segunda-feira, 30 de abril de 2018

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO DIZ QUE EUA ATACAM SÍRIA PELO PETRÓLEO. A VERDADE É OUTRA


Tese que circula na internet afirma que Estados Unidos estão contra a Síria pois precisam de uma rota mais curta para trazer o petróleo do Oriente Médio. País tem interesses na região, mas eles são outros

Imagem da teoria da conspiração que anda circulando pela internet: falsa Reprodução


Nos últimos dias, uma imagem tomou a internet brasileira de assalto, com um mapa-múndi cortado por supostas rotas de petróleo e oferecendo uma justificativa para o maior envolvimento dos Estados Unidos na Guerra da Síria nos últimos meses: após uma eventual vitória na queda de braço com a Rússia pela influência sobre o país, o governo norte-americano poderia substituir a rota atual – que dá a volta na África, pelo Cabo da Boa Esperança – pela alegada “nova rota pela Síria”, basicamente uma linha reta desde o Mediterrâneo até a Costa Leste dos EUA. Dessa forma, seria mais fácil tirar o petróleo do Oriente Médio para satisfazer as necessidades da indústria norte-americana. 

Afinal, os boatos da internet fazem algum sentido? A seguir, explicamos por que a suposta rota síria não é um objetivo verdadeiro, e quais os interesses reais de Washington na zona. 
De onde vem o petróleo usado pelos americanos 

O mapa compartilhado nas redes sociais acerta em uma coisa: hoje, grande parte do petróleo saído do Oriente Médio chega aos Estados Unidos – e à América do Sul – circulando o Cabo da Boa Esperança, como mostra um levantamento feito pela Universidade Northwestern.

A viagem leva em torno de três semanas. Apresentado como alternativa pelos críticos do mapa que circulou na internet brasileira, o Canal de Suez (localizado no Egito, ligando o Mediterrâneo ao Mar Vermelho) não é priorizado nessa rota por duas razões principais: pelo grande tráfego que atrasaria a viagem, já que é o caminho marítimo principal para o petróleo chegar à Europa, e pelo fato de que os maiores navios petroleiros – preferidos nas viagens transatlânticas – já não conseguem atravessá-lo atualmente.

No entanto, a premissa de que os Estados Unidos dependem do petróleo do Oriente Médio é equivocada. Argumento muito utilizado no início da Guerra do Iraque, em 2003, o interesse nas reservas de petróleo da região por parte do governo norte-americano se enfraqueceu ao longo dos últimos quinze anos, conforme novas tecnologias aumentaram a produção interna para níveis que se aproximam dos recordes históricos.

Hoje, considerando a balança de exportações e importações de petróleo e derivados por parte dos EUA, apenas 19% do que é consumido no país vem do exterior – o volume mais baixo dos últimos 50 anos, segundo dados da Administração de Informação Energética (EIA, na sigla em inglês) do governo americano. 

Mais do que isso: a imensa maioria do petróleo cru e derivados vindo de terras estrangeiras sai de nações que já são parceiras dos Estados Unidos, e quase metade dele vem por terra – através de oleodutos e gasodutos – desde o Canadá e o México, que juntos são responsáveis por quase 47% das importações. No ano passado, apenas 17% desse total veio dos países do Golfo Pérsico, e a maior parte disso saiu da Arábia Saudita, maior produtora da região e com quem Washington já tem laços políticos e comerciais bem estabelecidos. 

Outro parceiro importante dos EUA no mercado energético surpreende quem sustenta um discurso político simplista: mesmo em crise e com um forte tom ideológico antiamericano, a Venezuela passou a última década sendo a terceira maior exportadora de petróleo para os Estados Unidos, atrás somente dos canadenses e dos sauditas (com a produção em declínio, no ano passado o país de Nicolás Maduro caiu uma posição e foi superado pelo México). De todo modo, a importação de petróleo e derivados tem cada vez menos relevância no funcionamento da economia estadunidense. 
Como os EUA reduziram sua dependência

Grande parte dos nossos equívocos sobre uma suposta escassez de petróleo nos Estados Unidos vem de uma antiga teoria criada pelo geólogo da indústria petrolífera Marion King Hubbert.

Nos anos 50, analisando as reservas conhecidas, ele previu que os EUA atingiriam o ápice da produção interna em algum ponto no início da década de 70, e a partir dali haveria um declínio continuado até a extinção do recurso – com o país dependendo cada vez mais de importações.

E, por mais de meio século, a profecia de Hubbert se confirmou: após atingir um pico de 9,63 milhões de barris de petróleo produzidos por dia em 1970, os EUA viram sua produção diminuir gradativamente nas décadas seguintes. Em 2008, no ponto mais baixo desde então, a produção já havia baixado para 4,99 milhões de barris diários. 

