sábado, 16 de março de 2013

A MORTE DE HUGO CHAVES

Podemos ver o resultado da política de Chávez na própria Venezuela. O país é uma sombra de si mesmo. A economia foi arruinada pelo socialismo, a liberdade de expressão foi atenuada e a corrupção avançou por todos os lados.

O presidente venezuelano Hugo Chávez morreu na última quinta-feira após perder uma batalha contra o câncer. Ele era um famoso e amado crítico do capitalismo. Mas ele não era um crítico qualquer. Nas palavras do próprio: “Eu sempre disse [...] que não seria estranho se tivesse havido uma civilização em Marte, e que talvez o capitalismo tenha chegado lá [...] e posto fim ao planeta”. Segundo esse alerta feito durante um discurso em março de 2011, devemos ser cuidadosos. “Aqui no planeta Terra, onde algumas centenas de anos atrás havia grandes florestas, agora só temos desertos”. Em outras palavras, a Terra está ficando como Marte e a culpa é do capitalismo de novo.

Evidentemente seria estranho se soubéssemos que Marte teve uma civilização. E tem de ser um tipo bem peculiar de pessoa para sugerir, sem qualquer tipo de evidência, que Marte foi convertido em um deserto inabitável por culpa do capitalismo. Mas aí está um fenômeno do nosso tempo. Eis a confissão de um homem que era irracionalmente obsesso pelo anti-capitalismo. Falar de Marte e marcianos nesse contexto é uma daquelas digressões pelas quais podemos vislumbrar a intensidade do ódio de um homem por algo que ele provavelmente nunca entendeu.

Em 2009, durante um discurso na Conferência de Copenhague sobre as mudanças climáticas, Chávez explicou seu posicionamento: “Há um grupo de países que se consideram superior a nós do sul, do terceiro mundo, nós dos países subdesenvolvidos [...] os países devastados, como se um trem tivesse passado por cima de nós na história”. Segundo Chávez, “poderia dizer [...] parafraseando Karl Marx, o grande Karl Marx, que um fantasma está assombrando as ruas de Copenhague, e penso que esse fantasma que rodeia silenciosamente esta sala e as demais [...] é o capitalismo”.

A filosofia de Chávez é compartilhada por milhões ao redor do mundo. “Os ricos estão destruindo o planeta”, ele disse. “Será que eles pensam que podem ir para outro quando destruírem este?”. Mas os capitalistas não imaginam tal coisa. Não há ameaça imediata ao planeta. Há, porém, uma ameaça ao próprio capitalismo. Como o próprio Chávez afirmou, “O socialismo, o outro fantasma de que Karl Marx falou, que também está rodeando aqui, é na verdade um tipo de contra-fantasma. O socialismo [...] é o caminho para salvar o planeta [...] o capitalismo é a estrada para o inferno, para a destruição do mundo”. Alguns parágrafos depois Chávez ofereceu uma declaração de guerra ao capitalismo quando disse: “A História nos chama para nos unirmos e lutarmos. Se o capitalismo resiste, somos obrigados a nos dedicar a uma batalha contra o capitalismo para abrirmos o caminho para a salvação da espécie humana”.

É deveras lamentável que um homem adorado como se fosse um salvador, cuja morte foi sentida por milhões de pessoas, tenha sido tão desinformado. Décadas atrás, foi Friedrich Hayek que escreveu acerca da ignorância econômica dos intelectuais e políticos. Eles não poderiam entender como o capitalismo floresceu “as multidões existentes de seres humanos...” Segundo Hayek, os sentimentos de alguém como Chávez servem apenas para “frustrar o desenvolvimento da mais efetiva organização de produção e desencorajar as falsas esperanças do socialismo”. E, de fato, podemos ver o resultado da política de Chávez na própria Venezuela. O país é uma sombra de si mesmo. A economia foi arruinada pelo socialismo, a liberdade de expressão foi atenuada e a corrupção avançou por todos os lados. Sim, uma corrupção muito mais insidiosa do que qualquer coisa produzida pelo capitalismo.

“A ignorância da função do comércio”, disse Hayek, “que levou inicialmente ao medo, e na Idade Média ao controle governamental sem qualquer informação, e que só numa época relativamente recente cedeu graça a uma melhor compreensão, revive agora sob urna nova forma pseudocientífica”. Pode ser dito, de bom grado, que Chávez foi um representante dessa “forma”. Ele foi, portanto, um oponente da liberdade, um construtor de uma ditadura e um ignorante econômico. Mesmo porque, quando o Estado intervém no mercado a crise econômica resultante não é a culpa do capitalismo.

O capitalismo real é um desenvolvimento orgânico. É algo que o estado invariavelmente atrapalha. Aqueles que administram privadamente o dinheiro não são uma ameaça à sociedade. Segundo Hayek, “A história da administração governamental do dinheiro foi, com algumas pequenas exceções que duraram curtos períodos, uma história de fraudes incessantes e enganações. A esse respeito, os governos se provaram muito mais imorais do que qualquer agência privada...” E isso é verdade mesmo se considerarmos a sorte dos pobres ou a gestão do ambiente. Chávez se via como um salvador. Na verdade, ele foi um destruidor de oportunidades.

E assim observamos a morte de Hugo Chávez. Ele foi um homem que trouxe desgraça para o seu país. Se tivesse vivido mais, ele teria visto o erro das suas escolhas. “O desdém do lucro”, disse Hayek, “deve-se à ignorância...” É uma coisa triste alguém morrer antes da sua hora, e mais triste ainda é morrer na ignorância.

Por: POR JEFFREY NYQUIST

Publicado no Financial Sense.

O FRACASSO DO DESARMAMENTO

Mapa da Violência 2013 - O Fracasso do Desarmamento


Os números, mais uma vez, comprovam que não existe relação direta entre a quantidade de armas em circulação entre a população civil e as taxas de mortes por seu uso.

Um dos parâmetros mais utilizados para a compreensão da violência homicida no Brasil, o “Mapa da Violência” apresenta, em sua mais recente edição (2013), dados que, mesmo com indisfarçável contaminação da ideologia desarmamentista, conduzem à conclusão que mais se alcança entre os estudiosos em segurança pública: as políticas de desarmamento não reduziram homicídios no país.

De acordo com o Mapa, publicado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, foram mortas no Brasil, no ano de 2010, 38.892 (trinta e oito mil, oitocentos e noventa e duas) pessoas com uso de arma de fogo, quantidade que supera a registrada no ano 2000 em 3.907 (três mil, novecentos e sete) ocorrências - foram registradas 34.958 mortes naquele ano. Percentualmente, na década pesquisada, houve um aumento nas mortes por arma de fogo da ordem de 11,25%, computando-se acidentes, suicídios, homicídios e outras causas indeterminadas.

No mesmo período, de acordo com os dados disponíveis junto ao IBGE, a população brasileira sofreu um incremento de 12,33%, passando de 169.799.170 para 190.732.694 de habitantes. Portanto, para fins estatísticos e considerada a margem de variação inerente a qualquer pesquisa com parâmetros populacionais, os números se equivalem, não se podendo atribuir qualquer significação relevante à irrisória diferença de 1,08% entre o crescimento populacional e o de mortes por armas de fogo. O quadro pesquisado, assim, apresentou estagnação estatística.

A situação muda um pouco quando são isolados apenas os casos de homicídio. De acordo com o estudo, foram assassinadas com arma de fogo no país, no ano 2000, 30.865 pessoas, número que, dez anos depois, aumentou para 36.792, numa variação de 19,2%, ou seja, já expressivamente acima do crescimento demográfico.

Já numa primeira análise, portanto, os números comprovam que, entre os anos de 2000 e 2010, os índices gerais de morte por arma de fogo no Brasil praticamente variaram na mesma proporção de seu crescimento demográfico, com relevante aumento na taxa de homicídios com esse meio. Com isso, claramente já se pode observar que as amplamente difundidas políticas de desarmamento, implementadas no país no mesmo período, foram inteiramente ineficazes para a contenção de tal modalidade de crime.

A conclusão se reforça sobejamente quando são analisados os efeitos da política desarmamentista na circulação de armas de fogo no Brasil. No exato mesmo período de 2000 a 2010, o comércio de armas de fogo no país, em decorrência das legislações restritivas coroadas pelo atual estatuto do desarmamento, sofreu uma drástica redução, da ordem de espantosos 90% (noventa por cento).

Havia no país, no ano 2000, 2,4 mil estabelecimentos registrados na Polícia Federal autorizados ao comércio de armas e munições. Já em 2008, restavam apenas 280 (duzentos e oitenta). Em 2010, de acordo com diversas pesquisas promovidas por órgãos do próprio governo, organizações não governamentais e centros de pesquisa acadêmica, o comércio especializado de armas e munições se resumia a 10% (dez por cento) do que se verificava uma década antes[4].

Paralelamente a isso, campanhas de desarmamento, especialmente a fortemente realizada entre os anos de 2004 e 2005, precedendo o referendo deste último ano, retiraram de circulação cerca de meio milhão de armas entre a população civil brasileira[5], número que hoje já alcança, de acordo com dados oficiais do Ministério da Justiça, 618.673 (seiscentas e dezoito mil, seiscentas e setenta e três)[6].

Considerando que, de acordo com os dados do Sistema Nacional de Armas – SINARM, há hoje no Brasil pouco mais de 1,6 milhões[7] de armas com registro ativo, o total de armas recolhidas representa mais de 27,5% do universo somatório daquelas registradas e das já recolhidas. Em outros termos, comparando-se o total das armas hoje registradas e o daquelas que já foram entregues em campanhas de desarmamento, o arsenal legalizado brasileiro já foi reduzido em mais de 1/4 (um quarto) de seu total.

Numa realidade em que 90% do comércio de armas foi extinto no país e mais de seiscentas mil delas já foram retiradas de circulação, não resta qualquer dúvida de que, caso as armas legalmente possuídas pela sociedade brasileira tivessem vinculação com o número de mortes, os respectivos índices teriam sofrido igualmente significativa variação para menor.

