terça-feira, 10 de setembro de 2013

O FASCISMO DO PT CONTRA OS MÉDICOS

O PT está usando uma tática de difamação contra os médicos brasileiros igual à usada pelos nazistas contra os judeus: colando neles a imagem de interesseiros e insensíveis ao sofrimento do povo e, com isso, fazendo com que as pessoas acreditem que a reação dos médicos brasileiros é fruto de reserva de mercado. Os médicos brasileiros viraram os "judeus do PT".


Uma pergunta que não quer calar é por que justamente agora o governo "descobriu" que existem áreas do Brasil que precisam de médicos? Seria porque o governo quer aproveitar a instabilidade das manifestações para criar um bode expiatório? Pura retórica fascista e comunista.

E por que os médicos brasileiros "não querem ir"?

A resposta é outra pergunta: por que o governo do PT não investiu numa medicina no interior do país com sustentação técnica e de pessoal necessária, à semelhança do investimento no poder jurídico (mais barato)?

O PT não está nem aí para quem morre de dor de barriga, só quer ganhar eleição. E, para isso, quer "contrapor" os bons cidadãos médicos comunistas (como a gente do PT) que não querem dinheiro (risadas?) aos médicos brasileiros playboys. Difamação descarada de uma classe inteira.

A população já é desinformada sobre a vida dos médicos, achando que são todos uns milionários, quando a maioria esmagadora trabalha sob forte pressão e desvalorização salarial. A ideia de que médicos ganham muito é uma mentira. A formação é cara, longa, competitiva, incerta, violenta, difícil, estressante, e a oferta de emprego decente está aquém do investimento na formação.

Ganha-se menos do que a profissão exige em termos de responsabilidade prática e do desgaste que a formação implica, para não falar do desgaste do cotidiano. Os médicos são obrigados a ter vários empregos e a trabalhar correndo para poder pagar suas contas e as das suas famílias.

Trabalha-se muito, sob o olhar duro da população. As pessoas pensam que os médicos são os culpados de a saúde ser um lixo.

Assim como os judeus foram o bode expiatório dos nazistas, os médicos brasileiros estão sendo oferecidos como causa do sofrimento da população. Um escândalo.

É um erro achar que "um médico só faz o verão", como se uma "andorinha só fizesse o verão". Um médico não pode curar dor de barriga quando faltam gaze, equipamento, pessoal capacitado da área médica, como enfermeiras, assistentes de enfermagem, assistentes sociais, ambulâncias, estradas, leitos, remédios.

Só o senso comum que nada entende do cotidiano médico pode pensar que a presença de um médico no meio do nada "salva vidas". Isso é coisa de cinema barato.

E tem mais. Além do fato de os médicos cubanos serem mal formados, aliás, como tudo que é cubano, com exceção dos charutos, esses coitados vão pagar o pato pelo vazio técnico e procedimental em que serão jogados. Sem falar no fato de que não vão ganhar salário e estarão fora dos direitos trabalhistas. Tudo isso porque nosso governo é comunista como o de Cuba. Negócios entre "camaradas". Trabalho escravo a céu aberto e na cara de todo mundo.

Quando um paciente morre numa cadeira porque o médico não tem o que fazer com ele (falta tudo a sua volta para realizar o atendimento prático), a família, a mídia e o poder jurídico não vão cobrar do Ministério da Saúde a morte daquele infeliz.

É o médico (Dr. Fulano, Dra. Sicrana) quem paga o pato. Muitas vezes a solidão do médico é enorme, e o governo nunca esteve nem aí para isso. Agora, "arregaça as mangas" e resolve "salvar o povo".

A difamação vai piorar quando a culpa for jogada nos órgãos profissionais da categoria, dizendo que os médicos brasileiros não querem ir para locais difíceis, mas tampouco aceitam que o governo "salvador da pátria" importe seus escravos cubanos para salvar o povo. Mais uma vez, vemos uma medida retórica tomar o lugar de um problema de infraestrutura nunca enfrentado.

Ninguém é contra médicos estrangeiros, mas por que esses cubanos não devem passar pelas provas de validação dos diplomas como quaisquer outros? Porque vivemos sob um governo autoritário e populista.
Por: Luiz Felipe Pondé  Folha de SP

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

QUANTO CUSTA MANTER UM AUTOMÓVEL

Gastos com carro nos 3 primeiros anos de uso equivalem ao preço de outro novo

Ao comprar um carro, o brasileiro está mais preocupado com a atuação do vendedor, o prazo de entrega e a facilidade de pagamento. Os dados vêm de um estudo feito pelo instituto J.D. Power do Brasil, que mede a satisfação dos consumidores.

Entretanto, o custo de manutenção não foi citado como fator de compra, embora seja relevante. De acordo com um estudo realizado em parceria pela Folha com a ProTeste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) manter um veículo considerado popular pode custar mais de R$ 800 ao mês.

A pesquisa considerou os gastos nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Foram avaliados fatores como depreciação, seguro e impostosao longo de três anos. No fim desse período, o gasto equivale ao preço de um carro novo de categoria similar.

Os dez carros mais vendidos no primeiro semestre foram incluídos na lista. A conta considerou que os modelos rodam, em média, 15 mil quilômetros por ano.
Se o carro for financiado, o consumidor deverá acrescentar os gastos com o parcelamento. Assim será possível ter uma noção do impacto dessas despesas no orçamento.
Editoria de Arte/Folhapress 


FATORES RACIONAIS

De acordo com o levantamento, o valor gasto em três anos para se manter um Hyundai HB20 1.0 é de R$ 32 mil. Hoje, um modelo zero-quilômetro do mesmo carro é vendido por R$ 34,8 mil. Os valores não assustaram o designer Lucas Astolfi Luz, 26.

"O custo foi extremamente importante na minha decisão. Considero-me um comprador passional, porém, na minha atual situação, os fatores racionais têm mais peso. O valor gasto mensalmente com o HB20 é alto, mas acredito que ele também varie de acordo com a quilometragem e o tipo de uso do carro", diz o designer.

Antes de comprar o carro, Lucas pesquisou diversos fatores. "Comparei vários modelos e, após diversas pesquisas sobre consumo e valor do seguro, por exemplo, considerei que o Hyundai me atenderia melhor em itens como conforto e estética", conclui.

RACIONAL
Zé Carlos Barretta/Folhapress 
O designer Lucas Astolfi Luz, que se considera um comprador emocional, escolheu o HB20 1.0

Para Jon Sederstrom, diretor da J.D. Power brasileira, o perfil passional do consumidor local está mudando.

"Quando vai para a concessionária, o brasileiro é prático. E muito se diz sobre a compra do carro ser emocional, mas o que vimos em nossa pesquisa é que o cliente está cada vez mais racional", diz o executivo.

Ele também afirma que, mesmo quando o consumidor não pondera o custo para se manter o carro, essa variável é fundamental após a compra. "Nosso estudo mostrou que 42% da satisfação do cliente está justamente ligada ao valor gasto durante seu período com o veículo".

Ex-dono de um Chevrolet Onix (o carro foi roubado recentemente), o analista de projetos Rodrigo Duarte, 30, diz que faz parte do grupo dos consumidores passionais: "Acho que é muito mais importante eu sentar no carro, gostar de dirigi-lo e me sentir feliz do que simplesmente pensar nos gastos".

Porém, Duarte afirma considerar alguns custos fixos. "Os valores de seguro podem atingir níveis estratosféricos, como os mais de R$ 4 mil pedidos para um Peugeot 307 que eu tinha. O valor das revisões também conta".

MUDANÇA

A consultora de projetos Daniela Cruz, 34, tem perfil racional. Ela usava seu Ford Fiesta 2011 para ir ao trabalho diariamente. Entretanto, a rotina com o carro foi alterada desde que se mudou da zona leste para a zona sul de São Paulo.

"Eu rodava cerca de 700 quilômetros por mês e, com isso, gastava quase R$ 500 mensais, descontando estacionamento", diz a consultora, que hoje pode dispensar o carro.

"Ando cerca de 20 minutos até o meu trabalho. Quando está chovendo ou muito frio, meu marido e eu pegamos um táxi e gastamos por volta de R$ 8,50", afirma Daniela.
Por: RODRIGO LARA DE SÃO PAULO  Do site UOL


SUSPEITA DE BOLHA NO BRASIL?

