quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O CLIMA NO DIVÃ

Um amigo paulistano dizia-me em tempos que só existia um assunto tabu no Brasil. Ou, pelo menos, em São Paulo. Psicanálise. Criticar a psicanálise seria um "hara-kiri" intelectual porque não se critica a deusa suprema da cidade.


Anotei o conselho e não me atrevo a tanto. O satirista Karl Kraus dizia que a psicanálise era a doença mental para a qual oferecia uma cura? Fogueira com ele!

Mas talvez exista uma divindade que está acima da psicanálise. Falo do aquecimento global e das alterações climatéricas. Levantar uma dúvida a respeito –pequena, modesta, até amadora– significa ostracismo social imediato.

Falo por experiência própria. Nas festividades natalinas, com a família reunida, um membro do clã dissertava sobre o caso com ar sério e desesperado. "Se a temperatura subir 1,5ºC no futuro", dizia ele, "a humanidade desaparece."

Os presentes ficaram compreensivelmente assustados e eu, que tenho fama de pessimista incurável, também deveria embarcar no apocalipse. Mas a minha fama é obviamente imerecida. Não acredito muito no progresso moral da espécie, é um fato. Só acredito em progressos materiais, científicos, tecnológicos.

Nessas matérias, sou o mais otimista dos otimistas. E por isso respondi: "É sempre perigoso fazer previsões sobre o futuro. Até porque o futuro é uma busca interminável, como dizia o filósofo".

Blasfêmia! Futuro? Qual futuro? Com os glaciares a derreterem (no polo norte, não no polo sul; mas divago) e as águas a devorarem a terra, não haverá futuro para ninguém.

Tentei –precisamente– arrefecer a discussão. E, no mesmo espírito popperiano, procurei um consenso. Não, eu não nego que o mundo aqueceu no século 20 (embora no século 21 as coisas estejam um pouco paradas, certo?). E, não, eu não gosto de viver no meio da poluição, respirando alegremente o lixo dos outros.

Além disso, sou o primeiro a marchar pelas energias alternativas: nada me daria mais prazer do que deixar os déspotas do Oriente Médio afogados no seu petróleo inútil.

Mas se a história da humanidade ensina alguma coisa é que a nossa sobrevivência dependeu sempre da inovação técnica não prevista. Olhando para trás, tenho pena dos homens primitivos que viveram antes do fogo ou da roda. Tenho pena dos grandes navegadores portugueses que desconheciam o telefone ou a internet. E, hipocondríaco confesso, lamento todos os desgraçados que não souberem o que era uma anestesia.

Por outras palavras: o que hoje pode ser catastrófico, amanhã será uma contrariedade da vida que o engenho humano acabará por domar e controlar. Isso, claro, se estivermos mesmo na presença de um apocalipse.
Nesse momento da conversa, a indignação cedeu lugar ao desprezo. Mas quem era eu para dar palpites sobre o clima? Um especialista na matéria? Com produção científica digna de nota?

Humilhado e ofendido, declarei que não. E, sentindo o aquecimento como fenômeno real (na sala de jantar, digo), afirmei tristonho que era um reles diplomado em história. E que a história, desde o começo dos tempos, me tinha ensinado apenas que nada existe de novo debaixo do sol. Brutais alterações climatéricas? Existiram antes do homem existir. E, claro, muito antes de a Revolução Industrial fazer o mesmo que a natureza faz: emissões de CO2 para a atmosfera.

Na chamada Idade Média "clássica" (a partir do século 11, digamos), a Europa aqueceu e a civilização inaugurou um dos períodos mais florescentes –na agricultura, nos transportes, no comércio, na urbanização– de que há registro. O brutal arrefecimento verificado a partir do século 17 foi um dos fenômenos mais glosados pelos diaristas ingleses.

Hipótese minha: as alterações mais profundas no termostato da Terra não serão anteriores, e até superiores, a qualquer ação humana? Exatamente como a história –humana, geológica, natural– demonstra?

Por essa altura, já não havia conversa. Apenas o sorriso complacente que se concede aos débeis que vagueiam pelo erro.

Eu, cansado e só, ainda tentei uma fuga para a frente ("E que tal falarmos de psicanálise?"). Mas já era meia-noite e as crianças invadiram o espaço para abrir os presentes. Por: João pereira Coutinho Publicado na Folha de SP.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A DESIGUALDADE NÃO É IMORAL

Fato: Cristiano Ronaldo tem mais dinheiro do que eu. Tem mais casas. Tem mais carros. Tem mais roupas. E, quando ele se despedir do futebol, é provável que Ronaldo tenha uma aposentadoria mais confortável do que a minha (digo "é provável" porque o futuro é sempre incerto por definição).


