terça-feira, 13 de agosto de 2013

AINDA VALE A PENA LUTAR PELA LIBERDADE NO BRASIL

Entrevista publicada originalmente na edição impressa da revista Vila Nova, em dezembro de 2012

O advogado e professor André Luiz Ramos é autor dos best-sellers "Direito Empresarial Esquematizado" e "O Direito de Empresa no Código Civil", publicados pela Editora Método. André é Procurador Federal da Advocacia Geral da União (AGU) e atualmente assessora um Ministro do STJ. Na conversa que teve com a Revista, o advogado falou sobre sua carreira, opiniões políticas e também, é claro, sobre Direito.

1. Conte-nos um pouco sobre você: quem é André Luiz Santa Cruz Ramos?

Tenho 34 anos, sou pernambucano, formado na vetusta Casa de Tobias Barreto, a Faculdade de Direito do Recife (UFPE), e há aproximadamente uma década me dedico às ciências jurídicas, mais especificamente ao direito empresarial, como advogado, professor e autor. Moro atualmente em Brasília, em razão do cargo público que ocupo. Como jurista, tenho me preocupado em difundir o pensamento liberal no direito, por entender que essa área do conhecimento está, sobretudo no Brasil, muito dominada por uma cultura estatista/coletivista que é, na minha modesta opinião, extremamente nociva ao desenvolvimento econômico e social do país, ao contrário do que pensam os seus defensores, os quais pautam os debates no mainstream acadêmico.

2. Como era o seu trabalho na Advocacia Geral da União?

Estou afastado das minhas funções de Procurador Federal há pouco mais de um ano, desde que fui cedido ao Superior Tribunal de Justiça. Na AGU, atuei na assessoria do Advogado-Geral da União em 2005/2006, na Procuradoria do INSS de Pernambuco em 2007/2008 e na Procuradoria do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, a autoridade antitruste brasileira) em 2009/2011. A advocacia pública é muito parecida com a advocacia privada, com a diferença de que o cliente do advogado público é o estado, o que traz vantagens (prazos processuais mais longos, por exemplo) e desvantagens (necessidade de defender em juízo ações estatais com as quais você, muitas vezes, não concorda pessoalmente).

O estado é um litigante contumaz, e o professor Hans-Hermann Hoppe, autor que tenho lido muito ultimamente, tem uma explicação muito convincente para esse fenômeno: se o estado tem o monopólio jurisdicional, sendo o julgador de última instância em qualquer litígio, inclusive naqueles em que o próprio estado é parte, ele não tem incentivos para reduzir conflitos, mas para criar conflitos, na expectativa de que sejam decididos em seu favor. Essa é a principal causa do assoberbamento do Poder Judiciário e da morosidade da justiça estatal. E o pior é que, para corrigir esse problema, o estado oferece que solução? Supressão de direitos e garantias processuais do jurisdicionado. O estado, "empresário monopolista" da jurisdição, cria o problema e propõe resolvê-lo, sempre de forma ineficiente, prejudicando o "consumidor" dos serviços judiciários. Por isso eu tenho defendido tanto a arbitragem, que felizmente tem crescido e funcionado, sobretudo para as empresas, como um eficiente meio alternativo de solução de litígios. Somente com a quebra efetiva do monopólio da jurisdição estatal, de tal forma que o Poder Judiciário se veja obrigado a competir com tribunais arbitrais privados nos mais variadas ramos do direito, é que o cidadão terá acesso a serviços judiciários baratos e eficientes. É preciso que a arbitragem deixe de ser privilégio das grandes empresas e se torne acessível também aos pobres, especialmente em ramos como o direito do trabalho e o direito do consumidor.

3. Você é também assessor de um Ministro do STJ. Deve ser uma experiência interessante estar em um dos centros de poder do país, não?

O STJ é conhecido como "Tribunal da cidadania". Por ser responsável pela uniformização da interpretação da legislação infraconstitucional, decide cotidianamente lides que envolvem os mais variados assuntos, de simplórias questões de vizinhança a complexas questões ambientais, de conflitos familiares a grandes contratos administrativos, de relevantes litígios societários a intrincadas discussões tributárias. As decisões do Supremo Tribunal Federal têm mais visibilidade, mas eu me arrisco a dizer que as decisões do STJ são muito mais impactantes na vida das pessoas e das empresas. No meu caso, como assessoro um Ministro que atua numa das Turmas da Segunda Seção, que cuida das questões de direito privado (direito civil e direito empresarial, basicamente), é um trabalho muito gratificante e prazeroso, porque lido exatamente com os ramos do direito que são objeto de minha investigação acadêmica.

4. Fale-nos sobre sua posição política?

Quem me conhece há muito tempo sabe que nunca fui de esquerda. Quem me conhece há pouco tempo sabe que não sou direita. Antes que pensem que sou o Kassab (risos), explico: há alguns anos eu conheci o libertarianismo e rapidamente me tornei um libertário.

Os libertários, em sua maioria, rejeitam a divisão esquerda x direita, tal qual difundida por Norberto Bobbio, e preferem a classificação baseada no diagrama de Nolan, que leva em conta a defesa das liberdades econômicas e individuais. O esquerdista geralmente é um defensor da liberdade individual, rejeitando a intromissão excessiva do estado quanto aos costumes. O direitista, por outro lado, defende mais a liberdade econômica, criticando a excessiva intervenção estatal no mercado. O libertário, por sua vez, defende tanto a liberdade individual quanto a liberdade econômica, de forma ainda mais radical que esquerdistas e direitistas. Assim, o libertário rejeita a esquerda e a direita porque ambas padecem do mesmo mal: põem o estado acima do indivíduo.

Para o libertarianismo, que tem como princípio fundamental a não-iniciação de agressão, o problema do estado não se resume à sua ineficiência (sim, o mercado pode fornecer qualquer bem ou serviço de forma mais eficiente que o estado), mas tem a ver, sobretudo, com a sua ilegitimidade, já que o estado se sustenta no uso sistematizado da coerção, instrumentalizada especialmente via tributação. A existência do estado é incompatível, portanto, com uma sociedade livre, a qual deve ser construída sob os pilares da propriedade privada, do livre mercado e da ordem espontânea decorrente da interação voluntária entre as pessoas.

E, para que fique claro, libertários não gostam de desordem, mas apenas entendem que o mercado pode fornecer, de forma mais eficiente e mais ética, qualquer produto ou serviço demandado pelas pessoas, inclusive os serviços de segurança e justiça, que tanto preocupam aqueles liberais que ainda ficam "com um pé atrás" em relação ao libertarianismo.

Libertários também não são libertinos. Eu, por exemplo, sou católico e comungo de muitos valores da pauta dos chamados conservadores. Apenas não entendo legítimo o uso do estado para impor tais valores à sociedade. A difusão de tais valores deve ser feita pacificamente, por meio da livre persuasão, e tal tarefa cabe aos grupos familiares, às igrejas, às associações civis etc., e jamais ao estado.

5. E quais os reflexos de uma posição deste tipo no Direito? Há espaço para ela, especialmente aqui no Brasil?

Não apenas no direito, mas em todas as áreas das ciências humanas e sociais o libertarianismo é pouquíssimo conhecido, e mesmo assim muito criticado (talvez até por não o conhecerem corretamente). Em minhas obras, aulas e palestras tenho defendido idéias libertárias, e a reação, na maioria das vezes, é de espanto. Algumas pessoas até dizem: "André, eu concordo com muita coisa que você fala, mas acho que você peca pelo radicalismo". Ora, mas eu não vejo o radicalismo como um defeito per se, sobretudo se o radical tem convicção do acerto das idéias que defende.

No direito, o pensamento liberal/libertário ou é solenemente ignorado ou é impunemente agredido, nos mais variados ramos. O estado é endeusado. O binômio função social/justiça social é uma espécie de mantra. O primado liberal da igualdade formal (igualdade perante a lei) foi substituído pela defesa da igualdade material, e o estado é visto como o instrumento para a imposição desse inatingível igualitarismo, o qual, como bem disse Murray Rothbard, é uma revolta contra a natureza.

Até no direito privado o pensamento estatista é dominante. Toda a doutrina contratualista, por exemplo, foi revista, e os princípios da autonomia privada e da força obrigatória das avenças (pacta sunt servanda) foram submetidos a uma perniciosa relativização. O contrato agora tem que atingir sua função social, seja lá o que isso signifique, e o tal dirigismo contratual está na moda: "a lei liberta e a liberdade escraviza", bradam os artífices dessa nova teoria geral dos contratos, a qual se baseia na intervenção estatal para suposta proteção dos contratantes mais fracos. É um absurdo. Até no direito empresarial, em que os contratantes são empresários, é difícil defender a liberdade negocial hodiernamente.

6. Muito se tem falado no Direito sobre Neoconstitucialismo. Você poderia nos explicar o que é?

Vou falar como um leigo, porque o direito constitucional nunca foi objeto de minhas pesquisas acadêmicas. Não vejo o neoconstitucionalismo com bons olhos. Li recentemente um bom artigo do Daniel Sarmento sobre o tema, no qual ele diz que há quem aplauda entusiasmadamente as mudanças no direito trazidas pelo neoconstitucionalismo, e há quem as critique com veemência. Eu me incluo no segundo grupo. O neoconstitucionalismo, grosso modo, significa a constitucionalização de todo o direito (fala-se até na constitucionalização do direito civil, um absurdo descomunal!). Ora, como liberal, não gosto da nossa Constituição socialista de 88, então jamais poderia apoiar um movimento que visa a espalhar os valores socialistas de nossa Carta Magna a todo o ordenamento jurídico.

