quarta-feira, 28 de novembro de 2012

ESCOLÁSTICOS, PREVIDÊNCIA, EDUCAÇÃO, RELIGIÃO, KEYNES - UMA ENTREVISTA COM JESÚS HUERTA DE SOTO



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AEN: O senhor faz uma espécie de revisionismo histórico ao descrever a Espanha como sendo o local de nascimento da Escola Austríaca de Economia


de Soto: Sim, mas é acurado.  Concentrar-se somente em Viena é uma postura muito tacanha.  Há essa tendência de crer, como todos os modernistas, que somente o novo tem valor e que estudar o velho seria mera arqueologia.  Porém, na economia e na filosofia, é exatamente o contrário.  A maioria das grandes e boas ideias já havia sido concebida por alguma grande mente no passado, inclusive as mais fundamentais ideias austríacas.
Uma das principais contribuições de Murray Rothbard foi mostrar que a pré-história da Escola Austríaca pode ser encontrada nas obras dos escolásticos espanhóis durante o "Siglo de Oro Español", que foi desde o reinado de Carlos V no século XVI até o barroco do século XVII.
Nos anos 1950, Friedrich Hayek conheceu o grande intelectual italiano Bruno Leoni, autor de Liberdade e Legislação, e Leoni convenceu Hayek de que as origens intelectuais do liberalismo clássico deveriam ser buscadas na Europa Mediterrânea e não na Escócia.  No livro de Leoni, há uma citação de Cícero na qual Cato diz que o direito romano é o conjunto de regras jurídicas mais perfeito de todos porque ele não foi criado por uma só mente.  Ele não foi construído do nada.  Ele é resultado de um processo para o qual várias mentes contribuíram com sua sabedoria.  Advogados e juízes não fazem as leis; eles as descobrem e podem apenas aperfeiçoá-las muito lentamente.
Tenho uma carta de Hayek, datada de 7 de janeiro de 1979, na qual ele diz que os princípios básicos da teoria da concorrência de mercado já haviam sido delineados pelos escolásticos espanhóis do século XVI, e que o liberalismo econômico não havia sido criado pelos calvinistas, mas sim pelos jesuítas espanhóis.
AEN: Quem eram estes predecessores espanhóis da Escola Austríaca?
de Soto: A maioria deles lecionava teologia e ética na Universidade de Salamanca, uma cidade medieval localizada a 240 quilômetros a noroeste de Madri, perto da fronteira com Portugal.  Eles eram majoritariamente dominicanos ou jesuítas, e sua visão econômica é extremamente semelhante àquela que viria a ser enfatizada por Carl Menger mais de 300 anos depois.
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Um de meus favoritos é Diego de Covarrubias y Leyva, que apresentou a teoria do valor subjetivo.  Ele escreveu que "o valor de um bem não depende de sua natureza essencial, mas sim da estimação subjetiva dos homens, mesmo que tal estimação seja insensata."  Ele nasceu em 1512, foi bispo de Segovia e foi ministro do rei Filipe II de Espanha.  Hoje, no museu do pintor espanhol El Greco, na cidade de Toledo, há uma impressionante imagem pintada dele (foto à esquerda).  Carl Menger menciona o tratado sobre depreciação monetária escrito por Covarrubias em 1650.