Pergunto: existe entre mim e Ronaldo um problema de "desigualdade econômica"? E, já agora, devemos combatê-la porque todas as desigualdades são imorais?

Calma, leitor, não responda já. Afinal de contas, eu tenho um casa. Tenho um carro. Tenho um salário. Os meus vizinhos não têm nada. Metade do meu país também não. Em nome de uma sociedade verdadeiramente igualitária, será que eu e os meus compatriotas devemos viver no mesmo patamar de pobreza?

Essas são algumas questões que Harry G. Frankfurt analisa em "On Inequality" (sobre a igualdade), um dos livros do ano que quase passou ao lado do meu radar (obrigado, "L.A. Review of Books").

Neste pequeno grande livro, Frankfurt vira o debate do avesso. Os políticos gostam de combater as "desigualdades" porque acreditam que a desigualdade é sempre imoral. Mas, como vimos nos dois primeiros exemplos, nem sempre a desigualdade é imoral (Ronaldo tem muito; eu tenho o suficiente) e nem sempre a igualdade é invejável (uma sociedade onde todos são igualmente pobres não é uma sociedade decente).

A principal conclusão de Frankfurt é que aquilo que devemos considerar "imoral" não é a desigualdade "per se". O que é relevante é a existência de pobreza. Ninguém se comove com a desproporção entre a fortuna de Ronaldo e o meu conforto tipicamente "burguês". Coisa diferente é saber que o meu vizinho não tem o que comer ou vestir.

Consequentemente, Frankfurt afirma —e bem— que a política deve abandonar as suas fantasias igualitaristas e concentrar-se numa "doutrina da suficiência", um conceito muito mais complexo de realizar do que simplesmente dividir o bolo em fatias rigorosamente iguais.

O objetivo não é todos terem o mesmo —uma "engenharia social" que leva ao desastre porque os recursos são limitados. O objetivo é todos terem o suficiente. E o que é "suficiente"?

A resposta a essa pergunta leva-nos à segunda crítica que Frankfurt dispara contra o igualitarismo. Porque o problema do igualitarismo é pensar a situação dos mais pobres sempre em relação aos mais ricos. Uma "doutrina da suficiência" prefere olhar para as pessoas a partir das suas circunstâncias e necessidades pessoais.

Para regressar à metáfora do bolo: eu posso dividi-lo em dez fatias iguais para alimentar as dez pessoas sentadas à mesa. Mas esse igualitarismo cego pode ser uma forma perversa de desigualdade se eu não souber primeiro quem é o faminto; quem é o guloso; e quem já almoçou antes de chegar para a sobremesa. Uma "doutrina da suficiência" não desperdiça recursos com o guloso e prefere reforçar a dose do faminto.

O breve ensaio de Frankfurt é um pequeno prodígio de inteligência e elegância literária - qualidades raríssimas na reflexão filosófica. Pena que alguns pontos do livro não estejam suficientemente desenvolvidos.

O autor condena a pobreza; mas condena igualmente os excessos de riqueza por ver neles uma ameaça política e social para a "saúde" das democracias.

Conheço o argumento - desde Aristóteles. Duas observações. A primeira é que Frankfurt não mostra como funciona essa ameaça. Admito que ela exista. Mas gostaria de ler um pouco mais sobre o bicho.

Pessoalmente, não creio que o problema esteja na existência de riqueza excessiva; mas antes na riqueza ilegalmente obtida —por exemplo, à custa dos mais pobres. A ideia de que "toda a propriedade é um roubo" não passa de uma proclamação ideológica, sem qualquer validade empírica. A minha casa não foi roubada a ninguém. E a sua?

Por outro lado, concordo com Frankfurt sobre a importância de discriminar na hora de distribuir o bolo. Mas essa discriminação não deve ser apenas material (dar mais bolo ao faminto, por exemplo). Deve ser também moral. Existe uma diferença entre o faminto que não consegue encontrar emprego; e o faminto que simplesmente não quer trabalhar.

A minha fatia extra de bolo só iria para o primeiro, não para o segundo. 
Por: João Pereira Coutinho Publicado na Folha de SP.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

OS ESCRAVOS SOMOS NÓS

A TV está ligada. Um sábio fala sobre a ausência de "cultura" no nosso tempo. Explico melhor: o sábio pergunta por que motivo "as massas" não leem mais Tolstói, Dickens, até Joyce. "Vivemos um tempo de desinteresse total pela cultura", diz ele, com repugnância. E conclui: "É o triunfo dos ignorantes!"


