sábado, 11 de abril de 2020

QUEM GOVERNA O PAÍS É O GOVERNO, QUE POR ÓBVIO NÃ0 SE RESUME AO PRESIDENTE, QUE O LIDERA


Generais Braga Neto, Ramos, Luiz Fernando e Almirante Viana

Em meio a uma crise absurda entre o presidente da república e seus ministros, em especial o ministro hoje na linha de frente, surge o poder moderador para dar tranquilidade ao governo e á nação.

A pergunta é: quem está governando o país? O poder moderador representado pelos militares no seu gabinete ou o próprio presidente?

Respondo que quem está governando o país é o governo. E por óbvio que o governo não se resume ao presidente. O governo é ele e seus ministros.

Sobre essa questão travei uma boa conversa com o Editor do Portal Notícias Agrícolas, o jornalista João Batista Olivi, no último dia 7 de abril, resultando no vídeo que pode ser visto clicando aqui:

O Poder Moderador foi iniciativa do presidente

O Poder Moderador foi a pedra de toque do Império. Era exercido pelo Imperador, nos termos da Constituição de 1824. Seu idealizador foi o grande jurista Benjamin Constant, o qual defendia que houvesse na monarquia constitucional um poder neutro ou moderador que não estivesse sujeito à disputa política partidária e que fosse exercido pelo rei. Segundo ele, o poder moderador era um recurso importante para os momentos de crise, pois deveria ser um elemento conciliatório dos conflitos entre os demais poderes

Pois bem, embora não tenha previsão na Carta da República, a ideia de se ter uma moderação técnica, acima das rusgas partidárias sempre perseguiu o rol dos ideais da boa política no Brasil.

Ao que tudo indica, no atual governo, após seguidas crises, buscou-se construir uma moderação, inserida no próprio gabinete da presidência.

Essa moderação foi construída por Bolsonaro, quando reformulou seu gabinete no início do ano. Face à dificuldade de interlocução interna, a interferência do chamado "gabinete do ódio" (formado pelos assessores olavistas e o filho Carlos Bolsonaro), e o "bate-cabeça" dos filhos e assessores próximos, trazidos do período de parlamentar - e sentindo a pressão explícita do legislativo sobre o gabinete, em busca de uma restauração da "governabilidade" ao preço da volta do "presidencialismo de coalização", trataram os generais mais próximos de sugerir ao presidente que resolvesse o problema incrementando o perfil do gabinete presidencial com ministros de formação militar. Essa nova configuração, mais centrada e comprometida com interesses maiores da Nação, habilitaria o gabinete para lidar com as questões civis sem sofrer os ruídos de linha acima enumerados. Assim,. foram chamados mais ministros militares para aconselhar e articular a governança a partir da presidência.

A composição do "poder moderador" militar no gabinete de Bolsonaro diz por si mesma. Além do Vice Presidente da República, General Mourão, e do Ministro GSI, General Heleno, os generais que formam a linha de frente são:
1- o duro general Braga Neto, com ampla experiência em lidar com conflitos, na Casa Civil;
2- o General Ramos, encarregado de coordenar politicamente no palácio e que é o filtro do presidente - orientado para desfazer o presidencialismo de coalização, quando o governo era transformado em loteamento;
3- o General Luiz Fernando Azevedo e Silva - homem de inteligência, que já teve papel importante para resolver conflito entre o executivo e o judiciário, na gestão Temer, quando assessorou diretamente o Presidente do STF - Dias Tóffoli - foi de lá que o General se transferiu para o Palácio do Planalto, assumindo o ministério da Defesa; e
4- o Almirante Flávio Augusto Viana Rocha, um intelectual bem preparado, proveniente da mais antiga força militar brasileira, que é a marinha e assume a secretaria mais importante do gabinete da presidência que é a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, que já foi coordenada pelo brilhante General Maynard Santa Rosa - que sentiu na pele a pouca afeição do presidente pelo planejamento e pela consulta a terceiros no processo de decisão, além de ter exercido a função em um contexto muito ruim - subordinado à Secretaria Geral da Presidência, o que terminou gerando conflitos - na reforma do início deste ano, a Secretaria passou a ser diretamente vinculada ao presidente.
Essa reformulação implicou na montagem de um cinturão sanitário no entorno do presidente, - o primeiro efeito desse cinturão foi afastar e reduzir o poder de influência dos "meninos" do "gabinete do ódio" e dos demais filhos e afins, que formam a chamada ala "olavista" e "miliciana" - que busca a qualquer custo transformar o mandato de Bolsonaro em uma aventura populista de direita.

A ação resultou na sucessão de medidas anunciadas e baixadas pelo governo, como programas econômicos, aprovação de medidas no Congresso Nacional, ações efetivas provindas dos ministérios técnicos do governo e obviamente a construção de uma agenda positiva para o presidente.

