terça-feira, 4 de março de 2014

CAUSA MORTIS

“Não vamos parar, o poder é nosso!”, escreveu o Black Bloc RJ na hora da notícia do falecimento do cinegrafista

Santiago Ilídio Andrade era nossos olhos e nossos ouvidos. Sem o trabalho dele, e de tantos colegas seus, cinegrafistas, jornalistas, funcionários de apoio, não teríamos notícias — ou só teríamos versões das partes interessadas. O assassino de Santiago e seus cúmplices diretos, que compraram, transportaram e acenderam o rojão de vara, provavelmente não miravam o cinegrafista, mas os policiais. Contudo, sabemos pela palavra deles que devotam um mesmo ódio a jornalistas e policiais. Faz sentido: eles odeiam a democracia — e, deploravelmente, não estão sozinhos.

Santiago não é uma vítima “acidental”. Santiago é um cadáver circunstancial, mas anunciado desde as jornadas de junho. O que faziam, na periferia e na fímbria das manifestações, os vândalos, os depredadores, os mascarados? Eles abriam picadas no rumo de seu El Dorado: o sangue de alguém, qualquer um, policial, transeunte, jornalista, cinegrafista ou manifestante. “Abaixo a ditadura 2.0”, leio numa página de Facebook consagrada à propagação do vandalismo. Os covardes, rosto escondido, precisavam provar a tese que justificaria sua própria existência: a democracia é uma farsa, a máscara da ditadura.

Santiago teve seu crânio destroçado por um foguete ideológico. Os autores da tese não acenderam o rojão de vara, não o transportaram e não o compraram. Esses intelectuais de araque, que são as fontes de inspiração do assassinato, talvez nunca tenham se misturado a uma manifestação de rua. Eles circulam em esferas sanitizadas: universidades, ONGs, movimentos sociais, partidos políticos. Mas, enquanto a investigação policial desvenda os nomes de quem pode ser indiciado, cabe a nós decifrar as ideias que os mobilizam. O perigo está nelas: os pavios imateriais de foguetes ainda não lançados.

O rojão que matou Santiago é um projétil político dirigido contra o alvo da democracia.

Santiago morreu porque, atrás dos assassinos, renasce uma velha teoria sobre a política e a democracia. As páginas eletrônicas dos black blocs definem a nossa democracia como um “Estado policial”. Um professor da FGV-SP, Rafael Alcadipani da Silveira, atribuiu a “estratégia da violência” aos “jovens das periferias”, “vítimas da violência cotidiana por parte do Estado”. A expressão “contraviolência” foi difundida por intelectuais radicais nas décadas de 1970 e 1980 para celebrar o método de “ação direta” empregado por organizações extremistas que, cindidas, dariam origem a agrupamentos terroristas como o Baader-Meinhof, na Alemanha, e as Brigadas Vermelhas, na Itália. As fórmulas incendiárias daqueles intelectuais ressurgem entre nós, como frutos podres de uma crise política e moral.

Santiago está morto porque a fronteira entre a violência “simbólica” e a violência “real” só existe no pensamento depravado dos cultores da violência “simbólica”. Bruno Torturra, o chefão do Mídia Ninja, um “instituto” informal financiado com recursos públicos, definiu o Black Bloc como “uma estética” e fez a defesa da violência nas manifestações, “desde que dirigida aos bancos”. O filósofo-ativista Pablo Ortellado, um herdeiro ideológico dos arautos europeus da “contraviolência”, declarou sua paixão pela “ação simbólica” de depredação de uma agência bancária, um simulacro da “ruína do capitalismo” situado “na interface da política com a arte”. Mas por que eles nutrem uma obsessão exclusivista pelos bancos? O linchamento de um policial não poderia ser descrito como símbolo da “ruína da repressão de Estado”? O assassinato de um jornalista não anunciaria o almejado “controle social da mídia”?

Santiago morreu de excesso de violência “simbólica”, mas não apenas disso. “Não vamos parar, o poder é nosso!”, escreveu o Black Bloc RJ na hora da notícia do falecimento do cinegrafista. A causa mortis tem ramificações complexas, que deitam raízes na condescendência nacional com a violência “justa”. A imprensa apressou-se, com razão e cumprindo seu dever, a denunciar as truculências policiais contra manifestantes pacíficos nos primeiros protestos de junho — mas custou a usar a palavra “vândalos” para qualificar os idiotas mascarados que se movem em busca de sangue. Um certo número de sindicalistas, alguns deles ligados ao PSOL, firmaram um pacto de aliança com os Black Blocs na greve dos professores do Rio de Janeiro. Numa nota asquerosa, mas típica, o Sindicato dos Jornalistas do Rio omitiu a origem do projétil que vitimou Santiago. Fora algumas honrosas exceções, não se ouviu uma palavra de condenação ao vandalismo sair da boca dos célebres “intelectuais de esquerda”.

Santiago é uma vítima, entre tantas outras não ligadas a manifestações, da inclinação do governo a produzir rimas entre “pobreza” e “violência”. Três meses atrás, o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, anunciou que buscava “interlocutores” entre os black blocs para “compreender este fenômeno social” e entender “até que ponto a cultura da violência vivida na periferia já emigrou para esse tipo de ação”. O poderoso ministro, representação onipresente de Lula no governo Dilma, fala uma linguagem paralela à dos intelectuais engajados na justificação dos black blocs. “Cultura da violência”? “Fenômeno social”? Não, de jeito nenhum: o rojão que matou Santiago é um projétil político dirigido contra o alvo da democracia.

Santiago morreu porque damos ouvidos a Gilberto Carvalho, não a Reynaldo Simões Rossi, o coronel da PM espancado por uma chusma de covardes durante uma manifestação em São Paulo. Rossi disse que seu dever era respeitar os manifestantes e isolar a “minoria de criminosos e vândalos” que “se apropriam de manifestações legítimas”. Há algo de profundamente errado com um país incapaz de enxergar a face do mal, quando ela se esconde atrás da máscara de uma ideologia. A memória de Santiago exige que, finalmente, separemos os manifestantes dos vândalos — tanto nas palavras quanto nas ações.
Por: Demétrio Magnoli Fonte: O Globo, 13/02/2014

segunda-feira, 3 de março de 2014

OS PAÍSES BÁLTICOS E SEU EXEMPLO DE RECUPERAÇÃO ROBUSTA


Em 2009 e 2010, as políticas de austeridade que estavam sendo aplicadas pelos países bálticos pareciam estar levando-os ao mais inexorável dos colapsos: em relação a 2008, o governo da Estônia havia reduzidos seus gastos em 4,5% em termos nominais; a Lituânia, em 4,7%; e a Letônia em espetaculares 20,1%. 

