quarta-feira, 31 de agosto de 2016

AO CONTRÁRIO DO SENDO COMUM, QUEM VOTA É QUE NÃO PODE RECLAMAR


Se você, assim como eu, não acredita em soluções pela via política, tenho a certeza de que, em algum momento, ao discutir política, você já se deparou com um interlocutor que, peito estufado e ar soberbo, disparou: “Se você não vota, então você não tem nenhum direito de reclamar!”

Qual o problema com esta afirmação? Simples: sua lógica está totalmente invertida. E é fácil explicar por quê.

Para começo de conversa, se eu não aceito a existência de algo (no caso, esta própria instituição chamada ‘governo’), qual seria a lógica de eu participar de um ato que implica meu consentimento para com sua existência? Qual é a lógica de eu participar de um ato que serve apenas para chancelar minha aprovação à existência deste esquema? Mais ainda: qual seria a lógica de eu fazer tudo isso e ainda reclamar da existência deste algo que desprezo?

Se você se associa a alguma coisa ou passa a lidar diretamente com ela, então passa a existir um entendimento tácito de que você aceitou suas condições. Torna-se subentendido que você chancelou sua existência.

Por exemplo, se eu não gosto de comida japonesa, eu não vou a restaurantes japoneses. Simples. E dado que os proprietários de restaurantes japoneses não podem vir atrás de mim e me forçar a frequentar seus estabelecimentos, então não há absolutamente nenhum motivo para eu reclamar de comida japonesa. Por outro lado, se eu voluntariamente for a um restaurante japonês, então isso significa que eu estou deixando claro que quero receber os serviços que ele oferta.

Da mesma forma, se você é um antipetista que defende a existência do estado — mas que obviamente não votou em Dilma —, você não tem direito nenhum de reclamar do governo; afinal, você, ao simplesmente ter votado em alguém (Serra, Marina ou Plínio), demonstrou concordar com a condição de que você iria aceitar os resultados da eleição independentemente de quem fosse o vencedor. Sim, você pode reclamar de alguns aspectos do governo, da mesma maneira que eu posso reclamar de alguma coisa na comida do restaurante do qual sou cliente. Mas isso não muda o fato de que, ao votar em alguém, você automaticamente demonstrou consentir com a existência do atual sistema e com todos os seus possíveis resultados e consequências.

Não faz sentido dizer “Eu defendo a existência de um governo, mas não gosto das políticas do atual governo”. Governos sempre fazem a mesma coisa: dão ordens, controlam, espoliam e redistribuem. O que varia é apenas a intensidade com que estes crimes são cometidos e quem é o espoliado. Mas os crimes nunca deixam de ser cometidos e pessoas nunca deixam de ser espoliadas. Esta é a essência de todo governo.

Por outro lado, dado que eu não aceito a legitimidade de um governo — tampouco creio ser necessário existir qualquer governo —, então eu, e apenas eu, tenho o direito de reclamar de absolutamente qualquer coisa relacionada a este sistema nefasto. Apenas eu posso criticar, sem nenhuma incoerência, todo e qualquer aspecto deste monopólio ineficiente e corrupto que me oprime e me espolia sem que eu sequer queira os “serviços” que ele fornece.

Você, que defende a existência deste ente sórdido e espoliador — mas que acha que ele poderia “ser gerenciado por pessoas melhores, mais honestas e mais competentes” — não tem nenhum direito de reclamar de qualquer aspecto negativo dele. Você está recebendo exatamente aquilo que você defende.

E aí, já decidiu em quem vai votar neste fim de semana?

Por Luis Almeida Um brasileiro indignado Do site: http://rothbardbrasil.com/

DIAS DOS PAIS: A DECADÊNCIA DA CULTURA OCIDENTAL

Filhas perdem o respeito para sempre de pais que traem a mãe delas


Metade das famílias americanas não irão festejar o Dia dos Pais.

Isso porque papai está morando com outra, e celebrando com os filhos dela.

Vendo o respeito que os quatro filhos do Trump têm de seu pai, comecei a pensar se essa não é a causa da decadência do Ocidente, que está ocorrendo a olhos vistos.

Filhos que não veem em seu pai um modelo a ser seguido, começam a vida com um problema.

Um grave problema!

Nascem perdidos, à procura de um modelo que não encontraram em casa.

E daí, podem cair nas graças de movimentos espertos que caçam jovens perdidos por aí: igrejas espertas, marxistas espertos, anarquistas e nihilistas.

O movimento feminista, no fundo, no fundo, não é um movimento a favor da mulher e sim um movimento contra o marido, o pai.

Um estudo científico, que li quarenta anos atrás, dizia que apesar da mãe estar muito mais presente, de cuidar da criança como ninguém, no fundo os filhos seguem os valores do pai.

Uma injustiça sem dúvida, mas explica muita coisa que as feministas odeiam.

Hoje, filhos e especialmente filhas são levados a não respeitar os pais, e muitos pais perdem facilmente o respeito dos filhos.

Filhas perdem o respeito para sempre de pais que traem a mãe delas, e com razão, e assim por diante.

Noventa por cento dos negros americanos não têm um pai presente, devido a um bolsa família dado pela esquerda americana para a mãe solteira.

No desespero, muitos negros abandonam seus filhos e filhas para que esses possam ter o bolsa família americano que é maior do que um negro ganha.

Marta Suplicy criou uma lei que proíbe o termo pai, para não constranger as famílias de lésbicas.

Logo logo vão suprir o próprio Dia dos Pais, um dos poucos dias do ano em que filhos e filhas paparicam hoje em dia os seus pais.

Sorte têm os poucos filhos de hoje que podem olhar para o pai com orgulho.

Que civilização sobrevive sem heróis a serem seguidos?

Se queremos salvar a decadência da cultura ocidental, seja um pai que se possa orgulhar todo dia do ano.

Não somente pelos seus filhos, mas pela sua esposa e comunidade.

Conselho de amigo. Por: Stephen Kanitz  Do site: http://blog.kanitz.com.br/


terça-feira, 30 de agosto de 2016

BASE FILOSÓFICA DO DINHEIRO

A editora norte-americana Lexington Books lançou recentemente o livro The Ontology and Function of Money – The Philosophical Fundamentals of Monetary Institutions, de Leonidas Zelmanovitz. O autor é brasileiro, com graduação em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, e doutorado em Economia Aplicada pela Universidade Rey Juan Carlos, em Madrid.


A obra não apenas versa sobre os fundamentos filosóficos das instituições financeiras e do dinheiro, como aborda inúmeros temas correlatos que têm atraído a atenção dos especialistas nos últimos tempos. E surge numa época em que, assolados por um cortejo de novidades ensejadas pelos avanços da tecnologia, os economistas, entre blackchains e bitcoins, a cada dia são levados a discutir mais intensamente algo tão instigante e intrigante como o fim do dinheiro. Não do dinheiro em sua acepção mais genérica, mas do dinheiro com suas funções clássicas, como hoje o conhecemos. Mais especificamente, do meio circulante fiduciário, ou seja, do papel pintado sem valor intrínseco, com legitimidade e aceitação baseadas tão somente na confiança.

O livro compõe um volume alentado, de quase 450 páginas, e trata de uma variedade considerável de questões teóricas com desdobramentos práticos, constituindo, assim, além de valioso roteiro de consulta, preciosa fonte de significativo valor instrumental. Relevante, portanto, sob inúmeros aspectos. No âmbito limitado de um simples artigo-resenha, é possível destacar apenas três deles.

O primeiro é a inegável contribuição da obra no mundo acadêmico, pois, como adiantado, ela aborda várias questões teóricas relevantes de inequívoco interesse para a formação e o treinamento das novas gerações de economistas.

Como o autor discute conceitos importantes na busca do aprimoramento da gestão pública nas esferas fiscal e monetária, o segundo ponto a ressaltar é a valia do livro como suporte teórico na formulação de políticas públicas eficazes. O que pode contribuir para melhorar as condições de inserção das economias emergentes no sistema financeiro global, que está a cada dia mais ágil e integrado.

O terceiro aspecto situa-se na esfera dos valores políticos e decorre da explicitação que o autor faz dos fundamentos filosóficos da moeda e das instituições financeiras. Como se sabe, a moeda, os negócios e os banqueiros não são invenções do capitalismo. Todavia o fato de que hoje o mundo se volta cada vez mais para a economia de mercado faz com que as idealizações do sistema financeiro, da moeda e dos negócios estejam, no imaginário popular, associadas ao modo de produção capitalista.

E em se tratando de capitalismo, o que se verifica no mundo real é que a vulgata panfletária do marxismo propaga, com eficácia, a ideia de que os empresários – em especial os banqueiros, ícones desse sistema – são a expressão maior do mal na Terra. A imagem difundida é a de que a atividade empresarial, notadamente no setor financeiro, é exclusivamente motivada pela cupidez humana. Como se todo empreendedor, por definição, fosse intrinsecamente aético e desonesto.

