sexta-feira, 23 de maio de 2014

MILIONÁRIOS DA CHINA EM FUGA: PRENÚNCIO DE UMA NOVA PERESTROIKA?


O leitor médio é porcamente ludibriado pela mídia nacional e global que trata de ocultar as informações sobre a verdadeira China.

Elogiar o “modelo chinês” é elogiar o regime mais monstruoso, genocida e desumano de toda a história da humanidade – tanto no seu passado quanto no seu presente.

Duas visitantes tiram fotografias de uma banheira de ouro na Feira dos Milionários 
em Xangai, China.

Com as seguintes palavras o Ion Mihai Pacepa descreve a realidade da nomenklatura (“a elite”) comunista:

“(...) Para a população romena normal, a palavra nomenklatura significa a elite, a superestrutura social reconhecível por seus privilégios. As pessoas da nomenklatura não viajam de ônibus ou de carros. Eles utilizam carros do governo. A cor e o modelo do carro indicam a graduação do seu dono na hierarquia: quanto mais escuro, mais alta é a sua posição (…) Os integrantes da nomenklatura não vivem em apartamentos construídos no regime comunista. Tal como eu recebi, eles recebem villas nacionalizadas ou apartamentos de luxo que anteriormente pertenciam aos capitalistas (…) Durante o verão, as pessoas da nomenklatura não são vistas nas lotadas e suadas praias públicas de Bucareste. Eles vão a balneários em áreas especiais ou passam o fim de semana numa villa em Snagov, um resort há 40 km de Bucareste. Os integrantes da nomenklatura não passam suas férias aglomerados como sardinhas nas colônias em estilo soviético. Eles possuem as suas próprias casas de férias. Quanto mais escuro o automóvel, mais próxima à casa de férias fica da casa de veraneio de Ceausescu (…) Eles não ficam numa fila ao relento defronte uma policlínica de modelo soviético, onde o tratamento é gratuito, mas você é mal tratado desde o porteiro e onde não é possível gastar mais que 15 minutos com um doutor que tem de atender pelo menos 30 pacientes no seu turno de oito horas. Eles não têm de ir a hospitais normais, onde duas pessoas têm de dividir o mesmo leito. Eles possuem hospitais luxuosos no estilo ocidental dos hospitais Hellias, que foram construídos como uma fundação privada na época antes do comunismo (...) Quantos hospitais só seus a Rainha da Inglaterra tem? (…) Nenhum. Este é o número. O Camarada [Ceausescu] tem um hospital só para si. E médicos que tratam exclusivamente dele e da família dele. (...)” 
(Red Horizons. Pg. 171-172 e 419)

Peço ao leitor a gentileza de ler a notícia abaixo. Ela, por si só, é imensamente interessante. Ao término dela farei alguns comentários sobre o que essa movimentação oculta e sobre o inevitável colapso do sistema chinês.

Uma avalanche de milionários chineses invade a Austrália
Laura Millan Lombraña
Tradução: Francis Lauer

Uma iniciativa do governo australiano de conceder residência permanente a multimilionários estrangeiros fez disparar a presença de chineses endinheirados no país. A chegada deles catapultou os preços do mercado imobiliário assim como a demanda por produtos de luxo e por atividades nos megacassinos na Austrália.

O visto para investidores significativos (SIV na sigla em inglês) permite que qualquer cidadão estrangeiro obtenha uma permissão para residência permanente na Austrália caso invista 5 milhões de dólares australianos (10 milhões de reais) no país durante quatro anos e que permaneça no país, no mínimo, cem dias a cada ano.

Desde a introdução dessa medida, em novembro de 2012, o governo recebeu um total de 981 solicitações, 92% das quais oriundas de cidadãos chineses. Em dezembro havia sido concedidos 88 vistos, o que equivale a um investimento total de, no mínimo, 440 milhões de dólares australianos (907 milhões de reais). Os dados do Departamento de Imigração mostram que as solicitações de vistos em espera de aprovação equivalem a aproximadamente 3 bilhões e 500 milhões de dólares (9 bilhões e 100 milhões de reais).

“Os multimilionários chineses estão começando a olhar para fora, em busca de economias estáveis para investir seu dinheiro e onde também exista uma excelente qualidade de vida e um bom sistema educacional para seus filhos”, explica Mark Wright, sócio da Deloitte Austrália e especialista em fluxos migratórios.

Wright assegura que “os benefícios são óbvios: a maior parte desse capital destina-se à compra da dívida do Governo australiano, pois é um investimento seguro”. Os multimilionários chineses normalmente gastam o restante em infraestrutura ou em propriedades imobiliárias.


A “explosão” no mercado imobiliário
A Unique Estates é uma das agências que oferece oportunidades de investimento em propriedades de alto padrão em Sidney. Uma de suas agentes, Sally Taylor, afirma que o mercado vivenciou uma “explosão” desde que os novos vistos passaram a vigorar.

“Os compradores chineses agora são nossos principais clientes”, tantos aqueles que compram ativos imobiliários para investir como aqueles que adquirem residências de luxo para morar, afirma ela. Os investidores chineses entraram com tanta força no mercado que “restam poucos projetos disponíveis para investir e a oferta é muito limitada”.

O mercado de casas de luxo também começou a sofrer uma saturação. “Há um ano a demanda era de casas de quatro a seis milhões de dólares, porém, hoje, o movimento está em torno das de oito a dez milhões de dólares e começamos a ver alguma movimentação em residências de mais de vinte milhões que não enxergávamos fazia anos”, explica Taylor à reportagem.

A compra intensiva de propriedades por parte de investidores chineses é um dos fatos que tem elevado o preço de residências na Austrália e, sobretudo, em Sidney. Auxiliado também pela taxa de juros na mínima histórica, o preço dos imóveis naquela cidade subiram 15% apenas em 2013, frente a um aumento médio de 9,8% no restante da Austrália, segundo um estudo da RP Data.

Ao passo que o país debate a respeito da existência de uma bolha imobiliária que poderia estourar a qualquer momento, Taylor argumenta que “os preços seguirão subindo por existir demanda suficiente por parte do investidor chinês que os sustentem”.

Em uma cidade que, pouco a pouco, passa a ser propriedade de chineses milionários e onde nas lojas de produtos de luxo fala-se mais mandarim do que inglês, é difícil perceber esses investidores especialmente opacos que, além disso, viajam em jatinhos particulares e deslocam-se em carros com motorista. Os testemunhos mais confiáveis são daqueles que tratam diretamente com eles.


No 'The Star' – o maior cassino de Sidney – chá e camarotes
Lisa Song administra uma casa de chá junto ao The Star, o maior cassino de Sidney e o segundo maior da Austrália. À Lisa foi - “desesperada”, recorda ela – uma pessoa encarregada de atender os clientes mais ricos do cassino. “Os milionários chineses que iam ao cassino não bebiam o seu chá”, explica essa jovem mãe que trabalhou no distrito financeiro da cidade até juntar o suficiente para abrir a casa de chá.

Song resolveu o problema importando “o chá mais exclusivo da China; que cresce apenas em uma montanha e cujo preço por uma grama pode ir de um a dez dólares”, explica enquanto acaricia carinhosamente a caixinha onde guarda as folhas secas.

Dentro do cassino de Sidney, faz-se evidente a presença de jogadores asiáticos num labirinto de 1500 máquinas caça-níqueis e umas trinta mesas de black jack. A última novidade, uma máquina luminosa chamada Duo Fu Duo Cai, atrai dezenas de pessoas com traços asiáticos.

Porém, os multimilionários chineses se escondem na sala Sovereign. Esse lugar exclusivo e zelosamente vigiado por agentes de segurança com cara de poucos amigos abriga as mesas de jogo onde a aposta mínima gira em torno de 25.000 a 75.000 dólares australianos (51.000 a 155.000 reais) e uma terceira mesa onde a aposta mínima oscila entre 100.000 e 500.000 dólares australianos (205.000 a 1.030.000 reais).

A quantidade de conversíveis e limusines estacionados frente à porta do cassino em qualquer um dos dias e a ida e vinda de mulheres asiáticas com cabelo esplendoroso e compridas unhas avermelhadas não parecem indicar outra coisa a não ser uma pujante prosperidade. E, não obstante, o The Star encontra-se em plena decadência.

O governo australiano confirmou em outubro de 2013 a concessão dos terrenos de Barangaroo, em pleno distrito financeiro de Sidney e uma das zonas mais cobiçadas da Austrália, ao magnata do jogo James Packer, o qual anunciou um investimento de 1 bilhão e 300 milhões de dólares australianos (2 bilhões e 700 milhões de reais) para a construção de um complexo de hotéis e cassinos com uma torre de 70 andares de altura. O novo cassino de Barangaroo admitirá apenas os assim chamados “apostadores VIP”, ou seja, aqueles que são capazes de apostar um mínimo de 10.000 dólares australianos (21.000 reais).

Durante a apresentação do projeto, que incluirá hotéis de seis estrelas, 120 mesas de jogo e dez salões de jogo privativo, Packer tratou de recordar aos investidores – chineses em sua maioria – que os benefícios estão assegurados. O magnata do jogo calculou os impostos dos primeiros 15 anos de atividade em 1 bilhão de dólares australianos (2 bilhões e 100 milhões de reais) e relembrou outra cifra chave: 75% dos jogadores VIP no mundo provêm da China.

A brecha aberta pelas autoridades (australianas) desencadeou uma avalanche de capital chinês na Austrália. Enquanto o país esforça-se para abrir amplamente as portas ao gigante asiático, tudo indica que a transição de Sidney para uma nova Macau ou uma nova Hong Kong, ou outra Xangai, não fez nada mais do que começar.



Ao leitor desavisado esta notícia indicaria a pujança econômica do “modelo chinês” e o seu bom sucesso na promoção de uma imensa e benéfica prosperidade à população da China. Nada mais falso. Este tipo de interpretação só ocorre pois o leitor médio é porcamente ludibriado pela mídia nacional e global que trata de ocultar as informações sobre a verdadeira China ao mesmo tempo em que trata a China comunista com uma dignidade que é – de todo – indigna. Elogiar o “modelo chinês” é elogiar o regime mais monstruoso, genocida e desumano de toda a história da humanidade – tanto no seu passado quanto no seu presente.

Um panorama da China real está disponível na entrevista dos Editores do jornal Epoch Times à Radio Vox (1) onde ao longo de duas horas um cenário amplo, surpreendente, realista e aterrador é descrito. Os editores do Epoch Times revelam, por exemplo, que 27% dos milionários com mais de 18 milhões de dólares já foram embora da China e que metade planejam sair do país. Entre os ricos com mais de 1 milhão e 800 mil dólares, 60% já abandonaram o país (2). Mais grave do que isso: 90% dos integrantes do Comitê Central do Partido Comunista Chinês (“a elite da elite”) possui dupla cidadania ou já enviou seus parentes para o exterior (3). Essas informações revelam que há por parte da nomenklatura do regime comunista chinês uma percepção clara que o país está à beira do total colapso da sua estrutura social, de um cataclismo ambiental sem precedentes no mundo (4) e de uma acachapante falência econômica que não tem como ser solucionada (5).