Outro importante salamanquense foi Luis Saravia de la Calle, o primeiro pensador a demonstrar que são os preços que determinam os custos de produção, e não o contrário.  Ele escreveu que "aqueles que mensuram o preço justo pelo trabalho, pelos custos e pelos riscos incorridos pela pessoa que lidam com o mercado estão cometendo um grande erro.  O preço justo não é encontrado pela contagem dos custos, mas sim pela estimação comum de todos".  Ele foi também um ardoroso crítico do sistema bancário de reservas fracionárias, argumentando que receber juros era incompatível com a natureza de um depósito à vista (em conta-corrente), e que o correto seria o pagamento de taxas para que o ouro permanecesse armazenado nos bancos.
Os salamanquenses se dispuseram a estudar o sistema bancário porque perceberam a relação corrupta e promíscua entre os bancos e o governo, relação essa que dependia fundamentalmente de uma proteção legal concedida à prática das reservas fracionárias.  Os salamanquenses se opunham a todas as formas de inflação.  Por exemplo, havia Martín Azpilcueta Navarro.  Ele nasceu em 1493, viveu 94 anos, e é especialmente famoso por ter explicado a teoria quantitativa da moeda em seu livro de 1556, Comentario resolutorio de cambios (eu tenho a primeira edição!), escrevendo que "a moeda vale mais onde e quando ela está em falta do que onde e quando ela está em abundância."
Navarro era contrário à prática de reservas fracionárias e fez uma clara distinção entre a atividade bancária voltada para empréstimos e a atividade bancária voltada para depósitos.  O banqueiro, disse ele, deveria ser o "guardião, administrador, fiador" do dinheiro em sua posse.  Ele disse que não pode haver um contrato válido entre um depositante e um banqueiro que permita a prática de reservas fracionárias.  Se tal contrato fosse feito, ambos os lados seriam culpados de fraude.
Mais favorável à prática de reservas fracionárias era Luis de Molina, que foi o primeiro a argumentar que depósitos bancários deveriam ser considerados como parte da oferta monetária.  Porém, ele confundiu depósitos com empréstimos, e não entendeu como as reservas fracionárias são inerentemente desestabilizadoras.  Portanto, Navarro e de la Calle foram os antecessores da Escola Monetária Britânica, extremamente receosos de qualquer atividade bancária que mantivesse menos de 100% de reservas para depósitos à vista, ao passo que Molina e Juan de Lugo foram os precursores da Escola Bancária Britânica, mais tolerantes às reservas fracionárias.
AEN: Além das questões bancárias, a posição política dos salamanquenses eram pró-mercado?
de Soto: Eles tendiam a defender posições libertárias de maneira geral.  Por exemplo, Francisco de Victoria é amplamente visto como o fundador do direito internacional.  Ele reviveu a ideia de que o direito natural é moralmente superior ao poder do estado.  Depois, Juan de Mariana condenou toda e qualquer desvalorização da moeda como sendo uma completa e absoluta usurpação, e sugeriu que qualquer cidadão poderia assassinar um governante que impusesse tributos sem o consentimento das pessoas.  O único quesito em que Mariana errou foi em sua condenação das touradas, mas como sou neto de um famoso toureiro, não sou imparcial.
AEN: O elo espanhol-austríaco vai além de um mero acidente histórico?
de Soto: Lembre-se de que, no século XVI, o Imperador Carlos V, Rei da Espanha— também conhecido como Carlos de Habsburgo — enviou seu irmão Fernando I para ser o Rei da "Áustria", palavra que etimologicamente significa "Parte Oriental do Império", ou Österreich.  Esse reina abrangia a maior parte do continente europeu.  A única exceção era a França, então uma ilha isolada e cercada por forças espanholas.
As relações econômicas, políticas e culturais entre a Áustria e a Espanha continuaram por vários séculos.  Carl Menger redescobriu e abraçou essa tradição continental católica do pensamento escolástico espanhol, que na época já estava quase que completamente esquecida.
AEN: Bem, então o que aconteceu com essa tradição, dado que ela teve de ser redescoberta?
de Soto: Adam Smith e seus seguidores vieram a dominar o pensamento econômico espanhol, pondo fim ao desenvolvimento da escola subjetivista, a qual não apenas defendia o livre mercado de forma consistente, como também dominava toda a sua teoria.  A tradição foi mantida viva na França com os escritos de Richard Cantillon, A.J. Turgot e Jean-Baptiste Say, e algum conhecimento conseguiu penetrar a Inglaterra por meio dos escritos de teóricos protestantes do direito natural, como Samuel Pufendorf e Hugo Grócio.  Porém, na Espanha, vivenciamos os anos de decadência dos séculos XVIII e XIX, com o fim dos Habsburgos e início dos Bourbons da França. 
O estatismo de Filipe IV de Espanha o levou a tentar organizar um vasto império centralizado em Madri, um projeto inerentemente inviável.  Os escolásticos foram contra esse estatismo, é claro, mas foram sumariamente desconsiderados e sua tradição foi perdida.  Havia também o problema de que eles escreviam em latim, o que gerou uma barreira linguística.  Adicionalmente, os britânicos criaram e difundiram a Lenda Negra, que durante os dois séculos seguintes denegriu tudo o que era católico e espanhol.  Ironicamente, a Reforma Protestante na realidade atrasou a causa da economia de livre mercado.  A Igreja há muito tempo vinha desempenhando o papel vital de contrabalançar o poder do estado.  Com o declínio da Igreja em decorrência da Reforma, a sabedoria de seus mais brilhantes teóricos econômicos foi perdida, e o poder do estado e a influência de seus apologistas cresceram.
AEN: Por que foi necessário um austríaco para redescobrir a tradição econômica espanhola?
de Soto: Os livros dos escolásticos foram publicados em Bruxelas e na Itália, e foram enviados à Espanha e a Viena.  Foi assim, portanto, que chegaram à Áustria.  Havia também uma tradição de pensamento escolástico na Áustria, a qual, afinal, é 90% católica.
No entanto, foi um escritor católico espanhol quem solucionou o "paradoxo do valor", 27 anos antes de Carl Menger.  Seu nome era Jaime Balmes.  Ele nasceu na Catalunha em 1810 e morreu em 1848.  Durante sua curta vida, ele se tornou o mais importante filósofo tomista da Espanha.  Em 1844, ele publicou um artigo chamado "A Verdadeira Ideia do Valor; ou Pensamentos Sobre a Origem, a Natureza e a Variedade dos Preços".
Balmes perguntava por que uma pedra preciosa valia mais que um pedaço de pão?  E ele próprio respondeu que o valor de um bem está em sua utilidade, de modo que "há uma necessária relação entre a escassez ou abundância de um bem e o aumento ou a redução de seu valor."
AEN: Falemos sobre questões um pouco mais atuais.  O senhor produziu um plano para reformar o sistema previdenciário espanhol.
de Soto: Essa questão de pensões garantidas para todos os idosos é um problema premente em todos os países ocidentais, mas que só será sentido daqui a algumas décadas, quando então não haverá mais solução.  Em todos os países, as obrigações assumidas pela Previdência são enormes, mas a demografia se encarregou de fazer com que elas se tornassem essencialmente impagáveis, a menos que os impostos sejam elevados a níveis intoleráveis.  Antes de saber o que deve ser feito com estes sistemas, é necessário entender suas inerentes contradições.
Primeiro, os sistemas previdenciários alegam ser esquemas de poupança de dinheiro, mas a realidade é que elesdesestimulam a poupança.  Além de as "contribuições compulsórias" incidirem justamente sobre o que seria a poupança dos indivíduos, a previdência leva as pessoas a crerem que elas não precisam ser precavidas quanto ao futuro, pois o estado cuidará delas.  Consequentemente, as pessoas passam a crer que é desnecessário poupar.  É empiricamente comprovável que a expansão da seguridade social coincidiu com um enorme declínio na poupança das pessoas.  Claro.  Poupança é sacrifício.  Por que poupar se meu futuro "está garantido pelo estado"?  Esta queda na poupança tende a elevar os juros e a consequentemente reduzir os níveis de investimento de várias maneiras impossíveis de ser mensuradas.
Segundo, não importa o que a lei diz sobre como empregados e empregadores compartilham o fardo da contribuição previdenciária.  Do ponto de vista econômico, o trabalhador paga todo o imposto.  Mises foi o primeiro a desenvolver esta constatação em seu livro Socialism, no qual ele disse que contribuições para a seguridade social sempre se dão em detrimento dos salários.
Terceiro, o sistema é baseado em uma generalizada e indiscriminada agressão institucional contra os cidadãos.  Logo, trata-se de um ataque direto à liberdade.  E isso, por sua vez, inibe o desenvolvimento criativo da descoberta empreendedorial.  Novas modalidades financeiras de poupança e o uso eficiente da propriedade são tolhidos.  A resultante malversação de capital e mão-de-obra é incalculavelmente alta.
Quarto, o sistema não pode funcionar como seguro e assistencialismo ao mesmo tempo, porque ambos os conceitos são incompatíveis.  Um seguro é baseado no princípio de que os benefícios se dão de acordo com as contribuições.  Já o assistencialismo é baseado na necessidade.  Se os retornos passam a ser declinantes, que é o que ocorrerá, o elemento "seguridade" do sistema passa a abortar o elemento "assistencialista".  E vice-versa.
E por que nós temos esses sistemas?  Porque burocratas acreditam que algumas pessoas supostamente não são capazes de cuidar de si próprias.  Mas isso é o mesmo que dizer que, dado que um pequeno número de pessoas não consegue se alimentar, todos os indivíduos de uma população devem ser forçados a comer em cantinas estatais.
O segredo para qualquer reforma previdenciária é que cada indivíduo deve ser o responsável por sua poupança.  O indivíduo não pode ser forçado a participar de um programa compulsório.  Aqueles que querem sair do sistema previdenciário devem ter a liberdade para fazê-lo.  Não pagarão contribuições e também não ganharão nenhum benefício estatal.  Esse deve ser o objetivo de longo prazo, e é de se esperar que a maioria das pessoas faria essa opção.  No meu plano, nosso período de transição permite uma redução de 50% na taxa de contribuição atual em troca de se abrir mão de todas as reivindicações futuras.  Adicionalmente, nenhum imposto jamais deve ser aumentado para pagar por esse período de transição.  O sistema previdenciário já está falido e é urgente tratar desse assunto; adiar a solução irá apenas intensificar a tragédia quando esta inevitavelmente chegar.
AEN: A educação estatal pode ser benéfica?  Há vantagens em se ter um sistema de ensino comandado pelo estado?
de Soto: O estado opera à margem do mercado, sem jamais ser guiado pelo sistema de lucros e prejuízos.  E quando você não leva em conta o sistema de lucros e prejuízos, é absolutamente impossível saber se o seu trabalho está sendo bem feito. 
Quando a educação é financiada e controlada pelo estado, você tende a criar — para utilizar um linguajar econômico — um 'investimento errôneo' ou um 'investimento intelectual mal feito'.  A teoria do "capital humano", do economista Gary Becker, insinua que quanto mais se investe em educação e quanto mais a criança aprende na escola, mais valorosa ela se torna para a sociedade.  A conclusão óbvia é que o governo deveria pagar pela escolarização e educação de todos para tornar a sociedade mais rica.
Discordo totalmente de Becker.  Como o dinheiro envolvido é o dinheiro de impostos, não há como calcular em termos econômicos se a educação feita desta forma é um bom investimento ou não.  Muito provavelmente não é.  As pessoas gastam anos estudando coisas que não terão utilidade nenhuma para elas.  Isso é um inacreditável desperdício de talento e de recursos.  Mas é exatamente isso o que ocorre quando se dá ao governo o controle das coisas, principalmente do currículo escolar.
A teoria neoclássica costuma tratar o capital em termos generalistas.  Nela, não há um investimento bom e um investimento ruim de capital; é tudo apenas capital e tudo é homogêneo.  Ocorre que, em vários casos, um investimento errôneo em capital intelectual pode acabar trazendo consequências muito mais nefastas para a sociedade do que uma simples malversação de recursos escassos que foram investidos erroneamente em um projeto que se revelou insustentável.
AEN: O senhor vê alguma contradição no meio liberal entre ideias teóricas radicais e propostas modestas de reforma?
de Soto: O maior perigo para a estratégia libertária é cair na armadilha do pragmatismo político.  É fácil se esquecer dos objetivos supremos em decorrência da suposta impossibilidade política de se alcançá-los no curto prazo.  Consequentemente, nossos programas e objetivos se tornam obscuros e nossos intelectuais são cooptados pelo governo.
A maneira correta de impedir que isso aconteça é adotando uma estratégia dupla.  Por um lado, temos de ser abertos e honestos a respeito dos nossos objetivos, e temos de nos esforçar para educar o público, explicando por que nosso objetivo final é o melhor para a sociedade.  Por outro, devemos apoiar toda e qualquer política de curto prazo que nos leve para mais perto dos nossos objetivos.  Desta forma, quando nossos objetivos de curto prazo forem alcançados, não haverá como retroceder.  Poderemos seguir adiante com a total convicção de que as pessoas compreenderão que é necessário continuar fazendo sempre mais.
AEN: O senhor conheceu a Escola Austríaca aos 16 anos descobrindo acidentalmente em uma biblioteca o livro Ação Humana, de Ludwig von Mises.  Parece surpreendente que a ciência econômica já fosse tão intensamente atraente para o senhor em uma idade tão prematura.
de Soto: Minha família é do ramo do seguro de vida, que aliás é o único traço em comum que tenho com John Maynard Keynes, que, na década de 1930, foi o presidente da National Mutual Life Assurance Society de Londres.  O ramo do seguro de vida é um negócio bastante tradicional, tendo evoluído ao longo de 200 anos sem praticamente nenhuma intervenção estatal.  Trabalhando com meu pai, tornei-me naturalmente interessado em teoria monetária, finanças e instituições econômicas.  Queria ser um atuário.  Eu era muito bom em matemática.
Porém, ainda jovem comecei a me dar conta de que aquilo que funciona para as ciências atuariais, que lida com probabilidades de vide e morte, não pode funcionar na ciência econômica, porque não há constantes na ação humana.  Há criatividade, mudanças, escolhas e descobertas, mas não há parâmetros fixos que permitam a criação de funções matemáticas.
Curvas de oferta e demanda não podem refletir a realidade porque as informações necessárias para construí-las só podem ser obtidas ao longo do tempo por meio do processo empreendedorial.  Essas informações jamais aparecem ao mesmo tempo, como a matemática requer que pressuponhamos.
AEN: Keynes aparentemente não chegou a essas mesmas lições a respeito da ação humana ao trabalhar no ramo de seguros.
de Soto: O problema é que Keynes não corrompeu apenas a ciência econômica.  Ele corrompeu também as práticas do ramo atuarial.  Ele rompeu com as políticas tradicionais de sua empresa e começou a valorar seus ativos ao seu valor atual de mercado em vez de utilizar o conservador método do valor histórico.  Quando você avalia ativos de acordo com seu valor atual de mercado, o valor deles fica ao sabor dos ciclos econômicos.  Se a economia estiver vivenciando uma fase de crescimento em decorrência da expansão artificial do crédito, seus ativos passam a valer mais.  Consequentemente, você passa a fazer investimentos mais ousados e errôneos.  Quando vem a recessão, o valor de seus ativos volta a cair, mas seus passivos permanecem inalterados ou podem até mesmo subir.  Resultado: você reduziu o capital de sua empresa, podendo até mesmo tê-la levado à falência.
Quando Keynes começou a fazer isso, ele imediatamente ganhou uma enorme vantagem competitiva sobre seus concorrentes.  Ele passou a poder distribuir dividendos para seus clientes sem que houvesse obtido nenhum ganho de capital.  Enquanto a bolsa de valores estava subindo, tudo era uma maravilha.  Porém, quando a Grande Depressão chegou, sua empresa quase foi à falência por causa desta sua inovação. 
A atual crise imobiliária e financeira decorre diretamente dessa corrupção nos métodos de contabilidade das empresas e dos bancos.
AEN: O senhor deu ao Mises Institute uma foto do Rei Juan Carlos segurando um livro de Mises.  Ele é um misesiano?
de Soto: Não diria isso, mas ele gosta do livre mercado e entende que temos opiniões radicais a respeito.  Todos os anos, nós o convidamos para uma feira que comemora o lançamento de novos livros liberais, e ele é gentil o bastante para comparecer.  Dado que ele não estudou na Universidade de Chicago, ele é mais pró-austríaco do que seria de se esperar.  Nunca se sabe quais indivíduos ou grupos serão atraídos pela Escola Austríaca.
AEN: Por exemplo, a influência dos austríacos por meio dos salamanquenses sobre a moderna Igreja Católica.
de Soto: A Igreja Católica é como um enorme transatlântico.  Se você vira o timão para a direita, a embarcação começa a se mover muito lentamente, mas chega uma hora em que ela finalmente começa a mudar de direção.
Há um poderoso grupo católico na Espanha chamado Opus Dei.  Eles são muito próximos do Papa e são extremamente pró-mercado.  Alguém dentro da ordem leu as obras de Hayek, viu que ele era extremamente pró-mercado e enviou a mensagem para toda a organização: o Opus Dei tem de apoiar os austríacos.
Repentinamente, todos os meus livros estavam sendo lidos por todos os membros da ordem, e eu comecei a ministrar palestras para seus prelados e numerários. Recentemente, li uma tese de Ph.D sobre Mises e Hayek escrita por um membro proeminente do Opus Dei.
As opiniões da Igreja sobre questões econômicas devem ser ouvidas, mas não impactam em questões relativas à fé.  A propósito, na parede do meu escritório, tenho uma bela foto de Hayek com João Paulo II.
AEN: O senhor acha que economistas deveriam levar a religião mais a sério do que costumam levar?
de Soto: Sem dúvida.  A religião tem um papel importante na vida de uma economia.  A religião transmite de geração para geração certos padrões de comportamento e de tradições morais que são essenciais para que haja respeito às normas, separação dos poderes e respeito aos direitos naturais de cada indivíduo.  Sem isso, uma sólida economia de mercado é impossível.  Se os contratos deixam de ser respeitados, a sociedade se desintegra.  A religião, e não o estado, é o meio essencial de se transmitir às pessoas um senso de obrigações morais, como a de que devemos manter nossas promessas e respeitar a propriedade de terceiros.
AEN: Algum economista já foi declarado santo?
de Soto: Dois escolásticos.  São Bernardino de Siena e seu grande pupilo, Santo Antonino de Florença.  Rezemos para que não sejam os últimos.
AEN: Quais são os seus hobbies?
de Soto: Golfe e iatismo.
AEN: Quais são seus filmes e peças teatrais favoritos?
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de Soto: Jornada nas Estrelas e todos de Shakespeare.
AEN: Qual a sua obra literária favorita?
de Soto: Don Quixote de La Mancha de Miguel de Cervantes.
AEN: Quais músicas o senhor mais aprecia?
de Soto: Franz Peter Schubert e Johannes Brahms.
AEN: O senhor consegue pensar em uma obra de arte que simbolize ou retrate a ação humana?
de Soto: A losa roja (imagem ao lado)


