terça-feira, 29 de março de 2016

NÃO PARAR É MORRER

Almoço com um amigo de infância. Conversa solta. A certa altura, ele olha para o relógio e diz, com a preocupação típica dos pecadores: "Já deveria estar trabalhando."

Informação: passou meia-hora e o prato principal ainda está sob processo mandibular. Eu rio, digo qualquer coisa como "mas tu não és o chefe?", e ele responde: "Mesmo assim."

Não é caso único. Em todos os contextos, e sob todos os pretextos, encontro gente que se sente culpada por não estar trabalhando. Como se um momento de pausa fosse uma blasfêmia contra a religião do escritório. Não falo apenas de funcionários que dependem da benevolência do diretor. Falo de seres soberanos sobre o seu próprio tempo e sobre a sua própria ocupação, que em teoria já têm carreira e patrimônio para uma ociosidade ocasional.

Os casos mais aberrantes acontecem com colegas de ofício, para quem as pausas deveriam ser o primeiro mandamento das suas artes.

Nem eles se salvam. Quando os encontro para dois dedos de conversa, lá vem a angústia do livro/ensaio/artigo que eles não estão a escrever.

De fato: quem disse que vivemos na sociedade disciplinar do sr. Foucault? Hoje, a punição vem de dentro. Somos nós que vigiamos e punimos qualquer manifestação de liberdade interior.

Eis, no fundo, a tese de "A Sociedade do Cansaço", um breve e brilhante ensaio de Byung-Chul Han. O título começa por enunciar um diagnóstico: cada época histórica tem as suas doenças características. Se a humanidade já passou pelas épocas bacteriana e viral, o nosso tempo define-se pela doença neuronal.

Diferenças? Para Han, as duas primeiras definiam-se pela ameaça daquilo que é "estranho" e "exterior" —a bactéria, o vírus que agredia o organismo. A violência neuronal —presente nas depressões, na ansiedade, nas neuroses etc— é algo que nasce em nós e contra nós.

Pela submissão voluntária ao único imperativo que restou nas sociedades atomizadas e dessacralizadas do Ocidente —o "imperativo do trabalho"— Byung-Chul Han é primoroso ao escrever como o homem pós-moderno "transporta sobre as costas o seu próprio campo de trabalho forçado".

Isso é visível até nas pequenas coisas: podemos considerar a capacidade de "multitasking" uma forma de evolução. Algumas empresas, nos seus anúncios de emprego, valorizam a acrobacia.

Mas essa hiperatividade, que permite realizar várias tarefas ao mesmo tempo, é uma regressão: só os animais selvagens, por motivos de sobrevivência, são obrigados a várias atividades simultâneas —busca de alimentos, alerta permanente para outros predadores etc. O fato de nos comportarmos como animais não deveria ser motivo para festejar.

E, obviamente, não é. Deixo ficar as consequências físicas e psíquicas da "sociedade do cansaço" para os especialistas respectivos.

Fico pelas consequências filosóficas: que espécie de cultura esperamos produzir quando privamos o próprio ato criativo da sua semente mais necessária —esse tempo para não-fazer; esse "dom da escuta" que o "animal de trabalho" considera um luxo e, como se vê em alguns amigos, uma fonte de culpa?

Seria fácil desprezar o "dom da escuta" se a vertigem da produção contínua oferecesse também a produção contínua de obras valiosas. Mas a vertigem, como defende acertadamente Byung-Chul Han, limita-se a reproduzir e acelerar o que existe.

É por isso que a celebração mentecapta de que "nada é impossível" se converte rapidamente no seu oposto: na ideia de que "nada é possível", o princípio da "infarto" neuronal.

George Orwell dizia que é preciso uma luta constante para ver o que existe bem na frente do nosso nariz. "A Sociedade do Cansaço" tem essa capacidade. No fundo, a capacidade que as bestas de carga não têm tempo para usar. 
Por: João pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

domingo, 27 de março de 2016

PORQUE A BÉLGICA É O MARCO ZERO DOS JIHADISTAS EUROPEUS

Um número cada vez maior de muçulmanos belgas reside em guetos isolados onde a miséria, desemprego e a criminalidade caminham a passos largos. Em Molenbeek, a taxa de desemprego gira em torno de 40%. Imãs radicais passam pentes finos, de forma agressiva, à procura de jovens com poucos recursos para arregimentá-los a travarem a jihad contra o Ocidente.


"Quando temos que contatar esse pessoal (agentes europeus) ou enviar nossos rapazes para conversar com eles, nós estamos no fundo falando com pessoas que são... crianças. Eles não são proativos, eles não sabem o que está acontecendo. Eles estão em um enorme estado de negação. É algo tão aterrorizante para eles admitirem que seu país está sendo tomado". — Oficial do serviço de inteligência americano.

"Combatentes que voltam da Síria são uma ameaça enorme... É absolutamente inacreditável que nossos governos os deixam retornar... Qualquer governo do Ocidente que se recusar em prendê-los, é cúmplice moral caso um desses monstros cometa uma atrocidade. ... Nossos cidadãos estão diante de um perigo mortal se não restaurarmos o controle sobre as nossas próprias fronteiras nacionais". — Geert Wilders Parlamentar Holandês.

Os ataques terroristas no aeroporto e metrô em Bruxelas estão direcionando os holofotes, mais uma vez, no humilhante papel da Bélgica de refúgio europeu dos jihadistas.

Vários fatores distintos, porém interligados, ajudam a explicar porque Bruxelas, a capital política da Europa, emergiu como a capital jihadista da Europa.

Palco da jihad na Bélgica: resultado dos atentados de ontem no aeroporto de Bruxelas (esquerda) e em uma estação de metrô (direita).

Numerosa População Muçulmana

Dá-se como certo que a população muçulmana da Bélgica chegue a 700.000 pessoas em 2016 ou seja, cerca de 6,2% da população do país, de acordo com a projeção dos cálculos de um estudo recente realizado pelo Pew Research Center. Em termos percentuais, a Bélgica conta com uma das maiores populações muçulmanas da Europa Ocidental.

Na região metropolitana de Bruxelas, onde reside atualmente cerca da metade dos muçulmanos belgas, a população muçulmana atinge 300.000 pessoas, aproximadamente 25%. Esse total faz de Bruxelas uma das cidades mais islâmicas da Europa.