A volta dos que nunca foram

O efeito, porém, não foi duradouro. Logo o "gabinete do ódio", comandado por Carlos Bolsonaro, reapareceu no Palácio do Planalto.

Isso se deveu ao comportamento complexo do presidente, extremamente desconfiado e, portanto, facilmente suscetível a sucumbir a versões de intrigas e teorias da conspiração. Quando a reaproximação começou a ocorrer, o gabinete percebeu que sua tarefa de aconselhamento - a quem reage a ser aconselhado - seria muito mais difícil do que se havia inicialmente calculado.

A "volta dos que não foram" resultou no acirramento de ânimos, logo no início da crise da pandemia, no final do mês de março - ou seja, poucos meses depois da assunção dos ministros militares no gabinete. O filho Eduardo Bolsonaro tratou de provocar um enorme incidente diplomático com a China e o ministro da educação, de forma a mais deseducada possível, acirrou os ânimos contra a diplomacia chinesa, fazendo pouco do enorme esforço que o gabinete do governo fez para por panos quentes entre o Brasil e seu principal parceiro comercial.

Em pleno esforço concentrado para o país enfrentar uma pandemia global, esse mesmo grupo tratou de incentivar o presidente a nadar contra uma forte correnteza de procedimentos e protocolos de contingência federais e dos estados, para pregar no deserto um abandono do regime de quarentena sem, no entanto, apresentar um único relatório, um único documento de planejamento estratégico, um único estudo demandado da equipe de governo, informando em que bases e de que forma pretenderia retomar as atividades econômicas do país sem por em risco a segurança e a saúde da população.

É ai que se precisa compreender a grande dificuldade enfrentada pela equipe militarizada do gabinete presidencial - a entourage de Bolsonaro, no esforço insano para fazer da crise um trampolim visando consolidar um projeto populista de poder, arriscou provocar uma crise institucional sem precedentes, que poderia custar um impeachment ao presidente. Vai daí que a crise provocada por essa troupe com o Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, na verdade foi um verdadeiro panetone - cheio de coisinhas no recheio.

Os ministros militares entram em ação

Essa crise foi o momento, a oportunidade de por a prova a nova composição da equipe militar no gabinete. E ela disse a que veio.

Muita gente queria que houvesse uma "intervenção militar", não é mesmo? Pois bem, ela veio, mas dentro do regime democrático, de forma ponderada e de acordo com o que reza a Constituição. .E essa ação se deu nos moldes esperados pelo próprio presidente.

O objetivo estratégico do gabinete foi, claramente, o de abaixar a fervura e apaziguar os ânimos. E foi o que foi feito - para desespero dos meninos do "gabinete do ódio".

Primeiro, após o desastre do primeiro pronunciamento à Nação - quando o presidente comparou a pandemia a uma "gripezinha", os militares conversaram com o presidente e orientaram-no a moderar o discurso feito nas semanas seguintes - resultando em um pronunciamento claro, seguro e equilibrado á Nação.

Em seguida, após os "meninos" terem contra-atacado, incitando Bolsonaro a reaparecer na porteira do Palácio da Alvorada atirando nas costas do seu subordinado - quando este estava postado na linha de frente do combate à pandemia, os ministros do gabinete voltaram a intervir para por um fim á crise.

O Ministro da Saúde permaneceu e a ideia, agora, é de afinar o discurso visando rearticular a saída pacífica da quarentena, rumo à retomada das atividades econômicas. Porém, da forma como se espera de uma liderança de um país continental: com informação técnica, com planos e programas, com avaliações e análise e dentro de parâmetros científicos e legais juridicamente definidos.

Na ação de gabinete para apaziguar os ânimos entre o Ministro Mandetta e o Presidente - em meio à crise da pandemia do coronavírus, a equipe dirigida pelo General Braga, na Casa Civil, distribuiu tarefas, ficando o ministro da saúde de estabelecer os protocolos de transição da contingência atual para um sistema que contemple a retomada do ritmo da economia, com critérios de prevenção, e o próprio presidente assumindo a lição de casa - de demandar os relatórios e cenários de risco necessários a perfazer uma nova orientação convertida em norma legal, visando estabelecer um regime de composição das medidas de prevenção com as atividades econômicas, respeitados critérios de saúde e de geografia.

Restou, no entanto, a crise da "cloroquina" - apresentada pelos meninos do gabinete do ódio, ao presidente, como um "elixir", uma "panaceia" para resolver a pandemia - que esse gabinete atribui não ao vírus mas, sim, a uma conspiração internacional chinesa e globalista, visando destruir a economia do ocidente. Um delírio que foge à análise política para tornar-se um fenômeno psiquiátrico.

