segunda-feira, 9 de julho de 2012

PRÉ-SAL SUCUMBE À REALIDADE

Euforia do pré-sal 'sucumbe à realidade', diz 'Wall Street Journal' 

Investidores brasileiros têm descoberto que os recursos naturais do pré-sal não significam exatamente dinheiro na mão" e que a "euforia (do petróleo) sucumbiu à realidade", diz uma reportagem publicada nesta segunda-feira pelo jornal norte-americano "Wall Street Journal". 

Com o título "Por que o petróleo brasileiro demora a pegar fogo", o artigo faz uma análise do preço das ações do setor petroleiro no Brasil, dizendo que os papéis da Petrobras estão hoje no mesmo patamar do que em outubro de 2006 e que as ações da empresa OGX perderam dois terços do seu valor de mercado desde 2008. 

De acordo com a reportagem, as duas empresas brasileiras diminuíram suas estimativas de produção e estão tendo que investir mais do que o previsto. 

O consultor de energia especialista em América Latina Roger Tissot diz no artigo acreditar que o Brasil foi superestimado quanto ao seu potencial petrolífero. Tissot culpa o governo brasileiro: "a política do governo limita a implantação de capital estrangeiro e a especialização, retardando o desenvolvimento e aumentando os custos". 

O "Wall Street Journal" culpa exigências feitas pelo governo, de que investimentos tenham aproveitamento local, por ineficiências nos gastos. 

Com isso, segundo o diário, o custo de produção por barril da estatal brasileira aumentou. 

 De acordo com Matt Portillo, analista do banco de investimentos Tudor, Pickering, Holt & Co., ouvido pelo jornal, empresas estrangeiras envolvidas na descoberta das reservas do pré-sal têm sido um melhor investimento e conseguiram se beneficiar do entusiasmo criado, inclusive com a venda de participações no negócio para outras empresas. 

O jornal diz que ações de empresas colombianas do setor tiveram um desempenho "bem melhor que os rivais brasileiros". 

A indústria do petróleo do país vizinho cresceu 6,5% por ano desde 2003. Esse aumento coincidiria com novas políticas para encorajar o investimento estrangeiro em petróleo e gás.DA BBC BRASIL

ENCONTRADO O BÓSON DE DEUS

Na física de partículas, uma "descoberta" é tão rara que a chance de outra explicação é de uma em 3,5 milhões 

Como não poderia deixar de ser, nesta semana escrevo sobre a descoberta sensacional do bóson de Higgs, anunciada na última quarta feira, 4 de julho, pelos cientistas do laboratório Cern, em Genebra, na Suíça. Começo repetindo a história de como o bóson de Higgs ficou conhecido como "partícula de Deus". Obviamente, uma partícula elementar não tem nada a ver com Deus. O apelido vem do título do livro de Leon Lederman, o prêmio Nobel que durante anos caçou a partícula (a busca pelo bóson de Higgs durou ao todo 45 anos!). 

Lederman conta que originalmente queria dar ao livro o título em inglês "The Goddamn Particle" ("A partícula Amaldiçoada por Deus" ou simplesmente "A Desgraçada da Partícula"). A ideia era demonstrar sua frustração em não tê-la encontrado. Porém, o editor do livro achou que, com a exclusão de "desgraçada" do título, o livro venderia bem mais. A coisa vingou -para o livro de Lederman e para a partícula. Mas por que tanta empolgação com o bóson de Higgs, que inclui bilhões de dólares gastos na busca por uma mera partícula? Essencialmente, o bóson de Higgs era a peça que faltava no chamado Modelo Padrão, que descreve tudo sobre as partículas que conhecemos no Universo. Achá-lo significa completar esse modelo com enorme sucesso. 

O papel do Higgs é único entre as partículas: ele é responsável por "dar massa" a todas as outras. Vale lembrar que, na física moderna, as entidades essenciais são os campos. Partículas são excitações desses campos, como pequenas ondas na superfície de um lago. O campo de Higgs estaria por toda a parte, como o ar na nossa atmosfera. Ele interage com os campos de outras partículas: por exemplo, o campo dos elétrons ou o dos fótons (o campo eletromagnético), as partículas de luz. Essa interação tem uma intensidade que varia de campo para campo. É essa intensidade variável que determina a massa das partículas e as suas diferenças. Por que, então, o nome de "bóson"? As partículas que conhecemos podem ser divididas em dois grupos, chamados genericamente de bósons e férmions. "Bóson" homenageia o físico indiano Jagadish Chandra Bose, que desenvolveu, junto com Einstein, as propriedades dessas partículas. Elas gostam de existir em grupos com muitas delas. O Higgs e os fótons são bósons. 

Já os férmions (em homenagem ao físico italiano Enrico Fermi) são mais exclusivos e no máximo aparecem em pares. Os elétrons e os prótons são férmions. Ninguém "viu" um bóson de Higgs, pois eles se desintegram em outras partículas em minúsculas frações de segundo. O que se "observa" são os vários produtos dessas desintegrações. Os resultados são estatísticos, devido aos bilhões de colisões e desintegrações que ocorrem. Na física de partículas, uma "descoberta" é um evento tão raro que a chance de surgir outra nova explicação é de uma em 3,5 milhões. O interessante é o que está por vir. Sabemos que a partícula é um bóson. Mas não sabemos se corresponde à previsão mais simples do Modelo Padrão ou se é algo mais exótico. Todos torcem pelo exótico, pois terão abertas portas para uma nova física. Depois de 45 anos, seria uma pena encontrar só o Higgs. 

Por: MARCELO GLEISER

A MAIORIDADE DO REAL E OS PRÓXIMOS 18 ANOS


Há exatamente uma semana o Real completou os primeiros 18 anos do que espero seja a longa vida de uma moeda que veio para ficar como um dos símbolos do avanço institucional do País. Os brasileiros que tinham 18 anos em 1994 - e, portanto, todos os que estão hoje na faixa dos 36-40 anos - provavelmente não têm nenhuma lembrança pessoal significativa, isto é, vivida, da marcha da insensatez que foi a evolução do processo inflacionário no Brasil pré-Real. 

Vale lembrar: no meio século que vai de meados dos anos 40 a meados dos anos 90, o Brasil só teve três anos de inflação inferior a 10% (nos anos 40). Entre 1950 e 1980 a taxa média de inflação foi da ordem de 25%-30% ao ano. Do início dos anos 80 (quando chegou a 100%) até o Real, a taxa média anual foi superior a 600%, passando dos 1.000% em 1989 e chegando a quase 2.500% em 1993. Na literatura econômica há uma palavra para isso: hiperinflação. 

Ainda era muito precária, à época, a percepção, que hoje felizmente existe, de que a inflação é um imposto. E o mais injusto de todos, porque incide principalmente sobre os mais pobres. Não é por acaso que os indicadores de concentração de renda e riqueza no Brasil nas últimas décadas - sejam os índices de Gini, sejam as parcelas de renda apropriadas pelo 1% mais rico e pelos 20% mais pobres - mostram que os piores anos de desigualdade na concentração de renda no Brasil foram ao final dos anos 80 e início dos anos 90. 

O povo brasileiro entendeu, muito rapidamente, que o controle da inflação propiciado pelo Real era algo que redundava em seu benefício. E hoje a inflação baixa é vista como um objetivo da sociedade e como obrigação de qualquer governo minimamente responsável. Não é um fim em si mesmo, como sempre afirmamos, mas uma condição indispensável para que outros objetivos econômicos e sociais possam ser alcançados. Afinal, com inflação alta, crônica e crescente não há possibilidade alguma de verdadeira inclusão social, tampouco de crescimento sustentado. 