Também não me agrada essa moda da "principialização" de tudo e da consequente idéia de que o choque entre princípios se resolve pela tal "ponderação de interesses". Isso tem dado margem para que os princípios liberais, como autonomia privada, força obrigatória dos contratos, livre iniciativa, livre concorrência, propriedade privada, etc., sejam relativizados ou mesmo solapados de forma quase despercebida. Quando quaisquer desses princípios se chocam com outros princípios ditos sociais, estes vencem com larga folga. Mostrei isso recentemente num artigo intitulado "a mentalidade anticapitalista do STF", publicado no site do Instituto Ludwig von Mises Brasil, no qual analisei alguns julgados da nossa Suprema Corte.

7. E o ativismo judicial? A seu ver, é um movimento benéfico?

Essa me parece ser outra característica nociva desse movimento denominado neoconstitucionalismo: a excessiva judicialização da política e das relações econômicas e sociais. Isso acarreta um aumento do poder do estado sobre os indivíduos, algo que, para um liberal, é muito preocupante.

8. Você tem se dedicado a divulgar as noções de liberdade e propriedade pelo país. É um desafio hoje?

É um trabalho hercúleo. Vivemos numa sociedade estatólatra, que acredita em soluções de cima pra baixo. Como disse Bastiat, todos querem viver às custas de todos. E erra feio quem pensa que o estatismo é uma característica restrita às classes mais baixas da população, educadas e mantidas na estado-dependência. Aliás, o que o estado gasta para sustentar grupos privilegiados é impressionante: de artistas a atletas, de empreiteiras a bancos, a estado-dependência é um mal quase universal.

Em palestras recentes pelo Nordeste, defendi a ideia de que nós, liberais, temos que mostrar que o capitalismo beneficia principalmente os pobres e fugir desse rótulo de que somos elitistas e sem "consciência social". Ao contrário! Os pobres, sim, serão os maiores beneficiários de uma real abertura da economia brasileira.

Protecionismo, regulamentação de profissões, salário mínimo, etc., são imposições estatais que só impedem que pobres ascendam social e economicamente. Para provar isso, os liberais têm a seu favor a boa teoria econômica e a experiência prática: afinal, os países que ostentam os melhores índices de liberdade econômica são também os que apresentam os melhores índices de desenvolvimento social.

9. Parece que as pessoas se acostumaram a ter suas vidas mais presas… Você tem essa impressão? O que fazer?

Sim, eu compartilho dessa opinião. É a cultura do estado-babá que se impregnou em nossa sociedade. Em vez de os cidadãos vigiarem o estado, é o estado quem os vigia. Trata-se de uma inversão de valores perigosíssima.

O que fazer? Travar uma verdadeira guerra no campo das idéias, como Mises sempre defendeu: a única forma de combater idéias ruins é com idéias boas. E essa guerra deve ser travada em um front estratégico: o sistema educacional. O controle do estado sobre a educação é sua principal arma. É assim que ele consegue manter a maior parte da população numa eterna "servidão voluntária", para lembrar o famoso ensaio de Étienne de La Boétie. Formas alternativas de educação, que fujam ao controle estatal (como ohomeschooling, por exemplo, hoje muito mais viável por causa da internet), podem contribuir muito para que num futuro próximo as pessoas comecem a sair do "caminho da servidão".

10. Há um crescimento do intervencionismo no Brasil e no mundo como um todo?

Eu não conheço a realidade do mundo todo, mas no Brasil acho que esse maior intervencionismo é visto com facilidade. Além do aumento exponencial da intervenção estatal na economia nos últimos anos, estamos vendo uma excessiva intromissão do estado na vida privada. Grupos de pressão barulhentos tomam conta do aparelho estatal e o usam para impor a todos um modo de vida: são os eco-chatos, que querem ruas sem carros e supermercados sem sacolas plásticas; os devotos de Dráuzio Varela, que querem controlar nossos hábitos sociais e alimentares; os desarmamentistas, que querem os cidadãos de bem reféns da bandidagem; os politicamente corretos, que querem criminalizar a expressão de pensamentos e idéias. É isso o que vejo, e a reação, na minha opinião, não tem sido satisfatória.

11. E como ficam as liberdades individuais e os direitos fundamentais, conquistados a tão duras penas?

Para um liberal, direitos fundamentais são a vida, a liberdade e a propriedade, isto é, "direitos negativos", que não exigem um fazer estatal. Aprendi lendo Bastiat que a verdadeira e genuína lei é a que protege o indivíduo contra ataques a esses direitos. Hoje, porém, a lei foi pervertida, e o estado, que para os liberais clássicos deveria existir apenas para garantir esses direitos, é o seu maior agressor.

Uma série de supostos "direitos positivos", que exigem um fazer estatal, foram criados do nada (moradia, saúde, educação, emprego etc.), como se não vivêssemos num mundo de escassez, como se tais "direitos" pudessem ser criados com uma canetada, e não por meio de acordos consensuais. Para dar esses novos "direitos" a todos, o estado se agiganta e tem que agredir aqueles direitos fundamentais verdadeiros, fazendo uso cada vez mais intenso da regulação e da tributação, por exemplo.

12. Quem são seus autores preferidos e suas maiores influências?

Há aproximadamente três anos sigo a linha do que se tem chamado de austro-libertarianismo, numa alusão à tradicional escola austríaca de economia (Mises, Hayek etc.) e à filosofia política libertária (Rothbard, Hoppe etc.). Considero-me um neófito ainda, mas se tivesse que apontar um autor preferido, diria que é o Murray Rothbard. Atualmente, como estou escrevendo minha tese de doutorado, que é na área do direito antitruste, estou lendo autores como Dominick Armentano e Thomas DiLorenzo, ambos ligados à nova geração de "austríacos" do Mises Institute, sediado no Alabama, que tive o prazer imenso de conhecer ano passado, quando fui bolsista de um programa de intercâmbio deles chamado Mises University.

13. Por que escolheu o Direito?

Sinceramente, não sei dizer. Meu pai e meus dois irmãos são engenheiros, mas acho que eu não tinha inteligência o bastante para seguir a mesma carreira que eles, então me restou o Direito (risos).

14. Arrepende-se de algo nessa jornada em defesa da liberdade?

Um arrependimento que tenho é de ter conhecido tarde demais as idéias liberais e libertárias. Queria ter feito o curso de direito com o conhecimento do liberalismo e libertarianismo que tenho hoje. É muito ruim ter que correr contra o tempo.

Outro arrependimento é o de ter entrado para o serviço público. Se pudesse voltar no tempo, não teria tomado essa decisão. Enquanto não sair, terei que ouvir calado as justas críticas de que a defesa radical e intransigente de minhas idéias é incoerente com minha atuação. Isso me perturba, não posso negar. Para compensar, tento exercer minhas atribuições atuais sempre em defesa da liberdade, na medida do possível.

15. Você é autor de um best-seller sobre Direito Empresarial, o livro "Direito Empresarial Esquematizado". Por que esse ramo? Qual sua importância e o que se pode esperar do Direito Empresarial hoje, na conjuntura política que vivemos?

Meu mestrado foi na área do direito processual civil, mas o primeiro emprego de professor que me foi oferecido, numa faculdade privada de Recife, foi na área do direito empresarial, e eu aceitei. Coisas do destino. Um ano depois, fui morar em Brasília e o destino voltou a me aproximar do direito empresarial, já que meu chefe não pôde aceitar um emprego de professor nessa área e me indicou. Mergulhei de cabeça nesse ramo do direito, fiz duas pós-graduações na FGV e iniciei o doutorado na PUC-SP. Nesse ínterim, percebi que o mercado editorial carecia de um manual de direito empresarial com linguagem mais simples e didática. Pelo fato de a editora que aceitou publicar a primeira edição ser voltada para as pessoas que se preparam para concursos públicos, o livro vendeu muito bem. Mais uma vez, o destino me ajudou.

O direito empresarial vive um momento delicado. A tentativa de unificação do direito privado levada a efeito pelo Código Civil de 2002 não foi boa para ele. A onda "socializante" e "publicizante" das ciências jurídicas atingiu o direito empresarial em cheio; logo ele, o regime jurídico dos empresários, que precisa, pois, ser mais liberal e menos intervencionista.

No momento, um projeto de lei em trâmite na Câmara prevê a instituição de um novo Código Comercial brasileiro, que revogaria todas as regras do Código Civil de 2002 que cuidam da matéria, bem como as regras remanescentes do Código Comercial de 1850. A idéia de um novo Código Comercial, em si, é boa, mas traz consigo o perigo de que regras ainda mais intervencionistas sejam aprovadas. Por isso, o meio empresarial e os defensores do livre mercado devem acompanhar com bastante atenção a tramitação desse projeto de lei. Como eu escrevi em artigo recente, o novo Código Comercial é a "última trincheira" em defesa do livre mercado em nosso ordenamento jurídico.

16. Que dizer a quem está um pouco decepcionado com os rumos do país?

Que vale a pena lutar pela liberdade, como tantos grandes homens e mulheres fizeram ao longo de toda a história. E lutar pela liberdade é, em última instância, defender o indivíduo contra a opressão estatal. Não pode haver luta mais nobre e glorificante.

André Luiz Santa Cruz Ramos é Procurador Federal, mestre e doutorando em Direito Empresarial, e autor bestseller na área jurídica, sendo o autor de livros como Curso de Direito Empresarial (JusPodivm) e Direito Empresarial Esquematizado (Método). Ouça sua entrevista concedida ao IMB.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A MENTALIDADE DA ESQUERDA E SEUS ESTRAGOS SOBRE OS MAIS POBRES


Quando adolescentes criminosos e assassinos são rotulados de "jovens problemáticos" por pessoas que se identificam como sendo de esquerda, isso nos diz mais sobre a mentalidade da própria esquerda do que sobre esses criminosos violentos propriamente ditos.