O momento é importante pois o país é apontado pelo próprio banco mundial como o de melhor performance no combate à pandemia - seja na adoção dos protocolos de prevenção, seja no avanço das medidas econômicas, seja na atividade científica em busca de tratamento e cura.

Assim, graças á ação rápida e equilibrada desse "poder moderador" dentro do gabinete presidencial, as crises têm sido enfrentadas com método e resolvidas com eficácia.

Resta saber quem ganhará a queda de braço: se o "gabinete do ódio", que tornar o presidente um boneco travestido de líder populista "genial guia dos povos" ou "herói de gibi" - com capa, cueca fora da malha e a inscrição "cloroquina" no peito... ou o gabinete do bem, com os equilibrados ministro militares, que quer Bolsonaro como um presidente sério, elevado, comprometido com as reformas e com a restauração da liberdade e da moralidade no Estado brasileiro.

Nota: Matéria originalmente publicada no Site Notícias Agrícolas, in 7 de abril de 2020, in https://www.noticiasagricolas.com.br/videos/politica-economia/256493-surge-o-poder-moderador-para-reforcar-o-objetivo-do-governo-flexibilizacao-ate-dia-13.html#.Xo5Y3shKhhF

Por: Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa - API. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View". Foi integrante da equipe que elaborou o plano de transição da gestão ambiental para o governo Bolsonaro.

terça-feira, 31 de março de 2020

SOBRE CISNES NEGROS: TIPOLOGIA, MODELOS E DEFESA

No começo de 2020, o Brasil estava otimista com a expectativa que finalmente se teria um “ano normal" e que a Bovespa poderia crescer até 30%. De repente, dois eventos desfizeram os planos.

O primeiro é a epidemia de COVID-19. Uma ameaça para a economia global que pode durar apenas dois meses. Ou talvez mais. O segundo é a guerra de preços de petróleo entre a Arábia Saudita e a Rússia que está levando o preço do barril ao patamar de US$ 30. Ou talvez menos.

Esses eventos são chamados de “Cisne Negro", uma metáfora por serem raros, de alto impacto e com probabilidade muito baixa ou desconhecida de acontecerem. Não há como prever quando um cisne negro ocorrerá, mas se sabe que eles ocorrem de tempos em tempos.

Epidemias, por exemplo, ocorrem com uma frequência de aproximadamente uma década e podem ser contidas rapidamente – como foi o caso da H1N1, do SARS e da MERS – ou podem se espalhar violentamente, como a gripe espanhola e a atual epidemia de COVID-19. Outras têm efeitos que levam décadas para serem reduzidos, como a de HIV. Não há como predizer quando e como será a próxima, mas ela sempre virá, não adianta.

Uma epidemia pode ser relativamente controlada com o fechamento de fronteiras, isolamento forçado, busca de vacinas e tratamentos hospitalares. Entretanto, todas essas medidas implicam na redução da atividade econômica causando uma “recessão em V" ou “Recessão em U", termos que se referem ao formato aproximado da redução da atividade econômica.

O caso de guerras, sejam elas comerciais ou militares, é diferente. Elas podem ser consideradas um Cisne Negro ou não a depender da existência de sinais razoáveis anteriores aos seus efeitos serem percebidos. Exemplos são o ataque japonês a Pearl Harbor, a ascensão do ISIS e o atentado às Torres Gêmeas de 2001. Todos eles pegaram a comunidade internacional de surpresa, mas tinham sinais anteriores que foram desprezados.

A atual “Guerra de Preço" entre Rússia e Arábia Saudita também tem seus sinais anteriores, como a disputa indireta que ocorre no Oriente Médio desde 2014, quando a Guerra Civil na Síria desestabilizou toda a região. Mas uma redução drástica no preço de petróleo no meio de uma diminuição da demanda global foi uma surpresa, ainda que se tenha precedentes.

Seus efeitos podem ser analisados por um modelo da teoria dos jogos chamado de “Jogo da Galinha", uma tradução esquisita do original Chicken Game – a tradução mais correta seria “O jogo do Covarde".

Variações desse cenário que explicam o jogo aparecem em filmes como “Rebelde sem causa", “Footloose – Ritmo Louco", “De Volta para o Futuro", “As Panteras Detonando", “Mais velozes e Mais furiosos" e “Velozes e Furiosos 7".

Mas a aplicação do jogo em teoria militar talvez seja mais apropriada como um jogo em que ninguém vence ao jogar. Neste caso os melhores exemplos aparecem em “Doutor Fantástico", “Jogos de Guerra" e “A Caçada ao Outubro Vermelho".

