segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

COMO A INTERNET NOS ENSINA OS BENEFÍCIOS DO LIVRE MERCADO

A World Wide Web foi inventada em 1992 pelo físico britânico, cientista da computação e professor do MIT Sir Tim Berners-Lee como um simples mecanismo de compartilhamento de artigos científicos entre seus colegas. A essencial e principal inovação da rede foi o uso do hipertexto — o mecanismo pelo qual, ao clicarmos em um link, normalmente uma palavra ou uma frase que aparece em destaque, fazemos automaticamente o download de um documento. Embora esta seja uma ideia muito simples, a rede mudou completamente o mundo em que vivemos. Seu surgimento e sua ascensão são também um esplêndido exemplo do que acontece quando o setor privado é deixado desimpedido e com plena liberdade para suprir as necessidades do mercado.

Apesar de sua grande complexidade e do seu rápido progresso ao longo dos últimos 10 anos, a internet e todas as pessoas que interagem através dela é um arranjo que funciona basicamente sem qualquer tipo de intervenção estatal. Os web designers (pessoas que elaboram o projeto estético e funcional de um website) não necessitaram de ajuda do governo para desenvolver as habilidades necessárias para criar websites cada vez mais complexos; os profissionais de tecnologia da informação não ficaram esperando por relatórios oficiais dizendo como e quando eles teriam de se adaptar às mudanças tecnológicas; e as empresas foram rápidas em oferecer toda uma gama de serviços — sempre em constante evolução — necessários para que a internet funcionasse harmoniosamente. 

Em outras palavras, o setor privado se adaptou à nova realidade; e se adaptou muito rapidamente. Os mecanismos do livre mercado fizeram aquilo que sempre fazem — se apressaram para satisfazer as demandas do consumidor. Isso se refletiu não apenas na ampla variedade de produtos disponíveis, mas também na rápida queda nos preços de praticamente tudo que diz respeito à internet. Dez anos atrás, ter uma página pessoal na internet era uma ideia cara, principalmente se você necessitasse de algo mais profissional ou refinado. Hoje, por meio de blogs ou serviços como o Facebook, é tudo gratuito. No geral, os custos de entrada — quando consideramos o custo do treinamento que era necessário há apenas uma década e que hoje acabou — não simplesmente caíram; eles evaporaram. Esse baixo custo de entrada permitiu que uma grande variedade de indivíduos e empresas comercializassem online, fornecendo substanciais opções para os consumidores. 

Embora o crescimento que temos visto da internet seja excepcional, trata-se apenas de uma versão mais rápida de algo que o capitalismo faz muito bem: satisfazer uma miríade de necessidades em uma sociedade diversa. É difícil imaginar um melhor exemplo do livre mercado em ação. 

Igualmente importante é o que não aconteceu. A internet está predominantemente à margem de controles governamentais, e fornece inúmeros exemplos de como a livre iniciativa pode empreender em larga escala tarefas que muitos estatistas alegam que podem ser feitas apenas pelo setor público. Rotineiramente ouvimos que a mão condutora do estado é necessária para a execução de projetos complexos. Porém, a própria internet em si, com seu incontável número de computadores interconectados, é uma das entidades mais complexas já criada pelo ser humano, e grande parte dela cresceu sem absolutamente qualquer tipo de planejamento. 

Similarmente, o governo sempre intervém quando julga haver algum perigo para o público — daí as regulamentações sobre o uso de remédios, as regulamentações sobre o mercado em geral e as leis antifraude. Porém, é evidente que a internet, como exemplo de um mercado relativamente livre, frequentemente derruba esses argumentos pró-intervenção. O crescente comércio de remédios online — de antibióticos até infindáveis propagandas de Viagra — demonstra a disposição de vários em obter suas próprias informações e em tomar suas próprias decisões, mesmo que isso traga algum risco pessoal. 

Estatistas frequentemente argumentam que o governo deve regular padrões e critérios. Porém, a internet em si foi toda construída utilizando padrões voluntariamente escolhidos e consentidos de maneira comum, padrões estes que permitem que qualquer navegador de internet decifre qualquer página publicada online. Novamente, houve poucas fontes centrais para que isso ocorresse; o mercado, na forma de web designers, programadores e usuários, escolheu voluntariamente quais métodos deveriam ser utilizados em comum para manejar a imensa variedade de diferentes websites, desde sites de publicação e transmissão de vídeos, passando por sites de compras virtuais até a própria formatação de textos utilizada. Nada disso requereu leis ou regulamentações, e seu progresso extremamente rápido foi voluntário e benéfico para todos. 

Inversamente, sempre houve tentativas de se criar por escrito padrões definidos e implementados por várias organizações virtuais, mas tais projetos sempre estiveram defasados em anos. A realidade da internet sempre progrediu mais rápido do que todas essas tentativas de planejamento central. A lição é simples: vários indivíduos e organizações interagindo com o público e operando competitivamente sempre irão continuamente desbravar uma miríade de alternativas, sendo esse um processo natural cujo resultado final será, por definição, um reflexo das escolhas diretas feitas pelas pessoas. 

A fraude é uma atividade criminosa que, justamente por ser criminosa, é vista como uma área natural em que o governo deve intervir. Porém, mesmo nessa área podemos ver como um livre mercado lida com essa atividade. Não obstante as vigorosas tentativas de fraudadores, o público em grande medida aprendeu a lidar com as fraudes online. E-mails spam são rapidamente deletados, e isso quando conseguem furar o bloqueio dos filtros anti-spam especialmente desenvolvidos por engenheiros de software e vendidos tanto para provedores de acesso à internet quanto para indivíduos. Empresas privadas em busca do lucro têm reputações a proteger, o que as estimula a declarar explicitamente aos seus consumidores que elas jamais se comunicam por meio de canais inseguros, como e-mails, e que elas só irão pedir informações confidenciais — como um número de cartão de crédito — quando houver um elaborado programa de segurança, como aqueles que existem em seus websites seguros e criados sob medida. 

Em outras palavras, o mercado se adaptou à realidade, em parte por meio de campanhas informativas visando à educação dos usuários, em parte por meio de mudanças voluntárias de comportamento. Uma coisa é certa: nenhuma intervenção governamental foi necessária. Porém, não é difícil imaginar uma proposta estatista visando a limitar os malefícios causados por e-mails fraudulentos e outras trapaças virtuais. Sem dúvida, isto envolveria uma série de regulamentações para tentar controlar aquelas pessoas que potencialmente poderiam mandar essas perigosas mensagens eletrônicas para pessoas inocentes e tecnologicamente ineptas. O tom da propaganda em prol da intervenção iria enfatizar a incapacidade das pessoas entenderem as complexidades dos sistemas online — daí a necessidade de qualificações e especializações aprovadas pelo governo. 

Uma das principais denúncias feitas pelos estatistas que querem controlar a internet diz respeito ao papel ostensivo que o governo deve ter em controlar o acesso a materiais perturbadores, como pornografia infantil ou encenações de estupro. A atual legislação sobre material impresso e televisivo é apontada como um exemplo dessa necessária intervenção; é claro que ela deveria ser atualizada para incluir também a internet, certo? Porém, em um livre mercado, bens e serviços são determinados pela demanda do consumidor, e a demanda por material obsceno nos moldes prescritos pela atual legislação é virtualmente inexistente. A internet em sua atual forma certamente abriga conteúdo ilegal, mas este não está prontamente disponível; ele tem de ser específica e exaustivamente caçado na deep web, e podemos assumir que tal conhecimento requer uma rede preexistente que não depende da internet. 

Aqueles que exigem mais regulamentação sobre a internet frequentemente declaram que seu objetivo é impedir que cidadãos desafortunados vejam acidentalmente esse tipo de pornografia extrema. O principal apelo é que temos de nos assegurar que os inocentes e ingênuos não encontrem por acaso esse material. Como dito, esse cenário ignora o fato de que o produto (no caso, o conteúdo virtual) é determinado pelo mercado. Conteúdos repreensíveis são difíceis de ser encontrados online pelo mesmo motivo que eles não são televisionados no horário nobre — porque quase ninguém quer vê-los. 

Essa alegação dos estatistas também ignora o ponto de vista dos provedores de conteúdo. Todo grande website que aceita conteúdo enviado pelo público possui estritas regras de governança que definem o que é considerado aceitável. Nenhuma empresa pode se dar ao luxo de se associar a qualquer coisa que o público considere desagradável, seja o conteúdo legal ou não. 

Muitas pessoas confundem seus sentimentos. Uma coisa é desejar que a lei seja aplicada; outra, bem diferente, é querer que o governo encontre uma maneira de tomar o controle de um meio de informação porque as pessoas o utilizam para propósitos ilegais. Isso é análogo a dizer que o estado deve controlar as ruas porque elas às vezes são utilizadas por assaltantes de banco. Ninguém levaria tal lógica a sério; entretanto, é exatamente essa a lógica por trás das propostas para o controle estatal da internet. 

