sexta-feira, 31 de julho de 2015

A VIOLAÇÃO DA LINGUAGEM

Não pode haver justiça quando as palavras são usadas em sentido perverso. Quando os significados podem ser invertidos e o mundo virado de ponta cabeça. Nenhuma ideologia pode transformar uma mentira em verdade. Nenhuma alegação especial vai abalar o eixo da terra. As Leis Universais prevalecem.


Em sua obra 'A Quarta Teoria Política', Alexander Dugin diz algumas coisas profundas, que precisam ser conhecidas (mesmo por alguém que se opõe a sua convocação pela destruição dos EUA). “Na política pós-antropológica”, ele escreve, “tudo é invertido: lazer e trabalho (a ocupação mais séria, verdadeiro trabalho, é assistir televisão), conhecimento e ignorância... Os papéis tradicionais macho e fêmea estão invertidos. Ao invés de serem anciãos estimados e experientes, os políticos são escolhidos por sua juventude, glamour, aparência e inexperiência. Vítimas se tornam criminosos e vice versa...”

Dugin vê corretamente que um tipo de inversão tem acontecido. E esta inversão é fundamental. É um sintoma de enorme transformação dentro da alma. A humanidade, como era, tinha dois polos. E estes polos estão sendo desorganizados, negados e invertidos. Tão estranho como possa parecer, ao escrever sobre o equilíbrio de poder entre os dois grandes atores bipolares (Rússia e América), estamos agora acostumados a negar a bipolaridade que simplesmente promete o inverso da mesma polaridade. Isto pode ter a ver com neurose em massa e a negação da morte, ou é o resultado de algum processo alquímico sinistro.

Na semana passada a Suprema Corte dos EUA validou o casamento gay como direito a nível nacional. Deixando de lado o nonsense que perpassa o debate em ambos os lados desta questão, a coisa mais perturbadora é que o casamento é agora definido sem considerar o masculino e o feminino. De acordo com os ensinamentos da maioria das tradições espirituais, gênero é um princípio universal que tem a ver com regeneração. Apenas a união de masculino e feminino tem significado regenerativo. O juiz Kennedy rejeitou esta ideia quando escreveu: “Na formação de uma união matrimonial, duas pessoas tornam-se algo maior do que foram certa vez. Como alguns requerentes nestes casos demonstraram, o casamento personifica um amor que pode resistir até mesmo além da morte. Seria interpretar mal estes homens e mulheres dizer que eles desrespeitam o casamento. Seu apelo é que de fato o respeitam, respeitam tão profundamente que buscam encontrar sua realização para eles próprios”.

Mas meritíssimo juiz Kennedy, a realização do casamento se efetiva em crianças. E tal como o juiz Roberts, que argumentou que a decisão da Corte era um curto-circuito no processo democrático, receio que mesmo que a maioria vote a favor do casamento gay isto não tornará possível que homens produzam descendência sem mulheres. Tudo o que tais decisões ou votos podem fazer é eliminar a definição prévia da palavra “casamento”, que o dicionário de meu avô, o Webster's International Dictionary de 1943, define assim:

“casamento, n.1 Estado de estar casado, ou estar unido a uma pessoa do sexo oposto como marido ou esposa; também a relação mútua entre marido e esposa; abstratamente, a instituição pela qual homens e mulheres são unidos num tipo especial de dependência legal, para o propósito de fundar e manter uma família”.

Como você pode ver, a Suprema Corte violou a língua inglesa, isto é, a Corte assumiu um poder que nenhuma autoridade governamental pode, com prudência, assumir. É o poder mais arbitrário imaginável; pois a Suprema Corte pode agora dizer que “em cima” é “em baixo”, e que “preto” é “branco”. Não podemos dizer o que tal Corte fará a seguir, pois agora é certo que nenhuma propriedade está segura, nenhum contrato está protegido. Qualquer coisa pode acontecer. Não somos mais governados por leis, pois leis são feitas de palavras e agora, a partir deste momento, as palavras são feitas de nada, não possuindo significado intrínseco. São apenas sons, com significados que podem ser atribuídos e reatribuídos politicamente. Foi isto que nossa Suprema Corte fez, e ao fazê-lo, transformou toda a lei em algaravia. E isto, sustento, é a coisa mais perigosa de todas. Não é apenas o casamento que tem sido debilitado. É o estado, a Constituição, a língua inglesa e a sensatez pública. Esta, na verdade, é a mesma prática que aparece na neutralização de nosso poder militar e econômico. É um sintoma de uma dissolução interna, um colapso do instinto e um declínio na anarquia. O que tenho escrito estes muitos anos nunca foi primariamente a respeito da ameaça de Rússia ou China. Meus textos têm sido a respeito da progressiva falsificação da realidade, auto engano nacional e corrupção que servem ao nosso declínio social. Simplesmente selecionei os elementos mais claramente suicidas em nosso auto engano nacional como temas principais. A mesma linguagem distorcida que usamos para referirmo-nos a inimigos como “parceiros” é aqui replicada em nosso uso do termo “casamento homossexual”.

Os inimigos da América podem ver isto. Eles o revelam, apesar de suas sociedades estarem repletas de perversão. Os russos foram os primeiros a serem vitimizados por líderes insanos. Lênin e Stalin foram psicopatas que modelaram o estado russo de acordo com seu próprio distúrbio mental. Porém, os americanos nunca foram governados por Lênin ou Stalin. Então, qual a nossa desculpa? Como chegamos a algo que é pior que o leninismo ou o stalinismo? Pois a maldade de ditadores é algo que podemos relatar. É uma velha história, remontando aos césares. Mas um mal que inverte a realidade, que viola a linguagem e falsifica conceitos fundamentais, não é um mal que possa ser entendido da mesma maneira. Trata-se uma perversão espiritual que nos conduz às portas do oculto; a algo não visto, a algo conectado com as artes sombrias.

No dia da decisão fatídica o juiz Scalia observou: “O que realmente surpreende é a arrogância do golpe judicial de hoje. Estes juízes sabem que limitar o casamento a um homem e uma mulher é contrário à razão; eles sabem que uma instituição tão antiga como o próprio governo, e aceita por cada nação na história até quinze anos atrás, não pode ser apoiada por outra coisa a não ser ignorância e intolerância. E eles estão querendo dizer que cada cidadão que não concorda com isso, que adere ao que era, até quinze anos atrás, o juízo unânime de todas as gerações e todas as sociedades, fica contra a Constituição”.

Este novo conhecimento, que ataca o dicionário inglês, que ataca o próprio fundamento da legalidade, significa a destruição de toda lei. A Suprema Corte dos EUA cometeu um ato de desconsideração, de desagregação, de auto eliminação. Esta decisão não diz respeito realmente à questão da tolerância e intolerância a determinada minoria. Esta questão apenas nominalmente diz respeito a homossexuais. Na verdade, a comunidade gay tem sido usada como um joguete político para realizar um tipo de alquimia sinistra. Agora, a partir deste ponto, qualquer violência poderá ser cometida a qualquer um. Cada uma das várias causas pode ser ativada contra as outras; pois que reservas tem a lei agora? Que reverência? Que credibilidade? Perdeu o senso de suas próprias palavras, decaindo em insanidade por si.

Não pode haver justiça quando as palavras são usadas em sentido perverso. Quando os significados podem ser invertidos e o mundo virado de ponta cabeça. Nenhuma ideologia pode transformar uma mentira em verdade. Nenhuma alegação especial vai abalar o eixo da terra. As Leis Universais prevalecem. O niilista que nega esta lei é o arauto de sua própria destruição. A sociedade que saúda este niilista, que o eleva à Suprema Corte, que elege congressistas e presidentes deste tipo, não pode ser salva.





Tradução: Flávio Ghetti Do site: http://www.midiasemmascara.org/

quinta-feira, 30 de julho de 2015

A IGREJA HUMILHADA ( 1 )

Talvez o traço mais característico da modernidade seja precisamente a coexistência enervante entre uma ciência sem espiritualidade e uma espiritualidade sem base natural.


Por que o Papa Francisco, ao falar do simbolismo sagrado da natureza, preferiu citar um místico muçulmano em vez de colher alguma frase na imensa literatura cristã sobre o assunto? Os cérebros iluminados da mídia nacional e internacional enxergaram aí toda sorte de intenções ecumênicas e diplomáticas, mas não creio que esse simples detalhe de um discurso papal possa ser compreendido sem um recuo histórico de muitos séculos.

