sábado, 23 de junho de 2012

DENTRO DA LEI

Embora dentro das normas constitucionais, a deposição do presidente do Paraguai Fernando Lugo pelo Congresso tem claros indícios de que foi o desfecho de uma disputa política que se desenrola praticamente desde que ele chegou ao poder, cerca de 4 anos atrás. Já houvera antes uma tentativa de impeachment quando surgiram as denúncias de vários filhos do ex-padre católico, dois dos quais ele já reconheceu. Há outros na fila. O escândalo sexual não foi suficiente, no entanto, para que os opositores de Lugo conseguissem levar adiante a tentativa de impeachment, mas a tragédia recente em que morreram 11 camponeses de um movimento sem terra, e seis policiais, fez com que forças políticas majoritárias se unissem para acusá-lo de “mau desempenho de suas funções”, o que possibilitou o processo de impeachment. Os agricultores sem terras da Liga Nacional de Acampados, que invadem propriedades e se instalam em tendas, receberam o aval público de Lugo, que os recebeu diversas vezes no Palácio do Governo e na residência presidencial, até que a 15 de junho seis policiais desarmados foram mortos durante a desocupação de uma fazenda em Curuguaty, a 250 km de Assunção. A reação da polícia provocou a morte de 11 camponeses e a acusação de perda de controle pelo governo. Mesmo que a motivação seja política, não é possível classificar de golpe o que aconteceu no Paraguai, sob pena de darmos razão ao hoje senador Fernando Collor de Mello que se diz vítima de um “golpe parlamentar”, e já chegou a reivindicar de volta seu mandato presidencial em entrevista. O interessante é que Collor foi impedido pelo Congresso brasileiro num processo que teve a liderança do PT, tanto na atividade parlamentar quanto na mobilização dos chamados movimentos sociais para apoiar a decisão dos políticos. Cassado, Collor foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal por falta de provas, o que o leva a alegar que foi vítima de um golpe. É uma incoerência completa, portanto, que o governo brasileiro acuse um processo congressual de ilegítimo, quando já tivemos essa experiência em nossa democracia recente. A ameaça de expulsar o Paraguai do Mercosul, além de uma leitura equivocada da cláusula democrática da instituição, pode servir aos interesses da Venezuela, que até agora não foi aceita como membro pleno justamente por que o Congresso do Paraguai não deu a permissão, por considerar que a Venezuela não é um país democrático. Essa aliás, é uma outra boa discussão, pois o governo brasileiro aceita todas as manobras feitas pelo governo de Hugo Chavez na Venezuela alegando justamente que elas, aprovadas pelo Congresso, são, portanto, legítimas. Lula chegou ao cúmulo de dizer que havia na Venezuela “democracia demais”. Todos os governos “bolivarianos” da região – Bolívia, Equador, Argentina, Nicarágua – já promoveram diversas alterações em suas Constituições para aumentar o poder dos respectivos presidentes, em golpes seguidos à democracia utilizando-se de seus próprios instrumentos legais. Aumentaram a composição da Suprema Corte, criaram obstáculos à liberdade de expressão, mudaram as regras eleitorais para favorecer o partido que está no governo, e alegam sempre que as alterações foram feitas com a aprovação do Congresso. Mas quando o Congresso decide contra o governante “bolivariano”, desencadeia-se imediatamente um movimento regional de constrangimento a esses parlamentos, tentando usar a cláusula democrática como instrumento de pressão. Agora mesmo os chanceleres da Unasul foram a Assunção para tentar parar o processo de impeachment contra Fernando Lugo, logo acusado de golpe. O chanceler Antonio Patriota foi com a instrução da presidente Dilma para “falar grosso”. No caso de Honduras, em 2009, chegou a ser escandalosa a intromissão do governo brasileiro nos assuntos internos daquele país, a ponto de ter tentado, com a cumplicidade de Hugo Chávez, criar um fato consumado com o retorno do presidente deposto Manuel Zelaya ao país, abrigando-o na embaixada brasileira. De acordo com a Constituição de Honduras, o mandato presidencial tem o prazo máximo de quatro anos, vedada expressamente a reeleição. Aquele que violar essa cláusula, ou propuser-lhe a reforma, perderá o cargo imediatamente, tornando-se inabilitado por dez anos para o exercício de toda função pública. Foi exatamente o que Zelaya fizera, tentando mudar a Constituição através da convocação de um plebiscito. A cláusula pétrea da Constituição de 1982 de Honduras tinha justamente o objetivo de cortar pela raiz a possibilidade de permanência no poder de um presidente, pondo fim à tradição caudilhesca no país. A preocupação tinha sentido: Honduras é o país inspirador do termo "República de bananas" ou "República bananeira" cunhado pelo escritor americano O. Henry, pseudônimo de William Sydney Porter, que, no livro de contos curtos Cabbages and Kings, (Repolhos e Reis) de 1904, usou pela primeira vez a expressão, que passou a designar um país atrasado e dominado por governos corruptos e ditatoriais, geralmente na América Central. O principal produto desses países, a banana, era explorado pela famosa United Fruit Company, que teve um histórico de intromissões naquela região, especialmente Honduras e Guatemala, para financiar governos que beneficiassem seus interesses econômicos, sempre apoiado pelo governo dos Estados Unidos. Mesmo com toda a pressão do governo brasileiro e dos demais países “bolivarianos”, que conseguiram, até mesmo expulsar o país da Organização dos Estados Americanos (OEA), como ameaçam fazer agora com o Paraguai no Mercosul, Honduras promoveu uma nova eleição e o presidente Porfirio Lobo está no governo, já tendo sido reconhecido por todos os demais países e retornado à OEA. O ex-presidente paraguaio Fernando Lugo parece estar agindo com mais bom-senso do que os governos da Unasul, aceitando a decisão do Congresso.Por: Merval pereira

sexta-feira, 22 de junho de 2012

NOVO AGRO x AMBIENTALISMO RETRÓGRADO


O novo agro do Brasil vence ambientalismo retrógrado na Rio+20.

Depois dos embates do Código Florestal, o que assistimos na Rio+20 foi o governo brasileiro adotando o discurso do Novo Agro, recheado de dados e resultados de sustentabilidade. Marina Silva sumiu. Brilhou Kátia Abreu, incensada pela imprensa internacional como a "amazonas" do milionário agronegócio do Brasil.

O seminário "Segurança Alimentar e Sustentabilidade no Agronegócio", realizado durante o evento Humanidade 2012, mostrou que o agronegócio brasileiro amadureceu nos últimos anos e até admite, ao menos no discurso, que já não precisa de mais desmatamento para seguir crescendo e que voltar a mexer no bioma amazônico está fora de questão. Mesmo a senadora Katia Abreu (PDT-TO), presidente da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA), conhecida por seus embates com os ambientalistas, já prega o preservacionismo e admite que o setor não precisará de novas terras "por muitos anos".

"Na verdade, neste momento e por muitos anos adiante, não vamos precisar desmatar mais porque a área que temos aberta dá para dobrarmos, triplicarmos a produção de carnes e de grãos, implementando tecnologias", disse em rápida entrevista após exposição em que mostrou os esforços que vem fazendo para modificar a imagem negativa do setor. Ainda assim, na apresentação, a senadora não resistiu a alfinetar várias vezes os ambientalistas, como quando os comparou a uma melancia, verde por fora e vermelha por dentro, em alusão a ideais comunistas que estariam por trás de parte do discurso ambiental. Mas, no geral, mostrou abertura ao diálogo.

"Eu concordo que é possível compatibilizar a agricultura e a produção com a preservação do meio ambiente. Não é nem uma questão de concordar, é uma obrigatoriedade. Temos que usar toda a força da inteligência humana para minimizar os impactos ambientais e produzir conforto para as pessoas", disse. A senadora, festejada pelos presentes, disse ao Valor que as necessidades de terras adicionais para a agropecuária serão supridas "principalmente" pela recuperação de pastos degradados, iniciativa que, disse, ela mesma está tomando na sua fazenda no Estado do Tocantins. (Valor Econômico)

FAMÍLIAS BRASILEIRAS AFOGADAS EM DÍVIDAS



FAMÍLIAS BRASILEIRAS AFOGADAS EM DÍVIDAS. AUMENTO DA GASOLINA TERÁ IMPACTO DRAMÁTICO!

Editorial do jornal O Estado de São Paulo mostra que o endividamente das família já se encontra no limite máximo. É o espetáculo do crescimento alardeado pelo governo do PT e seus sequazes. Deve-se acrescentar que o aumento da gasolina que está para ser decretado pelo governo como está noticiado em post abaixo, tende a ser dramático, já que puxará os todos os preços para cima. O título original do editorial é "Governo estimulou as famílias a se endividar".  Leiam:
As autoridades imaginaram que, ao aumentar o volume de crédito baixando as taxas de juros, haveria uma redução da inadimplência e uma queda do endividamento, que levariam ao aumento da demanda doméstica no segundo semestre.
Quando se observa que as duas primeiras previsões não aconteceram, temos o direito de duvidar de que a terceira se apresente na segunda parte do ano, uma vez que a maior alta das rendas aconteceu em janeiro, com o reajuste de 14% do salário mínimo.
O que aconteceu é que o índice de inadimplência aumentou 6,2% entre abril e maio, e na cidade de São Paulo o porcentual de famílias endividadas passou de 45,7%, em maio do ano passado, para 53,24%, em maio de 2012. Fato que não devemos estranhar, pois a soma da maior oferta de crédito com a redução do seu custo é a receita ideal para aumentar o endividamento, ainda mais quando, ao mesmo tempo, o salário mínimo é aumentado. Não se pode esquecer ainda de que estamos assistindo a um forte crescimento dos empréstimos habitacionais. Mesmo que as prestações sejam modestas, elevam fortemente o comprometimento das famílias, que, ao dispor da sua unidade de habitação, se veem na obrigação de realizar novos gastos para equipar a nova casa.
O erro, certamente, foi o de oferecer todas essas facilidades ao mesmo tempo, sem levar em conta que as operações de crédito sob todas as formas e no seu conjunto podem acusar uma queda, mas são escandalosamente caras quando se trata de crédito pessoal.
Pode-se dizer que a taxa média de juros ao consumidor é a menor desde 1995. Já a taxa para cartão de crédito, que representa 77,2% da dívida das famílias, é de 10,69% ao mês ou 238,67% ao ano, sendo a operação de menor custo a de financiamento de automóveis, com 24,6% ao ano, o que, aliás, torna preferencial a compra de automóveis.
Admite-se como razoável um endividamento equivalente a 30% da renda mensal, mas em São Paulo chega em média a 42,95%. As famílias com um endividamento desse porte, terão, primeiro, a tentação de recorrer às operações com o custo mais elevado, o que aumentará seu endividamento, e chegarão a um momento em que, com 50% de sua renda mensal comprometida, não terão mais capacidade de compra, ao contrário do que espera o governo com sua previsão de aumento da demanda no segundo semestre. Isso explica a cautela das empresas para aumentar sua capacidade de produção. Do site do jornal O Estado de S. Paulo

quinta-feira, 21 de junho de 2012

TERRORISTAS DO MST E VIA CAMPESINA


21/06/2012
 às 19:50

Espaço da CNA na Rio+20 é invadido e depredado por terroristas do MST, da Via Campesina e de outros movimentos