O que quero dizer com isso? Que a importância e o significado do Real, que ora atinge sua maioridade, transcende de muito a derrota da hiperinflação em 1994. E que a agenda do Brasil pós-hiperinflação se confundia com a própria agenda do desenvolvimento econômico e social do País, que pôde, sem a zoeira da inflação, começar a alargar seus horizontes e procurar tornar-se um país mais normal, mais previsível, mais confiável, mais competitivo. Um país talvez capaz de crescer de forma sustentada, com inflação sob controle, com maior justiça social, menos pobreza, com as finanças públicas em ordem, infraestrutura decente, melhor educação e maior eficiência nos setores público e privado. 

Como sabemos, 18 anos são pouco para a magnitude dessa empreitada. Mas o Brasil não começou com o Real e já havia avançado muito em períodos anteriores, apesar de aparências em contrário. Agora é preciso contemplar os próximos 18 anos. Afinal, 2030 está logo ali adiante, quando os que chegaram à sua maioridade com o Real - como meu filho mais moço - terão dobrada sua idade. 

Quem viver até lá acompanhará as tentativas do governo atual, e os labores dos governos que se lhe seguirão, de lidar com as urgências constantemente postas e repostas pelo sempre fugidio "momento presente" - que exigem respostas no curto prazo da parte dos responsáveis por políticas públicas. Respostas que serão tão mais adequadas quanto mais levem em conta objetivos de longo prazo: políticas de Estado, e não apenas do governo de turno; para a próxima geração, e não somente para a próxima eleição. 

Como procurou fazer o governo FHC, nessa área de respostas a problemas que precisavam ser encarados com firmeza - e o foram. Exemplos: a resolução de problemas de liquidez e solvência no sistema bancário nacional, privado e público; a reestruturação das dívidas de Estados e municípios então insolventes do ponto de vista fiscal e desde então sem problemas mais sérios nessa área; a Lei de Responsabilidade Fiscal, de maio de 2000, marco de mudança histórica nas finanças públicas brasileiras; o reconhecimento de que as necessidades de investimentos do País (não do governo) superavam de muito a capacidade do setor público e de suas empresas, exigindo mudanças, até mesmo constitucionais, que abrissem espaço ao investimento privado, doméstico e internacional. 

É verdade que o ex-presidente Lula nunca reconheceu de público o quanto seu governo se beneficiou desses avanços. Ao contrario, preferiu caracterizá-los como herança maldita, algo que não o engrandece. Mas não importa, a presidente Dilma fez tal reconhecimento de público de maneira muito explícita em mais de uma ocasião, desde seu relevante discurso de posse. Como antes haviam feito importantes ministros de Lula, como Antônio Palocci e Paulo Bernardo. 

A propósito, é importante reconhecer que o governo Dilma, à diferença de seu antecessor, que nem sequer tentou (ou porque não quis, ou porque não pôde, ou talvez porque o extraordinário vento a favor que pegou da economia mundial lhe permitiu evitar incorrer em custos políticos domésticos), está procurando enfrentar certas "urgências do gradualismo", para as quais deveria ter apoio de quem pensa no longo prazo, como a mudança do insustentável regime de previdência do setor público e as "inexoráveis" concessões ao setor privado em áreas de infraestrutura, por exemplo. Para não falar nas necessárias resistências do Executivo às insaciáveis demandas de sua vastíssima "base de apoio" por contínua expansão dos gastos públicos no curto, no médio e no longo prazos. 

Debates desse tipo são fundamentais quando se olha à frente. Afinal, teremos nada menos que cinco eleições presidenciais nos próximos 18 anos. 

 Por: PEDRO MALAN O Estado de S.Paulo - 08/07

DILMA COMPRA RETROESCAVADEIRAS

No caso deste oitavo pacote, quem compra não é o cidadão, mas o governo. É ele quem se endivida Como não me cabe fazer a análise técnica da política econômica do governo, limito-me a tecer comentários acerca desta ou daquela medida, quando é o caso. 

Esse é o caso do último pacote anunciado por Dilma Rousseff e Guido Mantega, com pompa e circunstância, no Palácio do Planalto. É o oitavo pacote, emergencial como os outros, tentando conter a tendência da economia brasileira à estagnação. 

Como disse outro dia, a festa acabou, o banquete que Lula encontrou pronto tratou de usufruir dele politicamente o mais que pôde, distribuindo benesses a torto e a direito, sem se preocupar com o futuro. 

Garantiu desse modo a própria popularidade e elegeu Dilma, que recebeu como herança, além de ministros corruptos, o encargo de continuar a festa. 

Mas, embora não tivessem percebido, a festa acabara e nenhuma medida havia sido tomada para manter a mesa farta. É que, para isso, seria necessário que o país crescesse e, para crescer, seria preciso investir nos setores estruturais. Sucede que isso não é próprio de governos populistas, uma vez que investimentos, cujos resultados custam a aparecer, não interessam. 

Acontece que o processo econômico não obedece à vontade de Lula, pois tem suas próprias leis e exigências. Disso resulta que, esgotado o potencial contido nas medidas do governo anterior, a economia começou a ratear, quase parando. Dilma acordou e começou a produzir pacotes. 

Como se sabe, os partidos revolucionários não têm programa de governo, pois acreditam que, como o mal da sociedade é a burguesia, basta eliminá-la para chegar-se à sociedade perfeita. 

Os exemplos não faltam. O PT, embora não fosse revolucionário de fato, trouxe deles essa herança e, assim, ao assumir o governo do país, adotou o programa do governo anterior, que havia combatido ferozmente. Mas ficou nisso: esgotadas as possibilidades do programa herdado, não tem o que pôr no lugar, a não ser os pacotes emergenciais que se sucedem. 

Outra característica do governo petista, afora não ter programa, e por isso mesmo, é valer-se da propaganda para ganhar a opinião pública. Esse é um recurso muito usado pelos governos populistas, já que, para o povo em geral, quer o pacote dê resultado ou não, fica a notícia de que o governo está trabalhando, resolvendo os problemas. 

O PAC é exemplo disso: para o grande público (o eleitor), o governo está "acelerando" o crescimento do país, mas, na realidade, dos R$ 80 bilhões aprovados no Orçamento deste ano, só gastou até agora menos de ¼ dele. Sabem por quê? 

Porque lhe falta competência técnica para realizar os projetos. E, se lhe falta, é porque o preenchimento dos cargos executivos não é determinado por critério técnico, mas político. Não por acaso, o governo espantosamente admite que cada ministério pertence a determinado partido, que o usa politicamente. 

E, por falar em acaso, foi exatamente agora, a poucos meses das eleições, que Dilma decidiu lançar seu oitavo pacote. Mas não foi só por isso. Foi também porque o pacote anterior, reduzindo os juros para estimular o consumo, não deu certo, porque as famílias já estão demasiado endividadas. Por isso mesmo, no caso deste oitavo pacote, quem compra não é o cidadão, mas o governo. É ele quem se endivida. É que alguém tem que comprar, do contrário o país para. 

Aliás, para dizer a verdade, em todos os países, quem mais compra é mesmo o governo; no nosso, também. Daí que me pareceu estranho o modo solene como foi anunciado o pacote, em palácio e com a presença de empresários e prefeitos. 

Fiquei sinceramente surpreso ao ouvir da boca do ministro Guido Mantega que o pacote consistia em comprar coisas como retroescavadeiras, tratores, caminhões, ambulâncias, que devem ser compras normais em qualquer governo, por meio de seus ministérios. 

Mas quem comprará retroescavadeiras, desta vez, não será o ministro, mas a própria presidente da República. Estranho, não? Devo entender, então, que aquilo que deveria ser um procedimento corriqueiro é agora anunciado como uma extraordinária decisão presidencial. É isso mesmo ou sou eu que estou entendendo mal? 