A previsão de Hubbert e a forma como ela parecia acertada esteve por trás de grande parcela dos movimentos geopolíticos na segunda metade do século 20 – tanto por parte da Casa Branca quanto dos países que para ela exportavam.

A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) passou a operar em 1961. Desde 1973, quando geraram sua primeira grande crise internacional ao quadruplicar o preço do barril, as nações exportadoras passaram a influenciar os preços da commodity de modo a conquistar maior poder de barganha no cenário mundial. O jogo da Opep e a crescente dependência dos Estados Unidos levou a parcerias ainda hoje questionadas, como a mantida com a dinastia saudita, e a campanhas militares que – entre outras motivações – ajudaram a evitar uma diminuição do acesso americano às reservas conhecidas no Oriente Médio, como a Guerra do Golfo (1990-91) e a Guerra do Iraque (2003-2011). 

A Guerra da Síria, porém, chega em um novo momento dessa história. Hoje, sabe-se que a curva de Hubbert estava errada, por uma razão fundamental: é impossível fazer o cálculo de quando haverá o “pico” de produção enquanto existirem reservas desconhecidas. O petróleo é um recurso não-renovável, mas ainda há depósitos inexplorados e não encontrados.

Foi o que aconteceu nos Estados Unidos: o desenvolvimento de novas técnicas de escavação e o chamado fracking, o fraturamento hidráulico de rocha, permitiu a extração de óleo cru em regiões antes inviáveis dentro do território nacional. Após a baixa de 2008, os EUA passaram a última década vendo sua produção subir vertiginosamente e quase dobrar – em 2017, foram 9,32 milhões de barris por dia, números muito próximos do recorde de 1970, e a tendência é que aquela marca seja superada em breve. 
O que está em jogo 

Isso não quer dizer que os Estados Unidos estejam envolvidos na Síria apenas por preocupações humanitárias, nem que não existam interesses políticos e econômicos em jogo – eles são, no entanto, mais complexos do que o sugerido pelo mapa das rotas de petróleo que se vê nas redes sociais.

O general da reserva americano Wesley Clark, que chegou a ser Comandante Supremo da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no final dos anos 90, declarou que a Síria estava no mapa de possíveis intervenções dos EUA desde as primeiras semanas após o 11 de setembro de 2001, como parte do conjunto de governos que deveriam ser derrubados para assegurar o controle norte-americano sobre a região. 

Hafez al-Assad, pai do atual ditador Bashar al-Assad, governou o país entre 1971 e 2000 e era aliado soviético. Seu filho, no poder desde a sua morte, manteve a fidelidade à Rússia. Temia-se ainda que os países fora da zona de influência norte-americana fossem berço de grupos terroristas.

De acordo com documentos vazados pelo Wikileaks, há indícios de operações secretas dos Estados Unidos no país desde pelo menos 2006, buscando a desestabilização do regime. Outros vazamentos sugerem que americanos e britânicos estiveram envolvidos no treinamento de forças rebeldes sírias em 2011, logo no início da atual guerra civil no país.

Nos vários anos após o início do envolvimento norte-americano na Síria, a situação se transformou. Hoje, a disputa de poder com a Rússia envolve não só um embate pela influência no Oriente Médio propriamente dito, uma herança da Guerra Fria, mas a redução da principal carta geopolítica que Vladimir Putin guarda hoje em sua manga – a dependência energética da Europa em relação ao petróleo e derivados extraídos em território russo e de suas nações-satélite. 

Na atualidade, quase 39% das importações de óleo cru feitas pela União Europeia vêm da Rússia e de outras ex-repúblicas soviéticas que permanecem na sua zona de influência, como o Azerbaijão e o Cazaquistão. Uma dependência semelhante da Europa em relação aos hidrocarbonetos russos é observada em um dos principais derivados do petróleo, o gás natural, que é importado da Rússia na mesma proporção.

Em 2009, os governos do Catar e da Turquia propuseram a construção de um longo gasoduto que atravessaria a Península Arábica e, antes de entrar na Europa, precisava cruzar o território sírio. Junto com outro gasoduto proposto ligando a Turquia e a Áustria, conhecido como Nabucco, a nova infraestrutura ajudaria a diminuir a dependência da Europa em relação aos recursos vindos da Rússia. Bashar al-Assad, porém, vetou o projeto bilionário. 

Desde o início da guerra civil, o Catar tem sido o país mais envolvido do Oriente Médio no financiamento de grupos rebeldes que buscam a derrubada de Assad, com a participação norte-americana se reduzindo originalmente às ações encobertas e secretas.

Mas, em setembro de 2015, o início da intervenção militar russa em solo sírio levou o conflito a um novo patamar – cogitado por Barack Obama, o envolvimento direto dos Estados Unidos no país começou a se tornar realidade com os bombardeios a bases militares e científicas sírias ordenados durante o governo de Donald Trump, iniciados no ano passado e intensificados nas últimas semanas. 