Entretanto, consoante aqui demonstrado, mesmo com tamanha perseguição às armas de fogo, as mortes gerais por seu uso no país cresceram na exata mesma proporção do crescimento populacional, enquanto os homicídios aumentaram numa taxa acima deste. Em 2010, com 90% de redução no comércio de armas e mais de meio milhão delas já recolhidas, a taxa de mortes com seu uso no país o foi a mesma de uma década antes, com uma variação estatisticamente desprezível de apenas 1% (20,6/100mil em 2000 contra 20,4/100mil em 2010), ao passo em que a taxa de homicídios aumentou mais de 6% (18,2/100mil contra 19,3/100mil)[8].

Os números, mais uma vez, comprovam que não existe relação direta entre a quantidade de armas em circulação entre a população civil e as taxas de mortes por seu uso. A drástica redução no acesso do cidadão brasileiro às armas de fogo não representou nenhuma contenção nas mortes em que elas são empregadas e não impediu o considerável crescimento dos homicídios no país.

A explicação é simples: leis restritivas à posse e ao porte de armas apenas desarmam aqueles que cumprem as leis. Porém, no Brasil ou em qualquer outro lugar, como já reconhece a própria ONU, na quase totalidade das vezes em que um homicídio é cometido com uma arma de fogo, quem puxa o gatilho é um criminoso habitual[9].

Notas:

[1] WAISELFISZ, Julio Jacobo - Mapa da Violência 2013 - Mortes Matadas por Armas de Fogo : CEBELA, 2013, p. 11.
[2] Censo 2010 – IBGE. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1766
[3] Ob. Cit., p. 11
[4] Vide: Venda legal de armas já caiu 90% em dez anos -http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5077633-EI6594,00-Venda+legal+de+armas+ja+caiu+em+dez+anos.html
[5] http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/12/12/armas-de-fogo-mataram-mais-de-36-mil-em-2010-segundo-o-ministerio-da-justica
[6] Vide : http://blog.justica.gov.br/inicio/primeiro-mes-do-ano-registra-aumento-de-51-de-armas-entregues/
[7] 1.624.832 de registros ativos em 2012, segundo o SINARM.
[8] WAISELFISZ, Julio Jacobo - Mapa da Violência 2013 - Mortes Matadas por Armas de Fogo : CEBELA, 2013, p. 13.
[9] 2011 GLOBAL STUDY ON HOMICIDE – United Nations Office on Drug and Crime, p.10.

Fabricio Rebelo, bacharel em direito é pesquisador em segurança pública e coordenador regional (NE) da ONG Movimento Viva Brasil.

sexta-feira, 15 de março de 2013

MAS AFINAL, O QUE DIZ A TAL YOANI SÁNCHEZ?

Yoani Sánchez chegou ao Brasil sob protestos de emissários de partidos políticos nacionais ligados à ditadura cubana (PT, PCdoB, e PCB). Também por isso recebeu boas vindas de defensores da liberdade, que queriam, ao menos no Brasil, garantir a liberdade de expressão que apenas ditadores temem dar a Yoani.


Suas críticas à dinastia dos Castro foram acusadas de serem "financiadas pela CIA", sem que se explicasse por que críticas de entidades financiadas por fundos partidários de entidades moribundas deveriam ser levadas a sério. Afirmou-se que "Yoani mente", sem demonstrar uma mentira que fosse.

Mas, afinal, o que diz a tal Yoani?

Se seus "críticos" tivessem lido o blog mais influente da raça humana, ou o livro de artigos compilados De Cuba com carinho, lançado no Brasil, saberiam de uma coisa surpreendente: Yoani não fala de política.

O ideário socialista (e suas versões sem genocídio, como a social-democracia) sobrevive apenas como força simbólica contra "os poderosos" (que, no teste de realidade, são quem sustenta o enriquecimento da população). Não há grandes socialistas na Economia, não há como defender uma ditadura no Direito, não há "luta de classes" na Ciência Política. Os grandes socialistas se refugiam nas áreas dos símbolos sem aferição de resultado na realidade: as Letras, a Psicanálise, as macaqueações abstratas que fazem na Sociologia, na Filosofia, na História.

O que lemos em Yoani, ao contrário do que pregam seus "críticos" (aspas por não saberem o que criticam), não é uma defesa dos interesses americanos e do livre-mercado (que "os poderosos" de Washington não sonham em defender) financiada pela CIA. É, justamente, um passeio pela dura realidade cubana, que deixa o ideário simbólico do socialismo no seu devido lugar: um sonho adolescente totalitário, disfarçado de aversão à autoridade — quando raros jovens deixam de ser autoritários.

Seus "críticos" não devem sequer saber o nome do blog de Yoani (Generación Y, a geração dos que, não podendo ter contato com o mundo exterior, "burlaram" a burocracia dando nomes com letras estrangeiras aos filhos, como Yoani — uma geração que "viu o futuro esgotar-se antes de chegar").

Lá está a rotina de uma mulher viver cercada por homens encarregados de classificar binariamente as pessoas entre "revolucionário" e "contrarrevolucionário", vigiando os últimos em seus apartamentos. Lá se vê que "pronunciar-se é o caminho mais curto para atrair problemas".

O que se vê não é propaganda capitalista. É apenas uma rotina em que as pessoas não se chamam mais de "companheiro", muito menos aquele "companheiro" que te fez esperar 4 horas numa fila e te atende de má vontade para enfrentar a burocracia (e é bom evitar a expressão "não aguento mais" em público ou lugares possivelmente monitorados), em que o Congresso do Partido é adiado porque nem o governo tem como alimentar e hospedar tanta gente ao mesmo tempo — e, afinal, para ditar ordens de cima e todos concordarem com a vontade de um único homem, sob palavras de ordem como "é preciso trabalhar a terra", não é preciso Congresso.

Vemos o saudosismo das revoltas por comida contra o governo enquanto se assiste novelas brasileiras — como aquela em que uma mulher que vende comida na praia constrói um grande consórcio — sonhando poder ter essa mesma liberdade. Descobrimos que o governo gasta rios de dinheiro com 138 bandeiras (corroídas pelo vento e maresia toda semana) apenas para tapar da população o painel da Seção de Interesses dos EUA do outro lado, enquanto seu povo descobre com seus filhos que pode descobrir com uma conta simples quantos frangos comeu na vida: "Ai, papai, você quer que eu acredite que antes, nos açougues, vendiam todo o frango que a gente queria…"

A internet, "tão escassa quanto a tolerância", mostra que a ditadura trata melhor os turistas que financiam a ditadura com seus dólares (pois o socialismo só produz miséria) do que os nativos, tratados como inimigos do povo e agentes da CIA, enquanto as pessoas na rua mal sabem o que é um blog. O MSN é proibido para o povo, enquanto os líderes têm acesso ao "imperialismo". Apenas 2% dos cubanos tem acesso à internet, enquanto a cifra chega a 11% no Haiti. Por que o medo de os cubanos dizerem ao mundo como é a verdade em Cuba? Ela não é uma vitória dos oprimidos?
Isso rende anedotas quase engraçadas, como jornalistas se calando sobre Barack Obama flexibilizar as limitações para cubano-americanos viajarem a ilha, preferindo se focar no "beisebol, na revolução bolivariana e — claro — os festejos pelo dia da imprensa cubana". Enquanto vende-se ao mundo a idéia de que as aspirações do povo cubano são a liberdade de cinco espiões cubanos presos nos EUA e a extradição de Posada Carriles, acusado de fazer explodir um avião em pleno voo em 1976, o povo ainda luta para ganhar salário na mesma moeda em que se vende a maioria dos produtos — mas essa caderneta de aspirações o PT e o PCdoB não querem folhear.

Vemos as cooperativas de trabalho rural e estudo no campo para pré-universitários gerando piolhos, alimentação de arroz e couve, completa falta de intimidade até nos banhos públicos sem cortinas, hepatite, falta de água, roubo de comida e moças fazendo sexo para conseguir notas ou "mostrar" o excedente da produção agrícola. Até a própria nudez vira "bem público" ou "objeto de uso social", onde "compartilhar" é a palavra obrigatória.

A "igualdade" do "governo para os miseráveis", que justifica, no Brasil, que os Castro (e seu braço ditatorial brasileiro) calem Yoani, garante aos cubanos uma comida pior do que de uma prisão, também impedindo que seu povo se expresse e caminhe livremente. Todo cubano é visto como um prisioneiro em uma cela maiorzinha. Junto aos altíssimos índices de suicídios, abortos e divórcios, a cifra de desempregados é muito maior nas tardes das praças do que na propaganda do governo, já que os jovens graduados reclamam das vagas de faxineiro ou "inspetor de mosquitos" que lhes são atribuídas. É o destino que o socialismo dá a tantas mentes que poderiam estar mudando o mundo e ainda enriquecendo com seu trabalho.

Enquanto o povo se sacrifica em "planos econômicos", os verdadeiros poderosos têm ar condicionado e torram combustível indo aplaudir por unanimidade atos ditatoriais, enquanto os trabalhadores não podem ter eletricidade o dia inteiro nem um refresco gelado. Deve ser contra o "Império" e a CIA que se sobe 14 andares de escada por cinco meses, e contra as "perversões da rede" que se proíbe a internet e o Facebook. Ao menos as crianças, os trouxas e os intelectuais de esquerda parecem acreditar nisso.

Não é o governo do "ariano superior", mas nesse mesmíssimo regime em que tudo está no Estado, tudo para o Estado e nada fora do Estado, os autoproclamados "revolucionários" proíbem o povo sequer de tentar ter os direitos que eles outorgam apenas a si próprios. Enquanto isso, "o povo reduziu as suas ações a um verbo moroso: esperar".

Nas lojas há escassez de produtos marinhos. Tudo bem se fosse no Tocantins ou Mato Grosso, mas em uma ilha? Claro, Cuba é a única ilha do mundo sem comunidade pesqueira — ou todos iriam para Miami. Também é proibido ter uma prancha de surf — objeto que alguns usariam para enfrentar tubarões para fugir do Éden de igualdade. Apesar da logorréia sobre o "embargo", os frangos da loja são "made in USA".