Por: FERREIRA GULLAR FOLHA DE SP - 08/07

O RESGATE DA PETROBRÁS

Nas últimas três campanhas para a Presidência da República, um dos temas principais foi a política do petróleo e a Petrobrás. De um lado, o PT acusando os candidatos do PSDB de entregar as reservas brasileiras de petróleo para empresas privadas estrangeiras e privatizar a Petrobrás. Essa tese se acentuou na última campanha presidencial, com a descoberta da camada do pré-sal. De outro lado, o PSDB refém dos argumentos populistas e nacionalistas petistas e fugindo do debate em torno do setor de petróleo e da Petrobrás. 

O que chama a atenção é como o PSDB nunca teve coragem de defender a política que o seu governo elaborou e implantou para o setor de petróleo, bem como a gestão da Petrobrás. Isso porque, se houve uma política no governo do PSDB que só apresentou resultados positivos e diríamos até mesmo espetaculares, essa foi no setor de petróleo. Durante o governo Fernando Henrique assistimos à abertura do mercado de petróleo, que levou a um aumento nas reservas provadas de 82%, entre 1995 e 2002, e de 118%, na produção de petróleo. Em quatro anos, a ANP promoveu quatro leilões de concessão de áreas exploratórias de petróleo e gás. Isso proporcionou a entrada das principais empresas internacionais do setor, como BG, Shell, Statoil, Repsol, etc., e possibilitou a criação de empresas privadas nacionais como OGX, QGEP e HRT. A Petrobrás elevou seus lucros, modernizou-se e internacionalizou-se, atingindo um nível de governança que permitiu que suas ações passassem a ser negociadas na Bolsa de Nova York. Como resultado das práticas de mercado e da melhora da governança, as ações da empresa apresentaram valorização de 386% no governo FHC. 

Nos oito anos de governo do presidente Lula, os resultados obtidos no setor de petróleo, bem como os da Petrobrás, foram decepcionantes. A ANP realizou apenas cinco leilões e a área exploratória, que alcançou um máximo de 341 mil km², em 2009, será reduzida para 114 mil km², no final de 2012, devido a não ocorrência de leilões desde 2008. Os preços dos combustíveis voltaram a ser administrados pelo governo e promoveu-se a política do "falta tudo". Hoje, importamos gasolina, diesel, querosene de aviação e até etanol. O uso e abuso da Petrobrás levou ao não cumprimento das metas de produção de petróleo e a atrasos no plano de investimentos. Após a descoberta das reservas do pré-sal, foi realizada uma operação de capitalização da estatal, que se mostrou desastrosa para o acionista minoritário, desvalorizando em 44% as ações da empresa desde então. Ante a má performance da Petrobrás nos últimos anos, chama novamente a atenção como os partidos de oposição, em particular o PSDB, não denunciaram o que estava ocorrendo na gestão da Petrobrás. Ao contrário, tiveram uma participação tímida quando o governo mudou, em 2010, o marco regulatório do setor de petróleo, mais uma vez, perdendo a oportunidade de mostrar para a sociedade os êxitos do governo FHC e fazer ver que o que estava atrás das alterações propostas eram questões mais de cunho político do que técnico. 

Para a surpresa da maioria, é no governo da presidente Dilma, com a nomeação de Graça Foster para a presidência da Petrobrás, que se estão explicitando as mazelas da estatal e tentando reencontrar o caminho da excelência. A primeira boa notícia foi a nomeação da nova diretoria, sem qualquer interferência política. O anúncio do novo Plano de Negócios também mostrou metas mais realistas. A priorização dos investimentos em exploração e produção e o adiamento dos de refino demonstram que prevaleceu a racionalidade econômica. 

Falta superar uma série de obstáculos para que a gestão da Petrobrás volte a olhar mais os interesses dos acionistas e menos os dos políticos. Os dois principais desafios seriam a empresa ter autonomia para propor e executar a sua política de preços de combustíveis e deixar de ser utilizada pelo governo como instrumento de política industrial no que se refere ao conteúdo local. É preciso voltar a cuidar e resgatar a Petrobrás. Por: ADRIANO PIRES O Estado de S.Paulo - 07/07

CORRUPÇÃO E POLÍTICA

Muitas vezes já observei, embora poucas vezes tenha sido entendido, que uma ação política pode atravessar uma zona cinzenta, passar pelo purgatório, antes de se determinar como moral ou imoral. Por isso se torna imoral o partido que se apresenta como encarnação da pureza política. Engana ao esconder a possibilidade de que suas atuações se tornem imorais, se no fim do processo alguns de seus efeitos não forem corrigidos. E engana ainda mais quando, no poder, mostrar-se tão corrupto como seu adversário. Aumenta o risco de transformar a política numa possível guerra civil, pois, ao acusar o adversário de essencialmente corrupto, admite a possibilidade de que ele seja eliminado do espaço público. Compreende-se por que os partidos políticos ideologicamente mais consistentes deveriam cortar na carne quando seus partidários são apanhados com a boca na botija. Cuidariam de sua imagem para não se tornarem alvo de uma acusação destrutiva. 

É bem verdade que nem sempre se pode julgar se uma determinada ação política vem a ser moral ou imoral. No caos urbano de São Paulo, por exemplo, a instalação do monotrilho, benefício para toda a população que viaja, valoriza certas propriedades e desvaloriza outras. A injustiça que afeta estas últimas pode ser compensada por outros meios, como a redução no pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) ou benefícios de outra ordem. Mas enquanto essas compensações não forem feitas a ação permanece indeterminada de seu ponto de vista moral. 

A corrupção não sofre dessa ambiguidade. Embora cada ação política sempre vise a tornar-se coletiva, depende essencialmente de esforços individuais. Mas estes não podem perder de vista o alvo coletivo, reunindo companheiros e criando adversários. E quando a ação chega ao limite do conflito cria amigos e inimigos, um passando a visar a eliminação do outro, tanto na guerra civil como na guerra entre Estados. E nesse momento ela se torna totalitária, sem fissuras, impedindo que o outro exista ou se manifeste. 

A ação política só vem a ser democrática se aceitar a existência do adversário. O outro faz parte de sua sociabilidade. Funciona naquela linguagem que se desenvolve entre o eu e o tu, mas sempre tendo no horizonte um ele que convive no espaço de nosso discurso. Por isso a ação política no limite corre o risco da guerra civil, quando uma parte tenta anular a outra, obrigada então a se defender. A institucionalização da democracia se dá na prática institucionalizante de sua história. 

A decisão arma as ações num projeto político e desenha os limites além dos quais o inimigo é posto. As teorias decisionistas lidam com a oposição eu e tu e por isso têm servido para justificar toda sorte de autoritarismo. Se o eu e o tu se constituem num povo contra um inimigo comum, como admitir uma parte, um partido, que o negaria sem pretender destruí-lo? Mas a relação eu e tu já circula no meio de uma linguagem peculiar, de modo que a decisão se faz tendo um ele no horizonte, como parte do povo potencialmente amiga ou adversária. O decisionismo necessariamente não promove o totalitarismo. 

Já que toda ação convive com sua negação, a ação política sempre permite que algum companheiro atue desrespeitando a meta coletiva. No entanto, não pode aceitar a corrupção como parte de seu projeto, como se fosse meio legítimo de alcançar seus fins. Isso a impediria de se tornar verdadeiramente coletiva, pois assim aceita uma diferença que não visa ao bem comum. Se muitos políticos fazem caixa 2 para assegurar suas campanhas, não é por isso que o partido como tal poderia abonar essa prática, muito menos adotá-la para seu próprio financiamento. A corrupção privatiza uma ação que sempre haveria de ser coletiva. 