“Nós falamos com palavras, mas Deus fala com palavras e coisas”, dizia Sto. Tomás de Aquino. Na época dele, e de fato desde o começo do cristianismo, isso era uma obviedade de domínio público. Muito antes de ditar aos profetas as palavras da Bíblia, Deus havia criado o universo, sendo inconcebível que não deixasse aí as marcas da sua Inteligência, do Logos divino que contém em si a chave de todas as coisas, fatos e conhecimentos.

Nada mais lógico, portanto – assim pensavam os santos e místicos -- , do que buscar nas formas e aparências do universo físico os sinais da intenção divina que tudo havia criado. O próprio texto da Bíblia está tão repleto de referências a animais, plantas, minerais, partes do corpo humano, acidentes geográficos, fenômenos astrais e climáticos, etc., que sem algum conhecimento da natureza física sua leitura se torna completamente opaca. Não havia e não há como fugir desta constatação elementar: o universo era a primeira das Revelações.

Essa intuição não havia escapado aos povos pagãos da Antiguidade, cujas culturas se erguem inteiramente em cima de prodigiosos esforços para apreender alguma mensagem divina por trás dos fenômenos da natureza terrestre e celeste e fazer da sociedade inteira um modelo cósmico em miniatura (a bibliografia sobre isso é tão abundante que não vou nem começar a citá-la).

Apesar da imensa variedade das linguagens simbólicas que se desenvolveram nas mais diversas épocas e lugares, elas todas obedecem a um conjunto de princípios que permitem estabelecer correspondências entre as concepções cosmológicas e antropológicas dessas civilizações.

Essas concepções foram absorvidas e apenas ligeiramente remodeladas pela Europa cristã para tornar-se veículos de uma cosmovisão bíblica. A principal modificação foi um senso mais apurado da índole dialética do simbolismo natural, onde os fatos da natureza física já não apareciam como expressões diretas da presença divina, como no antigo culto dos astros, mas como indícios analógicos que ao mesmo tempo revelavam e ocultavam essa presença (expliquei um pouco disso no meu livro A Dialética Simbólica, São Paulo, É-Realizações, 2007).

A cosmologia medieval incorporava o velho mapa planetário ptolemaico, com a Terra no centro e as várias esferas planetárias – correspondentes a distintas dimensões da existência – afastando-se até o último céu, morada de Deus. Que esse mapa não devesse ser interpretado como um simples retrato material do mundo celeste, prova-o o fato de que ele era compensado dialeticamente por uma concepção oposta, na qual Deus estava no centro e a Terra na extrema periferia. A tensão entre as duas esferas condensava de uma maneira abrangente os paradoxos da existência humana num ambiente natural que era ao mesmo tempo um templo e uma prisão. A visão medieval do céu não era uma cosmografia, mas uma cosmologia – uma ciência integral do significado da existência do homem no cosmos.

A eclosão do debate heliocentrismo versus geocentrismo baixou o nível da imaginação pública para um confronto entre duas concepções puramente materiais, rompendo a tensão dialética entre as duas esferas e rebaixando a cosmologia ao estado de mera cosmografia. Os progressos extraordinários desta última serviram para mascarar o fato de que a modernidade assim inaugurada ficou totalmente desprovida de uma cosmologia simbólica, não havendo até hoje nenhum meio de articular a visão material-científica do universo com os conhecimentos de ordem espiritual: essas duas dimensões pairam uma sobre a outra sem jamais interpenetrar-se, como água e óleo num copo, de tempos em tempos ressurgindo, sob formas variadas, o “conflito entre ciência e religião”, ou “entre razão e fé”, o qual, nesses termos, só pode ser apaziguado mediante arranjos convencionais de fronteiras, tão artificiais e instáveis quanto qualquer tratado diplomático. O que era tensão dialética tornou-se um dualismo estático, como numa guerra de posições entre exércitos imobilizados cada um na sua trincheira. Talvez o traço mais característico da modernidade seja precisamente a coexistência enervante entre uma ciência sem espiritualidade e uma espiritualidade sem base natural. 

Para piorar ainda mais as coisas, a ruptura entre as duas dimensões não se deu só no domínio da cosmologia, mas também na metafísica e na gnoseologia, onde René Descartes, rompendo com a antiga visão aristotélico-escolástica do ser humano como síntese indissolúvel de corpo e alma, ergueu um muro de separação entre matéria e espírito, fazendo deles substâncias heterogêneas e incomunicáveis.

Malgrado as inúmeras contestações e correções que sofreu, o dualismo cartesiano acabou por deitar raízes tão fundas na mentalidade ocidental, que suas conseqüências nefastas ainda se fazem sentir até mesmo no domínio das ciências físicas (v. Wolfgang Smith, O Enigma Quântico, trad. Raphael de Paola, Campinas, Vide, 2011).

Na esfera cultural, isso resultava em dividir o universo inteiro da experiência em duas categorias: os objetos reais, isto é, materiais e mensuráveis, conhecidos pela ciência física, e os puramente pensados, para não dizer imaginários – leis, instituições, valores, obras de arte, o mundo propriamente humano. Dos primeiros, só o que se podia saber eram as suas propriedades mensuráveis, sendo proibido querer descobrir neles algum significado ou intenção. Os segundos eram repletos de significado, mas só existiam como pensamentos, como “construções culturais” sem nenhum fundamento na realidade.

Por mais obviamente danosa à cosmovisão cristã que fossem essas idéias, elas foram rapidamente assimiladas pela intelectualidade católica. Durante todo o século XVIII o cartesianismo foi a doutrina dominante nos seminários da França. As chamadas “heresias modernistas” ainda não haviam surgido, mas a hegemonia intelectual cristã estava perdida. Rendeu-se praticamente sem luta. Começava uma era na qual uma alma cristã não teria alternativa exceto amoldar-se à mentalidade moderna ou esbravejar em vão contra o que não podia vencer – as duas atitudes que até hoje caracterizam respectivamente os “modernistas” e os “tradicionalistas”.

A pá de cal foi lançada por Immanuel Kant, quando cavou um abismo intransponível entre “conhecimento” e “fé”, enfatizando a autoridade universal do primeiro e trancafiando a segunda no recinto fechado das meras preferências e fantasias particulares – uma doutrina que se tornou a base não só do positivismo científico ainda imperante nas universidades em geral, mas também de todo o “Estado laico” moderno, onde não há diferença legal entre crer em Deus, em duendes, em extraterrestres, nas virtudes espirituais das drogas alucinógenas ou na bondade de Satanás.

Continuo a narrativa no próximo artigo.


Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.

http://olavodecarvalho.org  do site: www.midiasemmascara.org




TRÊS COMENTÁRIOS SOBRE O DESARMAMENTO NO BRASIL


Ouvi com muita atenção os comentários proferidos pelo historiador Marco Antônio Villa na rádio Jovem Pan, no último dia 22, sobre o fato de mulheres estarem comprando armas de eletrochoque para sua defesa.

O historiador se mostrou indignado — com razão! — por vivermos em um país com tamanha e crescente criminalidade, e afirmou que é inimaginável ver uma cena dessas na França ou na Itália, onde o estado cuida da segurança pública. Acrescentou que é um verdadeiro absurdo transferir ao cidadão a responsabilidade pela segurança pública, e complementou dizendo que a busca de meios de defesa pelo cidadão é um retrocesso, uma ameaça ao estado democrático de direito.

Opa! Sinal vermelho aceso!

Não sei qual a posição dele sobre a posse e o porte de armas, mas desconfio. No entanto, o que importa neste momento é que o historiador erra feio ao correlacionar legítima defesa com a falência do estado de direito. Todos os países sérios do mundo preveem o direito à legítima defesa e garantem a possibilidade de meios para exercê-la, entre elas a França e a Itália, exemplos citados por ele. 

Na França, é permitido o uso de sprays de defesa e armas de choque para qualquer cidadão com mais de 18 anos. Na Itália, anos atrás, o porte de armas de fogo foi bastante facilitado e não é nada raro.

Agora, se um francês precisa andar com objetos para se defender são outros quinhentos, e tal necessidade não se pode ser confundida com a liberdade de fazê-lo.

A lógica de que a necessidade deve pautar a liberdade é perigosíssima e tem seu nascedouro e acalanto nos braços do marxismo. Uma lógica perversa que não raramente é usada para projetos liberticidas.

Utilizando-se essa lógica, se eu não tenho a necessidade de ter dois carros, então o estado pode me tolher desta liberdade. Se um relógio de poucos reais faz o mesmo que outro de muitos milhares de reais, então eu não preciso da liberdade de comprar o mais caro. Entenderam o perigo dessa relação?