Assisto ao espetáculo e penso várias coisas. A primeira, óbvia, é a quantidade de charlatões que hoje falam na TV com ar sério e erudito. Mas a segunda, menos óbvia, resume-se no meu pasmo: "Em que mundo vive essa criatura?" Não, com certeza, no mundo que vejo em volta: um mundo de "escravidão voluntária" sob o chicote metafórico do trabalho. "Escravidão voluntária" não é expressão minha, aviso já. Pertence a Madeleine Bunting, escritora inglesa que editou um livro a respeito. O título é, precisamente, "Willing Slaves" (escravos voluntários) e o objetivo de Bunting é analisar como foi que o excesso de trabalho invadiu e dominou as nossas vidas.

Atenção: Bunting não escreve uma diatribe contra o trabalho, o que seria irracional e infantil. E, para sermos rigorosos, ela não se ocupa daqueles que precisam de trabalhar por motivos de sobrevivência.

O alvo é outro: as classes médias e médias altas que, nas sociedades ocidentais, fizeram do "excesso de trabalho" uma estranha forma de vida –e de estatuto.

Conta Bunting que, nas últimas duas décadas, o declínio histórico nas horas de labuta sofreram uma reversão. Trabalhamos mais do que nossos antepassados próximos. Mas também trabalhamos mais do que nossos antepassados remotos: sim, na Revolução Industrial era possível estar 14 ou 15 horas enfiado numa fábrica insalubre de Manchester ou Liverpool.

Mas essas 14 ou 15 horas são hoje mimetizadas pela incapacidade de separar o trabalho da vida pessoal –uma incapacidade que os mil brinquedos eletrônicos trouxeram às nossas vidas. Estamos sempre ligados, 24 horas sobre 24 horas. Em teoria, um certo nível de bem-estar deveria trazer mais lazer, não menos. Na prática, é o inverso.

E é o inverso porque existe uma segunda observação de Bunting que me parece a mais luminosa de todo o livro: se é verdade que todos os seres humanos precisam de um "sentido" para as suas vidas (obrigado, Viktor Frankl), então o trabalho assume-se hoje como a principal fonte de "sentido" e até de "identidade".

Os nossos antepassados eram capazes de encontrar esse "sentido" na partilha comunitária, na família, na religião, até na política. O trabalho era apenas mais uma cesta onde colocar os ovos da existência.

Hoje, com a atomização crescente dos indivíduos; com a desagregação da família; com o recuo da religião; e com o crescente desinteresse pela política, só resta o trabalho como bússola da nossa patética travessia terrena. Somos o que fazemos. Não somos mais o que somos.

Quais as consequências disso?

Deixo de lado as consequências físicas e psicológicas, embora seja hilariante, tragicamente hilariante, saber que as doenças mentais cavalgam a galope porque, na maioria dos casos, nos estamos simplesmente a matar em prestações. Quando o trabalho é a última boia de salvação, nadamos como desesperados e tememos o naufrágio como nunca.

Também não vou elaborar sobre as consequências políticas que a nossa escravidão representa. Tocqueville já disse o essencial: o desinteresse pela "coisa pública" sempre foi o território preferido de populistas e autoritários.

Fico-me pelo sábio da TV e o seu desprezo pelos "ignorantes". Por que motivo "as massas" não consomem cultura?

De Aristóteles a Josef Pieper, a resposta já foi dada: não existe cultura sem ócio. Isso é válido para os consumidores de cultura; mas é sobretudo válido para os produtores. Com um pedantismo ridículo, podemos perguntar por que motivo ninguém lê mais "Guerra e Paz". Simples: pelo mesmo motivo que ninguém escreve mais "Guerra e Paz".

No século 19, Paul Lafargue, no seu delicioso "O Direito à Preguiça", escrevia que as sociedades antigas tinham ócio porque existiam escravos para todo o serviço. Mas, com intocável otimismo, Lafargue garantia que no futuro os escravos não seriam necessários. A evolução da técnica permitiria libertar os homens para o ócio.

Pobre Lafargue. Mal ele sabia que, nesse futuro, os escravos seriamos nós. 
Por: João Pereira Coutinho Publicado na Folha de SP.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A VIRTUDE DE SER UM COMERCIANTE E UM HERÓI DA ECONOMIA


Há heróis anônimos que passam por nossas vidas. Nós nem sempre notamos, mas eles estão lá. São pessoas dispostas a mudar o mundo, são pessoas que se arriscam dia após dia buscando seus sonhos na incerteza no mercado: são os comerciantes “informais”.

Todos os dias esses heróis estão ao nosso redor. Pare por um segundo no meio de um ponto central de sua cidade, o que você vê? Na esquina está uma senhora que vende vegetais, ao lado está um jovem vendedor de jornais que se levanta às quatro horas da manhã para distribuir as notícias do dia. Abaixo do edifício à frente está um engraxate tentando ganhar alguns centavos. Na nossa frente passa uma senhora idosa vendendo bilhetes de loteria. Lembremos também do homem que nos vende bebidas e do que sai com sua bicicleta vendendo alimentos que levou toda a madrugada para apanhar. Eles são muitos, certo? É maravilhoso que sejam muitos porque nossa vida não seria a mesma sem eles.