Estaríamos vendo os sinais prévios de uma nova Perestroika (“reestruturação” ou mais vulgarmente “'queda' do regime comunista”)? As evidências históricas, factuais e teóricas parecem indicar que sim. Em artigo recente, o filósofo Roger Scruton fez uma reminiscência histórica condensada sobre o que se passou nos subterrâneos da “queda” da União Soviética. Disse ele: 

“(...) Por que razão, de forma súbita e sem nenhum aviso prévio verdadeiro, a elite soviética abdicou do poder de mando e silenciosamente retirou-se do governo? A resposta é simples: porque era do interesse deles fazer tal coisa. (...) Ao longo de um período de setenta anos, a União Soviética construiu um sistema de espionagem e um sistema bancário subterrâneo que em essência conferiu à elite da KGB praticamente total liberdade de movimento no continente Europeu, bem como um sistema de finanças pessoais seguro. Já em 1989 os oficiais de alta patente (...) possuíam propriedades no Ocidente e já haviam transferido para suas contas em bancos suíços a sua parcela de bens furtados ao povo russo no decorrer de décadas. Então eles perceberam que esse processo poderia ser completado sem nenhum custo adicional. Através da privatização da economia soviética para si próprios e, pela adoção de uma máscara de governo democrático, a elite apartou-se do comunismo, ingressando no mundo das celebridades (...)” 


O analista político Heitor de Paola aprofunda a questão (grifos do autor):

“(...) As relações dos EUA com os países comunistas sempre se pautaram pela oscilação entre enfrentamento e pacificação (...) Os soviéticos, e hoje os chineses, estão preparados para mudar sua táticade acordo com estas mudanças, porém perseguindo os mesmos objetivos estratégicos. A Perestroika não passou de uma continuação da mesma estratégia que desenvolve desde 1958. Como já disse anteriormente, o termo reestruturação não se aplica à aparência de 'profundas' transformações no mundo comunista, mas exclusivamente da reestruturação da visão que o Ocidente tem do mundo comunista, fazendo acreditar na dissolução da ideologia comunista (…) criar a impressão de que a burocracia soviética estava se tornando mais democrática e ocidentalizada (…) o que interessa é manter a Nova Classe no poder (...)” 
(Livro: O Eixo do Mal Latino-Americano e a Nova Ordem Mundial, Cap. IX. Pg. 183-184. É Realizações.)


Ambas as referências indicam que está ligada à aparente dissolução de um regime comunista: 1) o fluxo de pessoas e capitais para o exterior, rumo a paraísos fiscais e refúgios capitalistas seguros; e 2) o desenvolvimento de uma estratégia de longo prazo multifacetada que engloba o uso de um estratagema de ocultação de uma velha ordem sob a roupagem de uma “nova ordem”.

O ex-chefe de espionagem da Romênia Comunista, Ion Mihai Pacepa, logo no prefácio da edição de 1990 do seu primeiro livro publicado em 1987, num tom lúgubre e admonitório afirma (tradução e grifo meus): 

“(...) A destituição de Ceausescu fora, no entanto, o fim de um tirano, e não o fim do sistema que o alçou ao poder. Muitos dos líderes do governo atual são mencionados [neste livro]. Na ausência da qualquer oposição organizada e de um modelo democrático, a estrutura comunista de governo da Romênia permanece essencialmente no mesmo lugar, apta a, talvez, com o tempo, produzir outro Ceausescu. Tenhamos esperança que isto não aconteça, mas se acontecer, tenhamos esperança que o Ocidente não cometa os mesmos erros que cometeu com Ceausescu – erros que eu documento neste livro.” 
(Red Horizons. Ed. Regnery Gateway)


Lamentavelmente, passados quase trinta anos, o Ocidente ainda não aprendeu a lição. A crítica do filósofo Roger Scruton, a eleição do Barack Hussein Obama (descrito pelo Dr. Alan Keyes com a frase: “O Obama é um comunista radical e ele irá destruir este país; ou nós o paramos ou os EUA deixarão de existir”) e ainda o sucesso do Foro de São Paulo na América Latina, e também a ampliação do abismo moral e espiritual do Ocidente são provas que os erros mencionados pelo Pacepa continuam sendo cometidos impunemente.

O que esperar da dissolução traumática e inimaginada de um regime comunista que rege a vida de 20% da população mundial num espaço pouco maior que o Brasil, um país que possui arsenal nuclear, mas cujos recursos naturais (terra, ar e água) estão profundamente contaminados e espoliados? O que esperar de uma “nova era” pautada por um estado súbito de maior ou menor anomia de uma população que foi monstruosamente apartada das suas raízes e valores culturais, espirituais e tradicionais? Como a cristandade fará para responder a uma súbita liberação de uma imensa demanda reprimida por mais cristianismo? Quais serão os novos desafios que uma possível dissolução dos “últimos” (?) bastiões de um comunismo antigo e ortodoxo (China e Coréia do Norte) irá impor a conservadores e anti-comunistas? Estas são algumas das diversas questões que o avanço do projeto revolucionário na China descortinará em todo o mundo.

Dentro de três anos iremos rememorar os 100 anos (um século!) da Revolução Russa e da Aparição de Nossa Senhora em Fátima que a precedeu, um momento repleto de significação e de certo modo propício para novos grandes abalos na história humana.


Notas:

(1) Um índice completo para a Entrevista da Radio Vox com os editores da Epoch Times com todos os assuntos tratados pode ser encontrado aqui: http://bit.ly/1jO0Ef7.

(2) e (3) Imigração dos ricos da China (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 51:23) e 90% do Comitê Central do PCC tem duplo passaporte ou já enviou a família (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 1:30:53)
(4) Questão ambiental na China (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 34:00). Poluição atroz, fim dos recursos naturais baratos (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 1:19:20).
(5) Situação econômica (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 1:16:00). Mão de obra escrava. Beco sem saída do aspecto econômico (Entrevista Radio Vox – Epoch Times: 1:34:40).
Por:Francis Lauer é tradutor e aluno do Seminário de Filosofia do prof. Olavo de Carvalho.

O MUNDO ESTÁ SUPERPOVOADO? NÃO. e ISSO SERÁ RUIM PARA O FUTURO


O mundo está superpovoado. As ruas estão entupidas, o trânsito está sempre irritantemente congestionado, e as pessoas estão vivendo — tanto figurativa quanto literalmente — uma em cima das outras. É raro você encontrar um espaço livre para sequer dar uma volta com seu cachorro.

Certo?

Errado.

O mundo não está de modo algum superpovoado. Ao redor do globo, há enormes espaços de terra totalmente desabitados. Canadá, Austrália, África, Rússia, EUA e Brasil possuem uma inacreditável quantidade de espaços abertos e não-povoados. [No Brasil, apenas 0,2% do território está ocupado por cidades e infraestrutura]. Com efeito, toda a população do planeta caberia confortavelmente no estado americano do Texas. [E se toda ela fosse para o estado do Amazonas, a densidade populacional seria equivalente à da cidade de Curitiba].

Sendo assim, por que tantas pessoas ainda acreditam tão piamente nesse mito do superpovoamento? A razão é simples: a maioria delas — especialmente aquelas que têm tempo e predisposição para reclamar do excesso de pessoas — vive em áreas de alta densidade populacional, as quais não são uma amostra nada representativa da real situação do mundo. 

Essas áreas de alta densidade populacional são chamadas de 'cidades', e o motivo pelo qual as pessoas vivem em cidades — não obstante suas constantes lamúrias — é que há enormes benefícios gerados quando um grande número de pessoas convive em proximidade.

É muito conveniente viver em um local repleto de pessoas simplesmente porque cada uma dessas pessoas tem o potencial de ofertar vários bens e serviços para você. Quanto mais pessoas à sua volta, maior a oferta de pessoas dispostas a fazer coisas como lavar e passar suas roupas, consertar seus sapatos, consertar seu carro, cozinhar suas refeições, oferecer variadas opções de entretenimento, curar uma eventual doença, e, talvez ainda mais importante, oferecer a você um emprego que remunera bem. 

Tente viver isolado do mundo, no meio do mato, e você descobrirá quão "simples" é se alimentar, subsistir e sobreviver a problemas de saúde. A divisão do trabalho significa que, quanto mais pessoas houver por perto, mais fácil será satisfazermos nossos desejos e necessidades. Igualmente, maior será a nossa comodidade para resolvermos certos problemas. Daí as cidades superpovoadas.

Esse mito de que o mundo está superpovoado — em conjunto com a errônea conclusão de que isso está gerando problemas — fez com que várias pessoas celebrassem a notícia de que a taxa de natalidade está caindo em todo o mundo, mais acentuadamente nos países mais ricos. 

Em 2012, os casais nas cinco maiores economias do mundo — EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido — tiveram 350 mil filhos a menos do que em 2008, uma queda de quase 5%. A ONU prevê que as mulheres desses países terão uma média de 1,7 filhos ao longo de suas vidas. Demógrafos dizem que a taxa de fecundidade tem de ser de pelo menos 2,1 apenas para compensar as mortes e, com isso, manter a população constante.

A expectativa de que essa redução da natalidade irá gerar mais conforto e mais ar respirável para o resto do mundo ignora completamente os impactos econômicos decorrentes de um declínio populacional. Isso tem a ver com uma compreensão incompleta sobre a ação humana.

Aqueles que se preocupam com uma superpopulação tendem a ver os seres humanos como nada mais do que meros consumidores de recursos. A lógica é simples: os recursos são finitos; os seres humanos consomem recursos. Logo, menos seres humanos significa mais recursos disponíveis. Esse é o cerne de todas as ideias contrárias à expansão populacional. 

Porém, embora as premissas desse silogismo sejam verdadeiras, elas são calamitosamente incompletas, fazendo com que a conclusão seja igualmente (e perigosamente) incorreta.

Em primeiro lugar, os seres humanos não são apenas consumidores. Cada consumidor é também um produtor. Por exemplo, eu só consigo almoçar (consumir) porque produzi (trabalhei) e alguém me remunerou por isso. E foi justamente essa nossa contínua produção o que aprimorou sobremaneira o nosso padrão de vida desde o nosso surgimento até a época atual. Todos os luxos que usufruímos, todas as grandes invenções que melhoraram nossas vidas, todas as modernas conveniências que nos atendem, e todos os tipos de lazer que nos fazem relaxar foram produzidas por uma mente humana. 

Logo, a conclusão óbvia é que, quando mais mentes existirem, mais inovações surgirão para melhorar nossas vidas. Uma simples reductio ad absudum revela a óbvia verdade de que a cura para o câncer tem mais chances de ser descoberta em uma sociedade com um bilhão de pessoas do que em uma com apenas um punhado de indivíduos.