É inegável que existem empresários e banqueiros aéticos e desonestos. Como há, por exemplo, políticos e burocratas aéticos e desonestos. Mas daí à generalização vai uma grande distância. Ainda que a alguns soe estranho, o fato é que existe um ethos empresarial, um ethos capitalista. Negar isso é negar a própria realidade. Nesse sentido, a obra explicita à exaustão, sobretudo no campo da ética, a importância dos fundamentos filosóficos da atividade empresarial em geral e da financeira em particular.

A propósito, cabem duas menções. A primeira, a de que Adam Smith, um dos principais formuladores do liberalismo econômico, era professor de Ética em Glasgow. Na época, e para ele, a Ética e a Economia constituíam uma mesma e indissociável disciplina.

A outra menção se liga a uma das causas que levaram Max Weber a se interessar pela ética protestante e o espírito do capitalismo. Ainda jovem, ao pesquisar a atividade rural nas províncias a leste do Elba, Weber impressionou-se com a postura ética dos negociadores de produtos agrícolas. Para sua surpresa, ele constatou que os preços acertados de boca com os agricultores meses antes da colheita eram, depois, rigorosamente honrados, mesmo quando circunstâncias supervenientes, como as de ordem climática, alteravam de forma significativa o valor da produção, gerando lucro inesperado para uns e prejuízo para outros.

Compete, ainda, registrar que, dirigida principalmente aos economistas, a obra inclui algumas passagens aparentemente menos acessíveis aos não iniciados. Como, por exemplo, quando, ao projetar o futuro da moeda, indaga “(...) se pode o dinheiro tornar-se apenas uma unidade de conta sem existência material e não mais um meio de pagamento”. Ou “(...) se o dinheiro será sempre um meio de pagamento e não mais uma unidade de conta”. Ou, ainda, (...) se caminharemos para “um sistema monetário com base zero e a divisão do dinheiro em uma unidade de conta, e um ou mais meios de pagamento”.

Não obstante tais passagens menos abertas ao grande público, a obra em comento pode, ainda assim, contemplar o interesse de leitores não especializados, sobretudo os afeitos à filosofia, à História e à política.

Escrito e lançado em inglês, espera-se que o livro seja editado também em espanhol e em português. Isso porque sua maior difusão, sobretudo na América Latina (AL), viria a constituir importante ferramenta para auxílio à formulação de políticas públicas fiscais e monetárias nos países da região. Além de estender seus ensinamentos às universidades destas longitudes. 
Por: Marcos Poggi É economista e escritor Publicado originalmente no Estadão

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O NORMAL E O PATOLÓGICO NUMA SOCIEDADE CONTURBADA

É completamente demagógico e irresponsável querer educar as crianças e os jovens sem lhes criar limites, e sem lhes dizer claramente que existem comportamentos normais e outros patológicos.


Nas últimas semanas fomos confrontados com dois temas noticiosos referentes a enormes tragédias: os atentados homicidas na Europa e os fogos que destroem o país. De acordo com a informação disponível, em alguns casos, na sua origem há fortes indícios de terem sido cometidos por indivíduos mentalmente perturbados, criando um sentimento de insegurança na população. Apesar destes temas serem complexos e multifatoriais, eles também são do campo da psiquiatria, podendo ter várias origens e algumas delas pouco evidentes.

Julgo que se tem caminhado para um esbatimento perigoso dos limites entre o normal e o patológico, reforçado pela negação da existência de uma lei natural, coincidente com um conjunto de normas morais comuns, que qualquer ser humano pode conhecer à luz da razão: não matar, roubar, mentir, agredir, etc. Se forem esbatidos os limites entre o normal e o patológico coloca-se em risco a liberdade, destruindo-se uma legitima barreira de proteção contra o arbítrio dos insanos e dos perversos.

Apesar de ser um tema controverso, e com alguns dados contraditórios, existem diversos estudos científicos que estabelecem uma relação entre o aumento do risco de comportamentos disruptivos e agressivos e os videojogos violentos. A exposição continuada a este tipo de jogos pode reduzir a empatia e o comportamento social ajustado. Por outro lado, o uso excessivo da internet foi relacionado com baixa autoestima, sentimentos de isolamento e problemas de comportamento.

Os jovens de hoje passam cada vez mais tempo a jogar videojogos. Um dos jogos mais populares é o Grand Theft Auto (GTA). Embora destinado a adultos, é jogado maioritariamente por crianças e adolescentes. Basta ler a descrição do jogo, retirada da Wikipédia, para se perceber o que está em causa:

“O jogo é considerado exclusivamente dedicado a adultos, devido a temas como violência, assassinato, drogas, incitações e exposições sexuais, tortura, mutilação e etc. E também pela grande liberdade que o jogo dá em relação ao que o personagem pode fazer: este é capaz de agredir e matar pessoas, roubar veículos, propagar o caos, entre muitas outras coisas”.

Se é verdade que muitos jovens poderão jogar alguns jogos violentos sem haver um grande impacto na sua saúde psíquica, também é verdade que estes fatores podem ter um efeito cumulativo com uma fragilidade psíquica pré-mórbida, funcionando como um rastilho para comportamentos antissociais extremamente violentos. É preciso haver controlo parental, não apenas no tempo que as crianças passam a jogar, como ainda no conteúdo temático dos jogos.

Temos de admitir abertamente que nem tudo aquilo que nos é proposto é bom para nós, e que o autocontrolo é uma característica ligada à maturidade. É completamente demagógico e irresponsável querer educar as crianças e os jovens sem lhes criar limites, e sem lhes dizer claramente que existem comportamentos normais e outros patológicos. Por exemplo, pode ser normal beber álcool moderadamente, mas é patológico beber em excesso.

O ambiente familiar está na origem de muitas doenças psiquiátricas. A educação facultada pelos pais aos filhos é uma missão partilhada em família. A transmissão de valores éticos, morais, e um conjunto de competências para se viver ajustado em sociedade, é garantida pela educação. Mas a vida familiar tem mudado muito nos últimos tempos. O sequestro de pais e filhos pelos ecrãs (computador, telemóveis, televisão, etc.) é quase total, desaparecendo o espaço para a comunicação e o tempo destinado à partilha. O esgotamento de um dia de trabalho, que na sociedade atual se tem revelado cada vez mais prolongado, priva os educadores da energia e da disponibilidade indispensável para educar. A procura de fármacos para controlar os comportamentos das crianças, numa tentativa de substituir o afeto e a educação proporcionada pelos pais, é cada vez maior.

A saúde mental também se previne, e os comportamentos antissociais são muitas vezes reflexo de um desequilíbrio psíquico. Tal como na nossa vida pessoal, na sociedade os erros pagam-se sempre. A desconstrução entre o normal e o patológico, a prática, ainda que num mundo virtual, de comportamentos antissociais, juntamente com o esvaziamento do papel da família e de uma educação estruturada com regras e limites, terá como consequência o aumento do número de casos de perturbações psiquiátricas. Para defesa da sociedade, é importante garantir que hajam limites definidos entre o normal e o patológico, evitando-se a ideia de que a doença mental é apenas um problema de vida.
Por: Pedro Alfonso Médico Psiquiatra Do site: http://observador.pt/

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

ALEMANHA: "SEM MUDANÇAS NA POLÍTICA DE PORTAS ABERTAS PARA A IMIGRAÇÃO"

- A Chanceler Merkel disse estar ciente que os alemães estão preocupados com a segurança pessoal: "estamos fazendo o humanamente possível para garantir a segurança na Alemanha," observou ela, acrescentando: "ansiedade e medo não podem nortear nossas decisões políticas."


- "A chanceler continua empenhada em seguir na direção atual. Segue a ladainha clássica de Merkel: 'é necessário que haja uma avaliação minuciosa'." — Thomas Vitzthum, editor político do jornal Die Welt.

- "O país está dividido, seus cidadãos têm enorme sensação de insegurança? 'Nós chegaremos lá!' Ataques sexuais contra mulheres em piscinas e em festivais? 'Nós chegaremos lá!' Ataques terroristas perpetrados por islamitas na Alemanha? 'Nós chegaremos lá!' Crescente frustração e aumento da apatia política entre a população? 'Nós chegaremos lá!' Mas quem são esses 'nós'? ... Nem uma palavra aos cidadãos que, por um ano, tiveram que lidar com as consequências dos ataques dos asilados. Nem uma palavra às comunidades locais que não têm condições de lidar com o custo e o peso do acolhimento dos candidatos a asilo." — Editorial do jornal Junge Freiheit.

A chanceler alemã Angela Merkel rejeitou as críticas quanto à sua decisão de permitir a entrada de mais de 1 milhão de migrantes, em sua maioria de muçulmanos, na Alemanha no ano passado.

