terça-feira, 12 de novembro de 2013

A VERDADE QUE JOHNNY DEPP QUER ESCONDER SOBRE OS ÍNDIOS COMANCHES


Os índios comanches foram responsáveis pelos assassinatos mais brutais da história do Velho Oeste.
No entanto, Johnny Depp quer representar o índio Tonto em uma roupagem mais simpática.

O rosto da menina de 16 anos, antes atraente, estava grotesco. 

Havia sido desfigurada ao ponto de estar irreconhecível durante os 18 meses em que foi mantida prisioneira pelos índios comanches.

Agora, estava sendo oferecida de volta às autoridades do Texas pelos chefes indígenas como parte de uma negociação de paz.

Diante de suspiros de choque da audiência, os índios a apresentaram na sede conselho do povoado de San Antonio em 1840, ano em que a Rainha Vitória do Reino Unido se casou com o Príncipe Albert.

“Sua cabeça, seus braços e seu rosto estavam cheios de ferimentos e feridas”, escreveu uma testemunha, Mary Maverick. “E seu nariz estava queimado até o osso. As narinas estavam escancaradas e sem carne”.

Assim que foi entregue, Matilda Lockhart entrou em desespero ao descrever os horrores que teve que suportar — os estupros, a contínua humilhação sexual e a forma como as mulheres comanches a torturavam com fogo. Não foi somente o nariz, seu corpo magro havia sido cruelmente marcado dos pés á cabeça com queimaduras.

Quando ela mencionou acreditar que havia 15 outros prisioneiros brancos no campo dos índios, todos sendo submetidos a condições similares, os legisladores e as autoridades texanas disseram que iriam deter os líderes comanches até resgatarem os outros.

Foi uma decisão que desencadeou uma das matanças mais brutais da história do Velho Oeste, e mostrou quão sanguinários os comanches poderiam ser na sua vingança.

S. C. Gwynne, autor de "Empire Of The Summer Moon about the rise and fall of the Comanche” (Império da Lua de Verão sobre a ascensão e queda dos comanches), afirma simplesmente que: “Nenhuma tribo na história das ocupações espanholas, francesas, mexicanas, texanas e americanas desta terra causaram tanta destruição e morte. Nenhum outro sequer chegou perto”.

Ele menciona a “imoralidade demoníaca” dos ataques comanches nos assentamentos dos brancos e da forma como torturas, assassinatos e estupros coletivos eram rotina. “A lógica dos ataques comanches era objetiva”, ele explica. 

“Todos os homens eram mortos, qualquer homem capturado vivo era torturado, e as mulheres prisioneiras eram estupradas. Os bebês sempre eram mortos”.

Você não saberia disso pelo novo filme O Cavaleiro Solitário, que estrela Johnny Depp como o índio Tonto.

Por razões que só eles sabem, os produtores mudaram a tribo de Tonto para Comanche. No seriado de TV, ele era membro da tribo Potowatomi, relativamente passiva.

No entanto, ele e seus conterrâneos nativos são apresentados no filme como angelicais vítimas de um Velho Oeste onde eram os colonizadores brancos, os homens que construíram a América, que representam nada a não ser exploração, brutalidade, destruição ambiental e genocídio.

Depp teria dito que queria atuar como Tonto para retratar os americanos nativos com uma roupagem mais simpática. Mas os próprios comanches nunca demonstraram simpatia.

Quando aquela delegação de índios em San Antonio percebeu que iria ser detida, eles lutaram para fugir com flechas e facas, matando todos os texanos que puderam alcançar. Os soldados texanos, por sua vez, abriram fogo, matando 35 comanches, ferindo muitos outros e fazendo 29 prisioneiros.

Mas a resposta furiosa da tribo comanche não tinha limites. Quando os texanos sugeriram uma troca dos prisioneiros comanches pelos seus próprios, os índios preferiram torturar todos até a morte.

“Uma por uma, as crianças e jovens mulheres foram amarradas próximo à fogueira”, segundo um relato da época. “Elas tiveram a pele arrancada, foram cortadas e horrivelmente mutiladas, e finalmente queimadas vivas por mulheres vingativas determinadas a espremer o último grito e a última convulsão de seus corpos agonizantes”. A irmã de Matilda Lockhart, de apenas seis anos, estava entre os desafortunados que morreram aos gritos sob a luz da lua nas altas planícies”.


Vida real: Lobo Branco, chefe comanche, fotografado no final do século XIX

Os comanches não eram somente especialistas em tortura, eram também os guerreiros mais ferozes e bem sucedidos, chegando a ser conhecidos como “Lordes das Planícies”.

Eram tão imperialistas e genocidas quanto os colonos brancos que mais tarde os derrotariam. 

Quando eles migraram para as grandes planícies do sul dos EUA no final do século XVIII vindos das Montanhas Rochosas (Rocky Mountains), eles não somente dominaram as tribos que lá habitaram como quase exterminaram os apaches, que estavam entre os melhores guerreiros montados do mundo.

A chave para o sucesso brutal dos comanches era que eles se adaptaram ao cavalo até mais habilmente que os apaches.

Não havia um cavalo sequer nas Américas até que os conquistadores espanhóis os trouxessem. E os comanches eram uma tribo pequena e relativamente primitiva que vagava pela área onde agora estão os estados de Wyoming e Montana, até por volta de 1700, quando, ao migrarem para o sul, descobriram cavalos espanhóis selvagens que haviam escapado do México.

Sendo os primeiros índios a montarem um cavalo, tinham uma aptidão para cavalgar similar à dos mongóis de Gengis Khan. Somando à sua notável ferocidade, isso lhes permitiu dominar mais território que qualquer outra tribo indígena: o que os espanhóis chamaram de Comancheria se espalhou por pelo menos 400 km.

Eles aterrorizaram o México e contiveram a expansão da colonização espanhola na América. A tribo roubava cavalos para montar e gado para vender, geralmente em troca de armas de fogo.

Qualquer outro tipo de vida era morto, incluindo bebês e idosos (mulheres mais velhas geralmente eram estupradas antes de mortas), deixando o que os mexicanos chamaram de “mil desertos”. Quando seus guerreiros eram mortos, consideravam questão de honra buscar uma vingança que envolvia tortura e morte. 

Os colonos no Texas tinham absoluto pavor dos comanches, que eram capazes de viajar quase 2000 km para matar uma única família branca.

O Historiador T R Fehrenbach, autor de Comanche: The History Of A People (Comanche: A História de um Povo), conta sobre um ataque a uma das primeiras famílias de colonos de sobrenome Parker, que, junto com outras famílias, construíram uma paliçada conhecida como Forte Parker. Em 1836, 100 comanches montados apareceram às portas do forte, um deles segurando uma bandeira branca para enganar os Parkers.

“Benjamin Parker saiu para negociar com os comanches” conta o historiador. “As pessoas dentro do forte viram quando os índios subitamente o cercaram e o crivaram com suas lanças. Depois, aos berros de empolgação, os guerreiros montados correram para a entrada do forte. Silas Parker foi morto antes que pudesse barrar a entrada, e eles se espalharam pelo forte”.

Os sobreviventes descreveram a matança: “Pai e filho da família Frost foram mortos na frente das mulheres; Elder John Parker, sua esposa ‘Granny’ e outros tentaram fugir. Os guerreiros se espalharam e os derrubaram.

“John Parker foi pregado ao chão, depois escalpelado e teve os genitais arrancados. Depois foi morto. Granny Parker foi despida e fixada à terra perfurada por uma lança. Vários guerreiros a estupraram enquanto ela gritava.

A mulher de Silas Parker Lucy, fugiu por um portão com seus quatro filhos pequenos. Mas os comanches os alcançaram perto do rio. Eles jogaram ela e as quatro crianças sobre os cavalos para leva-los como prisioneiros”.

A crueldade comanche era tão intimidadora que quase todos os ataques de nativos eram atribuídos a eles. Texanos, mexicanos e outros índios que viviam na região todos desenvolveram um medo particular com lua cheia (até hoje conhecida como “lua comanche” no Texas) porque era quando os comanches saíam para roubar gado, cavalos e prisioneiros.

Eram famosos por suas torturas engenhosas, e o processo de tortura geralmente cabia às mulheres.

Os comanches assavam na fogueira soldados americanos e mexicanos até a morte. Outros eram castrados e escalpelados vivos. As torturas comanches mais agonizantes incluíam enterrar prisioneiros até o queixo e cortar suas pálpebras para que seus olhos fossem queimados pelo sol antes de morrerem de fome.

Relatos da época também descrevem que eles colocavam prisioneiros homens com as pernas e os braços abertos sobre ninhos de formigas lava-pés. Às vezes isso era feito depois de cortarem os órgãos genitais da vítima, enfiá-los em sua boca e costurar seus lábios.

Um bando costurou prisioneiros em couro cru e os deixou ao sol. O couro lentamente encolhia e esmagava os prisioneiros até a morte.

T R Fehrenbach cita um relato de espanhóis que descrevia comanches torturando índios tonkawa, segundo o qual eles queimavam as mãos e os pés da vítima até que os nervos estivessem destruídos, depois amputavam essas extremidades e recomeçavam o tratamento de fogo nas feridas vivas. Escalpelados vivos, os Tonkawas tinhas as línguas arrancadas para pararem de gritar.

Representação clássica: Clayton Moore como o Cavaleiro Solitário na década de 50 e Jay Silverheels, que fazia o papel de Tonto.