Ainda mais importante é o fato de que essas inovações resultam em uma multiplicação de recursos, de modo que o silogismo sofre uma importante alteração: os recursos são finitos; os seres humanos consomem recursos; os seres humanos produzem recursos; logo, se os seres humanos produzirem mais recursos do que consomem, um aumento populacional será benéfico para a nossa espécie.

Que nós produzimos mais do que consumimos é um fato autoevidente: basta olharmos para o padrão de vida que usufruímos hoje e compará-lo àquele que tínhamos há 50, 100 ou 1.000 anos. À medida que a população aumentou, aumentou também a nossa prosperidade, e a redução no sofrimento humano foi impressionante.

Tendo tudo isso em mente, a conclusão é que a acentuada queda nas taxas de natalidade é algo alarmante. Ironicamente, o primeiro arranjo a ser atingido será justamente aquele que é tão caro às esquerdas que defendem o controle populacional: a seguridade social. E isso não é nem uma questão ideológica ou econômica, mas sim puramente matemática: uma população crescente tem um número suficiente de pessoas trabalhando para sustentar os idosos. Já uma população declinante simplesmente não terá mão-de-obra jovem para pagar a aposentadoria desses idosos. Uma coisa é você ter 10 pessoas trabalhando para pagar a Previdência de um aposentado; outra coisa é você ter apenas 2 pessoas trabalhando para pagar a Previdência desse mesmo aposentado. Alguém terá de ceder.

Nos países onde há uma generosa rede de seguridade social, um encolhimento na população significa que uma fatia cada vez maior dos recursos será consumida pelos idosos, uma vez que as gerações mais jovens estarão em número insuficiente para compensar essa diferença. A consequência inevitável é que, à medida que a força de trabalho vai declinando, toda a produção vai junto. Se a força de trabalho encolhe, máquinas e equipamentos deixam de receber manutenção, começam a se deteriorar e caem em desuso. Fábricas são abandonadas. Empreendimentos imobiliários não são vendidos e os imóveis ficam desocupados. 

Tudo isso resulta em menos crescimento econômico, menos criação de riqueza, e menos prosperidade para todos. Até mesmo os keynesianos, que são obcecados com a tal "demanda agregada", deveriam entender esse conceito. Menos pessoas significa menos atividade econômica.

A celebração de que a população está crescendo menos advém majoritariamente do movimento ambientalista, cujo sentimento anti-humano é frequentemente explícito. No entanto, até mesmo naqueles círculos menos cáusticos o preconceito contra a humanidade já se espalhou. Hoje, é algo generalizado e que praticamente já adentrou a consciência popular. Entre as esquerdas, tal sentimento é predominante; há um instinto de que as pessoas são naturalmente ruins.

Essa postura só é defensável se você for do tipo que anseia por um retorno à época da varíola, da inanição, da água contaminada, e do perigo iminente de ser devorado por predadores famintos. Se, por outro lado, você não vê essas coisas como parte de uma existência idílica e natural, você deveria parar de propagar alguns mitos e ter mais consideração pelos seres humanos.
Por: Logan Albright é escritor e economista.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

OS PESTANAS E O TERRORISMO DO PT

Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, confessou a esta Folha, em entrevista publicada na quarta-feira, que o governo segura as tarifas para controlar a inflação. Chamou tal prática de "política anticíclica", o que certamente deixou de cabelo em pé economistas gregos e troianos, guelfos e gibelinos, liberais e desenvolvimentistas, carnívoros e herbívoros. A originalidade de seu pensamento econômico sempre foi assombrosa.


Estou certo de que, ao fazer a revelação, experimentou no cérebro o mesmo frêmito que Pestana, a personagem de Machado de Assis de "Um Homem Célebre", experimentava na ponta dos dedos quando sentia que a grande obra estava a caminho –a definitiva, aquela que o alçaria ao panteão dos gênios... E, no entanto, coitado do Pestana!, lá lhe saía mais uma polca. Seguiu até o fim da vida condenado a fazer... polcas!

O Pestana da Dilma julgou que estava tendo uma grande ideia: "Agora levo as oposições para o ringue, faço-as defender a correção de tarifas de combustíveis e energia, e a gente, em seguida, as acusa de inimigas dos pobres e de defensoras da inflação". Ninguém caiu no truque porque é óbvio demais. E ainda restou a suspeita de que Mercadante estava no conto errado de Machado. Teria ficado melhor no papel de Simão
Bacamarte, o médico de loucos, que não batia bem dos pinos. Quem teve de contestá-lo foi Guido Mantega, que, para incredulidade geral, negou que os preços estejam represados. A que extremos nos leva o petismo, não é mesmo? Entre a verdade indecorosa e a mentira decorosa! Nos dois casos, os propósitos não são bons. É um concerto de Pestanas.

No mesmo dia em que Mercadante derramou sua falta de sabedoria sincera, o PT levou ao ar uma peça publicitária infame, opondo um presente que não há a um passado que não houve: na gestão tucana, a fome, a miséria, o abandono e a desesperança resumiram o Brasil; no governo companheiro, o contrário. Uma voz cavernosa alerta: "Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos com tanto esforço. Nosso emprego de hoje não pode voltar a ser o desemprego de ontem. Não podemos dar ouvidos a falsas promessas. O Brasil não quer voltar atrás".

Eu poderia me estender aqui sobre o caráter essencialmente fascistoide desse entendimento da política, que busca excluir o outro do mundo dos vivos –Lula chegou a dizer que a "reeleição de Dilma será a desgraça da oposição"–, mas acho que esse aspecto perdeu relevância.

Depois de quase 12 anos no poder, o PT não tem futuro a oferecer. Por mais que o filminho de João Santana tenha as suas espertezas técnicas, a verdade é que a peça terrorista revela o esgotamento de uma mitologia, e tenho cá minhas desconfianças se o vídeo não será contraproducente, ainda que peças assim sejam submetidas previamente a pesquisas qualitativas.

A linguagem e a estética de esquerda repudiam, por natureza, o presente. Sem os amanhãs sorridentes, o dia que virá, a Idade do Ouro, como cobrar o sacrifício do povo, a sua mobilização, o seu ímpeto revolucionário, suas paixões sanguinolentas? Nas campanhas petistas de 2002, 2006 e 2010, o passado era demonizado, sim, mas o eixo estava num presente que mirava o futuro. Jamais me esquecerei daquelas grávidas descendo uma colina ao som do "Bolero", de Ravel, cena que chamei, então, de "A Marcha das Rosemarys" –sim, referia-me ao filme de Roman Polanski. Na peça publicitária terrorista que foi ao ar na quarta, o eixo está num presente que contempla o passado, faccioso e fictício como sempre. Restou ao governo Dilma o discurso reacionário. O que aquelas grávidas tinham a dar à luz está aí.

Estou a antever a derrota de Dilma? Ainda não. Apenas evidencio que o PT não tem mais nada a oferecer. Se emplacar mais quatro anos de mandato, o país ficará refém da capacidade de planejamento e de administração de gestores e estrategistas como Aloizio Mercadante e Guido Mantega. Se a presidente for reeleita, são eles os portadores da utopia. E isso parece pavoroso.
Por: Reinaldo Azevedo Publicado na Folha de SP


quarta-feira, 21 de maio de 2014

BEM-VINDOS DE VOLTA AOS ANOS 50

Bem-vindos de volta aos anos 50, ou, melhor, bem-vindos ao arremedo dos anos 50, a história repetida como farsa. As professoras do curso primário ainda apresentavam o Brasil, naquele tempo, como "um país essencialmente agrícola", apesar da onda de mudanças – a criação recente da grande siderurgia, a fundação da Petrobrás, a organização do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico, a expansão das fábricas de bens de consumo e a bandeira da industrialização acelerada. Hoje, como há seis décadas, a exportação depende dos produtos básicos. De janeiro a abril deste ano, só essa categoria proporcionou uma receita maior que a de um ano antes. Esse faturamento, US$ 33,91 bilhões, foi 4,2% superior ao dos primeiros quatro meses de 2013. Ao mesmo tempo, recuaram as vendas de industrializados. Também como nos tempos de Getúlio e JK, incentivos especiais e esquemas de proteção comercial são usados para favorecer a indústria local. Mas essa indústria há muito tempo deixou de ser nascente, a substituição de importações perdeu sentido e muitos países naquele tempo subdesenvolvidos tornaram-se potências dinâmicas e competitivas.


Na repetição farsesca dos anos 50, o governo atribui à oposição o desejo de privatizar a Petrobrás, quando a privatização de fato é promovida pelo grupo no poder, ao aparelhar, lotear e submeter as estatais a interesses partidários e pessoais dos governantes e de seus aliados. Esse mesmo padrão de comando levou a Petrobrás a negócios desastrosos, prejudicou sua receita, dificultou seus investimentos, converteu-a na empresa mais endividada do mundo – como noticiou a imprensa internacional – e corroeu seu valor de mercado. Tudo isso bastaria para compor uma história de incompetência, irresponsabilidade e abuso, mesmo sem o complemento das suspeitas de pilhagem, das prisões e da investigação criminal.

Na farsa do retorno aos anos 50, a sexta ou sétima economia mundial aparece em 22.º lugar entre os exportadores e só escapa de uma posição mais humilhante graças ao agronegócio e a um setor de mineração ainda com sinais de vitalidade. A nova pesquisa da indústria, recém apresentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com universo mais amplo e ponderação atualizada, serviu principalmente para confirmar as más condições do setor. Pelas novas contas, a produção industrial cresceu 2,3% em 2013, quase o dobro da taxa indicada pelo velho critério, 1,2%. Mas esse crescimento mal bastou para compensar o recuo do ano anterior, 2,3%.

Pelas novas contas, a produção de bens de capital – máquinas e equipamentos – também continuou em crise, com redução de 11,2% em 2012 e expansão de 11,3% no ano passado. No primeiro trimestre deste ano, as fábricas desses bens produziram 0,9% menos que entre janeiro e março de 2013. Esses dados confirmam a pouca disposição dos empresários de ampliar e modernizar a capacidade produtiva e tornam risível, mais uma vez, a promessa oficial de avanço econômico puxado pelo investimento.

Nos anos 50 o presidente Juscelino Kubitschek instalou uma administração paralela – os grupos executivos – para cuidar da implementação do Plano de Metas. A alternativa, segundo a avaliação da equipe de governo, seria atrasar o plano para reformar a máquina federal. Pode-se discutir se um caminho intermediário seria possível, mas um dado é inegável. No fim de cinco anos, a maior parte das metas havia sido alcançada: a industrialização havia avançado e uma nova capital havia sido plantada no centro do País.

Sobraram custos importantes e pressões inflacionárias, mas o governo seguinte, com alguma competência, poderia ter realizado os ajustes. Não se pode culpar JK nem pela renúncia de Jânio nem pelo desperdício de oportunidades na gestão de João Goulart, incapaz de sustentar politicamente a dupla Celso Furtado-San Tiago Dantas e garantir a execução do Plano Trienal.

