uma classe à qual não tem de pertencer e que na maior parte dos casos não foi consultada a respeito.

O que é líquido e certo, embora Gramsci não o diga, é que os intelectuais orgânicos “da burguesia” não pretendem tomar o lugar dela; quem o pretende são os outros, os “intelectuais proletários”.

Nunca se viu um escritor apologista do capitalismo ansioso para deixar de lado seus afazeres intelectuais e tornar-se industrial ou especulador da bolsa. Em contrapartida, nenhum, absolutamente nenhum “intelectual proletário” que eu conheça planeja fazer a revolução proletária para depois continuar vivendo modestamente das suas funções de professor, jornalista ou pesquisador científico.

Tomar o poder e exercê-lo na máxima medida das suas possibilidades é a essência e missão da intelectualidade revolucionária. O que ela quer não é assumir o lugar da intelectualidade direitista, mas o da burguesia.

Isso torna evidente que, na maior parte dos casos, ela disputa o poder com um grupo que não o detém nem o deseja. Basta isso para explicar a inermidade estrutural da intelectualidade conservadora e liberal ante o avanço esquerdista.

É algo que não tem nada a ver com superioridade ou inferioridade intelectuais, mas com desejo ou falta de desejo de poder. Quando o sr. Lula sentenciou que seus inimigos “não tinham perspectiva de poder”, acertou na mosca.

Para completar a fantasia com um toque de alucinação, Gramsci admite que nem todos os intelectuais participam conscientemente da “luta de classes”. Alguns – em geral a maioria deles – são indiferentes à política e se satisfazem com suas ocupações filosóficas, científicas ou artísticas, sem se preocupar em saber quem isso vai favorecer nas próximas eleições.

A esse grupo Gramsci denomina “intelectuais tradicionais”, acrescentando que são neutros e apolíticos só em imaginação, por falsa consciência; na verdade são servos inconscientes do status quo tanto quanto os intelectuais orgânicos “burgueses”.

Ou seja: os “intelectuais proletários” estão em perpétua disputa de poder não somente com intelectuais orgânicos burgueses que não aspiram ao poder, mas com toda uma comunidade intelectual que não quer nem saber da existência dessa disputa.

A consequência disso, do ponto de vista cognitivo, é devastadora: o intelectual esquerdista explica toda a sociedade como uma projeção inversa dos seus próprios valores e metas, pouco lhe importando a auto explicação que os demais grupos e indivíduos tenham a apresentar.

Para ele, a sociedade, a história, a existência humana inteira giram em torno do seu objetivo grupal, da sua luta pelo poder, que no seu entender move todo o restante como o cão abana a cauda. Ele, em suma, é o fator ativo, o criador da História, a única realidade efetiva: todo o resto da humanidade são sombras que se mexem à sua voz de comando.

É uma visão horrivelmente autocêntrica, solipsista, psicótica mesmo, que se espalha com facilidade entre estudantes universitários pelo simples fato de que é a mais reconfortante compensação neurótica do seu justo sentimento de inutilidade social.

***

Não é só na esquerda militante que o pensamento de Gramsci inocula o seu veneno alienador e estupidificante. Chego a pensar que basta admirá-lo um pouquinho, suspender o juízo crítico por uns instantes, para que algo do besteirol gramsciano entre e permaneça para sempre.

Por ocasião de um de seus últimos chiliques anti-olavéticos, cuja razão de ser escapa ao entendimento humano, o sr. Marco Antônio Villa, na ânsia doida de exaltar tudo o que critico, chegou a proclamar que a subsistência da democracia na Itália do pós-guerra foi obra do gramscismo imperante no Partido Comunista Italiano.

É com certeza a coisa mais burra que já saiu da boca de um pretenso historiador. Raiva descontrolada é vexame na certa. O regime democrático só sobreviveu na Itália graças à derrota acachapante que, contra todas as previsões iluminadas, a Democracia Cristã de Alcide De Gasperi, mobilizando o apoio de toda a população católica na primeira eleição geral realizada após a queda do fascismo, impôs em 18 de abril de 1948 ao Front Popular comunista, que desde então foi saindo do cenário político, por etapas sucessivas, para a lata de lixo da História.