A grosso modo, cerca de 100.000 muçulmanos residem no distrito de Molenbeek em Bruxelas, região que emergiu como centro do jihadismo belga.
Sociedades Paralelas

O problema do Islã radical da Bélgica teve início nos anos 1960, quando as autoridades belgas incentivaram a migração em massa da Turquia e do Marrocos como fonte de mão de obra barata. Posteriormente eles foram seguidos por migrantes do Egito e da Líbia.

As fábricas foram fechadas, mas os migrantes ficaram e criaram raízes. Hoje a maioria dos muçulmanos na Bélgica já está na terceira e quarta geração. Ao passo que muitos muçulmanos belgas estão integrados na sociedade belga, outros tantos não se adaptaram.

Um número cada vez maior de muçulmanos belgas reside nas periferias, em guetos isolados onde a miséria, desemprego e a criminalidade caminham a passos largos. Em Molenbeek, a taxa de desemprego gira em torno de 40%. Imãs radicais passam pentes finos, de forma agressiva, à procura de jovens com poucos recursos para arregimentá-los a travarem a jihad contra o Ocidente.
Salafismo

Assim como acontece em outros países europeus, muitos muçulmanos na Bélgica estão abraçando o salafismo, uma forma radical do Islã, juntamente com o chamamento para desfechar a jihad violenta contra todos os incrédulos em nome de Alá.

O salafismo deriva seu nome do termo árabe salaf, que significa predecessor ou ancestral, que por sua vez significa Maomé. Os salafistas remontam suas raízes ao local de nascimento de Maomé. Eles glorificam uma visão exaltada da perfeição do que eles acreditam ser o verdadeiro Islã original, praticado pelas primeiras gerações de muçulmanos, incluindo Maomé e seus companheiros e seguidores, nos séculos VII e VIII d.C. O objetivo do salafismo é o de recriar uma forma pura do Islã na era moderna.

Essa meta coloca os estados modernos, seculares e pluralistas diante de sérios problemas. Um recente relatório da inteligência alemã definiu o salafismo como uma "ideologia política, cujos seguidores veem o Islã não apenas com uma religião, mas também como uma estrutura legal que regulamenta todas as esferas da vida: do papel do estado em organizar o relacionamento das pessoas à vida privada do indivíduo".

O relatório acrescenta: "o salafismo rejeita os princípios democráticos de separação do estado da religião, soberania popular, liberdade religiosa e sexual, igualdade de gênero e o direito fundamental da integridade física".

Muito embora os salafistas constituam apenas uma pequena fração do crescimento acelerado da comunidade muçulmana na Europa, as autoridades estão cada vez mais temerosas de que muitos daqueles que são atraídos pela ideologia salafista sejam jovens muçulmanos, facilmente impressionáveis, abertos a chamamentos para desfecharem atos violentos em nome do Islã.
Sharia4Belgium

Antes da ascensão do Estado Islâmico, o grupo salafista mais conhecido da Bélgica era o Sharia4Belgium, que desempenhou um papel importante na radicalização de muçulmanos belgas.

Sharia4Belgium foi banido em fevereiro de 2015, quando seu líder Fouad Belkacem foisentenciado a 12 anos de prisão. Um arquivo parcial do Website do antigo grupo pode seracessado no Arquivo da Internet. No Website, o Sharia4Belgium convida todos os belgas a se converterem ao Islã e se submeterem à lei da Sharia ou enfrentarem as consequências. O texto diz o seguinte:


"São passados 86 anos desde a queda do Califado Islâmico. Predomina a tirania e a corrupção neste país (Bélgica), saímos de um escândalo para entrarmos em outro: crises econômicas, pedofilia, criminalidade, crescimento da islamofobia, etc..."

"Assim como no passado, nós (muçulmanos) salvamos a Europa da Idade das Trevas, planejamos fazer o mesmo agora. Nós temos a solução certa para todas as crises, é a observância da lei divina, a saber: a Sharia. Conclamamos a implementação da Sharia na Bélgica.

"A Sharia é o sistema perfeito para a humanidade. Durante os 1.300 anos do estado islâmico só tivemos ordem, bem estar social e proteção de todos os direitos humanos. Sabemos que a Espanha, França e Suíça estiveram no auge sob a Sharia. Durante esses 1.300 anos foram estupradas 120 mulheres, hoje são estupradas 120 mulheres por dia na Europa. Sequer houve 60 roubos registrados nesses 1.300 anos.

"Diante disso, convidamos a família real, o parlamento, toda a aristocracia e todo residente belga a se submeter à luz do Islã. Salve-se a si mesmo e a seus filhos do doloroso castigo na vida futura e conceda a si mesmo a vida eterna no paraíso".

Um relance no background da imagem do Website do Sharia4Belgium mostra a bandeira preta da jihad tremulando no alto do parlamento belga. Até recentemente, a página no YouTube do Sharia4Belgium (também retirada) era utilizada para incitar os muçulmanos à jihad. O grupo postava vídeos com os seguintes títulos "A Jihad É Obrigatória", "Encorajando a Jihad", "Duelo e Guerra de Guerrilha" e "As Virtudes do Martírio". Desse modo o Sharia4Belgium abriu o caminho para o Estado Islâmico na Bélgica.
Jihadistas Belgas

Um dos menores países da Europa Ocidental, a Bélgica se tornou a maior fonte de jihadistas per capita da Europa, que combate na Síria e no Iraque. De acordo com dados fornecidos em 22 de fevereiro de 2016 pelo Ministro do Interior Jan Jambon, 451 cidadãos belgas se consideravam jihadistas. Destes, 269 se encontram nos campos de batalha na Síria ou no Iraque, acredita-se que seis estejam a caminho da zona de guerra, 117 retornaram à Bélgica e 59 tentaram sair, mas foram barrados na fronteira.

Segundo Jambon, 197 dos jihadistas são de Bruxelas: na Síria encontram-se 112, ao passo que 59 voltaram para a Bélgica. Outros 195 jihadistas são de Flanders: na Síria encontram-se 133, ao passo que 36 retornaram.

A Bélgica é a principal fonte de jihadistas per capita da União Européia para o Estado Islâmico: por volta de 40 jihadistas por milhão de habitantes, comparado a 27 da Dinamarca, 19 da Suécia, 18 de França, 17 de Áustria, 13 da Finlândia, 12 da Noruega, 9,5 do Reino Unido, 7,5 da Alemanha e 2 da Espanha.
Incompetência Oficial?