A situação neste caso é que dois jogadores ao lutarem uma guerra, neste caso de preços caindo, só têm a perder, e ambos destruirão um ao outro. É um jogo em que não tem como vencer – ou como diz Joshua, o computador de “Jogos de Guerra", na cena final, “a única forma de vencer é não jogar".

Essa guerra é um jogo em que uma aposta pode resistir mais do que a outra. No caso, os Sauditas querem quebrar as iniciativas de energia alternativa no mundo todo, em particular o gás de Xisto nos EUA. Na minha opinião, eles não conseguirão e só atrairão mais desconfiança e acelerarão a buscar por energias alternativas.

Existem ainda muitas outras formas de Cisne Negro. Faço uma análise mais longa destes tipos no final do meu livro mais recente, “Um século em quatro atos" (Alta Books, 2019). Para este texto, creio que caiba uma lista relativamente simples.

Primeiro, existem os Cisnes que causam destruição, como terremotos, maremotos, queda de asteroides, acidentes nucleares, ataques terroristas, colapso do ecossistema (terrestre ou marinho), redução da atividade solar (mínimo de Maunder), explosão do supervulcão de Yellowstone, reversão dos polos geomagnéticos, acidentes com aceleradores de partículas, com armas biológicas e com nanotecnologia. A maioria destes eventos nos remete novamente a filmes e suas probabilidades são ínfimas ou desconhecidas.

Existem os Cisnes que causam efeitos positivos, criando novas possibilidades ou mesmo novas indústrias. A maioria se refere a tecnologias que são lentamente desenvolvidas e que podem se tornar viáveis economicamente de forma repentina. Aqui temos como exemplos a computação e a comunicação quântica, grafeno, fusão nuclear, elevador espacial, motor de dobra de Alcubierre e a inteligência artificial forte.

Finalmente existem os casos que podem ser negativos ou positivos. Meus dois exemplos são o contato com civilizações extraterrestres e o surgimento de uma nova religião, ou messias, que altere o equilíbrio de forças religiosas no planeta.

A última parte deste artigo é um misto de recomendação e alento nestes tempos difíceis.

Conta uma lenda árabe que um sultão fez um concurso para desafiar quem seria capaz de criar uma frase que servisse de consolo nos tempos difíceis e de aviso nos tempos de opulência. A frase vencedora foi “isto também passará". No oriente, existe o conceito da “impermanência" ou de que nada é permanente. No ocidente Heráclito de Éfeso cunhou a frase “A única coisa permanente é a mudança".

As crises atuais passarão e a economia voltará a crescer. O mundo voltará ao normal.

A defesa para estas situações é sempre manter a liquidez para poder comprar barato na baixa e se defender da crise que destrói quem está endividado e alavancado. Não sabemos quando, ou por qual razão, a próxima crise virá, mas ela virá.

Operações muito enxutas e muito no limite, sem margem para erro, acabam sendo mais afetadas nestes casos. Há uma relação de troca entre risco e retorno, às vezes nem percebida.

Para quem conseguir se manter líquido no meio da turbulência a crise pode ser uma grande oportunidade. Encerro este artigo com uma frase atribuída a Nathan Rothschild que recomendava “Compre quando há sangue nas ruas".

Por: Paulo Vicente dos Santos Alves é professor da Fundação Dom Cabral. Fez parte do Global Colloquium in Participant Centered Learning (GLOCOLL) da Harvard Business School em 2012. É Founder Member do Strategic Management Fórum. Autor dos livros “Um século em quatro atos", “Jogos e simulações de empresas", e “Gestão Pública contemporânea" pela Alta Books, do e-book “Emerging Markets Report", publicado pela AVEC Editora, e do livro “Jogos de Empresas", publicado pela Pearson/Makron Books. É Ganhador do Prêmio de Melhor Estratégia de Marketing dado pela Publicis, no L'Oréal Marketing Award 2004 como professor orientador. Foi classificado como 29o no Best Business Professor of the year promovido pelo The Economist Intelligence Unit em 2012-13 Publicado originalmente no site; https://www.fdc.org.br/

segunda-feira, 23 de março de 2020

FALSA DICOTOMIA

"A vida ou a economia"

Não há vida humana na Terra sem produção econômica.
Quem imagina que parar a economia vai salvar a humanidade da morte por essa pandemia parece ignorar que é a produção que irá criar o que é preciso para enfrentá-la. E não apenas isso, as pessoas continuarão precisando de moradia, vestuário, alimento, sabão, água, luz, medicamentos e outros bens e serviços. Não apenas precisam disto as pessoas que trabalham, mas as que delas dependem, como os aposentados, doentes, crianças e os funcionários públicos.