Não deixe de ler os espetaculares artigos de Jesús Huerta de Soto aqui.


A entrevista acima foi concedida ao períodico Austrian Economics Newsletter, do Mises Institute.



Jesús Huerta de Soto , professor de economia da Universidade Rey Juan Carlos, em Madri, é o principal economista austríaco da Espanha. Autor, tradutor, editor e professor, ele também é um dos mais ativos embaixadores do capitalismo libertário ao redor do mundo. Ele é o autor da monumental obra Money, Bank Credit, and Economic Cycles.

FAIXA DE GAZA - UMA VISÃO ÁRABE


Um árabe islâmico, jornalista veterano, afirma: “não importa que os foguetes pudessem ter caído sobre as cabeças deles mesmos. No que diz respeito a esses palestinos, não há problemas se vários árabes são mortos no processo de destruir Israel.”


Não existe nada que cause mais náuseas do que observar pessoas se regozijando à medida que foguetes são disparados contra Israel a partir da Faixa de Gaza.

Foi isto que aconteceu quando o Hamas lançou foguetes contra Jerusalém e Tel Aviv.

Assim que as sirenes foram acionadas, muitos palestinos saíram às ruas e subiram nos telhados, especialmente nas regiões árabes de Jerusalém, para aclamarem o Hamas. Às vezes, eles respondiam aos foguetes do Hamas lançando fogos de artifício ao ar como sinal de alegria e cantando: “Todos nós somos Hamas!” e “Ei, judeus, o exército de Maomé está caçando vocês”.

Cenas de júbilo por causa dos ataques dos foguetes sobre Israel também foram relatadas em várias cidades palestinas na Margem Ocidental, incluindo Ramallah, centro do “pragmatismo e da moderação” palestinos.

Mais tarde, ao saberem que os foguetes do Hamas haviam fracassado em sua intenção de matar israelenses nas duas cidades, os palestinos expressaram sua decepção.

Não importa que os foguetes pudessem ter caído sobre as cabeças deles mesmos. No que diz respeito a esses palestinos, não há problemas se vários árabes são mortos no processo de destruir Israel.

As celebrações refletem a forte hostilidade que muitos palestinos continuam a sentir com respeito a Israel, a despeito dos 20 anos de um processo de paz e dos bilhões de dólares de ajuda que receberam do Ocidente. Essa hostilidade é o resultado direto de anos de incitamento anti-Israel e anti-ocidental no mundo árabe e islâmico.

A hostilidade não é dirigida apenas contra Israel, mas também contra seus amigos - sobretudo os Estados Unidos.

Semelhantes explosões de júbilo estouraram em muitas partes da Margem Ocidental, na Faixa de Gaza e na parte oriental de Jerusalém, imediatamente após os palestinos terem ouvido a respeito dos ataques terroristas nos Estados Unidos em 11 de setembro.

E esta não foi a primeira vez que os palestinos expressaram regozijo quando cidades de Israel foram alvejadas.

Durante a guerra de 2006 no Líbano, os palestinos e alguns cidadãos árabes de Israel subiram aos telhados para aplaudirem os ataques dos foguetes do Hezb'allah (Partido de Alá) nas cidades da região Norte de Israel.

Durante a Segunda Intifada, muitos palestinos, especialmente na Faixa de Gaza, tomavam as ruas para cantar, dançar e distribuir doces depois de saberem sobre outro atentado suicida dentro de Israel.

E quando Saddam Hussein atirou foguetes contra Israel no início dos anos 1990, os palestinos também saíram às ruas e subiram nos telhados, cantando: “Ó amado Saddam, ataque, ataque Tel Aviv!”.

A propósito, no início do conflito em Gaza, muitos palestinos em Ramallah, Nablus e Hebron estavam cantando: “Ó amado Qassam (a ala armada do Hamas), destrói, destrói Tel Aviv!” e “O povo quer a destruição de Israel!”.

Ninguém está esperando que os palestinos expressem solidariedade ou simpatia por Israel em sua confrontação com o Hamas.

Mas, quando muitos palestinos manifestam sua alegria em público devido aos ataques de foguetes e mísseis às cidades de Israel, temos o direito de pensar se existe uma maioria de palestinos que concordaria com qualquer forma de compromisso com Israel.

No atual mundo dos palestinos, qualquer um que fale sobre a paz com Israel é um traidor e um colaborador, mas qualquer um que clame pela destruição de Israel e dispare foguetes contra Tel Aviv e contra Jerusalém é um herói. (Khaled Abu Toameh - www.gatestoneinstitute.org)

Khaled Abu Toameh, um muçulmano árabe, é jornalista veterano, vencedor de prêmios, que vem dando cobertura jornalística aos problemas palestinos por aproximadamente três décadas. Estudou na Universidade Hebraica e começou sua carreira como repórter trabalhando para um jornal afiliado à Organização Para a Libertação da Palestina (OLP), em Jerusalém. Abu Toameh trabalha atualmente para a mídia internacional, servindo como “olhos e ouvidos” de jornalistas estrangeiros na Margem Ocidental e na Faixa de Gaza. Os artigos de Abu Toameh têm aparecido em inúmeros jornais em todo o mundo, inclusive no Wall Street Journal,no US News & World Report e no Sunday Times de Londres. Desde 2002, ele tem escrito sobre os problemas palestinos para o jornal Jerusalem Post. Também atua como produtor e consultor da NBC News desde 1989.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

MAIS UM SUPER-HERÓI SOCIAL

José Dirceu acertou uma: disse que o populismo chegou ao Supremo Tribunal Federal. E chegou mesmo. Não no mérito do julgamento do mensalão, que é o que Dirceu quer desclassificar. Mas nas maneiras e nos discursos afetados dos ministros, em especial o presidente que a Corte acaba de empossar, Joaquim Barbosa — o novo herói brasileiro.

O presépio está ficando completo: a “presidenta”, afilhada do ex-operário, que indicou o negro para a elite do Judiciário. Negro como Barack Obama, o presidente da nação mais rica, que ganhou o Nobel da Paz sem fazer nada — não por seus belos olhos, mas pela cor da sua pele. O mundo politicamente correto é racista.

Depois do Nobel “étnico”, Obama começou a trabalhar e mostrou enfim quem era: um líder fraco, canastrão, tentando se equilibrar entre o conservadorismo americano e seu símbolo de defensor dos fracos. Não agradou verdadeiramente a ninguém. Conseguiu uma reeleição apertada contra um dos piores candidatos republicanos dos últimos tempos. E já saiu anunciando aumento de impostos para os “ricos” — a única coisa que os populistas sabem fazer: garfar quem produz e quem investe para engordar a burocracia estatal.

Claro que Obama não vai produzir bem-estar social nenhum desse jeito, sangrando uma economia asfixiada a pretexto de distribuir renda. Os esquerdistas que emergiram na Europa panfletando contra o rigor fiscal alemão já começaram a dar com os burros n’água. As sociedades cresceram demais, e o que pode salvá-las é mais dinamismo, e não mais impostos e gastos estatais. Mas o mito do governante bonzinho que vai salvar a todos parece indestrutível.

Enquanto a propaganda do oprimido funcionar, o governo sabe que não precisa governar. A última pérola é a campanha publicitária da Infraero. Como se sabe, o governo Dilma não planeja nada (não dá tempo), e aí vem a Copa do Mundo jogar um holofote nos remendos da infraestrutura. O que faz então o governo? Propaganda. Após anos de escárnio no Aeroporto Internacional do Galeão, onde já se viu até passageiro arrastando bagagem pela escada por falta de elevador, o contribuinte tem que ouvir agora a mensagem de que a Infraero está trabalhando pelo seu conforto etc. Podem zombar, os brasileiros não ligam.O Brasil vive esse sonho de ter um governo mais humano por ser presidido por uma mulher. As pessoas acreditam em qualquer coisa. Basta ver os argentinos dando corda para os delírios autoritários de Cristina Kirchner (o presépio progressista tinha que ter uma viúva profissional). Cristina e Dilma são irmãs gêmeas em certas decisões maternais, como a redução na marra das tarifas de energia. O desastre decorrente dessa bondade já se consumou na Argentina, e começa a se consumar no Brasil, com as ações das empresas do setor desabando vertiginosamente. É comovente como o populismo arruína as estruturas de um país sem perder a ternura.

