sábado, 31 de outubro de 2015

SHOWS DE MORTE

Barack Obama lamenta que os ataques mortais com armas sejam hoje uma "rotina" nos Estados Unidos. De fato, impossível discordar.

Leio na imprensa a lista dos grandes atentados solitários que aconteceram no país desde que Obama chegou à Casa Branca e os números arrepiam qualquer um. Do Alabama ao Connecticut; de Nova York ao Arizona; do Texas à Califórnia; de Washington à Virgínia, são dezenas de cadáveres.

E o filme dos massacres, com ligeiras variações, é quase sempre o mesmo: o homicida é um ser "recluso e raivoso", para usar as palavras desta Folha sobre o assassino do Oregon, que começa a cultivar ideias de destruição e martírio.

Um dia, cansado da sua própria marginalidade, ele sai para uma escola, um shopping, uma rua e atinge finalmente a celebridade.

Disse "celebridade"? Disse bem. Os especialistas no assunto podem avançar com as causas habituais para as tragédias. A violência dos filmes. A violência dos videogames. A violência da própria "sociedade capitalista", que adora vencedores e despreza os perdedores.

E depois existem as armas, vendidas sem controle, que são um convite letal para que mentes débeis possam matar com facilidade.

Admito que tudo isso seja verdade, embora estranhe que países armados até aos dentes (como a Suíça, por exemplo) tenham um número diminuto de homicídios. Mas divago.

Porque quando acontece mais um massacre, meu primeiro instinto é ler os testemunhos que os próprios criminosos deixaram para trás.

Todos eles partilham a angústia do anonimato e a busca insana da consagração midiática. Chris Harper-Mercer, 26, o último da lista com 9 mortos na escola técnica de Roseburg, Oregon, é também o último exemplo: como o próprio escreveu, "parece que quanto mais gente você mata, mais você fica no centro das atenções". A fama depende do derramamento de sangue.

No fundo, os psicopatas que matam com regularidade são uma versão extrema dos concorrentes de um "reality show". Não cantam, não dançam, não transam em frente das câmeras. Preferem a destruição e a morte como forma de mostrar ao mundo os seus "talentos".

E todos têm uma certeza: os seus atos serão relembrados e reproduzidos infinitamente pelo labirinto das "redes sociais" –essas catacumbas que o poeta Dante teria retratado como um novo inferno.

As armas matam porque há psicopatas dispostos a usá-las. Mas o circo da morte renova-se continuamente porque a cultura do espectáculo em que vivemos 24 horas sobre 24 horas é o charco fétido que transforma os alienados de ontem em estrelas, hoje.
Por: João Pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

COMO DESTRUIR UM FILHO

"Violar a lei": será correto usar esse verbo em faculdades de direito? Ou a palavra "violar" pode ser ofensiva para alunas e alunos, despertando em alguns deles memórias traumáticas que devem permanecer nos calabouços da consciência?


O leitor leu o início da coluna e pensa que o autor enlouqueceu nos últimos tempos. Quem me dera. O caso aconteceu mesmo em Harvard: estudantes "desconfortáveis" com o termo pediram aos professores para o evitarem.

A história é relatada na revista "Atlantic Monthly" e os autores, Greg Lukianoff e Jonathan Haidt, não se limitam às "violações" da lei.

Segundo os próprios, crescem nos Estados Unidos os casos de "microagressões" –palavras, conceitos, meras alusões que põem em risco o "bem-estar emocional" dos alunos. E os alunos têm direito a esse "bem-estar". As universidades devem ser "zonas de conforto" onde nunca se deve escutar aquilo de que não se gosta.

É exatamente por isso que os professores universitários são aconselhados a emitirem avisos prévios antes de ensinarem matérias potencialmente ofensivas.

Um exemplo do artigo: se o assunto é literatura, o professor deve avisar previamente a turma que "misoginia" e "abusos físicos" fazem parte da obra "O Grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald. Caso contrário, uma alma mais sensível pode desmaiar em plena classe e a carreira do professor estará terminada. Pergunta óbvia: como se chegou até aqui?

O artigo culpa os pais dos universitários de hoje, que educaram as suas crianças com uma obsessão pela segurança que não existia em gerações anteriores. É uma excelente hipótese e, por mero acaso, um livro lido recentemente ajuda a entender essa loucura.

Intitula-se "How to Raise an Adult" (como educar um adulto), foi escrito por Julie Lythcott-Haims e a sentença da autora, antiga decana da Universidade de Stanford, é glacial: antigamente, os pais preparavam os filhos para a vida; hoje, os progenitores preferem proteger os filhos da vida –e isso vê-se nas pequenas coisas e nas grandes coisas.

Começa logo na infância, quando o perigo de pedófilos, sequestradores ou marcianos obriga os pais modernos a aprisionarem os filhos em casa. Resultado: a epidemia da obesidade infantil, alimentada por horas de sedentarismo, suplantou em muito os acidentes normais das antigas brincadeiras da infância.

Mas a obsessão securitária dos "pais-helicóptero" (expressão que designa os espécimes nascidos entre 1946 e 1964) não fica na infância. Depois de proteger os filhos nos primeiros anos, é preciso continuar a tratá-los como flores de estufa na escola e até na universidade. Como?

Escolhendo por eles (cursos, amigos, até tempos livres); pensando por eles (com exércitos de explicadores para todas as matérias curriculares); e até vivendo por eles (de preferência, medicando qualquer comportamento "desviante", como a preguiça saudável ou o excesso de energia).

Essa atitude tem um preço e o preço encontra-se na quantidade de alunos que a autora encontrava na universidade literalmente à deriva: insones; deprimidos; ansiosos; incapazes de tomarem uma decisão por medo psicótico de fracassarem.

E, quando a decisão era inevitável, o comportamento era uniforme: um telefonema aos pais para que fossem os pais a decidirem por eles.

Para Julie Lythcott-Haims, a educação "moderna" fez dos "adultos" de hoje seres "existencialmente impotentes". Porque os pais, na ânsia de tudo protegerem e controlarem, alimentaram nos filhos uma mentalidade de vítimas: seres frágeis e amedrontados que simplesmente não sabem como "funcionar" no mundo que existe fora do aquário.

Não será de admirar que, educadas perpetuamente como crianças, as crianças universitárias de hoje vejam "microagressões" em cada frase, curso ou professor. Tudo é ameaça para quem foi constantemente protegido de qualquer ameaça. Um livro. Uma frase. Um conceito. E, claro, um preconceito.

No livro, Julie Lythcott-Haims lamenta que os filhos de hoje não tenham a atitude dos filhos de ontem: uma certa rebelião existencial contra a autoridade dos progenitores, condição primeira para forjarem uma identidade independente. E poderem voar com as próprias asas.

Essas asas não existem. Elas foram destruídas pelo amor sufocante dos pais durante anos e anos de gaiolas douradas. 
Por: João Pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

EMBORA DEVA SER TOTALMENTE DESCRIMINALIZADA, A MACONHA É REPULSIVA



N. do E.: o IMB sempre foi um inflexível defensor da descriminalização de absolutamente todos os tipos de drogas. No entanto, e por motivos óbvios, a defesa da descriminalização das drogas de maneira nenhuma implica a defesa do uso de drogas, como alguns caluniadores gostam de inferir. O artigo a seguir é um perfeito resumo de nossa posição.


Podem me odiar à vontade, mas irei dizer mesmo assim: a maconha é nojenta.

Fumar maconha é, dentre todos os tipos de fumo, o pior hábito de todos. A coisa fede. O cheiro é muito pior que o de cigarros convencionais. Não dá para ficar em um mesmo ambiente com pessoas fumando maconha.

A maconha também deixa as pessoas abobadas e com um raciocínio lento. Consequentemente, ela destrói encontros sociais ao tornar toda a ocasião menos inteligente. No que mais, é extremamente rude fumar maconha perto de pessoas que, como eu, não toleram o cheiro da coisa e nunca encostariam em um baseado. Especialmente irritante é a tentativa de menosprezar e escarnecer aqueles de nós que têm interesse zero em fumar uma planta que transforma o fumante em um otário.

É por esse motivo que devo me confessar particularmente estupefato ao constatar quão estranhamente badalada e em voga a maconha se tornou.

Quando eu era criança, fumar maconha era considerado um ato depravado e perigoso. Hoje, se você falar isso perto de praticamente qualquer pessoa com menos de 30 anos de idade, ela lhe dará um sermão sobre quão maravilhosa a maconha realmente é.

Os defensores da maconha podem citar todos dados supostamente científicos que quiserem, mas eu sei mais apenas por causa da minha experiência de vida. Eu ainda me lembro de quando a maconha deixou de ser proibida e passou a ser modismo. Eu fazia faculdade no estado da Virginia e morava com outros quatro caras no andar de cima de uma casa. Eles eram absolutamente viciados na planta.