Quando um partido se imbui de uma missão histórica, acreditando que somente ele pode cumpri-la, termina fomentando a corrupção de seus membros. Pode até mesmo transformá-la em condição de governabilidade. Na posição sobranceira que lhe investe o projeto transformador, aceita que os fins justificariam os meios. Mas com isso se torna autoritário, pois o outro, ao denunciar sua imoralidade, se transforma num empecilho para que a revolução se realize, conforma-se num obstáculo a ser removido por inteiro. A revolução é uma das ações políticas mais intensas, ela acua o inimigo e abala seu poder, mas se torna autoritária tão logo pretenda eliminá-lo fisicamente, abrindo assim a fenda por onde se infiltra o terror. A guerra civil torna-se inevitável quando o outro passa a ser sistematicamente negado. Lembremos que em geral não há guerra sem limitação de certas liberdades democráticas. 

A ação política tem efeitos muito peculiares no seu próprio modo de ser. Depois de eu ter pintado uma parede de uma cor, que mais tarde se mostra inadequada, nada me impede de repintá-la, pois a parede continua lá. Isso não acontece quando preparo um alimento que, passando de seu ponto de cozimento, não pode mais ser comido. A ação política é uma espécie de cozimento do coletivo, que, passando do ponto, destrói a unidade social. A corrupção política assumida não apodrece o Estado? 

Há intelectuais que fazem política como se pintassem paredes. Constatam que a ação política vem sempre acompanhada de corrupção e, deixando de lado as peculiaridades de cada uma de suas formas, simplesmente aderem a esta ou àquela posição política, sem levar em conta a dinâmica da corrupção nela inscrita. Atuam como se fossem cozinheiros que pouco se importam quando servem alimentos ultracozidos. Por: JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI O Estado de S.Paulo - 08/07

domingo, 8 de julho de 2012

AQUECIMENTO GLOBAL?


Cientista americano contesta aquecimento provocado pelo CO2 

Para Don Easterbrook, Terra passa por ciclos de calor e frio não relacionados à ação humana 

RIO - A Humanidade e suas crescentes emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases do efeito estufa na atmosfera não têm nada a ver com o aquecimento global. Assim acredita Don Easterbrook, professor emérito de Geologia Glacial da Western Washington University, nos EUA, e apontado como um dos principais cientistas que contestam o consenso em torno do tema. Segundo Easterbrook, suas pesquisas, com base na análise de amostras de gelo retiradas das geleiras da Groenlândia, indicam que a Terra passa por constantes ciclos de aquecimento e resfriamento, com duração aproximada de 30 anos cada.  

Não acredito no aquecimento global primeiro porque não há dados físicos que comprovem que isso está acontecendo afirma. - Tudo que os arautos das mudanças climáticas têm são modelos computacionais fundamentalmente errôneos. Basta ver que se alimentássemos um dos modelos do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU) com dados de 1980, suas previsões para o clima em 2010 não chegariam nem perto dos dados reais coletados naquele ano. 

De acordo com Easterbrook, todo aquecimento das últimas décadas é fruto de um processo natural que já terminou, com evidências de que desde o ano 2000 a Terra entrou em uma tendência de resfriamento. Ele conta que seus estudos identificaram 40 ciclos de calor e frio nos últimos 500 anos e desde a última Idade do Gelo, há entre 10 e 15 mil anos, pelo menos uma dúzia de episódios em que a elevação da temperatura média do planeta atingiu 15 graus Celsius, mais de 15 vezes maior do que do que a alta atual, calculada entre 0,7 e 0,8 grau nos último século, sendo que nenhum deles estaria diretamente associado a aumentos na concentração de dióxido de carbono na atmosfera. - 

O CO2 é incapaz de causar uma mudança climática significativa e não pode ser usado para explicar o pequeno aumento de temperatura atual defende. - Basta ver que a partir dos anos 40, quando as emissões tiveram uma forte alta, a temperatura média da Terra caiu durante 30 anos enquanto a concentração de CO2 na atmosfera aumentava. Só a partir dos anos 70 a temperatura começou a subir e, mesmo assim, décimos de grau, o que não tem nenhuma relevância estatística. 

Ainda segundo Easterbrook, todas as emissões de CO2 da Humanidade desde o início da Revolução Industrial mudaram em apenas 0,008% a composição da atmosfera, mais uma amostra de que o gás não pode ser o causador do último ciclo de aquecimento, que teria terminado por volta de 1999. Sua teoria é de que estes ciclos estão associados a variações na temperatura da superfície dos oceanos. Esta, por sua vez, seria afetada pela cobertura de nuvens do planeta, que mudaria de acordo com oscilações no campo magnético do Sol. 

Quanto mais fraco este campo magnético, maior é a formação de nuvens, o que tem um efeito de resfriamento, já que elas refletem a radiação solar antes dela alcançar a superfície da Terra diz. 

Para Easterbrook, o fato de o vapor d'água que forma as nuvens ser o gás mais atuante do efeito estufa no planeta, responsável por mais de 95% do aquecimento que faz dele habitável (se não houvesse o efeito estufa, a temperatura média da Terra seria da ordem de -18 graus Celsius), não contrabalança o efeito de resfriamento da maior reflexão de radiação. O cientista também rechaça argumentos de que a partir de 2000, quando acredita que o planeta começou a esfriar, foram registrados alguns dos anos mais quentes da História. - 

Ocasionalmente podemos ter anos mais quentes ou mais frios, mas se calcularmos a média da temperatura na década veremos que não há um aumento, e sim uma tendência de queda relativa ao período entre 1961 e 1990, usado como base de comparação para a dita anomalia do aquecimento global alega Easterbrook. - Temos que atentar que padrões de tempo são diferentes de padrões de clima. Falar de anos individualmente não faz sentido. O que temos que observar são tendências de longo prazo. 

Na opinião do professor americano, todo discurso alarmista em torno do aquecimento global e das mudanças climáticas é uma estratégia de grupos interessados em obter dinheiro e poder dentro do sistema multilateral das Nações Unidas. 

É uma agenda que pretende controlar a população mundial, especialmente a dos Estados Unidos e outros países desenvolvidos, tanto que, diante da falta de evidências físicas do aquecimento, estão mudando o discurso para a questão da sustentabilidade considera. 

Embora diga ser totalmente a favor de um desenvolvimento sustentável que leve em consideração o uso racional dos recursos do planeta, com proteção da biodiversidade e melhoria da qualidade de vida da população mundial, Easterbrook não acredita que as decisões em torno do tema devam ficar concentradas no âmbito da ONU. 

A grande questão é quem vai decidir sobre como usar os recursos que estão pedindo nestas negociações, US$ 100 bilhões, US$ 200 bilhões por ano diz. - Se estes recursos forem usados para combater fantasmas como o aquecimento global, é um desperdício de dinheiro. Devíamos gastá-los para ajudar de maneira prática a melhorar a qualidade de vida das pessoas, para tirar elas e seus países da pobreza. Meu problema não é com os objetivos, mas com a forma de atingi-los. Dentro da ONU, não haverá fiscalização externa de como esses recursos serão gastos e em quê.