Legislações criadas para proteger os usuários da internet contra exposições casuais a pornografia infantil de nada servem para impedir a produção e o armazenamento deste material online, pois isso já é ilegal e ocorre mesmo assim. Já os provedores de conteúdo, entretanto, têm todos os incentivos para controlar o acesso a esse material, pois dependem da boa vontade de sua audiência. Ou seja, o livre mercado fornece um método bem mais eficiente de regulação, pois os fornecedores de conteúdo têm fortes incentivos para se autorregularem baseando-se no fato de que a pornografia extrema é repugnante. Qualquer tentativa do estado de atacar essa reduzida e restrita área — como, por exemplo, instalando firewalls controlados pelo governo — significaria um ataque sobre todos nós. Mais ainda: o estado simplesmente utilizaria esse 'potencial para atividades ilegais' como desculpa para monitorar todos os cidadãos. 

O meteórico sucesso da internet é praticamente um exemplo clássico de livro-texto libertário sobre os benefícios dos mercados irrestritos. Quando as pessoas entendem que estão no controle e que suas atitudes têm influência, as coisas acontecem. O mercado fornece, e as pessoas escolhem de acordo com as opções. Quanto mais opções elas tiverem, mais concorrência haverá, e maior a probabilidade de nossas demandas serem atendidas. Ademais, indivíduos não são criaturas estáticas. Algo que 15 anos atrás era de domínio exclusivo de usuários com conhecimento avançado de computação tornou-se uma experiência simples e rotineira para muitos — algo não mais desafiador do que utilizar o telefone ou um forno microondas. 

Essa explosão no crescimento da internet deveria acabar de uma vez por todas com as críticas frequentemente feitas aos ideais libertários — que eles são uma fantasia porque não se pode confiar que cidadãos ignorantes interagindo com o setor privado irão atender às necessidades da sociedade, e que coisas importantes só podem ser manuseadas por aqueles que trabalham por um ideal elevado, e não pelo lucro. 

Há vários outros exemplos parecidos com o da internet, nos quais o governo não intervém ou não é capaz de intervir — e ainda assim (ou justamente por causa disso) as coisas funcionam muito bem. O sucesso da internet, e o claro papel desempenhado pelo público consumidor, que fez com que a internet se desenvolvesse de acordo com seus anseios, demonstra a capacidade da sociedade em conseguir o que quer de um livre mercado. 

Agora que começamos a ouvir murmúrios advindos da classe política sobre a necessidade de se regular a internet para nos proteger da pornografia, do jihadismo ou de qualquer tipo de fraude, é imperativo resistirmos a todo e qualquer apelo por mais controle estatal. Governos não são competentes para controlar nada, muito menos a internet. Sua intervenção lograria apenas diminuir nossa capacidade de fazermos nossas próprias escolhas. O estado quer retirar de nós a capacidade de tomarmos decisões de acordo com nossos gostos e preferências, direcionando arbitrariamente esse poder para a própria classe política, que então escolheria um modelo estatal qualquer de sua preferência. E tudo para nos proteger. 

Como a própria internet já demonstrou, qualquer proteção de que porventura necessitemos no futuro nos será rapidamente fornecida como que por mágica, precisamente porque um livre mercado responde diretamente às necessidades das pessoas. 
Gerard Docherty é designer de software e escreve sobre variados assuntos, dentre eles livre mercado, liberdades civis e tecnologia. Mora no Reino Unido.
Do site: http://www.mises.org.br/

domingo, 23 de fevereiro de 2014

POBRE VENEZUELA! TERÁ DE PIORAR MUITO ANTES DE MELHORAR!

Pobre Venezuela! Terá de piorar muito antes que melhore! Sofrerão mais, como sempre, os pobres e os vulneráveis. O leitor fique atento: tudo aquilo que as esquerdas reivindicam por aqui — inclusive as esquerdas do PT — foi rigorosamente cumprido na Venezuela: a radiodifusão foi estatizada; o estado decide plenamente os rumos da economia e determina o preço até do papel higiênico; os produtores rurais foram considerados sabotadores do socialismo, e o país praticamente parou de produzir alimentos; a esmagadora maioria dos pobres vive da caridade oficial disfarçada de programas de redistribuição de renda; o Poder Judiciário obedece às determinações do bando chavista, reunido num partido; leis eleitorais restritivas impedem que a oposição dispute a eleição em igualdade de condições com as forças do governo, e os pleitos nada mais são do que simulacros de eleições livres; há milícias ditas “populares” armadas, que mataram pelo menos três pessoas em manifestações recentes; mesmo o jornalismo impresso vive sob o chicote do governo, que controla o papel.


Observem como não há forças de esquerda no Brasil — pouco importa a sua coloração — que critiquem o modelo venezuelano. Se, por aqui, PSOL e PT vivem às turras para disputar fatias da opinião de esquerda, no que concerne à Venezuela, estão todos juntos. Tanto uns como outros sabem que o que se tenta construir por lá é “socialismo pela via eleitoral”, como se isso fosse possível. Como não é, o resultado é o que vemos.

A Venezuela quebrou, foi para o vinagre. A economia do país está destroçada. Os canais políticos de representação desapareceram. O esforço sistemático do chavismo para eliminar seus adversários acabou dando resultado: uma parte enorme da população se tornou estrangeira no seu próprio país. O poder se sustenta ainda na caridade oficial e se ancora em milícias armadas e nos setores mais corruptos das Forças Armadas, comprovadamente ligados ao tráfico internacional de drogas.

O país não está muito pior do que na reta final de Chávez. Mas agora não há nem mesmo a força encantatória (para quem se encantava, claro!) do “líder”. Nicolás Maduro é só um bronco, que tem o carisma de um joelho de porco. E exibe traços evidentes de psicopatia. Antevi certa feita que Chávez ainda terminaria amarrado em praça pública, pelos pés, como um Mussolini latino-americano. O destino se encarregou dele primeiro. Se Maduro continuar nessa toada, é o que acontecerá com ele — embora rescenda a certa covardia; talvez fuja primeiro.

Não custa lembrar: não fossem a fraude e a impossibilidade das oposições de ter acesso aos meios de comunicação, Maduro teria perdido a eleição.

A prisão do líder oposicionista Leopoldo López indica que as chances de haver uma saída política estão se estreitando. Reitero que qualquer tentativa de estabelecer conexões entre o que se passa na Venezuela e o que se dá no Brasil é uma tolice. Se a relação existe, é de contraste: os que hoje vão às ruas naquele país lutam justamente contra forças similares que tentam promover por aqui a baderna porque querem que os esquerdistas que estão no poder sejam ainda mais radicais.

Os estudantes venezuelanos, ao contrário, estão pedindo democracia, economia de mercado, instituições republicanas, respeito aos direitos individuais, pluralidade política e civilidade — tudo aquilo que a esquerda é incapaz de garantir porque não reconhece tais valores.

Por Reinaldo Azevedo

sábado, 22 de fevereiro de 2014

A IGUALDADE DE RENDA É MORALMENTE INDEFENSÁVEL E SEU LEGADO É HUMANAMENTE TRÁGICO

Em uma economia baseada na livre concorrência genuína, na qual não há favorecimentos governamentais, não há subsídios, não há tarifas de importação e não há regulamentações que visam a proteger determinadas empresas contra a potencial concorrência de novos entrantes, um empreendedor só conseguirá enriquecer e acumular uma grande fortuna se ele conseguir satisfazer de maneira contínua os desejos e necessidades de seus consumidores.

Para acumular sua fortuna, este empreendedor terá de conseguir obter uma alta taxa de retorno sobre seus investimentos e sobre seu capital. E, para conseguir isso — e também para se manter neste mercado à frente de sua concorrência —, ele terá de reinvestir continuamente a maior parte de seu lucro. 

Neste mercado competitivo, há duas maneiras deste empreendedor conseguir um grande lucro: criando produtos e serviços cada vez melhores, ou então produzindo os mesmos produtos e serviços a custos cada vez menores. Com o tempo, no entanto, a concorrência inevitavelmente irá imitá-lo e abocanhar sua fatia de mercado, o que fará com que os lucros deste empreendedor sejam reduzidos. 

Para que ele volte a aumentar seus lucros, ele terá de iniciar um novo ciclo de inovação. 

Por exemplo, para manter seus lucros, a Apple teve de, repetidas vezes, aprimorar seus produtos e inventar vários outros. Caso a Apple tivesse se acomodado, seus produtos — que inicialmente eram muito lucrativos — teriam se tornado obsoletos pela concorrência, e hoje estariam sendo vendidos com grande prejuízo. 

Neste cenário concorrencial, os altos lucros obtidos por empreendedores têm necessariamente de ser reinvestidos nos meios de produção utilizados para produzir estes próprios produtos nos quais são feitas as inovações — por exemplo, os lucros da Apple são reinvestidos para aprimorar e expandir a produção de produtos da Apple. 

Desta maneira, as fortunas empreendedoriais sob o capitalismo representam produtos cada vez melhores e mais baratos produzidos com o capital constituído por estas fortunas. As fortunas se originam nos lucros e são utilizadas como capital. Em ambos os casos, elas servem ao público consumidor. Elas também servem para pagar salários. 