Vejam estas fotos.
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A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) participa da “Rio+20″. Tem um estande no Pier Mauá denominado “AgroBrasil”, montado com o apoio da Embrapa e do Sebrae, para expor práticas de agricultura sustentável no Brasil. Pois bem: no fim da manhã desta quinta, militantes dos MST e da Via Campesina, entre outros grupos, invadiram e depredaram o espaço, como se pode ver acima.
Os invasores chegaram como se fossem visitantes comuns. Uma vez no local, deram início a seu “protesto”. Danificaram maquetes, jogaram tinta vermelha no local e espalharam panfletos. A segurança no Pier Mauá é feita por empresa privada. A Polícia Militar teve de ser acionada, e só não houve confronto porque ninguém resistiu à ação dos vândalos.
Leiam a declaração dada ao Globo por Divina Lopes, do MST:
“Ficamos satisfeitos com a manifestação, que conseguiu apresentar um contraponto ao agronegócio. Mas não houve depredação. Lá dentro, fizemos uma colagem de cartazes contra este modelo de agricultura e gritamos palavras de ordem. Mas a manifestação foi pacífica e ninguém saiu machucado”.
Vamos decupar a sua fala. “Apresentar contraponto”, segundo Divina, é invadir um espaço, depredar o trabalho alheio e gritar palavras de ordem. Segundo ela, a “manifestação foi pacífica” porque, afinal, “ninguém saiu machucado”. Ou por outra: deixe o MST agir à vontade, e ninguém se machuca. As fotos estão aí. A polícia tem como atuar se quiser.
A propósito: o MST e a Via Campesina são organizações políticas de extrema esquerda — há ATÉ alguns agricultores entre eles. O chefão é João Pedro Stédile, que nunca pegou num cabo de enxada. Basta olhar as fotos para perceber que há manifestantes que não têm nenhuma intimidade com as questões ligadas à terra. São as Mafaldinhas e os Remelentos de sempre, que saem dali para algum bar da Zona Sul, onde vão comemorar o seu feito heroico, e dali para o conforto de seus lares. Enquanto empregadas invisíveis administram a casa, eles se dedicam à revolução…
A CNA emitiu uma nota de repúdio, assinada pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da entidade. Leiam. Volto em seguida:
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vem a público manifestar o seu repúdio aos tristes episódios ocorridos na manhã desta quinta-feira, dia 21 de junho, quando o Espaço AgroBrasil, que lidera no Pier Mauá, um dos espaços oficiais da Rio+20, foi invadido por cerca de 200 manifestantes.
Rejeita a violência do grupo que  portava cartazes do Movimento dos Sem Terra (MST), além de materiais de outros movimentos não identificados.
Lamenta os atos de vandalismo que danificaram parte das instalações, especialmente uma maquete que reproduz as várias técnicas de agricultura de baixo carbono, além de uma Área de Preservação Permanente (APP), conforme fotos disponibilizadas no link:  http://www.flickr.com/photos/canaldoprodutor/
Por esse motivo, protesta mais uma vez frente ao preconceito contra um setor que utiliza apenas 27,7% do território do país para produzir alimentos de forma sustentável, preservando 61% do Brasil com cobertura vegetal nativa.
A CNA considera inaceitável que manifestações antidemocráticas como estas ainda tenham lugar em um evento como a Rio+20, onde os povos e as nações buscam o entendimento e a convergência para um mundo melhor, sempre respeitando a diversidade de ideias.
Senadora KÁTIA ABREU
Presidente da CNA
Voltei“A CNA não chama os manifestantes de terr0ristas, Reinaldo, mas você chama?” Quem quer que, por questão política, imponha ao outro a sua vontade, submetendo-o pela força,  pondo em risco a segurança de terceiros, pratica ato terrorista. Todos esses elementos estão dados na ação empreendida pelo MST e pela Via Campesina. Há mais: há gente ali que não pertence a esses movimentos nem a pau, Juvenal!
Vocês acham que aquele barbudo e cabeludo e sua companheira alimentada com Toddynho e sucrilho moram naquelas barrascas de plástico preto do MST? Vocês acham que aquela senhora que discursa sobre a maquete sabe distinguir uma batata de um nabo? Vocês imaginam aquele rapazola de camiseta cor-de-rosa e cabelo de surfista plantando o alimento que come com as próprias mãos?
Basta pensar um pouquinho para constatar que há grupo ambientalistas de alcance mundial bastante chegados a esse tipo de ação direta e… terrorista!
Por Reinaldo Azevedo

HISTÓRIA DO FUTURO PRÓXIMO

A ECONOMIA DOS Estados Unidos vai estar entre adoentada e convalescente até 2015. É pelo menos o que deram a entender os diretores do banco central americano, o Fed.

 A política de taxa de juro zero (Zirp, na sigla em inglês) continua pelo menos até 2014 ou 2015. A Zirp começou no fim de 2008. Vai fazer seis anos. Juro zero por tanto tempo assim significa que muita gente está desempregada ou endividada demais para consumir e que muita gente está com medo de consumir e de investir (em aumento da produção). Oferta-se dinheiro à vontade, mas a coisa não anda. Para completar, o Fed anunciou que continuará até o fim do ano as operações de recompra de títulos da dívida pública de longo prazo. Trocando em miúdos, continua a pôr dinheiro na praça para tentar baixar taxas de financiamentos longos, como a da casa própria. Mas a economia reage devagar, quase parando quando leva susto da Europa. A crise americana começou já em 2007. Mesmo que os EUA voltem à "normalidade" em 2014 ou 2015, a Europa ainda estará com lama pelos joelhos. Nas estimativas mais otimistas, a economia europeia volta a ser o que era em 2007 lá por 2017, 2018. Se o caso de Grécia, Portugal, Espanha ou Itália não der em besteira grave. Portanto, a crise vai chegar a dez aninhos. Ou será que a "crise" e seus desdobramentos serão o "normal" daqui por diante? Não se trata de dizer que o tumulto financeiro e econômico será eterno, mas de imaginar que o tombo de 2008 foi um episódio crítico de processo maior de mudança e que tal tombo deixará sequelas. Talvez o mundo euroamericano não possa nem consiga (ou mesmo deva) crescer a um ritmo forte. Porque talvez não consiga é assunto para outro dia e para mais espaço. Mas, a esse respeito, note-se que o mundo rico vive de bolhas financeiras faz uns 20 anos. Não vinha crescendo a não ser com anabolizantes. Porque não deve crescer mais é o assunto do momento, pois estamos no meio da Rio+20, a conferência ambiental, e o assunto lá, em última instância, é como equilibrar o crescimento mundial (mais nos lugares mais pobres, menos nos mais ricos) e como dividir a conta do investimento em melhoria ambiental. O problema maior (e talvez insolúvel) é, claro, como coordenar o rebalanceamento (quem vai querer segurar seu crescimento?), como dividir a conta sem guerra e como reduzir a desigualdade em cada país, mesmo rico. Entenda-se: o esteio social e político de uma programa de "crescimento menor" depende de melhoria na distribuição de renda. EUA ou Europa Ocidental ainda precisam crescer rápido? O esforço de solução da crise deles deve ter esse objetivo? E a eventual retomada deve se apoiar em que setor? Note-se que o consumo per capita de energia nos EUA é o dobro do britânico, 85% maior que o alemão, num mundo em que bilhões ainda passam fome e frio. Note-se que o "plano" europeu de recuperação econômica em última instância se baseia na depressão de rendas (de salários e benefícios), em aumento da desigualdade, para que se mantenha a "competitividade" da economia tradicional deles, assolada pela concorrência asiática. Isso não vai dar certo. Talvez nem seja possível. Por:VINICIUS TORRES FREIRE FOLHA DE SP - 21/06