Paralelamente, e para efeitos de comparação, em 2010 o governo da Espanha havia aumentado seus gastos em 7,7% em relação a 2008. Hoje, não obstante alguns cortes feitos pelo governo de Mariano Rajoy, os gastos governamentais da Espanha seguem acima do nível alcançado em 2008.

O efeito de curto prazo sobre os bálticos certamente foi doloroso: em 2009, em plena vigência das políticas austeridade, o PIB destes três países chegou a despencar algo entre 15 e 20% em relação ao nível máximo alcançado durante o ápice da bolha de crédito que havia se formado em suas economias. Foi aí que os apologistas do esbanjamento e da gastança estatal se puseram a fazer suas panfletagens ideológicas. Por exemplo, em 2009, o jornal espanhol Público escreveu esta matéria a respeito da Letônia: "El bastión neoliberal de Europa se derrumba". 

No entanto, a austeridade do lado dos gastos estatais logrou sanear as finanças públicas destes países. A Estônia registrou superávit orçamentário já em 2010; a Letônia, que partiu de um déficit superior a 7% em 2009, conseguiu equilibrar seu orçamento em 2012; e a Lituânia, partindo de um déficit de 9,4% em 2009, conseguiu reduzi-lo para 3,3% em 2012. Esta ortodoxia financeira também permitiu que estes países consolidassem seu endividamento estatal em níveis invejáveis para o Ocidente: a dívida pública da Estônia em relação ao PIB é de ínfimos 10%; a da Letônia é de 38% e a da Lituânia é de 42%. 

Foi justamente este clima de rigor, de seriedade e de compromisso com um orçamento equilibrado o que transmitiu confiança aos investidores e ao mercado internacional, e que afastou por completo os temores sobre uma até então tida como inevitável desvalorização de suas moedas, as quais seguiram firmemente atreladas ao euro. Esta previsibilidade e estabilidade proporcionou a seus cidadãos e a seus empresários a confiança suficiente para manter ou até mesmo aumentar seus níveis de poupança, o que proporcionou a suas respectivas economias o capital suficiente para alterar sua estrutura, até então voltada para atividades sustentadas meramente por bolhas creditícias. 

Por exemplo, a taxa de poupança da Estônia passou de 20% do PIB em 2008 para 26% em 2013, o que facilitou a manutenção de suas taxas de investimento em elevados 27% do PIB. Já a taxa de poupança da Letônia passou de 17% para 24%, consolidando sua taxa de investimento em quase 26% do PIB. Finalmente, a taxa de poupança da Lituânia, mais lenta, passou de 14 para 18%, alcançando uma taxa de investimentos de 18% do PIB. 

A combinação entre estes notáveis volumes de investimento — em plena crise econômica — e mercados internos substancialmente mais livres e flexíveis do que os do resto da Europa permitiu aos bálticos fazer uma revolucionária transformação na estrutura produtiva de suas economia. Se até então suas economias exibiam números robustos em decorrência de uma acentuada expansão do crédito e do consumismo que isso permitia, a recessão e sua consequente austeridade fizeram com que sua população adotasse uma postura mais poupadora e menos consumista. 

Como resultado desta combinação entre menos gastos e mais poupança, o setor exportador voltou a crescer (sem que houvesse nenhuma desvalorização cambial), o que reduziu enormemente o grande déficit nas contas externas destes países, bem como seu endividamento externo. 

Entre 2007 e 2012, as exportações da Estônia subiram de 50% do PIB para 72% do PIB. As da Letônia subiram de 27% para 44% do PIB, e as da Lituânia foram de 44 para 70%. Graças a essa transformação na estrutura produtiva, as contas externas destes três países — marcadamente deficitárias durante a época da bolha creditícia — passaram por um acentuado aprimoramento: Estônia e Lituânia, que até então apresentavam um déficit externo de 15% do PIB, passaram a apresentar equilíbrio nas contas externas; já a Letônia reduziu seu déficit externo de 22% do PIB para 1%. 

Vale ressaltar: todo este equilíbrio foi conseguido sem nenhuma desvalorização cambial e sem qualquer imposição de tarifas de importação. Houve apenas um rearranjo da estrutura produtiva da economia, que deixou de ser consumista e se tornou mais poupadora e mais voltada para produção. O equilíbrio interno gerou o equilíbrio externo. Tudo sem pirotecnias e sem prejudicar o poder de compra da população e nem sua liberdade de importação. 

E o resultado disso tudo foi espetacular e se traduziu em um vertiginoso crescimento do PIB e do emprego: entre 2010 e 2013, o PIB da Estônia cresceu 16% e a ocupação, 10%. O PIB da Letônia se expandiu 15% e a ocupação, quase 6%. Finalmente, o PIB da Lituânia cresceu 13% com uma criação líquida de empregos de 3%. 

O êxito dos bálticos deveria ser uma bofetada contra os keynesianos, os quais, no entanto, seguem ardorosamente apegados aos seus lugares-comuns. Por exemplo, segundo Paul Krugman, nenhum destes países ainda recuperou os níveis de PIB e de emprego vigentes antes da crise. Só que esta crítica é infundada: dado que a composição do PIB em 2007 era formada por investimentos insensatos fomentados por bolhas creditícias insustentáveis e por um hiperendividamento externo, tal valor do PIB não deveria constituir referência nenhuma

Porém, em todo caso, a crítica ao menos soava verossímil. Afinal, se os bálticos estavam indo tão bem, por que ainda não superaram as marcas alcançadas em 2007 ou 2008? 

Felizmente, este desesperado discurso keynesiano rapidamente passará para os livros de história: prevê-se queEstônia e Lituânia irão superar, em 2014, o PIB que apresentavam antes da crise, ao passo que a Letônia logrará tal feito entre 2015 e 2016. 

No entanto, há sim um número que parece ser ruim: as previsões de emprego. Em 2014, o número de pessoas ocupadas na Estônia será 4% menos do que o máximo alcançado antes da crise. Na Letônia, será de 14%, e na Lituânia, de 8%. Sendo assim, o êxito dos bálticos neste quesito pode parecer um tanto parco, algo que aparentemente poderia dar razão aos keynesianos. No entanto, há ressalvas. 

Podemos começar comparando os bálticos com a economia espanhola, a qual não irá de recuperar o nível de PIB alcançado antes da crise pelo menos até o final desta década, e cujo nível de emprego em 2014 será quase 20% inferior ao de 2007. Ou podemos também comprar os bálticos à Islândia, a menina dos olhos de Krugman e do resto dos keynesianos — país este que, em decorrência de sua acentuada desvalorização monetária, passou a ser um paradigma de como superar uma crise com prontidão —, e que, não obstante haver triplicado seu endividamento público, só irá recuperar o PIB alcançado antes da crise em 2016 (igual à Letônia e pior do que Lituânia e Estônia). Mais ainda: seu nível de emprego em 2014 será 8% inferior ao máximo alcançado antes da crise. 

