domingo, 24 de junho de 2012

O HOMEM QUE DESMORALIZOU A PATIFARIA

Tão logo começaram a circular pelo mundo as imagens de Lula e Maluf selando aliança política para beneficiar Haddad no pleito paulistano, a mídia disciplinada pelo PT começou a reprovar o comportamento de Lula. Não o fazer seria escandaloso. Mas era preciso reprovar como quem estivesse surpreso. Como se aquilo fosse uma grande novidade e uma nódoa incompatível com a alva túnica do seráfico ex-presidente. Do lado oposicionista, surgiram comentários no sentido de que se tratava de uma aliança entre iguais. Dizia-se que ambos se mereciam. Que seriam parceiros na escassez de escrúpulos. Que os dois seriam dotados de uma consciência maleável como massinha de moldar. Também essa foi minha primeira opinião, até assistir a um debate em que tal afirmação foi feita, recebendo a seguinte contestação de um representante do PT: "Não dá para comparar Lula com Maluf. Lula não é procurado pela Interpol!". Essa frase me levou a colocar os dois personagens nos pratos de uma balança mental das iniquidades. Instalei-os ali, enquanto sopesava as respectivas biografias, que, a essas alturas, enchiam as páginas dos blogs e sites da rede. Resultado do teste: Maluf foi catapultado para cima enquanto Lula se estatelava embaixo. De fato, Lula não tem condenação criminal. Mas até mesmo na balança de um juízo moral tolerante, é infinitamente mais danoso do que seu parceiro. O que ele fez com a política, com a democracia, com os critérios de juízo dos eleitores e com as próprias instituições nacionais é pior, muito pior do que o prontuário criminal do seu parceiro na eleição paulistana. Os estragos de Maluf se indenizam em São Paulo, com dinheiro, e se punem com cadeia. Os de Lula levarão décadas para serem retificados na consciência nacional e nas instituições do país. A sociedade, em algum momento, emergirá da letargia produzida pelo carisma do ex-presidente e pela rede de mistificações em que se envolve. Compreenderá, então, que o modo de fazer política introduzido por Lula conseguiu desmoralizar a patifaria. Antes dele havia um certo recato na imoralidade. As vilanias eram executadas com algum escrúpulo. Quando alguém gritava que o rei estava nu, as pessoas olhavam para as partes polpudas do rei e se escandalizavam. Com Lula, as pessoas olham para o lado. Não querem ver. São como os julgadores de Galileu que se recusavam a olhar pelo telescópio com que ele lhes queria mostrar o universo: "Noi non vogliamo guardare perché se lo facciamo potremmo cambiare". Não olham porque mudar de opinião pode custar caro. Então, o rei aparece no jardim, nu como uma donzela de Botticelli, e as pessoas olham para o Maluf, de terno e gravata com ar de escândalo. Se isso não é a desmoralização da moral, se a influência de Lula nos costumes políticos não nos submete, como cidadãos, aos padrões próprios de um covil de velhacos, então é porque - ai de mim! - em algum lugar do passado recente, perdi a visão e a razão. 

Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

OS TROPEÇOS NA AMÉRICA LATINA

No Paraguai o presidente tem seu mandato cassado, na Argentina uma greve de caminhoneiros paralisa o país, na Venezuela o presidente some para tratar de um câncer e deixa a nação desgovernada, no Brasil a classe política não dá trégua - manipula uma CPI, aumenta sem limites seus próprios salários, um ex-presidente tenta interferir no Judiciário e ressuscita um político acusado de corrupção que os brasileiros querem é esquecer. Na América Latina morre-se de tudo menos de tédio. A instabilidade política e econômica interfere no presente, prejudica o futuro, domina a cena e atrasa o desenvolvimento. A pesquisa Panorama Global dos Negócios, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), comprovou isso em consulta feita a 811 executivos de empresas na América Latina. A boa reação à crise global de 2008 e a recuperação econômica do continente entre 2009 e 2011 estão gravemente ameaçadas em 2012. Na pesquisa, 43% dos executivos financeiros mostraram pessimismo em relação ao futuro enquanto só 27% estão otimistas. Um pouco melhor do que nos EUA e Europa, centros nervosos da crise, onde o otimismo convence só 25,1% dos norte-americanos e 20,8% dos europeus. Mas por aqui a esperança já foi mais robusta. A corrupção - sempre ela - é apontada na pesquisa como o problema maior a atrapalhar o desenvolvimento dos negócios. Para 71% dos executivos, as práticas corruptas têm poderoso efeito sobre a evolução das economias latino-americanas. "É um índice muito alto comparado com outras regiões. Aqui a corrupção é muito mais endêmica", analisa Antonio Carvalho, que comandou a pesquisa da FGV. Nos EUA, por exemplo, só 8% consideram que a corrupção prejudica os negócios. No Brasil, de 7,5% de crescimento registrado em 2010, o PIB desabou para 2,7% em 2011, e em 2012 as previsões têm caído continuamente - hoje oscilam entre 2% e 2,5%. O banco Credit Suisse baixou a sua para o raquítico índice de 1,5%, o que deixou irritado o ministro Mantega. Se, em vez de fazer apostas irreais, que nunca se confirmam, o ministro trabalhasse para remover os entraves estruturais ao crescimento, com certeza colheria melhores resultados. Mas vem da Argentina outro abalo tão rápido e surpreendente como a queda de Lugo. Em dezembro passado, na euforia da posse da presidente Cristina Kirchner, 38% dos argentinos consideravam a situação econômica do país boa e apenas 17% a viam como ruim, segundo o Índice Geral de Expectativas, da Universidade Católica Argentina. Em apenas cinco meses a euforia murchou, os pessimistas dobraram para 34% e os otimistas desabaram para 24%. No meio disso, a inflação cresceu e o governo continuou manipulando o índice, o ritmo dos investimentos caiu 21% entre março de 2011 e 2012, os investidores se retraíram diante da tentativa da presidente de usar a nacionalização da petrolífera espanhola Repsol para recuperar popularidade política, a economia desacelerou e estagnou desde abril e as projeções de crescimento do PIB (o FMI, por exemplo, estimava em 4,6%) são revistas para baixo. Para completar, na quarta-feira, uma greve de caminhoneiros paralisou os transportes e deixou o país sem combustível, enfraquecendo ainda mais a pálida popularidade de Cristina. O que impressiona (e alimenta esperanças) é a manutenção do emprego em índices elevados em uma conjuntura de desaceleração econômica. E não é só no Brasil. Na pesquisa, simultaneamente ao crescente pessimismo, executivos das empresas latino-americanas apostam em expansão na contratação da mão de obra em 2012. No Brasil, economistas tentam explicar que a dispensa de trabalhadores é a última das medidas de prevenção contra conjunturas de desaquecimento da economia. Não foi bem assim na crise de 2008, quando, assustadas em relação ao futuro, grandes empresas logo trataram de demitir empregados. E assim caminha a América Latina, instável, em tropeços, altos e baixos. De repente acontece o inesperado, como esse impeachment de Lugo. Uma reforma política, a mãe de todas as outras, faria bem ao Continente. JORNALISTA, É PROFESSORA DA PUC-RI O Estado de S paulo

O SONHO DA BLINDAGEM PRÓPRIA

Texto irônico sobre o politicamente correto e a segurança pública ou a falta dela no Brasil.