Economista que previu crise nos EUA suspeita de bolha no Brasil
31/08/2013 18:44
'Uma bolha não é algo que estoure de repente', diz Shiller.  O economista e professor da Universidade Yale, Robert Shiller, ficou conhecido por ter previsto a crise no setor imobiliário dos EUA. Em entrevista ao site de VEJA, ele comenta que há indícios de formação artificial de preços também no Brasil

Talita Fernandes - Veja
Robert Shiller, economista e professor da Universidade de Yale
Robert Shiller, economista e professor da Universidade de Yale (Moritz Hager/World Economic Forum)

Cerca de três anos antes de o banco de investimentos Lehman Brothers anunciar a falência, em setembro de 2008, o renomado economista Robert Shiller, professor da Universidade Yale, já previa que a economia dos Estados Unidos poderia entrar em colapso. A crise prevista por Shiller, no entanto, não se referia à quebra do banco em si, mas à formação de uma "bolha" no mercado imobiliário dos EUA. Mas a queda do Lehman foi a agulha que estourou a crise financeira americana, que deixou consequências até os dias de hoje.

O termo "bolha" tem sido usado amplamente para designar uma situação em que os preços de determinado setor inflam fortemente sem qualquer sustentação. Esse valor artificial só é percebido quando os preços caem. É, literalmente, como uma bolha de sabão, sensível a qualquer movimento mais forte.

Em entrevista ao site de VEJA, Shiller explica que o termo "bolha" é uma metáfora infeliz por parecer algo que se rompe repentinamente. Para ele, uma "bolha" é, na verdade, algo cíclico que pode inflar e desinflar ao longo do tempo - algo mais parecido com uma bexiga.

reconhecimento ao trabalho de Shiller está no índice Standard and Poor's Case/Shiller, que serve de referência para os preços do mercado imobiliário dos EUA. Sobre a situação brasileira, o economista explica que "há indícios" da formação de uma "bolha" no mercado de imóveis. Ele diz que o Banco Central poderia atuar, ainda que tardiamente, para evitar consequências mais graves de uma forte alta dos preços dos imóveis. Neste sábado, Shiller estará no Brasil, onde participa do 6º Congresso Internacional de Mercado Financeiro e de Capitais, organizado pela BM&FBovespa, em Campos do Jordão. Confira trechos da entrevista:


Desde a crise imobiliária dos EUA, o termo “bolha” tem sido usado para designar inúmeros males econômicos. Como o senhor define esse conceito? 
Eu acho que a metáfora “bolha” vem de 1720, do mercado europeu, de um episódio que ficou conhecido como a “bolha de Mississipi”. A metáfora sugere que se trata de uma explosão repentina. As bolhas de sabão vão crescendo até estourarem de forma catastrófica. É uma metáfora infeliz porque, na economia, as bolhas geralmente não estouram de repente. Na verdade, elas podem encolher durante um longo período de tempo. A bolha dos preços dos imóveis no Japão, que se formou nos anos 1980 e que teve seu pico no começo de 1999 está desinflando até hoje, por exemplo. Ela está perdendo tamanho há vinte anos. Eu acredito que as bolhas sejam formadas por fenômenos sociológicos, elas são criadas pelos pensamentos das pessoas. E o pensamento não muda da noite do para o dia. Os movimentos repentinos no mercado financeiro acontecem tanto para cima quanto para baixo. Por exemplo, o mercado financeiro dos Estados Unidos teve uma tendência de queda entre 1929 e 1932, foram quase três anos de queda. Mas isso não quer dizer que de repente ele estourou.


É possível prever o momento da contração da bolha?
Nos Estados Unidos, por exemplo, isso aconteceu em 2005, ou seja, três anos antes da crise do Lehman Brothers. A crise do Lehman Brothers foi um efeito colateral da crise imobiliária. Eu tentei voltar para 2005 para analisar o que mudou de lá para cá. O que eu vejo que mudou é que as pessoas aprenderam a palavra “bolha”. Elas nem sabiam o que significava até então. Eu sei disso porque eu fiz pesquisas com perguntas diretas às pessoas. Por volta de 2003, por exemplo, ninguém havia mencionado a palavra “bolha”. O que todos diziam é que “imóvel era o melhor investimento”. Depois da crise dos anos 2000 ficou a impressão de que os imóveis não são bons investimentos, mas eles são, porque as pessoas sempre vão querer moradia. O que as pessoas não percebem é que se os preços sobem um dia eles caem.



No Brasil, o senhor acredita que exista uma bolha no mercado imobiliário causada pelos estímulos ao crédito?
Analisando os indicadores de preços de imóveis do Brasil pode-se perceber que os preços vêm dobrando. Eu suspeito que haja a formação de uma bolha. Uma boa evidência é comparar sempre os preços do imóvel com o do aluguel. Nos Estados Unidos, por exemplo, os imóveis tiveram alta a um ritmo mais avançado do que o dos aluguéis. Eu não pude ver os preços dos aluguéis no Brasil, mas acredito que isso esteja acontecendo também. Isso é crítico porque não é que de repente as pessoas queiram consumir mais casas, mas esse apetite pelas compras é motivado pelo investimento. Isso é um problema. Meu temor é porque as pessoas agora estão tomando empréstimos para comprar imóveis. Se os preços entrarem em colapso, vai incorrer no mesmo tipo de problema que tivemos nos Estados Unidos. Isso pode ser convertido em uma recessão.


O que pode ser feito para evitar esse cenário? O governo tem poder para impedir?
O governo deveria se manifestar contra a formação de bolha, eles precisam acreditar que trata-se de uma bolha. E ele deveria fazer um aperto na oferta de crédito. Também pode-se fazer uma legislação que puna a oferta irresponsável de crédito. Uma outra medida interessante é contratar mais reguladores. A regulação é custosa, você não pode fazê-la de uma forma crua. É preciso saber quem é o emprestador responsável e quem não é. Isso se descobre com investigação e isso é custoso.


Esta semana o Fundo Monetário Internacional emitiu um relatório que recomenda que os bancos públicos brasileiros diminuam o ritmo de concessão de crédito. Qual sua opinião sobre isso, pensando no impacto no mercado imobiliário?
O banco de Israel fez isso. Eles estavam criando uma bolha imobiliária. Na China, as autoridades criaram barreiras para evitar a compra do segundo imóvel, por exemplo.
O que acontece para que se forme uma bolha é o fato de as pessoas se apressarem para comprar até cinco casas, elas querem comprar quanto for possível. Foi isso o que aconteceu nos Estados Unidos, a compra do segundo imóvel cresceu substancialmente. Isso é um problema, se muitos compram mais de um imóvel, os preços sobem.


Nossa situação é também um pouco diferente, há um déficit de moradias...
É difícil explicar isso porque eu teria que analisar a situação do Brasil.


Uma regulação mais rígida pode evitar que uma bolha seja criada?
É difícil evitar isso completamente. O problema é que sempre tem alguém que nega a existência de uma bolha. Eu estava muito atento a isso na formação da bolha norte-americana. Eu tentei debater com as pessoas a existência de uma bolha em 2005 e 2006. Algumas dessas discussões foram televisionadas em um programa da CNBC. Isso foi em 2005. Eu discuti com economistas que escreveram longos artigos que tinham tabelas e estatísticas, ridicularizando a existência de bolhas. Eu tive dificuldade para vencer os argumentos deles. Isso porque é difícil provar uma bolha.


Como se prova que há uma bolha?
É difícil, mas se você conseguir prová-la é possível também colocar fim. As pessoas têm a impressão de que a alta dos preços é um avanço da economia, e que isso vai tornar as pessoas mais ricas, mas elas não têm noção das estatísticas. Isso não é a verdade. Pode-se observar, por exemplo, a evolução dos preços dos imóveis em comparação com a evolução dos preços dos aluguéis, que deveriam aumentar na mesma proporção. Uma diferença é um indicativo de bolha. Se for feita a correção com a inflação, os preços deveriam ficar quase que estáveis. Eu peguei dados no intervalo de 100 anos nos Estados Unidos dos preços dos aluguéis e os preços caíram em vez de aumentar. Além disso, nossa economia tornou-se mais eficiente, nossa forma de construção também, isso barateia o custo de construção e os preços deveriam ser menores.


O Brasil vive uma situação de “bolha” do consumo?
O Brasil teve um “turning point” na década de 1990 com o controle inflacionário. Mesmo hoje, a inflação no país é moderada. Sobre o crescimento, o que aconteceu com o Brasil foi o mesmo que aconteceu com a China e com todos os Brics. Houve um sentimento de “milagre”. Eu acho que essa ideia de milagre desses países como China, Brasil, Rússia e Índia se espalhou pelo mundo. Mas esse tipo de milagre não dura para sempre, ele acaba mais cedo do que se espera. No meu livro “Espírito Animal”, eu digo que a confiança não é um fator exógeno. Mas que ela é conduzida, substancialmente, por histórias da mente humana, a capacidade do cérebro humano de armazenar as boas histórias. Eu não sei como analisar o Brasil, não faz parte da minha realidade. O que eu me lembro é da vitória do presidente Lula, cuja eleição trouxe medo para muitos, mas ele acabou se tornando pragmático na economia e isso trouxe confiança às pessoas.

domingo, 8 de setembro de 2013

INIMIGOS MÉDICOS

Quando viu o povo na rua, cobrando atenção à Saúde Pública, Dilma adotou prática tão antiga quanto namorar no portão. Escolheu um inimigo e o apontou à sociedade: os médicos brasileiros. A partir daí, jogou contra eles os raios e trovões que conseguiu recolher em seu repertório.