Na reprodução em forma de farsa, o planejamento foi alardeado na retórica e abandonado na prática. Nem se planejou, nem se reformou a administração, nem se buscaram alternativas para maior eficiência. Falar em produtividade do setor público foi estigmatizado como discurso neoliberal. Escolheu-se como política a distribuição de postos a companheiros e aliados, tanto na administração direta quanto nas autarquias e empresas. Ao ocupar o Palácio do Planalto, em 2011, a presidente Dilma Rousseff prometeu cuidar da qualidade da gestão federal. Nunca deu um passo para isso.

A farsa da repetição teve improvisação no lugar do planejamento, distribuição arbitrária de benefícios, excesso de gastos, promiscuidade entre Tesouro e bancos oficiais, interferência desastrada na formação de preços e muito mais estímulo ao consumo do que à produção. Um déficit em conta corrente próximo de 3,5% do PIB, bem maior que o investimento estrangeiro direto, foi uma das consequências. Outro resultado importante, além, é claro, da estagnação industrial, foi uma inflação sempre na vizinhança de 6% ao ano, muito acima da meta, 4,5%.

Em abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,67%. O governo pode apontar uma melhora, depois da taxa de 0,92% em março. Mas uma alta de 0,67% ao mês corresponderia, em um ano, a 8,34%. O acumulado efetivo em 12 meses ficou em 6,28%, muito perto do limite de tolerância (6,5%). Em outras economias emergentes, bem mais dinâmicas, a alta de preços tem raramente superado 3%. Mas o quadro da inflação brasileira pode piorar, com a descompressão de preços contidos politicamente e nenhum esforço do governo para conter seus gastos.

Há, no entanto, pelo menos uma boa notícia. Segundo o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, os torcedores ingleses podem vir tranquilos para a Copa da Fifa. Não haverá, garantiu, perigo maior que o enfrentado pelos soldados britânicos no Iraque. Faltou explicar se os torcedores deverão vir armados, como os militares enviados à guerra. 
Por: Rolf Kuntz Jornalista - O Estado de S. Paulo


NEY MATOGROSSO ESCANCARA A REALIDADE DO BRASIL, EM PORTUGAL

terça-feira, 20 de maio de 2014

O DIREITISTA IDEAL


Em suma: seja um burguês, pense como um burguês, fale como um burguês. Seja aquele adversário-padrão do qual a esquerda jamais tem de esperar alguma surpresa.

Entre os direitistas chiques no Brasil de hoje, a maior das virtudes é a pusilanimidade: nunca diga nada com que a mídia já não tenha concordado, nunca cite o Olavo de Carvalho ao repetir o que ele dizia dez anos antes, e sobretudo capriche na moderação ao ponto de não parecer mais direitista do que o compatível com a admiração pelas grandes figuras do esquerdismo internacional, especialmente Barack Hussein Obama. Nelson Mandela, então, nem se fala. Afinal, quem sintetiza melhor os ideais da “zé-lite” do que um comunista vendido aos Rockefellers? (Melhor que isso, só o Lula, homenageado na mesma semana, em Davos e em Havana, por sua conversão ao capitalismo e por sua fidelidade ao comunismo.) Sem dizer pelo menos umas quinze palavrinhas em louvor desse grande homem, ninguém no Brasil adquire o salvo-conduto para ser um direitista de respeito.

Se ao criticar alguma idéia do Frei Betto você puder chamá-lo de "meu querido", você será, no consenso da mídia, o direitista perfeito. Afinal, só pessoas de mentalidade truculenta, reencarnações talvez do nefando Dr. Fleury, podem imaginar que os comunistas têm más intenções.

Assegure a seus leitores e ouvintes que a diferença entre esquerda e direita é só a preferência pelo intervencionismo estatal ou pela economia de mercado; e, quando um comunista aparecer fazendo a apologia do livre comércio – como, em seu tempo, já o fizeram Karl Marx e Lênin, sem que você o saiba –, elogie-o por ser um esquerdista esclarecido, “aberto à modernidade”.

E nunca esqueça de dizer que quem não foi comunista aos dezoito anos não tem coração. Mediante essa frase maravilhosa, você provará superior moderação e equilíbrio, dividindo o universo em duas partes iguais e concedendo ao comunismo o monopólio da virtude moral, ao capitalismo o da eficiência econômica. Se puder, cite em apoio dessa tese a “Fábula das Abelhas” de Bernard de Mandeville ou alguma coisinha de Ayn Rand.

Sobretudo, nunca tenha a menor consciência de que, ao fazer isso, você é o bilionésimo que consagra como uma fatalidade metafísica o abismo entre o ideal e o real, o qual um século e meio atrás Karl Marx já identificou como um chavão infalível do pensamento burguês.

Em suma: seja um burguês, pense como um burguês, fale como um burguês. Seja aquele adversário-padrão do qual a esquerda jamais tem de esperar alguma surpresa.

Ah, em tempo: ao falar do PT, chame-o de "jurássico". Isso não pode faltar. O primeiro a chamar a esquerda de "jurássica" foi o Roberto Campos, nos anos 70 do século XX. Naquele momento, foi um achado. Entre os meus modestos títulos de glória literária, está o de jamais ter copiado essa expressão. Mas há pessoas que, quando a empregam hoje em dia, sentem um orgasmo de originalidade estilística. E seus leitores acreditam piamente que aí reside o argumento mais devastador contra o petismo. Use esse termo repetidamente e obterá um lugar no conselho consultivo de alguma entidade liberal.

Quando alguém lhe mostrar algum sinal patente da hegemonia gramsciana nas universidades ou no show business, responda que isso é paranóia, já que indícios similares aparecem de montão nos EUA, país onde, como todo mundo sabe, não existem comunistas. Afinal, o ex-ou-futuro-presidente Lula já não nos ensinou que (sic) “Não existe nada de mais anticomunista do que o cinema americano”?

Se por acaso ouvir falar da invasão muçulmana no Ocidente, diga, com ares de superior tranqüilidade olímpica, que nada disso existe, que o terrorismo islâmico é puro atraso cultural e fundamentalismo religioso, coisas já superadas no nosso mundo de progresso científico-tecnológico.

E, se algum engraçadinho vier lembrar que em 2002 você assegurou que a vitória do PT era impossível; que você um dia jurou que o Foro de São Paulo não existia; que uns anos atrás você assegurava que a ligação PT-Farc era uma invencionice de adeptos da ditadura: que você acreditou que Barack Hussein Obama era a salvação dos EUA; que a idéia de a Rússia invadir países em torno sempre lhe pareceu loucura de saudosistas da Guerra Fria; e que, em suma, você nunca acertou uma previsão ou análise política ao longo de toda sua porca vida, faça como fazem todos os seus iguais: Diga: “O que vem de baixo não me atinge”, e continue, impávido colosso, treinando diante do espelho essa esplêndida aparência de normalidade, maturidade e equilíbrio, que tem sido o segredo do seu sucesso na existência. 
Por: OLAVO DE CARVALHO Publicado no Diário do Comércio.




POSSIBILIDADES ESTRATÉGICAS E JOGOS DIALÉTICOS

A entrada da Ucrânia na OTAN significa morte para a Rússia. (Alexander Prokhanov)


Na primeira fase do estabelecimento do Partido Comunista, Zyuganov (não sem minha participação e a participação de Prokhanov,...) tentou compreender e avaliar conceitualmente o componente nacional na ideologia soviética (nacional-bolchevismo); porém, as autoridades do Partido Comunista logo desistiram dessa iniciativa, ligando com algumas outras – provavelmente mais importantes – questões. Ainda assim, no nível da retórica e da reação primária, os comunistas russos falam como nacional-conservadores e às vezes como “monarquistas ortodoxos”.
Aleksandr Dugin, A Quarta Teoria Política

O supracitado Aleksandr Dugin não é um ideólogo, é um estrategista. Todavia, antes de aprofundarmo-nos sobre o que é ou o que pode ser estratégia, consideremos primeiro a situação na Ucrânia. Ou as tropas russas entrarão em território ucraniano após 9 de maio ou a Rússia contará com agentes secretos infiltrados no governo ucraniano para reestabelecer (ou manter) controle indireto do país. Se esta última estratégia for adotada, ela poderá proporcionar a Moscou uma nova maneira de causar danos à União Europeia desde dentro. O fato de que as estruturas clandestinas russas já estejam estabelecidas por toda a Europa é pouco reconhecido ou não recebe apreciação suficiente pelos analistas da área. A dependência energética que a Europa tem da Rússia é fato reconhecido, claro, mas isso é trivial se for comparar.

A grande estratégia de Moscou sempre foi multidimensional. Para atingir um objetivo, os russos não seguem uma única linha de ação; eles seguem simultaneamente várias linhas paralelas e opostas em sua abordagem. Isto torna difícil para os estrategistas ocidentais anteciparem os movimentos da Rússia. Novamente a Rússia nos desconcerta. Continuamos iludidos e impossibilitados de perceber que a Rússia possui instrumentos clandestinos desenvolvidos durante o regime soviético que são indisputavelmente mais sofisticados. Não temos nada que possa competir com eles. Para se ter ideia, existe a penetração econômica e financeira da Europa pelos negócios e empresas de fachada da Rússia. Também há o papel desempenhado pelo crime organizado russo que apela ao expediente de chantagens e lavagem de dinheiro. Não obstante, há, assim como havia na Guerra Fria, as clássicas redes de agentes secretos empenhados na infiltração de governos e no exercício de influência política. Levando em consideração todos esses elementos, enquanto os países europeus não souberem quais possibilidades o governo russo realmente – e clandestinamente – goza, nunca haverá uma apreciação completa de como Moscou articula suas forças militares e usa sua influência diplomática.

Foi Clausewitz quem disse que a guerra é a continuação da política por outros meios (i.e. violentos). Foi Lênin que inverteu esse dito, dizendo que a política é a continuação da guerra por outros meios. A Revolução Bolchevique não foi apenas uma revolução política e social; ela significou uma revolução no pensamento estratégico que até hoje não foi devidamente apreciada. A vitória pode ser alcançada com uma combinação de meios militares e não militares. Ela pode ser alcançada por meio da sabotagem econômica, pela guerra de informações ou até mesmo pela corrupção do governo, da língua e da cultura.

As famosas palavras do velho estrategista chinês Sun Tzu podem servir de inspiração para uma nova e abrangente ciência estratégica. A estratégia se torna o deus governante de todos, o princípio de governança e a resposta oriental à política constitucional do Ocidente. Oh sim, mesmo que estejam em decadência, os Estados Unidos ainda são (pelo menos parcialmente) guiados pela Constituição. Já a Federação Russa é guiada pela sua política de longo alcance baseada nos princípios de Sun Tzu: “A arte da guerra é baseada em truques”, disse o chinês. “Portanto, quando estivermos prontos para atacar, devemos parecer incapazes. Quando usarmos nossas tropas devemos parecer inativos. Quando estivermos perto, devemos fazer o inimigo acreditar que estamos longe. Quando estivermos longe, devemos fazê-lo acreditar que estamos perto. Use armadilhas para atrair o inimigo. Finja desordem e o destrua-o.”