Vejamos um exemplo genuinamente brasileiro: o Estatuto do Desarmamento. Seu objetivo é desarmar o cidadão e garantir o monopólio das armas nas mãos do estado. Nasceu da "necessidade" de impedir milhares de assassinatos todos os anos.

No que resultou? Como mostrarei na parte final deste artigo, recordes de homicídios e a supressão da liberdade de possuir e portar armas.

Mas não parou por aí o uso da tal "necessidade". Entre muitos subterfúgios para perseguir seus objetivos reais ou proclamados, o estatuto criou a tal exigência de declaração ou comprovação de efetiva necessidade. Alguém acredita que vivendo em um país com 60 mil assassinatos por ano, 150 mil estupros, milhões de roubos, sequestros e agressões perpetradas por criminosos, essa necessidade não exista?

Existe, claro que existe! Então por que diariamente a compra e porte de armas são negados aos cidadãos exatamente com base nesta necessidade? Porque o estado recorre a outra necessidade como fiel da balança. Explico.

Com o discurso de que é necessário ter um estado que garanta a segurança ao cidadão, nega-se a necessidade do cidadão de se autodefender. É a necessidade como pautadora da liberdade.

A verdade é que não interessa para mim se o estado é ou não competente em me defender e em defender a minha família; eu tenho a liberdade de exercer o meu direito de defesa e ponto final.

Vejamos um último caso em que uma suposta ausência de necessidade foi usada para tentar suprimir uma liberdade: o referendo na Suíça em 2011.

Grupos desarmamentistas, alegando que a Suíça, por ser um dos países mais pacíficos do mundo, com quase inexistentes taxas de homicídios e crimes violentos, tentou por meio de um plebiscito proibir a posse de armas e munições nas residências suíças. O resultado foi a derrota da proposta. Os suíços entenderam que a única necessidade real é a liberdade, e foram respeitados.

Enquanto isso, no Brasil, as supostas necessidades continuam pautando nossas liberdades.

Os desarmamentistas e seu exercício de futurologia

Ao final do ano passado, voltou ao noticiário a triste notícia de que o Brasil é líder mundial em números absolutos de homicídios e ocupa o 11º lugar do ranking considerando o índice de assassinatos a cada 100 mil habitantes.

Com 56.337 homicídios ocorridos em 2012, o país registrou 29 mortes violentas a cada 100 mil habitantes, número quase cinco vezes maior do que o índice mundial (6,2).

As estatísticas foram contabilizadas pelo Observatório de Homicídios pertencente ao Instituto Igarapé, do Rio de Janeiro. Não se trata de nenhuma novidade, uma vez que, ano após ano, o Brasil quebra consecutivos recordes de criminalidade violenta, entre elas os homicídios.

Concomitantemente, continua circulando a informação de que 120 mil vidas teriam sido "salvas" pelo advento do chamado Estatuto do Desarmamento, o qual foi aprovado em dezembro de 2003 em uma conturbada votação que ocorreu em plena vigência do "mensalão", recurso por meio do qual o poder executivo pagava propina ao Congresso em troca da aprovação de projetos de lei de seu interesse.

De acordo com essa tese, graças ao Estatuto do Desarmamento a crescente "epidemia" de homicídios teria sido reduzida, o que na prática resultaria em vidas poupadas.

Seria mesmo esse o caso? Como "prever" taxas de homicídios? Essa metodologia de projeção de crimes é utilizada em mais algum lugar do mundo para se medir eficiência em Segurança Pública? Seria possível comprovar a causalidade entre a restrição de armas legais e a queda dos homicídios? 

Com essas e outras perguntas iniciamos um estudo sobre a tal eficácia do desarmamento no Brasil e, pegando o gancho do termo "epidemia" tão usado por aqueles que advogam pelo desarmamento, recebi de muito bom grado a ajuda do Dr. Luís Fernando Waib, epidemiologista, que possui grande conhecimento na análise de dados e estatísticas.

Em suas palavras:



Após ter me deparado com dados de mortalidade por arma de fogo, divulgados na mídia e em redes sociais recentemente, me incomodei com a análise dos dados divulgados e desconfiei da consistência dos números. Particularmente, me causou estranhamento a inclinação da curva de homicídios, a falta de clareza na apresentação dos dados e as conclusões depreendidas deste conjunto.

Em resumo: algo não estava certo.

O gráfico abaixo mostra três indicadores. A linha azul mostra o total de homicídios para cada 100 mil habitantes (eixo da esquerda). A linha vermelha mostra o total de homicídios para cada 100 mil habitantes cometidos com armas de fogo (eixo da esquerda). E a linha verde mostra a porcentagem total dos homicídios cometidos por armas de fogo (eixo da direita; os números devem ser multiplicados por 100 para se obter o valor inteiro).



Foram utilizados os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SIM/SUS) para prospecção dos dados de mortalidade por causas externas (a mesma fonte utilizada para confecção do Mapa da Violência) e os dados do IBGE para a prospecção dos dados populacionais. Os dados utilizados nesta análise são de 1996 a 2012 — último ano com dados disponíveis no SIM/SUS.

A partir dos dados obtidos nas fontes oficiais — que, repito, são as mesmas utilizadas para a confecção do Mapa da Violência — , não chegamos à mesma conclusão veiculada pela imprensa pelos motivos abaixo elencados:

1. De 1996 a 1999 há uma tendência de elevação na violência geral (traduzida pela crescente taxa de homicídios por 100.000 habitantes, linha azul), em paralelo à tendência de elevação da taxa de homicídios por armas de fogo (linha vermelha).

2. Entre 1999 e 2004 há um desvio desta curva, que sugere uma incidência anormal de homicídios por arma de fogo (linha vermelha). É necessário examinar com mais profundidade o que houve ("quebrar" os dados e contextualizar com os demais fatores que interferem nos índices) para poder determinar causas prováveis.

3. No entanto, como todo "surto", este também mostrou sua tendência do retorno à média. Neste caso, não exatamente à média, mas à tendência histórica. Isso ocorreu em 2005, linha vermelha.

4. A partir de 2005, no entanto, a curva vermelha retoma o crescimento anterior, até 2011, quando vemos nova inflexão para cima (2012). Não há dados disponíveis nos sistemas consultados para avaliar este novo fenômeno, mas o foco prioritário desta análise é o primeiro.

5. Em nenhuma hipótese observa-se queda da taxa de homicídios por arma de fogo (linha verde) após o advento do desarmamento. Caso existisse, teria de haver uma queda progressiva da violência a partir de 2004, mantendo-se assim até hoje. O estatuto do desarmamento se encontra em plena vigência e, como dito, a partir de 2005 os homicídios (linhas azul e vermelha) voltaram a crescer.

6. É falsa, portanto, a afirmação de que mortes foram prevenidas pelo advento do desarmamento. Em primeiro lugar porque a curva de incidência iniciou seu retorno à média antes dos efeitos do desarmamento, mas principalmente porque a projeção da curva não pode ser feita a partir de um período de "surto", mas sim do período endêmico da série histórica.

7. Outro dado relevante para a análise é que a curva da taxa de homicídios (linha azul) é, durante toda a série histórica, paralela à curva de homicídios por arma de fogo (linha vermelha).

Se tivesse havido uma inflexão para baixo da curva da taxa de homicídios a partir de 2004 (quando efetivamente se iniciou o recolhimento de armas de fogo), poderíamos depreender que o desarmamento provocou uma redução gradual e constante da violência. Tivesse havido manutenção da curva de homicídios, mas redução da curva de homicídios por arma de fogo, poderíamos depreender que a violência se manteve, mas mudou de método.

A conclusão aqui é que o desarmamento foi ineficaz, seja para reduzir a violência, seja para mudar a participação das armas de fogo nestes eventos.

8. Por fim, o crescimento constante da participação das armas de fogo nos homicídios (de 59% em 1996 para 71% em 2012, linha verde) mostra que não só o poder público impediu o uso legítimo de armas de fogo pelo cidadão, mas falhou na redução da disponibilidade destas armas para os criminosos.

Nenhum estudo sério no mundo projeta "taxas de homicídios que não ocorreram" como ferramenta de medição de eficácia de políticas de segurança pública. Esse tipo de futurologia é mais uma jabuticaba brasileira.

A queda pontual dos homicídios com utilização de armas de fogo foi acompanhada na mesma proporção pela queda dos homicídios com a utilização de outros instrumentos, ficando assim comprovado que não existe relação com as restrições trazidas pelo estatuto do desarmamento. 

