segunda-feira, 7 de maio de 2012

O objetivo de uma sociedade civilizada é o progresso. Para que haja progresso, é necessário haver um aumento na eficiência desta sociedade. Tal aumento na eficiência é baseado (1) no aumento da acumulação de capital, (2) no aumento da divisão do trabalho, (3) no aumento da especialização, e (4) em um melhor uso do conhecimento descentralizado. À medida que uma sociedade avança, ela aumenta em complexidade. Esta é a própria essência da ordem social. Mas a decisiva questão social que atormenta os países de hoje não é esta dicotomia entre "mais complexidade vs. menos complexidade". A questão é a origem da complexidade. E por que esta questão é importante? Por causa daquilo que permite o aumento da complexidade de uma sociedade: o aumento do seu capital. Capital são todos os ativos que ajudam a produzir tanto outros ativos quanto bens de consumo. Capital também pode ser entendido como o dinheiro que pode ser utilizado para a produção de bens produtivos. Em ambos os casos, o ativo empregado — o capital — produz um retorno mais do que capaz de cobrir os gastos do proprietário (empreendedores e capitalistas), permitindo que o empreendimento seja autossustentável. Por outro lado, se a atividade não gera lucros, então ela é consumidora por natureza, e não produtiva. Por exemplo, um automóvel nas mãos de um caixeiro viajante é um capital, pois é a ferramenta de trabalho utilizada para obter um retorno financeiro; já um automóvel nas mãos de um universitário que o utiliza para ir ao cinema não é um capital. Dinheiro, também, pode ser capital ou não, dependendo dos fins para os quais ele é utilizado — para comprar um ativo produtivo ou para comprar um bem de consumo. Logo, por definição, capital é aquilo que aumenta a produtividade e, em última instância, o padrão de vida de uma sociedade. Exemplos de bens de capital são todos os fatores de produção, como ferramentas, maquinários, edificações, meios de transporte etc., que tornam o trabalho humano mais produtivo. É a acumulação de capital, portanto, o que financia e permite todos os processos de produção. A acumulação de capital faz isso ao acrescentar complexidade aos arranjos econômicos, o que significa que ela aumenta a especialização. Este capital utilizado deve ser substituído constantemente por meio de novos investimentos. Se a reposição do capital é interrompida, a sociedade entra em declínio. Sendo assim, é preciso fazer uma distinção entre as atividades que realmente estimulam a acumulação de capital e aquelas que levam ao seu esgotamento. Uma economia em aparente crescimento não irá manter este crescimento caso não haja acúmulo de capital suficiente para sustentar este crescimento. Neste caso, diz-se que o crescimento é artificial, baseado exclusivamente em um aumento da quantidade de dinheiro na que faz gerar a ilusão de enriquecimento. Já uma economia em recessão não sairá da recessão enquanto não acumular o capital necessário para tal. O principal problema econômico enfrentado pelo mundo atual é a ampla difusão do planejamento central de estilo keynesiano sob os auspícios de burocratas dos governos e seus bancos centrais. O keynesianismo aumentou o nível de subsídios governamentais para praticamente todos os setores da economia. Isto vem tornando os sistemas econômicos mais frágeis. Eles estão sendo geridos e controlados nos mínimos detalhes por comitês de "burocratas especialistas". Neste sentido, podemos prenunciar algo semelhante a um colapso. O melhor exemplo na história recente ainda é a URSS. Porém, o sistema keynesiano não possui o mesmo estilo soviético em sua intensidade. Trata-se de uma política 'de meio termo'. Ela pode levar a sérias rupturas econômicas, e irá. Mas falar sobre um total colapso econômico é algo um tanto equivocado. O livre mercado sabe como contrabalançar políticas errôneas. Indivíduos e empreendedores com melhor conhecimento (em busca do lucro) estarão constantemente substituindo indivíduos com pouco conhecimento (burocrático). Este processo ocorre na margem, "pouco a pouco, linha por linha". Isto significa que prejuízos econômicos produzem como resposta alocações individuais que beneficiam os consumidores. O gerenciamento burocrático da economia gera colapsos. A liberdade não. Keynes argumentava, e seus discípulos seguem argumentando, que a causa de um baixo crescimento econômico — e, consequentemente, de um alto desemprego — seria uma insuficiente demanda agregada. Logo, o governo deveria criar vários programas de estímulo e incentivar todo e qualquer tipo de consumismo. Mas falar que o problema é uma baixa demanda agregada é apenas uma outra maneira de dizer que o problema seria um excesso de oferta agregada. O fato de os keynesianos jamais colocarem as coisas desta forma não afeta a verdade analítica do argumento. O keynesiano é metodologicamente um coletivista. Ele olha apenas para agregados. Ele recomenda programas governamentais que afetem os agregados. Já o economista austríaco é um individualista metodológico. Ele olha para um recurso específico oferecido em um mercado específico em um momento específico. O keynesiano culpa a baixa demanda agregada pelo baixo crescimento econômico e, consequentemente, pelo desemprego. Ele se concentra no lado da demanda. Logicamente, ele poderia perfeitamente se concentrar também no lado da oferta: a mão-de-obra agregada. Ele poderia, com a mesma facilidade e paixão, clamar por programas governamentais que reduzissem a oferta de mão-de-obra agregada. O fato de ele não fazer isso advém de sua preferência inabalável pelo contínuo aumento dos gastos governamentais. Ele odeia se concentrar em questões do lado da oferta. Mas qual o problema em se estimular a economia e o emprego por meio de gastos do governo? Porque gastos