Raramente há alguma evidência de que os criminosos sejam meramente 'problemáticos', e frequentemente abundam evidências de que eles na realidade estão apenas se divertindo enormemente ao cometer seus atos criminosos sobre terceiros.

Por que então essa desculpa já arraigada? Por que rotular adolescentes criminosos de "jovens problemáticos" e supor que maníacos homicidas são meros "doentes"?

Pelo menos desde o século XVIII a esquerda vem se esforçando para não lidar com o simples fato de que a maldade existe — que algumas pessoas simplesmente optam por fazer coisas que elas sabem de antemão serem erradas. Todo o tipo de desculpa, desde pobreza até adolescência infeliz, é utilizada pela esquerda para explicar, justificar e isentar a maldade. 

Todas as pessoas que saíram da pobreza ou que tiveram uma infância infeliz, ou ambas, e que se tornaram seres humanos decentes e produtivos, sem jamais praticarem atos violentos, são ignoradas pela esquerda, que também ignora o fato de que a maldade independe da renda e das origens, uma vez que ela também é cometida por gente criada na riqueza e no privilégio, como reis, conquistadores e escravocratas.

Logo, por que a existência do mal sempre foi um conceito tão difícil para ser aceito por muitos da esquerda? O objetivo básico da esquerda sempre foi o de mudar as condições externas da humanidade. Mas e se o problema for interno? E se o verdadeiro problema for a perversidade dos seres humanos?

Rousseau negou esta hipótese no século XVIII e a esquerda a vem negando desde então. Por quê? Autopreservação. Afinal, se as coisas que a esquerda quer controlar — instituições e políticas governamentais — não são os fatores definidores dos problemas do mundo, então qual função restaria à esquerda?

E se fatores como a família, a cultura e as tradições exercerem mais influência positiva do que as novas e iluminadas "soluções" governamentais que a esquerda está constantemente inventando? E se a busca pelas "raízes da criminalidade" não for nem minimamente tão eficaz quanto retirar criminosos de circulação? As estatísticas ao redor do mundo mostram que as taxas de homicídio estavam em declínio durante as décadas em que vigoravam as velhas e tradicionais práticas tão desdenhadas pela intelligentsia esquerdista. Já quando as novas e brilhantes ideias da esquerda ganharam influência, no final da década de 1960, a criminalidade e violência urbana dispararam.

O que houve quando ideias antiquadas sobre sexo foram substituídas, ainda na década de 1960, pelas novas e brilhantes ideias da esquerda, as quais foram introduzidas nas escolas sob a alcunha de "educação sexual" e que supostamente deveriam reduzir a gravidez na adolescência e as doenças sexualmente transmissíveis? Tanto a gravidez na adolescência quanto as doenças sexualmente transmissíveis vinham caindo havia anos. No entanto, esta tendência foi subitamente revertida na década de 1960 e atingiu recordes históricos.

Desarmamento

Uma das mais antigas e mais dogmáticas cruzadas da esquerda é aquela em prol do desarmamento. Aqui, novamente, o enfoque está nas questões externas — no caso, nas armas.

Se as armas de fato fossem o problema, então leis de controle de armas poderiam ser a resposta. Mas se o verdadeiro problema são aquelas pessoas malvadas que não se importam com a vida de outras pessoas — e nem muito menos para as leis —, então o desarmamento, na prática, fará apenas com que pessoas decentes e cumpridoras da lei se tornem ainda mais vulneráveis perante pessoas perversas.

Dado que a crença no desarmamento sempre foi uma grande característica da esquerda desde o século XVIII, em todos os países ao redor do mundo, seria de se imaginar que, a esta altura, já haveria incontáveis evidências dando sustentação a esta crença. No entanto, evidências de que o desarmamento de fato reduz as taxas de criminalidade em geral, ou as taxas de homicídio em particular, raramente são mencionadas por defensores do controle de armas. Simplesmente se pressupõe, de passagem, que é óbvio que leis mais rigorosas de controle de armas irão reduzir os homicídios e a criminalidade.

No entanto, a crua realidade não dá sustento a esta pressuposição. É por isso que são os críticos do desarmamento que se baseiam em evidências empíricas, todas elas magnificamente coletadas nos livros "More Guns, Less Crime", de John Lott, e "Guns and Violence", de Joyce Lee Malcolm. [Veja nossos artigos sobre desarmamento]. Mas que importância têm os fatos perante a visão inebriante e emotiva da esquerda?

Pobres

A esquerda sempre se arrogou a função de protetora dos "pobres". Está é uma de suas principais reivindicações morais para adquirir poder político. Porém, qual a real veracidade desta alegação?

É verdade que líderes de esquerda em vários países adotaram políticas assistencialistas que permitem aos pobres viverem mais confortavelmente em sua pobreza. Mas isso nos leva a uma questão fundamental: quem realmente são "os pobres"?

Se você se baseia em uma definição de pobreza inventada por burocratas, como aquela que inclui um número de indivíduos ou de famílias abaixo de algum nível de renda arbitrariamente estipulado pelo governo, então realmente é fácil conseguir estatísticas sobre "os pobres". Elas são rotineiramente divulgadas pela mídia e gostosamente adotadas por políticos. Mas será que tais estatísticas têm muita relação com a realidade?

Houve um tempo em que "pobreza" tinha um significado concreto — uma quantidade insuficiente de comida para se manter vivo, ou roupas e abrigos incapazes de proteger um indivíduo dos elementos da natureza. Hoje, "pobreza" significa qualquer coisa que os burocratas do governo, que inventam os critérios estatísticos, queiram que signifique. E eles têm todos os incentivos para definir pobreza de uma maneira que abranja um número suficientemente alto de pessoas, pois isso justifica mais gastos assistencialistas e, consequentemente, mais votos e mais poder político.

Em vários países do mundo, não são poucas as pessoas que são consideradas pobres, mas que, além de terem acesso a vários bens de consumo que outrora seriam considerados luxuosos — como televisão, computador e carro —, são também muito bem alimentadas (em alguns casos, até mesmo apresentam sobrepeso). No entanto, uma definição arbitrária de palavras e números concede a essas pessoas livre acesso ao dinheiro dos pagadores de impostos.

Esse tipo de "pobreza" pode facilmente vir a se tornar um modo de vida, não apenas para os "pobres" de hoje, mas também para seus filhos e netos.

Mesmo quando esses indivíduos classificados como "pobres" têm o potencial de se tornar membros produtivos da sociedade, a simples ameaça de perder os benefícios assistencialistas caso consigam um emprego funciona como uma espécie de "imposto implícito" sobre sua renda futura, imposto este que, em termos relativos, seria maior do que o imposto explícito que incide sobre o aumento da renda de um milionário.

Em suma, as políticas assistencialistas defendidas pela esquerda tornam a pobreza mais confortável ao mesmo tempo em que penalizam tentativas de se sair da pobreza. Exceto para aqueles que acreditam que algumas pessoas nascem predestinadas a serem pobres para sempre, o fato é que a agenda da esquerda é um desserviço para os mais pobres, bem como para toda a sociedade. Ao contrário do que outros dizem, a enorme quantia de dinheiro desperdiçada no aparato burocrático necessário para gerenciar todas as políticas sociais não é nem de longe o pior problema dessa questão.

Se o objetivo é retirar pessoas da pobreza, há vários exemplos encorajadores de indivíduos e de grupos que lograram este feito, e nos mais diferentes países do mundo.

Milhões de "chineses expatriados" emigraram da China completamente destituídos e quase sempre iletrados. E isso ocorreu ao longo dos séculos. Independentemente de para onde tenham ido — se para outros países do Sudeste Asiático ou para os EUA —, eles sempre começaram lá embaixo, aceitando empregos duros, sujos e frequentemente perigosos.

Mesmo sendo frequentemente mal pagos, estes chineses expatriados sempre trabalhavam duro e poupavam o pouco que recebiam. Era uma questão cultural. Vários deles conseguiram, com sua poupança, abrir pequenos empreendimentos comerciais. Por trabalharem longas horas e viverem frugalmente, eles foram capazes de transformar pequenos negócios em empreendimentos maiores e mais prósperos. Eles se esforçaram para dar a seus filhos a educação que eles próprios não conseguiram obter.

Já em 1994, os 57 milhões de chineses expatriados haviam criado praticamente a mesma riqueza que o bilhão de pessoas que viviam na China.

Variações deste padrão social podem ser encontradas nas histórias de judeus, armênios, libaneses e outros emigrantes que se estabeleceram em vários países ao redor do mundo — inicialmente pobres, foram crescendo ao longo de gerações até atingirem a prosperidade. Raramente recorreram ao governo, e quase sempre evitaram a política ao longo de sua ascensão social.

Tais grupos se concentraram em desenvolver aquilo que economistas chamam de "capital humano" — seus talentos, habilidades, aptidões e disciplina. Seus êxitos frequentemente ocorreram em decorrência daquela palavra que a esquerda raramente utiliza em seus círculos refinados: "trabalho".

Em praticamente todos os grupos sociais e étnicos, existem indivíduos que seguem padrões similares para ascenderem da pobreza à prosperidade. Mas o número desses indivíduos em cada grupo faz uma grande diferença para a prosperidade ou a pobreza destes grupos como um todo.

A agenda da esquerda — promover a inveja e o ressentimento ao mesmo tempo em que vocifera exigindo ter "direitos" sobre o que outras pessoas produziram — é um padrão que tem se difundido em vários países ao redor do mundo.