Discursando em uma entrevista coletiva que acontece anualmente no verão, em 28 de julho em Berlim, Merkel em tom desafiador ignorou as críticas em relação a política no tocante aos refugiados, insistindo que não haverá nenhuma mudança de postura quanto a política de portas abertas para a imigração. Ela também afirmou que não tem nenhuma responsabilidade pela recente onda de ataques violentos ocorridos na Alemanha.

A Alemanha ficou chocada por causa de um ataque com um machado em um trem em Würzburg, um tiroteio em massa em Munique, um ataque com um facão em Reutlingen e um atentado suicida em Ansbach — tudo em apenas uma semana.

Os ataques, que deixaram 13 mortos, foram cometidos por muçulmanos: três dos ataques foram perpetrados por candidatos a asilo juntamente com um iraniano-alemão que alimentava ódio aos árabes e turcos.

Merkel, que interrompeu as férias de verão para participar da entrevista coletiva de 90 minutos, entrevista esta que foi adiada por um mês, reiterou seu lema: "Nós chegaremos lá!" ("Wir schaffen das!"). Ela tem repetido a frase diversas vezes desde que a crise migratória explodiu na Alemanha em 4 de setembro de 2015, quando ela abriu a fronteira alemã para dezenas de milhares de migrantes retidos na Hungria. Ela ressaltou:


"Estamos determinados a cumprir as nossas obrigações humanitárias. Eu não disse que seria fácil. Eu disse naquela época e vou dizer novamente agora, temos condições de atingir nossa missão histórica — é um teste histórico em tempos de globalização — assim como alcançamos tanta coisa até agora, nós chegaremos lá também. A Alemanha é um país forte."

Merkel disse que a meta dos jihadistas é "dividir nossa união e minar o nosso estilo de vida. Eles querem frustrar nossa abertura de acolher pessoas. Eles também querem semear ódio e medo entre culturas e entre religiões."

A chanceler disse estar ciente que os alemães estão preocupados com a segurança pessoal: "estamos fazendo o humanamente possível para garantir a segurança na Alemanha," observou ela, acrescentando: "ansiedade e medo não podem nortear nossas decisões políticas."

Merkel também traçou um plano de nove pontos para aumentar a segurança na Alemanha: 1) criação de um sistema de alerta antecipado para identificar a radicalização de migrantes; 2)aumento do staff nas agências de inteligência da Alemanha; 3) um departamento de tecnologia de informação, com o objetivo de rastrear as comunicações entre jihadistas na internet; 4) realizar regularmente exercícios conjuntos com a polícia e com as forças armadas com a finalidade de praticar medidas de contraterrorismo; 5) expandir a investigação sobre o terrorismo islâmico e a radicalização; 6) melhorar a cooperação europeia em relação ao compartilhamento de informações; 7) limitar a venda de armasonline; 8) registro nacional para monitorar as pessoas que entram e saem do país; e 9) facilitar a deportação de candidatos a asilo que infringem a lei.

Merkel concluiu se recusando em ceder um milímetro: "para mim está claro: seguiremos nossos princípios. Daremos refúgio e proteção, segundo a Convenção de Genebra, aos perseguidos politicamente", acrescentando: "eu não posso prometer que jamais teremos que absorver outra onda de refugiados em massa."

A chanceler alemã Angela Merkel (esquerda) rejeita as críticas quanto à sua decisão de permitir a entrada de mais de 1 milhão de migrantes, em sua maioria de muçulmanos, na Alemanha no ano passado. "Temos condições de atingir nossa missão histórica... Nós chegaremos lá. ... Ansiedade e medo não podem nortear nossas decisões políticas," salientou Merkel em uma entrevista coletiva à imprensa em 28 de julho, acrescentando: "eu não posso prometer que jamais teremos que absorver outra onda de refugiados em massa."

Merkel tem sido alvo de crescentes críticas pela sua maneira de lidar com a crise migratória. O partido anti-imigração, Alternativa para a Alemanha (AfD), observou:

"Dado o crescimento vertiginoso de incidentes de extrema gravidade, a AfD exorta urgentemente o governo a cumprir o seu dever e estabilizar a situação da segurança na Alemanha através de controles eficientes das fronteiras. É imperativo o prosseguimento de outras medidas como por exemplo a imediata e consistente deportação de criminosos."

O jornal, Bayernkurier, publicado pelo Partido União Social Cristã (CSU), partido gêmeo da Baviera da União Democrata Cristã (CDU) de Merkel, assinalou:

"As políticas de Angela Merkel não só serviram como pacote de estímulos para os populistas de direita, como os riscos de segurança que a chanceler criou com suas fronteiras abertas também mostraram ser inequivocamente claros."

O jornal Die Welt, ressaltou que a repetição de Merkel : "Nós chegaremos lá!" equivale a uma "provocação", criticando seu plano de nove pontos como "vago". Em um ataque áspero, o editor político do jornal Thomas Vitzthum, realçou:

"Angela Merkel mantém a sua posição. Ela defende suas ações do ano passado. Não há admissão de equívocos. Nem se deve esperar arrependimentos no futuro. A chanceler continua empenhada em seguir na direção atual. Segundo ela agora não é o momento certo de discutir a implementação de novas medidas. Segue a ladainha clássica de Merkel: 'é necessário que haja uma avaliação minuciosa'. "

Em um editorial, o jornal Junge Freiheit, com viés de direita, salienta que Merkel não se importa com as consequências de suas políticas:

"O país está dividido, seus cidadãos têm enorme sensação de insegurança? 'Nós chegaremos lá!' Ataques sexuais contra mulheres em piscinas e em festivais? 'Nós chegaremos lá!' Ataques terroristas perpetrados por islamitas na Alemanha? 'Nós chegaremos lá!' Crescente frustração e aumento da apatia política entre a população? 'Nós chegaremos lá!'

"Quem chegará lá? Nenhuma palavra de Merkel. Nenhuma palavra sobre as mulheres que foram vítimas de ataques sexuais em Colônia e em outros lugares — as vítimas daqueles que Merkel trouxe ao país com sua política de fronteiras abertas e rostos amigáveis.

"Nem uma palavra aos cidadãos que, por um ano, tiveram que lidar com as consequências dos ataques dos asilados. Nem uma palavra às comunidades locais que não têm condições de lidar com o custo e o peso do acolhimento dos candidatos a asilo. Nem uma palavra dirigida à polícia, que atingiu seu limite graças a imigração desenfreada. Nem uma palavra sobre o racionamento dos estoques de alimentos devido as batalhas sobre a distribuição de comida. Nem uma palavra sobre a divisão na sociedade, causada pela política de refugiados de Merkel — não se trata apenas de um país dividido, mas também da divisão nas famílias e em grupos de amigos. Nem uma palavra sobre suas decisões que diminuíram a influência da Alemanha na Europa."

O jornal Bild, ressaltou:

"As coisas só poderão ir bem se os problemas forem realmente resolvidos! Mais especificamente, as deportações de candidatos a asilo são um problema de vulto. Durante meses o governo vem se comprometendo a acelerar as repatriações, mas houve pouco avanço. Em relação ao plano de nove pontos para combater o terrorismo: queremos ver alguma ação ao invés de só lenga-lenga! Porque no próximo verão os alemães julgarão Merkel pelo que ela realmente fez."

Uma recente pesquisa de opinião constatou que dois terços dos alemães se opõem a um quarto mandato para Merkel. Somente 36% dos entrevistados disseram que queriam Merkel e a CDU para liderar o governo após as eleições federais de 2017.

Por: Soeren Kern: colaborador sênior do Gatestone Institutesediado em Nova Iorque. Ele também é colaborador sênior do European Politics do Grupo de Estudios Estratégicos / Strategic Studies Group sediado em Madri. Siga-o no Facebook e no Twitter. Seu primeiro livro, Global Fire, estará nas livrarias em 2016.Original em inglês: Germany: "No Change to Open-Door Migration Policy"
Tradução: Joseph Skilnik Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O PAPA E A GUERRA SANTA

- O Ocidente que eles ora aterrorizam deixou-se enfraquecer. Uma combinação de correção política, medo de ofender, medo de lutar e a relutância em perturbar a estabilidade ilusória têm levado a uma incrível série de oportunidades para os jihadistas.


- Baixamos a nossa guarda e nos afastamos. Não porque não dispomos de forças de segurança. Dispomos sim. É porque muitas vezes não dirigimos nossos olhos para as coisas certas: os textos e sermões que promovem a radicalização.

- O Nobre Alcorão nomeia os muçulmanos como guardiões da humanidade, que ainda não atingiu sua maioridade, e lhes concede os direitos de suserania e domínio sobre o mundo a fim de realizar esta sublime tarefa. ... Chegamos à conclusão de que é nosso dever estabelecer a soberania sobre o mundo e guiar toda a humanidade aos legítimos preceitos do Islã e seus ensinamentos..." -- Hassan al-Banna, fundador da Irmandade Muçulmana.