A existência de fortunas sob o capitalismo beneficia a todos nós, seja na condição de compradores de produtos, seja na condição de vendedores de mão-de-obra. 

Isto é um arranjo moral por natureza. 

Sendo assim, o desejo de se impor uma igualdade de renda — ou, colocando mais suavemente, o desejo de se reduzir a disparidade de renda originada desta maneira — requer necessariamente o confisco dos lucros. Tal medida não apenas iria abortar a criação de fortunas, como também iria suprimir todo o progresso econômico. Defensores da igualdade de renda não entendem absolutamente nada de lucros, inovação, investimentos e capital. Eles genuinamente acreditam que riqueza é simplesmente um amontoado de bens de consumo. Os capitalistas, a quem eles desprezam, supostamente detêm uma grande fatia deste amontoado de bens de consumo. Logo, uma parte deste amontoado tem de ser confiscada e redistribuída para as massas famintas. 

Como consequência direta deste raciocínio, a imposição da igualdade de renda nada mais é do que uma política de confisco. O capital de uma parte da população deve ser confiscado, redistribuído e consumido — trata-se de um caso em que comer a semente dos cereais irá matar a todos de fome. 

Proponentes desta igualdade são deliberadamente ignorantes em economia. Eles são movidos pela inveja e pelo ressentimento, e não percebem que estão mordendo a mão que os alimenta. As bases de sua filosofia são o socialismo e o comunismo. Stalin e Mao são seus heróis. Inanição, campos de trabalho forçado, e democídio são o seu legado. 

Igualdade econômica imposta pela força não passa de assalto a mão armada, e termina necessariamente em escravidão. Imagine um país com 200 milhões de pessoas. Se a produção tivesse de ser igualmente dividida por esses 200 milhões de cidadão, qualquer indivíduo que duplicasse seus esforços iria receber apenas 1/200 milionésimos a mais. E qualquer pessoa que simplesmente parasse de produzir passaria a receber apenas 1/200 milionésimos a menos. É óbvio que, mediante estes incentivos invertidos, as pessoas iriam parar de produzir. E, para obrigá-las a voltar a produzir, o governo teria de impor quotas mínimas de produção sob a ameaça de severas penalidades (como foi feito na Ucrânia e na China de Mao). 

Por estas razões, igualdade econômica imposta pela força é um objetivo inerentemente imoral e cruel. 

Dado que as pessoas são naturalmente desiguais em quesitos como inteligência, ambição, ambiente familiar e disposição para o trabalho duro, elas jamais serão economicamente iguais. A igualdade econômica, vale a pena repetir, só pode ser alcançada se for imposta pela força, na forma de roubo e escravidão. 

Portanto, não basta apenas dizer que "igualdade econômica imposta pela força é um objetivo inerentemente imoral e cruel." É necessário dizer que a igualdade econômica é um objetivo inerentemente imoral e cruel porque só pode alcançado por meio da coerção, da violência e da escravidão. Não há outra maneira. 


Proponentes da igualdade econômica, tanto os conscientes quanto os inconscientes, são defensores da maldade. Seu objetivo é maléfico. Eles devem ser implacavelmente desmentidos ao dizerem que suas intenções são boas e nobres. É impossível haver boas intenções quando o objetivo almejado é perverso e nocivo. 

"Boas intenções" da parte de comunistas são tão sensatas e nobres quanto "boas intenções" da parte de assassinos e estupradores. Pelo menos, e ainda bem, nenhum apologista alega "boas intenções" de assassinos e estupradores quando eles cometem seus crimes. Mas "boas intenções" sempre são alegadas por comunistas quando eles assassinam suas centenas de milhões de vítimas

Nesta época amoral em que vivemos, aquilo que é perverso passou a ser visto como algo nobre. Dizer que você ama os pobres e quer fazer com que ricos e pobres sejam economicamente iguais é uma postura que lhe garante o certificado de pessoa sensata e bondosa. 

No entanto, o que de fato é alcançado por qualquer programa que imponha a espoliação dos ricos em prol dos pobres é a perpetuação da pobreza e criação de ainda mais pobres. Alegar amor aos pobres como justificativa para campos de trabalho forçado, inanição e chacinas é algo que vem ocorrendo há milênios. Já passou da hora de um basta. 

O bem para todos só é possível quando cada um cuida de sua própria vida e faz o bem para si mesmo, por meio da produção e das trocas voluntárias. Em uma troca voluntária, o vendedor beneficia não apenas a si próprio mas também o comprador. E o comprador beneficia não apenas a si próprio mas também o vendedor. 

A liberdade econômica é o único arranjo capaz de eliminar a pobreza. A liberdade econômica substitui a pobreza por uma criação contínua de riqueza. Mas a liberdade econômica jamais eliminará a desigualdade. É impossível abolir a desigualdade, pois se trata de uma característica inata. Cada indivíduo nasce diferente e, ao longo da vida, aperfeiçoa aptidões distintas. A igualdade só pode ser alcançada por meio da violência. E seu legado é a escravidão, a inanição e o democídio. 
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Para entender as reais causas das grandes disparidades de renda existentes no Brasil e em outros países do mundo, recomendamos os seguintes artigos: 


George Reisman é Ph.D e autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: www.capitalism.net. Seu blog georgereismansblog.blogspot.com

Tradução de Leandro Roque

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

COMO OCORREU O MILAGRE ECONÔMICO DE HONG KING - OS PRIMÓRDIOS

Por vinte anos consecutivos, o Índice de Liberdade Econômica, compilado pelo The Wall Street Journal e pela Heritage Foundation, classifica Hong Kong como a economia mais livre do mundo. Este último ranking da Heritage confirma o que o Fraser Institute, do Canadá, também afirmou em seu último Índice, o qual também classificou a economia de Hong Kong como a mais livre do mundo. O Banco Mundial, por sua vez, classifica a "facilidade de se fazer negócios" em Hong Kong como a melhor do planeta.

Embora faça parte da China desde que a Grã-Bretanha cedeu seu controle em 1997, Hong Kong é governado em termos estritamente locais. Até o momento, o governo chinês tem se mantido razoavelmente fiel à sua promessa de deixar a economia de Hong Kong em paz. 

O que torna a economia de Hong Kong tão livre são aqueles detalhes que soam como música aos ouvidos de qualquer indivíduo que ama a liberdade: corrupção relativamente baixa; um judiciário eficiente e independente; respeito pleno aos direitos de propriedade; império das leis; um sistema tributário extremamente simples e com baixas alíquotas tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas, e uma carga tributária total de apenas 14% do PIB; ausência de impostos sobre ganhos de capital, de renda de juros e até mesmo de renda obtida no exterior; ausência de impostos sobre vendas e sobre valor agregado; um aparato regulatório quase invisível; um orçamento governamental equilibrado, sem déficits, e com uma dívida pública praticamente inexistente. Ah, e tarifas de importação em praticamente zero. Isso mesmo, zero! 

Dizer que uma economia é a "mais livre" é o mesmo que dizer que ela é "a mais capitalista". Capitalismo é o que ocorre naturalmente quando você permite que pessoas pacíficas cuidem de suas próprias vidas. Não é necessário elaborar nenhum mecanismo artificial comandado por burocratas de carreira confortavelmente instalados em suas torres de marfim. Não é necessário inventar nenhum esquema mirabolante e aparentemente sofisticado. Basta apenas deixar as pessoas em paz. 

Se formos acreditar naquilo que dizem os críticos do capitalismo, então Hong Kong tem necessariamente de ser um inferno repleto de pobreza, exploração e desespero. 

Mas não. Muito pelo contrário, aliás. 

Talvez seja por isso que os socialistas não gostam de falar sobre Hong Kong: não apenas é a economia mais livre do mundo, como também é uma das mais ricas. Sua renda per capita, 2,64 vezes maior do que a média mundial, mais do que duplicou nos últimos 15 anos. As pessoas não fogem de Hong Kong; elas correm para Hong Kong. Ao final da Segunda Guerra Mundial, a população de Hong Kong era de 750.000. Hoje é quase dez vezes maior: 7,1 milhões. 

A colônia 

Hong Kong é um ótimo exemplo do que acontece com a economia de um local que não é explorado por políticos. Hong Kong é produto do abandono político. Isso mesmo: Hong Kong jamais teria se tornado a potência econômica que é hoje caso os políticos britânicos ou chineses tivessem demonstrado algum interesse pelo local no século XIX. 

A Grã-Bretanha adquiriu a ilha de Hong Kong em 1842 (territórios adicionais viriam depois) por meio de um acordo entre um representante britânico — o capitão Charles Elliot — e um negociador chinês — o marques Ch'i-ying — como forma de solucionar um pequeno conflito que havia se iniciado em decorrência de contendas comerciais. (Uma das contendas envolvia uma compensação por causa de um confisco chinês do ópio britânico, mas a pendenga era mais ampla do que essa questão do ópio, e pesquisas recentes questionam a acurácia de se rotular toda essa questão como sendo uma mera "guerra do ópio"). 