Oficialmente, os ataques respondiam ao uso de armas químicas e biológicas por parte de Assad contra a população civil, mas alguns analistas veem esses episódios como um pretexto para garantir os interesses norte-americanos na área. Interesses que existem, mas não são tão simples como os memes das redes sociais podem sugerir. 
Por: Maurício Brum * especial para a Gazeta do Povo * Colaborou Juan Ortiz.
Do site:www.gazetadopovo.com.br 

sexta-feira, 20 de abril de 2018

PARAGUAI REINVENTA ECONOMIA E VAI DE "PRIMO POBRE" A ESTRELA DA AMÉRICA LATINA


País vizinho se destaca no continente com inflação controlada, desemprego baixo e crescimento constante

Visto durante muito tempo como o “primo pobre” da América do Sul, o Paraguai apareceu em Davos, no Fórum Econômico Mundial, como a grande estrela da região. E com razão. Em menos de uma década, a economia paraguaia se reinventou, conseguiu atrair investimentos estrangeiros e crescer com o apoio do agronegócio. O resultado é um desempenho de fazer inveja aos vizinhos, que andam patinando para sair da crise.

A transformação está nos números. A economia paraguaia experimentou um crescimento de 14% em 2013 (o Brasil cresceu 2,3%) e 4,7% no ano seguinte, enquanto a América do Sul cresceu, respectivamente, apenas 3,3% e 0,7%. Mesmo desacelerando, o PIB do Paraguai fechou 2015 com alta de 3% e, segundo projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI), deve crescer 3,5% em 2016. A inflação segue controlada, próxima de 5%, e a taxa de desemprego do país está em queda. 

No Brasil, por outro lado, a recessão bateu forte nesse período, com a inflação e o desemprego atingindo níveis recordes. Em 2015, o PIB brasileiro encolheu 3,8% e a inflação chegou a 10,6%. Em 2016, é esperada uma retração de 3,5% no nosso PIB. 

Resiliente em meio à crise, o Paraguai recebeu elogios até do FMI. Em seu último relatório sobre o país, o fundo destacou a política fiscal do Paraguai como um importante elemento de apoio à atividade econômica do país. O déficit orçamentário do governo atingiu 1,7% do PIB, levemente acima do teto de 1,5% estabelecido pela lei de responsabilidade fiscal. O Paraguai tem um dos menores índices de endividamento público do mundo, com 23% de dívida bruta sobre o PIB. O índice estimado do Brasil é de 73%, enquanto a média dos demais países do Mercosul é de 54%, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) do Brasil.
Ambiente ideal

Com crescimento, baixa inflação e finanças públicas sólidas, o Paraguai conseguiu criar um ambiente favorável à atração de investimentos estrangeiros no qual vigoram regras estáveis, benefícios fiscais, baixa carga tributária (cerca de 10% do PIB contra 33,4% do PIB no Brasil) e custos bastante competitivos, sobretudo com energia e mão de obra. Não demorou muito para que as empresas brasileiras e de outros países vizinhos descobrissem esse oásis de benesses quase no quintal de casa, explica professor de economia do Insper, Otto Nogami. 

Impulsionado pela Lei de Maquila – criada no ano de 2000 para incentivar a instalação de empresas estrangeiras no país – o movimento de migração de companhias para o Paraguai se acentuou a partir de 2013, quando a economia brasileira começou a ser deteriorar. O regime fiscal de Maquila oferece isenção de impostos às empresas estrangeiras para importação de máquinas, equipamentos e matéria-prima. Em contrapartida, a empresa precisa exportar 100% de sua produção até completar o primeiro ano no regime e paga um imposto único de 1% sobre a sua fatura de exportação. Para acessar tais benefícios, contudo, a empresa precisa manter a operação no país de origem. 

Ao todo, desde 2013, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já realizou sete missões ao Paraguai envolvendo cerca de 390 empresários brasileiros de distintos setores. Desses, 60% já desenvolveram ou estão desenvolvendo algum tipo de parceria comercial ou de investimento no Paraguai. Ao todo, 120 empresas brasileiras estão instaladas lá, sendo 85 amparadas pelo regime de Maquila. 

“Lá as empresas brasileiras têm mais vantagens para acessar determinados mercados. O setor têxtil consegue acessar toda a Europa com alíquota praticamente zero. No Brasil seria de 25% a 36%, dependendo do produto”, destaca Sarah Saldanha, gerente de Serviços de Internacionalização da CNI. A ideia, contudo, é que as empresas brasileiras possam aproveitar as vantagens oferecidas pelo Paraguai para impulsionar seus negócios no Brasil, num relação de complementaridade, e não migrar definitivamente para lá, ressalta Sarah.

