Hoje talvez não estejamos mais lidando com a ameaça de uma Rússia perigosamente mortal, mas o novo reinado de Putin pode mudar tudo isso num piscar de olhos. De forma lenta, mas segura, ele está transformando a Rússia na primeira ditadura da história baseada em serviços de inteligência.
N. do T.: O presente artigo foi publicado no site
American Thinkerem 11 de março de 2012.
Em abril de 2002, James Woolsey, diretor aposentado da CIA, criticou as declarações da OLP de que o seu presidente tinha sido eleito democraticamente. “Na essência, Arafat foi eleito como Stalin, mas não tão democraticamente quanto Hitler, que, pelo menos, tinha oponentes”, disse. [1] A re-coroação de Vladimir Putin estabeleceu um novo record para este tipo de eleição “democrática”.
A “democrática” caminhada até o poder do antigo oficial da KGB Putin começou em 1999 com um golpe da KGB. Em 31 de dezembro, Boris Yeltsin, o primeiro presidente russo eleito livremente, surpreendeu o mundo com a sua renúncia. “Acredito que eu devo fazer isto e a Rússia deve entrar no novo milênio com novos políticos, novos rostos, com novas pessoas, inteligentes, fortes e cheias de energia” [2] afirmou Yeltsin solenemente. Em seguida, assinou um decreto transferindo o seu poder ao ex-chefe da polícia política russa, Vladimir Putin. Por sua vez, o novo presidente indicado assinou um decreto anistiando Yeltsin – alegadamente ligado a pesados escândalos de suborno – “de quaisquer possíveis delitos” e dando a ele “total imunidade” contra ações penais (e até mesmo investigações e inquéritos) referentes a “todo e qualquer” ato realizado durante o seu mandato. Quid pro quo.
Durante a Guerra Fria, a KGB era um estado dentro do estado. Logo após a auto-coroação de Putin, a KGB se tornou o estado. Em 2003, mais de seis mil oficiais aposentados da KGB – uma organização responsável, no passado, pelo assassinato de milhões de pessoas após taxá-las de espiões judeus ou nazistas – estavam administrando os governos federal e local russos. Quase metade dos altos cargos administrativos estavam ocupados por oficiais aposentados da KGB. Na antiga União Soviética havia um oficial da KGB para cada 428 civis. Em 2004, a Rússia de Putin tinha um oficial da FSB para cada 297 civis. [3] Seria como “democratizar” a Alemanha nazista após a guerra colocando ex-oficiais da Gestapo no comando do país.
Uma vez instalado no trono, Putin definiu o futuro da nova política russa: “O estado deve estar presente onde necessário e na medida em que for necessário; a liberdade deve estar presente onde pedida e na medida em que for pedida” escreveu em um artigo de 14 páginas intitulado “A Rússia no Liminar do Novo Milênio”. [4]
Em seguida, Putin e os seus antigos oficiais da KGB começaram a levar, com firmeza, o país de volta ao campo dos tradicionais clientes da ex-União Soviética. Começaram justamente com aqueles três governos terroristas chamados pelo presidente Bush de “eixo do mal”. Em março de 2002, Putin retomou a venda de armas para o ditador iraniano Aiatolá Khamenei e deu início a um programa de ajuda ao seu governo terrorista para a construção de um reator nuclear de mil megawatts em Bushehr, com uma instalação de processamento de urânio capaz de produzir material físsil para armas nucleares. Centenas de técnicos russos também iniciaram um trabalho de apoio ao governo do Irã para desenvolver um míssil intercontinental capaz de transportar ogivas nucleares ou armas bactereológicas até alvos localizados em qualquer ponto do Oriente Médio e da Europa. [5] Em agosto de 2002, Putin concluiu um negócio de 40 bilhões de dólares com o tirânico regime do Iraque de Saddam Hussein. Em seguida, pouco antes de setembro de 2002, enquanto os EUA se preparavam para chorar as suas vítimas do ataque terrorista do ano anterior, Putin desenrolou o tapete vermelho em Moscou para receber com grandes honras o desprezível ditador da Coréia do Norte Kim Jong II. [6]
Em 12 de abril de 2013, Putin foi o anfitrião do primeiro encontro de um novo eixo anti-americano Moscou-Berlin-Paris, do qual participaram o então chanceler alemão Gerhard Schroeder (um bem pago diretor secreto da empresa de energia russa Gazprom, se soube depois) e o presidente francês Jacques Chirac (no momento em julgamento por corrupção). Naquele mesmo dia, certamente não por acaso, manifestações anti-americanas irromperam na Europa e nos EUA. Foram organizadas pelo World Peace Council, uma ressuscitada organização de fachada da KGB, cujo presidente ainda era o mesmo Romesh Chandra, indicado pela KGB, organizador de inúmeros protestos anti-americanos ao redor do mundo na década de 1970.