Esta agenda raramente teve êxito em retirar os pobres da pobreza. O que ela de fato logrou foi elevar a esquerda a cargos de poder e a posições de autoexaltação — ao mesmo tempo em que promovem políticas com resultados socialmente contraproducentes.

A arrogância

É difícil encontrar um esquerdista que ainda não tenha inventado uma nova "solução" para os "problemas" da sociedade. Com frequência, tem-se a impressão de que existem mais soluções do que problemas. A realidade, no entanto, é que vários dos problemas de hoje são resultado das soluções de ontem.

No cerne da visão de mundo da esquerda jaz a tácita presunção de que pessoas imbuídas de elevados ideais e princípios morais — como os esquerdistas — sabem como tomar decisões para outras pessoas de forma melhor e mais eficaz do que estas próprias pessoas.

Esta presunção arbitrária e infundada pode ser encontrada em praticamente todas as políticas e regulamentações criadas ao longo dos anos, desde renovação urbana até serviços de saúde. Pessoas que nunca gerenciaram nem sequer uma pequena farmácia — muito menos um hospital — saem por aí jubilosamente prescrevendo regras sobre como deve funcionar o sistema de saúde, impondo arbitrariamente seus caprichos e especificidades a médicos, hospitais, empresas farmacêuticas e planos de saúde.

Uma das várias cruzadas internacionais empreendidas por intrometidos de esquerda é a tentativa de limitar as horas de trabalho de pessoas de outros países — especialmente países pobres — em empresas operadas por corporações multinacionais. Um grupo de monitoramento internacional se autoatribuiu a tarefa de garantir que as pessoas na China não trabalhem mais do que as legalmente determinadas 49 horas por semana.

Por que grupos de monitoramento internacional, liderados por americanos e europeus abastados, imaginam ser capazes de saber o que é melhor para pessoas que são muito mais pobres do que eles, e que possuem muito menos opções, é um daqueles insondáveis mistérios que permeiam a intelligentsia.

Na condição de alguém que saiu de casa aos 17 anos de idade, sem ter se formado no colégio, sem experiência no mercado de trabalho, e sem habilidades específicas, passei vários anos de minha vida aprendendo da maneira mais difícil o que realmente é a pobreza. Um dos momentos mais felizes durante aqueles anos ocorreu durante um breve período em que trabalhei 60 horas por semana — 40 horas entregando telegramas durante o dia e 20 horas trabalhando meio período em uma oficina de usinagem à noite.

Por que eu estava feliz? Porque antes de encontrar estes dois empregos eu havia gasto semanas procurando desesperadamente qualquer emprego. Minha escassa poupança já havia evaporado e chegado literalmente ao meu último dólar quando finalmente encontrei o emprego de meio período à noite em uma oficina de usinagem.

Passei vários dias tendo de caminhar vários quilômetros da pensão em que morava no Harlem até a oficina de usinagem, que ficava imediatamente abaixo da Ponte do Brooklyn, e tudo para poupar este último dólar para poder comprar pão até finalmente chegar o dia de receber meu primeiro salário.

Quando então encontrei um emprego de período integral — entregar telegramas durante o dia —, o salário somado dos dois empregos era mais do que tudo que eu já havia ganhado antes. Foi só então que pude pagar a pensão, comer e utilizar o metrô para ir ao trabalho e voltar.

Além de tudo isso, ainda conseguia poupar um pouco para eventuais momentos difíceis. Ter me tornado capaz de fazer isso era, para mim, o mais próximo do nirvana a que já havia chegado. Para a minha sorte, naquela época não havia nenhum intrometido de esquerda querendo me impedir de trabalhar mais horas do que eu gostaria.

Havia um salário mínimo, mas, como o valor deste havia sido estipulado em 1938, e estávamos em 1949, seu valor já havia se tornado insignificante em decorrência da inflação. Por causa desta ausência de um salário mínimo efetivo, o desemprego entre adolescentes negros no ano de 1949, que foi um ano de recessão, era apenas uma fração do que viria a ser até mesmo durante os anos mais prósperos desde a década de 1960 até hoje.

À medida que os moralmente ungidos passaram a elevar o salário mínimo, a partir da década de 1950, o desemprego entre os adolescentes negros disparou. Hoje, já estamos tão acostumados a taxas tragicamente altas de desemprego neste grupo, que várias pessoas não fazem a mais mínima ideia de que as coisas nem sempre foram assim — e muito menos que foram as políticas da esquerda intrometida que geraram tais consequências catastróficas.

Não sei o que teria sido de mim caso tais políticas já estivessem em efeito em 1949 e houvessem me impedido de encontrar um emprego antes de meu último dólar ser gasto.

Minha experiência pessoal é apenas um pequeno exemplo do que ocorre quando suas opções são bastante limitadas. Os prósperos intrometidos da esquerda estão constantemente promovendo políticas — como encargos sociais e trabalhistas — que reduzem ainda mais as poucas opções existentes para os pobres. Quando não reduzem empregos, tais políticas afetam sobremaneira seus salários.

Parece que simplesmente não ocorre aos intrometidos que as corporações multinacionais estão expandindo as opções para os pobres dos países do terceiro mundo, ao passo que as políticas defendidas pela esquerda estão reduzindo suas opções.

Os salários pagos pelas multinacionais nos países pobres normalmente são muito mais altos do que os salários pagos pelos empregadores locais. Ademais, a experiência que os empregados ganham ao trabalhar em empresas modernas transforma-os em mão-de-obra mais valiosa, e fez com que na China, por exemplo, os salários passassem a subir a porcentagens de dois dígitos anualmente.

Nada é mais fácil para pessoas diplomadas do que imaginar que elas sabem mais do que os pobres sobre o que é melhor para eles próprios. Porém, como alguém certa vez disse, "um tolo pode vestir seu casaco com mais facilidade do que se pedisse a ajuda de um homem sábio para fazer isso por ele".

Por: Thomas Sowell , um dos mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution da Universidade de Stanford. Seu website: www.tsowell.com.

Tradução de Leandro Roque

LEIA MAIS E VEJA MENOS TELEVISÃO...


Já sabíamos que o brasileiro não tem no hábito da leitura um de seus hobbies preferidos. Agora isso foi quantificado em pesquisa do IBGE, divulgada pelo GLOBO:

Estudo piloto feito pelo IBGE em quatro estados (Pará, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco) mais o Distrito Federal, com mais de 5 mil pessoas com 10 anos ou mais, dissecou essa repartição do tempo, e a leitura ocupa fatia residual no dia do brasileiro: apenas seis minutos em média por dia, enquanto ficamos 2h35m na frente da televisão. O estudo, inédito, mostrou também o que a percepção das pessoas já comprovou. Fazemos várias coisas ao mesmo tempo: 61% dos entrevistados praticaram atividades simultâneas, o que aumenta o dia em quatro horas e 52 minutos. 

É tempo demais em frente a TV e de menos em frente a um livro! Isso para não falar da qualidade desse livro, quando, em ato raro, o brasileiro resolve encará-lo. Depois não adianta culpar a TV Globo por seus programas… é o povo brasileiro que escolhe!

A leitura é um hábito maravilhoso. Eu posso atestar que ela muda a nossa vida, para melhor! Uma boa literatura é sinônimo de momentos mágicos imersos em uma história interessante, que engrandece a vida, que alimenta a alma.

Sou suspeito para falar, pois sou viciado em livros, daqueles que ficam muito angustiados quando olham para a estante (ou para o Kindle – sim, eu tive que ceder ao seu “encanto” pela praticidade e falta de espaço nas estantes), pensando em qual será a próxima “viagem”.

Espero que cada vez mais brasileiros possam ser mordidos por essa “mosca” e passem a ler mais. Não vão perder muita coisa se desligarem a TV por mais alguns minutos. Muito pelo contrário.

PS: Essa enorme dispersão de quem faz várias coisas simultâneas é filhote dos tempos modernos, com a tecnologia que produz hiperconectividade e ansiedade nas pessoas (um email não respondido pode até matar alguém do coração!). Há bons artigos e livros sobre o tema. Mas quando o leitor pega um bom livro para ler, o foco e a atenção são cruciais. Se o livro for bom mesmo, normalmente ele prende o leitor automaticamente. Experimente!
Por: Rodrigo Constantino 

domingo, 11 de agosto de 2013

O QUE O GOVERNO FEZ COM O NOSSO DINHEIRO?


A diversidade de temas tratados por Murray Rothbard ao longo de sua vida é realmente notável. Versando sobre economia, filosofia política, história, teoria monetária e bancária e crítica literária, Rothbard produziu obras monumentais. De tratados a livros, ensaios, artigos em revistas acadêmicas e em jornais renomados, sua produtividade no decorrer de toda a sua carreira é digna de admiração — independentemente de afinidades intelectuais.

Sua prosa direta, objetiva, clara e sempre instigante cativa leitores há décadas e faz com que suas obras propiciem uma leitura verdadeiramente prazerosa — sem jamais cair na superficialidade, apesar da linguagem simples e precisa. A presente obra é um excelente exemplo do primor de Rothbard.

A verdade é que ler Murray Rothbard é uma transformação intelectual; você nunca mais será o mesmo. Foi assim comigo e, provavelmente, será assim com você também.

Concluí minha primeira leitura da edição inglesa de "O que o governo fez com o nosso dinheiro?" em meados de 2008, em plena crise financeira mundial. Naquele momento, pouco conhecia sobre economia, muito menos sobre a chamada Escola Austríaca de economia. Mas os argumentos, a lógica, a linha de raciocínio cristalina e a contundência de suas palavras me pareceram simplesmente surpreendentes e arrebatadoras. Ao final da leitura, tive a clara sensação de que finalmente entendia a economia, de que finalmente entendia como o mundo funcionava. Era a peça que faltava no quebra-cabeça.