Ademais, os dados de emprego dos bálticos, embora não sejam lustrosos, devem ser ponderados por sua evolução demográfica. Por causa de sua baixa natalidade e, principalmente, por causa de seus intensos movimentos migratórios, Estônia, Letônia e Lituânia já vêm perdendo sua população há 25 anos. Embora haja a tendência de se imaginar que as fortes emigrações que estes países vivenciaram nos últimos anos se deveram à crise econômica, a realidade é que essa influência foi meramente secundária. Por exemplo, na Letônia — que é o pior entre os bálticos em termos econômicos e que também é o país com a maior emigração —, o saldo migratório líquido apresentava uma saída média de 15.600 entre 1991 e 2007 e passou a apresentar uma média de 24.800 entra 2008 e 2012 (isto é, a perda anual de população via emigração durante os anos da crise não chegou a 0,5% dos cidadãos, uma porcentagem similar à apresentada pela Espanha em 2012). 

A emigração dos bálticos está mais vinculada a fatores políticos e étnicos: a população russa nestes três países foi reduzida em 40% nos últimos 25 anos, o que significa que quase metade da variação de população que estes países sofreram desde então decorreu deste movimento de russos. 

No entanto, contrariamente ao que gostam de afirmar seus críticos, esta queda da população não apenas não retira o mérito do milagre econômico dos bálticos, como na realidade o intensifica ainda mais: afinal, conseguir crescimentos econômicos intensos mesmo com um declínio demográfico é algo muito mais difícil. Por exemplo, a renda per capita da Lituânia já superou, em 2012, o auge alcançado antes da crise. A Letônia fará isso em 2014. Já a Islândia, por outro lado, só conseguirá tal feito em 2018, segundo as atuais previsões. 

Desta forma, portanto, se corrigirmos o emprego pela variação demográfica, obtemos um retrato mais representativo do ocorrido: o número de empregados em relação à população total na Estônia será, em 2014, de 47,6% em relação aos 49% de 2008; para a Letônia será de 43,8% em relação aos 46,3% de 2008; e para a Lituânia será de 39,2% em relação aos 37,8% de 2008. Compare isso à Espanha, que caiu de 45,4% em 2007 para 37,7% em 2014 ou com a muito keynesianamente admirada Islândia, que caiu de 52% para 46,6%. 

O que podemos concluir em definitivo é que os bálticos são um modelo de recuperação a ser seguidos por países como Espanha, Grécia ou Islândia, ou por todos aqueles países que ainda virão a enfrentar uma forte correção em suas economias que atualmente estão sendo atividades por bolhas creditícias. O segredo do sucesso é o mesmo de sempre: austeridade do setor público e liberalização do setor privado; mais poupança e investimento, e menos gastança; mais mercado e menos estado. 
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Fontes com dados completos e detalhados sobre EstôniaLituâniaLetônia e Islândia.
Veja também:

Juan Ramón Rallo é diretor do Instituto Juan de Mariana e professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri. Do site: http://www.mises.org.br/

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

OITO CONQUISTAS CAPITALISTAS DAS MULHERES

Já ouviu dizer que o pen drive e o email salvaram mais árvores que todas as campanhas doGreenpeace Independentemente do cálculo de quem economizou mais celulose, essa frase comunica uma mensagem mais profunda. O capitalismo opera de forma não-premeditada. As mudanças capitalistas se realizam sem a necessidade de discursos ou campanhas de conscientização. Mas elas mudam o discurso e a consciência de maneira definitiva. 

Não faz muito tempo, as mulheres ainda eram tratadas com inferioridade social e política. Repare estes anúncios do início do século XX: 

"Não se preocupe, querida, você não queimou a cerveja." 

"Meu voto você não terá. Eu não quero uma sufragista que dá sermões." 

Transformações sociais e políticas costumam acompanhar transformações econômicas. Não é porque a economia muda sem a necessidade de um movimento retórico estabelecido que suas conquistas devem ser ignoradas. Pelo contrário. As vitórias silenciosas do capitalismo merecem ser lembradas justamente porque não foram resultado de planejamento ou oratória. 

Segue a lista de 8 grandes conquistas femininas trazidas pelo capitalismo. 

1. A Revolução Industrial 






Ouvimos falar das péssimas condições que mulheres e crianças enfrentavam na indústria britânica do século XIX pelas páginas de Dickens ou pela boca do nosso professor de geografia. E às vezes nos esquecemos perguntar por que as mulheres escolhiam ir para as fábricas. Na verdade, as fábricas aumentaram a renda e a independência das mulheres. 


Voltaire notava que, por serem fisicamente mais fracas que os homens, as mulheres eram "pouco capazes de fazerem o trabalho pesado de marcenaria, carpintaria, ferragem ou arado". E que, portanto, "elas eram necessariamente delegadas com os trabalhos mais leves do interior da casa e, sobretudo, com o cuidado dos filhos". 

Ninguém acusa Voltaire de machismo. O que ocorria no século XVIII era uma falta de oportunidade para o trabalho feminino. Com as máquinas, as habilidades humanas mudam de valor. O capital deixa o trabalho menos braçal e mais intelectual, permitindo que as mulheres compensassem com neurônios o que lhes faltava em musculatura. Por ser mais produtivo que o trabalho rural, a renda dos trabalhadores industriais superou a renda do campo. Foi a revolução industrial que dinamizou o processo de emancipação econômica das mulheres. 

Veja aqui um artigo detalhado sobre a participação da mulher na Revolução Industrial. 

2. A invenção da bicicleta 






Mais barata e fácil de manter do que o cavalo, a bicicleta deu mais mobilidade às mulheres no final do século XIX. A National Geographic publicou The Wheels of Change só para contar a história feminina da bicicleta. Originalmente, havia bicicletas com os dois pedais do mesmo lado, para que as mulheres pudessem pedalar em seus vestidos longos e de múltiplas camadas de tecido. Com o passar do tempo, o ato de pedalar causou uma reimaginação do vestuário feminino. E permitiu que as mulheres se deslocassem com mais facilidade, seja para trabalhar, se educar, ou conspirar pelos seus direitos. 


A líder feminista Susan B. Anthony dizia que a bicicleta "fez mais para emancipar as mulheres do que qualquer outra coisa no mundo." 

3. A evolução da máquina de lavar 

"Salve a vida das mulheres", dizia a madeira que revestia as máquinas de lavar produzidas em 1907 pela Nineteen Hundred Company. O slogan é o título do livro de Lee Maxwell que conta a história da máquina de lavar. 