A infância com ajuda da União Soviética e o seu "não deixe nada no prato, Yoani" se torna um passado saudosista, transformado num presente de "coma devagar, Yoani" — enquanto os líderes têm geladeiras cheias. Até a abundante banana arrisca-se ser perdida pelos planos do Agricultor em Chefe — tão desejados por nossa intelligentsia esquerdista — impedindo o "picadinho de casca de banana", iguaria da casa. Por conseguir comprar essa caríssima e rara substância com os prêmios internacionais que recebeu por criar o blog mais influente da crosta terrestre, Yoani foi acusada de "agente da CIA". Melhor nem falar na saudade das pizzas, ou do que o povo ganha na comemoração pelos 50 anos da revolução: direito a meia libra de carne moída. Pela caderneta de racionamento.

A saúde cubana é exposta: a imprensa do governo não fala da epidemia de dengue ou gripe suína em Havana, apenas explicam como tomar cuidado com o mosquito. Para que prejudicar o povo assim? Apenas para maquiar o símbolo vazio de conteúdo da imagem da medicina do país. E o que fazer depois de quatro meses sem absorventes femininos? A natureza não entende de cartelas de racionamento, e os jornais que exaltam a recuperação econômica infelizmente servem como papel higiênico, mas não como absorventes.

O hospital para câncer não tem água na privada, deixando doentes terminais esperando que os próprios parentes os livrem do "aroma" (dica para terminais: tenha parentes), além de não contar com seringas descartáveis, só as bem grossas de vidro. Gaze a algodão, só via mercado negro — ambulância, só para casos absolutamente críticos.

A famosa "educação sem analfabetismo"também: os jovens desistem da universidade por não terem como custear roupas, alimentação e transporte. Podendo ter apenas um emprego (em nome da "igualdade"), é só através de empregos duplos proibidos que podem vir a ser alguém — ou seja, apenas sabotando o socialismo, que os prende na miséria.

A ortografia não vale nota, e Yoani se surpreende quando um aluno escreve "seveu" no lugar de "civil" — mas logo se acalma, lembrando que o conceito é tão alheio a essa sociedade onde os cidadãos são soldados, e não seres com direitos.

Os piores alunos vão para a área pedagógica "porque o curso é na cidade e não [se quer] uma bolsa de estudos no campo". Seus alunos mal os superam em idade, e ouve-se que "Madagascar é uma ilha na América do Sul". Dá até um alento por morar em um país em que os piores vão para a presidência, e não para a sala de aula.

Claro que, quando estrangeiros visitam a escola cheios de doações, o ambiente muda. Até a auxiliar pedagógica não exigiu que os alunos lhe dessem um pouco da merenda que trazem de casa. Só acontece um acidente quando um dos turistas, fora do script, precisou ir ao banheiro.

A meritocracia se revela na disputa quase física por dez televisores para um prédio de trezentas pessoas: ganha quem mais defende o Partido. Com prestações custando mais de um terço do salário cubano, uma velhinha comprou o seu com a certeza de que morreria antes de terminar de pagá-lo. Troca-se o "quanto você produz?" por "de qual órgão você é?" — assim se aprende as atividades contraditórias: "o ato de sobreviver e o de acatar o código penal".

"'Esta é a revolução socialista dos humildes, pelos humildes e para os humildes…', anunciou Fidel Castro perto das premonitórias portas do cemitério de Colón". Enquanto "supunham que o propósito revolucionário seria que não houvesse mais gente humilde", não souberam quando a prosperidade deixaria de ser vista como contrarrevolucionária — e fala-se apenas de um teto que não seja arrancado com o vento, esse luxo burguês. A "humildade" todavia não é escolha voluntária assumida pelos que governam — eles apenas sabem que "a pobreza leva à obediência".

Enquanto se jura que a "educação e a saúde são de graça", não se percebe o quanto se trabalha para ter apenas migalhas — às vezes menos do que um senhor de escravos dá às suas posses para que continuem trabalhando. Quem pode ter algo é quem consegue, burlando o socialismo, moeda conversível, o bem que o Estado cubano mais deseja. Quem é o inimigo do povo cubano e quem só pensa em conseguir algo dos EUA, mesmo?

Com a ideologia marxista, invertem o que é roubo e o que é produção, sem perceber que um trabalhador que produz aço, níquel ou rum recebe uma minúscula porção da venda de sua produção. "O resto é diretamente para subsidiar um Estado insaciável" (segundo a Forbes, Fidel Castro já é mais rico do que Elizabeth II, sendo o oitavo governante mais rico do mundo). O preço "simbólico" de uma libra de arroz mostra que o povo é emissor, e não receptor de subsídios. Mas é este roubo que é apregoado como "salvação da desigualdade" por partidos que também nos governam.

Um boneco para carros que balança a cabeça a cada solavanco como um "sim" eterno vira piada sobre a aceitação da vontade Daquele Homem — igualzinho PT, PCdoB e PCB acataram Sua vontade no Brasil, sem ler o que diz a tal Yoani. O Homem que em 2007 declara: "quem nos dera houvesse um copo de leite ao alcance de todos" impede que os cubanos leiam livros de Economia que explicam por que a Suíça, com seus 4% de terras cultiváveis, consegue colocar o leite na boca de cada um de seus rebentos.

Este Homem também não explica por que recusou uma proposta de Obama para que empresas de telecomunicações americanas disponibilizassem a internet para os cubanos (um mercado no qual elas devem estar de olho há tempos). Os emissários comprados dos partidos vermelhos no Brasil também não explicaram isso ao reclamarem tanto do "embargo", nem por que Cuba não entrou na OEA e tampouco aplicou o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais ou o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, ou por que o povo não é informado da proposta de Obama, "um novo começo com Cuba".

Rouba-se material de construção do vizinho, turistas, armazéns. Rouba-se, mais aceitavelmente, o Estado: o garçom aumenta preços, o comerciante altera a lista de consumidores do mercado racionado para ficar com o que sobra. Assim se forma a calada e sobrevivente sociedade cubana, nas belíssimas palavras de Yoani: "reforçam as paredes da bolha que os protege dos discursos, mas que também os dissuade de protestar publicamente". Claro que só se conhece casos dedesencanto com o socialismo com o tempo — ninguém "que tenha passado da descrença para a lealdade, que começasse a confiar nos discursos depois de anos de críticas".

Quem dera se os discursos alimentassem a população, enquanto os Castro alimentam melhor seus tubarões do que seu povo. Todo "revolucionário" já sabe o que dirão seus líderes antes que eles emitam uma única palavra, e a "vitória" contra o "imperialismo" se reduziu a se manter tempo no poder o suficiente pra definir o destino dos avós de Yoani e também de seu filho, numa política que não é jogo de xadrez, mas cabra-cega — em que todos são chamados a resistir, mas "ninguém sabe mais muito bem a quem ou a quê".

Pessoas vão trabalhar para a polícia política, denunciando seus vizinhos, em troca de mais um lanche, que podem vender e duplicar seus proventos.

Enquanto a divergência política é criminalizada, avós não podem ver netos nascidos de filhos dissidentes. Famílias são separadas para nunca mais terem notícias um do outro. A palavra "liberdade" é ouvida com cuidado — pode ser uma "provocação contrarrevolucionária". A retórica serve para disfarçar o desastre socialista — uma vida pouco melhor do que uma favela com puxadinhos — e para, sendo proibida a literatura, alimentar bichos-papões, como a ameaça eterna de uma invasão americana — fábula bobalhóide em que apenas crianças, idiotas e militantes de partidos esquerdistas brasileiros acreditam.

Quem fica angustiado com isso não é o povo, mais preocupado em ter carne para comer. São apenas os que "têm lançado mão do confronto para se manter no poder". Ou para conseguir fundo partidário no Brasil.

Yoani até sugere uma tour por Cuba "no estilo cubano", para turistas que queiram viver de caderneta de racionamento (experiência impressionante relatada por Patrick Symmes), programa que nenhum financiado que grita "Yoani mente" em um centro comercial de São Paulo parece disposto sequer a ler, que dirá viver.

Como se vê, Yoani não fala de política. Não é uma emissária que busca trazer capitalismo para Cuba — e se ganha da CIA para escrever o que escreve, a CIA anda desperdiçando dinheiro.

Yoani apenas relata a vida real, ao invés da utopia dos livros que falam em "desigualdade" sem saber explicar a vantagem para um ser vivo de ser "igual" a outro miserável.

Yoani apenas é contra uma ditadura — e por isso odiada pela esquerda, só ganhando proteção daqueles que, ao contrário dela (que sequer pôde aprender sobre isso), defendem a liberdade de trabalhar e ter para si (e não para o Estado) os frutos do seu trabalho.

É mais revelador do que parece.

Artigo originalmente publicado em O Implicante

Flavio Morgenstern é colunista do site O Implicante. Também escreve para o Ordem Livre, para o Papo de Homem e em seu blog pessoal. Nas horas vagas, passa o cafezinho do Reinaldo Azevedo. No Twitter, @flaviomorgen

quinta-feira, 14 de março de 2013

VENEZUELA APÓS A MORTE DE HUGO CHAVEZ

Os que de verdade querem ver uma Venezuela regida pela razão e pela lei, pela liberdade e pela justiça, devem unir suas forças, dentro e fora do país, para garantir que os caminhos da democracia não fiquem ressecados. E a Espanha deveria se constituir em foco de esperança para os que assim pensam, sentem e fazem. Há vida depois da ditadura.

Hugo Chávez encarnou a mais recente, e muitos desejaríamos que fosse a última, versão do caudilhismo totalitário caribenho que durante decênios, na vida e na literatura dos povos ibero-americanos, foi a imagem negativa de marca da região. Governou a Venezuela a seu bel prazer, com um manifesto desprezo dos princípios democráticos, e da constituição e das leis que ele mesmo havia promulgado. E não fez adotando parte da imaginação e dos métodos das democracias representativas. Ninguém lhe poderá negar que seus três qüinqüênios de governo absoluto tenham vindo respaldados pela matemática eleitoral. Porém, ninguém que não tenha os olhos tapados pelas viseiras da correção política ou da inclinação totalitária poderá endossar a irregularidade dos procedimentos e a opressão realizada para encarrilhá-los segundo a vontade do que não era outra coisa que um militar golpista.