Os comanches sempre lutaram até a morte, pois esperavam o mesmo tratamento dos seus próprios prisioneiros. Os bebês eram quase sempre mortos nos ataques, embora dissessem que soldados e colonos eram tendentes a matar mulheres e crianças comanches, se deparassem com elas.

Os jovens comanches, incluindo prisioneiros, eram criados para se tornarem guerreiros e tinham que sobreviver a ritos sangrentos de passagem. As mulheres com frequência lutavam ao lado dos homens.

É possível que a violência dos comanches fosse em parte derivada dos seus encontros violentos com colonos espanhóis notoriamente cruéis, além de bandidos e soldados mexicanos.

Mas uma teoria mais convincente é a de que a falta de uma liderança central dos comanches induziu muito dessa crueldade. Os bandos comanches eram associações pouco rígidas de guerreiros/pilhantes, como uma confederação de pequenas gangues.

Em toda sociedade, adolescentes na casa dos vinte são os mais violentos, e mesmo se quisessem, os chefes tribais dos comanches não tinham como impedir seus jovens de cometer ataques.

Mas os comanches encontraram um adversário à altura com os rangers texanos. Brilhantemente retratados nos livros de Larry McMurtry da série Lonesome Dove, os rangers começaram a ser recrutados em 1823, principalmente para lutar contra os comanches e seus aliados. Eles eram uma tenaz força de guerrilha, tão impiedosa quanto seus adversários comanches.

Eles também os respeitavam. Um dos rangers personagens dos livros de McMurtry disse ironicamente a um homem que afirmou ter visto um bando de mil comanches: “Se um dia houvesse mil comanches em um bando, eles teriam tomado Washington”.

Os rangers do Texas muitas vezes saíram em desvantagem contra seus inimigos, até que aprenderam a lutar como eles, e até receberem o novo revolver Colt.

Durante a Guerra Civil, quando os rangers saíram para lutar pelos Estados Confederados, os comanches recuaram a fronteira americana e os assentamentos dos brancos em mais de 150 km.

Mesmo depois que os rangers voltaram e o exército americano se uniu às campanhas contra os comanches, o Texas perdeu uma média de 200 colonos por ano até a Guerra do Rio Vermelho em 1874, quando o exército com toda a sua força, além da destruição dos grandes rebanhos de búfalos dos quais os comanches dependiam, pôs fim às depredações.

Curiosamente, os comanches, embora hostis a todos os outros povos que encontravam, não tinham senso de raça. Eles complementavam seus números com jovens americanos e mexicanos capturados, que se tornavam integralmente membros da tribo se tivessem potencial para a guerra e fossem capazes de sobreviver aos ritos de iniciação.

Os prisioneiros mais fracos podiam ser vendidos a comerciantes mexicanos como escravos, porém geralmente eram mortos. Mas apesar da crueldade, alguns dos jovens capturados que mais tarde eram resgatados se viam incapazes de se adaptar à vida “civilizada” dos colonos e fugiam para se reunir aos seus irmãos.

Um dos grandes chefes comanches, Quanah, era filho de uma branca capturada, Cynthia Ann Parker. Seu pai foi morto em um ataque feito pelos rangers, o que resultou no resgate de sua mãe da tribo. Ela nunca se adaptou à vida na civilização e parou de comer até a morte.
Versão maquiada: Depp disse que queria caracterizar Tonto 
de uma maneira mais simpática.


Quanah se rendeu ao exército americano em 1874. Ele se adaptou bem à vida em uma reserva, e os comanches, surpreendentemente, se tornaram uma das tribos mais economicamente bem-sucedidas e assimiladas.

Como resultado, as principais reservas comanches foram fechadas em 1901, e os soldados comanches serviram no exército americano com distinção nas Guerras Mundiais. Até hoje eles estão entre os americanos nativos mais prósperos, notórios pela educação.

Ao interpretar a tribo indígena mais cruel e agressiva como meros inocentes vítimas da opressão, Johnny Depp perpetua o mito condescendente e ignorante do “bom selvagem”.

Isso não só é uma caricatura da realidade, mas não ajuda em nada os índios que Depp quer tão avidamente apoiar.


ESCRITO POR JONATHAN FOREMAN
Tradução: Luis Gustavo Gentil 


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

BEIJO DA MORTE

Embora o deficit externo de setembro, US$ 2,6 bilhões, tenha sido o mais baixo registrado no ano, as contas do país acumulam nos últimos 12 meses deficit pouco superior a US$ 80 bilhões (3,6% do PIB), aumento expressivo em relação aos US$ 50 bilhões (2,2% do PIB) registrados nos 12 meses anteriores.

Números ainda mais altos não podem ser descartados no ano que vem, pois os fatores determinantes da sua expansão ainda estão em pleno funcionamento e nada indica uma interrupção desse processo.

A começar pela discrepância entre o desempenho da demanda interna (consumo, investimento e, é claro, os gastos do governo) e o PIB. Aquela cresce à frente deste há nada menos do que 32 trimestres (sem contar o terceiro deste ano), tendo ultrapassado o valor absoluto da produção doméstica desde meados de 2010.

Como venho apontando há algum tempo, a capacidade de produção enfrenta gargalos dos mais variados, seja em razão do mercado de trabalho apertado, seja pela insuficiência da infraestrutura, seja ainda por outros fatores que se expressam no baixo crescimento do produto por trabalhador.

Nesse contexto, adotar –como tem feito o governo– políticas de expansão da demanda interna, impulsionadas pelo gasto público e pelo crédito oficial, pouco adiciona ao crescimento do produto.

Pelo contrário, nos setores em que a concorrência externa é escassa (tipicamente serviços), os estímulos têm se transformado em combustível para a inflação, que já se aproxima de 9% nesse segmento nos últimos 12 meses.

Não por acaso a quantidade física de importações aumentou pouco menos de 11% até agosto (ante crescimento de apenas 1% das exportações), o que não pode ser explicado apenas pela contabilização em 2013 de importações de petróleo realizadas no ano passado.Já nos setores mais sujeitos à competição internacional (tipicamente manufaturados) o que se observa é o aumento das importações à frente das exportações, de modo a adequar a oferta total (produção interna mais importações líquidas) ao consumo doméstico.

Incapaz, portanto, de atender simultaneamente o consumo crescente de manufaturas e serviços, a produção se volta para os últimos, diante da impossibilidade da sua importação, enquanto a redução do saldo comercial cuida de aumentar a disponibilidade doméstica de manufaturas. Nesse sentido, o aumento do deficit externo não é uma anomalia: é o resultado natural de uma política de estímulo à demanda quando a oferta enfrenta restrições variadas.

O problema só não apareceu antes porque o mundo jogou a nosso favor (na verdade, continua jogando, apenas não tanto quanto há dois anos). Os preços dos produtos que exportamos (commodities) ainda permanecem 25% acima de seu nível histórico relativa- mente aos preços das importações (manufaturas).

Trata-se uma perda considerável em comparação ao observado em meados de 2011, quando essa relação encontrava-se 40% acima da média histórica, colaborando para a redução recente do saldo comercial.

Mesmo assim é bom notar que a contribuição ainda é positiva, correspondendo a algo como 2,7% do PIB nos 12 meses até agosto, ante 3,1% do PIB em 2011.

Posto de outra forma, embora a contribuição menos favorável dos preços externos possa explicar uma parte da queda do saldo comercial, a maior parcela resulta mesmo da evolução díspar da produção e da demanda internas.

Considerando ainda que o atual arranjo de política não deve se alterar (pelo contrário, a recente mudança retroativa do indexador da dívida de Estados e municípios deve induzir a um forte aumento do gasto público à frente), é apenas lógico esperar deficit externos crescentes no curto e médio prazos.

Reconciliar esse desenvolvimento com fluxos mais escassos de capitais será o grande desafio em breve e o provável beijo de morte para nossa mal formulada “nova matriz macroeconômica”.

Por: Alexandre Schwartsman Fonte: Folha de S. Paulo, 30/11/2013

MISES EXPLICA A GUERRA ÀS DROGAS

Assim como nunca seguiram os ensinamentos de Ludwig von Mises no que tange à ciência econômica, os governos atuais também se recusam a prestar a atenção aos discernimentos de Mises sobre a guerra às drogas. O resultado não deveria ser surpresa nenhuma.

A guerra às drogas é um fracasso. Ela fracassou em impedir o abuso de drogas. Ela fracassou em manter as drogas fora do alcance dos viciados. Ela fracassou em manter as drogas longe dos adolescentes. Ela fracassou em reduzir a demanda por drogas. Ela fracassou em acabar com a violência associada ao tráfico de drogas. Ela fracassou em ajudar os viciados a conseguir tratamento. Ela fracassou em ter algum impacto sobre a disponibilidade de drogas dentro de um país.

É óbvio que nada disso significa que haja necessariamente algo de positivo em relação às drogas ilícitas. Como Mises explicou,

É fato notório que o alcoolismo, o cocainismo e o morfinismo são inimigos mortais da vida, da saúde e da capacidade de trabalho e de lazer; e o usuário deveria, por conseguinte, considerá-los vícios. 

No entanto, como Mises afirma, o fato de algo ser um vício não é motivo para que seja suprimido e nem que sua comercialização seja proibida.

Nem é de modo algum evidente que tais intervenções do governo sejam de fato capazes de suprimir tais vícios; e, mesmo que este objetivo fosse atingido, não é nada evidente que tal intervenção não irá abrir uma caixa de Pandora de outros perigos não menos nocivos que o alcoolismo e o morfinismo. 