Todas as noites — e eu realmente enfatizo que eram todas as noites —, eles juntavam dezenas de latas de cerveja, ligavam o rádio em uma estação de rock, acendiam seus baseados e fumavam ininterruptamente das 5 da tarde até 1 da manhã. Eles simplesmente ficavam sentados no sofá conversando coisas idiotas em um tom de pseudo-profundidade. Eles falavam sobre o universo, sobre a vida em outros planetas, sobre personagens de desenho animado e por aí vai.

Normalmente, eu jamais teria má vontade para com a maneira que outros voluntariamente escolhem se divertir, mas fazer isso todas as noites? Com o tempo, não consegui conter meu crescente sentimento de desprezo.

Eles continuamente me pressionavam a se juntar a eles. A coisa foi se transformando em alta pressão. Inevitavelmente, acabei cedendo e dei uma tragada seguida de uma inalada. Fiquei instantaneamente nauseado. Assaltei a geladeira e fui para a cama, odiando a mim mesmo. Nunca mais fumei novamente e jamais o farei.

Desde então, nos anos subsequentes, fumar maconha deixou de ser visto como um hábito de derrotados e se transformou em uma cultura universal entre os jovens. Parece haver dezenas de maneira de fumar maconha — enrolada num papel, cachimbo, bongos, comestível etc. Não consigo me manter atualizado. E as variedades de maconha disponíveis surpreendem. Sempre que me oferecem a erva, recebo uma completa apresentação sobre a modalidade em questão, como se estivesse em um restaurante chique participando de uma degustação de vinhos.

As alegações feitas em defesa da substância estão cada vez mais implausíveis. Se você realmente parar para ouvir as pontificações dos usuários, terá a certeza de que a maconha é o caminho mágico para uma vida longa, bem-sucedida e repleta de êxtase. A única porta de entrada que ela oferece é para a felicidade.

Já o que eu vejo é muito mais óbvio. A maconha transforma você em um otário. Há um quê do personagem Salsicha, do desenho Scooby-Doo, em cada fumante: aquele jeito preguiçoso, levemente desmiolado, de andar rastejante e de fala lenta e desconexa, resultantes de se querer utilizar a maconha para anestesiar reações normais às ansiedades da vida.

Provavelmente é verdade que a maconha não seja mortífera, e não estou aqui para conjecturar se ela é prejudicial à saúde. Os perigos da maconha são mais sutis. Seu uso pressupõe que todas as ansiedades desta vida devem ser abolidas, sempre e a cada tragada. Inale a fumaça mágica e exale todos os seus problemas.

Nisso eu não acredito. A mente necessita de ansiedade; ela tem de ter esse treino, especialmente em idades mais jovens. Desapontamentos, frustrações, medos e preocupações devem fazer parte da narrativa da vida, pois estes sentimentos apenas se intensificam com o avançar do tempo. Se descobrirmos uma maneira mágica de entorpecer nossos sentidos em relação a estes sentimentos, e a uma idade jovem, como poderemos funcionar bem em um mundo adulto?

No que mais, e deixando tais considerações de lado, a estética da maconha é totalmente cafona. Já a testemunhei inúmeras vezes. Sempre que sou convidado para uma "reuniãozinha" após algum evento público, sempre fico com a esperança de que não envolva maconha. E quase sempre erro. Tão logo a fumaça (e seu fedor) começa a envolver o recinto, o nível da conversação entra em queda livre.

E então eu perco todo o dia seguinte tentando tirar o cheiro das minhas roupas e do meu cabelo. É de embrulhar o estômago.

É também algo que me entristece ver pessoas me julgando tão severamente pelo simples fato de eu não ser um usuário de maconha. Já tive amizades extremamente promissoras que foram bruscamente interrompidas tão logo confessei que não fumava maconha. A pessoa, de início, parecia apenas desapontada com a revelação. Depois, simplesmente passou a agir como se "bem, se você não fuma maconha, você jamais poderá ser meu amigo".

Quaisquer que sejam as consequências que a maconha tem sobre as pessoas, uma postura de tolerância em relação aos não-usuários não é uma delas. "Preconceito fanático" é uma descrição cabível. Aliás, nunca entendi como foi que se tornou socialmente obrigatório ser agressivo com os fumantes de tabaco, mas infinitamente tolerante — e até mesmo festivo — com os fumantes de maconha.

Apenas para deixar minha opinião bem clara, sou totalmente a favor da descriminalização da maconha (e de todas as drogas). Não quero que maconheiros sejam encarcerados. Não quero que sejam molestados. Não quero nem mesmo que a maconha seja tributada. Se você quer cultivar uma planta, empacotá-la, vendê-la e consumi-la, por mim tudo bem. Assim como quem não toma banho e se veste mal, usuários de maconha causam danos apenas a si próprios.

Já está bastante óbvio que, quanto mais a polícia persegue a maconha, mais popular ela se torna. Tenho, aliás, uma crescente suspeita de que, com efeito, foi a própria ilegalidade que gerou a implausível popularidade da maconha. Fumar maconha é uma maneira fácil de "ser contra as regras" e "desafiar o status quo". O melhor argumento em prol da retirada da maconha da lista dos frutos proibidos é que sua própria normalidade já a submeteria ao tribunal do bom gosto e das boas maneiras. E, neste tribunal, estou praticamente certo de que a maconha seria condenada.

Adoraria ver o regresso dos bons e velhos tempos em que o uso da maconha era amplamente visto como depravado e ignóbil, um hábito de derrotados. Porém, para regressarmos a isso, será essencial abolir a guerra estatal contra a maconha, para que padrões normais (e não-estatais) de desaprovação social — mais perspicazes, mais severos e mais eficazes — voltem à cena. Quando isso ocorrer, a realidade de que fumar maconha é um hábito nojento voltará a ser óbvia para todos.


domingo, 25 de outubro de 2015

CHAVÕES E REALIDADES

Que o sr. Lula seja apenas um ladrãozinho egoísta sem vínculo ou compromisso com o comunismo internacional é uma das idéias mais estúpidas e indefensáveis que já passaram por um cérebro humano.


A esquerda mundial está hoje muito mais unificada e organizada do que sessenta ou setenta anos atrás. Ganhou em força de atuação conjunta o que perdeu no debate ideológico.

Chavões, frases-feitas, clichês, estereótipos ou como se queira chamá-los existem para que o sujeito que não pensou num assunto possa obter a concordância imediata de outro que também não pensou. Onde quer que você ouça ou leia um desses maravilhosos substitutivos do pensamento, pode ter a certeza de que está assistindo a um encontro de dois corações que se apóiam e se reforçam mutuamente sem nenhuma interferência do objeto sobre o qual fingem estar conversando.

Por exemplo, quando um cidadão afirma: “Esquerda e direita são conceitos superados”, o que ele quer dizer é: “Eu sou superior a essas coisas.” O ouvinte, mais que depressa, responde: “Eu também.” E saem os dois muito contentes da sua superioridade, enquanto as duas forças inexistentes continuam a disputar o governo, xingar-se uma à outra, boicotar-se mutuamente e até trocar tiros, como se existissem.

A verdade é que nenhum fato ou coisa deste mundo, por pequeno e modesto que seja, se deixa apreender na linguagem dos chavões. Estes não têm nada a ver com a descrição de realidades, mas apenas, na mais bem sucedida das hipóteses, com a expressão da harmonia ou desarmonia entre as almas do falante e do ouvinte. Isso é assim pela simples razão de que nenhuma realidade vem junto com a linguagem pronta que a expressa, mas em cada caso a sua descoberta requer a invenção da linguagem apropriada para expressá-la. É por isso que os autores de grandes descobertas na filosofia são também inventores de linguagens originais. Conforme o talento literário de cada um, elas podem ser límpidas e claras como as de Platão ou Leibniz, ou então abstrusas e indecifráveis como as de Kant ou Heidegger, mas sempre originais, únicas e adequadas aos seus fins.

O chavão é, por excelência, a linguagem do auto-engano que busca transmutar-se em engano alheio, se possível em engano geral. É a linguagem de quem fecha os olhos ao objeto e os arregala para ver a reação do ouvinte. O pobre do objeto, do assunto, da questão, fica fora da conversa como um mendigo que espia pela janela do Ritz.

Se voltamos ao exemplo acima e, em vez de participar da deliciosa harmonia entre o falante e o ouvinte, voltamos os nossos olhos ao objeto da conversa, em cem por cento dos casos notamos que ele é bem diferente do que o imaginam aqueles que nem mesmo tentaram imaginá-lo, mas se limitaram a usá-lo como pretexto de um intercâmbio social.

Desde logo, se há pessoas que se dizem de esquerda ou de direita e que agem politicamente sob essas bandeiras, é evidente que esquerda e direita existem como agrupamentos políticos reais que sob esses nomes se reconhecem e por eles distinguem os “de dentro” e os “de fora”. Se suprimimos os nomes teremos de designá-los por outros da nossa própria invenção, nos quais os dois grupos não se reconhecerão e que só servirão para complicar o vocabulário.

Como autodenominações de grupos políticos e símbolos da sua identidade, os termos “esquerda” e “direita” não estão superados de maneira alguma. Expressam uma realidade sociológica inegável.