Energia e mão de obra mais baratas atraem empresas brasileiras

A lista de companhias brasileiras que migraram parte de sua operação para o Paraguai tem nomes conhecidos como Vale, Eurofarma, Riachuelo, JBS, Bourbon e Buddemeyer, mas também empresas menos conhecidas que encontraram no vizinho guarani uma chance manter as portas abertas e prosperar. Lá, além de incentivos fiscais, as companhias brasileiras encontraram mão de obra e energia mais baratas. Para ter uma ideia, a soma dos encargos trabalhistas torna o custo unitário de mão de obra no Brasil entre 100% e 135% mais caro que no Paraguai. A energia, por sua vez, é quase 70% mais em conta do que aqui, ressalta Edson Campagnolo, presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Só em 2016, a entidade conduziu três missões com cerca de 60 empresários paranaenses para o Paraguai. 
Parceria antiga

De acordo com a CNI, a corrente de comércio entre Brasil e Paraguai cresceu quase 120% no acumulado dos últimos dez anos, totalizando US$ 3,3 bilhões em 2015. O Brasil é superavitário em quase US$ 1,6 bilhão e as vendas ao Paraguai são compostas por mais de 93% de bens manufaturados. O Paraguai é o 5º principal destino das exportações brasileiras de produtos desse tipo. O Brasil, por sua vez, ainda é a principal origem das importações do Paraguai, fornecendo 25% do total importado pelo país em 2015), mas o valor vem caindo nos últimos anos com o aumento da concorrência com a China.

Gargalos e limitações do país ameaçam onda de crescimento

Apesar da perspectiva positiva para os próximos anos, o crescimento da economia paraguaia deve encontrar barreiras. Por exemplo, a baixa qualificação da mão de obra paraguaia, destaca o professor de economia do Insper Otto Nogami. 

O FMI faz o mesmo alerta em seu relatório. Até agora, segundo o fundo, os sólidos fundamentos macroeconômicos – com crescimento baixa inflação e conta públicas estváveis -, além de demografia favorável, menor custo de importação de petróleo e setor elétrico competitivo, ajudaram a sustentar o crescimento do país no curto prazo. Já no ano passado, contudo, a economia experimentou uma perda de impulso, em grande parte ligada à desaceleração do preço das commodities.

No médio prazo, as ameaças ao crescimento aumentaram, principalmente do lado externo, com o risco de um declínio mais profundo do Brasil ou um recuo ainda maior do preço das commodities agrícolas, alerta o FMI. Para Nogami, o plano de atração de investimentos, um dos motores do PIB paraguaio, tende a ficar limitado pelas deficiências estruturais e gargalos do país. Neste sentido, a recomendação do FMI ao vizinho guarani é que o país encare alguns desafios prioritários e promova um crescimento mais inclusivo, reduzindo a pobreza, fortalecendo os quadros políticos e aumentando a produtividade.

Desempenho invejável

Com inflação controlada e desemprego em queda, o PIB paraguaio cresce a taxas de fazer inveja nos vizinhos da América Latina, puxado, principalmente por boas safras de soja no campo e investimentos estrangeiros na indústria.
PIB


Em %

PIB PER CAPITA


Em milhares US$

INFLAÇÃO


Em %

TAXA DE DESEMPREGO


% da mão de obra total



*projeções

Fonte: Fundo Monetário Internacional. Infografia: Gazeta do Povo.Albari Rosa/Gazeta do Povo

sexta-feira, 13 de abril de 2018

O ALTO PREÇO DA NAVEGAÇÃO

Já estão admitindo o que salta aos olhos dos europeus comuns, pode ser a admissão de que as coisas chegaram a tal ponto de deterioração, evidente a todos, que até a Chanceler Merkel e o The New York Timesnão conseguem mais ignorá-las.


Se este for o caso, vem necessariamente o seguinte raciocínio: imagine o que poderia ter sido resolvido se as negações nunca tivessem acontecido?

Será que os políticos mais influentes e que a grande mídia estão finalmente reconhecendo o que o público europeu está vendo com seus próprios olhos? Dois recentes acontecimentos sugerem que este pode ser o caso.
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O primeiro é o reconhecimento da chanceler alemã Angela Merkel que, quase meio ano após seu partido ter passado pelo constrangimento nas eleições gerais, ter finalmente conseguido formar um governo de coalizão. Setembro passado não só testemunhou o partido de Merkel e de seus antigos parceiros da coalizão sofrerem um abocanhamento histórico dos votos de seu eleitorado, como também a entrada no Parlamento do AfD (Alternativa para a Alemanha), partido anti-imigração formado apenas há de cinco anos, que já é tão importante que representa a oposição oficial no parlamento. Se a intenção dos eleitores alemães era dar um recado, não poderia ser mais claro.