do governo, ao contrário de estimular o necessário acúmulo de capital, geram seu consumo e consequente esgotamento. Apenas gastos gerados por uma genuína demanda de mercado são saudáveis para uma economia. Apenas uma genuína demanda de mercado pode estimular o acúmulo de capital. Por quê? A demanda de mercado é gerada e conduzida por consumidores, isto é, por pessoas que voluntariamente decidem o que comprar e o que não comprar com o dinheiro que ganharam com seu próprio esforço. As prioridades dos consumidores determinam o que deve ser produzido no mercado, como deve ser produzido e para quando deve ser produzido. Os financiamentos serão ofertados de acordo com estas preferências. Já a demanda criada pelos gastos do governo é conduzida por políticos e burocratas. O que quer que eles determinem ser "bom" para a população será produzido de acordo com decretos governamentais, e não de acordo com a real preferência dos consumidores. As prioridades e conveniências eleitorais de políticos e burocratas é que irão determinar quem será beneficiado pelos gastos do governo e o que tais empresas deverão produzir. A demanda de mercado é satisfeita por empreendedores que incorrem em riscos. Ou eles obtêm êxito em produzir e vender justamente aquilo que os consumidores querem (e, consequentemente, são recompensados por isso), ou eles fracassam e se mostram incapazes de ofertar aquilo que os consumidores queriam (e, consequentemente, pagam o preço por este seu julgamento mal sucedido, incorrendo em prejuízos). Esta constante necessidade de estar sempre tendo de agradar aos consumidores implica necessariamente prudência e poupança para os contínuos investimentos futuros. Já a demanda do governo é financiada pelo dinheiro extraído via impostos. Os cidadãos pagadores de impostos são obrigados a sustentar os desejos e projetos de uma elite de políticos e burocratas coligada aos grandes setores empresariais, que são poderosos lobistas. Tal demanda, totalmente artificial, gera desperdícios de capital e investimentos insustentáveis, muito embora seja bastante eficiente para encher os bolsos daqueles mais bem conectados politicamente. Nenhum sacrifício é exigido da parte deste grupo beneficiado — todo o capital é confiscado da sociedade e redistribuído entre eles. A demanda de mercado é cada vez mais restringida por regras e regulamentações governamentais. Pense na miríade de agências reguladoras, secretarias e ministérios que são criados supostamente para se "proteger" o consumidor. Seu único feito é dificultar e obstruir a harmonia dos mercados, sem gerar benefício algum para os consumidores. Uma enorme e crescente quantia de capital é queimada apenas para se adaptar às regulamentações estatais. Já a demanda do governo é limitada unicamente pela perspectiva de falência da entidade estatal. Ocasionalmente, ela pode também ser limitada pela ação de eleitores mais sensatos. O primeiro cenário é factível apenas na zona do euro. O segundo, por enquanto, em lugar nenhum. Em situações extremas, uma demanda de mercado (por comida, por exemplo) pode levar a revoluções contra um governo déspota e suas interferências no mercado. Já uma demanda de governo (por bens como armamentos) irá apenas perpetuar seu poder e tirania sobre seu povo. A demanda de mercado cria empreendimentos lucrativos. Empreendimentos lucrativos geram capital para outros empreendimentos e empregos sustentáveis, que não dependem de estímulos artificiais. Já a demanda criada por gastos do governo gera apenas empregos improdutivos, isto é, empregos que consomem capital em vez de criar mais capital. Empregos governamentais são um bom exemplo de empregos integralmente sustentados pelos pagadores de impostos. Isto significa que o governo deve confiscar capital de empreendimentos lucrativos para poder criar um emprego consumidor de capital (ou ele pode também pegar dinheiro emprestado, desta forma reduzindo a disponibilidade de financiamento para estes empreendimentos). A demanda de mercado recompensa aqueles indivíduos produtivos e competentes, que tiveram presciência e souberam satisfazer às demandas dos consumidores. Seus lucros são um sinal de que eles estão sabendo como satisfazer as demandas de seus consumidores. Lucros são um sinal de que o capital está sendo eficientemente empregado. Lucros fornecem capital para outros empreendimentos. Já a demanda do governo recompensa lobistas, políticos corruptos, burocratas e empresas que possuem grande capacidade de subornar reguladores (ou de serem subornadas). Tudo isso com o capital confiscado dos produtivos. A demanda de mercado requer apenas uma moeda estável e a menor interferência governamental possível para crescer. Já a demanda do governo requer a criação cada vez maior de dinheiro (inflação) e um contínuo aumento do endividamento e da carga tributária. Todos estes três fatores são destruidores de capital. A demanda de mercado tem de ser livre das demandas do governo para poder funcionar harmoniosamente. Os consumidores são prioritários em uma economia de mercado. Já a demanda do governo cresce até o ponto em que a demanda de mercado definhe por completo, pois as demandas de governo — em decorrência do seu monopólio da violência e do poder de polícia — têm prioridade sobre as demandas de mercado. Além das questões puramente econômicas, qual das duas demandas é a mais moralmente defensável? Hans F. Sennholz (1922-2007) foi o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos. Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim que chegou. Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic Education, 1992-1997. Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004, ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade. Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque

O McDonald's como o paradigma do progresso


Aquele pessoal bacana do McDonald's aqui perto de casa já me conhece bem, mas até eles se mostraram intrigados quando me viram batendo uma dúzia de fotos de seu interior recém-restaurado, que ficou absolutamente magnífico.  Como em todos os lugares do tipo fast food, o gerente já está acostumado com determinados clientes, mas ainda assim se mostrou um tanto surpreso ao ver um fã dedicado como eu.
E eu me senti plenamente satisfeito ao ver os dados recentes sobre as contratações feitas por esta empresa nos EUA em meio ao péssimo momento econômico vivenciado pelo país.
A taxa de participação na força de trabalho nacional vem caindo há uma década — o que significa que muitas pessoas desestimuladas simplesmente pararam de procurar emprego e agora são consideradas como fora da força de trabalho —, e hoje este valor está no mesmo nível em que estava durante a recessão de 1982.  Se estas pessoas estivessem abandonando a força de trabalho com pilhas de dinheiro e com toda a intenção de viver o sonho de uma vida de lazer, isso até poderia ser boa notícia.
Lamentavelmente, no entanto, todas as evidências apontam para a direção contrária.  As pessoas querem empregos remunerativos, mas não conseguem encontrar; e sua situação está piorando, e não melhorando, graças principalmente às restrições legais e aos fardos artificiais impostos sobre instituições que, em circunstâncias normais, estariam contratando.
O McDonald's parece ser o responsável por mais da metade dos novos empregos que estão sendo criados agora nos EUA no setor varejista: em abril, ele acrescentou 30.000 pessoas à sua folha de pagamentos.  A rede vai assim se opondo às tendências — meio que como nadar contra a maré.
Porém, em vez de congratular esta grande empresa por fazer o impossível, a imprensa sempre a julga de maneira hostil e implacável.  Fazer hambúrgueres é o único tipo de emprego que existe atualmente?  Certamente este é um bom indício do quão patético está o "crescimento" da economia americana.
Mas o problema com esta linha de raciocínio é que ela não reconhece o quão difícil é para uma instituição se adaptar a este clima e, mais ainda, conseguir crescer nele.  E como o McDonald's faz isso?  Trata-se de uma velha receita: observe os mercados, emule os bem-sucedidos, adapte-se e mude.  E, acima de tudo, seja submisso ao público consumidor.
A reinvenção do McDonald's começou somente em 2009, quando sua gerência percebeu a irrevogável tendência em prol de comidas saudáveis, cafés elegantes e extravagantes, e bebidas adocicadas feitas à base de frutas, tudo servido em ambientes elegantes como aqueles do Starbucks.  Poderia o McDonald's, a própria essência da 'demanda inculta' por batatas fritas e sanduíches gordurosos, realmente se intrometer neste mercado destinado aos cultos e elegantes?
Não parecia provável ou verossímil, mas empresa decidiu tentar.  Novos itens de café da manhã, como parfaitsde frutas, foram criados.  Uma salada de maçãs e nozes, junto com várias outras saladas especiais, foram criadas para o menu do almoço.  Surgiu um novo sanduíche feito de carne Angus (que, para mim, tem o mesmo sabor de uma carne servida em um restaurante chique).  Surgiram também novas bebidas adocicadas tão gostosas quanto (ou até mesmo melhores que) suas semelhantes que custam o dobro em bares especializados e chiques.
Não que o McDonald's meramente corra atrás dos modismos do público.  A empresa, em meados da década de 1990, respondeu a um forte clamor do público por alimentos diet criando o sanduíche McLean.  Ninguém comprou.  A empresa simplesmente o retirou do menu.  A lição é que a devoção do público a um certo modismo não necessariamente se traduz em hábitos de compra definitivos.  Consequentemente, a empresa decidiu que todas as alterações futuras teriam de ser solidamente fundamentadas na realidade, e certamente é isso que a empresa está fazendo hoje.
Acima de tudo, houve o acréscimo de novos tipos de café.  Cada um é feito de grãos recém-moídos, com a adição de leite fresco (integral ou desnatado), tudo feito de imediato.  O McDonald's acrescentou seu próprio estilo ao arranjo.  O mais irritante aspecto do Starbucks, como todos sabem, é a longa espera.  Tudo é feito à mão, desde a limpeza até o empacotamento do pó do café.
O McDonald's possui uma máquina que faz tudo.  Os grãos caem através de um grande funil.  O leite é sugado de galões localizados no subsolo da loja.  Os bocais e os recipientes são limpos após cada uso por meio de um sopro de vapor d'água extremamente quente.  A mão humana só se envolve em todo este processo no início, quando tem de apertar botões, e no fim, quando dá uma última misturada no líquido já dentro do copo.  O tempo que leva para se obter o café é reduzido à metade ou até mesmo a um terço do tempo levado no Starbucks.
E há a questão dos custos.  Um idêntico latte no McDonald's custa 40% menos do que no Starbucks.
Mas ainda estava faltando um elemento de mudança: o interior dos restaurantes.  Em sua grande maioria, eles permaneceram inalterados por décadas.  O refeitório era repleto de mesas com um número fixo de cadeiras presas ao chão, remetendo a uma cafeteria de colégio.  A empresa fez uma pesquisa e repensou toda a questão sobre qual deveria ser a aparência do refeitório de um fast food.
35_mcdonalds01.jpgNo mesmo espaço, foram criados vários estilos diferentes: um compartimento arredondado, longas mesas com cadeiras movediças, pequenas mesas redondas com assentos típicos de um bar — tudo isto em conjunto com os compartimentos tradicionais.  Cada lugar em que você decide se alojar equivale a um ambiente separado e distinto.  Você pode optar por privacidade ou por ser social, por manter uma conversa mais em privado ou em local totalmente público, por ficar sozinho ou interagindo com outros.  A área do refeitório é separada da área de pedidos por chapas de vidro plástico que vão do chão ao teto, e que parecem ao mesmo tempo modernas e artísticas.  Não entendo muito de arte ou de design de interiores, mas todo o esquema me pareceu brilhante.
Tão certa está a empresa de que estas mudanças farão diferença, que ela planeja gastar um mínimo de US$1 bilhão renovando todas as suas 14.000 lanchonetes nos EUA.  Ao final de 2011, 800 lanchonetes já haviam sido renovadas, a um custo médio de US$250.000 por loja.  A lanchonete perto de onde moro começou sua restauração no início de junho de 2011 e finalizou tudo em apenas duas semanas — e, durante todo este tempo, manteve o drive-through em pleno funcionamento, fazendo negócios vigorosamente.