A saúde pública tem problemas. Falta atendimento, dinheiro, leitos. São longas as filas. Espera-se meses por um exame e anos por uma cirurgia. De quem é a culpa? Segundo a presidente, a culpa é dos médicos. Sua Excelência cuidou de passar à sociedade a impressão de que eles preferem viver nos grandes centros não porque ali estejam os melhores hospitais, laboratórios e equipamentos, mas porque ali estão os melhores restaurantes, clubes e cinemas. Foi para a tevê tecer ironias com o fato de que os primeiros a fazerem opções no "Programa Mais Médicos" preferiram localidades litorâneas. A compreensão dessa mensagem pelos sem discernimento (estamos falando de dezenas de milhões) fica assim: os doutores gostam, mesmo, é de praia.

Através dessas paquidérmicas sutilezas, o governo tenta convencer a sociedade de que os médicos não vão para as pequenas comunidades porque se lixam para as carências com que ele, governo, se preocupa. Opa! Preocupa-se agora, preocupa-se depois das vaias, preocupa-se depois das passeatas. E esquece que, pelos mesmos motivos, milhões de outros profissionais também preferem trabalhar em centros urbanos mais dinâmicos. Identificado o inimigo, a presidente partiu para o ataque. Criou um 2º ciclo de formação médica, obrigatório, a serviço do SUS, com duração de dois anos, a ser prestado onde houver necessidade. Fez com que os médicos perdessem a exclusividade de diversas atribuições relativas a diagnósticos e prescrição de tratamentos. Jogou na lixeira a insistente e lúcida recomendação no sentido de que seja criada na área médica uma carreira de Estado, semelhante à que existe para as carreiras jurídicas. Explico isso melhor: espontaneamente, nenhum juiz ou promotor vai solicitar lotação em Paranguatiba do Morro Alto. No entanto, como etapa de uma carreira atraente e segundo regras bem definidas, sim. É desse modo que se resolvem as coisas numa sociedade de homens livres.

Nada revela melhor a vocação totalitária do partido que nos governa do que este episódio. É uma vocação que dispensa palavras, que atropela leis e se expressa nas grandes afeições. Cubanas, por exemplo. A vinda dos médicos arrematados em Castro & Castro Cia. Ltda. permite compor um catálogo de transgressões aos princípios da liberdade individual, da dignidade da pessoa humana, da justiça, da equidade, da proporcionalidade, do valor do trabalho. Repugna toda consciência bem formada a ideia de que um país possa alugar seus cidadãos a outro, enviá-los aos magotes como cachos de banana, beneficiar-se financeiramente dessa operação em proporções escandalosas e ainda fazer reféns as respectivas famílias por garantia da plena execução do mandado. E há quem afirme que toda oposição a uma monstruosidade dessas é "preconceito ideológico"! Pois eu digo diferente: acolher como louvável semelhante anomalia política é coisa que só se explica por desvio do juízo moral.

Dilma e os seus gostariam de dispor dos brasileiros como coisas suas, assim como os Castro dispõem dos cubanos. Sendo impossível, buscam-nos lá, do mesmo modo como, antigamente, eram trazidos escravos das feitorias portuguesas no litoral africano. 

Por: Percival Puggina. Zero Hora

E ELE NÃO DISSE "ÁFRICA"


Meio século atrás, à sombra do Memorial de Lincoln, em Washington, Martin Luther King pronunciou 1.667 palavras. Nenhuma delas era “África” — ou “africanos”, ou mesmo “afro-americanos”. Nessa ausência encontra-se a prova da atualidade do discurso mais célebre do século XX. Deveríamos ouvi-lo novamente, prestando atenção no contraste entre aquela linguagem e a utilizada hoje pelos arautos das políticas de raça.

King aludiu à Proclamação de Emancipação, de Abraham Lincoln, “um grande farol de esperança para milhões de negros escravos”, mencionou as “algemas da segregação” e as “correntes da discriminação” que, cem anos depois, ainda aleijavam “a vida dos negros”, e falou sobre a “solitária ilha de pobreza, em meio a um vasto oceano de prosperidade material” na qual viviam os negros. No discurso de agosto de 1963, os negros eram definidos por referências situacionais (escravidão, segregação, pobreza), não por uma essência identitária (raça, etnia, cultura ou origem).

Americanos, não “afro-americanos” — isso são os negros, na linguagem de King. Os negros, que experimentam “o exílio em sua própria terra”, marcharam à “capital de nossa nação” para cobrar uma promessa de igualdade escrita “pelos arquitetos de nossa república” na Declaração de Independência e na Constituição. A luta para resgatar aquela “nota promissória” ergueria “nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a sólida rocha da fraternidade”. Ela não deveria “conduzir-nos a desconfiar de todas as pessoas brancas”, pois “muitos de nossos irmãos brancos (…) compreenderam que o destino deles está preso ao nosso” e que “a liberdade deles está inextricavelmente ligada à nossa”.

A linguagem de King não desafiava apenas as leis de segregação, seu alvo imediato, mas uma narrativa sobre a origem dos Estados Unidos, seu alvo distante. Tal narrativa, uma versão da ideia do melting pot, coagulara-se no fim do século XIX como reação à libertação dos escravos e como chave lógica para a segregação racial oficial. Ela descrevia os Estados Unidos como uma nação de colonos brancos rodeada por minorias raciais (indígenas, asiáticos e negros africanos). No discurso que completa 50 anos, King contestava todo esse cortejo de noções identitárias emanadas do pensamento racial. Não, dizia, a nação é outra coisa — é aquilo que está escrito nos textos fundadores!

Du Bois, revisitado pelo multiculturalismo, não o universalismo de King, é a fonte das políticas oficiais de raça no Brasil. Um documento de “orientações curriculares” para a “educação étnico-racial” da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, datado de 2008, sintetiza as diretrizes que, a partir do MEC, disseminam entre os jovens estudantes a noção de divisão da humanidade em raças. O texto deplora a vasta diversidade de cores utilizada pelos indivíduos em declarações censitárias, que contribuiria “para diminuir o potencial político da população afro-brasileira”.A contestação de King separava-o de uma longa tradição da política negra nos Estados Unidos. W. E. B. Du Bois entalhara o mito da raça na fachada da venerável NAACP, principal organização negra americana. Ele não acreditava no valor explicativo de “grosseiras diferenças físicas de cor, cabelos e ossos”, mas invocava “forças sutis” que “dividiram os seres humanos em raças claramente definidas aos olhos do historiador e do sociólogo”. “Nós”, dizia Du Bois, “somos americanos por nascimento e cidadania” e “em virtude de nossos ideais políticos, nossa linguagem, nossa religião”. Contudo, acrescentava, “nosso americanismo não vai além disso” pois, “a partir desse ponto, somos negros, membros de uma raça histórica que se encontra adormecida desde a aurora da criação, mas começa a acordar nas florestas escuras de sua pátria africana”. Afro-americanos: o termo, cunhado muito depois, na bigorna do multiculturalismo, foi concebido no início do século XX como um fruto do pensamento racial. A atualidade do discurso de King encontra-se precisamente na sua ruptura com a visão de Du Bois, que era um reflexo da narrativa racista sobre a nação branca.

“A pluralidade de cores no país diz quem é o povo brasileiro, mas não sua identidade étnico-racial”, segundo os sábios da Secretaria Municipal de Educação. A solução para a carência identitária residiria numa especial reinterpretação das palavras dos declarantes. Operando como “um agente social de reconhecimento eficaz do outro”, transformando-se “em alguém mais ativo no processo de identificação”, o recenseador produziria em tabelas e gráficos a “população afro-brasileira” que não emerge das autodeclarações. Em termos diretos, trata-se de manufaturar uma fraude censitária com a finalidade de gerar as tais “raças claramente definidas aos olhos do historiador e do sociólogo” de que falava Du Bois. Destinado a professores, o texto veiculava a mensagem inequívoca de que, na sala de aula, a linguagem da raça é um imperativo absoluto, em nome do qual deve-se ignorar a informação censitária factual.