Talvez o "presta atenção" tenha sido escutado. Na segunda-feira, 26 de fevereiro, Merkel concedeu uma entrevista à rede alemã N-TV. Nela, Merkel finalmente admitiu que existem "áreas proibidas" em seu país: "isto é, áreas onde ninguém se atreve entrar". Continuando ela salientou: "essas áreas existem e é preciso dar nome aos bois e tomar providências". A chanceler afirmou que ela era a favor de uma postura de "tolerância zero" em relação a esses lugares, mas não disse onde eles se encontravam. Dois dias depois, sua porta-voz, Steffen Seibert, enfatizou que "as palavras da chanceler falam por si só".



Chanceler da Alemanha, Angela Merkel. (Foto: Carsten Koall/Getty Images)

Embora a chanceler tenha optado por usar poucas palavras, o simples fato dela ter dito essas coisas já é significativo. Por anos a fio as autoridades alemãs, assim como seus pares em todo o continente europeu, negaram categoricamente que havia regiões em seus países onde não se aplicava o estado de direito. Negações proferidas por autoridades de outros países também causaram espécie na Suécia e na França. Em janeiro de 2015 a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, ameaçou processar a Fox News (canal de notícias de TV a cabo e via satélite) por ela ter divulgado que havia zonas proibidas na cidade dela. Hidalgo sustentou na época em uma entrevista à CNN, que "a honra de Paris" e a "imagem de Paris" haviam sido maculadas. Foi uma afirmação no mínimo curiosa, por não ter levado em conta que se a "imagem de Paris" ficou desgastada naquela época, poderia ter sido devido ao massacre de 12 jornalistas, cartunistas e policiais na redação da revista satírica Charlie Hebdo e ao massacre de quatro pessoas em um supermercado kasher dois dias depois. De modo que, reconhecimentos como os de Merkel, diferentemente dos acobertamentos de Hidalgo, devem ser aplaudidos, sem estardalhaço, sempre que ocorrerem.

Apenas uma semana depois, mais um marco interessante. A primeira página do New York Times de 6 de março retratava um caso, também agraciado com as únicas imagens na capa, que ninguém imaginava que o jornal pudesse publicar. Com a manchete "Armas antigas sacodem a Suécia", o jornal registrou a morte de um homem de 63 anos de idade no bairro Varby Gard, em Estocolmo. Conforme relata o jornal, Daniel Cuevas Zuniga tinha acabado de sair do turno da noite onde trabalhava como cuidador de adultos com necessidades especiais. Ele voltava para casa andando de bicicleta juntamente com sua esposa, quando, ao observar um objeto esférico no chão, parou e o pegou. Era uma granada de mão M-75, sua carga explosiva com 3000 bolinhas de aço mataram instantaneamente Zuniga, arremessando sua esposa para longe da bicicleta.

Conforme admite, contrariadamente o jornal, não se trata de uma ocorrência pontual e sim parte de um surto de violência, envolvendo particularmente granadas de mão, causado pelo influxo de gangues estrangeiras e armas estrangeiras (em grande parte das guerras dos Bálcãs na década de 1990) para o país escandinavo. O jornal citou um candidato a asilo libanês que já havia sido integrante da tropa de choque de milicianos libaneses. Paulus Borisho, no interior de sua loja de kebab, ouviu a explosão que matou Zuniga. Conforme registra o jornal:

"O fato de uma granada estar na calçada em frente a uma loja de kebabs (espetinhos de carne), a poucos metros de uma escola de ensino fundamental, foi difícil de digerir.

"Pensando no futuro, tenho medo", salientou ele. "Tenho medo do que irá acontecer na Europa".

É para ter medo mesmo. O jornal teve até a decência de citar amigos do falecido Zuniga, que relataram que ele se queixava das "recentes transformações em Varby Gard" e que "estavam frustrados pelo fato da polícia não ter as rédeas da situação". De novo: é para se estar com medo sim.

Como não podia deixar de ser, o surto de violência das gangues e, em especial, da violência com uso de granadas na Suécia, foi abordado por outros meios de comunicação nos últimos anos. Estes meios de comunicação apontavam as formas, muitas vezes ridículas, da polícia sueca abordar o problema. Por exemplo, a chefe de polícia sueca Linda Staaf tentou recentemente dissuadir gangues de usarem granadas de mão na Suécia, salientando que atirar granadas é perigoso porque a pessoa que puxa o pino pode "se expor a um enorme risco". Jornais como o New York Times demonstraram pouco interesse em problemas dessa natureza, problemas de tamanha gravidade que o primeiro-ministro Stefan Löfven chegou a ameaçar enviar o exército a determinados subúrbios suecos.

No entanto, jornais como o New York Times tendem, nos últimos anos, a adotar o mesmo tipo de negação abraçado por Angela Merkel no tocante aos problemas que a imigração em massa dos países em desenvolvimento estão causando na Europa. Eles tendem a glorificar a "coragem" da Suécia em levantar os costumeiros controles de fronteiras ao mesmo tempo em que acobertam ou ignoram as terríveis consequências da importação de milhões de pessoas cujas identidades são desconhecidas. E, é claro, assim como a prefeita Hidalgo de Paris, eles tendem a "matar os mensageiros" mais do que divulgar as notícias, descartando esses tipos de casos como "fake news", "alt-right" (movimento de extrema-direita que rejeita o conservadorismo tradicional, centrado na supremacia branca) ou "extrema direita" propriamente dita.