O PASSADO ASSOMBRA

A coincidência não deve agradar a Lula, mas dificilmente será possível dizer que se trata de mais um golpe dos reacionários contra o governo popular do PT. Aliás, o noticiário criminal envolvendo o PT indica que o partido há muito vem se metendo em enrascadas. Às vésperas do julgamento do mensalão, desta vez a Justiça reavivou o escândalo dos aloprados, que na eleição de 2006 tentaram comprar um dossiê que supostamente continha denúncias contra o candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, o mesmo que hoje Lula tenta derrotar com o auxílio de Paulo Maluf, na disputa para a prefeitura de São Paulo. Naquela ocasião, Serra venceu o candidato petista Aloizio Mercadante no primeiro turno. Um dia depois do escândalo provocado pela exibição despudorada de intimidade entre o ex-presidente e Maluf, um dos brasileiros relacionados na lista de alerta vermelho da Interpol dos criminosos mais procurados do mundo, aJustiça de Mato Grosso aceitou denúncia do Ministério Público Federal contra nove dos envolvidos. Dois deles, Jorge Lorenzetti, petista de Santa Catarina que era também churrasqueiro ex-traoficial da Granja do Torto no primeiro governo Lula, e o advogado Gedimar Pereira Passos, que supervisionava a segurança do comitê da campanha de reeleição, eram ligados diretamente ao ex-presidente, que, no entanto, como sói acontecer, declarou desconhecer o assunto e ainda fez-se de indignado, classificando os membros do grupo de “aloprados”. Preso na Polícia Federal, Ge-dimar incluiu no grupo um segurança particular da primeira-dama Letícia Maria de nome Freud (que não se perca pelo nome) Godoy, que o teria chamado para avaliar se o tal dossiê continha mesmo fatos que comprometiam Serra. Freud acabou desaparecendo do noticiário, assim como uma coincidência reveladora: o ex-ministro José Dirceu (sempre ele), antes mesmo que fosse divulgado o conteúdo do dossiê, escreveu que as acusações seriam “a pá de cal na campanha do picolé de chuchu”, como se referia ao candidato tucano à presidência Geraldo Alckmin. Gedimar Passos, assessor da campanha de Lula, negociava a aquisição do dossiê com Valde-bran Padilha, empresário filiado ao PT. A PF prendeu a dupla em flagrante com 1,7 milhão de reais que seria usado na compra do material forjado. Expedito Veloso, outro dos envolvidos, denunciou meses mais tarde que o atual ministro da Educação, Aloizio Merca-dante, e o ex-governador de São Paulo já falecido Orestes Quér-cia foram os mandantes. Mesmo que entre os acusados estivesse Hamilton Lacerda, então assessor de Mercadante, e que ele fosse o maior beneficiado, o candidato petista não foi arrolado como partícipe do golpe. O centro da conspiração estava no “Núcleo de Informação e Inteligência” da campanha de reeleição de Lula, e quem chefiava a equipe de “analistas de informação” era o petista histórico Jorge Lorenzetti, ex-dirigente da CUT, enfermeiro de profissão, diretor financeiro do Banco do Estado de Santa Catarina e churrasqueiro do presidente nas horas vagas. Lorenzetti chefiava Gedimar Pereira Passos na tarefa de con-trainformação eleitoral, e foi nessa qualidade que teria sido enviado para analisar o dossiê contra os tucanos. A descoberta do plano revelou a existência de uma equipe dentro da campanha de reeleição que se envolve em falcatruas variadas, uma maneira de atuar politicamente que vem das batalhas sindicais do ABC, as quais Lula conhece bem com que armas se disputam. Esse mesmo esquema provocou uma crise no comitê da candidata Dilma Rousseff, quando foi descoberto que havia um grupo recrutado para fazer espionagem, inclusive o jornalista Amaury Ribeiro Filho que levou para o grupo o hoje nacionalmente conhecido Dadá, o grampeador oficial do esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Os protagonistas do chamado escândalo dos aloprados responderão pelos crimes de lavagem de dinheiro e operação fraudulenta de câmbio. Segundo a denúncia do Ministério Público, eles “se associaram subjetiva e objetivamente, de forma estável e permanente, para a prática de crimes contra o sistema financeiro nacional e de lavagem de dinheiro, que tinha por fim a desestabilização da campanha eleitoral de 2006 do governo de São Paulo”. O Ministério Público, embora as investigações tenham rastre-ado todo o caminho do dinheiro, não conseguiu definir sua origem, um dos grandes mistérios desse caso. A fotografia da montanha de dinheiro apreendido acabou sendo divulgada às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial, e os petistas atribuem ao impacto da imagem a ida da eleição para o segundo turno. Passou despercebida, mas uma declaração do ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Tho-maz Bastos, em entrevista recente na televisão a Monica Ber-gamo e ao cientista político An-tonio Lavareda, admite claramente a existência do mensa-lão, ele que é advogado de um dos réus. Disse Thomaz Bastos a certa altura, falando sobre a corrupção do Brasil: “Vamos chegar a um ponto em que a democracia, por sua própria prática, vai resolver isso. Lembremos que, no início do século passado, na Câmara dos Comuns, no Reino Unido, havia um guichê onde os parlamentares recebiam o dinheiro, uma espécie de mensalão da época. O que não impediu que a Inglaterra se tornasse um país altamente democratizado. Isso dá a esperança de que, pela reiteração dos usos, possamos encontrar isso, um outro patamar de regime democrático”. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, parece enxergar longe. Em voto favorável à punição de Lula por propaganda antecipada, na campanha para eleger Dilma Rousseff, classificou de “antirre-publicano” projeto de poder que inclui eleger o sucessor: “Quem se empenha em fazer o seu sucessor, de ordinário, pensa em se tornar ele mesmo o sucessor de seu sucessor”. Outro dia Lula admitiu que “se Dilma não quiser”, ele se dispõe a ser candidato novamente... Por: MERVAL PEREIRA O GLOBO - 21/06

ADEUS, RIO

Malogrou a Rio+20. Não há outra forma de descrever o resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. 

 Não se encontra palavra mais apropriada que "fracasso" para qualificar uma reunião cujo mérito maior foi evitar um retrocesso de duas décadas, em relação à primeira Cúpula da Terra, no mesmo Rio de Janeiro, em 1992. Até o comedido Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, permitiu-se afirmar que desejaria um documento final mais ambicioso. Só o governo brasileiro, no papel de anfitrião, saudou os 283 parágrafos da peça "O Futuro que Queremos" como "vitória" e "avanço". O Itamaraty pode ter evitado um fiasco do porte da conferência do clima de Copenhague (2009), que se mostrou incapaz de produzir uma declaração conjunta. Mas falar em texto "estupendo" é um exagero que nem mesmo a proverbial presunção diplomática autorizaria. Todo o esforço da representação brasileira foi fechar um documento de consenso antes da chegada dos chefes de Estado e de governo ao Rio, ontem. Entre hoje e amanhã, eles devem limitar-se a fazer discursos pomposos e chancelar uma declaração inócua. A habilidade negocial brasileira se resumiu a tentar agradar a todos retirando substância do texto. A União Europeia (UE) queria uma Organização Mundial do Ambiente, mas não levou. Os EUA vetaram, com apoio do Brasil e de países emergentes. Estes pediam um fundo de US$ 30 bilhões custeado pelos desenvolvidos. Tiveram de contentar-se com a manutenção do princípio -velho de 20 anos- das "responsabilidades comuns porém diferenciadas" (ricos e desenvolvidos devem investir mais e transferir tecnologia para combater os males do ambiente global) e com um grupo de trabalho sobre o assunto. O máximo que se logrou acordar foi que o mundo precisa de metas quantitativas de desenvolvimento sustentável, ao estilo das Metas de Desenvolvimento do Milênio. Quantas e quais, fica para outra comissão, com prazo até 2015. O produto mais evidente da Rio+20, ao final, talvez seja o esgotamento da via multilateral para concertar decisões de governos nacionais quanto a questões globais complexas. Como no caso da negociação sobre mudança do clima, as idas e vindas desembocam sempre nos mesmos impasses. Seria bem mais promissor delegar a formatação de soluções para quem realmente conta, econômica e ambientalmente: EUA, UE, Brasil, China, Índia e Rússia. Mas desse futuro ninguém na ONU quer saber.EDITORIAL FOLHA DE SP

MENSAGEM DE ATENAS

"É um triunfo para toda a Europa" - as palavras de Antonis Samaras, líder do Nova Democracia (ND), o partido conservador que venceu por escassa margem as eleições gregas, simultaneamente revelam e ocultam a verdade. A coleção heteróclita de partidos contrários ao memorando de austeridade firmado com a União Europeia teve o respaldo da maioria dos eleitores. O eleitorado que conferiu ao ND o direito de formar uma coalizão de governo moveu-se sob a espada da chantagem: a alternativa, exposta quase explicitamente pela alemã Angela Merkel, era a saída forçada do euro - e a fusão do que resta da economia grega. "Eleições não podem colocar em questão os compromissos assumidos pela Grécia", alertou Merkel, num recado direto ao partido vencedor. No horizonte de semanas, a coalizão de Samaras deve promover novos cortes nos gastos públicos, para adaptá-los aos "compromissos assumidos", agravando uma depressão econômica sem fim. Seu governo pode não sobreviver a tal prova. O Syriza, partido de esquerda que rejeita o memorando, tinha menos de 5% dos votos no início da crise do euro. Há um mês, obteve 17% e, no domingo, 27%. Samaras apelou à formação de um "governo de salvação nacional", pela via da unidade de todos os grandes partidos, mas o Syriza se recusou a avalizar o memorando. O "triunfo para toda a Europa" não é mais que uma estreita janela de oportunidade. Há 15 anos, às vésperas da introdução do euro, o economista Nouriel Roubini, que se tornou célebre mais tarde por prever a crise financeira global de 2008, sugeriu o cancelamento da união monetária. Como muitos outros, Roubini apontava a inconsistência de uma zona monetária submetida às forças centrífugas decorrentes do diferencial de produtividade entre as economias europeias e, ainda por cima, não sustentada por uma união fiscal. Há pouco, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira ofereceu como solução para a crise do euro a dissolução da união monetária e a restauração das antigas moedas nacionais. Roubini e Bresser Pereira abstraem a História: a moeda única, tanto quanto a própria União Europeia, é um fruto de Hitler, não o produto da mente dos economistas. "A União Europeia foi criada para evitar a repetição dos desastres da década de 1930", escreveu o mesmo Roubini, em parceria com Niall Ferguson, num artigo recente, publicado no semanário Der Spiegel, que não comete o erro de circundar a História. "Europa", no sentido atual do termo, é o conjunto de intercâmbios destinados a dissolver a rivalidade franco-alemã que provocou as duas guerras gerais do século 20. A barganha fundadora, idealizada por Jean Monnet e aceita por Konrad Adenauer em 1951, colocou a siderurgia alemã sob autoridade plurinacional, na hora da criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e do rearmamento da Alemanha Ocidental. A barganha seguinte, quatro décadas depois, foi articulada por François Mitterrand e aceita por Helmut Kohl: a união monetária soldaria a aliança do pós-guerra, afastando o persistente espectro da "Europa alemã". O euro nasceu de um imperativo político, como solução para o problema da reunificação alemã. É por isso, não por seus discutíveis méritos econômicos, que ele deve ser preservado. "É algo extraordinário que seja a Alemanha, entre todos os países, a desconhecer as lições da História. Hipnotizada pela inexistente ameaça da inflação, a Alemanha de hoje parece conferir maior importância a 1923 (o ano da hiperinflação) que a 1933 (o ano em que a democracia morreu)", escreveram Roubini e Ferguson. É pior que isso: a fixação de Merkel nas políticas de austeridade extrema reflete uma interpretação nacionalista alemã sobre a União Europeia. A narrativa, que contrasta com o que pensavam os também democrata-cristãos Adenauer e Kohl, descreve o projeto europeu como uma chantagem permanente contra a Alemanha. Segundo tal tese, o euro teria sido contaminado pela inclinação dos outros - da Grécia, de Portugal, da Espanha e também da França - de viver além de seus meios, na crença de que, no fim de tudo, a Alemanha pagaria a conta. A falha intelectual da tese tem escassa relevância diante das suas consequências políticas. Os planos radicais de austeridade impostos por Berlim nos últimos anos não apenas fracassaram na esfera econômica, aprofundando a estagnação e ampliando as dívidas, mas produziram uma crise política com o potencial de arruinar a própria União Europeia. O aspecto mais óbvio dessa crise se manifesta na escala dos sistemas políticos nacionais, pela desmoralização dos partidos tradicionais e pela ascensão de correntes extremistas, à esquerda e à direita, que contestam a "Europa" em nome da nação. Abaixo da superfície, contudo, a crise desgasta as engrenagens geopolíticas que sustentam a União Europeia. Dias atrás, o ministro da Economia Social da França, Benoît Hamon, disparou projéteis contra a Alemanha, acusando-a de operar como "lobo solitário" na Europa, praticando políticas de aumento da competitividade nacional que minam as redes de proteção social erguidas nos demais países. Hamon fala aquilo que François Hollande não pode dizer, escancarando a estratégia francesa de organizar uma coalizão europeia de resistência à orientação de Merkel. A solidariedade franco-alemã, motor do projeto europeu, já não existe mais. No lugar dela, ressurgem sob disfarces cada vez mais diáfanos os discursos do ressentimento nacional. O euro será salvo - ou perecerá - na esfera da política. De Atenas, enquanto a Grécia continua a dançar à beira do abismo, parte uma mensagem decisiva dirigida à "Europa". Os gregos votaram contra o desmantelamento instantâneo de sua economia, mas não se curvaram à perspectiva de um longo, inexorável, empobrecimento nacional. Eles estão dizendo que a "Europa" tem uma oportunidade final para reverter a política destrutiva da austeridade permanente. Berlim deveria escutá-los.Por: Demetrio Magnoli O Estado de S. Paulo - 21/06/2012