Nem se importam que o ministro da Justiça faça comício contra as prisões brasileiras, quando seus companheiros mensaleiros se encaminham para elas. José Eduardo Cardozo disse que preferia morrer a ir preso no Brasil. Aparentemente, também prefere a morte a ter que descer do palanque e administrar as prisões. Com a crise de violência em São Paulo, um preposto do ministro apareceu para declarar que ofereceu uma maleta detetora de celulares ao governador paulista. O mais importante era avisar à imprensa que o governo tucano não respondera à generosa oferta. Em meio à onda de mortes, a estratégia do governo popular era fazer pegadinha partidária.

Cardozo disse que as prisões brasileiras são medievais. Em seguida, por coincidência, Dias Toffoli, o ministro do PT no Supremo, declarou que as penas de prisão para os mensaleiros são medievais. Os brasileiros não se incomodam de ter um juiz partidário fingindo que julga seus companheiros, e aí ficam achando que o que julga de verdade é herói.

Onde está o heroísmo de Joaquim Barbosa? Ele foi o relator de um processo julgado sete anos depois do fato — e nesse intervalo o partido dos réus fez a festa em três eleições. A estratégia petista de fazer o mensalão sumir no retrovisor só não deu certo porque a imprensa gritou contra o escândalo do escândalo — e praticamente empurrou o STF para o julgamento.

Joaquim fez bem o seu trabalho. Mas também fez bravatas, mostrou pouca serenidade em bate-bocas com colegas (tivera um embate público quase infantil com Gilmar Mendes), se empolgou às vezes com sua própria mão pesada, mostrou-se intolerante e preconceituoso ao dizer a jornalistas que eles estavam fazendo “pergunta de branco”. Tomou posse no STF com discurso militante, para delírio dos progressistas que o veneram por sua origem pobre e pela cor da sua pele.

O Brasil mimou o ex-operário e não aprendeu nada com isso. Continua em busca do seu super-herói social. Os parasitas da nação agradecem. Eles se saem muito bem no reino da fantasia.

Por: Guilherme Fiuza Fonte: O Globo, 24/11/2012

SHAKESPEARE NO BRASIL

"O mundo é um palco e todos os homens e mulheres são meros atores. Eles têm suas entradas e saídas de cena e cada homem, a seu tempo, representa muitos papéis."


Essa profunda descoberta está na peça Como Gostais ou Como Quereis (em inglês, As You Like It), de William Shakespeare. A obra foi escrita em 1599, quando o Brasil, gloriosamente habitado por tupinambás, fundava suas primeiras cidades e era invadido pelos franceses. Vale lembrar essa reflexão sobre o teatro e o mundo que eu chamo de "axioma de Shakespeare" neste Brasil de 2012, habitado por tribos que querem o poder a qualquer preço e por políticos que, diferentemente de Rosalinda (a mocinha da peça), não sabem que há uma razoável distância entre ator e papel, entre o cargo (com suas demandas) e quem o ocupa (com suas limitações).


Ademais, é preciso liquidar de vez com a relação entre política e teatro porque, se há muito de teatral na política, política não é teatro. No palco pode haver esse "as you like it" - esse "a teu gosto" shakespeariano. Mas na política é preciso cumprir metas atacando de frente a injustiça e a desigualdade ou - como lembrou o ministro da Justiça - multiplicar o número de prisões e tirá-las de um medievalismo desumano.

Num caso, tudo é fantasia e tem hora para começar e terminar; no outro, a luta contra a iniquidade não acaba e o Brasil, como estamos fartos de saber, está atrasado em quase tudo. Repetimos dramas que não deveriam mais ser vistos com uma insistência que causa vergonha e não os aplausos que conferimos com gosto no teatro.

O fato central é que o axioma de Shakespeare, esse fundador do humano, na opinião douta de Harold Bloom, nos leva a discutir se o papel faz a pessoa ou se ocorre justamente o oposto.

Eis a questão que tem permeado a democracia liberal e a modernidade tão exemplarmente demarcadas por Alexis de Tocqueville quando descobre que, na América que visitou nos 1830, o mundo era construído mais de indivíduos do que de pessoas, como ocorria nas aristocracias das quais ele fazia parte. Nas aristocracias, o mundo era fixo, as pessoas entravam nos papéis. Nas democracias, dava-se exatamente o contrário: o papel era moldado por pessoas que os redesenhavam ou expandiam. Novos papéis eram sempre inventados.

Mas até que ponto podemos sair e entrar nos papéis que o grande palco da vida nos obriga a desempenhar? Até onde eles devem ser levados a sério? Será que hoje vivemos uma dessacralização de todos os papéis?

Penso que não. Sobretudo se falamos dos papéis públicos - os chamados cargos governamentais. Esses papéis tão pouco discutidos no Brasil, mas que têm sido centrais no meu trabalho.

Cargos públicos ou papéis sociais coletivos, voltados para o bem ou para o mal comum, são parcialmente escolhidos e legitimados. Uma pessoa quer ser ministro, mas para tanto precisa ser escolhido pelo presidente. Ser e estar, como disse Eduardo Portella, é um traço fundamental desses ofícios. Eu posso estar e não ser; ou posso ser e não estar. O lado individual tem de ser conjugado pelo lado legitimador da autoridade. Ninguém é ministro sozinho e quando se está ministro não se está individualizado. Pode um ministro dar publicamente uma opinião como cidadão?

Melhor não fazê-lo. Imagine um general dizendo que seus soldados são uns merdas. Ou um presidente dizendo que a tarefa é maior do que ele imaginava. Ou um juiz que se comporta como advogado de defesa.

Tais casos configuram, no máximo, má-fé e estelionato coletivo (algo que nos últimos dez anos temos assistido passiva e covardemente no Brasil) e, no mínimo, falta de consciência de que um cargo público (pertencendo à coletividade) não permite que o seu ocupante tenha vida privada. Há cargos e cargos. Mas os públicos devoram o lado íntimo das pessoas que os ocupam. O cargo, sendo coletivo, contamina o ator obrigando-o a uma complexa transparência. Só nós, brasileiros, que estamos sempre a reinventar o mundo legal e político com ficções que legitimam o crime como heroísmo e o roubo como parte de uma boa biografia, nos surpreendemos com esse fato.

Se assim não fosse, eu poderia ter as páginas deste jornal para falar grosso disso ou daquilo. Não falo porque não sou ministro; porque não tenho a presença coletiva de um cargo que não é meu, mas é do País e da sociedade. Os pais podem maldizer ou abençoar seus filhos e os ocupantes de cargos públicos podem desgraçar ou exaltar partidos e governos.

É o que vemos hoje no Brasil. Uma shakespeariana troca de papéis com - graças a Deus - consequências e, espero eu, consciência. Por: Roberto da Matta Estado de SP

domingo, 25 de novembro de 2012

DIA DA CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL

Cada indivíduo possui diversas características que ajudam a identificá-lo, entre elas: crença religiosa, altura, classe social, sexo, visão política, nacionalidade e cor da pele. O coletivista é aquele que seleciona arbitrariamente alguma dessas características e a coloca no topo absoluto da hierarquia de valores. Para o nacionalista, a nacionalidade é a coisa mais relevante do mundo. Para o socialista, a classe é tudo que importa. Para o racialista, a “raça” define quem somos. Todos eles ignoram a menor minoria de todas: o indivíduo. 


Schopenhauer disse: “A individualidade sobrepuja em muito a nacionalidade e, num determinado homem, aquela merece mil vezes mais consideração do que esta”. De fato, parece estranho se identificar tanto com alguém somente com base no local de nascimento. O mesmo pode ser dito sobre a cor da pele. Deve um liberal negro ter mais afinidade com um marxista negro do que com um liberal branco? Fica difícil justificar isso. 

Entretanto, o “Dia da Consciência Negra” apela exatamente para este coletivismo. Consciência é algo individual; não existe uma “consciência negra”. Compreende-se a luta contra o racismo, justamente uma forma de coletivismo que deprecia um grupo de indivíduos por causa de sua cor. Mas não creio ser uma boa estratégia de combate ao racismo enaltecer exatamente aquilo que se pretende atacar: o conceito de “raça”. Um mundo onde indivíduos são julgados por seu caráter, não pela cor da pele, como sonhava Martin Luther King, não combina com um mundo que celebra a consciência de uma “raça”. 

A origem do feriado coloca mais lenha na fogueira. Zumbi dos Palmares, ao que tudo indica, tinha escravos. Era a coisa mais natural do mundo em sua época. Ele lutava, portanto, pela sua própria abolição, não da escravidão em si. A humanidade conviveu com a escravidão desde sempre. Diferentes conquistadores transformaram em escravos os conquistados. Os gregos, romanos, incas, astecas, otomanos, todos fizeram escravos. As principais religiões consideravam isso algo normal. Não havia um critério racial para esta nefasta prática. Os próprios africanos eram donos de escravos. 

Somente o foco no indivíduo, com o advento do iluminismo, possibilitou finalmente enterrar as correntes da escravidão. A Declaração da Independência Americana seria a síntese desta nova mentalidade. Os principais abolicionistas usaram suas poderosas palavras como argumento definitivo contra a escravidão. No famoso caso Amistad, em 1839, o ex-presidente John Quincy Adams fez uma defesa eloqüente dos africanos presos: “No momento em que se chega à Declaração de Independência e ao fato de que todo homem tem direito à vida e à liberdade, um direito inalienável, este caso está decidido”. 

O Brasil apresenta um agravante prático: a própria noção de “raça”. Afinal, aqui predomina a mistura, como o recém-falecido Lévi-Strauss percebeu em Tristes Trópicos. Para o antropólogo, ‘negro’ é um termo que “não tem muito sentido num país onde a grande diversidade racial, acompanhando-se de pouquíssimos preconceitos, pelo menos no passado, possibilitou misturas de todo tipo”. Como celebrar a “consciência negra” num país de mestiços, caboclos e cafuzos? Deve o mulato priorizar uma parte de sua origem, em detrimento da outra? A mãe negra é mais importante que o pai branco, ou vice-versa? 

