segunda-feira, 11 de julho de 2016

PARIS SE TORNA UM GIGANTESCO ACAMPAMENTO DE MIGRANTES ILEGAIS

O partido Frente Nacional acusou a prefeita de Paris Anne Hidalgo de colocar as necessidades dos migrantes acima das dos cidadãos franceses. Em um comunicado, o partido assinalou que o número de pessoas sem-teto em Paris saltou 84% entre 2002 e 2012, mas que Hidalgo não mostrou interesse em amenizar o problema: 


Muito embora o acordo entre a União Européia e a Turquia, no tocante aos imigrantes, tenha diminuído temporariamente o fluxo da migração ilegal para a Grécia via Turquia, centenas de milhares de migrantes ainda estão a caminho da Europa. 

De acordo com a International Organization for Migration (Organização Internacional para a Migração), mais de 204.000 migrantes chegaram à Europa (principalmente da Grécia e Itália) nos primeiros cinco meses de 2016, mais do que o dobro do mesmo período de 2015. 

A Prefeita de Paris Anne Hidalgo anunciou planos para construir um "acampamento humanitário" próximo a uma das mais movimentadas estações de trens da cidade, para que milhares de migrantes ilegais a caminho da Grã-Bretanha possam "viver com dignidade".

Hidalgo, que tem frequentemente trocado farpas com o presidente francês François Hollande pela sua recusa em receber mais migrantes, assinala que seu plano de ajudar migrantes ilegais da África, Ásia e Oriente Médio é "dever do humanismo".

Críticos contra-argumentam que o plano de Hidalgo é uma artimanha cínica, que tem como objetivo se posicionar à esquerda do atual presidente, como parte de uma estratégia política de abocanhar a liderança do Partido Socialista das mãos de Hollande, cujos índices de rejeição atingem patamares recordes.

Em uma entrevista coletiva à imprensa realizada em 31 de maio, Hidalgo ressaltou que o acampamento será construído na região norte de Paris "próximo aos pontos de chegada dos migrantes". Ela estava se referindo ao Gare du Nord — uma das estações de trens mais movimentadas da Europa — de onde partem e chegam de Londres os trens bala da Eurostar.

Milhares de migrantes ilegais, muitos do Afeganistão, Eritréia e Sudão, se concentraram em um parque público próximo, o Jardins d'Eole e transformaram o lugar em uma enorme área invadida onde as condições de vida são sub-humanas. A área é tão perigosa que o governoclassificou-a de zona proibida (Zone de sécurité prioritaires, ZSP), ela se transformou em ímã para os traficantes de seres humanos que cobram dos migrantes milhares de euros por falsos documentos de viagem, para poderem seguir rumo a Londres.

Hidalgo ressaltou que o novo acampamento, que será construído em seis meses, seguirá o modelo do Grande-Synthe, um gigantesco acampamento para migrantes próximo da cidade portuária (francesa) de Dunkirk.

Grande-Synthe, moradia de mais de 2.500 migrantes ilegais esperançosos de alcançarem a Grã-Bretanha, foi inaugurado em fevereiro de 2016, depois que as autoridades francesas destruíram um acampamento provisório perto de Calais conhecido como a "Selva", de onde milhares de migrantes tentaram invadir o Eurotúnel na esperança de chegar a Londres.

A manutenção do Grande-Synthe custará aos contribuintes franceses €4 milhões (US$4,5 milhões) somente este ano, além de um estipêndio de €10 por dia para cada migrante abrigado no acampamento. Os contribuintes franceses provavelmente também pagarão pelo acampamento da Hidalgo, em Paris.

A Prefeita de Paris Anne Hidalgo anunciou planos para construir um acampamento para abrigar milhares de migrantes ilegais no centro de Paris, baseado no Grande-Synthe (foto acima), um acampamento que abriga 2.500 migrantes ilegais próximo da cidade portuária de Dunkirk. (Imagem: captura de tela de vídeo da AFP) 

Hidalgo, que já ameaçou abrir um processo contra o veículo de mídia americano Fox News por ele transmitir reportagens sobre zonas proibidas em Paris, parece não ter escrúpulos de transformar partes do norte de Paris em guetos para migrantes ilegais. "Paris não irá se furtar das suas responsabilidades enquanto o Mediterrâneo continuar sendo um cemitério de refugiados", ressaltou ela. "Eu não quero olhar no espelho daqui a 10 ou 15 anos e dizer: 'você era prefeita de Paris e você é culpada por não ter ajudado pessoas em perigo.'"

Hidalgo acrescentou que a "Europa e a França não estão à altura de sua história quando deixam de tratar estrangeiros com dignidade".

O programa de Hidalgo foi bem recebido por alguns, incluindo organizações humanitárias pró-migração e enfurecido outros, como a ministra da habitação francesa Emmanuelle Cosse. Ela salientou que já há abrigos suficientes para refugiados em Paris e que o comunicado de Hidalgo servirá somente para atrair mais migrantes ilegais para a cidade.

Em uma entrevista concedida à rádio Europe 1, Cosse ressaltou que "acampamentos não são a solução" porque eles representam a criação de guetos de migrantes onde a integração se torna impossível. Cosse realçou que mais de 1.000 migrantes ilegais acabaram de chegar ao Jardins d'Eole na semana desde que Hidalgo concedeu a entrevista coletiva à imprensa, totalizando em 2.300 o número de migrantes.

Uma análise política realizada pelo jornal Le Figaro de centro-direita postula que o programa de Hidalgo no tocante ao acampamento para migrantes é apenas a última de uma série de provocações que ela vem ensaiando, com o intuito de concretizar suas credenciais de esquerda como parte de sua estratégia de conquistar a liderança do Partido Socialista. O relatório diz que ela acredita que o Presidente Hollande perderá a reeleição em 2017 e que sua derrota abrirá caminho para a luta pela liderança entre Hidalgo e o Primeiro Ministro Francês Manuel Valls. Segundo o Le Figaro, Hidalgo está determinada a se tornar a candidata do Partido Socialista para Presidente da França em 2022.

Uma reportagem da rádio estatal France Inter descreve a rivalidade entre Hidalgo e Valls como uma "guerra de vida ou morte".

A ânsia de Hidalgo em se tornar a primeira presidente da França, poderá ser solapada pela líder do partido Frente Nacional, anti-imigração, Marine Le Pen, que já é uma das políticas de maior popularidade na França.

Segundo uma pesquisa de opinião publicada pelo jornal Le Monde em 1º de junho, 28% dos entrevistados responderam que votarão em Le Pen em 2017, 21% no ex-presidente Nicolas Sarkozy e 14% em Hollande. A pesquisa também mostra que em uma escala de 1 para 10, o índice de aprovação de Hollande é de 2,1.

O partido Frente Nacional acusou Hidalgo de colocar as necessidades dos migrantes acima das dos cidadãos franceses. Em um comunicado, o partido assinalou que o número de pessoas sem-teto em Paris saltou 84% entre 2002 e 2012, mas que Hidalgo não mostrou interesse em amenizar o problema:

"É profundamente escandaloso que a Prefeita de Paris Anne Hidalgo use dinheiro de contribuintes para alojar migrantes ilegais. Migrantes não deveriam ser alojados em hotéis ou em casas pré-fabricadas nos acampamentos de migrantes. Eles deveriam ficar em campos de detenção aguardando para serem levados de volta aos seus países de origem.

"O projeto de Anne Hidalgo é típico de uma classe política que está mais preocupada com migrantes do que com cidadãos, uma classe política que se esqueceu que o papel primordial dos líderes é, acima de tudo, cuidar em primeiro lugar de seu próprio povo".

Enquanto isso, os esforços da polícia francesa de desmontar acampamentos provisórios para migrantes se transformou em um jogo de whack a mole. Mais de 20 acampamentos foramdesmontados em Paris nos últimos 12 meses, mas sempre são reconstruídos em um espaço de semanas.

Em 2 de maio, a polícia esvaziou um acampamento provisório para migrantes sob a estação de metrô Stalingrad (próximo de Gare du Nord) depois que milhares de migrantes, brandindo barras de ferro e pedaços e madeira, se envolveram em uma batalha campal em 14 de abril. (Um vídeo da confusão com quatro minutos de duração pode ser visto no YouTube aqui). O acampamento já tinha sido esvaziado anteriormente em 30 de março.

Muito embora o acordo entre a União Européia e a Turquia, no tocante aos imigrantes, tenha diminuído temporariamente o fluxo da migração ilegal para a Grécia via Turquia, centenas de milhares de migrantes ainda estão a caminho da Europa.

De acordo com a International Organization for Migration (Organização Internacional para a Migração), mais de 204.000 migrantes chegaram à Europa (principalmente da Grécia e Itália) nos primeiros cinco meses de 2016, mais do que o dobro no mesmo período de 2015.
Por: Soeren Kern é colaborador sênior sediado em Nova Iorque do Gatestone Institute. Ele também é colaborador sênior do European Politics do Grupo de Estudios Estratégicos / Strategic Studies Group sediado em Madri. Siga-o no Facebook e no Twitter. Seu primeiro livro, Global Fire, estará nas livrarias em 2016.Original em inglês: Paris Becomes Massive Camp for Illegal Migrants
Tradução: Joseph Skilnik  Do site: http://pt.gatestoneinstitute.org/


domingo, 10 de julho de 2016

O "CHOCANTE DOCUMENTO" QUE MOLDOU O ORIENTE MÉDIO COMPLETA 100 ANOS


Mark Sykes (esquerda) e François Georges-Picot (direita).