É óbvio que se precisa deter a exponencialidade e a velocidade do contágio. Como somos um país pobre não há recursos para atender todos os doentes nos hospitais que normalmente já são precários. Como somos governados por egocentristas irresponsáveis, não há fundos que possam ser utilizados para a compra de testes, máscaras, remédios e equipamentos necessários. Quanto menos produzirmos como sociedade, menos capacidade teremos para atender as necessidades já existentes.

Já se sabe que os idosos e portadores de algumas doenças crônicas fazem parte do grupo de vulneráveis. São estes que estão demandando leitos nos hospitais e cuidados extremos. O foco das autoridades, e dos familiares dessas pessoas deve ser poupá-los do contágio. Somente o isolamento deles, sob critérios de proteção e higiene básicos, poderá reduzir a sobrecarga do sistema socializado que temos, além da rede privada.

Os indivíduos infectados, com ou sem sintomas, devem fazer quarentena. A falta de testes para aferição é um problema que deve ser tratado pelo governo e pelo mercado. Máscaras, álcool, sabão e controle de hábitos ajudará na contenção do contágio.

Eu acredito que medidas racionais possam resolver melhor nossos problemas do que decisões draconianas estabelecidas de cima para baixo sem a certeza de que seus efeitos ocorrerão no curto prazo e de maneira efetiva.

Se os governos querem impor a ordem de forma coercitiva devem estabelecer prazos e esclarecer como os afetados farão para tocar suas vidas. Ficar em casa parado enquanto começa a faltar água, comida e dinheiro não parece uma solução para um problema que já é gravíssimo, mas sim, a criação de outro que somado com aquele se verá ser catastrófico.

Esse talvez seja o último post que faço sobre o assunto.

Tomara que os cientistas da indústria farmacêutica e os médicos pesquisadores descubram um remédio porque se depender das políticas públicas para a gestão da crise, estamos perdidos.

Aos especialistas em infectologia, me solidarizo com seus esforços para encontrar uma solução para a pandemia. No entanto, o problema causado pelo vírus e a reação a ele, transcendem os limites da medicina e invadem outros campos do conhecimento humano, como por exemplo a economia e o direito. Quando isso acontece, ninguém tem autoridade suficiente para determinar, monopolisticamente, o que é certo e o que é errado.

Em cada campo do conhecimento humano, principalmente naqueles que tratam de organizações espontâneas complexas como a economia, há o que se vê e o que não se vê. Até o mais brilhante imunologista, no campo do direito ou da economia, pode ser um cego.

Misticismo e emocionalismo nunca resolveram problemas concretos. Eu entendo a extensão do problema. Tenho parentes que estão no grupo de risco, do qual eu mesmo me incluo, portanto não venham me passar sermão. Lamento cada morte, lamento a dor de cada familiar ou amigo das vítimas. Aplaudo o esforço dos médicos, enfermeiros, gestores e todos os que operam no front dessa batalha. Mas não podemos deixar de lado os demais problemas da vida. Por: Por Roberto Rachewsky

KEYNES TEM QUE MORRER PARA QUE A ECONOMIA SOBREVIVA

Nas eleições presidenciais americanas de 2012, Barack Obama alertou que os Estados Unidos mergulhariam numa profunda depressão se o plano de Ron Paul de cortar $ 1 trilhão do orçamento federal fosse posto em prática.

Opa, perdão. Não foi Obama quem alertou que os cortes orçamentários levariam à depressão. Foi Mitt Romney.

Romney acabaria se tornando o candidato do Partido Republicano, o autointitulado “partido pró-livre mercado”.

Uma ideologia se torna vitoriosa quando ambos os lados da “opinião respeitável” tomam suas ideias básicas como algo natural e inquestionável. Eis o quão completa foi a vitória keynesiana.

A bem da verdade, o keynesianismo já havia se tornado a ideologia prevalecente uma década antes de Romney sequer ter nascido.

A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, o influente tratado de John Maynard Keynes, surgiu durante a Grande Depressão, uma época em que um grande número de pessoas começava a duvidar dos méritos e da resiliência do capitalismo. Era uma obra de teoria econômica, mas seus propagandistas insistiam que ela oferecia também respostas práticas para questões contemporâneas urgentes, como: como ocorrera a Depressão, e por que estava sendo tão duradoura?

A resposta para ambas as perguntas, segundo Keynes e seus seguidores, era a mesma: falta de intervenção estatal.

No entanto, como demonstrou Murray Rothbard em seu livro de 1963 A Grande Depressão Americana, assim como Lionel Robbins e outros também já haviam escrito à época, a Depressão certamente não fora causada por falta de intervenção estatal. Ela foi causada pelas políticas de expansão de crédito orquestrada pelos bancos centrais em todo o mundo, e foi prolongada por causa da imposição de várias soluções burlescas que os governos seguiam improvisando e implantando.