Nos últimos 24 meses, pelo menos cinco ataques jihadistas tiveram ligações com a Bélgica. Emmaio de 2014, jihadistas atacaram o museu judaico em Bruxelas. Em agosto de 2014, um jihadista com vínculos em Molenbeek atacou um trem da linha Amsterdã/Paris. Em janeiro de 2015 a polícia belga realizou uma blitz antijihadista em Verviers, Bélgica.

Em novembro de 2015, veio à tona que dois dos oito jihadistas que atacaram Paris residiam em Bruxelas. Em 18 de março a polícia deteve Salah Abdeslam, natural da Bélgica, de nacionalidade francesa e de origem marroquina, pelo seu papel nos ataques de Paris. Ele esteve foragido por meses. Em 22 de março, Bruxelas, mais uma vez, foi atacada por jihadistas.

Após os ataques em Paris em novembro de 2015, o Primeiro Ministro da Bélgica Charles Michelressaltou: "quase sempre há uma ligação com Molenbeek. É um problema gigantesco. Além da prevenção, temos também que nos focar mais na repressão".

O Ministro do Interior Jambon acrescentou:

"No momento não temos o controle da situação em Molenbeek. A próxima tarefa é intensificar nossas operações naquela região. Eu vejo que a Prefeita Françoise Schepmans (de Molenbeek) também está pedindo nossa ajuda e que o chefe da polícia local está disposto a cooperar. Devemos juntar forças e limpar os últimos vestígios, isto é realmente necessário".

O último ataque em Bruxelas, entretanto, indica que as autoridades belgas ainda não têm o problema jihadista sob controle.

Um agente do contraterrorismo belga salientou que devido ao tamanho reduzido do governo belga e ao grande número de investigações em andamento, praticamente todos os investigadores e agentes da inteligência das forças armadas no país estão focados nas investigações jihadistas internacionais. Ele acrescentou:


"Nós simplesmente não temos pessoal suficiente para qualquer outra finalidade e francamente, não dispomos de infraestrutura para investigar ou monitorar adequadamente centenas de indivíduos suspeitos de terem alguma ligação com o terrorismo, bem como de ir atrás de centenas de investigações e arquivos abertos. É literalmente uma situação insustentável e, honestamente, muito grave".

Um oficial do serviço de inteligência americano, segundo consta, disse que trabalhar com agentes de segurança belgas era como trabalhar com crianças:


"Mesmo na União Européia em geral, há uma infiltração de jihadistas que vem ocorrendo há duas décadas. E é só agora que eles estão começando a se debruçar em cima disso. Quando temos que contatar esse pessoal ou enviar nossos rapazes para conversar com eles, nós estamos no fundo falando com pessoas que são, estou apenas sendo franco, crianças. Eles não são proativos, eles não sabem o que está acontecendo. Eles estão em um enorme estado de negação. É algo tão aterrorizante para eles admitirem que seu país está sendo tomado".

Em novembro de 2015, o New York Times publicou uma análise áspera da incompetência belga. Veio à tona que um mês antes dos ataques em Paris, a Prefeita Schepmans de Molenbeek, recebeu uma lista com nomes e endereços de 80 jihadistas que residiam em seu distrito. Na lista constavam dois irmãos que mais tarde tomariam parte nos ataques de 13 de novembro em Paris.

De acordo com o Times, Schepmans disse: "o que eu deveria fazer em relação a eles? Não é minha função rastrear prováveis terroristas. Isso é responsabilidade da polícia federal". O Timescontinua: "o serviço da polícia federal, de sua parte, reporta ao Ministro do Interior Jan Jambon, um nacionalista flamengo que tem suas dúvidas sobre se a Bélgica, dividida entre falantes do idioma francês, holandês e alemão, deveria sequer existir como estado único".
Um Estado Artificial

Bélgica, alojada entre a França, Alemanha, Luxemburgo e Holanda, foi estabelecida em 1830 para servir como estado tampão neutro entre os rivais geopolíticos, França e Alemanha. O papel da Bélgica como estado tampão terminou, para todos os efeitos, após o fim da Segunda Guerra Mundial e o subsequente deslocamento em direção à integração européia. Com o passar do tempo, Bruxelas emergiu como a capital, de fato, da União Européia.

Nas últimas três décadas, a Bélgica se viu diante de uma crise existencial devido ao crescente antagonismo entre os falantes dos idiomas holandês e francês. Um observador ressaltou:


"O país opera na base do apartheid linguístico, que infecta tudo, das bibliotecas públicas ao governo local e regional, sistema educacional, partidos políticos, televisão nacional, jornais e até times de futebol. Não há uma narrativa nacional na Bélgica, melhor dizendo, há duas histórias contrárias uma contada em holandês e outra em francês. O resultado é o diálogo dos surdos".

Essa disfunção se estende ao contraterrorismo belga. O New York Times observa:


"Com três populações unidas de forma constrangedora, a Bélgica dispõe de um manancial confuso de instituições e partidos políticos, divididos ao longo de linhas linguísticas, ideológicas ou simplesmente oportunistas, que estão sendo acusados da aparente incapacidade do país em lidar com a ameaça terrorista".

"Não seria nada difícil encontrar os dois irmãos de Molenbeek antes deles ajudarem a assassinar 130 pessoas nos ataques em Paris: eles residiam apenas a 90 metros da prefeitura do município, em frente a uma praça onde funciona um mercado com chão de paralelepípedos, em um apartamento subsidiado pertencente ao município, facilmente visível do luxuoso gabinete da prefeitura situado no segundo andar do edifício. Um terceiro irmão trabalhava na administração do município para a Sra. Schepmans".

"Muito mais difícil, contudo, foi negociar os caminhos labirínticos que ligam, e também dividem, a grande quantidade de órgãos responsáveis pela segurança em Bruxelas, uma cidade capital com seis forças policiais locais e uma polícia federal".

"Bruxelas tem três parlamentos, 19 assembléias municipais e os escritórios centrais de dois serviços de inteligência, um militar e outro civil, bem como uma unidade de avaliação de risco de terrorismo, cujo chefe, exaurido e desmoralizado pelas destrutivas batalhas territoriais, renunciou em julho mas ainda está à frente do departamento".

"Perdido no alvoroço onde os dois irmãos, Ibrahim Abdeslam, que detonou um colete com explosivos em Paris e Salah, alvo de uma extensa caçada humana que deixou os policiais descontrolados em meio às batidas em residências por todo país".