Lavar roupa em caldeirões ferventes de fato não era uma atividade muito segura. A automatização do trabalho doméstico aumentou o bem-estar feminino. A partir da máquina de lavar, outros utensílios começaram a realocar o espaço e o tempo das atividades femininas. A vida da mulher se torna mais segura — a cozinha dos tempos pré-industriais era o principal local de acidentes fatais entre as mulheres. E menos tempo em trabalhos domésticos permitiu às mulheres se educarem e investir em outras atividades, da arte à indústria. 

4. A comercialização das artes 





Berthe Morisot 

"O declínio do sistema de patronagem serviu de alavanca para as mulheres escritoras", diz Tyler Cowen em In Praise of Commercial Culture. "Os homens, que tinham conexões políticas e sociais, recebiam quase todo o patrocínio artístico." 


Ao poder depender diretamente dos consumidores, as mulheres podiam desenvolver sua arte sem precisar pedir licença ao fechado clube masculino. E a diminuição dos custos do material artístico, como tintas, pincel e telas, fez com que praticar arte fosse menos um privilégio da elite e mais uma questão de talento. 

5. O mercado publicitário 


Pode parecer frivolidade, mas o mercado de beleza abre oportunidades para a independência financeira das mulheres. Anne Applebaum lembra que "na União Soviética não havia mercado para a beleza feminina. As revistas de moda não exibiam mulheres bonitas porque não havia revistas de moda. Nenhuma série de televisão dependia de mulheres bonitas para aumentar sua audiência porque não se media a audiência." 


Quantas líderes femininas não alcançaram proeminência por causa do mercado publicitário? 


6. O anticoncepcional 

"Pela primeira vez na experiência humana, e talvez na própria natureza, um dos sexos passou a ter o controle sobre a produção de bebês", escreve Lionel Tiger em The Decline of Men

Os anticoncepcionais deram poder reprodutivo às mulheres. Antes da sua invenção, entre 30 a 50% das noivas se casavam grávidas. O declínio desse número significa que mais mulheres puderam planejar e escolher quem será o pai dos seus filhos. Os homens passaram a ter que mudar o comportamento com relação às mulheres para se tornarem merecedores da paternidade. Agora são os homens que estão reavaliando o seu declínio social. 

7. Acesso ao crédito 


Ainda hoje, as mulheres correspondem a 70% da população pobre do planeta. O acesso ao crédito é um dos instrumentos de enriquecimento das mulheres. 



Em boa operação, um sistema financeiro coloca pessoas com competência e boas ideias em pé de igualdade com pessoas que tem apenas o dinheiro. Novas modalidades financeiras, como o microcrédito, têm permitido que as mulheres se tornem mais empreendedoras, produtivas e participem do processo de desenvolvimento econômico de suas sociedades. 
8. A migração global 

Ayaan Hirsi Ali, emigrante somaliana e líder feminista global. 

Em boa parte do mundo, o dia internacional das mulheres gera mais lamentação do que celebração. De acordo com relatório da Freedom House sobre direitos das mulheres: 

A violência de gênero continua a ser um dos obstáculos mais graves para as mulheres no Oriente Médio. As leis que protegem as mulheres da violência conjugal estão ausentes na maioria dos países, o estupro conjugal não é criminalizado, e homicídios de honra ainda ocorrem e estão em ascensão no Iraque e na Palestina. As mulheres experimentam consideráveis ??obstáculos ao acesso à justiça devido ao seu baixo grau de alfabetização jurídica e à natureza patriarcal das sociedades. As mulheres também são significativamente sub-representadas em altos cargos na política e no setor privado. Em alguns países, elas estão completamente ausentes do judiciário. 

Às vezes a melhor maneira de escapar de uma sociedade com mínimas perspectivas de dignidade e liberdade é, de fato, sair de lá. Hoje o número de mulheres migrantes já equivale ao de homens. Grande parte delas migra para seguir ou reencontrar sua família. Mas o Fundo de População das Nações Unidas elenca outros motivos

Para estudar ou para adquirir experiência de trabalho e independência econômica, a fim de ganhar mais respeito dentro de sua família e da comunidade por causa da sua contribuição para o bem-estar…

Para escapar da discriminação de gênero e de normas constrangedoras de gênero, como a obrigação de se casar e ter filhos, ou a proibição de estudar e trabalhar. 

Mesmo quando voltam para seus países, as mulheres voltam transformadas e novas agentes de transformação. Como relata a migrante indiana Sushila Rai: 

Enquanto trabalhei em Hong Kong experimentei muitas coisas — a maneira como as pessoas tratam uma mulher, dependente ou independente. Ganhei muita experiência e minha confiança aumentou. Agora eu tenho voz ativa na tomada de decisão em casa. Meu marido não grita comigo. Eu comprei um pedaço de terra e quatro riquixás. Estou criando um meio de subsistência para outras quatro famílias. 

"A conquista capitalista não consiste tipicamente em prover mais meias de seda para rainhas", dizia o economista Joseph Schumpeter em 1942, "mas sim em trazer [meias de seda] para o alcance das meninas das fábricas em retorno a quantidades de esforço cada vez menores". As consequências dessas conquistas não protegem e adornam apenas os pés dessas meninas — acabam protegendo seus direitos e adornando suas vidas. 

Diogo Costa é presidente do Instituto Ordem Livre e professor do curso de Relações Internacionais do Ibmec-MG. Trabalhou com pesquisa em políticas públicas para o Cato Institute e para a Atlas Economic Research Foundation em Washington DC. Seus artigos já apareceram em publicações diversas, como O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo. Diogo é Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis e Mestre em Ciência Política pela Columbia University de Nova York. Seu blog: http://www.capitalismoparaospobres.com

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ASSÉDIO SINDICAL


Decididamente meu ouvido anda crítico demais, e para ajudar meus olhos não veem as coisas como há alguns anos atrás. O filósofo Heráclito puxar-me-ia pelos cabelos e diria: "Tolo! Não és o mesmo homem, nem estás no mesmo rio...” Mesmo que alguns me lembrem que trabalho com pessoas a quase 20 anos, entre programas de qualidade, certificações ISO, sala de aula, treinamento, recursos humanos e segurança no trabalho, eu não sou mais o mesmo e as circunstâncias que envolvem as pessoas e seu contexto também não são mais as mesmas. Não adianta reclamarmos queridos amigos de RH, líderes, gerentes e diretores, que os jovens desta geração são diferentes, não respeitam hierarquias, não dão a mínima para as “horripilantes” advertências. Para nós, os céticos da geração "X" ou os antecessores Baby Boomers, "levar gancho" e "assinar livro negro" funcionou barbaridade! Hoje não mais. Vamos mudar de estratégia para comprometer as pessoas, ou inventar de vez processos que não dependam de pessoas, como ouvi de um colega gerente de produção de uma empresa de São Paulo. Pode?! Pena que ainda “pode”.