Os outros efeitos perniciosos gerados pela guerra às drogas são numerosos. A guerra às drogas congestiona e paralisa o sistema judiciário, aumenta desnecessariamente a população carcerária, gera ainda mais violência, corrompe policiais, diminui as liberdades civis, acaba com a privacidade financeira, estimula buscas e apreensões ilegais, destrói inúmeras vidas inocentes, desperdiça bilhões em impostos, atrasa o desenvolvimento legítimo de analgésicos e de outros remédios contra dores, transforma cidadãos cumpridores da lei em criminosos meramente pelo que injetam em seu corpo, e irracionalmente cria obstáculos para o comércio varejista. Os custos da proibição às drogas excedem sobremaneira seus possíveis benefícios.

Mas isso ainda não é tudo. A partir do momento em que o governo assume o controle e passa a decidir o que um indivíduo pode ou não colocar em sua boca, em seu nariz e em suas veias, ou passa a regular as circunstâncias sob as quais um indivíduo pode de maneira legítima introduzir algo em seu corpo, não há mais quaisquer limitações sobre seu poder. Não há mais como restringir seu alcance e domínio.

De novo, como Mises deixa claro,

O ópio e a morfina certamente são drogas nocivas que geram dependência. No entanto, uma vez que se admita que é dever do governo proteger o indivíduo contra sua própria insensatez, nenhuma objeção séria pode ser apresentada contra outras intromissões estatais à privacidade. 

E prossegue:

Ao abrirmos mão do princípio de que o estado não deve interferir em quaisquer questões relacionadas ao modo de vida do indivíduo, a inevitável consequência será a regulamentação e a restrição do comportamento de cada indivíduo aos seus mínimos detalhes. 

Mises também nos diz exatamente aonde esse caminho tortuoso da proibição irá nos levar. Ele pergunta por que aquilo que é válido para a morfina e para a cocaína não pode ser válido para a nicotina e para a cafeína. Com efeito:

Por que não deveria o estado prescrever, de um modo geral, quais alimentos devem ser permitidos e quais alimentos devem ser proibidos por serem nocivos? 

E tudo ainda pode piorar, pois:

Ao se abolir a liberdade de um homem em determinar o seu próprio consumo, todas as outras liberdades já estão, por definição, abolidas.

E completa:

E por que limitar a benevolente providência do governo apenas à proteção do corpo? Por acaso os males que um homem pode infringir à sua mente e à sua alma não são mais graves do que os danos corporais? Por que não impedi-lo de assistir a filmes e a demais espetáculos de mau gosto? Por que não impedi-lo de ouvir músicas de baixa qualidade? Mais ainda: por que não proibi-lo de ler livros ruins? As consequências causadas por ideologias nocivas são, certamente, muito mais perniciosas, tanto para o indivíduo como para a sociedade, do que as causadas pelo uso de drogas.

Para Mises, no que dizia respeito a maus hábitos, a vícios e a comportamentos imorais de terceiros, a tolerância e persuasão deveriam ser as regras. Tal atitude contrasta totalmente com a do estado, que faz tudo por meio da "compulsão e da aplicação da força".

A propensão de nossos conterrâneos em exigir uma proibição autoritária sempre que veem algo não lhes agrade, bem como sua solicitude em submeter-se a tais proibições mesmo que o proibido lhes seja agradável, mostra o quanto ainda permanece profundamente arraigado neles o espírito de servilismo. Serão necessários muitos anos de autodidatismo até que o súdito possa transformar-se em cidadão. Um homem livre deve ser capaz de suportar que seu conterrâneo aja e viva de modo diferente de sua própria concepção de vida. Precisa livrar-se do hábito de chamar a polícia sempre que algo não lhe agrada. 

Para Mises, há um caminho para a reforma social:

Aquele que quer reformar seus conterrâneos deve recorrer à persuasão. Esta é a única maneira democrática de se fazer mudanças. Se um indivíduo não é capaz de convencer outras pessoas a respeito de suas ideias, então ele deve culpar apenas a sua própria incapacidade. Ele não deveria exigir a criação de uma lei — ou seja, ele não deveria pedir para o estado utilizar suas forças policiais com o intuito impor a compulsão e a coerção.

Em uma sociedade genuinamente livre, tal postura deveria ser inegociável.

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Leia também:






Laurence Vance é um acadêmico associado ao Mises Institute, escritor freelancer, professor adjunto de contabilidade da Pensacola Junior College, em Pensacola, Flórida, e autor dos livros Social Insecurity, The War on Drugs is a War on Freedom,e War, Christianity, and the State: Essays on the Follies of Christian Militarism.

domingo, 10 de novembro de 2013

O GIGANTE CONTINUA ADORMECIDO

O gigante voltou a adormecer. Seis meses depois das manifestações de junho, o Brasil continua o mesmo. Nada mudou. É o Brasil brasileiro de sempre. Mais uma vez, os fatores de permanência foram muito mais sólidos do que os frágeis fatores de mudança.

As instituições democráticas estavam — e continuaram — desmoralizadas. Basta observar as instâncias superiores dos Três Poderes. O Supremo Tribunal Federal chegou ao cúmulo de abrir caminho para a revisão das sentenças dos mensaleiros. Mais uma vez — e raramente na sua história esteve na linha de frente da defesa do Estado Democrático de Direito — cedeu às pressões dos interesses políticos.

O ministro Luís Roberto Barroso — o “novato” — descobriu, depois de três meses no STF, que o volume de trabalho é irracional. Defendeu na entrevista ao GLOBO que o Supremo legisle onde o Congresso foi omisso. E que o candidato registre em cartório o seu programa, o que serviria, presumo, para cobranças por parte de seus eleitores. Convenhamos, são três conclusões fantásticas.

Mas o pior estava por vir: disse que o país não aguentava mais o processo do mensalão. E o que ele fez? Ao invés de negar a procrastinação da ação penal 470, defendeu enfaticamente a revisão da condenação dos quadrilheiros; e elogiou um dos sentenciados publicamente, em plena sessão, caso único na história daquela Corte.

O Congresso Nacional continua o mesmo. São os “white blocs.” Destroem as esperanças populares, mostram os rostos — sempre alegres — e o sorriso de escárnio. Odeiam a participação popular. Consideram o espaço da política como propriedade privada, deles. E permanecem fazendo seus negócios….

Os parlamentares, fingindo atentar à pressão das ruas, aprovaram alguns projetos moralizadores, sob a liderança de Renan Calheiros, o glutão do Planalto Central — o que dizer de alguém que adquire, com dinheiro público, duas toneladas de carne? Não deu em nada. Alguém lembra de algum?

E os partidos políticos? Nos insuportáveis programas obrigatórios apresentaram as reivindicações de junho como se fossem deles. Mas — como atores canastrões que são — fracassaram. Era pura encenação. A poeria baixou e voltaram ao tradicional ramerrão. Basta citar o troca-troca partidário no fim de setembro e a aprovação pelo TSE de mais dois novos partidos — agora, no total, são 32. Rapidamente esqueceram o clamor das ruas e voltaram, no maior descaramento, ao “é dando que se recebe.”

E o Executivo federal? A presidente representa muito bem o tempo em que vivemos. Seu triênio governamental foi marcado pelo menor crescimento médio do PIB — só perdendo para as presidências Floriano Peixoto (em meio a uma longa guerra civil) e Fernando Collor. A incompetência administrativa é uma marca indelével da sua gestão e de seus ministros. Sem esquecer, claro, as gravíssimas acusações de corrupção que pesaram sobre vários ministros, sem que nenhuma delas tenha sido apurada.

Tentando ser simpática às ruas, fez dois pronunciamentos em rede nacional. Alguém lembra das propostas? Vestiu vários figurinos, ora de faxineira, ora de executiva, ora de chefe exigente. Enganou quem queria ser enganado. Não existe sequer uma grande realização do governo. Nada, absolutamente nada.

As manifestações acabaram empurrando novamente Luiz Inácio Lula da Silva para o primeiro plano da cena política. Esperto como é, viu a possibilidade de desgaste político da presidente, que colocaria em risco o projeto do PT de se perpetuar no poder. Assumiu o protagonismo sem nenhum pudor. Deitou falação sobre tudo. Deu ordens à presidente de como gerir o governo e as alianças eleitorais. Foi obedecido. E como um pai severo ameaçou: “Se me encherem o saco, em 2018 estou de volta.”

Seis meses depois, estamos no mesmo lugar. A política continuou tão medíocre como era em junho. A pobreza ideológica é a mesma. Os partidos nada representam. Não passam de uma amontoado de siglas — algumas absolutamente incompreensíveis.

Política persiste como sinônimo de espetáculo. É só no “florão da América” que um tosco marqueteiro é considerado gênio político — e, pior, levado a sério.

A elite dirigente mantém-se como o malandro do outro Barroso, o Ary: “Leva a vida numa flauta/Faz questão do seu sossego/O dinheiro não lhe falta/E não quer saber de emprego/Vive contente sem passar necessidade/Tem a nota em quantidade/Dando golpe inteligente.”

Estão sempre à procura de um “golpe inteligente.” Mas a farsa deu o que tinha de dar. O que existe de novo? Qual prefeito, por exemplo, se destacou por uma gestão inovadora? Por que não temos gestores eficientes? Por que não conseguimos pensar o futuro? Por que os homens públicos foram substituídos pelos políticos profissionais? Por que, no Congresso, a legislatura atual é sempre pior que a anterior? Por que o Judiciário continua de costas para o país?

Não entendemos até hoje que a permanência desta estrutura antirrepublicana amarra o crescimento econômico e dificulta o enfrentamento dos inúmeros desafios, daqueles que só são lembrados — oportunisticamente — nas campanhas eleitorais.