“Eu tenho o sonho de que meus quatro pequenos filhos viverão, um dia, numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pelo teor de seu caráter”. A sentença nuclear do discurso de King não solicitava do reconhecimento de identidades étnicas ou de direitos raciais. Ela exigia que os Estados Unidos aplicassem o princípio, contido nos seus documentos fundadores, segundo o qual “todos os seres humanos são criados iguais”. A igualdade entre indivíduos livres de todas as cores, não um acordo político entre coletividades raciais distintas, era a reivindicação do 28 de agosto de 1963. Eis por que aquele dia permanece tão atual, lá e aqui.

Eu também tenho um sonho. Sonho com o dia em que milhões de exemplares do discurso de King sejam distribuídos, clandestinamente, como material subversivo nas escolas brasileiras.
Por: Demétrio Magnóli  Fonte: O Globo, 29/08/2013

sábado, 7 de setembro de 2013

JUROS DA DÍVIDA CONSOMEM TANTO DINHEIRO PÚBLICO QUANTO A EDUCAÇÃO

Juntos, o governo federal, os Estados e os municípios gastam com juros de suas dívidas tanto dinheiro quanto o destinado à educação no país.


A evidente distorção de prioridades pode ser observada no infográfico abaixo, que relaciona as principais fontes de receita e as diferentes finalidades das despesas públicas.

Analisar escolhas _ou fatalidades_ como essa será um dos objetivos deste blog que estreia hoje, assim como os efeitos da tributação e do gasto dos governos no cotidiano das famílias e das empresas.


Tanto a educação, primazia orçamentária mais consensual no país, como os juros da dívida pública, muito mais um encargo do que uma opção, consomem cada um algo como 5% de toda a renda do país.

A educação vem elevando gradualmente sua parcela nos últimos anos; a conta financeira caiu no governo Dilma, mas está novamente em tendência de alta.

A alocação de recursos para o ensino público no país é compatível com a prática no resto do mundo; já o custo da dívida pública brasileira é anormalmente elevado.

Países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), na maioria ricos, gastam, em média, 5,6% do Produto Interno Bruto com educação e 2,6% com juros.

O peso excessivo da dívida encoraja, especialmente na esquerda do mundo político, propostas de interromper total ou parcialmente o pagamento de juros, o que liberaria mais recursos para áreas mais nobres.

Mesmo sem levar em conta as consequências econômicas de tal medida, é possível demonstrar que seu potencial de geração de verbas é menor do que parece.

Os governos brasileiros já gastam mais do que arrecadam _ou, em outras palavras, estão sempre fazendo novas dívidas. A parcela da receita de impostos destinada aos juros não chega a pagar metade da conta.

Um hipotético calote da dívida, portanto, acabaria por reduzir as possibilidades de expansão futura dos demais gastos, porque os credores deixariam de financiar o deficit das contas públicas.

A escolha menos radical das administrações de Lula e Dilma foi reduzir as taxas de juros para viabilizar o aumento dos gastos sociais e dos investimentos.

Mas a estratégia também chegou a um limite quando a consequente alta da inflação fez com que o Banco Central fosse obrigado a elevar novamente os juros.
POR DINHEIRO PÚBLICO & CIA  Folha de SP

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

UM JUSTO ENTRE DUAS NAÇÕES

Saboia, na Bolívia, ousou contrariar o Itamaraty assim como foi feito com a emissão de vistos a judeus

Impossível não admirar a conduta de Eduardo Saboia, encarregado de negócios na Bolívia, de trazer para o Brasil o senador Roger Pinto Molina, asilado há 15 meses em nossa embaixada em La Paz. Tomou atitude nobre e corajosa.

No passado, outros diplomatas brasileiros ousaram contrariar a cúpula do Itamaraty. Na França, o embaixador Luís Martins de Souza Dantas emitiu centenas de vistos para o Brasil a perseguidos pelos nazistas.

Mesmo depois de ser repreendido e formalmente proibido de conceder vistos, seguiu assinando documentos de próprio punho, com datas anteriores à da proibição. Enquanto isso, em Hamburgo, o vice-cônsul brasileiro e escritor João Guimarães Rosa também agiu assim, concedendo vistos de entrada no Brasil a judeus.

Décadas depois da façanha, Souza Dantas virou personagem do Museu do Holocausto, em Israel. Foi proclamado "Justo entre as nações", título atribuído a pessoas que arriscaram suas vidas para ajudar judeus perseguidos pelo regimes nazista e fascista.

Mas não se trata aqui, como não o foi no passado, de defender quebra de hierarquia nem de comparar o terror do Holocausto a um fato que pode não ir além de um incidente diplomático. Quero apenas mostrar que, em situações extremas, o diplomata deve recorrer a si mesmo.

Ressalte-se que o embaixador anterior, Marcel Biato, já havia concedido o asilo a Molina, fazendo valer esse direito internacional.

E o senador teve de pedir asilo por ter denunciado a corrupção no governo de seu país. Ousou fazer o que muitos não tiveram coragem de fazê-lo.

Em resposta, ganhou um processo "judicial", típico de "socialistas bolivarianos" que tratam os opositores como se criminosos fossem. É a criminalização da política, levada a cabo por governantes que não nutrem respeito à democracia e aos direitos civis.

Há que lembrar, também, que a lista de incidentes diplomáticos na relação do Brasil com a Bolívia é extensa. Basta citar dois episódios: a ocupação militar de uma refinaria da Petrobras e a vistoria de três aviões da Força Aérea Brasileira, que deveriam ser invioláveis, inclusive um que levava nosso ministro da Defesa.

E é bom que se diga que o senador Molina não está foragido no Brasil. Foi retirado da Bolívia em uma operação conduzida pelo consulado brasileiro. O que se espera, agora, é que não tenha destino diferente do que teve Cesare Battisti, que conseguiu permissão para ficar no Brasil, mesmo com pedido de extradição aprovado pelo Supremo Tribunal Federal.

Quando foi trazido ao país, Molina vinha de um confinamento de quase 500 dias num cubículo da embaixada brasileira, sem direito a banho de sol, em uma condição de deterioração física e psíquica. Bem diferente do tratamento principesco que o ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya recebeu ao longo dos quatro meses em que se manteve exilado na nossa embaixada em Tegucigalpa.

Alguns aguentam mais, outros menos. Se Molina ameaçou suicídio, é porque estava no limite de suas forças. Basta nos colo- carmos na posição do outro para percebermos melhor sua condição dramática.

O encarregado de negócios Eduardo Saboia vivenciou o drama do senador. Ninguém melhor do que ele para decidir o que fazer, dada a sua proximidade e diante da falta de comando hierárquico.

Se tomou uma decisão humanitária, ele o fez em respeito aos direitos humanos defendidos por nosso governo. Se a cúpula do Itamaraty não estava observando esses direitos, um de seus diplomatas optou por fazê-lo, mesmo colocando vidas em risco.

Seguiu valores maiores, com determinação. Não se conformou com a rotina burocrática basea- da na omissão, embora essa omissão possa ter sido, ela própria, uma decisão. Cumpriu todo um péri- plo até chegar, enfim, a territó- rio brasileiro.

KÁTIA ABREU, 51, senadora (PSD/TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), escreve aos sábados nesta coluna.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

DIÁRIO FILOSÓFICO DE OLAVO DE CARVALHO: ALGUMAS NOTAS

O Facebook é o meu caderno de rascunho, ou, se quiserem, diário filosófico.

Olavo de Carvalho

(N. do E.: Aí estão algumas das últimas notas do filósofo, apresentadas em ordem diversa daquela em que foram originalmente postadas.

Há tempos o globalismo ocidental e o russo-chinês disputam o apoio islâmico. A situação evoluiu no seguinte sentido: o bloco russo-chinês aproximou-se cada vez mais dos governos árabes, e o globalismo ocidental dos revolucionários jihadistas que querem derrubá-los. Obama é a síntese desta última aliança. O ex-deputado democrata David Kucinich resumiu tudo dizendo que agora os EUA são a Força Aérea da Al-Qaeda. Obama é pai e mãe dos jihadistas.

Barack Hussein Obama provou que um total desconhecido, com documentos falsos, pode chegar à presidência dos EUA, destruir a economia do país, estimular o ódio racial, dar armas de presente aos piores inimigos da nação e por fim arrastá-la a uma III Guerra Mundial, enquanto todo mundo no Parlamento, na grande mídia e no sistema judiciário continua com medinho se der chamado de racista se ousar levantar a questão da falsa identidade. Obama provou que o que move o mundo não é a cobiça, não é a ambição, não é o desejo de poder: é a frescura.

Em todo o mundo civilizado, o marxismo é uma subcultura dentro de uma cultura maior cujo passo ele há tempos já desistiu de acompanhar. Mesmo na Rússia ele só subsiste como parcela menor dentro da síntese eurasiana, onde se vê forçado a acomodar-se ao cristianismo ortodoxo, ao esoterismo islâmico, às formas extremas do conservadorismo nacionalista russo e até à “Nova Direita” francesa de Alain de Benoist.