As emoções populares que seu desaparecimento suscita, que seguramente terão muito de espontâneo nos setores menos favorecidos da sociedade venezuelana aos quais ele disse dedicar o melhor de seus esforços, emoções que serão também exploradas e desorbitadas pelos que queriam continuar detendo o santo e a esmola no chavismo sem Chávez, não podem esconder a ruína econômica, política e moral em que a Venezuela fica após o óbito. Navegando na crista da onda dos altos preços do petróleo e sem o mais mínimo respeito pelas normas elementares de funcionamento da economia nacional e internacional, subvencionou uma elevação fictícia das rendas inferiores com técnicas que garantam o pão de hoje e a fome de amanhã, enquanto a estrutura produtiva, inclusive a petroleira mesmo, conhecia seus piores rendimentos em décadas. A brutal desvalorização à qual se viu no país recentemente exposto, de tão premente necessidade que se fez sem poder esperar que o comandante se recuperasse do que já era sua última viagem, é uma mostra dramática de onde ficam as finanças do país após 15 anos de reinado absoluto.

Chávez explorou à perfeição o paradoxo de Davi e Golias, construindo um universo paralelo no qual se encontrou na buscada companhia dos cubanos, norte-coreanos, iranianos e bielo-russos, sem que na ocasião faltassem russos e chineses, auto-denominados açoites do imperialismo, ousados buscadores dos limites da estabilidade do sistema que os suporta para evitar males maiores, ou que os saúda com circunspecção porque não resta mais remédio, enquanto princípios elementares da vida de relação nacional e internacional são sistematicamente pisoteados.

No final, nada descreve melhor a trajetória de um personagem público que as vicissitudes da enfermidade e da morte, e estas, no caso de Chávez, alcançaram graus de irrealidade que, inclusive no trágico de suas conseqüências, caíam em cheio no terreno do espantalho. Durante meses a população venezuelana não conheceu com exatidão os perfis da enfermidade que acometia o presidente do país, submetido a um contínuo transtorno entre Caracas e Havana para ser tratado de doenças misteriosas. E o último capítulo de seu trânsito, desaparecido durante três meses da luz pública, com o país submetido a um apagão informativo e constitucional, só cabia inscrever-se na impossibilidade do realismo mágico. A modernidade foi sempre definida como o tempo em que fenece a arbitrariedade do chefe. Hugo Chávez, paradigma da viseira populista, soube cunhar a antiga figura do mandão para cujos caprichos não existem fronteiras. Don Ramón María del Valle Incián o teria incluído com gosto em seu catálogo dos tubarões de antanho.

É curta a capacidade que a comunidade internacional assiste nestes momentos, e muito em particular a ibero-americana, para sentar as costuras dos aprendizes de bruxo que, como Chávez e por seu amparo, pretendem eternizar sistemas de governo que sob a formalidade eleitoral introduzem de contrabando comportamentos totalitários no campo político, estatistas no econômico e intervencionistas no internacional. É certo que o desaparecido caudilho venezuelano levou o sistema à estranha perfeição que as rendas dos hidrocarbueretos lhe permitiam, criando uma simbiose que tinha seu centro em Havana e suas ramificações em Quito, La Paz, Manágua e Buenos Aires. Digna de estudo é a contra-prestação estabelecida entre a fonte energética do Orinoco, a direção política de Havana e a invasão cubana da Venezuela com um exército que inclui médicos, professores, soldados e espiões. Porém, não deveria haver engano na análise: o que está em jogo é a vida em liberdade e em prosperidade de milhões de cidadãos, que não deveriam ser enganados com as falsas promessas de um sistema novidadeiro que na realidade não existe. Basta olhar para Cuba, e agora a Venezuela, para comprová-lo. Este deveria ser um momento de reflexão para todos aqueles que guiados pelas melhores intenções e em aplicação das práticas estabelecidas no direito internacional, querem manter as formas na relação com sistemas que contradizem seus mais essenciais princípios. Porém, essa bem educada disposição não deve se confundir com a indiferença, a inação e sobretudo o aplauso. Uma certa circunspecção é hoje mais do que conveniente para que ninguém em Caracas ou em Havana tome o número trocado. Algo que o Rei da Espanha fez à perfeição, com aquele sonoro e memorável “por que não te calas?” dirigido ao que ninguém havia ousado fazer calar.

Não é um trago fácil o que espera aos venezuelanos. Desfazer o emaranhado complicado de interesses tortos tecido pelo comandante, será uma operação fartamente delicada e seguramente longa. E seus resultados não estão garantidos porque outros, e em particular os cubanos, não têm nenhum desejo de que assim seja. E ao fim e ao cabo é preciso lembrar que o abscesso Hugo Chávez foi a conseqüência direta do fracasso dos partidos políticos tradicionais em suas direções, corrupções e incapacidades. Nesse derradeiro momento da verdade é quando os que em verdade querem ver uma Venezuela regida pela razão e pela lei, pela liberdade e pela justiça, devem unir suas forças, dentro e fora do país, para garantir que os caminhos da democracia não fiquem definitivamente ressecados. E a Espanha deveria se constituir em foco de esperança para os que assim pensam, sentem e fazem. Há vida depois da ditadura. Sabemos melhor que outros. E não podemos defraudar aos que querem se inspirar em nosso exemplo para seguir o mesmo caminho. Por: Javier Rupérez - Embaixador da Espanha

Tradução: Graça Salgueiro

INVERTENDO O JOGO


Invertendo o jogo: são os estatistas, e não os defensores da liberdade, que têm de dar respostas


Obs: o artigo a seguir foi baseado neste artigo de Bryan Caplan

Sempre que publicamos um artigo que faz a defesa de uma sociedade livre de intervenções e coerções estatais, os defensores do sistema vigente estrilam. Em vez de contra-atacar com argumentos racionais, eles se limitam apenas a apelar para efusões de sentimentalismo, como se afetações de "preocupação para com os desvalidos" fossem argumentos imbatíveis. 

Em vez de atacarem os argumentos éticos, morais e econômicos em prol de uma sociedade livre, tudo o que eles fazem é inventar algumas hipóteses "desumanas" que, segundo eles, seriam frequentes em um ambiente de liberdade.

Eis os exemplos mais comuns desta afetação de coitadismo a que recorrem:


"Sem saúde pública, o que ocorrerá a um sujeito pobre que ficar doente, não tiver plano de saúde, e não conseguir convencer amigos, familiares ou instituições de caridade a pagarem por seu tratamento?"

"Sem educação pública, como os pobres irão se educar?"

"E se um idoso for fraudado por uma empresa de previdência privada e os criminosos desta empresa desaparecerem com todo o seu dinheiro?"

"E se uma criança pobre estiver morrendo de fome nas ruas, e ninguém se oferecer para alimentá-la?"

"E se um sujeito sem instrução e sem nenhuma habilidade prática não conseguir arrumar um emprego, quem irá ajudá-lo?"

Se você é um libertário, certamente já teve de lidar com estas e várias outras perguntas. O real objetivo do inquisidor é fazer você dizer "Ah, isso não é problema meu!" e parecer um desalmado indigno de ser levado a sério. 

Entretanto, o que sempre nos intrigou, o que jamais conseguimos entender, é por que os libertários quase nunca fazem perguntas análogas aos defensores do estado. Afinal, o arranjo que eles defendem não apenas já existe, como vivemos nele e testemunhamos diariamente os inúmeros e explícitos atentados aos mais básicos direitos humanos e às mais básicas liberdades individuais cometidas por ele. 

Mais ainda: o pior cenário que os defensores do estado imaginam que irá ocorrer em um cenário de liberdade já ocorre rotineiramente no cenário estatista que eles defendem.

Sendo assim, eis algumas perguntas às quais os defensores do estado devem responder:


"E se o Congresso aprovar uma lei injusta, o presidente sancioná-la e o Supremo Tribunal impingi-la?"

"E se o governo decretar que é proibido trabalhar em troca de um determinado valor salarial?"

"E se o governo proibir a concorrência em determinados setores da economia?"

"E se o governo quiser desarmar a população?"

"E se o governo for leniente com sequestradores, assassinos e grupos terroristas ideologizados?"

"E se o governo estipular que as empresas devem contratar de acordo com critérios de cor e preferência sexual, e não de competência?"

"E se o governo decretar que determinadas opiniões são proibidas, sendo passivas de encarceramento?"

"E se o governo estipular que apenas seus empresários favoritos podem receber subsídios e atuar em determinados mercados?"

"E se o governo resolver desapropriar moradores pobres para construir ruas, estradas ou complexos esportivos nesses locais, favorecendo suas empreiteiras favoritas?"

"E se o governo decidir encarecer a importação de produtos de qualidade?"

"E se o governo estipular regras e burocracias que dificultem sobremaneira o empreendedorismo?"

"E se o governo decretar que apenas os seus serviços de segurança e justiça podem ser utilizados? E se estes forem ruins?"

"E se os integrantes do governo praticarem corrupção? Quem irá puni-los, uma vez que os serviços de justiça foram decretados monopólio estatal?"

"E se o governo assumir o controle da educação, determinando os currículos das escolas e das universidades, tornando a população mais imbecilizada?"

"E se o governo assumir o monopólio da moeda e decidir inflacioná-la continuamente, destruindo a poupança dos trabalhadores?"

"E se o governo aumentar continuamente o confisco da renda dos cidadãos para repassar o butim à sua própria burocracia e a grupos de interesse politicamente bem organizados?"

"E se o governo me recrutar compulsoriamente e me enviar para uma guerra injusta, e eu sofrer uma morte horrenda e dolorosa?"

