sábado, 12 de outubro de 2013

CRUZADA ANTI-EDIOTAS

ENTREVISTA OLAVO DE CARVALHO

Cruzada anti-idiotas

O filósofo que quer salvar você da estultice

MARCO RODRIGO ALMEIDA

RESUMO Novo livro de Olavo de Carvalho, que reúne ensaios publicados em jornais e revistas, tornou-se um best-seller quase instantâneo. Em entrevista, o filósofo radicado nos EUA analisa criticamente tanto a esquerda brasileira como uma parte da "direita nascente", que ele diz serem formadas e formadoras de idiotas.

O mínimo que todo mundo precisa saber para não ser um idiota não é tão mínimo assim. Ao menos na visão de Olavo de Carvalho, ela engloba quase 200 textos, espalhados por 616 páginas. Abarca uma miríade de temas --como história, democracia, religião, ciência, linguagem, educação, guerra (mas não só). Todo esse material, publicado originalmente pelo filósofo em jornais e revistas entre 1997 e 2013, é agora reunido em "O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser um Idiota" [Record; 616 págs.; R$ 51,90].

Felipe Moura Brasil foi responsável pela seleção do material. "E agora o reparto com você, leitor, na esperança de que também se afaste da condição de bichinho e se eleve à altura dos anjos", escreve o jornalista na empolgada apresentação do volume.

Apontar um idiota, reconhece o livro, é tarefa fácil. Mais difícil é não sê-lo, nem fazer papel de um. Na nada modesta cruzada de livrar o leitor de toda forma de idiotice, o volume elege como alvo principal o pensamento de esquerda que considera hegemônico no país.

Dispara contra políticos e intelectuais (também sobra munição para a "direita nascente"), artistas, o MST, o movimento gay e as recentes manifestações no país. O autor destas parcas linhas também leva seu quinhão de farpas.

Olavo de Carvalho é um dos principais representantes do pensamento conservador no Brasil. Publicou diversos livros ("O Imbecil Coletivo", "O Futuro do Pensamento Brasileiro") e criou o site Mídia sem Máscaras (www.midia semmascara.org).

Seus textos e aulas on-line têm conquistado um público fiel ao longo dos anos. O novo livro vendeu em apenas uma semana, segundo a editora Record, 10 mil exemplares. Dos Estados Unidos, onde vive desde 2005, Olavo de Carvalho concedeu à Folha a seguinte entrevista por e-mail.

Folha - O título do livro é um tanto provocativo, até mesmo para atrair o leitor. Mas não seria pouco filosófico chamar de "idiota" quem não compartilha certas ideias?

Olavo de Carvalho - Ninguém é ali chamado de idiota por "não compartilhar certas ideias", e sim por pretender julgar o que não conhece, por ignorar informações elementares indispensáveis e obrigatórias na sua própria área de estudo ou de atuação intelectual.

Nesse sentido, creio ter demonstrado meticulosamente, neste e em outros livros, que alguns dos principais líderes intelectuais da esquerda brasileira, assim como uns quantos da direita nascente, são realmente idiotas e fabricantes de idiotas.

O sr. comenta que a normalidade democrática é a concorrência "efetiva, livre, aberta, legal e ordenada" entre direita e esquerda. Mas também que todo esquerdista é "mau, sem exceção". Como é possível equilibrar esses dois aspectos?

Depende do que você chama de esquerda. Há uma esquerda que aceita concorrer democraticamente com a direita, sair do poder quando perde as eleições e continuar disputando cargos normalmente sem quebrar as regras do jogo. O Partido Trabalhista inglês é assim. Nosso antigo PTB era assim. Disputavam o poder, mas sabiam que, sem uma oposição de direita, perderiam sua razão de ser.

Há uma segunda esquerda que deseja suprimir a direita pela matança dos seus representantes reais ou imaginários. Esta governa Cuba, a China, a Coreia do Norte etc., assim como governou a URSS e os países satélites.

Há uma terceira esquerda que, aliada da segunda, diverge dela em estratégia: pretende conquistar primeiro a hegemonia, de modo que, nos termos de Antonio Gramsci, o seu partido se torne "um poder onipresente e invisível, como um mandamento divino ou um imperativo categórico"; e, em seguida, tendo controlado a sociedade por completo, apossar-se do Estado quando já não haja nem mesmo a possibilidade remota de uma oposição de direita. Só aí virá um toque de violência, para dar acabamento à obra-prima.

A existência da primeira esquerda é essencial ao processo democrático. A segunda e a terceira devem ser expulsas da política e dos canais de cultura porque sua essência mesma é a supressão de todas as oposições pela violência ou pela fraude e porque se infiltram na primeira esquerda, corrompendo-a e prostituindo-a.

Ninguém pode apoiar esse tipo de esquerda por "boa intenção". Você já viu algum militante dessa esquerda sonhar em implantar o socialismo e depois ir para casa e viver como um humilde operário do paraíso socialista? Eu nunca vi.

Cada militante se imagina um futuro primeiro-ministro ou chefe da polícia política. Quando matam, é para conquistar o direito de matar mais, de matar legalmente. São porcos selvagens --sem ofensa aos mimosos animais.

O sr. argumenta que o brasileiro é maciçamente conservador, mas desprovido de representação política. Por que não temos políticos e partidos que tomem tal bandeira?

Já está respondido na pergunta anterior. O método da "ocupação de espaços" realizou no
Brasil o ideal gramsciano de fazer com que todo mundo nas classes falantes seja de esquerda mesmo sem sabê-lo, de modo que toda ideia que pareça "de direita" já seja vista, instintivamente, sob uma ótica deformante e caluniosa, com chances mínimas ou nulas de argumentar em defesa própria.

Suas próprias perguntas ilustram o sucesso dessa operação no Brasil. Você pode não ser um militante de esquerda, mas raciocina como se fosse, porque na atmosfera mental criada pela hegemonia esquerdista isso é a única maneira "normal" de pensar, às vezes a única maneira conhecida.

Por isso, você, ao formular as perguntas, fala em nome dos meus críticos de esquerda, como se eles, e não o público que gosta do que escrevo, fossem os juízes abalizados aos quais devo satisfações.

Suas ideias podem ser consideradas de direita?

Algumas sim, outras não. Nem tudo no mundo cabe numa dessas categorias. Você não viu a turma da direita enfezada cair de paus e pedras em cima de mim quando afirmei que homossexualismo não é doença nem "antinatural"? É ridículo tomar uma posição ideológica primeiro e depois julgar tudo com base nela por mero automatismo, embora no Brasil de hoje isso seja obrigatório.

Em quais pontos suas ideias podem ser classificadas de direita e em quais não?

Não tenho a menor ideia, nem me interessa. O coeficiente de esquerdismo ou direitismo está antes nos olhos do observador e varia conforme as épocas e os lugares.

Só gente muito estúpida --isto é, a esquerda brasileira praticamente inteira-- imagina que direita e esquerda são categorias metafísicas imutáveis, a chave suprema para a catalogação de todos os pensamentos.

Outros, principalmente na direita, dizem que direita e esquerda não existem mais, o que é também uma bobagem, porque basta uma corrente se autodefinir como "de esquerda" para que todos os que se opõem a ela passem a ser julgados como se fossem a "direita", querendo ou não. A esquerda define-se a si mesma e define seu adversário, por menos que este se encaixe objetivamente na definição.

Nos EUA, alinho-me nitidamente à direita, porque ela existe como agente histórico, é definida e é autoconsciente, mas no Brasil essas coisas são uma confusão dos diabos na qual prefiro não me meter. O sr. Lula não foi, na mesma semana, homenageado no Fórum Econômico de Davos por sua adesão ao capitalismo e no Foro de São Paulo por sua fidelidade ao comunismo?

A última moda na esquerda nacional é cultuar o russo Alexandre Duguin, que é o suprassumo do reacionarismo, enquanto na "direita liberal" muitos adoram abortismo e casamento gay, pontos essenciais da estratégia esquerdista. Prefiro manter distância da direita brasileira, seja isso lá o que for.

No capítulo sobre o golpe de 64, o senhor diz que Castelo Branco foi "um grande presidente", e Médici, "o melhor administrador que já tivemos". Comenta ainda que está na hora de repensar o governo militar. Qual é sua opinião hoje?

No Brasil de hoje não se pode louvar um mérito específico e limitado sem que imediatamente a plateia idiota transforme isso numa adesão completa e incondicional. Neste país, as pessoas, mesmo com algo que chamam de "formação universitária", só sabem louvar ou condenar em bloco, perderam totalmente o senso das comparações, das proporções e das nuances. Isso é efeito de 30 anos de deseducação.

Os méritos dos governos militares no campo econômico, administrativo e das obras públicas são óbvios e, comparativamente, bem superiores a tudo o que veio depois. Ao mesmo tempo, esses governos destruíram a classe política, infantilizaram os eleitores e, por timidez caipira de entrar na guerra ideológica ostensiva, preferiram matar comunistas no porão (embora em doses incomparavelmente menores do que os próprios comunistas matavam em Cuba ou no Camboja) em vez de mover uma campanha de esclarecimento popular sobre os horrores do comunismo. Tudo isso foi uma miséria.

Foi o que eu sempre disse, mas, hoje em dia, se você reconhece uma pontinha de mérito em alguém, já o transformam em devoto partidário dele. Não distinguem nem mesmo entre aplaudir um governo enquanto ele está no poder e tentar avaliá-lo com algum senso de objetividade histórica depois de extinto, mesmo se você, como foi o meu caso, o combateu enquanto durou. O fanatismo idiota tornou-se obrigatório. É disso que o meu livro fala.

O sr. é bastante crítico ao movimento gay. Não acredita que ele foi o responsável por conquistas importantes?

No começo, quando lutava apenas contra a discriminação e a violência anti-homossexual, esse movimento parecia bom e necessário. Mas isso foi só a fachada, a camuflagem do que viria depois: um projeto de dominação total que proíbe críticas e não descansará enquanto não banir a religião da face da Terra ou criar em lugar dela uma pseudorreligião biônica, dócil às suas exigências.