Aloysio Tiscoski

Antigamente, desde os bons tempos do Banco Nacional da Habitação, no século passado, falava-se muito no sonho da casa própria, todo mundo tinha o sonho da casa própria. Hoje, quase não se escuta mais a expressão. Imagino que é porque, como verificamos todos os dias em comerciais de televisão e pronunciamentos oficiais, o governo já resolveu o problema da moradia. Os brasileiros (e brasileiras, vivo esquecendo a nova regra; atualmente, falou no macho, tem que falar na fêmea e, portanto, acostumemo-nos: alunos e alunas das escolas públicas, passageiros e passageiras do voo tal, cavalos e éguas do Jockey Club, cachorros e cadelas do Kennel Club, motoristos e motoristas, fisioterapeutos e fisioterapeutas, governantes e governantas, delinquentes e delinquentas, etc.), os brasileiros e brasileiras, dizia eu, agora são mostrados em filmetes radiosos, cheios de dentes, envergando trajes impecáveis e estampando nos rostos a felicidade. Como os demais compatriotas e compatriotos seus, já moram em espaçosas casas próprias, com área de lazer, esgoto tratado, água encanada, transporte acessível, assistência médica e tudo mais que os governos fazem pelo bem público, com os quatro ou cinco meses de nossos salários que na marra afanam. Abate-se o porcentual normal de ladroagem, de desperdício e de propaganda e o que sobra, embora por vezes não muito, é rigorosamente aplicado em investimentos e serviços públicos. O sonho da casa própria chega perto da obsolescência (perdão por estes novos parênteses, sei que são chatos e sinal de má escrita, mas é somente uma coisinha rápida: alguma entidade malévola me sugeriu escrever "obsoletibilizado", mas segurei a mão a tempo - deve ser porque, não faz muito, ouvi entrevistados na televisão dizendo "proporcionabiliza" e "originalizou", esse negócio pega), mas outro vem ocupar seu lugar, ditado pela eterna insatisfação do brasileiro, que, depois de conseguir uma casa, ainda quer ter o direito de que ninguém a invada para furtar, violentar ou matar. Por essa razão, meu palpite, também baseado em diversas notícias e reportagens que vêm circulando, é que abraçaremos um novo sonho, bem mais moderno, qual seja o sonho da blindagem própria. O Brasil está assumindo a liderança mundial, não só na fabricação e utilização de blindagens de todos os tipos, como no desenvolvimento de tecnologias avançadas, já se prevendo a formação de uma vastíssima cadeia produtiva e comercial. Creio que a novidade começou em São Paulo, que é onde mora o dinheiro, mas está se espalhando por todo o País. Primeiro vieram os automóveis, cujos fabricantes, em breve, certamente oferecerão (perdão mais uma vez, mas aproveito para conclamar a solidariedade dos amigos, admiradores e usuários do operoso verbo "oferecer", ora vivendo seus últimos dias esquecido e abandonado, pois que ninguém mais oferece nada e, sim, disponibiliza) modelos blindados, diretamente da linha de montagem. E algum empreendedor pode estar pensando em fechar um convênio com o Exército, para produzir a versão civil do Urutu. Blindam-se vitrines, vidraças, guichês, portarias, bilheterias, portas, paredes e, enfim, praticamente tudo. O número de firmas especializadas aumenta, o de técnicos também, declara-se um boom do blindado. E, diz aqui um jornal, a novidade mais palpitante, no panorama geral da blindagem, é o cada vez mais cobiçado quarto do pânico. Não basta que o edifício tenha garagem, portaria e elevador blindados e que as portas e janelas do apartamento também sejam blindadas. O indispensável agora é o quarto do pânico, bastante inspirado nos abrigos contra armas nucleares que os americanos construíam no quintal, na época da Guerra Fria. No caso dos apartamentos brasileiros, é facilmente previsível uma, digamos, mudança de paradigma. As antigas dependências de empregadas, cada vez mais inúteis, agora terão seu espaço reservado para o quarto de pânico. Nunca vi um quarto de pânico, mas sei que o essencial, evidentemente, é total blindagem contra ataques de fora. Podem atirar, tocar fogo, meter o pé de cabra à vontade, que não entram. E, lá dentro, tudo depende da imaginação e, principalmente, do dinheiro do dono. Água encanada e banheiro, claro, geladeira, alimentos para alguns dias, equipamento de comunicação com o exterior, ar condicionado, televisão e o que mais se queira. A ideia, me parece, é, ao acontecer no edifício um arrastão, ninguém ficar nervoso por causa de uma ameaça afinal tão corriqueira quanto um jacaré no Pantanal. Os moradores ganham tempo com suas portas blindadas e se socam no quarto do pânico durante dias, se for necessário, até se assegurarem de que podem sair em segurança. Para os e as que têm muito medo de assaltos ou já passaram por um, as perspectivas não deixam de ser alvissareiras. A classe média deverá contentar-se com apenas um quarto de pânico básico, modelo econômico, mas capaz de enfrentar comodamente um arrastão de até uma semana. Já os ricos e ricas poderão ter, não quartos, mas apartamentos de pânico. Ou edifícios de pânico, ou condomínios de luxo de pânico, quarteirões de pânico, bairros de pânico. O sujeito ou a sujeita que bolar e patentear um restaurante de pânico fica milionário ou milionária, porque é meio estressante o que está acontecendo com quem vai jantar fora, sabendo que vai, mas não sabendo se volta, como os que embarcavam numa caravela do tempo de Pedro Álvares. Melhor dizendo, quem souber aproveitar as oportunidades vai dar-se bem. As perspectivas são bastante mais promissoras do que se houvesse um plano nacional de segurança pública, como muitos e muitas reclamam, sem enxergar que a blindagem gera emprego e renda, de longe superando as ações de segurança pública. E quem quiser segurança terá toda a liberdade para nunca sair do seu quarto de pânico.Por: João Ubaldo Ribeiro O Estado de S.Paulo

É O FIM DA SIMBIOSE?

Nos últimos três meses aumentaram as indicações de forte desaceleração da atividade econômica da China, hoje a segunda maior economia do mundo. Há boas razões para entender que esse movimento não reflete apenas o ajuste da economia chinesa à crise global. Pode ser mais do que isso; pode ser o início do rompimento da relação simbiótica mantida entre China e Estados Unidos nos últimos 20 anos. A simbiose consistiu numa troca recíproca de papéis que configurou uma dependência recíproca. Os Estados Unidos passaram a ser grande mercado consumidor de produtos industrializados chineses e a China, por sua vez, amontoou grandes sobras em receitas (superávits comerciais) que foram imediatamente transformadas em reservas externas e, em seguida, trocadas por títulos do Tesouro dos Estados Unidos (veja o Confira). Ou seja, nessa simbiose, a China atuou como financiadora dos rombos orçamentários (e do consumo) dos Estados Unidos. Esta não foi apenas uma valsa dançada por um único casal. Outros protagonistas atuaram direta ou indiretamente neste salão. Outros emergentes, como Brasil, Rússia e Índia, também formaram grande volume de reservas depois aplicadas em títulos dos Estados Unidos. Uma das consequências desse mega- arranjo foi o forte achatamento dos juros internacionais de longo prazo, pela simples razão pela qual se formou vasto mercado tomador de títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Juros rastejantes, por sua vez, concorreram decisivamente para a grande expansão do crédito, para a formação das bolhas imobiliárias e para o afundamento na crise. Agora, a China não pode mais tirar proveito, como antes, do enorme dinamismo do mercado dos Estados Unidos e dos demais países ricos, que perderam capacidade de importar e de se endividar. Em contrapartida, estes países também não podem mais contar com a mesma capacidade que tinham os chineses (e demais emergentes) de seguir amontoando reservas. Como não podem exportar como antes, os chineses já não conseguem crescer aos ritmos alucinantes de há alguns anos (veja o gráfico). Sua estratégia de política econômica não pode mais concentrar-se no crescimento econômico baseado na expansão do mercado externo (export led growth), mas terá de induzir o crescimento do consumo no mercado interno (domestic led growth). O problema dessa mudança de modelo é que a China consome pouco. Não mais do que 49% da renda. (Apenas para comparar, o Brasil consome cerca de 73% e os Estados Unidos, quase 100%.) Achatar a poupança na China (de 51%) e transformá-la em consumo interno seria tarefa hercúlea que levaria anos, talvez dezenas. Até agora, os analistas imaginavam que, uma vez superada a crise, tudo voltaria a ser como antes. Mas as evidências são de que esse retorno à valsa antiga já não seria mais possível. Se não por outras razões, pelo menos por duas: porque a economia dos Estados Unidos já esbarrou no teto de sua capacidade de endividamento (emissão de títulos do Tesouro); e porque parece muito próximo o limite de formação de reservas pela China. Por: CELSO MING - O Estado de S.Paulo

ESTÁ O PLANETA AQUECENDO?

Uma síntese de porte sobre toda a polêmica do ambientalismo e da necessidade do crescimento sustentável. Excelente crônica. Vale a leitura. Aloysio Tiscoski 

O crescimento sustentável tornou-se fundamental; porém, muitas das teses são destituídas de fundamentos. 

Escrevo esta crônica bem antes que a conferência Rio+20 tenha chegado a suas conclusões. Por isso mesmo, me limitarei a algumas considerações acerca de problemas que foram levantados e discutidos neste dias. 

Confesso que há 40 anos ou mais, quando tomei conhecimentos da questão ecológica, achei que havia muito exagero em tudo aquilo, ainda que me faltassem maiores informações sobre o assunto. 