Eu gostaria muito de viver num país onde não houvesse racismo. Infelizmente, acho que feriados que enaltecem a consciência da “raça” não ajudam. Seria melhor criar o “Dia da Consciência Individual”.
Por: Rodrigo Constantino fonte original O GLOBO


O FIM DO PASSARINHO

Um passarinho, voou para dento da sala e não conseguia mais achar a saída de volta. 

Ficou insistindo num vidro fechado que não tinha como abrir.

O estudante idealista parou o jogo de cartas.

_ Precisamos ajudar o coitado do passarinho.

_ Vocês vão parar o jogo só para ajudar um passarinho? disse o banqueiro.

_ Claro que sim, ele precisa de mim.

E foi tentar agarrar o passarinho a todo custo, que obviamente fugia de toda tentativa de ser apanhado.
Escapou mais de cinco vezes, cada vez mais assustado. 

_ Posso dar uma sugestão, disse o advogado liberal.

Por que você simplesmente não abre as duas outras janelas desta sala, dando maiores oportunidades para o passarinho achar uma passagem para sairr?

_ Ele já deve ter se metido em enrascadas destas antes, e por tentativa e erro ele achará eventualmente a saída certa.

O estudante, pelo jeito gostou da ideia e abriu as duas janelas como sugerido.

Mas logo teve uma recaída.

- Isto vai demorar. Aí pegou uma vassoura e começou a tentar induzir o pássaro a voar para a janela mais próxima.

Foi quando o pior aconteceu.

Já confuso e assustado, o pássaro voou com dupla velocidade e bateu no lustre no meio da sala, quebrou o pescoço e caiu como uma pedra.

O banqueiro estava certo.

Se tivessem continuado o jogo o pássaro provavelmente estaria vivo.

O pássaro não pediu a ajuda de ninguém, e morreu pelo altruísmo de alguém bem intencionado, mas totalmente equivocado.

A solução liberal era uma ajuda indireta, aumentava as chances do pássaro sair sozinho, e assim ninguém poderia acusar o advogado de omissão.

Ao contrário do estudante, que no fundo foi o indutor da morte do pobre coitado.

Por que intelectuais acham que todos nós passarinhos somos perfeitos idiotas, que precisamos da ajuda dos estudantes mais esclarecidos?

Mas o pior da tarde ainda estava por vir.

O estudante correu para o centro da sala, pegou o pássaro carinhosamente na mão e pediu ao mordomo para buscar um pouco de whisky.

O idiota achava que o pássaro estava simplesmente desacordado, e que o cheiro do whisky iria reanimá-lo.

Ele continuou com seu autoengano até o fim, e nenhum de nós, eu infelizmente presenciei esta cena, teve a coragem de dizer que o pássaro estava morto.

Ele continuou achando que o pássaro estava salvo e que seu altruísmo não foi em vão.

E assim lentamente, os passarinhos foram lentamente morrendo um após o outro, e no fim só sobraram alguns cidadãos muito altruístas, vivendo à custa do governo. 

Por: Stephen Kanitz

sábado, 24 de novembro de 2012

QUEREMOS FÊMEA!

Vamos aos fatos: a zona do euro voltou a mergulhar na recessão. No terceiro trimestre de 2012, o crescimento econômico foi de 0,1%, depois dos 0,2% do trimestre precedente. Explicações?


Sim, os programas de austeridade jogaram Portugal e a Grécia no tapete. Mas a crise está a atingir a Espanha, a Itália e alguns pulmões econômicos do bloco, como a Holanda e a França. Mesmo a Alemanha, o motor do continente, teve um medíocre desempenho de 0,2%.

No próximo ano, a Comissão Europeia prevê um crescimento de 0,1% nos 17 países do euro. Na melhor das hipóteses.

Perante esse cenário desolador, o leitor talvez questione o que tenciona a Europa fazer para evitar a rápida desagregação da zona euro, a pobreza das suas sociedades e até, quem sabe, a erosão dos seus regimes democráticos.

Relaxe. A União Europeia, pela voz da sua comissária para a Justiça, tem a resposta: cotas para mulheres.

Exato. O leitor leu bem. A União Europeia, confrontada com a pior crise da sua história, pretende que os Estados-membros tomem medidas para que 40% dos conselhos de direção de todas as empresas de capital aberto sejam preenchidos por mulheres. Para combater a discriminação.

E, se é certo que não haverá penalizações (por enquanto) para os que não cumprirem a determinação, Bruxelas espera que cada Estado-membro aplique a medida com vigor.

Longe de mim contestar tamanha bondade paternalista. Mas, antes de avançarmos para as cotas, seria importante que a comissária Viviane Reding respondesse a duas perguntas básicas sobre a aberração.

A primeira, óbvia, é mostrar os mecanismos que geram a suposta desigualdade. Onde estão? Quem são? Como se exercem?

Só é possível corrigir uma discriminação quando se identificam os agentes dessa discriminação. Não basta a simples constatação estatística de que as empresas são majoritariamente lideradas por homens.

Se assim fosse, seria preciso instituir "cotas masculinas" nas universidades europeias, onde as mulheres já são a maioria. Será que Bruxelas tenciona corrigir todos os desequilíbrios que existem em cada área social, econômica, política ou cultural?

Em caso afirmativo, será uma tarefa sem fim. E, no limite, implicará a adoção de políticas "chinesas" de controle de natalidade (e de interferência no sexo dos nascituros) de forma a desenhar uma sociedade rigorosamente composta por homens e mulheres em partes iguais.

Mas existe um outro problema: não basta mostrar os mecanismos discriminatórios em ação. Só faz sentido defender "cotas femininas" se a Comissão Europeia também mostrar, de preferência com estudos sérios e não com delírios politicamente corretos, que tipo de qualidade suplementar uma mulher traz a uma empresa pelo simples fato de ser mulher.

É provável que a sra. Viviane Reding já tenha alguns estudos, digamos, hormonais a respeito. Infelizmente, não conheço nenhum: em economias livres, a liderança de empresas deve depender do mérito, qualquer que seja o sexo dos seus diretores. É a competência, e não o sexo, que deve determinar a gestão empresarial.

E isso deveria ser especialmente importante no momento que a Europa atravessa: escolher conselhos de direção por motivos politicamente corretos pode gerar, de forma perversa, resultados economicamente incorretos.

"Last but not least", o ponto decisivo: as "cotas para mulheres" são um insulto às próprias. Não sei se é uma questão de sorte, mas as mulheres inteligentes (e bem-sucedidas) que me rodeiam jamais aceitariam de cabeça limpa a mão paternalista do Estado para subir a uma posição de comando.
As mulheres não são seres inferiores. São mulheres. E, excetuando em sociedades totalitárias, a liberdade de escolha é real. É tão legítimo procurar uma carreira nos negócios como será fazê-lo nas universidades, nas artes ou até no remanso anônimo do lar.
Se a União Europeia está preocupada com a igualdade, talvez devesse perder mais tempo com a crise econômica que a ameaça destruir. Porque as consequências da crise prometem ser igualitárias para homens e mulheres. Por: João Pereira Coutinho Folha de SP

BOICOTE A ISRAEL

EU SOU A FAVOR DO BOICOTE A PRODUTOS ISRAELENSES:

Mas este boicote não pode ser "leve". Se é para boicotar, boicote MESMO, com coragem e até as últimas conseqüências.

Vamos ajudar os companheiros do Fórum Palestino a boicotar Israel, prestigiando o gênio Tarso Genro, patrocinador do evento.

Tomem nota de alguns produtos, inventos e patentes, de origem israelense:

• Medicamentos genéricos da TEVA, maior produtora de antibióticos e
medicamentos genéricos do mundo e que também desenvolveu um fármaco
para tratar o mal de Parkinson.

• Windows NT e XP desenvolvidos pela Microsoft Israel.

• Pen Drive, desenvolvido pela companhia israelense M-Systems.

• Telefones celulares, desenvolvidos pela primeira vez pela Motorola
Israel, em Haifa.

• Câmaras fotográfica de celulares, desenvolvidas pela companhía
israelense TransChip.

• Messenger, desenvolvido por uma equipe de quatro jovens engenheiros
israelenses.

• Antivirus, desenvolvido desde 79 em Israel.

• Sistemas de irrigação por gotejamento que minimizam a quantidade de
água necessária.

• “Babysense”, produto israelense que previne a síndrome de morte
súbita en bebês.

• Tecnologia para carros elétricos, em pleno desenvolvimento por
empresas israelenses.

. Aproveitamento da Energia solar

• “Exoesqueleto eletrônico”, que ajuda as pessoas con paralisia a
deslocar-se com maior facilidade.

• Nariz artificial, desenvolvido em Israel para detectar tumores cancerosos.

• Irrigação com água salgada, para diminuir o consumo de água doce.

• “Coplaxon”, fármaco contra a esclerose múltipla, “copolímero-1
(COP-1)”, que detém con êxito o avanço da esclerose múltipla,
especialmente em sua forma exacerbada/renitente.

• Tecnología Pentium MMX, Pentium 4 ou Centrino desenhados em Israel
pela Intel-Israel.

• ICQ, desenvolvido por jovens engenheiros israelenses em 1996.

• Diagnóstico do câncer de mama computadorizado e livre de radiações.

• Sistema computadorizado de administração de medicamentos, que
assegura uma administração mais eficiente, eliminando o erro humano em
tratamentos médicos.

. Projetos de segurança de eficiência praticamente total para a indústria aérea.

• Câmara de vídeo ingerível, pela Israel Givun, utilizada para
observar o interior do intestino delgado, ajudando no diagnóstico do
câncer e outras desordens digestivas.

• Dispositivo que ajuda diretamente o coração a bombear sangue através
de sistema sensorial para enfermidades cardíacas avançadas – inovação
com potencial de salvar vidas entre pessoas com insuficiência
cardíaca. O dispositivo, sincronizado com as operações mecânicas do
coração, funciona através de um sofisticado sistema de sensores.