Na manhã de 26 de julho, o Padre Jacques Hamel de 85 anos de idade foi assassinado no altar a facadas, enquanto celebrava a missa, por um dos dois devotos do Estado Islâmico que haviam invadido a igreja. O assassino cortou sua garganta e poderia muito bem tê-lo decapitado, como é o costume de muitos carrascos jihadistas. Os seguidores de uma fé que glorifica os assassinos como mártires (shuhada') criaram um mártir de fé completamente diferente.

Tanto em grego quanto em árabe, os termos "mártir" e shahid significam exatamente a mesma coisa: "testemunha". O Padre Hamel foi o mártir mais recente em uma longa lista de mártires cristãos que foram mortos por homens da violência, teoricamente para dar provas da verdade absoluta de sua fé. Muitos mártires muçulmanos morreram dessa mesma forma, e muitos mais ainda deram suas vidas travando a guerra da (jihad) com o objetivo de conquistar territórios para o Islã. [1]

Na bandeira do estado islâmico está escrito o seguinte: "la ilaha illa'llah, Muhammadun rasulu'llah". Estas palavras querem dizer: "não há outro Deus a não ser Alá; Maomé é o Profeta de Alá". Estas duas frases são conhecidas como a shahada, prestar testemunha. Hoje em dia é possível ouvi-la em todos os lugares, na Síria, de novo na França ou no Reino Unido. Shahada também significa martírio. E martírio durante um ato de violência é que os assassinos de um homem de Deus, inocente, alcançaram naquele dia quando policiais armados os encontraram e os mataram fora da igreja que eles haviam profanado.

No dia seguinte, o Líder da Igreja Católica Papa Francisco, emitiu um comunicado sobre o acontecido e por um momento parecia que ele finalmente tinha feito a coisa certa. Ele disse que o mundo estava em guerra. Décadas depois da guerra ter começado, estávamos diante de um líder religioso e político que parecia ter despertado para o fato de que os países ocidentais foram involuntária e ineficazmente deixando de travar a guerra contra o radicalismo islâmico. Ou talvez seja mais correto dizer que o radicalismo islâmico está travando uma guerra contra nós.

Aí ele estragou tudo. O que ele disse foi o seguinte:

"é guerra, não temos que ter medo de dizer que é guerra... uma guerra de interesses, por dinheiro, por recursos naturais. Eu não estou falando de uma guerra de religiões. As religiões não querem guerra. Os outros querem a guerra."

O que? Matar um padre em seu altar está ligado a "interesses, dinheiro e recursos naturais"?. Os assassinos foram movidos por um anseio de justiça social, por mais dinheiro, por acesso a mais recursos naturais? Eles acreditavam que a morte violenta de um padre inofensivo lhes traria alguma dessas coisas? Eles não foram lá roubar objetos valiosos da mesa do altar, os incensários, os castiçais, o crucifixo, o ostensório. Os assassinos gritavam "Allahu akbar", literalmente "Deus é Grande" (em relação e, acima de tudo, especialmente para os muçulmanos, significa a Trindade Cristã, supostamente não monoteísta e a Igreja). Como já estamos cansados de saber, "Allahu akbar" é uma frase religiosa que os muçulmanos usam com frequência. É o início da chamada para a oração, adhan, repetida seis vezes, cinco vezes por dia, precedida e seguida pela shahada. A frase ressoa nos ouvidos ocidentais toda vez que muçulmanos na Europa e na América do Norte cometem ataques ou como prenúncio de um ataque suicida. É exatamente porque os muçulmanos acreditam que seu Deus (chamado em árabe de Alá) é superior a todos os outros deuses, porque para eles o Islã é a maior de todas as religiões e, por último, porque o Islã está destinado a conquistar o mundo, seja pela conversão seja por meio da violência.

O que o Papa Francisco quis dizer com: "as religiões não querem a guerra. Os outros querem a guerra"? O Papa é um homem que tem acesso interminável a faculdades de estudiosos, de acadêmicos de todo o mundo, especialistas em Islã e Oriente Médio. Simplesmente não é verdade. Para começar, quem são esses "outros"? Pessoas não religiosas? Ateus? Agnósticos? Protestantes?

Para vencer uma guerra é preciso ser capaz de identificar o inimigo, entender seus motivos, descobrir o que exatamente faz com que seus soldados arrisquem suas vidas em combate, saber por qual causa mães e esposas enviam seus maridos e filhos à luta, sabendo que podem nunca mais voltar. Ignore tudo isso, invente motivos falsos que conduzem o inimigo ou deixe de saber qual seu objetivo final e a guerra estará perdida. "Se você souber quem é seu inimigo e conhecer a si mesmo, não terá porque temer o resultado de cem batalhas", disse o grande general chinês Sun Tzu, em A Arte da Guerra.

Um dia depois daquele comentário, o Papa lamentavelmente expôs ainda mais a sua ignorância. Um comunicado na revista católica Crux esclarecia:

O Papa disse que em todas as religiões há pessoas violentas, "um pequeno grupo de fundamentalistas," inclusive no catolicismo.

"Quando o fundamentalismo chega ao extremo de assassinar... é possível matar com a língua e também com a faca," disse ele.

"Eu acredito que não é justo igualar o Islã com a violência. Não é justo e não é verdade," continuou ele, acrescentando que teve uma longa conversa com o Grande Imã de Al-Azhar, a Universidade islâmica do Cairo, frequentemente descrita como o Vaticano do mundo sunita.

"Eu sei o que eles pensam. Eles querem a paz, a convergência" ressaltou ele. (Itálico adicionado pelo autor)

Lamentavelmente é evidente que o Papa (assim como centenas de políticos e líderes religiosos no Ocidente, exceto em Israel) não sabe absolutamente nada sobre seu inimigo. Se o Papa acha que "as religiões não querem a guerra", fica claro que ele nunca estudou o Islã nem recebeu nenhuma orientação confiável a seu respeito de ninguém. Eis porque.

Os últimos capítulos do Alcorão contêm dezenas de versos, que exortam os crentes a saírem para lutar na jihad ou usarem seus recursos para pagar outros a lutarem em seu lugar. O objetivo da jihad é "o fortalecimento do Islã, a proteção dos crentes e o fim da falta de fé na terra". [2]

De acordo com um especialista em jihad, contemporâneo nosso, "o Alcorão... apresenta justificativas religiosas bem articuladas para empreender guerras contra os inimigos do Islã". [3]

O Islã não é apenas uma religião, é um sistema de governança. Veja o que diz Hassan al-Banna, fundador da onipresente Irmandade Muçulmana:

O Islã é um sistema abrangente que lida com todas as esferas da vida. É um estado e uma pátria (um governo e uma nação). É moralidade e poder (misericórdia e justiça); é uma cultura e uma lei (conhecimento e jurisprudência). É substância e riqueza (ganho e prosperidade). É um empenho e um chamamento (um exército e uma causa). E por fim, é culto e adoração verdadeiros. [4]

O que isto significa para aqueles que não são muçulmanos? Banna novamente deixa isso bem claro:

isso significa que o Nobre Alcorão nomeia os muçulmanos como guardiões da humanidade, que ainda não atingiu sua maioridade, e lhes concede os direitos de suserania e domínio sobre o mundo a fim de realizar esta sublime tarefa. Portanto é nossa preocupação não a do Ocidente e isso diz respeito à civilização islâmica, não à civilização materialista. Chegamos à conclusão de que é nosso dever estabelecer a soberania sobre o mundo e guiar toda a humanidade aos legítimos preceitos do Islã e seus ensinamentos, sem os quais a humanidade não terá condições de alcançar a felicidade.[5]

Papa Francisco (direita), disse recentemente: "eu não estou falando de uma guerra de religiões. As religiões não querem guerra", e "eu acredito que não é justo igualar o Islã com a violência. Não é justo e não é verdade". Hassan al-Banna (esquerda), fundador da Irmandade Muçulmana, escreveu que "o Nobre Alcorão nomeou os muçulmanos como guardiões da humanidade, que ainda não atingiu sua maioridade, e lhes concede os direitos de suserania e domínio sobre o mundo a fim de realizar esta sublime tarefa."

A literatura da tradição islâmica encontrada em seis coleções canônicas apresenta descrições da jihad e instruções de como lutar em nome dela. Não se deixe enganar por repetidos ofuscamentos, "a maior jihad é a luta consigo mesmo, uma guerra espiritual". Não há nenhuma menção a este conceito nos textos clássicos. [6] Durante séculos, a jihad significou guerra física. Até as místicas irmandades Sufi se envolveram nessa luta totalmente física. [7]

O profeta islâmico Maomé liderou seus homens em batalhas em inúmeras ocasiões e enviou tropas de assalto em cerca de 100 ataques e expedições. [8] Seus sucessores, os califas, fizeram o mesmo. Meio século depois da morte de Maomé em 632 d.C., forças muçulmanas já tinham conquistado metade do mundo conhecido. As guerras santas (Jihad) continuaram a ser travadas anualmente por todos os grandes impérios islâmicos, sem nenhuma exceção.