OS ALIADOS OCIDENTAIS, OS JUDEUS E ISRAEL


Em artigo anterior estudei as atitudes de Stalin, cabe agora ver como foram – e ainda são – as relações dos países supostamente aliados de Israel e seus vizinhos no Oriente Médio. A relação é também bastante perturbada. Há tempos venho abordando a ambigüidade americana e européia, principalmente após a posse de Obama, culminando no expressivo apoio à chamada “primavera árabe” que, como já se antevia desde os primeiros passos, está entregando o poder ao fundamentalismo islâmico e ao mais radical fanatismo judeófobo e anti-ocidental. Tomando-se em consideração o Egito, a Fraternidade Muçulmana é um movimento abertamente antijudaico, talvez o mais importante do mundo atualmente, desde seu apoio à Alemanha nazista. É inaceitável que possa ser considerado ‘moderado’.
Apesar de falar bonito, principalmente para audiências judaicas, nenhum outro presidente americano, Jimmy Carter incluso, foi tão desinteressado em relação a Israel e incapaz de entender sua verdadeira natureza e interesses. Os próprios líderes de Israel não confiam em Obama, embora para efeito externo digam que sim.
Numa excelente análise, Barry Rubin demonstra que mesmo as boas relações bilaterais, inclusive no que se refere a armamentos têm muito pouco a ver com Obama, pois o Congresso, o povo, as forças armadas americanas apóiam Israel e Obama está limitado em suas opções. Mesmo assim tentou o quanto pôde apoiar as pretensões ‘palestinas’ e pressionar Israel a aceitar suas exigências, mas sentiu-se forçado a recuar por total falta de reciprocidade. Rubin declara: “Note-se que nem mesmo com as repetidas humilhações a que foi submetido pelos árabes, nunca os criticou abertamente, nem o fez mudar sua política para a região ou apoiar Israel mais entusiasticamente”.
Suas atitudes em relação aos demais países anti-Israel, através da sua política regional de apaziguamento com os países árabes, o Irã e principalmente com a Turquia, bem como com os movimentos terroristas Hezbollah e Hamas só tem ajudado a fortalecer o antissemitismo endêmico no Oriente Médio.
Internamente, além de mentir descaradamente ao afirmar que o Islã teve forte influência na formação dos EUA, suas políticas estimulam professores universitários a ensinar uma falsa história de Israel e do Oriente Médio, como faz o professor de ciência política Farhad Malekafzali, da Universidade de Illinois: um entusiasta das falsas teses orientalistas de Edward Saïd mostra Israel como o malvado, que rotineiramente ataca os árabes, suas vítimas. Esta visão já é a predominante na maioria das universidades americanas.
Mas esta situação tem uma longa história, iniciada já quando do lançamento do movimento sionista. Oportunamente retornarei a estes primeiros tempos.
Durante os anos finais da II Guerra, quando já se conhecia muito bem o Holocausto, Stalin, Churchill e Roosevelt se reúnem na Conferência de Moscou de outubro de 1943. No documento que resultou deste encontro, a Declaration Concerning Atrocities, os judeus e o Holocausto sequer foram mencionados. Apesar dos líderes terem perfeita noção do extermínio em massa de judeus, o Holocausto foi tratado somente como mais um aspecto da ocupação alemã e nenhum deles o via como uma razão em si para guerrear contra a Alemanha nazista! Houve uma concordância tácita em sequer citar o morticínio seletivo, como se não tivessem sido os judeus os mais prejudicados.
A “questão judaica” não era apenas uma questão alemã ou soviética, mas também nos países aliados ocidentais a presença do anti-semitismo obstruiu o julgamento dos crimes de guerra. Parece ter havido uma concordância entre a necessidade comunista de ocultar suas políticas de extermínio, principalmente na Ucrânia, Polônia, Bielo-Rússia (hoje Belarus) e países do Báltico, e a onda de anti-semitismo que arrastou, durante a ocupação, França, Bélgica, Holanda e países da Europa Oriental tornando-os colaboradores voluntários dos nazistas na “Solução Final”, embora nominalmente inimigos da Alemanha. Esta distinção é importante: havia uma guerra entre países, mas uma tácita aliança anti-semita.
Nos documentos do Julgamento de Nüremberg, especialmente o Case nº 72 [1] vemos o degradante trecho:
“Alguns campos de concentração possuíam câmaras de gás e fornos crematórios para o extermínio em massa dos internados e queima dos corpos. Alguns deles eram de fato usados para o extermínio de judeus como parte da ‘solução final’ dos problemas judaicos. A maioria de não judeus eram submetidos a trabalhos forçados, embora as condições sob as quais trabalhavam tornavam trabalho e morte praticamente sinônimos. Os internados que adoeciam e ficavam incapazes de trabalhar, eram destruídos nas câmaras de gás ou enviados para enfermarias especiais onde recebiam tratamento inadequado, comida ainda pior do que para os que trabalhavam, e abandonados para morrer”. (United States Military Tribunal, Nüremberg, 30th December, 1947- 28th October 1948, Parte VI – [Crimes against Civilians])
É de ressaltar que a ‘solução final’ é tratada apenas como um assunto acessório e periférico.

PARTE II

Ao mesmo tempo em que aumentavam as tensões entre estados na virada do século, conflitos fundamentais vinham à superfície em virtualmente todas as áreas das ações e comportamentos humanos: nas artes, na moda, nos costumes sexuais, na política e no conflito de gerações.
Modris Eksteins, na obra Rites of Spring


O surgimento do movimento modernista na Alemanha aumentou as tensões com a Inglaterra, a grande potência conservadora da época. O Império Britânico, ‘onde o sol nunca se punha’ e o longo reinado de Victoria (1837-1901) propiciaram ao Reino Unido a condição de Império ‘onde tudo tem lugar e cada coisa no seu lugar” (1).

Com o movimento modernista as coisas como que saíram dos seus lugares, além de que a Alemanha há pouco unificada, foi profundamente modificada pela Kulturkampf que opôs o nordeste, a Prússia Luterana, e a Baviera Católica, ao sul. Embora Bismarck tivesse que retroceder pela vitória nas eleições do Partido Católico de Centro, a Prússia tornou-se a verdadeira potência por suas tradições militares. Bismarck hesitava em implementar as pretensões do Kaiser Guilherme I no sentido de tornar a Alemanha uma potência mundial através da aquisição de colônias ("um lugar ao sol"). Bismarck desejava de todas as maneiras evitar tensões com as potências européias que ameaçassem a segurança da Alemanha. Mas quando, entre 1880 e 1885, o quadro internacional se mostrou auspicioso, acedeu, estabelecendo-se colônias ultramarinas na África (Tanganika, hoje Tanzânia pela união com Zanzibar, e África do Sudoeste, hoje Namíbia, e na Oceania, aumentando as ameaças sobre o Império Britânico. O sucessor de Victoria, Edward VII (1901-1910) reforçou os laços com a França criando um corpo expedicionário para se engajar do lado da França em caso de ataque alemão.

Portanto, estavam criadas as condições culturais e estratégicas para um conflito. Segundo Eksteins, se para a Alemanha era um conflito espiritual, para os ingleses era uma luta para preservar valores sociais, exatamente aqueles valores e ideais que a avant garde atacava: noções de justiça, dignidade, civilidade, contenção e ‘progresso’ sob o império das leis. Lloyd George viria a dizer em 1914: ‘Temos vivido por várias gerações num vale protegido. Temos vivido de forma muito confortável e auto-indulgente e a face dura dos fados nos castiga agora, forçando-nos a nos elevar para poder ver os grandes e eternos valores que interessam a uma nação – os valores elevados que esquecemos: a Honra, o Dever, o Patriotismo e o Sacrifício que aponta o duro caminho para o Céu’ (Eksteins, ibid.).  


A virada de século foi conturbada para todo o planeta. As duas primeiras décadas do século XX foram marcadas por diversas crises, entre as quais as mais importantes foram (2):1905 – I Crise do Marrocos, 1908 – Crise Bósnia, 1911 – Agadir e II Crise Marroquina, 1929 – A Guerra de Trípoli, 1912 – I Guerra dos Bálcãs, 1913 – II Guerra dos Bálcãs, 1913 - Crise da Albânia, 1913 – O Caso Liman Von Sanders (tenente-general alemão designado Inspetor Geral do Exército Turco, sob protestos da Rússia), 1914 – Sarajevo e I Guerra Mundial.