O problema da língua também afeta a integração. Conforme explica uma análise do jornalWashington Post, "em muitos empregos em Bruxelas é necessário saber francês, flamengo ou holandês e agora às vezes até inglês, ao passo que a maioria dos imigrantes fala quase sempre árabe e apenas alguns falam francês. Isso obstruiu a integração".
Fronteiras Abertas

O assim chamado Acordo de Schengen, que permite ir e vir sem passaportes na maioria dos países da União Européia, também permitiu que jihadistas se passassem por migrantes e entrassem na Europa pela Grécia e se dirigissem para o norte da Europa sem serem detectados.

Em uma entrevista concedida ao Breitbart London, o político holandês Geert Wilders, que atualmente está sendo julgado na Holanda por causa da liberdade de expressão, ressaltou:

"Combatentes que voltam da Síria são uma ameaça enorme. São predadores perigosos rondando nossas ruas. É absolutamente inacreditável que nossos governos os deixam retornar. E também é inacreditável que, uma vez que retornaram, não são colocados na cadeia".

"Na Holanda há dezenas desses jihadistas que retornaram ao país. Nosso governo permite que a maioria deles ande por aí livremente e se recusa em prendê-los. Exijo que eles sejam detidos imediatamente. Qualquer governo do Ocidente que se recusar em prendê-los, é cúmplice moral caso um desses monstros cometa uma atrocidade".

"O governo também precisa fechar nossas fronteiras nacionais. A zona Schengen da União Européia, onde não é permitido que haja controle de fronteiras, é uma catástrofe. O marroquino/belga Salah Abdeslam, o arquiteto do banho de sangue do último mês de novembro em Paris, viajou livremente da Bélgica para a Holanda em várias ocasiões no ano passado".

Wilders concluiu: "isto é intolerável. Fronteiras abertas são um gigantesco risco à segurança. Nossos cidadãos estão diante de um perigo mortal se não restaurarmos o controle sobre as nossas próprias fronteiras nacionais".

Tradução: Joseph Skilnik

Soeren Kern é colaborador sênior do Gatestone Institute sediado em Nova Iorque. Ele também é colaborador sênior do European Politics do Grupo de Estudios Estratégicos / Strategic Studies Group sediado em Madri. Siga-o no Facebook e noTwitter. Seu primeiro livro, Global Fire, estará nas livrarias em 2016.
Do site: http://pt.gatestoneinstitute.org/7682/belgica-jihadistas

quinta-feira, 24 de março de 2016

A SEITA JARARACA

O que estará pensando o PT após tamanha manifestação contra Lula, Dilma e associados, ontem, em todo o país?


Não temos bola de cristal, mas não é difícil ter alguma ideia do que estará passando na cabeça do PT. O PT é uma seita. Sempre foi. E o traço essencial de toda seita é o ódio. Esta seita colheu seu fanático séquito de seguidores entre grande parte da inteligência (tola?) do país, arregimentando professores, jornalistas, intelectuais, cientistas e estudantes, além, é claro, do pelotão de choque dos militantes profissionais.

Eu apostaria que o PT não está nem aí para o que aconteceu no Brasil ontem. Não que os petistas não estejam preocupados com a possível perda do PMDB na sua base, ou com o risco crescente do impeachment, ou com o sangramento e paralisia do governo. Isto é um pesadelo mesmo. Devem estar mijando nas calças. Devem acordar suando, com o gosto da comida de cadeia na boca, ou com a estranha sensação de que foram desmascarados na sua profunda vocação para o engodo.

Refiro-me a outra coisa. Há dez dias, após a condução coercitiva para o depoimento no aeroporto de Congonhas, o ex-presidente Lula fez um discurso raivoso contra todo este processo que reúne procedimentos jurídicos (Lava Jato como grande exemplo) e o nojo que seu partido parece causar na maior parte da população. Lula referiu-se a si mesmo como uma jararaca. Acho que deveríamos levar a sério sua metáfora.

O PT hoje continua sendo uma seita, mas não mais a seita da estrela da esperança (que enganou muitos e continua enganando alguns), mas a seita da jararaca. E seu veneno ainda pode ser mortal, justamente porque ele não está nem aí para a população. A essência do veneno da seita da jararaca (o PT) é justamente sua indiferença para com o Brasil e sua população comum, contrariamente ao discurso populista com o qual enfeitiçou o país por décadas.

O Partido dos Trabalhadores não tem nenhuma elegância diante da derrota. E isso nada tem a ver com a fato de que a maior parte dos petistas seja arrivista social. A deselegância é um comportamento que atravessa todas as classes sociais de forma "democrática". Mesmo se tiver que estrangular o pais, levando-nos à miséria absoluta, continuará a tentar mobilizar sua seita de seguidores da jararaca para impedir o que grande parte da população demonstrou ontem nas ruas.

A soberania popular (base da democracia), em grande parte, demonstrou ontem não mais reconhecer na presidente Dilma alguém que mereça confiança ética, política ou técnica. Além disso, a soberania popular "escolheu" Sérgio Moro em detrimento da jararaca. Mas, isso pouco importa à seita da jararaca.

Eis seu veneno, na sua forma atual. Este veneno, na sua forma clássica, foi a corrupção sistemática que montou no país e seu atraso mental em termos econômicos que pode levar o Brasil ao tempo da economia de subsistência. Há quem diga que grama que socialista pisou leva muito tempo para florescer de novo. Na sua forma atual, este veneno será sua tentativa, mesmo que a custos gigantescos para o país, de se manter no poder. E para o sofrimento do povo, ele oferecerá o sorriso sinistro da jararaca.

Viveremos dias fascinantes de agora em diante. Preparem seus corações para turbulências. As alma mais frágeis poderão ter medo, mas é em momento como esses que virtudes como coragem e disciplina são necessárias. Os covardes, provavelmente, ficarão paralisados. As jararaquinhas serão soltas pelas ruas, cuspindo seu discurso de que são vítimas das elites. Difícil imaginar que um "boy das empreiteiras" represente o grosso da população brasileira que está vendo sua vida ir pelo ralo.

Mas, vale lembrar que grande parte dessas jararaquinhas habita o pensamento público, apesar de que estão chocadas com o fato de que nem todo mundo "inteligente" teme ou pertence à seita delas. Penso mesmo, às vezes, que essas jararacas não conseguem entender que grande parte do país não as vê mais como santinhas redentoras. O PT é coisa do passado. Restará apenas as jararacas loucas correndo pelas ruas. 
Por: Luiz Felipe Pondé Publicado na Folha de SP

terça-feira, 22 de março de 2016

O BRASIL ACABOU?