A CAMUFLAGEM DA CAMUFLAGEM

Após ter sido oficialmente impugnada até à morte de Stálin em 1955, a estratégia gramsciana foi adotada integral e entusiasticamente pela KGB. Repito, pela enésima vez, o conselho de Georg Jellinek: no estudo da sociedade, da política e da História, a precaução número um é distinguir entre os processos que nascem de uma ação consciente e os que resultam da confluência impremeditada de fatores diversos. Ao longo da minha vida de estudos, fui colhendo, aqui e ali, alguns preceitos que, por sua evidência máxima e seu poder elucidativo, acabaram se incorporando definitivamente às minhas faculdades de percepção e continuam guiando os passos da minha vacilante inépcia entre as brumas e a fumaça da confusão contemporânea. Esse é um deles. O vício de tudo querer reduzir a "leis históricas", "estruturas", "causas" e outras forças anônimas, suprimindo do panorama os agentes conscientes e todo elemento de premeditação, só tem de científico a aparência enganosa que deslumbra e fascina multidões de estudantes devotados a alcançar, como supremo objetivo na vida, a perfeita macaqueação do discurso pedante sem o qual não se avança na carreira acadêmica. Isso é tão prejudicial à compreensão dos fatos quanto o velho mito carlyleano que fazia do universo histórico inteiro o cenário passivo da ação criadora de uns quantos indivíduos notáveis, heróis ou monstros sobre-humanos. Jellinek acertou na mosca quando transpôs ao cenário maior da história e da sociedade um dado do senso comum, que até os mais burros e inexperientes sabem aplicar na existência de todos os dias, e que mais tarde Ortega y Gasset resumiria na fórmula exemplar: "La vida es lo que hacemos... y lo que nos pasa." Nossa vida resulta da mistura entre aquilo que fazemos e aquilo que nos vem de fora sem qualquer iniciativa da nossa parte. O culto unilateral das causas impessoais resulta, em parte, de um preconceito positivista e marxista que aliás nem Comte nem Marx jamais subscreveriam, em parte de um instintivo desejo humano de pular fora de toda responsabilidade pessoal concreta (fazendo, por exemplo, dos criminosos as vítimas inermes e santas da má distribuição de renda). Mas resulta também, e com muita frequência, da astúcia dos próprios agentes históricos, que se escondem por trás de forças anônimas para não ser pegos de calças na mão em pleno ato de implementar algum plano que dependa, para o seu sucesso, da discrição e do segredo. Nada há de estranho em que esses agentes, com aquela expressão inconfundível de dignidade ofendida que só os mais rematados hipócritas conseguem imitar com perfeição, recorram ao rótulo de "teoria da conspiração" sempre que alguém os acuse de fazer o que estão fazendo. Também é compreensível que ninguém tenha feito apelo mais reiterado e constante a essa camuflagem do que aquele movimento que, desde suas origens, assumiu a clandestinidade como condição essencial do seu modo de ação e a duplicidade escorregadia da dialética como seu linguajar oficial. Refiro-me, é claro, ao movimento comunista. E mais compreensível ainda é que essa auto-ocultação sistemática tenha redobrado de eficácia desde o momento em que Antonio Gramsci ensinou a seus companheiros que a mentira e o fingimento não eram apenas um instrumento tático, por obrigatório e consagrado que fosse, mas sim a própria natureza íntima, a essência e a chave do processo revolucionário como um todo. Sim, a verdade é essa. Despido dos adornos humanitários que o embelezaram "ex post facto", e que comparados à truculência grossa e crua de seus antecessores soviéticos lhe dão mesmo uma aparência angélica, o gramscismo não é nada mais, nada menos, que a mais completa, abrangente e meticulosa sistematização do engodo como método essencial da ação política – e o é em escala ainda mais vasta e em sentido ainda mais radical do que o Príncipe de Maquiavel, que lhe serviu de inspiração remota e esboço primitivo. Como descrever, senão nesses termos, uma estratégia sutil planejada para que todas as pessoas vão se tornando socialistas pouco a pouco, sem percebê-lo, e da noite para o dia acordem em plena ditadura socialista sem ter a menor ideia de como, quando e por que mãos se operou tão tremendo milagre? Essa é, sem nenhuma imprecisão ou exagero, a definição e a fórmula da estratégia de Gramsci para a conquista do poder absoluto pelo movimento comunista. Mas toda camufagem que se preze é dupla: encobre primeiro o objeto que quer ocultar e depois se camufla a si mesma, para passar despercebida. Tão logo as obras de Antonio Gramsci começaram a ser publicadas em 1947, a intelligentzia esquerdista se apressou a classificá-las – e a elite conservadora a aceitá-las sonsamente – como expressões de um "marxismo ocidental" original, não-dogmático, marginal e independente do tronco oficial do movimento comunista. O que aconteceu foi que, após ter sido oficialmente impugnada até à morte de Stálin em 1955, a estratégia gramsciana foi adotada integral e entusiasticamente pela KGB e, desde o início dos anos 60, aplicada em todo o Ocidente com a pletora de recursos financeiros e instrumentos de ação acessíveis àquela que era, e é ainda sob outro nome, a maior e mais poderosa organização de qualquer tipo que já existiu no mundo. Na verdade, o próprio Stálin só rejeitou a parte do gramscismo que preconizava a independência dos partidos comunistas nacionais, mas não deixou de se utilizar de técnicas da "revolução cultural" desde a década de 30, especialmente nos EUA. Esses dois fatos poderiam ter sido antevistos em tempo, com um pouco de inteligência. No entanto, mesmo depois de bem comprovados pelos documentos dos Arquivos de Moscou, ainda há quem teime em ignorá-los.Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.