• ClearLight, tratamento da acne, que produz uma luz de alta
intensidade, livre de raios ultravioletas de banda estreita, que faz
com que as bactérias da acne desapareçam sem destruir o tecido cutâneo
periférico.

. Tecnología VOIP, que permite que as chamadas internacionais sejam
simples, econômicas e acessíveis.

• Fármaco da empresa Pfizer de Israel para prevenir a cegueira.

• Conversor de resíduos radioativos em energia limpa.

• Teste para detectar a clamídia.

• Teste para detectar a hepatite A e B.

• Teste para detectar o citomegavirus.

• Teste para detectar a rubéola.

• Teste para detectar a toxoplasmose.

• Teste para detectar anticorpos HIV de alta confiabilidade em apenas
dois minutos.

• Fármacos para tratar os casos de malária mais renitentes.

• Peptídeo de crescimento osteogênico (OGP), que incrementa a formação
de tecidos ósseos (importante para tratar osteoporose).

• Anticoagulantes para tromboses.

• Remédios “Decog” para o diabetes juvenil.

• Sistemas de ultrassom utilizados em medicina.

• Tomógrafos de medicina nuclear.

• Medidores de pressão sem braçadeira.

• Monitores portáteis e informatizados de ondas cerebrales.

• Tecnologia para estimular eletricamente os músculos do braço para
tetraplégicos.

• Aviões comerciais que dispõem de sistema antimísseis.

• Tratamentos redutores da dor.

• Projetos de eletricidade em larga escala com energia solar e
totalmente funcional.

Agora, tomara que não cobrem a mesma postura do lado de Israel. O que seria da vida dos judeus sem as incríveis invenções dos palestinos, que tornaram o mundo um lugar tão melhor?
Por: Rodrigo Constantino

PROLONGANDO E FINGINDO - O PROBLEMA COM O PRECIPÍCIO FISCAL AMERICANO

Agora que Obama foi reeleito e a mídia foi finalmente liberada de sua prestimosa função de 'chefe de torcida' para a reeleição do ungido, toda a atenção voltou-se para um só assunto: o "precipício fiscal" para o qual a economia americana está se dirigindo e no qual ela chegará no início de 2013 — a menos que o Congresso e o presidente cheguem a um acordo e pisem no freio ou virem o volante.


Ainda fresquinho de sua vitória, Obama dedicou parte do seu discurso para explicar sucintamente como ele propõe evitar a queda no precipício: aumentando os impostos sobre aqueles americanos que ganham mais de US$250.000 por ano. Ele deixou claro que ninguém que ganha menos do que isso será intimado a pagar mais em impostos. Qual a fatia da população americana que ganha mais de US$250.000 por ano? Apenas 2% da população que paga impostos. Esses 2% que Obama quer atacar ganham 24,1% de toda a renda do país e são os responsáveis por 43,6% (dados de 2008) de toda a receita do governo federal com o imposto de renda de pessoa física. 

De acordo com vários estudos de entidades autônomas e apartidárias, os 4 ou 5 pontos percentuais que Obama quer aumentar no imposto de renda destas pessoas irão gerar uma receita adicional de aproximadamente US$30 ou US$40 bilhões por ano. Dado que o déficit orçamentário do governo federal está muito acima de US$1 trilhão por ano, essa receita adicional seria apenas uma gota no balde. Mesmo se estes ricos dobrassem a quantia que pagam atualmente de impostos, o déficit do governo americano seria reduzido em apenas um terço — e isto supondo que tamanho aumento de impostos não gerassem nenhum efeito recessivo sobre a economia (o que teria o efeito de diminuir as receitas tributárias do governo), uma suposição bastante otimista.

Mas o que é exatamente esse tal "precipício fiscal"? Por que ele é tido como uma ameaça perigosa? Despido de todo o linguajar retoricamente carregado, o precipício fiscal é um mecanismo que, de maneira legal, entra em ação automaticamente com o intuito de reduzir o déficit do governo americano em 2013. Em outras palavras, trata-se de um gatilho orçamentário que é disparado automaticamente, impondo cortes de gastos e aumentos de impostos. Ou seja, o governo federal terá obrigatoriamente de gastar menos, sendo que uma maior fatia de seus gastos terá de ser paga via impostos e não via emissão de dívida. Não seria exatamente isso o que ambos os partidos, mais ou menos como o público em geral, querem? O precipício fiscal significa que o déficit orçamentário do governo federal será imediatamente reduzido à metade, caindo de seu atual valor (previsto) de US$1.1 trilhão em 2012 para aproximadamente US$641 bilhões em 2013. O que há de tão terrível nisso? Eu diria que há um perigo muito maior em se evitar o precipício do que em dirigir até ele.

O leitor há de se lembrar que o precipício foi criado ano passado, quando o Congresso não conseguiu encontrar maneiras de reduzir o déficit em troca de um aumento no teto da dívida. O teto da dívida foi elevado, mas ninguém apresentou propostas concretas sobre como iriam reduzir o déficit. O resultado dessa concessão foi oBudget Control Act of 2011 (Decreto do Controle Orçamentário de 2011), assinado em agosto daquele ano com o intuito único de 'fazer de conta' que estavam preocupados com o longo prazo da crise fiscal, e não simplesmente elevando o teto da dívida sem a imposição de compromissos especiais. Isso foi feito não apenas para apaziguar alguns deputados republicanos que ameaçavam votar contra o aumento do teto da dívida, mas também para satisfazer as agências de classificação de risco que haviam ameaçado reduzir a nota dos títulos americanos caso o Congresso não apresentasse nenhuma proposta.

Agora o enfoque passa a ser como o Congresso irá desmantelar a estrutura que ele próprio criou há apenas 16 meses. Não há dúvidas de que ele fará isso, dado que todos os economistas favoritos do regime estão assegurando aos políticos que o precipício fiscal irá produzir uma imediata recessão. A expiração automática dos cortes de impostos feitos por Bush em 2002 irá custar aos americanos aproximadamente US$423 bilhões apenas em 2013. E embora centenas de bilhões de dólares em cortes generalizados de gastos, inclusive para o setor militar, já tenham sido esboçados, nenhum político permitirá que isso ocorra.

É incrível como os membros do Congresso conseguem manter a cara limpa quando dizem querer atacar o problema do déficit ao mesmo tempo em que fazem de tudo para evitar qualquer ação substantiva. Não há dúvidas de que haverá um acordo conciliatório. Mas isso apenas irá substituir o atual precipício fiscal por outro ainda pior no futuro (o qual, por sua vez, também poderá ser facilmente desmantelado antes do decisivo e fatal precipício final). Será que as agências de classificação de risco irão aceitar este logro novamente? Se o país não possui a coragem política para enfrentar o precipício atual, por que alguém deveria crer que haverá estomago para o próximo, o qual será muito pior? Especialmente quando se leva em conta que, a cada vez que se adia um precipício, simplesmente se está aumentando o tamanho do próximo, tornando ainda mais difícil e doloroso seu enfrentamento.

Muitos comentaristas acreditam que o rebaixamento da classificação dos títulos americanos pela agência S&P no ano passado foi por causa da inação congressional que resultou no acordo do precipício fiscal. Mas a verdade é que a redução da nota provavelmente teria sido muito maior — e mais agências de classificação de risco provavelmente teriam se juntado à S&P — não fosse o acordo do precipício fiscal. Se novos rebaixamentos não ocorrerem quando este Congresso desmoralizado inevitavelmente inventar um novo acordo para empurrar com a barriga a solução do déficit, então as agências perderão qualquer credibilidade que ainda desfrutam. Em minha opinião, a única explicação para a inação das agências de classificação de risco é o seu temor de sofrer alguma retaliação regulatória do governo americano, que é quem as regulamenta.

Não creio ser nenhuma coincidência que, enquanto os bancos estão sofrendo uma fúria regulatória em decorrência de sua reconhecida culpabilidade pela crise hipotecária, as agências de classificação de risco permaneceram relativamente intocadas, sendo que elas tiveram um papel fundamental em criar e intensificar a crise hipotecária, pois foram elas que forneceram classificações questionavelmente altas para títulos lastreados em hipotecas insolventes. Meu palpite é que o governo americano simplesmente não quer cutucar esse vespeiro, uma vez que erros similares estão sendo cometidos por essas mesmas agências em relação à classificação dos títulos governamentais.

A verdade é que, independentemente de qual rótulo queiram utilizar, cair no precipício fiscal não é o problema, mas sim parte da solução. O Congresso na realidade deveria se empenhar para construir um precipício grande o bastante para restaurar o equilíbrio fiscal antes que desastre irreversível ocorra. Esse desastre virá na forma de uma crise do dólar ou da dívida soberana, que fará com que este atual precipício fiscal pareça apenas um simples amontoado de formigas.

Peter Schiff é o presidente da Euro Pacific Capital e autor dos livros The Little Book of Bull Moves in Bear Markets, Crash Proof: How to Profit from the Coming Economic Collapse e How an Economy Grows and Why It Crashes. Ficou famoso por ter previsto com grande acurácia o atual cataclisma econômico. Veja o vídeo. Veja também sua palestra definitiva sobre a crise americana -- com legendas em português 
Tradução de Leandro Roque

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

UMA CONTRIBUIÇÃO À COMISSÃO DA VERDADE

Notícias de Jornal Velho: algumas coisas que muitos não sabem

VOCÊ SABIA?

- Que no governo João Goulart algumas organizações de esquerda condenavam a luta pela reforma agrária, porque seu triunfo daria origem a um campesinato conservador e anti-socialista? Isso está escrito na página 40 do livro “Combate nas Trevas”, de Jacob Gorender, que foi dirigente do PCB e um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, em 1967.

- Que no governo João Goulart já existiam campos de treinamento de guerrilha no Brasil? Em 4 de dezembro de 1962, o jornal ”O Estado de São Paulo” noticiou a prisão de diversos membros das famosas Ligas Camponesas, fundadas por Francisco Julião, num campo de treinamento de guerrilhas, em Dianópolis, Goiás.