Mas eu não estava de todo errado. Tanto que, com o passar dos anos, as teses ecológicas tornaram-se menos radicais, e eu, de minha parte, admiti que a defesa do meio ambiente é uma necessidade vital, para a qual todos devemos contribuir, de uma maneira ou de outra. 

Quanto a isso, minha adesão é total. Como gosto de bichos, de gato a passarinho, onça, anta, macaco, jacaré, não poderia assistir indiferente à destruição das florestas, nem ao corte de árvores centenárias como as que têm sido postas abaixo por traficantes de madeira. 

Tampouco podemos ser tolerantes com a queima de combustíveis altamente poluidores, que envenenam a atmosfera das cidades, especialmente de metrópoles como São Paulo e Rio. Não resta dúvida de que essa quantidade excessiva de carbono, lançada por milhares de veículos, altera as condições atmosféricas locais. 

O caminho certo é, evidentemente, reduzir ao máximo a emissão desses gases poluentes, substituindo os motores movidos a petróleo por outros, movidos a eletricidade. Não acredito que alguém, em sã consciência, se oponha a isso. A dificuldade, portanto, não está aí e, sim, na concretização de tais objetivos. 

São problemas complexos, que envolvem dificuldades efetivas e interesses de tudo quanto é ordem, a começar pelos econômicos, que, por sua vez, têm implicações sociais nacionais e internacionais. 

Para mover os trens e os metrôs, é necessário dispor de energia elétrica, que por sua vez implica na queima de combustíveis poluentes ou na construção de usinas hidrelétricas, que levam à inundação de vastas áreas de florestas. 

Outras energias não poluentes, como a eólica e a solar, não terão tão cedo condições de suprir essas necessidades. A solução não é desistir delas, mas tampouco será a pregação alarmista, que ignora as dificuldades reais. 

O crescimento sustentável tornou-se um tema fundamental da atualidade, como o demonstra, por exemplo, a realização da Rio+20, com a participação de representantes de mais de cem países. Não obstante, muitas das teses defendidas pelos ambientalistas são classificadas por especialistas no assunto como destituídas de fundamentos científicos. 

Agora mesmo, 18 cientistas brasileiros, entre os quais estão físicos, geólogos e climatologistas, dirigiram à presidente Dilma uma carta afirmando que "as mudanças climáticas têm sido pautadas por motivações ideológicas, políticas, acadêmicas e econômicas restritas". 

Tal atitude contraria "os princípios basilares da prática científica como também os interesses maiores das sociedades de todo o mundo, inclusive a brasileira". 

Diz ainda o documento que não há evidências físicas da influência humana no clima do planeta, sendo portanto destituída de fundamento a afirmação de que a atividade industrial tem provocado o seu aquecimento. 

Segundo a carta, "o relatório de 2007 do Painel Intergovernamental de mudanças climáticas registra que, no período de 1850-2000, as temperaturas aumentaram 0,74º C, e que, entre 1870 e 2000, os níveis do mar subiram 0,2 m". 

Acrescenta que, nos últimos 12 mil anos, houve diversos períodos com temperaturas mais altas do que as de hoje e que o nível do mar chegou a subir três metros acima do atual. 

Não se verifica, afirma o documento, qualquer aceleração anormal desses indicadores nos últimos 20 mil anos, uma vez que as variações observadas no período da industrialização se enquadram na faixa de oscilações naturais do clima, não podendo ser atribuídas ao uso de combustíveis fósseis ou a qualquer outro tipo de atividade vinculada ao desenvolvimento humano. 

 Acrescenta que, embora milhares de estudos científicos sobre o assunto tenham sido feitos e publicados, nenhuma repercussão tiveram na mídia. Essa carta, por sua vez, tampouco teve a repercussão esperada.FERREIRA GULLAR FOLHA DE SP - 24/06