Alguns antigos agentes de influência da KGB, produzindo o ímpeto ideológico necessário para a nova ofensiva anti-americana de Putin, se tornaram ainda mais perturbadores do que os Kalashinikovs apontados pelos terroristas da al-Qaeda contra nós. Jacques Derrida, filósofo francês, rompido com o marxismo mas ainda pasmo de emoção ao escutar a Internacional [7], justificava a guerra islâmica contra os EUA dizendo que os EUA eram culturalmente alienados. Assim, Derrida clamou por uma “nova Internacional” para unir todos os ambientalistas, feministas, gays, aborígenes e outras pessoas “desapontadas e marginalizadas”, combatentes lutando contra a globalização liderada pelos americanos. [8] Antonio Negri, professor da Universidade de Pádua, por um tempo o cérebro por trás das Brigadas Vermelhas – um dos grupos terroristas esquerdistas financiados pela KGB nos anos 1970 – que cumpriu pena na prisão pelo envolvimento no sequestro e assassinato do ex-primeiro ministro italiano Aldo Moro, foi co-autor de um virulento livro anti-americano intitulado Império. Nele, Negri justifica o terrorismo islâmico como uma ponta de lança da “revolução pós-moderna” contra a globalização americana – o novo “império” – o qual, diz ele, está dissolvendo nações-estado e criando um enorme desemprego. [9] O New York Times (que omitiu o envolvimento de Negri com o terrorismo) foi tão longe a ponto de chamar o seu moderno Manifesto Comunista de “o ardente e inteligente livro do momento” [10]
No último setembro, antecipando a re-coroação de Putin, outro velho guerreiro da Guerra Fria, Mahmoud Abbas, veio para a linha de frente. Sob arrebatadores aplausos na Assembléia Geral, Abbas submeteu às Nações Unidas o “seu” pedido de reconhecimento de um estado palestino com fronteiras pré-1967. Inúmeras figuras políticas internacionais simpatizaram com a solução “independente” de Abbas – assim como o New York Times simpatizou com a luta “independente” de Negri contra o “novo império”. Poucas pessoas sabiam, entretanto, que a OLP foi criada e financiada pela KGB. Poucas pessoas também sabiam que o Institute of Oriental Studies de Moscou, onde Abbas se formou politicamente, era naquele tempo secretamente subordinado à KGB, e que somente estrangeiros recomendados por ela eram aceitos como estudantes.
Poucas pessoas também sabiam que o orientador de Abbas para a sua tese de PhD foi um oficial encoberto da KGB chamado Yevgeny Primakov (mais tarde, chefe de espionagem da Rússia “democrática”) que era, ao mesmo tempo, um conselheiro de Saddam Hussein. Poucas pessoas perceberam que a tese de PhD de Abbas (intitulada “The Secret Connection between the Nazis and the Leaders of the Zionist Movement”) negava totalmente o Holocausto, alegando que os nazistas haviam matado “somente algumas poucas centenas” de judeus. Ainda menos gente sabe que em agosto de 1998, dois meses após Primakov se tornar primeiro ministro da Rússia, um dos meus antigos colegas soviéticos, general Albert Makashov, hoje membro da Duma, clamou pela “exterminação dos judeus na Rússia”. A TV russa reproduziu inúmeras vezes o grito de Makashov na Duma: “Vou capturar todos os ‘Yids’ (tratamento pejorativo para judeus) e enviá-los para o outro mundo”.
Primakov aquiesceu em silêncio, e em 4 de novembro de 1998, a Duma apoiou o pedido de Makashov para uma perseguição, rejeitanto, por voto (121 a 107), uma moção parlamentar de censura ao seu discurso de ódio. Numa marcante demonstração em 7 de novembro de 1998, 81° aniversário da Revolução de Outubro, multidões de antigos oficiais da KGB mostraram o seu apoio ao general cantando “hands off Makashov!” e, com as mãos, fazendo sinais com slogans anti-semitas. [11]
Em 20 de dezembro de 2000, inúmeros altos oficiais aposentados da KGB se reuniram no museu de Lubianka para comemorar os 83 anos de fundação da cruel Cheka. Um dos meus antigos chefes, Vladimir Semichastny, autor de milhares de assassinatos políticos domésticos e estrangeiros, era um dos organizadores. “Na minha opinião, queriam destruir a KGB, retirar o seu poder” lamentou-se numa coletiva de imprensa. [12]
Onze dias depois, a KGB colocou Vladimir Putin na presidência da Rússia. Em 11 de setembro de 2002, diversos antigos oficiais da KGB se reuniram novamente no seu museu. Eles não se encontraram para demonstrar solidariedade conosco na data da nossa tragédia nacional, mas para celebrar o 125° aniversário de Feliks Dzerzhinsky [13] – o criador de uma das mais criminosas instituições da história contemporânea.