SEGURANÇA PÚBLICA

OS CAPITALISTAS PREGUIÇOSOS QUE TEMEM O PROGRESSO

A tecnologia digital está reinventando o mundo, a serviço de você e de mim. Trata-se de um livre mercado com esteróides. Ela está driblando e contornando os guardiões do status quo e dando poderes a cada um de nós para inventarmos nossa própria civilização de acordo com nossas próprias especificações. A promessa do futuro não é nada menos que espetacular — desde que aqueles que não possuem a imaginação para ver este potencial não consigam impor a todos nós o seu atraso. Infelizmente, mas previsivelmente, algumas das maiores barreiras para este futuro brilhante e promissor são os próprios capitalistas que temem o futuro e que não querem ter o trabalho de se aprimorarem. Um bom exemplo disso é a atual histeria a respeito da impressora que imprime em 3-D e, com isso, literalmente duplica objetos. Trata-se de uma tecnologia que, com inacreditável rapidez, saiu do âmbito da ficção científica e veio para o mundo real, aparentemente em questão de meses. Você pode hoje conseguir impressoras destas por míseros US$400. Estas impressoras permitem que objetos sejam transportados digitalmente, e sejam literalmente impressos e criados em frente a seus olhos. É como um milagre! Isto pode mudar absolutamente tudo o que conhecemos hoje sobre o transporte de objetos físicos. Em vez de enviar caixotes e navios ao redor do mundo, no futuro iremos apenas enviar dígitos, que serão convertidos em objetos. O potencial que esta invenção apresenta para se combater e contornar monopólios e interesses estabelecidos é espetacular. Mas veja o que relatou a revista Wired Magazine [revista sobre tecnologia] na semana passada: No início deste ano, Thomas Valenty comprou uma MakerBot — uma impressora 3-D barata que permite a você criar objetos de plástico. Seu irmão possuía alguns Guardas Imperiais do jogo de tabuleiro Warhammer, de modo que Valenty teve a ideia de desenhar algumas miniaturas baseadas no mesmo estilo das miniaturas do jogo, como um guerreiro e um tanque. Ele passou uma semana refinando os desenhos até finalmente ficar satisfeito. "Tive muito trabalho", diz ele. Após a criação, ele postou os arquivos para download gratuito no Thingiverse, um site que permite a você compartilhar instruções para a impressão de objetos em 3-D. Pouco tempo depois, vários outros fãs começaram a fazer o mesmo. Até que alguns advogados foram acionados. A Games Workshop, a empresa do Reino Unido que produz o Warhammer, descobriu o trabalho de Valenty e enviou ao Thingiverse uma notificação de fechamento de site, citando o Digital Millennium Copyright Act. O Thingiverse retirou os arquivos do site, e Valenty repentinamente se tornou um relutante combatente da próxima guerra digital: a batalha pela cópia de objetos físicos. Então aí está. A Câmara de Comércio dos EUA — a suposta defensora da livre iniciativa — está em estado de pânico completo, determinada a esmagar a impressão 3-D em seu berço, ou, no mínimo, a garantir que ela jamais cresça. Na década de 1940, Joseph Schumpeter disse que os capitalistas iriam destruir o capitalismo caso insistissem em fazer com que seus vigentes modelos de lucratividade se perpetuassem para sempre, em total descompasso com todas as mudanças no mercado que surgem continuamente. Ele disse que a classe capitalista iria, com o tempo, perder o gosto pela inovação e iria insistir para que o governo criasse leis que abolissem as inovações. Tudo em nome da proteção das elites empresariais. Um exemplo: quando músicas e livros começaram a ser digitalizados, houve muita gritaria. Como iriam escritores e músicos sobreviver a este ataque? A verdade é que não houve nenhum ataque. Muito pelo contrário. Aquilo que foi inicialmente pensado para dar mais comodidade aos consumidores se transformou na maior dádiva já concebida para a música e para a literatura. Hoje podemos ver como tudo isso está funcionando. E não apenas está funcionando, como há escritores e músicos ganhando mais dinheiro hoje do que jamais na história. Os métodos utilizados atualmente jamais poderiam ter sido imaginados antecipadamente. Alguns disponibilizam seus conteúdos e vendem suas apresentações ao vivo. Outros inventaram novos e interessantes métodos de distribuir conteúdos, como estabelecendo um site acessível apenas para assinantes, e cobrando quantias módicas e convenientes. Escritores estão começando a publicar sem recorrer a grandes editoras, utilizando para isso vários foros criados por usuários de internet. Recentemente, visitando alguns museus, comecei a me dar conta de algo extremamente importante a respeito do nosso longo processo de aperfeiçoamento tecnológico. Ao longo de toda a nossa história de luta por aprimoramentos e avanços, cada melhoria, cada mudança de paradigma, cada abandono do velho em prol do novo geraram pânicos. O maior pânico, tipicamente, sempre advém dos próprios produtores, que se ressentem da maneira como o processo de mercado desestabiliza seus modelos empresariais. Já foi dito que o rádio acabaria com as apresentações ao vivo. Ninguém mais iria querer aprender música. Todas as músicas, concertos e apresentações seriam executadas apenas uma vez, gravadas para a eternidade, e este seria o fim. É claro que isso não foi o que aconteceu. Depois, quando inventaram o disco, novo pânico. Dizia-se que esta invenção iria destruir o rádio. Depois o mesmo processo se repetiu com a invenção das fitas K-7, com todo mundo prevendo o novo fim da indústria da música, já que as músicas podiam agora ser facilmente duplicadas ("A Gravação Doméstica Está Matando a Música"). E o mesmo apocalipse foi vaticinado com a invenção da música digital: agora sim veremos o fim de toda a música! E pense no mercado de livros do século XIX. Naquela época, grandes e poucas casas editoriais dominavam o mercado. Muitos previram que isso iria acabar com o surgimento de novos escritores porque as pessoas iriam comprar apenas livros de velhos autores, que eram baratos e acessíveis. Novos escritores iriam morrer de fome e, com isso, ninguém mais iria querer escrever. Observe que há um padrão nisso tudo. Cada nova tecnologia que é inventada e que se torna lucrativa faz com que as pessoas gritem e lamentem as dificuldades de seus atuais produtores. Mas aí ocorre o imprevisto: com o tempo, este setor que todos imaginavam em apuros começa a prosperar como nunca antes, só que de maneiras que ninguém realmente esperava. O grande segredo da economia de mercado é que ela agrega uma tendência de longo prazo: caso os métodos de produção e distribuição não sejam continuamente alterados, todos os lucros serão dissipados. É assim que a concorrência funciona. É assim que a concorrência não apenas inspira o aperfeiçoamento, como também faz com que ele seja inevitável. E este é um dos motivos por que vários capitalistas odeiam o capitalismo. O processo funciona assim: uma nova invenção surge no mercado e começa a auferir altos lucros. Ato contínuo, os imitadores se dão conta desta nova invenção e começam a fazer o mesmo, só que de forma melhor e mais barata, acabando com o status monopolista do primeiro produtor. Imitadores geram novos imitadores, dando continuidade ao processo. No final, os lucros tendem a zero. E aí algo ainda melhor tem de ser inventado para atrair novos empreendimentos e permitir novos lucros. Isso, por sua vez, irá estimular novos imitadores, reiniciando todo o processo. Nunca consegui entender por que esquerdistas reclamam de os lucros irem para os capitalistas. Em uma economia de mercado vibrante, lucros são a exceção temporária à regra. Eles são conseguidos somente pelas empresas mais inovadoras e eficientes, aquelas que servem com mais eficácia aos consumidores. Os ganhos nunca são permanentes. Tão logo a empresa perca sua vanguarda, os lucros empreendedoriais desaparecem. Sob a concorrência gerada pelo livre mercado, escreveu Ludwig von Mises, a trajetória dos modelos de produção e distribuição vigentes sempre tende a reduzir os lucros a zero. Para aqueles que querem se manter lucrativos, descanso e relaxamento são atitudes proibidas. Manter-se original e aprimorado é uma exigência diária. É necessário um incessante esforço para descobrir como servir aos consumidores de maneiras que são cada vez mais excelentes. É por isso que as grandes empresas estão sempre correndo para o colo do governo, pedindo proteção. Acabem com esta nova tecnologia! Parem as importações! Aumentem os custos para a concorrência! Criem mais regulamentações! Concedam-nos uma patente para que possamos derrotar os outros caras! Imponham novas leis antitruste! Protejam-me com direitos autorais! Intensifiquem as regulamentações e aumente a burocracia até tirar os novos do mercado! Socorram-nos com pacotes de estímulo! Além de tudo isso, sempre há o temor público em relação ao novo. Caso contrário, as pessoas de maneira alguma seriam persuadidas por todos estes protestos rotineiramente feitos por empresários já estabelecidos. Afinal, eles protestam exclusivamente em causa própria. E eis aí um fato notável sobre a mente humana: temos grandes dificuldades em imaginar soluções que ainda têm de ser apresentadas. Não importa o quão recorrentemente o mercado se mostre capaz de solucionar problemas aparentemente incuráveis; ainda assim não conseguimos nos acostumar a esta realidade. Nossa mente raciocina em termos das condições existentes, o que nos faz prever todos os tipos de catástrofes. Com incrível frequência somos incapazes de consistentemente esperar pelo inesperável. Isto gera um sério problema para a economia de mercado, que nada mais é do que a capacidade do sistema de inspirar a descoberta de novas ideias e novas soluções para os problemas vigentes. Os problemas trazidos pela mudança são suficientemente óbvios; mas as soluções são de "conteúdo aberto" e surgem de lugares, pessoas e instituições que não podem ser vistas ou previstas com antecedência. O capitalismo não é para os fracos e preguiçosos que não querem se aprimorar continuamente. Se você quer um arranjo que privilegie o lucro de alguns poucos em detrimento da prosperidade e da abundância para todos, então o socialismo e o fascismo realmente são sistemas preferíveis. As pressões para se interromper o progresso gerado pelo mercado não funcionarão no longo prazo, é claro. A tecnologia, com o tempo, conseguirá derrubar as forças que se opõem ao progresso. Os mercantilistas podem apenas postergar este processo, mas jamais conseguirão suprimir a incontrolável ânsia humana por uma vida melhor. Jeffrey Tucker é o presidente da Laissez-Faire Books e consultor editorial do mises.org. É também autor dos livros It's a Jetsons World: Private Miracles and Public Crimes e Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo

E O RELATÓRIO DE LEWANDOVSKI?

Faltam 7 dias úteis para ele entregar o relatório como revisor do processo do Mensalão. Isto de acordo com o prazo que ele mesmo inventou, o de que entregaria no primeiro semestre. Vale recordar que ele recebeu o processo do relator (Joaquim Barbosa) em dezembro do ano passado. 
Examinando a folha de pagamento de março de 2012 (disponibilizada no site do STF) é possível contar entre os assessores diretos do ministro cerca de 50 funcionários, entre efetivos, cedidos ao STF e terceirizados. 