Entender a natureza do dinheiro é fundamental para qualquer economista — e é surpreendente o fato de que muitas faculdades no mundo sequer tratam do assunto de forma estruturada, quanto mais o estudam com profundidade. Mas não são somente economistas que precisam compreender o dinheiro. Em realidade, todos os indivíduos deveriam ter um mínimo de conhecimento do que é, como surgiu e para que ele serve. Afinal de contas, todos nós o usamos e trabalhamos diariamente para obtê-lo. Sem dúvida alguma, tanto economistas quanto leigos serão beneficiados pela leitura da presente obra.

O livro está dividido em quatro partes. Na primeira, Rothbard trata de explicar o surgimento do dinheiro em uma sociedade livre, demonstrando como o livre intercâmbio de mercadorias entre indivíduos faz com que um produto emerja como o mais líquido, tornando-se, por fim, o meio de troca universalmente aceito. Ou, simplesmente, o dinheiro. O autor prossegue destacando a evolução do dinheiro, suas propriedades, indo até o surgimento do serviço bancário e os efeitos não intencionados oriundos da violação de práticas prudentes por parte dos banqueiros.

A segunda parte lida com os efeitos da interferência governamental no âmbito monetário e bancário. Com muita destreza, Rothbard revela a enorme tentação da qual os governos sofrem de se apropriarem do dinheiro, monopolizando e/ou controlando sua produção para benefício próprio. Expondo todas as facetas das consequências da intervenção estatal, Rothbard desmascara a nociva política de inflação da moeda e seus efeitos sobre os preços dos bens e serviços. Ou, dito de outra forma, como a inflação destrói o poder de compra da moeda.

Aos leitores brasileiros, escaldados por décadas de índices de inflação de dois dígitos ou, em certos períodos, de hiperinflação, a segunda parte será muito importante e merece especial atenção. Muitos leitores, talvez, pela primeira vez entenderão o real significado de inflação. Entenderão como ela é resultado de políticas públicas, e não da ganância de empresários maldosos. Entenderão como a lei de oferta e demanda se aplica igualmente à moeda, percebendo que, quanto mais o governo a emite, menor será o seu valor unitário. Em suma, entenderão que as diversas explicações dos economistas dadas à saga inflacionária brasileira carecem de fundamento. Não há inflação de demanda, tampouco de custos. Não há por que se preocupar com a tal da inércia inflacionária, nem mesmo com o fenômeno da indexação. Basta entender que inflação é o aumento da quantidade de moeda em circulação. Simples assim.[1]

Ainda nessa parte, Rothbard analisa o surgimento — ou a criação — dos bancos centrais e como eles foram frutos diretos de sucessivas intervenções e privilégios legais concedidos pelos governos à prática bancária. Ao leitor, tornar-se-á evidente a relação simbiótica entre os governos e o sistema bancário. Antes de ingressar na terceira parte, Rothbard elucida os perniciosos efeitos de uma moeda totalmente fiduciária, isto é, sem nenhum vínculo com o dinheiro mercadoria além do puro decreto governamental.

Estabelecido o marco teórico na esfera monetária e bancária nas primeiras partes da obra, Rothbard encarrega-se, então, de examinar a história monetária do Ocidente nos últimos dois séculos, dividindo-a em nove fases distintas. Na terceira parte, portanto, o autor discorre sobre a evolução da ordem monetária, apontando as diversas falhas e debilidades de cada sistema experimentado durante esse período e identificando as causas do eventual colapso de cada uma das fases.

Talvez o único ponto fraco desta obra jaza na prematura morte de Murray Rothbard no ano de 1995, o que o impediu de continuar seu estudo acerca do colapso monetário do Ocidente até os dias atuais. Dessa forma, a análise de Rothbard estende-se somente até meados de década de 70, deixando de fora, assim, períodos importantes da ordem monetária ocidental.

Mas, em virtude do turbilhão de acontecimentos dos últimos anos, com especial destaque à crise financeira de 2008, não poderíamos deixar essa enorme lacuna histórica sem ser devidamente analisada. Por isso, temos, na quarta e última parte, uma contribuição de minha autoria, em que procuro completar a obra exatamente onde ela parou. Dando continuidade às fases identificadas por Rothbard, prossigo a analisar o desenrolar do colapso monetário nas décadas seguintes, culminando na grande crise de 2008 e nas medidas extremas e sem precedentes adotadas pelos principais governos e bancos centrais do mundo.

Ao final da obra, o leitor estará munido de um arsenal teórico potente, com pleno conhecimento acerca dos fenômenos monetários e bancários e capaz de discutir com e questionar qualquer economista ou banqueiro central. Ademais, estará imune às explicações estapafúrdias sobre a inflação e suas consequências perversas na economia. E, como complemento, perceberá que a atual crise econômica nada tem a ver com o capitalismo, e sim, na verdade, com o socialismo aplicado ao âmbito monetário. Concluirá, assim, que o livre mercado pode funcionar tão bem para a produção de dinheiro quanto de qualquer outro bem.

Portanto, é com enorme prazer que convido você, leitor, a aproveitar cada página desta magnífica obra de Murray Rothbard, publicada pela primeira vez em língua portuguesa pelo Instituto Ludwig von Mises Brasil, com a sempre formidável tradução de Leandro Roque, editor do website.

Boa leitura! Por: Fernando Ulrich

Porto Alegre, julho de 2013.

PS:  O falecido senador Roberto Campos costumava enfatizar bastante esse ponto, afirmando que "o entendimento de que inflação é o aumento da emissão de moeda leva a conclusões fundamentais. Porque se entendemos que inflação é o aumento de preços, então o culpado é o empresário, pois é ele quem aumenta os preços. Mas se entendemos que inflação é o aumento da quantidade de dinheiro em circulação, aí o culpado é o governo e a coisa muda completamente de figura". É uma pena que os Fiscais do Sarney jamais entenderam essa constatação.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

CHINA PERDE O CONTROLE DA SUA ECONOMIA FRANKENSTEIN

O mundo aceitou cada vez mais a ideia de que os líderes chineses são administradores hábeis da colossal economia do país.


E parece ter-se enganado, escreveu William Pesek, correspondente em Tóquio do Bloomberg News.

Sucessivas medidas do presidente do Banco da China, Zhou Xiaochuan, de início foram aclamadas como golpes de batuta de um mestre. Mas, quando elas viraram uma espiral de marchas à ré e de mudanças de rumo, semearam mal-estar e sugeriram que as finanças do gigante comunista podem ser comparadas a um Frankestein fora de controle.

Imensas cidades fantasmas novas, rodovias, aeroportos e hidrelétricas inflaram o PIB chinês, obnubilando os investidores estrangeiros otimistas e gerando vertiginosos movimentos bancários.

O perigo, segundo Pesek, é que ninguém realmente sabe como está a saúde dos bancos estatais chineses, ou qual é o tamanho do enorme sistema de financiamento paralelo. Para Stephen Green, da Standard Charteres em Hong Kong, o sistema de crédito da China é uma “enorme e assustadora caixa preta”.

Pesek pergunta:

“Como alguém pode acreditar que a China vem crescendo a uma taxa de 7,7%, como afirma o governo, quando variáveis cruciais na sua tabela de dados são um mistério? O economista Lu Ting, do Bank of America em Hong Kong, expôs-se à ira da China ao afirmar que o superávit comercial do país era um décimo dos US$ 61 bilhões informados a partir de meados de maio. Esse caráter “ninguém sabe” do sistema de crédito da China – quantidade, qualidade, ou excessos – é ainda mais preocupante”.

A hora da verdade da China se aproxima. O governo marxista tenta adiá-la, inoculando ativos equivalentes a um sistema bancário americano a cada cinco anos.

Agora o perigo beira o pânico e os “comunicados padronizados e vagos (do Banco Central chinês) só exacerbam a aflição nos mercados”. A opacidade é método socialista, que agora não mais consegue dissimular um ente monstruoso balançando de modo assustador.

A economia chinesa virou “um monstro como Frankenstein. Uma criatura poderosa e gigantesca nascida de experimentos não ortodoxos, da qual seus criadores perdem cada vez mais o controle”, explica Pesek.

A economia desacelera, há necessidade urgente de reformas cruciais sem provocar pavor repentino nos mercados nem desestabilizar a abalada sociedade chinesa.

Embora uma dolorosa terapia de choque seja indispensável, os criadores do Frankenstein da China não parecem determinados a refreá-lo por razoes ideológicas que não respeitam e até escarnecem das leis econômicas “capitalistas”.
Por: Luis Dufaur, escritor, edita o blog Pesadelo Chinês.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O PARAÍSO DO BOM SELVAGEM


A jornalista Miriam Leitão e o fotógrafo Sebastião Salgado começaram hoje uma matéria especial sobre os “bravos e vulneráveis” índios Awá, que vivem como caçadores e coletores na Floresta Amazônica no Maranhão. O título da reportagem no GLOBO é “Paraíso sitiado: Eles estão em perigo”. Paraíso?

Sempre chamou bastante a minha atenção essa visão romântica da vida “selvagem”. Foi Rousseau quem popularizou o conceito de “bom selvagem”, como se a vida mais natural fosse sinônimo de “pureza”, “simplicidade” e “felicidade”, sendo que a sociedade acabaria nos corrompendo. Mas a ideia não vem só dele. Até Michel de Montaigne flertou com essa visão romântica de um passado idílico e melhor.