O gigante continua adormecido. Em junho, teve somente um espasmo. Nada mais que isso. Quando acordou, como ao longo dos últimos cem anos, preferiu rapidamente voltar ao leito. É mais confortável. No fundo, não gostamos de política. Achamos chato. Voltamos à pasmaceira trágica. É sempre mais fácil encontrar um salvador. Que pense, fale, decida e governe (mal) em nosso nome. Por: Marco Antonio Villa

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

ECONOMIAS NÃO DESTRUÍDAS EM UM DIA


No início deste mês, o principal jornal conservador da Argentina, o La Nación, publicou um editorial no qual comparava a economia da Argentina à da Venezuela. O editorial concluiu que, à medida que a liberdade econômica vai encolhendo na Argentina, e à medida que a Argentina vai adotando, em doses cada vez mais cavalares, aquilo que Hugo Chávez rotulou de "socialismo do século XXI", o país vai se tornando cada vez mais parecido com a Venezuela. A questão é: irá a Argentina vivenciar o mesmo destino trágico da Venezuela, onde a pobreza está aumentando e itens básicos como papel higiênico se tornaram artigos de luxo?

A semelhança entre as regulamentações e os problemas econômicos que assolam ambos os países é de fato notável, não obstante as óbvias diferenças entre os dois países. E, ainda assim, quando os argentinos são questionados a respeito destas similaridades, é comum ouvir respostas do tipo "mas a Argentina não é a Venezuela; temos mais infraestrutura e mais recursos".

O problema é que mudanças institucionais definem o destino de um país apenas no longo prazo. Elas não definem sua prosperidade no curto prazo.

Imagine que Cuba e Coréia do Norte se tornassem, da noite para o dia, os países mais economicamente livres do mundo, com mercados plenamente livres e liberdades civis totais. Isso bastaria? Embora os dois países houvessem adquirido liberdades civis e econômicas imediatas, o fato é que eles ainda teriam de acumular riqueza e desenvolver suas economias. A mudança institucional afeta a situação política imediatamente, mas uma nova economia requer tempo para adquirir forma. Por exemplo, quando a China abriu parte de sua economia para os mercados internacionais, o país começou a crescer economicamente. Hoje, estamos todos vendo os efeitos destas décadas de relativa liberalização econômica. É verdade que várias áreas da China ainda sofrem uma ausência de liberdades significativas, mas o país seria muito diferente hoje caso houvesse se recusado a mudar suas instituições décadas atrás.

O mesmo ocorreria caso um dos mais ricos e desenvolvidos países do mundo adotasse, da noite para o dia, instituições cubanas ou norte-coreanas. Sua riqueza e todo o seu capital acumulado não desapareceriam em 24 horas. A dilapidação do capital, embora seja um processo bem mais rápido do que sua acumulação, não se dá de imediato. O país deixaria de continuar acumulando capital e passaria meramente a consumir seu capital, mas poderia demorar décadas para dilapidar toda a riqueza já construída. Enquanto ainda houver riqueza, o governo terá recursos para brincar de bolivarianismo — que é o modelo de socialismo populista criado pelo governo da Venezuela — ao mesmo tempo em que continua usufruindo a riqueza, as rodovias, a infraestrutura elétrica e as redes de comunicação já existentes, as quais foram resultado das instituições mais pró-mercado que existiram no passado.

Com o tempo, no entanto, as rodovias começam a se deteriorar por falta de manutenção e investimentos (ou os trens começam a se acidentar gravemente, matando dezenas de passageiros), o setor energético começa a apresentar falhas contínuas e graves, a importação de energia se torna inevitável, e as redes de comunicação ficam obsoletas. Em outras palavras, todo o populismo econômico é financiado por recursos acumulados por instituições não-populistas, e ele irá durar enquanto houver riqueza a ser dilapidada.

De acordo com o ranking de liberdade econômica do Fraser Institute, a Argentina estava na 32º posição no ano 2000. Em 2011, no entanto, a Argentina já havia despencado para a 137ª posição, próxima a países como Equador, Mali, China, Nepal, Gabão e Moçambique. Não há dúvidas de que a Argentina usufrui uma taxa de desenvolvimento e de riqueza maior que a desses outros países. Mas será que tal situação perdurará pelos próximos 20 ou 30 anos? A presidente argentina já afirmou que gostaria que a Argentina fosse um país como a Suíça ou a Alemanha, mas o problema é que o caminho para se tornar parecido com a Suíça ou com a Alemanha envolve a adoção de instituições iguais às suíças e alemãs, e não a adoção de instituições venezuelanas, que é o que a Argentina está fazendo.

O grande problema — que ajudou a perpetuar o atual modelo — foi o fato de que, quando as instituições venezuelanas foram inicialmente adotadas na Argentina, isso coincidiu com uma alta taxa de crescimento econômico. Mas estas taxas de crescimento, no entanto, são bastante enganosas. 

Em primeiro lugar, "crescimento econômico", quando corretamente entendido, não é um aumento na "produção", mas sim um aumento na "capacidade produtiva". O alto crescimento observado no PIB após uma grande crise é meramente uma 'recuperação econômica', e não necessariamente representam um crescimento na capacidade produtiva, que é o que realmente interessa.

Em segundo lugar, é possível você aumentar sua capacidade produtiva investindo em atividades econômicas erradas, para as quais não há uma genuína demanda. Uma pesada regulamentação de preços, como a que ocorre na Argentina (agora acompanhada de uma alta taxa de inflação), gera uma alocação errônea de recursos, pois os preços relativos — isto é, os preços de um determinado setor da economia em relação aos preços dos outros setores — são afetados, fazendo com que os preços de um setor se tornam artificialmente maiores do que os de outros, o que atrai investimentos para este setor. Embora seja perfeitamente possível ver e até mesmo sentir estes novos investimentos nestes setores, a realidade é que este capital resultou de uma ilusão monetária. O conceito econômico de capital não depende da tangibilidade ou do tamanho do investimento (isto é, de suas propriedades físicas), mas sim de seu valor econômico. Quando chegar o momento de os preços relativos se ajustarem de modo a refletir as reais preferências dos consumidores, o valor de mercado deste capital irá cair e ele então será consumido ou destruído em termos econômicos — mesmo que suas qualidades físicas permaneçam inalteradas. Um bom exemplo disso são os imóveis que foram construídos excessivamente na Espanha — e que hoje totalizam um milhão de casas vazias —, cujo valor atual é metade do que foi no auge da bolha imobiliária.

Em terceiro lugar, a produção pode aumentar não por causa de um aumento nos investimentos, mas sim porque as pessoas estão consumindo o capital investido — como ocorre quando há um aumento na taxa de desgaste das máquinas e da infraestrutura.

Não estou dizendo que não houve nenhum crescimento genuíno na Argentina, mas sim que uma fatia não-trivial do crescimento do PIB argentino pode ser explicada por: (1) recuperação, (2) alocação errônea de investimentos, e (3) consumo de capital. Afinal, se todo o crescimento do PIB fosse de fato um crescimento genuíno, a criação de empregos não estaria estagnada e a infraestrutura do país estaria excelente, e não em frangalhos.

A maioria dos economistas e dos analistas de políticas públicas tende a fazer uma leitura superficial das variáveis econômicas. Para eles, se algumas variáveis econômicas estiverem robustas, o PIB estiver crescendo e a inflação se mantiver sob controle, então a economia está saudável. O problema é que o fato de estarmos observando bons indicadores econômicos não significa que a economia esteja realmente saudável. Há uma razão pela qual um médico pede a um paciente aparentemente saudável que faça alguns exames. Sentir-se bem não significa que não possa existir uma doença que ainda não tenha demonstrado nenhum sintoma óbvio no momento. 

O economista que se recusa a examinar mais detidamente a real situação de uma economia é como um médico que se recusa a examinar mais minuciosamente seu paciente. O paciente argentino contraiu a doença bolivariana, mas a maior parte de seus sintomas dolorosos ainda está para se manifestar.

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Nicolás Cachanosky é professor assistente de Economia na Metropolitan State University, em Denver.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

PALIMPSESTOS E O TAL "ESTADO EMPREENDEDOR"

Um palimpsesto (do grego palimpsestos, os, on e do latim palimpsestus, i) é um pergaminho ou papiro cujo manuscrito original tenha sido lavado ou raspado com pedra- pomes para ser substituído por um novo texto. Ao pé da letra significa "riscar de novo". De um lado, os palimpsestos tinham o objetivo de tentar paliar ou amenizar erros cometidos, mas também eram utilizados para escrever novos textos, já que os custos do papiro eram elevados naquela época. 

Talvez o mais famoso dos palimpsestos seja o palimpsesto de Arquimedes (287 a.C — 212 a.C), um texto escrito sobre outro anterior em pergaminho e formando um códice e que originariamente foi uma cópia em grego de diversas obras de Arquimedes — o famoso matemático, físico e engenheiro de Siracusa — e de outros autores. Posteriormente foi apagado de forma rudimentar e usado para escrever salmos e orações em um convento.

Mas vamos escrever agora sobre outro palimpsesto, bem mais moderno, que podemos chamar de palimpsesto de Keynes. Neste café requentado, com gosto de terra, economistas, jornalistas e pretensos "intelectuais" nada mais fazem do que tentar, sem sucesso, apagar as velhas teses de que o estado deve ser o "indutor" do crescimento para em seguida reescrevê-las. Há incontáveis exemplos desse tipo de pretensão fatal para as liberdades individuais. Citarei apenas um, para não me estender muito. Quanto aos demais, pretendo apresentá-los em artigo acadêmico para a Revista MISES, mais especificamente sobre a crise econômica atual e o êxito dos economistas da Escola Austríaca em antecipá-la, explicar suas causas e propor os remédios adequados, em contraposição ao fracasso das palimpsésticas tentativas keynesianas e monetaristas no que diz respeito à antecipação, à explicação, à identificação das causas e à administração de "remédios", que só têm feito piorar o estado do doente.