Por mais que tentem, forcem, espremam e torturem os dados, não há o menor indício que aponte para uma possível eficácia do desarmamento na redução da criminalidade violenta simplesmente porque isso não aconteceu. Quem assim o faz, mente desesperadamente na tentativa de não ver aprovado o PL 3722/2012, de autoria do deputado federal Rogério Peninha Mendonça, que devolve ao cidadão o direito de se defender autonomamente, uma vez que já está constatada a total ineficácia do estado de fazê-lo minimamente. 

O desarmamento fracassou, continuará fracassando, e o Brasil, de mentiras em mentiras, vai se consolidando como o país do faz-de-conta.

Mais armas = menos crimes e mais educação

Quase 5 anos atrás, os shoppings começaram adotar seguranças armados depois de um surto de roubos à lojas, em especial joalherias. Como não poderia deixar de ser, os desarmamentistas, profetas do caos, começaram a gritaria de que isso geraria tiroteios e mortes.

Um desses profetas de araque foi o "especialista" em segurança pública José Vicente, que inclusive participa das audiências públicas sobre o PL 3722. Disse ele ao jornal Folha de São Paulo de 16 de agosto de 2010:




Para o consultor em segurança pública José Vicente da Silva, coronel da reserva da PM paulista, esse tipo de medida só aumenta o risco aos usuários dos lugares. "Os shoppings estão optando para aumentar os riscos aos seus frequentadores", disse. Isso porque, para ele, os bandidos não vão deixar de roubar os shoppings porque há homens armados e os vigilantes não têm treinamento suficiente para isso.Passados 5 anos, o que aconteceu? Alguém se lembra da última vez que houve um roubo em shopping? Houve alguma morte? Tiroteio? Algum segurança armado matou algum cliente em uma discussão? Zero! Nada! Nem roubos, nem mortes. Mais armas e menos crimes.

Neste ano, fui entrevistado pela mesma Folha de São Paulo e entre outras coisas afirmei: "Cidadão armado faz criminoso evitar contato com a vítima". Isso não é teoria, não. É empiria.

Dias atrás conversei com um segurança em um Shopping perto da minha casa, um dos que ficam armados. Disse ele que nunca mais houve qualquer tentativa de roubo e nem mesmo de furto de veículos, coisas corriqueiras ali antes do armamento da segurança.



Adicionalmente, ele também disse que os seguranças nunca mais foram ameaçados ou enfrentados por bandos de moleques que gostavam de fazer arruaça nas dependências. E sentenciou: "É engraçado, doutor, o pessoal ficou mais educado com nóis (sic)"!

De forma empírica, ele chegou à mesma conclusão que o cidadão que escreveu o excelente artigo "A arma de fogo é a civilização", do qual cito o trecho final:



Quando estou portando uma arma, eu não o faço porque estou procurando confusão, mas sim porque quero ser deixado em paz. A arma em minha cintura significa que não posso ser coagido e nem violentado; posso apenas ser persuadido por meio de argumentos racionais. Eu não porto uma arma porque tenho medo, mas sim porque ela me permite não ter medo. A arma não limita em nada as ações daqueles que querem interagir comigo por meio de argumentos; ela limita apenas as ações daqueles que querem interagir comigo por meio da força.

A arma remove a força da equação. E é por isso que portar uma arma é um ato civilizado. 

Neste caso, muito especificamente, o nexo causal da variante arma é claro e inequívoco. Os seguranças, desarmados, sempre estiveram lá; bastou armá-los para que imediatamente acabassem as ocorrências de roubo.

A conclusão é mais do que óbvia: armas nas mãos certas e minimamente treinadas não significam mais mortes e crimes. Significam menos crimes e até mesmo mais educação.



Bene Barbosa é especialista em segurança pública e presidente do Movimento Viva Brasil.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

A ARMA DE FOGO É A CIVILIZAÇÃO


Os seres humanos têm apenas duas maneiras de lidar uns com os outros: por meio da razão e por meio da força.

Se você quer que eu faça algo por você, há duas opções: ou você me convence por meio de um argumento racional ou você recorre à ameaça de violência.

Toda e qualquer interação humana necessariamente recai em uma dessas duas categorias. Sem exceção. Razão ou força. E só.

Em uma sociedade genuinamente moral e civilizada, as pessoas interagem exclusivamente por meio da persuasão. A força não é um método válido de interação social. 

Sendo assim, e por mais paradoxal que isso possa parecer para alguns, a única ferramenta que pode remover a força dessa lista de opções é uma arma de fogo pessoal.

E o motivo é simples: quando estou portando uma arma de fogo, você não pode lidar comigo por meio da força. Você terá de utilizar apenas a sua razão e a sua inteligência para tentar me persuadir. Portando uma arma de fogo, eu tenho uma maneira de neutralizar a sua ameaça ou o seu uso da força.

A arma de fogo é o único objeto de uso pessoal capaz de fazer com que uma mulher de 50 kg esteja em pé de igualdade com um agressor de 100 kg; com que um aposentado de 75 anos esteja em pé de igualdade com um marginal de 19 anos; e com que um cidadão sozinho esteja em pé de igualdade com 5 homens carregando porretes. 

A arma de fogo é o único objeto físico que pode anular a disparidade de força, de tamanho e de quantidade entre um potencial agressor e sua potencial vítima.

Há muitas pessoas que consideram a arma de fogo como sendo o lado ruim da equação, a fonte de todas as coisas repreensíveis que acontecem em uma sociedade. Tais pessoas acreditam que seríamos mais civilizados caso todas as armas fossem proibidas: segundo elas, uma arma de fogo facilita o "trabalho" de um agressor. 

Mas esse raciocínio só é válido, obviamente, se as potenciais vítimas desse agressor estiverem desarmadas, seja por opção ou por decreto estatal. Tal raciocínio, porém, perde sua validade quando as potenciais vítimas também estão armadas.

Essas pessoas que defendem a proibição das armas estão, na prática, clamando para que os mais fortes, os mais agressivos e os mais fisicamente capacitados se tornem os seres dominantes em uma sociedade — e isso é exatamente o oposto de como funciona uma sociedade civilizada. Um bandido, mesmo um bandido armado, só terá uma vida bem-sucedida caso viva em uma sociedade na qual o estado, ao desarmar os cidadãos pacíficos, concedeu a ele o monopólio da força.

E há também o argumento de que uma arma faz com que aquelas brigas mais corriqueiras, as quais em outras circunstâncias resultariam apenas em pessoas superficialmente machucadas, se tornem letais. Mas esse argumento é multiplamente falacioso. 

Em primeiro lugar, se não houver armas envolvidas, todos os confrontos serão sempre vencidos pelo lado fisicamente superior, o qual irá infligir lesões e ferimentos avassaladores ao mais fraco. Sempre.

No que mais, pessoas que acreditam que punhos cerrados, porretes, pedras, garrafas e cacos de vidro não constituem força letal provavelmente são do tipo que acreditam naquelas cenas fantasiosas que vêem nos filmes, em que pessoas tomam variados socos, pauladas e garrafadas na cabeça e ainda continuam brigando impavidamente, no máximo com um pouco de sangue nos lábios.

O fato de que uma arma de fogo facilita o uso de força letal é algo que funciona unicamente em prol da vítima mais fraca, e não em prol do agressor mais forte. O agressor mais forte não precisa de uma arma de fogo para aniquilar sua vítima mais fraca. Já a vítima mais fraca precisa de uma arma de fogo para sobrepujar seu agressor mais forte. Se ambos estiverem armados, então estão em pé de igualdade.

A arma de fogo é o único objeto que é tão letal nas mãos de um octogenário em uma cadeira de rodas quanto nas mãos de um halterofilista. Se ela não fosse nem letal e nem de fácil manipulação, então ela simplesmente não funcionaria como instrumento equalizador de forças, que é a sua principal função.

Quando estou portando uma arma, eu não o faço porque estou procurando confusão, mas sim porque quero ser deixado em paz. A arma em minha cintura significa que não posso ser coagido e nem violentado; posso apenas ser persuadido por meio de argumentos racionais. Eu não porto uma arma porque tenho medo, mas sim porque ela me permite não ter medo. A arma não limita em nada as ações daqueles que querem interagir comigo por meio de argumentos; ela limita apenas as ações daqueles que querem interagir comigo por meio da força.

A arma remove a força da equação. E é por isso que portar uma arma é um ato civilizado. 