Em seus ensaios, quando ele fala sobre os canibais, podemos notar essa vontade de crer que os “bárbaros” vivem melhor que os “civilizados”. Ele resgata também filósofos que falavam desse éden perdido, desse estágio fantástico antes de os hábitos e costumes serem alterados pela civilização. Diz Montaigne:

É um povo, diria eu a Platão, no qual não há a menor espécie de comércio; nenhum conhecimento das letras; nenhuma ciência dos números; nenhum título de magistrado nem de autoridade política; nenhum uso de servidão, de riqueza ou de pobreza; nem contratos; nem sucessões; nem partilhas; nem ocupações, exceto as ociosas; nem vestimentas; nem agricultura; nem metal; nem uso de vinho ou trigo. Mesmo as palavras que designam a mentira, a traição, a dissimulação, a avareza, a inveja, a maledicência, o perdão são inauditas.

O tom de aprovação vai ficando mais empolgado ainda. Montaigne considera tais características positivas. Mas não são! E desconheço um ser civilizado que queira regressar a esse estágio bárbaro, selvagem, natural. A vida dos índios é dura. Há hierarquia, guerras, miséria. O ser humano não nasce “bonzinho” e é corrompido depois; ele nasce uma pequena besta e precisa ser civilizado, educado. O nosso estágio natural é o da miséria e da ignorância. Quem realmente deseja voltar a isso?

Ninguém. Mas muitos gostam de sonhar que era tudo maravilhoso. Eles romantizam um passado idealizado de perfeição, de fartura, de beleza e contato simbiótico com a linda natureza (esquecendo dos nossos predadores e da dificuldade de se obter alimentos, proteção contra o frio etc). E, mesmo não invejando de fato a vida real dos selvagens, essas pessoas se sentem melhor quando os colocam em redomas e preservam sua “cultura”, seu estágio subdesenvolvido de vida, em uma espécie de “zoológico humano”.

Eu dedico uma maior reflexão a esse fenômeno em meu livro Esquerda Caviar, que será lançado em outubro pela editora Record. Até lá, digo aos leitores apenas que tomem muito cuidado com as lindas fotos que passam a imensa felicidade desses índios isolados na mata, e que redobrem o cuidado quando alguns tentarem incutir culpa no “homem branco malvado” inserido na civilização ocidental. 
Por: Rodrigo Constantino  Fonte: O GLOBO

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

DIOR NOT WAR

"Dior não guerra." Vi esta frase numa camiseta. Lembra a clássica dos anos 60: "faça amor, não faça guerra". Melhor do que a bobagem com o rosto do assassino mais chique da América Latina, o Che.


O que me encantou na frase é que a Dior representa --ou qualquer outra marca-- a capacidade humana de produzir riqueza como forma de civilização, em vez de nos matarmos. Todo mundo sabe que riqueza material não é apenas riqueza material.

O que aborrece no Brasil é que ainda não entendemos que a riqueza da qual falam autores como Adam Smith (filósofo moral, e não um guru do egoísmo como alguns pensam por aqui) não é apenas material, mas moral e existencial.

Outro dia vi numa dessas cidades históricas mineiras maravilhosas um grupo de jovens, como cara de anos 60 extemporâneos, que falavam barbaridades contra o capitalismo, todos munidos de iPhones e iPads, registrando tudo a sua volta. Ignorantes, parecem pensar que toda esta tecnologia, que vai de celulares a cirurgias cardíacas, caem do céu. Não, tudo custa, e muito.

Recentemente li na revista "The Economist" duas matérias muito interessantes. Uma primeira falava de como o crime comum (roubos, assassinatos e similares) tem caído significativamente em países ricos, como EUA, Reino Unido e Alemanha, mesmo em cidades grandes como Nova York e Londres.

Não se trata apenas de mais punição, mas sim de um conjunto de elementos que passam por polícia mais equipada e treinada (o que não quer dizer mais violenta), tanto preventiva quanto científica. Crianças em boas escolas e ocupadas principalmente quando as famílias são mononucleares (só um dos pais), ruas limpas, estradas bem feitas, hospitais eficientes, transporte público operacional, vizinhos ativos no cuidado com seu bairro (quem não come nem dorme não pode ser um vizinho assim). Enfim, tudo que custa muito dinheiro.

Noutra, sobre Cuba, falava-se da luta das pessoas para poderem comprar e vender coisas e terras sem ter apenas o Estado como "parceiro" de negócios. E como isso é visto como um milagre dos céus. E ainda tem gente chique no Brasil que acha Cuba um "experimento" a ser levado a sério. Que horror!

E aí passo a um livro que recomendo a leitura para quem quiser pensar no mundo livre do neolítico --o socialismo, levado a sério por muitos de nós, é puro neolítico. "Why Nations Fail, The Origins of Power, Prosperity, and Poverty", de Daron Acemoglu, professor de economia do MIT e James A. Robinson, cientista político e economista, professor de Harvard.

Por que muitas nações são pobres, miseráveis, atrasadas, enterradas em crime e fome? Causas geográficas? Culturais? Religiosas? Étnicas? Não.

A diferença está num modo de organização política e social específico que cria condições para as pessoas buscarem livremente seus interesses. Democracia liberal, igualdade perante a lei e garantias de que as pessoas podem agir livremente no mercado de trabalho e de produtos. Numa palavra, sociedade de mercado. Foi isso que derrotou o comunismo, mas muitos já esqueceram.

Infelizmente entre nós, ainda se pensa que isso seja simplesmente um modo cruel de viver, negador da "solidariedade" e defensor da "ganância". Muito pelo contrário: é só a riqueza que torna a solidariedade possível, não há solidariedade na pobreza, isso é mito.

Apesar de as indicações históricas serem evidentes, ainda insistimos em não entender que a sociedade de mercado (longe de ser perfeita) dá ao ser humano a liberdade necessária para cuidar da sua vida e se tornar adulto.

Só dessa forma as pessoas entendem uma coisa óbvia que o economista Friedrich Hayek pensava. Quando perguntarem a você o que é a economia, a resposta certa é: a economia somos nós! E não algo planejado por "cabeções" teóricos que controlam a vida dos outros, como pensava John Maynard Keynes.

Mas, os políticos adoram Keynes porque sua teoria os faz parecer responsáveis pela riqueza, quando na realidade quem produz riqueza somos nós em nosso cotidiano, quando nos deixam em paz. Keynes é a servidão, Hayek, a liberdade.
Por: Luiz Felipe Pondé  Folha de SP

ESTADO-BABÁ: O PATERNALISMO DA ANVISA


Em sua coluna de hoje, Merval Pereira fala do estado-babá, citando a Anvisa como exemplo. O paternalismo toma contornos preocupantes quando tenta nos proteger de nós mesmos. É uma premissa perigosa. Quando o governo avança na questão do fumo, a reação é tímida pois, como lembra o jornalista, trata-se de um setor antipático. Mas isso abre um precedente, e a Anvisa já demonstrou estar disposta a se meter em diversos outros assuntos privados, sempre em nome do “bem-geral”.

Recomendo a todos a leitura do excelente livro de David Harsanyi sobre o assunto. Todo cuidado é pouco. Afinal, somos cidadãos, não súditos. A seguir, a resenha que escrevi do livro para o Instituto Liberal.

“Se salvar vidas é o único motivo para termos leis, nunca teremos leis suficientes.” (David Harsanyi)

Quando perdemos nosso direito de sermos preguiçosos, não saudáveis ou politicamente incorretos? Essa é a pergunta que David Harsanyi faz em seu livro “O Estado Babá”, que mostra com inúmeros exemplos como os americanos estão cada vez mais trocando liberdade individual por controle estatal.

A tirania das boas intenções costuma ser a mais perigosa de todas, pois os “bons samaritanos” jamais descansam em sua nobre missão de cuidar dos outros. Liberdade pressupõe responsabilidade, assim como liberdade de escolher tolices. Imbuídos de uma arrogância paternalista, os babás não aceitam isso, e partem para suas ações salvadoras: “Algo deve ser feito”, eis a reação dos babás diante de atitudes que não aprovam, significando sempre mais intromissão estatal em nossas vidas.

O grau de chatice dos babás chegou a um patamar insuportável. Como bem coloca o autor: “Para esses intrometidos, a utopia é um mundo sem fumantes, sem gordura, onde o álcool é bebido apenas com moderação, o McDonald’s vende Mc Nuggets de tofu com molho de baixa caloria e os seios nus de uma estrela pop são dignos de uma sessão no Congresso e de histeria em massa”.

O estado babá ocorre quando “o governo assume um hiperinteresse em microadministrar o bem-estar dos cidadãos”. Mas o governo vai além de seu papel quando tenta nos proteger de nós mesmos. Uma vez que esta porteira é aberta, o céu é o limite para os babás, que pretendem eliminar todo comportamento “prejudicial” ou “irracional” da face da Terra. A imprensa, com inclinação para manchetes aterrorizantes, joga mais lenha na fogueira, ajudando a criar um ambiente de pânico propício às intervenções dos babás.

O dogma compartilhado pelos babás é que se meter na vida alheia por meio das leis é a forma mais rápida de criar uma sociedade superior. O bom senso para determinar a fronteira legítima desta intervenção se perdeu faz tempo. Os “guardiões do estômago”, por exemplo, criaram uma verdadeira “milícia alimentar” para tentar barrar do cardápio os itens prejudiciais à saúde. Mas, se podemos proibir um ingrediente que não é saudável, o que impede o governo de proibir muitos ou todos eles?