O que o sr. pensa sobre o projeto da cura gay?

Ninguém pede ajuda a um psicólogo para livrar-se de uma conduta indesejada se é capaz de controlá-la pessoalmente ou se não quer abandoná-la de maneira alguma. Quando alguém vai a uma terapia com o propósito de livrar-se do homossexualismo, é porque não o vivencia como uma tendência natural da sua pessoa, e sim como uma compulsão neurótica que o escraviza.

É bem diferente de alguém que é homossexual porque quer, ou de alguém que deixou de ser homossexual porque quis e teve forças para isso. Proibir o tratamento de uma compulsão é torná-la obrigatória, é fazer de um sintoma neurótico um valor protegido pelo Estado. É uma ideia criada por psicopatas e aplaudida por histéricos.

O sr. apoiou a invasão do Iraque em 2003. Nos anos seguintes, vários abusos e atrocidades dos soldados americanos foram divulgados. Acredita que, no saldo geral, a guerra foi positiva?

Não apoiei a invasão do Iraque. De início fui contra. Foi só depois, quando os americanos começaram a exumar os cadáveres das vítimas de Saddam Hussein e viram que eram mais de 300 mil, que comecei a achar que a guerra era moralmente justificável.

Das tais "atrocidades americanas", a maioria é pura invencionice, e as genuínas, inevitáveis em qualquer guerra, nem de longe se comparam ao que Saddam Hussein fez contra o seu próprio povo em tempo de paz.

A guerra, em si, foi positiva do ponto de vista moral, mas a tentativa de forçar o Iraque a adotar uma democracia de tipo ocidental foi ridícula e suicida. A primeira Guerra do Golfo foi bem-sucedida porque se limitou às metas militares, sem sonhos "neocons" de reformar o mundo.

E como o sr. avalia as recentes manifestações em cidades do Brasil?

Tudo começou como uma tentativa de golpe, planejada pelo Foro de São Paulo [coalizão de partidos de esquerda latino-americanos] e pelo governo federal para fazer um "upgrade" no processo revolucionário nacional, passando da fase de "transição" para a da implantação do socialismo "stricto sensu".

Isso incluía, como foi bem provado, o uso de gente treinada em guerrilha urbana para espalhar a violência e o medo e lançar as culpas na "direita". Aconteceu que os planejadores perderam o controle da coisa quando toda uma massa alheia à esquerda saiu às ruas, e eles decidiram voltar atrás e esperar por uma chance melhor. Isso foi tudo. Não há um só líder da esquerda que não saiba que foi exatamente isso.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

JUIZ DOS JUÍZES


O pecador que se nomeou Juiz dos Juízes escapou por pouco de enfrentar a primavera pendurado em embargos infringentes

Na festa promovida pela OAB para celebrar o 25º aniversário da Constituição de 1988, que o PT se recusou a assinar no dia da promulgação, o ex-presidente Lula confirmou que, se descobrissem que o governo simpatizava com o calendário gregoriano, os ferozes oposicionistas do século passado proporiam a adoção do calendário chinês. “O PT foi o único partido que, no dia da instalação da Constituinte, entregou um projeto de Constituição”, lembrou o palanque ambulante. “Só tínhamos 16 deputados, mas éramos desaforados como se fôssemos 500″. (Desaforado, como ensina o glossário da novílingua lulopetista, é o adjetivo que se deve aplicar a companheiros carentes de juízo e neurônios, que não resistem à tentação da molecagem irresponsável quando deliberam sobre assuntos relevantes).

“Se a Constituição que a gente apresentou fosse aprovada”, admitiu com o sorriso jocoso de quem retransmite uma previsão de Guido Mantega, “certamente seria ingovernável, porque éramos muito duros na queda”. No glossário da novilíngua, duro na queda é a expressão que designa quem confunde teimosia com coerência, é incapaz de refletir sobre ideias divergentes, rejeita o convívio dos contrários, sonha com o partido único e persegue o poder perpétuo. Há dez anos no controle do governo federal, os devotos continuam tão “duros na queda” quanto nos velhos tempos. O mestre mudou para pior.

Nesta terça-feira, por exemplo, aproveitou o sarau na OAB para proclamar-se Patrono do Judiciário e Controlador-Geral do Supremo Tribunal Federal. Caprichando na pose de Juiz dos Juízes, informou ter descoberto que os ministros devem usar a toga por menos tempo. “Se tudo no país pode ser renovado, por que um juiz tem que ficar a vida inteira?”, comparou. “Eu acho que tem que ter mandato em tudo quanto é lugar, porque senão as pessoas ficam 35, 40 anos”. Ele garante que a nova fórmula “teria outra vantagem: a alternância”. Mas ainda não decidiu se a idade limite para a aposentadoria “vai ser 75 anos ou vai ficar como está”.

O fundador do Brasil Maravilha reiterou que, se pudesse voltar no tempo, corrigiria um dos raríssimos erros que cometeu. “Eu teria mais critério para nomear ministros do Supremo”, penitenciou-se com sotaque de pecador no confessionário. Mais critério, no caso, quer dizer mais desfaçatez, ou nenhuma vergonha. Lula nunca levou em conta os dois pré-requisitos constitucionais que antigamente orientavam o preenchimento de vagas no STF: eram indicados pelo chefe do Executivo e sabatinados pelo Senado apenas juristas dotados de notório saber e reputação ilibada.

Lula sempre indicou (e os senadores engoliram sem engasgos) doutores que lhe pareceram prontos para pagar a toga com a absolvição de bandidos companheiros e cumprir disciplinadamente as determinações do presidente que lhes garantiu o empregão. Com o julgamento do mensalão, descobriu que existem juízes independentes e sem medo. A decepção e o ressentimento induziram o estadista de galinheiro a parir a aberração com que sempre sonharam os bacharéis de porta de cadeia: a Teoria do Mais Critério.

Dos ministros nomeados por Lula, permanecem no STF Joaquim Barbosa, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Os dois primeiros não chegariam lá se o chefe do Executivo tivesse seguido a teoria que inventou. O nome de Lewandowski foi soprado por Marisa Letícia, que vivia ouvindo da vizinha elogios superlativos ao filho desembargador. A indicação acabou dando certo, mas o primeiro dos selecionados com mais critério foi Dias Toffoli. Duas vezes reprovado no exame para o ingresso na magistratura, ex-advogado do PT, ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil, ex-chefe da Advocacia-Geral da União, tinha tudo para brilhar como ministro da defesa dos quadrilheiros do mensalão. Bingo.

Lula deveria ser mais amável com juízes que qualifica de “ingratos”, caso do já aposentado Ayres Britto e, sobretudo, de Joaquim Barbosa. Se fossem menos clementes, ambos teriam argumentos de sobra para defender a instalação do ex-presidente no banco dos réus. Os ministros fingiram acreditar que Lula nunca soube de nada que ocorria nas salas ao lado, acima e logo abaixo do gabinete presidencial. Também fingiram nunca ter ouvido o que disse José Dirceu mais de uma vez: “Nunca fiz nada sem a autorização do presidente Lula”.

Se os julgadores optassem por um tratamento menos compassivo, este começo de primavera encontraria o Juiz dos Juízes pendurado em meia dúzia de embargos infringentes. E Dirceu teria muito mais chances de repassar a patente de chefe de quadrilha.

Por: Augusto Nunes Revista Veja

ESTADO TOTALITÁRIO EM MARCHA: JUIZ OBRIGA PAIS A VACINAR OS FILHOS

Não se pode imaginar um país que se diga democrático, republicano e livre onde até mesmo os corpos das pessoas estejam sujeitos à vontade estatal, para que este pratique impunemente a eugenia e o controle demográfico, social e político contra grupos considerados indesejáveis.

Tendo lido amiúde da coluna de excelentes jornalistas e opinadores que a decisão majoritária do STF sobre a admissão dos embargos infringentes, com destaque para o voto de desempate do Ministro do STF Celso de Melo, constituiu-se em um extremado e arraigado senso de “garantismo”, ouso divergir e afirmar: trata-se de um perigoso engano, por mais involuntário que seja. Porém, vou pedir aos leitores para colocarmos este comentário em modo de espera, para voltarmos com ele lá no fim deste artigo.


Tenho a mais absoluta certeza que hoje em dia o povo brasileiro está tão embrutecido que vislumbro dele duas posições majoritárias: os que defenderão a decisão do juiz, e os que, embora não o defendam, não enxerguem neste fato nada assim tão digno de inconformismo.

No livro Maldita Guerra, o autor, o historiador Francisco Doratiotto, discorrendo sobre a Guerra do Paraguai, nos revela que frente ao início do conflito houve uma grande polêmica entre os países - especialmente os sul-americanos - sobre se deveriam apoiar o Brasil, já que este era governado por uma monarquia, até que uma voz muito abalizada defendeu a nossa nação asseverando que em nossa pátria as instituições eram mais sólidas que seus respectivos países, que a imprensa era mais livre e que seus súditos gozavam das mais amplas liberdades individuais, muito embora ainda estivesse em vigor a escravidão.

Para que os leitores tenham uma ideia ainda mais clara de que os súditos do Império gozavam de liberdades civis mais amplas do que os cidadãos contemporâneos, cito o Código Comercial de 1850, que em seu art. 17 prescrevia:

Art. 17. Nenhuma Autoridade, Juizo ou Tribunal, debaixo de pretexto algum, por mais especioso que seja, póde praticar ou ordenar alguma diligencia para examinar se o commerciante arruma ou não devidamente seus livros de escripturação mercantil, ou nelles tem commettido algum vicio. 

Hoje, o poder público – e nem se fala aqui do judiciário, mas do executivo mesmo – tem nesta prerrogativa uma das menores ao seu alcance, já que pode adentrar nas instalações, vistoriar o processo produtivo, quebrar patentes, fazer uso da propriedade privada e até mesmo expropriá-la.