São heróis da economia, porque estão sempre lutando para chegar à frente e dormem com a esperança de que o amanhã seja melhor que hoje. Eles estão sempre buscando melhorar a sua situação, e tentam entender e atender às necessidades dos outros.

Qualidades e Habilidades

Mas o que têm em comum todas essas pessoas? Para começar, devemos dizer que são diferentes e cada uma traz algo único, são milhões de pessoas que têm ideias, esperanças e sonhos diferentes para construir um futuro melhor!

Em seguida, temos a conexão que une todos esses indivíduos. Todos diferentes, mas unidos pelo mesmo desejo e coragem de continuar lutando todos os dias. Todos eles são pessoas determinadas a empreender. A coragem os chama para deixar de ser apenas mais um na multidão, e lhes dá a força para serem líderes de uma família, uma casa, uma nação.

Eles não têm medo de cometer erros, porque sabem que isso é parte do caminho, e quando essa hora chega, levantam-se e avançam mais decisivamente que antes. O fracasso não destrói esses empreendedores, porque eles já decidiram o caminho de suas vidas. Permanecem sendo heróis porque as derrotas – como os triunfos- são parte desta vida heroica.

Os heróis na economia de um país

Voltemos à imagem do parque que estava em nossas mentes. São pessoas humildes e dispostas a lutar que encontramos ali, e um país não poderia funcionar sem elas.

A vida diária é baseada em pequenos e grandes empreendedores que querem um nascer do sol melhor todas as manhãs. Eles almejam dar a si mesmos e às suas famílias um futuro melhor e um lugar digno para viver. São pessoas que se levantam muito cedo e vão trabalhar para alimentar seus filhos, para abrigá-los, dar-lhes uma boa educação e uma casa que os faça sentir segurança. Todos estes indivíduos têm uma inspiração que os motiva a ser melhores a cada dia, para trabalhar ou ir buscar um emprego, fazendo-os sentir orgulho de quem são e do que fazem.

Nós não poderíamos realizar muitas de nossas atividades sem essas pessoas que são fonte de inspiração para ir mais longe. São indivíduos anônimos que trabalham para promover seu bem-estar e que contribuem para a riqueza econômica e moral de um país. Todos contribuem para gerar a ordem espontânea do mercado, aumentar o comércio e expandir a divisão do trabalho que faz muito bem a todos os indivíduos.

Menos burocracia e mais liberdade

Essas pessoas ganham a vida pacificamente e são chave muito importante para o bem-estar das nações. Então por que atrapalhá-los? Por que querer destruir os sonhos de milhões de pessoas que só querem despontar? As pessoas têm o direito de ser livres para escolher o caminho que bem entenderem para a felicidade, e as decisões que tomam fazem parte de seu caráter empreendedor e independente. Não é correto que algo ou alguém seja empecilho para a realização de sonhos e esperanças.

Os comerciantes “informais” não precisam que regulamentação excessiva e procedimentos onerosos[*] sejam jogados sobre eles dia após dia; necessitam é de liberdade para levar a cabo os seus projetos de vida. Assim se verá como progridem, uma vez que o desejo de melhorar os impulsionará. E todos esses bons desejos e a coragem desses heróis de lutar por aquilo em que acreditam fará a economia de seus países crescer junto com eles.

Por exemplo, de acordo com o Banco Mundial, no Equador são necessários cerca de 51 dias para abrir um negócio, na Bolívia são necessários 50 e 35 no Paraguai.

Por: Victor Pegoraro
Traduzido por Ana Rachel Gondim  Do site: http://eslibertad.org/2015/11/17/la-virtud-de-ser-un-comerciante/

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O CAPITALISMO PODE DESTRUIR A SI PRÓPRIO?


Joseph Schumpeter memoravelmente previu que as sociedades capitalistas seriam destruídas pelo seu próprio sucesso. Para Schumpeter, o capitalismo "inevitavelmente" se transforma em socialismo.

Seu argumento, de maneira resumida, é o seguinte: uma economia de mercado, com indivíduos fortemente empreendedores, gera um grande crescimento econômico e aumenta acentuadamente o padrão de vida das pessoas. Ironicamente, no entanto, a sociedade se torna tão próspera e tão inovadora, que passa a ignorar a fonte de toda a sua riqueza, dando-a como natural, corriqueira e automática. Pior ainda: torna-se abertamente hostil a ela.

O empreendedorismo e o mercado enriquecem tanto a sociedade, que as pessoas se esquecem do quão necessária e do quão frágil a economia de mercado realmente é. Elas até mesmo começam a acreditar que os mercados — e a ordem social e cultural que mantém os mercados funcionando — são inferiores à burocracia estatal e ao planejamento centralizado. 