Uma grande civilização é aquela em que todos os cidadãos estão igualmente armados e só podem ser persuadidos, jamais coagidos.



Marko Kloos é escritor de livros de ficção científica de cunho militar.  Nasceu na Alemanha, mas atualmente mora e trabalha nos EUA.  Seu website.

terça-feira, 28 de julho de 2015

A ÉTICA DO TRABALHO E A GERAÇÃO QUE NÃO QUER TRABALHAR

A maioria das pessoas diz que um emprego serve para ganhar dinheiro. Sendo assim, se você não precisa de dinheiro, qual o objetivo de ter um emprego?

Aparentemente, boa parte dos jovens ao redor do mundo pensa assim. A geração "nem-nem", que não estuda nem trabalha, está crescendo a taxas assustadoras. [No Brasil, 20% dos jovens em idade ativa não estudam nem trabalham].

Nos EUA, que sempre foram o país de vanguarda em termos de empreendedorismo e que sempre prezaram por uma forte ética do trabalho, a situação vem degringolando ano após ano. Estatísticas compiladas pelo The Wall Street Journal quase me fizeram cair da cadeira. No ano 2000, 33% dos adolescentes americanos entre 16 e 17 anos de idade tinham um emprego. Atualmente, este número é de 15%. São cifras estupefacientes. Porém, olhando em retrospecto, posso dizer que já vivenciei vários indícios casuais que confirmam estes números.

Recentemente, palestrei para um grupo de aproximadamente 200 adolescentes que ainda cursavam o ensino médio (não irei revelar o nome da escola nem sua localização). Perguntei casualmente quantos deles já haviam trabalhado em um ambiente varejista, tendo de lidar diretamente com clientes e consumidores. Absolutamente nenhuma mão se levantou. Espantado, fiz uma pergunta mais ampla: quantos deles já haviam tido um emprego remunerado? De novo, nenhuma mão se levantou.

Conversando com os pais, descobri que eles adotaram uma nova postura: seus filhos não devem trabalhar. Eles devem ficar apenas na escola. Eles devem aproveitar seu tempo livre praticando esportes e estudando. Trabalhar é para as classes mais baixas. Qual a vantagem de trabalhar? Colocar os filhos para trabalhar implica que os provedores da família não estão conseguindo sustentar seus rebentos. No que mais, o que seus filhos fariam com o dinheiro que ganhariam? Comprariam mais iPhones?

E há também o problema das legislações trabalhistas e das restrições legais criadas pelos governos ao redor do mundo. A partir do momento em que há uma lei que impõe um salário mínimo, fica difícil para um adolescente de 16 anos — ainda sem experiência e com baixa produtividade — encontrar um emprego cujo salário mínimo valha sua produtividade. Nenhum empregador irá escolher um adolescente em detrimento de um adulto experiente e disposto a efetuar o mesmo trabalho pelo mesmo valor salarial. No que mais, está cada vez mais difícil demitir as pessoas que você contrata, o que faz com que poucos empregadores estejam dispostos a se arriscar contratando adolescentes.

Por outro lado, o mundo digital fornece hoje enormes oportunidades para contratos autônomos de trabalho. No mundo digital, ninguém dá a mínima para tolices como idade e salário mínimo. Idealmente, um garoto se aproveitaria dessa "brecha" e entraria com tudo no mercado de trabalho propiciado pela internet. O problema é que, sem aquela formação de caráter que leva as pessoas a adquirirem habilidades para usá-las lucrativamente, isso não irá acontecer. Tornar-se um autônomo na era digital é algo que só ocorre quando uma ética do trabalho já está enraizada na pessoa.

Tendo de lidar com todas essas barreiras legais, a cultura simplesmente se adaptou. Dado que nenhum pai voluntariamente toma uma decisão com o intuito de prejudicar seus filhos, os pais simplesmente decidiram que trabalhar é algo apenas para os filhos dos outros, e não para os seus.

Consequentemente, cada vez menos pessoas estão familiarizadas com a ética do trabalho. Os jovens de hoje apenas se sentam em bancos de escolas e universidades, na maioria das vezes fazendo mais de um curso, e ficam nesta rotina até completarem 25 anos de idade, quando finalmente irão se apresentar, com um diploma, a empregadores que supostamente irão dar-lhes dinheiro como recompensa por terem permanecido tanto tempo na escola e na universidade.

E quando tal empregador não surge, a frustração pelo tempo perdido toma conta da pessoa, que tende a desistir da vida.

Por isso, falemos um pouco sobre o que poderia ter sido aprendido caso os jovens procurassem um emprego desde cedo, mas que não foi aprendido justamente porque não houve esta busca pelo emprego.

Como dito, há a tal "ética do trabalho", um termo que sempre foi utilizado ao longo dos tempos. Mas o que isso realmente significa? Não dá para resumir em poucas palavras; você tem de trabalhar para adquirir esta ética. Como vários titãs da segunda metade do século XIX tentaram nos alertar, nenhum indivíduo nasce querendo trabalhar. Sendo assim, como então você adquire esta ética e passa a prosperar por meio dela?

Ter uma "ética do trabalho" significa estar disposto a passar por vários tipos de desconforto com o objetivo de realizar um trabalho com excelência. Isso é algo que não surge naturalmente. Tem de ser incentivado. Nesse quesito, os pais são os principais modelos de comportamento a serem observados. A tendência "natural" do ser humano é deixar de fazer aquilo que se está fazendo quando tal ocupação começa a se mostrar desconfortável, ou quando ela passa a exigir mais do que você imaginava. O problema é que tal postura não leva ninguém a lugar nenhum. Com efeito, se essa for a sua postura, você irá se acomodar cada vez mais, até chegar ao ponto em que se tornará um preguiçoso que só quer saber de ficar deitado no sofá — algo que descreve perfeitamente a atual geração.

Lembro-me muito bem de quando eu tinha 10 anos e estava trabalhando no telhado de uma casa com meu saudoso tio. Era o auge de um verão escaldante. Nós dois tínhamos de nos equilibrar sobre um telhado negro e acentuadamente inclinado, martelando pregos. Após aproximadamente 30 minutos, pensei que iria morrer. Ainda assim, continuamos trabalhando lá em cima por várias horas seguidas. Finalmente, meu tio disse que era hora de fazermos um intervalo. Rapidamente, corri para a mangueira do jardim, esguichei vários litros de água na minha cara e bebi uns dois litros. Já meu tio simplesmente tomou uma xícara de café. Aquilo foi inspirador.

Outra memória de minha infância foi quando meu irmão conseguiu seu primeiro emprego na construção civil. O trabalho era pesado. Ao final do primeiro dia, ele voltou para casa parecendo um zumbi. Conversávamos com ele, mas ele não conseguia articular nenhuma palavra. Ele foi para o seu quarto escorando-se nas paredes e capotou na cama. Durante semanas, esta foi a sua rotina. E então, com o tempo, ele foi entendendo o funcionamento da coisa até finalmente pegar o jeito. E aí ele se tornou uma máquina. Aquele verão lhe forneceu a ética do trabalho que ele carregaria consigo para sempre.

Outras lembranças de meus primeiros empregos incluem: perfurar poços artesianos sob sol escaldante; esfregar os resíduos de mel das mesas de um restaurante em que trabalhei como auxiliar de garçom; recolher pratos de papel de 500 mesas após o almoço distribuído por uma empresa que fornece comidas e bebidas, a qual havia me contratado para tarefas gerais; administrar os ânimos de um enxame de pessoas que brigavam entre si para conseguir comprar as calças de $10 que estavam em promoção e que haviam virado moda em uma rede de varejo; sentir o terror de que o piano que eu tinha de carregar escada acima iria cair em cima de mim e me esmagar; recolher pequenos alfinetes no chão de provadores em uma loja de departamentos; aprender a manusear a enceradeira em uma loja de porcelanas e, mais tarde, ter pesadelos em que eu derrubava uma prateleira inteira de cristais finos.

Em qualquer emprego — e especialmente naqueles que pagam pouco —, você rapidamente descobre que trabalhar é algo que fatiga, tanto fisicamente quanto mentalmente. Você tem de se concentrar intensamente no que faz, e por muito mais tempo do que você realmente quer. Você tem de fazer coisas das quais não gosta. Você irá encontrar várias desculpas para se desconcentrar e se distrair, mas não poderá fazê-lo porque há tarefas que têm de ser efetuadas. E, se você não fizer a sua parte corretamente, todos os seus colegas que dependem da sua parte irão descobrir que a parte deles ficou mais difícil por sua causa, e por isso todos irão odiar você.