Os dois primeiros grandes impérios islâmicos, o dos Omíadas (de 661 a 750) e de seus sucessores, sob a nova dinastia de califas e os abássidas (de 750 a 1258) que empreenderam expedições anuais (geralmente duas ou mais por ano) contra o Império Bizantino (sediados em Constantinopla). Estes ataques constituíam uma tradição baseada nas primeiras jihads (guerras santas) tanto no Ocidente quanto no Oriente. Os ataques nunca eram improvisados e sim muito bem planejados. Normalmente havia duas campanhas de verão, muitas vezes seguidas por expedições de inverno.

As jihads de verão eram geralmente compostas de dois ataques separados. Uma investida era chamada de "expedição da esquerda". Ela era lançada das fortalezas da fronteira da Sicília cujas tropas eram em sua maioria de origem síria. A "expedição da direita", a maior, era lançada da província oriental anatoliana de Malatya, onde se posicionavam as tropas iraquianas. Estas expedições da jihad atingiram o seu auge no terceiro grande império, o dos otomanos, que conquistaram Constantinopla em 1453, pondo um fim ao Império Bizantino. Constantinopla recebeu o nome de Istambul e a sua principal Basílica, Hagia Sophia, foi transformada na mesquita imperial dos otomanos.

As organizações jihadistas de hoje, do Estado Islâmico, al-Qaeda, os talibãs, Jihad Islâmica, Jabhat al-Nusra, Boko Haram, Hamas à al-Shabaab e centenas de outras, estão simplesmente empreendendo, em um contexto maior, as guerras da jihad do século XIX. [9]

Ao que tudo indica os jihadistas preferem a guerra ao trabalho missionário (embora haja grupos como os Tablighi Jamaat, paquistaneses, que fazem esse tipo de trabalho), porque essas guerras os remetem aos dias de Maomé e seus companheiros, as três primeiras gerações belicistas. O termo salafista, hoje usado para designar a maioria dos grupos islâmicos mais radicais, vem de salaf que significa "ancestral", mas com um significado próprio das primeiras três gerações do Islã. Maomé, seus primeiros seguidores, seus filhos e netos. Os jihadistas adotam essa postura porque, tendo perdido a força militar a partir do colapso do Império Otomano em 1918, parecem ainda se sentir compelidos a lutar contra o poder do Ocidente, o triunfo dos cristãos (ou em Israel, dos judeus). Alá, aos seus olhos, prometeu aos seus seguidores, os muçulmanos, que um dia eles governarão o mundo,[10] e por muitos séculos os muçulmanos podem ter até acreditado que isto estava realmente acontecendo. Então essas esperanças foram por água abaixo. Impérios ocidentais começaram a conquistar, colonizar e governar estados muçulmanos, como por exemplo o norte da Índia, Argélia, Egito, Sudão, Líbia e outras regiões -- um retrocesso totalmente inimaginável.

Para contra-atacar, os jihadistas optaram por usar a melhor arma à sua disposição: o terrorismo. Pior do que isso, o Ocidente que eles ora aterrorizam deixou-se enfraquecer. Uma combinação de correção política, medo de ofender, medo de lutar e a relutância em perturbar a estabilidade ilusória têm levado a uma incrível série de oportunidades para os jihadistas.

Por exemplo, o jovem islamista que assassinou o padre na França, foi preso duas vezes por tentar viajar para a Síria a fim de lutar ao lado do Estado Islâmico. Quando do assassinato, as gentis autoridades o haviam forçado a usar uma tornozeleira eletrônica para que ele fosse monitorado -- mas ele deveria ficar em casa apenas durante a noite. Durante o dia ele tinha autorização de perambular livremente pelas ruas. Naquela manhã fatídica, ele resolveu entrar com o seu companheiro em uma igreja próxima e satisfazer sua ânsia pelo martírio e de matar um cristão.

Lamentavelmente, o Papa Francisco não poderia estar mais equivocado. Uma religião queria travar guerras desde a sua concepção. Tivemos que nos proteger delas por mais de 1400 anos até quando o Império Otomano foi barrado nas portas de Viena em 1683. Agora baixamos a nossa guarda e nos afastamos. Não porque não dispomos de forças de segurança. Dispomos sim. É porque muitas vezes não estamos atrás das coisas certas: os textos e sermões que promovem a radicalização.

Por qual motivo jovens muçulmanos normais se tornam recrutadores de extremistas? Cristãos, hindus, judeus, budistas e baha'is jovens não seguem o mesmo caminho. Será que isso acontece porque um número considerável de jovens muçulmanos, primeiro nos países islâmicos e agora no Ocidente, são doutrinados desde cedo que o Islã tem como meta a dominação, que a jihad não é um mal e sim uma expressão de sua fé, que eles sofrem por serem vítimas da "islamofobia", que as mulheres ocidentais são imorais e que outras religiões são falsas?

É hora de acordar. Gostemos ou não, estamos realmente em guerra. Leon Trotsky disse o seguinte: "você pode não estar interessado na guerra, mas a guerra está interessada em você".

Nosso inimigo é uma versão extremista do Islã que precisa passar por uma reforma, versão esta que remete os muçulmanos, não de volta ao século VII, mas os leva ao século XXI e provavelmente mais para a frente.

O Dr. Denis MacEoin, sediado na Inglaterra, é especialista em Islã.

[1] "O conceito de martírio no Islã foi elaborado de forma diferente do que no cristianismo ou no judaísmo. O martírio no Islã tem um sentido muito mais ativo: o mártir em potencial é induzido a procurar situações em que o martírio pode ser alcançado. " David Cook em Understanding Jihad, University of California Press, 2015, p. 26.

[2] Rudolph Peters Islam and Colonialism: The Doctrine of Jihad in Modern History, Haia, 1979, pág. 10

[3] Cook, pág. 11.

[4] Hasan al-Banna, Message for Youth, trans. Muhammad H. Najm, Londres, 1993, pág. 6

[5] Wendell Charles (trans), The Five Tracts of Hasan Al-Banna (1906-1949), University of California Press, 1978, págs. 70 a 73.

[6] "Tradições que indicam que a jihad tinha o significado de guerra espiritual... estão totalmente ausentes de qualquer texto canônico oficial (exceto a al-Tirmidhi, que cita: 'o combatente é aquele que combate suas paixões'; elas aparecem com mais frequência nas coleções de textos ascéticos ou nos provérbios." Cook, pág. 35.

[7] "Este paradigma persistiu em tempos medievais, onde encontramos por diversas vezes grupos sufistas combatendo os inimigos do Islã. Por exemplo, depois de derrotarem os cruzados liderados por Guy de Lusignan na Batalha dos Chifres de Hattin (1187), o líder muçulmano Salah al-Din al-Ayyubi (Saladino) (1169-1191) entregou os cruzados capturados a vários de seus regimentos sufistas para serem massacrados. "Cook, pág. 45.

[8] Uma lista abrangente, detalhada com observações e comentários encontra-se disponível na Wikipedia.

[9] Para obter mais detalhes, consulte Rudolph Peters, trechos.

[10] "Ele (Alá) foi quem enviou seu Mensageiro (Maomé) trazendo a orientação e a Verdadeira Religião para fazer com que o Islã seja dominante sobre todas as outras religiões" (Alcorão 09:33). O quinto verso da mesma surata é conhecido como o "Verso de Espada", porque é o primeiro a encorajar ataques físicos contra os não muçulmanos.

Por:  Denis MacEoin   11 de Agosto de 2016
Original em inglês: The Pope and Holy War
Tradução: Joseph Skilnik Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org/8677/papa-guerra-santa

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A BUSCA PELO LUCRO...

A busca pelo lucro é uma benção para a humanidade - mas há uma ocasião em que a crítica é aceitável


O que é o lucro? E por que ele é tão importante para todos, não só para empreendedores e comerciantes?

Comecemos pelo básico: quando você gasta $ 300 em um par de sapatos, o proprietário da loja fica com esses $ 300 integralmente para ele?

A resposta óbvia é não.

Esse comerciante tem de pagar por todos os custos do seu empreendimento: os salários e os encargos sociais e trabalhistas de seus empregados, o aluguel da loja, seus fornecedores, seus estoques, o frete da transportadora que traz seus produtos, que todos os impostos, a faxineira, a conta de luz, a conta de telefone, aluguel das máquinas de cartão de crédito e de débito etc. Aquilo que sobrar depois de tudo isso é o seu lucro.

O lucro seria a remuneração pelo tempo e pelo dinheiro que ele gastou, bem como o risco em que incorreu, para manter seu empreendimento funcionando.

Desnecessário enfatizar que, se ele não tivesse lucros, não haveria como ele reinvestir na empresa: não haveria como ele expandir seus negócios, contratar mais pessoas, ofertar mais bens no mercado, ou mesmo conceder aumentos salariais aos seus funcionários. Não houvesse lucros, nenhum novo emprego assalariado seria criado.

