sábado, 7 de julho de 2012

EXPANSÃO ARTIFICIAL DE CRÉDITO

A relação entre expansão artificial do crédito e degradação ambiental 


Teóricos que defendem soluções de livre mercado para o ambiente já demonstraram que a melhor maneira de se preservar a natureza é estendendo a criatividade empreendedorial e os princípios do livre mercado para todos os recursos naturais, o que requer a completa privatização destes e uma correta definição e defesa dos direitos de propriedade que pertencem a eles. Sem estes direitos, todos eles baseados na propriedade privada, o cálculo econômico se torna impossível, a correta alocação de recursos escassos para as aplicações mais demandadas é impedida e todos os tipos de comportamentos irresponsáveis são encorajados, o que leva ao consumo e à destruição injustificados de vários recursos naturais. 

Não obstante, estes teóricos conservacionistas pró-livre mercado até hoje seguem ignorando uma outra grande causa do uso ineficiente e improdutivo dos recursos naturais: a expansão artificial do crédito que os bancos centrais orquestram e ciclicamente injetam nos sistemas econômicos por meio dos sistemas bancários, os quais, por operarem com o privilégio de utilizar reservas fracionárias, intensificam e ampliam ainda mais esta expansão artificial do crédito. 

Toda expansão creditícia artificial desencadeia, em sua fase inicial, uma bolha especulativa que pode ser caracterizada por uma "exuberância irracional". Esta fase da expansão creditícia provoca uma série de desequilíbrios e descoordenações na economia real, fazendo com que vários projetos e empreendimentos de longo prazo que antes da expansão do crédito se mostravam desvantajosos se tornem agora, por causa da queda dos juros, aparentemente (muito) lucrativos. 

E um dos resultados mais ignorados deste fenômeno é a desnecessária pressão que ele gera sobre todos os recursos naturais. Árvores que até então não deveriam ser derrubadas se tornam extremamente desejadas por madeireiras, cuja matéria-prima está agora sendo demandada por vários setores imobiliários. Por causa do boom na construção civil, a produção de cimento aumenta exponencialmente, o que por sua vez exige um aumento na produção de alumina, de sílica, de óxido de ferro e de magnésio, os quais são queimados juntos em um forno e pulverizados, transformando-se em seguida em concreto. Para aumentar a extração de minerais, várias montanhas e vales são explorados e perfurados mais atabalhoadamente, sempre com urgência para se suprir a crescente (e artificial) demanda. O aumento artificial da renda, gerado pelo crédito fácil, estimula uma maior demanda por uma gastronomia mais requintada, o que estimula a pesca predatória e uma maior quantidade de abate de animais. A criação de gado, uma atividade que os ambientalistas dizem ser extremamente poluidora, se expande. A atmosfera é poluída. Os rios são contaminados. Além dos minerais, aumenta-se também a prospecção de petróleo e gás com o intuito de se completar projetos excessivamente ambiciosos para os quais simplesmente não haverá demanda assim que eles ficarem prontos, dado que os consumidores estarão mais endividados e sua renda não terá aumentado com se previa inicialmente. 

No final deste ciclo, quando a expansão creditícia — que não pode se perpetuar para sempre — for interrompida, o mercado inevitavelmente irá impor o desejo dos consumidores e todos estes empreendimentos que até então pareciam lucrativos revelar-se-ão um grande desperdício. Vários bens de capital produzidos durante o período da euforia se tornam ociosos, revelando que sua produção foi um erro e um esbanjamento desnecessário (o que os fez ser distribuídos incorretamente no tempo e no espaço) porque os empreendedores se deixaram enganar pela abundância do crédito, pela facilidade de seus termos e pelos juros baixos estipulados pelas autoridades monetárias. 

O resultado de tudo isso é que o ambiente é danificado desnecessariamente, uma vez que, no final, o padrão de vida dos consumidores não aumentou em nada. Pelo contrário, aliás: os consumidores estão agora relativamente mais pobres em decorrência de todos estes investimentos errôneos e insustentáveis que foram empreendidos em decorrência da expansão artificial do crédito, investimentos estes que imobilizaram capital e recursos escassos para seus projetos, recursos estes que agora não mais estão disponíveis para serem utilizados em outros setores da economia. No geral, a economia está agora com menos capital e menos recursos escassos disponíveis. Na Espanha, por exemplo, há hoje um milhão de casas vazias, sem compradores. Capitais e recursos escassos foram desperdiçados na construção destes imóveis, capitais e recursos que poderiam estar hoje sendo aplicados em outros setores da economia espanhola. 

É assim que a expansão do crédito, além de afetar toda a economia, ainda degrada desnecessariamente o ambiente. 

Esta extremamente sucinta análise nos leva a uma óbvia conclusão: amantes da natureza, além de defender a privatização de todos os recursos naturais, deveriam também defender um sistema monetário de livre mercado, o qual não comporta um banco central manipulando e expandindo a oferta monetária e o crédito para atender aos desejos de curto prazo dos políticos. Em suma, um sistema monetário baseado em um padrão-ouro puro. Este seria o único arranjo capaz de erradicar as recorrentes expansões econômicas artificiais e insustentáveis e suas subsequentes crises financeiras e recessões, ciclo este que tanto mal faz ao ambiente, à humanidade e a todo o processo de cooperação social. 

Jesús Huerta de Soto professor de economia da Universidade Complutense de Madri, é o principal economista austríaco da Espanha. Autor, tradutor, editor e professor, ele também é um dos mais ativos embaixadores do liberalismo clássico no mundo. Ele é o autor da monumental obra Money, Bank Credit, and Economic Cycles.

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