Com o tempo, a sociedade acaba abraçando o socialismo.

Nas palavras de Schumpeter:

Os padrões crescentes de vida e, sobretudo, o lazer que o capitalismo moderno põe à disposição das pessoas que têm emprego e renda. . . bem, não há necessidade de terminar esta sentença e nem de elaborar aquele que é um dos argumentos mais verdadeiros, antigos e enfadonhos. O progresso secular, o qual é visto como algo natural e automático, em conjunto com a insegurança individual, que alimenta a inveja, é naturalmente a melhor receita para alimentar a inquietação social.

Entretanto, todo esse processo de transformação requer mais do que apenas a acumulação de riqueza: alguém tem de ativamente insuflar hostilidade às instituições da economia de mercado. Esse papel é desempenhado pelas classes intelectuais, que frequentemente abrigam um profundo ressentimento em relação às instituições empreendedoriais.

Os intelectuais incitam descontentamento entre um crescente número de pessoas cuja riqueza, em última instância, depende da produtividade do empreendedorismo, mas que, na prática, vivem majoritariamente fora da concorrência do mercado. Pessoas mais jovens são particularmente mais vulneráveis a esse preconceito anti-mercado, o qual é normalmente instilado por meio de escolas e faculdades. Entretanto, embora seja verdade que há uma ideologia explicitamente anti-mercado na educação superior, há também outras e mais sutis maneiras de fazer com que as mentes mais jovens, ao longo de todo o período escolar, se voltem contra os ideais de uma sociedade livre.

Quando o ensino superior se mostra incapaz de transmitir o conhecimento e as habilidades necessários para que uma pessoa seja bem-sucedida no mercado, isso acaba fazendo com que os estudantes adquiram uma forte desconfiança em relação a todo o sistema econômico, o qual eles acreditam estar subestimando seus talentos e no qual eles não conseguem se inserir.

[N. do E.: Eis como funciona: o estado determina que você tem de ter um diploma caso queira seguir uma determinada carreira. Você, então, passa a ser obrigado a perseguir um curso superior. Uma vez na faculdade, sua esperança é que, dali pra frente, o futuro será promissor, uma vez que sua reserva de mercado estará garantida. 

E então o futuro chega e, decepção, a coisa não é nada auspiciosa. 

As regulamentações e burocracias governamentais criaram um mercado de trabalho fechado e rígido. A alta carga tributária e todos os encargos sociais e trabalhistas não permitem que os salários sejam altos. Você, no máximo, encontra um emprego que paga um pouco melhor que um estágio, porém que exige muito mais; e, na maioria das vezes, você descobre que não é bem aquilo que queria. Você se sente enganado. 

Começa então a gritar por "direitos". Começa a pensar que, só porque cursou faculdade e tem um diploma, tem "direito" a emprego e salário bons. Porém, assim como você, há vários outros na mesma situação. E o mercado de trabalho é regulado demais para conseguir absorver toda essa mão-de-obra.]


O indivíduo que passou por uma faculdade ou universidade torna-se, com muita facilidade, intelectualmente inempregável em ocupações manuais. Para conseguir emprego em ocupações manuais, ele tem antes de adquirir experiência prática nesse setor. Sua incapacidade de obter esse emprego pode ser devida à falta de habilidade natural — perfeitamente compatível com a aprovação nas universidades — ou a um ensino deficiente. 

E ambos os casos ocorrerão, de maneira absoluta ou relativa, com mais frequência à medida que um número cada vez maior de pessoas tiver acesso à educação superior e à medida que volume de coisas a serem ensinadas aumentar sem levar em conta o número de verdadeiros eruditos que a natureza pode produzir.

Se a educação superior não levar em conta a oferta de e a demanda por habilidades práticas e úteis, ela irá produzir formandos que naturalmente irão engrossar o coro da classe intelectual, trazendo consigo sentimentos de alienação e insatisfação:

Todos aqueles que estiverem desempregados, ou que estiverem insatisfatoriamente empregados, ou que forem inempregáveis tenderão a buscar emprego naqueles ofícios em que os padrões são menos definidos ou em que aptidões e conhecimentos de outro tipo têm mais valor. 

Estes frustrados irão engrossar as fileiras de intelectuais, no exato sentido do termo, cujos números crescem desproporcionalmente. Eles entram nessas fileiras com um estado de espírito absolutamente antagonístico. O descontentamento dá origem ao ressentimento, o qual, muitas vezes, racionaliza-se e transforma-se em crítica social. Essa crítica, como vimos acima, é uma demonstração da atitude típica do intelectual (que se transforma em um mero expectador) em relação a pessoas, classes e instituições, especialmente em uma civilização racionalista e utilitarista.