Faz um pouco mais de sentido dizer que seus respectivos discursos ideológicos foram ultrapassados pelo desenvolvimento crescentemente complexo do estado de coisas, que nenhum deles expressa corretamente. Teremos, com isso “superado os conceitos” de esquerda e direita? De maneira alguma, pois essa acusação é a mesma que a esquerda e a direita se fazem mutuamente, e, se não percebemos nem mesmo isso, é que ignoramos o estado de coisas ainda mais profundamente do que as duas juntas, e nós é que estamos superados. O sapientíssimo se revela um bobo na hora mesma em que tenta posar de superior.

Deveria ser óbvio para todo mundo, mas para muitos é quase um segredo esotérico inacessível, que a qualidade boa ou má, a veracidade ou falsidade das idéias de um grupo não tem nada a ver com a sua existência ou inexistência como grupo. Argumentar que duendes não existem não prova que inexistam grupos que acreditam em duendes.

Ainda mais bobo é aquele que afirma desprezar toda “retórica ideológica” e, em vez disso, examinar somente os interesses materiais malignos por trás da aparente disputa de ideologias, acreditando com isso estar firmemente assentado no terreno dos fatos e a salvo de idéias ilusórias. Mas, em primeiro lugar, apontar interesses materiais por trás de um discurso ideológico é precisamente o que as ideologias inimigas fazem umas com as outras. E o fazem quase sempre com razão, porque toda ideologia, como já a definia Karl Marx, é um “vestido de idéias” (Ideenkleid) costurado para encobrir um interesse material, um projeto de poder, uma ambição mundana. Por outro lado, é certo que, se esses interesses se apresentassem nus e crus, sem a embalagem ideológica, seriam imediatamente desmoralizados e não enganariam a ninguém. A ideologia, portanto, é parte integrante do projeto maligno, que não pode ser compreendido sem referência a ela. Por fim, também é certo que, se um discurso ideológico, uma vez formulado, serve de símbolo verbal da identidade de um grupo, o qual sem essa identidade estaria privado da possibilidade de agir em conjunto, o conteúdo desse discurso não será nunca totalmente alheio à conduta real do grupo, que em certa medida será obrigado a ajustar suas ambições de poder às promessas e valores do discurso. A tensão entre a identidade do grupo e os interesses materiais em jogo é um elemento permanente da vida político-ideológica, e fazer abstração da ideologia para enfocar somente os interesses materiais isolados é condenar-se a não compreendê-los de maneira alguma.

Um exemplo característico é o chavão mais em moda hoje em dia, segundo o qual o sr. Lula não é comunista nem esquerdista, apenas um político sem filiação ideológica que enriqueceu ilicitamente. Esse chavão soa agradável em diferentes áreas do espectro ideológico. Para o esquerdista, ele é a fórmula mágica para isentar de toda culpa pelos crimes do PT a corrente política que o criou, que o incensou, que lhe deu a hegemonia e que, se ele for para o buraco, pretende continuar no poder sob outros nomes quaisquer. Para o direitista, fornece um poderoso argumento retórico: “Estão vendo como na esquerda ninguém presta, como são todos uns ladrões e salafrários?” E, para o homem “superior a ideologias”, é mais uma prova da sua superioridade sublime. Todos os pretextos servem, portanto, para o interessado se fazer de bonito mediante a supressão de pelo menos duas perguntas:

1) Se o Lula é apenas um ladrãozinho sem compromisso com o comunismo, por que distribuiu tanto dinheiro a ditaduras e partidos comunistas, quando podia guardá-lo para si mesmo? 

2) Por que as FARC o homenagearam por ter salvado in extremis o comunismo continental, em vez de acusá-lo de usar o comunismo em benefício próprio?

Que o sr. Lula seja apenas um ladrãozinho egoísta sem vínculo ou compromisso com o comunismo internacional é uma das idéias mais estúpidas e indefensáveis que já passaram por um cérebro humano. De um lado, há o fato incontestável de que ele é aceito e celebrado por todos os governos e partidos comunistas do mundo não só como um parceiro e irmão leal, mas até como uma espécie de herói, de salvador providencial. Se ele alcançou essa posição sem nada fazer pelo comunismo e agindo sempre somente no interesse próprio, então ele enganou a todos os líderes e governos comunistas do universo, incluindo os serviços secretos de Cuba e da China, tidos como extraordinariamente eficientes e maliciosos, só não logrando tapear o tirocínio superior dos comentaristas brasileiros de mídia. De outro lado, resta o fato igualmente incontestável de que nenhum espertalhão logrou jamais utilizar-se do comunismo em benefício próprio sem beneficiar ainda mais algum governo ou partido comunista -- pelo menos não logrou fazê-lo sem pagar com a vida. Willi Münzenberg, que era um milhão de vezes mais esperto que Lula, foi simplesmente acusado de tentar fazer isso, e já o assassinaram antes que alguém pudesse verificar se fez ou não. Não é humanamente concebível que um movimento que condenou à morte cem milhões de pessoas pudesse poupar generosamente a vida de um vigarista que o ludibriasse de forma tão humilhante ante os olhos da humanidade inteira. Muito menos concebível é que depois disso continuasse a aplaudi-lo e paparicá-lo como o fazem os governos de Cuba, da China, da Venezuela etc. Essa hipótese é tão absurda, tão monstruosamente inverossímil, que acreditar nela mesmo por um minuto e em segredo já seria prova de uma imbecilidade descomunal. A desenvoltura ingênua com que tantos no Brasil a alardeiam sem a menor inibição é a prova definitiva de que algo no cérebro nacional não vai bem.

Erros monumentais como esse não aparecem sozinhos. Provêm de uma ignorância estrutural, profunda e dificilmente reversível, quanto à natureza e função das ideologias em geral. Os palpiteiros que superlotam a mídia e as cátedras imaginam que ideologia seja algo como uma crença religiosa, que exija a adesão profunda e sincera das almas. Nessa perspectiva, um comunista, por exemplo, poderia ser um “verdadeiro crente” ou um mero oportunista sem crença nenhuma. Essa diferença pode ter existido em outras épocas, quando a URSS baixava as Tábuas da Lei e condenava como heréticos os trotskistas, os revisionistas etc. De fato, não pode existir “verdadeiro crente” sem um texto canônico obrigatório para todos. Mas já faz três décadas, pelo menos, que nada disso existe no movimento comunista. A concepção eclesiástica do Partido como guardião da doutrina infalível foi substituída pela flexibilidade de um pluralismo ilimitado onde todos os discursos ideológicos são bons, desde que seus adeptos consintam em agir segundo uma estratégica unificada. Concomitantemente, a antiga hierarquia vertical foi trocada por uma organização mais flexível sob a forma de “redes”, onde as palavras-de-ordem não despencam das alturas olímpicas de um Comitê Central mas se espalham quase anonimamente, como se fossem meras exigências do senso comum em vez de ordens do Camarada Fulano ou Beltrano. A substituição da unidade ideológica pela unidade puramente estratégica, concebida nos anos 80 do século passado e testada com sucesso espetacular na guerrilha de Chiapas, México, em 1994 – chamada por isso “guerrilha pós-moderna”--, permitiu que o movimento comunista não somente sobrevivesse incólume à queda da URSS, mas multiplicasse sua força e capacidade de ação. A esquerda mundial está hoje muito mais unificada e organizada do que sessenta ou setenta anos atrás. Ganhou em força de atuação conjunta o que perdeu no debate ideológico. Quem não percebe isso não merece ser ouvido em matéria de política.

Para tornar as coisas ainda mais incompreensíveis aos sábios iluminados, resta o fato de que “esquerda” e “direita” só são entidades simetricamente opostas nos dicionários. Na vida real, “esquerda”, hoje, não é um “rótulo ideológico” e sim um movimento unificado e organizadíssimo sem nenhuma ideologia definida, ao passo que “direita” é na melhor das hipóteses o nome de um amálgama confuso de discursos ideológicos inconexos, ao qual não corresponde nenhuma organização ou movimento unificado nem mesmo em escala nacional, quanto mais mundial. Não são espécies do mesmo gênero. Aquele que assim as concebe para fazer-se de superior a ambas, como um domador que cavalga simetricamente dois cavalos com um pé em cada um, é na verdade um acrobata impossível com um pé num cavalo de carne e osso e o outro no conceito abstrato de um cavalo hipotético.Por: Olavo e Carvalho Publicado no Diário do Comércio.



sábado, 24 de outubro de 2015

COM DILMA À FRENTE, O BRASIL SEGUE EM QUEDA LIVRE. E RÁPIDA.

Eis aí o Brasil, mais de três anos antes do dia previsto para o tão esperado encerramento do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, empenhado num vigoroso sprint ladeira abaixo. A corrida já começou faz tempo, como todo mundo sabe, e ainda tem muito chão pela frente até a linha da chegada, mas provavelmente está num dos seus melhores momentos ─ ganhou aquele impulso natural e crescente que a força da gravidade, esta velha conhecida de todos nós, impõe às coisas que estão caindo. Se subiu tem de descer, anotava Raul Seixas em suas observações gerais sobre o funcionamento da vida, e é isso, precisamente, o que está acontecendo neste 2015 que entra em sua reta final.