Se você limpa banheiros de uma loja ou de um restaurante, você tem de se certificar de que sempre haverá papel higiênico ali, caso contrário os clientes ficarão furiosos. Se você frita peixes, você tem de saber como administrar a quantidade de gordura, caso contrário você irá destruir o empreendimento. Se você está instalando um cercado, você tem de saber cavar buracos profundos, caso contrário ela cairá em seis meses. Se você lava carros, terá de aprender a fazer um bom serviço utilizando a quantidade mínima de água, sabão e cera, caso contrário você perderá dinheiro. Você só aprende a evitar essas catástrofes de uma única maneira: completando sua tarefa.

Ninguém já nasce sabendo que há uma relação direta entre aquilo que fazemos e suas consequências. Muito pelo contrário: a própria definição de imaturidade é a incapacidade de assumir responsabilidades (como nossos pais sempre dizem). E como aprendemos essa relação entre nossas ações e seus resultados? Não há maneira melhor do que pelo mercado trabalho. Trabalhamos, vemos o resultado, e somos pagos por isso. É algo direto. É algo bonito. É algo que faz nosso cérebro enaltecer a relação entre ações e resultados.

A escola nem sempre nos ensina isso. Aliás, a "ação" na escola é algo bem limitado. Tudo se resume a estudar, o que, na maioria das vezes, significa apenas imitar tudo o que a autoridade designada ordena. No mundo real do trabalho, você tem de ser criativo. Você tem de saber improvisar. Você exercita um controle volitivo sobre o seu corpo, sobre o que ele faz, e então vê os resultados. E os resultados não são abstrações como notas em um boletim escolar, mas sim algo muito concreto: salário na forma de dinheiro, o qual será utilizado para adquirir coisas que você quer. E essa recompensa é oriunda do fato de que você se entregou por completo a uma atividade produtiva.

O trabalho é como uma universidade — uma verdadeira universidade que molda o caráter de uma pessoa e faz dela alguém melhor do que seria sem esta ocupação.

O que você leva de um trabalho depende daquilo que você traz a esse trabalho, e o que você traz tem de ser mais valioso para seu empregador do que aquilo que você irá levar dele. Lembro-me de um vadio com quem trabalhei décadas atrás resmungando: "Sem chance que eu vou ajeitar gravatas por um salário mínimo!". Uma perspectiva muito interessante. Ele queria mais dinheiro para fazer mais trabalho. Mas não é assim que funciona. A relação é inversa: você tem de trabalhar mais para ganhar mais dinheiro. Se o seu intuito é prosperar, você tem de fornecer um valor maior do que aquele que você pode extrair.

O trabalho (e aqui eu devo especificar que me refiro exclusivamente ao trabalho no setor privado) é a melhor maneira de aprender esta lição imensamente valiosa, e carregá-la consigo por toda a sua vida. Esta certamente é uma característica distintiva daquilo que chamamos de ética do trabalho.

Uma parte disso significa adquirir um senso de necessidade de servir ao próximo com o objetivo de ganhar algo em troca de seu serviço. Essa é a essência intrínseca de um emprego, seja ele fritar batatas, catar papel ou lavar carros. Você está fazendo algo para outra pessoa. Se você fizer muito disso e adquirir excelência, você fará com que essa necessidade de servir ao próximo passe a fazer parte de sua mentalidade. 

E aí você pode dizer: ah, todo esse mundo comercial é uma farsa. Aquelas pessoas que fornecem seus serviços apenas fingem que gostam de seus clientes, pois o que elas realmente querem é apenas o seu dinheiro. E o cliente, por sua vez, também apenas finge que está satisfeito com o provedor, mas na realidade está desgostoso por ter de pagar pelo serviço. 

De fato, é possível pensar assim, mas considere o seguinte: se nos comportarmos de uma determinada maneira durante vários anos, com o tempo chegaremos a um estado em que nossa mente já estará condicionada a seguir este padrão. Consequentemente, tornamo-nos sinceros em nossas atitudes. Começamos a valorizar os outros por aquilo que eles fazem e por aquilo que nos fornecem. Aprendemos a ter um bom um relacionamento com as pessoas, a valorizar as diferenças entre as pessoas, a observar qualidades únicas em cada pessoa, e a distinguir o mérito de cada uma delas.

Não há arranjo mais ético e mais justo do que esse. Este é o arranjo ideal. É o arranjo no qual as reais virtudes são aprendidas e apreciadas.

Alguém certa vez disse que uma sociedade capitalista é uma sociedade amigável. Nada mais verdadeiro, dado que a essência do capitalismo é a cooperação voluntária, os serviços mútuos, e as transações comerciais que têm por objetivo a melhora de seus participantes. Fazer parte disso é algo que nos transforma e nos remodela. Faz de nós pessoas melhores.

Compare isso à existência entediada e despreocupada do indolente deitado em um sofá ou de um burocrata do serviço público que passa seus dias atrás de uma mesa. É o setor privado e o seu espírito comercial que nos fornece aquilo de que mais necessitamos: a constante busca pelo auto-aprimoramento.

O que imediatamente nos impressiona em todos os empregos no setor comercial é como eles são necessariamente voltados para o futuro. Leva algum tempo para se acostumar a isso. Se você teve um dia ruim, sem muitos clientes e vendas, sempre haverá o dia seguinte. Se você teve um dia ótimo, sempre haverá o próximo dia, e jamais é possível saber quão bom ele será.

E assim você aprende a viver em um mundo no qual "o que passou, passou" e o futuro sempre será incerto, mas possivelmente melhor. No comércio, não há rancores e ressentimentos, pois o aparente inimigo de hoje pode vir a ser o seu cliente de amanhã, ou mesmo o seu colega de trabalho ou sócio. O passado é meramente um conjunto de dados efêmeros; é no futuro que a ação e o entusiasmo estão. E, dessa maneira, um emprego no setor comercial é completamente diferente do mundo da preguiça e da burocracia, no qual nem o passado e nem o futuro importam. E é também muito diferente do mundo escolar e universitário, onde o passado é armazenado e jamais desaparece.

Com um emprego no comércio, ou mesmo empreendendo em qualquer outra área, você está continuamente ativo. Você tem de estar antenado a todas as mudanças que ocorrem nos interesses e nos valores sociais. Você está atuando em algo que passa a incorporar suas próprias características, algo que dá a você o direito de se gabar de sua competência, algo que conecta você aos outros. Você se torna determinado, habilidoso, capacitado, útil e experiente. Você passa a ter histórias para contar e dicas para dar. Você se liberta das estruturas autoritárias que você herdou desde o nascimento, e passa a adotar as novas que você próprio escolheu.

Agora, tendo em mente tudo isso, faça a si próprio a seguinte pergunta: adolescentes realmente estarão em melhor situação caso não trabalhem? Um recente estudo demonstrou que, no geral, a aposentadoria "leva a um aumento de 5 a 16% nas dificuldades associadas à mobilidade e a atividades do dia a dia, a aumento de 5 a 6% nas enfermidades, e a um declínio de 6 a 9% na saúde mental, tudo isso ao longo de um período de apenas 6 anos após a aposentadoria". E isso após toda uma vida de trabalho. Os efeitos sobre a mente são muito piores para o jovem que nunca desenvolveu os hábitos mentais fornecidos apenas pelo trabalho.

Será que realmente devemos negar tudo isso a toda uma geração e em seguida esperar que essas pessoas simplesmente adentrem o "mundo real", com 25 anos de idade, e já plenamente formadas e capacitadas? Elas não estarão formadas. Elas não estarão capacitadas. Elas serão menos úteis, menos habilidosas, menos produtivas, menos moldadas em seu caráter, e menos preparadas para ser livres e responsáveis. 

Lamento, mas procrastinar e fingir que se está estudando não são substitutos para os reais desafios da vida.



