segunda-feira, 27 de agosto de 2018

NÃO TE RENDAS


“Não te rendas”, o lindo poema de Mario Benedetti que vai motivá-lo a lutar pelos seus sonhos

Mario Benedetti, além de ser um grande escritor de origem uruguaia, é muito amado e lembrado até por sua filosofia de vida. Através do seu trabalho, ele nos ensinou a ver a vida de uma maneira simples, encontrando a felicidade na simplicidade da vida cotidiana, naqueles pequenos detalhes que qualquer um pode acessar, se você se propuser.

Em seguida, vamos ler um belo poema de Mario Benedetti.

Não te rendas, ainda estás a tempo
de alcançar e começar de novo,
aceitar as tuas sombras
enterrar os teus medos,
largar o lastro,
retomar o voo.

Não te rendas que a vida é isso,
continuar a viagem,
perseguir os teus sonhos,
destravar os tempos,
arrumar os escombros,
e destapar o céu.

Não te rendas, por favor, não cedas,
ainda que o frio queime,
ainda que o medo morda,
ainda que o sol se esconda,
e se cale o vento:
ainda há fogo na tua alma
ainda existe vida nos teus sonhos.


Porque a vida é tua, e teu é também o desejo,
porque o quiseste e eu te amo,
porque existe o vinho e o amor,
porque não existem feridas que o tempo não cure.

Abrir as portas,
tirar os ferrolhos,
abandonar as muralhas que te protegeram,
viver a vida e aceitar o desafio,
recuperar o riso,
ensaiar um canto,
baixar a guarda e estender as mãos,
abrir as asas
e tentar de novo
celebrar a vida e relançar-se no infinito.

Não te rendas, por favor, não cedas:
mesmo que o frio queime,
mesmo que o medo morda,
mesmo que o sol se ponha e se cale o vento,
ainda há fogo na tua alma,
ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque cada dia é um novo início,
porque esta é a hora e o melhor momento.
Porque não estás só, por eu te amo.
Do site: https://www.pensarcontemporaneo.com

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

GENERAL MOURÃO E A CRÍTICA DOS IGNORANTES

Pensar diferente atemoriza quem ignora o que existe além dos rótulos do politicamente correto

General Ex Hamilton Mourão

O General Mourão, em um evento ocorrido no dia 6 de agosto, na Câmara de Comércio de Caxias do Sul, afirmou termos todos nós, brasileiros, três heranças principais: a do "privilégio", trazida pelos ibéricos; da "indolência", que vem da cultura indígena; e da "malandragem", "oriunda do africano". 

"Então esse é o nosso caldinho cultural. Infelizmente gostamos de mártires, líderes populistas e macunaímas", afirmou o General Mourão, atribuindo essa característica psicossocial ao chamado "complexo de vira-lata". 

Pronto! Foi o que bastou para a militância imbecil sacar o rotulador, atribuindo pechas de preconceituoso, racista, etnofóbico... ao militar, tudo transmitido pelo teleprompter da mídia amestrada, e lido pelos porta-vozes robóticos do establishment. 

De fato, a reação é sintomática da ignorância intrínseca à militância do politicamente correto. Isso porque os ressentidos que seguem esse discurso, protegem sua forma tosca de ver o mundo rotulando tudo aquilo que não conhecem, e que exige um raciocínio para além do rancor. 

Como não conseguem fazê-lo (raciocinar para além do rancor), temem tudo o que foge de sua minúscula compreensão. 

Não por outro motivo, esse rotuladores tornam-se escravos dos sufixos. Sintomaticamente utilizam "fobia" para atacar aquilo que está no inconsciente deles próprios, quando não recorrem ao "ismo", para praticar exatamente o que pretendem combater. É a famosa "projeção psicológica", um mecanismo de defesa por meio do qual os incautos atribuem aos outros os próprios sentimentos, pensamentos, crenças ou até mesmo ações próprias que são para eles inaceitáveis. 

Imersos na ignorância dos que se ressentem, como reagiriam os críticos da fala do militar, se deparassem com a leitura do seguinte trecho: 
"(...)Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
– Ai! que preguiça!...
e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força do homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus."

Preconceituoso? Racista? Como classificariam hoje, os arautos da nova ética sem moralidade, a obra prima de Mário de Andrade - "Macunaíma"? 

Sérgio Buarque de Holanda, com sua descrição do individualismo ibérico, a noção de nobreza advir do ócio e do trabalho ser atribuição dos escravos, a ideia de que a disciplina, no Brasil, ter sido sempre confundida com "obediência" (daí surgindo a noção da malandragem dos que se passavam por disciplinados fingindo obediência), será doravante descrito como um ser desconectado das verdadeiras "Raízes do Brasil" - e, com certeza, sua obra histórica estará prestes a ser jogada na fogueira dos rotuladores politicamente corretos. 

Gilberto Freyre, então... nem pensar! "Casa Grande e Senzala" e sua descrição antropológica das gerações de seres deformados pelas doenças venéreas e pela subnutrição, da violenta e poligâmica vida social dos isolados senhores de engenho, suas mulheres, feitor e escravos... seria motivo de editorial clamando por alguma atitude censória do ministério público da moralidade alheia... 

De fato, Mourão revelou, no seu discurso, um entendimento posicionado, fruto de estudo, análise, aplicação e conclusão, consentâneo com sua formação social e intelectual - passível ou não de discordância como qualquer outro posicionamento que se tenha na vida. 

Porém, o que abalou o vulgo imbecilizante, não foi o pensamento conservador do General. Foi Mourão ter revelado erudição, elaboração abstrata e conhecimento crítico e cultural. 

Essa qualidade revelada pelo militar atemoriza toda a geração de pós-doutores de teses rasas, habilitados por gerações de "obedientes" à ideologia da preguiça mental, que contaminou a academia, a análise política e a mídia no Brasil.

A nata do politicamente correto teme, vivamente, a possibilidade do pensamento divergente sobreviver à fábrica de rótulos. Afinal, ela foi implantada para esmagar o pluralismo e o pensamento crítico no Brasil - em especial o conservador. 

Assim, nada tinha ou tem de errado no discurso do General Mourão. 

O erro está na mente dos que, há muito, não mais raciocinam, no Brasil. 
Por: Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB. Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API, é Editor - Chefe do Portal Ambiente Legal, do Mural Eletrônico DAZIBAO e responsável pelo blog The Eagle View. Do site: https://www.theeagleview.com.br



quinta-feira, 16 de agosto de 2018

EPÍTETO, UM SÁBIO DA ANTIGUIDADE

“Não são as coisas que nos acontecem que nos fazem sofrer, mas o que dizemos a nós mesmos sobre essas coisas.”