Com uma particularidade: o presente governo, reeleito um ano atrás, começou a cair antes mesmo de concluir a subida. Teria chegado ao fundo do poço? Ninguém é louco para se arriscar com palpites assim, não nesta revista; não dá para saber a profundidade exata do poço, e a Redação está formalmente instruída a não se meter com equações que só têm a incógnita. O certo, pelo registro dos fatos, é que a economia e a politica estão em pleno acordo para se manter em queda ampla, livre e rápida. Esperar qualquer outra coisa é perda de tempo.

A mensagem que o governo Lula-Dilma-PT está passando aos cidadãos brasileiros, junto com o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal, os partidos e quem mais consegue mandar em alguma coisa neste país, é a seguinte: “Não esperem nada daqui. Não vamos ajudar ninguém em coisa nenhuma. Governar, então, nem pensar. Estamos cuidando exclusivamente de nós mesmos. O Brasil que vá para o diabo que o carregue. Virem-se”. A presidente da República não governa, pois não trabalha – dedica 100% do tempo à atividade de não ser deposta, mesmo porque a última coisa de que precisa é tornar-se uma ex-presidente e, portanto uma cidadã igual aos demais brasileiros, nestes momentos de trovoada que se formam a partir da legislação penal.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha – que virou de fevereiro para cá o grande inimigo do governo e do PT, depois de passar a carreira toda na mais perfeita paz com ambos, e talvez esteja a caminho de tornar-se um grande amigo de novo – concentra todos os seus esforços em salvar o próprio couro. O PT só pensa em grudar-se em seus empregos, acesso a verbas públicas e oportunidades de negócio com a máquina do Estado. Lula está plenamente empenhado em safar-se da maré enchente de denúncias contra dois filhos, um sobrinho, uma nora e sua própria atuação como lobista de empreiteiras. Os líderes da oposição têm como prioridade eliminar-se uns aos outros. Os tribunais de justiça querem mandar na vida política. A única proposta concreta que o governo tem para oferecer à população é criar de novo o imposto do cheque. Os ministros, sem exceção, dizem que é impossível lidar com um único problema urgente porque não têm dinheiro – e o pior é que não têm mesmo. Enfim: põe ladeira abaixo nisso.

Todos os personagens responsáveis por esse angu têm em comum, entre si mesmos, a perfeita convicção de que não são responsáveis por absolutamente nada, o que torna inútil qualquer tentativa de apresentar-lhes os fatos – é como dar um espelho a um cego. Dilma quebrou o Brasil com uma inépcia jamais atingida antes dela, mas acha que não tem nada a ver com nenhum dos desastres que criou; diz que “a sociedade” tem de resolver os problemas e, enquanto isso, revela-se desapontada com as dificuldades que existem para estocar o vento. Lula declara que receber dinheiro de empresas comprovadamente culpadas de atos de corrupção é um atividade “patriótica”, e da qual tem “orgulho”. A solução que ele e seu partido têm para a crise politica é comprar aliados através da privatização do aparelho do Estado; para a crise econômica recomendam dobrar os erros já testados por Dilma nos últimos cinco anos.

É tempo de murici, como dizia o coronel Tamarindo em sua retirada na Guerra de Canudos. Cada um que cuide de si.
Por: J. R. Guzzo  Publicado na revista EXAME

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

COMO PORTUGAL COMPROU O NORDESTE DOS HOLANDESES POR R$ 3 BI

Image copyrightWikipediaImage captionQuadro do pintor brasileiro Victor Meirelles de Lima retrata Batalha dos Guararapes (1648/1649), que encerrou período do domínio holandês no Brasil

Mesmo depois de terem sido derrotados, os holandeses receberam dos portugueses o equivalente a R$ 3 bilhões em valores atuais para devolver o Nordeste ao controle lusitano no século 17.

O pagamento ─ que envolveu dinheiro, cessões territoriais na Índia e o controle sobre o comércio do chamado Sal de Setúbal – correspondeu à época a 63 toneladas de ouro, como conta Evaldo Cabral de Mello, historiador e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), no livro O negócio do Brasil, que está sendo relançado em uma nova edição ilustrada pela Editora Capivara, de Pedro Correia do Lago, ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional. A edição original foi lançada em 1998.

Em valores atuais, o montante equivaleria a 480 milhões de libras esterlinas (ou cerca de R$ 3 bilhões). O cálculo foi feito à pedido da BBC Brasil por Sam Williamson, professor de economia da Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos, e co-fundador do Measuring Worth, ferramenta interativa que permite comparar o poder de compra do dinheiro ao longo da história.

"Esta foi a solução diplomática para um conflito militar. O pagamento fez parte da negociação de paz. O que não quer dizer que a guerra não tenha sido necessária", afirmou Cabral de Mello à BBC Brasil.
'Pechincha'Image copyrightWikipediaImage captionBandeira da Nova Holanda, como ficou conhecida a colônia da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais no Brasil

Os holandeses ocuparam o Nordeste por cerca de 30 anos, de 1630 a 1654, em uma área que se estendia do atual Estado de Alagoas ao Estado do Ceará. Eles também chegaram a conquistar partes da Bahia e do Maranhão, mas por pouco tempo.

Por trás das invasões, havia o interesse sobre o controle do comércio e comercialização da matéria-prima.

Isso porque, como conta Cabral de Mello, antes mesmo de ocupar o Nordeste, os holandeses já atuavam na economia brasileira com o apoio de Portugal, processando e refinando a cana de açúcar brasileira.Image captionGravura holandesa retrata o cerco a Olinda em 1630

"Quando o reino português foi incorporado pela Espanha, essa parceria acabou. Os espanhóis romperam esse acordo, que rendia altos lucros aos holandeses. Além disso, a relação entre os holandeses e os espanhóis já não era boa, já que a Holanda havia se tornado independente do império espanhol em 1581", diz o historiador.

Durante o período em que ocuparam parte do Nordeste, os holandeses foram responsáveis por inúmeras mudanças importantes, inclusive urbanísticas, principalmente durante o governo de Johan Maurits von Nassau-Siegen, ou Maurício de Nassau.

Com o intuito de transformar Recife na "capital das Américas", Nassau investiu em grandes reformas, tornando-a uma cidade cosmopolita. Apesar de benquisto, ele acabou acusado por improbidade administrativa e foi forçado a voltar à Europa em 1644.
'Sem heroísmo'Image captionQuadro do pintor espanhol Juan Bautista Maíno retrata reconquista de Salvador pelas tropas hispano-portuguesas (1635)

Naquele ano, Portugal já havia se separado da Espanha, mas demorou para enviar soldados para retomar o Nordeste. A região só foi reintegrada em janeiro de 1654.

Cabral de Mello, que é especialista no período de domínio holandês, diz que a tese de que os holandeses foram expulsos pela valentia dos portugueses, índios e negros "não é completa".

"Os senhores de engenho locais financiaram a luta pela expulsão dos holandeses, já que deviam mundos e fundos à Companhia das Índias Ocidentais, que lhe havia emprestado dinheiro. Eles, no entanto, não tinham como pagar a dívida", explica o historiador.

"Os holandeses acabaram derrotados, mas não sem antes pressionar Portugal pelo pagamento dessa dívida, inclusive chegando a bloquear o Tejo (Rio Tejo). O pagamento não foi feito em ouro, mas um observador da época fez a correspondência para o metal precioso".

"Portugal teve de pagar 10 mil cruzados aos holandeses. Também fez parte do acordo a transferência do controle de duas possessões territoriais portuguesas na Índia ─ Cranganor e Cochim ─ e o monopólio do comércio do Sal de Setúbal".

Por: Luís Guilherme Barrucho - @luisbarruchoDa BBC Brasil em Londres

terça-feira, 13 de outubro de 2015

ORGANIZAÇÃO SUSTENTÁVEL

- Se você tem metas para um ano. Plante arroz. Se você tem metas para 10 anos. Plante uma árvore. Se você tem metas para 100 anos, então eduque uma criança. Se você tem metas para 1000 anos, então preserve o meio Ambiente. Confúcio

- Sustentabilidade é equação entre o que você poupa e o que você desperdiça. Luis Nykyson Lisboa Pinheiro

- Empresas amantes do termo sustentabilidade, caso não se reciclem, trairão a sua própria natureza. Marcelo Petter de Vargas

- Sinceramente, acho que sustentabilidade é uma desculpa pra ser pão-duro. Eu, por exemplo, não economizo energia pra salvar o planeta. É pra salvar meu bolso.Tiago Bezerra


Sustentabilidade tornou-se mais recentemente, uma palavra de ordem, um conceito da moda. Entende-se como sustentável a organização que adota parques e praças, cuida do verde, obedece às normas ambientais, que desenvolve posturas ecologicamente corretas, etc..