"E se aquele pobre para quem o governo dá esmolas resolver gastar todo o dinheiro com cachaça, cigarro e jogatina?"

"E se uma pessoa se entregar a um estilo de vida nada saudável e onerar a saúde pública?" 

"E se o governo decidir encarcerar pessoas pelo simples fato de elas injetarem determinadas substâncias em seus próprios corpos?"

"E se uma pessoa, levada pela certeza de que a Previdência Social cuidará dela até sua morte e que o governo lhe dará todos os remédios necessários, se entregar a um estilo de vida pouco saudável e ter uma velhice inválida e sofrida?"

"E se o governo decidir que eu sou obrigado a financiar programas dos quais discordo moral e eticamente?"

"E se o governo decidir mandar para a cadeia todos aqueles que não lhe pagarem tributos?"

Note que, uma vez que você começa o jogo do "e se", é difícil parar de imaginar hipóteses. Pense em qualquer sistema político: garantimos ser capazes de gerar infinitas hipóteses desconcertantes para irritar seus defensores. 

Eis a lição a ser aprendida: absolutamente toda e qualquer perspectiva política terá em algum momento de dizer "Ah, isso não é problema meu!" quando confrontada com um "e se" bem construído. Ao passo que não há nada de especialmente insensível ou cruel no libertarianismo, já houve inúmeras crueldades realmente praticadas por todos os outros tipos de governo. Defensores da democracia, do nacionalismo, do socialismo, do progressismo, do politicamente correto e da social-democracia — todos, em algum momento, após serem pressionados a se posicionar a respeito de algo trágico ocorrido sob o tipo de governo que defendem, simplesmente dirão em um tom lamentoso que "a vida é dura". Outros, mais irritados, dirão "o que você quer que eu faça quanto a isso?".

É essencial ressaltarmos que, enquanto os críticos da liberdade se reduzem a apenas inventar hipóteses ruins que poderiam ocorrer em um sistema sem coerção estatal, todos os nossos "e se" acima apresentados já sãorealidade em um sistema de coerção estatal. Todos eles já estão ocorrendo neste exato momento sob o sistema de governo que eles defendem. Por que somos nós que temos de ficar na defensiva ao advogar um sistema que se oponha a tudo isso? Eles é que têm de apresentar justificativas para o sistema atual. Nunca testemunhamos a ocorrência de uma sociedade libertária; vivemos em uma sociedade estatista. Quem defende o atual modelo, com a existência de um estado, é que tem a obrigação de responder de pronto a todas as perguntas acima. E então, só então, ele estará em posição de fazer perguntas.

No que mais, utilizando os conhecimentos da ciência econômica, podemos saber antecipadamente que a riqueza e a caridade privada em uma sociedade sem coerção estatal seriam mais pronunciadas do que na atual, sendo suficientes para acabar com a pobreza absoluta. Se ainda há pobreza absoluta no atual sistema, após séculos de gerência estatal, então seus defensores devem respostas.

Por que, enfim, essa duplicidade de comportamento? Como pode o defensor da espoliação exigir respostas do defensor da não-agressão? Que inversão moral é essa? Por que o defensor da liberdade é que tem de explicar a superioridade ética e moral deste arranjo? Por que o defensor da coerção ganha um passe livre? Por que os estatistas nunca devem dar explicações de nada?

A raiz deste comportamento esquisito está na propensão das pessoas a apoiar o status quo. A maioria das pessoas tolera as consequências desagradáveis do status quo porque já se acostumaram a ele. Assim como um escravo acaba desenvolvendo uma afeição por seu senhor, ou um sequestrado começa a se sentir atraído por seu raptor, as pessoas igualmente passam a ser incapazes de imaginar como seria viver sem ser espoliadas e tolhidas. Pior ainda: passam a crer que os tipos de agressão e descaso a que são rotineiramente submetidas pelo estado são normais e fazem parte da vida.

Você foi recrutado contra a sua vontade pelo exército e perdeu anos de sua vida neste regime de semi-escravidão? Fazer o quê, é a vida. Foi encarcerado por ter injetado em seu corpo uma determinada substância não aprovada por burocratas? Que pena. Teve vários ativos confiscados porque não deu a "quantia correta" de dinheiro para sustentar o estado? Bem feito por não obedecer! Foi assaltado e a polícia não lhe ajudou? Melhor sorte da próxima.

A maioria das pessoas não toleraria algumas ramificações do libertarianismo — como a total responsabilidade individual e a necessidade moral de ajudar ao próximo — porque elas estão acostumadas a um mundo em que o governo diz "Não se preocupe, estamos no controle de tudo. Estamos cuidando de você."

Sinceramente, o que há de tão reconfortante nessa garantia estatal? Mais ainda: o que há de tão reconfortante nessa garantia quando ela vem acompanhada de uma lista de inúmeras mazelas diariamente cometidas pelo governo?

Por: Equipe IMB

quarta-feira, 13 de março de 2013

O QUE É SER INTELIGENTE?


O que fazer quando ocorre uma emergência com o cliente? O que fazer quando um investimento na empresa não deu certo? Automatizar ou não um processo? Deixar os colaboradores trabalharem em casa? Quem é o verdadeiro cliente da empresa? Pegar um empréstimo ou não? Ser dono do seu próprio negócio vale realmente a pena?

Mais do que concordar ou discordar, acredito que o mais importante para o empreendedor é utilizar sua inteligência para ir formando a sua própria convicção. “Ir formando”, bem no gerúndio mesmo, porque esta convicção pode ser alterada a partir do conhecimento e vivência de novas experiências empreendedoras.Há décadas muitos pesquisadores vêm apontando características do empreendedor típico e aparecem coisas como persistência, coragem, paixão, liderança, visão. 

Nestas situações, a abordagem é a mesma: não concordo e nem discordo, apenas utilizo a minha inteligência para formar a minha própria convicção. A principal delas é que todo grande empreendedor aprende rápido. E faz isto porque é muito inteligente. Mas o que me incomodava nesta minha convicção é que boa parte dos grandes empreendedores não foram excelentes alunos e vários famosos até desistiram da faculdade como Bill Gates, Steve Jobs e Richard Branson.

Só encontrei a resposta para este incômodo quando conheci os trabalhos de Howard Gardner, autor da teoria das Inteligências Múltiplas. Gardner explica que a inteligência do ser humano não pode ser mensurada apenas pelo raciocínio lógico-matemático cobrado nos vestibulares e nas faculdades. Neste tipo de inteligência, o sujeito estuda para saber qual botão apertar. Se aperta o botão certo, tira nota 10 é considerado inteligente.

Não raro, o aluno “inteligente” decora qual botão apertar. Um dos alertas importantes destacados por Gardner é que “a maior parte dos testes (das escolas e faculdades) mede a inteligência lógica e de linguagem. Quem é bom nas duas é bom aluno.

Enquanto estiver na escola, pensará que é inteligente. Porém, se decidir dar um passeio pela cidade, rapidamente descobrirá que outras habilidades fazem falta, como a espacial e a intrapessoal – a capacidade que cada um tem de conhecer a si mesmo, fundamental hoje”.Mas muitos empreendedores que conheço não são apertadores de botão, já que em muitos casos, nem botão há ou em outros, eles criam seus próprios botões. Gardner defende que há outros tipos de inteligências como a musical, espacial, linguística, interpessoal, intrapessoal, corporal, naturalista e existencial.

E o que noto é que há empreendedores que não foram alunos “nota 10”, mas que têm uma elevada inteligência espacial para entender contextos, um elevado grau de confiança em função de sua inteligência intrapessoal ou são ótimos em lidar com pessoas, pois dominam a inteligência interpessoal, apenas para citar algumas das inteligências. Acredito que os grandes empreendedores souberam alinhar suas inteligências mais destacadas com o que Howard Gardner chama de Cinco Mentes para o Futuro, que em sua opinião são essenciais para o desenvolvimento do ser humano que são: 

- a mente disciplinada (exige o esforço para sermos bons em algo), 

- a mente sintetizadora (que sabe o que realmente importa e como isto pode ser combinado), 

- a mente criativa (que cria soluções inovadoras eficazes a partir da disciplina e síntese), 

- a mente respeitosa (que reconhece que o ser humano é único, com crenças e valores diferentes) 

- a mente ética (que faz a coisa certa mesmo quando não atende aos nossos interesses).

Veja gráfico sobre inteligências múltiplas abaixo

Tudo isto para você pensar que precisa utilizar suas inteligências para encontrar suas respostas para os seus dilemas, desafios e desejos de empreendedor. Só para exemplificar: O dilema de automatizar ou não um processo. A Juliana Motter da Maria Brigadeiro optou por não automatizar, mas se acompanhar a trajetória da Taciana Kalili da Brigaderia, a solução encontrada foi outra. Quem errou? Provavelmente todos aqueles que utilizaram a lógica-matemática para chegar à conclusão de que não havia mercado para um negócio só de brigadeiros.

Para terminar a resposta do meu teste para saber se você tem o perfil empreendedor: Se você acha que pode ou acha que não pode fazer algo, você está certo! Frase atribuída a Henry Ford que só teve sucesso na terceira empresa que fundou e com o modelo T (imagina qual foi a letra do primeiro modelo que ele lançou?).






AMEAÇAS VAZIAS

A guerra está por vir, pois as guerras sempre estão no horizonte. Estaremos despreparados para a guerra, pois esse é o modo de sermos. É assim que funciona a história. Se isso não é percebido no Ocidente, com certeza o é no Oriente.


Em 2009, a manchete do The Atlantic foi: “Netanyahu para Obama: Pare o Irã – ou eu o farei”. Quatro anos depois constatamos que nada aconteceu. O Primeiro Ministro israelense bufou aos montes e o presidente dos EUA manteve-se imóvel. Não houve ataque israelense ao Irã e provavelmente não haverá. Alguns relatos já dão como certa a existência de armamento nuclear iraniano e uma futura ampliação. Por conta de o presidente Obama querer uma solução diplomática, as negociações e os encontros não têm fim. Com efeito, Obama e o presidente russo Vladimir Putin já concordaram em se reunir para discutir o problema iraniano durante o encontro vindouro do G-8 na Irlanda do Norte. Então como devemos considerar as futuras ameaças israelenses?