Insisto em falar da mudança que estamos passando nesta geração, pois o problema está se estendendo inclusive nas esferas jurídicas, nas agremiações, igrejas e onde mais houver uma “tal” hierarquia estabelecida e um poder sendo exercido: Cabe uma reflexão de como este poder se movimenta, como ele envolve ou compromete seus liderados. Para ilustrar este pensamento, neste final de semana conversei demoradamente com um gestor de RH de uma empresa do norte do estado (SC) que me relatou um problema que está vivendo o sindicato dos trabalhadores do ramo em que sua empresa atua. Diz meu competente colega que o sindicato têm sofrido com uma baixa de ‘renda’ por conta da desistência sistemática de profissionais da contribuição ‘espontânea’ de um dia extra de trabalho da folha de pagamento das pessoas vinculadas àquela classe. Contou-me o colega que o sindicato têm pressionado as empresas acusando seus “RH´s” de retaliação ao sindicato, porém ignoram o fato de que dia após dia os novos ‘profissionais’ têm sido mais críticos, cobrando principalmente “retorno” de suas contribuições em forma de benefícios “palpáveis”. Desconto sem contrapartida companheiro... Esquece!! #tamufora diria a galera desta nova geração de profissionais aos sindicalistas da era dos dinossauros que pensam que basta um megafone e um discurso inflamado ao som de “...ala pucha tchê, não se assustemo...” para mobilizar esta gurizada high-tech.


O que mais pesou, em especial na empresa deste meu consternado colega, foi que no ano de 2012 houve um princípio de greve. Em assembleia, resultado apertado em favor da greve, os sindicalistas foram para frente da empresa e fecharam seu portão principal. Negociações acaloradas para garantir que algumas pessoas pudessem entrar e conseguir pelo menos avisar os clientes e tomar as medidas necessárias para manter a segurança na mesma, 15 pessoas foram autorizadas a entrar. No momento em que estes ‘companheiros’ perfilaram para passar pelo portão, um ‘corredor polonês’ se formou com sindicalistas acalorados que em gritos de ordem bradavam para outros colegas da fila polonesa que empunhavam algumas câmeras digitais: “Filma bem... bate foto aí... esses são os pelegos que não merecem aumento!!”

Disse o indignado gestor que depois foi procurado por alguns daqueles profissionais que declararam terem se sentido ameaçados pelos companheiros do sindicato, e questionaram se eles poderiam ter agido daquela forma, com câmeras e palavras de baixo calão. Para eles, isso seria assédio, certo? Tive que ‘tirar o chapéu’ para a resposta do meu amigo: “Fulano, assédio moral existe lei clara que pune a empresa e seus líderes, caso ocorra fatos semelhantes. Agora Assédio Sindical não existe amigo. Pode ir trabalhar tranquilo pois o que você acabou de passar na frente do portão não passa de lendas e estórias que a classe burguesa inventa para desmoralizar os movimentos sociais.” É estimado leitor, os tempos estão mudando. Para mim, vale a pena #ficarligado !!
Tenha e faça um ótimo fevereiro!
Por André Pais Topanotti – Criciúma/SC – 11/02/2014. 
Do site: http://www.andretopanotti.blogspot.com.br/

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

COMO A INTERNET NOS ENSINA OS BENEFÍCIOS DO LIVRE MERCADO

A World Wide Web foi inventada em 1992 pelo físico britânico, cientista da computação e professor do MIT Sir Tim Berners-Lee como um simples mecanismo de compartilhamento de artigos científicos entre seus colegas. A essencial e principal inovação da rede foi o uso do hipertexto — o mecanismo pelo qual, ao clicarmos em um link, normalmente uma palavra ou uma frase que aparece em destaque, fazemos automaticamente o download de um documento. Embora esta seja uma ideia muito simples, a rede mudou completamente o mundo em que vivemos. Seu surgimento e sua ascensão são também um esplêndido exemplo do que acontece quando o setor privado é deixado desimpedido e com plena liberdade para suprir as necessidades do mercado.

Apesar de sua grande complexidade e do seu rápido progresso ao longo dos últimos 10 anos, a internet e todas as pessoas que interagem através dela é um arranjo que funciona basicamente sem qualquer tipo de intervenção estatal. Os web designers (pessoas que elaboram o projeto estético e funcional de um website) não necessitaram de ajuda do governo para desenvolver as habilidades necessárias para criar websites cada vez mais complexos; os profissionais de tecnologia da informação não ficaram esperando por relatórios oficiais dizendo como e quando eles teriam de se adaptar às mudanças tecnológicas; e as empresas foram rápidas em oferecer toda uma gama de serviços — sempre em constante evolução — necessários para que a internet funcionasse harmoniosamente. 

Em outras palavras, o setor privado se adaptou à nova realidade; e se adaptou muito rapidamente. Os mecanismos do livre mercado fizeram aquilo que sempre fazem — se apressaram para satisfazer as demandas do consumidor. Isso se refletiu não apenas na ampla variedade de produtos disponíveis, mas também na rápida queda nos preços de praticamente tudo que diz respeito à internet. Dez anos atrás, ter uma página pessoal na internet era uma ideia cara, principalmente se você necessitasse de algo mais profissional ou refinado. Hoje, por meio de blogs ou serviços como o Facebook, é tudo gratuito. No geral, os custos de entrada — quando consideramos o custo do treinamento que era necessário há apenas uma década e que hoje acabou — não simplesmente caíram; eles evaporaram. Esse baixo custo de entrada permitiu que uma grande variedade de indivíduos e empresas comercializassem online, fornecendo substanciais opções para os consumidores. 

Embora o crescimento que temos visto da internet seja excepcional, trata-se apenas de uma versão mais rápida de algo que o capitalismo faz muito bem: satisfazer uma miríade de necessidades em uma sociedade diversa. É difícil imaginar um melhor exemplo do livre mercado em ação. 

Igualmente importante é o que não aconteceu. A internet está predominantemente à margem de controles governamentais, e fornece inúmeros exemplos de como a livre iniciativa pode empreender em larga escala tarefas que muitos estatistas alegam que podem ser feitas apenas pelo setor público. Rotineiramente ouvimos que a mão condutora do estado é necessária para a execução de projetos complexos. Porém, a própria internet em si, com seu incontável número de computadores interconectados, é uma das entidades mais complexas já criada pelo ser humano, e grande parte dela cresceu sem absolutamente qualquer tipo de planejamento. 