E qual o objetivo de tudo isto?  Já deveria estar óbvio: servir melhor ao público.  Melhores serviços, ambientes mais atraentes e mais opções no menu levam a maiores lucros e, consequentemente, a uma maior expansão e a mais empregos.
Impressionantemente, este tipo de abordagem está profundamente arraigado na história da empresa.  O primeiro restaurante abriu em 1940 e fechou para reformas em 1948, reabrindo em seguida como o primeiro restaurante drive-through.  O primeiro restaurante com recinto fechado só surgiu em 1962.  Desde então, a empresa incorreu em uma série de gloriosos avanços que pareciam prenunciar as mudanças globais: abriu redes em Moscou em 1990, Varsóvia em 1992, e na internet em 1996.
images.jpgSejamos claros aqui: não se está dizendo que a gerência desta empresa seja acometida de uma atipicamente alta e nobre devoção pelo bem-estar da humanidade.  Seus administradores estão apenas seguindo os sinais emitidos pelo sistema de preços de mercado e tomando decisões empreendedoriais, tudo a serviço do público consumidor.  Trata-se de um fabuloso concorrente, incessantemente se reinventando a si próprio em um esforço para ganhar as afeições daquele público que come fora de casa.
Os administradores desta empresa podem ser os maiores filantropos da história ou podem ser os mais gananciosos e interesseiros indivíduos da terra.  Não importa.  O mercado é força motriz e os sinais de lucratividade são o teste que indica se a empresa está ou não fazendo a coisa certa.  E esta é a essência de todo o processo capitalista — aquele que foi entendido e dissecado séculos atrás por economistas franceses, espanhóis, italianos e ingleses.
Estes velhos liberais entenderam que o processo capitalista era a resposta para os grandes problemas sociais e morais levantados pelos pensadores de todas as épocas precisamente por ser ele o único capaz de injetar todos os tipos de motivação humana no grande objetivo de satisfazer as necessidades e desejos de todos os membros da sociedade.  Se a ciência econômica tivesse de dar apenas uma grande contribuição para o mundo das ideias, seria esta.
A mais impressionante característica do capitalismo — e realçada no exemplo do McDonald's — é a de como suas instituições tão belamente se adaptam às mudanças.  O deslocamento é sempre para frente: com novidades e aperfeiçoamentos.  E este deslocamento é como um vento que nunca para de soprar, a menos que seja interrompido pela força organizada do estado.
Quando a reinvenção desta empresa começou em 2009, ela não foi precedida de campanhas e nem de plataformas.  Não houve nenhuma votação pública.  Não se gastou bilhões fazendo lobby para se conseguir mudanças.  Não houve debates públicos, campanhas publicitárias, convenções partidárias ou distribuição de panfletos.  Foi tudo uma decisão tomada pela administração — um julgamento empreendedorial que podia estar certo ou errado —, em um esforço para agradar aos seus acionistas, que são os reais proprietários da empresa.  E a prova final é sempre a mesma: os consumidores estão dispostos a comprar o produto?
Enquanto isso, no mundo da política, décadas e décadas se passam e um volume inimaginável de dinheiro é gasto tentando "reinventar o governo", "melhorar a eficiência administrativa do governo", melhorar o ensino público, fazer uma "verdadeira" reforma na burocracia, rearranjar a prioridade dos gastos públicos, e fazer mudanças regulatórias que irão 'fazer o mercado funcionar melhor'.  No final, tudo só piora.  Simplesmente não há um teste genuíno que possa determinar se estas mudanças valeram seus custos ou se elas sequer chegaram perto de seus objetivos.  Na política, nem mesmo se sabe ao certo qual é o objetivo.  Ademais, é claro, o resultado destes gastos é totalmente previsível.  Não há nenhuma real melhoria, não há nenhuma reinvenção, não há nenhuma reforma.
O acréscimo ou a retirada do consumidor — que é o rei em um livre mercado — do processo de reforma equivale a uma alteração fundamental em toda a razão de ser de uma instituição.  A maneira crucial de distinguir uma empresa predominantemente baseada no mercado de uma empresa dependente do estado é investigar qual o seu interesse primordial: servir ao estado ou servir ao público consumidor?  Não há dúvidas a respeito de onde o McDonald's se encaixa neste espectro, e o resultado é não apenas um belo exemplo de como servir alimentos, mas também um belo modelo de serviço social como um todo. 
mc1.jpgO McDonald's é um perfeito exemplo de como o mercado superou, conquistou e dominou um fundamental problema humano: conseguir produzir o bastante para se comer.  Eis aí um problema que atormentou e fustigou toda a humanidade desde o início de sua história.  Hoje, ele parece estar quase que inteiramente resolvido, graças a instituições como o McDonald's, a qual as pessoas sentem um prazer indescritível em criticar, difamar e caluniar por dois motivos: a instituição é uma das poucos que serve comida farta e barata a preços acessíveis (e genuínos progressistas acham que apenas o estado deve ter o monopólio de prestar serviços aos pobres) e porque estas pessoas creem que tais instituições são elementos fixos, inabaláveis e imutáveis no universo.
Mas tais instituições não são fixas, inabaláveis e imutáveis.  Elas não são permanentes.  Elas são o resultado de vigorosos empreendimentos enraizados em uma ordem global de mercado baseada na propriedade, nas trocas voluntárias, nos preços livres e na cooperação humana.  Trata-se de uma constante batalha para se manter no topo em um mundo em que cada medida de sucesso pode ser prontamente imitada por um concorrente; um mundo em que os consumidores são tão volúveis quanto querem ser, e em que até mesmo o melhor dos empreendedores pode cometer erros imperdoáveis pelo mercado.
Este mercado é tão robusto, tão vigoroso, tão inovador, que ele até mesmo consegue superar cada obstáculo que esta anacrônica organização chamada estado coloca em seu caminho.  Apesar de toda a situação econômica, o McDonald's está contratando: pessoas estão ajudando outras pessoas a sobreviver, a pagar suas contas e a melhorar suas vidas.
O mercado nos abençoa diariamente com uma abundância de alimentos impensável há menos de um século atrás, bem como com novos produtos que facilitam e melhoram nossas vidas, e como a sociedade responde?  De um lado, praguejando esnobe e arrogantemente contra sua produtividade, ao mesmo tempo em que frequenta festas e restaurantes chiques com farto bufê; de outro, adquirindo uma valorosa e desejada refeição no drive-through, a caminho de casa após uma jornada de trabalho.