Se o sr. Villa quiser alguma bibliografia sobre o assunto, posso lhe fornecer, mas só se ele pedir com jeito.
Por Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comercio

quinta-feira, 11 de junho de 2015

HÁ MUITO GOVERNO NA NOSSA GASOLINA


Com o preço médio da gasolina acima de R$ 3,50 na maior parte do país, e chegando a R$ 4,51 em algumas localidades(dependendo do tipo da gasolina escolhida) — e tudo isso justamente em um momento em que o preço da gasolina está em queda no resto do mundo —, a conclusão é que há muito governo em cada litro da gasolina brasileira.

No entanto, tudo isso é ainda muito pior do que parece.

Embora as principais intervenções diretas do governo sejam claras e visíveis a todos — o retorno da CIDE e a decisão da Petrobras de aumentar o preço para refazer seu caixa, esfacelado pela corrupção —, há também outras intervenções que o cidadão comum não consegue visualizar, mas que são ainda mais deletérias do que essas duas intervenções explícitas do governo.

A seguir, uma lista das 9 principais contribuições do governo brasileiro para o preço e para a qualidade da nossa gasolina:

1) O mercado de combustíveis no Brasil está longe de ser um genuíno mercado. Há uma vasta e complexa rede de subsídios, obrigações e proibições.

O setor energético é certamente um dos mais regulados da economia brasileira. Começa pelo fato de a Petrobras deter um monopólio prático da extração de petróleo. Após mais de 40 anos de monopólio jurídico (quebrado apenas em 1997), a Petrobras já se apossou das melhores jazidas do país. Nem tem como alguém concorrer. É como você chegar atrasado ao cinema: os melhores assentos já foram tomados, e você terá de se contentar com os piores. 

Depois da Petrobras, vem a ANP (Agência Nacional de Petróleo), cuja função autoproclamada é a de fiscalizar todo o setor petrolífero brasileiro, inclusive os setores de comercialização de petróleo e seus derivados, e o de abastecimento.

A ANP é uma burocracia enorme que possui, além de sua diretoria, uma secretaria executiva, 15 superintendências, 5 coordenadorias, 3 núcleos (Segurança Operacional, Fiscalização da Produção de Petróleo e Gás Natural, e Núcleo de Informática) e 3 centros (Relações com o Consumidor, Centro de Documentação e Informação, e Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas).

Além da Petrobras e da ANP, que regula tudo que diz respeito ao setor, há toda uma cornucópia de regulamentações ambientais, trabalhistas e de segurança que fazem com que abrir um posto de combustíveis seja uma atividade quase que restrita aos ricos — ou a pessoas que possuem contatos junto ao governo. Livre concorrência nesta área nunca existiu.

2) Há toda a carga tributária. Como anualmente demonstrado pelo IMB no Dia da Liberdade de Impostos, caso todos os impostos sobre a gasolina (PIS, Cofins, CIDE e ICMS) fossem abolidos, o preço do litro, hoje, cairia 53%, que é exatamente a carga tributária desses impostos que incidem sobre a gasolina. 

Uma carga tributária tão voraz como esta incidindo sobre os preços estimula a criação de todos os tipos de métodos burlescos que possibilitem a obtenção de um máximo de receitas através do menor volume possível de vendas do produto real — daí os recorrentes casos de gasolina batizada, por exemplo. 

3) Uma fatia do caríssimo preço da gasolina é utilizada pelo governo para subsidiar o preço do diesel. O argumento é que o diesel é um "combustível social" por ser utilizado no transporte público e no transporte de cargas.

Os empresários donos de concessões de ônibus e de transportadoras agradecem.

4) Por conta desse subsídio ao óleo diesel, é proibida a circulação de carros de passeio movidos a diesel no Brasil. Quem já foi à Europa sabe que veículos de passeio a diesel não apenas são muito comuns por lá, como já estão se tornando a maioria.