Com esta frase simples, mas precisa Epictetus da Frígia, um filósofo estóico do primeiro século dC, semeava as raízes da psicologia contemporânea. Epiceto nasceu no ano 55 em Hierápolis de Frígia e chegou a Roma como escravo de Epafrodito que lhe daria educação até seu exílio em Nicópolis no ano 93 onde fundaria uma prestigiosa escola à qual se dedicaria plenamente.

Apesar de ser escravo e receber espancamentos durante a maior parte de sua vida, Epíteto era uma pessoa feliz. Sua filosofia baseava-se em ter muito claro o que era controlável e o que não era, a fim de modificar o que era suscetível a modificações e aceitar o que não era. Desta forma ele evitou-se tormento e infelicidade.

Controle da mente
Epíteto aceitou que suas circunstâncias não eram controláveis e não podiam ser diretamente alteradas de qualquer forma, mas, no entanto, sua mente o fez. Nesse sentido, ele tinha todo o poder. Portanto, ele decidiu que as coisas só o afetariam se ele permitisse que elas o influenciassem. Ou seja, o fato de ter emoções positivas ou negativas não dependeria de eventos externos, mas de seu próprio interior, de seus pensamentos sobre esses fatos.

A maioria das pessoas quando têm um estado emocional negativo e disfuncional, como depressão, ansiedade, raiva, culpa … tendem a acreditar que isso é causado por circunstâncias ou situações que aconteceram em sua vida, mas a verdade é que não é assim na maioria das vezes

O que realmente causa nossos estados emocionais são nossa maneira de interpretar o mundo, nossa atitude, nossas próprias crenças e pensamentos. Uma prova é que a mesma situação gera emoções diferentes em cada pessoa. Logicamente, se a situação fosse responsável pelas emoções, todas as pessoas deveriam reagir da mesma maneira e é mostrado que não é esse o caso. Então, deve haver um filtro que determine minha situação emocional.

Vamos dar um exemplo sobre essa ideia. Imagine que você está de pé no ônibus preso à barra de apoio e de repente você é atingido por trás. Você fica com raiva porque alguns rudes não foram cuidadosos com você, então você está pronto para se virar para lhe dizer quatro coisas, mas de repente você percebe que ele é uma pessoa cega.

Nesse momento, os sentimentos de raiva são modificados por sentimentos de compaixão e misericórdia para com o pobre cego que não teve qualquer intenção de empurrá-lo.

Somos responsáveis pelo que sentimos

O estímulo que supostamente provocou sua raiva ainda é o golpe, mas agora que você sabe que ele é cego, você não diz que ele é mal educado, nem um grosseiro sem respeito ou consideração, mas você diz que ele é um pobre homem que não pretendia fazer isso. Com o qual, podemos concluir que o que irritou você não foi o golpe, mas você mesmo com seu diálogo interno, com o que você estava dizendo sobre o bruto que lhe deu o empurrão.

Como podemos ver, o pensamento sempre precede a emoção e a boa notícia é que podemos controlá-lo! Nós somos responsáveis ​​por isso!

E eu digo boas novas porque se não fosse assim, teríamos que nos resignar a sermos escravos do exterior, ser fantoches sem defesas que se movam de acordo com as situações ou as idéias dos outros.

Se, por exemplo, fico deprimido porque os outros me criticam, o principal responsável por essa depressão sou eu, estou acreditando em todas essas críticas e opiniões e fazendo delas as minhas. Se eu mudasse meus pensamentos sobre essas críticas e desse a elas a importância correta, meu estado emocional seria muito diferente.

Talvez fosse desagradável, mas eu não ficaria deprimido com as idéias que outras pessoas têm, porque essas são suas idéias, não minhas e eu apenas as tornarei minhas se eu decidir. Se não fosse assim, se meus pensamentos não pudessem intervir, eu sempre teria que me sentir deprimido, a menos que eu peça aos outros para mudarem suas opiniões sobre mim, algo que é quase impossível, assim como o trabalho duro.

Na realidade, o ser humano tem a maravilhosa capacidade de ser feliz quase em qualquer circunstância e situação. Se você tem os meios para sobreviver, você já tem tudo para ser muito bom, mas é necessário que essas idéias sejam internalizadas em profundidade, que você as adquira como filosofia de vida.

Se Epíceto foi feliz por ser um escravo graças a este modo de encarar a vida, também podemos ser escravos em circunstâncias que nada têm a ver com a escravidão. Talvez você esteja reclamando muito? É possível que você esteja exigindo demais do mundo, dos outros e de si mesmo? Você está cheio de ansiedade tentando controlar o incontrolável?

Pare de abrir a porta para o sofrimento, pare de reclamar sobre o que acontece lá fora. Resolva se puder e se não, deixe estar. Mude sua maneira de ver as coisas e as coisas vão mudar.
Artigo originalmente publicado em La Mente es Maravillosa
Por: Pensar Contemporâneo  Do site: https://www.pensarcontemporaneo.com

terça-feira, 14 de agosto de 2018

DEMOCRACIA DOS DEBOCHADOS


Quem mais suprime a democracia, tece loas a ela...
(maxresdefaut)

Antes de mais nada: sou contra intervenção militar.

No entanto, corruptos e boa parte da imprensa “livre” tecem, diariamente, loas à democracia.

Parece deboche...

Cabe perguntar: existe democracia de fato no país?

Quem garante que as eleições, ocorridas com o PT no poder, foram lícitas e transparentes, quando se sabe que um fantástico volume de dinheiro foi desviado dos cofres públicos, aplicado por todo o bloco governista, disfarçado de programas sociais , em descarada compra de votos? 

É democrático que o julgamento de inúmeros políticos comprovadamente desonestos, se arraste por décadas, até que seus crimes prescrevam?

É democrático que alguns ministros do STF anulem decisões do próprio plenário da corte e libertem, contra todas as evidências, condenados a mais de dez anos de prisão? 

É democrático que a Suprema Corte mantenha o país, já à beira do abismo pela incompetência do executivo, em permanente insegurança jurídica, contribuindo para desmoralizar as instituições?

É democrático que advogados, regiamente pagos por bandidos, se valham de um sistema arcaico e protelatório para interpor recursos indefinidamente, sobre o mesmo assunto, até que um julgamento atenda o desejo de seus clientes?

E depois, esses mesmos “democratas” fingem se surpreender quando a maioria pede “intervenção militar”...

Brasil acima de tudo!