Recordo-me de uma feita, de quando eu era ainda um menino, que meu pai, militar do Exército, nos contou em casa, sobre um tenente que havia convocado um punhado de soldados para atender a uma solicitação de sangue por um hospital. Diz ele que foi alertado por um colega que aquilo não era um ato legal, haja vista que ninguém pode obrigar outra pessoa a fornecer seu sangue, daí que os soldados poderiam ir somente sob a condição de voluntários. Meus caros, estou falando aqui do Brasil no auge do período do governo militar!

Todavia, aqui estamos, em pleno século XXI, em um estado que exerce suas funções sob um regime que todos chamam de democrático mas que, no entanto, já logrou ultrapassar todos os círculos de sua ambição intervencionista, de tal modo que já pode discricionariamente, ou melhor, com requintes de luxúria, coagir os pais e mães a aceitarem que inocule substâncias em seus filhos com fundamento unicamente no seu jus imperis.

A reportagem é bem clara em noticiar que não se trata de um casal de poucas letras:
“O que me chamou mais atenção neste caso é que os pais são pessoas instruídas e que cuidam bem dos filhos, sem histórico de omissão ou negligência. Entrei com a ação porque existe uma preocupação não apenas com a vida dos meninos, mas também com a saúde pública do país", disse Renata ao G1”. (Nota: trata-se da promotora Renata Lúcia Oliveira Rivitti, autora da ação civil pública).

Comecemos por prestar atenção ao falacioso argumento da promotora: Ora, se pelo menos em tese, as demais crianças que foram imunizadas não contrairiam a doença, como é que se há de falar em risco da propagação de uma doença, que em tempo, elas nem sequer foram acometidas?

Por outro lado, quanto ao risco dos dois filhos do casal demandado vir a serem infectados pela doença, eis aí um risco que cabe a eles decidir, bem como, porventura, de outras pessoas que ajam da mesma forma.

Diz a matéria que a vacinação é obrigatória e que as escolas são encarregadas de fiscalizar. Por outro lado, também a lei obriga aos pais matricularem seus filhos na rede regular de ensino. Em outras palavras, praticamente não há escapatória, a não ser refugiar-se na selva amazônica, em algum lugar tão ermo onde os bons serviços estatais ainda não chegaram.

Eu sempre desconfiei muito de uma certa categoria paradoxal de direitos tais como os que contemplam o voto, a saúde, a vacinação e a escola; Ora, se são direitos, por que compulsórios? Alguém já viu um direito obrigatório a um jantar num restaurante de luxo, a passar as férias em Aruba ou a ter de ganhar um carrão novinho em folha?

No tocante a este assunto, vou aqui remarcar algumas notícias sobre fraudes com vacinas, contratos bilionários entre laboratórios e governos e mesmo sobre vacinas com agentes esterilizantes:

Nas nossas crianças, não!”: o governo vai vacinar todas as meninas de 10 a 12 contra doenças sexualmente transmissíveis, especialmente o HPV, prejulgando-as todas como potenciais prostitutas.

Vítimas da Gardasil falam publicamente em vídeos: Um famoso médico que frequentemente alerta acerca dos perigos das vacinas e que tem preocupação principal com a vacina Gardasil contra o vírus do papiloma humano, lançou dois testemunhos de vídeos dados por moças que foram gravemente prejudicadas depois de receberem a injeção da Gardasil.

O veneno nas vacinas do governo federal: José Dorea, professor de ciências nutricionais da Universidade de Brasília, acertou bem no alvo de saúde quando recentemente disse: “As evidências continuam a se avolumar de que o mercúrio nas vacinas não é seguro, de que os efeitos negativos ocorrem até mesmo com níveis de exposição nas vacinas.

Exames sugerem contaminação em doses da vacina Gardasil: De acordo com noticiários americanos, entre outras complicações sofridas por meninas vacinadas estão a Síndrome de Guillain-Barré e a paralisia de Bell.

Anarquia Sexual: O legado de Kinsey: Intervenções farmacológicas também aumentaram, inclusive vacinas compulsórias de Hepatite B para bebês e vacinas do HPV para crianças em idade do ensino fundamental como “proteções” contra DSTs. Ambas as vacinas foram promovidas num manifesto pedófilo de 1977 chamado “Direitos da Criança”.

Gripe suína: quem pagou a pandemia fantasma?: O jornal inglês Daily Mail denunciou em manchete "A pandemia que nunca existiu: empresas farmacêuticas 'incentivaram Organização Mundial de Saúde a exagerar a ameaça da gripe suína'". A matéria então diz: "Declarar a gripe suína uma pandemia foi um 'erro monumental', impulsionado por empresas farmacêuticas que, gananciosas por lucros, espalharam medo, concluiu um influente relatório".


O caso das vacinas criminosas: Quando o lote de 72 kilos da vacina (imaginem a quantidade doses que havia aí!) chegou à República Tcheca, um dos técnicos do laboratório resolveu testá-la - o que não era necessário - e todas as cobaias testadas morreram em seguida. Imediatamente ele fez uma análise das vacinas e descobriu-se que as mesmas continham vírus vivo, o que as tornaria uma arma letal, em vez de prevenir a doença.

Bill Gates quer vacinas para reduzir a população: Em 1995, o Supremo Tribunal das Filipinas descobriu que as vacinas usadas numa campanha de vacinação antitetânica do UNICEF continham o B-hCG, que quando dado numa vacina, destrói permanentemente a capacidade de uma mulher sustentar uma gravidez. Aproximadamente três milhões de mulheres já haviam tomado a vacina.

Admirável Gado Novo: uma ampla coleção de denúncias sobre vacinas com agentes tóxicos ou esterilizantes, conluios entre governos e grandes laboratórios farmacêuticos e casos de morte ou outras seqüelas em pessoas vacinadas

Vou terminar a relação acima advertindo os leitores que longe está de ser exaustiva, constando apenas de algumas pinceladas para alertar que a ONU, os governos de vários países, grandes laboratórios multinacionais e ong’s especialmente dedicadas ao controle populacional têm agido em conluio contra as pessoas comuns, e que as notícias sobre estes escândalos já há muito não permitem quaisquer reações de incredulidade que se escorem na teoria da conspiração.

A muito bem da verdade, bastaria que todos estes fatos fossem presumíveis somente em potência e já serviriam muito bem para defenestrarmos quaisquer reivindicações prévias de idoneidade daquelas instituições e firmarmo-nos no reconhecimento do único direito presumível a priori, qual seja, o do pátrio poder dos pais sobre seus filhos.

Mas quê!

Não bastariam todas as evidências apontadas acima, a família provou a sua experiência da pior forma possível: “A mulher acredita que a vacina poderia colocar a vida dos filhos em risco e alegou à promotora que o irmão dela morreu aos 4 anos após ter sido imunizado”.

Não se pode imaginar um país que se diga democrático, republicano e livre onde até mesmo os corpos das pessoas estejam sujeitos à vontade estatal, para que este pratique impunemente a eugenia e o controle demográfico, social e político contra grupos considerados indesejáveis por serem representados por alguma raça, idade, condição física ou mental, extrato social ou posição política.

Governos não podem ser considerados aprioristicamente bons e preocupados com o bem-estar da população, mas antes, ser mantidos eternamente sob vigília.

Nossas vidas não são podem estar à mercê da concessão do estado, mas sim o contrário: nós delegamos aos políticos uma parcela da nossa liberdade natural para que seja criada uma instituição - o estado – para viabilizar a vida em sociedade, mediante a intervenção mínima e suficiente para a solução dos conflitos entre os indivíduos.

Se assim não for, nossa constituição é uma fraude, desde que dispõe no parágrafo único do Art.. 1º que todo poder emana do povo; Ora, não existe a palavra povo senão como uma ficção lingüística, a retratar o conjunto universo das vontades individuais; neste sentido, Ludwig von Mises assim nos ensinou em sua magistral obra Ação Humana:

Se investigarmos o significado das várias ações executadas pelos indivíduos, necessariamente aprenderemos tudo sobre as ações dos conjuntos coletivos. Porque um coletivo social não tem existência e realidade fora das ações de seus membros individuais. A vida de um coletivo é vivida nas ações dos indivíduos que constituem o seu corpo. Não há coletivo social concebível que não seja operativo pelas ações de alguns indivíduos 
(P. 62)

O Ego é a unidade do ser agente. É um dado irredutível cuja existência não pode ser negada ou decomposta por nenhum argumento ou sofisma.

O Nós é sempre o resultado de uma soma que junta dois ou mais egos. Se alguém diz Eu, nenhuma outra informação é necessária para estabelecer o seu significado. O mesmo é válido com relação ao Tu e, desde que a pessoa em questão seja precisamente indicada, com relação ao Ele. Mas, se alguém diz Nós, é preciso alguma informação adicional para indicar quais Egos estão compreendidos nesse Nós. É sempre um simples indivíduo que diz Nós; mesmo que muitos indivíduos o digam em coro, permanece sendo diversas manifestações individuais.

O Nós não pode agir de maneira diferente do modo como os indivíduos agem no seu próprio interesse. Eles podem tanto agir juntos, em acordo, como um deles pode agir por todos. Neste último caso, a cooperação dos outros consiste em propiciar uma situação que torna a ação de apenas um homem efetiva para todos. Somente nesse sentido é que o representante de uma entidade social age pelo todo; os membros individuais do corpo coletivo ou obrigam ou permitem que a ação de uma só pessoa lhes seja também concernente. 
(Ps. 63 e 64)

Agora tragamos para cá aquele primeiro parágrafo, que aparentemente restava deslocado do assunto: temos, pois, de um lado, uma visão da justiça da qual muitos crêem abusar do garantismo, isto é da defesa intransigente do mais amplo direito de defesa aos réus frente ao avassalador poder persecutório do estado; e noutra ponta, a de juízes que determinam que pais sejam obrigados contra sua vontade a vacinar seus filhos, isto é, a permitirem que sejam inoculadas em suas crianças substâncias cujas composição e propriedade desconhecem por completo, cuja reputação não podem avaliar e nenhuma garantia contra eventuais reações colaterais.