No Brasil, os únicos automóveis que podem utilizar o diesel são aqueles vistosos utilitários, de propriedade apenas dos mais ricos. Justamente por serem considerados "veículos utilitários", e não veículos de passeio, eles têm esse privilégio.

Os fazendeiros e os ricaços, que podem andar com combustível subsidiado pelo povo, agradecem o suado esforço da boiada.

5) A gasolina no Brasil vinha com 25% de álcool. Agora, por determinação do governo, esse percentual foielevado para 27%. O que isso significa?


5.1) Em primeiro lugar, maior consumo. Quanto maior o volume de álcool na gasolina, maior é o consumo, pois o álcool possui menos poder calorífico em relação à gasolina. Isso faz com que seja necessária uma maior quantidade de combustível para que o motor realize o mesmo trabalho. Ou seja, seu carro consumirá mais e você terá de reabastecer com mais frequência. Prepare seu bolso.

5.2) O álcool é péssimo para o motor, pois é corrosivo. Isso afeta tanto a bomba de combustível do carro quanto a vida útil dos componentes do sistema de injeção. Mais álcool, mais estrago.

5.3) Os motores a gasolina não foram calibrados para tamanho teor de álcool, e nenhuma pesquisa de campo concluiu que os microprocessadores da injeção eletrônica têm a capacidade de processar uma mistura contendo mais de 25% de álcool para chegar a uma mistura ar-combustível ideal. Consequentemente, haverá a tendência de a mistura ar-combustível ficar mais pobre, gerando redução de potência e hesitações sob aceleração. Haverá mais emoção a cada ultrapassagem.

5.4) Se você quiser continuar comprando gasolina com "apenas" 25% de álcool, você terá de desembolsar mais para comprar a gasolina Premium, que não foi agraciada com essa resolução do governo. Seu litro custa bem acima de R$ 4 na maioria das cidades brasileiras.

5.5) Utilizar essa nova gasolina com 27% de álcool em motores anteriores a 2003 será um risco, pois as peças desses motores não foram fabricadas para suportar esse ataque químico. Lindamente, a ANFAVEA apenas pede que os proprietários desses carros paguem mais de R$4 pelo litro da gasolina Premium.

5.6) Moramos em um país no qual, se um dono de posto resolver vender gasolina pura, ele será preso por falsificação de combustíveis.

6) Como consequência disso tudo, no Brasil, todo proprietário de veículo de passeio, de um simples Corsa até o Fusion, é obrigado a colocar álcool no seu carro. Trata-se de um dos maiores mercados cativos para um produto do mundo.

Lembrem-se disso sempre que virem reportagens sobre usineiros reclamando que as coisas não vão bem e que precisam de mais dinheiro do BNDES.

7) Uma lei aprovada em janeiro do ano 2000 (Lei nº 9.956/2000) proíbe o funcionamento de bombas automáticas em postos de gasolina. Uma bela forma de iniciar o terceiro milênio, não? Tanto na Europa quanto nos EUA não existem frentistas. No Brasil, o governo tornou essa profissão obrigatória (assim como trocador de ônibus), o que só encarece os custos de se ter um posto de combustível.

Mas pensemos pelo lado positivo: ainda bem que esses gênios não legislavam nos anos 1950. Eles teriam proibido as colheitadeiras em nome da preservação do emprego.

8) A tudo isso acrescente toda a legislação trabalhista, urbanística e ambiental, que impede o surgimento de novos postos de gasolina para aumentar a concorrência, e encarece as operações daqueles já existentes. 

9) Nos EUA, cujo setor petrolífero é dominado por empresas privadas "malvadas e gananciosas", o preço da gasolina caiu e voltou ao mesmo valor nominal de dez anos atrás. Hoje, um litro de gasolina nos EUA está custando, em média, R$ 1,90. Já no Brasil, cujo setor petrolífero é controlado por uma estatal que ama os pobres, o preço da gasolina está hoje no maior valor da história do real, chegando a R$ 4 em algumas localidades.


Sinceramente, qualquer que seja o preço do combustível, trata-se de uma gigantesca fraude. E vamos continuar aceitando.
_________________________________

Leandro Roque contribuiu para este artigo.