Por: Augusto Heleno Ribeiro Pereira é General de Exército da Reserva do Exército Brasileiro
Do site: https://www.theeagleview.com.br











quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Vamos ao que interessa. William Waack comenta

A REVOLUÇÃO ESQUECIDA DE 1924


Os 23 Dias que estremeceram a terra da garoa... e o Brasil, há exatos 94 anos 

Soldados e insurgentes entricheirados no bairro do Pari - 1924

Em 5 de julho de 1924, sábado de uma manhã fria e nebulosa, eclodia o Movimento hoje conhecido por “Revolução Esquecida”.

Na segunda década do século passado, o Brasil ainda era uma República anacrônica. O objetivo do Estado Brasileiro - em um “ciclo perverso”, encerrava-se em si mesmo. 

A população era o que menos importava! Reinava a famigerada política do “Café com Leite”, com a alternância do Executivo Federal (Presidência da República), composta apenas por representantes de oligarquias dos Estados economicamente majoritários - São Paulo e Minas Gerais. 

As eleições eram manchadas pelo "voto aberto", o malicioso voto de cabresto, com o povo “exercendo cidadania” de acordo com o pensamento dos poderosos “coronés” (como eram chamados os chefes políticos locais).

São Paulo sob bombardeio de artilharia

Tais práticas cobriam nossos sertões. O Presidente da República à época era o também um oligarca, Arthur Bernardes - em triste continuísmo político...

A espoleta da rebeldia nascera no Exército, através do Quartel de Santana, o tradicional 4º BC- Batalhão de Caçadores, na Rua Alfredo Pujol (hoje, Centro Preparatório de Oficiais da Reserva- CPOR/SP) - no "Solar dos Andradas", dissipando-se através dos Quartéis da Força Pública da área central de São Paulo, ao longo da Av. Tiradentes.

O Quartel da Luz, no atual Regimento de Cavalaria e parte do antigo 1º Batalhão da Força Pública (hoje, 1º BPChq/ROTA), sob o comando do Major Fiscal, do Regimento de Cavalaria da Força Pública, MIGUEL COSTA e inúmeros outros colaboradores (destacando-se o tenente FP JOÃO CABANAS, autor do livro "A Coluna da Morte"), dominaram a cidade de São Paulo. 

O Quartel da Luz passa a ser a sede Revolucionária, até ser atingido por obuses legalistas, durante a dominação por 23 dias da cidade. Durante a Campanha, a sede Revolucionária encontraria novo endereço: a Estação da Luz, menos de 500 metros do Quartel da Luz.

Manifestação em frente à delegacia no bairro do Cambuci

Do interior Paulista, outras Unidades do Exército se levantaram. Chegando à Capital, apoiam o Movimento Revolucionário Batalhões de Quitaúna (região de Osasco), Itu, Rio Claro, Jundiaí e Caçapava. 

Uma resistência inesperada da Força Pública, em pleno Bairro da Luz, tomado pelos Revolucionários, destaca-se no horizonte: o 4º Batalhão da Força Pública (hoje, 4ª BPM/I, com sede na cidade de Bauru- SP), situado no centro nervoso da Revolução - na Av. Tiradentes, esquina com Rua Bandeirantes (Quartel hoje não mais existente), distante 200 metros do Quartel da Luz da Força Pública. 

O 4º Batalhão, transformou- se, segundo o tenente Benito Serpa, um de seus valentes soldados, na "Verdun Paulista”, bastião legalista, que resistiu a fúria rebelde até a fuga do Presidente do Estado para Guaiaúna, no Bairro da Penha (hoje área abrangida pela estação do metrô Penha).
Tanques Renault FT-17, da Companhia de Carros de Assalto, empregados para destruir a bateria de canhões rebelde

O Chefe do Executivo Paulista, Carlos de Campos, não resistindo aos ataques contra o Palácio Campos Elíseos (ainda existente, na Esquina da Av. Rio Branco x Praça Princesa Isabel), sede do Governo Paulista, no bairro de mesmo nome, em 08 de julho fugiu para Guaiaúna. O Palácio e prédios governamentais do Largo do Carmo, área central, próximo da Praça da Sé, foram todos bombardeados.

O intuito do Movimento era a derrubada do Presidente Arthur Bernardes, que representava a ordem vigente, arcaica, carcomida e corrompida, além da mudança radical da estrutura viciada do Estado Brasileiro - através do ensino gratuito e obrigatório, o voto secreto e uma Justiça independente. 

Com a suposta adesão de outras localidades, os revoltosos marchariam para o Rio de Janeiro (Capital Federal da época), para destituir o governo. Só que não houve a adesão de outras praças com importância estratégica, o que inviabilizou a marcha! 

No mesmo mês, isoladamente, quarteladas em apoio à Revolução ocorreram em Manaus -AM, Belém -PA, Aracaju- SE e bela Vista- MT, cidades distantes do epicentro São Paulo, que foram rapidamente dominadas por forças leais ao Governo.
Casas destruídas pelo bombardeio de artilharia


O “5 de Julho de 1924” era originário do “Movimento Tenentista”, grupo essencialmente urbano, representante da classe média em crescimento, antagônico ao movimento ruralista e tradicional, pois almejava profundas mudanças na sociedade brasileira. Em nada se confunde, esse movimento, com a ideologia então pregada pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, decorrente da Revolução Russa de 1917.

O Movimento Tenentista teve seu batismo de fogo no mesmo dia, porém dois anos antes, na cidade do Rio de Janeiro, no episódio conhecido como "Os 18 do Forte de Copacabana", que, com semelhança ao voluntarismo dos "300 de Esparta", marcharam para a morte na Praia de Copacabana. Ao final da peleja restaram feridos, em destaque, os Tenentes Siqueira Campos, que dá nome ao Parque Trianon, na Av. Paulista, e Eduardo Gomes, futuro Brigadeiro da Força Aérea. Seis outros morreram. 

Os dois já recuperados, e eternos rebeldes, teriam intensa participação na Revolução de 1924 bem como no comando de tropas da Coluna Miguel Costa- Prestes pelo Brasil. 

O ano de 1922 na História brasileira foi no mínimo diferenciado, pois outros dois episódios fecharam-no: Semana de Arte Moderna e fundação do Partido Comunista do Brasil.

Alguns anos antes, em 1917, durante a Greve Geral de São Paulo, surgiria para os anais da História brasileira, a figura do então capitão de Cavalaria MIGUEL COSTA. 