São: 

1. recepcionista: 5; 
2. seguranças: 3; 
3. analista judiciário: 17; 
4. técnico em secretariado: 3; 
5. técnico judiciário: 4; 
6. assistente administrativo:1; 
7. procurador federal: 1; 
8. assistente administrativo:1; 
9. chefe de gabinete: 1 

A lista não está completa. É possível deduzir que não é por falta de funcionário que o relatório não foi entregue até hoje.Por: Marco Antonio Villa

FARSA HISTÓRICA

A foto que incomodou Luiza Erundina e chocou o país, do ex-presidente Lula ao lado de Paulo Maluf para fechar um acordo político de apoio ao candidato petista à Prefeitura paulistana (o nome dele pouco importa a essa altura) é simbólica de um momento muito especial da infalibilidade política de Lula. Sua obsessão pela vitória em São Paulo é tamanha que ele não está mais evitando riscos de contaminação como o que está assumindo com o malufismo, certo de que tudo pode para manter ou ampliar o seu poder político. O choque causado por esse movimento radical pouco importará se a vitória vier em outubro. Mas se sobrevier uma derrota, a foto nos jardins da mansão daquele que não pode sair do país por que está na lista dos mais procurados pela Interpol será a marca da decadência política de Lula, que estará então encerrando um largo ciclo político em que foi considerado insuperável na estratégia eleitoral. Até o momento, as alianças políticas com Maluf eram feitas por baixo dos panos, de maneira envergonhada, como a negociação em que o PSDB paulista fechava um acordo com o PP em busca de seu 1m30s de tempo de propaganda eleitoral. A própria Erundina disse, candidamente, que o que a incomodara foi o excesso de exposição do acordo partidário. Maluf, do seu ponto de vista, agiu com a esperteza que sempre o caracterizou, mas com requintes de crueldade. Ao exigir que Lula fosse à sua casa para selar o acordo, e chamar a imprensa para registrar o momento glorioso para ele e infame para grande parte dos petistas, ele estava se aproveitando da fragilidade momentânea do PT, que tem um candidato desconhecido que precisa ser exposto ao eleitorado para tentar se eleger. Lula, como se esse fosse o último reduto eleitoral que lhe falta controlar, está fazendo qualquer negócio para viabilizar a candidatura que inventou. Já se entregara ao PSD do prefeito Gilberto Kassab, provocando um racha no PT talvez tão grande quanto o de agora, e acabou levando uma rasteira que já prenunciava que talvez o rei estivesse nu. Agora, quem lhe deu a rasteira foi uma dupla irreconciliável, que Lula tentou colocar no mesmo saco sem nem ao menos ter se dado ao trabalho de conversar antes: Luiza Erundina, que um dia foi afastada do PT por ter aceitado um ministério no governo de coalizão nacional de Itamar Franco, agora se afasta do PT malufista. E Maluf, que vinha minguando como força política, viu a possibilidade de recuperar a importância estratégica em São Paulo no pouco mais de um minuto de televisão que o PP detém por força de lei. A sucessão de erros políticos que Lula parece vir cometendo nos últimos meses – a escolha de Haddad, o encontro com Gilmar Mendes, a CPI do Cachoeira, o acordo com Maluf – só será superada se acontecer o que hoje parece improvável, uma vitória de Fernando Haddad. No resto do país, o PT está submetendo os aliados a seus interesses paulistas, fazendo acordos diversos para garantir em São Paulo uma aliança viável. A foto de Lula confraternizando com Maluf tem mais um aspecto terrível para a biografia do ex-presidente: ela explicita uma maneira de fazer política que não tem barreiras morais e contagiou toda a política partidária, deteriorando o que já era podre. As alianças políticas entre Lula, José Sarney, Fernando Collor e Maluf colocam no mesmo barco políticos que já estiveram em posições antagônicas fazendo a História do Brasil, e hoje fazem uma farsa histórica. Em 1989, José Sarney era presidente da República depois de ter enfrentado Paulo Maluf no PDS. Ante uma previsível vitória do grupo de Maluf derrotando o de Mario Andreazza, Sarney rompeu com partido que presidia, ajudou a fundar a Frente Liberal (PFL) e foi vice de chapa de Tancredo. Na campanha presidencial da sucessão de Sarney, Lula disse o seguinte dos hoje aliados Sarney e Maluf: "A Nova República é pior do que a velha, porque antigamente era o militar que vinha na TV e falava, e hoje o militar não precisa mais falar porque o Sarney fala pelos militares e os militares falam pelo Sarney. Nós sabemos que antigamente se dizia que o Adhemar de Barros era ladrão, que o Maluf era ladrão. Pois bem: Adhemar de Barros e Maluf poderiam ser ladrão (sic), mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República, perto dos assaltos que se faz". Na mesma campanha, Collor não deixou por menos: chamou o então presidente Sarney de "corrupto, incompetente e safado". Durante a campanha das Diretas Já Lula se referiu assim a Maluf: "O símbolo da pouca-vergonha nacional está dizendo que quer ser presidente da República. Daremos a nossa própria vida para impedir que Paulo Maluf seja presidente". Maluf e Collor tinham a mesma opinião sobre o PT até recentemente. Em 2005, quando Maluf foi preso e Lula festejou, e recebeu a seguinte resposta: “(..) se ele quiser realmente começar a prender os culpados comece por Brasília. Tenho certeza de que o número de presos dá a volta no quarteirão, e a maioria é do partido dele, do PT". Já em 2006, em plena campanha presidencial marcada pelo mensalão, Collor disse que foi vítima de um "golpe parlamentar", do qual teriam participado José Genoino e José Dirceu,"enterrados até o pescoço no maior assalto aos cofres públicos já praticado nessa nação". E garantiu: "Quadrilha quem montou foi ele (Lula)", citando ainda Luiz Gushiken, Antonio Palocci, Paulo Okamotto, Duda Mendonça, Jorge Mattoso e Fábio Luiz Lula da Silva, o filho do presidente. São muitas histórias e muita História para serem esquecidas simplesmente por que Lula assim decidiu.Por: Merval Pereira

terça-feira, 19 de junho de 2012

ALÍVIO E ESPERANÇA

Em meio à grande crise contemporânea, há também os momentos de alívio e mesmo de renovada esperança em um futuro melhor. São janelas de oportunidade neste conturbado macroambiente econômico. O momento de alívio vem do resultado das eleições gregas deste domingo. E o olhar de esperança vem do surgimento de um novo bloco regional de enorme importância para a América Latina. O mundo estava de olho nas urnas gregas. A derrota dos radicais de esquerda dá novo fôlego à moeda continental. Prossegue o quiproquó do auxílio financeiro europeu pela reforma das finanças públicas gregas. Os eleitores perceberam que a opção entre “austeridade” (euro) e “crescimento” (dracma) é um falso dilema. Mas é triste saber que a juventude europeia continua entregue às mãos dessa mesma classe política cujas demagogia e irresponsabilidade financeira tanto a infelicitaram com o desemprego em massa. Conservadores na Grécia e socialistas na França, demagogos e obsoletos, continuam no comando. Apenas se atenuam os temores de contágio e precipitação de uma crise bancária continental que pudesse desembocar na decomposição da zona do euro. A derrota dos radicais de esquerda dá novo fôlego à moeda continental Sem o mesmo destaque dos eventos no Velho Mundo, surge a Aliança do Pacífico, um novo bloco regional anunciado por México, Colômbia, Peru e Chile, com a adesão prevista de Panamá e Costa Rica ainda no segundo semestre de 2012. O Acordo de Antofagasta, com 215 milhões de consumidores, 35% do produto interno bruto e 55% das exportações da América Latina, prescreve a livre circulação de mão de obra, de capitais, de bens e serviços, além da integração de redes educacionais, um sinal da extraordinária importância atribuída à formação de capital humano para o futuro da região. As regras de acesso ao novo bloco revelam aspirações de construir uma rede típica da Grande Sociedade Aberta: é preciso ser uma democracia, com estabilidade jurídica e constitucional, e aderir ao livre comércio com todos os sócios. Democracia e mercados, a síntese da moderna civilização ocidental, como exigências para integrar um bloco latino-americano! Enquanto isso, atolam os integrantes do Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai -, em meio a disputas tarifárias e escaramuças comerciais, e afundam os países do socialismo bolivariano – Venezuela, Equador e Bolívia -, por suas sempre bem-intencionadas, porém desastrosas, práticas populistas. Por: Paulo Guedes Fonte: O Globo, 18/06/2012