Seus progressos e readaptações internas, algumas notáveis, nem de longe tentam concorrer com as mutações velozes da cultura em torno e sobretudo com o avanço das pesquisas historiográficas, que ele prefere ignorar exceto quando servem de subsídio a essas readaptações.

No Brasil, ao contrário, graças à “ocupação de espaços” e à proibição tácita do confronto de idéias, ele se converteu em cultura dominante, oficial, perto da qual tudo o mais, que não se estuda nem se conhece, é rebaixado facilmente ao estatuto de “ideologia”, de “propaganda”, de “revisionismo” ou de “teoria da conspiração”.

Assim instruídos durante décadas, os estudantes estão persuadidos de que existe uma cultura normal, superior, “mainstream”, que é a deles, e em volta dela uma pululação de idéias estranhas e sem relevância intelectual. Quando um deles é assaltado desde dentro pelo vago pressentimento que essas “idéias estranhas” são nada menos que a cultura universal, da qual foi privado pelos bons préstimos de professores marxistas notavelmente ignorantes, das duas uma: ou parte para a negação psicótica de tudo, enraivecendo-se até o último limite do ridículo, ou reconhece que está em crise e tem de rever toda a educação que recebeu.

O Brasil, de dentro e de perto, é o horror, a depressão, o nojo, a raiva impotente. De longe, é só tristeza e pena. É mais fácil de agüentar.

Ernest Hemingway -- leio no último livro de Humberto Fontova -- dizia que para ser escritor o sujeito precisa ter um "detector de merda". O dele teria falhado em Cuba, onde ele assistiu pessoalmente a dezenas de execuções de inocentes e continuou exaltando o regime cubano como uma ilha de paz e liberdade? Acho que não falhou. Ele viu tudo, entendeu tudo e mentiu conscientemente. Depois estourou os miolos, quando não agüentava mais armazenar tanta merda escondida.

Alguém aí perguntou por que parei com o blog. Parei porque cada vez que escrevia umas linhas tinha de pedir a alguém que as pusesse online para mim. A coisa virava como que uma publicação formal, perdia a espontaneidade do tempo real. O Facebook veio resolver esse problema. Aqui posso pensar ao vivo diante de vocês, como um filósofo deve mesmo fazer diante dos seus alunos, sobre os problemas que o preocupam no momento, em vez de simplesmente reproduzir pensamentos já catalogados e arquivados. Esse é o bom método, bom para mim e bom para vocês. Toda uma tradição de ensino da filosofia o confirma, de Sócrates a Jules Lagneau, Alain, Eric Voegelin e tantos outros.

Fragmento de uma apostila em preparo:

Lógicas paradoxais, ou “da contradição”, só são viáveis se o significado dos seus princípios, conceitos e proposições se rege não por elas e sim pela velha lógica da identidade, isto é, conservam o seu sentido estável e uniforme ao longo de todas as demonstrações. Caso contrário, todo princípio, conceito ou proposição, tão logo enunciado, se desdobraria no seu oposto, duplicando-se e contradizendo-se; e os dois se desdobrariam em quatro, e estes em oito e assim por diante infinitamente, de modo que a lógica assim concebida se veria forçada, seja a admitir sua dependência da lógica de identidade, seja a continuar girando em círculo em torno do seu primeiro princípio pelos séculos dos séculos, sem nada poder deduzir dele.

Isso é o mesmo que dizer que tais lógicas só podem ser concebidas como possibilidades construtivistas internas à mente humana, isto é, como lógicas do imaginário, sem outro ponto de contato com o mundo real onde foram concebidas por certos professores exceto a lógica de identidade que elas fingem contradizer no instante mesmo em que confessam sua dependência dela.

O fato de que possam ser formalizadas matematicamente não interfere nisso no mais mínimo que seja.

Minha opinião sobre as lógicas paradoxais, ou "paraconsistentes", é muito simples: Elas não existem. Só o que existe é a aplicação da lógica de identidade a questões ambíguas ou indecidíveis, mais adequadas, por isso mesmo, a um tratamento dialético.

Célio Rodrigues pergunta: 

Caro professor, qual sua opinião sobre Krishnamurti, Sociedade Teosófica e Ordem Rosa Cruz? Grato.

Olavo responde:
Krishnamurti foi um homem honesto, que, treinado para ser um Messias fake, denunciou a coisa toda e deu um pé na bunda dos seus mentores. Para o restante da pergunta, leia "O macaco de Madame Blavatski" de Peter Washington e :"Le Théosophisme" de René Guénon.

Pedro Henrique Medeiros: É verdade, esse pessoal só choraminga. Da minha parte, digo: Não sou vítima de coisa nenhuma, não sou um injustiçado, não sou um gênio incompreendido. Não tenho queixas a apresentar. Sou um vencedor afortunado, gratíssimo a Deus e a todas as pessoas que foram bondosas comigo. Tenho pena daqueles que me esfregam na cara seus diplominhas de universidades de merda e nem se lembram de perguntar: Que são esses diplominhas, que são os seus miseráveis currículos Lattes, comparados ao reconhecimento oficial, pelo próprio governo americano, das minhas realizações no campo da filosofia e da educação?

O breve e exato roteiro que o Ronald Robson acaba de publicar no "Ad Hominem" mereceria o título de "O mínimo que você precisa saber da obra do Olavo de Carvalho antes de nos dar a sua linda opinião a respeito". O curioso é que, de todos os fulanos que subiram ao palco no papel de meus "críticos", nenhum demonstrou conhecer NADA dos tópicos ali resumidos. O mais gigantesco esforço feito até agora por alguma dessas criaturas no sentido de saber algo a respeito foi o do Ricardo Mussi, que enxergou um pedacinho de nada e achou que já havia entendido tudo. Os outros, nem isso. E é óbvio que não têm a capacidade requerida nem mesmo para COMEÇAR a estudar o assunto. Sua reação à minha presença no cenário público é a explosão de um insuportável SENTIMENTO DE INFERIORIDADE que procura se camuflar como hostilidade e afetação de desprezo -- decerto um dos sinais mais característicos não só da total destruição da alta cultura no Brasil, mas também de uma abjeção moral talvez sem precedentes no mundo.

Sempre achei curioso – para dizer o mínimo – que tantas pessoas criassem opiniões sobre o cristianismo sem jamais ter a curiosidade de averiguar o elemento essencial dessa religião: os milagres. Em outras religiões os acontecimentos miraculosos podem ser apenas acréscimos posteriores aos quais se dá um valor de comprovação, mas o cristianismo começa com um milagre, o nascimento virginal de Cristo, culmina em outro milagre, a ressurreição, e prossegue de milagre em milagre até hoje. 

Quando se fala de “revelação cristã”, o que se entende corretamente por isso não é o texto do Evangelho, mas os fatos que ele relata: vida, paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, isto é, uma seqüência de milagres. Sto. Tomás ensina que nós falamos por meio de palavras, mas Deus fala por meio de palavras e de fatos. Os fatos do Evangelho revelaram ao mundo aquilo que o texto, depois, simplesmente registrou. Você pode não acreditar em nenhum desses fatos, mas não pode negar que eles, e não sua narrativa posterior, muito menos as conclusões que os teólogos, os papas e os concílios foram extraindo deles ao longo dos séculos, constituem a essência da revelação cristã. Logo, não há meio de entender nada do cristianismo sem prestar atenção aos milagres, dos quais depende todo o sentido da doutrina.

Você não tem nenhum meio de confirmar ou negar a veracidade dos milagres evangélicos, mas Jesus prometeu que continuaria a operar milagres pelos séculos dos séculos, e, a rigor, não há fatos de nenhum outro gênero, no mundo, que existam em tão grande número e tão bem documentados, sobretudo hoje em dia. O desinteresse de conhecê-los, da parte de pessoas que no entanto emitem opiniões em penca sobre o cristianismo, revela que essas pessoas preferem conhecer só pelas beiradas o assunto de que falam, com medo de chegar muito perto do centro e sair chamuscadas.

Muitas, antes de ter examinado um só desses fatos, já se apegam à idéia de que um dia todos eles terão uma “explicação científica” – subentende-se: materialista – e ficará provado que não foram milagres de maneira alguma. Embora essa expectativa jamais tenha se cumprido com relação a nenhum milagre confirmado pela Igreja e embora a promessa da explicação demolidora tenha o seu cumprimento repetidamente adiado de novo e de novo em cada caso concreto (recentemente falhou de novo em "explicar" o Santo Sudário de Turim), o fato é que essas pessoas continuam confiando na promessa como se fosse desde já uma prova realizada, cabal e irrespondível. Nada pode haver de mais irracional do que esse ato de fé que toma como prova uma promessa de prova e se renova a cada nova tentativa falhada de realizá-la. No entanto, as pessoas que o praticam acreditam que são, nisso, tremendamente científicas.