Daniel Marchi é economista graduado pela FEA USP Ribeirão Preto e membro do Instituto Carl Menger, em Brasília.

terça-feira, 9 de junho de 2015

DESCOBERTO O "SEGREDO" DO SALÁRIO TÃO MAIOR DOS AMERICANOS!

Trabalhadores brasileiros, uni-vos contra o sindicalismo!

Foi descoberto o incrível “segredo” do salário tão maior dos trabalhadores americanos em relação aos brasileiros, até então guardado a sete chaves. Tiveram que contratar a Scotland Yard e chamar pessoalmente Sherlock Holmes para solucionar um mistério tão impressionante. A resposta decepcionou todos os “intelectuais” e artistas brasileiros, assim como os “economistas” heterodoxos que sempre defendem mais intervenção estatal e sindicatos fortes.

Não, o salário tão maior não tem ligação alguma com a influência dos sindicatos nos respectivos países. Tampouco há elo com a quantidade de regalias que o governo garante, como décimo-terceiro, décimo-quarto, décimo-oitavo salário, vale-alimentação, vale-transporte, vale-cachaça, férias remuneradas, licença a maternidade, paternidade e amizade, nada disso! Pasmem, mas o grande segredo dos americanos é… serem mais produtivos!

O salário médio é quatro vezes maior do que o nosso? E o trabalhador médio americano produz quatro vezes mais do que o nosso também! Não é espetacular? Vejam:

Quatro trabalhadores brasileiros são necessários para atingir a mesma produtividade de um norte-americano.

A distância, que vem se acentuando e está próxima da do nível dos anos 1950, reflete o baixo nível educacional no Brasil, a falta de qualificação da mão de obra, os gargalos na infraestrutura e os poucos investimentos em inovação e tecnologia no país.

Fatores apontados por empresários e por quem estuda o assunto como os principais entraves para a produtividade crescer no país –e que também ajudam a explicar o desempenho fraco do PIB brasileiro nos últimos anos.

A comparação entre Brasil e EUA considera como indicador a produtividade do trabalho, uma medida de eficiência que significa quanto cada trabalhador contribui para o PIB de seu país.

O dado é do Conference Board, organização americana que reúne cerca de 1.200 empresas públicas e privadas de 60 países e pesquisadores.

Ele é importante porque mostra a força de fatores como educação e investimento em setores de ponta, que tornam mais eficiente o uso de recursos. A produtividade costuma ser menor nas empresas de trabalho intensivo.

O baixo nível educacional no Brasil é destacado pelo pesquisador Fernando Veloso, da FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), como um dos mais graves problemas para uma economia que precisa crescer e aumentar o padrão de vida da população.

“O brasileiro estuda em média sete anos, nem completa o ensino fundamental. Nos EUA, são de 12 a 13 anos, o que inclui uma etapa do ensino superior, sem mencionar a qualidade do ensino.”

A média de treinamento (qualificação) que um americano recebe varia de 120 a 140 horas ao ano. No Brasil, são 30 horas por ano, destaca Hugo Braga Tadeu, professor da Fundação Dom Cabral.

Ou seja, precisamos de melhor ensino (não doutrinação ideológica das Humanas), cursos especializantes para melhorar nossa mão de obra, melhor infraestrutura, ambiente mais livre na economia, abertura comercial, menos burocracia, tudo aquilo que os liberais apontam há décadas como solução para aumentar a produtividade do trabalho. E, afinal, o salário real depende dessa produtividade, não de “vontade política” ou de pressão sindical. Eis algo que a esquerda ainda não entendeu.

Refém de um equívoco intelectual que é o marxismo, nossa esquerda ainda olha para o lucro como uma “mais-valia”, fruto da exploração do trabalho. E por isso enxerga o salário como resultado de exploração também, bastando o governo decretar maior parcela do resultado das empresas para os trabalhadores para resolver o problema. Nada mais falso!