Jeffrey Tucker é o CEO do Liberty.Me.  É também autor dos livros It's a Jetsons World: Private Miracles and Public Crimes e Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo Do site: http://www.mises.org.br

segunda-feira, 27 de julho de 2015

DIÁRIO DO OLAVO: A QUEBRA DA HEGEMONIA ESQUERDISTA E A URGÊNCIA EM SE LIVRAR DO PT

Durante trinta anos de vigência da hegemonia intelectual da esquerda, todos os direitistas, sem exceção, ficaram encolhidos de medo, inermes e atônitos, incapazes da menor reação efetiva, no máximo resmungando um pouco em circuito fechado. Aí veio um sujeito e, sozinho, deu cabo dessa hegemonia. Então os ratos começaram a sair das suas tocas e, num surto de coragem tardia, puseram-se a roer o cadáver da falecida com ares de quem enfrentasse um inimigo vivo, e a rosnar impropérios contra o matador da desgraçada, dizendo que ele não tinha feito nada de mais, que era apenas um astrólogo embusteiro, um gnóstico alucinado, talvez até um comunista enrustido. Essa é a biografia mental da direita brasileira nas últimas décadas. Não espanta que essa gente, mesmo secundada por noventa e dois por cento da população, não consiga derrubar um governo caquético e moribundo.


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Durante trinta anos esses bostinhas não conseguiram fazer NADA contra a hegemonia esquerdista. No máximo murmuravam pelos cantos e choramingavam no travesseiro. Depois que eu fui lá e matei o monstro, todo mundo virou herói. A velha ideologia direitista brasileira — udenista, tefepista, integralista, liberal, etc — era ABSOLUTAMENTE impotente para compreender a estratégia esquerdista posterior aos anos 60, quanto mais para combatê-la eficazmente. A maior parte dos que AINDA falam em nome da direita nunca leu sequer uma página de Karl Marx, para não falar de Lênin, Stalin ou Mao. Pegam frases soltas nos meus artigos, transformam em chavões, repetem como papagaios e acham que estão fazendo alguma coisa.

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Pregadores de “idéias conservadoras” ou “idéias liberais” nunca faltaram. Foram justamente esses que a esquerda isolou e esmagou, passando por cima deles como um trator. NUNCA fui um deles, muito menos o único ou o principal. Não disputo com eles nenhuma prioridade, já que a única prioridade que sempre tiveram foi a de se foder.

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O que faço é TÃO DIFERENTE de tudo o que essa gente faz, que o simples fato de me compararem com ela, mesmo vantajosamente, é um insulto.

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Não tenho dúvidas de que, se eu repetir na esfera política o que fiz no campo cultural, derrubando o governo comunolarápio, aí é que os ratos não vão me perdoar mesmo.

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Não tive NENHUM concorrente nesse empreendimento. Comparações com polemistas pontuais são ofensivas. Tenho, isto sim, alguns bons continuadores, como o Rodrigo Gurgel e o Carlos Nadalim, entre outros. Infelizmente as vocações pedagógicas são raras.

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Tudo o que fiz foi premeditadíssimo e calculadíssimo, um plano para quatro décadas. 

(1) Quebrar a hegemonia, desmoralizando os gurus e teóricos. 

(2) Preparar uma nova geração de intelectuais. 

(3) Se houvesse tempo, acabar também com a fama dos políticos de esquerda. Estamos no meio da etapa 3. Mas o item 2 sempre foi o centro e o topo da coisa inteira. O 1 e o 3 eram apenas remoção de obstáculos.

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Por que nem mesmo o Roberto Campos, o José Guilherme Merquior e o Paulo Francis, dizendo tanta coisa certa e com tanto brilho, conseguiram quebrar a hegemonia esquerdista, limitando-se a irritá-la? 

Resposta: (1) Não acertaram o tom, isto é, não foram suficientemente desrespeitosos. (2) Atiravam em alvos de ocasião, sem um plano geral de ataque. (3) Falavam de erros menores, sem ir ao fundo da MALDADE esquerdista. Cumpriram sua vocação, que nunca foi a minha.

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Merquior, Francis e Campos, homens de capacidade extraordinária, nunca chegaram sequer a imaginar a possibilidade de destruir a hegemonia esquerdista. Limitaram-se a criticá-la, reivindicando no máximo um lugarzinho para si mesmos. Influenciados pelo pensamento liberal clássico, acreditavam que o movimento comunista recuaria automaticamente diante do sucesso econômico do capitalismo. Para que iriam tentar matar um inimigo que já consideravam destinado a morrer por decurso de prazo? Apostavam nesse triunfalismo preguiçoso ao mesmo tempo que aceitavam as regras do jogo impostas pelo adversário no presente. É por isso que a esquerda diz ter saudade deles. O combate que lhe moviam a embelezava e deixava para o dia de são nunca o anúncio do seu falecimento.

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Para acertar um golpe mortal na hegemonia intelectual esquerdista, o requisito PRIMEIRO era abdicar de toda pregação liberal-conservadora e concentrar-se no “trabalho do negativo”, como diria Hegel. Foi isso o que fiz.

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Também não era possível nenhum ataque sério ao esquerdismo sem uma crítica em profundidade da Modernidade inteira, isto é, de tudo aquilo que Campos, Francis e Merquior amavam acima de tudo.

Era ainda preciso que essa crítica fosse puramente intelectual, sem cair em nos floreios apologéticos da velha direita católica.

Levei tudo isso em conta desde o começo.

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O que derrubou a hegemonia cultural esquerdista no Brasil foram duas coisas: (1) O meu livro "O Imbecil Coletivo"; (2) A minha coluna no Globo. Isso e só isso. Tudo o mais não chegou sequer a arranhar a pele da desgraçada

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Nunca tive ambições internacionais. Todo o meu plano tinha como alvo o Brasil e só o Brasil. Alguma ajudinha acidental que eu possa ter dado aos conservadores americanos é a micharia das micharias.

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Limitar-se é concentrar-se. É a lição de Napoleão: todas as linhas de ataque devem convergir para um ponto só.

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O horror do esquerdismo é MUITO MAIOR do que o conservador vulgar imagina.

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O incesto, a zoofilia e a necrofilia estão no programa. É questão de tempo. Só um idiota pode acreditar que essas coisas têm algo a ver com “prazer” ou “libertinagem”.

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O poder popular é SOBERANO. Acima dele não há autoridade, não há constituição, não há instituições: há apenas Deus. Quando os nossos queridos antipetistas vão entender uma obviedade tão patente e tão simples, que é a base mesma de todo regime democrático?

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Proteger as instituições contra o povo em nome do qual foram criadas é DITADURA. TODA a nossa oposição está cometendo esse crime contra a democracia, a pretexto de defendê-la.

Livrar-nos dos comunolarápios é a ÚNICA prioridade. Retardar essa medida salvadora a pretexto de "preservar as instituições" é UM CRIME tão grande quanto mil Petrolões.

A idolatria das instituições está prolongando, sem a menor necessidade, a sobrevida do sistema comunolarápio e o estrangulamento do povo brasileiro. Instituições criam-se de novo. Os setenta mil brasileiros assassinados por ano não voltam nunca mais.

Cada dia de atraso na destruição do comunopetismo é um dia de avanço na destruição das almas das crianças brasileiras.

A mais linda das instituições não vale UMA alma de criança.






domingo, 26 de julho de 2015

O PAPA FRANCISCO E O POPULISMO ECONÔMICO



Desde que o finado Hugo Chávez chegou ao poder na Venezuela, em 1999, grande parte da América Latina tem estado firmemente sob o domínio de governos populistas de esquerda.

Caracterizados por líderes caudilhistas, por uma retórica demagógica, pela mobilização deliberada de um grupo contra o outro (pobres contra ricos, negros contra brancos, indígenas contra descendentes de europeus), pela atribuição da culpa dos problemas do continente aos estrangeiros, pela eliminação dos judiciários independentes, pela estatização de grandes segmentos da economia, e por tentativas de controlar a imprensa, todos esses regimes infligiram enormes prejuízos econômicos às nações latino-americanas.

Contrariamente às declarações públicas de celebridades de Hollywood (como Oliver Stone, Sean Penn e Michael Moore), a Venezuela é simplesmente o país em situação mais crítica, com hiperinflação, controles de preços,escassez de produtos básicos (tal como papel higiênico), uso sistemático de violência contra os críticos do regime e um completo desprezo pelo estado de direito.

Já a atitude dos líderes populistas latino-americanos em relação àquela instituição que ainda não foram capazes de dominar — a Igreja Católica — varia. De um lado, eles estão constantemente em atrito com muitos bispos católicos. Em janeiro de 2015, uma carta pastoral emitida pelos bispos católicos da Venezuela corajosamente descreveu as políticas do governo como "totalitárias e centralistas". Nas palavras dos bispos, "o regime busca controlar todos os aspectos da vida do cidadão e de instituições públicas e privadas. Também ameaça a liberdade e os direitos de cidadãos e associações, tendo levado à opressão e ruína em todos os países em que foi tentado". 