O Cavalariano recebera ordens governamentais para dissipar os manifestantes da famosa greve paulista. Na atividade policial, recebeu uma pedrada na testa, lançada por um dos grevistas mais exaltados. Segurando sua tropa, apeou de seu cavalo e se pôs a conversar com os grevistas. 

Recebeu, então. o convite para verificar as precárias condições em que viviam as pessoas. Aceitou o convite. Influenciado pelas condições subumanas que seus olhos constataram, o estado de abandono e promiscuidade em que viviam nos cortiços os operários, imigrantes, migrantes, crianças, mulheres, idosos etc., auxiliou na negociação desta que foi a primeira greve geral no Brasil, servindo como intermediário entre os paredistas e as autoridades constituídas. 

Muitos dos moradores daqueles casebres eram seus soldados com suas famílias... Com certeza aquela vistoria de 1917 incrementou sua visão humanista, pois foi testemunha presencial das condições adversas de vida no Brasil naquele primeiro quarto do século passado.
Tenente Cabanas e seus homens opera um canhão 75mm - 1924

Mas, enquanto persistia o "Julho Revolucionário de 1924", a situação na Cidade, durante o domínio rebelde, só piorava.

Por estúpida decisão de Arthur Bernardes, apoiada por Carlos de Campos, bem como pelo Ministro da Guerra - general Setembrino de Carvalho, o governo tratou de bombardear a Cidade de São Paulo, uma Cidade Aberta, mesmo sem possuirr alvos essencialmente militares. Fizeram o bombardeio com os destruidores canhões de 75 e 105 mm. 

Era o chamado “bombardeio terrificante”, tão usado pelos litigiosos durante a I Guerra Mundial. 

O Governo situacional, através dos canhões e de sua debutante aviação, em total desrespeito à população civil, arrasou bairros populares (e operários), como Mooca, Brás, Penha, Belém, Centro, Ipiranga, Perdizes, Vila Mariana, Paraíso, dentre outros, agraciados com as bombas que levavam o beijo da morte...

A Cidade era habitada por aproximadamente 700.000 almas, muitas das quais simpatizantes dos rebeldes. Em decorrência das "bombas legalistas" ocorreu um gigantesco êxodo da Cidade. Em torno de 300.000 pessoas abandonaram-na, a pé, de trem, carroças, carros, à cavalo etc.. 

Sempre ela, a Guerra, fazendo vítimas civis, algo similar, inclusive na proporção de população, ao que ocorre hoje nas principais cidades da Síria, um Estado retalhado por conflitos decorrentes da diferença de concepções políticas, ideológicas e religiosas radicais... 

O Comando Revolucionário, encabeçado pelo General Isidoro Dias Lopes, ciente que outras partes do País não aderiram ao Movimento e, verificando paralelamente o sacrifício da população Paulistana, sofrendo o cerco que a legalidade preparava, apoiada por efetivos do Marinha, Exército, Polícias do RS, SC, PR, MG, BA e RJ, após 23 dias de amplo domínio, abandona a cidade (no dia 28 do mesmo mês), com destino ao interior, com o propósito de semear os ideais de modernidade e justiça por outras bandas. 
Quartel da Luz bombardeado por canhões postados no alto do Ipiranga - SP


O comando legalista optou por bombardear a Cidade às cegas, evitando o atrito com as tropas rebeldes. Sem contato visual, facilitou a fuga dos rebeldes para o interior do Estado. 

O maior conflito já registrado na Capital Paulista (e maior conflito urbano no país), deixou um triste e pesado tributo: 503 mortos, 5.864 feridos - em sua maioria, civis, além da destruição de aproximadamente 2.000 edifícios.

Através da Estação Ferroviária da Luz (que hoje também abrange uma Estação do Metrô, de mesmo nome), nas proximidades do "Quartel da Luz", 6.000 rebeldes (inclusos 2.000 civis, que aderiram à Revolução), embarcaram nos trens com destino inicial ao interior do Estado, passando por Campinas, Jaguari, Amparo, Itapira, Mogi- Mirim, Espírito Santo do Pinhal, São João da Boa, Prata, Rio Claro, Itirapina, São Manuel, Bauru, Botucatu, Avaré, Ourinhos, Palmital, Paraguaçu Paulista, Santo Anastásio e Presidente Epitácio, no fim da estrada de Ferro Sorocabana, às Margens do Rio Paraná. 

Os rebeldes, sob comando do tenente Juarez Távora, tentaram uma infeliz invasão ao Estado de Mato Grosso. Todavia, foram rechaçados. 

Optaram no prosseguimento do Movimento, margeando o grande Rio Paraná, agora sentido sul, até alcançarem a região pouco habitada de Guaíra/Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná. Avançaram e se estabeleceram na Serra de Medeiros, culminando na “guerra de trincheiras”, cujos baluartes eram as cidadelas de Catanduvas/Belarmino/Santa Cruz, no Alto Paraná.
Residência atingida pelo conflito - 1924

Com MIGUEL COSTA, 3.800 guerreiros chegaram ao oeste do Paraná. Os rebeldes permaneceram no aguardo das tropas do Capitão do Exército Brasileiro Luís Carlos Prestes, que se sublevara no Rio Grande do Sul - no dia 28 de outubro de 1924. Quase seis meses após, depois da queda de Catanduvas, em 11 de abril de 1925, essas forças alcançam a tropa Paulista, na região de Foz do Iguaçu, no Paraná, às margens do Rio que homenageia o Estado sulino, com apenas 800 maltrapilhos e quase desarmados componentes. Essa era inicialmente a Coluna do Capitão Prestes. 

A tropa, então, foi armada e reorganizada pelo tenente João Cabanas, comandante da “Coluna da Morte”, que apreendera grande quantidade de munição, no mês de janeiro, no reduto legalista chamado de Formigas. As duas colunas unidas (Brigada São Paulo e Brigada Rio Grande) resultaram na "1ª Divisão Revolucionária", ou, simplesmente, com justa revisão histórica, "Coluna Miguel Costa- Prestes".

A queda do reduto rebelde de Catanduvas, no final de março de 1925, capítulo triste e heroico, absolutamente desconhecido dos brasileiros, ocorreu com a rendição de 207 soldados. Foi a exaustão das trincheiras, a fome e doenças, impostas aos membros da Força Pública Paulista, que os fez vislumbrar um final horroroso. Rendidos, foram no entanto encaminhados para a colônia penal de Clevelândia, no Amapá, através dos “navios da morte”. Somaram-se a outros rebeldes, de outros Estados, bem como prisioneiros comuns, totalizando mais de 1000 farrapos humanos. 