O acordo Sykes-Picot que moldou e distorceu o Oriente Médio moderno foi assinado há 100 anos em 16 de maio de 1916. No documento, Mark Sykes do lado britânico e François Georges-Picot do lado francês, além da participação dos russos, alocaram grandes parcelas de território daquela região, ficando pendentes alguns detalhes, de menor importância, resultantes da derrota imposta à Tríplice Aliança na Primeira Guerra Mundial.

Sykes-Picot (nome oficial: Acordo da Ásia Menor), vale a pena lembrar, porque seus dois gravíssimos equívocos correm o risco de serem repetidos: um no tocante à forma e o outro à substância.

Forma: negociadas em sigilo pelas três potências imperiais européias, se tornou símbolo da perfídia européia. Não é de se admirar que a divisão do território central do Oriente Médio realizada secretamente pela Tríplice Entente, sem consultar seus habitantes, provocou uma reação de indignação (George Antonius, salientou em 1938: "um documento chocante ... ponto culminante da ganância ... uma trapaça inacreditável"). Sykes-Picot preparou o terreno para a proliferação de uma mentalidade conspiratória com profundas consequências que afetam a região desde então.

O acordo Sykes-Picot criou um mal-estar de medo em relação a intervenções externas, o que explica a generalizada inclinação de encontrar supostas motivações ocultas frente às manifestas. O que em 1916 parecia ser uma divisão inteligente de território entre aliados, na realidade abriu o caminho para um século de desconfiança, medo, extremismo, violência e instabilidade. Sykes-Picot contribuiu substancialmente para transformar o Oriente Médio na região enferma que é hoje.

Substância: em poucas palavras, a França ficou com a Síria e o Líbano, a Grã-Bretanha com a Palestina e o Iraque. Mas em termos operacionais não foi tão simples assim, já que as fronteiras, administrações e reivindicações conflitantes precisavam ser geridas Por exemplo, as forças francesas destruíram o que se acreditava ser o Reino Árabe da Síria. Em uma bela tarde Winston Churchill, divagando, inventou o país que hoje é conhecido como Jordânia. Sob pressão dos libaneses católicos, o governo francês aumentou o tamanho do Líbano às custas da Síria.

Mas o problema maior, é claro, era o imbróglio sobre o controle da área da Terra Santa ou Palestina, um problema que Londres complicou ainda mais por tê-la prometido de maneira impensada, tanto aos árabes (na correspondência de McMahon-Hussein de janeiro de 1916) quanto aos sionistas (na declaração de Balfour de novembro de 1917). Parecia que Londres não só vendeu o mesmo território duas vezes como também traiu tanto os árabes quanto os judeus, articulando (no próprio acordo Sykes-Picot) manter o controle sobre ela.

Visto a partir da perspectiva de um século depois, o acordo Sykes-Picot teve, poder-se-ia dizer, uma influência puramente maligna sem nenhuma contrapartida positiva. Ele plantou a semente para os futuros estados párias da Síria e do Iraque, a guerra civil libanesa, bem como a exacerbação do conflito árabe-israelense.

Em seu centenário, o principal feito do acordo Sykes-Picot, a criação dos estados sírios e iraquianos parece estar em frangalhos. Em um paralelo surpreendente cada um deles encolheu celeremente, transformando os poderosos estados totalitários de Hafez al-Assad e Saddam Hussein em três microestados. Ambos têm um governo central de orientação xiita apoiados pelo Irã; uma oposição sunita apoiada pela Turquia e pela Arábia Saudita; e uma força curda apoiada pelos Estados Unidos e pela Rússia.

Saddam Hussein do Iraque (esquerda) e Hafez al-Assad da Síria (direita) em 1979.

O Estado Islâmico (ISIS, ISIL ou Daesh) proclamou "o fim do acordo Sykes-Picot" quando eliminou os postos de fronteira ao longo da fronteira Síria/Iraque; ainda assim muitos observadores, incluindo eu, veem a ruptura desses dois estados párias em cinco miniestados, noves fora, como algo positivo, pelo fato dos estados pequenos serem mais homogêneos e menos poderosos do que os regimes antecessores.

Sykes-Picot nos deixa uma lição para os dias de hoje, uma singela e importante lição: as potências estrangeiras não devem procurar determinar unilateralmente o destino de regiões distantes e, acima de tudo, não clandestinamente. Isso pode parecer um aconselhamento antiquado ou óbvio demais, mas em uma época de estados falidos e anarquia, novamente as potências se sentem tentadas a resolver as coisas por conta própria, como fizeram na Líbia em 2011, onde suas intervenções fracassaram miseravelmente. Iniciativas dessa natureza podem estar no horizonte na Síria, Iraque e Iêmen. Mais além desses conflitos, Michael Bernstam da Hoover Institution defende redesenhar, de maneira abrangente, o "antiquado e artificial mapa" da região.

Não. Em vez de procurar impor a sua vontade em uma região sensível e anárquica, as potências deviam se conter e lembrar os autóctones da sua própria necessidade de assumirem suas responsabilidades. Em vez de tratarem os autóctones do Oriente Médio como eternas crianças, os estrangeiros deveriam reconhecê-los como adultos a ajudá-los a progredir. Somente assim, e com o passar do tempo, é que o volátil, brutal, e fracassado Oriente Médio poderá evoluir para algo melhor. Somente assim é que ele poderá superar o rasteiro legado do acordo Sykes-Picot.
Publicado no Washington Times.
Por: Daniel Pipes (DanielPipes.org, @DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum. © 2016 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.
Tradução: Joseph Skilnik  Do site: http://www.midiasemmascara.org/

sábado, 9 de julho de 2016

O FIM DA CONVIVÊNCIA HUMANA


Pessoas com convicções políticas e religiosas antagônicas podiam ter um elevado grau de convivência e até de amizade. Podiam falar de artes, de gastronomia, de relações humanas, de História e assim por diante. Podiam até falar de política e de religião desde que respeitassem as convicções alheias e não entrassem em provocações desnecessárias. Cheguei a ver militantes comunistas recordando a sua experiência do Partido para tentar compreender, por analogia, certos fenômenos que ocorriam na Igreja Católica. Não era preciso explicar a ninguém que a experiência do outro tinha sempre alguma analogia com a nossa, porque todos somos seres humanos e vivemos no mesmo mundo.

Mas hoje esta convivência natural entre os seres humanos é cada vez mais impossível. Os indivíduos formatados pela guerra cultural são pequenos nazis mergulhados na sua bolha de convicções, reacções e frases feitas. Só é possível conviver com eles concordando com tudo o que eles dizem, ou seja, não há mais diálogo, só há ressonância.

Não podemos falar com eles sobre artes, porque para eles não existe o ‘belo’, só existem convenções e acham que a verdadeira arte é a destruição metódica da tradição artística. Não é possível falar sobre gastronomia porque vêm os alimentos exclusivamente em termos de propriedades nutritivas ou começam a falar no sofrimento dos animais ou da “alimentação saudável”. Não dá para falar de relações humanas porque eles não acreditam que exista homem e mulher, nem acreditam na alma humana, acreditam apenas em papéis sociais, no animal humano como algo condicionado pelo ambiente ou como uma coisa determinada pela evolução. Não é possível falar de História ou de filosofia porque não acreditam que exista alguma verdade (dos factos ou da sua essência) a desvelar e acham que todo o discurso é apenas uma tentativa de influenciar o outro, porque é assim que eles mesmos usam a palavra.

Se falarmos de religião e política, aí o antagonismo é tal que quem tem um posicionamento contrário é como se deixasse de pertencer à espécie humana. Aliás, uma das características dos indivíduos mais “evoluídos” é terem redescoberto a crença primitiva de que os indivíduos dos outros grupos não são seres humanos. Fora da sua área de crença, só é possível falar com eles a respeito de matérias científicas, usando linguagem técnica rigorosa mas sem ter qualquer envolvimento pessoal com aquilo.

Os sujeitos criados na ‘tolerância’ e na ideia de que ‘é proibido proibir’ tornaram-se totalmente fechados ao outro. Não é que eles sejam realmente intolerantes, até porque a intolerância é uma atitude legítima em muitas situações. Eles são, na realidade, pessoas amputadas que não conseguem pensar ou sentir nada fora do covil onde se refugiaram. Eles são os orgulhosos prisioneiros na caverna de Platão, mas a imagem quase que perde o seu simbolismo e torna-se aterradoramente literal, porque os seus próprios movimentos físicos estão cada vez mais limitados e a sua visão pouco mais abarca do que sombras. Só existem palavras e o seu eco nas paredes da caverna.
Por: Mário Chainho  Imagem: Francisco de Goya (1746 - 1828) , Os Caprichos, gravura 42, "Tu que não podes ". Do site: http://www.midiasemmascara.org/


sexta-feira, 8 de julho de 2016

AMAZÔNIA, INTERESSES GLOBALISTAS E O PROJETO ELDORADO


1. O contencioso amazônico

A magia do ambiente amazônico é um estímulo ao sonho. O eldorado era o paraíso dos aventureiros ibéricos, que ansiavam pela cidade dourada perdida na floresta. Tornado pesadelo na vida real, o mito permaneceu como arquétipo no inconsciente coletivo, com a força latente do destino a desafiar o futuro.