O brilhantismo de Sun Tzu reside no fato de que sua abordagem dialética do truque pode ser aplicada a qualquer conjunto de opostos. Sendo assim, poderíamos reescrever as palavras de Sun Tzu da seguinte maneira: “A arte da guerra é baseada em truques. Portanto, quando você é um comunista, você deve parecer que é um observante capitalista (e.g. Beijing). Quando você é um ateísta cínico, você deve parecer cristão (e.g. Putin). Quando você atacar um oponente usando sucedâneos islâmicos, você deve parecer estar sendo atacado por esses mesmos sucedâneos (e.g. Chechênia). Quando você possui supremacia nuclear estratégica (como possui a Rússia), você deve se mostrar como uma mera potência regional (é o que diz Obama sobre a Rússia). Use armadilhas para atrair o inimigo. Finja desordem e o destrua-o”.

A transposição de opostos que vão da dimensão espaço-temporal à dimensão ideológica esquerda-direita é apenas uma das possibilidades. Se foi possível Putin ter seu álibi checheno antes da destruição das Torres Gêmeas no 11 de setembro, também foi possível para ele ter um álibi cristão (prendendo as integrantes do Pussy Riot) no meio da derrocada cultural dos Estados Unidos. Enquanto o aquecimento global é usado como pretexto para sabotar as economias ocidentais, Putin, a fim de manter as aparências, diz acreditar no “resfriamento global”. Novamente, pode-se usar a analogia de um álibi. Dados esses exemplos, não podemos tomar as intenções declaradas de Moscou pelo valor de face. Então Moscou quer mesmo anexar a Ucrânia ou empurrá-la para os braços da Europa? Seria a própria Ucrânia um barril de veneno pronto para ser derramado sobre a Europa? Novamente Putin está criando seu álibi. Assim, quando a cultura ocidental se tornar gay, Putin não será culpado; quando se descobrir que o aquecimento global é um boato, Putin não será culpado; quando a Ucrânia for ajudada pela UE e se mostrar o canudo que sugará a Europa até à falência, Putin não será culpado. (Com efeito, ele será visto como o salvador da Europa.)

Sun Tzu sugeriu que a excelência na arte da guerra consiste em vencer sem precisar lutar. Para conseguir isso é necessário infiltrar o terreno inimigo e atrapalhar seus planos por meio de provocação, sabotagem e semeio de confusão. Deve-se desmoralizar a cultura, espalhar ideias irracionais por toda a intelligentsia e promover a ilegalidade e a bebedeira entre as classes profissionais trabalhadoras. Como disse Sun Tzu, “em todas as lutas, métodos diretos podem ser usados para dar início a uma batalha, mas métodos indiretos serão necessários para assegurar a vitória”.

É necessário saber para qual direção o inimigo marcha e é igualmente necessário que ele desconheça a sua. A melhor estratégia é aquela que é desconhecida pelos outros e o guerreiro mais efetivo é aquele que entra em terreno inimigo sem ser reconhecido. Para atingir qualquer objetivo, descreva a si mesmo como alguém cujo objetivo é inconcebível. Muitos serão capazes de impedi-lo. Entretanto, quem pensará que se deve fazer isso?
Por: JEFFREY NYQUIST
Tradução: Leonildo Trombela Junior


segunda-feira, 19 de maio de 2014

A POLÍTICA PETISTA DO SALÁRIO MÍNIMO E O PROBLEMA DA PRODUTUVUDADE

Não existe riqueza produzida por decreto.


Na semana passada a imprensa, especialmente a televisiva, enfim começou a tocar no óbvio que tenho exaustivamente avisado desde há muito: os sucessivos aumentos do salário mínimo (SM), completamente desvinculados de um crescimento real da economia e da produtividade do trabalho, estão indexando a economia e empurrando a alta da inflação.

Não estou reivindicando aqui os louros tais quais aqueles videntes que se dão bem no chute das suas previsões em época de virada de ano ou de copas do mundo. Também não é praga atirada contra quem está no poder, apostando no “quanto pior, melhor”. É apenas o exercício do velho bom-senso. Na verdade, soa-me um tanto cínico que apenas agora os grandes meios de comunicação estejam noticiando algo tão banal como se fosse a descoberta da roda.

Pra começar, o próprio conceito de salário mínimo é uma ficção socialista baseada no conceito marxista do “mínimo vital”, segundo o qual uma pessoa tem de receber como salário um valor que lhe permita usufruir um pacote de condições mínimas de existência. Seguindo a essência de tal raciocínio, torna-se legítimo exigir que a cada lance das redes capture-se uma quantidade mínima de peixes, ou que a cada semeadura vingue um percentual mínimo durante a colheita. E Deus que dê seu jeito...

Até a nossa própria constituição, cunhada por Ulisses Guimarães de “A Cidadã”, que eu rebatizei de “A Esquizofrênica”, lista um rol de nove necessidades ditas básicas que devem ser atendidas pelo salário mínimo, além de inventar outra bizarrice chamada de “piso salarial”, que é uma espécie de salário mínimo especial para determinadas categorias profissionais - deve ser porque há cidadãos “mais iguais” que outros, não é? Notem como o piso salarial é a própria revogação do salário mínimo, contrariando a ideia de igualdade de todos perante a lei que o caput do Artigo 5º encabeça:


Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;


O SM, como toda lei demagógica, assenta-se sobre uma redação bastante abstrata. Por exemplo: qual a qualidade mínima de todos estes itens para que sejam considerados satisfeitos? Mais: qual a composição de uma família? Ora, se há de haver um salário mínimo nacionalmente unificado, isto é, “igual para todos”, então o tamanho da família deverá ser também padronizado, ou haverá diferenças de renda entre famílias com diferente número de membros. Uma casa de sapê e uma alimentação à base de feijão e farinha de mandioca servem? Como estará satisfeito o item “lazer”? 

Com uma ida mensal ao cinema ou teatro, ou com uma viagem à Disneylândia? Outra: de quê maneira o SM deve atender a necessidades tais como educação, saúde e previdência social, se as duas primeiras são providas “gratuitamente” pelo estado e a terceira, compulsoriamente, pela contribuição previdenciária?

Há ainda disparidades de âmbito histórico e geográfico: As necessidades de um cidadão do século XXI envolvem claramente o custo com a energia elétrica e gás de cozinha, que não estava compreendido entre as necessidades de um cidadão do século XIX. No quesito espacial, será que um americano aceitaria o SM de um brasileiro, e este, o de um nigeriano? Ainda no Brasil, será que um SM em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro vale tanto quanto no interior do Nordeste?

Todas estas questões remetem à conclusão de que o SM estipula um valor mínimo para o trabalho completamente convencional, que os governos adoram especular por ocasião da proximidade com as eleições, usando a ignorância do povo contra ele próprio.

Porém, o mais importante a revelar sobre o SM é que ele não garante nada, ao contrário do que afirma: não garante suprir as necessidades que arrola, nem que todos os cidadãos os receberão; apenas quem fará jus serão os trabalhadores com carteira assinada, de modo que, quanto mais alto for decretado seu valor e mais distante da produtividade econômica estiver, menos cidadãos serão formalmente empregados. Concluindo: o SM não é uma garantia e muito menos um maná, mas sim uma mera proibição, isto é, a proibição de contratar alguém por um valor menor do que o estipulado pelo governo.

Com efeitos, milhares ou milhões de pessoas que hoje dependem de uma despesa governamental, como o bolsa-família, ou que sobrevivem de bicos ou no comércio informal, poderiam estar empregadas por qualquer valor inferior ao atual, imediatamente transformando-se de problema em solução.

Se os contratos de trabalho fossem livres, virtualmente não existiria o desemprego, e uma maior taxa de emprego naturalmente empurraria o valor dos salários para cima, de acordo com a velha e boa lei econômica natural da oferta e da procura.

Ao estipular uma seqüência de reajustes para o valor para o salário mínimo superiores ao aumento da produtividade, o custo do trabalho aumenta, e por conseguinte, também os preços aos consumidores, que ora bolas, afinal de contas são os próprios trabalhadores. A conseqüência disto será um aumento de desempregados, para quem a inflação, digamos alegoricamente, é de 1000% ao mês.

Não existe riqueza produzida por decreto. Esta se produz com uma combinação equilibrada de poupança, trabalho e investimentos. Eis a razão pela qual um americano possui uma renda cinco vezes maior do que a do brasileiro: sua produtividade é proporcional ao seu salário, e o resultado feliz de uma economia livre se mostra por uma abundância de produtos mais baratos e salários que aumentam de poder aquisitivo progressivamente.

A atual política de reajustes indexados do SM fará com que a moeda sofra uma implosão (desvalorização) mais cedo ou mais tarde, trazendo o poder de compra dos trabalhadores a um nível ainda inferior ao de antes da implementação de tal funesta medida. Isto já está começando a ser verificado.
Por:  KLAUBER CRISTOFEN PIRES | 07 MAIO 2014 


domingo, 18 de maio de 2014

PRIVATIZARAM A PETROBRÁS

Dilma Rousseff falou grosso. Declarou que considera “inadmissível” a privatização da Petrobras. Com toda a bravura do seu gesto, a presidente, infelizmente, está atrasada. A Petrobras já foi privatizada.


A maior empresa brasileira pertence hoje, majoritariamente, a um consórcio de franco-atiradores que prosperaram no seio do governo popular. Se não, vejamos: uma empresa que, numa única transação, transfere a terceiros mais de 500 milhões de dólares, a fundo perdido, de patrimônio público, é uma empresa dos brasileiros?

Poderia ser. Mas, e se essa empresa perde metade do seu valor de mercado sob um governo que asfixia seus preços para mascarar a inflação? Considerando-se que, em tal manobra, essa empresa foi utilizada por um grupo partidário para se perpetuar no poder, ela está servindo aos brasileiros? Quais brasileiros?

E se um grupo de fornecedores e intermediários investigados pela Polícia Federal, com contratos suspeitos com essa empresa, faturou mais de 30 bilhões de reais nos últimos dez anos? Você ainda acha que essa empresa é sua? Tudo bem, talvez você ache que o Land Rover do Silvinho Pereira também é seu. Aliás, agora você tem também o Land Rover do ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa, presente do doleiro Alberto Youssef. Pode escolher com qual dos dois você não levará sua mãe para passear no dia dela.

Segundo a Polícia Federal, o esquema centralizado por Costa, que está preso, funciona desde 2004. Era o segundo ano do governo Lula, e a nova presidente do Conselho de Administração da Petrobras era Dilma Rousseff. Nesses dez anos, floresceram os negócios do doleiro Youssef, regendo uma formidável orquestra de contratos superfaturados, propinas e dinheiro de graça para políticos amigos do povo. Um deles era André Vargas, que o PT de Dilma tirou do anonimato e aninhou na vice-presidência da Câmara dos Deputados, nada menos. O governo popular sabe valorizar um bom engenheiro de prospecção de dólares. O petróleo é deles.