Se eu tivesse algum dinheiro, pagaria aos luminares do materialismo para que estudassem, pelo tempo que quisessem, os milagres do Padre Pio ou aqueles relatados pelo dr. Ricardo Castañon nos seus vídeos, e nos dessem uma “explicação científica” de cada um.

Alguém ai disse que se houvesse dez Olavos na praça a situação não teria chegado aonde chegou. Podem deixar, estou preparando uns mil para lançar em breve, e alguns serão ainda piores que eu.

Meus adversários são Alexander Duguin, Slavoj Zizek, Ernesto Laclau, Antonio Negri. Não tenho nenhum no Brasil, só aspirantes a pentelhos.

A elite intelectual da direita é: Rodrigo Constantino, Eduardo Gianetti e Luiz Felipe Pondé. Eu, a Graça Salgueiro, o Lobão e o Heitor de Paola somos a escória.

Já notaram que o sr. Lula celebra a democracia como o melhor meio de CONQUISTAR o poder, não o de EXERCÊ-LO?

Vocês já repararam que qualquer merdinha palpiteiro se acha infinitamente superior a vocês em inteligência, pelo simples fato de não ser meu aluno e de não conhecer, do meu pensamento, senão uma ou duas frases soltas e às vezes nem isso? Não é um fenômeno extraordinário?
Por: Olavo de Carvalho www.olavodecarvalho.org

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O PROGRESSO DA IGNORÂNCIA

A impossibilidade de discernir conhecimento e ignorância põe em risco não só a segurança da civilização, mas a própria integridade da inteligência humana.

Estamos tão habituados a ouvir falar de "progresso do conhecimento", que não nos damos conta de que essa expressão não é um conceito descritivo, a tradução verbal de uma realidade, mas uma figura de linguagem, uma metonímia, por trás da qual não há senão uma impressão confusa e até enganosa. A realidade a que essa expressão alude vagamente é, com efeito, apenas o aumento das informações disponíveis sob a forma de livros, arquivos, índices, microfilmes, etc., isto é, o crescimento do número de registros, bem como da quantidade de pessoas e instituições ocupadas em produzi-las. 

É certo que esse crescimento implica um acréscimo de precisão e diferenciação. Mas dizer que isso é "conhecimento" é o mesmo que imaginar que um estudante de biologia, tão logo entra na faculdade, já conhece toda a biologia pelo fato de estar cercado de bibliotecas, arquivos e toda sorte de registros concernentes à ciência biológica. Tudo isso é conhecimento potencial, não é conhecimento ainda.

A diferença torna-se ainda mais visível quando nos lembramos de que, afinal de contas, a própria natureza em torno, o universo inteiro dos seres vivos, é um depósito de conhecimentos biológicos em potência, aguardando que o ser humano os apreenda e registre. Tão logo as informações contidas nesse depósito sejam convertidas em registros humanos, dizemos que "aumentou nosso conhecimento", mas o que ocorre quando o número de registros cresceu a ponto de nenhum ser humano poder abarcá-lo ou ter ideia clara do seu princípio organizador? 

Por exemplo, quanto dos registros acumulados espelha a realidade objetiva dos seres vivos, e quanto só reflete os códigos e convenções da cultura sob cuja ótica foram enfocados? E quem nos garante que os registros acumulados descrevem fielmente a evolução dos conhecimentos adquiridos e não os saltos, lapsos e deformações que, de uma época a outra, o advento de novas convenções impõe à compreensão dos conhecimentos anteriormente adquiridos? O que acontece, para continuar no exemplo da biologia, é que uma primeira camada de objetos a decifrar – o "mundo" dos seres vivos – foi substituída por uma segunda camada de objetos, os registros de conhecimentos biológicos, cuja decifração é igualmente difícil, não raro impossível. Isso, hoje, é o que se passa em todas as ciências.

O otimista incurável alegará que o crescimento do volume de registros é compensado pelo progresso dos métodos de indexação, sobretudo desde o advento dos computadores. Isso é uma ilusão. A conversão de registros impressos em registros eletrônicos é ainda a substituição de uma coleção de objetos por outra coleção de objetos, talvez mais fácil de manipular fisicamente mas nem por isso mais fácil de assimilar intelectualmente.

Qualquer cientista hoje em dia reconhece que ninguém domina o campo inteiro da sua ciência, quanto mais o das ciências todas, mas raramente algum deles tira daí a conclusão incontornável de que o "progresso do conhecimento", mesmo na sua área restrita, é apenas o crescimento do número de registros que vai se tornando cada vez mais indecifrável, a substituição de uma rede impenetrável de objetos naturais por uma rede impenetrável de objetos culturais.

Estes, em princípio, "significam" aqueles, mas, se o acesso aos objetos naturais passa pela aquisição do domínio sobre os objetos culturais correspondentes, resta o fato de que nas ciências culturais reina ainda mais confusão e nebulosidade do que nas ciências naturais.O domínio precário dos registros não pode deixar de afetar a compreensão dos objetos naturais que "significam".

"Conhecimento", a rigor, só existe na mente de quem conhece, no instante e no grau em que conhece. Um ser humano pode conhecer muitas coisas, pode dominar, num relance, uma área imensa de conhecimentos, e pode ignorar totalmente outras áreas das quais depende a compreensão daquela que ele conscientemente abarca. 

Quando leio, por exemplo, um livro de Richard Dawkins, delineia-se claramente ante meus olhos a fronteira entre o campo dos objetos que ele conhece e o daqueles que ele desconhece, mas à luz dos quais ele interpreta os primeiros. Isto é o mesmo que dizer que ele não compreende muito bem nem mesmo aquilo que ele conhece.

Jean Piaget estabelecia uma diferença rígida entre as ciências, que segundo ele nos dão "conhecimentos", e a filosofia, que nos dá apenas um "senso de orientação". Mas em que medida o homem desorientado no meio de uma massa de informações tem real "conhecimento" dela? Pode-se, é claro, conhecer um enigma sem conhecer a sua solução. Mas o que acontece quando não entendemos claramente nem mesmo a formulação do enigma? A desorientação, nesse caso, resvala na pura ignorância. 

O "progresso do conhecimento", nesse sentido, implica o concomitante o aumento da ignorância. E, quando a ignorância e o conhecimento se mesclam de maneira inseparável, é a ignorância que predomina, pois é ela que determina a forma do conjunto.

Não é preciso dizer que, levada ao seu extremo, a impossibilidade de discernir conhecimento e ignorância põe em risco não só a segurança da civilização, mas a própria integridade da inteligência humana. A tarefa da filosofia é intensificar aquele discernimento e tentar preservar a integridade da inteligência no meio do crescimento simultâneo dos conhecimentos e enganos.
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

SOBRE MÉDICOS E VACINAS

A presidente Dilma Rousseff acusou hoje os que têm preconceito contra a presença dos médicos cubanos no Brasil. Disse que há também médicos de outros países, além de Cuba. A presidente reiterou que os estrangeiros estão no Brasil para desempenhar o trabalho que os médicos brasileiros não querem fazer. 


"É um imenso preconceito sendo externado contra os cubanos. É importante dizer que os médicos estrangeiros, não só cubanos, vêm ao Brasil para trabalhar onde médicos brasileiros formados aqui não querem trabalhar", disse ela.

A presidente sofisma. O que se pede é que os cubanos cumpram as mesmas exigências feitas aos médicos nacionais, o exame do Revalida. O que também tem causado indignação é saber que mais da metade do salário de cada profissional vai para a ditadura cubana. 

Segundo os jornais, os médicos cubanos atuarão no Brasil em regime diferente dos que se inscreveram individualmente no Mais Médicos. No acordo, os repasses financeiros serão feitos do Ministério da Saúde para a Opas. A entidade repassará as quantias ao governo cubando, que pagará os médicos. Inicialmente nem a Opas nem o Ministério da Saúde souberam especificar quanto dos R$ 10 mil pagos por médico será repassado para os profissionais. O secretário adjunto de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Fernando Menezes, disse depois que a remuneração ficaria entre R$ 2,5 mil e R$ 4 mil.

O que será uma festa para quem ganhava algo em torno a cem reais por mês, menos que um chofer de táxi cubano que trabalhe junto a turistas, quantia que um mendigo brasileiro tira fácil em uma ou duas semanas nas ruas de São Paulo. Os médicos que vêm de outros países receberão a integralidade de seus salários. Por que só os cubanos entregarão parte de seus ganhos ao Estado? No fundo, é o PT erguendo o bracinho stalinista, em uma tentativa canhestra de financiar o falido regime comunista da ilha.