Em 1927, com a anistia concedida pelo novo Presidente, Washington Luís, dizimados por doenças das trincheiras, malárias, fraqueza e a fome, somente 7 (sete) dos 207 combatentes de Catanduvas, retornaram com vida... 

Civis mortos em decorrência dos bombardeios, são enterrados

Com a unificação das duas Brigadas, Miguel Costa e Prestes decidiram dar continuidade à Revolução. Para tal, partindo de Porto Mendes, no Paraná, invadiram o Paraguai, através do Puerto Adela, evidentemente, sem autorização do país- irmão, com o intuito de apenas realizarem a travessia do país, por 120 Km, em 3 dias, fugindo do cerco do general legalista Cândido Mariano Rondon, até chegarem em Ponta Porã, no Mato Grosso, e recomeçarem a Marcha pelo Brasil. 

Tal Coluna, nos meios Acadêmicos, era apenas conhecida pelo termo "Coluna Prestes", fato militarmente incabível, pois Miguel Costa era superior hierárquico, no posto de Major (antiguidade é posto...). 

O Comandante Geral rebelde, General Isidoro Dias Lopes, já muito idoso, por limitação física, não conseguiria dar continuidade à ”guerra de movimento”. O comando da Divisão Revolucionária foi transmitido ao mais antigo militar em posto, MIGUEL COSTA. Prestes foi nomeado chefe do Estado Maior da 1ª Divisão, e também acumulava o subcomando da Coluna.

A “1ª Divisão Revolucionária” foi importante página da Historiografia Nacional, pois, com abnegação e heroísmo, anônimos percorreram aproximadamente 25.000 km do território nacional (alguns autores dizem 30.000 km percorridos), assim divididos: 

1. Saída de São Paulo rumo ao interior, Mato Grosso (parte sul) e Paraná- exclusivamente da Tropa Paulista (parte do Exército, Força Pública Paulista e voluntários civis). Neste trecho se destacou o Tenente da Força Pública Paulista JOÃO CABANAS - comandante da “Coluna da Morte”, encarregado da defesa da retaguarda da tropa, quando da saída da Capital, introdutor no Brasil da chamada “guerra psicológica” (tão bem relatada em obra de sua lavra, “A Coluna da Morte”); 
2. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná- Tropa Gaúcha (Exército e voluntários civis), liderada pelo capitão Luís Carlos Prestes, que, diga-se de passagem, ainda não bebera da fonte marxista, assumindo-a somente em maio de 1930, bem posterior à Marcha; e
3. 1ª Divisão Revolucionária, ou Coluna Miguel Costa- Prestes: decorrente da junção das duas Colunas, a Paulista e Gaúcha, após a queda de Catanduvas, no Paraná. Percorreram o “Paraguai”, Mato Grosso (e atual Mato Grosso do Sul), Minas Gerais, Bahia, Goiás (e atual Tocantins), Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco. “Volta”: Bahia, Pernambuco, Piauí, Goiás (e atual Tocantins), Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso e internamento na Bolívia (e outra e pequena parte, no Paraguai). 

Foi a maior marcha militar do Planeta, ainda não superada. Vale destacar que, fosse o Brasil qualquer outro país, o fato já teria resultado em filme épico... 

O efetivo da Coluna variava, para fins estratégicos, entre 1.200 e 1.500 homens. Finalizou-se com o internamento voluntário da tropa rebelde na Bolívia, em fevereiro de 1927, com 800 homens, por eles mesmos denominados “emigrados” (e uma minoria, no mês seguinte, liderada por Siqueira Campos, que se exilou no Paraguai), encerrando esse capítulo desconhecido para a maioria dos brasileiros...

Entretanto, também presto “vivas” aos soldados legalistas, que perseguiram a Coluna, pois cumpriram o dever militar, sofrendo das mesmas adversidades de seus homólogos nos tempos de guerra (saudades, fadiga, fome, medo, doenças, ferimentos... morte).

Outro líder da estirpe do General MIGUEL COSTA (promovido a esse posto durante a Marcha), porém em trincheira distinta, também treinado pelos membros gauleses da 1 ª e 2ª Missões Francesas de Instrução da Força Pública Paulista (1906-1914 e 1919-1924) foi o Coronel FP PEDRO DIAS DE CAMPOS, Comandante Geral da Força Pública Paulista, que pessoalmente, perseguiu a Coluna Miguel Costa - Prestes pelo interior do Brasil, em 1926, integrada ao Exército Brasileiro. Na Campanha, a Força Pública teve o desprazer de ter a primeira baixa da Aviação Militar Paulista, em setembro de 1926, com a morte do Tenente FP Chantre, em Uberaba- MG, após um pouso mal sucedido em que o vitimou mortalmente. O segundo piloto, Tenente FP Antônio Pereira Lima, teve ferimentos gravíssimos e fora internado na Santa Casa local, permanecendo 8 dias em coma, porém resistindo aos ferimentos. Estavam a caminho de Goiás, na Campanha de mesmo nome, combatendo a Coluna Miguel Costa- Prestes. 


Tropas revolucionárias embarcam em direção ao sul de São Paulo


Coincidentemente, o vitimado sobrevivente, no ano anterior, Tenente PM Pereira Lima, ficara conhecido como o 1º paraquedista brasileiro, feito realizado no Campo de Marte, na Capital Bandeirante (História disponível em: goo.gl/ckZiqx). Os fundos arrecadados, decorrentes da demonstração, também auxiliaram na Construção do Hospital Cruz Azul, destinado aos familiares dos membros da Força Pública. A vida de caserna os obrigava a se ausentarem por longo período de suas famílias, pois constantemente eram acionados para participarem de Campanhas Militares. A Cruz Azul era (e o é) um porto seguro para as esposas e filhos dos guerreiros de ontem, hoje e sempre...

Deve- se a “5 de Julho de 1924” o início efetivo de derrubada das pilastras que sustentavam a Primeira República, rompidas definitivamente no ano de 1930 com a “Revolução Outubrista”. As eleições no Brasil são realizadas no mês de outubro em decorrência daquele evento. 

Com a ruptura de 1930, iniciaram-se os tímidos primeiros passos para o avanço das instituições políticas, culminando na Constituição Cidadã de 1988 e na liberdade de expressão e manifestação do povo brasileiro.