O exemplo que escolhi dentre tantos outros é o da Professora Mariana Mazzucato, britânica de origem italiana, economista da Universidade de Sussex, com doutorado na New School de Nova York, uma universidade de Economia e Ciências Sociais com viés claramente intervencionista e de esquerda. Entrevistada no programa "Milênio" da Globonews, parece cantar um hino — ou, melhor dizendo, um funk de péssimo gosto — ao estatismo.

Ela defende a tese de que o estado deve ser o maior responsável pelas pesquisas inovadoras nas áreas fundamentais da ciência e tecnologia, e separa o que chama de invenções "ligeiras" (naturalmente, as produzidas pelo setor privado), como novos modelos de tablets, e inovações "grandes", de horizontes mais amplos, como as da área da saúde e mecanismos de "ciclo completo", como a Internet.

Ela diz que as grandes inovações produzidas nos EUA foram todas financiadas pelo estado, como a Internet, o GPS (pelo Pentágono) e medicamentos (pelo Departamento de Saúde). E ainda elogiou o estado brasileiro e o BNDES, referindo-se obviamente à Finep. Chegou a afirmar que o setor privado tem "medo" de assumir riscos, o que não acontece com o estado. Ao que tudo indica, essa senhora vê o mundo de cabeça para baixo, ou olha para trás pensando que está olhando para adiante. As teses que defende parecem um palimpsesto lavado ou raspado sem cuidado, ou ambas as coisas. Vejamos por quê.

A Internet, ou melhor, sua tataravó, foi de fato concebida em plena Guerra Fria por técnicos da NASA, mediante o ARPA (Advanced Research Projects Agency), mas só se expandiu e progrediu com o desenvolvimento da rede em ambiente mais livre, não militar — ou seja, privado —, em que não apenas os pesquisadores, mas também seus alunos e os amigos desses alunos, puderam ter acesso aos estudos já empreendidos e usaram sua inteligência e desenvolveram esforços para aperfeiçoá-los de uma forma fantástica. 

O mesmo processo se deu com a Internet propriamente dita: foram jovens da chamada "contracultura" — e não funcionários do estado —, ideologicamente defensores da difusão livre de informações, que realmente contribuíram decisivamente para a formação da Internet como hoje é conhecida.

Masaru Ibuka, um engenheiro, e Akio Morita, um físico, ambos japoneses, logo após a II Guerra Mundial, procuraram o Ministério da Indústria e Comércio do Japão em busca de recursos para desenvolverem suas ideias. Receberam um sonoro "não"! Resolveram, então, fundar a empresa Totsuko, em maio de 1946, em um grande armazém bombardeado pelos americanos, em Tóquio. A nova empresa não tinha qualquer maquinaria e possuía muito pouco equipamento científico e contava apenas com a inteligência, conhecimentos de engenharia e o espírito empreendedor de Ibuka e Morita. Trata-se, como o leitor já deve ter percebido, simplesmente, da Sony.

Como você poderá ver aqui e também aqui, graças ao espírito verdadeiramente empreendedor desses dois fantásticos homens, a Sony cresceu e hoje seu nome está associado a inovação, tecnologia avançada, qualidade e durabilidade. Ver televisão em uma Bravia, trabalhar em um laptop Vaio, tirar fotos com uma Cybershot, jogarPlaystation, gravar com uma Handycam, ouvir música em um Walkman... Essas são apenas algumas das "crias" tecnológicas de dois indivíduos, graças ao "não" recebido dos burocratas japoneses. Perguntemos à Professora Mazzucato se eles eram funcionários púbicos.

E o que dizer de Steve Jobs, cofundador, presidente e Diretor Executivo da Apple Inc. e que revolucionou seis indústrias: computadores pessoais, filmes de animação, música, telefones, tablets e publicação digital? Era por acaso funcionário público? E Bill Gates e Paul Allen, criadores da Microsoft em 1975, em Albuquerque, no Novo México? Eram burocratas iluminados ou empreendedores que acreditaram em suas ideias e assumiram os riscos de colocá-las em prática?

Mais exemplos: Jorge Paulo Lehmann é um burocrata? E Alexandre Tadeu da Costa, fundador da Cacau Show? E Antônio Alberto Saraiva, criador da Habib´s? E Romero Rodrigues, da Buscapé Company? E Robinson Chiba, daChina in Box? E Flavio Augusto da Silva, que com apenas 23 anos decidiu lançar um projeto inovador com o objetivo de, em 18 meses, dar fluência na língua inglesa a adultos, e que, para fundar sua empresa, a Wise Up, usou R$ 20 mil de seu cheque especial, com juros de 12% ao mês? Qual o papel exercido pelo estado em todos esses casos, a não ser o de recolher tributos para benefício próprio?

Quanto ao GPS — e poucos sabem disso — foi uma ideia de uma estrela de Hollywood, a belíssima Hedy Lamarr, nome artístico de Hedwig Eva Maria Kiesler (1913-2000), nascida em Viena, estrela sexy de filmes como Idílio Perigoso (1944), Sansão e Dalila (1949), O Vale da ambição (1950) Meu Espião Favorito (1951), e A História da Humanidade (1957), entre muitos outros. Hedy criou a tecnologia básica para o Sistema de Posicionamento Global (GPS, na sigla em inglês) durante a II Guerra Mundial. Judaica de origem e horrorizada com o avanço nazista, queria ajudar os EUA e os aliados. Havia aprendido sobre radiocomunicação graças à convivência, ainda na Áustria, com o ex-marido, Fritz Mandl, um rico fabricante de armas e seus colegas engenheiros. E sua contribuição científica aconteceu quando já havia se divorciado de Mandl e fugido para os EUA.

Além do GPS, Hedy inventou também uma coleira fluorescente para cachorros e um aparelho de banho para deficientes. Mas, naquela época, ninguém levou seus dotes científicos, que eram admiráveis, a sério, preferindo admirar seus dotes físicos (também admiráveis), a ponto dela ter dito: "Meu rosto foi minha ruína". Hedy foi uma burocrata ou economista de esquerda, Professora Mazzucato?

Conforme relatado aqui, a famosa atriz inspirou-se no som do piano para bolar sua maior invenção: em 1940, conheceu o compositor George Antheil, também curioso por ciência. Certa noite, quando tocavam piano, ela se deu conta de que cada tecla emitia uma frequência de longo alcance diferente. E, assim como elas se alternavam rapidamente em uma música, talvez algo parecido pudesse ser aplicado aos espectros de comunicação militar. Aprimorada por Antheil, a análise de Lamarr originou o sistema "salto de frequência", no qual estações de radiocomunicação eram programadas para mudar de sinal 88 vezes seguidas (o mesmo total de teclas de um piano). Com isso, as forças inimigas teriam dificuldade em detectar esse registro alternado, que poderia ser então usado por navios e aviões, para orientar torpedos.

A dupla chegou a patentear a ideia e a ofereceu à Marinha dos EUA, mas foi rejeitada, sob o argumento de que seria demasiadamente cara (existe algo "caro" para governos)? A invenção perdeu — felizmente — exclusividade militar e se tornou a base de várias tecnologias atuais. Ela é aplicada, por exemplo, em satélites de orientação para meios de transporte civis — o famoso GPS (Global Position System) e também no wi-fi e no bluetooth.

Quanto ao BNDES e à Finep, é desnecessário comentarmos o que todos os brasileiros (e estrangeiros) com um mínimo de bom senso já sabem: que se trata de um órgão extremamente custoso para os pagadores de tributos e mero distribuidor de benesses para pseudo-empreendedores, aqueles que têm bons amigos em Brasília, ou que são amigos do rei ou rainha de plantão no Planalto. Ou que contratem bons lobistas.

Na página da University of Sussex há diversos vídeos com palimpsestos da professora Mazzucato, quase todos versando sobre o tema do "Estado empreendedor", que nós austríacos sabemos ser um fenômeno tão contraditório quanto o "molhado seco". Um desses vídeos tem o título de "The Entrepreneurial State: Debunking public vs. private sector myths". E há um comentário do Professor Robert Wade, da London School of Economics, sobre o novo livro de Mazuccato, "The Entrepreneurial State", lançado em junho deste ano, que me causou arrepios, a ponto de não conseguir relê-lo:

O livro Entrepreneurial State fornece um desmonte bem pesquisado e elegantemente escrito (até mesmo divertido) à crença que perpassa quase todo o espectro político, bem como a profissão econômica, de que "o mercado sabe melhor". Dado que vários governos da atualidade estão às voltas com a questão de como estimular a produtividade e a inovação de seus setores industriais, o livro fornece diretivas — baseadas em casos exitosos e nem tão exitosos — de como fazer uma boa política industrial. Acima de tudo, mostra por que a comum pressuposição de que o estado 'sobrepuja' o setor privado — como se o setor privado fosse um leão enjaulado por um estado sufocante — é contraditada pela realidade de que governos de economias que vão dos EUA ao Brasil e China de fato 'trazem' inovações para o setor privado.

Creio que basta uma interjeição — que nada tem de científica, que não está nos dicionários, mas que todos entenderão — para descrever esse palavrório palimpséstico: argh!