Não é a primeira vez que o Brasil vai em socorro da ditadura castrista. Ou já foi esquecido o caso das famosas vacinas cubanas contra a meningite, importadas pela bagatela de 250 milhões de dólares? Pelo jeito, ninguém mais lembra delas. Na grande São Paulo, a vacina cubana foi administrada em 1989 e 1990 para 2.400.000 crianças, na faixa etária de três meses a seis anos de idade. Após a campanha de vacinação, não foi observada queda do coeficiente de incidência da meningite.

Mas as vacinas eram socialistas. Quem duvida - salvo reacionários irrecuperáveis, como este que vos escreve - da excelência da medicina cubana? Em abril de 94, o ministério da Saúde brasileiro decidiu liberar o uso destas vacinas, suspensas desde 91. 

Na época, a Organizacão Panamericana de Saúde (Opas) já constatara que sua eficácia era baixa em menores de quatro anos e quase nula em menores de dois. Mesmo assim, o Rio de Janeiro formalizou o pedido das vacinas. Consultei então quem entende do assunto, o professor e pesquisador Isaías Raw, do Instituto Butantã. Respondeu-me o professor Raw:

"A verdade é que a vacina cubana não imuniza crianças abaixo de dois anos (nem de quatro) onde a meningite B é mais freqüente e pode ser fatal. Crianças pequenas usualmente não respondem a polisacarídeos. Para maiores de quatro anos a vacina funciona, evitando que adultos espalhem a meningite para filhos, etc., o que não justifica o seu uso generalizado que deu a Cuba 250 milhões de dólares".

Há quem diga existir um viés ideológico na discussão a respeito dos médicos cubanos. Sem dúvida nenhuma. Prova disto são os gatos pingados que foram receber os 176 médicos que desembarcaram no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, com bandeiras da UNE, do MST e da Associação Médica Nacional (AMN), entidade que reúne 650 brasileiros formados em medicina nas universidades cubanas.

“Não viemos para competir. Viemos trabalhar junto e esperamos contar com o apoio de todo o povo brasileiro”, disse Alexander Del Toro, graduado há 17 anos, que se apresentou como natural do centro da ilha, região onde “repousam os restos mortais de Che Guevara”, o médico exemplo de militância pela integração latino-americana.

Médico também exemplo de médico assassino de gatilho fácil, que admitia serenamente, em dezembro de 1964, na sede da ONU:

- Fuzilamentos? Sim, temos fuzilados, fuzilamos e seguiremos fuzilando sempre que necessário, nossa luta é uma luta à morte.

Que um médico cubano defenda Che ou o regime castrista no Exterior, entende-se. Ele é refém da ditadura. Espantoso é ver alguém no Brasil defendendo Cuba e o Che, 24 anos após a queda do Muro, 22 anos após a dissolução da União Soviética, em suma, duas décadas após a derrocada do comunismo.

Leitor de Dom Pedrito me acusa de radicalismo. Que radicalismo, companheiro? Resta alguma dúvida sobre a ineficácia das famosas vacinas cubanas? Que os médicos sejam pagos, muito louvável, digno e justo. Mas financiar uma ditadura? E se o Pinochet, em sua época, tivesse enviado médicos chilenos ao Brasil, ficando com 50 ou mais por cento de seus salários, você defenderia a vinda dos médicos chilenos? 

Enfim, numa cidade que tem uma rua em homenagem a Che Guevara, não é de espantar que existam defensores da Disneylândia das esquerdas. O que redime um pouco os pedritenses é que, na falta de informaçõe sobre o guerrilheiro, a rua acabou sendo a Rua do Che, o que naquelas plagas passa a ter outro sentido.

Sempre houve uma complacência generalizada contra a corrupção que envolve Cuba. Em 2000, manifestantes do PT, CUT e MST organizaram em São Paulo o Dia do Basta. O protesto denunciava, entre outros escândalos, o desvio de 169 milhões de reais na construção de um prédio do TRT, pelo ex-juiz do Trabalho Nicolau dos Santos Neto - Lalau para os jornalistas -, na época foragido há três meses. No mesmo dia, o MST invadia em Recife, com coquetéis molotov, um cargueiro de bandeira liberiana que transportava milho transgênico, importado como ração animal.

Ora, o rombo produzido pelo Lalau, em moeda forte, era de 89 milhões de dólares. Apenas um terço do que foi tungado do contribuinte brasileiro para a compra de um placebo socialista. Esplêndido país, este nosso: suas crianças estão expostas à fome e à delinqüência nas ruas e seus dirigentes se dão ao luxo de financiar uma ditadura no Caribe. Contra aquela corrupção, nem a imprensa nem as oposições pediram investigação.

Como tampouco pedirão sobre esta. Dona Dilma, extração da geração que louvou Castro, Che e a revolução cubana, acusa de preconceito os brasileiros que protestam contra o trabalho escravo dos médicos cubanos e deles exigem tratamento igual ao dispensado aos brasileiros. 

A presidente defende, não os médicos cubanos – que não têm culpa de sua condição – mas a mais antiga ditadura do Ocidente.
Por: Janer Cristaldo






SOBRA VERBO, FALTA VERBA


Quando a crise atual mostrou suas unhas nos Estados Unidos e na Europa do euro, não faltaram ponderações de respeitáveis autoridades da área acerca da gravidade do problema, sendo que uma delas não hesitou em comparar o caso com o flagelo de 1929/1930.

As nossas autoridades, no entanto, “cantavam de galo” diante da ameaça. Lembro que a senhora presidente blasonava ao dizer que o Brasil, que tirara de ouvido a crise anterior, a crise anunciada não lhe faria mossa, pois estava 300% mais fortalecido para enfrentá-la, as reservas externas eram fartas e assim por diante; ora, qualquer pessoa relativamente informada sabe que esses fenômenos vulcânicos podem gerar os mais contundentes efeitos de uma hora para outra, tomando as feições mais inesperadas; ora, ao ameaçar os fatos com gabolices é deixar à calva sua inépcia. Em verdade, os dias passam e a nossa situação se mostra frágil, seja por causas internas, quer por motivações externas, chegando a não ter condições de concorrer no Exterior pelo preço dos nossos produtos em casa, dado o preço dos importados. E agora, ao mesmo tempo em que o governo anda perdendo o fôlego para conter a cotação do dólar, respira aliviado porque a elevação lhe é favorável para aumentar a exportação. A notoriedade dessas realidades dispensa a insistência no assunto. Mas, dia a dia, vêm pipocando notícias várias, indicativos da mesma realidade.

Um dia antes, a notícia era relativa às contas externas que fecharam o primeiro semestre com um rombo de 72% maior do que no mesmo período do ano anterior. “Com um desempenho fraco da balança comercial, o déficit externo chegou a US$ 42,48 bilhões”. Para analistas do mercado, “o cenário é preocupante”, embora em junho tendo havido alguma melhora.Ao correr os olhos, vejo que o desempenho fraco da economia brasileira atingiu o mercado de trabalho nas regiões metropolitanas, com exceção de Belém e Fortaleza. Outrossim, em 10 anos, foi o pior mês de julho em matéria de criação de empregos e o saldo de 41,5 vagas formais representa queda de 77%, ante ao mesmo mês de 2012. Lembro que até ontem se salientava que, a despeito da generalidade das dificuldades experimentadas o emprego se mantinha; ao que parece, o desemprego começa a dar sinais.

Segundo o Banco Central, de junho de 2012 para junho de 2013 a dívida externa aumentou de US$ 302 bilhões para US$ 321 bilhões e seus encargos cresceram de US$ 42 bilhões para US$ 60 bilhões; as exportações caíram de US$ 255 bilhões para US$ 239 bilhões, as reservas em dólar do Banco Central pararam de crescer, de US$ 373 bilhões para US$ 371 bilhões e o PIB em dólares encolheu de US$ 2,37 trilhões para US$ 2,29 trilhões. Enfim, os índices que a confiança de consumidores e empresários na economia caíram aos níveis registrados em 2009, auge de crise global.

Em síntese, um a um, esses dados não serão catastróficos, mas não são bons, e o conjunto deles não é nada tranquilizador. De resto, não é incomum que, de repente, os fatos entrem em desvarios, razão por que um pouco de cuidado não faria mal a ninguém. Eles já não ajudam uma candidata à reeleição e, se um novo tremor de terra viesse a ocorrer, poderia ser desastroso para ela. No entanto, a senhora presidente parece estar mais empolgada com sua campanha do que com a nação e as instituições. 
Por: Paulo Brossard Fonte: Zero Hora, 26/08/2013

domingo, 1 de setembro de 2013

PSICOPATIA POLÍTICA E ECONÔMICA

Embora exista mérito em se preocupar com os psicopatas corporativos, há muito mais mérito em se preocupar com os psicopatas políticos, mesmo porque, o que são os políticos modernos senão charmosos manipuladores com uma mente calculista?