Em 25 anos, o Governo federalizou quase 35% do território nacional destinando-o a unidades de conservação, terras indígenas, comunidades quilombolas e assentamentos de reforma agrária. Sem planejamento estratégico adequado, esse conjunto de territórios resultou essencialmente da lógica e da pressão de diversos grupos sociais e políticos, nacionais e internacionais. Agora, o país está diante de um desafio de gestão territorial, gerador de conflitos cada vez mais agudos, conforme mostram os dados reunidos pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica – GITE da EMBRAPA (FIG. 1).



Segundo o Ministério do Meio Ambiente, até outubro de 2013, 1098 unidades de conservação ocupavam 17% do Brasil. Aqui, na maioria dos casos, as unidades de conservação excluem a presença humana, enquanto na Europa, Ásia e Estados Unidos pode haver agricultura, aldeias e diversas atividades nos parques nacionais, sem evocar a ampla visitação turística (FIG. 2).


Nas unidades de conservação, a legislação ambiental brasileira ainda define no seu entorno externo umazona de amortecimento onde as atividades agrícolas (e outras) são limitadas por determinações da gestão da unidade de conservação (proibição de transgênicos, de pulverizar com aviação agrícola etc.). A largura dessa zona é variável. Estimativas por geoprocessamento avaliam o seu alcance territorial entre 10 a 80 milhões de hectares adicionais (1 a 9% do Brasil), dependendo da largura dessa faixa que pode variar entre as unidades de conservação e mesmo ao longo do perímetro de uma única unidade (FIG. 3).


Segundo a FUNAI, 584 terras indígenas ocupam aproximadamente 14% do território nacional. Reunidas, essas duas categorias de áreas protegidas, eliminando-se as sobreposições, ocupam 247 milhões de hectares ou 29% do país (FIG. 4).


Com quase 30% de áreas protegidas (unidades de conservação e terras indígenas), o Brasil é o campeão mundial da preservação (FIG. 5). Segundo a International Union for Conservation of Nature (IUCN), os 11 países com mais de dois milhões de quilômetros quadrados existentes no mundo (China, EUA, Rússia etc.) dedicam 9% em média de seus territórios às áreas protegidas (FIG. 6).



A atribuição de terras pelo Governo Federal não acaba por aí. Sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) existem 9.128 assentamentos, de diversas naturezas e estágios de implantação (FIG. 7). Eles ocupam 88,1 milhões de hectares, ou seja, 10,2% do Brasil ou 14,4% do que resta quando descontado o território já atribuído às áreas protegidas. Essa área equivale a quase o dobro da cultivada atualmente em grãos no Brasil, responsável por cerca de 190 milhões de toneladas na última safra.


Pelos dados do INCRA e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, as 268 áreas quilombolas decretadas ocupam cerca de 2,6 milhões de hectares (FIG. 7). No conjunto mais de 290 milhões de hectares, 34% do território nacional, estão atribuídos.

O mapa do Brasil com mais de 11.000 áreas atribuídas, essencialmente pelo Governo Federal, impressiona e permite visualizar a complexidade da situação atual (FIG. 8). Esse mapa ilustra o tamanho do desafio de gestão territorial e fundiária. Cada uma dessas unidades pede um tipo de gestão, avaliação e monitoramento específicos e transparentes.


O Governo Federal continuará atribuindo-se mais e mais extensões de terra que, na maioria dos casos, sairão do controle dos estados e municípios. Há Estados em que boa parte de seu território já foi “federalizada” por decretos federais de atribuição de áreas que estarão por muito tempo sob o controle de órgãos e instituições federais.

Além das áreas já atribuídas, existem milhares de solicitações adicionais para criar ou ampliar mais unidades de conservação, terras indígenas, assentamentos agrários e quilombolas. Cada vez mais, as novas áreas reivindicadas já estão ocupadas pela agricultura e até por núcleos urbanos. Esse quadro complexo de ocupação e uso territorial representa um enorme desafio de governança fundiária e envolve conflitos graves, processos judiciais, impactos sociais e implicações econômicas significativas.

Além das demandas adicionais desses grupos, minorias e movimentos sociais, todos com sua lógica e legitimidade, há ainda a necessidade de compatibilizar essa realidade territorial com crescimento das cidades, com a destinação de locais para geração de energia, para implantação, passagem e ampliação da logística, dos meios de transportes, dos sistemas de abastecimento, armazenagem e mineração.

O país campeão da preservação territorial exige que os agricultores assumam o ônus de preservar porções significativas no interior de seus imóveis rurais, como reserva legal ou áreas de preservação permanente, num crescendo que pode começar com 20% e chegar a 80% da área da propriedade na Amazônia. A repercussão do crescimento do preço da terra no custo dos alimentos é apenas um dos reflexos dessa situação.

Como disse Maurício Lopes, presidente da Embrapa, em artigo no Correio Brasiliense (8/6/2014), os pesquisadores brasileiros estão cientes de que somente sistemas de gestão territorial estratégicos poderão garantir a compreensão do potencial e dos limites da base de recursos naturais e dos processos de uso e ocupação das terras. E ajudar a superar esse grande e inédito desafio de inteligência territorial. Mas, só pesquisador não basta.

Evaristo Eduardo de Miranda
Coordenador do GITE – EMBRAPA 
 Do site: http://www.evaristodemiranda.com.br/postagens/o-brasil-acabou_1/

segunda-feira, 14 de março de 2016

MARCA REGISTRADA

Toda organização quando nasce tem um nome de registro, quando o empresário vai ao cartório de registra sua organização dá a ela um nome e todo documento passa a levar aquele registro. Este registro é muito parecido com o feito quando nasce uma criança, você pega o documento de nascimento do hospital leva ao cartório e ali sacramenta a graça da criança. Mas uma organização tem um nome chamado de nome fantasia que também é conhecido como fachada ou marca empresarial. O nome jurídico de uma organização em alguns casos coincide com o nome fantasia, mas em muitos casos não. Passando da organização para o seu líder, quero fazer uma comparação, bem simples, mas muito importante.


Quando você pensa numa organização normalmente pensa no seu nome fantasia, ou seja, a marca registrada que é divulgada em rádio, televisão e jornal. De forma que em alguns casos só a marca da organização vale mais que todo o seu patrimônio, seria o caso Apple que em 2015 teve sua marca valorada em 128,303 bilhões de dólares. No interior destas organizações existem diversas lideranças, mas dentre todas há um ou alguns que se destacam, por serem eles as figuras ligadas ao nome da organização. Algumas destas lideranças são reconhecidas antes mesmo das organizações, mas qual seria a importância disto? Estas organizações têm diversos líderes tão competentes quanto a figura caricata divulgada nos meios de comunicação. O que faz com que estes líderes tenham sua marca registrada?