Para começar, Herbert Hoover aumentou os gastos do governo federal em 43% em um único ano: o orçamento do governo, que havia sido de US$ 3 bilhões em 1930, saltou para US$ 4,3 bilhões em 1931. Já em junho de 1932, Hoover aumentou todas as alíquotas do imposto de renda, com a maior alíquota saltando de 25% para 63% (e Roosevelt, posteriormente, a elevaria para 82%).

A Grande Depressão, na verdade, não precisaria durar mais de um ano caso o governo americano permitisse ampla liberdade de preços e salários (exatamente como havia feito na depressão de 1921, que foi ainda mais intensa, mas que durou menos de um ano justamente porque o governo permitiu que o mercado se ajustasse). Porém, o governo fez exatamente o contrário: além de aumentar impostos e gastos, ele também implantou políticas de controle de preços, controle de salários, aumento de tarifas de importação (que chegou ao maior nível da história), aumento do déficit e estimulou uma arregimentação sindical de modo a impedir que as empresas baixassem seus preços.

Contudo, a tese de que, durante uma recessão — e, principalmente, durante uma depressão — os governos nada deveriam fazer, não agradava aos próprios governos. Políticos não gostam de inação; eles gostam de serem vistos como “pessoas que fazem”. Consequentemente, era bem mais atraente às autoridades a mensagem que lhes transmitia Keynes: o livre mercado gera depressões, e para que haja prosperidade é necessário aumentar os gastos e intervenções do governo.

Discorramos brevemente sobre o livro que deu início a essa revolução ideológica. Para ser eufemista, a Teoria Geral não era exatamente o tipo de texto que alguém imaginaria que pudesse ter um poder avassalador.

Paul Samuelson, que viria a se tornar um dos mais notáveis propagandistas mundiais do keynesianismo, admitiu em um momento de rara sinceridade que, quando leu o livro pela primeira vez, não conseguiu ter “a menor ideia do que se tratava”. “Acho que não estou revelando nenhum segredo”, disse ele, “quando afirmo solenemente — com base em lembranças pessoais vívidas — que ninguém em Cambridge, Massachusetts, realmente conseguiu entender o que estava escrito no livro, até mais ou menos doze ou dezoito meses após a publicação.”

A Teoria Geral, prosseguiu ele:

É um livro mal escrito e mal organizado; qualquer leigo que, ludibriado pela reputação passada do autor, comprasse o livro, teria sido lesado em cinco xelins. Não é adequado para uso em sala de aula. É arrogante, rancoroso, polêmico e pouco generoso em seus créditos. É cheio de mistificações e confusões. … Em suma, uma obra de gênio.

Murray Rothbard, que após a morte de Ludwig von Mises passou a ser considerado o decano da Escola Austríaca de Economia, escreveu vários textos críticos importantes sobre Keynes, bem como um longo e revelador ensaio biográfico sobre o cidadão. O primeiro desses textos veio na forma de um ensaio escrito quando Murray tinha apenas 21 anos de idade: Spotlight on Keynesian Economics. O segundo surgiu em seu tratado de 1962, Man, Economy, and State, e o terceiro compôs um capítulo de seu livro Por uma Nova Liberdade.

Murray não mediu palavras, referindo-se ao keynesianismo como “o embuste mais nocivo e bem-sucedido da história do pensamento econômico”. “Toda a lógica keynesiana”, acrescentou, “é um amálgama de distorções, falácias e premissas drasticamente fantasiosas.”

Além dos problemas do sistema keynesiano, havia os lamentáveis traços de Keynes como pessoa, dissecados nesta mini-biografia sobre Keynes. Deixarei Murray descrevê-los:

O primeiro era sua presunçosa vaidade, que lhe assegurava que pudesse lidar com todos os problemas intelectuais de forma rápida e acurada, e que o levou a desprezar qualquer princípio geral que pudesse limitar seu ego desenfreado. O segundo era seu forte sentimento de que não apenas havia nascido na elite britânica dominante, como também era predestinado a liderá-la. […]

O terceiro elemento era seu profundo ódio e desprezo pelos valores e virtudes da burguesia, pela moralidade convencional, pela poupança, pela frugalidade, e pelas instituições básicas da vida familiar.

Quando ainda estudante na Universidade de Cambridge, Keynes integrou um grupo exclusivo e secreto denominado Os Apóstolos. Fazer parte desse grupo alimentou sua vaidade, sua egolatria e seu desprezo pelos outros. Em uma carta pessoal, ele escreveu: “Seria monomania esta avassaladora superioridade moral que sentimos? Tenho a sensação de que a maior parte do resto [do mundo além dos Apóstolos] nunca percebe absolutamente nada. São ou muito idiotas ou muito corrompidos.”