Similarmente, o governo sempre intervém quando julga haver algum perigo para o público — daí as regulamentações sobre o uso de remédios, as regulamentações sobre o mercado em geral e as leis antifraude. Porém, é evidente que a internet, como exemplo de um mercado relativamente livre, frequentemente derruba esses argumentos pró-intervenção. O crescente comércio de remédios online — de antibióticos até infindáveis propagandas de Viagra — demonstra a disposição de vários em obter suas próprias informações e em tomar suas próprias decisões, mesmo que isso traga algum risco pessoal. 

Estatistas frequentemente argumentam que o governo deve regular padrões e critérios. Porém, a internet em si foi toda construída utilizando padrões voluntariamente escolhidos e consentidos de maneira comum, padrões estes que permitem que qualquer navegador de internet decifre qualquer página publicada online. Novamente, houve poucas fontes centrais para que isso ocorresse; o mercado, na forma de web designers, programadores e usuários, escolheu voluntariamente quais métodos deveriam ser utilizados em comum para manejar a imensa variedade de diferentes websites, desde sites de publicação e transmissão de vídeos, passando por sites de compras virtuais até a própria formatação de textos utilizada. Nada disso requereu leis ou regulamentações, e seu progresso extremamente rápido foi voluntário e benéfico para todos. 

Inversamente, sempre houve tentativas de se criar por escrito padrões definidos e implementados por várias organizações virtuais, mas tais projetos sempre estiveram defasados em anos. A realidade da internet sempre progrediu mais rápido do que todas essas tentativas de planejamento central. A lição é simples: vários indivíduos e organizações interagindo com o público e operando competitivamente sempre irão continuamente desbravar uma miríade de alternativas, sendo esse um processo natural cujo resultado final será, por definição, um reflexo das escolhas diretas feitas pelas pessoas. 

A fraude é uma atividade criminosa que, justamente por ser criminosa, é vista como uma área natural em que o governo deve intervir. Porém, mesmo nessa área podemos ver como um livre mercado lida com essa atividade. Não obstante as vigorosas tentativas de fraudadores, o público em grande medida aprendeu a lidar com as fraudes online. E-mails spam são rapidamente deletados, e isso quando conseguem furar o bloqueio dos filtros anti-spam especialmente desenvolvidos por engenheiros de software e vendidos tanto para provedores de acesso à internet quanto para indivíduos. Empresas privadas em busca do lucro têm reputações a proteger, o que as estimula a declarar explicitamente aos seus consumidores que elas jamais se comunicam por meio de canais inseguros, como e-mails, e que elas só irão pedir informações confidenciais — como um número de cartão de crédito — quando houver um elaborado programa de segurança, como aqueles que existem em seus websites seguros e criados sob medida. 

Em outras palavras, o mercado se adaptou à realidade, em parte por meio de campanhas informativas visando à educação dos usuários, em parte por meio de mudanças voluntárias de comportamento. Uma coisa é certa: nenhuma intervenção governamental foi necessária. Porém, não é difícil imaginar uma proposta estatista visando a limitar os malefícios causados por e-mails fraudulentos e outras trapaças virtuais. Sem dúvida, isto envolveria uma série de regulamentações para tentar controlar aquelas pessoas que potencialmente poderiam mandar essas perigosas mensagens eletrônicas para pessoas inocentes e tecnologicamente ineptas. O tom da propaganda em prol da intervenção iria enfatizar a incapacidade das pessoas entenderem as complexidades dos sistemas online — daí a necessidade de qualificações e especializações aprovadas pelo governo. 

Uma das principais denúncias feitas pelos estatistas que querem controlar a internet diz respeito ao papel ostensivo que o governo deve ter em controlar o acesso a materiais perturbadores, como pornografia infantil ou encenações de estupro. A atual legislação sobre material impresso e televisivo é apontada como um exemplo dessa necessária intervenção; é claro que ela deveria ser atualizada para incluir também a internet, certo? Porém, em um livre mercado, bens e serviços são determinados pela demanda do consumidor, e a demanda por material obsceno nos moldes prescritos pela atual legislação é virtualmente inexistente. A internet em sua atual forma certamente abriga conteúdo ilegal, mas este não está prontamente disponível; ele tem de ser específica e exaustivamente caçado na deep web, e podemos assumir que tal conhecimento requer uma rede preexistente que não depende da internet. 

Aqueles que exigem mais regulamentação sobre a internet frequentemente declaram que seu objetivo é impedir que cidadãos desafortunados vejam acidentalmente esse tipo de pornografia extrema. O principal apelo é que temos de nos assegurar que os inocentes e ingênuos não encontrem por acaso esse material. Como dito, esse cenário ignora o fato de que o produto (no caso, o conteúdo virtual) é determinado pelo mercado. Conteúdos repreensíveis são difíceis de ser encontrados online pelo mesmo motivo que eles não são televisionados no horário nobre — porque quase ninguém quer vê-los. 

Essa alegação dos estatistas também ignora o ponto de vista dos provedores de conteúdo. Todo grande website que aceita conteúdo enviado pelo público possui estritas regras de governança que definem o que é considerado aceitável. Nenhuma empresa pode se dar ao luxo de se associar a qualquer coisa que o público considere desagradável, seja o conteúdo legal ou não. 

Muitas pessoas confundem seus sentimentos. Uma coisa é desejar que a lei seja aplicada; outra, bem diferente, é querer que o governo encontre uma maneira de tomar o controle de um meio de informação porque as pessoas o utilizam para propósitos ilegais. Isso é análogo a dizer que o estado deve controlar as ruas porque elas às vezes são utilizadas por assaltantes de banco. Ninguém levaria tal lógica a sério; entretanto, é exatamente essa a lógica por trás das propostas para o controle estatal da internet. 

Legislações criadas para proteger os usuários da internet contra exposições casuais a pornografia infantil de nada servem para impedir a produção e o armazenamento deste material online, pois isso já é ilegal e ocorre mesmo assim. Já os provedores de conteúdo, entretanto, têm todos os incentivos para controlar o acesso a esse material, pois dependem da boa vontade de sua audiência. Ou seja, o livre mercado fornece um método bem mais eficiente de regulação, pois os fornecedores de conteúdo têm fortes incentivos para se autorregularem baseando-se no fato de que a pornografia extrema é repugnante. Qualquer tentativa do estado de atacar essa reduzida e restrita área — como, por exemplo, instalando firewalls controlados pelo governo — significaria um ataque sobre todos nós. Mais ainda: o estado simplesmente utilizaria esse 'potencial para atividades ilegais' como desculpa para monitorar todos os cidadãos. 