Para sustentar suas medidas estúpidas, os babás não se importam em apelar para a tortura dos números. Exames com ratos de laboratório “provam” que vários alimentos podem matar, ignorando apenas que a quantidade ingerida pelos ratinhos seria equivalente ao jantar que um gigante consideraria exagerado. Na verdade, até água pode matar, se consumida em quantidade excessiva. Entre o remédio e o veneno, muitas vezes está somente a dosagem.

Mas nada disso incomoda os babás. Eles precisam salvar vidas! O terrorismo é constante: o açúcar é um veneno, a gordura e a fritura são armas letais, o cigarro é morte certa, até para fumantes passivos. Não obstante as mentiras e exageros dessas pesquisas, resta perguntar: por que cada indivíduo não deve ser livre para escolher como viver, ainda que sua escolha nos pareça destrutiva? A busca pela “saúde perfeita” é algo que nos remete ao nazismo. Sociedades livres devem se preocupar em garantir a liberdade de escolha.

Babás são presunçosos, e acreditam que sabem melhor que os outros como a vida deve ser vivida. Eles partem da premissa arrogante de que conhecem as escolhas “certas”. São moralistas autoritários, que desejam impor seu estilo de vida aos demais. Viver é assumir riscos, mas os covardes babás querem uma vida totalmente segura (e sem graça), e pior, querem obrigar os outros a desejar o mesmo.

Tudo que os liberais pedem é: deixem-nos em paz! Que cada um possa viver de acordo com suas próprias escolhas. Afinal de contas, até o fumo é muito mais saudável que o fascismo.
Por: Rodrigo Constantino

terça-feira, 6 de agosto de 2013

CONSUMIDORES URUGUAIOS QUASE PODEM DIZER "HABEMUS CANNABIS"


Parlamento do Uruguai. Poucos minutos antes da meia-noite desta quarta-feira a Câmara aprovou o projeto que regula a maconha no país. Até o fim do ano será a vez do Senado debater o assunto.

A Câmara de Deputados do Uruguai aprovou ontem (quarta-feira) à noite o projeto de lei do governo do presidente José Mujica que legaliza o cultivo, distribuição e a venda de maconha. A Frente Ampla, a coalizão de governo que reúne socialistas, democrata-cristãos, comunistas e ex-guerrilheiros tupamaros obteve os 50 votos necessários para aprovar o projeto cujo debate levou 13 horas. Outros 46 deputados votaram contra a legalização da cannabis sativa.

Os parlamentares governistas afirmaram que a legalização da maconha constituirá um duro golpe ao narcotráfico, que perderá parte de seus negócios. No entanto, a oposição criticou o projeto, alegando que estimulará o consumo de drogas de forma geral.

HABEMUS CANNABIS? - Os uruguaios consumidores da erva ainda não podem dizer “Habemus cannabis”, já que o projeto ainda será encaminhado à uma comissão do Senado. Posteriormente será levado ao plenário da câmara alta, onde seria debatido até dezembro deste ano. Caso seja aprovado ali a lei terá que ser regulamentada, ação que levaria vários meses adicionais. Desta forma, a lei – depois de confirmada com a rubrica do presidente Mujica – poderia estar em plena vigência em meados do ano que vem.

A aprovação na Câmara esteve a ponto de fracassar, já que a Frente Ampla quase perdeu o único voto que lhe permitia maioria. O protagonista do suspense foi o deputado Darío Pérez, que havia expressado dúvidas sobre seu voto ao longo do último mês. Ele somente confirmou que votaria a favor durante o debate. “Não gosto de dizer palavrões…mas a maconha é uma bosta!”, afirmou. No entanto, disse que votaria a favor, apesar de discordar, por uma questão de disciplina partidária. “Os organismos máximos da Frente Ampla tomaram a determinação de seguir com este projeto. Enquanto eu seja parte da Frente, seguirei as regras, às quais me submeto”, disse.

No Senado, de um total de 30 cadeiras, a Frente Ampla conta com 16 parlamentares. No entanto, a maioria dos senadores da coalizão ainda não expressaram suas opiniões sobre o projeto de legalização da maconha.

No ano passado o Parlamento do Uruguai aprovou a descriminalização do aborto. Em abril foi a vez da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O Parlamento uruguaio avalia atualmente projetos para a legalização da eutanásia.

INSTITUTO - O projeto de lei cria um organismo público – o Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (Ircca) – que fornecerá as licenças a empresários que realizem as plantações privadas para a venda em farmácias. O instituto também estará a cargo do processo de importação de sementes da cannabis sativa.

Os consumidores habilitados – além dos produtores – deverão fazer parte de um registro nacional. Somente cidadãos uruguaios e estrangeiros residentes no país poderão fazer parte do registro. Uruguaios que residem no exterior e estrangeiros de visita ao país não poderão comprar maconha.

Os consumidores registrados poderão adquirir 40 gramas mensais de maconha nas farmácias habilitadas.

O projeto também determina que os cidadãos que quiserem plantar a maconha em suas casas poderão contar com um máximo de seis pés fêmeas de cannabis (as plantas fêmeas são as que possuem o princípio psicoativo). A colheita destas plantas – que será fiscalizada pelo Ircca – não poderá ultrapassar as 480 gramas anuais.

Além disso, está prevista a criação de clubes (pequenas cooperativas) que poderão plantar a erva, que terá que ser distribuída entre seus associados. Estes clubes poderão ter um mínimo de 15 membros e um máximo de 45 pessoas. O teto máximo de plantas será de 99 pés.

O governo Mujica sustenta que, com a legalização da comercialização da maconha existe uma possibilidade de “arrebatar” o business aos narcotraficantes e “separar o mercado do paco e da maconha”. Segundo o governo, o mercado atualmente “é ilegal e está desregulado”.

PESQUISAS - O presidente Mujica, de 78, anos, ex-guerrilheiro tupamaro que nas últimas três décadas trabalhou de forma simultânea como político e floricultor, declarou há poucos dias que “jamais” experimentou a maconha. “Não tenho ideia como é”, explicou. No entanto, sustentou que sabe que “a rapaziada” de seu país a experimentou. Segundo dados da Junta Nacional de Drogas, 20% dos uruguaios entre 15 e 65 anos experimentou maconha alguma vez em suas vidas. Do total, 8,3% consumiram a droga ao longo do último ano.

No entanto, o projeto da maconha – na contra-mão de leis recentes, como a do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo – não conta com respaldo popular. Segundo uma pesquisa da consultoria Cifra 63% dos uruguaios rejeita o plano. Somente 26% concorda com a legalização da maconha, enquanto que o resto não possui opinião formada.
VOCABULÁRIO

Maconha: Não existe o portunholesco “Macuenha”. Maconha é “Marihuana” mesmo.

Porro: O cigarro de maconha.


E para encerrar esta noite, de Maurice Ravel, a sublime “Daphnis et Chloé” com a Filarmônica de Berlim:
Por: Ariel Palácios  O Estadão

TEORIA DO CAOS E PSICOLOGIA JUNGUIANA APLICADOS À ECONOMIA

Foi o psicanalista Carl Jung quem alertou que a política moderna havia se tornado uma religião e que haveria terríveis consequências para todos.


Em março de 1998, Murray Rothbard escreveu um fascinante ensaio intitulado "Teoria do Caos: Destruindo a economia matemática desde dentro?" no qual ele observou que a teoria do caos contém implicações "radicais". Àqueles que não estão familiarizados com a teoria do caos, trata-se de uma descoberta matemática aplicável às áreas meteorológica, física, biológica e econômica. De acordo com a teoria do caos, sistemas dinâmicos voláteis são altamente sensíveis às pequenas diversidades contidas nas condições iniciais. Rothbard explica:

"Há duas décadas, Edward Lorenz, um meteorologista do MIT se viu diante da teoria do caos ao descobrir que até mesmo a menor das mudanças climáticas poderia trazer enormes e voláteis mudanças no clima. Chamando isso de Efeito Borboleta, ele assinalou que o bater das asas de uma borboleta no Brasil poderia causar um tornado no Texas."

Imagine as implicações dessa teoria nas finanças internacionais. Um pequeno distúrbio pode produzir uma mudança completamente inesperada em toda a economia global. O resultado não só seria inesperado, como seria virtualmente impossível de prever (por conta da complexidade das interações de todos os fenômenos de menor escala). O verbete sobre "Caos" na Enciclopédia de Filosofia de Stanford nos informa que a teoria do caos postula uma sensível dependência (das condições iniciais) de dentro de um sistema que é determinista e não linear. O verbete assinala que Aristóteles "já estava ciente de algo similar ao que chamamos de dependência sensível". Mas o entendimento que Aristóteles tinha disso era mais epistemológico que metafísico. Acerca do assunto, o filósofo escreveu que "o mínimo desvio inicial da verdade é multiplicado mais tarde por mil". Em outras palavras, uma mentirinha no começo pode levar a uma completa ruptura com a realidade em algum momento — um corolário epistemológico da teoria do caos. (retornaremos a essa ideia a seguir).

Chegando ao âmago do assunto, Rothbard diz: "a conclusão da teoria do caos não é que o mundo real é caótico ou imprevisível e indeterminado em princípio, mas que na prática muito dele é imprevisível"; Pois se nos encontrarmos dentro de um sistema dinâmico (matematicamente preciso e determinista) em que a previsão é efetivamente impossível, nossa matemática subitamente cessaria de ter qualquer serventia. De acordo com Rothbard, a teoria do caos tem "implicações subversivas (...) para a economia matemática ortodoxa, pois se as teorias acerca de expectativas racionais violam o mundo real, então elas violariam o equilíbrio geral também (...) e todo o resto do aparato neoclássico." 