Em sua juventude, Keynes e seus amigos se tornaram o que ele próprio denominava “imoralistas”. Em um texto de 1938 intitulado “My Early Beliefs“, ele escreveu:

Repudiávamos absolutamente qualquer obrigação pessoal nossa de obedecer a regras gerais. Tínhamos o direito de julgar cada indivíduo em seus méritos, e tínhamos a sabedoria para fazê-lo com êxito. Este era um componente muito importante da nossa crença, e a defendíamos com violência e agressividade. Para o mundo externo, essa era a nossa característica mais evidente e perigosa. Repudiávamos totalmente quaisquer formas de moralidade, convenção e sabedoria tradicionais. Éramos, em suma, e no sentido mais exato do termo, imoralistas.

Keynes tinha 55 anos quando publicou esse texto. E, mesmo naquele estágio já avançado de sua vida, ele afirmou que o imoralismo “ainda é, no fundo, a minha religião. […] ainda sou e sempre serei um imoralista”.

No campo da economia, Keynes exibiu o mesmo tipo de abordagem que adotara em relação à filosofia e à vida em geral. “Tenho medo de ‘princípios'”, disse ele a uma comissão parlamentar em 1930. Essa, naturalmente, é a atitude de qualquer pessoa que ambiciona influência, prestígio e o exercício do poder; ter princípios apenas obstruiria seu caminho.

Dessa maneira, Keynes inicialmente defendia o livre comércio, depois virou a casaca em 1931 e se tornou um protecionista, voltando depois a defender o livre comércio durante a Segunda Guerra Mundial. Como disse Rothbard: “Nunca qualquer exame de consciência ou até mesmo uma simples hesitação refrearam suas mudanças vertiginosas.”

Seu livro a Teoria Geral dividiu a população mundial em vários grupos, cada um com suas características próprias. Aqui Keynes pôde dar vazão a seus ódios crônicos.

Primeiramente havia uma grande massa de consumidores, estúpidos e robóticos, cujas decisões de consumo eram fixas e determinadas por forças alheias, de forma que Keynes pôde reduzi-los a uma simples e matemática “função de consumo”.

Depois havia um subconjunto de consumidores, os poupadores burgueses, por quem Keynes tinha um particular desprezo. No passado, tais pessoas eram louvadas por seu hábito de poupar, que era o que possibilitava os investimentos que elevaram o padrão de vida de toda a população. Mas o sistema keynesiano rompeu o vínculo entre poupança e investimento, alegando que os dois não tinham qualquer relação um com o outro. A poupança era, na verdade, um entrave ao sistema, dizia Keynes, e podia gerar recessões e depressões.

Assim, Keynes vituperou a burguesia, os hábitos burgueses e a respeitabilidade moral de se levar uma vida frugal e tradicional. Poupar era tolice, não sabedoria.

O terceiro grupo eram os investidores. Em relação a estes, Keynes era um pouco mais favorável. As atividades dessas pessoas não podiam ser reduzidas a uma mera função matemática. Elas eram dinâmicas e livres. Porém, e infelizmente, elas também eram dadas a oscilações selvagens e irracionais em seu comportamento e em sua visão de mundo. Essas oscilações irracionais faziam da economia uma montanha-russa.

Finalmente, chegamos ao quarto e último grupo. Esse grupo é supremamente racional, economicamente sábio, e indispensável à estabilidade da economia. Esse grupo não apenas é capaz de invalidar as decisões tolas de todos os anteriores, como também é perfeitamente apto a impedir a economia de cair em depressões ou excessos inflacionários.

Você provavelmente não ficará espantado ao descobrir que os oniscientes e perspicazes peritos que integram o quarto grupo de Keynes são os políticos e as autoridades do governo.

Para compreender exatamente o que Keynes esperava que os políticos fizessem, analisemos brevemente o sistema econômico desenvolvido por ele em seu livro a Teoria Geral. Sua argumentação básica é que a economia de mercado tende a um estado crônico de subutilização dos recursos. Para que não se caia na depressão e nela se permaneça para sempre, é necessária a sábia supervisão e intervenção da classe política.

De novo, podemos tranquilamente rejeitar a possibilidade de as classes políticas do mundo ocidental terem abraçado o keynesianismo porque os políticos fizeram um profundo estudo das obras de Keynes. Pelo contrário: o keynesianismo soube apelar às duas maiores motivações dos políticos: sua necessidade de parecer indispensáveis e sua gana por exercer o poder.

O keynesianismo apenas brandiu essas ideias diante da classe política, a qual, então, reagiu como um cão salivante. Lamento destruir sonhos romantizados e idílicos, mas o que houve foi apenas isso e nada mais do que isso. Nenhum político fez qualquer estudo aprofundado das obras de Keynes para então adotar suas idéias. Aliás, como o próprio Paul Samuleson confessou, nem ele próprio conseguiu entender Keynes.