Há de se enxergar nisto alguma ambigüidade? Não sei vocês, mas minha resposta a isto é um absoluto “não”! Não há ambigüidades aqui, pois que um fenômeno integra-se ao outro e o complementam, desde que se compreenda que este garantismo a que nos referimos não é sistemático e universal, senão que é seletivo e foi deflagrado pela primeira vez desde e promulgação da Constituição há 25 anos; em suma, existe para beneficiar aqueles que são justamente os condutores do processo de aniquilação dos direitos individuais dos cidadãos.

Prezados leitores, não podemos olvidar este caso, sob pena de tornarmo-nos todos ovelhas de um lobo que tomou o lugar do pastor. O caso requer a atenção de toda da sociedade, pois é a partir dele que toda submissão ao poder total do estado vem para se concretizar. Precisamos localizar e proteger esta família, como numa roda de articulação, apoio e solidariedade.
Por: Klauber Cristofen Pires  http://libertatum.blogspot.com

DEVANEIOS SOBRE A OCIOSIDADE

Ironia: a única coisa que tolero em Karl Marx é, bem vistas as coisas, o genro. O nome do cavalheiro é Paul Lafargue e o seu "Direito à Preguiça" é texto que guardo junto à cama. Para ler e reler quando a ociosidade me ataca. Que nos diz Lafargue?


O óbvio: haverá coisa mais triste do que uma existência inteiramente dedicada ao trabalho? Sobretudo a um trabalho que nos escraviza e desumaniza?

Por isso Lafargue defende: mais importante do que os "direitos do homem" são os "direitos à preguiça". Que um dia, escreve ele, serão respeitados por uma civilização tecnologicamente avançada. Trabalharemos três horas, não mais. As máquinas farão o resto por nós.

Sorrio sempre quando leio esse pedaço de otimismo. Lafargue escrevia no século 19. O que diria ele se visitasse a Europa do século 21?

Em Portugal, por exemplo, a crise econômica levou a mudanças na jornada de trabalho. O país vai trabalhar agora, em média, 40 horas semanais. Uma hora a menos que na Alemanha, que lidera o ranking com 41.

Os lusos não serão caso único. Espanha, que trabalha em média 37 horas, prepara-se também para imitar o exemplo germânico. Como? Abolindo almoços longos. Abolindo a "siesta" depois do almoço. Abolindo jantares tardios. Abolindo a possibilidade dos nativos se deitarem tarde e de acordarem tarde. Em suma, abolindo Espanha.

Uma comissão parlamentar prepara-se para estudar todos esses "abusos" --os "abusos" que eu mais invejava em "nuestros hermanos"-- de forma a produzir uma legislação laboral que transforme os espanhóis em alemães.

Meu Deus: haverá maior crime do que transformar um povo, qualquer povo, à imagem e semelhança da Alemanha?

Amigos liberais, que olham com ternura para as minhas idiossincrasias conservadoras, dizem-me que não há alternativa: a Europa tem que trabalhar mais para produzir mais e ser mais competitiva a nível global.

Curiosamente, eu não contesto a lógica do raciocínio. Apenas o que esse raciocínio diz sobre a nossa patética civilização.

Sim, o progresso tecnológico cumpriu-se. Não se cumpriu a libertação humana que Lafargue imaginava. Com diferentes trajes e cenários, continuamos as bestas de carga iguais às que era possível contemplar em plena Revolução Industrial.

2.

Gosto de viver em cidades porque gosto de caminhar em cidades. Também aqui sou o anti-Rousseau por excelência. No seu "Devaneios do Caminhante Solitário", o filósofo confessa que existem poucos prazeres comparáveis a uma caminhada pelo campo. Subscrevo tudo, exceto o campo.

Cidades. Carros que passam. Esse é o meu filme. E, por falar em filmes, haverá caminhada mais bela do que no filme"Paris", de Cédric Klapisch, que talvez explique as minhas paixões pela vadiagem urbana?

O filme tem duas histórias paralelas. A primeira é a de um professor (o sempre magistral Fabrice Luchini) que se apaixona por uma aluna e, sem surpresas, é abandonado por ela. Um solitário angustiado que gosta de caminhar pelas ruas de Paris sem nunca se aperceber desse fato redentor: o fato de estar vivo e de poder caminhar por Paris.

Pierre é o segundo personagem da segunda história. Doente, gravemente doente, ele regressa para a casa da irmã (Julliete Binoche, "mon amour") por não ter onde ficar até a hora de um transplante salvador.

A irmã acolhe-o. E, no final, quando a hora chega, eles despedem-se por imposição de Pierre e o táxi parte pelas ruas de Paris. A caminho do hospital.

É esse o momento em que o professor e Pierre se encontram. O primeiro, caminhante meditativo, perdido como sempre nas suas tristezas mundanas. E o segundo, que olha para ele através do vidro do carro, invejando o destino daquele pobre diabo. Invejando o luxo que é caminhar por Paris --sem hora, sem rumo. Sem cirurgia marcada.

Não sei quantas vezes penso nessa sequência quando caminho por Lisboa com o peso dos meus pequenos dramas. Mas também reparo que há carros que passam por mim. E rostos que olham para mim. Não sei o que dizem. Não sei em que pensam.

Mas suspeito que talvez um dia alguém passará por aquele pobre diabo, invejando a sorte que ele tem por simplesmente caminhar pela cidade.

Por: João Pereira Coutinho Folha de SP

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

OS COAINHEIROS DE HITLER

Fez sucesso na Alemanha um comercial amador de TV no qual um carro Mercedes-Benz atropela mortalmente um jovem. Esse jovem é Adolf Hitler.


A Mercedes já veio distanciar-se do filme. Mas eu entendo a filosofia dele: se alguém tivesse atropelado o monstro na juventude, o monstro não teria sobrevivido para destruir a Europa.

Acontece que houve na Alemanha quem tivesse tentado atropelá-lo antes de Hitler chegar ao poder. A jornalista Silvia Bittencourt explica como no seu "A Cozinha Venenosa".

Ponto prévio: o livro foi publicado pela editora da Folha e existem sempre os "idiotas da objetividade" (obrigado, Nelson Rodrigues) que não gostam de endogamias críticas. Elogiar um livro da própria empresa não fica bem, dizem eles.

Com a devida vênia aos "idiotas da objetividade", só posso responder que ignorar este livro por motivos tão pedestres seria silenciar um dos mais importantes estudos históricos em língua portuguesa que me lembro de ter lido sobre a ascensão de Hitler. Que isso tenha sido publicado pela Três Estrelas só merece cinco estrelas.

O estudo pioneiro de Silvia Bittencourt concentra-se na história de um jornal da Baviera, o "Münchener Post", que apesar de ter tido influência intelectual considerável na formação da social-democracia alemã do século 19, conheceria os seus anos de fogo depois da Primeira Guerra e antes da Segunda.

E, nesse interlúdio entre os dois morticínios, um nome vai povoando em crescendo as páginas de jornal: Adolf Hitler.

Primeiro, de forma marginal, quase negligente. Em 1920, quando o ex-cabo austríaco já discursava pelas cervejarias de Munique, destilando aquela mistura boçal de ressentimento e antissemitismo, o jornal falava de um partido "que ainda anda de fraldas" e de "um senhor chamado Adolf Hitler" que era tratado com uma mistura de repulsa e indiferença.

Essa indiferença foi desaparecendo à medida que o partido começou a abandonar as fraldas e a arregimentar milhares de militantes. Soou o alarme no "Münchener Post". Que se tornou mais intenso quando os nazistas, cansados de discursar, começaram também a sovar os inimigos, reais ou imaginários.

Foi então que se tornou permanente a pergunta fundamental do "Münchener Post": até quando? Sim, até quando as autoridades da Baviera permitiriam a emergência de um "messias" que fazia do incitamento ao ódio e à violência o seu programa político?

A questão tornou-se mais premente depois do golpe falhado de Hitler em 1923, que não foi tratado pela Justiça com a dureza exigida. O cárcere, para além de ter permitido a Hitler a composição do seu "Mein Kampf", devolveu-o rapidamente à liberdade (com uns quilinhos a mais) -e permitiu ao futuro ditador a projeção nacional do partido e dos seus, digamos, "princípios".

Quando, nos inícios de 1930, o partido nazista surgia nas eleições com peso parlamentar crescente, o mesmo "Münchener Post" não hesitava em tornar perceptível a luta no curto prazo como uma escolha entre a democracia e a ditadura.

E, sobre o tipo de ditadura que esperava os alemães, escrevia o jornal com assombrosa presciência: a Alemanha será uma ditadura construída sobre as cinzas do Parlamento e através de uma radical "desjudificação" do país.

Sabemos bem como terminou essa história a partir de 1933, quando Hitler chegou ao poder. Terminou mal: para a Alemanha, para a Europa e, claro, para o "Münchener Post", que sem surpresas foi expeditamente destruído. Hitler não poderia tolerar que a "cozinha venenosa" continuasse a servir os seus petiscos.

O livro de Silvia Bittencourt consegue essa rara proeza de revisitar uma história conhecida pelo ângulo particular de um jornal. E, ao fazê-lo, consegue também mostrar duas verdades antigas que às vezes precisam de repetição contemporânea.

A primeira é que a função do jornalismo não é servir ao poder; é vigiá-lo e, perante espetáculos de barbárie, denunciá-los sem tréguas.

A segunda é que talvez o irlandês Edmund Burke tivesse razão quando afirmava que o mal só triunfa quando os homens de bem nada fazem.

Em 2013, é fácil atropelar Hitler em filmes de TV. Infelizmente, os alemães não o fizeram nos anos decisivos em que o "Münchener Post" pregava no deserto.

Por: João Pereira Coutinho Folha de SP

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

LINDEZA DE ESTUPIDEZ

Uma das constantes mais nítidas e inegáveis da história do movimento revolucionário é que suas facções, quando entram em conflito, o primeiro recurso a que apelam é acusar-se mutuamente de aliadas e instrumentos do capitalismo, da maldita burguesia.