- Que afora o PCB, por seu apego ao ortodoxo “caminho pacífico” para a tomada do poder, foram os trotskistas o único segmento da esquerda brasileira que não pegou em armas nos anos 60 e 70?

- Que o primeiro grupo de 10 membros do Partido Comunista do Brasil - então partidário da chamada linha chinesa de “guerra popular prolongada” para a tomada do poder - viajou para a China ainda no governo João Goulart, em 29 de março de 1964, a fim de receber treinamento na Academia Militar de Pequim? E que até 1966 mais duas turmas foram a Pequim com o mesmo objetivo? (livro “Combate nas Trevas”, de Jacob Gorender).

- Que no regresso da China, esses militantes, e outros, foram mandados, a partir de 1966, para a selva amazônica a fim de criar o embrião da “guerra popular prolongada” que resultou naquilo que ficou conhecido como Guerrilha do Araguaia, somente descoberto pelas Forças Armadas em abril de 1972, graças à prisão de um casal, no Ceará, que havia abandonado a área, desertando?

- Que mais da metade dos cerca de 60 jovens que morreram no Araguaia, para onde foram mandados pela direção do PC do B, eram estudantes universitários, secundaristas ou recém-formados, segundo as profissões descritas na Lei que, em 1995, constituiu a Comissão de Desaparecidos Políticos?

- Que a expressão “socialismo democrático” - hoje largamente utilizada por alguns partidos e candidatos - induz a um duplo erro: o de apontar no rumo de um hipotético socialismo que prescindirá do Estado da Ditadura do Proletariado, acontecimento nunca visto no mundo, e o de introduzir a idéia de que o Estado mais democrático que o mundo já conheceu, o Estado Proletário não é democrático? (livro “História da Ação Popular”, página 63, de autoria dos atuais dirigentes do Partido Comunista do Brasil, Aldo Arantes e Haroldo Rodrigues Lima).

- Que no início de 1964, antes da Revolução de Março, Herbert José de Souza, o “Betinho” já pertencia à Coordenação Nacional da Ação Popular? (livro “No Fio da Navalha”, do próprio “Betinho”, páginas 41 e 42).

- Que em 31 de março de 1964, quando da Revolução, “Betinho” era o coordenador da assessoria do Ministro da Educação, Paulo de Tarso, em Brasília? (livro “No Fio da Navalha”, páginas 46 e 47).

- Que pouco tempo antes da Revolução de Março de 1964, o coordenador nacional do “Grupo dos Onze”, constituídos por Leonel Brizola, era “Betinho”, designado pelo próprio Brizola? (livro “No Fio da Navalha”, páginas 49 a 51).

- Que em março de 1964 o esquema armado de João Goulart “era uma piada” e que “o comandante Aragão, comandante dos Fuzileiros Navais, era um alucinado e eu nunca vi figura como aquela”? (livro “No Fio da Navalha”, página 51).

- Que já em 1935 Luiz Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”, era um assalariado do Komintern (3ª Internacional)? Isso está escrito e comprovado no livro “Camaradas”, do jornalista William Waak, que teve acesso aos arquivos da 3ª Internacional, em Moscou, após o desmanche do comunismo.

- Que Luiz Carlos Prestes foi Secretário-Geral do Partido Comunista Brasileiro por 37 anos, ou seja, até maio de 1980, uma vez que foi eleito em setembro de 1943, quando ainda cumpria pena por sua atuação na Intentona Comunista? (livro “Giocondo Dias, uma Vida na Clandestinidade”, de Ivan Alves Filho, cujo pai, Ivan Alves, pertenceu ao partido).

- Que 4 ex-militares dirigiram o PCB desde antes de 1943 até 1992: Miranda, Prestes, Giocondo Dias e Salomão Malina? Ou seja, dirigiram - ou melhor, comandaram - o PCB por cerca de 50 anos?

- Que após o desmantelamento do socialismo real, que começou pela queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, foi considerado que “o marxismo-leninismo deixou de ser uma ferramenta de transformação da História para tornar-se uma espécie de religião secularizada, defendida em sua ortodoxia pelos sacerdotes das escolas do partido”? (livro “Nos Bastidores do Socialismo”, de autoria de Frei Betto).

- Uma frase altamente edificante: “Quero deixar claro que admito a pena de morte em uma única exceção: no decorrer da guerra de guerrilhas”.Seu autor? Frei Betto, em seu livro “Nos Bastidores do Socialismo”, página 404.

- Que em fins de agosto de 1995 - 16 anos após a anistia - o governo enviou ao Congresso Nacional um projeto, logo transformado em lei, dispondo sobre “o reconhecimento das pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979”?

- Que esse projeto definiu que deveria ser criada uma Comissão Especial, composta por 7 membros, com a atribuição de proceder ao reconhecimento de pessoas que tenham falecido de causas não naturais “em dependências policiais ou assemelhadas”?

- Que da relação de pessoas desaparecidas que acompanhou o projeto constavam os nomes de 136 militantes da esquerda considerados desaparecidos políticos que, por opção própria, pegaram em armas para instalar em nosso país uma República Democrática Popular semelhante àquelas que o povo, nas ruas do Leste Europeu, derrubou, nos anos de 1989 e 1990?

- Que entre esses nomes, estavam os de 59 guerrilheiros desaparecidos no Araguaia, quando tentavam implantar o embrião do modelo chinês de “guerra popular prolongada”?

- Que as famílias de todos esses guerrilheiros do Araguaia já foram indenizados com quantias que variam de 100 mil a 150 mil reais?

- Que, por conseguinte, à vista do que está escrito na lei, para que essa indenização fosse concedida, a área de selva de cerca de 7 mil quilômetros quadrados em que a guerrilha se instalou, foi considerada uma “dependência policial ou assemelhada”?

- Que duas senhoras, integrantes da Comissão que representam as famílias dos desaparecidos, Iara Xavier Pereira e Suzana Kiniger (ouSuzana Lisboa) foram militantes da ALN e receberam treinamento militar em Cuba?

- Que Iara Xavier Pereira participou de diversas “ações” armadas, conforme ela própria revela, na página 297, do livro “Mulheres que Foram à Luta Armada”, de autoria de Luiz Maklouf?

- Que essas senhoras ou suas famílias foram indenizadas pela morte de 4 pessoas? Iuri Xavier Pereira, Alex de Paula Xavier Pereira e Arnaldo Cardoso Rocha (todos membros do Grupo Tático Armado da ALN, com treinamento militar em Cuba, mortos nas ruas de São Paulo em tiroteio com a polícia), irmãos e marido de Iara Xavier Pereira, que também recebeu treinamento militar em Cuba, e Luiz Eurico Tejera Lisboa (treinado em Cuba), marido de Suzana Lisboa, que com ele também recebeu treinamento na paradisíaca “ilha da liberdade”? Que, no total, 600.000 mil reais, foi quanto os contribuintes pagaram a essas duas senhoras?

- Que a mídia, a famosa mídia que faz a cabeça das pessoas, jovens e adultos, nunca registrou esse “pequeno trecho” altamente edificante da História recente de nosso país?

Mas, há mais, muito mais! VOCÊ SABIA que o guerrilheiro do Araguaia, Rosalino Cruz Souza, conhecido na guerrilha como “Mundico”, incluído na relação de “desaparecidos políticos”, sabidamente “justiçado”, no Araguaia, pela também guerrilheira “Dina” (Dinalva Conceição Teixeira) - cujos familiares foram também indenizados - teve sua família indenizada? Não pelo Partido que o mandou para lá e o matou, mas por nós, contribuintes?

VOCÊ SABIA que a família do coronel aviador Alfeu Alcântara Monteiro, morto em 2 de abril de 1964 - cuja esposa, desde sua morte, recebe pensão militar - foi também aquinhoada com os tais 150 mil reais, com o voto favorável do general que, na Comissão, representava as Forças Armadas? Que, depois, esse mesmo general, em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”, buscando justificar seu voto, disse que no processo organizado pela Comissão constava que o coronel havia sido morto com “19 tiros pelas costas”? E, diz o general: “depois vim a saber que ele foi morto com um único tiro”.

Caso o ilustre general, que também é advogado, antes de dar seu voto, tivesse consultado o Inquérito Policial Militar instaurado na época, para apurar o fato, arquivado no STM como todos os demais inquéritos, teria constatado a versão real: dia 2 de abril de 1964, o brigadeiro Nelson Freire Lavanère Wanderley deveria receber o comando da então Quinta Zona Aérea, em Porto Alegre, do mais antigo oficial presente que era o coronel Alfeu Alcântara Monteiro, reconhecidamente janguista. O coronel recusou-se a transmitir o comando e reagiu, atirando e ferindo o brigadeiro Wanderley, sendo morto com um tiro de pistola 45 pelo também coronel-aviador Roberto Hipólito da Costa, que acompanhava o brigadeiro. Ou seja, o coronel Hipólito matou em legítima defesa de outrém, conforme concluiu o Inquérito, sendo absolvido pela Justiça Militar.

- Que Carlos Marighela, morto nas ruas de São Paulo, delatado voluntária ou involuntariamente por seus companheiros do Convento dos Dominicanos, e Carlos Lamarca, morto no sertão da Bahia, tiveram seus familiares indenizados, embora a esposa de Carlos Lamarca já recebesse pensão militar? Ou seja, as ruas de São Paulo e o sertão baiano foram considerados, também, pela Comissão, “dependências policiais ou assemelhadas”.

Mas não terminou eles querem mais, muito mais. VOCÊ SABIA que membros da Comissão pensaram reivindicar a promoção de Lamarca a general?

VOCÊ SABIA que o atual Ministro da Justiça também propôs a promoção de Apolônio de Carvalho (um ex-militar expulso do Exército em 1935 e posteriormente fundador e militante do PCBR e, posteriormente banido do país em troca de um embaixador seqüestrado) a general?

- Que amplos setores da mídia e toda a esquerda vêm difundindo por todos esses anos a versão de que “a resistência armada” à “ditadura” no Brasil dos anos 60, foi uma resposta ao Ato Institucional nº 5, que “fechou” o regime?

- Que isso não é verdade, pois o Ato Institucional nº 5, que teria “fechado” o regime, foi assinado em 13 de dezembro de 1968?