Como surge o lucro

A definição dada acima sobre o lucro foi intencionalmente simplista. Em termos puramente econômicos, a definição de lucro é mais sofisticada. Economistas veem o lucro de uma maneira mais profunda. 

O que possibilita o surgimento do lucro é a ação empreendedorial em um ambiente de incerteza. Um empreendedor, por natureza, tem de estar sempre estimando quais serão os preços futuros dos bens e serviços por ele produzidos. Ao estimar os preços futuros, ele irá analisar os preços atuais dos fatores de produção necessários para produzir estes bens e serviços futuros. Caso ele avalie que os preços dos fatores de produção estão baixos em relação aos possíveis preços futuros de seus bens e serviços produzidos, ele irá adquirir estes fatores de produção. Caso sua estimação se revele correta, ele auferirá lucros.

Portanto, o que permite o surgimento do lucro é o fato de que aquele empreendedor que estima quais serão os preços futuros de alguns bens e serviços de maneira mais acurada que seus concorrentes irá comprar fatores de produção a preços que, do ponto de vista do estado futuro do mercado, estão hoje muito baixos. 

Consequentemente, os custos totais de produção — incluindo os juros pagos sobre o capital investido — serão menores que a receita total que o empreendedor irá receber pelo seu produto final. Esta diferença é o lucro empreendedorial.

Por outro lado, o empreendedor que estimar erroneamente os preços futuros dos bens e serviços irá comprar fatores de produção a preços que, do ponto de vista do estado futuro do mercado, estão hoje muito altos. Seu custo total de produção excederá a receita total que ele irá receber pelo seu produto final. Esta diferença é o prejuízo empreendedorial.

Assim, lucros e prejuízos são gerados pelo sucesso ou pelo fracasso de se ajustar as atividades produtivas de acordo com as mais urgentes demandas dos consumidores.

Lucros e prejuízos são fenômenos que só existem constantemente porque a economia está sempre em contínua mudança, o que faz com que recorrentemente surjam novas discrepâncias entre os preços dos fatores de produção e os preços dos bens e produtos por eles produzidos, e consequentemente haja a necessidade de novos ajustes.

Ao contrário do que pensava Marx, o capital não "gera lucro". O capital empregado, por si só, não garante lucro nenhum. Bens de capital são objetos sem vida que, por si sós, não realizam nada. Se eles forem utilizados de acordo com uma boa ideia, haverá lucros. Se eles forem utilizados de acordo com uma ideia equivocada, haverá prejuízos ou, na melhor das hipóteses, não haverá lucros. 

É a decisão empreendedorial o que cria tanto lucros quanto prejuízos. É dos atos mentais, da mente do empreendedor, que os lucros se originam, essencialmente. O lucro é um produto da mente, do sucesso de se saber antecipar o estado futuro do mercado. É um fenômeno espiritual e intelectual.

Um empreendimento sem lucros é socialmente destrutivo

Imagine que você adquiriu um material que, em seu estado bruto e inalterado, vale $100. Ato contínuo, você altera essa matéria-prima, adiciona sua criatividade e sua mão-de-obra, e gera um produto final que as pessoas irão voluntariamente querer adquirir por $150. Você gerou valor para a sociedade. Você acrescentou valor para a sociedade e auferiu um lucro por causa disso. 

Agora, imagine que você adquire esse mesmo material, que em seu estado bruto e inalterado vale $100, altera-o à sua maneira e gera um produto final valorado em apenas $50 pelas pessoas. Você não apenas não auferiu lucro nenhum, como na realidade subtraiu riqueza da sociedade. A sociedade ficou mais pobre por sua causa. Como isso pode ser considerado algo virtuoso? 

É exatamente por isso que empresas que geram prejuízos são deletérias para uma sociedade. Elas consomem recursos e não entregam valor. Elas, na prática, subtraem valor da sociedade. Uma empresa que opera com prejuízo é uma máquina de destruição de riqueza. 

Adicionalmente, condenar qualquer lucro como sendo 'excessivo' pode levar a situações tão absurdas quanto aplaudir uma empresa que, outrora muito lucrativa, passou a desperdiçar capital e a produzir ineficientemente a custos mais altos. Esta redução na eficiência e, consequentemente, nos lucros logrou apenas fazer com que os cidadãos fossem privados de todas as vantagens que poderiam usufruir caso os bens de capital desperdiçados por esta empresa fossem disponibilizados para a produção de outros produtos.

Os lucros são uma bênção

Os lucros são uma bênção para a humanidade. Os lucros motivam as pessoas a trabalharem mais, a serem mais criativas, a mais bem servirem seus clientes, e a realmente se preocuparem com o bem-estar destes.

Sem o incentivo dos lucros, por que alguém iria querer se arriscar, gastar sua poupança ou se endividar, trabalhar arduamente horas a fio, e enfrentar todas as incertezas do mercado apenas para fornecer um bem ou serviço às pessoas? Ninguém faria isso.

Pense em um pecuarista interiorano que enfrenta condições inclementes de temperatura para alimentar seu gado, mantê-lo protegido e bem cuidado, fazendo enormes sacrifícios pessoais apenas para que as pessoas da cidade grande possam se sentar confortavelmente em um restaurante e comer uma suculenta picanha.

Por que o pecuarista se presta a isso? Será que é porque ele ama aqueles metropolitanos que ele nunca viu na vida? Óbvio que não. O pecuarista faz todo esse esforço porque ele quer ter mais recursos para si próprio e para sua família. Ele quer aumentar seu padrão de vida. Ele, em suma, quer lucros.

Igualmente, você pode ir a um supermercado a qualquer dia da semana à procura de carne e você encontrará. Se você quer batatas, também encontrará. Ovos, açúcar, sal, morangos, laranjas, bananas, pasta de amendoim — tudo estará nas prateleiras. Esse é um conforto que todos nós já consideramos como corriqueiro, uma comodidade que consideramos um fato consumado e garantido. E, ainda assim, deveríamos nos maravilhar com isso. 

Cada um desses itens está nas prateleiras graças a uma coisa: a busca pelo lucro.

O mesmo é válido para o aparelho em que você está lendo este artigo — seja um computador, um notebook, um smartphone ou um tablet. E o mesmo também é válido para todos os componentes que formam esses aparelhos. 

Com efeito, apenas olhe ao seu redor, neste local em que você está agora. Se você está dentro de um imóvel, observe o mobiliário à sua volta, o próprio edifício em que você está, o computador (ou o tablet ou o smartphone) que você está utilizando, a internet que está lhe permitindo acesso ao mundo, as roupas que você está utilizando. Você realmente acredita que todos esses itens surgiram e estão à sua disposição porque alguém queria perder dinheiro (ou aceitou trabalhar em troca de nada) apenas para tornar a sua vida mais confortável? Perdoe-me a sinceridade, mas você não é tão importante assim para o resto do mundo.

Tudo isso só existe e está à sua disposição porque alguém imaginou que poderia lucrar ao inventar todas essas coisas. As pessoas que produziram essas coisas não acordaram cedo, trabalharam diuturnamente e se sacrificaram apenas por algum impulso caritativo. Elas fizeram isso porque queriam melhorar a vida delas próprias. E, para melhorar a vida delas próprias, elas buscaram o lucro. E, ao buscarem o lucro, elas melhoraram a sua vida e a vida da sua família.

Acabe com o lucro e tudo deixará de ser produzido.

Quando o lucro realmente pode ser condenado

Quando uma determinada empresa surge no mercado com um produto novo ou altamente aprimorado, satisfazendo desejos e demandas dos consumidores, os lucros que ela passa a auferir com esse produto podem, à primeira vista, parecer enormes. Só que, quanto maiores forem esses lucros, mais eles atrairão novos concorrentes, os quais aumentarão a oferta desse produto. Ato contínuo, a maior oferta fará com que os altos lucros da empresa se evaporem. 

Olhando em retrospecto, torna-se evidente que os altos lucros funcionaram como um sinal enviado aos outros produtores: "Ei, olhem para cá! As pessoas realmente querem esse produto; querem mais desse produto!".

E é exatamente para evitar o surgimento dessa concorrência — a qual reduz os lucros — que várias empresas já estabelecidas recorrem ao governo para que este restrinja o mercado e impeça o surgimento de novos concorrentes por meio de burocracias e regulamentações onerosas. 

É daí que surge o capitalismo de estado ou o capitalismo de compadrio, em que o governo fornece subsídios e privilégios especiais para as empresas já existentes ao mesmo tempo em que impõem regulamentações e burocracias que inviabilizam o surgimento de concorrentes. 

Um exemplo clássico dessa ação estatal em prol de empresas já estabelecidas e contra o surgimento de concorrentes pode ser visto na criação de agências reguladoras. E também quando o governo concede subsídios ou empréstimos subsidiados para determinadas empresas. Ou quando ele simplesmente impõe tarifas de importaçãopara impedir que produtos estrangeiros entrem no mercado nacional e concorram com as empresas já estabelecidas no país.