COMO SERIA A PRODUÇÃO DE DINHEIRO NO LIVRE MERCADO

Em um artigo seminal publicado em 1920, "O cálculo econômico sob o socialismo", Ludwig von Mises demonstrou que existe apenas uma única maneira de se saber se a produção de algo gera um benefício para a sociedade como um todo: os recursos, quando utilizados para produzir um bem que satisfaça as preferências de algumas pessoas, têm de ter um valor maior do que quando utilizados para produzir um outro bem que satisfaça as preferências de outras pessoas. Quando esta premissa é satisfeita, o produtor obtém lucros; quando ela não é observada, o produtor colhe prejuízos. A produção deixada a cargo do mercado é a única que satisfaz o teste de lucros e prejuízos, o qual mostra se uma produção é socialmente benéfica ou não. Esta é a implicação do famoso argumento de Mises de que planejadores centrais não têm como utilizar de maneira eficaz e racional os recursos de uma sociedade. Para que Tim Cook [atual presidente da Apple] possa obter chips computacionais, vidros para as telas de seus iPads, mão-de-obra e outros recursos para fabricar seus produtos, ele tem de oferecer preços que sejam altos o suficiente para conseguir retirar estes recursos de outros empreendedores que, caso contrário, teriam utilizado estes recursos para produzir outros bens. Ao incorrer nestes custos de produção, a Apple compensa os proprietários destes recursos em um montante maior do que o valor dos outros bens que eles poderiam ter produzido para satisfazer um outro grupo de consumidores. A Apple, então, utiliza estes recursos para produzir iPads, que são valorados muito favoravelmente por seus consumidores, como demonstrado pelo fato de que suas vendas geram receitas para a Apple mais do que suficiente para cobrir seus custos. O teste de lucros e prejuízos se aplica a toda e qualquer produção feita no mercado, inclusive a mineração de ouro e a cunhagem de moedas. Uma empresas mineradora de ouro irá produzir sempre que as receitas da venda de seu produto exceder os custos da compra de fatores de produção necessários para produzir seu produto. Nesta situação, a empresa irá oferecer salários altos o suficiente para retirar mão-de-obra de outros setores da economia, bem como preços altos o suficiente para retirar equipamentos de mineração e outros recursos daquelas aplicações que os consumidores atualmente consideram menos valiosas, e irá direcionar esta mão-de-obra, estes equipamentos de mineração e estes outros recursos para o setor de mineração de ouro, o qual os consumidores consideram mais valioso. Uma empresa que faz cunhagem de moedas de ouro irá produzir sempre que as receitas da venda de seus serviços de certificação de ouro forem maiores que os custos de compra de seus fatores de produção. A empresa irá igualmente retirar mão-de-obra, equipamentos de cunhagem, terra e outros recursos de aplicações que os consumidores atualmente consideram menos valiosas e direcioná-los para a cunhagem de moedas, atividade esta que os consumidores atualmente consideram mais valiosa. Assim como a produção de todos os outros bens, a produção de dinheiro, quando deixada a cargo do mercado, é regulada pelo sistema de lucros e prejuízos. Uma quantidade adicional de dinheiro será produzida quando a demanda por dinheiro aumentar ou quando a demanda por outros bens produzidos com estes mesmos recursos diminuir. Se a demanda por dinheiro aumentar, o valor das moedas de ouro irá aumentar. Ato contínuo, as empresas de cunhagem de moedas irão aumentar a produção para capturar este lucro adicional. À medida que elas aumentassem oferta de serviços de certificação de ouro, o preço deste serviço iria diminuir; e à medida que sua demanda por recursos que possibilitam a certificação de ouro aumentasse, os preços destes recursos subiriam e os lucros seriam dissipados. Se a demanda por outros bens diminuísse, os preços de seus fatores de produção diminuiriam. Empresas mineradoras de ouro iriam aproveitar esta queda nos preços dos fatores de produção para aumentar sua produção e, com isso, aumentar seus lucros. Ao fazerem isso, os lucros oriundos de uma produção adicional serão eliminados. Desta maneira, a produção de dinheiro no mercado sempre será socialmente ótima. Foi por isso que Mises disse que fazer com que a produção de dinheiro se desse de acordo com a lucratividade da atividade e não com politicagens não era um defeito do padrão-ouro; era a sua principal virtude. O teste de lucros e prejuízos também se aplica à produção de substitutos monetários no mercado. Substitutos monetários — ou certificados de dinheiro — são títulos de propriedade sobre o dinheiro metálico. Eles são emitidos por bancos e servem como substitutos para o dinheiro-commodity. As pessoas podem considerar mais conveniente e seguro utilizar contas-correntes bancárias em vez de terem de carregar dinheiro metálico consigo quando forem transacionar. Neste caso, os bancos irão criar e manter contas-correntes para seus clientes caso eles estejam dispostos a pagar tarifas bancárias que gerem receitas suficientes para cobrir os custos da administração de tais contas. Se a demanda por contas-correntes aumentar, os bancos irão expandir sua oferta para capturar este lucro adicional. À medida que eles aumentarem sua oferta de serviços de conta-corrente, as tarifas irão diminuir. E à medida que eles aumentarem sua demanda por recursos necessários para a administração de contas-correntes, os preços destes recursos subirão. Como consequência, os lucros serão dissipados e a produção adicional deste serviço seria interrompida em um ponto socialmente ótimo. O teste de lucros e prejuízos também se aplica à intermediação financeira. Bancos efetuam a função de intermediadores no mercado de crédito ao pegarem emprestado recursos de poupadores e emprestarem estes recursos a investidores. Bancos agrupam a poupança de seus clientes, verificam a solvência e o histórico de crédito de investidores, e assumem o risco de calotes. Se os clientes dos bancos considerarem tais serviços valiosos, então eles, ao emprestarem sua poupança aos bancos, estarão dispostos a aceitar taxas de juros menores do que aquelas que os investidores estarão dispostos a pagar aos bancos para obterem recursos emprestados. Os bancos fornecerão serviços de intermediação financeira se as receitas obtidas com este diferencial de juros forem altas o bastante para cobrir os custos deste serviço. Se a demanda por estes serviços aumentar, os bancos irão aumentar sua produção. O aumento de sua demanda por poupança de poupadores irá aumentar os juros que eles estarão dispostos a pagar aos poupadores, e o aumento da oferta de poupança para investidores irá reduzir os juros que os bancos cobrarão deles. Haverá uma redução no diferencial de juros. O contínuo aumento desta demanda por recursos dos poupadores irá aumentar o preço pago por esta poupança até que finalmente os lucros sejam dissipados e a produção adicional deste serviço de intermediação seja interrompida no ponto socialmente ótimo. Ao sujeitar toda a produção, inclusive a de dinheiro e de serviços bancários, ao teste de lucros e prejuízos, o mercado produz um sistema integrado de produção que economiza otimamente o uso de todos os recursos da sociedade como um todo. Inflação monetária e expansão do crédito Uma moeda elástica, que pode ser produzida a custos ínfimos e de acordo com conveniências políticas, rompe toda esta integração da produção no mercado, pois é um elemento alheio ao teste de lucros e prejuízos. Uma moeda elástica possui duas características: um banco central com autonomia de poder para emitir papel-moeda fiduciário e de curso forçado e bancos comerciais autorizados a emitir meios fiduciários. A produção de papel-moeda fiduciário e de curso forçado não pode ser regulada pelo sistema de lucros e prejuízos. É e sempre será lucrativo produzir dinheiro de papel. O custo médio de produção de um cédula de dinheiro é de $0,091. Sendo assim, um lucro de aproximadamente $4,90 pode ser obtido com a simples impressão de uma cédula de $5. Se o banco central continuar ordenando a impressão de cédulas de dinheiro enquanto tal atividade for lucrativa, então, no final, os preços dos fatores de produção necessários para a produção irão subir a tal ponto que custaria mais de $5 imprimir uma cédula de $5. Consequentemente, o banco central ordenaria a impressão de cédulas de $20, depois de $50 e daí por diante, indefinidamente, exatamente como vimos em hiperinflações como as do Zimbábue recentemente, da Alemanha da década de 1920, da Hungria da década de 1940 e do Brasil nos anos 1980 e 1990. Para evitar a destruição da hiperinflação, a produção de papel-moeda fiduciário e de curso forçado tem de ser regulada por políticas, adotando-se regras que serão inevitavelmente arbitrárias com relação ao uso de recursos escassos da sociedade como um todo. Da mesma maneira, a produção de meios fiduciários não pode ser regulada pelo sistema de lucros e prejuízos. Meios fiduciários são títulos de restituição em dinheiro lastreados apenas fracionadamente por uma reserva de dinheiro. São depósitos bancários que podem ser utilizados como meios de pagamento e que não estão lastreados por dinheiro padrão, seja esse dinheiro alguma commodity como ouro ou simplesmente cédulas de papel-moeda. Ou seja, trata-se da moeda escritural que não tem nenhuma reserva lastreando-a, pois foi criada do nada pelo sistema bancário. Os bancos criam meios fiduciários ao criarem empréstimos. Por exemplo, um cliente vai ao seu banco e pede um empréstimo de $40.000 para a compra de um automóvel. Se o banco concordar em conceder o empréstimo, ele simplesmente cria um saldo de $40.000 na conta-corrente deste cliente. Tal empréstimo irá gerar uma receita de juros para o banco ao mesmo tempo em que o custo de criação de meios fiduciários é simbólico. Sempre será lucrativo para um banco criar outro empréstimo emitindo mais meios fiduciários. Se, por ser esta uma atividade lucrativa, um banco continuar emitindo meios fiduciários por meio da criação de mais crédito, ele tenderá a se tornar ilíquido e insolvente, pois haverá uma grande demanda pela restituição destes meios fiduciários em dinheiro padrão. Haverá uma corrida bancária e o banco entrará em falência. Para evitar tal destruição, um banco tem de regular sua emissão de meios fiduciários por meio de políticas e regras que serão inevitavelmente arbitrárias com relação ao uso de recursos escassos da sociedade como um todo. Os defensores de uma moeda elástica sabem que sua produção não pode ser submetido ao, e muito menos ser aprovada pelo, sistema de lucros e prejuízos. Como disse F.A. Hayek, Não há nenhuma justificativa histórica para a atual posição do governo como monopolista da criação de dinheiro. Jamais foi proposto, muito menos provado, que o governo pode nos fornecer um dinheiro de melhor qualidade do que o livre mercado. Defensores de uma moeda elástica meramente alegam que tal arranjo monetário pode alcançar um resultado mais desejável do que aquele gerado por um sistema de dinheiro-commodity. A história, porém, mostra o contrário. Desde a abolição completa da moeda-commodity e massificação do papel-moeda fiduciário de curso forçado, não apenas a inflação de preços se tornou contínua e constante, como também os ciclos econômicos se tornaram mais profundos e prolongados. Conclusão Ninguém pode descrever hoje como seria a configuração de um sistema monetário criado por empreendedores operando livremente no mercado, assim como ninguém poderia prever, em 1900, como seria o desenvolvimento da indústria automotiva do século XXI, ou prever, em 1950, como seria a indústria de eletrônicos no século XXI. O que podemos saber de antemão é que a produção de dinheiro seria regulada pelo sistema de lucros e prejuízos e que, portanto, ela resultaria na satisfação das preferências dos consumidores, seus usuários. A inflação monetária e a expansão artificial do crédito, características constantes e deletérias de nosso vigente sistema monetário elástico, seriam eliminadas e, com elas, os ciclos econômicos que se tornaram uma calamidade em nosso mundo atual. Jeffrey Herbener é professor de economia no Grove City College. Tradução de Leandro Roque.

