terça-feira, 17 de junho de 2014

VOCÊ PROVAVELMENTE ENTENDE TANTO DE ECONOMIA QUANTO DE ASTROFÍSICA


Embora a frase seja normalmente atribuída a Mark Twain, foi seu amigo Charles Dudley Warner quem certa vez disse que "Todo mundo reclama sobre o tempo, mas ninguém faz nada a respeito."

Independentemente de quem a tenha dito, a frase era e continua sendo perfeita.

A título de comparação, podemos hoje criar uma frase semelhante: "Todo mundo reclama sobre a economia, e muitos infelizmentetentam fazer algo a respeito." 

'Política econômica' é o nome dado a essas tentativas de fazer "algo a respeito", tentativas essas que são efetuadas por burocratas e funcionários públicos em parceria com seus consultores e empresários favoritos. Para o público em geral, política econômica é uma questão trágica, pois, independentemente de o que cidadão comum pense a respeito, as ações do governo quase que invariavelmente tornam a situação econômica pior do que seria caso esses "estrategistas" não se intrometessem.

Não obstante a gigantesca profusão de monografias, trabalhos acadêmicos, colunas de jornal, palpites dados em programas televisivos ou meras opiniões expressadas em conversas informais, pelo menos 90% de toda essa logorreia é besteira pura. O economista Steve Hanke diria tratar-se da 'regra dos 95%': "noventa e cinco por cento de tudo que é dito sobre economia ou está errado ou é irrelevante." 

O que é ainda pior: a esmagadora maioria desta logorreia é realmente nociva.

Sim, eu sou um economista, e isso não é nenhum motivo de júbilo. Trata-se de uma mera descrição profissional. Se eu fosse um carpinteiro ou um encanador, também iria confessar de pronto esse meu status profissional. A questão é que dezenas de milhares de pessoas também se dizem economistas, mas poucas realmente o são em um sentido além do nominal. Elas podem até ter um Ph.D. em economia, mas ainda assim suas ideias sobre economia não são melhores do que as daquele seu vizinho excêntrico. 

Quase tudo o que se aprende nas faculdades de economia não passa de um amontoado de besteiras matemáticas cuja substância pode ser reduzida àquilo que F.A. Hayek rotulou de "pretensão do conhecimento". Para ser sucinto, os "especialistas" que as universidades produzem semestralmente são meros embusteiros com péssima formação. Meu palpite mais otimista é que não deve haver mais do que alguns poucos milhares de economistas de verdade em todo o mundo — e eu não me surpreenderia caso essa minha estimativa contenha uma margem de erro otimista.

Além dos profissionais verdadeiros e dos falsários, há centenas de milhares de outras pessoas — leigas — que têm a pretensão de possuir algum genuíno conhecimento sobre como o mundo econômico realmente funciona. Pelo menos 95% dessas pessoas não têm a mais mínima ideia do que falam. Para vivenciar isso, basta entrar na internet e ler os "artigos" produzidos por essas pessoas — bem como os comentários dos leitores — para entender as características dessa gente. É quase tudo lixo puro.

As pessoas são geralmente sensatas o bastante para não se aventurar a emitir comentários pretensamente profissionais sobre astrofísica. Elas reconhecem suas limitações sobre este assunto. Elas não saem por aí ventilando ideias tolas sobre o 'desvio para o vermelho' ou sobre os eventos que ocorreram no primeiro milionésimo de segundo após o Big Bang. Elas estão perfeitamente cientes de que fingir tal conhecimento sobre astrofísica faria com que elas parecessem idiotas perante qualquer um que se dispusesse a ouvir o que elas têm a dizer. Se ao menos as pessoas tivessem a mesma sensatez para entender que, com raras exceções, elas sabem o mesmo tanto de economia quanto de astrofísica, o mundo seria poupado desses pretensos engenheiros sociais.

Tenha em mente que saber como administrar bem uma empresa, saber como escrever uma coluna semanal de economia em uma revista prestigiada (ou em um jornal de grande circulação ou em um site de notícias de grande acesso), saber como ascender em sua profissão, e saber uma grande variedade de outras coisas não significa de maneira alguma que você sabe como uma economia realmente funciona. Quão melhor seria o mundo se, no que diz respeito a questões econômicas, todos se limitassem a pensar e agir em termos meramente locais e, acima de tudo, a jamais pedir que políticos e burocratas tomem medidas para "melhorar a economia".




Por: Robert Higgs um scholar adjunto do Mises Institute, é o diretor de pesquisa do Independent Institute.