No ano passado, quando Donald Trump pronunciou a famosa frase "o que aconteceu ontem à noite na Suécia", a grande mídia sabia sobre o que ele estava falando. Ela sabia que ele estava vagamente se referindo a uma reportagem que havia assistido na Fox news na noite anterior sobre a contínua deterioração que estava ocorrendo naquele país. A mídia, no entanto, optou por não abordar esse problema. Ela optou priorizar debochar do presidente, ridicularizando a ideia de que havia algum problema no paraíso escandinavo.

Naquela ocasião o New York Times destacou em letras garrafais que os comentários do presidente Trump eram "desconcertantes", enquanto grande parte da mídia simplesmente fazia de conta que a Suécia era um país de paz infinita e da Ikea, que havia sido tremendamente difamada pelo presidente.

A surpresa de que em um espaço de poucos dias, tanto a Chanceler Merkel quanto o New York Times se dispuseram a admitir fatos que eles e seus defensores fizeram de conta, por muito tempo, serem imaginários, podem indicar um ligeiro progresso. Também não é motivo de otimismo. Não necessariamente sendo uma demonstração de que as coisas estão melhorando, o fato de que já estão admitindo o que salta aos olhos dos europeus comuns, pode ser a admissão de que as coisas chegaram a tal ponto de deterioração, evidente a todos, que até o The New York Times e a Mutti Merkel não conseguem mais ignorá-las. Se este for o caso, vem necessariamente o seguinte raciocínio: imagine o que poderia ter sido resolvido se as negações nunca tivessem acontecido?

Por: Douglas Murray, escritor, jornalista, comentarista e analista de relações públicas britânico, sediado em Londres, Inglaterra. Seu último livro, best seller internacional: "The Strange Death of Europe: Immigration, Identity, Islam".
Original em inglês: The High Price of Denial
Tradução: Joseph Skilnik
Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org

domingo, 8 de abril de 2018

QUERO MEU BRASIL DE VOLTA


"Primeira Missa no Brasil", óleo de Vitor Meirelles (1861)

“Se vemos mais e mais adiante deles, não é por causa de nossos olhos límpidos e de nossos altos corpos, mas porque somos mantidos no alto pela gigantesca estatura dos antigos.” (Bernardo de Chartres) 


Inicio este artigo em lágrimas, emocionado após assistir ao quinto episódio da série Brasil – A Última Cruzada, produzida pela trupe incansável do Brasil Paralelo. Não só porque sou um dos entrevistados (risos), mas porque está belíssimo! Caso você ainda não conheça, caro leitor, Brasil Paralelo é uma produtora de conteúdo, independente, formada por um grupo de jovens de Porto Alegre, no Sul do Brasil, que vem desenvolvendo um trabalho audiovisual impressionante, tanto no debate político conturbado de nosso país quanto na revisão inovadora da historiografia nacional. A série Brasil – A Última Cruzada, que estreou em dezembro de 2017 e já foi vista por mais de 1,5 milhão de pessoas, tem renovado o nosso amor por nossa pátria, há muito sequestrada por oligarcas e ideólogos irresponsáveis, mais preocupados com seus próprios interesses do que com o bem comum. 


Eis o trailer:






Ao assistir a essa série, percebo a quantidade de informações que nos foi escamoteada por tantos anos, e como as interpretações ideológicas subverteram a verdade. Há séculos sofremos não só com a sanha daqueles que julgam lícito conquistar o poder e fazer fortuna à custa do sofrimento de milhões, mas também com aqueles que buscam, inconsequentemente, transformar o mundo em vez de compreendê-lo. 

Tal distorção da realidade nos afetou profundamente, pois, impossibilitados de assumirmos a nossa vocação, passamos a viver das aparências e do famigerado jeitinho brasileiro, como constatou o filósofo Mário Vieira de Mello em seu estupendo Desenvolvimento e Cultura – O problema do estetismo no Brasil­, publicado em 1963: 

“Num país como o nosso, onde tudo se faz por amizade, seria com efeito absurdo, para quem quer prosperar, criar deliberadamente limites à manipulação de um tal sentimento, fazer distinções, estabelecer critérios de seleção na escolha de amigos. O mais sensato naturalmente seria desencadear um processo inflacionário da amizade que nos permitisse ter sempre à mão a moeda capaz de promover nosso interesse.” 