Ser uma organização sustentável é muito mais do que apenas isto. Cuidar do meio ambiente é apenas um dos requisitos daquilo que se pode chamar de sustentabilidade.


Organização sustentável é aquela concebida, convertida e gerida visando sua perenidade, para que contribua com o pleno desenvolvimento da comunidade na qual está inserida. Que detenha postura ética na relação com todos os agentes envolvidos, lembrando que ética está para o bem e o mal, como a moral está para o certo e o errado.


Também é  promover o desenvolvimento com o menor impacto possível ao meio ambiente.

Uma organização verdadeiramente sustentável tem como premissa atender pelo menos alguns dos itens abaixo relacionados tais como:

1- Utilizar os recursos naturais com parcimônia e na medida da necessidade.

2- Criar um ambiente em que as pessoas possam dar o melhor de si, com perspectivas de crescimento profissional e desenvolvimento pessoal.

3- Garantir atualização tecnológica na medida da necessidade da organização e de acordo com as normas ambientais visando o uso racional dos recursos.

4- Prover relações justas com os agentes envolvidos com a organização, como fornecedores de produtos e serviços, clientes, órgãos oficiais, consumidores e colaboradores.

5- Proporcionar os resultados financeiros mínimos necessários para os investimentos e retorno aos acionistas. Isto independe ser ser uma organização que visa lucro ou não.

6- Planejar e gerenciar a organização para que possibilite e promova o desenvolvimento das pessoas nela inseridas e com a quais se relaciona.

7- Adotar métodos de governança e modelos participativos que priorizem a transparência das ações e a observância dos procedimentos éticos. Estar de acordo com os regulamentos e normas.

8- Promover um nível elevado de competitividade, afim de garantir a expansão permanente da organização e a melhoria na sua posição como agente do desenvolvimento e do progresso da comunidade em que estiver inserida.

Algumas vantagens podem ser obtidas pelas organizações verdadeiramente sustentáveis, tais como: Redução de custos, melhora na imagem da organização, meio ambiente mais saudável, satisfação dos colaboradores, reconhecimento pela comunidade etc.

Acredito que boa parte dos bons resultados que determinadas organizações tem alcançado decorre da adoção dos princípios abordados de forma  resumida nesse tópico. Afinal, é neste  sentido mais amplo que entendo o conceito de “organização sustentável”.
Por: Aloysio Tiscoski



ESTADÃO OU ESTADINHO


Vou repetir a pergunta, hein? Que tamanho deve ter o Estado? Aliás, pra que serve o Estado, hein? Que funções ele deve exercer? Por que tanta incompetência, corrupção e incapacidade, hein? Continuo nessa praia hoje e já aviso que vou deixar uns progressistas aí bem nervosos.

Posso entrar?

Amigo, amiga, não importa quem seja, bom dia, boa tarde, boa noite. Este é o Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.

Este programa chega até você com o apoio do Itaú Cultural e do Auditório Ibirapuera que, você já sabe, né? Estão aí, olha, a um clique de distância. 

E quem vai levar o exemplar de meu livro ME ENGANA QUE EU GOSTO é o Salmir, lá de Minas Gerais…

“Bom dia, equipe do Café Brasil, Luciano Pires, Ciça e Lalá. Meu nome é Salmir e eu falo de Joatuba, Minas Gerais, to ido pro trabalho aqui e estou ouvindo o podcast Meritocracia2. Cara, eu não tenho ainda a capacidade intelectual de deixar um comentário tão qualificado igual dos nossos amigos ouvintes aí, que deixam comentários maravilhosos. Mas, eu liguei pra falar da capacidade do Café Brasil de nos fazer pensar nessa questão da meritocracia e, principalmente cara e principalmente me fazer prestar atenção numa letra de funk. Essa música aí do Sou patrão e não funcionário. Eu tenho aversão a funk, na verdade um pouco de nojo, eu nunca consegui prestar atenção em nenhuma letra de funk. Mas, no Café Brasil até uma letra de funk eu consigo ouvir. Etnão, parabéns mesmo pelas ideias aí, por colocar essa minhoquinha no cérebro e fazer a gente conseguir pensar em tudo de uma forma diferente do que foi apresentado até hoje. Um abraço e vida longa ao nosso cafezinho!”

Grande Salmir, eu já disse uma vez e repito aqui: os comentários mais legais não são apenas aqueles escritos com o intelecto, mas os que são feitos com o coração, como você acaba de fazer. Tem uma ideia, pega o fone e manda bala, cara. Muito obrigado. Ainda farei um Café Brasil só sobre esse funk aí que você não suporta, pode esperar.

Muito bem. Além do livro, o Salmir receberá um KIT DKT. O Kit DKT está recheado de produtos PRUDENCE, como géis lubrificantes e preservativos masculino e feminino. PRUDENCE é a marca dos produtos que a DKT distribui como parte de sua missão para conter as doenças sexualmente transmissíveis e contribuir para o controle da natalidade. O que a DKT faz é marketing social e você contribui quando usa produtos Prudence. 

Vamos lá então! Ô dois, hoje eu quero com sotaque mineirinho…

Na hora do amor, use

Lalá e Ciça – Prudence, uai. Ô sô!

Esta série sobre o tamanho do estado promete, viu? Você que ouve o Café Brasil sabe que a lente que eu uso aqui para observar o mundo não é a progressista, de esquerda, mas a liberal, com toques de conservador, não é? Aliás, tem um monte de gente muito brava comigo por conta disso, dizendo que antigamente eu era mais, digamos, imparcial… Imparcial uma ova! Eu sempre fui parcial. O que ocorre é que eu pisei no acelerador politizando mais o Café Brasil de dois anos para cá. E sabe por quê, hein? Porque entendi que os brasileiros estavam, como as crianças da fábula, seguindo Flautistas de Hamelin, hipnotizadas. Aquela música tão gostosa que os hipnotizava selava seus destinos. Era preciso tirá-las do transe, trocar de música, de músico, de instrumento. E isso não poderia ser feito sem tocar mais alto. Por isso abracei com força as ideias do liberalismo e pintei o Café Brasil com elas. Perdi ouvintes? É claro que sim. Mas eu tenho salvo muito mais gente…

Mas, vamos à nossa conversa sobre o Estado. A visão liberal clássica defende que o Estado deve ficar completamente fora da economia, sem se envolver nas funções da indústria, do comércio, do setor financeiro ou monetário, que devem ser entidades que operam num mercado completamente livre, sem qualquer tipo de intervenção estatal, seja para auxilio ou garantias de forma direta ou indireta. Todos os meios de produção devem pertencer à iniciativa privada e quem define a forma como esses meios são empregados, seu sucesso ou fracasso, é o sistema de preços fixado pelo próprio mercado.

O conceito do sistema de preços está na obra de Adam Smith, dois séculos e meio atrás. É, meu caro, isso não é invenção dos coxinhas não, viu… É o sistema de preços que regula a produção e o consumo de produtos e serviços. Num sistema de preços livre, o consumidor escolhe o produto que quer comprar – normalmente o mais barato – e o produtor escolhe que produto vai produzir – normalmente aquele que dá mais lucro. É o equilíbrio entre o desejo do cliente de comprar e o do produtor de produzir, que define os produtos e serviços que serão bem sucedidos. E isso acontece sem que o consumidor e o produtor tenham contato direto! É a tal mão invisível do mercado, aquela que assombra os progressistas. Os preços são fixados pela demanda: produtos que todo mundo quer, tem preços mais altos. E muitas vezes, os produtores baixam os preços para conquistar consumidores. Dois produtores disputando o consumidor constituem o que chamamos de concorrência, que é o que equilibra os preços. Quando o consumidor percebe que o preço de um subiu demais, ele muda para outro produtor mais barato e o mais caro vai ter que baixar seu preço se quiser o consumidor de volta. E assim o mercado vai se regulando.

Essa é a lei da oferta e da procura, que seu avô um dia falou para você: quando um produto é mais procurado, seu preço sobe. Quando a procura cai, o preço desce.

Nesse cenário, lucros e prejuízos são os definidores do sucesso e fracasso de cada empreendimento. Dê aquilo que o seu público quer ou enfrente a ruína econômica. É simples assim. O Estado não se envolve nem mesmo nos chamados serviços sociais como: educação, previdência ou saúde, por exemplo.

Essa visão dos liberais está apoiada na certeza de que a única forma de se conseguir aplicar recursos escassos com eficiência é através do sistema de preços do mercado. É ele que indica as escolhas, urgências e necessidades do público.

Mas sistemas de preços de mercado só podem existir onde houver propriedade privada e liberdade de troca voluntária entre os indivíduos. As pessoas têm de ser donas dos produtos e serviços e ter a liberdade de decidir onde, como, quando e por quanto os trocarão por dinheiro ou por outros produtos e serviços. É essa liberdade que mantém um sistema de preços sadio. Sem propriedade privada não há livre comércio e nem formação de preços pelo mercado.

No livre mercado os empreendedores podem arriscar o pescoço livremente, investindo seus recursos para produzir bens e serviços que eles acham que as pessoas vão querer. Se acertarem no gosto das pessoas, terão lucros, que serão investidos na aquisição de bens e serviços de outras pessoas que produzem coisas que eles precisam.

