segunda-feira, 9 de julho de 2012

O PESO DE UMA PARTÍCULA


A descoberta do que os cientistas acreditam ser o bóson [partícula portadora de força] de Higgs – ou, como é popularmente chamado, a "partícula de Deus" –, mal foi anunciada e já começou a alvoroçar o mundo da ciência. Além de impactar inúmeras pesquisas e projetos científicos em andamento no mundo, na atualidade, a descoberta criou um dilema: quem levará o crédito histórico e o principal reconhecimento sobre a descoberta, isto é, o Prêmio Nobel de Física?

Segundo o jornal britânico The Guardian, a Academia Real das Ciências da Suécia, responsável por conceder o prêmio Nobel, deve premiar os cientistas que, há mais de 50 anos, trabalharam na elaboração da teoria sobre a existência da partícula. O problema é que a escolha desses nomes não é tão simples. Tradicionalmente, o Nobel de Física é concedido a, no máximo, três pessoas que contribuíram para um determinado estudo.

No caso do bóson de Higgs, um total de seis cientistas, de três grupos diferentes, se dedicaram à teoria. Todos apresentaram suas conclusões em artigos divulgados em 1964, com apenas alguns meses de intervalo entre cada publicação.

O primeiro grupo foi liderado por Robert Brout e François Englert, da Universidade Livre de Bruxelas. Como Brout morreu em 2011 e a regra da academia sueca é não conceder prêmios póstumos, Brout está excluído da premiação.

O segundo artigo é de Peter Higgs, primeiro físico a cogitar a existência de uma partícula que teria transferido sua massa para toda a matéria existente no universo. O terceiro trabalho é de três físicos, Dick Hagen, Gerry Guralnik e Tom Kribble. Peter Higgs certamente deve ser homenageado. O dilema agora é: quem serão os outros dois premiados?

Por que 'partícula de Deus'?

O nome oficial é bóson de Higgs, mas a partícula subatômica que os pesquisadores do CERN dizem ter detectado ganhou um apelido muito mais simpático: "partícula de Deus". Mas por que Deus? A explicação oficial é simples: concebida como uma partícula que transferiu sua massa para todas as outras existentes no universo, ela estaria em todos os lugares e em todas as coisas, como Deus. Mas, segundo a versão não oficial, o motivo é outro. Em 1993, o prêmio Nobel de Física Leon Lederman pretendia publicar um livro sobre o bóson de Higgs chamado A Partícula Maldita, pela dificuldade em provar sua existência. Mas o editor da obra temia que o título fosse ofensivo e o trocou para A Partícula de Deus.

50 anos de pesquisas

O alvoroço provocado pela descoberta da partícula que tem quase 100% de chance de ser o bóson de Higgs se explica por uma série de fatores. O primeiro: há pelo menos 50 anos, físicos e engenheiros buscam essa partícula. O trabalho envolveu milhares de cientistas e custou US$ 10 bilhões apenas para criar e manter, sob a fronteira da Suíça e da França, o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês). Foi ali, no maior acelerador de partículas do mundo [foto à dir.], que, ao longo de três anos, os cientistas geraram 500 trilhões de colisões de partículas subatômicas em altíssima velocidade até conseguir detectar o bóson, com massa de 125 gigaelétrons-volts (GeV) e compatível com o Modelo Padrão descrito em 1964 por Peter Higgs. A descoberta da partícula é a chave para entender como a matéria de todas as coisas existentes funciona e, quem sabe, um dia, ajudar a responder por que estamos aqui.

CERN quer a adesão do Brasil

O Centro Europeu para a Pesquisa Nuclear (CERN), responsável pelas descobertas sobre o bóson de Higgs, quer ter o Brasil entre seus membros. A adesão só não aconteceu ainda, segundo o diretor-geral da instituição, Rolf Heuer, por lentidão das autoridades brasileiras. Em 2010, o País iniciou formalmente sua adesão ao centro. O Cern estipulou que o Brasil deve pagar US$ 10 milhões anuais pela adesão, 10% do que pagam os membros europeus. Mas diante do corte orçamentário do centro, devido à crise econômica na Europa, a quantia é relevante. Segundo Heuer, sem a adesão, empresas brasileiras não poderão participar das licitações que o centro abrirá nos próximos anos para a aquisição de tecnologia e peças para a atualização do LHC, o acelerador de partículas que possibilita as pesquisas. O Ministério de Ciência e Tecnologia formou uma comissão para estudar como obter os recursos para a adesão. Em Diário do Comércio


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