REQUINTES DE CRUELDADE

Fazer com que Lula fosse visitá-lo em sua casa para selar publicamente o acordo político de apoio à candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo é o ponto de destaque, com requintes de crueldade, dessa aliança, que de inusitada não tem nada, a não ser a marcha batida do PT para escancarar seu pragmatismo à medida que Lula se sente acima do bem e do mal, podendo fazer qualquer coisa para vencer eleições. Em 2004 Maluf já apoiara Marta Suplicy no segundo turno contra Serra, mas naquela ocasião ele disse que o fazia sem ter tido contato nem com Lula nem com Marta, reafirmando suas divergências com o PT. Desta vez foi diferente. Além de ganhar para um indicado seu uma secretaria do Ministério das Cidades, um Maluf radiante recebeu Lula e Haddad em sua casa, destacando o “sacrifício” que o ex-presidente fizera indo até lá, apesar das cautelas médicas devido à sua recuperação da cirurgia de câncer. Pelo menos o conselho de evitar falar em público ajudou Lula a sair de cena sem ter que justificar tal aliança. A senadora Marta Suplicy, que aceitara de bom grado o apoio envergonhado de Maluf em 2004, hoje, rejeitada por ser uma alternativa política “velha”, de acordo com Lula, diz que a aliança com Maluf é “pesadelo” maior do que a com o prefeito Gilberto Kassab, que ela também rejeitara. O maior problema, porém, para a candidatura petista é a reação da candidata a vice Luiza Erundina, que de incomodada com o pragmatismo petista, mas engolindo a seco a aliança, passou a rejeitá-la publicamente, convencida de que ela não será apenas uma união política “para constar”, diante da pose de Lula carrancudo com Maluf sorridente, tendo o “rapaz esforçado” Fernando Haddad no centro. O acordo político com Maluf conseguiu ofuscar a boa notícia que a nova pesquisa Datafolha trouxe para a campanha petista. Ter quase triplicado o apoio depois de algumas aparições ao lado de Lula e da presidente Dilma na televisão indicava que Haddad pode ter a esperança de vir a ser adotado pelo eleitorado petista conforme a campanha progredir, o que lhe daria um patamar mínimo de 30% dos votos para competir com o tucano José Serra. Mas aliança tão formal e explícita com o grupo de Maluf está reforçando as críticas do grupo de Marta Suplicy dentro do PT e abriu uma divergência séria no PSB, que pelo visto terá que buscar outro candidato a vice para Haddad. A ex-prefeita Luiza Erundina não parece ser do tipo que abre mão de suas convicções, mesmo que sejam ultrapassadas como o socialismo que ainda prega. Sua presença na chapa petista levava a candidatura Haddad mais para a esquerda do que seria desejável numa capital que tem a tradição de votar ao centro, quando não à direita. O próximo ataque especulativo de Lula será em cima do PMDB se a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita permanecer estacionada abaixo dos dois dígitos e menor do que a de Haddad. O PMDB queria usar a disputa paulistana para vender caro seu apoio ao PT nem segundo turno, ou até mesmo ter Chalita como o candidato oficial num segundo turno contra Serra. Tudo para neutralizar o ataque que o PSB vem orquestrando, com o objetivo de tomar o seu lugar como principal partido da base aliada, abrindo caminho para o governador Eduardo Campos ser o vice de Dilma em 2014. Ou, conforme os ventos da economia, surgir como uma altrernativa ao próprio PT. O maior receio do PMDB é que, após a eleição, o PSB se una ao PSD de Kassab para formar o maior partido no Congresso. Isso só não acontecerá, aliás, se o tucano José Serra vencer a eleição paulistana, o que coloca mais um pouco de incoerência nessa armação partidária onde ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo, dependendo da ocasião. O PSD de Kassab iria para a aliança de Haddad se Serra não fosse o candidato tucano, e Maluf iria para a base serrista se o PSDB aceitasse pagar o alto preço que o PT pagou. Esse imbróglio paulistano não é, no entanto, o único empecilho à aliança do PT com o PSB, que está se organizando nacionalmente para se colocar como protagonista na cena política em 2014. Assim como a disputa pela Prefeitura em São Paulo está intimamente ligada à sucessão presidencial de 2014, com os dois partidos querendo fortalecer suas posições no maior colégio eleitoral do país, algumas outras capitais também definem agora disputas políticas que serão fundamentais para a campanha à reeleição da presidente Dilma e para o PSDB. Em Fortaleza e Recife PT e PSB não conseguiram se entender até o momento, e tudo indica que sairão separados na disputa regional. Em Salvador, ACM Neto do DEM, com o apoio do PSDB, pode fazer ressurgir a força carlista na capital baiana. Em Manaus, uma aliança entre Amazonino Mendes e Arthur Virgilio pode dar ao ex-senador tucano as condições políticas para disputar a Prefeitura de Manaus, o que está preocupando a base aliada governista, à frente o ex-governador Eduardo Braga. Líder do governo no Senado em substituição ao eterno líder de qualquer governo Romero Jucá, Braga vem sofrendo ataques do grupo de senadores como Sarney, Calheiros e o próprio Jucá, que aparentemente a Presidente Dilma quer ver fora do centro de decisões. Se tiver que concorrer a Prefeito para unir a base governista contra a oposição, Braga corre o risco de perder o cargo no Senado, embora considere que pode acumular a candidatura com a liderança do governo. Além do jogo de poder visando a eleição presidencial, há ainda em disputa as presidências da Câmara e do Senado. O grupo do senador Sarney quer manter o controle do Senado mesmo depois que ele sair, e dois nomes aparecem na disputa no PMDB, a maior bancada: Edison Lobão e Renan Calheiros, o que aparentemente não agrada Dilma, que gostaria de um nome novo de sua confiança. Na Câmara, a vez seria do PMDB, mas o candidato preferencial do partido, o líder Henrique Eduardo Alves desgastou-se com a presidente Dilma. Um eventual acordo em São Paulo pode colocar em discussão a sucessão na Câmara, e o vice-presidente Michel Temer deverá ser o fiador. Como se vê, há muito mais do que política municipal em disputa nas próximas eleições. RPor: Merval pereira

RIO + 20: SALVEM AS FLORESTAS TEMPERADAS

Mais uma vez no Rio+20 iremos ouvir o brado da devastação da Amazônia, e ninguém vai sair protestando contra o desmatamento quase total das Florestas Temperadas. 

Por que ninguém exige o reflorestamento do Mid-West Americano e da Europa? 

Por que os brasileiros gastam 95% do seu tempo contra o desmantamento da Amazônia e nada protestam contra o desmatamento das Florestas Temperadas? 

Em 2003, escrevi o artigo abaixo na Veja: Salvem as Florestas Temperadas, e a repercussão foi quase nula. 

Não fui convidado para nenhuma das 54 Conferências sobre Ecologia realizadas no Brasil de lá para cá, ninguém achou este tema importante suficiente para se discutir. 

Eis o artigo de 2003, que infelizmente continua válido. 

No filme A Bruxa de Blair, sucesso de bilheteria do cinema alternativo americano, há uma cena que fez meu sangue de ecologista amador brasileiro e defensor do crescimento sustentável literalmente borbulhar. 

Os três estudantes do longa estão totalmente perdidos numa floresta da Nova Inglaterra e a garota começa a entrar em pânico achando que nunca mais sairia daquela selva. Seu colega então diz algo parecido com: "Não seja idiota, nós destruímos todas as nossas florestas temperadas. É só andarmos mais meia hora em linha reta que logo sairemos daqui". 

Ecologistas do mundo todo vivem fazendo protestos para preservar a floresta tropical brasileira, mas raramente param para refletir sobre essa corajosa crítica contida nesse filme, que fez tanto sucesso. 

Se alguém se perder na Floresta Amazônica, poderá ter de andar por noventa dias até achar uma saída, tal o nível de preservação de nossa Amazônia, comparada com as demais florestas. 

Então, não seria correto também discutir a reconstituição das florestas temperadas, há muito tempo dizimadas? 

Na Europa e nos Estados Unidos, boa parte das florestas foram destruídas. 

O "Crescente Fértil" descrito na Bíblia é hoje o Iraque da "Desert Storm". Em contrapartida, 86% da Floresta Amazônica continua intacta. 

No famoso Museu Smithsonian de Washington, vi um painel que orgulhosamente mostrava um pioneiro derrubando uma árvore para criar uma área arável e poder "suprir nossos antepassados com a comida necessária". 

Texto deles. Destruíram tantas florestas temperadas para plantar comida que hoje eles têm muito mais agricultores do que o necessário, a maioria economicamente inviável. 

Com a produtividade atual da agricultura, bastaria cultivar as planícies naturais que todos os países já possuem. 

A destruição das florestas temperadas é uma das razões dos maciços subsídios que a Europa e os Estados Unidos dão à agricultura, razão de nossos protestos junto à OMC. 

Quando negociadores do governo brasileiro reclamam desses subsídios, a resposta é que eles são necessários para manter a população no campo. 

Caso contrário, os países teriam enormes espaços e terras vazias, com todo mundo vivendo nas cidades. 

O erro dessa lógica política está na frase "espaços e terras vazias", uma vez que essas terras não eram "vazias" antes de as florestas temperadas serem dizimadas. 

Há muito deveríamos ter colocado na agenda mundial a necessidade da reconstituição das florestas temperadas ao lado da preservação da Floresta Amazônica - o que exigiria dos países desenvolvidos a lenta substituição dos agricultores subsidiados por guardas e bombeiros florestais em constante vigilância. 

Pelo menos os agricultores passariam a ser úteis, em vez de receber subsídios para nada plantarem. 

Os espaços não ficariam vazios, como temem os políticos desses países. Voltariam ao equilíbrio original. Isso teria importantes consequências econômicas para o Terceiro Mundo. 

Acabaria com os enormes subsídios agrícolas e equilibraria a balança comercial de muito país em desenvolvimento. Bjorn Lomborg, autor do The Skeptical Environmentalist, escreve na página 117 uma frase de muita coragem política: 

"Que base nós (Primeiro Mundo) temos para nos indignarmos com o desmatamento das florestas tropicais, considerando o nosso desmatamento na Europa e Estados Unidos? 

É uma hipocrisia aceitar que nós nos beneficiamos imensamente da destruição de enormes áreas de nossas próprias florestas mas não vamos permitir que países em desenvolvimento se beneficiem como nós o fizemos. 

Se não quisermos que eles usem seus recursos naturais do jeito que nós usamos os nossos, devemos compensá-los de acordo". Obviamente, ele foi massacrado, e por muitos brasileiros. 

Da próxima vez que um amigo, um jornalista ou um diplomata estrangeiro lhe indagar sobre o que estamos fazendo com nossa Floresta Amazônica, antes de responder, pergunte-lhe o que ele está fazendo para reconstituir 85% de suas florestas temperadas. 

Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br) Revista Veja, Editora Abril, edição 1823, ano 36, nº 40 de 8 de outubro de 2003, página 22