Mas antes ainda, em 1908, o grande Sílvio Romero diagnosticara um problema ainda mais profundo na alma brasileira, descrito em seu ensaio Nosso maior mal: 

“[…] a maior parte dos erros, dos embaraços, das decepções, das quedas, dos prejuízos, dos desastres e até da total ruína que cada um de nós comete, encontra ou sofre na vida provém pura e simplesmente, quase sempre, desta coisa tão simples, tão rudimentar, tão indesculpável — o desconhecimento de nós mesmos. […] A inconsciência em que a maior parte das pessoas vive das lacunas de sua inteligência, da insuficiência de seu saber, dos vícios de seu caráter, da fraqueza de sua vontade — é a origem da precipitação, da leviandade, da arrogância, dos falsos cálculos, dos passos errados, das loucuras praticadas.” 

Ou seja, a perda da nossa identidade. Não reconhecendo o que somos, queremos ser o que não somos. 

O Brasil, país jovem, nasceu sob os auspícios da modernidade. As nações mais antigas já tinham se estruturado culturalmente, alimentadas, durante longos séculos, pela Antiguidade clássica e pelo Cristianismo; por isso, desfrutavam de considerável estabilidade e uniformidade de pensamento quando os portugueses aportaram em solo brasileiro. Numa colônia, cujo processo civilizatório é sempre muito complexo, há o risco de as disputas políticas ocuparem todo o espaço de formação da sociedade, prejudicando sensivelmente seu desenvolvimento. Os desafios são enormes, e os elementos capazes de gerar uma Tradição – a língua, a religião e a alta cultura, nas palavras do filósofo Olavo de Carvalho – na qual a identidade nacional repousa e fortalece a sensação de pertencimento de cada cidadão, só podem ser desenvolvidos sob a severa responsabilidade (e notória competência) administrativa dos governantes, a consciência missionária da elite cultural (sacerdotes, educadores, intelectuais e artistas) e a liberdade individual dos cidadãos. 

Não foi à toa que, no século 19, dom Pedro II investiu tanto no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, na Academia Imperial de Belas-Artes e no Colégio Pedro II, financiando cientistas, artistas, exposições e assistindo a exames de muitos alunos. Seu amor pela educação, pelas artes e, sobretudo, pelo Brasil pode ser expresso em sua famosa frase, encontrada num de seus Diários: “Se não fosse imperador do Brasil, quisera ser mestre-escola”. Sua intenção era criar uma identidade nacional que revelasse a opulência de nosso país não só interna, mas externamente; e isso foi revelado em sua influência ativa e direta nesse processo: patrocinou, pessoalmente, a instrução de muitos estudantes no exterior – dentre eles, o notável pintor Pedro Américo; a primeira médica brasileira, Maria Augusta Generoso Estrela; e o compositor que colocou o Brasil no circuito musical internacional: Antônio Carlos Gomes. A estreia de O Guarani, em 19 de março de 1870, no Teatro Alla Scala, de Milão, foi um marco no reconhecimento do altíssimo nível da música brasileira. 

No entanto, tais aspectos de nossa história e da nossa cultura, que poderiam nos servir de referência, são pouquíssimo explorados por nossos professores, cujo empenho, ao tratarem do nosso passado, parece ter sempre um caráter crítico – quando não difamatório. Sem contar que, como tratei em artigo anterior, a cultura clássica foi quase totalmente substituída pela cultura popular; essa em detrimento daquela, chamada de elitista. Desse modo, perdemos as referências históricas e imaginativas capazes de nos orientar. 

Após o golpe militar de 1889, chamado pomposamente de Proclamação da República, nossa história foi recontada pelos positivistas, a fim de menosprezar o legado monárquico e dar ares de progresso à sua sanha revolucionária. Posteriormente, os comunistas a reescreveram novamente, sob o maniqueísmo socioeconômico dos exploradores versus explorados. Assim, a verdadeira história de nosso país segue praticamente desconhecida da população atual. E, com a substituição da matriz curricular clássica – que privilegiava o conteúdo, a informação, a ciência – pela moderna, através dos quatro pilares da educação – aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser –, sandice do ideólogo francês Jacques Delors, adotados pela Unesco, há pouquíssimas chances de revertermos esse quadro. Veja o que diz o Currículo de Ciências Humanas e Suas Tecnologias, do ensino fundamental e médio, do estado de São Paulo: 

“[…] fica claro que o primeiro objetivo geral do ensino fundamental é levar os alunos à compreensão da ‘cidadania como participação social e política. A partir dessa compreensão, espera-se despertar a consciência em relação ao exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais’, adotando, ‘no dia a dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito’. Assim, os estudantes devem desenvolver um posicionamento crítico frente aos problemas que afetam a vida social, reconhecendo o diálogo como ponto de partida fundamental para a tomada de decisões coletivas.” 