Com efeito, o argumento de Schumpeter faz ainda mais sentido em um contexto de intervencionismo do que em uma sociedade genuinamente livre. Quando o setor público se expande, empreendedores são, ao mesmo tempo, expulsos do mercado e culpados pelos problemas econômicos criados pelo estado. 

[N. do E.: quanto maior for o governo, maiores serão seus gastos. Quanto maiores forem seus gastos, maiores terão de ser os impostos e o endividamento do governo. Quanto maiores forem os impostos, menores serão os incentivos ao investimento e à produção. Quanto maior for o endividamento do governo, maiores serão as oportunidades perdidas em investimentos que não puderam ser feitos (porque o governo se apropriou desse dinheiro que poderia ter sido emprestado para o setor privado), maiores serão os gastos com juros, e maior terá de ser a carga tributária para arcar com esses gastos com juros. Veja detalhes neste artigo].

Ainda mais importante, à medida que o intervencionismo e o escopo do estado se expandem, as "virtudes burguesas" que sustentam uma sociedade livre desaparecem. Por que você vai abrir uma padaria, um restaurante, um comércio ou uma atividade de serviços se você pode se tornar um burocrata bem pago trabalhando em uma repartição pública? Por que uma pessoa qualificada vai querer fazer algum estágio em uma firma de engenharia se o governo abriu vários concursos públicos que prometem salários nababescos e estabilidade no emprego? Enfim, por que se arriscar no setor privado, sofrendo cobranças e tendo de apresentar eficiência, se você pode simplesmente ganhar muito no setor público, tendo estabilidade no emprego e sem ter de apresentar resultados?

Com um estado inchado, a acumulação de riqueza passa a ocorrer por meio de privilégios legais (rent-seeking, na linguagem da Escola da Escolha Pública), de parasitismo e de redistribuição, e não por meio da genuína satisfação dos consumidores. Empreendedores, agora protegidos pelo estado das vicissitudes do mercado, blindados contra o sistema de lucros e prejuízos imposto pelo mercado, perdem contato com a divisão do trabalho e sua filosofia de inovação e criação de riqueza.

Esse caminho leva ao desastre.

No entanto, ao contrário do que diz Schumpeter, o socialismo não é inevitável. Como Mises nunca se cansou de argumentar, a liberdade pode triunfar, mas, para isso, é necessário vencermos a batalha das idéias. Porém, essa batalha só pode ser vencida por meio da lógica cuidadosa, da exposição clara do pensamento e de um firme compromisso para com a difusão pacífica da verdade, mesmo que outros sejam hostis a ela. Isso significa conceder aos opositores da liberdade a mesma tolerância que eles frequentemente negam aos defensores da liberdade. 


Contra tudo o que é estúpido, absurdo, errôneo e mau, o liberalismo luta com as armas do pensamento, não com a força bruta e a repressão.
Por: Matt McCaffrey é professor de economia na Auburn University e editor do Libertarian Papers.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

'ALERTA DE ANO-NOVO'

O senhor Custódio está preocupado. Ele é um veterano de inflações. Quando jovem, viveu os 81,99% de 1963 e os 86,46% de 1964. Já maduro, tendo de arcar com as próprias contas, lembra dos 220,6% de 1984 e dos 235,13% de 1985. E os primeiros anos 1990 então? Lá foi o índice para taxas astronômicas. Em 1990 foi de 1 475,71%; em 1992, de 1 158%; em 1993, de 2 780,6%. Em corrida desenfreada, o Brasil passou, nessas três décadas, das dezenas para as centenas, e das centenas para os milhares. O sr. Custódio está preocupado com a inflação de dois dígitos e as notícias de suspeitas reorientações da política econômica do governo e, como teme que muitos brasileiros, especialmente os 40% nascidos depois de 1990, não tenham ideia do que é viver com altas taxas, franqueou ao colunista seus registros de despesas dos anos 1993-1994, vésperas do Plano Real.

Custódio é uma pessoa prudente e metódica. Anota e guarda tudo direitinho. É assim que ficamos sabendo que o aluguel do apartamento em que morava, em janeiro de 1993, era de 2 350 000 cruzeiros (sim, milhões ─ era nessa esfera que se trabalhava); em fevereiro já passara para 3 127 530 e, em julho, atingira 14 540 000. Foi da casa dos 2 milhões para a casa dos 14 milhões em sete meses! A conta de luz, que em janeiro era de 367 760 cruzeiros, em julho chegara a 1 953 422.