O acordo resultante foi impopular tanto para a Corte Imperial chinesa quanto para o governo britânico. As autoridades chinesas não gostaram de ter de ceder um pedaço de terra para os britânicos e se preocuparam com o impacto sobre suas receitas tarifárias em decorrência da criação de um porto controlado pelos britânicos. Adicionalmente, os chineses tinham desprezo pela obsessão dos britânicos com o comércio. Já o governo britânico enxergava Hong Kong como uma localização ruim e pouco promissora em relação às possíveis alternativas, como a ilha de Formosa. 

No entanto, a precária comunicação vigente no século XIX acabou forçando os dois governos a delegar a autoridade da resolução da contenda aos seus representantes locais. O resultado foi aquilo que o excelente livro de Frank Welsh, A History of Hong Kong, rotulou de "uma fonte de constrangimento e aborrecimento para seus progenitores desde seu surgimento no cenário internacional". (Doravante, todas as citações serão do livro de Welsh). 

Os primórdios 

As primeiras avaliações do potencial de Hong Kong foram pessimistas. O então futuro primeiro-ministro britânicoLord Palmerston, naquela que talvez seja a pior previsão já feita por um diplomata britânico, concluiu que se tratava de "uma ilha estéril e inaproveitável, a qual jamais será um pólo para o comércio". O então tesoureiro lotado em Hong Kong, Robert Montgomery Martin, que também escrevia prolificamente sobre as possessões estrangeiras britânicas, fez eco à análise de Palmerston em 1844, afirmando que "não há nenhum comércio visível em Hong Kong. . . . É difícil encontrar uma empresa na ilha. As poucas pessoas aqui se aventuraram estariam felizes se conseguissem recuperar metade do dinheiro que gastaram na ilha e fossem embora. . . . Não parece haver a mais mínima probabilidade de que, algum dia, sob quaisquer circunstâncias, Hong Kong venha a se tornar um local propício ao comércio".

No entanto, algum comércio começou a surgir em decorrência do estabelecimento de armazéns de mercadores britânicos. Mas as políticas adotadas inicialmente pela Grã-Bretanha em relação ao seu novo território quase nada fizeram para promover o crescimento econômico. Com efeito, uma investigação parlamentar de 1847 sobre a situação econômica de Hong Kong descobriu que o domínio britânico havia inicialmente levado consigo um governo empenhado em usar a ilha para coletar o "máximo possível de receitas", o que afetou severamente o comércio. E concluiu que "pode se datar desta época os reveses sofridos por Hong Kong". 

Após isso, a Grã-Bretanha fez relativamente muito pouco com sua nova colônia, se concentrando apenas em manter a ordem pública e ampliar o império das leis. O resultado foi essencialmente um Porto de Tratado, muito semelhante àqueles que as potências europeias estabeleceram na China sob o Tratado de Nanquim em 1842-43. Um dos motivos para esta política relativamente sem interferências da Grã-Bretanha foi a persistência da visão adquirida pelos primeiros oficiais coloniais britânicos de que os chineses residentes em Hong Kong não queriam ou não apreciavam as legislações britânicas. Esta atitude foi ilustrada de maneira bem clara no depoimento prestado pelo Coronel John Malcolm, que estava lotado em Hong Kong, para um comitê do Parlamento britânico em meados do século XIX. Malcolm relatou que "os chineses são um povo peculiar e não gostam de sofrer interferências. Eles não nos entendem; eles não conseguem entender nossos métodos; e quando são recomendados a fazer primeiro uma coisa e só depois outra, eles se assustam e não mais nos procuram". 

Se era ou não uma característica "peculiar" dos chineses não gostar de governos arbitrários, o fato é que a Grã-Bretanha parou de expedir ordens conflitantes e incompatíveis, e a tendência geral passou a ser a de deixar as pessoas em paz. Ambas estas políticas foram adotadas com o intuito de estimular. Como consequência, deram à colônia o benefício de regras claras e simples desde seus primórdios. 

Um centro comercial natural? 

O que a Grã-Bretanha criou em Hong Kong? A combinação entre o excelente porto e o primado das leis fez de Hong Kong um centro comercial natural. Mas Hong Kong não era o melhor local para se comercializar na China. Já no início do século XX, Xangai vinha crescendo em importância e, consequentemente, abocanhando uma fatia do comércio que até então passava por Hong Kong. Xangai possuía uma população mais educada e mais preparada, estava em uma localização mais conveniente, desfrutava uma proteção europeia por causa de tratados de concessões feitos pelo governo chinês, e sofria relativamente pouca interferência do governo chinês devido ao declínio do poder imperial.  
Por volta de 1910, Xangai já havia se tornado um centro comercial significativamente mais importante do que Hong Kong. Com os britânicos optando por Cingapura — que era mais fácil de ser defendida — como centro do poder naval britânico na região, Hong Kong acabou perdendo o que restava de sua já pequena importância para o governo britânico. Como resultado, a colônia definhou e foi para o esquecimento, tornando-se mais conhecida como um centro de prostituição e de jogatina. 

Mas houve algo que a Grã-Bretanha não criou em Hong Kong: um governo democrático. Ao contrário do que ocorreu na maioria das outras colônias britânicas, em Hong Kong não se permitiu que nenhuma instituição democrática local se desenvolvesse, pois os britânicos não estavam dispostos a dar à maioria chinesa uma voz na administração. Como resultado, concluiu Welsh, "Hong Kong continuaria tendo uma administração tão antidemocrática quanto qualquer governo chinês, mas com a importante diferença de que a autoridade final seria a lei, e não os caprichos de algum ditador". 

O governo central imperial chinês nunca defendeu a liberdade econômica ao longo de sua história, e o período compreendido entre o final do século XIX e início do século XX não foi nenhuma exceção. À medida que o poder do governo central foi se esvanecendo, déspotas e chefes militares regionais começaram a estabelecer centros de poder rivais, mas igualmente predatórios. Os poderios europeu, americano e japonês também se expandiram na China, tentando ampliar o acesso de suas respectivas empresas ao mercado chinês. Mas tais poderios não criaram nenhuma liberdade econômica para a população chinesa dentro de suas esferas de influência. 

Neste cenário, a estabilidade política de Hong Kong começou a atrair cada vez mais emigrantes que saíam da China. A população da colônia cresceu de 600.000 em 1920 para mais de um milhão em 1938. À medida que as condições foram se deteriorando na China com a invasão japonesa e com os conflitos entre os déspotas regionais, o Kuomitang (nacionalistas) e os comunistas, uma média de 5.000 migrantes por dia passou a aportar em Hong Kong. 

Quando a ocupação japonesa terminou, em 1945, a economia de Hong Kong estava devastada. O golpe comunista na China, em 1949, acelerou a fuga de migrantes para Hong Kong. Em março de 1950, a cidade já tinha 2,3 milhões de pessoas. 

Para piorar, embargos ao comércio com a China em 1951, durante a Guerra da Coréia, afetaram severamente a condição de entreposto comercial de Hong Kong, justamente a atividade sobre a qual se baseava uma grande fatia da economia local. 

No entanto, havia um aspecto positivo: o golpe comunista na China e a consequente fuga de chineses para Hong Kong forneceu à colônia não apenas um número significativo de mão-de-obra, como também um grande capital humano, formado por empreendedores que conseguiram fugir do exército de Mao. Adicionalmente, a vitória dos comunistas na China fez com que Xangai deixasse de ser um concorrente para Hong Kong. 

Superpovoada, refém de embargos comerciais, e com um contínuo influxo de refugiados, o que praticamente estrangulou a infraestrutura da colônia, Hong Kong teve de se reinventar. 

A ilha passaria por uma transformação radical no início da década de 1960, com a adoção de políticas econômicas que criaram a potência econômica que Hong Kong hoje. Os detalhes desta transformação serão abordados no próximo artigo
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Participaram deste artigo: 
Lawrence W. Reed, presidente da Foundation for Economic Education. 
Andrew P. Morris, professor de Administração da Universidade do Alabama. 
Jean-François Minardi, analista de políticas públicas do Montreal Economic Institute. 
Do site: http://www.mises.org.br/


COMO OCORREU O MILAGRE ECONÔMICO DE HONG KONG - DA POBREZA À PROSPERIDADE


Hong Kong, dias atuais 
Com milhões de refugiados chineses, sofrendo com um embargo comercial e com sua infraestrutura estrangulada, a Hong Kong do início da década de 1950 parecia confirmar os prognósticos pessimistas feitos no século XIX.

No entanto, esta enxurrada de refugiados era composta por milhões de indivíduos que, embora completamente pobres, fugiram para Hong Kong em busca de liberdade. E embora Hong Kong não possuísse a infraestrutura adequada para recebê-los, ela fornecia ampla liberdade para qualquer indivíduo que quisesse colocar seus talentos empreendedoriais em ação. 

Não havia na ilha as mesmas restrições cambiais vigentes no Reino Unido e em grande parte da Europa — o que significava que o dólar de Hong Kong, que era ancorado à libra esterlina, era livremente conversível em outras moedas —, e a quantidade de regulamentações sobre a economia era desprezível. 