Comentários enviados às páginas jornalísticas da internet são às vezes um bom indício da opinião dominante em certos meios, principalmente se entendemos que os leitores habituais de um jornal, ou da sua versão eletrônica, têm quase sempre a cabeça feita pelo mesmo jornal.

A Folha de S. Paulo, que é de algum modo o house organ da USP, condensa maravilhosamente, por isso mesmo, o conjunto de chavões, lendas e mitos da esquerda chique, que, para as classes alta e média da capital paulista, constituem o fundamento inabalável da sua visão do mundo.

Eis aqui dois exemplos casuais, mas altamente significativos, enviados ao jornal por ocasião do artigo em que João Pereira Coutinho celebrava o livro de Silvia Bittencourt, A Cozinha Venenosa, ao que parece uma pesquisa interessantíssima sobre um jornal menor da Baviera que alertou, pioneiramente e em vão, contra o perigo da ascensão do Partido Nazista:


1) “Hitler foi um joguete útil que a direita européia pensou poder controlar e usar à vontade contra o bolchevismo russo e a esquerda alemã. Saiu de controle e deu no que deu. Agora, renegar isso é miopia ou má fé.”

2) “Na verdade, a direita em geral, por medo do comunismo, apostou em Hitler, desprezando a socialdemocracia que, na ocasião, era a única saída possível para conter os dois extremos.”

Uma inversão tão exata e meticulosa da realidade histórica não se impregna na mente de uma coletividade sem uma campanha de falsificação pertinaz e onipresente, renovada ao longo de muitas gerações. O que se entende e se repassa no Brasil como “história do nazismo”, tanto nas escolas quanto na mídia, é ainda uma repetição fiel, mecânica e servil da propaganda estalinista posta em circulação nos anos 30 do século XX e até hoje aceita, sem exame, pelo beautiful people paulistano, a contrapelo da ciência histórica mundial que já deu cabo dessa patacoada há muitas décadas.

Na verdade, a “direita européia” praticamente inteira – representada, por exemplo, por Churchill em Londres, pela Action Française em Paris, pelo chanceler Engelbert Dolfuss em Viena e pelo Papa Pio XII em Roma – opôs desde o início a mais vigorosa resistência à ascensão nazista e continuou a fazer isso depois de 1939, quando Stálin e Hitler, após uma longa colaboração secreta, se deram as mãos em público para invadir a Polônia.

Nem o Partido Nazista nem o fascismo italiano surgiram como facções conservadoras ou de direita, mas como dissidências internas do movimento revolucionário. A tônica de ambos era restaurar o caráter originariamente nacionalista dos vários socialismos, que, no entender deles, o Partido Comunista havia enlatado à força num internacionalismo enganoso, subsidiado pelo grande capital. Como nenhuma mentira pega sem um fundo de verdade, a visão nazifascista da história correspondia, nesses pontos, à realidade dos fatos:

(1) Os socialismos apareceram realmente associados aos movimentos de independência nacional que sacudiram a Europa desde o início do século XIX (leiam Benedetto Croce, Storia d’Europa nel Secolo Decimonono, reed. Adelphi, 1993).

(2) O “internacionalismo proletário” foi realmente uma invenção do Partido Comunista, nascida de uma resolução proposta por Lênin e Rosa Luxemburgo na Segunda Internacional, em 1907, que declarou todo patriotismo ou nacionalismo o inimigo número um da revolução (sem prejuízo de que, mais tarde, Stálin invertesse o discurso, passando a usar os ressentimentos nacionais “anticolonialistas” como motores do espírito revolucionário).

(3) O grande capital, especialmente americano, subsidiou o movimento comunista com uma generosidade ilimitada, incomparavelmente superior a qualquer ajuda que possa ter prestado a nazistas e fascistas, antes ou depois (v. Antony C. Sutton, The Best Enemy Money Can Buy, Liberty House Press, 1986; Wall Street and the Bolshevik Revolution, reed. Clairview Books, 2011; e sobretudo os três volumes da série Western Technology & Soviet Economic Development publicados pela Hoover Institution).

Uma das constantes mais nítidas e inegáveis da história do movimento revolucionário é que suas facções, quando entram em conflito, o primeiro recurso a que apelam é acusar-se mutuamente de aliadas e instrumentos do capitalismo, da maldita burguesia. Os comunistas usaram esse rótulo abundantemente contra os anarquistas, os trotskistas, os socialdemocratas e, como não poderia deixar de ser, contra os nazistas e fascistas. Só que estes já o haviam usado contra os comunistas muito antes e, sabe-se hoje, até com mais razão. Depois, como o nazifascismo perdeu, foi a propaganda comunista que acabou prevalecendo na memória popular.

O segundo comentário é até mais louco do que o primeiro: a direita negou apoio à socialdemocracia e, assim, entregou o poder a Hitler. Não, porca miséria. Toda a historiografia mundial sabe que foi o contrário, mas a notícia ainda não se espalhou entre os cultíssimos leitores da Folha. Quem boicotou os socialdemocratas não foi a direita; foi o Partido Comunista, por ordem de Stálin, que via neles a direita quintessencial, o inimigo burguês por excelência, e nos nazistas o “navio quebra-gelo” (sic) apropriado para desmantelar as democracias em torno e, mesmo a contragosto, abrir caminho ao avanço das tropas comunistas, como de fato acabou acontecendo em todo o Leste Europeu.

A credibilidade infinitamente renovada que as lendas historiográficas do estalinismo continuam desfrutando no Brasil depois de oito décadas é um dos fenômenos mais lindos nos anais da estupidez universal.
Por: Olavo de carvalho Publicado no Diário do Comércio.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

DILMA X JAMES BOND

Uma senhora que trabalhava aqui em casa, estranhou quando pedi moderação nos gastos das ligações interurbanas, que fazia diariamente para Roraima e Rondônia.

Tive que explicar, que recebia tudo detalhado pela Brasil Telecom e mesmo da Tim, informando o dia, a hora e o custo de cada ligação.

Confesso que fiquei meio surpreso, quando a nossa Presidente, Presidenta Dilma, ficou escandalizada ao descobrir que os americanos e agora até mesmo os canadenses andam bisbilhotando nossos telefones e e-mails.

Fácil supor que gravem até nossas conversas.

Mesmo assim, num surto de indignação patriótica e solidário, improvisei uma placa com “GO HOME AMERICANS” que pendurei na minha sacada, mesmo não conhecendo nenhum americano ou canadense aqui em Balneário Camboriú.

Provavelmente, com a sua face tão jovem, nem tenha tido a oportunidade de assistir os filmes do James Bond, glamourizando a espionagem, assim como a série da Pantera- Cor –de- Rosa.

Um filme recomendável para o episódio que vale a pena assistir é “O RATO QUE RUGE”.

Uma sugestão ousaria fazer: Cobrar do Obama, quais os ladrões que roubaram o dinheiro da Petrobrás naquele episódio da Refinaria de Pasadena, por exemplo.

E abusando, troque o Ministro de Minas e Energias Edson Lobão, pelo Lobão cantor e apresentador, João Luiz Woerdenbag Filho.

O Brasil estaria, salvo engano, melhor servido.

Por Jaison Barreto

POUCA EDUCAÇÃO NÃO É CORAGEM

Pretendia escrever sobre assuntos bem diferentes dos que estou agora a ocupar-me, mas fui praticamente obrigado a fazê-lo considerando a passagem da senhora presidente da República pelos altiplanos da Assembléia Geral da ONU. A despeito de suas debilidades, aliás, desde sua constituição decorrentes da reserva do poder de veto reservada a cinco Estados, a ONU não se libertou até agora dessa mácula. Contudo, nela continua a existir a tribuna de caráter mundial da qual o Brasil tem o privilégio de ocupar na abertura dos trabalhos da Assembleia Geral, como legado de um alegretense que reunia ao talento a bravura e a ambos o fascínio de sua personalidade de escol: a Osvaldo Aranha se deve esse prerrogativa. Isto posto, nada mais natural que nessa ocasião nosso país seja representado pelo chefe do Estado.

Não faz muito tempo foi amplamente divulgado que a senhora presidente pensava em suspender a viagem aos Estados Unidos a convite daquele país e sem demora a suspensão foi convertida em cancelamento. Ao mesmo tempo, foi descoberto o acesso de fontes americanas a assuntos referentes ao nosso país, fato objeto de ampla publicidade.

Ambas as ocorrências foram noticiadas reiteradamente como alvo do discurso a ser proferido pela senhora presidente na oração que deveria pronunciar ao ser aberta a Assembleia Geral, o que foi confirmado. Ocorre que, a novidade descoberta não se sabe se pela senhora presidente, se pelo Itamaraty ou pelo inominado assessor especial da presidência, de novidade não tinha nada.

O tom pouco educado e inadequado do discurso é tentativa de exibir uma suposta valentia, útil apenas para fins internos e eleitoreiros. O Brasil perdeu uma oportunidade de falar para o mundo.Esses dados me parecem significativos, pois sucessivamente divulgados de maneira a dar caráter internacional a um expediente de evidente endereço eleitoral que, aliás, tem sido reconhecido por gregos e troianos; saliente-se que depois da queda de popularidade da senhora presidente, seu marqueteiro, também conhecido como quadragésimo ministro, prometia recuperar a popularidade perdida em coisa de quatro meses. De modo que até a xingação, aliás, anunciada antes do discurso da Assembleia Geral e por todos os meios de comunicação e depois confirmada, não surpreendeu a ninguém; curiosamente foi publicado sem que nenhuma autoridade americana sequer de média importância que fosse, estivesse presente quando do discurso; para que se seu teor era de todos de antemão conhecido?

Nesta altura o que me parece de particular importância é saber se o Itamaraty inspirou ou acompanhou o plano, ou se foi ele concebido pela senhora presidente com ou sem a colaboração do assessor especial, ainda que, qualquer que seja a resposta, o fato é de suma gravidade; contudo, o interesse nacional reclama que esse ponto seja esclarecido. Se o Itamaraty tinha conhecimento mais diminuído fica ele, fenômeno que tem sido apontado particularmente por diplomatas de alta expressão.