Ou seja, em vez de ensinar História, deve-se ensinar a criticar a História. Em vez dos fatos, as interpretações. Em vez da ciência, a opinião (a doxa, que Platão tanto criticou). Não que seja errado interpretar os fatos e emitir opiniões, mas tal método parte do princípio de que sempre há uma intenção por detrás do texto, que não há, jamais, isenção num fato narrado, e que cumpre ao historiador desmascarar a “farsa”, não sem antes “despertar a consciência em relação ao exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais”. E, embora nada disso seja ruim em si mesmo – pois não sou avesso à ideia de que a escola também educa, e que a educação para a cidadania seja algo louvável –, essa não é a função primordial do ambiente acadêmico. A função da escola é transmitir um conjunto básico de conhecimentos para formar intelectualmente o aluno. E, para que isso seja possível, a disciplina, a atenção, a dedicação e o foco, que são elementos de ordem – educativos, por assim dizer –, são essenciais. 

Por isso, iniciei o ano letivo fazendo aos meus alunos uma provocação: por que o Brasil se tornou uma nação tão estranha a nós, brasileiros? Por que, por exemplo, ao mesmo tempo em que não reconhecemos nossa classe política, considerando-a um grupo de bandidos inescrupulosos – salvo raríssimas exceções –, não percebemos que fomos nós que os elegemos? Não é curioso pensar que somos, paradoxalmente, vítimas e algozes de nosso destino? Que a solução pela qual sempre clamamos é aquela que, cada vez mais, nos aprisiona? E estamos lendo alguns textos clássicos a fim de analisarmos e compreendermos nossa situação atual. 

Tal contradição foi analisada com maestria ímpar por meu amigo e colega de Gazeta do Povo Bruno Garschagen, em seu best-seller Pare de Acreditar no Governo, através do questionamento que o levou a escrever o livro: “por qual razão nós, que tínhamos uma imagem tão compreensivelmente negativa sobre os políticos, achávamos que o governo deveria resolver os problemas do país”? 

Como percebemos, o problema é antigo, mas creio que tenha sido agravado, e muito, pelo golpe republicano de 1889. O jornalista e escritor Eduardo Prado, em Fastos da Ditadura Militar no Brasil, seu libelo contra aquele golpe, publicado em 1890, disse: “A fatalidade reservava, porém, à geração que viu extinguir-se a escravidão doméstica o espetáculo da escravidão política”. E, para completar, a sucessão de golpes de Estado que sofremos desde então, tornou nossa liberdade um anseio ainda mais distante. 

Mas Bruno oferece algumas dicas que creio serem utilíssimas: 

“O que fará a diferença para impedir, minimizar ou reduzir a mentalidade estatista e, por tabela, o intervencionismo como agenda política é mostrar às pessoas a natureza das ideologias que disputam espaço e como elas podem ser prejudicadas pelo governo. Isso fornece instrumentos que nos permitem reconhecer e rejeitar os projetos de poder baseados na ideia de que o Estado deve ser o principal agente da vida em sociedade”. 

E completa, citando o filósofo britânico Roger Scruton: 

“O nosso grande desafio é ‘menos político do que cultural — uma educação da compreensão, que nos exige virtudes (como a imaginação, a criatividade e o respeito pela alta cultura) que têm um espaço cada vez menor no mundo da política’. Se a armadilha não pode ser totalmente desarmada, podemos mostrar às pessoas que ela existe e como não cair na arapuca intervencionista.” 

E assim voltamos ao início deste artigo. A (re)criação de uma identidade nacional, que nos fornecerá perspectivas de um futuro se não glorioso, ao menos livre, passa pela reformação de nossa imaginação moral através da educação como Paidéia , que exigirá de pais, professores, intelectuais e artistas o comprometimento com aquilo que realmente importa. Platão explica, em sua República (401c-d, 402a): 

“Devemos […] procurar aqueles dentre os artistas cuja boa natureza habilitou a seguir os vestígios da natureza do belo e do perfeito, a fim de que os jovens, tal como os habitantes de um lugar saudável, tirem proveito de tudo, de onde quer que algo lhes impressione os olhos ou os ouvidos, procedente de obras belas, como uma brisa salutar de regiões sadias, que logo desde a infância, insensivelmente, os tenha levado a imitar, a apreciar e a estar de harmonia com a razão formosa. […] Ao passo que as coisas feias, com razão as censuraria e odiaria desde a infância, antes de ser capaz de raciocinar, e, quando chegasse à idade da razão, haveria de saudá-la e reconhecê-la pela sua afinidade com ela, sobretudo por ter sido assim educado”. 

Não há atalhos; levará tempo. Mas, nas palavras do célebre Antônio Pereira Rebouças – pai de André, o famoso engenheiro e abolicionista: “não é na rapidez, mas sim na segurança, que consiste a excelência dos progressos da liberdade”. 

Aceita o desafio?
Por Paulo Cruz  Publicado originalmente em www.gzetdopovo.com.br