A combinação entre mão-de-obra à procura de trabalho e empreendedores com conhecimento e algum capital oriundos de Xangai — até então a grande cidade capitalista chinesa — forneceu a matéria-prima para o crescimento industrial iniciado na década de 1950. A economia começou a prosperar. 

Os empreendedores de Hong Kong criaram rapidamente um número impressionante de pequenas e médias empresas durante este período, especialmente no setor têxtil. Estes empreendimentos, os quais acabaram se diversificando e se ramificando para setores como vestuário, plásticos e eletrônicos, produziam principalmente para atender a crescente demanda da Europa e dos EUA por bens manufaturados e baratos. 

Essa rápida industrialização da década de 1950 foi possível porque ocorreu em condições nas quais 1) os direitos de propriedade eram respeitados, 2) o poder judiciário era independente e os tribunais, imparciais, e 3) a interferência econômica das autoridades coloniais era mínima. 

Como o último governador britânico de Hong Kong, Christopher Patten, escreveu em seu livro de memórias, East and West, os refugiados do comunismo que correram para Hong Kong chegaram à única cidade livre da China; era de fato "a única sociedade chinesa que, por um breve período de 100 anos, viveu um ideal jamais vivenciado em nenhum outro momento da história da sociedade chinesa — um ideal em que nenhum homem tinha de viver com medo de uma batida à porta da sua casa à meia-noite". 

Hong Kong tinha um governo limitado e competente, que se restringia a manter a lei e a ordem, e a permitir o funcionamento da economia de mercado. Era um governo que honrava completamente a filosofia confuciana: "Deixe as pessoas locais serem felizes e atraia migrantes longínquos." 

Mais impressionante ainda foi o fato de que, enquanto o Reino Unido estava criando um estado altamente intervencionista e assistencialista em casa, sua colônia desfrutava uma política econômica fundamentalmente de livre mercado. 

No entanto, houve um responsável pela prolongada existência desta política de livre mercado. Houve uma pessoa que seguidamente contrariou ordens do governo britânico e, com isso, permitiu a prosperidade de Hong Kong. 

Sir John Cowperthwaite, o homem que permitiu a prosperidade de Hong Kong 

O nome de Sir John James Cowperthwaite (1915—2006) deveria ocupar para sempre o topo do panteão dos grandes libertários. Enquanto vários de nós apenas escrevemos sobre ideias libertárias, este cidadão de fato as transformou em política pública para milhões de cidadãos. 

Cowperthwaite foi nomeado secretário das finanças de Hong Kong para o período de 1961 a 1971. Escocês e discípulo fiel de Adam Smith, ele era assumidamente um economista na tradição da Escola de Manchester, ardorosa defensora do livre comércio. 

Na época, com a Grã-Bretanha indo a passos firmes rumo ao socialismo e ao assistencialismo, Cowperthwaite permaneceu inflexível: Hong Kong deveria se manter fiel aos princípios do laissez-faire. Tendo praticamente controle completo sobre as finanças do governo de Hong Kong, ele se recusou a impor qualquer tipo de tarifa de importação e sempre insistiu em manter os impostos no nível mais baixo possível. 

Ele era um liberal-clássico, bem ao estilo dos liberais do século XIX. Era fiel adepto da ideia de que os países deveriam se abrir unilateralmente para o comércio, sem esperar contrapartidas. Ele já estava em Hong Kong desde 1941, fazendo parte do Serviço Administrativo Colonial. Com a invasão japonesa, ele foi enviado para Serra Leoa. Ao voltar para Hong Kong, em 1946, os britânicos lhe pediram para elaborar planos e programas para que o governo pudesse estimular o crescimento econômico. Cowperthwaite apenas respondeu dizendo que a economia já estava se recuperando sem nenhuma ordem do governo. 

Mais tarde, ao ser efetivamente nomeado secretário das finanças, em 1961, ele se tornou um defensor inflexível daquilo que passou a rotular de "não-intervencionismo positivo" e passou a pessoalmente controlar a política econômica da colônia. 

Cowperthwaite transformou Hong Kong na economia mais livre do mundo. Durante o seu mandato, o livre comércio foi instituído plenamente, pois Cowperthwaite se recusava a obrigar os cidadãos a comprar bens caros produzidos localmente se eles podiam simplesmente importar produtos mais baratos de outros países. O imposto de renda sempre teve uma alíquota única, de 15%. A total escassez de recursos naturais em Hong Kong — havia apenas a enseada onde está o porto — e o fato de que a ilha tinha de importar até mesmo toda a sua comida tornam o sucesso de Hong Kong ainda mais fascinante. 

"Para toda a nossa economia, é preferível confiarmos na 'mão invisível' do século XIX a aceitarmos que as canhestras mãos de burocratas manipulem os delicados mecanismos do mercado", declarou Cowperthwaite em 1962. "Em específico, não podemos deixar que burocratas danifiquem os principais mecanismos da economia, que são a livre iniciativa e a livre concorrência". 

Ele não aceitava protecionismo nem para as chamadas "indústrias infantes": "Uma indústria infante, quando protegida e mimada, tende a permanecer infante, e jamais irá crescer e se tornar eficiente". Também acreditava firmemente que, "no longo prazo, o agregado das decisões individuais dos empreendedores, exercitando seu juízo individual em uma economia livre, mesmo cometendo erros, tende a ser bem menos danoso do que as decisões centralizadas de um governo; e certamente o eventual dano tende a ser contrabalançado mais rapidamente." 

Desde os dias de John Maynard Keynes, a ciência econômica vem sendo atormentada pela ideia de que a ação humana deve ser destilada em números, os quais se transformam em uma "pretensão ao conhecimento" para aspirantes a planejadores centrais. Nas várias faculdades de economia atuais é difícil saber quando acaba a matemática e quando começa o real conhecimento econômico. Para Cowperthwaite, no entanto, a compilação de estatísticas para planejamento econômico era um anátema. Ele simplesmente se recusou a coletá-las. Quando Milton Friedman lhe questionou, em 1963, a respeito da "escassez de estatísticas", Cowperthwaite respondeu: "Se eu deixá-los coletar estatísticas, irão querer utilizá-las para planejar a economia". 

Perguntado qual era a coisa mais premente que os países pobres deveriam fazer, Cowperthwaite respondeu: "Eles deveriam abolir seus institutos de estatísticas econômicas". Ele acreditava que, se estatísticas fossem coletadas em Hong Kong, elas estimulariam o governo britânico a implantar políticas supostamente corretivas, o que inevitavelmente afetaria a capacidade da economia de mercado funcionar corretamente. Isso gerou consternação no governo britânico. Uma delegação de burocratas foi enviada a Hong Kong para descobrir por que as estatísticas não estavam sendo coletadas. Cowperthwaite literalmente mandou-os de volta a Londres no primeiro avião. 

O desprezo de Cowperthwaite pela teoria econômica em voga (keynesianismo) e sua abordagem não-intervencionista eram garantia de conflitos diários tanto com o governo britânico quanto com empresários. Os britânicos haviam elevado a alíquota do imposto de renda em Cingapura; quando ordenaram a Hong Kong que fizesse o mesmo, Cowperthwaite recusou. Ele era contrário a dar subsídios e a conceder benefícios especiais para empresas. Quando um grupo de empresários pediu a ele que providenciasse fundos para a construção de um túnel através da enseada de Hong Kong, ele respondeu dizendo que, se o túnel fosse economicamente sensato, o setor privado iria construí-lo. O túnel foi construído privadamente
O legado de Cowperthwaite 

Não obstante sua postura contrária, há estatísticas sobre a Hong Kong daquela época. Durante sua década como secretário das finanças, os salários reais subiram 50%, e a fatia da população vivenda na pobreza extrema caiu de 50 para 15%. O mais impressionante é que Hong Kong fez tudo isso sem contar com nenhum outro recurso que não fosse sua população. A colônia não possuía nenhuma terra agrícola e nenhum recurso natural. E até mesmo o único recurso que ela possuía — as pessoas — não era exatamente muito culto. Com efeito, a maior parte da massa de refugiados que chegou a Hong Kong na década de 1950 seria vista apenas como um fardo para o estado. 

Também digno de menção é todo o contexto mundial vigente à época. A transformação de Hong Kong ocorreu exatamente quando os social-democratas controlavam a Europa e quando o democrata Lyndon Johnson e seu programa da Grande Sociedade dominava a política americana, o que refletia o consenso entre as elites políticas da Europa e dos EUA de que assistencialismo e políticas econômicas intervencionistas eram a única direção sensata para as sociedades avançadas. Mesmo nos países em desenvolvimento, políticas econômicas intervencionistas, como a industrialização por meio da substituição de importações — que se baseava na imposição de altas tarifas de importação para proteger as indústrias domésticas — eram a norma. 