Depois da xingação veio à louvação. A senhora presidente prosseguiu fazendo o elogio do seu próprio governo com a pretensão de incentivar investimentos estrangeiros. Com todas as vênias, parece-me que o expediente chega às raias da infantilidade, até porque os eventuais investidores além de cientes da situação interna e externa do país, seguramente são leitores, entre outras publicações de circulação internacional, do The Economist. Em síntese, o discurso proferido em Nova York se destinava à pretendida reeleição. Convém lembrar que, não faz muito, a senhora presidente declarou sem rebuços que na campanha ela seria uma “fera”.
Por: Paulo Brassard  Fonte: Zero Hora, 30/09/2013

"DESCIDA AO INFERNO"

A desgraça narrada a seguir é real, está da em fatos públicos e chegou, algum tempo atrás, a causar certa comoção neste de hoje, que parece a caminho de se formar em um dos países a ser estudado maior atenção, algum dia, por possíveis pesquisadores de uma história mundial da infâmia. Trata-se de um episódio chocante por sua crueldade em estado puro, e o resultado inevitável de uma conspiração não declarada dos agentes do poder público para permitir a prática aberta dos delitos mais selvagens - por serem eles mesmos os autores dos crimes, ou pelo uso que fazem da letra da lei para livrar os envolvidos de qualquer risco de punição. Acontece quase todos os dias, em todo o Brasil, sob a indiferença absoluta das mais altas autoridades e a proteção de um conjunto de leis escritas com o objetivo de praticamente abolir a culpa na Justiça penal brasileira. Não há remédio conhecido contra isso. 


Ainda recentemente a repórter Branca Nunes, da edição digital de VEJA, fez uma reconstrução passo a passo da tenebrosa descida ao inferno aqui na terra, entre outubro e novembro de 2007, de uma menina de 15 anos, L.A.B., presa sob a acusação de furtar um telefone celular numa cidade do interior do Pará, a 100 quilômetros de Belém, e punida segundo a hermenêutica que vale no Brasil real. O propósito da reportagem era mostrar, seis anos depois, que fim tinham levado os personagens centrais da história - um símbolo fiel de aberrações praticamente idênticas que acontecem a cada dia neste país, e do tratamento-padrão que recebem do poder público. A visita a essa tragédia "confirmou o apronto", como se dizia na linguagem do turfe. Nada de embargos infringentes para L.A.B. Nada de advogado "Kakay" pregando em seu favor. Nada de todo esse maravilhoso facilitário que faz da lei brasileira um milagre permanente em benefício dos ricos, poderosos e influentes -e transforma culpa em mérito, como Cristo transformou água em vinho. Tudo, naturalmente, em favor dos responsáveis por sua agonia.

L.A.B.. como relata a reportagem, foi apanhada na cidade de Abaetetuba tentando furtar um celular e uma correntinha de prata pertencentes, para seu azar, ao sobrinho de um investigador de polícia da delegacia local. Chamados pelo rapaz, o tio e dois colegas levaram a garota, um toco de gente com menos de 40 quilos de peso e 1,5 metro de altura, para a delegacia da cidade - onde foi trancada numa cela com mais de vinte homens. L.A.B. ficou 26 dias presa, durante os quais foi estuprada regularmente, cinco ou seis vezes por dia. Não se cogitou no seu caso na possibilidade, digamos, de uma prisão domiciliar, alternativa que o bondoso ministro Celso de Mello, do STF, acaba de abrir, em nome do cumprimento rigorosíssimo da lei, para gigantes de nossa vida política condenados no mensalão. Não se cogitou, sequer, no fato de que ela era menor de idade, que não podia ser presa nem, menos ainda, jogada num xadrez exclusivamente masculino. L.A.B., na verdade, foi presa dentro da prisão: arrastada para o fundo da cela. de onde não podia ser vista, tinha a sua miserável comida confiscada pelos outros presos, que só lhe permitiam comer se não desse trabalho durante os estupros. Não tinha direito a prato - precisava pegar sua comida direto do chão. À noite, era acordada por chamas de isqueiro ou pontas de cigarro, quando algum dos presos requeria os seus serviços.

A título de ilustração, um deles, o mais ativo de todos, respondia pelo apelido de "Cão". Que tal?

O mais interessante do caso, talvez, é que as autoridades locais legalizaram, a seu modo. todo o procedimento. A delegada Flávia Verônica Pereira autorizou a prisão de L.A.B. quando a menina lhe foi entregue pelos investigadores que a capturaram. Dois dias depois, a juíza Clarice Maria de Andrade assinou seu auto de prisão em flagrante, sabendo perfeitamente, como a delegada, o que iria acontecer na cela lotada de machos. O desfecho da história é um retrato admirável do Brasil de 2013. Quando o caso começou a fazer ruído na imprensa, L.A.B. foi solta - e desde então, nestes seis anos, nunca mais se ouviu falar dela. Os únicos punidos foram "Cão" e um de seus comparsas, que já estavam presos. A juíza Clarice, a mais graduada responsável pelo episódio, não sofreu processo penal. Foi apenas aposentada, mas recorreu até chegar ao STF - que anulou em 2012 a punição, por julgá-la "excessiva". Hoje a doutora Clarice é juíza titular em outra comarca do Pará.
Este é o Brasil que não muda.
Por: J. R. Guzzo Revista Veja

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O MUNDO QUE FUNCIONA É BIPARDIDÁRIO; BRASIL CAMINHA NO SENTIDO INVERSO. E NÃO FUNCIONA

Eu poderia começar o texto assim: “Toda grande democracia do mundo é bipartidária”. Mas seria inexato. De fato, todas as democracias do mundo, grandes ou pequenas, são bipartidárias, ainda que haja dezenas de partidos. Nos EUA, por exemplo, chegam perto de… 80!, mas só dois têm condições efetivas de governar o país: o Democrata e o Republicano. Na Alemanha, a CDU (União Democrata-Cristã) sempre aparece unida (ou separada) da CSU, a União Social-Cristã, por um hífen. É que particularidades regionais fazem com que a CDU se chame, na Baviera, CSU… Legendas médias, pequenas ou nanicas, mundo democrático afora, orbitam em torno de dois grandes núcleos: um poderia ser definido, genericamente, como “progressista”, e o outro, como “conservador”.


“Progressista” e “conservador” em relação a quê? Às mais diversas questões, que vão da economia (mais distributivista ou menos, mais estatista ou menos) aos valores (mais libertários ou menos em matéria de costumes). Cada um desses núcleos forma um imaginário, e os eleitores fazem as suas escolhas de acordo com as demandas tornadas urgentes. Nos EUA, há um virtual empate entre democratas e republicanos; na Alemanha (desconsidero a unificação), também: com particularidades nas quais não vou entrar, o fato é que a democracia-cristã deu as cartas entre 1949 e 1969; o comando do jogo passou para a social-democracia entre 1969 e 1982; voltou para os democracia-cristã entre 1982 e 1998, foi retomada pela social-democracia entre 1998 e 2005 e voltou para os conservadores — Merkel acaba de ser reeleita. Cito dois sistemas tão distintos para evidenciar que não é a forma de governo que determina nem a polarização nem a alternância. O regime parlamentarista pode ter ciclos mais longos de domínio de um partido — domínio que não implica esmagamento da oposição.

Se a livre organização partidária é própria das democracias, a fragmentação do Parlamento numa miríade de pequenos partidos pode ser um sintoma de doença, a atentar contra a saúde do próprio sistema. A bagunça existente no Brasil, que só tende a crescer, o evidencia à farta. É curioso: Banânia deve ser o país do mundo livre que mais estabeleceu regras e cláusulas para a formação de partidos. Não por acaso, creio, é aquele em que o Parlamento mais está fragmentado. Para a alegria e felicidade dos brasileiros? Não! Para a sua desgraça.

O que distingue, por exemplo, o PSD, a quarta maior bancada da Câmara, depois do troca-troca, do PMDB? São os métodos? É o credo (“nem de direita, nem de esquerda nem de centro)? É o quê? E o Solidariedade? Não é tucano — ou mesmo petista — por quê? Notaram que a imprensa, e não sem motivos, chama o primeiro de “o partido de Kassab” e o segundo de “o partido de Paulinho”? O tempo passa, e o sistema regride: era evidente que essa fragmentação passaria a conviver com uma espécie de privatização de partidos. Há uma afeganistanização do Parlamento, que passa a ser dominado por “Senhores da Guerra”.

Vejam que pitoresco. Mesmo depois de mais de 10% dos deputados terem mudado de legenda, o governo continua a contar com o apoio de escandalosos 75% da Câmara. Em nenhuma democracia do mundo se tem oposição tão nanica. Nem na ditadura venezuelana. É evidente que isso não reflete a vontade expressa nas urnas há três anos. Boa parte dos agora parlamentares do PSD, por exemplo, foi eleita para fazer oposição. E é situação. Há, sim, um ou outro que fizeram o caminho contrário, mas em menor número. O tal PROS, nascido para ser governista, já recebeu parlamentares eleitos para combater o petismo.

O que pesa nessas decisões? Convicção? Não! Grupos vão se organizando para arrancar benesses do poder. Não são direta, esquerda, centro; não são governistas nem oposicionistas; não são “progressistas” ou “conservadores”. São apenas candidatos a sócios do poder, qualquer que seja ele. Por mim, a criação de partidos seria ainda mais livre do que hoje, sem exigência de assinaturas ou sei lá o quê. Mas também não haveria fundo partidário, horário político gratuito — e eleitoral tampouco.

