O termo “educação” é o de problemática definição. Vários sentidos, muitas vezes com pouquíssima relação entre si, foram se agregando à palavra “educação” com o passar do tempo. A razão para essa infindável diversidade semântica foi a excepcional circunstância de que, a partir do Iluminismo, a educação passou a ter uma forte conotação emocional, significando “o instrumento fundamental de transformação individual e social”. Nesse sentido, a educação passou a ser um conceito agregador de todas as transformações sociais e individuais visualizadas pelas mais diversas correntes ideológicas.
Entre as várias definições reconhecidas de educação, destaco:
“Educação desenvolve no corpo e na alma do aluno toda a beleza e toda a perfeição de que ele é capaz.” (Platão)
“A educação é a criação da mente sadia em um corpo sadio. Desenvolve a faculdade do homem, especialmente sua mente, para que ele possa ser capaz de desfrutar a contemplação da verdade suprema, a bondade e beleza.” (Aristóteles)
“A educação é o desenvolvimento da criança de dentro.” (Rousseau)
“A educação é desdobramento do que já existe em germe. É o processo através do qual a criança faz com que o interno torne-se externo.” (Froebel)
“A educação é o desenvolvimento harmonioso e progressivo de todos os poderes e faculdades inatas do ser humano – físicas, intelectuais e morais.” (Pestalozzi)
“A educação é o completo desenvolvimento da individualidade da criança para que ela possa fazer uma contribuição original para a vida humana de acordo com o melhor de sua capacidade.” (T. P. Nunn)
Apesar dessa diversidade de definições, é possível identificar uma essência comum a todas elas: a educação diz respeito a um desenvolvimento, uma maturação, um florescimento do potencial individual. [1] Nesse sentido, a educação não é um pensamento ou uma teoria, mas uma forma de ação concreta sobre o indivíduo:
Educação é ação, e a definição de Durkheim parece-nos excelente: “A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda não amadureceram pela vida social.” Ação de uma personalidade sobre outras, criação de comunicações psicológicas entre seres humanos, a educação pertence ao domínio da arte: a arte de criar condições favoráveis a essa ação profunda, suscetível de orientar a evolução de um sujeito, a arte de manejar certas técnicas de ação, a arte de conduzir para os objetivos determinados aqueles cujo encargo nos pertence.
Analiticamente, é possível constatar que a educação:
Compreende diversos processos de aprendizagem no decorrer da vida, sem limitação a uma situação específica, como a escolar;
a)Consiste essencialmente no desenvolvimento de um poder inato da pessoa;
b)É um processo dinâmico, que se desenvolve de acordo com as mudanças na situação concreta da pessoa;
c)Em regra, é um processo tripolar, que requer a participação do educador, do educando e da sociedade em que eles vivem.
Propaganda [2] ou doutrinação é uma forma de comunicação que busca influenciar o comportamento dos destinatários em direção a determinada causa ou ideologia. A modificação comportamental, por sua vez, consiste em um estágio mais avançado da doutrinação, pois utiliza técnicas empiricamente demonstradas para aumentar ou diminuir a frequência de um comportamento. Há controvérsia a respeito da possibilidade de uma diferenciação essencial entre educação e propaganda ou doutrinação. Porém, considerando a educação no sentido clássico de “formação integral do ser humano”, é possível realizar uma série de distinções entre educação e doutrinação ou propaganda, como será detalhado no quadro a seguir.
Doutrinação e propaganda
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Educação
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Unilateral: Diferentes ou opostos pontos de vista são ignorados, deturpados, subrepresentados ou denegridos.
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Multifacetada: As questões são examinadas a partir de muitos pontos de vista; os lados opostos são equitativamente representados.
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Usa generalizações, declarações “totalizantes” e despreza referências e dados específicos.
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Usa qualificadores: as declarações são apoiadas em referências e dados específicos.
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Omissão seletiva: Dados cuidadosamente selecionados – e mesmo distorcidos – para apresentar apenas o melhor ou o pior caso possível. A linguagem é usada para esconder.