A pequena Hong Kong, portanto, conseguiu adotar e manter políticas de livre mercado e de livre comércio que iam totalmente contra as políticas dos governos britânico, europeus e americanos, e contra o consenso de economistas desenvolvimentistas em todo o mundo. E fez tudo isso enquanto ainda era pobre e estava perigosamente ao lado de uma poderosa e imperialista ditadura comunista. 

É difícil argumentar contra o sucesso. Após a aposentadoria de Cowperthwaite, em 1971, sucessores menos adeptos aos seus princípios se mostraram mais propensos a aumentar os gastos assistencialistas, mas todos os aumentos foram financiados por meio da venda de terras, e não de aumento de impostos. As alíquotas tributárias estão hoje exatamente no mesmo valor em que Sir John James Cowperthwaite as deixou. 

O avanço 

As políticas de livre comércio, de não-intervenção do estado na economia, de orçamentos governamentais rigidamente equilibrados, de imposto de renda de pessoa física com alíquota única (15%), de mercado de trabalho bastante flexível, de livre fluxo de capitais, de não-restrição a investimentos estrangeiros (estrangeiros podem investir livremente em empresas locais e também deterem 100% do capital) se mantiveram inalteradas após a saída de Cowperthwaite. 

Esta política econômica, a qual promoveu a concorrência e o espírito empreendedorial, criou as condições para o acelerado crescimento econômico vivenciado por Hong Kong nas décadas seguintes. Entre 1961 e 2012, o PIB real per capita de Hong Kong foi multiplicado por um fator 9. Hoje, o PIB per capita de Hong Kong, em termos de paridade do poder de compra, é o 7º maior do mundo

Ou seja, em apenas algumas décadas, Hong Kong, sem recursos naturais, sofrendo dos mesmos problemas enfrentados por todos os outros países em desenvolvimento, e cuja renda média per capita era de apenas 28% da dos residentes do Reino Unido, deixou de ser uma favela a céu aberto e se tornou uma das economias mais ricas do mundo, superando em muito a renda média per capita de sua metrópole. 

De economia industrial a uma economia de serviços 

O primeiro estágio do desenvolvimento de Hong Kong baseou-se na indústria manufatureira. No entanto, as reformas econômicas feitas na China e a política de abertura ao investimento estrangeiro adotada por Deng Xiaoping a partir de 1978 alteraram profundamente a natureza da economia de Hong Kong nas décadas seguintes. 

O setor manufatureiro começou a declinar e a perder peso na economia no final de década de 1970 em decorrência de aumentos nos preços da terra — uma inevitabilidade para um local tão pequeno e povoado — e nos salários. No entanto, a crescente integração econômica entre Hong Kong e China permitiu à ilha realocar sua produção para as zonas econômicas especiais na província adjacente de Guangdong, na China. 

Estas zonas, que foram criadas no início de 1980, ofereceram aos investidores de Hong Kong a oportunidade de aumentar sua competitividade ao recorrerem a uma mão-de-obra barata e abundante (chinesa) ao mesmo tempo em que ainda usufruíam as mesmas condições não-intervencionistas do governo chinês quanto recebiam em Hong Kong. De 1978 a 1997, o comércio entre Hong Kong e China cresceu a uma taxa média anual de 28%. Ao final de 1997, o investimento direto feito por Hong Kong representava 80% de todo o investimento estrangeiro direto em Guangdong. 

Estes novos desenvolvimentos alteraram significativamente a economia de Hong Kong. A participação da indústria na economia declinou de 31% em 1980 para 14% em 1997 e 8% em 2008; o setor de serviços, por outro lado, aumentou sua participação consideravelmente, de 68% em 1980 para 86% em 1997 e 92% em 2008. 

Desde 1997, a economia de Hong Kong se tornou um pólo para serviços de alto valor agregado (finanças, administração, logística, consultoria empresarial, comércio etc.). Atualmente ela atrai tanto empresas chinesas que querem entrar no mercado internacional quanto empresas de todo o mundo que querem ter acesso aos mercados da China e do resto da Ásia. 

A manutenção das instituições de livre mercado 

Já no início da década de 1980, a perspectiva de uma iminente devolução de Hong Kong à soberania chinesa produziu grande incerteza com relação à manutenção das instituições que tornaram o território uma região rica e próspera. Esta preocupação, no entanto, foi rapidamente abrandada. 

Na Declaração Conjunta Sino-Britânica, assinada no dia 9 de dezembro de 1984, foi estabelecido que Hong Kong deixaria de ser um território sob controle britânico no dia 1º de julho de 1997. O princípio do "um país, dois sistemas" também foi acordado nesta data. Com a exceção das relações exteriores e da defesa nacional, o acordo concedeu ampla autonomia ao território e permitiu a Hong Kong manter seu sistema capitalista e seu estilo de vida por um período de 50 anos, até 2047. 

Hong Kong hoje é uma Região Administrativa Especial da República Popular da China. Ela preservou o grosso do seu sistema político, judicial, econômico e financeiro que caracterizou a colônia quando estava sob controle britânico. O poder judiciário é independente do poder político e continua a operar sob o sistema do direito consuetudinário herdado dos britânicos. Os direitos de propriedade são garantidos na Constituição da Região Administrativa Especial de Hong Kong. Seus cidadãos desfrutam amplas e fundamentais liberdades individuais. 

Conclusão 

Em 1960, a renda média per capita de Hong Kong era de apenas 28% da renda média per capita da Grã-Bretanha. Atualmente, é de 140%. Ou seja, de 1960 a 2012, a renda per capita de Hong Kong deixou de ser de aproximadamente um quarto da da Grã-Bretanha e passou a ser mais de um terço maior. É fácil falar destes números. Muito mais difícil é se dar conta de sua significância. 

Compare a Grã-Bretanha — o berço da Revolução Industrial, a potência econômica do século XIX em cujo império o sol jamais se punha — a Hong Kong, uma mera restinga de terra, superpovoada, sem nenhum recurso natural, exceto uma enseada. No entanto, em menos de quatro décadas, os residentes desta restinga de terra alcançaram um nível de renda um terço maior do que aquele desfrutado pelos residentes de sua metrópole. 

O retorno de Hong Kong à China era inevitável, assim como era inevitável a determinação do governo chinês em preservar o capitalismo de Hong Kong. O interesse da China em preservar sua galinha dos ovos de ouro era claro: a China sempre utilizou Hong Kong — a qual ela podia atacar e tomar à força a qualquer momento — como um meio de acesso aos mercados estrangeiros e também como fonte de capital. Houve épocas em que 80% das receitas externas da China entrava através de Hong Kong. A China também queria demonstrar a Taiwan que uma reunificação pacífica era possível. 

O perigo sempre foi o de a liderança chinesa não entender a relação entre o hardware de Hong Kong (a economia capitalista) e o seu software (uma sociedade pluralista). É o seu software que permite que seu hardware funcione tão bem. Até o momento, os novos governantes de Hong Kong vêm se comprovando notavelmente aptos a dar continuidade ao funcionamento harmônico entre o hardware e o software. A grande questão é se isso permanecerá assim no futuro. 

Não foram apenas os britânicos que fizeram de Hong Kong um sucesso. Foi principalmente a população de Hong Kong, de operários de fábricas a empreendedores, quem transformou uma ilha estéril em potência econômica. Essas pessoas foram capazes de fazer isso porque o governo de Hong Kong, na maior parte do tempo, as deixou em paz. Hong Kong está longe de ser perfeita, e longe de ser um paraíso libertário. Mas permanece sendo um dramático exemplo de como a genialidade humana e o talento empreendedorial podem trazer prosperidade a uma sociedade originalmente pobre. 

Por que Hong Kong sempre foi tão livre? Em parte, Hong Kong teve a sorte de ser governada por homens que entendiam que sua função era bastante limitada. Não era exatamente o ideal liberal-clássico, mesmo sob Cowperthwaite, mas ainda assim foi a sociedade que mais significativamente se aproximou deste ideal no século XX. E a combinação entre a incapacidade do governo britânico em fornecer instituições democráticas e sua falta de interesse em Hong Kong permitiu àqueles homens manter suas políticas econômicas, mesmo enquanto sua própria Grã-Bretanha natal experimentava o desastre econômico do socialismo light dos anos 1950-70. Hong Kong também se beneficiou do exemplo das desastrosas políticas econômicas da China na década de 1960. Com tantos residentes chineses fugindo do comunismo e se refugiando em Hong Kong, a demanda por liberdade era alta. 

Hong Kong é um dos mais formidáveis e conclusivos exemplos de uma sociedade que teve grande êxito em fugir do subdesenvolvimento e enriquecer recorrendo à liberdade econômica. Hong Kong teve sorte em ter tido essa liberdade. E a sua população provou que a liberdade funciona. 
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Participaram deste artigo: 

Lawrence W. Reed, presidente da Foundation for Economic Education. 

Andrew P. Morris, professor de Administração da Universidade do Alabama. 

Jean-François Minardi, analista de políticas públicas do Montreal Economic Institute. 

Alex Singleton, diretor geral do Globalisation Institute
Do site: http://www.mises.org.br/

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A CÓLERA DOS IMBECIS

“Derrotar o Olavo de Carvalho” tornou-se, entre milhares de estudantes universitários – e, horresco referens, alguns professores --, uma obsessão incurável e a glória máxima a que aspiram.