sábado, 23 de junho de 2012

O SOCIALISMO NA PRÁTICA - O LABORATÓRIO DA MORTE



the-death-of-communism-1366x768.jpgVocê sabe qual foi ou qual é o experimento socialista mais longevo da história do mundo?  Você sabe qual foi o sucesso deste experimento?
Se alguém lhe pedisse para defender a ideia de que o socialismo fracassou, qual exemplo você forneceria?
Onde o formato moderno de socialismo começou?
Nos Estados Unidos.
É isso mesmo: na "terra da liberdade".  Mais especificamente, nas reservas indígenas, sob o comando da Agência de Questões Indígenas, subordinada ao Ministério do Interior.
As reservas indígenas foram inventadas com o intuito de controlar combatentes adultos.  Elas tinham como objetivo manter a população nativa pobre e impotente.
O sistema funcionou?  Pode ter certeza.
O experimento tem se mostrado um fracasso?  Muito pelo contrário, tem sido um sucesso total.
Quando foi a última vez que se ouviu a respeito de alguma insurreição dos índios americanos?
Eles são pobres?  Os mais pobres dos EUA.
Eles recebem auxílios do governo americano?  É claro que sim.
No ano passado, o Ministério da Agricultura dos EUA destinou US$21 milhões para subsidiar eletricidade para os moradores daquelas reservas indígenas cujas casas são as mais isoladas de empregos e oportunidades de trabalho.  Você pode ler mais a respeito aqui.  Como toda e qualquer medida assistencialista, esta é apenas mais uma para mantê-los continuamente pobres.  Eletricidade tribal significa impotência tribal. 
As tribos são dependentes.  Elas permanecerão dependentes.  O programa foi criado exatamente para este objetivo.
Por alguma razão, os livros-textos de economia não oferecem sequer uma página relatando a corrupção, a burocratização e a pobreza multigeracional criadas por este socialismo tribal.  Temos aqui uma série de exemplos de laboratórios sociais gerenciados pelo governo.  Quão exitosos eles têm se mostrado?  Onde estão as reservas que de maneira sistemática tiraram pessoas da pobreza?
A próxima será a primeira.
O paraíso dos trabalhadores
A União Soviética foi o paraíso socialista dos trabalhadores de 1917 a 1991.  Como resultado direto deste experimento, pelo menos 30 milhões de russos morreram.  Os números verdadeiros podem ser o dobro desta cifra.  Já o experimento chinês foi mais curto: de 1949 a 1978.  Talvez 60 milhões de chineses tenham morrido. Há quem fale em 100 milhões.
O sistema foi incapaz de fornecer os bens prometidos.  Não consigo imaginar um tópico mais apropriado para se discutir em uma aula de economia do que o fracasso do socialismo.  O mesmo é válido para um curso sobre a história do mundo moderno.  Qualquer curso decente de ciência política deveria cobrir este fracasso em detalhes.
Mas isso não ocorre, é claro.  Nenhum curso menciona o mais fundamental desafio já proposto à teoria econômica socialista, o ensaio de Ludwig von Mises, escrito em 1920, O cálculo econômico sob o socialismo.  E por que não?  Porque a maioria dos cientistas sociais, economistas e historiadores nunca ouviu falar desta obra.  Entre aqueles com mais de 50 anos de idade, os poucos que já ouviram a respeito ouviram da boca de algum defensor do socialismo ou de algum entusiasta keynesiano, que apenas repetiu o que havia aprendido na sua pós-graduação: que tal ensaio havia sido totalmente refutado por Oskar Lange em 1936.
Mas o que eles nunca dizem é que, quando Lange, um devoto comunista, voltou à sua Polônia natal em 1947 para atuar no alto escalão da burocracia estatal, o governo comunista não pediu para que ele implementasse sua grande teoria do "socialismo de mercado".  Com efeito, nenhum país socialista jamais implementou sua teoria.
Durante 50 anos, poucos livros-textos de economia mencionavam Mises.  E, quando o faziam, era apenas para dizer que ele havia sido totalmente refutado por Lange.  Os acadêmicos do establishment simplesmente jogaram Mises no buraco orwelliano da memória.
No dia 10 de setembro de 1990, o multimilionário escritor, economista e socialista Robert Heilbroner publicou um artigo na revista The New Yorker intitulado "Após o Comunismo".  A URSS já estava em avançado processo de colapso.  Neste artigo, Heilbroner recontou a história da refutação de Mises.  Ele relata que, na pós-graduação, ele e seus pares foram ensinados que Lange havia refutado Mises.  Porém, agora, ele anunciava: "Mises estava certo".  No entanto, em seu best-seller, The Worldly Philosophers, um livro-texto sobre a história do pensamento econômico, ele em momento algum cita o nome de Mises.
Os fracassos visíveis
O fracasso universal do socialismo do século XX começou já nos primeiros meses após a tomada da Rússia por Lênin.  A produção caiu acentuadamente.  Ato contínuo, ele foi forçado a implementar um reforma marginalmente capitalista em 1920, a Nova Política Econômica (NEP).  Ela salvou o regime do colapso.  A NEP foi abolida por Stalin.
Durante as décadas seguintes, Stalin se entregou ao corriqueiro hábito de assassinar pessoas.  A estimativa mínima é de 20 milhões de mortos.  Tal prática era peremptoriamente negada por quase toda a intelligentsia do Ocidente.  Foi somente em 1960 que Robert Conquest publicou seu monumental livro O Grande Terror — Os Expurgos de Stalin.  Sua estimativa atual: algo em torno de 30 milhões.  O livro foi escarnecido à época.  O verbeteda Wikipédia sobre o livro é bem acurado.
Publicado durante a Guerra do Vietnã e durante um surto de marxismo revolucionário nas universidades ocidentais e nos círculos intelectuais, O Grande Terror foi agraciado com uma recepção extremamente hostil.
A hostilidade direcionada a Conquest por causa de seus relatos sobre os expurgos foi intensificada por mais dois fatores.  O primeiro foi que ele se recusou a aceitar a versão apresentada pelo líder soviético Nikita Khrushchev, e apoiada por vários esquerdistas do Ocidente, de que Stalin e seus expurgos foram apenas uma "aberração", um desvio dos ideais da Revolução, e totalmente contrários aos princípios do leninismo. Conquest, por sua vez, argumentou que o stalinismo era uma "consequência natural" do sistema político totalitário criado por Lênin, embora reconhecesse que foram os traços característicos da personalidade de Stalin que haviam causado os horrores específicos do final da década de 1930.  Sobre isso, Neal Ascherson observou: "Àquela altura, todos nós concordávamos que Stalin era um sujeito muito perverso e extremamente diabólico, mas ainda assim queríamos acreditar em Lênin; e Conquest disse que Lênin era tão mau quanto Stalin, e Stalin estava simplesmente levando adiante o programa de Lênin".
O segundo fator foi a ácida crítica de Conquest aos intelectuais ocidentais, os quais ele dizia sofrerem de cegueira ideológica quanto às realidades da União Soviética tanto durante a década de 1930 quanto, em alguns casos, até mesmo ainda durante a década de 1960.  Personalidades da intelectualidade e da cultura da esquerda, como Sidney e Beatrice Webb, George Bernard Shaw, Jean-Paul Sartre, Walter Duranty, Sir Bernard Pares, Harold Laski, D.N. Pritt, Theodore Dreiser e Romain Rolland foram acusados de estúpidos a serviço de Stalin e apologistas de seu regime totalitário devido a vários comentários que fizeram negando, desculpando ou justificando vários aspectos dos expurgos.
A esquerda ainda odeia o livro, e continua até hoje tentando dizer que ele exagerou nos números e nos relatos.
E então veio o Livro Negro do Comunismo (1999), que coloca em 85 milhões a estimativa mínima de cidadãos executados pelos comunistas, deixando claro que cifras como 100 milhões ou mais são as mais prováveis.  O livro foi escrito por esquerdistas franceses e publicado pela Harvard University Press, de modo que ele não pôde simplesmente ser repudiado como sendo apenas mais um panfleto direitista.
A esquerda até hoje tenta ignorá-lo.
O blefe dos cegos
A resposta da academia tem sido, até hoje, a de considerar todo o experimento soviético como algo que foi meramente mal orientado, algo que se desencaminhou, e não como algo inerentemente diabólico.  O custo em termos de vidas humanas raramente é mencionado.  Antes de 1991, era algo ainda mais raramente mencionado.  Antes de Arquipélago Gulag (1973), de Solzhenitsyn, era considerado uma imperdoável falta de etiqueta um acadêmico fazer mais do que apenas mencionar muito discretamente e só de passagem toda a carnificina, devendo limitar qualquer crítica apenas aos expurgos do Partido Comunista comandados por Stalin no final da década de 1930, e praticamente quase nunca mencionar que a fome em massa havia sido adotada como uma política pública.  "Ucrânia?  Nunca ouvi falar."  "Kulaks?  O que são kulaks?"
A situação decrépita de todas as economias socialistas, do início ao fim, não é mencionado.  Acima de tudo, não há nenhuma referência aos críticos do Ocidente que alertaram que estas economias eram vilarejos Potemkins em grande escala — cidades falsas criadas pelo governo para ludibriar os leais e românticos esquerdistas que iam à URSS ver o futuro.  E eles voltavam para seus países com relatos entusiásticos e incandescentes.
Há um livro sobre estas ingênuas e crédulas almas, que foram totalmente trapaceadas: Political Pilgrims: Travels of Western Intellectuals to the Soviet Union, China, and Cuba, 1928-1978 de Paul Hollander.  Foi publicado pela Oxford University Press em 1981.  Foi ignorado pela intelligentsia por uma década.