Às tentativas dos estados bálticos para fazer a antiga KGB pagar pela matança de milhões de seus cidadãos no passado se juntam os gritos de protesto dos russos contra o Kremlin. “Na Rússia de hoje, ninguém está disposto a reconhecer os horrendos crimes do passado” disse Valeryia Dunayeva, do grupo de direitos humanos russo Memorial. A sua mãe foi taxada de espiã e morta pela KGB, e o seu pai morreu num gulag siberiano onde passou 25 anos como prisioneiro político. “Há 17 mil pessoas como eu, que perderam os pais, apenas na Moscou de Stalin, mas as autoridades simplesmente ignoram a nossa existência.” [14]
***
A Guerra Fria realmente acabou, mas ao contrário de outras guerras, não terminou com um ato de rendição e com a deposição das armas pelo inimigo derrotado. Estamos aprendendo do modo mais difícil que a mentalidade do vencido não pode ser mudada de um dia para o outro. Hoje talvez não estejamos mais lidando com a ameaça de uma Rússia perigosamente mortal, mas o novo reinado de Putin pode mudar tudo isso num piscar de olhos. De forma lenta, mas segura, ele está transformando a Rússia na primeira ditadura da história baseada em serviços de inteligência. Para nós, é perigoso continuar pressionando o botão reset apenas, em vez de redefinir a nossa política externa.
Desde 1792, as eleições têm sido o modo como os EUA corrigem o passado e se preparam para o futuro. Esperemos que em novembro de 2012 os eleitores decidam restabelecer a liderança dos EUA do Mundo Livre. Hoje, como nunca, a paz e a liberdade mundiais dependem do poder os Estados Unidos e da unidade da nossa opinião pública, como foi no passado. Não cometa um erro – se a unidade nacional americana acabar, junto irão a nossa prosperidade, a nossa segurança e a paz do mundo.
Notas:
[1] Joel Mowbray, “Arafat elected?” National Review Online, April 25, 2002.
[2] Barry Renfrew, “Boris Yeltsin Resigns,” The Washington Post, December 31, 1999, 6:48 a.m.
[3] Yevgenia Albats, The KGB: The State Within a State 23 (New York: Farrar, Straus, Giroux, 1994).
[4] “Putin rocked Russians with ruthlessness,” AFP, December 31, 1999, internet edition, ruthlessness.html.
[5] William Safire, “Testing Putin on Iran, The New York Times, May 23, 2002, internet edition.
[6] Ben Shapiro, “Keep an eye on Russia,” townhall.com, August 23, 2002.
[7] Mark Lilla, The Politics of Jacques Derrida, The New York Reviews of Books, June 25, 1998 (intyernedt vedrsion).
[8] Waller R. Newell, Postmodern Jihad: What Osama bin Laden learned from the Left, The Weekly Standard, November 26, 2001, p. 26
[9] Michael Hardt and Antonio Negri, Empire (London: Harvard University Press, 2000), p. 28.
[10] David Pryce-Jones, Evil Empire, the Communist ‘hot, smart book of the moment,’ National Review Online, September 17, 2001.
O general Ion Mihai Pacepa é oficial de mais alta patente que desertou do bloco soviético. O seu livro Red Horizons, traduzido para 27 idiomas, revelou a corrupção do governo marxista de Nicolae Ceausescu, da Romênia, e foi grandemente responsável pela queda do tirano. A obra foi descrita pelo presidente Reagan como a sua “Bíblia para lidar com ditadores socialistas”. O seu mais recente livro,
Disinformation: Former Spy Chief Reveals Secret Strategy for Undermining Freedom, Attacking Religion, and Promoting Terrorism, em co-autoria com o professor Ronald Rychlak, foi publicado em junho de 2013. Pacepa vive nos EUA, sob identidade secreta. Por: POR ION MIHAI PACEPA