Depois das investidas ferozes contra o meu “O Imbecil Coletivo”, em 1997, nas quais só conseguiram exemplificar o que eu dizia no livro, os mais destacados intelectuais de esquerda preferiram entrar num mutismo preventivo, para não se expor a novos e mais catastróficos vexames. O único dentre eles que voltou a tocar no assunto OIavo de Carvalho foi o Ricardo Mussi, mas veio falando de mim num tom respeitoso que revelava algum bom-senso e contrastava com a presunção louca daqueles primeiros e desastrados críticos. Depois, vendo que a intelectualidade nacional não podia me fornecer um antagonista à altura, decidiram importar um, o prof. Alexandre Duguin, que também não conseguiu se sair muito bem mas teve ao menos a hombridade de reconhecer que o debate fôra “duríssimo”, contrastando, nisso, com a empáfia histriônica daqueles que saiam com o bumbum esfolado jurando que haviam batido com ele no meu pé.

Até hoje a situação está mais ou menos assim. Quem tem alguma reputação evita arriscá-la num confronto que se revelou letal para seus antecessores Leandro Konder, Emir Sader, Carlos Nelson Coutinho, Alaor Café e muitos outros. Só quem ainda ousa falar de mim com ares de superioridade desafiadora são precisamente indivíduos que não têm reputação nenhuma e que esperam angariar alguma por meio de uma disputa suicida, como jovens pistoleiros desmiolados nos filmes de faroeste.

Esses saem vencedores de algum modo, porque são tão numerosos que se torna impossível responder-lhes a todos, de maneira que sempre haverá um ou outro que passe a ostentar no seu currículo imaginário a glória de ter afugentado o oponente mais velho que lhe recusou uma resposta ou não chegou nem mesmo a tomar ciência do desafio.

“Derrotar o Olavo de Carvalho” tornou-se, entre milhares de estudantes universitários – e, horresco referens, alguns professores --, uma obsessão incurável e a glória máxima a que aspiram. Lamentavelmente nunca sugerem alguma questão específica a ser debatida, preferindo conceder-me a dupla honra de ser ao mesmo tempo debatedor e assunto do debate.

Mas, precisamente porque aquilo que os move é o ódio ao oponente e não o interesse genuíno por algum tópico de discussão, quase todos entram em campo contestando algo que imaginam que eu disse, e não o que eu realmente disse. O empenho guerreiro que colocam em furar as bolhas de sabão que eles mesmos sopraram é a reprodução exata da fúria com que um peixinho beta investe contra sua própria imagem no espelho.

Não é que apenas me julguem sem ter lido meus livros. É que se recusam terminantemente a lê-los e consideram mesmo ofensiva a sugestão de que deveriam fazê-lo antes de me julgar. É como se vissem nesses livros uma ameaça sinistra da qual devem fugir por todos os meios, um poder de persuasão diabolicamente irresistível, de cujo contato devem preservar suas almas para não corromper -- vade retro! -- a pureza da sentença condenatória que já assinaram.

Na verdade, a adivinhação paranóica de poderes malignos já evoluiu para a conjeturação de como me enviar para a cadeia, não importa por qual crime inexistente ou impossível. O sr. Sebastião Nery sugeriu, tempos atrás, “falsidade ideológica”, porque dou cursos de filosofia sem possuir “diploma de filósofo”, ainda que, em vez de ostentar um título falso como o fez a nossa presidenta (v., http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/depois-de-post-casa-civil-muda-curriculo-de-dilma-mas-cade-a-dissertacao/), eu me gabe publicamente de não possuir nenhum nem havê-lo desejado jamais. O sr. Paulo Ghiraldelli informa a um estupefato mundo que meus alunos vêm à minha casa não para estudar, e sim para satisfazer os meus instintos lúbricos de velho sátiro, e até pagam para isso, tão irresistíveis são as minhas artes de sedução. Um tal sr. Alexandre Melo, cuja página do Facebook acabou aliás sendo fechada por isso, raciocina na mesma direção e insinua que se trata de crime de pedofilia, infelizmente sem explicar aos perplexos leitores como se pratica esse delito com pessoas adultas.

São só três exemplos no meio de centenas. Sob os risos de inumeráveis leitores, cada um se degrada e se esculhamba entre gemidos de prazer masoquista, afogando-se mais e mais na latrina onde pretendia me depositar.

Como explicar essa descida voluntária da inteligência esquerdista até abismos de autodestruição onde o próprio Satanás teria alguma dificuldade de respirar?

A hipótese que me ocorre é a seguinte. Até os anos 60 a esquerda era uma minoria insatisfeita em luta contra o establishment acomodado. Tinha, por isso, alguma mobilidade intelectual, seguia o debate cultural mais amplo e, no mínimo para se posicionar contra, lia atentamente os livros de seus adversários locais e internacionais.

À medida que foi se concentrando na luta e depois no exercício do poder, fechou-se em si própria, numa busca obsessiva de autoconfirmação e na reiteração de chavões necessários ao adestramento da militância animalizada, e simplesmente perdeu o pé no mundo da alta cultura. Já não entende o que se fala fora dos seus círculos internos, e, não entendendo, reage com a impulsividade cega e louca de quem nada tem a dizer, só a maldizer. O melhor que tem a objetar ao autor de alguma idéia que lhe desagrada é ensejar que vá preso ou morra.

Não tenho dúvida de que, mais cedo ou mais tarde, passarão do desejo à ação, como sempre fizeram em todos os países que governaram e fazem ainda naqueles em que mandam.

Georges Bernanos já dizia que nada no mundo se compara à cólera dos imbecis.

Por: Olavo de carvalho Publicado no Diário do Comércio. Do site: http://www.midiasemmascara.org/


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A LUTA DE CLASSES NO BRASIL


Garoto amarrado ao poste: caso de "justiça com as próprias mãos" que gerou uma grande polêmica. / Yvonne Bezerra de Mello/DCpress

A luta de classes, no Brasil, não é entre operários e patrões. É entre o lumpenproletariat que Marx abominava e a maioria da população, especialmente a classe média, aí incluída uma boa parcela do operariado, se não ele todo.

Cada uma dessas facções tem seus aliados permanentes. A primeira tem, acima de tudo, o governo e os partidos de esquerda que o dominam. Aí mesclados, vêm logo os intelectuais acadêmicos e os estudantes universitários.

Destes últimos, cinquenta por cento, segundo um cálculo otimista (v. http://blog.portalexamedeordem.com.br/blog /2012/11/pesquisador-conclui-que-mais-de-50-dos-universitarios-sao-analfabetos-funcionais/), são considerados analfabetos funcionais.

Excluídos irremediavelmente da alta cultura, e não tendo a menor idéia de que são vítimas de si mesmos, encontram no ódio projetivo à sociedade o alívio de uma culpa recalcada no mais fundo do seu inconsciente. Sentem por isso uma afinidade instintiva com os bandidos, drogados, narcotraficantes, prostitutas, prostitutos e outros marginais.

A terceira faixa de aliados do lumpen são as ONGs, as fundações bilionárias e os organismos internacionais, que não cessam de nos impor leis e regulamentos que praticamente inviabilizam a ação da polícia e desarmam a população, a qual assim não tem meios de defender-se nem de ser defendida.

Em seguida, vem a grande mídia, que, mesmo onde discorda do governo em algum ponto de seu específico interesse, não deixa de fazer eco passivo aos mesmos critérios de julgamento moral que orientam os governantes, aplaudindo, por exemplo, a senadora Benedita da Silva quando esta se debulha em lágrimas por um bandidinho estapeado e amarrado a um poste e não diz uma palavra quanto à menina queimada viva no Maranhão ou, mais genericamente, quanto aos setenta mil brasileiros assassinados por ano.

O alto clero católico, por meio da CNBB, comunga dos sentimentos da senadora Benedita. Vêm, por fim, os patrões, os capitalistas, os burgueses. Estes não costumam pronunciar-se de viva voz nessas questões, mas, como aliados e colaboradores ao menos passivos do governo, dão sustentação econômica e psicológica à política pró-lumpenproletariat.

A outra facção – isto é, o restante da população brasileira – encontra apoio em mais ou menos uma dúzia de jornalistas, radialistas e blogueiros execrados pelo restante da sua categoria profissional, entre os quais eu mesmo, o Reinaldo Azevedo, a Rachel Sheherazade, o Felipe Moura Brasil, o Rodrigo Constantino, a Graça Salgueiro.

Tem também algum respaldo – tímido – nas polícias estaduais, em alguns púlpitos evangélicos isolados e ainda em dois ou três parlamentares, como Jair Bolsonaro e Marcos Feliciano, que na Câmara Federal imitam João Batista pregando aos gafanhotos. That’s all, folks.

Nada pode caracterizar melhor a presente situação do que a total inversão das proporções, em que os nominalmente desamparados recebem todo amparo do establishment enquanto a população inerme se torna a imagem odienta do opressor capitalista.