Evidentemente, Rothbard não estava endossando a teoria do caos. Ele estava se divertindo com o uso de conclusões matemáticas para confundir os métodos matemáticos aplicados à economia. Neste caso os erros dos economistas são vários e são sérios. Para se certificarem, os economistas tencionam apresentar um quadro realista da atividade econômica, mas na verdade a falsificação dessa ciência é palpável. O sociólogo William Graham Sumner publicou um ensaio em 1902 intitulado "Propósitos e consequências" em que ele ofereceu uma distinção entre fatos e intenções, isto é, o primeiro é real enquanto o último é irrelevante ao desfecho. A coisa mais importante a se entender na economia não é apenas que somos incapazes matematicamente de chegar a prognósticos precisos, mas que (segundo Sumner) “ideais como liberdade perfeita, justiça ou igualdade (...) nunca podem fornecer motivos racionais ou científicos para as ações ou pontos de partida para esforços racionais”. No entanto, tudo dentro da civilização que se desmorona hoje se resume a esse tipo de coisa, considerando uma escala maciça. Constatamos então o corolário da “ação humana” na teoria do caos. Um pequeno equívoco (financeiro) no início pode levar a um colapso total no fim. A política econômica oficial dos Estados Unidos pode ser caracterizada deste modo. Ela está à mercê de slogans moralistas que não têm ligação com o fator econômico (ou com a matemática financeira). Eis algo que está além do caos e dos números: o caos do coração humano.

Considere o discurso do presidente Obama acerca da crise financeira na última quarta-feira em que ele falou sobre conquistar um “crescimento econômico mais durável”. Segundo Obama, “os ganhos nos últimos dez anos continuaram a fluir para o 1% que está no topo”. É lamentável para a república, mas duas intenções foram confundidas no discurso: primeira, a intenção do crescimento econômico; e depois, a intenção de tornar a economia justa. De acordo com Sumner, a ciência econômica pode nos dizer como promover o crescimento na economia, mas não pode nos dizer como tornar a economia justa. Sumner diria que as duas intenções são conflitantes, pois por natureza não é garantido que uma economia crescente é uma economia justa. A natureza permite apenas que uma economia crescente peça menos regulamentação governamental que uma economia estagnante. (Há, além disso, o problema em estabelecer um padrão científico de justeza e a impossibilidade prática em aderir a ele.)

O caos que pode ser liberado a partir da mania de igualdade econômica não pode ser menos que o causado pelo bater de asas de uma borboleta no Brasil. “O anseio por igualdade”, escreveu Sumner em outro ensaio, “é uma característica dos costumes modernos. Na Idade Média a desigualdade era um postulado em todas as doutrinas sociais e instituições”. Conforme Sumner explicou logo depois, “A afirmação de que todos os homens são iguais é talvez o dogma mais falso [...] já colocado na linguagem humana; cinco minutos de observação dos fatos mostram que os homens são desiguais por conta de uma vasta gama de variações”.

Aqui temos um constructo matemático (igualdade) aplicado às unidades irregulares (homens). Pode se chamar isso um “pequeno equívoco” no começo da modernidade. Em nenhum estado existente foi possível tornar os homens iguais mesmo em princípio (i. e. perante a lei). Tão desiguais são as verdadeiras condições da vida e tão imunes a intromissões exógenas, que a igualdade deveria manter-se como uma ideia puramente matemática. Como tal, Sumner chama isso de “fantasma político”. Segundo Sumner, “não sabemos de nenhuma força dentre aquelas que podem agir em nome da satisfação dos desejos humanos que tenha o poder de satisfazer o anseio de igualdade [...] e não sabemos de nenhuma interferência ‘estatal’, isto é, por um comitê de homens, que possa modificar o modus operandi dessas forças a fim de produzir esse resultado”.

Ainda assim, as borboletas da igualdade bateram suas asas e mais do que um tornado foi provocado. A comédia resultante foi há muito tempo parodiada na Revolução dos bichos de George Orwell onde os animais da fazenda se levantaram a fim de estabelecer um regime igualitário. E o que eles descobriram? “Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros”. A situação produzida pela igualdade de todos os animais da parábola é, na verdade, uma espécie de insanidade (um erro multiplicado por mil). Na chefia da revolução constatamos um porco chamado Napoleão cujos tenentes foram rápidos em afirmar: “Ninguém mais que o camarada Napoleão crê firmemente que todos os bichos são iguais. Feliz seria ele se pudesse vos deixar tomar decisões por vossa própria vontade; mas, às vezes, poderíeis tomar decisões erradas, camaradas; então, onde iríamos parar?”

O fantasma político da igualdade é possivelmente o principal fator que influi para o colapso da economia hodierna. É uma pequena ideia do submundo da sociedade pré-moderna que provocou um furacão político na França em 1789 e na Rússia em 1917. E continua a trazer uma tempestade após a outra. E não apenas tempestades políticas, mas ruína econômica e colapso. No coração propõe-se um grande projeto que fará irmãos todos os homens. Então os fatos mostram uma terrível série de eventos: governos de terror, empobrecimento universal, guerra e matança maciça. “Motivos e propósitos estão no coração e no cérebro do homem”, escreveu Sumner. “Consequências estão no mundo dos fatos”. O que quer que seja produzido pela orbita não-periódica de partículas ou pelo bater de asas da borboleta, não se compara com o que Sumner descreve como o caos da consciência humana, que está “infectada de ignorância humana, absurdidades, autoengano e paixão...”

Você deve se perguntar de onde vem essa infecção de ignorância. Foi o psicanalista Carl Jung quem alertou que a política moderna havia se tornado uma religião e que haveria terríveis consequências para todos. E se há uma religião que se coloca acima de todas as outras religiões políticas, essa religião é a igualdade. Jung questiona: há algum autoconhecimento em tal religião? Há algo de bom nela? Ou ela é uma cria do caos?

De acordo com Jung na obra Presente e Futuro, "a revolução comunista tirou a dignidade do homem numa escala bem superior do que a psicologia coletiva democrática o fez, pois retirou dele a liberdade tanto no sentido social como moral e espiritual" [§559]. Mas isso não é para deixar psicologia coletiva democrática fora do gancho. A ideologia igualitária infectou o Ocidente muito mais profundamente do que jamais infectou o Oriente. Durante a revolução contra-igualitária tentada na Europa durante as décadas de 1930 e 1940, Jung notou um perigoso sintoma psicológico no Ocidente: "(com o advento do nazismo) nas sombras pode-se apenas tatear. Hoje, esse dano já se localiza além dos limites políticos (i. e. Hitler), embora achemos que estamos do lado do bem e nos regozijemos da posse dos ideais corretos".

Na psicologia jungiana, a sombra refere-se aos aspectos de si próprio aos quais o ego consciente não pode ver. Assim, o que aconteceu de 1939 a 1945 não foi apenas a guerra mais destrutiva da história humana. Jung viu que o "oponente espiritual e moral [do homem ocidental], tão real quanto ele, é arrancado de seu próprio peito para habitar o outro lado geográfico da linha de separação que agora não é mais expressão de lima medida política e policial externa e sim algo bem mais ameaçador, a saber, a cisão entre o homem consciente e o inconsciente". Dizendo de modo simples, o que Jung quer transmitir nessa passagem é que o Ocidente estava começando a perder seu espírito coletivo; pois se o Leste comunista representou a liberdade diminuída, o Oeste representou a sanidade diminuída. Essa, talvez, é a mais chocante conclusão alcançada pelo grande psiquiatra.

Se quisermos testar a ideia de Jung, temos de estudar a economia americana a fim de procurar as chocantes evidências da insanidade coletiva em curso. A grandeza da dívida nacional, a dimensão das tributações e as obrigações fiscais locais, estaduais e federais nos dão um razoável panorama. Mas esses aspectos, com efeito, dificilmente arranham a superfície. Se examinarmos o comportamento do mercado de ações na última década, teremos de fato bases para proclamarmos uma condição psicótica generalizada em boa parte do sistema financeiro. Existem até analistas financeiros que fazem referência explícita à insanidade de Wall Street. Pegue como exemplo o livro de David J. Scranton intitulado Stop the Financial Insanity: How to Keep Wall Street’s Cancer From Spreading to YourPortfolio [NT: Detenha a insanidade financeira: como impedir que o câncer de Wall Street se dissemine no seu portfólio]; ou o artigo no Finance Blog de Anthony Robbins "Financial Insanity: How to find the Best Investment Opportunities in Turbulent Economic Times" [NT: Insanidade financeira: como encontrar as melhores oportunidades de investimento em épocas de turbulência econômica]; ou veja também a paródia da insanidade financeira hodierna no Zerohedge intitulada "A bit of Humor amid the Financial Insanity" [NT: Um pouco de humor em meio a insanidade financeira]. Neste último podemos ler uma definição de banco como "uma cavidade sem fundo no chão que engole dinheiro e incautos", enquanto uma bolha é definida como "Pré-requisito fundamental para que funcione a economia anglo-saxã".

Se a teoria do caos estiver certa e um bater de asas de uma borboleta no Brasil puder gerar um tornado no Texas, o que poderia produzir a insanidade coletiva de toda uma civilização? Carl Jung escreveu que o homem civilizado é estranho ao "ponto de vista dos seus instintos" e que a própria civilização é "a fonte de todos os distúrbios psíquicos e das dificuldades provocadas pela alienação crescente do homem de sua base instintiva...". A teoria do caos encolhe diante da realidade caótica da insanidade humana bruta. Se você quiser ver caos, olhe nos olhos de uma pessoa insana. Ou você pode ouvir os pronunciamentos sobre as finanças do presidente dos Estados Unidos.

Por:  JEFFREY NYQUIST Publicado no Financial Sense.

Tradução: Leonildo Trombela Júnior