O meteórico sucesso da internet é praticamente um exemplo clássico de livro-texto libertário sobre os benefícios dos mercados irrestritos. Quando as pessoas entendem que estão no controle e que suas atitudes têm influência, as coisas acontecem. O mercado fornece, e as pessoas escolhem de acordo com as opções. Quanto mais opções elas tiverem, mais concorrência haverá, e maior a probabilidade de nossas demandas serem atendidas. Ademais, indivíduos não são criaturas estáticas. Algo que 15 anos atrás era de domínio exclusivo de usuários com conhecimento avançado de computação tornou-se uma experiência simples e rotineira para muitos — algo não mais desafiador do que utilizar o telefone ou um forno microondas. 

Essa explosão no crescimento da internet deveria acabar de uma vez por todas com as críticas frequentemente feitas aos ideais libertários — que eles são uma fantasia porque não se pode confiar que cidadãos ignorantes interagindo com o setor privado irão atender às necessidades da sociedade, e que coisas importantes só podem ser manuseadas por aqueles que trabalham por um ideal elevado, e não pelo lucro. 

Há vários outros exemplos parecidos com o da internet, nos quais o governo não intervém ou não é capaz de intervir — e ainda assim (ou justamente por causa disso) as coisas funcionam muito bem. O sucesso da internet, e o claro papel desempenhado pelo público consumidor, que fez com que a internet se desenvolvesse de acordo com seus anseios, demonstra a capacidade da sociedade em conseguir o que quer de um livre mercado. 

Agora que começamos a ouvir murmúrios advindos da classe política sobre a necessidade de se regular a internet para nos proteger da pornografia, do jihadismo ou de qualquer tipo de fraude, é imperativo resistirmos a todo e qualquer apelo por mais controle estatal. Governos não são competentes para controlar nada, muito menos a internet. Sua intervenção lograria apenas diminuir nossa capacidade de fazermos nossas próprias escolhas. O estado quer retirar de nós a capacidade de tomarmos decisões de acordo com nossos gostos e preferências, direcionando arbitrariamente esse poder para a própria classe política, que então escolheria um modelo estatal qualquer de sua preferência. E tudo para nos proteger. 

Como a própria internet já demonstrou, qualquer proteção de que porventura necessitemos no futuro nos será rapidamente fornecida como que por mágica, precisamente porque um livre mercado responde diretamente às necessidades das pessoas. 
Gerard Docherty é designer de software e escreve sobre variados assuntos, dentre eles livre mercado, liberdades civis e tecnologia. Mora no Reino Unido.
Do site: http://www.mises.org.br/

domingo, 23 de fevereiro de 2014

POBRE VENEZUELA! TERÁ DE PIORAR MUITO ANTES DE MELHORAR!

Pobre Venezuela! Terá de piorar muito antes que melhore! Sofrerão mais, como sempre, os pobres e os vulneráveis. O leitor fique atento: tudo aquilo que as esquerdas reivindicam por aqui — inclusive as esquerdas do PT — foi rigorosamente cumprido na Venezuela: a radiodifusão foi estatizada; o estado decide plenamente os rumos da economia e determina o preço até do papel higiênico; os produtores rurais foram considerados sabotadores do socialismo, e o país praticamente parou de produzir alimentos; a esmagadora maioria dos pobres vive da caridade oficial disfarçada de programas de redistribuição de renda; o Poder Judiciário obedece às determinações do bando chavista, reunido num partido; leis eleitorais restritivas impedem que a oposição dispute a eleição em igualdade de condições com as forças do governo, e os pleitos nada mais são do que simulacros de eleições livres; há milícias ditas “populares” armadas, que mataram pelo menos três pessoas em manifestações recentes; mesmo o jornalismo impresso vive sob o chicote do governo, que controla o papel.


Observem como não há forças de esquerda no Brasil — pouco importa a sua coloração — que critiquem o modelo venezuelano. Se, por aqui, PSOL e PT vivem às turras para disputar fatias da opinião de esquerda, no que concerne à Venezuela, estão todos juntos. Tanto uns como outros sabem que o que se tenta construir por lá é “socialismo pela via eleitoral”, como se isso fosse possível. Como não é, o resultado é o que vemos.

A Venezuela quebrou, foi para o vinagre. A economia do país está destroçada. Os canais políticos de representação desapareceram. O esforço sistemático do chavismo para eliminar seus adversários acabou dando resultado: uma parte enorme da população se tornou estrangeira no seu próprio país. O poder se sustenta ainda na caridade oficial e se ancora em milícias armadas e nos setores mais corruptos das Forças Armadas, comprovadamente ligados ao tráfico internacional de drogas.

O país não está muito pior do que na reta final de Chávez. Mas agora não há nem mesmo a força encantatória (para quem se encantava, claro!) do “líder”. Nicolás Maduro é só um bronco, que tem o carisma de um joelho de porco. E exibe traços evidentes de psicopatia. Antevi certa feita que Chávez ainda terminaria amarrado em praça pública, pelos pés, como um Mussolini latino-americano. O destino se encarregou dele primeiro. Se Maduro continuar nessa toada, é o que acontecerá com ele — embora rescenda a certa covardia; talvez fuja primeiro.

Não custa lembrar: não fossem a fraude e a impossibilidade das oposições de ter acesso aos meios de comunicação, Maduro teria perdido a eleição.

A prisão do líder oposicionista Leopoldo López indica que as chances de haver uma saída política estão se estreitando. Reitero que qualquer tentativa de estabelecer conexões entre o que se passa na Venezuela e o que se dá no Brasil é uma tolice. Se a relação existe, é de contraste: os que hoje vão às ruas naquele país lutam justamente contra forças similares que tentam promover por aqui a baderna porque querem que os esquerdistas que estão no poder sejam ainda mais radicais.

Os estudantes venezuelanos, ao contrário, estão pedindo democracia, economia de mercado, instituições republicanas, respeito aos direitos individuais, pluralidade política e civilidade — tudo aquilo que a esquerda é incapaz de garantir porque não reconhece tais valores.

Por Reinaldo Azevedo

sábado, 22 de fevereiro de 2014

A IGUALDADE DE RENDA É MORALMENTE INDEFENSÁVEL E SEU LEGADO É HUMANAMENTE TRÁGICO

Em uma economia baseada na livre concorrência genuína, na qual não há favorecimentos governamentais, não há subsídios, não há tarifas de importação e não há regulamentações que visam a proteger determinadas empresas contra a potencial concorrência de novos entrantes, um empreendedor só conseguirá enriquecer e acumular uma grande fortuna se ele conseguir satisfazer de maneira contínua os desejos e necessidades de seus consumidores.

Para acumular sua fortuna, este empreendedor terá de conseguir obter uma alta taxa de retorno sobre seus investimentos e sobre seu capital. E, para conseguir isso — e também para se manter neste mercado à frente de sua concorrência —, ele terá de reinvestir continuamente a maior parte de seu lucro. 