A melhor descrição que já li sobre estas pessoas foi fornecida por Malcolm Muggeridge, que trabalhou no início da década de 1930 como repórter do The Guardian em Moscou.  Tudo o que ele escrevia era censurado antes de ser enviado para a Inglaterra.  E ele sabia disso.  Ele não podia relatar a verdade, e o The Guardian não publicaria caso ele relatasse.  Eis um trecho do volume 1 de sua autobiografia, Chronicles of Wasted Time.
Para os jornalistas estrangeiros que residiam em Moscou, a chegada de ilustres visitantes era também uma ocasião de gala, mas por uma razão diferente.  Eles nos propiciavam nosso melhor — praticamente nosso único — momento de alívio cômico.  Por exemplo, ouvir [George Bernard] Shaw, acompanhado de Lady Astor (que havia sido fotografada cortando o cabelo de Shaw), declarar que estava encantado por descobrir, em meio a um banquete fornecido pelo Partido Comunista, que não havia escassez de comida na URSS, era algo de imbatível efeito humorístico.  Ou ouvir [Harold] Laski cantar glórias à nova Constituição Soviética de Stalin.
Jamais me esquecerei destes visitantes, e jamais deixarei de me assombrar com eles; de como eles discursavam pomposamente sobre as maravilhas do regime, de como eles iluminavam continuamente nossa escuridão, guiando, aconselhando e nos instruindo; em algumas ocasiões, momentaneamente confusos e envergonhados; mas sempre prontos para se reerguer, colocar seus capacetes de papelão, montar em seusRocinantes, e sair galopando mundo afora em novas incursões em nome dos pobres e oprimidos.
Eles são inquestionavelmente uma das maravilhas de nossa época, e irei guardar para sempre na memória, com grande estima, o espetáculo que era vê-los viajando com radiante otimismo até as regiões famintas do país, vagueando em bandos alegres por cidades esquálidas e sobrepovoadas, ouvindo com inabalável fé as insensatezes balbuciadas por guias cuidadosamente treinados e doutrinados, repetindo, assim como crianças de colégio repetem a tabuada, as falsas estatísticas e os estúpidos slogans que eram incessantemente entoados para eles.
Eis ali, pensava eu ao ver estas celebridades, um ardoroso burocrata de alguma repartição local da Liga das Nações, eis ali um devoto Quaker que já havia tomado chá com Gandhi, eis ali um feroz crítico das exigências de comprovação de renda para se tornar apto a receber programas assistenciais do governo, eis ali um ferrenho defensor da liberdade de expressão e dos direitos humanos, eis ali um indômito combatente da crueldade contra animais; eis ali meritórios e cicatrizados veteranos de centenas de batalhas em prol da verdade, da liberdade e da justiça — todos, todos eles cantando glórias a Stalin e à sua Ditadura do Proletariado.  Era como se uma sociedade vegetariana se manifestasse apaixonadamente em defesa do canibalismo, ou como se Hitler houvesse sido indicado postumamente para o Prêmio Nobel da Paz.
Este fenômeno não acabou junto com a década de 1930.  Ele perdurou até o último suspiro da farsa econômica criada pelos soviéticos.  A falência intelectual e moral dos líderes intelectuais do Ocidente, algo que vinha sendo encoberto pela própria durabilidade do regime soviético, foi finalmente exposta em 1991, quando houve o reconhecimento mundial de que os regimes marxistas não apenas haviam falido economicamente, como também eram tiranias que o Ocidente havia aceitado como sendo uma alternativa válida para o capitalismo.
Não há exemplo melhor deste auto-engano intelectual do que o de Paul Samuelson, professor de economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o primeiro americano a ganhar o Prêmio Nobel de economia (1970), ex-colunista da revista Newsweek, e autor daquele que é, de longe, o mais influente livro-texto de economia do mundo pós-guerra (1948 — presente): pelo menos 3 milhões de cópias vendidas em 31 idiomas distintos.  Ele escreveu na edição de 1989 de seu livro-texto: "A economia soviética é a prova cabal de que, contrariamente àquilo em que muitos céticos haviam prematuramente acreditado, uma economia planificada socialista pode não apenas funcionar, como também prosperar."
Foi o economista Mark Skousen quem encontrou esta pérola.  E ele também descobriu esta outra, ainda mais condenatória.
O experimento soviético
Em sua autobiografia, Felix Somary recorda uma discussão que ele havia tido com o economista Joseph Schumpeter e com o sociólogo Max Weber em 1918.  Schumpeter foi um economista nascido na Áustria mas que não era da Escola Austríaca de economia.  Mais tarde, ele viria a escrever a mais influente monografia sobre a história do pensamento econômico.  Já Weber foi o mais prestigioso cientista social acadêmico do mundo até morrer em 1920.
Naquela ocasião, Schumpeter havia expressado alegria em relação à Revolução Russa.  A URSS seria o primeiro exemplo prático de socialismo.  Weber, por sua vez, alertou que o experimento geraria uma miséria incalculável.  Schumpeter retrucou dizendo que "Pode ser que sim, mas seria um bom laboratório."  E Weber respondeu: "Um laboratório entulhado de cadáveres humanos!".  E Schumpeter retrucou: "Exatamente igual a qualquer sala de aula de anatomia".[1]
Schumpeter era um monstro em termos morais.  Não vamos medir as palavras.  Ele foi um homem altamente sofisticado, mas, no fundo, um monstro moral.  Qualquer pessoa que menospreze a morte de milhões de pessoas desta forma é um monstro moral.  Weber saiu extremamente irritado da sala.  Não o culpo.
Weber morreu em 1920.  Foi neste ano que Mises lançou seu ensaio, O cálculo econômico sob o socialismo.  Weber o mencionou em uma nota de rodapé em sua obra-prima, publicada postumamente como Economia e Sociedade(página 107 na versão original).  Weber compreendeu sua importância tão logo leu este ensaio.  Já os economistas acadêmicos, não.  Até hoje, há poucas referências a esta obra de Mises.
Mises explicou analiticamente por que o sistema socialista é irracional: não há um mercado para os bens de capital.  Sendo assim, é impossível saber quanto cada coisa deveria custar.  Ele disse que um sistema socialista inevitavelmente se degeneraria em uma dessas duas alternativas: ou ele iria abandonar seu compromisso com um planejamento total ou ele fracassaria por completo.  Mises nunca foi perdoado por esta falta de etiqueta.  Ele estava certo, e os intelectuais, errados.  As sociedades socialistas entraram em colapso, com a exceção da Coréia do Norte e de Cuba.  Pior ainda, ele se mostrou correto em termos de simples teoria de mercado, algo que qualquer pessoa inteligente podia entender.  Exceto, aparentemente, os intelectuais do Ocidente.  E este seu ensaio é um testemunho para os intelectuais do Ocidente: "Não há pessoas mais cegas do que aquelas que se recusam a enxergar."
A prova do pudim
Mises acreditava que a real prova do pudim está em sua fórmula.  Se a pessoa que faz o pudim acrescentar sal em vez de açúcar, ele não será doce.  Você nem precisa experimentá-lo para saber disso.  Mas os acadêmicos estão oficialmente comprometidos a aceitar apenas coisas empíricas.  Eles creem que uma teoria tem de ser confirmada por testes estatísticos.  Mas os testes ocorreram durante décadas.  As economias socialistas fracassavam seguidamente, mas divulgavam estatísticas falsificadas.  E todos sabiam disso.  Mas, mesmo assim, os intelectuais do Ocidente insistiam na crença de que o ideal socialista era moralmente sólido.  Eles insistiam que os resultados iriam, no final, provar que a teoria estava certa.
Nikita Kruschev ficou famoso por haver dito isso a Nixon no famoso "debate da cozinha", em 1959.  Ele era um burocrata que havia sobrevivido aos expurgos de Stalin por ter supervisionado o massacre de dezenas de milhares de pessoas na Ucrânia.  Ele disse a Nixon: "Vamos enterrar vocês."  Ele estava errado.
Estudantes universitários não são ensinados nem sobre a teoria do socialismo nem sobre a magnitude de seus fracassos.  Nem economicamente nem demograficamente.  Na era pré-1991, tal postura era mais fácil de ser mantida do que hoje.  A intelligentsia hoje já admite que o capitalismo é mais produtivo que o socialismo.  Sendo assim, a tática agora é dizer que o capitalismo é moralmente deficiente.  Pior, que ele ignora a ecologia.  Foi exatamente esta a estratégia recomendada por Heilbroner em seu artigo de 1990.  Ele disse que os socialistas teriam de mudar de tática, parando de acusar o capitalismo de ineficiência e desperdício, e passar a acusá-lo de destruição ambiental.
Conclusão
A natureza abrangente do fracasso do socialismo não é ensinada nos livros-textos universitários.  O tópico é atenuado e minimizado sempre que possível.  Era mais fácil impor sanções contra qualquer um que se atrevesse a escrever em jornais acadêmicos ou na imprensa antes de 1991.
Deng Xiaoping anunciou sua versão da Nova Política Econômica de Lênin em 1978.  Mas isso, na época, não ganhou muita publicidade.
Em 1991, a fortaleza soviética desmoronou.  Gorbachev presidiu o último suspiro do regime em 1991.  Ele recebeu da revista Time o título de "Personalidade da Década" em 1990.  Em 1991, ele se tornou um ex-ditador desempregado.  O socialismo fracassou — totalmente.  Mas a intelligentsia ainda se recusa a aceitar a filosofia social de livre mercado de Mises, o homem que previu todas as falhas do socialismo e que forneceu todos os argumentos em prol de sua condenação universal.
É exatamente por isso que é uma boa ideia sempre prever o fracasso de políticas econômicas ruins em qualquer análise que se faça sobre elas.  Poder dizer "Eu avisei que isso iria ocorrer, e também expliquei por quê" é uma postura superior e mais respeitável do que apenas dizer "Eu avisei".