Em depoimento perante a CPI da FUNAI no Mato Grosso do Sul, o jornalista Lorenzo Carrasco afirmou que o território amazônico possui recursos naturais equivalentes a duas Áfricas, mas grande parte dessa riqueza jaz em áreas que o país, voluntariamente, interditou à exploração econômica. Por isso, a questão ética: É justo sacrificar a geração atual para atender a demandas externas? Revelou, também, que o Brasil é o único país latino-americano que possui reservas indígenas.

Djalma Batista rotulou a Amazônia de “esfinge” tropical, devido aos enigmas ambientais da Hileia que ainda não encontraram resposta da ciência. Esse desconhecimento gera o dilema: explorar, com o risco de desequilibrar os ecossistemas, ou preservar, com risco crescente à soberania nacional?

O renomado professor paraense Armando Mendes alertou que: “O maior problema político da Amazônia é o seu vazio populacional”. Sem população, não existe atividade econômica, e, sem ela, não há presença do Estado. O território torna-se um imenso latifúndio improdutivo.

O povoamento da Calha Sul do Amazonas ocorreu durante o ciclo da borracha, atraído pela seringueira nativa “hevea brasiliensis”, uma espécie de alta produtividade. A Calha Norte, onde predomina a “hevea benthamiana”, uma espécie menos produtiva, permaneceu deserta. Formou-se um grande vazio entre os estados de Roraima e Amapá, com alto potencial de risco geopolítico.

É sintomático que, transcorrido um século do fim do ciclo da borracha, a Região ainda não tenha encontrado o rumo do progresso. Sua contribuição para o PIB nacional é menor do que 5%. A matriz econômica continua subdesenvolvida. A produção baseia-se no extrativismo e nos subsídios federais. A infraestrutura energética e de transporte e telecomunicações é precária. As transações internas são incipientes. Todos os estados amazônicos têm balanço fiscal deficitário, e a administração pública só sobrevive, graças às transferências obrigatórias da União.

A pobreza regional vem aumentando. Segundo o IBGE, já são 42% ou 11 milhões de pobres, no universo dos 24 milhões de habitantes da Amazônia Legal. Para agravar o desequilíbrio, uma migração rural contínua esvazia o interior. Atualmente, 80% dos nativos moram nas cidades, enquanto apenas 20% povoam o imenso deserto verde.

A comunidade nativa enfrenta uma contradição: depende inteiramente do tesouro federal, mas não pode dispor da própria riqueza natural para produzir. Pressões externas imperceptíveis ao grande público vêm impondo ao mapa da Hileia uma espécie de área de exclusão econômica, respaldada em legislação interna cada vez mais restritiva, que desestimula os investimentos, sufoca o agronegócio e estimula a migração rural e a consequente favelização das cidades.

O cientista amazonense Samuel Benchimol, ecologista e sociólogo, registrou veemente protesto: “A poluição maior é a da miséria”. (...) “Os anseios sociais da comunidade nativa não podem ser ignorados em favor de interesses exógenos”.

Portanto, a vida real demonstra que a carência fundamental da comunidade nativa é de progresso, isto é, de desenvolvimento econômico e social.

2. População e destino

A Bacia Amazônica é um sistema fechado, com vocação endógena. A estrutura de circulação, que tem no Grande Rio a sua coluna vertebral, favorece o controle do território e a unidade política. Não foi por outra razão que o colonizador português, de notória intuição geopolítica, administrou o Grão-Pará como Estado independente do Brasil, durante 207 anos.

A população formou-se em comunidades dispersas, durante o ciclo econômico das drogas do sertão, pela fusão de três raças, adquirindo caracteres psicossociais próprios. O colono português, de viés aventureiro, mesclou-se com a índia aldeada nas missões religiosas. O negro africano, distribuído em número limitado pelas companhias de comércio, deu a sua contribuição, embora menos significativa do que no resto do Brasil. A mestiçagem gerou uma sociedade altiva, guerreira e autodeterminada, que encontrou a sua catarse na Cabanagem. O contingente total, em 1830, foi estimado pelo barão de Guajará em 150 mil almas.

A população remanescente diluiu-se na torrente imigratória do ciclo da borracha, estimada em 150 mil nordestinos, além do fluxo de estrangeiros judeus, sírio-libaneses e outros. No século XX, o 2º ciclo da borracha, durante a 2ª Guerra Mundial, incorporou mais 45 mil imigrantes nordestinos à população regional. Paralelamente, houve crescimento vegetativo a uma taxa superior à da média nacional. As novas gerações perderam a combatividade original e a sociedade tornou-se mais acomodada.

A adesão histórica do Grão-Pará ao Brasil, em 1823, foi uma decisão voluntária e consciente, que se tornou definitiva, a despeito da polêmica que revestiu o processo de independência. Contudo, a vocação da Hileia alimenta a tendência geopolítica à autonomia, o que requer uma vigilância corretiva.

A política de preservar espaços vazios cria uma vulnerabilidade desnecessária. Na contingência de uma crise global das “commodities”, a abundância de água e recursos naturais no deserto verde pode fascinar novos aventureiros e atrair migrações em massa impossíveis de serem estancadas, como ocorre na China atual. Recentemente, o governo chinês deflagrou migrações internas para os desertos do Sinkiang e do Tibete, a fim de construir uma maioria populacional de etnia han e impor hegemonia sobre as minorias locais, uigures e tibetanas, invalidando suas possibilidades de autonomia.

3. Projeto Eldorado – Concepção geral

A miragem do Eldorado lendário pode ser convertida em realidade do futuro, se construída pelo trabalho contínuo das gerações nativas, à luz de um projeto nacional permanente.

O Projeto Eldorado deve traduzir-se em um conjunto criterioso de políticas públicas com potencial sinérgico, para deflagrar iniciativas do setor privado que lhe complementem o escopo, facultando alcançar a meta prevista.

A ideia é institucionalizar um corpo de diretrizes estratégicas, com a finalidade de reverter a matriz econômica extrativista e tornar a economia regional autossuficiente. O objetivo é a formação de um grande mercado na Amazônia brasileira, capaz de induzir atração gravitacional sobre as economias circunvizinhas, a despeito das hesitações políticas dos condôminos da OTCA.

A primeira premissa consiste em substituir o paradigma da “preservação ambiental” pelo da “sustentabilidade”, significando a preservação do equilíbrio ecológico pelo homem, que não pode ser considerado um intruso na natureza.

A segunda é a revisão do conceito de “interação indígena”, introduzido na Constituinte de 1988 pelo “lobby” do CIMI, a serviço do movimento indigenista internacional. Impõe-se recuperar o preceito tradicional de “integração do índio à comunhão nacional”, como previsto no Estatuto do Índio, a fim de atender ao anseio maior das comunidades indígenas: o acesso ao progresso. A existência de quase 70 % de mestiços na sociedade nativa indica o caminho natural a ser seguido e invalida as teses preservacionistas dos chamados “antropólogos da ação”.

A terceira é a da objetividade presumida. Devido à longa duração e aos altos investimentos, cabe prevenir possíveis desvios de rumo por influência política. O programa deve restringir-se, legalmente, à atividade produtiva e à geração de receita e rejeitar projetos que gerem despesa.

O empreendimento vai transcender uma geração, e a evolução estará sujeita a variáveis que limitam a visão à sua primeira fase, em que as transferências voluntárias da União deverão priorizar a infraestrutura de transporte, energia, comércio e telecomunicações e os setores da vocação produtiva regional.

As ações estratégicas serão sincronizadas, para alcançar os objetivos intermediários abaixo discriminados, por campo de atividade.

a. Infraestrutura

- Conectar, fisicamente, o território brasileiro a todos os países condôminos da Pan Amazônia, inclusive, nas fronteiras indígenas e de proteção ambiental.

- Interligar os centros estratégicos regionais, em condições adequadas ao transporte intermodal de carga e passageiros. Especificamente, priorizar os seguintes projetos: revitalizar o transporte hidroviário; restaurar e pavimentar a rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho); pavimentar a rodovia BR-163, para interligar o Centro-Oeste (Cuiabá) e o Médio Amazonas (Santarém).

- construir a ponte sobre o rio Amazonas na região de Óbidos, com estrutura adequada ao tráfego rodoferroviário e à transmissão de energia e dados, a fim de integrar a Calha Norte à região de Santarém.

- completar a pavimentação e as obras de arte da rodovia transamazônica. É falso o noticiário de que essa estrada degrada o ecossistema amazônico, pois o seu traçado desenvolve-se na faixa de transição entre os ecossistemas da Hileia e do Cerrado.