Existe uma regra implícita na política: não se deve jamais fazer ameaças. Nada expõe tão flagrantemente as fraquezas quanto as ameaças vazias. Se você pode fazer algo, então faça. Não fique falando. A esse respeito, as falas sem ações fazem todos suspeitarem que você seja impotente. Como dizem, o falatório é vão. As ações, por outro lado, dizem algo completamente diferente. Se as ações forem coerentes com as palavras, então as pessoas ficaram genuinamente abaladas pelo que disseres. Se quatro anos passam sem ação, as pessoas concluirão que você é um falador.

O jornal Times of Israel publicou a seguinte manchete no último domingo: “Negociações sobre armamento nuclear só serviram para dar mais tempo ao Irã”. Do lado americano, a fala é um meio para desperdiçar um precioso tempo. As negociações entre as cinco potências (mais uma) feitas no Cazaquistão serviram muito bem ao Irã, pois enquanto as potências conversavam, o Irã estava construindo sua bomba; E uma vez que o Irã tivesse a bomba, ninguém se atreveria a agir. Mesmo porque, quem atacaria uma nação que tem uma bomba nuclear? O Primeiro Ministro Netanyahu é citado no artigo dizendo que o Irã está “continuadamente desafiando a comunidade internacional [...] Assim como a Coreia do Norte, que continua a desafiar todos os padrões internacionais, de modo que tal ato pede que os demais países reforcem suas sanções e deixem claro que se isso continuar haverá sanções militares”.

Incrivelmente mais uma ameaça foi feita. De fato, por que se fez tal afirmação? A qual propósito isso serve? Os líderes iranianos não foram intimidados. E, como disse o próprio Ministro do Exterior de Israel, todos sabem que o Irã não recuará. Seja como for, os iranianos têm muitos meios de adquirir uma bomba. Eles obviamente estão trabalhando com os norte-coreanos e poderiam – se necessário – produzir armas nucleares sob os auspícios de Pyongyang. Tais armas poderiam ser levadas da Coreia do Norte até o Irã via submarino e ninguém jamais saberia. Portanto, mesmo que houvesse um ataque às instalações nucleares iranianas, de nada adiantaria. E verdadeiramente falando, neste contexto atual, quem se atreveria a bombardear o regime norte-coreano? É um governo que já possui várias armas nucleares e está totalmente preparado para bombardear Tóquio ou até mesmo lançar um míssil com uma ogiva nuclear contra os Estados Unidos.

O Ocidente já esperou demais para agir em outras ocasiões. Em 1949 Stálin tinha sua própria bomba – e provavelmente ele foi o mais mortífero psicopata de todos. Mao Tsé-Tung conseguiu sua bomba em 1964. E nós, o que fizemos? Convivemos com isso e provavelmente iremos assim até morrer. O fato é que os loucos já possuem a bomba e um dia eles irão usá-la. (Oh sim, eles irão). A álgebra estratégica é inegável, embora vivamos em uma sociedade e uma cultura que nega tais coisas, mesmo por que nosso próprio modo de vida depende de tal negação.

A guerra está por vir, pois as guerras sempre estão no horizonte. Estaremos despreparados para a guerra, pois esse é o modo de sermos. É assim que funciona a história. Se isso não é percebido no Ocidente, com certeza o é no Oriente. Na última semana, o Presidente Putin ordenou que os líderes militares fizessem “melhorias urgentes” às forças armadas. “Esforços estão sendo feitos para equilibrar a balança estratégica”, disse Putin em uma assembleia de oficiais militares russos. “As forças armadas da Rússia devem se lançar para um novo nível de capacidades nos próximos três ou cinco anos”. Nesse ínterim, de volta aos EUA, as forças armadas estão enfrentando cortes automáticos e uma drástica redução das capacidades.

A presente situação é perfeitamente óbvia. Netanyahu fará muito barulho, Obama negociará e os iranianos construirão a bomba. O padrão está definido e ninguém pode alterar o que vem sendo construído há décadas. Todo período de declínio é pontuado por reveses econômicos e militares. Atualmente estamos no estágio do revés econômico. Em breve veremos o revés militar. Por: POR JEFFREY NYQUISt Publicado no Financial Sense.

Tradução: Leonildo Trombela Júnior

terça-feira, 12 de março de 2013

ECONOMISTAS DE FATO ACREDITAM QUE É POSSÍVEL CONSEGUIR ALGO EM TROCA DE NADA

Um indivíduo vai ao médico e reclama estar sentindo algumas dores localizadas. O médico examina o paciente e faz um diagnóstico incorreto. Ele receita alguns remédios para o paciente e os sintomas desaparecem. Com o tempo, o indivíduo passa a crer que está curado. Ele pensa que está com mais saúde. Ele pensa que melhorou em definitivo. Mas está ocorrendo justamente o oposto: ele ficou ainda mais doente; mas como os sintomas de sua doença desapareceram, ele supõe que foi curado. Ele não fará mais nada para lidar com sua doença. Mas a doença pode ser fatal. 


Conheço um sujeito que durante muito tempo padeceu de uma doença que apresentava sintomas idênticos à doença de Parkinson. Durante 25 anos, seu médico diagnosticou sua condição como sendo mal de Parkinson. Ele foi colocado sob um tratamento voltado para combater o mal de Parkinson. Recentemente, descobriu-se que na realidade ele nunca teve mal de Parkinson. Ele tem uma doença congênita que cria exatamente os mesmos sintomas do mal de Parkinson. Estes sintomas podem ser efetivamente tratados por meio de uma operação. Ele fará esta operação mês que vem. Com certeza, a maioria dos sintomas desaparecerá.

Os tratamentos que ele recentemente passou a fazer, e que foram concebidos para lidar com doenças congênitas, melhoraram acentuadamente seu estado. Em suma, o diagnóstico feito 25 anos atrás levou a uma série de despesas com remédios totalmente desnecessários, o que, por sua vez, levou à falsa conclusão de que os remédios estavam combatendo efetivamente a doença. Mas não estavam. Eles estavam apenas atacando sintomas criados pelo mal de Parkinson. Ele passou 25 anos de sua vida sem ter saúde e incorreu em gastos completamente desnecessários lidando com uma doença que nunca teve.

Por que estou contando esse caso real? Porque ele é uma metáfora perfeita para ilustrar exatamente o que as políticas de Banco Central fazem com uma economia. Um Banco Central lida com sintomas. Pior ainda: lida com sintomas causados justamente por suas políticas anteriores. Explico.

Os dígitos são de graça; a riqueza, não

"Não é possível obter alguma coisa em troca de nada." Todos os economistas dizem acreditar nesta máxima. Porém, a verdade é que, com a exceção dos economistas seguidores da Escola Austríaca, nenhum economista realmente crê nessa máxima.

Todos os economistas, exceto os seguidores da Escola Austríaca, dizem que uma política monetária mais frouxa, com redução dos juros, gera crescimento econômico sólido. Uma combinação de expansão monetária com gastos do governo é um remédio capaz de reverter recessões e gerar prosperidade.

Somente os austríacos possuem uma metodologia consistente, a qual diz que é logicamente impossível o governo ser a fonte do crescimento econômico. O governo nada mais é do que uma agência que redistribui riqueza à força. O mesmo pode ser dito a respeito de um Banco Central. O Banco Central é uma agência estatal que utiliza seu monopólio da moeda para expandir a base monetária da economia. Tal expansão monetária é utilizada pelo governo para financiar a própria burocracia e demais programas governamentais, como obras realizadas por empresas e empreiteiras com fortes ligações políticas. Esta criação de dinheiro transfere riqueza do setor privado para o setor público. Ela permite que pessoas que nada produziram se apossem de bens e serviços. Ela faz com que pessoas obtenham recursos escassos sem dar nada em troca. Isso não é criação de riqueza, dizem os austríacos; isso é redistribuição de riqueza.

Mas a criação de dinheiro não gera apenas redistribuição de riqueza. Ela gera também destruição de riqueza. A destruição de riqueza ocorre porque o Banco Central, ao criar dinheiro na forma de dígitos eletrônicos e manipular a taxa de juros, gera sinais econômicos distorcidos. Ele sinaliza que há empreendimentos em determinadas áreas que repentinamente se tornaram lucrativos. Isso induz empreendedores e consumidores ao erro. Estes falsos sinais criados pela criação de dígitos geram decisões errôneas e infundadas. E decisões sensatas e sólidas são a alma da teoria empreendedorial. Sendo assim, a expansão monetária feita pelo Banco Central aumenta a quantidade de erros no sistema econômico, e esses erros vão se acumulando ao longo do tempo. Capital e recursos escassos são direcionados para setores cuja demanda é apenas temporária, pois foi artificialmente estimulada. Isso inevitavelmente leva a uma recessão, que é o processo em que tais erros são depurados e expurgados.

Somente os austríacos são consistentes ao afirmar que você não pode obter algo em troca de nada. O "nada" a que os economistas austríacos se referem são os dígitos eletrônicos criados pelo Banco Central, também chamados de dinheiro. Estes dígitos eletrônicos são produzidos pelo Banco Central a um custo marginal zero. Dizer que a simples criação de dígitos gera crescimento econômico, prosperidade e bem-estar é uma afirmação que ainda tem de ser comprovada pela teoria e pela prática. O que já foi explicado pela teoria e comprovado pela prática é que a criação de tais dígitos gera consequências negativas. Eles criam sinais falsos que são utilizados tanto por consumidores quanto por produtores para planejar seu futuro. Esses sinais falsos criam prejuízos, e os prejuízos reduzem a riqueza econômica. Prejuízos produzem contração econômica, e não crescimento econômico. No final, sobram apenas preços mais altos.