Neste mercado competitivo, há duas maneiras deste empreendedor conseguir um grande lucro: criando produtos e serviços cada vez melhores, ou então produzindo os mesmos produtos e serviços a custos cada vez menores. Com o tempo, no entanto, a concorrência inevitavelmente irá imitá-lo e abocanhar sua fatia de mercado, o que fará com que os lucros deste empreendedor sejam reduzidos. 

Para que ele volte a aumentar seus lucros, ele terá de iniciar um novo ciclo de inovação. 

Por exemplo, para manter seus lucros, a Apple teve de, repetidas vezes, aprimorar seus produtos e inventar vários outros. Caso a Apple tivesse se acomodado, seus produtos — que inicialmente eram muito lucrativos — teriam se tornado obsoletos pela concorrência, e hoje estariam sendo vendidos com grande prejuízo. 

Neste cenário concorrencial, os altos lucros obtidos por empreendedores têm necessariamente de ser reinvestidos nos meios de produção utilizados para produzir estes próprios produtos nos quais são feitas as inovações — por exemplo, os lucros da Apple são reinvestidos para aprimorar e expandir a produção de produtos da Apple. 

Desta maneira, as fortunas empreendedoriais sob o capitalismo representam produtos cada vez melhores e mais baratos produzidos com o capital constituído por estas fortunas. As fortunas se originam nos lucros e são utilizadas como capital. Em ambos os casos, elas servem ao público consumidor. Elas também servem para pagar salários. 

A existência de fortunas sob o capitalismo beneficia a todos nós, seja na condição de compradores de produtos, seja na condição de vendedores de mão-de-obra. 

Isto é um arranjo moral por natureza. 

Sendo assim, o desejo de se impor uma igualdade de renda — ou, colocando mais suavemente, o desejo de se reduzir a disparidade de renda originada desta maneira — requer necessariamente o confisco dos lucros. Tal medida não apenas iria abortar a criação de fortunas, como também iria suprimir todo o progresso econômico. Defensores da igualdade de renda não entendem absolutamente nada de lucros, inovação, investimentos e capital. Eles genuinamente acreditam que riqueza é simplesmente um amontoado de bens de consumo. Os capitalistas, a quem eles desprezam, supostamente detêm uma grande fatia deste amontoado de bens de consumo. Logo, uma parte deste amontoado tem de ser confiscada e redistribuída para as massas famintas. 

Como consequência direta deste raciocínio, a imposição da igualdade de renda nada mais é do que uma política de confisco. O capital de uma parte da população deve ser confiscado, redistribuído e consumido — trata-se de um caso em que comer a semente dos cereais irá matar a todos de fome. 

Proponentes desta igualdade são deliberadamente ignorantes em economia. Eles são movidos pela inveja e pelo ressentimento, e não percebem que estão mordendo a mão que os alimenta. As bases de sua filosofia são o socialismo e o comunismo. Stalin e Mao são seus heróis. Inanição, campos de trabalho forçado, e democídio são o seu legado. 

Igualdade econômica imposta pela força não passa de assalto a mão armada, e termina necessariamente em escravidão. Imagine um país com 200 milhões de pessoas. Se a produção tivesse de ser igualmente dividida por esses 200 milhões de cidadão, qualquer indivíduo que duplicasse seus esforços iria receber apenas 1/200 milionésimos a mais. E qualquer pessoa que simplesmente parasse de produzir passaria a receber apenas 1/200 milionésimos a menos. É óbvio que, mediante estes incentivos invertidos, as pessoas iriam parar de produzir. E, para obrigá-las a voltar a produzir, o governo teria de impor quotas mínimas de produção sob a ameaça de severas penalidades (como foi feito na Ucrânia e na China de Mao). 

Por estas razões, igualdade econômica imposta pela força é um objetivo inerentemente imoral e cruel. 

Dado que as pessoas são naturalmente desiguais em quesitos como inteligência, ambição, ambiente familiar e disposição para o trabalho duro, elas jamais serão economicamente iguais. A igualdade econômica, vale a pena repetir, só pode ser alcançada se for imposta pela força, na forma de roubo e escravidão. 

Portanto, não basta apenas dizer que "igualdade econômica imposta pela força é um objetivo inerentemente imoral e cruel." É necessário dizer que a igualdade econômica é um objetivo inerentemente imoral e cruel porque só pode alcançado por meio da coerção, da violência e da escravidão. Não há outra maneira. 


Proponentes da igualdade econômica, tanto os conscientes quanto os inconscientes, são defensores da maldade. Seu objetivo é maléfico. Eles devem ser implacavelmente desmentidos ao dizerem que suas intenções são boas e nobres. É impossível haver boas intenções quando o objetivo almejado é perverso e nocivo. 

"Boas intenções" da parte de comunistas são tão sensatas e nobres quanto "boas intenções" da parte de assassinos e estupradores. Pelo menos, e ainda bem, nenhum apologista alega "boas intenções" de assassinos e estupradores quando eles cometem seus crimes. Mas "boas intenções" sempre são alegadas por comunistas quando eles assassinam suas centenas de milhões de vítimas

Nesta época amoral em que vivemos, aquilo que é perverso passou a ser visto como algo nobre. Dizer que você ama os pobres e quer fazer com que ricos e pobres sejam economicamente iguais é uma postura que lhe garante o certificado de pessoa sensata e bondosa. 

No entanto, o que de fato é alcançado por qualquer programa que imponha a espoliação dos ricos em prol dos pobres é a perpetuação da pobreza e criação de ainda mais pobres. Alegar amor aos pobres como justificativa para campos de trabalho forçado, inanição e chacinas é algo que vem ocorrendo há milênios. Já passou da hora de um basta. 

O bem para todos só é possível quando cada um cuida de sua própria vida e faz o bem para si mesmo, por meio da produção e das trocas voluntárias. Em uma troca voluntária, o vendedor beneficia não apenas a si próprio mas também o comprador. E o comprador beneficia não apenas a si próprio mas também o vendedor. 

A liberdade econômica é o único arranjo capaz de eliminar a pobreza. A liberdade econômica substitui a pobreza por uma criação contínua de riqueza. Mas a liberdade econômica jamais eliminará a desigualdade. É impossível abolir a desigualdade, pois se trata de uma característica inata. Cada indivíduo nasce diferente e, ao longo da vida, aperfeiçoa aptidões distintas. A igualdade só pode ser alcançada por meio da violência. E seu legado é a escravidão, a inanição e o democídio. 
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Para entender as reais causas das grandes disparidades de renda existentes no Brasil e em outros países do mundo, recomendamos os seguintes artigos: 


George Reisman é Ph.D e autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: www.capitalism.net. Seu blog georgereismansblog.blogspot.com

Tradução de Leandro Roque