- regular o fluxo rodoviário regional, com a presença permanente da Polícia Rodoviária Federal em todas as rodovias federais.

b. Produção

- Racionalizar, cientificamente, a exploração das culturas típicas com potencial de marcado, como o açaí, o guaraná, a castanha e as frutas tropicais.

- Zonear as áreas prioritárias ao manejo e produção florestal.

- Vitalizar o mercado regional da pesca.

- Recuperar a destinação estratégica do antigo programa POLAMAZÔNIA em bases mais objetivas e realísticas, aproveitando a vocação geoeconômica de Belém como entreposto de comércio internacional; de Manaus, como centro regional; de Vilhena e Porto Velho, como entrepostos entre a região Centro-Oeste e a Amazônia; e da região Acre/Rio Branco, como entreposto internacional entre o Brasil e o Oceano Pacífico. E desenvolver os polos estratégicos de Oriximiná, Tefé e S. Gabriel da Cachoeira, a fim de ampliar a fronteira econômica regional. Para isso, construir o complexo hidrelétrico do rio Trombetas, a fim de prover energia para o médio Amazonas, a cidade de Manaus e a industrialização do alumínio; explorar as jazidas de petróleo e shale gas da região de Urucu e os minerais estratégicos da região dos Seis Lagos, na reserva Yanomami.

- estabelecer um programa agropecuário, voltado a todos os polos urbanos, visando à autossuficiência local em produtos hortifrutigranjeiros. Especificamente ao polo de Belém, completar o sistema de circulação interna da ilha de Marajó, inclusive a ligação dos rios Anajás e Afuá.

c. Ciência e Tecnologia

- Vitalizar as atividades de pesquisa, desenvolvimento e extensão rural voltadas ao solo, à água e à flora, destinadas à racionalização da agricultura, da silvicultura, da fitoterapia e da aquicultura. Para isso, integrar e ampliar a comunidade científica dos institutos de pesquisa de Manaus e Belém (INPA, EMBRAPA, EMÍLIO GOELDI e outros) e fomentar o aproveitamento comercial da biodiversidade ambiental.

- Vitalizar as atividades de pesquisa, desenvolvimento e extensão rural voltadas ao solo, à água e à flora, destinadas à racionalização da agricultura, da silvicultura, da fitoterapia e da aquicultura. Para isso, integrar e ampliar a comunidade científica dos institutos de pesquisa de Manaus e Belém (INPA, EMBRAPA, EMÍLIO GOELDI e outros) e fomentar o aproveitamento comercial da biodiversidade ambiental.

- Erradicar as moléstias tropicais que flagelam a população nativa. Para isso, vitalizar e integrar os centros de pesquisa científica sediados em Manaus e Belém e estender as pesquisas de campo às regiões endêmicas, visando à produção de vacinas e medicamentos de ponta.

d. Integração social

- Criar programas de nutrição, saúde e educação específicos para os indígenas da Faixa de Fronteira. Mediante alterações na legislação, atribuir tratamento preferencial aos índios para ingresso no serviço público dessas áreas remotas, priorizando o seu recrutamento como técnicos de saúde, vigilantes sanitários, fiscais de órgãos federais e outros serviços. Para isso, formar mão-de-obra indígena destinada à assistência social às suas próprias comunidades.

e. Defesa

- Aumentar a presença militar no território, consoante o planejamento das Forças Armadas, e recuperar o seu tradicional poder de polícia em toda a Amazônia Legal.

f. Relações Exteriores

- Vitalizar as atividades diplomáticas e de inteligência estratégica junto aos centros decisórios do movimento indigenista-ambientalista internacional, antecipando providências e neutralizando as suas campanhas midiáticas. Simultaneamente, “quebrar o braço nacional” desse mesmo movimento, por meio de um controle estrito sobre as ONGs internacionais que operam no Brasil e suas subsidiárias nacionais. Essa estratégia implica estancar as transferências de recursos públicos para as ONGs indigenistas e ambientalistas, amparadas no Termo de Parceria previsto no Art. 2º da Lei das OSCIPs (Lei 9790, de 23 de março de 1999).

4. Epílogo

A indecisão política, agravada pelas pressões externas, tem postergado indefinidamente a solução dos problemas amazônicos. Enquanto isso, cresce a população, potencializam-se as carências e esvai-se a esperança.

Em âmbito internacional, há uma estranha convergência de interesses socialistas e capitalistas sobre a Amazônia, em conspiração contra a soberania brasileira, fazendo com que grupos de aguerridos militantes de esquerda batalhem por objetivos inconfessáveis da elite capitalista global.

O alerta de Euclides da Cunha, feito no auge do ciclo da borracha, permanece a ecoar, clamando pela atenção das novas gerações. Do ponto de vista geopolítico, procrastinar a questão em meio a uma ordem mundial instável pode ser temerário, por preservar estoques de minerais em extinção em um mundo carente e áreas férteis desabitadas com mananciais de água potável devoluta em meio a pressões demográficas globais.

Igualmente perigoso é sufocar a liberdade de ação da comunidade nativa, com uma legislação ambiental e indígena draconiana. Essas servidões, artificiais e desnecessárias, podem despertar a consciência autonomista e o espírito guerreiro latentes no inconsciente coletivo, desde o final da Cabanagem.

Como resposta singela a essas preocupações, este trabalho sintético visa a contribuir com uma agenda de propostas específicas para a conscientização patriótica e a tomada de atitude em torno de um tema nacional tão candente.
ESCRITO POR GEN. MAYNARD MARQUES DE SANTA ROSA | 22 JUNHO 2016 
ARTIGOS - GLOBALISMO Do site: http://www.midiasemmascara.org/

quinta-feira, 7 de julho de 2016

QUEM IRÁ ESCREVER O FUTURO DA FRANÇA?


Os livros sugerem que o clima de pânico já passou, sendo substituído por uma época de graciosa capitulação.

Dois romances franceses de grande repercussão, diferentes quanto ao tom e ao timing, retratam duas influentes visões da França no futuro. Não se trata apenas de boa leitura (ambos já foram traduzidos para o inglês), juntos eles estimulam o pensamento sobre a crise da imigração no país e as mudanças culturais.

Jean Raspail (1925-) imagina a invasão racial vinda pelo mar, por meio de jangadas e botes partindo do subcontinente indiano navegando vagarosamente, inexoravelmente rumo ao sul da França. Em Le Camp des Saints (O Campo dos Santos, 1973), ele primordialmente documenta a impotente reação francesa, tomada pelo pânico, à medida que a horda (palavra usada 34 vezes) "continua engrossando ainda mais suas fileiras".

É uma perfeita fantasia antiutópica sobre a raça branca e a vida européia que corresponde aos receios articulados por ninguém menos que Charles de Gaulle, o principal político da França pós-guerra, que dava cordial acolhimento a cidadãos franceses não brancos, "desde que permanecessem uma pequena minoria. Senão, a França deixará de ser a França. Afinal de contas, somos todos, acima de tudo, um povo europeu de raça branca".

Camp também antecipa a noção da "Grande Substituição" (Le Grand Remplacement) conceitualizada pelo intelectual francês Renaud Camus, que antecipa a rápida substituição "do histórico povo do nosso país por povos de origem imigratória que são em grande medida não europeus". É o mesmo receio, a grosso modo – dos imigrantes passarem o povo francês autóctone para segundo plano e se apoderarem do país – que inspira o partido Frente Nacional, que já atinge índices de 30% dos votos nas pesquisas de opinião e continua crescendo.


Michel Houellebecq (1956-) conta a história, não de um país (França), mas de um indivíduo (François) em estado de Soumission (Submissão, 2015). François é um professor já cansado, decadente, do movimento decadente da literatura francesa. Ele não tem família, amigos nem ambição; embora tenha somente quarenta e poucos anos, sua vontade de viver se deteriorou e chegou ao tédio a ponto de se alimentar de pratos prontos e uma sucessão de troca de parceiros sexuais.

Quando um político muçulmano, ostensivamente moderado, inesperadamente se tornar presidente da França em 2022, uma série de mudanças radicais na vida francesa tomarão forma rapidamente. Em uma guinada, o que começa de forma sinistra (um corpo em um posto de gasolina) mais do que depressa se torna em algo bom (deliciosa comida do Oriente Médio). Atraído por uma boa e recompensadora oferta de trabalho com a vantagem poder conhecer e casar com várias estudantes, todas cobertas com véus, François imediatamente abandona seus antigos costumes e se converte ao Islã, que lhe promete recompensas de uma vida suntuosa, exótica e patriarcal.

Se por um lado o romance de 1973 nunca menciona a palavra Islã ou muçulmano, em contrapartida o romance de 2015 se atem às duas – começando pelo título: Islã que em árabe significa "submissão". Da mesma forma, o primeiro livro tem como foco a raça enquanto o segundo praticamente não toma conhecimento dela (a prostituta favorita de François é do Norte da África). A tomada de poder da primeira obra termina de forma diabólica, a outra de forma agradável. O primeiro livro é um tratado político apocalíptico disfarçado de entretenimento, o segundo apresenta uma visão literária e sardônica no tocante à perda da força de vontade sem também expressar qualquer ânimo em relação ao Islã ou aos muçulmanos. O primeiro documenta uma agressão o segundo um consolo.