A reação do governo a essa crítica foi a demagogia de sempre. Não obstante, esses mesmos líderes populistas regularmente invocam os símbolos cristãos para tentar legitimar suas ideologias. O "presente" que o presidente da Bolívia Evo Morales entregou ao papa Francisco, o "crucifixo comunista", é um exemplo disso.

Quaisquer que tenham sido os motivos do falecido padre que projetou a cruz (Luis Espinal, um ativista jesuíta), o fato de que a foice e o martelo simbolizam o materialismo filosófico, os estados policiais, o aprisionamento em massa, a tortura e o assassinato de milhões de pessoas nada significa para o provinciano mundo do populismo de esquerda latino-americano. 

"A influência anônima do ídolo dinheiro"


O que nos leva a algumas das declarações de Francisco durante sua recente visita à Bolívia.

Francisco conhece os movimentos populistas. Como arcebispo de Buenos Aires, ele teve de lidar com os Kirchners na Argentina e não desfrutava de boas relações com aquele governo peronista que prejudicou severamente uma nação que já havia se tornado um exemplo notório de autoimolação econômica ao longo do século XX.

Dito isso, algumas expressões utilizadas pelo papa Francisco na Bolívia durante o 2º Encontro Mundial de Movimentos Populares não somente ecoou temas particulares enfatizados pelos populistas da América Latina, como também recorreu a alguns de seus diagnósticos equivocados sobre os problemas da região.

Com efeito, qualquer pessoa que já passou algum tempo na América Latina sabe que a maioria desses países sofre de problemas econômicos profundos. Porém, embora o discurso do papa tenha observado que o estado de bem-estar não é a solução para esses desafios, sua análise das dificuldades da região foi falha.

Em primeiro lugar, Francisco discutiu as injustiças infligidas pelo "sistema", termo esse com o qual ele parece querer se referir à globalização econômica. Esse "sistema", argumentou ele, resulta em uma "economia de exclusão" que nega a milhões de pessoas as bênçãos da prosperidade. Francisco, em seguida, atacou especificamente "as corporações, os credores, e alguns tratados denominados de 'livre comércio'" como parte da "influência anônima do ídolo dinheiro" e do "novo colonialismo".

É difícil distinguir parte dessa retórica daquela utilizada por populistas latino-americanos, desde o falecido Juan Perón na Argentina a Evo Morales na Bolívia, passando por Rafael Correa do Equador, e Hugo Chávez e Nicolás Maduro na Venezuela.

Isso posto, é de se perguntar se o papa Francisco e seus conselheiros alguma vez já se deram ao trabalho de ler sobre os respectivos méritos do livre comércio em relação ao protecionismo. Se o tivessem feito, saberiam que tarifas protecionistas e subsídios estatais são medidas que favorecem exatamente as grandes corporações nacionais — que passam a usufruir uma reserva de mercado dentro de seus respectivos países, podendo agora vender produtos ruins a preços altos para a população nacional, sem perigo de concorrência —, em detrimento dos mais pobres, que agora não apenas estão excluídos do mercado internacional, sem chances de adquirir produtos externos mais baratos (os quais elevariam sobremaneira seu padrão de vida), como também são obrigados a comprar apenas os produtos produzidos pelas grandes corporações nacionais.

Mais ainda: caso Francisco e seus conselheiros soubessem algo sobre livre comércio e protecionismo, já teriam percebido que tarifas protecionistas e subsídios estatais também são exatamente as medidas que permitem aos países já desenvolvidos limitar o acesso dos países em desenvolvimento aos mercados globais.

O protecionismo nada mais é do que uma medida imposta por burocratas que agem para proteger o interesse de grandes empresários nacionais (que são os grandes doadores de campanhas políticas), obrigando assim o consumidor (principalmente os mais pobres) a comprar apenas produtos nacionais caros e ruins, satisfazendo assim o grande empresariado do país.

Qual a consequência do protecionismo? Preços constantemente altos e péssimos produtos (por que se esforçar para fazer produtos bons se a concorrência foi suprimida?). 

Não há política mais anti-pobre do que tarifas de importação. Por definição, é o protecionismo que é uma forma de "economia de exclusão" — não o livre comércio

Da mesma forma, embora o histórico das corporações multinacionais nos países em desenvolvimento não seja puro, o fato é que foram elas que proveram os investimentos e os empregos tão necessitados pela América Latina. Como disse o economista Walter Williams:



Pelo bem da argumentação, suponha que, sem a presença de uma empresa multinacional, o melhor emprego que um ugandense pobre e sem instrução fosse capaz de conseguir lhe pagasse US$ 2 por dia. E então vem uma empresa multinacional, constrói uma fábrica em Uganda e contrata esse ugandense por US$ 4 por dia, um salário muito abaixo daquele que ela paga aos seus empregados nos EUA. Uma simples questão de bom senso diria que esse ugandense ficou em melhor situação em decorrência da presença de uma empresa multinacional. E esse mesmo bom senso diria que ele estaria em pior situação caso essa multinacional fosse politicamente pressionada para sair do país. Faz algum sentido dizer que uma ação que melhora a situação de um ugandense é uma "exploração"?

Francisco também lamentou que "novas formas de colonialismo" frequentemente reduzem os países em desenvolvimento a "meros fornecedores de matérias-primas e mão-de-obra barata". Porém, se os países em desenvolvimento pararem de usufruir justamente essa que é frequentemente sua vantagem comparativa na economia global — sua mão-de-obra mais barata e seus vastos recursos naturais —, é difícil ver como eles poderiam gerar riqueza suficiente para tirar milhões da pobreza.

No que mais, países em desenvolvimento necessitam enormemente do capital externo caso queiram diminuir a pobreza. Como disse Lee Kuan Yew, o pai da modernização de Cingapura:



Enquanto a maioria dos países do Terceiro Mundo denunciava a exploração das multinacionais ocidentais, nós as convidamos todas para ir a Cingapura. Desse modo conseguimos crescimento, tecnologia e conhecimento científico, os quais dispararam nossa produtividade de uma maneira mais intensa e acelerada do que qualquer outra política econômica alternativa poderia ter feito.

Incoerente e desatento às evidências

Curiosamente, o discurso de Francisco não continha nenhuma palavra de reprimenda às contribuições dos regimes populistas da América Latina para os problemas da região. Nesse quesito, seus comentários apenas refletiram uma já conhecida cegueira latino-americana: a relutância em reconhecer que muitas das dificuldades da região são auto-infligidas, e frequentemente por governos eleitos pela maioria.

Quando perguntado sobre o discurso do papa, Frederico Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé,descreveu-o como sendo parte de um "diálogo". Mas um diálogo significativo envolve uma troca de visões na busca da verdade. Infelizmente, não há nenhuma evidência de que Francisco está ouvindo, por exemplo, os cristãos que respeitam sua autoridade como sucessor de Pedro, que não creem que ele seja um socialista, que compartilham de seu compromisso com a redução da exclusão econômica, mas que respeitosamente explicamque alguns de seus comentários econômicos são incoerentes e alheios às evidências.

A esquiva do papa quanto às outras visões é estranha, uma vez que ele próprio reconhece que católicos fieis discordam sobre como tratar os desafios econômicos contemporâneos.

Em seu discurso, Francisco exortou seus ouvintes a tomarem a iniciativa de buscar formas para superar a pobreza econômica. É um bom conselho. O efeito macro de todos esses esforços, no entanto, será limitado caso não haja mudanças fundamentais nas instituições e nas atitudes que grassam na América Latina. E a esse tipo de transformação cultural os populistas do continente certamente resistirão: afinal, isso significaria o fim do seu poder.

Mas isso também implica que os latino-americanos devem abandonar suas eventuais ilusões quanto à efetividade de uma "terceira via" latino-americana: dado o histórico econômico da região, a noção de que é possível haver uma "terceira via" latino-americana entre capitalismo e socialismo é puro sentimentalismo utópico

Como me disse um perceptivo padre e professor argentino em Buenos Aires no início desse ano, "Nós queremos simplesmente ser um país normal!" E normalidade significa os latino-americanos dizerem "não" aos Kirchners, Correas, Morales e Maduros da região, e também às suas ideias destrutivas.

Essa é uma mensagem que os latino-americanos — e também o papa Francisco — têm de ouvir.



Dr. Samuel Gregg é o diretor de pesquisas do Acton Institute.  Seu campo de atuação engloba política econômica, história econômica, ética nas finanças, e teoria do direito natural.  Possui mestrado em filosofia política na Universidade de Melbourne e doutorado em filosofia moral e economia política na Universidade de Oxford.