Ter o governo ao seu lado — por meio de regulamentações especiais, protecionismo, subsídios — significa que uma empresa pode ser muito menos dedicada aos desejos dos consumidores. O governo poderá mantê-la operante mesmo que isso vá contra a vontade dos consumidores. 

Os lucros auferidos desta maneira podem, e devem, ser condenados. 

Curiosamente, este arranjo protecionista e intervencionista — que garante altos lucros para as empresas protegidas — é exatamente aquele defendido pela esquerda, que ao mesmo tempo condena os lucros. Não dá para entender.

Conclusão

A hostilidade direcionada ao lucro, seja ela motivada ou pela inveja ou pela ignorância ou pela demagogia, é irracional. Ela só é aceitável quando uma determinada empresa aufere seus lucros em decorrência de suas conexões políticas com o governo — que garante a ela subsídios, ou que a protege da concorrência externa via tarifas protecionistas, ou que impede o surgimento de concorrentes via agências reguladoras.

Fora isso, em um mercado livre, lucros representam muito mais do que a saúde financeira de uma empresa: eles indicam que a empresa está utilizando recursos escassos de maneira sensata e está satisfazendo os desejos dos consumidores; indicam que a empresa está genuinamente criando valor para a sociedade e está aprimorando a qualidade de vida e o progresso.

Lucro é aquilo que todos nós buscamos quando, ao tentar melhorar nosso bem-estar, acabamos por melhorar o bem-estar de terceiros por meio de transações comerciais pacíficas e voluntárias.

Lucro não é evidência de comportamento suspeito. Comportamento suspeito, isso sim, é fazer acusações infundadas contra o lucro.

Atualmente, há no mundo um regime voltado exclusivamente para se certificar de que nenhum indivíduo esteja auferindo qualquer tipo de lucro: a Coreia do Norte marxista. Como consequência, não há nem sequer luz elétrica para a sua população.


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Ludwig von Mises, líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico.  Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política.  Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico.  Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".
Walter Williams, professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros.  Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.
Do site: http://www.mises.org.br/

terça-feira, 23 de agosto de 2016

A APOTEOSE DO FINGIMENTO HISTÉRICO

Subsidiado por patrocínios bilionários, o fingimento histérico brasileiro fez da abertura da Olimpíada a sua mais vistosa apoteose


“O camponês da Bavária e de Baden que não consegue enxergar para além do campanário da sua igreja local, o pequeno produtor francês de vinho que é levado à bancarrota pelos capitalistas de grande escala que adulteram vinho, e o pequeno plantador americano depenado por banqueiros e congressistas e jogado para longe da corrente maior do desenvolvimento, são convocados, no papel, a assumir a direção do Estado pelo regime da democracia política. Mas, na realidade, em todas as questões básicas que determinam os destinos dos povos, quem toma as decisões pelas costas da democracia parlamentar são as oligarquias financeiras.”

Esse parágrafo consta daquilo que foi provavelmente o discurso mais decisivo do século XX: as palavras de Leon Trotski no ato de fundação do Comintern em 1919, que determinariam em linhas gerais a estratégia do comunismo mundial por mais de meio século e, de algum modo, continuam a inspirá-lo até hoje.

Como descrição da realidade, essas palavras continuam válidas: decorrido um século, o povo trabalhador e pagador de impostos continua tentando melhorar o curso das coisas por meio do voto, sendo constantemente ludibriado e frustrado pelas oligarquias financeiras e políticas que burlam o processo legislativo e impõem suas decisões por meio de tratados internacionais, decretos de presidentes, portarias de ministérios, regulamentos de repartições, de prefeituras, de administrações regionais e uma infinidade de outros artifícios, obrigando todo mundo a obedecer leis que nem mesmo existem.

Só o que mudou, nesse ínterim, foi a identidade ideológica dos personagens. A minoria bilionária age em parceria com a esquerda internacional -- isto é, com os herdeiros de Trotski -- para impor a populações estupefatas, por vias transversas que neutralizam o processo legislativo, as mudanças socioculturais mais artificiosas e contrárias às crenças e valores do povo: feminismo, gayzismo, desarmamento civil, multiculturalismo, liberação das drogas, sexualização prematura das crianças nas escolas, dissolução das identidades nacionais por meio da imigração forçada, anticristianismo militante etc. etc.

O povão simples apega-se cada vez mais aos seus valores antigos, cristãos e patrióticos, esperando fazê-los triunfar por meio de candidatos como Donald Trump, Jair Bolsonaro ou Nigel Farage, sendo por isso estigmatizado pela grande mídia de esquerda (a única que existe) como fascista, nazista, racista, assassino de gays, negros e mulheres etc. etc.

A aliança mundial de globalistas e esquerdistas é o fenômeno mais geral e importante da nossa época, e não há um só fato da vida cultural ou política ocidental que não seja, em mais ou em menos, determinado por ela.

À troca de papéis corresponde, pari passu, a inversão não só do conteúdo, mas da própria função do discurso público: a classe dominante rouba as palavras do povo para condená-lo e intimidá-lo como se ele fosse ela, e ela o povo. 

Intelectuais, artistas, jornalistas e publicitários pagos generosamente pela elite governante bilionária fazem-se de defensores da população ludibriada para poder continuar a ludibriá-la e a acumular poder e dinheiro sob os pretextos mais sedutores e hipnoticamente populistas que uma mendacidade ilimitadamente inventiva já logrou conceber.

Esse discurso meticulosamente invertido é uma invenção, já velha, de engenheiros sociais que, é claro, não se deixam enganar pelo seu próprio ardil. 

Mas, quando a moda se dissemina no baixo clero do show business, das universidades e da mídia, ela modifica profundamente a psique de multidões inteiras de idiotas úteis, que sentem – e sentem com muita emoção – estar dizendo a mais pura verdade no instante mesmo em que repetem chavões que sua própria experiência direta desmente da maneira mais flagrante. 

É a síndrome da autopersuasão histérica que, como já explicava o dr. Andrew Lobaczewski, se espalha entre pessoas de mente fraca quando colocadas sob a influência de psicopatas astutos.

Exemplos dessas mentes fracas não faltam. As redações, as cátedras universitárias, o cast inteiro dos canais de TV estão repletos deles. 

Escolho um a esmo, só porque é desta semana. Com aparente sinceridade, o sr. Fernando Meirelles, publicitário responsável pelo show de abertura das Olimpíadas, escreve no seu Twitter (reproduzo com as execráveis grafias originárias):

“Bolsanaro vai odiar a cerimônia. Trump também. Pelo menos nisso acertamos. A cerimônia de hoje terá índios, empoderamento dos negros e das mulheres, transgêneros e um alerta contra os riscos do uso de petróleio.”

Os pobres e oprimidos são aí representados pelos índios, negros, mulheres e transgêneros. 
Os ricos opressores, pelos srs. Trump e Bolsonaro. Por meio do show, o sr. Meirelles, os patrocinadores do espetáculo e o governo aparecem como advogados dos primeiros contra a prepotência reacionária dos segundos, vagamente identificados, de passagem, como ligados de algum modo aos interesses da macabra indústria do petróleo.

Mas quem não sabe que, para montar o espetáculo, o sr. Meirelles recebeu R$ 270 milhões de um bilionário esquema público-privado que jamais deu ou daria um tostão a políticos como Trump e Bolsonaro, aos quais odeia tanto quanto o povão os ama?

Quem não sabe que o “empoderamento dos índios, negros e mulheres” é a Leitmotiv do discurso propagandístico de uma elite globalista que continua – para usar as palavras de Trotski – “jogando para longe da corrente maior do desenvolvimento” os trabalhadores, os pequenos plantadores, os microempresários e, por isso mesmo, uma multidão de “índios, negros e mulheres”?

E quem não sabe que os donos do petróleo são ainda os árabes, os maiores assassinos de gays e mulheres que já existiram no mundo, contra os quais o show do sr. Meirelles não ousaria nem ousou dizer uma palavrinha incômoda sequer?

Em que mundo, em que fração do universo imaginário o sr. Trump fez algum dano a gays e mulheres, que pelo menos fosse comparável ao que essas criaturas sofrem nas mãos dos muçulmanos sob aplausos frenéticos e incondicionais da esquerda internacional à qual o sr. Meirelles indiscutivelmente pertence e à qual mostrou descarada fidelidade por meio do símbolo comunista do punho esquerdo cerrado?

E em que planeta do mundo da fantasia o sr. Bolsonaro, um modesto capitão da reserva que jamais foi visto sequer ao lado de um bilionário, faz parte da elite opressora?

Sem dúvida o sr. Meirelles acredita no que diz. Mas não acredita pelos meios normais do conhecimento humano e sim por meio da autopersuasão histérica que desmente de maneira brutal e ostensiva tudo o que ele vê, tudo o que ele sabe, tudo o que lhe chega pelos cinco sentidos. 