Acordos e tratados durante a guerra e pós-guerra imediato
Sem dúvida a maioria dos acordos diplomáticos durante o período de guerra dizia respeito à disposição dos territórios do Império Otomano logo após a prevista derrotaDesde o início do conflito, tanto Inglaterra e França, quanto a Alemanha, tentaram ganhar a simpatia das lideranças árabes e catalisar o crescente nacionalismo árabe sufocado pelo Império Otomano que explodiu durante a guerra. Os planos alemães foram frustrados por seu aliado otomano que não tinha a mínima intenção de aceitar nenhuma independência. A Inglaterra e a França encorajavam os árabes a se rebelarem contra a autoridade do Sultão, ou, ao menos se abster de apoiar suas campanhas.
Em 1915-16, o alto comissário inglês no Egito, Sir Henry McMahon entrou em negociações com o sheriff de Meca Hussein ibn Ali. A chamada Correspondência McMahon-Hussein garantia a independência dos territórios árabes desde que estes se aliassem à Inglaterra contra os turcos. Mas em 1916 britânicos e franceses firmam secretamente o Tratado Sykes-Picot no qual previam a divisão do Oriente Médio em: (1) áreas controladas diretamente por cada um dos dois países, (2) áreas de influência e (3) mandato misto na Palestina. Não haveria a menor chance de independência árabe. No entanto, o pano de fundo das relações franco-britânicas continuava sendo a desconfiança mútua que persistia desde as Guerras Napoleônicas. Ambos os países, e também a Rússia e a Alemanha, manobravam ainda em 1914 para conseguir influência nos Bálcãs e no Império Otomano que estava falido. Naquele mesmo ano a França emprestou ao Império a fundo perdido, milhões de francos de seus contribuintes. Enquanto a Alemanha e a Inglaterra brigavam pelos direitos de construção da Baghdad Railway (3).
A aliança franco-britânica, tão propalada pelos vencedores da guerra, vacilava quase ao início desta. Edward Grey, secretário para Negócios Estrangeiros afirmava perante o gabinete que ‘sob nenhuma circunstância a Inglaterra toleraria o esmagamento da França’, mas em 11 de junho, pouco tempo antes do início da guerra, afirmava na Câmara dos Comuns: ‘se começar um conflito entre as potências européias, não há nenhuma negociação secreta decidindo sem consulta ao Parlamento se a Inglaterra participará do conflito e, na minha opinião, não deveríamos participar’. Mentiu descaradamente, o que encorajou a Alemanha a aliar-se ao Império Austro-Húngaro (id. ibid.) e iniciarem o conflito.
Dois outros fatores foram importantes: (1) o clima generalizado de conflagração que tomou conta da Europa nestas primeiras décadas e (2) a Declaração Balfour de novembro de 1917.

Ambigüidades, indefinições e traições
Já comentei antes que a Declaração Balfour (4) foi extremamente ambígua ao não falar da criação de uma Pátria Judia, mas sim de um lugar onde os judeus poderiam regular sua convivência com as comunidades não judias da área. Deve-se ressaltar que ela não era nem um acordo, nem uma promessa de um estado Judeu na Palestina nem que a Palestina seria judia, mas somente uma declaração unilateral propondo um lar judeu na Palestina.
A Declaração deixou Hussein apreensivo, no que foi apaziguado pelo governo britânico de que ‘o assentamento judeu na Palestina somente ocorrerá se for consistente com a liberdade política e econômica da população árabe’ (5). Na Conferência de Paz de Paris, em 1919, ocorreu o primeiro encontro entre as lideranças sionista e árabe. Chaim Weizmann, que sucedera Theodor Herzl no comando do movimento Sionista, se reúne com o sucessor de Hussein e firmam o Tratado Weizmann-Faisal, no qual é reconhecida a ascendência comum e a necessidade dos dois povos viverem em paz. Hussein, com muita clarividência, condicionou o Tratado ao cumprimento, por parte dos britânicos, da correspondência McMahon-Hussein, o que já estava previsto que nunca aconteceria pelo Sykes-Picot, que lhe era desconhecido, mas de cujas intenções provavelmente desconfiava por conhecer bem a deslealdade de ingleses e franceses. Assim, a primeira grande chance de entendimento entre árabes e judeus foi perdida pela traição britânico-gaulesa.
Quando a Liga das Nações concede o Mandato para a formação de um estado judeu na Palestina, os ingleses logo disseram que a Declaração Balfour não era bem assim e a re-interpretaram.
A ambigüidade levou as próprias autoridades britânicas - signatárias dos tratados, inclusive o Tratado de Sèvres (6) fixando as novas fronteiras da Turquia -, impedissem o desembarque de navios de refugiados judeus que eram internados em campos provisórios em Chipre.
Na realidade, os diversos acordos, declarações e tratados eram tão incompatíveis entre si, além de ambíguos e indefinidos, que criaram uma imensa confusão em todos os participantes, sem dúvida muito maior nos que mais dependiam de seus resultados: judeus e árabes. As ambigüidades eram evidentes, segundo Quigley: 

Existe um claro contraste entre a avareza imperialista dos acordos secretos como o Sykes-Picot e o tom altruísta das declarações públicas, há também um evidente contraste entre a forma dos britânicos negociarem as disposições na Palestina com os judeus e com os árabes, fazendo com que ambos se sentissem justificados em acreditar que a Inglaterra conduzia a seu favor as ambições naquela área. Esta crença, seja ela baseada em mal entendidos, ou em farsa deliberada, serviu posteriormente para desmoralizar os britânicos aos olhos de ambos os grupos. Como conseqüência, Hussein iniciou uma revolta contra a Turquia em 1916, recebendo um subsídio de £ 225.000 mensais dos britânicos.   


Em minha opinião, baseado nestas negociações e na atitude britânica posterior (1938) em relação à Checoslováquia, o que houve foi farsa deliberada. Os árabes estavam desarticulados entre inúmeros sheiks,sendo os principais Hussein e Ibn Saud, fundador da dinastia sauditaUma Comissão de Inquérito Americana, conhecida como Comissão King-Crane (1919), nomeada por Woodrow Wilson, sugeriu: (1) o abandono do apoio americano à causa sionista, (2) severa restrição à imigração judia e (3) um governo americano ou britânico para a Palestina. Finalmente, a Conferência de San Remo entre as grandes potências decidiu que o Reino Unido receberia o mandato da Palestina (inclusive a Transjordânia) e do Iraque, enquanto que a França ganhava o controle da Síria, inclusive o atual Líbano. Em linhas gerais, a conferência confirmou os termos do Acordo Sykes-Picot e contrariou a Declaração Balfour e as promessas de independência árabe. À ambigüidade e à mentira somava-se a imprecisão, pois as fronteiras entre aqueles territórios não foram especificadas.