No caso do garoto amarrado no poste, a reação indignada contra os populares que ousaram "fazer justiça com as próprias mãos" partiram especialmente de pessoas que, quatro décadas atrás, faziam exatamente isso.

Entretanto, ninguém, no parlamento ou na mídia, terá a coragem de espremer a presidente Dilma na parede com a pergunta: Quando você assaltava bancos estava cometendo uma injustiça ou fazendo justiça com as próprias mãos? Tertium non datur.

No entender do nosso governo, só quem tem o direito e até o dever de fazer justiça com as próprias mãos quando acha que a Justiça falha são os terroristas de esquerda, como José Genoíno e a própria Dilma. Esses têm o direito até de condenar à morte e executar a sentença. Os outros têm a obrigação de aceitar resignadamente o homicídio, o roubo, o estupro como se fossem fatalidades da natureza.

Mais significativo ainda é que, quando a Rachel Scheherazade, com lógica inatacável, explicou a agressão ao delinquentezinho como reação espontânea e quase inevitável de uma população desprovida de proteção estatal, os mesmos que criaram essa situação tenham saído gritando "Apologia do crime! Apologia do crime!", como se eles próprios não viessem há décadas fazendo a apologia dos terroristas que um dia, sentindo cambalear muito menos do que hoje a ordem legal, tomaram a justiça nas suas próprias mãos.

Todas as idéias e atitudes do grupo pró-lumpen, especialmente as dos professores e estudantes universitários, explicam-se por dois fatores igualmente endêmicos: o analfabetismo funcional e o fingimento histérico. Ambos, intimamente associados, deformam o sentido de todas as comunicações verbais e invertem a ordem da realidade. À aliança de marginais, governo, ONGs, capitalistas, igreja, mídia e intelectuais, chamam "povo oprimido". Ao restante, denominam "minoria privilegiada".

De todas as classes que compõem a sociedade brasileira, só uma ainda não tomou partido nessa guerra: as Forças Armadas. Seu silêncio pode tanto refletir uma indecisão perplexa quanto um ódio contido.

Na primeira hipótese, quando acabará a indecisão? Na segunda, ódio a quem? As Forças Armadas são o fiel de balança. O futuro depende inteiramente delas. 
Por Olavo de Carvalho Diário do Com;ercio


NA UCRÂNIA APARECE A MÃO DO VERDADEIRO PUTIN

A coragem dos manifestantes acabou obrigando ao presidente amigo de Putin a dar alguns passos aparentemente para trás. Mas os amantes da Ucrânia não acham confiáveis as propostas de quem usa os métodos da KGB.


No dia 22 de janeiro, dia da festa da unidade nacional, dois manifestantes pela liberdade foram mortos no centro de Kiev, capital da Ucrânia, por balas disparadas por franco-atiradores num caso e tiro de pistola em outro.

No mesmo dia o jornalista Igor Lutsenko e o alpinista Youri Verbinski foram sequestrados pela polícia, levados para fora da cidade, surrados com extrema violência.

Igor acordou na neve e conseguiu chegar até uma aldeia. Youri foi encontrado morto na floresta.

Na Praça da Independência um manifestante foi desnudado e seviciado pela polícia que fez questão de fotografá-lo num estado humilhante.

Um jornalista filmou a cena que percorreu o mundo pela Internet.

Estas e muitas outras violências que fogem a qualquer critério de lei ou moral despertou o velho espectro da repressão da KGB que martirizou a Ucrânia.

O escritor Andrei Kourkov se perguntou nas páginas do jornal pro-socialista “Le Monde” se, à luz dos procedimentos do governo de Viktor Yanukovych, a Ucrânia não estava se encaminhando para virar novamente um protetorado russo.

O dinheiro e as promessas do senhor todo-poderoso do Kremlin, Vladimir Putin, entraram decisivamente nesta virada que nos faria retroceder décadas na História, rumo aos piores momentos da falida URSS.

Para Andrei Kourkov, o “navio Ucrânia” está sendo levado para a Rússia. E isso o que os manifestantes da Praça Maidan de Kiev não querem.

Enquanto as Berkout – tropas especiais da polícia – batem nos estudantes, Yanukovich premia seus amigos, viaja a Moscou e até a China.

O governo da pequenina Malta teve a coragem de se recusar a acolhê-lo, enquanto presidente de um país que o repudia.

A coragem dos manifestantes acabou obrigando ao presidente amigo de Putin a dar alguns passos aparentemente para trás. Mas os amantes da Ucrânia não acham confiáveis as propostas de quem usa os métodos da KGB.

Não conseguindo convencer, o Parlamento ucraniano tentou manietar os manifestantes e lhes passar uma venda na boca: proibiu as reuniões públicas.

200 mil ucranianos responderam se aglomerando patrioticamente na Praça da Independência.

Na revista “Forbes” (24.01.2014), o colunista Melik Kaylan bradou em alto e bom som: “Por que ninguém esta dizendo o óbvio? ‘Putin desestabilizou Ucrânia’”.

Kaylan relembrou a longa ficha dos ardis e montagens montados pelo ex-coronel da KGB Vladimir Putin contra os EUA.

E após apontá-lo como o verdadeiro instigador da deriva da Ucrânia rumo a “nova-URSS” concedeu a Putin o título de o “Maior Senhor da Desordem” da nossa época.

Há 15 anos, o presidente russo que sonha restaurar a grandeza sinistra da URSS vem aprontando contra os EUA e o Ocidente.

Um colega de Kaylan na revista “Forbes” escreveu em seu blog matéria intitulada: “Putin está puxando todas as cordas e Obama está deixando fazer”.

O resultado, acrescenta Kaylan, é que a Ucrânia está sendo levada por Yanukovich para voltar a ser um outro satélite de Moscou, com um homem com punho de ferro e língua de serpente instalado no Kremlin.

Nada disto deveria espantar. Espanta o mato de silêncio com que a mídia ocidental encobre a manobra do xará de Lênin.

Mas a Ucrânia não está se deixando engolir. E a coragem do povo ucraniano proporciona os meios para o mundo livre derrotar Putin em Kiev e nas cidades que estão se insurgindo contra um crime de lesa-pátria.

Assim o dá a entender editorial do influente grupo Bloomberg de Nova Iorque.

Na França, o jornal “Le Monde” e a revista “Le Nouvel Observateur”; que alimentavam cálidas simpatias por Putin, parecem ter se rendido às evidências.

“Le Monde” publicou um longo relato das brutalidades da repressão policial que podem ser lidas e visualizadas no link deste parágrafo.

“Le Monde” cita matérias publicadas sobre a mesma criminosa repressão por grandes órgãos do Ocidente, como o Wall Street Journal, a BBC, Francetvinfo ou ainda fontes ucranianas como o KyivPost ou o Ukraïnska Pravda, além de vídeos difundidas pelas redes sociais, e médicos que praticaram a autópsia no corpo das vítimas.


A perseguição anticristã do atual governo da Ucrânia
O governo ucraniano em mais um gesto que o assemelha à "nova URSS" de Putin, ameaçou declarar ilegal a Igreja greco-católica ucraniana.

Seu "crime" seria prestar serviços religiosos aos manifestantes opositores que ocupam a praça central de Kiev.

O ministério da Cultura enviou uma carta ao arcebispo Sviatoslav Shevchuk, acusando a seus sacerdotes de "violar a lei" ao prestar serviços religiosos fora dos templos.

"A violação desta lei pode dar lugar a procesos judiciais para por fim às atividades" das organizações religiosas, segundo a carta cujo facsimile foi publicado no site Ucrainska Pravda.

Não só os prelados da Igreja Católica, mas também os ortodoxos da igreja ligada ao Patriarcado de Kiev, prestam serviços religiosos várias vezes por dia na Praça da Independência da capital ucraniana, conhecida localmente como Maidan.

Também o fazem a seu modo, imams dos tártaros da Criméia, território ucraniano.

(Nota do IPCO: somente a Igreja católica foi notificada pelo governo. Dom Sviatoslav Shevchuk, arcebispo mor do rito greco-católico ucraniano,já acusou a igreja Ortodoxa russa de ter sido um instrumento de Stalin para acabar com o catolicismo na Ucrânia.)

Opositores ao governo 
Esta praça está ocupada desde novembro por manifestantes que protestam contra a decisão do presidente Viktor Yanukovich de recusar um pacto com a União Europeia, em benefício de vínculos mais estreitos com a Rússia.

A Igreja greco-católica ucraniana, que observa o rito bizantino, está em comunhão com o Papa, e estava proibida quando a Ucrânia formava parte da União Soviética.

Desde a independência do país, em 1991, a Igreja greco-católica se transformou na terceira mais importante do país.

Sua respeitabilidade e ascendência moral sobre o conjunto do país vem crescendo continuadamente. (Fonte:Infocatólica | Tradução: Edson Oliveira - IPCO; Divulgação: Blog Flagelo Russo.)
Por: Luis Dufar edita o blog Flagelo Russo. Do site: http://www.midiasemmascara.org/