Contudo, no início dos anos 1970, a economia keynesiana sofreu um golpe devastador; ou, para usar a expressão mais ilustrativa de Rothbard, “morreu do pescoço para cima”.

O keynesianismo não era capaz de explicar — e nem muito menos de resolver — a estagflação, ou recessão inflacionária, vivida pelos EUA e pela Inglaterra nos anos 1970.

Supostamente, era a função dos planejadores keynesianos conduzir a economia de modo a impedir as ameaças gêmeas: de um lado, uma economia superaquecida e inflacionária; de outro, uma economia deprimida, com deflação, e com desempenho abaixo do ideal. Durante um boom econômico, os planejadores keynesianos deveriam “enxugar o excessivo poder de compra” da população elevando impostos e, com isso, diminuindo o consumo. Durante uma depressão, os keynesianos deveriam diminuir os impostos e aumentar os gastos do governo para injetar consumo na economia.

Porém, quando ocorreu uma recessão inflacionária com alto desemprego, toda essa abordagem teve de ser descartada. O componente inflacionário sugeria que os gastos tinham de ser reduzidos. Já o componente recessivo e do alto desemprego sugeria que os gastos tinham de ser aumentados. Como poderiam os planejadores keynesianos fazer ambos simultaneamente? Como poderiam eles pisar no acelerador e no freio ao mesmo tempo?

Obviamente, isso não era possível, o que explica por que o keynesianismo entrou em declínio no final dos anos 1970, tornando-se uma teoria obtusa.

Em seu livro Man, Economy, and State, Rothbard demoliu o sistema keynesiano em todos os seus alicerces, mostrando que as relações entre os grandes agregados econômicos pressupostos pelos keynesianos, e essenciais a seu sistema, são completamente destituídos de lógica e não se sustentam. Ele implodiu os principais conceitos empregados nas análises keynesianas: função de consumo, multiplicador e acelerador, só para começar.

Bem, por que isso importa hoje?

Os erros de Keynes acabaram por conceder poder a classes políticas sociopáticas ao redor de todo o globo, e privaram o mundo do progresso econômico que, sem o keynesianismo, teríamos tido.

O Japão é um grande exemplo de ruína keynesiana: o índice Nikkei 225, que atingiu 38.500 em 1990, ainda não conseguiu chegar a sequer metade desse valor desde então. Um quarto de século atrás, o índice de produção industrial no Japão era de 96,8; após 25 anos de uma política keynesiana agressiva que deu ao Japão a maior dívida em relação ao PIB em todo o mundo (229,2% do PIB), o índice de produção industrial atual… continua em 96,8.

Enquanto isso, os Estados Unidos tiveram dezesseis anos de estímulo fiscal e taxas de juros absurdamente baixas, tudo encorajado pelos keynesianos. O resultado? O número de empregos realmente capazes de sustentar uma família de classe média é hoje dois milhões a menos do que quando Bill Clinton deixou a presidência.

Nenhuma quantidade de estímulo parece ser suficiente; e, quando o estímulo fracassa, a visão tacanha do establishment keynesiano só consegue pensar em dobrar a aposta, sem jamais questionar a política em si.

Mas há uma alternativa, e é aquela defendida por Murray N. Rothbard e Ludwig von Mises: a Escola Austríaca de Economia e sua análise da economia de mercado pura.

Contra todo o edifício da opinião predominante, o Instituto Mises sempre se posicionou e se impôs como um crítico ferrenho das políticas predominantes. Para os dissidentes, os intelectualmente curiosos, os propensos a duvidar dos ditos especialistas que não produziram nada além de ruína, o Instituto Mises tem sido um farol.

Formamos toda uma geração de austríacos no meio acadêmico, jornalístico e financeiro. Nosso trabalhamos duro fez com que, quando uma catástrofe como a crise de 2008 ocorreu, a explicação austríaca já estava pronta.

Mas, com a sua ajuda, podemos realizar muito mais. Os keynesianos estão fingindo ter tudo sob controle, mas sabemos que isso é uma fantasia. Uma oportunidade ainda maior que a de 2008 nos aguarda, e queremos ajudar a conduzir a opinião pública e formar um quadro de jovens e brilhantes acadêmicos e eruditos para esse dia. Com a sua ajuda, podemos, enfim, acordar do pesadelo keynesiano.

Como disse um tradutor coreano de um texto austríaco: “Keynes tem que morrer para que a economia sobreviva.” Com a sua ajuda, podemos acelerar a chegada desse glorioso dia.
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Por Lew Rockwell| 06 junho,2016

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Sobre o Autor: Lew Rockwell

Lew Rockwell é o chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State.

Publicado originalmente no site:https://rothbardbrasil.com/