A bagunça na legislação que regula a formação dos partidos — de um lado, cartorial e burocratizada; de outro, relaxada a mais não poder — é uma das raízes do problema. A outra são os superpoderes de que dispõe o Executivo. Se as democracias que funcionam são, na prática, bipartidárias, a nossa, vejam vocês, vai caminhando no sentido inverso. O assunto está longe de se esgotar. Agora mesmo, saúda-se a união de Marina Silva com Eduardo Campos como rompimento de uma polarização que se julgava negativa. Muito bem: digamos que isso fosse verdade, cabe perguntar: ela estaria se rompendo em nome exatamente do quê?
Por Reinaldo Azevedo

VERDES NADA FAZEM PELOS MAIS NECESSITADOS ANTE IMINÊNCIA DE ESFRIAMENTO GLOBAL

A atividade solar desenvolve-se em ciclos estudados e conhecidos pelos cientistas. Essa atividade atingiu um auge durante o período compreendido entre a década de 90 e o ano 2000.


Mas agora entramos numa fase minguante, sendo provável que venha um período de invernos e temperaturas globais tendentes ao frio.

Nesse sentido, os cientistas mais equilibrados falam que a era do arrefecimento global já começou.

Mas nada de temores insensatos; não é preciso sair para reformar o mundo. Haverá anos mais frios que os anteriores, e ponto final.

O mundo continuará, como diz o ditado popular, “como antes no quartel de Abrantes”, talvez com um cobertor ou um cachecol a mais no inverno.

O jet-set da mídia e do ambientalismo radical pouco liga para “minúcias” da natureza como os imensos fenômenos no sol.


Atividade solar entrou numa fase minguante. Isso está gerando uma tendência ao arrefecimento na Terra. Previsão do próximo ciclo solar pela NASA.

E não poucas vezes desconhece a natureza que diz defender.

Se eles não estão advertindo os homens sobre o esfriamento em curso é porque na cartilha neocomunista ambientalista está escrito o contrário do que acontece na natureza.

Se o arrefecimento global, embora restrito, pegar despreparados os países menos desenvolvidos, muitos deles poderão sofrer uma diminuição na colheita de culturas tradicionais.

Sem as adaptações e modernizações necessárias, poderão sentir falta de riquezas, de energia e até de alimentos.


Ambientalistas se beneficiam com lindos e custosos encontros mundiais e bons salários. Porém, não pensam em alertar e preparar as possíveis vítimas do esfriamento.

Mas – como observou Jeffrey Folks, autor de vários livros sobre a política americana – os ativistas ambientalistas nada padecerão bem entrincheirados como estão nos escritórios de ministérios, ONU, ONGs e transnacionais.

Bem instalados e bem pagos, continuam eles a pregar utopias socialistas sob o pretexto de “salvar a Terra”.

Folks fala dos EUA sob a presidência Obama, mas seu arrazoado vale para muitos outros países, notadamente o Brasil onde leis e impostos estrangulam os produtores rurais que são os verdadeiros conhecedores da nossa natureza.

Os preparativos para a mudança climática rumo ao frio não exigem revoluções, nem novos Códigos florestais, nem Protocolos internacionais mirabolantes.

Pedem apenas uma coisa: liberdade. Com ela e o auxílio de institutos de pesquisa como o Embrapa, assistidos por novos métodos e tecnologias, os proprietários saberão como adaptar as atividades locais do agronegócio às novas circunstâncias.

Tecnologias permitem progredir num clima que está sempre mudando.

Circunstâncias essas que vão variar muito segundo as regiões e os cultivos, mas que sendo lentas e graduais, darão tempo para as devidas adaptações.

Para Folks, o problema é que os ambientalistas neocomunistas dão mostra de uma fabulosa falta de interesse pelos mais necessitados, e uma empedernida antipatia ideológica em relação aos empreendedores particulares bem-sucedidos.

E por isso mesmo que centenas de milhões de americanos – e também de brasileiros, acrescentamos nós – podem levar surpresas em seus estilos de produção, de alimentação e até de aquecimento de suas casas, como diz Folks.

Nesse cenário futuro, a culpa não vai ser da “mudança climática”, mas de uma ideologia antinatural que se disfarça de ecológica para impulsionar países como o Brasil rumo ao inferno neocomunista.

Por: Luis Dufaur, escritor, edita o blog Verde, a cor nova do comunismo.

UNAMUNO: MENTIRA SE REPETE AS NAUSEAM


No século passado, os comunistas criaram mentiras que vararam o século todo e vieram desembocar neste. A mais berrante – e tão absurda quanto a ressurreição do Cristo – foi elaborada em torno da tela Guernica, de Picasso.

O malaguenho havia pintado uma tela de oito metros de largura por três e meio de altura, intitulada La Muerte del Torero Joselito, plena de cores fúnebres, que iam do preto ao branco, em homenagem a um amigo seu, o toureiro Joselito, morto em uma lídia. O quadro ficara esquecido em algum canto de seu ateliê. Ao receber uma encomenda para o pavilhão republicano da Exposição Universal de Paris de 1937, Picasso lembrou do quadro. Foi quando, para fortuna do malaguenho, em 26 de abril daquele ano, a cidade de Guernica foi bombardeada pela aviação alemã. Ali estava o título e a glória, urbi et orbi.

Uns retoques daqui e dali, e Picasso deu nova função ao quadro. No entanto, multidões hipnotizadas pela propaganda comunista, vêem em uma cena de arena, com cavalo, touro e picador, uma homenagem aos mortos de Guernica. De um só golpe de pincel, o vigarista malaguenho traiu a memória do amigo e mentiu para a História.

Hoje se conhece o embuste, embora as esquerdas continuem repetindo ad nauseam a versão mentirosa. Não passa mês sem que algum jornal atribua o quadro ao bombardeio da cidade basca. Outra mentira, também ad nauseam repetida, versa sobre o ocorrido na Universidade de Salamanca, no 12 de outubro de 1936, Día de la Raza.

No Estadão de ontem, Gilles Lapouge, o correspondente do jornal em Paris – que vive sempre em cima do muro, mas quando balança, balança para a esquerda – repete a farsa mil vezes repetida.

“Em 12 de outubro de 1935, uma cerimônia é realizada na Universidade de Salamanca por soldados fascistas. O general franquista Milan Astray, homem caolho, manco e perneta, pronuncia um discurso que termina com essa frase: "Viva a morte!". “O reitor da Universidade de Salamanca é o grande filósofo Miguel de Unamuno (O sentimento trágico da vida). É um homem de direita, mas não é fascista. Ele toma a palavra. "Acabo de ouvir um grito insano e desprovido de sentido, 'Viva la muerte'. É um grito bárbaro, repugnante." Na sala, desencadeia-se a desordem. O general fascista repete mecanicamente: "Viva a morte! Morte à inteligência!" 

“Os legionários fascistas marcham na direção do filósofo Unamuno. Este se retira dignamente em meio ao público vociferante. Morrerá alguns dias mais tarde, no último dia do ano de 1936. De tristeza”.

Lapouge começa errando a data. O episódio ocorreu em 36, três meses após a eclosão da guerra civil. Isso é o de menos, vamos que seja erro de digitação. O mais grave é o que o correspondente omite. Que Unamuno, naquele momento, era mais franquista que Astray, se é que podemos falar de franquismo já naqueles dias. Pois Unamuno, na cerimônia, representava nada menos que Francisco Franco. E se morreu de tristeza, não foi pela ofensiva de Franco.

Deste engodo, participou até mesmo o culto Fernando Henrique Cardoso, em 2005, em artigo para o Estadão, intitulado "Democracia e Terrorismo". Assim termina seu artigo:

"A Espanha heróica que, na pessoa de Miguel Unamuno, um de seus maiores pensadores, se indignou com os que proclamaram, durante a guerra civil, 'Viva a Morte! Abaixo a Inteligência!', haverá de inspirar-nos, una vez mais, para a reafirmação da esperança na paz, na democracia ou na vida".

Marxismo é como caxumba - costumo afirmar - ou dá na idade certa ou deixa seqüelas. FHC, pelo jeito, persistiu no obscurantismo além da idade normal do fenômeno. De seu artigo se depreende que um Unamuno republicano enfrentou, na Universidade de Salamanca, perversos militantes franquistas.

Vamos aos fatos. Como ocorreram, e não como a imprensa conta. Na verdade, o reitor foi salvo da ira de Astray e da vaia de muitos dos presentes por Doña Carmen Pollo, mulher de Franco, que o conduziu pelo braço até uma viatura do Quartel General. No entanto, ao referir-se ao episódio, não há redator que não se refira ao "intelectual anti-franquista Miguel de Unamuno".

Em História Ilustrada de la Guerra Civil, Ricardo de Cierva considera o episódio maltratado pela propaganda, silenciado pelos testemunhas autênticos e tergiversado por comentaristas empenhados em com ele demonstrar uma ou várias teses preconcebidas.

"Celebrava-se no Paraninfo da Universidade de Salamanca a Fiesta de la Raza. Assistia o ato a esposa do recém nomeado chefe de Estado, Dona Carmen Polo de Franco. Presidia a cerimônia o reitor da Universidade, don Miguel de Unamuno. Também estavam presentes, entre outras personalidades, José María Pemán e o general Millán Astray. Este último, em um breve discurso, intercalou um inciso inoportuno no qual confundiu regionalismo com separatismo. Invocou logo a Morte, noiva de sua Legião. Feito o silêncio, todos os olhares convergiram para don Miguel de Unamuno".

Millán Astray era um general de Infantaria, que havia participado das campanhas das Filipinas e Marrocos. Nesta última, perdera um olho e um braço. Julián Zugazagoitia o descreve como um "general recomposto com garfos, madeiras, cordas e vidros". Em sua alocução, falara dos dois cânceres que corroem a Espanha: País Basco e Catalunha. Unamuno, basco e iracundo, tomou a palavra.

- Calar, às vezes, significa mentir - disse o reitor com voz firme - porque o silêncio pode ser interpretado como aquiescência. Eu não poderia sobreviver a um divórcio entre minha consciência e minha palavra, que sempre formaram um excelente par. Serei breve. A verdade é mais verdade quando se manifesta desnuda, livre de adornos e palavrório. Gostaria de comentar o discurso - para chamá-lo de alguma forma - do general Millán Astray, que se encontra entre nós.

Segundo o relato de Luis Portillo, em Vida y martírio de don Miguel de Unamuno, o general tornou-se rígido.