A preciosa caderneta do sr. Custódio tem registros ainda mais singelos do que era a vida contabilizada em milhões. Em junho de 1993, a compra de mês num supermercado custou-lhe 3,4 milhões de cruzeiros. Nesse mesmo mês, acometido pela suspeita de doença grave, pagou 3,8 milhões por uma consulta com um especialista. Não se pense que eram cobranças fora da realidade. Os 3,4 milhões da compra do mês equivalem a 440 reais de hoje, e a consulta de 3,8 milhões, a 490 reais ─ preço de um especialista renomado, então como agora. O que era fora da realidade de uma sociedade organizada, e tão fora que atingia níveis surreais, era, primeiro, ter de trabalhar com tantos algarismos, e, segundo e mais importante, algarismos que não paravam quietos, tomados pela loucura de subir. Em março-abril, o sr. Custódio fez um tratamento dentário. O esperto dentista não quis perder tempo fazendo cálculos de milhões. Tomou logo como referência a moeda americana e cobrou 400 dólares pelo serviço, a ser quitados em duas vezes.

Em agosto de 1993 houve uma mudança de moeda. Saiu de cena o cruzeiro e, em seu lugar, entrou o “cruzeiro real”. Já se articulava o Plano Real, daí o nome da nova moeda, mas a medida, ao cortar três zeros da moeda anterior, tinha por único objetivo facilitar os cálculos. A inflação continuaria em sua marcha indômita. O sr. Custódio, nesse período, tinha o azar de ter um filho cursando uma cara faculdade, que pagava às vezes recorrendo a empréstimos de parentes. A mensalidade foi de 12 700,98 cruzeiros reais, em agosto, para 46 470, em dezembro. No ano seguinte a marcha continuou, e a mesma mensalidade, em junho de 1994, o último mês antes do início da era do real, atingira 389 179.

Ao rever suas anotações, o sr. Custó­dio é tomado de alucinações como pensar que até o fim da década, do jeito que vão as coisas, retomaremos o velho truque de cortar os zeros da moeda ─ e o real (R$), já impossível de caber no normal das calculadoras, será substituído pelo novo real (NR$). São só alucinações, claro. Custódio, além de prudente e metódico, é assustadiço como costumam ser as pessoas prudentes e metódicas. Em todo caso, consultando seus alfarrábios, ele verifica como foi fácil, poucas décadas atrás, escalar dos 19,47% de inflação em 1970 aos 79,42% em 1979, e daí aos 235,13% em 1985. Com a inflação, vão-se os ministros da Fazenda. O governo Sarney teve quatro. Itamar Franco, em sete meses, testou e descartou três, antes de nomear Fernando Henrique Cardoso. Dilma Rousseff, em onze meses do segundo mandato, já partiu para o segundo.

O sr. Custódio é assaltado pela sensação de um conhecido filme que recomeça. Ele gostaria que a excelentíssima senhora presidente da República e o excelentíssimo senhor Nelson Barbosa, o novo ministro da Fazenda (o sr. Custó­dio, além de prudente, metódico e assustadiço, é formal como costumam ser as pessoas prudentes, metódicas e assustadiças), dedicassem um minuto de seu precioso tempo para considerar os dados de sua caderneta. O desânimo o impede de sair por aí desejando às pessoas um feliz ano-novo. Prefere distribuir alertas de ano-novo. O colunista pensa que ele talvez tenha razão. Por: Roberto Pompeu de Toledo Publicado na versão impressa da Veja

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

PARAGUAI É O PAÍS QUE FREOU EXPANSÃO BOLIVARIANA, DIZ FRANCO

Franco: ele assumiu o poder após um controvertido julgamento político parlamentar no qual o presidente Fernando Lugo foi destituído

Da EFE

Madri - O presidente do Paraguai, Federico Franco, afirmou nesta terça-feira que seu país deverá ser reconhecido como o que freou a expansão na América Latina do eixo bolivariano, liderado pela Venezuela, embora tenha expressado a esperança de que as relações com Caracas melhorem após as eleições que serão realizadas em abril em ambos os países.

"Algum dia a história vai reconhecer o Paraguai como o país que pôde conter e derrotar o eixo bolivariano em sua expansão latino-americana", afirmou Franco, em entrevista à Agência Efe em Madrid, onde nesta terça-feira se reúne com o chefe do Governo espanhol, Mariano Rajoy.

Esta é a primeira visita de Franco à Espanha desde que, em junho de 2012, assumiu o poder após um controvertido julgamento político parlamentar no qual o presidente Fernando Lugo foi destituído, uma crise que provocou o isolamento regional do Paraguai.

"O isolamento ao qual meu país foi submetido é absolutamente injusto. O Paraguai é um país livre, soberano e independente, para sempre, como reza a nota de emancipação da Espanha", afirmou Franco, que espera que as próximas eleições de 21 de abril terminem com essa situação.

"Nós não aceitamos ingerências, nem ideologias e nem decisões de países estrangeiros. E não será o bolivarianismo que fará imposições sobre o que temos que fazer no país", ressaltou o presidente do Paraguai.