O sr. Meirelles não raciocina a partir da sua própria experiência, mas da sua própria voz. 
Indo da boca para o ouvido, sua alma se entrega toda mole-mole nos braços de um discurso auto-hipnótico que lhe dá, como compensação automática, um prêmio de 270 milhões e a ilusão de fazer bonito.

Com isso não quero dizer que o sr. Meirelles, só por expressar francamente o seu sentimento, seja honesto ou veraz. 

Se o tipo de sinceridade do fingidor histérico se distingue da mentira deliberada por não saber que é mentira, ela distingue-se das palavras do observador honesto porque não tem nada, absolutamente nada a ver com a categoria da veracidade. 

Constitui-se de sentimento apenas, e a nada o sentimento é mais obediente do que a imaginação. O fingidor histérico imagina alguma coisa na hora, sente em conformidade com ela, e diz o que sente. 

A distinção entre o verdadeiro e o falso nem lhe passa pela cabeça. E, se você lhe diz que o discurso dele é falso, ele entende que você apenas sente diferente dele, que tudo não passa de um confronto de emoções opostas, de uma disputa de poder entre dois corações – naturalmente, um malvado – você – e um bonzinho – ele.

A histeria – sempre é bom lembrar – nada tem a ver com chiliques, gritinhos e crises de nervos, embora às vezes recorra a esses instrumentos expressivos quando a crença na mentira começa a falhar e tem de ser reforçada pela mise-en-scène. 

A histeria é eminentemente fingimento auto-hipnótico, tanto mais forte quanto mais tranqüilo e sereno em aparência.

Aquilo que, na mente do manipulador psicopata, começou como uma mentira concebida friamente para tais ou quais propósitos práticos se torna, na mente passiva e servil dos seus imitadores, um modo de ser, um habitus profundamente arraigado e difícil de remover.

A personalidade do psicopata não é afetada pelas suas mentiras, concebidas para uso alheio. A do fingidor histérico é transfigurada e remoldada pela mentira, até que o poder de persuasão da própria voz se sobrepoõe ao apelo dos sentidos, da memória e da razão. O ser humano normal acredita no que vê, no que experimenta e no que sabe. O fingidor histérico, naquilo que aprendeu a dizer.

Como bem observou o dr. Lobaczewski na sua Ponerologia – com certeza o livro mais importante de ciência política das últimas décadas –, numa sociedade dominada por criminosos psicopatas, o fingimento histérico se espalha como uma epidemia, que, se não controlada em tempo, acaba por se tornar o estado de espírito geral e permanente de amplas camadas sociais, especialmente aquelas que encontram nisso um modo de vida, como por exemplo os professores, os jornalistas, os publicitários e os artistas do show business, classes que, por definição, e mesmo em circunstâncias normais, vivem de repassar discursos aprendidos.

Subsidiado por patrocínios bilionários, o fingimento histérico brasileiro fez da abertura da Olimpíada a sua mais vistosa apoteose. 
Por: Olavo de Carvalho Publicado originalmente no Diário do Com;ercio

domingo, 21 de agosto de 2016

UMA EUROPA CHAMADA ROMA


Da próxima vez que o estrépito de um atentado nos distrair dos Pokémons, em vez de desabafarmos no facebook será mais útil ir estudar os romanos. O imperador Honório e a sua galinha Roma andam por aí,


Isto não acontece num país longínquo. Acontece aqui. Num país da NATO. Ao nosso lado.

Horas antes do golpe na Turquia tivera lugar em França mais um atentado e mais uma vez o Presidente francês dissera que a França era forte. E os jornais escreviam que “um camião matou”, como se o camião se tivesse posto em marcha sozinho.

Face ao atentado de Nice repetia-se que havia que compreender os motivos do homem que praticara tal acto sendo que neste contexto o verbo compreender não é sinónimo de adquirir conhecimento para melhor agir sobre o agressor mas sim para aceitar com maior resignação o papel de vítima.

Como sempre o facebook encheu-se de vídeos virais em que os likes fazem as vezes das convicções e o máximo da decisão passa por pintar a Torre Eiffel com as cores da bandeira francesa. Desta vez já nem houve muitas velas nas ruas, talvez para não atrapalhar as corridas atrás dos Pokémons.

De repente, o drama desta Europa, uma Europa que foi capaz de garantir ao maior número de cidadãos um conjunto mais alargado de direitos mas que se condenou a si mesma à decadência, parece-me decalcado desse outro drama vivido por outra civilização extraordinária – o império romano. Um drama que simbolicamente terminou numa noite de Agosto de 410 dC, em Ravena. Nessa noite um mensageiro (há sempre uma mensagem e um mensageiro, o tempo apenas muda a natureza do mensageiro) entrou a correr no palácio de Ravena onde o imperador Honorio estava retirado para escapar ao cerco que o rei visigodo Alarico montara em torno de Roma. A notícia é tão grave que os presentes resolvem acordar Honorio: Roma caíra às mãos do invasor.

Perante a notícia, o imperador Honorio declara consternado “Ainda há pouco comeu da minha mão”. O desalento desconcertante da resposta do imperador leva um dos presentes a esclarecer Honorio: Roma, a sua galinha preferida, estava bem. Fora sim a capital do seu império e não a sua preferida que caíra perante o invasor. Honorio terá suspirado de alívio pois por momentos pensara que fosse a sua galinha e não a cidade a soçobrar.

Há oito séculos que Roma era inviolável. Mas nesse Agosto de 410 dC, o rei visigodo Alarico atravessara a Porta Salaria e entrara em Roma à frente dos seus homens. O saque começou. A própria irmã do imperador, Gala Placidia, estava cativa de Alarico, um chefe militar que soube tirar partido das fraquezas do outrora grande império.

Valha a verdade que o saque de Alarico foi apenas o primeiro – e nem sequer o pior – dos vários que reduzirão a orgulhosa Roma a um símbolo da decadência. A dado momento os romanos antecipar-se-ão até aos invasores e antes que estes montem mais um cerco abrem-lhes as portas da cidade para que no momento do inevitável saque se mostrassem mais misericordiosos (não mostraram).

A história da reacção de Honório ao saber do saque de Roma foi muito provavelmente romanceada mas tem servido para ilustrar o que bondosamente designamos como decadência do império romano. Perante essa fabulosa civilização que se condenou a si mesma à derrota poucas coisas ilustrarão melhor o comportamento das elites romanas do que esse imperador a chorar a sua galinha e não a sua cidade.

Neste século XXI, Honorio, a sua cidade e a sua galinha andam por aí. Simplesmente Roma agora chama-se Europa. E os europeus, tal como o imperador Honorio, desdenham dos aliados, não resolvem o essencial, assistem abúlicos aos ataques de que são alvo e perante a catástrofe fazem de conta que não a vêem. Ou apenas vêem a morte da sua galinha – com quantas causas fúteis se entretêm semanalmente os parlamentos da Europa? – e não a queda da sua cidade.

Enquanto escrevo os presos na Turquia contam-se aos milhares e a purga na justiça e entre os militares é profunda. Nas televisões europeias confunde-se apoio e bandeirinhas nas redes sociais com legitimidade. Erdogan entretanto avisa que quem estiver com os rebeldes, está “em guerra com a Turquia”, sendo que o conceito de “estar com os rebeldes” é muito lato. Por exemplo, não entregar à Turquia os oito militares turcos que pediram asilo político à Grécia é sinónimo de estar com os rebeldes? E como vai daqui em diante a Turquia usar os seus controlos fronteiriços para pressionar a Europa a deixar de “estar com os rebeldes”, queira isso dizer o que queira? E o que fazem os líderes europeus caso Erdogan, com menos folclore, mais racionalidade e umas forças armadas purgadas mas bem treinadas, entre na espiral de confronto-amizade-chantagem como durante anos fez Kadafi? Telefonam para Washington e esperam que o presidente norte-americano, seja ele qual for, mobilize os nascidos no Ohio ou no Kansas para reforçarem a presença militar nas bases norte-americanas na Europa, precisamente aquelas contra as quais não houve estudante europeu que não achasse de bom tom manifestar-se?

Na escola aprendíamos como os romanos fizeram o seu império. Na verdade devíamos ter estudado mais como o desfizeram. Porque Honorio e a sua galinha não aconteceram por acaso. Eles são o resultado de uma sociedade que se derrotou a si mesma antes de ser derrotada pelos outros. De um império que acabou a ter de pagar para não ser atacado por aqueles a quem antes pagara para que o defendessem.

Da próxima vez que o estrépito de um atentado nos distrair dos Pokémons, em vez de desabafarmos no facebook será bem mais útil ir estudar os romanos. Honorio e a sua galinha fazem parte do nosso passado e nós já estivemos mais longe de nos refugiarmos em Ravena.
Por: Helena Matos Do site: http://observador.pt/