Como fica claro, o salário dos trabalhadores depende de sua produtividade, e se um trabalhador for quatro vezes mais produtivo, ele tenderá a receber um salário quatro vezes maior. Gente séria, portanto, foca na baixa produtividade do trabalho no Brasil. Embusteiros, populistas, demagogos e ignorantes focam na discrepância entre ricos e pobres e pedem intervenção estatal para aumentar os salários por decreto, como se desse para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores num passe de mágica estatal.
Rodrigo Constantino  Do site: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/

domingo, 7 de junho de 2015

CRETINICES GRAMSCIANAS (1)

A receita gramsciana está errada. Não funciona. Não vale nada, seja como análise da estrutura do poder, seja como fórmula para conquistá-lo. Serve para infundir na esquerda um entusiasmo temporário


Como foi que o comunopetismo, após cinco décadas de hábil e continuado esforço para conquistar a hegemonia segundo a receita de Antonio Gramsci, caiu do sucesso avassalador para o fracasso total em apenas um dia, a data fatídica de 15 de março?

A resposta é simples: a receita gramsciana está errada. Não funciona. Não vale nada, seja como análise da estrutura do poder, seja como fórmula para conquistá-lo. Serve para infundir na esquerda um entusiasmo temporário que termina por jogá-la num buraco ainda mais fundo do que aquele do qual pareceu tirá-la no começo.

Tal como o marxismo clássico, o revisionismo de Bernstein e Kautsky, o leninismo, o stalinismo, o trotskismo, o maoísmo, a teoria “foquista” de Régis Débray, o marxismo estrutural de Louis Althusser e não sei mais quantas versões e remodelagens, o gramscismo nunca passou de mais uma na série interminável de formas ilusórias, entre patéticas e mortíferas, de que o marxismo se revestiu no empenho louco de dominar a realidade total e moldar o curso da História.

Um traço essencial do pensamento esquerdista, cuja disseminação nas escolas brasileiras basta por si só para explicar o decréscimo de capacidade dos nossos estudantes, jornalistas, professores universitários e intelectuais em geral, é aquele que, à falta de melhor nome, chamo “indução mediada”.

No processo normal do conhecimento científico, o acúmulo de fatos convergentes sugere uma constante, que então se consolida em hipótese descritiva e deve ser testada no confronto com possíveis fatos divergentes, antes mesmo de adquirir o estatuto de “teoria”.

Na visão esquerdista das coisas, entre os fatos e a hipótese descritiva já se interpõe toda uma teoria prévia – carregada, sempre, de moralismo acusador – que não só obriga os fatos a ir na direção desejada, mas obstaculiza, proíbe e impossibilita de antemão o confronto com os fatos divergentes, ao ponto de que o simples fato de alegá-los se torna prova da acusação embutida.

Notem bem: eu não disse que isso acontece de vez em quando, que é um cochilo frequente entre pensadores de esquerda. Disse que é um traço essencial e infalível, presente mesmo nas criações mais altas da intelectualidade esquerdista e sem o qual ela não poderia ser esquerdista de maneira alguma.

A teoria interposta tem uma infinidade de versões, mas pode-se resumir numa premissa simples e unívoca: Todos os males do mundo provêm de que aqueles que estão no poder não somos nós (comunistas e afins). Levei décadas para perceber que essa premissa, com toda a candura da sua estupidez brutal, está presente em cada linha não só dos “clássicos do marxismo”, Marx, Engels, Lênin, Stalin, Mao, mas dos militantes intelectuais marxistas mais sofisticados, como Lukacs, Sartre, Merleau-Ponty, Foucault, Althusser, Gramsci. 

Retire-a, e tudo o que eles escreveram não passará de um imenso e insensato non sequitur, tirando dos fatos conclusões que eles não sustentam nem em sonhos. Ponha-a de volta, e tudo começará a fazer sentido, mas não como teoria científica e sim como camuflagem pseudocientífica de uma intransigente e psicopática reivindicação de poder.

O próprio Marx já confessou isso implicitamente na sua 11a. Tese sobre Feuerbach: “Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo; o que importa é transformá-lo. ”

Se o filósofo pode exercer a sua atividade contemplativa longe dos altos escalões do poder e sem nenhuma intenção nem mesmo de frequentá-los, “transformar o mundo” requer, como primeiríssima condição, o poder de fazê-lo. Tudo, absolutamente tudo no pensamento marxista, marxiano, pró-marxista e marxistóide depende fundamentalmente dessa premissa, sem a qual ele não poderia ser o que é.