- Que, antes disso, a esquerda armada já havia atirado uma bomba no Aeroporto dos Guararapes, em 25 de julho de 1966, matando um jornalista e um Almirante e ferindo um General?

- Que já havia atirado um carro-bomba contra o Quartel-General do II Exército, em São Paulo, matando o soldado sentinela Mario Kosel Filho, em 26 de junho de 1968?

- Que já havia assassinado, ao sair de casa, na frente de seus filhos, o Capitão do Exército dos EUA Charles Rodney Chandler, tachado nos panfletos deixados sobre seu corpo, de “agente da CIA” ?

- Que um dos assassinos - um sargento expulso da Polícia Militar de São Paulo pela Revolução de 1964 - várias vezes entrevistado, vive hoje, tranqüilamente, em São José dos Campos, após ter sido anistiado pela ditadura militar “fascista”, indenizado e reintegrado à PM, como reformado?

- Que em 1968, antes, também, do Ato Institucional nº 5, o Major do Exército da Alemanha Edward Von Westernhagen, que cursava a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, foi morto na rua por um grupo do Comando de Libertação Nacional (COLINA), constituído por dois ex-sargentos, um da Aeronáutica e outro da Polícia Militar do Rio de Janeiro, sendo o crime, na época, atribuído a marginais?

- Que ele foi morto por ter sido confundido com o capitão do Exército boliviano Gary Prado, que participou da caçada a Che Guevara, no ano anterior, em seu país, e que, por isso, deveria ser “justiçado”, que também cursava a Escola de Comando e Estado-Maior? (livros “A Esquerda Armada no Brasil”, e “Memórias do Esquecimento”, de Flávio Tavares).

- Que antes do Ato Institucional nº 5, guerrilheiros do PC do B chegados da China em 1966 já se encontravam no Brasil Central preparando a Guerrilha do Araguaia?

- Que era essa a tática utilizada pela esquerda armada para instalar no Brasil um pleonasmo (uma República Popular Democrática): matar, matar e matar?

- Que a alucinada esquerda armada não matava apenas seus “inimigos”, mas também os amigos e companheiros?

Veja a relação dos companheiros assassinados, a título de “justiçamento”, sob a alegação de que sabiam demais, demonstravam desejo de pensar com suas próprias cabeças e que, por isso, representavam um perigo em potencial. Não que tenham traído, mas porque poderiam (futuro do pretérito) trair:

- Márcio Leite Toledo (ALN) em 23 de março de 1971

- Carlos Alberto Maciel Cardoso (ALN) em 13 de novembro de 1971

- Francisco Jacques Alvarenga (RAN-Resistência Armada Nacionalista) em 28 de junho de 1973

- Salatiel Teixeira Rolins (PCBR) em 22 de julho de 1973

- Rosalino Cruz - “Mundico”, na Guerrilha do Araguaia

- Amaro Luiz de Carvalho – “Capivara” (PCR), em 22 de agosto de 1971, dentro de uma Penitenciária, em Pernambuco

- Antonio Lourenço (Ação Popular), em fevereiro de 1971, em Pindaré-Mirim/MA

- Geraldo Ferreira Damasceno (Dissidência da Var-Palmares) em 19 de maio de 1970, no Rio de Janeiro

- Ari da Rocha Miranda (ALN), em 11 de junho de 1970, em São Paulo.

- Que o militante da Resistência Armada Nacionalista, Francisco Jacques Alvarenga, “justiçado” dentro do Colégio em que era professor, no Rio de Janeiro, por um Comando da ALN, teve seus passos previamente levantados por Maria do Amparo Almeida Araújo, também militante da ALN?

- Que foi ela própria quem revelou esse detalhe no livro “Mulheres que Foram à Luta Armada”, de Luiz Maklouf ?

- Que Maria do Amparo Almeida Araújo é atualmente a presidente do “Grupo Tortura Nunca Mais” de Pernambuco, entidade criada para denunciar as torturas e assassinatos da chamada “repressão”?

- Finalmente, leiam este trecho, altamente significativo, considerando a identidade de seu autor: “No curso de Estado-Maior, em Cuba, esmiuço a história da revolução cubana e constato evidentes contradições entre o real e a versão divulgada pela América Latina afora (...) Muitas ilusões foram estimuladas em nossa juventude pelo mito do punhado de barbudos que, graças ao domínio das táticas guerrilheiras e à vontade inquebrantável de seus líderes, tomou o poder numa ilha localizada a 90 milhas de distância de Miami. Balelas, falsificações (...) O poder socialista instituiu a censura, impediu a livre circulação de idéias e impôs a versão oficial. Os textos encontrados sobre a revolução cubana são meros panfletos de propaganda ou relatos factuais, carentes de honestidade e aprofundamento teórico (...) O Partido Comunista é o único permitido, e em seus postos importantes reinam os combatentes de Sierra Maestra ou gente de sua confiança, em detrimento dos quadros oriundos do movimento operário (...) Os contatos com as organizações de luta armada (de toda a América Latina) são feitos através do S2 (Inteligência), conseqüência das deturpações do regime. A revolução na América Latina não seria uma questão política e sim, usando as palavras do caricato Totem, “de mandar bala”. Nos relacionamos com os agentes secretos, que tentam influenciar na escolha de nossos comandantes, fortalecem uns companheiros em detrimento de outros, isolam alguns para criar uma situação de dependência psicológica que facilite a aproximação, influência e recrutamento alimentam melhor os que aderem à sua linha e fornecem informações da nossa Organização, concedem status que vão desde a localização e qualidade da moradia à presença em palanques nos atos oficiais não respeitam nossas questões políticas e desconsideram nosso direito à auto-determinação”.

Totem, acima mencionado, é o general Arnaldo Ochoa, comandante do Exército em Havana, no início dos anos 70, fuzilado nos anos 80, sob a acusação de ser narcotraficante.

O que acima foi transcrito está nas páginas 178 a 181 do livro “Nas Trilhas da ALN”, de autoria de Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz (“Clemente”), o último dos “comandantes” da Ação Libertadora Nacional que recebeu treinamento militar em Cuba. “Clemente” foi autor de vários assaltos a bancos, estabelecimentos comerciais, assassinatos e “justiçamentos” - ou planejamento deles - como o do seu próprio companheiro Márcio Leite Toledo e do presidente da Ultragaz em São Paulo, Henning Albert Boilesen, em 15 de abril de 1971.

Ao concluir o curso em Cuba, nos idos de 1973, “Clemente” foi viver em Paris, somente regressando ao Brasil após ter sido um dos anistiados pelo presidente Figueiredo, derrubando outro mito até hoje difundido pelas esquerdas de todos os matizes: o de que a Anistia não foi Ampla, Geral e Irrestrita Hoje, vive no Rio de Janeiro. Dá aulas de violão para crianças e participa de eventos culturais organizados pelo Movimento dos Sem-Terra.

Publicado orginalmente no Midia Sem Máscara em 07/07/2005 Por: Carlos I.S. Azambuja 

DIZIMAÇÃO E OUTRAS COISAS

Cinco comentários curtos sobre cinco assuntos econômicos do dia:

Castigo

A dizimação (decimatio) foi o mais brutal castigo imposto aos soldados romanos que se amotinavam ou se mostravam covardes na luta. Um entre dez (daí "dizimação") era sorteado, não importando patente ou grau de influência, para ser açoitado ou apedrejado até a morte pelos outros nove.

Pois uma operação de dizimação está sendo imposta pelo mercado às ações da Eletrobrás. Apenas em novembro, as ações preferenciais caíram nada menos que 44,75%. A razão desse castigo foi a aceitação sem maiores questionamentos pela diretoria da empresa das novas regras de renovação de concessões determinadas pelo governo Dilma, consideradas predatórias pelos acionistas minoritários.

Desemprego

Confirma-se uma situação de pleno emprego no Brasil, numa conjuntura de baixo crescimento econômico (evolução do PIB em torno de 1,5% em 2012). Caso seja de fato verdade que, em 2013, o setor produtivo brasileiro crescerá entre 4,0% e 4,5% - como aposta o ministro da Fazenda, Guido Mantega - para que níveis cairá o desemprego e para quais patamares subirá o custo da mão de obra?

Ai, ai, ai, Argentina

Ontem, o juiz distrital de Nova York, Thomas Griesa, condenou o governo da Argentina, presidido por Cristina Kirchner, a pagar, até o dia 15 de dezembro, US$ 1,3 bilhão a dois fundos de investimento que se recusaram a aceitar os termos da reestruturação (calote parcial) da dívida do país, em 2001. A defesa da Argentina vinha argumentando que esses são fundos "abutres", cujo objetivo é especular com ativos desse tipo e que, portanto, não têm de ser pagos. Se até dia 15 de dezembro a Argentina continuar se recusando a cumprir a sentença, outros pagamentos de dívida do país estarão sujeitos a bloqueio nos Estados Unidos, para dar atendimento prioritário a esses credores. Há apenas sete semanas, o barco-escola argentino Libertad foi apreendido no porto de Tema, em Gana, na África, também para garantir o pagamento desse tipo de dívida.

A Argentina não perdeu somente o crédito externo em consequência do calote. Tornou-se pária do mercado financeiro global, numa circunstância de abundância nunca vista de capitais - que não vem podendo aproveitar. O agravamento atual das contas externas e a fuga de dólares colaboram para acentuar a fragilidade do governo argentino. Isso sugere que corre mais riscos de perder ações desse tipo nas cortes internacionais.

Forte e firme

Apesar do desempenho medíocre da economia, a entrada de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) no Brasil mantém-se acima do rombo externo (déficit em Conta Corrente). Isso significa que (1) o mercado brasileiro ainda é atraente para os investidores internacionais; e que (2) o déficit externo segue coberto com folga pela entrada de capitais de longo prazo.

IPCA-15

Embora o mercado financeiro projete para todo este ano uma inflação abaixo de 5,5%, os dados do IPCA-15 de novembro sugerem uma inflação mais alta, provavelmente mais perto dos 5,7%. O IPCA-15 no período de 12 meses terminado em 15 de novembro apontou uma inflação de 5,64%. Por: Celso Ming O Estado de SP