Existem alguns palpites que podem orientar a reflexão, o nome fantasia de uma organização vale tanto quanto inspira nos consumidores, seja de qual classe social for, a necessidade de ter seus produtos. Alguns dizem que o nome fantasia precisa ser simples, algo fácil de ser lembrado, para que o consumidor não tenha dificuldade de pedir na hora de comprar. Isso nem sempre acontece, algumas tem o nome fantasia bem complicados, por isso é apenas recomendado. O nome fantasia ou marca pode estar transmitindo ao consumidor a ideia de confiança, economia, facilidade, agilidade, criatividade, inovação, etc.. O consumidor identifica na marca algo que lhe atrai e sua quase que necessidade de ter o produto gera tal demanda que o produto passa a ter valor a ele que pagará, em alguns casos, bem mais caro por ele.

Um líder, podem ser citados alguns grandes nomes como Steve Jobs da Apple, Bill Gates da Microsoft, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira da AB Inbev, Silvio Santos do SBT. Em cima de cada um destes nomes existe uma marca, não pela organização que construíram ou conduziram, mas pelo nome fantasia que criaram para si mesmos. Alguns criaram o líder fantasia ou marca registrada quase que naturalmente, foram aos poucos tomando atitudes que os tornaram referências em seu meio de atuação. Outros investiram muito tempo e dinheiro para se tornarem o líder fantasia que desejavam ser, nem por isso conseguiram.

O executivo que criou uma organização e se tornou ao longo dos anos o líder fantasia cumpre o papel de arregimentar as pessoas em torno de si pelo simples fato de estar na organização. Assim como o consumidor se junta a outros consumidores pelo desejo que tem em ter o que esta ou aquela marca oferece, os colaboradores da organização também se juntam em torno do líder fantasia pelo que ele as oferece. Quando uma organização perde o seu líder, perde em muitos casos a razão de existir e aos poucos definha até ser comprada ou falir. O líder fantasia cria no liderado, mesmo que sem saber, a necessidade de sua presença e orientação. Se os colaboradores não tem em sua organização um líder que inspire esta vontade, provavelmente não existe um líder fantasia competente para tanto. Nestes casos há uma grande chance de se perder importantes colaboradores para uma organização que tenha um líder forte, com marca registrada.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Dos site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/



quarta-feira, 9 de março de 2016

VEM SURPRESA BOA POR AÍ


Não, você não leu errado. Primeira boa notícia: 2015 está acabando. Com o desastre de Mariana, o Sul e o Norte do país alagados e o Sudeste sem água, a epidemia de microcefalia, intermináveis escândalos de corrupção, a crise política, a economia em queda livre e o Corinthians campeão brasileiro, 2015 é um ano que não vai deixar saudades para a maioria dos brasileiros.

Agora, a melhor notícia. Ao menos na economia, 2016 pode ser um ano não tão ruim quanto a maioria teme e, quase com certeza, os anos seguintes serão melhores, talvez muito melhores.

Para entender por que, precisamos voltar um pouco no tempo. A presidente Dilma tomou posse em 2011. Desde então, duas tendências foram marcantes. Ano após ano, as expectativas de crescimento – medidas pela média da sondagem feita no final do ano pelo Banco Central com os economistas dos bancos para o crescimento no ano seguinte – deterioraram-se. Mais grave, o crescimento efetivo em todos os anos foi ainda pior do que as expectativas. Em outras palavras, o desempenho da economia brasileira vem piorando consistentemente desde 2011.




Aliás, desde 2011, a economia brasileira foi a segunda que menos cresceu em toda a América Latina. Só superamos a Venezuela e só porque o PIB da Venezuela cairá cerca de 10% neste ano.




Nem sempre foi assim, nos cinco anos anteriores, as tendências eram opostas. Com exceção de 2009 por conta dos impactos da crise financeira global, as expectativas tinham uma clara tendência de melhora e o crescimento efetivo do PIB sempre superava as expectativas.


O que mudou na política econômica brasileira desde 2011? Muita coisa. Talvez, as duas mudanças mais significativas tenham sido um forte aumento no intervencionismo estatal e a falta de coragem do governo no combate à inflação.


Um traço comum das políticas econômicas adotadas pela equipe do Ministro Guido Mantega no primeiro mandato da presidente Dilma foi tentar solucionar problemas a partir da premissa de que reduzir a remuneração das empresas era parte da solução. O exemplo mais marcante talvez tenha ocorrido no setor elétrico.


Há cerca de quatro anos, o governo diagnosticou – corretamente, diga-se de passagem – que a energia elétrica brasileira era a mais cara entre as 30 maiores economias mundiais. Algo deveria ser feito para reduzir seu custo. Havia várias causas para o problema. A mais grave é que o total de impostos pagos tanto pelos consumidores quanto pelas empresas no Brasil era disparado o maior. Ao invés de reduzir drasticamente os impostos – o que exigiria corte dos gastos do governo – o governo diminuiu-os minimamente e, como condição para renovar seus contratos de concessão de exploração de serviços, exigiu das empresas uma redução no preço de venda da energia para o consumidor. Inicialmente, os preços caíram um pouco. Como o consumo de energia ficou constante, as receitas das empresas do setor também caíram. Infelizmente, o custo para as empresas é pouco flexível, já que o maior deles é construir a infraestrutura de geração, transmissão e distribuição da energia. Assim, qual foi o impacto da medida nas empresas? Receitas menores e custos constantes reduziram a rentabilidade dos negócios, o que as levou a cortarem seus investimentos, diminuindo o ritmo de expansão de nossa oferta de energia nos anos seguintes. Para piorar, São Pedro parece não ter gostado das mudanças e as chuvas escassearam em parte do país. Assim, quatro anos depois, não há energia suficiente, por falta de investimentos, e para reequilibrar a demanda a um nível mais baixo de oferta, os preços tiveram que dobrar e até triplicar.


Em resumo, políticas econômicas que estimulavam o consumo, mas desestimulavam a produção, levaram a confiança dos empresários a cair cada vez mais, reduzindo os investimentos produtivos e gerando dois grandes desequilíbrios na economia brasileira.