Os romances capturam duas importantes e praticamente contraditórias correntes do pós guerra: a atração exercida pela Europa livre e rica nos povos remotos e empobrecidos, principalmente muçulmanos; e a atração de um Islã vigoroso em vez de uma Europa pós cristã enfraquecida. Em ambos os casos, a Europa – apenas 7% do território mundial, contudo a região dominante por cinco séculos, de 1450 a 1950 – está prestes a perder seus costumes, cultura e convenções sociais, se tornando uma mera extensão ou até dependente do Norte da África.

Os romances sugerem que a alarmante preocupação expressada décadas atrás (multidões de pessoas furiosas e violentas de pele escura) se torna lugar comum e até benigna (as universidades do Oriente Médio pagam salários mais altos). Sugerem que o clima de pânico já passou, sendo substituído por uma época de graciosa capitulação.

Uma visão do futuro que já passou.

Camp causou furor na Direita quando do lançamento do livro, os dois livros, no entanto, abordam temores muito mais disseminados nos dias de hoje; a republicação de Camp em 2011 saltou para o topo da lista de best sellers na França e Submissão simultaneamente se tornou o best seller nº 1 quatro anos depois na França, Itália e Alemanha.

Um hiato de quarenta anos separa os dois livros; se saltarmos mais 42 anos, que tipo de história poderá contar um romance futurista publicado em 2057? Intelectuais como Oriana Fallaci, Bat Ye'or e Mark Steynassumiriam a vitória do Islã e a caça aos poucos remanescentes franceses da fé cristã. Minha previsão, no entanto, é praticamente contrária a essa: um relato que assume o fracasso da grande substituição de Camus, imaginando a violenta repressão aos muçulmanos (nas palavras de Claire Berlinski) "liberando os franceses da ofuscação da história européia" acompanhada pela reafirmação nativista francesa.

Publicado no The Washington Times.
O Sr. Pipes (DanielPipes.org@DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum. por Daniel Pipes © 2016. Todos os direitos reservados. Tradução: Joseph Skilnik  Do site: http://www.midiasemmascara.org/

terça-feira, 5 de julho de 2016

CIÊNCIA E DEMOCRACIA NOS EUA: ANALISE DE YUVAL LEVIN


Um livro de grande importância para os estudiosos da biopolítica, com interessantes descrições que podem auxiliar numa interpretação de nossa realidade brasileira.

Yuval Levin é membro do Centro de Ética e Políticas Públicas, onde atua como diretor do Programa de Bioética e Democracia Americana. É o editor sênior do Periódico New Atlantis, que trata de biotecnologia e bioética. Serviu como diretor-associado da Casa Branca para o Conselho de Política Interna e diretor executivo do Comitê Presidencial de Bioética. Escreve para diversas publicações de grande porte como o New York Times, o Wall Street Journal, Commentary, National Review e outros.

Em seu livro, Yuval trata da pretensão baconiana de controlar a natureza e de como tal anseio subsiste dentro do espectro político dos Estados Unidos. Mostra que a classificação desejada pelos liberais (esquerda), na qual progressistas apoiam a ciência e conservadores caminham contra seu desenvolvimento é uma simplificação grosseira.

Seu argumento revela algumas realidades que negam a pretensão de aliar determinado espectro político com o atraso ou o progresso da ciência, e exibe alguns problemas que tanto a direita quanto a esquerda deverão resolver.

No primeiro capítulo o autor fala do desafio moral representado pela ciência e da responsabilidade que temos diante do passado, do presente e do futuro em avançarmos com cautela.

No segundo capítulo, o autor trata de como essas tecnologias se inserem e dizem respeito à vida cotidiana de todos nós, e mostra questões de grande importância que definirão toda a civilização e direcionarão nosso futuro, como a clonagem e a manipulação genética de nossos filhos.

No terceiro capítulo, o autor reflete sobre a divisão entre as humanidades e a ciência, e de como essas duas culturas não podem ser vistas em separado, mas devem colaborar uma com a outra a permitir um progresso seguro e, portanto, responsável.

No quarto capítulo, Yuval fala de algumas visões de como nosso futuro poderá ser, abordando os temas relacionados ao transumanismo e ao progresso imprevisível perante o qual avançamos.

No quinto e sexto capítulos o autor trata de como a direita e a esquerda enxergam e lidam com a ciência nos Estados Unidos, traçando um cenário muito mais complexo do que a maioria das pessoas ousa pensar.

A esquerda americana, sempre defendendo ocupar a posição de promotora da ciência e do projeto baconiano de controle sobre a natureza para aumentar a liberdade do ser humano, agora está em um embate interno ao querer abraçar um ambientalismo que, de regra, busca limitar a ação do homem sobre a natureza. 

A direita americana, defensora dos costumes e do decoro, vê-se numa posição de crítica à ciência baseada no exercício de uma agressiva análise do discurso e dos pressupostos dos cientistas, trazendo à tona os mais desconfortáveis e escandalosos assuntos com uma metodologia desenvolvida e aplicada inúmeras vezes pela mais questionadora e agressiva parte da esquerda.

Este é um livro de grande importância para os estudiosos da biopolítica, com interessantes descrições que podem auxiliar numa interpretação de nossa realidade brasileira.

Prof. Dr. Hélio Angotti Neto, autor do livro A Morte da Medicina, é coordenador do Curso de Medicina do UNESC, diretor da Mirabilia Medicinæ (Revista internacional em Humanidades Médicas), membro da Comissão de Ensino Médico do CRM-ES, visiting scholar da Global Bioethics Education Initiative do Center for Bioethics and Human Dignity em 2016, membro do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC e criador do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina, SEFAM - www.medicinaefilosofia.blogspot.com.brDo site: http://www.midiasemmascara.org/

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Violeiros do Mundo by Marcus Biancardini

BREXIT - A DEMOCRACIA EM TODA A SUA BELEZA E GRÓRIA


Este resultado deveria enviar uma mensagem clara a todo político e burocrata: não ouse a subestimar o povo; não presuma que eles pensam do mesmo modo que você.

Considere a magnitude do que acabou de acontecer. Contra as advertências de experts, os apelos da ampla maioria dos Membros do Parlamento, os desejos de quase todo capitalista, e propostas de Bruxelas, a maioria do povo britânico disse NÃO à União Europeia. Eles fizeram a coisa que quase todos com poder e influência lhes disseram que eles não deveriam fazer: dar um salto no escuro; preferiram o demônio que não conhecem ao conhecido; assumiram um risco enorme e emocionante sobre o verdadeiro caráter de sua nação. Eles – permita-nos dizer – rebelaram-se, e rebelaram-se contra virtualmente todo o espectro político do establishment.

Você não tem que ser partidário do ‘Leave’ (Sair) para admirar isto (embora ajude, é claro, se você for). Você apenas tem que ser a favor da democracia. Você apenas tem que acreditar que é uma boa ideia confiar grandes decisões políticas ao povo. Pois isto é democracia em ação, em toda a sua confusão, beleza e glória perturbadora da ordem. Observe a perseverança das pessoas comuns, sua disposição em agir por sua convicção mesmo em face de ameaças e críticas de pessoas com poder. Ouvimos muito estes dias a respeito de quão ingênuo o público é, que suas mentes são maleáveis como massa, massinha de modelar nas mãos de demagogos. E contudo ontem, o povo pensou por si mesmo; eles pesaram as coisas e decidiram rejeitar a sabedoria recebida e o consenso de Westminster/Washington/Bruxelas. Tal independência de espírito, tal liberdade de pensamento, são inspiradores, certamente.

É claro, alguns já estão sugerindo que o comportamento dos eleitores foi precipitado e insensato e podem ter sido ludibriados por Boris ou Murdoch. Keith Vaz diz que ‘votamos emocionalmente ao invés de considerarmos os fatos’. Como antropólogos estudando uma tribo desconhecida, os analistas políticos estão atualmente congestionando a TV e o Twitter com suas teorias por que as pessoas votaram deste modo: estão assustados, sentem-se inseguros, estão inquietos a respeito da imigração. Poucos parecem querer aceitar que as pessoas simplesmente fizeram um julgamento racional, considerado, sobre a União Europeia. As pessoas comuns, que podem não ter PhDs, ler o The Guardian ou não saber absolutamente tudo sobre como a UE funciona (mas então, quem sabe?), decidiram que não querem estar amarrados a Bruxelas. É isso. Não deveríamos deturpar, ou demonizar, ou deslegitimar isso dizendo que é uma expressão criptografada de ódio ou confusão, pois isto é rebaixar a democracia. Foi feita ao povo uma simples pergunta, e eles deram uma resposta inspiradora.