Franco reiterou que o procedimento parlamentar pelo qual Lugo foi destituído foi totalmente ajustado à Constituição, e que a suspensão do Paraguai dos blocos regionais Mercosul e Unasul, sete dias depois, "foram totalmente injustas e prejudiciais para os interesses do país".

O líder destacou que o atual presidente encarregado da Venezuela, Nicolás Maduro - que foi declarado "persona non grata" no Paraguai por ingerências nos assuntos internos durante a crise de destituição de Lugo - "foi designado por vontade de Hugo Chávez" e "não tem nenhum respaldo e nenhuma legitimidade".

No entanto, desejou que após as eleições da Venezuela de 14 de abril, "com o presidente, as relações voltem a existir".

Com respeito às eleições gerais que acontecerão no Paraguai em 21 de abril, cumprindo assim o prazo em que deveria acabar o mandato de Lugo, Franco prometeu que com o novo eleito, "seja quem for", "iniciará até 15 de agosto - quando o novo presidente assumir - um período de relação harmônica para que a transição seja a menos traumática, a mais previsível e a mais segura para os interesses do país".

"Seja quem for o ganhador, vamos acompanhá-lo. Meu coração é previsível, sou de um partido político e espero que ganhe o candidato de meu partido", afirmou, em referência ao liberal Efraín Alegre, embora as enquetes apontem uma vantagem ao colorado Horacio Cartes.

Com relação ao relatório no qual o Comitê de Direitos Humanos da ONU pediu na semana passada uma investigação independente sobre o massacre de 17 pessoas em Curuguaty, o que culminou uma semana depois na destituição de Lugo, Franco afirmou que "não passa de ser uma recomendação".

"Eu não fui o presidente quando aconteceu a massacre, isto ocorreu durante o Governo de Lugo. O assassinato de seis membros da Polícia e 11 camponeses é responsabilidade única e exclusiva do Governo de Fernando Lugo. Nossa participação é zero", insistiu.

O presidente do Paraguai destacou que sua visita oficial à Espanha para se reunir com Rajoy procura "ratificar o compromisso de boas relações com a mãe pátria e seduzir os empresários".

Franco considerou que "as relações com a Espanha nunca estiveram deterioradas" apesar do Paraguai não ter sido convidado para Cúpula Ibero-Americana de Cádiz de novembro, precisamente para evitar outros líderes se ausentassem.

"Nossas relações sempre foram absolutamente harmônicas e proporcionais. O Paraguai é um lugar seguro, previsível, há estabilidade jurídica, política e tributária, e nunca recorreu a nenhum Governo para nacionalizar empresa de ninguém e muito menos espanhola", ressaltou.

Por isso, defendeu que o Paraguai pode ser "o trampolim para que a Espanha possa chegar a outros países do Mercosul", já que existe a "grande capacidade de poder investir nos produtos gerados no Paraguai dentro da região, com um potencial de 300 milhões de habitantes, entre Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia".
Por: Norberto Duarte Agência EFE de Madrid.   Por: Frederico Franco, presidente do Paraguai

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

JAMAIS PAGUE ALGO ADIANTADO

Uma das maiores vantagens do Capitalismo com relação ao Socialismo é esta:


No Socialismo você paga por Saúde e Educação para seus filhos, linhas de telefone, sempre adiantado.

Estes serviços são cobrados do pobre, pelos Ministros da Fazenda, nos impostos que eles são obrigados a pagar apesar de pobres, sempre adiantado.

No Capitalismo você só paga por Saúde, Educação, linhas de telefone, no ato de consumi-los.

Vendo o produto de antemão, o médico em questão, a linha de telefone instalada.

Na falta de dinheiro, o Capitalismo lhe empresta em 24 meses ou mais. 

Você é que poderá dar o calote, não o Capitalista.

No Socialismo quem dá o calote é sempre o Estado Socialista.

Que já está com seu dinheiro, mas arruma desculpas para não prestar o serviço prometido.

“Seu filho é muito burro, não entrou no vestibular.”

Você é mais burro ainda por ter votado no Lula, FHC e Dilma, que lhe prometeram Educação com Qualidade. 

Em vez de tentar ensinar todo mundo a ser Liberal ou de Direita, por que vocês não ensinam as pessoas a nunca pagarem por serviço incerto, médico incerto, hospital incerto, professor incerto, a nunca pagar adiantado? 

Por: Stephen Kanitz 
Do site: http://blog.kanitz.com.br/pague-adiantado/?utm_source=feedburner&utm_medium=twitter&utm_campaign=Feed%3A+stephen_kanitz+%28Artigos+Para+Se+Pensar+-+Stephen+Kanitz%29