Divisão do trabalho, acumulação de capital e liberdade de trocas são os fatores que proporcionam o crescimento contínuo de nosso padrão de vida.

Putz! Lalá, a Ciça caiu da cadeira aí! Ajuda ela aí!

Que tal, hein? Podres Poderes, de Caetano Veloso, com o carioca André Muato, que eu acho que você nunca ouviu, não é? É muito bom isso! E olha a dica: a Ciça pega cada música tocada no programa … Aliás, depois do tombo eu não sei, normalmente ela pegacada música tocada no programa, procura a versão em vídeo e cola no roteiro deste programa no portalcafebrasil.com.br. E além disso, na home do portal, do lado direito em cima, tem um link para arádio Café Brasil que tem a programação 24 horas por dia, composta das músicas que tocam por aqui.

E quando o Estado passa a ser o dono dos meios de produção, acaba a liberdade dos consumidores e dos produtores e com ela o sistema de preços de mercado que possibilita comparações e competição entre os produtores. Desaparece a busca incessante por melhorias que permitam ganhar a competição pelo gosto do cliente. É por isso que os serviços estatais jamais serão satisfatórios. Você pode ver trabalhando, por exemplo, num sistema de saúde estatal, pessoas bem intencionadas, bem treinadas e muito motivadas, pode ter equipamentos modernos, processos redondos e mesmo assim não apresentar serviços satisfatórios. No sistema estatal não há risco de falência, de demissão, de fuga para o concorrente. A incompetência não é punida. Se o sistema quebrar, o Estado aumenta os impostos e pronto. Se o sujeito é incompetente, fica por lá anos a fio, pois tem estabilidade de emprego.

Sem o risco da recusa do consumidor aos produtos e serviços que o Estado oferece, a acomodação é inevitável. Isso faz parte da natureza humana.

É o risco de perder, de se machucar, de morrer, de quebrar, de ser demitido, de sofrer dor, que nos impele a sempre querer melhorar.

No pain, no gain.

É o empreendedorismo, o gosto por correr riscos e, especialmente, a possibilidade de ser recompensado pelos riscos corridos que nos empurram para a frente. O Estado não tem isso. O Estado não gosta disso. O Estado não quer isso. Essas são ferramentas da meritocracia. Ferramentas capitalistas.

Caiu de novo

Você ouve O CIO DA TERRA, de Milton Nascimento e Chico Buarque, que a chamou essa música de canção do trabalho agrário. Aqui com as violas de Téo Azevedo e Gedeão da Viola. É maravilhosa…

Pois é… Mas aquele apelo dos que defendem que só um Estado forte pode oferecer serviços gratuitos para todos, é irresistível, não é? Não é linda a perspectiva de um Estadão que proporciona educação gratuita? Saúde gratuita? Transporte gratuito, hein? Ah, sim, e com qualidade, hein? Putz, que sonho!

E como é que se faz para realizar esse sonho? Constituímos um Estado forte, com poder de coagir as pessoas a dar seu dinheiro para que ele possa ser dono das escolas, hospitais, estradas, portos, ferrovias, aeroportos e assim dar ao povo serviços de primeira categoria.

Entendeu o ciclo, hein?

O Estado pega seu dinheiro para oferecer a você serviços gratuitos que você precisa, mas o Estado não sofre nenhuma ameaça se o serviço oferecido for ruim. Você não tem para onde correr. E aí você grita por melhoria dos serviços. E o Estado então diz que precisa de mais dinheiro e aumenta os impostos. E sem ameaça de perder sua preferência, os serviços continuam ruins. E você fica sem escolha… Se quiser qualidade, tem de pagar um plano de saúde privado, segurança privada, transporte privado, educação privada, previdência privada.

Paga duas vezes. E o Estado incompetente, lerdo, ineficaz, continua crescendo.

Ah, mas e os pobres, hein?

Bem, deixe-me primeiro falar desse conceito de “serviços grátis”.

Não existe nada grátis. Alguém sempre está pagando. Também não existe “dinheiro público”. Há um vídeo famoso de Margaret Tatcher.

Há um vídeo famoso de um discurso da ex-primeira ministra britânica Margaret Tatcher em que ela diz assim:

“Um dos grandes debates do nosso tempo é sobre quanto do seu dinheiro deve ser gasto pelo Estado e com quanto você deve ficar para gastar com a sua família.

Não nos esqueçamos nunca desta verdade fundamental: o Estado não tem outra fonte de recursos além do dinheiro que as pessoas ganham por si próprias.

Se o Estado deseja gastar mais, ele só pode fazê-lo tomando emprestado sua poupança ou cobrando mais tributos de você. E é melhor não pensar que outra pessoa vai pagar. Essa outra pessoa é você.

Não existe esta coisa de dinheiro público, existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos.

A prosperidade não virá por inventarmos mais e mais programas generosos de gastos públicos. Você não enriquece por pedir outro talão de cheques ao banco. E nenhuma nação jamais se tornou próspera por tributar seus cidadãos além de sua capacidade de pagar. Nós temos o dever de garantir que cada centavo que arrecadamos com a tributação seja gasto bem e sabiamente. (…)

Proteger a carteira dos cidadãos, proteger os serviços públicos. Essas são nossas duas maiores tarefas e ambas devem ser conciliadas.

Como seria prazeroso, como seria popular dizer: ‘gaste mais nisso, gaste mais naquilo’. É claro que todos nós temos causas favoritas. Eu, pelo menos, tenho. Mas alguém tem que fazer as contas. Toda empresa tem de fazê-lo, toda dona de casa tem de fazê-lo, todo governo deve fazê-lo e este irá fazê-lo.”

Esse discurso foi realizado por Margaret Tatcher em 1983 numa conferência do Partido Conservador Britânico. Como a Ciça está sem condições, eu mesmo colocarei o link para o vídeo no roteiro deste programa em www.portalcafebrasil.com.br .

Muito bem. Todo dinheiro é privado, e sai de nossos bolsos. O busão grátis foi pago com dinheiro dos impostos que você pagou. O SUS grátis foi você que pagou. A escola grátis foi você que pagou. Sacou?

Voltamos então aos pobres.

Para mim qualquer indivíduo que tenha uma situação financeira mais confortável tem obrigação moral de ajudar outros indivíduos mais necessitados. Os ricos devem sim, ajudar os pobres a sair de situações de fragilidade e encontrar meios para se auto sustentar. Mas essa obrigação moral é voluntária, não deveria ser impingida pelo Estado, até por uma contradição com sua missão.

A missão primordial do Estado é defender de interferências violentas a vida, a liberdade e a propriedade honestamente adquirida por seus cidadãos. Vida, liberdade e propriedade, lembra? Coisas essenciais para que o mercado funcione. Ao assumir o papel de tomar dinheiro dos que têm para redistribuir aos que não têm, o Estado passa a praticar a violência que deveria prevenir. O mesmo Estado que defende, violenta. É uma esquizofrenia. Ou defende a propriedade ou a redistribui.

Entendeu a questão?

É por isso que os Stédiles, PSÓis e PSTUS da vida vivem com o discurso de acabar com a propriedade privada, transferindo tudo para o Estado, que então será o grande pai, o provedor, o que distribuirá as benesses para todo o povo.

O nome disso é socialismo. Aquele treco que nunca deu certo em nenhum lugar do mundo.

A fundo você ouviu SE ESSA RUA FOSSE MINHA, com Ricardo Herz e Carlos Nunez…

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Texto especial para a versão do programa para assinantes.

Surgem então esses conceitos que você vê por aí, de “justiça social”, como se o termo “justiça” devesse ter algum adjetivo a ele acoplado. Em nome da justiça social o Estado pode confiscar parte de sua propriedade privada, de sua renda.

Pausa. Nesta altura, se ainda há algum progressista ouvindo este programa, já deve estar urrando, esperando que eu diga que comunistas vão tomar a sua casa e fazer com que você coloque dentro dela uma família carente, como numa cena de Doutor Jivago. Não vou chegar a tanto.

O que estou dizendo é que quando o Estado, em nome da justiça social, assume responsabilidades de confisco e redistribuição da propriedade privada – e é isso que são os impostos – seu direito, de você aí, o seu aí ó, de propriedade, sua liberdade, está em risco.

- Ah, Luciano, mas eu abro mão de um pouco da minha liberdade se for para ajudar outras pessoas.

Que pessoas hein, cara pálida?

- Os pobres e oprimidos.

Bem, eu gosto muito de uma frase de um professor alemão chamado Martin Grundler, que disse um dia:

“É fácil relevar a liberdade quando ela nunca foi tirada de você.”

Abrir mão de um pouco da liberdade… quanto é esse pouco? E se amanhã precisar de mais um pouco? Tá valendo?

Quando o Estado se coloca como o juiz que define que há outras pessoas mais necessitadas e ou moralmente dignas que você, e que portanto, merecem uma parte de seus direitos, de sua propriedade ou sua liberdade, mergulhamos no universo perigoso da incerteza.