Keynesianos exigem que o Banco Central esteja aumentando continuamente a oferta monetária. Economistas da Escola de Chicago também exigem o mesmo, embora queiram que tal aumento seja menor e mais previsível. Os seguidores das expectativas racionais querem que moeda continue sendo fiduciária e de curso forçado porque são avessos a mudanças na política econômica. Os economistas supply-siders (do lado da oferta) também defendem este arranjo porque são defensores de déficits orçamentários. Eles também acreditam que a expansão monetária é boa para estimular o crescimento econômico.

Se dissermos que, em termos econômicos, dígitos eletrônicos não são nada, e se também dissermos que crescimento econômico é alguma coisa, então temos de concluir, por uma simples questão de lógica, que ou os dígitos eletrônicos não são a causa do crescimento econômico, ou, se eles são a causa, então a velha máxima está errada. Seria sim possível conseguir alguma coisa em troca de nada.

Quando se diz que dinheiro eletrônico não é nada, no sentido de que o custo marginal de se produzir dígitos adicionais é zero, então há apenas uma conclusão inevitável, supondo-se ser verdade que não podemos conseguir algo em troca de nada: o "algo" que o dinheiro digital parece gerar — crescimento econômico — é uma ilusão. 

Se o dinheiro pode ser criado 'do nada', como gostam de dizer os críticos do sistema bancário de reservas fracionárias, então o crescimento econômico que ocorre em decorrência desta criação de dinheiro tem de ser uma ilusão. Tal crescimento econômico tem inevitavelmente de estar consumido recursos escassos de alguma forma não perceptível, de modo que, em algum momento futuro, haverá perdas e prejuízos econômicos. E preços maiores.

Em outras palavras, o crescimento econômico mensurado por indicadores estatísticos não foi realmente um crescimento econômico. Tudo o que ocorreu foi uma transferência de riqueza de alguns setores da economia — setores estes que não estão devidamente ponderados pelo pessoal que constrói os índices estatísticos utilizados para identificar crescimento econômico — para outros setores, que possuem um peso maior no índice. Os indicadores estatísticos, portanto, estão ignorando os custos associados a essa transferência de riqueza, a qual ocorre por causa das informações falsas geradas pela criação de dígitos eletrônicos.

O diagnóstico errado

Comecei este artigo citando o caso de um sujeito que sofreu em decorrência de um diagnóstico errado. E disse que sua situação era uma metáfora perfeita para ilustrar exatamente o que as políticas de Banco Central fazem com uma economia. Um Banco Central lida com sintomas. Pior ainda: lida com sintomas causados justamente por suas políticas anteriores. 

Políticas anteriores de expansão monetária geram um crescimento econômico artificial que inevitavelmente termina em recessão. Para combater esta recessão, o Banco Central volta a colocar em prática exatamente as mesmas políticas que levaram à recessão. Diagnóstico errado. Sendo assim, ano após ano, geração após geração, os bancos centrais expandem a oferta monetária. E eles fazem isso sempre com a justificativa de estarem lidando com recessões. E são estas mesmas políticas que geram os ciclos econômicos. Portanto, os remédios utilizados pelo Banco Central intensificam as doenças futuras. Dígitos gratuitos produzem informações ruins. 

Estas informações ruins produzem a ilusão de crescimento econômico. Tudo o que houve foi empreendedores investindo dinheiro onde não deveriam investir, em projetos que não deveriam ter sido lançados. E preços mais altos como consequência.

Conclusão

Não é possível conseguir alguma coisa em troca de nada. Em economia, o que se consegue em troca de nada é apenas informação ruim. E estas informações ruins geram prejuízos. Mas todos os economistas, com a exceção dos seguidores da Escola Austríaca, insistem em dizer que uma expansão monetária feita pelo Banco Central é a base de sustentação para o crescimento econômico. Ao afirmarem isso, jogam no lixo a máxima de que não é possível conseguir algo em troca de nada, máxima essa que eles próprios afirmam ser verdadeira. Eles estão tão iludidos que nem mesmo percebem a inconsistência de sua posição.

Por: Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. 

INDUSTRIA DA CELULOSE USA DIA DA MULHER PARA DESTRUIR EUCALIPTOS

As esquerdas odeiam eucaliptos. Descobri isto há uns bons quarenta anos. Eu vivia em Florianópolis e passeava pela ilha com uma amiga que havia descoberto o marxismo, depois de velha, em Berlim. Ao passarmos por um "caliperal", como dizem os ilhéus, ela me bombardeou com invectivas contra os eucaliptos. Que era uma árvore alienígena, que destruía a flora nativa, que destruía a agricultura, só faltou dizer que era uma árvore imperialista. Eu, que havia nascido sob frondes amigas de eucaliptos, que sinto cheiro de infância quando esmago folhas de eucalipto nas mãos, estava perplexo. Seu ódio aos eucaliptos nascera em Berlim, nos anos 70. Não por acaso, na época em que a pasta de celulose derivada do eucalipto surgira pela primeira vez em escala industrial. Em conversas ocasionais com gente de esquerda, sempre constatei esta ojeriza aos eucaliptos. Antes de a indústria da celulose tê-los descoberto, ninguém os odiava.


Alguém lembra ainda da Aracruz? Ou Aracruz já não diz mais nada para ninguém? Em 2006, duas mil mulheres de um movimento ligado ao MST, o tal de Via Campesina, comemoraram o Dia Internacional da Mulher destruindo um laboratório e um viveiro de mudas de eucaliptos da Aracruz Celulose em Barra do Ribeiro (RS). Vinte anos de pesquisa e alguns milhões de dólares foram jogados ao lixo. Último resquício aguerrido de um marxismo que já é cadáver em países desenvolvidos, o MST desde há muito tenta empurrar o País rumo às trevas dos regimes comunistas. As viúvas do comunismo alegam que o eucalipto estaria transformando o campo em um deserto verde. O oxímoro é típico de europeu, que não conhece a geografia do Sul. A pampa gaúcha, uruguaia e argentina sempre foi um deserto verde e jamais ocorreu a celerado algum destruir a pampa. Felizes os povos que desfrutam de desertos verdes.

Não por acaso, assessoravam as invasoras representantes da Noruega, Canadá e Indonésia, mais um representante do País Basco, que atende pelo basquíssimo nome de Paul Nicholson. Em Porto Alegre, planejaram a depredação hospedados no hotel Sheraton, sob as barbas do governo gaúcho, na época ocupado interinamente por um arrivista oriundo do PT, que nada fez para punir os apparatchicks estrangeiros. Mas que têm a ver estes senhores das antípodas com pesquisas sobre eucaliptos no Rio Grande do Sul?

Antes da resposta, ouçamos o deputado marxista Roberto Freire, para quem o MST pode ser tudo, menos comunista. "O comunismo é filho do iluminismo, uma corrente de pensamento que acredita no progresso da ciência como forma de minorar os males da humanidade. Destruir lavouras experimentais e laboratórios científicos nada mais é do que obscurantismo".

O deputado mentiu descaradamente. O marxismo sempre foi inimigo da ciência e do progresso da ciência. Roberto Freire não nasceu ontem e sabe muito bem quem foi Trofime Denisovitch Lyssenko, o agrônomo que pretendeu submeter os genes ao pensamento dialético de Marx. Através de experiências truncadas com pinheiros e rutabagas, proclamou que a aparição de caracteres novos transmitidos pelo organismo à sua descendência depende do meio, isto é, que os caracteres específicos adquiridos podem ser deliberadamente transmitidos. Sua ascensão foi imediata e ele se tornou presidente da Academia de Ciências Agronômicas. A ciência se divide então entre ciência burguesa e proletária. Finalmente a genética fora liberada do império da política reacionária. Os "mencheviques idealistas" que não aprovavam os resultados foram excluídos da Academia, transferidos e mesmo deportados para a Sibéria. A menos que reconhecessem publicamente seus erros. Stalin reconheceu o embuste como verdade de Estado e os comunistas de todos os países do mundo adotaram os absurdos de Lyssenko como artigos de fé. Pena que os gens não estavam de acordo com a doutrina de Lyssenko. A agricultura soviética nos anos 40 foi pras cucuias.

Filho do iluminismo terá sido também o marxismo de Mao Tse Tung, que promoveu nos anos 60 a "grande caçada aos pardais". Segundo o Grande Timoneiro, o pardal seria o vilão das deficiências da agricultura chinesa. A brilhante mente científica de Mao ordenou a milhões de chineses que perseguissem os pardais batendo latas e tambores, para que não repousassem um segundo, o que os levou à morte por exaustão. Com o pássaro quase extinto, os insetos aproveitaram o campo livre e destruíram a lavoura. A fome se abateu sobre a China provocando a morte de milhões de chineses.

Que não venham velhos comunistas falar de filiações iluministas. O marxismo, como toda religião dogmática, sempre foi hostil à ciência. Prova disto são as constantes invasões e depredações de laboratórios e culturas transgênicas promovidas pelo MST. Métodos científicos sempre facilitarão a agricultura, exatamente o que os comunistas não querem, para não perder a bandeira.

Volto aos eucaliptos. Entre as espécies utilizadas para a produção de celulose, o eucalipto é hoje a mais rentável. Seu ciclo de crescimento é de sete anos, em contraposição às coníferas do litoral americano, que levam quase um século para amadurecer. O choupo, outra matéria-prima da celulose americana e canadense, só atinge sua altura plena após 15 anos. Se as florestas dos Estados Unidos rendem entre dois e três metros cúbicos madeira por ano, as cultivadas pela Aracruz rendem, no mesmo período, 45 metros cúbicos. Ou seja, a indústria da celulose a partir do eucalipto é extremamente competitiva.

Em outubro de 2005, cerca de 300 índios tupiniquins e guaranis, reivindicando terras indígenas, ocuparam três fábricas da Aracruz Celulose S/A, em Aracruz, ES. Para dar apoio a justa causa índigena, um ônibus com estudantes saiu da Universidade Federal do Espírito Santo, entre eles - atenção! - dez noruegueses. Sobre a depredação do centro de pesquisas gaúcho, disse o "basco" Paul Nicholson: "As mulheres da Via Campesina se mobilizaram em Porto Alegre contra o modelo de agricultura neoliberal e da monocultura".