Contudo, o poder às vezes pode cegar. O que era para ser temporário, em 1930, com os ideais dos “Tenentes”, perpetuou- se no tempo e no espaço, com a figura de Getúlio Vargas. Muitos dos "Tenentes" sofreram de tal mal... São Paulo mais uma vez cobrou... e caro! 
Novamente, sangue brasileiro de nascimento e/ou adoção escoou durante a Revolução Constitucionalista, dois anos depois... Os Soldados da Lei foram imortalizados no Mausoléu do Soldado Constitucionalista de 1932 (Obelisco do Ibirapuera, na Capital).

O heroísmo e sacrifício daquelas gerações, pois pegaram em armas, foram louváveis. 

Hoje, felizmente, “outra arma" é utilizada como principal “munição”: o voto (direto, secreto, universal, e periódico, hoje cláusula pétrea, conforme reza artigo 60, parágrafo 4º, inciso II, da CF/88). O voto pode derrubar qualquer trincheira de intolerância e injustiça. 

Mas, não nos esqueçamos daqueles valentes, que JAMAIS poderão ser esquecidos...

Para os críticos do General MIGUEL COSTA. Em conversa informal com o Coronel Mário Ventura (http://ventura-memriasdoventura.blogspot.com.br/), estudioso dos feitos da Instituição, este revelou-me fato marcante. Quando ainda Cadete da Força Pública, em 1959, entrevistou o grande Comandante. O Generalíssimo confessara a ele que uma de suas grandes tristezas era não ter participado da Revolução de 1932 ao lado das Tropas Constitucionalistas. 

Afinal, por ter sido um membro atuante do movimento “Tenentista”, fora aprisionado em São Paulo durante a Guerra pela Constitucionalidade.

Bravos de outrora, que hoje habitam o infinito, o sangue jorrado não foi derramado em vão... Nossa eterna gratidão!
Por Major PM Sérgio Marques Do site: https://www.theeagleview.com.br
Fontes:
ASSUNÇÃO, Moacir. São Paulo deve ser destruída: A História do Bombardeio à Capital na Revolução de 1924. Rio de Janeiro: Record, 2015;
BARROS, João Alberto Lins. A Marcha da Coluna. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1997;
CABANAS, João. A Coluna da Morte. São Paulo: Editora Unesp, 2014;
COSTA. Yuri Abyaza. Miguel Costa, um herói brasileiro. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010;
DUARTE, Paulo. Agora Nós. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007;
FILHO, José Canavó; MELO, Edilberto de Oliveira. Asas e Glórias de São Paulo. São Paulo: IMESP, 1978;
MACAULAY, Neill. A Coluna Prestes. São Paulo/Rio de janeiro: DIFEL, 1977;
MEIRELLES, Domingos. As Noites das Grandes Fogueiras. Rio de Janeiro: Record, 1995;
NORONHA, Abílio. Narrando a Verdade: Contribuição para a História da Revolta em S. Paulo. São Paulo: Editora Monteiro Lobato, 1925;
DE OLIVEIRA, Nélson Tabajara. 1924, a Revolução de Isidoro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1956;
DOS SANTOS, Davino Francisco. A Coluna Miguel Costa, e não Coluna Prestes. São Paulo: Edicon, 1994;
SERPA, Benito. A Verdun Paulista. São Paulo: BIBLOS, 1962; e 
TÁVORA, Juarez. Uma Vida e Muitas Lutas: Da Planície à Borda do Altiplano. Rio de Janeiro: Livraria José Olímpio Editora, 1973.

Sérgio Marques é Major da Polícia Militar do Estado de São Paulo, bacharel em direito (UNIBAN), mestre em Ciências Policiais (APMBB) e pós-graduado em Política e Relações Internacionais (FESPSP), historiador militar.








segunda-feira, 6 de agosto de 2018

ENTREVISTA COM PAULO GUEDES

 Alckmin é “irrelevante” e centro terá que escolher quem apoiará no 2º turno, diz Paulo Guedes

O economista liberal que está conduzindo a campanha de Jair Bolsonaro recebeu o InfoMoney no escritório da Bozano Investimentos em São Paulo; ele explicou por que a social-democracia encerrará o ciclo de 30 anos governando o País e por que Jair Bolsonaro segue crescente nas pesquisas

(Assessoria Credit Suisse)

SÃO PAULO - Após 30 anos de governos social-democratas no Brasil, chegou a hora de uma aliança liberal-democrata assumir a presidência do País, afirma Paulo Guedes, responsável pelo plano econômico do pré-candidato Jair Bolsonaro. O liberal de carteirinha, que está com a missão de convencer investidores de que Bolsonaro levará adiante a tão sonhada agenda de reformas, recebeu o InfoMoneyno escritório da Bozano Investimentos em São Paulo na última quarta-feira (23).

Ao longo de 60 minutos de conversa (sendo que por 57 minutos apenas o Paulo Guedes falou), o economista atribuiu a manutenção de Bolsonaro na liderança das pesquisas eleitorais ao fato de eles terem identificado o que a população realmente espera de um governo. “A população hoje grita ‘segurança’, e não ‘economia’”. Durante a conversa, ele recorreu ao celular para mostrar o vídeo gravado de uma palestra feita por ele em 2006, na qual ele projetava que a combinação da descompromisso fiscal com crescimento da corrupção levaria ao fim do ciclo social-democrata no Brasil “daqui uns 10 anos” - o que está sendo visto agora, explica.

Mesmo com um tom de voz calmo em toda a entrevista, Guedes não escondeu a irritação logo no início do papo ao ser questionado sobre as declarações do pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB) recentemente publicadas no twitter (ele disse que “Bolsonaro e o PT é a mesma coisa” e que por isso votar nele seria “andar para trás”). “Eu não tenho nada para falar do Alckmin. O Alckmin é irrelevante. Eu acho que o Alckmin é um bom homem num Titanic chamado establishment (...). O Alckmin não vai ganhar a eleição, mas a posição do PSDB e do centro no 2º turno vai ser importante”, disse o possível ministro da Fazenda em um eventual governo de Bolsonaro.

Ph.D pela Universidade de Chicago e fundador do Instituto Millenium (um ‘think thank’ disseminador do pensamento liberal), Paulo Guedes fez a carreira no mercado financeiro, tendo sido um dos fundadores do banco Pactual. Atualmente, ele é um dos sócios da Bozano Investimentos.

Confira os principais trechos da entrevista:
Alckmin irrelevante; pra onde vai o centro?