E se você não for amigo ou protegido do rei, hein?

Onde quero chegar? O discurso do Estado é a busca por algo impossível de ser alcançado, a igualdade e a justiça social ao mesmo tempo. E como isso é impossível, mas o discurso é irresistível, cria-se aquela ideia da utopia e o Estado vai exigindo cada vez mais poderes. Vai crescendo. Vai entrando em todas as áreas de nossas vidas, a ponto de ser praticamente impossível imaginar como seria uma vida com o Estado mínimo.

O Estado que tudo pode, pode mais que qualquer indivíduo. Passa a ter direitos que nenhum de nós tem. E, como uma espécie de Skynet (quem assistiu O Exterminador do Futuro sabe o que é), ganha vida própria e passa a ter suas próprias definições sobre moral e justiça. E passa a impô-las sobre os indivíduos.

Se você gastou quase 200 reais para trocar o extintor de incêndio de seu carro pelo tal modelo ABC que o Estado decidiu que é melhor e que seria obrigatório a partir de primeiro de outubro de 2015, sabe do que é que estou falando. Uma semana antes do prazo final o Estado voltou atrás e decidiu que extintores nos carros não são mais obrigatórios. E os duzentos reais que você gastou por causa da igualdade? Se transformaram em prejuízo por causa da liberdade, ué.

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Muito bem. O Estado que eu sonho é aquele que assegura o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, (parece um progressista falando, cara!) fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias.

Esse trechinho que eu falei aqui cara, é o começo da Constituição brasileira, viu? Só pra você entender.

Mas entendeu, hein? Liberdade, igualdade, bem estar como VALORES. VALORES. E eu duvido que você discorde de mim.

Mas esse estado não tem de ser dono de nada. Não tem que produzir nada. Esse Estado é pequeno, enxuto, focado onde pode realmente agregar valor à sociedade. Esse estado não vai tomar de um para dar para outro, ele vai incentivar que a ajuda humanitária, a benfeitoria, as doações, o apoio à cultura e às causas assistenciais tenham seu valor reconhecido e assim, atraia mais gente voluntariamente para sua prática.

Esse Estado não intervencionista e não autoritário permitirá que cada indivíduo escolha onde e como educar seus filhos, cuidar de sua saúde e de seus investimentos.

Esse estado estimulará, eliminando obstáculos burocráticos e juros estratosféricos, que mais gente empreenda, corra riscos, crie serviços e produtos que poderão chegar a todas as camadas da população.

Esse Estado compreende que quem sai do rebanho para se arriscar a fazer algo que melhore a sociedade, merece ser recompensando por isso.

Esse Estado sabe que livre mercado e bem estar social não são excludentes. É impossível ter serviços e produtos na qualidade e quantidade necessárias para atender a toda a população sem ter uma economia eficiente. E nesse contexto não cabe a mão peluda que tudo controla.

Esse Estado sabe que quanto maior for, mais incompetente, corrupto e caro será.

Esse Estado sabe que justiça social por decreto, não existe.

No programa 464 – Desigualdade social, eu falei de Rousseau e do Contrato Social, lembra? Volte lá. Aquele programa complementa muito do que você está ouvindo aqui hoje.

Esse tema do tamanho e das responsabilidades do Estado é quente, não é? Fica esperto aí viu, que eu vou voltar a ele de quando em quando.



Só se não for brasileiro nessa hora
Galvão
Moraes Moreira

Desde lá, quando me furaram a primeira bola no meio da rua, na minha terra quer dizer,
Juazeiro onde se dá ao mesmo tempo Ituaçú.

Desde lá, quando me furaram a primeira bola no meio da rua, na minha terra quer dizer,
Juazeiro onde se dá ao mesmo tempo Ituaçú.

O ho ho ho, a vizinha tem vidraças. Tem sim sinhô.
O ho ho ho, a vizinha tem vidraças. Tem sim sinhô.

Ao meus olhos bola, rua, campo e sigo jogando porque eu sei o que sofro e me rebolo para continuar menino como a rua que continua uma pelada.

Que a vida que há do menino atrás da bola: para carro, para tudo. Quando já não há tempo

Para pito, para grito e o menino deixa a vida pela bola…

Só se não for brasileiro nessa hora!
Só se não for brasileiro nessa hora!

É assim então, ao som da SÓ SE NÃO FOR BRASILEIRO NESSA HORA, um daqueles petardos dos Novos Baianos, que vamos saindo pensativos.

Com o preocupadíssimo Lalá Moreira na técnica, a descadeirada Ciça Camargo na produção e eu, que quero um estadinho piquinininho, Luciano Pires na direção e apresentação.

Estiveram conosco o ouvinte Salmir, um cover do Pink Floyd, André Muato, Gedeão da Viola e Théo Azevedo, Ricardo Herz, os Novos Baianos e… Margareth Tatcher.

E não esqueça da Pellegrino, que além de ser uma das maiores distribuidoras de auto e motopeças do Brasil, também distribui conhecimento sobre gestão, comunicação e outras coisas legais em sua página em facebook.com/pellegrinodistribuidora. Conheça. E se delicie.

Pellegrino distribuidora. Conte com a nossa gente.

Este é o Café Brasil, que chega a você com o apoio do Itaú Cultural e do Auditório Ibirapuera. De onde veio este programa tem muito mais. Visite para ler artigos, para acessar o conteúdo deste podcast, para visitar a nossa lojinha no …portalcafebrasil.com.br.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96789 8114. E se você está fora do país: 55 11 96789 8114. E também estamos no Viber, com o grupo Podcast Café Brasil.

E se você acha que vale a pena ouvir o Café Brasil e quer contribuir, agora é possível viu, fazer uma assinatura do programa. Acesse podcastcafebrasil.com.br, atenção: não é portal Café Brasil, é podcastcafebrasil.com.br e clique no link CONTRIBUA para saber mais. Agradeço aqui aos 260 ouvintes que já assinaram, viu? Mais que o valor financeiro, você já sabe, é o gesto de confiança que nos enche de orgulho.

E para terminar, uma frase de Sigmund Freud

O estado proíbe ao indivíduo a prática de atos infratores, não porque deseje aboli-los, mas sim porque quer monopolizá-los.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A METAFÍSICA DO SUDÃO

O Brasil tem uma máquina estatal gigantesca. Todo mundo sabe. O pior é que aqueles que deveriam pensar esse problema, na sua maioria, são os que permanecem na esfera desse Estado, fazendo uso dele e alimentando sua burocracia infernal. E defendendo-a. Só gente mau informada, de má fé ou ignorante espera alguma coisa do Estado.

A filósofa russo-americana Ayn Rand, boicotada nos departamentos de filosofia no Brasil por ser uma liberal radical, nos chamou a atenção para um fato significativo: quando produtivos dependem de improdutivos para produzir, estamos numa fria. Esse é o caso do Brasil.

No Brasil, você sempre está na condição de herói de tragédia clássica, que luta contra um destino irrevogável, leia-se, o Estado brasileiro. Essa descrição maravilhosa é de José Guilherme Merquior no seu "O Liberalismo - Antigo e Moderno", editora É Realizações. Merquior fala aqui da tradição francesa de esmagar o indivíduo sob a bota da máquina estatal.

Pense no número de formulários enormes que você deve preencher. Pense no que você gasta de tempo e dinheiro para ter gente que te ajude a enfrentar a burocracia criada por especialistas em improdutividade.

No caso específico da educação superior, esta fato é uma evidência. Uma gigantesca burocracia, servida por "gestores" que se locupletam a fim de garantir espaços institucionais de poder, vem transformando a vida da pós-graduação no Brasil numa peregrinação de irrelevâncias.

Agora, a maldição invade a graduação, tornando o dia a dia um deserto de formulários que supostamente servem a universidade, mas que na realidade servem apenas a gente com o "gozo da burocracia", que assim detém o poder sobre as instituições particulares, sempre inimigas de governos ideologicamente estatistas, como o governo federal é há anos.

No Brasil, abrir uma pequena empresa é um inferno de impostos e siglas, que, por sua vez, se constituem num mercado tecnocrático em si, fazendo do infeliz empreendedor um desgraçado a mercê da última invenção de algum burocrata de Brasília.

E todos os neolíticos que apostam na máquina do Estado para fazer "justiça social" batem palmas para essa metafísica do Sudão.

Este tipo de cultura atrasada faz com que aqueles que nada produzem mandem no processo, obrigando você a produzir nada (servindo as exigências burocráticas deles) ou a produzir irrelevâncias que, por si só, servem aos esquemas burocráticos.

Num universo como este (um novo círculo do inferno de Dante), o dinheiro se torna refém de quem nada produz, mas detém os mecanismos de tortura sobre suas vítimas, os produtivos, que os carregam nas costas. Servir a essa máquina se torna a garantia de permanecer existindo dentro dessa cadeia, supostamente produtiva, mas onerada pela metafísica do Sudão que a alimenta.