O primeiro aconteceu em nossas contas externas. A elevação de custos para se produzir no Brasil levou cada vez mais empresas e consumidores a preferirem trazer os produtos do exterior a produzi-los ou comprá-los aqui. Quando o ex-Ministro da Fazenda Guido Mantega tomou posse, há 9 anos, o Brasil tinha um superávit anual na balança comercial de produtos manufaturados de US$10 bilhões. Exportávamos US$10 bilhões mais do que importávamos. Quando ele deixou o governo, há 11 meses, tínhamos um déficit de US$110 bilhões. Por isso, nossa indústria encolheu mais de 20% desde o lançamento do Programa Brasil Maior, criado supostamente para estimular a competitividade da indústria brasileira há quatro anos e meio.


O segundo desequilíbrio veio com a inflação. Aumentos de custos de alugueis, mão de obra e matérias-primas pressionaram a inflação e não foram combatidos pelo Banco Central com o devido afinco, pelo menos não até as eleições de outubro do ano passado.


Para piorar, o governo represou até as eleições vários aumentos de preços que controla, como energia elétrica, gasolina, ônibus, metrô e outros. Após as eleições, com as contas públicas em frangalhos, os aumentos vieram todos de uma vez – os preços que o governo controla subiram em média 18% nos últimos 12 meses – elevando ainda mais a inflação.




Por fim, o governo Dilma gerou mais um grande desarranjo macroeconômico: nas contas públicas. Gastos cada vez maiores e uma economia estagnada – reduzindo a arrecadação de impostos – causaram um desequilíbrio fiscal que minou a confiança no país, reduzindo os investimentos e o crescimento econômico.


Enfim, a herança econômica deixada pelo governo Dilma I ao governo Dilma II foi uma economia gravemente enferma. Para tratar nosso câncer econômico, sai Guido Mantega, entra Joaquim Levy e começa a quimioterapia.


As políticas econômicas mudam radicalmente e, aos trancos e barrancos, estão curando a doença. O problema é que, inicialmente, o paciente, a economia brasileira, sofre com ambos – a doença que ainda não foi curada e os efeitos colaterais da própria quimioterapia econômica. Em resumo, antes de resolver nossos desequilíbrios econômicos, a alta de juros, dólar e impostos deprime ainda mais a economia.


Para ajustar as contas externas, o real passou por uma maxidesvalorização que encareceu produtos importados, tornando a opção de trazer os produtos de fora do país menos atraente e, a médio prazo, estimulando a produção aqui. Por consequência, os resultados da balança comercial começaram a melhorar.


A alta do dólar tem, no entanto, um importante efeito colateral. Ao tornar mais caros os produtos importados, ela alimenta a inflação. Para combater a alta da inflação, o Banco Central dobrou a taxa básica de juros, encarecendo o crédito aos consumidores. Com juros muito mais altos, os consumidores reduzem suas compras. Com menos procura por seus produtos, para vender, as empresas não podem subir tanto os preços, o que acabará reduzindo a inflação.


As pressões altistas sobre a inflação eram tantas que a alta dos juros ainda não surtiu efeito. Ao contrário, a inflação neste ano será a mais alta em 13 anos. No ano que vem, a inflação deve cair, mas não o suficiente para atingir o centro da meta – de 4,5%. Aliás, até o teto da meta inflacionária – de 6,5% – corre o risco de ser estourado, o que pode forçar o Banco Central a aumentar ainda mais os juros no início do ano que vem.


Por outro lado, por conta da mais profunda e longa recessão em mais de 30 anos, a trajetória de queda da inflação deve continuar em 2017, o que deve criar condições para que os juros caiam entre o final do ano que vem e início de 2017. Isto faria com que o crédito e o consumo voltem a crescer e estimularia os investimentos produtivos e a geração de empregos.


Para que isto aconteça, precisamos antes resolver o último desajuste macroeconômico gerado no primeiro mandato de governo da Presidente Dilma – o das contas públicas. Como em uma família ou em uma empresa, só há duas formas de colocar as contas do governo em ordem: elevação de impostos, ou cortes de gastos. Aliás, cortar gastos seria a solução ideal em um país onde o total de gastos públicos é um dos mais elevados entre todos os países emergentes e a qualidade dos serviços públicos está longe disso.


De um ano para cá, o governo aumentou as alíquotas de alguns impostos, mas até agora isto não foi suficiente sequer para contrabalançar a queda na arrecadação causada pela queda do PIB. Em resumo, para colocar as contas públicas em ordem, retomar a confiança, os investimentos e o crescimento do país, o governo ainda precisará cortar mais seus gastos ou aumentar os impostos, o que ele não tem conseguido fazer em função da crise política.


A Presidente reelegeu-se com um discurso de que o país ia bem e que a inflação, as contas externas e as contas públicas não eram problemas. Após a eleição, os desequilíbrios econômicos e seus impactos negativos sobre empregos e salários ficaram evidentes, causando em muitos a sensação de estelionato eleitoral. Para completar, denúncias generalizadas de corrupção envolvendo líderes do Executivo e do Congresso colaboram para levar a popularidade da Presidente a um dígito e conturbar sua relação com o Legislativo, que passou a bloquear os projetos necessários para reequilibrar as contas públicas.




Aí é que o jogo deve virar ao longo de 2016. Enquanto permanecem a guerra política e o enorme déficit fiscal, os investimentos produtivos no país secam e o desemprego não para de subir – em breve, chegaremos a uma taxa de desemprego de dois dígitos, o dobro do que era há um ano. Em tese, esta tendência de deterioração econômica poderia permanecer inalterada por mais três anos, até as eleições de 2018, mas minha impressão é que muito antes disso – provavelmente ainda em 2016 – o tecido socioeconômico brasileiro se esgarçaria a tal ponto que conflitos, cada vez mais graves emergiriam, tornando o já instável equilíbrio político insustentável. Duas outras possibilidades parecem-me mais prováveis.


A primeira é a pizza. O Executivo e o Legislativo chegariam a algum acordo que garantisse o ajuste fiscal em troca de algum tipo de “imunidade” aos investigados nos escândalos de corrupção tanto do Executivo quanto do Legislativo, incluindo membros do governo e da oposição. O custo para o país de não apenas perder a oportunidade de acabar com a cultura de aceitação de corrupção, mas ainda reforçá-la, seria altíssimo a médio e longo prazos. A curto prazo, no entanto, isto destravaria a economia, permitindo que pela primeira vez desde 2011, as perspectivas de crescimento para os anos seguintes fossem melhores do que nos anos anteriores.