Eu não tenho nada para falar do Alckmin. O Alckmin é irrelevante. Eu acho que o Alckmin é um bom homem num Titanic chamado establishment, que perdeu a decência e está com um problema sério. O Alckmin não vai ganhar a eleição, mas a posição do PSDB e do centro no 2º turno vai ser importante. Ele vai para a esquerda com o Ciro Gomes ou ele fará parte de uma aliança de centro-direita para dar governabilidade para o Bolsonaro? Eu acho que, depois de 30 anos de social-democracia, vai haver uma aliança liberal-democrata, de centro, conservadores e liberais em torno de um programa liberal para a economia.
PT rival do PSDB? Tudo social-democrata

No Brasil, só houve governo social-democrata nos últimos 30 anos: teve o social-democrata de chão de fábrica com o PT, social-democrata de imposto de renda com o PSDB, até o próprio PMDB do Sarney era social-democrata. E o saldo final é um governo totalmente disfuncional. Algo muito errado foi feito nesses últimos 30 anos: social-democratas subiram em postos de trabalho por 30 anos, aumentaram gastos públicos por 30 anos -- os gastos foram de 26% do PIB para 45% do PIB com a Dilma - os impostos subiram. Por isso eu acho engraçado que falam “liberal quer Estado mínimo”, ridículo, ninguém quer Estado mínimo, quer um Estado funcional. Porque hoje ele é mínimo e máximo ao mesmo tempo: ele é mínimo socialmente, porque não tem segurança, saúde, não tem nada, e ao mesmo tempo ele é máximo pois gasta 45% do PIB. É um Estado disfuncional e isso não foi sem querer, isso é uma história e o Alckmin é parte dela através de seus economistas, eles fizeram essa história. Eles que fizeram o Plano Cruzado, que foi um plano de congelamento de preços, mas que deu errado e gerou uma hiperinflação.
O Estado “inútil” que paga R$ 400 bi por ano em juros

Uma parte enorme desses 45% do PIB comprometido em despesas é o juro da dívida. Ela não brotou nem caiu da lua, ela foi consequência da estratégia social-democrata, que produziu um custo de dívida de R$ 4 trilhões, que hoje dá uma despesa de quase R$ 400 bilhões ao ano em juros. R$ 400 bilhões é um plano Marshall [na época foram US$ 13 bilhões, mas trazendo aos valores de hoje daria pouco mais de US$ 100 bilhões, o que dá os R$ 400 bilhões citados]. O que foi usado para reconstruir a Europa inteira no pós-guerra o Brasil usa todos os anos em juros da dívida, que é um dinheiro que não produz nada. Estamos reconstruindo uma Europa todo ano e não conseguimos acabar com a miséria. Então você fala, “ah, o liberal é contra o Estado”, claro que é contra o Estado, olha só o Estado inútil que você tem!
O grande erro dos sociais-democratas

Qual foi o grande problema de todas as estratégias sociais-democratas? A falta da dimensão fiscal. Faltou isso. O Plano Cruzado deu errado porque não tinha nem fiscal nem monetária. O Plano Collor deu errado porque não tinha nem fiscal nem monetária. O Plano Real deu certo, mas só para acabar com a inflação, que é um fenômeno monetário, só que para isso ele estagnou a economia. Ele combateu muito errado a inflação, pois ele usou freio monetário e aceleração fiscal. Isso provocou o descontrole do gasto público. Por isso que nesses 30 anos o juros ficou na lua e o endividamento entrou em bola de neve. Tivemos que subir impostos e hoje as despesas são para pagamento de juros, para o próprio funcionalismo público e para as aposentadorias. Ou seja, o governo virou uma grande agência de pagamentos, que gasta pelos erros do passado, do presente e do futuro. O passado dele são os juros; o presente é o funcionalismo público; e o futuro é a previdência pública. O pecado original de todos os planos de estabilização da economia brasileira foi nunca atacar frontalmente a dimensão fiscal.

O Brasil tornou-se assim o paraíso dos rentistas e o inferno dos empreendedores. É uma grande agência de transferência de renda, porque para pagar esses juros aumentou-se imposto, então o empreendedor pagava cada vez mais para o rentista. Aí o capital empreendedor começa a abandonar o país, os jovens começam a abandonar o país. O Brasil hoje, em vez de receber imigrantes como recebia no passado, agora é o contrário: os jovens brasileiros estão indo embora para tentar prosperar.

Estou contando tudo isso para dizer por que o Alckmin é irrelevante na eleição de hoje: ele é parte de um establishment dominante. Não adianta dizer “foi o PT”, na verdade foi a social-democracia, que está há 30 anos no governo, desde José Sarney, passando pelos dois mandatos do FHC e pelos 4 mandatos do PT. E essa hegemonia é natural: como houve 20 anos de governo militar, a direita ficou associada a autoritarismo e ficou prescrita, então veio a esquerda e, com méritos, comandou a redemocratização. Mas o saldo final foi uma degeneração da política, a política foi corrompida. E junto com isso tivemos um crescimento econômico medíocre. Esse é o resultado final de um modelo que aumentou os impostos o tempo inteiro; que combateu a inflação com juros altos o tempo inteiro, porque não atacou a dimensão fiscal; que hesitou em privatizar... Você não lembra do Alckmin colocando e tirando o macacão [da Petrobras]?. Essas hesitações, essa agenda envergonhada… O FH fazia uma agenda liberal envergonhada. Ele mesmo dizia: “eu sou a vanguarda do atraso, tem que me apoiar porque ou sou eu ou é o caos”, ele tinha noção disso. Era o que diziam: as medidas não podiam ser nem tão rápidas que fossem uma vergonha para um social-democrata, mas nem tão devagar que fossem um desastre.
Os méritos dos 30 anos da social-democracia

Mas houve méritos nestes 30 anos de social-democracia? Claro que houve méritos, houve um aprendizado doloroso. Por exemplo, o tripé macroeconômico foi um aprendizado torto. Como eles aprenderam a política monetária? Com o erro do plano cruzado. Antes do Armínio [Fraga] criar o sistema de metas da inflação, sofremos com o dólar porque a programa de estabilização estava ancorado antes no câmbio, mas âncora de programa de estabilização é monetária ou fiscal. Quando o PSDB finalmente aprendeu a colocar o tripé macroeconômico de pé, as urnas disseram, “opa, seu tempo acabou. Saiam daí”, e os tucanos deram lugar ao PT. E lá vem o PT para aprender também. O Lula aprendeu rápido, mas o fiscal está solto. Só que o poder corrompe, e poder absoluto corrompe absolutamente: Correios, em vez de entregar carta, estava fazendo o Mensalão. A Petrobras, em vez de cuidar do pré-sal, estava fazendo o Petrolão. Se perderam. O diagnóstico de um liberal-democrata vendo 30 anos de experiência social-democrata é assim: eu avisei.