Em novembro de 2010, o periódico The Economist publicou um artigo sobre psicopatia. Nele, está sugerido indiretamente que, se existem psicopatas amontoados aos montes nas prisões, pode ser que eles também estejam aos montes nas salas de reuniões corporativas. Isso quer dizer, no final das contas, que os psicopatas presos são os psicopatas estúpidos. Os espertos, que por sua vez são muito mais perigosos, galgam os degraus do mundo corporativo. Segundo o artigo, “a combinação de uma conduta propensa a correr riscos aliada à falta de sentimento de culpa e vergonha (as duas principais características da psicopatia) pode levar, de acordo com as circunstâncias, ou a uma carreira criminosa ou a uma carreira corporativa”.

Em um breve paper escrito por Clive R. Boddy intitulado As implicações dos psicopatas corporativos nos negócios e na sociedade, o psicopata corporativo é definido como “aquele sujeito que trabalha nas corporações e é interesseiro, oportunista, egocêntrico, cruel e desavergonhado, mas que também pode ser charmoso, manipulador e ambicioso”. Boddy afirma que os psicopatas “podem, teoricamente, estar presentes nas organizações nos altos cargos gerenciais em número muito maior que a média de 1% – que é a quantidade estimada deles na sociedade”.

Nesse paper também é dito que “os psicopatas corporativos são atraídos às corporações por elas serem fonte de poder, prestígio e dinheiro”. Contudo, esses sujeitos são “uma ameaça ao desempenho e à longevidade dos negócios, visto que eles colocam seus próprios interesses à frente dos interesses da firma”. Em outras palavras, os psicopatas procuram situações onde seus respectivos comportamentos tirânicos e suas habilidades exploratórias serão toleradas ou até mesmo admiradas sem que de fato haja uma preocupação acerca do sucesso ou fracasso dessas atitudes perante uma negociação.

Em um livro intitulado Working with monsters (NT.: Trabalhando com monstros), o psicólogo e acadêmico australiano John Clarke mostra que os psicopatas destrutivos estão também no mercado de trabalho. Eles se apresentam como pessoas charmosas e eficientes, quando na realidade eles são irresponsáveis e interesseiros. Sempre em busca de uma vítima para escravizar, o psicopata prefere destruir em vez de construir, para que assim jamais seja dada autoridade aos outros. No entanto, mais frequentemente do que estamos dispostos a admitir, essas pessoas adquirem posições de poder e exercem suas mesquinhas tiranias sobre os outros. Como escreveu Boddy em seu paper, “cruzar o caminho (dos psicopatas) nas empresas pode levar o funcionário a situações de assédio e humilhação”.

Em época de perdas financeiras colossais – de esquemas Ponzi nos níveis corporativo e federal – deve haver lá pelos altos cargos mais do que alguns psicopatas. O dano causado por tais pessoas pode ser incalculável. Pense na Crise da Poupança e dos Empréstimos no final da década de 1980 e começo da década de 1990. De 3234 empresas de empréstimo e poupança, 747 faliram, causando um prejuízo estimado de 370 bilhões de dólares. Indivíduos cruéis sem senso de responsabilidade são altamente perigosos quando ocupam cargos de gerência em organizações de importância crucial como bancos, firmas de investimentos ou cargos governamentais. Quanto a isso, as más notícias são piores do que as que gostaríamos de ouvir. O psicólogo organizacional Paul Babiak, autor de Snakes in Suits (NT.: Cobras de Terno), afirma que os psicopatas tendem a ascender rapidamente no mundo dos negócios graças ao charme e a facilidade em manipular os outros. Por parecer perfeitamente normal na aparência, o psicopata pode parecer ser um líder ideal, mas na verdade ele fará de vítima de todos aqueles que se apoiarem nele.

De acordo com Boddy, os psicopatas corporativos podem parecer “seres racionais quase perfeitos, com a importante ressalva de que ao tomarem decisões racionais eles colocarão seus próprios interesses à frente da corporação a qual eles trabalham”. Ele cita o paper de 1989 de Hansen & Wernerfelt intitulado Determinants of Firm Performance: The Relative Importance of Economic and Organizational Factors (NT.:Determinantes da performance em uma empresa: A importância relativa dos fatores organizacionais e econômicos) para dizer que “a questão crucial no sucesso de uma firma é a construção de uma organização humana efetiva; a presença de um psicopata corporativo afetaria diretamente o desenvolvimento organizacional, pois eles tendem a ser prejudiciais àqueles em seu entorno, especialmente aos colegas mais novos da empresa”.

No uso original do termo, psicopata referia-se a qualquer um com um problema mental. O termo podia ser aplicado a todos os indivíduos perturbados ou desordenados psicologicamente. Mais recentemente, o termo adquiriu um significado mais preciso; no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM) ele é descrito como alguém que tem Transtorno de Personalidade Antissocial. O Robert Hare’s Psychopathy Checklist, Revised (PCL-R) é uma ferramenta frequentemente usada para diagnósticos psicopáticos nos dias de hoje. O canadense que dá nome à lista é pesquisador na área de psicologia criminal. Ele ofereceu a seguinte lista de características: 

(1) Interpessoal / afetivo - (a) eloquência / charme superficial, (b) senso grandioso de autoestima, (c) mentiroso patológico, (d) astuto / manipulador, (e) inexistência de remorso ou culpa, (f) afetividade superficial, (g) insensibilidade, falta de empatia, (h) falha em tomar a responsabilidade pelas próprias ações; 

(2) Estilo de vida / Antissocial - (a) necessidade de estímulo / tendência ao tédio, (b) modo de vida parasitário, (c) carência de objetivos de longo prazo, (d) impulsividade, (e) irresponsabilidade, (f) delinquência juvenil, (g) problemas comportamentais desde cedo, (h) revogação da liberdade condicional e (i) versatilidade criminal.

Na edição do dia 26 de outubro do Chronicle Review, Kevin Dutton perguntou a Robert Hare se a sociedade moderna “está se tornando mais psicopata”. Hare afirmou que sim, dizendo que “há coisas acontecendo hoje em dia que não teríamos visto há 20 ou até mesmo 10 anos atrás”. Para reforçar o que disse, Hare referiu-se ao “recente crescimento da criminalidade feminina” e à situação de Wall Street. Como disse Dutton sucintamente, “o novo milênio inaugurou uma nova onda de criminalidade corporativa como nunca antes se viu. Investimentos fraudulentos, conflitos de interesse, lapsos de julgamento e o bom e velho truque da fraude e desvio de fundos levado a cabo pela classe empresarial...”

Entretanto, os psicopatas corporativos podem não ser o maior dos perigos do nosso tempo. Indiscutivelmente, os psicopatas mais perigosos estão fora do mundo dos negócios e estão determinados a destruir o capitalismo a partir de posições que ocupam no governo e na mídia. Na palestra intitulada America’s Persecuted Minority: Big Business (NT.: A minoria perseguida da América: O grande negócio) Ayn Rand alertou que as falas em tom negativo sobre os empresários devem ser vistas com suspeita nos dias atuais. “Todo movimento que pretende escravizar um país”, diz Rand, “toda ditadura ou potencial ditadura, precisa de algum grupo minoritário como bode expiatório para colocá-los como causa dos problemas do país e usar isso como justificativa para que sejam atendidas suas demandas de poder ditatorial. Na União Soviética o bode expiatório era a burguesia; na Alemanha nazista eram os judeus; na América são os empresários”.

Embora exista mérito em se preocupar com os psicopatas corporativos, há muito mais mérito em se preocupar com os psicopatas políticos, mesmo porque, o que são os políticos modernos senão charmosos manipuladores com uma mente calculista? O que pode ser feito da falta de responsabilidade que encontramos nos políticos de hoje ou da maneira simplista em que eles se desviam de perguntas e críticas? O que oferece com mais plenitude o poder que a política? Se um psicopata busca poder nos negócios ele ainda pode ser impedido pela contabilidade necessária a toda empresa. Se entrar na política, ele precisa apenas repetir a grande mentira enquanto direciona seu carisma à mídia.

Com efeito, os psicopatas políticos fizeram mais vítimas que os psicopatas corporativos. E enquanto lermos sobre a ganância corporativa ou o desvio de fundos no noticiário, fiquemos tranquilos, pois o gulag soviético, os campos de trabalho chineses e os crimes dos nazis não foram obra dos capitalistas, mas sim dos inimigos do capitalismo. 
Por: Jeffrey Nyquist  Publicado no Financial Sense.
Tradução: Leonildo Trombela Júnior