Aí vem a oposição pedir a CPI da Petrobras. Pura inveja. Choro de quem não participou desse bem-sucedido processo de privatização. Muitos não entenderam por que, em meio às revelações sobre lucrativos negócios privados com esse doce de mãe que é a Petrobras, Dilma veio falar que não admite a privatização da empresa. Alguns acharam até que a presidente estivesse esclerosada, respondendo a coisas que ninguém perguntou. Nada disso. Pensando bem, a lógica de Dilma está perfeita: é inadmissível privatizar algo que já foi privatizado.

Lula e Dilma escalaram Renan Calheiros para barrar a CPI da Petrobras, ou, pelo menos, sabotá-la. É a pessoa certa no lugar certo. O presidente do Senado entende dessa matéria de prospecção de vantagens privadas à sombra do Estado (já provou que um eficiente servidor da nação não deixa ex-namorada sem pensão). E o cenário político é o melhor possível para barrar essa tentativa de fuxicar a petrolífera dos companheiros. Os novos manifestantes e revolucionários urbanos, que, segundo se lê por aí, vieram vocalizar um poderoso anseio de mudança, não estão nem aí para a CPI da Petrobras. O governo popular está cozinhando o assunto há dois meses, tranquilo, sem nenhum ninja, mascarado ou tranca-rua para lhe causar nem um sorriso amarelo.

O Brasil está satisfeito com o padrão petista de concubinato estatal (em comunhão de bens). A privatização do Banco do Brasil pelo valerioduto, por exemplo, encheu o PT de dinheiro público e foi saudada pela nação com a reeleição de Lula. A entrega do PAC à conexão Delta-Cachoeira foi chancelada com aprovação recorde a Dilma em 2012. A CPI do Cachoeira, aliás, não levou às ruas um gato pingado com cartolina de protesto. A mulher do bicheiro virou musa, e a farra dos superfaturamentos no Ministério dos Transportes retornou no ano seguinte, nova em folha. A CPI da Copa, que trataria da privatização do BNDES na jogada dos estádios bilionários, foi engavetada pelo Congresso — sem nenhuma alma penada gritando que não vai ter Copa.

É claro que, com todas essas privatizações estatais do governo popular, está ficando difícil fechar as contas públicas (mesmo com a maquiagem contábil). Mas não tem problema. O ministro da criatividade fazendária, Guido Mantega, já anunciou que pode haver um aumento de impostos sobre bens de consumo. Perfeito. O contribuinte precisa ser chamado a completar o caixa, porque os sócios de Youssef não podem morrer de fome.

Agindo assim, o governo Dilma está em consonância com a coqueluche mundial dos progressistas, o best-seller “O capital no século XXI” — obra de mais um autor da bondosa esquerda francesa. Basicamente, ele propõe mais impostos para quem consegue juntar dinheiro. É isso aí. Preservem Youssef, Rousseff e demais companheiros do povo. Como diria Thatcher, o socialismo será eterno enquanto durar o dinheiro dos outros.
Por: Guilherme Fiuza é jornalista. Publicado em O Globo


PAREM DE TENTAR MUDAR O MUNDO!

“O mundo seria melhor se não houvesse tanta gente prometendo melhorá-lo”.


Karl Marx teria dito que o importante não era compreender o mundo, mas transformá-lo. Assim, da juventude irresponsável mal escapamos e já somos cooptados em universidades e outros locais muito respeitáveis a nos dedicarmos a única coisa considerada realmente importante na vida: mudar o mundo. É como se todos os erros e misérias do mundo estivessem ali, durante milênios, esperando apenas por nós para serem submetidos às nossas elegantes soluções. Não, nada do bom e velho senso comum, cheio de seus preconceitos tacanhos, nem das experiências tradicionais consagradas pelos séculos. O que são essas coisas diante do ímpeto a serviço de um mundo melhor?

Convictos que há algo muito errado nas engrenagens do cosmos, os revolucionários arremetem por aí contra as muralhas dos costumes acumulados sem se perguntar a quem interessa toda essa revolução. Para que conhecer a realidade se podemos mudá-la?

Um exemplo desse ímpeto. Logo nos primeiros dias de aula do meu curso de Direito, um professor de filosofia usou um método aparentemente inocente para “estimular o pensamento crítico”. Disse que estava ali para trocar conhecimentos conosco, para participar e que não era professor nem nada. Pediu-nos que fizéssemos um círculo com nossas cadeiras, coisa mais apropriada ao “debate” e disparou: “me digam, o que vocês acham da situação do mundo?”, ou alguma coisa assim. Os jovens alunos saíram um a um a apontar as coisas mais absurdas, e a notar como o mundo precisava mesmo ser corrigido.

No entanto, se repararmos bem, mudar o mundo não é coisa assim tão simples. A história está repleta de episódios mostrando alterações programadas com essa finalidade e seus resultados desaguaram invariavelmente no agravamento dos mesmos problemas, e até na criação de inúmeros outros. Isso porque a engenharia social, nome da técnica dessa quimera, é usada pelos revolucionários sempre com uma camada extra de verniz de bons propósitos, escondendo o objetivo real que é a destruição da civilização como a conhecemos.

Basta ver exemplos recentes das propostas progressistas e bem-intencionadas: todas produziram resultados infinitamente piores que a opressão a qual visavam eliminar:

1. Combater a criminalidade violenta foi a desculpa usada para adoção do estatuto do desarmamento, uma campanha nacional que criminalizou de forma mais dura o porte ilegal de armas, instituindo um intenso programa de desarmamento voluntário da população. “De que forma?”, perguntavam atônitos todos que até concordavam que diminuir a criminalidade violenta seria necessário (quem poderia contrariar isso?). “Ora, os bandidos conseguem armas roubando-as de você, pessoa de bem. Se vocês não tiverem armas não as dão aos bandidos, já que usá-las é muito perigoso”. Qual foi o grande resultado da campanha do desarmamento? A criminalidade diminuiu? Não. Pelo contrário, a cada ano 50 mil pessoas morrem para confirmar a suspeita que somos o povo mais assassino do planeta. Os responsáveis pela engenharia do desarmamento sabiam disso, é claro. Sabiam que bandidos não compram armas em lojas e que num assalto dificilmente conseguem os fuzis e metralhadoras que tanto adoram, mas não podiam dizer claramente que seu objetivo era o desarmamento da população civil. Não admitiríamos jamais que o desarmamento nada tem a ver com criminalidade, mas com aumento do controle do estado sobre as famílias e indivíduos.

2. Soa elegante dizer que os adolescentes estão numa condição peculiar de desenvolvimento e, por isso, antes de puni-los por seus crimes, é necessário educá-los. A adoção do ECA foi celebrada como uma dessas grandes leis que transformaria a realidade de crianças e adolescentes em situação de risco. Passados alguns anos, nunca adolescentes foram tão assediados pelo crime como hoje, servindo a toda sorte de propósitos maléficos, chegando ao ponto de, em razão da completa irresponsabilidade, poderem se dar o direito de filmarem homicídios e crimes hediondos como troféus de sua genialidade. E o que fazem os defensores desse projeto fracassado? Alguém bateu no peito e disse mea culpa? Alguém ficou ao menos ruborizado? Na verdade não: o ECA é um sucesso, e o próximo passo, que vai resolver tudo é a proibição de pais aplicarem castigos físicos como forma de disciplina.

3. Os movimentos de sem-terras, responsáveis por boa parte da violência no campo no passado recente, tiveram destinados milhares e milhares de reais para reforma agrária. Nunca tantas fazendas foram desapropriadas. Nunca tantos assentamentos criados. E isso numa situação em que a esmagadora maioria da população brasileira já não vive mais no campo. A violência no campo diminuiu? Não, ao contrário: dissidências do próprio movimento agora afirmam que é hora de corrigir as desigualdades nas cidades, e que invasões em prédios urbanos passarão a fazer parte dos “meios de luta”. Nenhuma palavra foi ouvida dos defensores da reforma agrária.

4. Os cubanos desfrutavam de um país com uma das melhores economias das Américas e produziam uma literatura das melhores. Sob o pretexto de livrar Cuba da exploração externa e instaurar um regime de justiça social, os comunistas conseguiram transformar a ilha num gigantesco presídio, com níveis de miséria inigualáveis. Basta lembrar que as famílias possuem “libretas” para anotar a distribuição miserável, mas igualitária, de arroz e papel higiênico. Algum revolucionário arrependido? Não. A miséria antes provocada pela exploração americana agora é causada pelo embargo comercial. Das contradições óbvias ninguém se dá conta, pois o que importa é a luta por um mundo melhor.

Esses são breves exemplos, e dos mais leves, do problema da transformação da realidade por meio da engenharia social. Não é necessário mencionar que as maiores atrocidades dos dois últimos séculos foram cometidas em nome de um mundo melhor. Em todos os casos não se chegou a nenhuma solução, somente se avançou muito na produção de novos problemas, que demandarão, por sua vez, mais soluções e, assim, numa torrente viciosa, a sociedade vai sendo gradativamente destruída e transformada em outra coisa pior, conforme advertira Russell Kirk: “os ideólogos que prometiam a perfeição do homem e da sociedade converteram grande parte do mundo no século XX em um inferno terreno”.

Por isso, quando alguém lhe sugerir aquele conselho de Marx, responda com os dizeres de Olavo de Carvalho: “O mundo seria melhor se não houvesse tanta gente prometendo melhorá-lo”.
Por:  ODINEI DRAEGER 

FICÇÃO FAZ FALTA?

Como imprensa que ousa fazer oposição, Veja cumpre sua missão. Faz melhor trabalho que os partidos ditos de oposição, que mal ousam criticar Dilma e alimentam um medo sagrado de perder votos se criticam Lula. Pena que a revista, como meio de divulgação cultural, seja um desastre.

Já não lembro quando Veja fez a crítica de um filme que mereça ser visto. A redatora do setor, Isabela Boscow, prima por comentar o pior que o cinema produz, best-sellers idiotas tipo Batman, Homem Aranha, Superman, X-Man e bobagens outras transpostas dos quadrinhos.

Literatura, idem. Haja best-sellers ianques para enfiar na goela do leitor. Em sua penúltima edição, a revista traz um discutível ensaio sobre as excelências da ficção. No fundo, um gancho para divulgar “o maior fenômeno da atual literatura para jovens”, a um tal de John Green, ao qual dedica cinco páginas, que está em primeiro lugar em sua lista de mais vendidos e já vendeu 1,2 milhão de exemplares no Brasil. Quer dizer, não pode ser leitura que preste. Não o li nem vou ler. Em primeiro lugar, não leio best-sellers instantâneos, fabricados ao gosto do público. Curiosamente, as cinco páginas da reportagem citam obras do autor, mas nada dizem sobre nenhuma delas. Ficamos no escuro.