Jeffrey Tucker 
é o presidente da  Laissez-Faire Books e consultor editorial do mises.org.  É também autor dos livros It's a Jetsons World: Private Miracles and Public Crimes e Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo

sexta-feira, 4 de maio de 2012

FIM DA FARSA


04/05/2012
 às 7:15

FIM DA FARSA! Guia espiritual da turma do “aquecimento global” confessa: “ERA ALARMISMO!” Leia, Dilma, antes de se submeter à patrulha no caso do Código Florestal!

James Lovelock, patriarca do "aquecimento global", admite: "Eu estava errado. Não há nada acontecendo ainda"!
James Lovelock, patriarca do "aquecimento global", admite: "Eu estava errado. Não há nada acontecendo ainda"!


Pois é… O que já apanhei neste blog e fora dele por causa daquele tal “aquecimento global”, que virou, depois, “mudança climática”!!! O fato de não ser um especialista na área e de ser, vá lá, um conservador, fazia de mim (faz ainda, para alguns) necessariamente um mau sujeito, um inimigo do bem, da humanidade, do planeta… Vocês sabem: aquelas coisas que a Marina Silva tão bem representa com seu ar telúrico. Há dias, o físico José Goldemberg, um aquecimentista, concedeu uma entrevista ao programa Roda Viva. Mudei de canal quando um jornalista da Folha, não lembro o nome, demonstrou seu inconformismo com o fato de a imprensa dar voz aos “céticos” (não que ele fosse contra o “outro lado”, claro…). Claro! Atenção! O aquecimento global (ou mudança climática) não chega a ser nem uma teoria. Trata-se, ou tratava-se, apenas de uma hipótese. E que foi desmoralizada faz tempo. Ocorre que agora existe uma indústria multibilionário do meio ambiente. Eu vivia reclamando, vocês se lembram, de banco que reciclava papel, mas não baixava o spread, hehe… Antes da Dilma! Adiante.
Às vésperas da tal “Rio+20″ — que leva alguns tontos a cobrar de Dilma o veto ao Código Florestal —, o tal “aquecimento global”, ora chamado de “mudança climática”, sofreu um duro golpe.
Vocês já ouviram falar de James Lovelock? Há aqui um resumo de sua biografia em português. Trata-se de uma espécie de patriarca ou decano da moderna hipótese do aquecimento global (ou da mudança climática). Lançou a chamadaHipótese de Gaia, segundo a qual a Terra seria um superorganismo. Era um verdadeiro fanático da crença — sim, crença — no aquecimento global. Desde que comecei a ler uma coisinha ou outra a respeito, pus a teoria na conta de uma bobagem por uma razão, preimariamente, de linguagem: vi que as catástrofes imaginadas eram meras cópias do Apocalipse de São João. Os relatos da Bíblia são mais interessantes. Entre uma religião sem Deus e uma com Deus, prefiro a segunda. Mas vamos ao que interessa. Lovelock caiu fora! Não é mais um apocalíptico. Tornou-se quase um cético. Admite agora: ele e os aquecimentistas erraram, exageraram. A entrevista foi concedida a Ian Johnston, no sitemsnbc.com. Foi publicada no dia 23 de abril. Foi praticamente escondida. Tivesse alguém com o seu peso anunciando o apocalipse, seria um deus-nos-acuda.
Aos 92, Lovelock admite  ter sido “alarmista” sobre as mudanças climáticas e que outros, como o bobalhão Al Gore (”bobalhão” é meu) também o foram. Sim, ele continua a acreditar que a mudança está acontecendo, mas muito mais lentamente do que se imaginava. Em 2006, para vocês terem um ideia, num artigo para o jornal inglês Independent, ele escreveu que, até 2100, bilhões de pessoas morreriam, e alguns poucos casais conseguiram sobreviver no Ártico, onde o clima seria apenas tolerável. Na entrevista, ele admite que foi longe demais.
Está escrevendo um novo livro, que comporá uma triologia com “Revenge of Gaia: Why the Earth Is Fighting Back - and How We Can Still Save Humanity” e “The Vanishing Face of Gaia: A Final Warning: Enjoy It While You Can”, publicados em protuguês, respectivamente, com os títulos “A Vingança de Gaia” e “Gaia, Alerta Final”. No novo trabalho, mais otimista, ele vai dizer como a humanidade pode ajudar a regular o planeta. O livro também registra a sua mudança de opinião: “O problema é que não sabemos o que o clima está fazendo. A gente achava que sabia há 20 anos. Isso levou a alguns livros alarmistas — o meu inclusive — porque aquilo parecia claro, mas não aconteceu”.
Que bom, né, gente?
“O clima está fazendo suas trapaças de sempre. De fato, nada está acontecendo ainda. Nós deveríamos estar a meio caminho da frigideira. O mundo não aqueceu desde o começo do milênio. A temperatura se mantém constante, quando deveria estar crescendo - o dióxido de carbono está crescendo, sobre isso não há dúvida”. Ele aponta que os filmes “Uma Verdade Inconveniente”, de Al Gore, e “The Weather Makers”, de Tim Flannery são também alarmistas.
Lovelock é um  qualquer, um daqueles que o jornalista que estava no Roda Viva acha que não podem mais ser ouvidos? Oh, não! A revista Time já o considerou um dos 13 líderes visionários, num artigo intitulado “Heróis do meio ambiente”. Vejam a sua biografia e o artigo original. Ele é considerado um  guia espiritual do mundo científico que lida com o meio ambiente. Ao menos era! Vão tentar enterrá-lo em vida.
Indagado pelo repórter se, agora, também ele é um cético, responde: “Depende do que você queria dizer com ‘cético’. Eu não sou um negacionista”. Tá bom demais, né? Nunca niguém negou alguma aquecimentozinho, um calorzinho gostoso… Ele continua a trabalhar com a hipótese de que o aumento da emissão de dióxido de carbono leva a um aumento da temperatura, mas acrescenta que o efeito do oceano ainda não foi estudado o suficiente e que aí está a chave da questão. “O mar pode fazer toda a diferença entre uma era do aquecimento e uma era do gelo”.
Mas não é isso, santo Deus, o que alguns dos chamados “céticos” vêm sustentando há muitos anos?
Como diria o poeta latino Catulo, é difícil renunciar subitamente a um grande amor, não é? Lovelock não chega a mandar para a geladeira todos os seus antigos parceiros. Diz acreditar que está em curso uma mudança climática, mas vai demorar muito tempo para que se sintam seus efeitos. “Nós ainda teremos um aquecimento global, mas ele foi adiado um pouquinho”. Bem, no que concerne à Terra, “um pouquinho” podem ser alguns milhões de anos.
“Cometi um erro”Como pesquisador independente, que trabalha sozinho, ele diz não ver problema nenhum em reconhecer: “Tudo bem, cometi um erro”. E afirma que cientistas que trabalham para governos e universidades têm medo de admitir um erro porque podem perder financiamento
Lovelock, que já trabalhou com a NASA e descobriu a presença de substâncias químicas nocivas (CFC) na atmosfera — mas não o seu efeito sobre a camada de ozônio (esse é outro mito muito influente) —, diz que a humanidade deve fazer o possível para evitar a queima de combustíveis fósseis, tentando se adaptar às mudanças que virão. Peter Stott, chefe Met Office Hadley Centre, do Reino Unido, afirma que Lovelock havia sido mesmo muito alarmista sobre a possibilidade de as pessoas terem de viver no Ártico em 2100. E concorda que o aquecimento dos últimos 12 anos não é o esperado pelos modelos climáticos. Ele só acha que é preciso esperar mais dez anos para admitir que esses modeles têm problemas. Sei…
Lovelock nem é o estudioso mais importante a ter desmoralizado os apocalípticos. Mas é o mais simbólico. Era, reitero, o guia espiritual da turma, o sacerdote. Há anos trato das maluquices desses que chamo membros da Igreja do Aquecimento Global dos Santos dos Últimos Dias… Aos poucos, vai-se recobrando a razão, mas é um processo lento. A “mudança climática” gerou uma cultura, uma doxa, virou ideologia. Mais: também envolve negócios multibilionários, especialmente das empresas voltadas para as chamadas energias alternativas. Muitas delas estão por trás de ONGs que financiam alguns de nossos patriotas, amigos da natureza…
Leitores me enviaram ontem o link de uma entrevista que o climatologista Ricardo Felício concedeu a Jô Soares. Ele é professor do Departamento de Geografia da USP. Esclarecedora e divertida. Aquele jornalista que acha que os céticos não podem ser mais ouvidos deve ter ficado triste. Não sei o que Felício pensa quando o assunto não é clima. Parece-me uma pessoa preparada. E já merece a minha simpatia por não temer a patrulha.
Num país em que a ciência, o direito e o jornalismo se submetem cada vez mais ao tribunal do politicamente correto, ter a coragem de dizer o que pensa é uma virtude.
Por Reinaldo Azevedo