É curioso lembrarmos que esses economistas que se autodenominam como "desenvolvimentistas" são de duas espécies: os ignorantes, que não conseguem interpretar corretamente o passado, e os "não-ignorantes mal intencionados", que até enxergam o passado, mas o interpretam ao sabor e com as tintas da ideologia.

Dei o exemplo da economista britânica para ressaltar, primeiro, como os palimpsestos, que remontam ao século V a.C, continuam sendo usados. Simplesmente, tentam apagar os erros do passado — como no caso da defesa do "capitalismo de Estado" —, para reescrevê-los. Francamente, se isso é "desenvolvimentismo", então borboletas são mamíferos...

E, segundo, para lembrar como nossa mídia valoriza esses garranchos, piores dos que sou obrigado a ler quando corrijo provas de certos alunos da UERJ.

Não existe "capitalismo de estado", não existe "estado empreendedor", não existe "função social do estado", não existe "investimentos socialmente úteis"! Existe apenas intervencionismo. E seu oposto, que é a liberdade. Quando será que vão entender isso?

Uma boa leitura, escrita de forma simples, mas bastante esclarecedora é o livro de Adriano Gianturco Gulisano, "L'Imprenditorialità di Israel Kirzner — L'Etica della Proprietà e la Moralità Del Profitto nel Libero Mercato Imperfetto", editado neste ano por Rubettino, na Itália. É uma boa vacina contra os palimpsestos dos "desenvolvimentistas do estado-empreendedor".
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Leia também:


Ubiratan Jorge Iorio é economista, Diretor Acadêmico do IMB e Professor Associado de Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Visite seu website.

O MERCADO É UM PROCESSO DINÂMICO, E NÃO APRESENTA "EQUILÍBRIO"

Um aspecto característico da abordagem austríaca da teoria econômica é sua ênfase de que o mercado é um processo, e não apenas uma configuração de preços, qualidades e quantidades que são consistentes entre si de modo a produzir uma situação de mercado em equilíbrio. Esse aspecto da economia austríaca está intimamente associado ao descontentamento com o uso generalizado do conceito de concorrência perfeita.

É interessante notar que, mesmo entre economistas de convicções bastante divergentes dentro da tradição austríaca, todos demonstram um desencanto característico com a ênfase ortodoxa dada tanto em relação ao equilíbrio como também em relação à concorrência perfeita. Assim, a bem conhecida posição de Joseph A. Schumpeter sobre essas questões é notavelmente próxima da de Ludwig von Mises. Oskar Morgenstern, em um importante artigo sobre teoria econômica contemporânea, expressou as mesmas críticas austríacas à moderna teoria econômica.

EQUILÍBRIO E PROCESSO

Ludwig. M. Lachmann revelou que sua insatisfação com a noção de equilíbrio envolve essencialmente o uso da construção do equilíbrio geral walrasiano em detrimento da utilização do simples equilíbrio parcial marshalliano. Mas é precisamente utilizando a construção de um mercado simples, com apenas um tipo de bem e no curto prazo, que demonstrarei algumas das deficiências da abordagem do equilíbrio.

Em nossas salas de aula, desenhamos a interseção marshalliana para descrever uma situação de oferta e demanda competitiva, e depois prosseguimos explicando como o mercado entra em equilíbrio apenas quando se atinge o preço correspondente à interseção das curvas.




Normalmente, a explicação sobre a determinação do preço de mercado pára por aí — praticamente concluindo que o único preço possível é o preço de equilíbrio de mercado. Algumas vezes tratamos da questão de como podemos estar certos de que há realmente uma tendência de que o preço de interseção será atingido. Nesse caso, a discussão prosseguirá em termos da versão walrasiana do processo de equilíbrio. Suponha — costumamos dizer — que o preço esteja acima do preço de interseção. Sendo assim, a quantidade do bem que as pessoas estão preparadas para ofertar é, no agregado, maior do que a quantidade total que as pessoas estão preparadas para comprar. Haverá estoques não vendidos, o que fará o preço diminuir. Por outro lado, se o preço estiver abaixo do preço de interseção, haverá um excesso de demanda, "forçando" o preço para cima. Assim — costumamos explicar — haverá uma tendência para que o preço gravite em direção ao ponto de equilíbrio no qual a quantidade demandada se iguala à quantidade ofertada.

Essa explicação tem um apelo simples, porém eficaz. Entretanto, quando o preço é descrito como estando acima ou abaixo do equilíbrio, entende-se que apenas um único preço prevalece no mercado. Uma pergunta incômoda, então, seria: como sabemos qual é esse preço único antes de termos atingido o equilíbrio? Pois certamente um preço único somente pode ser estipulado como resultado do processo de equilíbrio em si. Ao menos neste quesito, a explicação walrasiana sobre a determinação do preço de equilíbrio é nula.

Novamente: a explicação walrasiana normalmente pressupõe concorrência perfeita, onde todos os participantes do mercado são tomadores de preço. Mas se há apenas tomadores de preço participando do processo, não está claro como que os estoques não vendidos ou a demanda não atendida provocam mudanças no preço. Se ninguém pode influir no preço, como os preços sobem ou descem?

A explicação marshalliana do processo de equilíbrio — normalmente não apresentada nas discussões em sala de aula — é similar à walrasiana, porém utiliza quantidade em vez de preço como a principal variável de decisão. Em vez de desenhar linhas horizontais de preços no diagrama de oferta e demanda para mostrar um excesso de oferta ou uma demanda não atendida, o procedimento marshalliano utiliza linhas verticais para delimitar os preços de demanda e os preços de oferta para determinadas quantidades. Nesse procedimento, a ordenada de um ponto sobre a curva de demanda indica o preço máximo em que uma quantidade (representada pela abscissa do ponto) será vendida. Se esse preço for maior do que o correspondente preço de oferta (o preço ao qual a mesma quantidade será oferecida para venda), quantidades maiores serão colocadas à venda. O contrário ocorre quando o preço de oferta excede o preço de demanda. E assim, a existência de uma tendência em direção ao equilíbrio foi supostamente demonstrada.

Esse procedimento também faz muitas pressuposições. Ele toma como certo que o mercado já sabe quando o preço de demanda da quantidade disponível está excedendo seu preço de oferta. Ora, mas o desequilíbrio ocorre precisamente porque os participantes de mercado não sabem qual é o preço de equilíbrio. Em uma situação de desequilíbrio, normalmente não se sabe qual é "a" quantidade e nem qual é o preço mais alto (mais baixo) pelo qual essa quantidade pode ser vendida (pechinchada dos ofertantes). Assim, não está claro como que o fato de a quantidade de bens no mercado ser menor do que a quantidade de equilíbrio irá garantir que as decisões dos participantes de mercado sejam modificadas de modo a aumentar essa quantidade.

Claramente nenhuma dessas explicações sobre como se dá o alcance do equilíbrio é satisfatória. Pela perspectiva austríaca, que enfatiza o papel do conhecimento e das expectativas, as explicações acima pressupõem tacitamente muitas coisas. O que precisamos é de uma teoria sobre o processo de mercado que leve explicitamente em conta as alterações sistemáticas nas informações e nas expectativas sobre as quais os participantes de mercado atuam, e que explique como essas alterações irão levar os participantes em direção à "solução" de equilíbrio. E, de fato, o ponto de vista austríaco nos ajuda a conceber tal teoria.

ALOCAÇÃO ROBBINSIANA E A AÇÃO MISESIANA

Ao desenvolver uma teoria viável para o processo de mercado devemos levar em conta o papel — muito negligenciado — do empreendedorismo. A omissão do empreendedorismo na análise econômica moderna é uma consequência direta de preocupação geral com a situação final de equilíbrio. Para podermos entender a distinção entre uma teoria baseada no processo de mercado — a qual faz referência ao empreendedorismo — e uma teoria baseada no equilíbrio de mercado — a qual ignora o empreendedorismo —, será útil compararmos o conceito misesiano de ação humana com o conceito econômico utilizado por Lord Robbins, a saber, o processo de decisão de alocações.

Devemo-nos recordar que Lord Robbins definiu a economia como a ciência que lida com o aspecto alocativo das relações humanas, isto é, as consequências advindas do fato de que os homens direcionam e alocam seus limitados recursos para fins múltiplos e concorrenciais Mises, por outro lado, enfatizou a noção mais ampla da ação humana intencional, abrangendo os esforços deliberados por meio dos quais os homens tentam melhorar sua situação. Ambos os conceitos, é válido notar, são consistentes com o individualismo metodológico e incorporam a constatação de que os fenômenos de mercado são gerados pela interação de decisões individuais. Porém, ambas as construções diferem significativamente.

O método robbinsiano afirma que os indivíduos irão utilizar os recursos disponíveis e conhecidos da maneira mais eficiente possível, de modo a atingir certos propósitos. Isso requer a implementação do princípio equimarginal, isto é, a criação de um arranjo alocativo no qual é impossível transferir uma unidade de recurso de um uso para outro uso e, com isso, ganhar um benefício líquido. Para Robbins, o processo econômico consiste apenas em rearranjar os recursos disponíveis de modo a garantir a utilização mais eficiente de insumos conhecidos considerando-se uma dada hierarquia de objetivos. É a interação no mercado dos esforços alocativos de vários indivíduos que gera todos os fenômenos que a economia moderna procura explicar.