O que torna a possibilidade acima menos provável é que para que ela se materializasse faltaria combinar com os russos. Ela só seria possível se o Judiciário, que tem se mantido razoavelmente insulado das pressões políticas, fosse controlado ou cooptado.


Sobra a segunda alternativa: a crise atual continua e se agrava ao longo do início do ano que vem, com alta na taxa de desemprego e uma queda ainda maior na popularidade e redução da base de apoio político da Presidente, tornando sua sustentação no cargo impossível. É bom lembrar que o ex-presidente Collor não caiu apenas em função de denúncias de corrupção, mas por ter popularidade de um dígito e ver seus aliados gradualmente abandonando-o, como acontece com o atual governo. Neste caso, um novo presidente – tanto no caso do vice-presidente Michel Temer assumir, quanto no caso de novas eleições acontecerem – provavelmente teria uma base política mais sólida, o que criaria condições para finalizar o ajuste fiscal, retomar a confiança e o crescimento.


Portanto, ainda que com timing, ritmo de recuperação e consequências de médio e longo prazos, bastante distintos, nos dois casos é provável que em algum momento de 2016 ou, na pior das hipóteses, ao longo de 2017, a economia brasileira inicie um processo de recuperação. É ainda mais provável que, uma vez iniciada, a recuperação seja muito mais vigorosa do que a atualmente projetada pela maioria dos economistas e empresas.


O desempenho econômico brasileiro no triênio 2014-2016 – com uma média esperada de contração do PIB de 1,6% a.a. – será o segundo pior dos últimos 115 anos. Em todas as outras vezes que houve uma contração do PIB significativa, ela foi seguida de um crescimento bastante acelerado nos anos seguintes.




Quase ninguém espera isso desta vez. As projeções trimestrais para o PIB da maioria dos analistas indicam PIB em queda até o primeiro trimestre do ano que vem, seguido de estagnação por quase dois anos depois disso. A história econômica brasileira e internacional sugere que a queda do PIB nos próximos trimestres pode ser até ser mais intensa e durar mais do que projetam hoje os analistas, mas uma vez resolvidos o buraco fiscal e a crise política e retomada a confiança na economia brasileira, a recuperação, quando acontecer, deve ser muito mais forte do que a projetada hoje. Como no período anterior ao início do governo Dilma, ao menos por alguns anos, as surpresas econômicas devem voltar a ser positivas e o crescimento deve acelerar-se, ao invés de desacelerar-se.


Eu não sou o único vendo que as expectativas e econômicas de longo prazo e, por consequência os preços dos ativos no Brasil, tornaram-se excessivamente pessimistas. Para aproveitar as oportunidades de negócios que estas surpresas positivas trarão, de uma semana para cá, três empresas estrangeiras fizeram investimentos bilionários no país. No setor de cosméticos, a francesa Coty comprou parte das operações da Hypermarcas. No setor de comunicação, a americana Omnicom comprou o Grupo ABC. Na aviação, os chineses da HNA compraram a Azul.


Você e sua empresa estão prontos para as surpresas que vêm por aí?

Por: Ricardo Amorim  CEO at Ricam Consultoria, Host of Manhattan Connection at Globonews Do site: https://www.linkedin.com/pulse/vem-surpresa-boa-por-a%C3%AD-ricardo-amorim?trk=mp-reader-card



quinta-feira, 3 de março de 2016

PORCOS VOANDO E ONU MUDANDO O CLIMA


O empresário Maurice Newman, ex-assessor do anterior premiê australiano Tony Abbott, criticou o atual premiê Malcolm Turnbull e o próprio presidente dos EUA, Barack Obama, porque, segundo ele, os líderes mundiais estão agindo “como os antigos druidas (sacerdotes pagãos celtas) invocando falsos deuses para atrair boas safras”, noticiou o jornal inglês “The Guardian”.

Ele se referia às reuniões ambientalistas planetárias – como a COP21, realizada recentemente em Paris – que imaginam poder mudar o clima do planeta apelando para teorias e métodos anticientíficos ou irreais.

Segundo Newman, a meta fixada pelo encontro de Paris, de segurar a temperatura global até um máximo de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, “não se apoia em prova científica alguma”.

Newman deplorou que esses representantes das sociedades capitalistas privadas ocidentais estejam abrindo mão do pensamento racional. Mas nada disse sobre a encíclica “Laudato Si’”, que participa da mesma tendência.

"Eles abraçaram uma ciência podre e uma economia também podre, adotando uma pseudo-economia pós-moderna destrutora da riqueza e do bem-estar, a qual prega que com um regime de ‘bolsas’ financiadas com impostos dos trabalhadores pode-se fazer uma ‘mudança econômica’ desejável e um crescimento mais rápido”, escreveu Newman no jornal “The Australian”.

Newman viu nos grandiloquentes, insinceros e desvairados propósitos da COP21 apenas mal dissimuladas visões coletivistas.

Para ele, a ONU hoje se preocupa mais em promover o marxismo do que prestar atenção na ciência.

Os projetos da COP21 “têm suas raízes no marxismo”, sublinhou. O Fundo Verde que a ONU pretende criar seria posto sob a presidência da ativista ambientalista e marxista costarriquense Christiana Figueres.

"A mídia acerta o passo com essa articulação ambientalista e nos bombardeia com alarmismo climático, enquanto o maior líder do mundo livre, Barack Obama, diz: ‘Minha missão é conscientizar o mundo de que a mudança climática é um desafio maior que o terrorismo’. Ele acredita nisso? Isso é muito sério. Pois monstra claramente que a ausência de bom senso e de ciência lideram o mundo”.

Newman mostrou o absurdo de a China ser acolhida entre os países “ecologicamente corretos”, que exigem reduzir as emissões de gás estufa, enquanto a qualidade do ar em seu território atinge patamares de calamidade pública.

Ele também ironizou a oca alegria dos líderes ambientalistas na COP21, que comemoraram a definição da meta de 100 bilhões de dólares anuais em 2020, embora ninguém se comprometeu a dar algo proporcionado, nem mesmo parcialmente.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, defendeu: “Se nós queremos realmente acabar com a pobreza global, se queremos construir um mundo mais saudável e um planeta Terra sustentável, temos que enfrentar primeiro a questão da mudança climática”.

Segundo Newman, essas assertivas, e outras enunciadas na COP21, são tão irreais como imaginar que os porcos voam.

Por: Luis Dafaur