CLIMATOLOGISTA DETONA OS EMBUSTEIROS ECOCHATOS. NÃO DEIXE DE VER ESTE VÍDEO!


Vale a pena ver esta entrevista com o climatologista Ricardo Augusto. É um verdadeiro libelo contra os milenaristas ecochatos, ou melhor, detona o discurso dos embusteiros do aquecimento global e bobagens correlatas. Professor da USP e profundo conhecedor do assunto, sem a afetação comum dos comunistas verdes e demais idiotas que vivem enchendo o saco e se metendo na vida privada das pessoas, este professor contribui de forma extraordinária para demolir a vigarice dos ecochatos.Por Aluizio Amorim

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Justiça com lentes coloridas

A discriminação racial no Brasil é constitucional, segundo decidiram por unanimidade os ministros do Supremo Tribunal (STF), num julgamento sobre a adoção de cotas para negros e pardos nas universidades públicas. Com base numa notável mistura de argumentos verdadeiros e falsos, eles aprovaram a reserva de vagas para estudantes selecionados com base na cor da pele ou, mais precisamente, na cor ou origem étnica declarada pelo interessado. Mesmo enfeitada com rótulos politicamente corretos e apresentada como “correção de desigualdades sociais”, essa decisão é obviamente discriminatória e converte a raça em critério de ação governamental. Para os juízes, a desigualdade mais importante é a racial, não a econômica, embora eles mal distingam uma da outra.
O ministro Cezar Peluso mencionou as diferenças de oportunidades oferecidas a diferentes grupos de estudantes. Com isso, chamou a atenção para um dos maiores obstáculos à concretização dos ideais de justiça. Todos os juízes, de alguma forma, tocaram nesse ponto ou dele se aproximaram. Estabeleceram, portanto, uma premissa relevante para o debate sobre a formação de uma sociedade justa e compatível com os valores da democracia liberal, mas perderam-se ao formular as conclusões. 
O ministro Joaquim Barbosa referiu-se à política de cotas como forma de combater “a discriminação de fato”, “absolutamente enraizada”, segundo ele, na sociedade. Mas como se manifesta a discriminação? Candidatos são reprovados no vestibular por causa da cor? E os barrados em etapas escolares anteriores? Também foram vítimas de racismo? 
A ministra Rosa Weber foi além. “A disparidade racial”, disse ela, “é flagrante na sociedade brasileira.” “A pobreza tem cor no Brasil: negra, mestiça, amarela”, acrescentou. A intrigante referência à cor amarela poderia valer uma discussão, mas o ponto essencial é outro. Só essas cores identificam a pobreza no Brasil? Não há pobres de coloração diferente? Ou a ministra tem dificuldades com a correspondência de conjuntos ou ela considera desimportante a pobreza não-negra, não-mestiça e não-amarela. 
Mas seus problemas lógicos são mais amplos. Depois de estabelecer uma correspondência entre cor e pobreza, ela mesma desqualificou a diferença econômica como fator relevante. “Se os negros não chegam à universidade, por óbvio não compartilham com igualdade das mesmas chances dos brancos.” E concluiu: “Não parece razoável reduzir a desigualdade social brasileira ao critério econômico”. A afirmação seria mais digna de consideração se fosse acompanhada de algum argumento. Mas não é. O fator não econômico e estritamente racial nunca foi esclarecido na exposição da ministra nem nos votos de seus colegas. 
Nenhum deles mostrou com suficiente clareza como se manifesta a discriminação no acesso à universidade ou, mais geralmente, no acesso à educação. O ministro Celso de Mello citou sua experiência numa escola pública americana sujeita à segregação. Lembrou também a separação racial nos ônibus escolares nos Estados Unidos. Seria um argumento esclarecedor se esse tipo de segregação – especificamente racial – fosse no Brasil tão normal e decisivo quanto o foi nos Estados Unidos. 
Talvez haja bons argumentos a favor da discriminação politicamente correta defendida pelos juízes do STF, mas nenhum desses foi apresentado. Brancos pobres também têm dificuldade de acesso à universidade, mas seu problema foi menosprezado. 
Se um negro ou pardo com nota insuficiente é considerado capaz de cursar com proveito uma escola superior, a mesma hipótese deveria valer para qualquer outro estudante. Mas não vale. Talvez esse branco pobre também deva pagar pelos “danos pretéritos perpetrados por nossos antepassados”. Justíssimo? 
Como suas excelências poderão ser envolvidas em outras questões de política educacional, talvez devam dar uma espiada nos censos. Os funis mais importantes e socialmente mais danosos não estão na universidade, mas nos níveis fundamental e médio. Países emergentes bem-sucedidos na redução de desigualdades deram atenção prioritária a esse problema. O resto é demagogia. 
Fonte: O Estado de S. Paulo, 28/04/2012 