Em segundo lugar, desde jovem tomei distância dessa próspera indústria chamada literatura infanto-juvenil. Ou melhor, não que tomasse distância. Em meus dias de jovem, essa colossal indústria praticamente não existia. O mercado era suprido por gibis que, confesso, li com prazer. De certa forma, aprendi a ler com eles. Mas jamais deixei de lado o livro. Se gostava de ler Tarzan em quadrinhos, mais me interessavam os livros de Edgar Rice Burroughs, que deixavam espaço à imaginação. Muito viajei pelos pântanos de Par-Ul-Don e muitas vezes vibrei com o homem-macaco gritando kriagh bandolo tarmangani: matar o homem branco.

Vamos ao ensaio. Segundo Veja, a ciência comprova que a arte da ficção não é supérflua: está, ao contrário, profundamente arraigada na natureza humana e é necessária a ela. Até aí, nada a discordar. A humanidade repousa em ficções. A começar pela mais bem sucedida de todos os tempos, a idéia de Deus. É o personagem de ficção mais universal e conhecido já criado pela literatura. É invocado tanto por sábios e como por analfabetos. Seu nome está na boca de reis, governantes, como na de príncipes da Igreja ou criadores de seitas. É uma ficção peculiar, que sobrepaira a literatura e, ao contrário desta, que apenas propõe caminhos, é normativa e gera dogmas, leis e mesmo ética.

Outra coisa são as ficções não-religiosas, que não pretendem dominar as mentes de nenhum leitor. “não é mistério saber por que informações verdadeiras importam para nossa sobrevivência. Mas é bem mais desafiador, para a ciência, entender por que nos importamos com os dramas de mentirinha de personagens inventados”, diz Jonathan Gottschall, autor de The Storytelling Animal. Gottschall complica. Não é preciso apelar à ciência para encontrar explicações. Nos importamos com os dramas de mentirinha porque eles são bem melhor tecidos que a vida. A vida está cheia de momentos de monotonia, que são eliminados na ficção. (Não falo de Kafka ou Joyce, bem entendido). Todo grande personagem é tão bem construído que fascina – ou causa repulsa – bem mais que o homenzinho real.

Além disso, ao enfrentar uma ficção, o leitor tem de aceitar a convenção proposta pelo autor, a de que o personagem é alguém existente. Por exemplo, os romances de Tomas Mann ou Dostoievski. Hans Kastorp ou Settembrini, o príncipe Mishkin ou Rodion Romanovitch Raskolnikov não são pessoas que você vai encontrar no boteco da esquina. Suas intervenções são verdadeiros ensaios, que nada têm de um diálogo descompromissado. Se você não aceita a premissa de que tais digressões sejam naturais, você não entra na obra. 

Os personagens são hipóstases do autor, como diz Ernesto Sábato, e só um grande autor criará grandes personagens. Em um de seus ensaios sobre a condição do escritor, o escritor argentino apoia-se em Donne, quando este diz que ninguém dorme na carroça que o leva da prisão ao patíbulo e, no entanto, todos dormimos desde a matriz até a sepultura, ou pelo menos não estamos totalmente acordados. “Uma das grandes funções da literatura: despertar o homem que viaja rumo ao patíbulo”.

"A literatura, como toda arte, é uma confissão de que a vida não basta", escreveu Fernando Pessoa. A literatura pode nos fazer chorar ou rir, nos inspira solidariedade e sentimentos nobres, como também repulsa ou horror. A vida de homens como Alexandre, Schliemann, Fernão de Magalhães também. Mas quando lemos uma biografia destes vultos, estamos lendo uma espécie de ficção, na qual foram selecionados seus melhores momentos. 

Sim, a arte da ficção não é supérflua, como diz a reportagem de Veja. Só faltou dizer algo: a grande ficção, a boa literatura. Porque a ficção que a revista tem divulgado não faz falta nenhuma à humanidade.
Por Janer Cristaldo Do site: http://cristaldo.blogspot.com.br/


sexta-feira, 16 de maio de 2014

QUEM FICOU RICO COM OS PREJUÍZOS DA PETROBRÁS?

A 36 dias da abertura da Copa do Mundo, o futebol vai se tornando o assunto predominante no Brasil, embora as pesquisas de opinião pública sobre a disputa da Presidência continuem em voga. Então, talvez não seja de mau alvitre recorrer a lúcidos ensinamentos do futebol para aplicar na campanha eleitoral. Este é o caso da máxima dos treinadores que mais ganham campeonatos seguindo uma lição simples: "Em time que está ganhando não se mexe". Mas, com a importância cada vez maior dada ao marketing político nas democracias ocidentais, convém não esquecer o lema que está por trás de toda publicidade, seja comercial, seja religiosa, seja política, atribuído a Joseph Goebbels, o mago da propaganda do nazismo: "Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade".


Candidata obstinada à própria reeleição, a presidente Dilma Rousseff pode até não ter pensado nas duas sentenças, mas, na certa, as aplicou quando repetiu o mantra com que seu antecessor, padrinho e agora pedra no sapato Luiz Inácio Lula da Silva derrotou Geraldo Alckmin, em 2006, e ela própria adotou para manter José Serra à distância, em 2010. Há oito anos, aparentemente debilitado pela denúncia do mensalão, o ex-presidente foi ajudado por uma campanha subliminar insinuando que os tucanos privatizariam a Petrobrás. O efeito deletério da patranha em seu desempenho fez o oponente vestir uma jaqueta com logomarcas de estatais, entre elas a Petrobrás. Em vão: teve menos votos no segundo do que no primeiro turno e deu-se a reeleição. Há quatro anos, a falácia levou Serra às cordas e o poste de Lula venceu.

A decisão do eleitor diante da urna depende de muitas motivações e as vitórias petistas não podem ser atribuídas apenas à mentira que, de tão repetida, passou a ser dada como verdadeira. Mas, por via das dúvidas, em Minas, berço dela mesma e de seu maior empecilho à permanência no poder, Aécio Neves, a presidente assumiu como sua a profecia de que a oposição privatizará a Petrobrás ou trocará seu nome.

O problema dela e do Partido dos Trabalhadores (PT) é que o contexto mudou significativamente nesta eleição. Nas duas disputas anteriores, o salário-família para os mais pobres e a bonança econômica para os abonados amplificavam bastante a fé popular na pregação governista. E a Petrobrás propagava ótimas notícias e, consequentemente, excelentes razões para o eleitor não permitir alterações profundas na gestão da maior empresa do Brasil. A fantasia dos Emirados Árabes do Brasil tinha prefixo, hífen e nome: pré-sal - o sonho de mil e uma noites, que Sheherazade não tinha tido a ideia de contar ao rei persa Shariar, de um país disposto a gastar petrodólares em educação e saúde para o povo.

Sete anos após a revelação do sonho, o petróleo extraído da camada do pré-sal no fundo do Atlântico brasileiro continua sendo uma miragem. E, 60 anos depois do delírio de "o petróleo é nosso", a pérola mais preciosa do colar da rainha das estatais, com sua fortuna enterrada em subsolo brasileiro, chafurda na lama de chiqueiros ocupados por figurões do PT e seus aliados, suspeitos de terem dilapidado um patrimônio bilionário em "nebulosas transações". E pior: a pérola jogada aos porcos se desvalorizou vertiginosamente. No palanque em que tenta recuperar o prestígio perdido nas pesquisas de intenção de votos, a "gerentona" de Lula se apega ao truísmo de que a empresa vale hoje mais do que valia no tempo de Fernando Henrique. Este desocupou o trono há mais de 11 anos e continua sendo o parâmetro universal do PT.

Essa comparação sem lógica feita pela candidata não elimina, porém, duas constatações assustadoras de fiasco: em seu mandato, a empresa teve o patrimônio reduzido à metade e desabou do 12.º para o 120.º lugar no ranking do Financial Times. Ou seja: a contabilidade da petroleira foi ao fundo do mar, até o pré-sal, mas não extraiu petróleo para vir à tona.

A princípio, pensava-se que a gigante estatal seria vítima apenas da ingerência política que sangrou seus cofres mantendo o preço de derivados abaixo do custo para evitar a má influência da inflação na medição da preferência eleitoral pela chefe do governo em outubro que vem. Essa má gestão causou, segundo O Globo, um rombo de R$ 13 bilhões em outra estatal, a Eletrobrás, para permitir que a candidata à reeleição baixasse demagogicamente o preço da tarifa de luz.

Mas este não foi o único "malfeito", para usar o termo favorito da beneficiária número um do aparelhamento das empresas públicas pelo PT. A Polícia Federal (PF), que, pelo visto, não foi totalmente submetida ao aparelhamento amplo, geral e irrestrito dos companheiros, constatou na Operação Lava Jato que houve bandalheira. Ao que se saiba até hoje, a desventura em Pasadena, Texas, custou ao cidadão brasileiro, proprietário da Petrobrás, um prejuízo de US$ 2 bilhões. Dez vezes este "troco de pinga" sumiram na obra faraônica da Refinaria Abreu e Lima, bancada pelo público para agradar ao tirânico compadre venezuelano Hugo Chávez.

Governo e oposição acionaram o Supremo Tribunal Federal (STF) para resolver o impasse que adia a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o tema: esta exige uma comissão mista e aquele não abre mão de circunscrevê-la ao Senado para controlá-la. A presidente da petroleira, Graça Foster, oscila entre o "mau negócio", pondo o mico nas costas do antecessor, José Sérgio Gabrielli, e o "bom negócio à época", quando lembrada que a empresa é gerida por petistas e aliados há 12 anos. Investigar será o único jeito de saber quem embolsou o lucro, além do barão belga Frère, da Astra Oil. As compras de altíssimo risco das refinarias de Pasadena e Okinawa, os custos estratosféricos da de Abreu e Lima e as suspeitas associações na operação de três termoelétricas são a parte exposta do iceberg. Quem ficou podre de rico com o rombo dos prejuízos que a Petrobrás teve - eis a questão submersa.
Por: José Nêumanne é jornalista, poeta e escritor. Publicado em O Estado de S. Paulo


quinta-feira, 15 de maio de 2014

MULHERES VALEM U$ 12 NA NIGÉRIA

O Islã avança rumo a uma religiosidade cada vez mais pura e próxima às fontes. No norte da Nigéria, um homem que se diz líder do Boko Haram assume sequestro de mais de 200 adolescentes no norte da Nigéria. A organização – cuja tradução é “a educação ocidental é um pecado” - deseja fundar Estado islâmico no país e já teria matado mais de 3.000 pessoas. Segundo os jornais, os puros e duros islâmicos do grupo reivindicaram ontem o sequestro de 276 meninas de Chibok, no norte do país, ocorrido no dia 14 de abril. Em vídeo, o movimento prometeu tratar as adolescentes como escravas, vendê-las em países vizinhos e forçá-las a casar.