- Deixemos de lado - continuou Unamuno - o insulto pessoal que supõe a repentina explosão de ofensas contra bascos e catalães. Eu nasci em Bilbao, em meio aos bombardeios da segunda guerra carlista. Mais adiante, me casei com esta cidade de Salamanca, tão querida, mas sem esquecer jamais minha cidade natal. O bispo, queira ou não, é catalão, nascido em Barcelona.

Após uma pausa em meio ao silêncio tenso, continuou:

- Acabo de ouvir o grito necrófilo e sem sentido de Viva a Morte! Isto me soa o mesmo que Morra a Vida! E eu, que passei toda minha vida criando paradoxos que provocaram o enfado dos que não os compreenderam, tenho de dizer-lhes, como autoridade na matéria, que este ridículo paradoxo me parece repelente. Posto que foi proclamado em homenagem ao último orador, entendo que foi dirigida a ele, se bem que de uma forma excessiva e tortuosa, como testemunho de que ele mesmo é o símbolo da morte. E outra coisa! O general Millán Astray é um inválido. Não é preciso dizê-lo em tom mais baixo. É um inválido de guerra. Também o foi Cervantes. Mas os extremos não servem como norma. Desgraçadamente, há hoje em dia inválidos demais na Espanha e logo haverá mais, se Deus não nos ajuda. Um inválido que careça da grandeza espiritual de Cervantes, que era um homem - não um super-homem - viril e completo apesar de suas mutilações, um inválido, como disse, que careça dessa superioridade do espírito, costuma sentir-se aliviado vendo como aumenta o número de mutilados em torno a si. O general Millán Astray gostaria de criar uma Espanha nova - criação negativa, sem dúvida - segundo sua própria imagem. E por isso desejaria ver uma Espanha mutilada, como inconscientemente deu a entender.

Astray não consegue conter-se e grita:
- Morra a inteligência!
José María Pemán corrige:
- Não! Viva a inteligência! Morram os maus intelectuais!

Há um alvoroço no Paraninfo, professores togados cercam Unamuno, os camisas azuis se juntam em torno a Astray. Unamuno retoma a palavra:

- Este é o templo da inteligência. E eu sou seu sumo sacerdote. Vós estais profanando seu recinto sagrado. Eu sempre fui, diga o que diga o provérbio, um profeta em meu próprio país. Vencereis mas não convencereis. Vencereis porque tendes sobrada força bruta. Mas não convencereis, porque convencer significa persuadir. E para persuadir, necessitais algo que vos falta: razão e direito de luta. Me parece inútil pedir-vos que penseis na Espanha. Tenho dito...

A esposa do general Franco, rodeada por sua escolta, toma Unamuno pelo braço e o conduz até a porta da Universidade, onde o esperava um carro do Quartel General. Mas a narração soa melhor aos ouvidos dos leitores - amestrados por um pensamento de esquerda - mostrando Astray como franquista, afinal era general. Unamuno - basco, filósofo e reitor de uma universidade - só poderia ser antifranquista. Para vender, os jornais transmitem ao leitor o que o leitor gosta de comprar. A mentira impressa passa então a fundamentar teses e tende a fixar-se como História. Mas os fatos são teimosos e, mais dia menos dia, mostram sua verdadeira face.

Há um sofisma safado na frase final de FHC. Ele mescla realidades completamente distintas. Ao falar "na Espanha heróica que, na pessoa de Miguel de Unamuno, se indignou...", está falando em verdade na Espanha do gerenalíssimo Franco Franco de Bahamonde - que salvou a Espanha e a Europa do totalitarismo soviético – representado naquela cerimonia por Unamuno. Mas FHC jamais admitiria tal fato. Seria renegar toda sua vida. Conclui então sua frase com outra completamente oposta: "...se indignou contra os que proclamaram, durante a guerra civil, 'Viva a Morte! Abaixo a Inteligência!".

A frase, proferida no ardor do debate, é de uma infelicidade extrema. Mas Millán Astray e José Maria Pemán, naquele momento, representavam o pensamento do mesmo Francisco Franco que Unamuno também representava. Ambas as partes defendiam o mesmo lado. O qüiproquó era outro: o confronto entre os nacionalismos do galego - como Franco - Millán Astray e do basco Miguel de Unamuno. 

Gilles Lapouge também age com má-fé. É difícil conceber como um jornalista francês, com acesso à farta bibliografia e à história do país vizinho, possa proferir tal bobagem. Oito décadas após a Guerra Civil Espanhola, ainda prevalece a mentira dos comunistas.
Por Janer Cristaldo

domingo, 6 de outubro de 2013

A RESPONSABILIDADE DE STF

Só quando instado por jornalistas, opinei sobre o processo chamado “mensalão”. E não entrei na seara que é própria dos juízes: que réus deveriam ser absolvidos ou condenados e, neste caso, a quantos anos. Pessoalmente não me movem impulsos punitivos e muito menos vingativos. A maioria dos réus não cruzou comigo na vida pública; em geral seus modos de agir e pontos de vista políticos não coincidem com os meus. Mantive, é certo, um relacionamento cordial com os que tiveram mandato parlamentar. Embora entendendo as reações de indignação dos que pedem punição rápida, achei que não deveria entrar neste coro. É óbvio que existe nas ruas um sentimento de dúvida, quando não de revolta, com os resultados ainda incertos do julgamento. Afinal, para a maioria dos brasileiros, trata-se de uma das poucas vezes em que habitantes do “andar de cima”, como se os qualificam no falar atual, estão no pelourinho.


Agora, quando boa parte das águas já rolou, dá para comentar de modo menos emotivo o que aconteceu na fase quase final do julgamento e seus possíveis desdobramentos. Não cabem dúvidas de que a sensação de impunidade que a maioria das pessoas sente decorre menos das decisões do que da demora no término do processo. Há várias explicações para tal demora: a complexidade do julgamento com pessoas de tão alta responsabilidade política; o STF não estar habituado e talvez nem preparado para atuar como instância penal originária; os Códigos de Processo que abrem espaço a um sem-número de recursos, etc. Para o povo, nada disso é compreensível ou justificável. Por que demorar tanto?

Na primeira fase, a competência do ministro relator, ao encadear as fases, e os grupos de implicados, em um enredo de lógica compreensível, e a minúcia com que os juízes debateram o caso mostraram com clareza que houve desvio de dinheiro público e privado, não apenas para cobrir gastos de campanha, como afirmou o presidente Lula, mas também para obter a lealdade de partidos e congressistas mediante recebimento de dinheiro.

A dosimetria, no dizer juridiquês, a atribuição de penas específicas aos culpados, escapou à atenção do povo. O ponto culminante na primeira fase do julgamento foi determinar quem foram os mandantes. Independentemente da doutrina do domínio do fato, ou seja, quem, sabedor dos atos ilícitos, podia mandar seguir adiante ou interrompê-los, formou-se na opinião pública a convicção de que os mais notórios personagens, por menos rastros que tivessem deixado, foram, sim, responsáveis.

Mesmo sem conhecimento jurídico, a maioria das pessoas formou um juízo condenatório. As decisões dos juízes comprovaram — em geral por 9 x 2, 8 x 3 ou, mais raramente, 7 x 4, quando não por unanimidade — o veredicto popular: culpados. A opinião pública passou a clamar por castigo. A decisão de postergar ainda mais a conclusão do processo, graças à aceitação dos “embargos infringentes”, recurso de que só os doutos lembravam e sabiam dizer no que consistia, caiu como ducha de água fria. Por mais que o voto do ministro Celso de Mello tenha sido juridicamente bem fundamentado, ressaltando que o fim dos embargos infringentes no STF foi recusado pela Câmara dos Deputados quando do exame do projeto de lei que suprimiu esses embargos nos demais tribunais, ficou cristalizada na opinião pública a percepção de que se abriu uma chance para diminuir as penas impostas.

Tal abrandamento implicará mudança de regime prisional apenas a membros do “núcleo político”. Se essa hipótese vier a se confirmar, estará consagrada a percepção de que “os de cima” são imunes e só os “de baixo” vão para a cadeia. O que às pessoas mais afeitas às garantias dos direitos individuais e menos movidas por sentimentos de vingança pode parecer razoável, à maioria da população parece simplesmente manobra para que o julgamento seja postergado, nunca termine, e o crime continue sem castigo. Tanto mais que metade do Supremo encontrou argumentos para negar a vigência dos embargos infringentes naquela Corte.

É fato notório, ademais, que todo o edifício jurídico-constitucional se constrói sobre realidades políticas. A indicação de dois novos membros do STF pelo governo, depois de tantos rumores de conversas com candidatos para comprometê-los com um comportamento brando no julgamento do mensalão, e a infausta tentativa do presidente Lula de pedir a um ministro para não votar logo o processo exemplificam a contaminação da pureza jurídica pelas pressões políticas. O último voto sobre os embargos infringentes — sem que esta fosse a intenção do ministro que o proferiu — deu a sensação de que haverá um abrandamento das penas. Sensação que se reforça quando os juízes recém-nomeados dizem que, havendo novo julgamento, poderiam opinar de modo contrário ao da maioria anterior.

Reitero: pessoalmente não me apraz ver pessoas na cadeia. Mas isso vale para todos, não só para os políticos ou para os do “andar de cima”. E há casos nos quais só o exemplo protege a sociedade da repetição do crime. A última decisão do tribunal agrava a atmosfera de descrédito e desânimo com as instituições. Em uma sociedade já tão descrente de seus líderes, com um sistema político composto por mais de 30 partidos, em um ambiente corroído pela corrupção, com um governo com 40 ministérios, uma burocracia cada vez mais lenta e penetrada por interesses partidários, não teria sido melhor evitar mais uma postergação reforçando a descrença na Justiça?

Ao acolher os embargos infringentes, o STF assumiu responsabilidade redobrada. Ao julgá-los, sem se eximir de ser criterioso, o tribunal deverá cuidar para decidir com rapidez e evitar a percepção popular de que tudo não passou de um artifício para livrar os poderosos da cadeia.

Por: Fernando Henrique Cardoso O Globo