Isso quer dizer que, mesmo ao falar de assuntos que estão aparentemente a léguas de qualquer luta pelo poder – as tragédias de Ésquilo, a arquitetura das catedrais ou a música de Mozart – o intelectual marxista (uso o termo lato sensu) está sempre investigando a mesma questão ou série de questões: Quem está no poder, como chegou lá, como podemos tirá-lo de lá e ocupar o lugar dele?

Tudo, absolutamente tudo entre o céu e a terra, é examinado sob esse prisma e somente sob ele. A variedade mesma dos assuntos que interessam aos marxistas é a prova de que essa perspectiva obsessivamente limitada e limitadora pode ser estendida a todos os objetos possíveis, já que tudo pode ser útil para a conquista do poder, da mesma maneira que tudo pode ser meio ou obstáculo para a conquista de qualquer outro objetivo humano: a felicidade, a salvação da alma, a glória de uma nação ou raça, a prosperidade geral, a paz universal etc. etc.

Tudo o que existe, sob qualquer modo que seja, se torna então um instrumento de dominação, e todo o problema consiste em saber como tomá-lo dos seus detentores passados e presentes e entregá-los aos comunistas.

Imaginem, por exemplo, em quê se transforma, na perspectiva marxista (repito: lato sensu), o estudo da linguagem.

Antonio Gramsci enfatiza que em muitas línguas o adjetivo “bom” vem da mesma raiz que significa “rico” ou, como no latim, é ele próprio um sinônimo de “rico”. 

O consensus bonorum omnium, “consenso de todos os homens bons”, a que Cícero apela contra o sedicioso Catilina, não é outra coisa senão a opinião dos ricos e poderosos, os membros do Senado, os optimates em oposição aos populares.

É um fato. Mas Gramsci interpreta-o como prova de que a linguagem é por excelência um instrumento da hegemonia, o controle do que a sociedade pode ou não pode pensar. Na medida em que acredita que os ricos são os bons, ela se sentirá inibida de agir contra eles.

Mas, se fosse assim, todas as palavras do idioma deveriam enaltecer as virtudes dos ricos e vituperar os vícios dos pobres. Não poderia existir, por exemplo, a palavra corruptio, que no uso romano significava eminentemente induzir ao mal por meio de propinas – um modo de agir que é próprio dos ricos e não está ao alcance dos pobres. 

Nem poderia existir o verbo spolio, spoliare, que, em contraste com outras acepções do verbo “roubar”, como subripio, latrocinor, surrupio etc., designa eminentemente a espoliação do fraco pelo forte, do pobre pelo rico.

Se a linguagem fosse propriedade dos ricos e instrumento da sua glória, toda palavra que por si insinuasse alguma coisa contra eles deveria ser suprimida do vocabulário.

Se não o é, é pela simples razão de que as palavras não são consagradas no vocabulário dominante pela classe dominante, mas pelos gramáticos e escritores, que tanto faz serem pobres ou ricos, assim como pelo uso popular repetido, que se prolonga pelos séculos e transcende quaisquer disputas momentâneas de poder.

“Bom” ser usado como sinônimo de “rico” não significa que os ricos sejam sempre bons, o que seria uma crença demasiado pueril para ter qualquer eficácia retórica, mas, simplesmente, que é melhor ser rico que ser pobre -- uma verdade que os pobres conhecem até mais que os ricos.

Isso sem contar o fato banal de que qualquer adjetivo pode ser usado em sentido literal ou em sentido irônico, dependendo da construção da frase. Para usar os termos clássicos de Saussure, o significado das palavras não é decidido no nível da língua, mas no da fala – no uso concreto que as pessoas fazem da língua.
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio

sexta-feira, 5 de junho de 2015

NÃO HÁ CRIMES NO PARAÍSO

O filme "Crimes Ocultos" (em cartaz nos cinemas), de Daniel Espinosa, deveria ser visto por todos os alunos que escutam bobagens da boca de seus "professores de humanas" sobre o socialismo.