Vamos a alguns fatos. Segundo a FAO, a produção mundial de celulose atingiu 162 milhões de toneladas em 1999. Estados Unidos e o Canadá responderam com 52% do total produzido. A Noruega hoje exporta cerca de 90% de sua produção de celulose e papel. A Indonésia, principal exportador de celulose de fibra curta da Ásia, tem 70% de seu território coberto por florestas, num total de 143,9 milhões de hectares. Não me parece necessário ter a intuição de um Sherlock para perceber porque um "basco" chamado Paul Nicholson, mais representantes do Canadá, Noruega e Indonésia, coordenam a depredação do laboratório gaúcho. Desde há muito instituições católicas européias - Misereor e Caritas, entre outras - vêm financiando o MST para destruir a estrutura agrária do País. Agora são os cartéis do papel que injetam recursos na guerrilha católico-marxista brasileira para destruir uma indústria que representa cerca de 5% de nosso PIB e dá emprego a dois milhões de pessoas.

Segundo Aurélio Mendes Aguiar, pesquisador da Aracruz, foram destruídos naquele ataque dezesseis clones de alta produtividade, duas mil mudas de pesquisa que seriam testadas nos próximos quinze dias, cerca de 50 matrizes (as plantas de melhor qualidade genética, selecionadas para cruzamentos), além de um milhão de mudas comerciais. O banco de germoplasma do laboratório, biblioteca biológica onde eram preservadas as sementes para uso em melhoramento, também foi destruído. "Se fôssemos realizar todos os cruzamentos de novo, levaria no mínimo cinco ou seis anos. Alguns nunca mais serão possíveis, porque as matrizes não existem mais", diz Aguiar.

Os depredadores da Aracruz foram coerentes com a boa doutrina marxista. Abaixo a ciência! Longa vida - e muitas verbas estatais - ao obscurantismo!

Dia da Mulher de novo. Num ato declarado de sabotagem, cerca de 500 manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) - a maioria mulheres - invadiram ontem a Fazenda Aliança, propriedade da família da senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Encapuzados e munidos de foices, eles destruíram o canteiro de mudas de eucaliptos. Os seguranças e empregados da fazenda se recolheram aos alojamentos e não houve confronto. É o que noticia o Estadão de hoje.

O MST afirmou que a ocupação visava a marcar posição política contra o agronegócio e em defesa da reforma agrária. "A ruralista e senadora Kátia Abreu é símbolo do agronegócio e dos interesses da elite agrária do Brasil, além de ser contra a reforma agrária e cometer crimes ambientais em suas fazendas", disse Mariana Silva, dirigente do movimento em Tocantins. "Nosso objetivo foi mostrar a essa senadora que, em vez de destruir o meio ambiente, o melhor caminho é diversificar a produção de alimentos para o povo." 

A invasão da propriedade faz parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Camponesas, que está em andamento desde segunda-feira, com a participação da Via Campesina e do Movimento Camponês Popular (MCP). No lugar do canteiro de eucaliptos, os ativistas deixaram sementes de arroz e feijão, além de mudas. Segundo o jornal, um dos principais alvos da jornada de luta em andamento é a indústria de papel e celulose. Em Itabela, no sul da Bahia, militantes do MST ocupam desde segunda-feira uma fazenda de eucalipto da Veracel Celulose. Outras duas fazendas da Suzano Celulose foram invadidas na cidade de Teixeira de Freitas. 

A coordenação do movimento estima que quase 1,2 mil mulheres participam das ações. As moças escolheram uma singular maneira para comemorar seu dia. Até hoje, autoridade alguma houve por bem investigar os interesses da indústria de celulose neste ódio aos eucaliptos. Por: Janer Cristaldo

segunda-feira, 11 de março de 2013

UM CAUDILHO SINGULAR E DE MUITAS FACES

“Depositei minha esperança no tempo. Seu ventre enorme abriga mais esperanças do que os acontecimentos do passado – e os eventos do futuro devem ser superiores aos do passado.” Hugo Rafael Chávez Frías apelou, como sempre, a Simón Bolívar para abrir o discurso aos venezuelanos no qual comunicou que se submetera a uma cirurgia de remoção de um tumor pélvico, em Havana, em junho de 2011. O ventre do tempo, mesmo enorme, não tinha espaço suficiente para as esperanças incomensuráveis do caudilho. Chávez deixa o mundo dos vivos quatro cirurgias e uma reeleição depois. Na derradeira partida para Cuba, pela via transversa da nomeação de um sucessor, ele finalmente disse a seus concidadãos a verdade sobre o câncer que o destruía.


Nas democracias de massas, quando se trata da saúde, da doença e da morte, espera-se dos estadistas nada menos que a transparência absoluta. Chávez, porém, nunca acreditou na noção “burguesa” do interesse público. A sua vida estava consagrada a algo diferente: uma missão histórica. Por coerência, uma qualidade da qual não carecia, a doença e a morte precisavam se subordinar ao mesmo imperativo. O segredo férreo sobre o tipo de câncer, a opção desastrosa pelo tratamento em Cuba, a encenação eleitoral da cura e da reabilitação inscrevem-se na lógica política que marca o chavismo com um sinete singular. Como regra, caudilhos são líderes destituídos de ideologias. Chávez foi, sob esse aspecto decisivo, um caudilho especial.

A visão de mundo de Chávez não surgiu pronta da leitura de algum livro, mas evoluiu ao longo de uma trajetória em três etapas. O primeiro Chávez emergiu após o golpe frustrado de 1992, na roupagem do condotttieri nacionalista, antiamericano, hipnotizado pelos mitos românticos de Bolívar e do ex-presidente Cipriano Castro (1899-1908) – este, um caudilho extravagante, ganhou essa alcunha de “Bruto Louco” do ex-secretário de Estado americano Elihu Root por desafiar o presidente Theodore Roosevelt.

Moldado em parte pelo pensamento do sociólogo argentino Norberto Ceresole, o chavismo original flertava com o antissemitismo e almejava construir um Estado autoritário, de traços fascistas. Sua meta histórica era a restauração da Grã-Colômbia, ou seja, a reunificação geopolítica de Venezuela, Colômbia e Equador.


Nos anos seguintes, Chávez iniciou um programa de nacionalizações, controles de preços e “missões sociais” e concluiu um pacto estratégico com Cuba. Criou a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), converteu a petroleira PDVSA em aríete de política externa e engajou-se no financiamento dos governos de Bolívia, Equador, Nicarágua e Honduras.O chavismo de segunda água organizou-se em 1999, no alvorecer do mandato presidencial pioneiro, quando o caudilho rompeu com Ceresole e aproximou-se de outro sociólogo, o alemão Heinz Dieterich, um obscuro professor no México que alcançou notoriedade com o conceito do “socialismo do século 21″. A expressão significa, essencialmente, capitalismo de Estado.

Na versão chavista, o sonho bolivariano de unidade da América hispânica foi traduzido como um projeto de unificação da América Latina sobre o alicerce da Grã-Colômbia. Durante a etapa ascendente da “revolução bolivariana”, o líder venezuelano qualificou a Colômbia como ” Israel da América Latina”, “um Estado terrorista subordinado ao governo dos EUA”, e apostou suas fichas na guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

“O Ayacucho deste século é a Colômbia”, proclamou Chávez no seu discurso mais aventureiro, referindo-se à Batalha de Ayacucho, de 1824, um triunfo decisivo do general Sucre na guerra de Bolívar contra os espanhóis. A falência militar das Farc, evidenciada em 2008, assinalou o encerramento da fase ofensiva da política externa do caudilho venezuelano.

Da derrota no referendo constitucional de 2007, que coincidiu com a ruptura com Dieterich, surgiu um terceiro Chávez. A reinvenção ideológica já se esboçava desde a reeleição, no ano anterior, quando o caudilho anunciou a decisão de substituir a coalizão de partidos chavistas por um Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV). A ideia não era dele, mas do trotskista britânico Alan Woods, um novo confidente e crítico feroz do “socialismo do século 21″. Woods propunha a radicalização socialista da “revolução bolivariana”.

Em tese, o PSUV deveria cumprir a função de organização revolucionária de massas, corrigindo o traço caudilhesco do regime chavista, que se equilibrava sobre uma coleção de máfias lideradas por burocratas e militares ligados ao condottieri. Na prática, o partido incorporou à sua máquina diversas facções chavistas, reproduzindo no seu interior o sistema de arbitragem política típico do caudilhismo.

Palimpsesto é o manuscrito várias vezes reescrito, pela superposição de camadas sucessivas de texto que não recobrem totalmente as camadas anteriores, de modo que a escritura mais recente mantém relações complexas com as precedentes. O chavismo é uma doutrina de palimpsesto que mistura a Pátria Grande bolivariana, os impulsos românticos do nacionalismo, um visceral antiamericanismo e os dogmas do marxismo.

O bizarro caldo ideológico resultante não apontou um rumo, mas conservou as portas abertas para as opções táticas do caudilho. Nos últimos dois anos, sob os impactos combinados dos fracassos econômicos, do crescimento da oposição e da batalha de Chávez contra o câncer, a “revolução bolivariana” quase estancou, frustrando suas correntes mais radicais.

“Chávez une o que é diverso: o povo”, explicou Aristóbulo Istúriz, um dirigente do PSUV, sintetizando a natureza do caudilhismo. A obsessão chavista pela reeleição presidencial ilimitada não refletia um apego excepcional do condottieri pelo poder, mas a sua aguda percepção da fragilidade da “revolução bolivariana”.

Nos primeiros, gloriosos tempos do chavismo, o regime patrocinou a publicação de uma edição de centenas de milhares de exemplares do Quixote de Cervantes para distribuição gratuita entre os venezuelanos. Dom Quixote descreve sua missão como a destruição da injustiça – mas a injustiça definitiva é a morte. Chávez sabia que não tinha o direito de morrer pois, sem ele, não há chavismo nem “revolução bolivariana”. Por: Demétrio Magnoli Fonte: O Estado de S. Paulo, 06/03/2013