[1] Felix Somary, The Raven of Zurich (New York: St. Martin's, 1986), p. 121.

Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seuwebsite

DENTRO DA LEI

Embora dentro das normas constitucionais, a deposição do presidente do Paraguai Fernando Lugo pelo Congresso tem claros indícios de que foi o desfecho de uma disputa política que se desenrola praticamente desde que ele chegou ao poder, cerca de 4 anos atrás. Já houvera antes uma tentativa de impeachment quando surgiram as denúncias de vários filhos do ex-padre católico, dois dos quais ele já reconheceu. Há outros na fila. O escândalo sexual não foi suficiente, no entanto, para que os opositores de Lugo conseguissem levar adiante a tentativa de impeachment, mas a tragédia recente em que morreram 11 camponeses de um movimento sem terra, e seis policiais, fez com que forças políticas majoritárias se unissem para acusá-lo de “mau desempenho de suas funções”, o que possibilitou o processo de impeachment. Os agricultores sem terras da Liga Nacional de Acampados, que invadem propriedades e se instalam em tendas, receberam o aval público de Lugo, que os recebeu diversas vezes no Palácio do Governo e na residência presidencial, até que a 15 de junho seis policiais desarmados foram mortos durante a desocupação de uma fazenda em Curuguaty, a 250 km de Assunção. A reação da polícia provocou a morte de 11 camponeses e a acusação de perda de controle pelo governo. Mesmo que a motivação seja política, não é possível classificar de golpe o que aconteceu no Paraguai, sob pena de darmos razão ao hoje senador Fernando Collor de Mello que se diz vítima de um “golpe parlamentar”, e já chegou a reivindicar de volta seu mandato presidencial em entrevista. O interessante é que Collor foi impedido pelo Congresso brasileiro num processo que teve a liderança do PT, tanto na atividade parlamentar quanto na mobilização dos chamados movimentos sociais para apoiar a decisão dos políticos. Cassado, Collor foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal por falta de provas, o que o leva a alegar que foi vítima de um golpe. É uma incoerência completa, portanto, que o governo brasileiro acuse um processo congressual de ilegítimo, quando já tivemos essa experiência em nossa democracia recente. A ameaça de expulsar o Paraguai do Mercosul, além de uma leitura equivocada da cláusula democrática da instituição, pode servir aos interesses da Venezuela, que até agora não foi aceita como membro pleno justamente por que o Congresso do Paraguai não deu a permissão, por considerar que a Venezuela não é um país democrático. Essa aliás, é uma outra boa discussão, pois o governo brasileiro aceita todas as manobras feitas pelo governo de Hugo Chavez na Venezuela alegando justamente que elas, aprovadas pelo Congresso, são, portanto, legítimas. Lula chegou ao cúmulo de dizer que havia na Venezuela “democracia demais”. Todos os governos “bolivarianos” da região – Bolívia, Equador, Argentina, Nicarágua – já promoveram diversas alterações em suas Constituições para aumentar o poder dos respectivos presidentes, em golpes seguidos à democracia utilizando-se de seus próprios instrumentos legais. Aumentaram a composição da Suprema Corte, criaram obstáculos à liberdade de expressão, mudaram as regras eleitorais para favorecer o partido que está no governo, e alegam sempre que as alterações foram feitas com a aprovação do Congresso. Mas quando o Congresso decide contra o governante “bolivariano”, desencadeia-se imediatamente um movimento regional de constrangimento a esses parlamentos, tentando usar a cláusula democrática como instrumento de pressão. Agora mesmo os chanceleres da Unasul foram a Assunção para tentar parar o processo de impeachment contra Fernando Lugo, logo acusado de golpe. O chanceler Antonio Patriota foi com a instrução da presidente Dilma para “falar grosso”. No caso de Honduras, em 2009, chegou a ser escandalosa a intromissão do governo brasileiro nos assuntos internos daquele país, a ponto de ter tentado, com a cumplicidade de Hugo Chávez, criar um fato consumado com o retorno do presidente deposto Manuel Zelaya ao país, abrigando-o na embaixada brasileira. De acordo com a Constituição de Honduras, o mandato presidencial tem o prazo máximo de quatro anos, vedada expressamente a reeleição. Aquele que violar essa cláusula, ou propuser-lhe a reforma, perderá o cargo imediatamente, tornando-se inabilitado por dez anos para o exercício de toda função pública. Foi exatamente o que Zelaya fizera, tentando mudar a Constituição através da convocação de um plebiscito. A cláusula pétrea da Constituição de 1982 de Honduras tinha justamente o objetivo de cortar pela raiz a possibilidade de permanência no poder de um presidente, pondo fim à tradição caudilhesca no país. A preocupação tinha sentido: Honduras é o país inspirador do termo "República de bananas" ou "República bananeira" cunhado pelo escritor americano O. Henry, pseudônimo de William Sydney Porter, que, no livro de contos curtos Cabbages and Kings, (Repolhos e Reis) de 1904, usou pela primeira vez a expressão, que passou a designar um país atrasado e dominado por governos corruptos e ditatoriais, geralmente na América Central. O principal produto desses países, a banana, era explorado pela famosa United Fruit Company, que teve um histórico de intromissões naquela região, especialmente Honduras e Guatemala, para financiar governos que beneficiassem seus interesses econômicos, sempre apoiado pelo governo dos Estados Unidos. Mesmo com toda a pressão do governo brasileiro e dos demais países “bolivarianos”, que conseguiram, até mesmo expulsar o país da Organização dos Estados Americanos (OEA), como ameaçam fazer agora com o Paraguai no Mercosul, Honduras promoveu uma nova eleição e o presidente Porfirio Lobo está no governo, já tendo sido reconhecido por todos os demais países e retornado à OEA. O ex-presidente paraguaio Fernando Lugo parece estar agindo com mais bom-senso do que os governos da Unasul, aceitando a decisão do Congresso.Por: Merval pereira

sexta-feira, 22 de junho de 2012

NOVO AGRO x AMBIENTALISMO RETRÓGRADO


O novo agro do Brasil vence ambientalismo retrógrado na Rio+20.

Depois dos embates do Código Florestal, o que assistimos na Rio+20 foi o governo brasileiro adotando o discurso do Novo Agro, recheado de dados e resultados de sustentabilidade. Marina Silva sumiu. Brilhou Kátia Abreu, incensada pela imprensa internacional como a "amazonas" do milionário agronegócio do Brasil.

O seminário "Segurança Alimentar e Sustentabilidade no Agronegócio", realizado durante o evento Humanidade 2012, mostrou que o agronegócio brasileiro amadureceu nos últimos anos e até admite, ao menos no discurso, que já não precisa de mais desmatamento para seguir crescendo e que voltar a mexer no bioma amazônico está fora de questão. Mesmo a senadora Katia Abreu (PDT-TO), presidente da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA), conhecida por seus embates com os ambientalistas, já prega o preservacionismo e admite que o setor não precisará de novas terras "por muitos anos".

"Na verdade, neste momento e por muitos anos adiante, não vamos precisar desmatar mais porque a área que temos aberta dá para dobrarmos, triplicarmos a produção de carnes e de grãos, implementando tecnologias", disse em rápida entrevista após exposição em que mostrou os esforços que vem fazendo para modificar a imagem negativa do setor. Ainda assim, na apresentação, a senadora não resistiu a alfinetar várias vezes os ambientalistas, como quando os comparou a uma melancia, verde por fora e vermelha por dentro, em alusão a ideais comunistas que estariam por trás de parte do discurso ambiental. Mas, no geral, mostrou abertura ao diálogo.

"Eu concordo que é possível compatibilizar a agricultura e a produção com a preservação do meio ambiente. Não é nem uma questão de concordar, é uma obrigatoriedade. Temos que usar toda a força da inteligência humana para minimizar os impactos ambientais e produzir conforto para as pessoas", disse. A senadora, festejada pelos presentes, disse ao Valor que as necessidades de terras adicionais para a agropecuária serão supridas "principalmente" pela recuperação de pastos degradados, iniciativa que, disse, ela mesma está tomando na sua fazenda no Estado do Tocantins. (Valor Econômico)

FAMÍLIAS BRASILEIRAS AFOGADAS EM DÍVIDAS



FAMÍLIAS BRASILEIRAS AFOGADAS EM DÍVIDAS. AUMENTO DA GASOLINA TERÁ IMPACTO DRAMÁTICO!

Editorial do jornal O Estado de São Paulo mostra que o endividamente das família já se encontra no limite máximo. É o espetáculo do crescimento alardeado pelo governo do PT e seus sequazes. Deve-se acrescentar que o aumento da gasolina que está para ser decretado pelo governo como está noticiado em post abaixo, tende a ser dramático, já que puxará os todos os preços para cima. O título original do editorial é "Governo estimulou as famílias a se endividar".  Leiam:
As autoridades imaginaram que, ao aumentar o volume de crédito baixando as taxas de juros, haveria uma redução da inadimplência e uma queda do endividamento, que levariam ao aumento da demanda doméstica no segundo semestre.
Quando se observa que as duas primeiras previsões não aconteceram, temos o direito de duvidar de que a terceira se apresente na segunda parte do ano, uma vez que a maior alta das rendas aconteceu em janeiro, com o reajuste de 14% do salário mínimo.
O que aconteceu é que o índice de inadimplência aumentou 6,2% entre abril e maio, e na cidade de São Paulo o porcentual de famílias endividadas passou de 45,7%, em maio do ano passado, para 53,24%, em maio de 2012. Fato que não devemos estranhar, pois a soma da maior oferta de crédito com a redução do seu custo é a receita ideal para aumentar o endividamento, ainda mais quando, ao mesmo tempo, o salário mínimo é aumentado. Não se pode esquecer ainda de que estamos assistindo a um forte crescimento dos empréstimos habitacionais. Mesmo que as prestações sejam modestas, elevam fortemente o comprometimento das famílias, que, ao dispor da sua unidade de habitação, se veem na obrigação de realizar novos gastos para equipar a nova casa.
O erro, certamente, foi o de oferecer todas essas facilidades ao mesmo tempo, sem levar em conta que as operações de crédito sob todas as formas e no seu conjunto podem acusar uma queda, mas são escandalosamente caras quando se trata de crédito pessoal.
Pode-se dizer que a taxa média de juros ao consumidor é a menor desde 1995. Já a taxa para cartão de crédito, que representa 77,2% da dívida das famílias, é de 10,69% ao mês ou 238,67% ao ano, sendo a operação de menor custo a de financiamento de automóveis, com 24,6% ao ano, o que, aliás, torna preferencial a compra de automóveis.
Admite-se como razoável um endividamento equivalente a 30% da renda mensal, mas em São Paulo chega em média a 42,95%. As famílias com um endividamento desse porte, terão, primeiro, a tentação de recorrer às operações com o custo mais elevado, o que aumentará seu endividamento, e chegarão a um momento em que, com 50% de sua renda mensal comprometida, não terão mais capacidade de compra, ao contrário do que espera o governo com sua previsão de aumento da demanda no segundo semestre. Isso explica a cautela das empresas para aumentar sua capacidade de produção. Do site do jornal O Estado de S. Paulo

quinta-feira, 21 de junho de 2012

TERRORISTAS DO MST E VIA CAMPESINA


21/06/2012
 às 19:50

Espaço da CNA na Rio+20 é invadido e depredado por terroristas do MST, da Via Campesina e de outros movimentos