A dificuldade com uma teoria de mercado baseada exclusivamente em termos robbinsianos é que, no desequilíbrio, vários dos planos dos agentes robbinsianos estão fadados a não se realizar. O desequilíbrio é uma situação na qual nem todos os planos podem ser realizados conjuntamente; ele reflete erros na informação de preços sobre os quais os planos do indivíduo são feitos. Uma experiência de mercado malsucedida — que gerará escassez ou excedente de bens a serem vendidos — revela que as expectativas em relação ao preço original estavam incorretas. Embora a estrutura robbinsiana sugira que os planos malsucedidos serão descartados ou revisados, não é possível ir muito além disso. A ideia de um plano robbinsiano assume que a informação não só é dada como também é conhecida pelos indivíduos atuantes no mercado. Na ausência dessa informação, os participantes de mercado ficam bloqueados de toda a atividade robbinsiana. 

Sem qualquer pista sobre quais serão as novas expectativas que virão após as frustrações no mercado, somos incapazes de postular qualquer sequência de decisões. Tudo o que podemos dizer é: se todas as decisões robbinsianas forem harmônicas, teremos um equilíbrio; se não forem harmônicas, teremos um desequilíbrio. Dentro desse arranjo, não temos justificativas para afirmar, por exemplo, que estoques não vendidos irão deprimir os preços; podemos apenas dizer que, se houver uma errada expectativa de que os preços são mais altos do que de fato são, os tomadores de decisão robbinsianos irão gerar estoques não vendidos. Como tomadores de decisão, eles não podem aumentar ou diminuir preços; eles são estritamente tomadores de preços, fazendo alocações de acordo com o ambiente em que os preços são dados. Se todos os participantes são tomadores de preços, como então os preços de mercado poderão aumentar ou diminuir? Por meio de qual processo isso irá ocorrer, se ocorrer?

Para que os estoques não vendidos comprimam os preços, aqueles participantes de mercado que possuem bens não vendidos precisariam entender que os preços anteriormente praticados estavam muito altos. Os participantes precisariam modificar suas expectativas referentes ao entusiasmo dos outros participantes em comprar seus produtos. Mas para fazermos essas afirmações precisamos transcender os limites estreitos da estrutura robbinsiana. Precisamos de um conceito de tomadas de decisão que seja abrangente o suficiente para abarcar o elemento empreendedorismo, de modo a considerar a maneira como os participantes de mercadoalteram seus planos. É aqui que a noção misesiana acerca da ação humana vem ao nosso socorro.

O conceito de Mises acerca da ação humana envolve um insight, um discernimento, sobre a natureza humana que está completamente ausente em um mundo de agentes robbinsianos. Esse discernimento reconhece que os homens não apenas são agentes calculistas, como também são atentos às oportunidades. A teoria robbinsiana somente é válida após uma pessoa já ter sido confrontada por certas oportunidades; ela não explica como aquela pessoa aprende sobre essas oportunidades. Já a teoria misesiana sobre a ação humana concebe o indivíduo como um agente que tem seus olhos e ouvidos abertos para oportunidades que estão "logo ali". Ele está alerta, esperando, continuamente receptivo a alguma coisa que possa surgir. E quando o preço vigente não equilibra o mercado, os participantes de mercado percebem que eles precisam revisar suas estimativas de preços a fim de evitar novos desapontamentos. 

Esse estado de alerta e prontidão é o elemento empreendedorial da ação humana, um conceito ausente nas análises feitas em termos exclusivamente robbinsianos. Ao mesmo tempo em que transforma o ato de decisão em uma visão realista da ação humana, o empreendedorismo transforma a teoria de equilíbrio de mercado em uma teoria de processo de mercado.

O PAPEL DO EMPREENDEDORISMO

É verdade que há outras definições da função empreendedorial. As principais visões sobre o assunto têm sido aquelas de Schumpeter, Frank H. Knight e Mises. Entretanto, como já argumentei, todas essas definições alternativas têm em comum o elemento do alerta às oportunidades. Este alerta deve ser cuidadosamente distinguido da mera possessão do conhecimento. E é a distinção entre estar alerta e possuir conhecimento que nos ajuda a entender como o processo empreendedorial de mercado sistematicamente detecta e ajuda a eliminar erros.

Uma pessoa que possui conhecimento não é — apenas por esse critério — um empreendedor. Mesmo quando um empregador contrata um especialista por causa do conhecimento deste, é o empregador — e não o empregado — quem é o empreendedor. O empregador pode não ter toda a informação que o empregado possui; no entanto, o empregador está mais bem "informado" do que todos os outros concorrentes — ele sabe onde o conhecimento pode ser obtido e como ele pode ser proveitosamente empregado. 

O especialista contratado aparentemente não sabe como seu conhecimento pode ser proveitosamente empregado, uma vez que ele não está preparado para agir como seu próprio empregador. Ele não percebe a oportunidade fornecida pela posse de tal informação. O empregador, por outro lado, percebe. O conhecimento empreendedorial é um tipo de conhecimento refinado e abstrato — o conhecimento sobre onde obter informação (ou outros recursos) e como colocá-lo em prática.

Esse alerta empreendedorial é crucial para o processo de mercado. O desequilíbrio representa uma situação de ampla ignorância sobre as reais condições do mercado. Essa ignorância é responsável pelo surgimento de oportunidades lucrativas. O alerta empreendedorial explora estas oportunidades enquanto outros a ignoram. 

Lachmann e G.L.S. Shackle enfatizaram a imprevisibilidade do conhecimento humano, e de fato não entendemos claramente como os empreendedores obtêm esse lampejo de presciência superior à dos concorrentes. Não sabemos explicar como alguns homens descobrem determinadas oportunidades antes de outros. Podemos certamente explicar por que os homens exploram petróleo de modo a estarem sempre ponderando maneiras alternativas de gastar uma quantia limitada de recursos; porém, somos incapazes de explicar como um empreendedor presciente percebe antes dos outros que uma busca por petróleo pode ser recompensadora. 

Em termos empíricos, entretanto, sabemos que as oportunidades tendem a ser percebidas e exploradas. E é sobre essa tendência observada que se assenta nossa crença na existência de um determinado processo de mercado.

A PUBLICIDADE COMO UM ASPECTO DO PROCESSO COMPETITIVO

A caracterização do processo de mercado como um processo de descoberta empreendedorial clarifica várias ambiguidades sobre o mercado e dissipa vários mal-entendidos sobre como ele funciona. A propaganda fornece um excelente exemplo sobre o qual podemos basear nossa discussão.

A publicidade, uma característica dominante da economia de mercado, é amplamente incompreendida e frequentemente condenada como dispendiosa, desperdiçadora, ineficiente, inimiga da concorrência e geralmente destruidora da soberania do consumidor. Houve, nos anos recentes, alguma reabilitação do assunto na literatura econômica, dentro do modelo da economia da informação. De acordo com essa visão, mensagens publicitárias voltadas para potenciais consumidores representam quantidades de conhecimento necessárias, pelas quais eles estão dispostos a pagar um preço. A quantidade certa de informação é produzida e entregue pela indústria publicitária em resposta aos desejos do consumidor. 

Por razões ligadas a custos, é mais eficiente que essa informação seja produzida por aqueles que possuem mais facilidade para tal, a saber, os produtores dos produtos sobre os quais são desejadas informações. Essa abordagem tem seu valor e explica muito da economia da propaganda, porém não explica tudo. A abordagem sob a ótica da economia da informação tenta explicar os fenômenos da publicidade totalmente em termos da oferta e demanda de conhecimento não empreendedorial, informações que podem ser compradas, vendidas e até mesmo empacotadas. Porém tal abordagem não vai além de um mundo de maximizadores robbinsianos, e é incapaz de compreender a real função da publicidade no processo de mercado.

Consideremos o produtor do bem anunciado. Em sua função empreendedorial, o produtor antecipa os desejos dos consumidores e observa a disponibilidade dos recursos necessários para um produto satisfazer os desejos dos consumidores. Essa função pode parecer cumprida assim que o produtor produzir o produto e torná-lo disponível para a compra. Em outras palavras, pode parecer que a função do empreendedor foi cumprida assim que ele transformou uma oportunidade de produzir um determinado produto em uma oportunidade para que o consumidor compre o produto finalizado. Os próprios consumidores não estavam cientes das oportunidades que esse processo de produção representa; foi o alerta mais arguto do empreendedor que o possibilitou cumprir essa tarefa. 

Não é suficiente, entretanto, apenas disponibilizar o produto; os consumidores precisam saber de sua existência. Se a oportunidade de comprá-lo não for percebida pelo consumidor, será como se a oportunidade de produzi-lo não tivesse sido notada pelo empreendedor.

Não basta apenas cultivar alimentos os quais o consumidor não sabe obter; os consumidores precisam saber que o alimento foi de fato cultivado. Fornecer informações aos consumidores não é o suficiente. É essencial que as oportunidades disponíveis ao consumidor atraiam sua atenção, não importa qual seja o seu grau de alerta. Não basta ao empreendedor-produtor canalizar recursos para atender os desejos do consumidor; ele também deve garantir que o consumidor não deixe passar despercebido o que já foi produzido. Para esse propósito, a publicidade é um instrumento claramente indispensável.

Ao vermos a publicidade como um instrumento empreendedorial, podemos entender por que a distinção feita por Edward Chamberlin entre custos de fabricação e custos de venda é inválida. Os custos de fabricação (ou produção) supostamente ocorrem durante a produção do produto, em contraposição aos custos de venda, que ocorrem quando se tenta convencer os consumidores a comprar o produto. Os custos de venda supostamente deslocam a curva de demanda pelo produto, ao passo que os custos de fabricação (produção) afetam apenas a curva de oferta. A distinção feita por Chamberlim foi criticada com base no fato de que os custos de venda são na verdade custos de fabricação disfarçados, de um tipo ou de outro.