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Equilibrado: Apresenta as amostras de uma ampla gama de dados disponíveis sobre o assunto. Linguagem usada para revelar.
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Uso enganador das estatísticas.
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Referências estatísticas qualificadas com respeito ao tamanho, duração, critérios, controles, fonte e subsídios.
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Aglomeração: ignora distinções e diferenças sutis. Tenta reunir elementos superficialmente semelhantes. Raciocina por analogia.
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Discriminação: Assinala as diferenças e distinções sutis. Use analogias com cuidado, apontando diferenças e casos de inaplicabilidade.
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Falso dilema (ou/ou): apenas duas soluções para o problema ou duas maneiras de ver a questão - o “caminho certo” (o caminho do orador ou do escritor) e o “caminho errado” (qualquer outra forma).
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Alternativas: Há muitas maneiras de resolver um problema ou visualizar uma questão.
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Apelos a autoridade: declarações selecionadas de autoridades utilizadas para encerrar uma discussão. Abordagem “Só o especialista sabe”.
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Apelos à razão: Declarações de autoridades e partes envolvidas utilizadas para estimular o pensamento e a discussão. “Especialistas raramente concordam”.
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Apelos ao consenso ou “efeito arrastão”: “Se todo mundo está fazendo isso, então devem estar certos”.
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Apelos aos fatos: fatos selecionados a partir de ampla base de dados. Aspectos lógicos, éticos, estéticos e psicoespirituais considerados.
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Apelos às emoções: Usa palavras e imagens com fortes conotações emocionais.
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Apelos à capacidade das pessoas para respostas fundamentadas e atenciosas: usa explicações e palavras emocionalmente neutras.
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Rotulagem: usa rótulos e linguagem depreciativa para descrever os defensores de pontos de vista opostos.
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Evita rótulos e linguagem depreciativa: aborda o argumento, e não as pessoas que apoiam um ponto de vista específico.
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Promove atitudes de ataque e/ou de defesa com o objetivo de vender uma atitude ou produto.
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Promove atitudes de abertura e de pesquisa. O objetivo é descobrir.
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Ignora os pressupostos e os vieses embutidos.
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Explora os pressupostos e os vieses embutidos.
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O uso da linguagem promove a falta de consciência.
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O uso da linguagem promove maior consciência.
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Pode levar à pobreza de espírito e à intolerância.
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Pode levar à compreensão e à visão mais abrangente.
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Estudos citados escondem os conflitos de interesse das fontes de financiamento.
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Estudos citados revelam os conflitos de interesse das fontes de financiamento.
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As estatísticas sempre são apresentadas para mostrar o máximo de dano do problema e mínimo de danos da solução.
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As estatísticas são apresentadas para mostrar vários aspectos do problema, nem sempre a partir de uma abordagem maximalista ou minimalista.
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Notas:
[1] A palavra “educação” vem do latim educativo, que significa não apenas “educação, instrução”, mas também “ação de criar, alimentar; alimentação; criação; cultura”. É significativo ainda que a palavra educator, que deu origem a “educador” significa “aquele que cria, alimenta; pai; o que faz as vezes de pai. Aio; preceptor”. Por fim, educo significa “conduzir para fora; fazer sair; tirar de” (TORRINHA, Francisco. Dicionário Latino-Português, p. 278. Porto: Edições Maranus, 1945)
2] É preciso diferenciar propaganda de publicidade. A despeito de ambas terem por objeto a indução de determinados comportamentos, a propaganda tem um escopo mais amplo, pois busca definir uma ampla gama de comportamentos do destinatário, enquanto a publicidade busca apenas induzir os destinatários a se tornarem consumidores de terminados produtos ou serviços.
2] É preciso diferenciar propaganda de publicidade. A despeito de ambas terem por objeto a indução de determinados comportamentos, a propaganda tem um escopo mais amplo, pois busca definir uma ampla gama de comportamentos do destinatário, enquanto a publicidade busca apenas induzir os destinatários a se tornarem consumidores de terminados produtos ou serviços.
Por: Alexandre Magno Fernandes Moreira é advogado. Do site: http://www.midiasemmascara.org/
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