Vejam estas fotos.
cna-invasao-bandeiras-vermelhas1
cna-invasao-massa-invandindo
cna-invasao-punhos-para-o-alto
cna-invasao-cabeludo-gritando
cna-invasao-resultado-da-acao
cna-invasao-mocreia-discursando
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) participa da “Rio+20″. Tem um estande no Pier Mauá denominado “AgroBrasil”, montado com o apoio da Embrapa e do Sebrae, para expor práticas de agricultura sustentável no Brasil. Pois bem: no fim da manhã desta quinta, militantes dos MST e da Via Campesina, entre outros grupos, invadiram e depredaram o espaço, como se pode ver acima.
Os invasores chegaram como se fossem visitantes comuns. Uma vez no local, deram início a seu “protesto”. Danificaram maquetes, jogaram tinta vermelha no local e espalharam panfletos. A segurança no Pier Mauá é feita por empresa privada. A Polícia Militar teve de ser acionada, e só não houve confronto porque ninguém resistiu à ação dos vândalos.
Leiam a declaração dada ao Globo por Divina Lopes, do MST:
“Ficamos satisfeitos com a manifestação, que conseguiu apresentar um contraponto ao agronegócio. Mas não houve depredação. Lá dentro, fizemos uma colagem de cartazes contra este modelo de agricultura e gritamos palavras de ordem. Mas a manifestação foi pacífica e ninguém saiu machucado”.
Vamos decupar a sua fala. “Apresentar contraponto”, segundo Divina, é invadir um espaço, depredar o trabalho alheio e gritar palavras de ordem. Segundo ela, a “manifestação foi pacífica” porque, afinal, “ninguém saiu machucado”. Ou por outra: deixe o MST agir à vontade, e ninguém se machuca. As fotos estão aí. A polícia tem como atuar se quiser.
A propósito: o MST e a Via Campesina são organizações políticas de extrema esquerda — há ATÉ alguns agricultores entre eles. O chefão é João Pedro Stédile, que nunca pegou num cabo de enxada. Basta olhar as fotos para perceber que há manifestantes que não têm nenhuma intimidade com as questões ligadas à terra. São as Mafaldinhas e os Remelentos de sempre, que saem dali para algum bar da Zona Sul, onde vão comemorar o seu feito heroico, e dali para o conforto de seus lares. Enquanto empregadas invisíveis administram a casa, eles se dedicam à revolução…
A CNA emitiu uma nota de repúdio, assinada pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da entidade. Leiam. Volto em seguida:
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vem a público manifestar o seu repúdio aos tristes episódios ocorridos na manhã desta quinta-feira, dia 21 de junho, quando o Espaço AgroBrasil, que lidera no Pier Mauá, um dos espaços oficiais da Rio+20, foi invadido por cerca de 200 manifestantes.
Rejeita a violência do grupo que  portava cartazes do Movimento dos Sem Terra (MST), além de materiais de outros movimentos não identificados.
Lamenta os atos de vandalismo que danificaram parte das instalações, especialmente uma maquete que reproduz as várias técnicas de agricultura de baixo carbono, além de uma Área de Preservação Permanente (APP), conforme fotos disponibilizadas no link:  http://www.flickr.com/photos/canaldoprodutor/
Por esse motivo, protesta mais uma vez frente ao preconceito contra um setor que utiliza apenas 27,7% do território do país para produzir alimentos de forma sustentável, preservando 61% do Brasil com cobertura vegetal nativa.
A CNA considera inaceitável que manifestações antidemocráticas como estas ainda tenham lugar em um evento como a Rio+20, onde os povos e as nações buscam o entendimento e a convergência para um mundo melhor, sempre respeitando a diversidade de ideias.
Senadora KÁTIA ABREU
Presidente da CNA
Voltei“A CNA não chama os manifestantes de terr0ristas, Reinaldo, mas você chama?” Quem quer que, por questão política, imponha ao outro a sua vontade, submetendo-o pela força,  pondo em risco a segurança de terceiros, pratica ato terrorista. Todos esses elementos estão dados na ação empreendida pelo MST e pela Via Campesina. Há mais: há gente ali que não pertence a esses movimentos nem a pau, Juvenal!
Vocês acham que aquele barbudo e cabeludo e sua companheira alimentada com Toddynho e sucrilho moram naquelas barrascas de plástico preto do MST? Vocês acham que aquela senhora que discursa sobre a maquete sabe distinguir uma batata de um nabo? Vocês imaginam aquele rapazola de camiseta cor-de-rosa e cabelo de surfista plantando o alimento que come com as próprias mãos?
Basta pensar um pouquinho para constatar que há grupo ambientalistas de alcance mundial bastante chegados a esse tipo de ação direta e… terrorista!
Por Reinaldo Azevedo

HISTÓRIA DO FUTURO PRÓXIMO

A ECONOMIA DOS Estados Unidos vai estar entre adoentada e convalescente até 2015. É pelo menos o que deram a entender os diretores do banco central americano, o Fed.

 A política de taxa de juro zero (Zirp, na sigla em inglês) continua pelo menos até 2014 ou 2015. A Zirp começou no fim de 2008. Vai fazer seis anos. Juro zero por tanto tempo assim significa que muita gente está desempregada ou endividada demais para consumir e que muita gente está com medo de consumir e de investir (em aumento da produção). Oferta-se dinheiro à vontade, mas a coisa não anda. Para completar, o Fed anunciou que continuará até o fim do ano as operações de recompra de títulos da dívida pública de longo prazo. Trocando em miúdos, continua a pôr dinheiro na praça para tentar baixar taxas de financiamentos longos, como a da casa própria. Mas a economia reage devagar, quase parando quando leva susto da Europa. A crise americana começou já em 2007. Mesmo que os EUA voltem à "normalidade" em 2014 ou 2015, a Europa ainda estará com lama pelos joelhos. Nas estimativas mais otimistas, a economia europeia volta a ser o que era em 2007 lá por 2017, 2018. Se o caso de Grécia, Portugal, Espanha ou Itália não der em besteira grave. Portanto, a crise vai chegar a dez aninhos. Ou será que a "crise" e seus desdobramentos serão o "normal" daqui por diante? Não se trata de dizer que o tumulto financeiro e econômico será eterno, mas de imaginar que o tombo de 2008 foi um episódio crítico de processo maior de mudança e que tal tombo deixará sequelas. Talvez o mundo euroamericano não possa nem consiga (ou mesmo deva) crescer a um ritmo forte. Porque talvez não consiga é assunto para outro dia e para mais espaço. Mas, a esse respeito, note-se que o mundo rico vive de bolhas financeiras faz uns 20 anos. Não vinha crescendo a não ser com anabolizantes. Porque não deve crescer mais é o assunto do momento, pois estamos no meio da Rio+20, a conferência ambiental, e o assunto lá, em última instância, é como equilibrar o crescimento mundial (mais nos lugares mais pobres, menos nos mais ricos) e como dividir a conta do investimento em melhoria ambiental. O problema maior (e talvez insolúvel) é, claro, como coordenar o rebalanceamento (quem vai querer segurar seu crescimento?), como dividir a conta sem guerra e como reduzir a desigualdade em cada país, mesmo rico. Entenda-se: o esteio social e político de uma programa de "crescimento menor" depende de melhoria na distribuição de renda. EUA ou Europa Ocidental ainda precisam crescer rápido? O esforço de solução da crise deles deve ter esse objetivo? E a eventual retomada deve se apoiar em que setor? Note-se que o consumo per capita de energia nos EUA é o dobro do britânico, 85% maior que o alemão, num mundo em que bilhões ainda passam fome e frio. Note-se que o "plano" europeu de recuperação econômica em última instância se baseia na depressão de rendas (de salários e benefícios), em aumento da desigualdade, para que se mantenha a "competitividade" da economia tradicional deles, assolada pela concorrência asiática. Isso não vai dar certo. Talvez nem seja possível. Por:VINICIUS TORRES FREIRE FOLHA DE SP - 21/06