Este resultado deveria enviar uma mensagem clara a todo político e burocrata: não ouse a subestimar o povo; não presuma que eles pensam do mesmo modo que você; não ouse subestimar a capacidade deles de pensar sobre as coisas e discuti-las e livrar-se de ideias e sistemas políticos dos quais eles não gostam. Haverá bastante tempo para as análises de como a Grã-Bretanha votou, para lágrimas entre os partidários do ‘Remain’ (Ficar), e celebrações entre os partidários do ‘Leave’ (Sair); mas por hora, maravilhemo-nos com o fato de que a democracia funciona, de que a democracia é poderosa, e de que o povo pode pensar por si mesmo. É raro que a política me dê um nó na garganta, mas hoje ela o fez, porque gerações de pessoas lutaram e morreram pelo direito que acabamos de exercer – o direito de determinar o destino de nossa nação e mudar o mundo.
Por: Brendan O'Neil, “This is democracy in all its beauty and glory”. The Spectator. 24 de junho 2016.
Tradução: Flávio Guetti
Revisão: Hugo Silver

http://tradutoresdedireita.org  Do site: http://www.midiasemmascara.org/

sexta-feira, 1 de julho de 2016

POR QUE TEM GENTE BOA E GENTE MÁ?


Matemáticos do Reino Unido criaram um modelo de computador que mostra que algumas pessoas podem ser geneticamente programadas para o bom comportamento, enquanto outras, devido a características do DNA se tornam más.

Tem sido aceito que a maioria dos mamíferos, exceto seres humanos e alguns primatas superiores, não estão dispostos a ajudar os seus semelhantes e não suportam amizades fora de seus bandos. Nos últimos anos os cientistas têm realizado muitos "testes de altruísmo", envolvendo chimpanzés e outros macacos, bem como bebês e crianças.


Alguns dos experimentos mostraram que os macacos são capazes de ajudar os outros desinteressadamente, outros confirmaram "o egoísmo animal" dos primatas. Por outro lado, as crianças recebem um sentimento de altruísmo já aos 15 meses, indicando a extrema importância de tais traços psicológicos, da capacidade de ser gentil com os outros, para a evolução e sobrevivência da humanidade. Por esta razão, os cientistas estão tentando ativamente entender o que faz as pessoas ajudar seus próximos estudando o comportamento de diferentes animais e até bactérias.

Sasha Dall da Universidade de Exeter (Reino Unido), matemático por formação, e seus colegas dizem que eles conseguiram criar um modelo matemático que explica a existência não só de pessoas boas, mas também de pessoas más na nossa sociedade, examinando o comportamento de formas "coletivas" de micróbios.

Segundo dizem os cientistas, na nossa sociedade e entre os animais existem tanto aproveitadores claramente definidos, quanto altruístas que habitam de forma relativamente pacífica uns com os outros, apesar da exploração cruel dos bonachões pelos papa-jantares. Na sua existência, como acreditam os autores do artigo, estão envolvidos fatores genéticos que empurram a pessoa no sentido do egoísmo ou do altruísmo.

© SPUTNIK/ MIKHAIL MOKRUSHIN

O modelo preparado por Doll e seus colegas mostra que esse comportamento pode realmente ser determinado por diferenças na estrutura de um ou mais genes, e que todas as características da interação e do modo como se comportam as pessoas geneticamente boas e más podem ser reproduzidas em computador, incluindo a "coexistência pacífica" de uns com os outros.

"A teoria da evolução social nunca levou em conta a possibilidade de o nosso comportamento poder ser afetado pelo polimorfismo genético e mutabilidade. Nós desenvolvemos um modelo que nos permitiu testar e provar isso, e agora esperamos confirmar estes resultados de modo experimental, no decurso de experiências com animais ou micróbios ", conclui Olof Leimar da Universidade de Estocolmo (Suécia).

© flickr.com/ Carole Raddato
06:17 25.06.2016(atualizado 06:18 25.06.2016) URL curta
019340
O artigo foi publicado na revista PLoS Computational Biology.
Do site: http://br.sputniknews.com/

quinta-feira, 30 de junho de 2016

MERCOSUL X BRASIL


VAMOS LUTAR POR NOSSO BREXIT AGORA: O BRASIL FORA DO MERCOSUL

“Inesperada vitória do Brexit”. “Inesperada goleada do Trump nas primárias republicanas”. “Inesperado surgimento de Bernie Sanders”. “Inesperados ataques terroristas islâmicos no Ocidente”. “Inesperada derrota de Obama na lei de imigração”. “Inesperado prolongamento da recessão no Brasil”. Boa sorte para você que ainda tenta se informar com a velha imprensa. – Alexandre Borges

A vitória “inesperada” da saída do Reino Unido da União Europeia, em plebiscito popular, mostra como os representantes não representam mais os supostamente representados. O povo – aquela classe média trabalhadora, alguns até fumantes, e raios!, muitos ainda cristãos – não enxerga nos políticos do establishment uma representação legítima. Vem ocorrendo no mundo todo uma perda do elo entre eleitor e governante.

E isso vale para a mídia “mainstream” também. Cada vez mais “liberal”, no sentido “progressista” do termo, esses jornalistas se identificam com os governantes, não com o povo. E por isso ficam tão atordoados com os resultados das eleições. Não entendem como o povo pode preferir certas coisas, como não aderir ao globalismo centralizador, por exemplo, com uma união fiscal imposta de cima para baixo.

O mesmo ocorre no Brasil: nossa grande imprensa, de maneira geral, não fala a língua do povo. Prefere a linguagem do “GNT people”. Vive numa bolha, onde as causas mais importantes do planeta são a legalização das drogas e do aborto e o casamento gay. Esse afastamento entre políticos e jornalistas e a população em geral talvez seja a grande marca da era moderna, o que é paradoxal em tempos de democratização generalizada. Havia reis que representavam seu povo de forma muito mais fiel do que certos burocratas e governantes hoje.

E já que os ingleses deram um “não” a esse modelo, talvez fosse o caso de pegar carona e lutar pelo nosso Brexit, aproveitando até mesmo a expressão. Seria a saída do Brasil do Mercosul, uma camisa de força ideológica que tem servido apenas para beneficiar alguns “amigos do rei” à custa do restante da população.

Já cansei de escrever artigos mostrando como o Mercosul tem feito mal ao Brasil, ainda mais na era lulopetista, com a entrada ilegal da Venezuela no bloco. Não se trata de uma união de livre comércio, mas sim de um agrupamento bolivariano imposto de cima para baixo, que acaba fomentando o protecionismo comercial.

Nenhum liberal será contra mais liberdade de comércio, mais globalização. Mas não é disso que o Mercosul se trata, como também não era bem disso que a União Europeia se tratava. Com o agravante de que o Mercosul é muito pior em todos os sentidos. Foi com ele que o PT inovou na política externa e, em vez de ser rabo de baleia na crista da onda globalizante, ou cabeça de sardinha liderando um grupo menor, transformou o Brasil em “rabo de sardinha”, ou seja, no banana de um pequeno e insignificante grupelho.

Chega! O Brasil deveria sair do Mercosul e derrubar, ainda que unilateralmente, suas barreiras comerciais. Deveria negociar vários acordos bilaterais de livre comércio. Deveria facilitar a importação de bens e serviços. Deveria, enfim, mergulhar na verdadeira globalização, aquela liberal.

Permanecer nessa camisa de força bolivariana que é o Mercosul não serve para nada de bom. Brexit já! Mas claro que uma demanda popular dessas jamais seria endossada ou sequer compreendida pela grande imprensa. Um plebiscito que levantasse a questão daria, claro, um resultado “inesperado” a todos esses “especialistas” que aplaudem o Mercosul…
Por: Rodrigo Constantino  Do site: http://rodrigoconstantino.com/artigos

terça-feira, 28 de junho de 2016

COMO VIVIAM AS MULHERES MEDIEVAIS?


COMO VIVIAM AS MULHERES MEDIEVAIS? O QUE AS FEMINISTAS NÃO SABEM OU NÃO QUEREM SABER…

Não há época histórica que seja mais atacada do que a Idade Média. Medieval passou a ser sinônimo de atraso, obscuro, ultrapassado, tacanho. Mas pode uma era que nos legou Tomás de Aquino ter sido mesmo tão ruim? Como pode ter sido tão obscura uma época que construiu as universidades de Oxford, Cambridge e Eton? A verdade é que há muita desinformação e ignorância sobre esse período histórico, e os modernos preferem focar apenas na Inquisição espanhola como prova de seu obscurantismo.

Quando se trata das mulheres, então, a Idade Média é vista como ícone de um machismo opressor que as tratava como simples escravas. Mas foi assim mesmo? As feministas supostamente lutam hoje pela “emancipação” das mulheres, sua independência, desejando até que uma delas se torne presidente do país mais poderoso do mundo só por ser mulher. Mas por acaso as mulheres medievais eram tão submissas e dependentes assim? Antes de algumas feministas queimarem seus sutiãs em público, todas as mulheres eram como escravas?

Acabei de ler o livro do casal de historiadores Joseph e Frances Gies, Women in the Middle Ages: The Lives of Real Women in a Vibrant Age of Transition, publicado originalmente em 1978. Pelo título já se nota que a visão dos dois, especialistas na era medieval, não era tão depreciativa assim dessa fase histórica. E, de fato, eles expõem inúmeros dados, documentos e cartas que demonstram boa dose de autonomia feminina naquela época, para a surpresa de muitos.