Nossa abordagem nos possibilita ver essa questão através de um contexto mais geral, que incorpora a percepção de que todos os custos de fabricação são, ao mesmo tempo, custos de venda. Por exemplo, se o produtor tivesse um mercado garantido no qual pudesse vender todos os seus produtos a um determinado preço, então seu custo de fabricação total seria apenas os próprios custos de fabricação. Ele não teria de incorrer em gastos adicionais para tentar convencer o consumidor a comprar o produto. Mas a realidade é que nunca há um mercado garantido. As decisões do produtor sobre qual produto produzir e com que qualidade serão, invariavelmente, um reflexo daquilo que ele acredita ser capaz de vender a um preço vantajoso. Trata-se de uma escolha puramente empreendedorial. Os custos nos quais ele incorre são aqueles que, em suas estimativas, são necessários para que ele possa vender seu produto ao preço que ele anteviu. Cada melhora no produto é feita para torná-lo mais atraente para os consumidores, e certamente o produto em si foi produzido exatamente com esse intuito. Todos os custos são, em última análise, custos de venda.

LUCROS E O PROCESSO COMPETITIVO

O conceito austríaco da função empreendedorial enfatiza o lucro como sendo o objetivo fundamental do processo de mercado. Como tal, o lucro tem implicações importantes para a análise do empreendedorismo em contextos que não sejam de mercado (tais como dentro de empresas, ou em um regime socialista ou em burocracias em geral). Como já observei, não sabemos precisamente como ocorre a presciência superior de alguns empreendedores em relação a outros, porém sabemos que, ao menos de modo geral, o alerta empreendedorial é estimulado pela existência de lucros potenciais. O alerta a uma oportunidade depende da atratividade desta oportunidade e, obviamente, do fato de ela ter sido percebida e agarrada.

Esse incentivo é diferente dos incentivos presentes em um mundo robbinsiano. No contexto não empreendedorial, o incentivo é constituído pelas satisfações alcançáveis à custa de sacrifícios relevantes. Os incentivos robbinsianos são transmitidos aos agentes quando o arranjo do sistema demonstra que as satisfações oferecidas são mais significantes (do ponto de vista deles) do que os sacrifícios demandados deles. O incentivo é, portanto, fornecido pela comparação entre alternativas conhecidas. No entanto, no contexto empreendedorial, o incentivo a estar alerta a uma oportunidade empreendedorial é bem diferente do incentivo a se fazer uma troca entre oportunidades já conhecidas; com efeito, não tem nada a ver com a comparação de alternativas. Para se perceber uma oportunidade à espera de ser descoberta, não é preciso ter feito alguma escolha anterior. O incentivo é tentar obter alguma coisa em troca de nada — caso o empreendedor ao menos seja capaz de saber o que pode ser feito.

Incentivos robbinsianos podem ser oferecidos em contextos que não sejam de mercado. Por exemplo, um burocrata ou um empregador oferecer um bônus pelo maior esforço. Por outro lado, para que incentivos empreendedoriais funcionem, é necessário que aqueles que percebam oportunidades de fato ganhem algo por descobri-las. Uma característica notável do sistema de mercado é que ele fornece esse tipo de incentivo. É somente pela análise do processo de mercado que esse aspecto empreendedorial extremamente importante da economia de mercado é percebido. 

Os reais problemas econômicos de qualquer sociedade surgem do fenômeno das oportunidades não-percebidas. A maneira como uma sociedade de mercado lida com esse fenômeno não pode ser compreendida utilizando-se exclusivamente uma teoria de equilíbrio de mercado. Os arranjos institucionais mais propícios para a descoberta de oportunidades devem ser estudados e respeitados. 


[1] Para uma melhor elaboração sobre as várias questões abordadas nesse artigo, ver Israel M. Kirzner, Competição e Atividade Empresarial.

[2] Joseph A. Schumpeter, Capitalismo, Socialismo e Democracia (New York: Harper & Row, 1942), pp. 81-106.

[3] Oskar Morgenstern, "Thirteen Critical Points in Contemporary Economic Theory: An Interpretation," Journal of Economic Literature 10 (Dezembro de 1972): 1163-89.

[4] Ludwig M. Lachmann, "Methodological Individualism and the Market Economy," in Roads to Freedom: Essays in Honour of Friedrich A. von Hayek, ed. Erich Streissler et al. (London: Routledge & Kegan Paul, 1969), p. 89.

[5] Alfred Marshall, Princípios de Economia Política, ed. C. W. Guillebaud, 2 vols. (London: Macmillan & Co., 1961), 1:345-48; Marshall algumas vezes utilizava a abordagem walrasiana (ibid., pp. 333-36).

[6] Lionel Robbins, An Essay on the Nature and Significance of Economic Science (London: Macmillan & Co., 1962), pp. 1-23.

[7] Ludwig von Mises, Ação Humana (New Haven: Yale University Press, 1949), pp. 11-142; para uma comparação entre as noções misesianas e robbinsianas, ver Israel M. Kirzner, The Economic Point of View (Princeton: D. Van Nostrand, 1960), pp. 108-85.

[8] No prefácio da primeira edição deste livro, Robbins reconhece sua dívida para com Mises (On the Nature, pp. xv-xvi).

[9] Kirzner, Competição, pp. 75-87.

[10] Edward Hastings Chamberlin, The Theory of Monopolistic Competition, 7ª ed. (Cambridge: Harvard University Press, 1962), pp. 123-29.

[11] Ver a literatura citada em Kirzner, Competição, pp. 141-69.

Israel M. Kirzner é professor emérito de economia da New York University, um líder da geração de austríacos após Mises e Hayek, e um scholar adjunto do Mises Institute. Ele escreveu sua tese de doutoramento sob a orientação de Mises, mais tarde publicada como o livro The Economic Point of View (1960). Depois, abriu novos caminhos teóricos com seu livroCompetição e Atividade Empresarial (1973). Kirzner também é o autor de mais sete livros e dúzias artigos, incluindo vários na Austrian Economics Newsletter e também na The Review of Austrian Economics. Ele atualmente é um dos mais notáveis acadêmicos a se dedicar ao contínuo desenvolvimento da teoria econômica da Escola Austríaca.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

GUINADA À DIREITA

Há uma década, escrevi um texto em que me definia como "meio intelectual, meio de esquerda". Não me arrependo. Era jovem e ignorante, vivia ainda enclausurado na primeira parte da célebre frase atribuída a Clemenceau, a Shaw e a Churchill, mas na verdade cunhada pelo próprio Senhor: "Um homem que não seja socialista aos 20 anos não tem coração; um homem que permaneça socialista aos 40 não tem cabeça". Agora que me aproximo dos 40, os cabelos rareiam e arejam-se as ideias, percebo que é chegado o momento de trocar as sístoles pelas sinapses.

Como todos sabem, vivemos num totalitarismo de esquerda. A rubra súcia domina o governo, as universidades, a mídia, a cúpula da CBF e a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, na Câmara. O pensamento que se queira libertário não pode ser outra coisa, portanto, senão reacionário. E quem há de negar que é preciso reagir? Quando terroristas, gays, índios, quilombolas, vândalos, maconheiros e aborteiros tentam levar a nação para o abismo, ou os cidadãos de bem se unem, como na saudosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que nos salvou do comunismo e nos garantiu 20 anos de paz, ou nos preparemos para a barbárie.

Se é que a barbárie já não começou... Veja as cotas, por exemplo. Após anos dessa boquinha descolada pelos negros nas universidades, o que aconteceu? O branco encontra-se escanteado. Para todo lado que se olhe, da direção das empresas aos volantes dos SUVs, das mesas do Fasano à primeira classe dos aviões, o que encontramos? Negros ricos e despreparados caçoando da meritocracia que reinava por estes costados desde a chegada de Cabral.

Antes que me acusem de racista, digo que meu problema não é com os negros, mas com os privilégios das "minorias". Vejam os índios, por exemplo. Não fosse por eles, seríamos uma potência agrícola. O Centro-Oeste produziria soja suficiente para a China fazer tofus do tamanho da Groenlândia, encheríamos nossos cofres e financiaríamos inúmeros estádios padrão Fifa, mas, como você sabe, esses ágrafos, apoiados pelo poderosíssimo lobby dos antropólogos, transformaram toda nossa área cultivável numa enorme taba. Lá estão, agora, improdutivos e nus, catando piolho e tomando 51.

Contra o poder desmesurado dado a negros, índios, gays e mulheres (as feias, inclusive), sem falar nos ex-pobres, que agora possuem dinheiro para avacalhar, com sua ignorância, a cultura reconhecidamente letrada de nossas elites, nós, da direita, temos uma arma: o humor. A esquerda, contudo, sabe do poder libertário de uma piada de preto, de gorda, de baiano, por isso tenta nos calar com o cabresto do politicamente correto. Só não jogo a toalha e mudo de vez pro Texas por acreditar que neste espaço, pelo menos, eu ainda posso lutar contra esses absurdos.

Peço perdão aos antigos leitores, desde já, se minha nova persona não lhes agradar, mas no pé que as coisas estão é preciso não apenas ser reacionário, mas sê-lo de modo grosseiro, raivoso e estridente. Do contrário, seguiremos dominados pelo crioléu, pelas bichas, pelas feministas rançosas e por velhos intelectuais da USP, essa gentalha que, finalmente compreendi, é a culpada por sermos um dos países mais desiguais, mais injustos e violentos sobre a Terra. Me aguardem.

Por: Antonio Prata Folha de SP