O bom é ter o equilíbrio nas duas correntes: você tem um [presidente] social-democrata mas logo depois um liberal-democrata, alternando. Social-democrata coloca os mais frágeis dentro dos orçamentos públicos, muito bom. O liberal-democrata bota a economia para crescer: a economia cresce e não deixa ninguém para trás. O Chile hoje está assim: é o [Sebastian] Piñera, que é um empresário, e a [Michelle] Bachelet. São os americanos com os democratas e republicanos. Aqui, eles gostam de brincar sozinhos com a bola. Daí quando aparece uma coisa diferente, já vira um “denúncia, perigo, vai ser o caos”. Não vai ser caos nenhum, por que vai ser o caos? Por que se não for um deles vai ser o caos? Nunca entendi.
A projeção feita em 2006 está acontecendo…

Em 2006, eu fiz esse diagnóstico que eu estou te falando agora. Eu disse na ocasião que acreditava que daqui uns 10 anos a esquerda estaria esburacada, porque toda essa escala de roubo iria continuar aumentando e atingiria todo o espectro político. Da mesma forma que depois de 20 anos de regime militar a direita ficou queimada politicamente. O diagnóstico feito em 2006 era relativamente simples: do regime militar pra cá, os gastos públicos saíram de 18% do PIB aos atuais 45% do PIB. São quase cinco décadas ininterruptas de crescimento, FH pegou com 28% e devolveu com 32%, Lula passou para Dilma com 36% e agora chegamos em 45%. Quer dizer, o Brasil acredita que governo que faz crescer, enquanto China, Rússia e outros vários acreditam que a ferramenta de inclusão social são as economias de mercado, Estado de direito, propriedade privada, integração competitiva e desburocratização. Essa combinação de centralização de poder e crescimento de gastos do governo é o que acaba com um país. Isso que provocou a Revolução Francesa no século XVIII e isso que colapsou a Venezuela. A União Soviética também foi assim. São episódios seculares.

Por isso eu me irritei no começo da nossa conversa [ao falar sobre o Alckmin]. O Alckmin vai vir com essas estratégias de querer polemizar com o Bolsonaro para ver se ele sobe. Ele é um cara do establishment, ninguém do establishment vai ganhar. Ele já vestiu o macacão da Petrobras e tirou, ele disse que era pelo desarmamento e agora que dar arma para o campo. Não adianta dizer “Ah, mas o Pérsio Arida vai ser meu economista”, eu sou amigo do Pérsio, adoro o Pérsio, mas o Pérsio já congelou preço, já botou juros na lua, agora o Pérsio vai fazer o que? Vai fazer o que todo o mundo vai fazer, não tem novidade. Vai fazer o que devia ter feito há 30 anos atrás. Naquela época, o buraco fiscal era pequenininho. Agora, é um buraco colossal e mal administrado, um legado horroroso. A coisa mais irônica que poderia acontecer é deixar um social-democrata ganhar essa eleição, para ele ter que limpar a faxina de 30 anos. Agora vão buscar um liberal correndo para consertar isso tudo -- é uma missão desagradabilíssima.

Nosso grande erro foi não entender que a estrutura do Estado tinha que mudar. O único respiro que tivemos nesse período foi quando entrou o Collor e ele segurou os gastos públicos e abriu a economia. Foi o único vento que a gente teve ali de modernização, o resto aprendemos aos trancos e barrancos, mas aprendemos. Então tem que ter uma certa paciência, por isso eu reclamo da impaciência com o Bolsonaro. “Ah, o Bolsonaro não sabe economia”. Os economistas brasileiros que congelaram preços sabiam economia? Quem fez o cruzado sabia economia? Sabiam economia quando colocaram o juros em 70% ao ano? Então, isso aí é um ataque político, quer atacar e fala que não conhece economia. Esse negócio de não saber economia depende da equipe que ele montar, do plano que ele apresentar etc.
Por que Bolsonaro sobe nas pesquisas

É importante explicar por que o Jair está subindo nas pesquisas. Você sabe qual é a função básica de um governo? Se você perguntar isso para um social-democrata, ele dirá que é saúde, educação, mas não é isso. Essa pauta é recente na história, surgiu há uns 300 anos, depois da Revolução Francesa. A função básica de um governo é preservar vidas e propriedades, e surgiu 500 anos atrás, com Thomas Hobbes e depois com John Locke. É o que o Bolsonaro está dizendo, preservar vidas e propriedades. Então, o Bolsonaro está subindo porque ele significa uma expectativa de ordem sobre esta agenda que foi ignorada nos últimos 30 anos.
3,5 bi de eurasianos fora da miséria; e o Brasil?

E essa “ordem” precisa de um “progresso”, que não é a pessoa Paulo Guedes, mas sim as ideias liberais. Foram elas que transformaram em potência Inglaterra e os Estados Unidos, foi o que reconstruiu a Alemanha no pós-guerra e deu diretriz ao Chile. Essa história está acontecendo no mundo inteiro, e agora está acontecendo com 3 bilhões e meio de eurasianos que estão saindo da pobreza. Os chineses estão saindo do campo para a zona franca do sul, onde tem as plataformas de exportação e de lá começa a exportar para o mundo inteiro e se integra às grandes cadeias. Então, os mercados ocidentais estão tirando da miséria 3 bilhões e meio de eurasianos e não estão tirando da miséria os brasileiros, que estão aqui, dentro dos mercados. Por que isso? Legislação trabalhista, não tem proteção da vida, não tem proteção da propriedade, os impostos são muito altos, a burocratização é demasiada, a infraestrutura estatal é ridícula, nada funciona.
A população grita “segurança” é não “economia”

Muita gente que tem medo do Bolsonaro vem questionar o que será feito na economia. Essas pessoas não estão escutando um grito da população brasileira dizendo "eu não estou pensando em economia, eu estou pensando em segurança". O povo brasileiro está gritando isso. Claro que o tema é importante, mas vocês têm que escutar a resposta também que é "ó pessoal, o mais importante hoje é preservação de vidas e propriedades, é o que o povo brasileiro está dizendo, vocês estão entendendo? Ô, Alckmin! Você está escutando, Alckmin? A urna está apontando para cá".
Otimista com o discurso do Brasil

Eu estou otimista com o Brasil porque não dependemos de ninguém: a classe política está madura, ela já entendeu que precisamos de um programa fiscal. Todos os candidatos estão falando de programa fiscal. O Brasil não vai se perder, ele tem uma história muito rica e aprendeu bastante nesse meio tempo. Do site:https://www.infomoney.com.br