Claro, ninguém vai sustentar que a vida da mulher era um paraíso na Idade Média. Não era para ninguém, pelos padrões atuais, e devemos levar isso em conta quando julgamos o passado. Tampouco se vai negar que elas sofriam certas discriminações. O fato é que a mulher, por ser fisicamente mais fraca do que o homem, sempre foi alvo de desvantagens. Mas, para os autores, o principal argumento é econômico: criar uma filha custava caro, e o benefício ia para o futuro marido, com o dote do casamento.

A misoginia também é um fenômeno antigo, e boa parte se deve, provavelmente, ao receio que os homens tinham e têm dos feitiços femininos, de seu poder de influência e sedução sobre os homens, uns eternos bananas diante de um belo par de pernas ou seios. Mas isso não quer dizer que tenham sido objeto sexual dos homens medievais e ponto. Ao contrário: essa influência foi exercida politicamente também, como veremos.

A primeira coisa que temos de ter em mente quando falamos da era medieval é que ela, naturalmente, não é monolítica. Afinal, trata-se de um período de aproximadamente um milênio, incluindo a conhecida Idade das Trevas. Há, portanto, fases e fases. A mulher grega, mesmo na “democrática” Atenas, tinha poucos direitos e vivia sob a guarda dos parentes do sexo masculino. A mulher romana tinha condição pouco melhor, apesar de no fim do império a situação ter melhorado, com mais direitos e independência para a mulher.

Na Europa medieval a mulher começa a conquistar certos direitos importantes. Casamentos poderiam ser desfeitos com consentimento mútuo, e viúvas herdavam as propriedades do falecido marido. Muitas chegavam a administrar tais propriedades, o que significava basicamente terras na época. A partir do século XI, com a influência dinamarquesa, as mulheres não podiam mais ser vendidas como propriedade. Seu livre-arbítrio começou a pesar cada vez mais.

Algumas mulheres foram realmente poderosas e influentes nessa época. A imperatriz Adelaide comandou a política na Germânia no século X. A condessa Matilda, da Tuscania, foi uma líder militar pouco tempo depois. Antes dela, Aethelflaed, filha do rei Alfred da Inglaterra, liderou guerreiros contra os vikings. Sigelgaita, princesa lombarda, era a típica Valquíria, alta, muscular, e acompanhava sempre seu marido, o guerreiro normando Robert Guiscard (Roberto de Altavila) nas batalhas. Quando ele morreu, em 1085, ela continuou pelos 5 anos que ainda teve de vida como figura importante na política local. 


Claro, pela menor massa muscular, sempre que as sociedades foram mais militarizadas o papel feminino foi secundário. Foi o que aconteceu com o avanço do feudalismo no século IX, nascido na França, que representou alguma mudança reacionária para as mulheres. Mesmo assim, como alegam os autores, a mulher não perdeu totalmente seus direitos, status ou poder econômico. O rápido crescimento do comércio foi uma das razões, que criou um fenômeno novo: a mulher trabalhadora da cidade.

Isso mesmo: a imensa maioria das mulheres medievais trabalhava, tanto quanto os homens, nas mesmas áreas inclusive. Não havia moleza. Eis o que muita feminista não entende: ficar em casa para poder cuidar melhor dos filhos e da própria casa não era uma imposição dos maridos machistas, e sim um luxo que a afluência possibilitava com o avanço capitalista. Na pobreza todos são iguais: ou trabalha, ou morre de fome. E o fato é que muitas mulheres medievais trabalhavam para ajudar no sustento da família, em todo tipo de ofício.

Casadas ou solteiras, as mulheres inglesas podiam ter propriedade, vendê-la, doá-la, fazer testamento, assinar contratos, processar, ser processada etc. Alguém sempre poderá lembrar, com o benefício do retrospecto, que o casamento não costumava ser por amor, e a escolha do marido não era da noiva. Ignoraria que também não era do noivo! Os medievais simplesmente não tinham a mesma visão romântica do casamento que temos hoje, apesar de ter sido nessa época que surgiu o “amor cortês”, o galanteio dos cavalheiros, os trovadores.

Se o casamento raramente era por amor, isso não quer dizer que o amor não florescesse depois. Há vários relatos bonitos e comoventes de carinho, amor e respeito entre casais, cartas com trocas de fidelidade e amizade. A visão da mulher infeliz obrigada a se deitar com o marido machista pode ser boa para vender filmes ou livros, mas é um tanto preconceituosa e equivocada.

O livro traz pequenas biografias de mulheres marcantes da era medieval na segunda parte. Ficamos conhecendo melhor detalhes da vida de cinco delas, de classes distintas, da realeza e nobreza até a mulher comum. Mas nem é preciso mergulhar tão a fundo nessas vidas: como afirmar que a mulher nada valia nos tempos de Eleonor de Aquitânia, que serviu de regente da Inglaterra durante a ausência de Henrique II, que teve mais de um marido, que foi mãe de Ricardo Coração de Leão e João Sem Terra? Mulher fraca, subalterna e apagada?

Em resumo, a mulher medieval podia ter uma vida mais dependente do que a mulher moderna ocidental, mas estava longe de ser a escrava relegada ao segundo plano como a visão caricatural costuma pintar na atualidade. Há vários relatos de mulheres muito poderosas, e elas pegavam no batente em diferentes classes sociais, chegando até a tocar seus exércitos e suas propriedades rurais (Kátia Abreu não é tão novidade assim, mas dificilmente as proprietárias medievais defenderiam uma Dilma da vida).

E as feministas querem fazer crer hoje que o ápice contra o “intrínseco machismo ocidental” seria os americanos elegerem a “primeira presidente mulher”? Sério? Há mulher que viveu há 800 anos que exerceu mais poder sobre o mundo ocidental todo! Mas a ignorância é uma bênção, ao menos para os movimentos ideológicos.

Por fim, resta perguntar: há o mesmo tipo de relato do lado do Islã? Desde o século VII, quantas mulheres assumiram papel de grande relevância nos califados, no império otomano? As mulheres muçulmanas, hoje, vivem com mais direitos, independência e liberdade do que as mulheres europeias da Idade Média? Pois é. E há feministas que ficam ao lado dos muçulmanos só para atacar o “malvado homem branco ocidental cristão”. Vai entender…
Por: Rodrigo Constantino  Do site: http://rodrigoconstantino.com/artigos

segunda-feira, 27 de junho de 2016

O MITO DO "TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO

As operações de combate ao trabalho escravo não "libertam" ou "resgatam" ninguém, não ajudam os trabalhadores pobres e consideram escravos gente que ganha muito mais que a média dos brasileiros


Mais uma grife de roupas foi acusada de utilizar trabalho escravo no Brasil. Segundo uma reportagem da BBC publicada nesta segunda-feira, auditores do Ministério do Trabalho flagraram cinco bolivianos, entre eles uma adolescente de 14 anos, mantidos como escravos numa oficina na zona leste de São Paulo que produzia para a grife Brooksfield.

Infelizmente a BBC só reproduziu a desinformação que ativistas do combate ao trabalho escravo costumam difundir sobre o assunto. Abaixo, mostro seis esclarecimentos que a reportagem poderia ter feito. O leitor me desculpe o tamanho do texto – o assunto é relevante e merece ser explicado em detalhe.

1. Não é escravidão

No caso desta semana e na maioria dos que vão aos jornais, a situação flagrada pelos fiscais não tinha nada do que o povo, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) ou as leis da maioria dos países entendem por escravidão. Não havia pessoas acorrentadas, ameaçadas, trabalhando para pagar uma dívida com os patrões ou para recuperar um documento.

Por que, então, dizem que é trabalho escravo? No Brasil, uma mudança no Código Penal afrouxou enormemente o conceito de trabalho escravo. Passou a incluir a jornada exaustiva e condições degradantes como critérios para caracterização.

Parece um detalhe, mas a mudança na lei juntou crimes diferentes no mesmo balaio. Patrões que ofereciam alojamentos sem a distância adequada entre as camas passaram a responder pelo mesmo crime que quem torturava os trabalhadores com ferro de marcar gado ou os mantinha em cativeiro.

A própria OIT esclarece, num relatório de 2005, que não se deve confundir trabalho ruim com escravidão. “O trabalho forçado não pode simplesmente ser equiparado a baixos salários ou a más condições de trabalho. Tampouco cobre situações de mera necessidade econômica, por exemplo, quando um trabalhador não tem condições de deixar um posto de trabalho devido à escassez, real ou suposta, de alternativas de emprego.”

Os bolivianos que produziam para a Brooksfield foram considerados escravos porque não tinham carteira assinada ou férias e, segundo a BBC, “trabalhavam e dormiam com suas famílias em ambientes com cheiro forte, onde os locais em que ficavam os vasos sanitários não tinham porta e camas eram separadas de máquinas de costura por placas de madeira e plástico”. Era trabalho precário, mas não escravidão.