Parte III


O Colonial Office, o Milner Group e os ‘White Papers’

O Milner Group foi derivado da Secret Society of Cecil Rhodes, o milionário explorador da África do Sul de cujo nome foi derivado Rodésia. O grupo dominou o The Times, fundou o The Round Table, seu porta-voz, teve grande influência na fundação da British Commonwealth of Nations e da Liga das Nações, fundou o Royal Institute of International Affairs (RIIA) e seu ramo americano, o Council on Foreing Relations (CFR) (7).
Colonial Office era dominado por nomes ligados ao Milner Group, ao qual pertencia Lord Balfour e a maioria dos representantes britânicos na Conferência de Paz de 1919, assim como a cúpula do Partido Conservador, e de onde partira a idéia dos Mandatos. Era simpático aos judeus e às suas legítimas aspirações, mas seu contato maior era com os árabes, pelos quais se sentiam particularmente atraídos, embora nunca se inclinassem ao romantismo pró-árabe de T. E. Lawrence (Lawrence da Arábia).
Carroll Quigley (AAE) afirma que a declaração deveria ser chamada de Milner Declaration, e não Balfour, pois Milner era o verdadeiro redator e seu principal apoio no Gabinete de Guerra, fato que só veio a público através de um discurso de Ormsby-Gore nos Comuns: ‘a redação originalmente apresentada por Lord Balfour não era a redação final aprovada pelo Gabinete de Guerra (...) esta última foi a redação de Lord Milner que teve que ser (por razões de precedência) emitida em nome do Secretário dos Assuntos Estrangeiros’.
No entanto, havia certa relutância em apoiar a causa sionista mais concretamente, baseada, segundo Quigley (op. cit.), em dois fatores: (1) o sentimento de que não seria justo permitir que a minoria de sionistas viesse para a Palestina e expulsassem os árabes ou os levassem a uma posição social e econômica inferior e (2) o sentimento de que isto afastaria os árabes do ocidente, especialmente da cultura britânica, o que seria certo se os judeus obtivessem o controle do Mediterrâneo do Egito à Síria. E a intenção do Milner Group era ocidentalizar os árabes. John Dove (AAE) sugeria que a partição não deveria ser permanente e que os judeus deveriam se contentar em ser apenas parte de uma unidade potencial: ‘Eles não precisam temer serem absorvidos porque têm tudo a ganhar de uma Federação Árabe, como um campo maior para suas atividades’.
White Paper de 1922 (8) uma tentativa de esclarecer a Declaração Balfour, trouxe ainda mais confusão e ambigüidade. Em linhas gerais, comentava as apreensões dos árabes com ‘certas interpretações exageradas’ baseadas na Declaração virem a favorecer um ‘Lar Nacional Judeu na Palestina’. Declarações ‘não autorizadas’ se referiam que o propósito britânico era criar uma Palestina totalmente judia, mas o paper afirma que ‘a Palestina não deveria ser judia, no mesmo sentido que a Inglaterra é Inglesa’‘o Governo de Sua Majestade considera qualquer expectativa neste sentido como impraticável e não tem esta finalidade em vista. Os termos da Declaração (Balfour) não contemplam que a Palestina como um todo possa ser convertida numa Pátria Nacional Judia (como haviam proposto Chaim Weizmann e Nahum Sokolow), mas que tal Lar poderia ser fundado ‘na Palestina’.
Ao mesmo tempo em que dizia que ‘o status de todos os cidadãos da Palestina deveria ser o de palestinos e jamais poderiam ter outro status jurídico’, reafirmava o compromisso com a população judia e garantia que ‘os receios dos judeus de perderem o apoio são infundados e que a Declaração (Balfour) estava reafirmada pela Conferência de San Remo e o Tratado de Sèvres, os quais não eram suscetíveis de modificações’.Considerava ainda o fato que durante as últimas duas ou três gerações os judeus haviam re-criado uma comunidade na Palestina, a qual contava na época 80 mil pessoas e que sua presença lá era de direito e nãopor permissão.
“Re-criavam” estaria se referindo ao fato de que o território era originalmente judeu e por isto estavam lá por direito? Parece que sim, porque na frase seguinte afirmava-se: ‘Esta é a razão pela qual é necessário que a existência da Pátria Nacional Judia deva ser internacionalmente garantida e reconhecida tendo em conta conexões históricas ancestrais’.
Porém o paper esclarecia que ‘as fronteiras da Palestina não foram definidas nem pela Declaração Balfour, nem pela Conferência de San Remo ou pelos Tratados de Sèvres e Lausanne, ou mesmo pelos termos do Mandato Britânico’.
Que Pátria é esta sem fronteiras definidas? E quem viria a defini-las e defendê-las?
Ficava estabelecido também que a comunidade judia poderia aumentar de número pela imigração, desde que não fosse tão maciça que excedesse a ‘capacidade econômica do território de absorver os recém-chegados’ e que imigrantes não deveriam ser um fardo para o povo palestino como um todo, nem privar os já estabelecidos de seus empregos’.
Neste mesmo ano a opinião pública e também a do governo inglês tinham-se tornado menos favoráveis à política sionista. Winston Churchill declarava: ‘Em ambas as Casas do Parlamento há um crescente movimento de hostilidade contra a política sionista na Palestina. Não dou grande importância a este movimento, mas está cada vez mais difícil contestar o argumento de que não é justo pedir ao contribuinte britânico, já sufocado com impostos, suportar o custo da uma política impopular na Palestina’.
Lord Milner, num discurso na Câmara dos Lordes em 27 de junho de 1923, comentou a Declaração Balfour e o White Paper, principalmente quanto à questão da imigração: ‘a agitação árabe que acreditamos ser devida, em grande parte, a estímulos externos, não nos deve afastar dos termos da Declaração. (...) Há espaço no território para uma grande população de imigrantes sem prejudicar de forma nenhuma a população árabe residente e a imigração (judia) pode ser inclusive benéfica para eles. (...) Sou, e sempre fui favorável às políticas pró-árabes e creio na independência dos países árabes. (...) Antevejo uma Federação Árabe e creio que eles cometeriam um grande erro se quisessem incluir a Palestina nesta Federação. Esta requer um mandato permanente e sob esta condição poderia ser um Lar Nacional para os Judeus, recebendo tantos imigrantes quantos o país pudesse economicamente suportar, mas jamais deverá se tornar um estado judeu’ (AAE). Esta foi a posição do governo Britânico até 1939.
Durante o restante da década de 20 e na de 30 ela se tornou insustentável devido a quatro fatores: (1) a permanente obstrução árabe, (2) a intenção sionista de obter controle político e soberania sobre seu território, o que implicaria em revogar o Mandato Britânico, (3) as pressões tanto sionistas quanto árabes durante a Grande Depressão de 1929 e (4) o surgimento de um novo motivo para a imigração: a necessidade de um refúgio para os judeus que escapavam da perseguição nazista.
O Partido Trabalhista, então no poder, emitiu o White Paper de 1930, elaborado por Sidney Webb, Lord Passfield (9), Secretário de Estado para as Colônias (posteriormente Assuntos dos Domínios) do governo de Ramsay MacDonald. Contrariando as reivindicações sionistas, estatuía que o desenvolvimento de uma Pátria Judia na Palestina não era assunto fundamental para o Mandato Britânico. Não obstante, esclarecia que a Inglaterra tinha a intenção de cumprir com suas obrigações com árabes e judeus e resolveria qualquer conflito como resultante de suas necessidades específicas. Apesar de não considerar fundamental para o Mandato comprometia-se a continuar o apoio de um Lar Nacional Judeu na Palestina. O tom, entretanto, era claramente anti-semita. Diversas instituições judias eram severamente criticadas, entre elas a Histradut (Federação Geral dos Trabalhadores) e a Agência Judaica, pois ambas contratavam apenas trabalhadores judeus. O Hope-Simpson Report concluíra que não havia terra suficiente para suportar a imigração contínua e os fazendeiros árabes estavam sofrendo dificuldades econômicas devido à política das organizações judias, e concluía recomendando a cessação da imigração até que novos métodos agrícolas fossem introduzidos no território. O White Paper confirmava esta posição, considerando que esta política era lesiva ao desenvolvimento econômico da população árabe.
O Milner Group protestou veementemente contra o White Paper de 1930, considerado contra os interesses judeus na Palestina, denunciando seu evidente anti-semitismo em artigos no The Times assinados por Jan Smuts e Sir John Simon.


(O assunto não está esgotado e continuará a ser abordado em textos futuros.)