Novos tempos


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista à "Folha", faz uma análise da dimensão da corrupção no Brasil que vai além da mera crítica política. Ele avalia que houve mudanças estruturais no antigo fenômeno, que já não pode ser considerado apenas como "mais do mesmo", com a agregação de "dimensões funcionais novas".
Na análise mais do sociólogo que do político, "com o capitalismo enorme no Brasil e o governo interferente, passam a existir muitas possibilidades de negócios".
O clientelismo, uma face da antiga prática, continua em vigor, mas a facilitação de negócios ganharia uma dimensão mais ampla.
De bom humor, ele diz que seu governo representa "a pré-história desse capitalismo", e que por isso acha que o grau de corrupção aumentou de lá para cá.
Fernando Henrique diz, por exemplo, que quando governou ainda havia condições de controlar as nomeações para cargos importantes, ou até mesmo ministérios, que não eram dados com "porteira fechada" para nenhum partido.
Noto que a presidente Dilma Rousseff está tentando retomar essa prática, embora ainda seja refém do loteamento partidário do Ministério.
A nomeação ontem do deputado Brizola Neto é um exemplo dessa prática, independentemente de juízos de valor sobre a capacidade do deputado de exercer o cargo.
O fato de ele estar encontrando resistências dentro de seu próprio partido mostra que Dilma está querendo nomear pessoas de sua confiança mesmo quando não pode deixar de dar o ministério para este ou aquele partido. Foi assim com o PR no Ministério dos Transportes.
O historiador Boris Fausto já havia feito uma análise na mesma direção em palestra na Academia Brasileira de Letras que registrei aqui na coluna, atribuindo a decadência que estamos vivenciando na questão ética a circunstâncias históricas do desenvolvimento do país, como o crescimento avassalador do capitalismo de Estado, fazendo surgir uma nova classe dirigente que mistura o poder sindicalista emergente, dominando os fundos de pensão das estatais, e as megaempresas multinacionais.
E a consequente possibilidade de ganhar muito dinheiro também com a prevalência, a exemplo do que ocorre no mundo globalizado, do sistema financeiro.
Talvez seja essa globalização da corrupção que torne mais frequente entre nós relatos de jatinhos particulares cruzando os céus do mundo com nossos governantes e parlamentares a bordo, por cortesia de empresários amigos, ou imagens como as que estamos vendo do governador do Rio, Sérgio Cabral, e vários de seus secretários se regalando com mordomias em Paris e outros locais luxuosos da Europa.
O restaurante francês La Tour D"Argent, por sinal, onde o secretário de Governo Wilson Carlos aparece jantando com o empreiteiro Fernando Cavendish, parece ser um dos preferidos dos burgueses do dinheiro alheio, na frase certeira de Reinaldo Azevedo.
A coluna de Ancelmo Gois no GLOBO já havia publicado uma foto do senador Demóstenes Torres jantando no Tour D"Argent antes mesmo de ele ter sido desmascarado.
Agora, o inquérito da Operação Monte Carlo revela que em agosto de 2011 um assessor de Cachoeira de nome Gleyb Ferreira da Cruz comprou cinco garrafas do vinho Cheval Blanc, safra 1947, considerada uma das melhores de todos os tempos, por até US$ 2.950 a unidade para presentear o senador.
Todo esse luxo tem evidentemente seu preço, e é isso que a CPI tem de investigar. A não ser que queiram melar a CPI desde o início - e talvez esse seja um objetivo mesmo -, não creio que seja possível aos governistas evitar a convocação de Cavendish na CPI do Cachoeira, mesmo que a disposição seja limitar as investigações às atividades da Delta no Centro-Oeste, cujo ex-diretor já está preso.
Uma vez convocado, ele terá de responder a perguntas que serão bem mais abrangentes do que gostariam os governistas, e será inevitável a convocação do governador Sérgio Cabral e dos responsáveis pelo PAC para explicarem as responsabilidades de cada um nas contratações da empreiteira, muitas vezes sem licitação.
As relações de Cachoeira com a Delta já estão plenamente demonstradas nos diálogos gravados pela Polícia Federal, a ponto de haver a suspeita de que na verdade Cachoeira era um sócio oculto da Delta, ou até mesmo seu verdadeiro proprietário, acobertado por Cavendish.
Assim como será difícil aos partidos protegerem seus filiados, sejam governadores ou deputados e senadores. As primeiras convocações devem ser as do senador Demóstenes Torres, do empreiteiro Fernando Cavendish e dos dois governadores mais envolvidos com Cachoeira, Agnelo Queiroz, de Brasília, e Marconi Perillo, de Goiás.
A partir delas, as investigações se espalharão a outros setores, e não creio que a maioria governista tenha condições de delimitar a ação da CPI para proteger alguns de seus aliados.
Não por falta de número para tal, mas por falta de ambiente político para manobra tão vergonhosa.
Creio que o país já vive um clima de exigência moral bem mais elevada do que normalmente acontece, por conta das seguidas revelações que vêm sendo feitas pelos sucessivos vazamentos de informações do processo.
O trabalho de inteligência da Polícia Federal foi feito com bastante apuro e nada ficou de fora, inclusive a ação de policiais em favor do bicheiro, tudo filmado e fotografado.
Interessante como as armas que Carlinhos Cachoeira e seus comparsas usavam para chantagear voltaram-se contra eles, com todas as conversas gravadas, apesar da tentativa de usar telefones registrados em Miami para fugir dos grampos.
E esse clima de cobrança da sociedade deve aumentar quando o Supremo Tribunal Federal começar a julgar o mensalão, com previsão para junho.
O cruzamento da CPI com o julgamento deve produzir um ambiente político no país que, em vez de conseguir melar o mensalão, deve disseminar a sensação de que a impunidade é uma das principais causas da repetição dos escândalos de corrupção na política brasileira. Por: Merval Pereira O GLOBO 01/05/2012