2. Há “escravos” que ganham R$ 5 mil por mês

Como cabe ao auditor do trabalho decidir o que é trabalho escravo, há interpretações das mais extravagantes e ideológicas.

Em 2013, a fiscalização encontrou vinte funcionários de uma construtora de Belo Horizonte que tinham registro na carteira, recebiam horas-extras e adicionais de produção. Um pedreiro disse que ganhava 5 mil por mês. Como não havia lençóis nos beliches do alojamento e os banheiros estavam sujos, o fiscal enquadrou a construtora como escravista.

O alojamento era, de fato, precário, mas muitos dos trabalhadores poderiam achar que a remuneração compensava. Um salário de 5 mil reais, afinal, colocava o funcionário entre os 20% de brasileiros mais ricos daquele ano. Como revelou a revista Exame, casos assim são comuns.

No episódio desta semana, os imigrantes ganhavam 6 reais por peça produzida. Se costuravam duas peças por hora (provavelmente produziam muito mais), ganhariam 12 reais por hora, 96 reais por jornada de oito horas, ou 2100 reais por mês. Isso é mais do que ganham 72% dos brasileiros, que sobrevivem com até dois salários mínimos.

3. Não há “resgate” ou “libertação” de trabalhadores

O mito do “trabalho análogo à escravidão” vem sendo cultivado por auditores do trabalho, procuradores, jornalistas e ativistas bem-intencionados. Eles fazem questão de esclarecer que a servidão moderna se define por condições precárias de trabalho e tem pouco da escravidão tradicional. Mas utilizam termos e imagens que só fazem sentido quando se referem à restrição da liberdade – como imagens de correntes e termos como “resgate” ou “libertação”.

Imagem da campanha de combate ao trabalho escravo, divulgada pela Secretaria de Direitos Humanos.

Os trabalhadores costumam considerar um absurdo serem chamados de escravos. Sem ninguém pedir, os fiscais quebram contratos de trabalho, calculam multas enormes para as empresas e mandam os trabalhadores para hotéis ou de volta para suas cidades de origem.

“O primeiro contato com a vítima geralmente é de resistência. Ela não se enxerga como trabalhador forçado e se incomoda com o rótulo”, me disse, no ano passado, Luiz Machado, coordenador do Programa de Combate ao Trabalho Forçado da OIT. “Quando explicamos as violações dos direitos trabalhistas, eles ficam agradecidos, pois ganham pagamentos de direitos, seguro-desemprego especial para resgatados e prioridade na fila do Bolsa Família.

4. As operações não ajudam os trabalhadores

Quando a indenização acaba, os “escravos libertados” descobrem que os fiscais os transformaram em desempregados dependentes de programas assistenciais. Precisam começar tudo de novo e sair à procura de um emprego. Geralmente encontram trabalhos bem parecidos com aqueles dos quais foram “resgatados”.

“Quando a polícia vai embora, os bolivianos vão para outras oficinas onde a condição é a mesma”, me contou, numa entrevista, o boliviano Luis Vásquez, líder da comunidade boliviana em São Paulo.

Os próprios ativistas admitem o problema da reescravização. “O trabalhador volta para casa com três meses de seguro-desemprego no bolso, mais verbas rescisórias, mas assim que o dinheiro acaba, ele volta a migrar e acaba escravizado de novo”, disse, em outra reportagem da BBC, o fundador da ONG Repórter Brasil, Leonardo Sakamoto.

5. As operações eliminam alternativas de quem já tem poucas

Numa coisa os ativistas do combate ao trabalho degradante estão certos: milhões de pessoas têm empregos terríveis no Brasil. Trabalham amontoadas em cômodos sem janelas; cumprem uma jornada tão alta que mal veem a família. Diante de situações assim, tudo o que não se deve fazer é diminuir as opções disponíveis a eles.

O que prejudica o trabalhador não é a opção de trabalho que ele encontra, e sim a falta de opções. Os operários das pequenas oficinas de roupas da zona leste de São Paulo se submetem a condições ruins porque aquela é a melhor alternativa de que dispõem. O que os torna vulneráveis não é a empresa que os contratou, mas a ausência de mais empresas que os contratem.

E o que as operações de combate ao trabalho escravo fazem é diminuir ainda mais essas opções. “Quando a Polícia Federal aparece, dá a impressão de que vai prender o Fernandinho Beira-Mar”, diz o boliviano Luiz Vásquez. “Um monte de viaturas e policiais para prender o coitado do dono da oficina. Ele é multado por tudo o que você pode imaginar. Essa história tem levado muitos empreendedores à falência”.

Não é um grande incentivo à abertura de fábricas no Brasil ter a possibilidade de ver a marca manchada por falsas acusações de trabalho escravo. As bem-intencionadas operações prejudicam a segurança jurídica e dão um empurrão a mais para fábricas se mudarem para a China ou o Paraguai. Com menos vagas à disposição no Brasil, os trabalhadores ficam ainda mais vulneráveis.

Quem realmente se preocupa com os pobres precisa, pelo amor de Deus, evitar que as empresas tenham medo de contratar ou subcontratar trabalhadores no Brasil. Ações menos sensacionalistas, como criar um pacto entre as oficinas para seguirem condições mínimas, sob pena de multa, ajudariam muito mais do que aterrorizar grifes internacionais interessadas em produzir no Brasil.

Outra opção é ajudar os imigrantes a encontrar vagas melhores e ter documentação para se candidatar a elas. Em São Paulo, o Ministério Público do Trabalhou fez um excelente trabalho ao criar um centro onde os imigrantes podem regularizar a residência no Brasil, tirar carteira de trabalho e abrir uma conta corrente. Documentados, ficam aptos a trabalhos menos precários.

“Em diversos países e momentos da história, o subemprego foi o meio pelo qual as minorias, os migrantes e os menos favorecidos entraram no mercado de trabalho e começaram a ascender socialmente”, diz o cientista político Diogo Costa. “Proibir o emprego ruim acaba funcionando como uma barreira de exclusão dos menos qualificados.”

6. Coibir as más condições é impor preferências da elite aos trabalhadores pobres

Imagine que você acabou de se mudar para um país estranho e está sem dinheiro, sem qualificação ou mesmo conhecimento da língua local – e ainda tem três filhos famintos nas costas. De repente aparecem duas opções de trabalho em oficinas de costura.

A primeira oficina, ensolarada e espaçosa, oferece um salário de 10 reais por hora. A segunda, sem janelas e com uma jornada maior, paga 12 reais. Na hora do aperto, você não se dará ao luxo de perder 20% da remuneração. Como quer acumular o máximo possível e voltar para o seu país, você trabalharia mais, muito mais que oito horas por dia.

O combate ao trabalho degradante se baseia na ideia de que as condições ruins são fruto da escolha dos patrões. Mas a escolha não é só deles. Ao decidir ingressar num emprego, uma pessoa avalia todos os tipos de compensação – o salário, o conforto, a jornada. Quem ganha bem pode se dar ao luxo de descontar parte do salário em conforto e jornada menor. Mas se a renda e a produtividade são baixas, e a melhor alternativa de trabalho não é o suficiente para pagar as contas, provavelmente ele abrirá mão do conforto para extrair o máximo da remuneração em forma de salário.

“Isso significa que a combinação de compensações é determinada pelas preferências dos empregados (até o limite da sua produtividade), e não pelas preferências de corporações multinacionais ou empresas terceirizadas”, diz o economista Benjamin Powell, autor do livro Out of Poverty: Sweatshops in the Global Economy.

Powell comprovou essa opção entrevistando operários da Guatemala. Ele conversou justamente com quem trabalhava em fábricas de roupa que motivaram escândalos de trabalho degradante, em reportagens da TV americana. Descobriu que quase todos os trabalhadores não topariam trocar parte do salário por melhores condições:
Você aceitaria ter um salário menor se o seu empregador…
SIM NÃO
tornasse as condições de trabalho mais agradáveis? 8,6% 91,4%
reduzisse o número de horas de trabalho? 10% 90%
aumentasse o horário de almoço? 4,3% 95,7%
fornecesse plano de saúde? 14,3% 85,7%
desse férias remuneradas? 18,6% 81,4%

O ensaísta Nassim Nicholas Taleb chama de “filantropia de araque” a atividade de “ajudar as pessoas de uma forma visível e sensacional, sem levar em conta o cemitério oculto de consequências invisíveis”. O exemplo preferido de Taleb são as causas trabalhistas. “Você nota as pessoas cujos empregos estão mais seguros e atribui benefícios sociais a essas medidas. Você não percebe o efeito naqueles que ficarão desempregados, já que as medidas vão reduzir a oferta de empregos. Em alguns casos, as consequências positivas de uma ação vão beneficiar imediatamente os políticos e os humanitários de araque, enquanto as negativas levarão um bom tempo para aparecer – e talvez nunca sejam perceptíveis.” Não há definição melhor para o combate ao “trabalho análogo à escravidão” no Brasil.
Por: Leandro Narloch 23/06/2016 às 10:19
@lnarloch

*Para quem se interessar, dedico a este tema um capítulo do Guia Politicamente Incorreto da Economia Brasileira. Do site: http://veja.abril.com.br/