A mensagem foi lida por um homem que se identificou como Abubakar Shekau, líder do grupo radical. "Eu capturei suas meninas. Nós vamos vendê-las no mercado, por Alá. Alá diz que eu devo vendê-las. Ele me ordenou que as venda. Vou vender mulheres. Eu vendo mulheres". 

No vídeo, ele aparece usando uniforme militar e de pé diante de um veículo blindado e duas camionetes com metralhadoras. 

"Eu disse que a educação ocidental deve parar. Vocês, meninas, devem deixar a escola e se casar", acrescentou Shekau, que indicou manter as jovens como "escravas". 

Alguém ainda lembra de Malala Yousufzai? Aconteceu há pouco mais de um ano. As celebridades criadas pela mídia são tão fugazes que até eu, que escrevi sobre o assunto, não mais lembrava. 

Malala foi aquela estudante paquistanesa, de 16 anos, atacada com tiros na cabeça pelos talibãs por defender o direito de educação das meninas, que ganhou projeção mundial ao defender o óbvio. Em julho passado, foi aplaudida de pé na sede da ONU, onde pediu aos líderes mundiais que proporcionem educação compulsória e gratuita para todas as crianças. 

Ora, quem não quer educação gratuita e compulsória para as crianças? A fortuna de Malala foi viver em um país dominado por fanáticos muçulmanos e ter sido alvejada na cabeça. Suas conclamações nada têm de novo ou original. Até parece o papa pedindo preces pela paz. A ONU declarou a data de seu aniversário, 12 de julho, como Dia de Malala.

Ao discursar para líderes jovens de mais de 100 países, ela pediu "uma luta global contra o analfabetismo, a pobreza e o terrorismo". "Vamos pegar nossos livros e canetas", disse ela. "Eles são nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. Educação é a solução". 

Só que a fama súbita parece ter subido à cabeça da menina e inspirado sandices. Malala inaugurou em setembro passado, na Inglaterra, a maior biblioteca pública da Europa, na região central de Birmingham.

Com a mosca azul zumbindo sobre sua cabecinha adolescente, Malala desatou a dizer bobagens. “Não há arma mais poderosa do que o conhecimento nem maior fonte de conhecimento do que a palavra escrita. Canetas e livros são armas que derrotam o terrorismo”, disse Malala, que vive na cidade inglesa desde outubro, após ter sobrevivido ao atentado praticado por militantes do Talibã.

Que educação é a solução, isto não se discute. Que canetas e livros sejam armas que derrotam o terrorismo, isto é solene bobagem de jovem que melhor teria feito se inaugurasse a biblioteca em silêncio. Afinal, é um livro que está a base da opressão islâmica, da mesma forma que um livro oprime judeus e cristãos até hoje. Não por acaso, árabes, judeus e cristãos são chamados de povos do Livros. Livros libertam, sim. Mas podem muito bem oprimir. Todo movimento terrorista tem em sua base um livro.

Terrorismo não é achado de homens incultos, muito antes pelo contrário. Em meados do século XIX, surgiu na Rússia tzarista um pequeno manifesto intitulado O Catecismo do Revolucionário, escrito na Suíça e assinado por dois revolucionários russos, Serguei Guennadovich Netchaiev e Mikhail Bakunin. Este panfleto tem sido até hoje a cartilha que inspirou todo terrorismo do século seguinte, desde Lênin, Stalin, Yasser Arafat, George Habash, Wadi Haddad, Carlos, o Chacal, Che Guevara, Aloysio Nunes Ferreira, Lamarca, Marighella e Fernando Gabeira, etarras ou OLP. Entre milhares de outros, bem entendido. 

O atentado contra a menina provocou protestos ao redor do mundo, incluindo críticas da ONU e de potências ocidentais, assim como uma mobilização popular dentro do próprio Paquistão, ultrapassando as barreiras étnicas, religiosas e políticas do país. Malala foi indicada a premiações internacionais e recebeu o Prêmio Nacional da Paz, concedido pelo governo paquistanês, no ano passado.

Hoje, quem lembra de Malala? Mas o Islã avança, dizia. Há exatamente uma semana, eu comentava o projeto de lei que quer legalizar o casamento das meninas e o estupro conjugal no Iraque. Um de seus artigos permite que as crianças se divorciem a partir dos nove anos, o que significa que podem se casar antes desta idade. Outro prevê que uma mulher seja obrigada a ter relações sexuais com seu marido quando ele pedir. 

Tudo muito coerente com o Islã. Maomé – abençoado seja seu nome – não se casou com Aisha quando ela tinha seis e consumou o casamento aos nove? Se o profeta pode, por que não poderiam os crentes?

Os opositores ao projeto afirmam que representa um retrocesso em matéria de direitos da mulher e que pode agravar as tensões entre diferentes confissões do país. Os partidários do projeto de lei afirmam que o texto apenas regula práticas que já existem.

Segundo a imprensa nigeriana, Abubakar Shekau vendeu algumas das estudantes seqüestradas como esposas em mercados na fronteira com o Chade e Camarões, a US$ 12 (R$ 26). Perguntinha que me parece pertinente: qual mulher não é vendida no mundo árabe? Ou alguma muçulmana pode escolher namorado ou marido? Só que 12 dólares me parece muito barato. 

Os festivais de camelo de Riad, Arábia Saudita, atraem todos os anos milionários empresários árabes que pagam até US$ 5 milhões por um camelo.
Por: Janer Cristaldo Do site: http://cristaldo.blogspot.com.br/


quarta-feira, 14 de maio de 2014

ADEUS, PT

Tudo tem um começo e um fim, como poderia dizer o Marquês de Maricá. E o fim está próximo


A cinco meses da eleição presidencial é evidente o sentimento de enfado, cansaço, de esgotamento com a forma de governar do Partido dos Trabalhadores. É como se um ciclo estivesse se completando. E terminando melancolicamente.

A construção do amplo arco de alianças que sustenta politicamente o governo Dilma foi, quase todo ele, organizado por Lula no início de 2006, quando conseguiu sobreviver à crise do mensalão e à CPMI dos Correios. Naquele momento buscou apoio do PMDB — tendo em José Sarney o principal aliado — e de partidos mais à direita. Estabeleceu um condomínio no poder tendo a chave do cofre. E foi pródigo na distribuição de prebendas. Fez do Tesouro uma espécie de caixa 1 do PT. Tudo foi feito — e tudo mesmo — para garantir a sua reeleição. Parodiando um antigo ministro da ditadura, jogou às favas todo e qualquer escrúpulo. No jogo do vale-tudo não teve nenhuma condescendência com o interesse público.

A petização do Estado teve início no primeiro mandato, mas foi a partir de 2007 que se transformou no objetivo central do partido. Ter uma estrutura permanente de milhares de funcionários petistas foi uma jogada de mestre. Para isso foram necessários os concursos — que garantem a estabilidade no emprego — e a ampliação do aparelho estatal. Em todos os ministérios, sem exceção, aumentou o número de funcionários. E os admitidos — quase todos eles — eram identificados com o petismo.

Desta forma — e é uma originalidade do petismo —, a tomada do poder (o assalto ao céu, como diria Karl Marx) prescindiu de um processo revolucionário, que seria fadado ao fracasso, como aquele do final da década de 60, início da década de 70 do século XX. E, mais importante, descolou do processo eleitoral, da vontade popular. Ou seja, independentemente de quem vença a eleição, são eles, os petistas, que moverão as engrenagens do governo. E o farão, óbvio, de acordo com os interesses partidários.

Se no interior do Estado está tudo dominado, a tarefa concomitante foi a de estabelecer um amplo e fiel arco de dependência dos chamados movimentos sociais, ONGs e sindicatos aos interesses petistas. Abrindo os cofres públicos com generosidade — e que generosidade! — foi estabelecido um segundo escudo, fora do Estado, mas dependente dele. E que, no limite, não sobrevive, especialmente suas lideranças, longe dos recursos transferidos do Erário, sem qualquer controle externo.

O terceiro escudo foi formado na imprensa, na internet, entre artistas e vozes de aluguel, sempre prontas a servir a quem paga mais. Fazem muito barulho, mas não vivem sem as benesses estatais. Mas ao longo do consulado petista ganharam muito dinheiro — e sem fazer esforço. Basta recordar os generosos patrocínios dos bancos e empresas estatais ou até diretamente dos ministérios. Nunca foi tão lucrativo apoiar um governo. Tem até atriz mais conhecida como garota-propaganda de banco público do que pelo seu trabalho artístico.

Mas tudo tem um começo e um fim, como poderia dizer o Marquês de Maricá. E o fim está próximo. O cenário não tem nenhum paralelo com 2006 ou 2010. O desenho da eleição tende à polarização. E isto, infelizmente, poderá levar à ocorrência de choques e até de atos de violência. O Tribunal Superior Eleitoral deverá ser muito acionado pelos partidos. E aí mora mais um problema: quem vai presidir as eleições é o ministro Dias Toffoli – como é sabido, de origem petista, foi advogado do partido e assessor do sentenciado José Dirceu.

Se a oposição conseguir enfrentar e vencer todas estas barreiras, não vai ter tarefa fácil quando assumir o governo e encontrar uma máquina estatal sob controle do partido derrotado nas urnas. As dezenas de milhares de militantes vão — se necessário — criar todo tipo de dificuldades para a implementação do programa escolhido por milhões de brasileiros. Aí — e como o Brasil é um país dos paradoxos — será indispensável ao novo governo a utilização dos DAS (cargos em comissão). Sem eles, não conseguirá governar e frustrará os eleitores.

Teremos então uma transição diferente daquela que levou ao fim da Primeira República, em 1930; à queda de Vargas, em 1945; ou, ainda, da que conduziu ao regime militar, em 1964. Desta vez a mudança se dará pelo voto, o que não é pouco em um país com tradição autoritária. O passado petista — que imagina ser eterno presente — terá de ser enfrentado democraticamente, mas com firmeza, para que seja respeitada a vontade das urnas.

É bom não duvidar do centralismo democrático petista. Não deve ser esquecido que o petismo é o leninismo tropical. Pode aceitar sair do governo, mas dificilmente sairá do aparelho de Estado. Se a ordem de sabotar o eleito em outubro for emitida, os militantes-funcionários vão segui-la cegamente. Claro que devidamente mascarados com slogans ao estilo de “nenhum passo atrás”, de “manter as conquistas”, de impedir o “retorno ao neoliberalismo”. E com uma onda de greves.

A derrota na eleição presidencial não só vai implodir o bloco político criado no início de 2006, como poderá também levar a um racha no PT. Afinal, o papel de Lula como guia genial sempre esteve ligado às vitórias eleitorais e ao controle do aparelho de Estado. Não tendo nem um, nem outro, sua liderança vai ser questionada. As imposições de “postes”, sempre aceitas obedientemente, serão criticadas. Muitos dos preteridos irão se manifestar, assim como serão recordadas as desastrosas alianças regionais impostas contra a vontade das lideranças locais. E o adeus ao PT também poderá ser o adeus a Lula.
Por: Marco Antonio Villa PUblicado em: O Globo