Antes, um reparo. Estou longe de achar que a sociedade de mercado seja um docinho de coco. Pelo contrário, concordo com o sociólogo americano Daniel Bell em seu primoroso "The Cultural Contradictions of Capitalism".

Nessa obra, Bell deixa claro como as virtudes que produziram o capitalismo -a saber, autorresponsabilidade, contenção do desejo imediato, poupança, dignidade pensada como fruto do trabalho pessoal- estão em crise por conta de toda uma geração mimada, narcisista e consumista que nasceu da própria riqueza capitalista.

Entretanto, a sociedade de mercado continua sendo a única forma conhecida de produção de riqueza social e de preservação da autonomia individual, ainda que não devamos ser os otimistas ingênuos que acham que o mercado "cura" tudo.

Tampouco a direita fascista, homofóbica, escrota, serve. É um lixo. Dito isso, vamos ao que interessa.

"Crimes Ocultos" é uma aula de história sobre a URSS, tão necessária contra as mentiras dos socialistas brasileiros. Na época, anos 1950, a esquerda já era mau caráter e já mentia sobre a URSS. Mas quero pontuar uma questão específica que aparece no filme.

"Crimes Ocultos" narra a história de um oficial da polícia política socialista, a versão comunista da Gestapo, que investiga um serial killer que matava crianças. O governo stalinista negava que existissem homicídios na URSS porque isso era coisa do mundo podre capitalista.

Sendo assim, os superiores do herói recusam a investigação sob a rubrica stalinista de que "não há crimes no paraíso", leia-se, no socialismo. Ao final, fica claro como um serial killer era quase "um detalhe menor" no absurdo que era o mundo socialista real.

Qual a questão específica que quero pontuar no filme? É a seguinte: a "versão oficial" que o policial é obrigado a aceitar ao final, para criar um departamento de homicídios na polícia, é que todo e qualquer homicídio na União Soviética seria fruto da contaminação do paraíso socialista pela política do mundo capitalista. Não fosse por essa contaminação, não haveria crimes no paraíso socialista.

Voltemos ao Brasil hoje. Não vou falar de política propriamente dita, vou falar da modinha que muitos psicanalistas e associados hoje em dia pregam por aí, a saber, que "a verdadeira clínica é a política".

Ou, o que é a mesma coisa, que a diagnóstica, a ciência que organiza os padrões etiológicos (causas) da psicopatologia, deve ser mudada para que aspectos políticos e sociais tenham espaço na determinação dos sintomas.

Sei que o negócio é complicado, mas, trocando em miúdos, é o seguinte: os sintomas seriam fruto da ordem social injusta do capitalismo. Se mudarmos essa ordem via uma política socialista, muitas doenças desapareceriam.

Ou seja, segundo esses neostalinistas (envergonhados de confessar seu amor bandido pela sociedade totalitária), com o socialismo não teríamos pânicos, impotências, depressões e quadros afins.

Gostaria de ver uma conversa entre Slavoj Zizek (o guru dos neostalinistas tupiniquins), grande representante desse lacanismo meia boca que põe a "culpa" da psicopatologia no capitalismo, e os superiores do policial em "Crimes Ocultos".

Dizer que homicídios são fruto da sociedade doente capitalista, sujando o paraíso socialista, é a mesma coisa que dizer que a verdadeira clínica é a política.

Stálin dizia que o capitalismo gera assassinos, a trupe neostalinista afirma que o capitalismo gera quadros clínicos que noutra ordem deixariam de existir.

Ou seja: a política socialista cura o mundo das psicopatologias capitalistas.

Num mundo em que essa trupe mandasse ("sem porcos capitalistas e indústrias farmacêuticas"), quando deprimidos e afins continuassem a aparecer, eles iriam por a culpa em traidores que mantinham sua vida "promíscua" com as desigualdades do capitalismo. O problema da esquerda não é político, é de caráter.
Por: Luiz Felipe Pondé Publicado na Folha de SP