O básico sobre inflação



1. Inflação é um aumento na quantidade de dinheiro e de crédito criado em decorrência desta criação adicional de dinheiro.  A principal e mais visível consequência da inflação é a elevação dos preços.  Portanto, uma inflação de preços — atenção para o termo correto — é causada unicamente pelo aumento da quantidade de dinheiro na economia. 

2. A quantidade de dinheiro na economia é uma variável decorrente das políticas monetárias do governo — mais especificamente, de seu Banco Central.
3. Um dos principais motivos para a criação de mais dinheiro é a existência de um orçamento deficitário por parte do governo.  Orçamentos deficitários são gerados por gastos crescentes e extravagantes, os quais o governo é incapaz de cobrir utilizando exclusivamente suas receitas de impostos.  Gastos excessivos decorrem principalmente dos esforços do governo em redistribuir riqueza e renda para setores privilegiados — isto é, esforços para retirar recursos dos produtivos para sustentar os improdutivos de todas as classes.  Isto corrompe a ética e desestimula os incentivos trabalhistas tanto dos produtivos quanto dos improdutivos.
4. As causas da inflação de preços não são, como se diz frequentemente, "múltiplas e complexas"; elas são simplesmente a consequência inevitável de uma criação excessiva de dinheiro.  Não existe algo como "inflação gerada pelo aumento dos custos".  Se salários e outros custos trabalhistas ou de produção forem forçados para cima, mas não houver um aumento na quantidade de dinheiro na economia, e os produtores tentarem repassar estes aumentos aos consumidores elevando os preços de venda, a maioria deles irá apenas vender menos produtos.  O resultado será um menor nível de produção e a perda de empregos.  Custos maiores podem ser repassados para os preços somente quando os consumidores têm mais dinheiro para pagar por estes preços mais altos. 
5. Controles e congelamentos de preços não podem interromper ou arrefecer a inflação de preços.  Eles podem, no máximo, atrasar a sua manifestação.  Pior ainda: eles irão sempre desorganizar a economia.  Controles de preços simplesmente comprimem ou eliminam por completo as margens de lucro, desarranjam a estrutura de produção da economia, e geram gargalos e escassezes.  Todo e qualquer controle de preços e salários implantado pelo governo, ou até mesmo a sua "monitoração", é apenas uma tentativa de políticos de jogar a responsabilidade pela inflação sobre produtores e vendedores, e não em suas próprias políticas monetárias.
6. Uma prolongada inflação nunca "estimula" a economia.  Ao contrário, ela desequilibra e desorganiza a estrutura produtiva da economia, direcionando a produção e o emprego para investimentos que mais tarde revelar-se-ão insustentáveis, gerando prejuízos, desperdício de recursos escassos e maior desemprego.  O desemprego assim gerado permanecerá em níveis elevados enquanto o salário demandado estiver acima do real valor de mercado — seja por demandas sindicais, por leis de salário mínimo (que mantém adolescentes e mão-de-obra pouco qualificada fora do mercado de trabalho) ou por prolongados e generosos seguros-desemprego.
7. Para se evitar estragos irremediáveis, a noção de que expansões monetárias podem estimular permanentemente a economia deve ser irreversivelmente rejeitada.  Adicionalmente, o governo deve ser retirado por completo do controle da oferta monetária, deixando esta área a cargo das forças de mercado.  Por fim, o orçamento do governo deve ser equilibrado o mais rapidamente possível, e não de maneira gradualista e indolor.  O equilíbrio deve ser alcançado por meio de um acentuado corte de gastos, e não pelo aumento de uma carga tributária já extremamente elevada, que comprime salários e desestimula o trabalho árduo e a produção.  

Henry Hazlitt 
(1894-1993) foi um dos membros fundadores do Mises Institute. Ele foi um filósofo libertário, economista e jornalista do The Wall Street JournalThe New York TimesNewsweek e The American Mercury, entre outras publicações. Ele é mais conhecido pelo seu livro Economia em uma Única Lição.