E a corrupção é a grande cereja do bolo de um país com essa metafísica. Quanto maior o Estado, quanto maior seus tentáculos sobre a sociedade, mais ele venderá facilidades para resolver as dificuldades que ele mesmo cria, e que constitui a moeda de toda mentalidade improdutiva.

Do que vive um improdutivo? Antes de tudo, do gozo de infernizar quem produz (dizendo que está preocupado com a "qualidade" ou com a "igualdade"). Passa suas horas imaginando procedimentos que obriguem as pessoas a saírem da cadeia produtiva para servir a essa cadeia da inércia.

Mas a inércia tem suas vantagens. Primeiro, facilmente garante tempo livre para não fazer nada, claro, às custas de quem tem de correr mais e ficar mais estressado para atender as demandas de quem não produz nada.

Mas, talvez, o maior inferno seja mesmo o fato de que em países com essa metafísica da "justa improdutividade", a lei proteja o improdutivo e puna o produtivo que não aceitar ferir sua produção para servir à máquina que torna a vida um nada de formulários, impostos e exigências, que crescem a cada dia.

Imagino um desses improdutivos, com os olhinhos brilhando, acordando de manhã e se perguntando: como posso tornar a vida dos produtivos mais miserável hoje?
Por: Luiz Felipe Pondé Publicado na Folha de SP

domingo, 11 de outubro de 2015

PEQUENO ROTEIRO PARA DISTINGUIR ENTRE EDUCAÇÃO E DOUTRINAÇÃO

O termo “educação” é o de problemática definição. Vários sentidos, muitas vezes com pouquíssima relação entre si, foram se agregando à palavra “educação” com o passar do tempo. A razão para essa infindável diversidade semântica foi a excepcional circunstância de que, a partir do Iluminismo, a educação passou a ter uma forte conotação emocional, significando “o instrumento fundamental de transformação individual e social”. Nesse sentido, a educação passou a ser um conceito agregador de todas as transformações sociais e individuais visualizadas pelas mais diversas correntes ideológicas.

Entre as várias definições reconhecidas de educação, destaco:

“Educação desenvolve no corpo e na alma do aluno toda a beleza e toda a perfeição de que ele é capaz.” (Platão)

“A educação é a criação da mente sadia em um corpo sadio. Desenvolve a faculdade do homem, especialmente sua mente, para que ele possa ser capaz de desfrutar a contemplação da verdade suprema, a bondade e beleza.” (Aristóteles)

“A educação é o desenvolvimento da criança de dentro.” (Rousseau)

“A educação é desdobramento do que já existe em germe. É o processo através do qual a criança faz com que o interno torne-se externo.” (Froebel)

“A educação é o desenvolvimento harmonioso e progressivo de todos os poderes e faculdades inatas do ser humano – físicas, intelectuais e morais.” (Pestalozzi)

“A educação é o completo desenvolvimento da individualidade da criança para que ela possa fazer uma contribuição original para a vida humana de acordo com o melhor de sua capacidade.” (T. P. Nunn)

Apesar dessa diversidade de definições, é possível identificar uma essência comum a todas elas: a educação diz respeito a um desenvolvimento, uma maturação, um florescimento do potencial individual. [1] Nesse sentido, a educação não é um pensamento ou uma teoria, mas uma forma de ação concreta sobre o indivíduo:

Educação é ação, e a definição de Durkheim parece-nos excelente: “A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda não amadureceram pela vida social.” Ação de uma personalidade sobre outras, criação de comunicações psicológicas entre seres humanos, a educação pertence ao domínio da arte: a arte de criar condições favoráveis a essa ação profunda, suscetível de orientar a evolução de um sujeito, a arte de manejar certas técnicas de ação, a arte de conduzir para os objetivos determinados aqueles cujo encargo nos pertence.

Analiticamente, é possível constatar que a educação:

Compreende diversos processos de aprendizagem no decorrer da vida, sem limitação a uma situação específica, como a escolar;

a)Consiste essencialmente no desenvolvimento de um poder inato da pessoa;

b)É um processo dinâmico, que se desenvolve de acordo com as mudanças na situação concreta da pessoa;

c)Em regra, é um processo tripolar, que requer a participação do educador, do educando e da sociedade em que eles vivem.

Propaganda [2] ou doutrinação é uma forma de comunicação que busca influenciar o comportamento dos destinatários em direção a determinada causa ou ideologia. A modificação comportamental, por sua vez, consiste em um estágio mais avançado da doutrinação, pois utiliza técnicas empiricamente demonstradas para aumentar ou diminuir a frequência de um comportamento. Há controvérsia a respeito da possibilidade de uma diferenciação essencial entre educação e propaganda ou doutrinação. Porém, considerando a educação no sentido clássico de “formação integral do ser humano”, é possível realizar uma série de distinções entre educação e doutrinação ou propaganda, como será detalhado no quadro a seguir.

Doutrinação e propaganda
Educação
Unilateral: Diferentes ou opostos pontos de vista são ignorados, deturpados, subrepresentados ou denegridos.
Multifacetada: As questões são examinadas a partir de muitos pontos de vista; os lados opostos são equitativamente representados.
Usa generalizações, declarações “totalizantes” e despreza referências e dados específicos.
Usa qualificadores: as declarações são apoiadas em referências e dados específicos.
Omissão seletiva: Dados cuidadosamente selecionados – e mesmo distorcidos – para apresentar apenas o melhor ou o pior caso possível. A linguagem é usada para esconder.
Equilibrado: Apresenta as amostras de uma ampla gama de dados disponíveis sobre o assunto. Linguagem usada para revelar.
Uso enganador das estatísticas.
Referências estatísticas qualificadas com respeito ao tamanho, duração, critérios, controles, fonte e subsídios.
Aglomeração: ignora distinções e diferenças sutis. Tenta reunir elementos superficialmente semelhantes. Raciocina por analogia.
Discriminação: Assinala as diferenças e distinções sutis. Use analogias com cuidado, apontando diferenças e casos de inaplicabilidade.
Falso dilema (ou/ou): apenas duas soluções para o problema ou duas maneiras de ver a questão - o “caminho certo” (o caminho do orador ou do escritor) e o “caminho errado” (qualquer outra forma).
Alternativas: Há muitas maneiras de resolver um problema ou visualizar uma questão.
Apelos a autoridade: declarações selecionadas de autoridades utilizadas para encerrar uma discussão. Abordagem “Só o especialista sabe”.
Apelos à razão: Declarações de autoridades e partes envolvidas utilizadas para estimular o pensamento e a discussão. “Especialistas raramente concordam”.
Apelos ao consenso ou “efeito arrastão”: “Se todo mundo está fazendo isso, então devem estar certos”.
Apelos aos fatos: fatos selecionados a partir de ampla base de dados. Aspectos lógicos, éticos, estéticos e psicoespirituais considerados.
Apelos às emoções: Usa palavras e imagens com fortes conotações emocionais.
Apelos à capacidade das pessoas para respostas fundamentadas e atenciosas: usa explicações e palavras emocionalmente neutras.
Rotulagem: usa rótulos e linguagem depreciativa para descrever os defensores de pontos de vista opostos.
Evita rótulos e linguagem depreciativa: aborda o argumento, e não as pessoas que apoiam um ponto de vista específico.
Promove atitudes de ataque e/ou de defesa com o objetivo de vender uma atitude ou produto.
Promove atitudes de abertura e de pesquisa. O objetivo é descobrir.
Ignora os pressupostos e os vieses embutidos.
Explora os pressupostos e os vieses embutidos.
O uso da linguagem promove a falta de consciência.
O uso da linguagem promove maior consciência.
Pode levar à pobreza de espírito e à intolerância.
Pode levar à compreensão e à visão mais abrangente.
Estudos citados escondem os conflitos de interesse das fontes de financiamento.
Estudos citados revelam os conflitos de interesse das fontes de financiamento.
As estatísticas sempre são apresentadas para mostrar o máximo de dano do problema e mínimo de danos da solução.
As estatísticas são apresentadas para mostrar vários aspectos do problema, nem sempre a partir de uma abordagem maximalista ou minimalista.
Notas:
[1] A palavra “educação” vem do latim educativo, que significa não apenas “educação, instrução”, mas também “ação de criar, alimentar; alimentação; criação; cultura”. É significativo ainda que a palavra educator, que deu origem a “educador” significa “aquele que cria, alimenta; pai; o que faz as vezes de pai. Aio; preceptor”. Por fim, educo significa “conduzir para fora; fazer sair; tirar de” (TORRINHA, Francisco. Dicionário Latino-Português, p. 278. Porto: Edições Maranus, 1945)

2] É preciso diferenciar propaganda de publicidade. A despeito de ambas terem por objeto a indução de determinados comportamentos, a propaganda tem um escopo mais amplo, pois busca definir uma ampla gama de comportamentos do destinatário, enquanto a publicidade busca apenas induzir os destinatários a se tornarem consumidores de terminados produtos ou serviços.
Por: Alexandre Magno Fernandes Moreira é advogado. Do site: http://www.midiasemmascara.org/