O PASSADO ASSOMBRA

A coincidência não deve agradar a Lula, mas dificilmente será possível dizer que se trata de mais um golpe dos reacionários contra o governo popular do PT. Aliás, o noticiário criminal envolvendo o PT indica que o partido há muito vem se metendo em enrascadas. Às vésperas do julgamento do mensalão, desta vez a Justiça reavivou o escândalo dos aloprados, que na eleição de 2006 tentaram comprar um dossiê que supostamente continha denúncias contra o candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, o mesmo que hoje Lula tenta derrotar com o auxílio de Paulo Maluf, na disputa para a prefeitura de São Paulo. Naquela ocasião, Serra venceu o candidato petista Aloizio Mercadante no primeiro turno. Um dia depois do escândalo provocado pela exibição despudorada de intimidade entre o ex-presidente e Maluf, um dos brasileiros relacionados na lista de alerta vermelho da Interpol dos criminosos mais procurados do mundo, aJustiça de Mato Grosso aceitou denúncia do Ministério Público Federal contra nove dos envolvidos. Dois deles, Jorge Lorenzetti, petista de Santa Catarina que era também churrasqueiro ex-traoficial da Granja do Torto no primeiro governo Lula, e o advogado Gedimar Pereira Passos, que supervisionava a segurança do comitê da campanha de reeleição, eram ligados diretamente ao ex-presidente, que, no entanto, como sói acontecer, declarou desconhecer o assunto e ainda fez-se de indignado, classificando os membros do grupo de “aloprados”. Preso na Polícia Federal, Ge-dimar incluiu no grupo um segurança particular da primeira-dama Letícia Maria de nome Freud (que não se perca pelo nome) Godoy, que o teria chamado para avaliar se o tal dossiê continha mesmo fatos que comprometiam Serra. Freud acabou desaparecendo do noticiário, assim como uma coincidência reveladora: o ex-ministro José Dirceu (sempre ele), antes mesmo que fosse divulgado o conteúdo do dossiê, escreveu que as acusações seriam “a pá de cal na campanha do picolé de chuchu”, como se referia ao candidato tucano à presidência Geraldo Alckmin. Gedimar Passos, assessor da campanha de Lula, negociava a aquisição do dossiê com Valde-bran Padilha, empresário filiado ao PT. A PF prendeu a dupla em flagrante com 1,7 milhão de reais que seria usado na compra do material forjado. Expedito Veloso, outro dos envolvidos, denunciou meses mais tarde que o atual ministro da Educação, Aloizio Merca-dante, e o ex-governador de São Paulo já falecido Orestes Quér-cia foram os mandantes. Mesmo que entre os acusados estivesse Hamilton Lacerda, então assessor de Mercadante, e que ele fosse o maior beneficiado, o candidato petista não foi arrolado como partícipe do golpe. O centro da conspiração estava no “Núcleo de Informação e Inteligência” da campanha de reeleição de Lula, e quem chefiava a equipe de “analistas de informação” era o petista histórico Jorge Lorenzetti, ex-dirigente da CUT, enfermeiro de profissão, diretor financeiro do Banco do Estado de Santa Catarina e churrasqueiro do presidente nas horas vagas. Lorenzetti chefiava Gedimar Pereira Passos na tarefa de con-trainformação eleitoral, e foi nessa qualidade que teria sido enviado para analisar o dossiê contra os tucanos. A descoberta do plano revelou a existência de uma equipe dentro da campanha de reeleição que se envolve em falcatruas variadas, uma maneira de atuar politicamente que vem das batalhas sindicais do ABC, as quais Lula conhece bem com que armas se disputam. Esse mesmo esquema provocou uma crise no comitê da candidata Dilma Rousseff, quando foi descoberto que havia um grupo recrutado para fazer espionagem, inclusive o jornalista Amaury Ribeiro Filho que levou para o grupo o hoje nacionalmente conhecido Dadá, o grampeador oficial do esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Os protagonistas do chamado escândalo dos aloprados responderão pelos crimes de lavagem de dinheiro e operação fraudulenta de câmbio. Segundo a denúncia do Ministério Público, eles “se associaram subjetiva e objetivamente, de forma estável e permanente, para a prática de crimes contra o sistema financeiro nacional e de lavagem de dinheiro, que tinha por fim a desestabilização da campanha eleitoral de 2006 do governo de São Paulo”. O Ministério Público, embora as investigações tenham rastre-ado todo o caminho do dinheiro, não conseguiu definir sua origem, um dos grandes mistérios desse caso. A fotografia da montanha de dinheiro apreendido acabou sendo divulgada às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial, e os petistas atribuem ao impacto da imagem a ida da eleição para o segundo turno. Passou despercebida, mas uma declaração do ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Tho-maz Bastos, em entrevista recente na televisão a Monica Ber-gamo e ao cientista político An-tonio Lavareda, admite claramente a existência do mensa-lão, ele que é advogado de um dos réus. Disse Thomaz Bastos a certa altura, falando sobre a corrupção do Brasil: “Vamos chegar a um ponto em que a democracia, por sua própria prática, vai resolver isso. Lembremos que, no início do século passado, na Câmara dos Comuns, no Reino Unido, havia um guichê onde os parlamentares recebiam o dinheiro, uma espécie de mensalão da época. O que não impediu que a Inglaterra se tornasse um país altamente democratizado. Isso dá a esperança de que, pela reiteração dos usos, possamos encontrar isso, um outro patamar de regime democrático”. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, parece enxergar longe. Em voto favorável à punição de Lula por propaganda antecipada, na campanha para eleger Dilma Rousseff, classificou de “antirre-publicano” projeto de poder que inclui eleger o sucessor: “Quem se empenha em fazer o seu sucessor, de ordinário, pensa em se tornar ele mesmo o sucessor de seu sucessor”. Outro dia Lula admitiu que “se Dilma não quiser”, ele se dispõe a ser candidato novamente... Por: MERVAL PEREIRA O GLOBO - 21/06

ADEUS, RIO

Malogrou a Rio+20. Não há outra forma de descrever o resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. 

 Não se encontra palavra mais apropriada que "fracasso" para qualificar uma reunião cujo mérito maior foi evitar um retrocesso de duas décadas, em relação à primeira Cúpula da Terra, no mesmo Rio de Janeiro, em 1992. Até o comedido Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, permitiu-se afirmar que desejaria um documento final mais ambicioso. Só o governo brasileiro, no papel de anfitrião, saudou os 283 parágrafos da peça "O Futuro que Queremos" como "vitória" e "avanço". O Itamaraty pode ter evitado um fiasco do porte da conferência do clima de Copenhague (2009), que se mostrou incapaz de produzir uma declaração conjunta. Mas falar em texto "estupendo" é um exagero que nem mesmo a proverbial presunção diplomática autorizaria. Todo o esforço da representação brasileira foi fechar um documento de consenso antes da chegada dos chefes de Estado e de governo ao Rio, ontem. Entre hoje e amanhã, eles devem limitar-se a fazer discursos pomposos e chancelar uma declaração inócua. A habilidade negocial brasileira se resumiu a tentar agradar a todos retirando substância do texto. A União Europeia (UE) queria uma Organização Mundial do Ambiente, mas não levou. Os EUA vetaram, com apoio do Brasil e de países emergentes. Estes pediam um fundo de US$ 30 bilhões custeado pelos desenvolvidos. Tiveram de contentar-se com a manutenção do princípio -velho de 20 anos- das "responsabilidades comuns porém diferenciadas" (ricos e desenvolvidos devem investir mais e transferir tecnologia para combater os males do ambiente global) e com um grupo de trabalho sobre o assunto. O máximo que se logrou acordar foi que o mundo precisa de metas quantitativas de desenvolvimento sustentável, ao estilo das Metas de Desenvolvimento do Milênio. Quantas e quais, fica para outra comissão, com prazo até 2015. O produto mais evidente da Rio+20, ao final, talvez seja o esgotamento da via multilateral para concertar decisões de governos nacionais quanto a questões globais complexas. Como no caso da negociação sobre mudança do clima, as idas e vindas desembocam sempre nos mesmos impasses. Seria bem mais promissor delegar a formatação de soluções para quem realmente conta, econômica e ambientalmente: EUA, UE, Brasil, China, Índia e Rússia. Mas desse futuro ninguém na ONU quer saber.EDITORIAL FOLHA DE SP