Notas:


1 - Samuel Smiles in Modris Eksteins, Rites of Spring, Mariner Books, NY, 1989

2 - Cf. Carroll Quigley, Tragedy & Hope: A History of the World in Our Times, Macmillan, London-NY, 1966. Passa a ser referido com T&ampH.
3 - Jim Powell, Wilson’s War: how Woodrow Wilson’s great blunder led to Hitler, Lenin, Stalin and WW II,Crown Forum, NY, 2005
4 - His Majestys Government view with favour the establishment in Palestine of a national home for the Jewish people, and will use their best endeavours to facilitate the achievement of this object, it being clearly understood that nothing shall be done which may prejudice the civil and religious rights of existing non-Jewish communities in Palestine, or the rights and political status enjoyed by Jews in any other country.
5 - Carroll Quigley, The Anglo-American Establishment: Rhodes to Cliveden, GSG & Associates, 1981. A partir de agora será referido como AAE.
6 - Com a revolução dos Jovens Turcos comandados por Mustafá Kemal Atatürk foi substituído pelo Tratado de Lausanne com vários territórios voltando à nação turca.
7 - Brevemente publicarei mais dados sobre estes grupos.
8 - Os “white papers” são publicados pelos governos para apresentar uma política ou propor uma linha de ação em um tema de preocupação atual ou esclarecer melhor tratados e convênios diplomáticos. Em diversas Nações, "white paper" é o nome informal de um documento que anuncia uma política governamental. O termo surgiu no Reino Unido, onde se aplica aos documentos governamentais, informes, anúncios ou esclarecimento de políticas. Durante o Mandato britânico da Palestina, publicaram-se três "white papers" que determinaram o futuro imediato do Mandato.
9 - Webb foi um dos fundadores em 1884 da Fabian Society, ligada à Marxist Social Democratic Federation, juntamente com sua mulher, Beatrice, George Bernard Shaw, Annie Besant (mais tarde convertida à Teosofia de Madame Blavatsky), H. G. Wells, Leonard e Virginia Woolf. Até a morte o casal Webb defendeu os métodos stalinistas de opressão, evidenciando a mentira de que há oposição entre socialistas e marxistas-leninistas.


O CUSTO LULA (2)

Uma das broncas do então presidente Lula com a Vale estava no assunto siderúrgicas. A companhia brasileira deveria progredir da condição de mero fornecedor de minério de ferro para produtor de aço, tal era o desejo de Lula. 

Quando lhe argumentavam que havia um problema de custo para investir no Brasil – e não apenas em siderúrgicas – o ex-presidente apelava para o patriotismo. As empresas privadas nacionais teriam a obrigação de fabricar no Brasil. 

Por causa da bronca presidencial ou por erros próprios, o fato é que a Vale está envolvida em três grandes siderúrgicas – ou três imensos problemas – conforme mostra em detalhes uma reportagem de Ivo Ribeiro e Vera Saavedra Durão, no “Valor” de ontem. Em Marabá, no Pará, o projeto da planta Alpa está parado, à espera da construção de um porto e de uma via fluvial, obrigação dos governos federal e estadual, e que está longe de começar. No Espírito Santo, o projeto Ubu também fica no papel enquanto a Vale espera um cada vez mais improvável sócio estrangeiro. Finalmente, o projeto de Pecém, no Ceará, está quase saindo do papel, mas ao dobro do custo original. 

E quer saber? Seria melhor mesmo que não saísse. Acontece que há um excesso de oferta de aço no mundo e, mais importante, os custos brasileiros de instalação das usinas e de produção são os mais altos do mundo. Não, a culpa não é só do dólar nem dos chineses. Estes fazem o aço mais barato do planeta, com seus métodos tradicionais. Mas o aço brasileiro sai mais caro do que nos EUA, Alemanha, Rússia e Turquia, conforme um estudo da consultoria Booz. 

A culpa nossa é velha: carga e sistema tributário (paga-se imposto caro até durante a construção da usina, antes de faturar o primeiro centavo), burocracia infernal e custosa, inclusive na disputa judicial de questões tributárias e trabalhistas, e custo da mão de obra. 

Dados do economista Alexandre Schwartsman mostram que os salários estão subindo no Brasil na faixa de 11 a 12% anuais. A produtividade, estimado 1,5%. Ou seja, aumenta o custo efetivo do trabalho, e mais ainda pela baixa qualificação da mão de obra. Jorge Gerdau Johanpeter, eterno batalhador dessas questões, mostra que a unidade de trabalho por tonelada de aço é mais cara no Brasil do que nos EUA. O Brasil precisaria turbinar os investimentos, mas não há como fazer isso num ambiente tão desfavorável e tão custoso 

Não há patriotismo que resolva. Mas uma boa ação governamental ajudaria. Reparem: todos os problemas dependem de ação política e, especialmente, da liderança do presidente da República. Trata-se de reformas tributária e trabalhista, medidas legais para arejar o ambiente de negócios, simplificar o sistema de licenças ambientais, reforma do Judiciário e por aí vai, sem contar com um impulso na educação. 

Se isso não anda, é falha de governo, não do mercado. A crise global é a mesma para todo mundo, mas afeta os países diferentemente, conforme suas condições locais. O Brasil precisaria turbinar os investimentos, mas não há como fazer isso num ambiente tão desfavorável e tão custoso. O governo cai então no estímulo ao consumo e no protecionismo para barrar e/ou encarecer os produtos estrangeiros. De novo, não conseguindo reduzir o custo Brasil, aumenta o custo mundo. 

A situação é ainda mais grave no lado dos investimentos públicos. Uma das obras de propaganda de Lula era a Ferrovia Norte-Sul, tocada pela estatal Valec. Pois o Tribunal de Contas da União verificou que o dormente ali saía por R$ 300, enquanto na Transnordestina, negócio privado, ficava por R$ 220. 

O atual presidente da Valec, José Eduardo Castello Branco, nomeado há um ano, depois das demissões por denúncias de corrupção, conta ainda que vai comprar a tonelada de trilho por R$ 2 mil, contra o preço absurdo de R$ 3 mil da gestão anterior, que vinha lá do governo Lula. 

Claro que um presidente da República não pode saber quanto custa uma tonelada de trilho, muito menos o preço de um dormente. Nem pode acompanhar as licitações. Mas o ritmo “vamo-que-vamo” imposto pelo ex-presidente, junto com o loteamento político das estatais, criou o ambiente para os malfeitos e, mais importante, porque mais caro, para os enormes equívocos na gestão dos projetos. 

O diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, general Jorge Fraxe, também nomeado por Dilma para colocar ordem na casa, conta que encontrou contratos de obras no valor de R$ 15 bilhões – ou “15 bilhões de problemas”. 

Quando o mundo vai bem, todos crescendo, ninguém repara. Quando a coisa aperta, aí se vê o quanto não foi feito ou foi feito errado.Por: Carlos Alberto Sardemberg Fonte: O Globo, 05/07/2012

GATOS SOB SUSPEITA!



FEZES DE GATO E ATITUDES SUICIDAS EM HUMANOS

Bichanos agora sob suspeita
Um estudo realizado com mais de 45 mil mulheres na Dinamarca, publicado esta semana na revista Archives of General Psichiatry, sugere que existe uma relação estreita entre o parasita Toxoplasma gondii  e as atitudes suicidas em humanos. 
Segundo o estudo, os humanos correm risco serem infectados por este parasita quando limpam as caixas de areia dos gatos, onde esses animais defecam. Trata-se de uma pesquisa inicial que carece de comprovação definitiva, segundo se depreende desta notícia que tem destaque internacional, haja vista que os gatos se tornaram animais de estimação em alta escala nos últimos anos. Transcrevo do original em espanhol matéria a respeito publicada no site Infobae