Tradução de Leandro Roque

segunda-feira, 16 de junho de 2014

OS REIAIS BENEFICIADOS POR UM CAPITALISMO REGULADO


Proteja seu bolso: governo em conluio com grandes empresários

A palavra "capitalismo" é utilizada de duas maneiras contraditórias. Em algumas ocasiões, ela é utilizada com o intuito de denotar um mercado livre e desimpedido, ou laissez-faire. Em outras ocasiões, ela é utilizada para denotar exatamente o arranjo atual em que vive o mundo, uma economia mista em que o governo intervém para privilegiar grandes empresas, criando monopólios e oligopólios. 

Logicamente, "capitalismo" não pode ser ambas as coisas. Ou os mercados são totalmente livres, ou o governo os controla. Não é possível ter os dois arranjos ao mesmo tempo.

Mas a verdade é que não há um mercado genuinamente livre em nenhum país do mundo. As regulamentações governamentais, as tarifas, os subsídios, os decretos e as intromissões são generalizados, variando apenas o grau de intensidade com que ocorrem em cada país. Sendo assim, o termo "capitalismo" denotando mercados livres não pode ser aplicado nos dias de hoje.

O que existe é um capitalismo mercantilista, um capitalismo de compadrio, um capitalismo regulado em prol dos regulados e dos reguladores, e contra os consumidores.

O que seria esse capitalismo mercantilista? Trata-se de um sistema econômico no qual o mercado é artificialmente moldado por uma relação de conluio entre o governo, as grandes empresas e os grandes sindicatos. Neste arranjo, o governo concede a seus empresários favoritos uma ampla variedade de privilégios que seriam simplesmente inalcançáveis em um genuíno livre mercado, como restrições de importação, subsídios diretos, tarifas protecionistas, empréstimos subsidiados feitos por bancos estatais, e agências reguladoras criadas com o intuito de cartelizar o mercado e impedir a entrada de concorrentes estrangeiros. Em troca, as empresas beneficiadas lotam os cofres de políticos e reguladores com amplas doações de campanha e propinas.

O capitalismo mercantilista é tão antigo, que Adam Smith já o criticava — e combatia — no século XVIII. Atualmente, não é necessário procurar muito para se encontrar exemplos deste tipo de capitalismo. Basta olhar para o seu próprio país. Todos os cartéis, oligopólios e monopólios que você conhece estão em setores altamente regulados pelo governo, como o setor bancário, o setor aéreo, o setor de transportes terrestres, o setor de transportes aquaviários, o setor de telecomunicações, o setor elétrico, o setor energético (petróleo, postos de gasolina), o setor minerador, o setor farmacêutico etc.

Quem cria cartéis, oligopólios e monopólios é e sempre foi o estado, seja por meio de regulamentações que impõem barreiras à entrada da concorrência no mercado (agências reguladoras), seja por meio de altos tributos que impedem que novas empresas surjam e cresçam, seja por meio da burocracia que desestimula todo o processo de formalização de empresas, seja por meio da imposição de altas tarifas de importação que encarecem artificialmente a aquisição de produtos importados (pense nas fabricantes de automóveis).

Um capitalismo de livre mercado é um sistema em que os lucros e os prejuízos são privados. Já um capitalismo mercantilista é um arranjo em que os lucros são privados, mas os prejuízos são socializados. Quando são bem-sucedidas, as empresas mantêm seus lucros; quando sofrem prejuízos, recorrem ao governo em busca ou de pacotes de ajuda ou de novas medidas que restrinjam a concorrência. No extremo, pedem ao governo para jogar a fatura do prejuízo sobre os pagadores de impostos.

O papel das regulamentações em um capitalismo mercantilista não é corretamente entendido pelos intervencionistas. Eles genuinamente acreditam que as regulamentações são uma forma de o governo subjugar e domar as grandes corporações. Só que, historicamente, as regulamentações sempre foram uma maneira tida como lícita de determinadas empresas (geralmente as grandes e bem-conectadas politicamente) ganharem vantagens à custa de outras, geralmente menos influentes. 

Por exemplo, em teoria, agências reguladoras existem para proteger o consumidor. Na prática, elas protegem as empresas dos consumidores. Por um lado, as agências reguladoras estipulam preços e especificam os serviços que as empresas reguladas devem ofertar. Por outro, elas protegem as empresas reguladas ao restringir a entrada de novas empresas neste mercado. No final, agências reguladoras nada mais são do que um aparato burocrático que tem a missão de cartelizar os setores regulados — formados pelas empresas favoritas do governo —, determinando quem pode e quem não pode entrar no mercado, e especificando quais serviços as empresas escolhidas podem ou não ofertar, impedindo desta maneira que haja qualquer "perigo" de livre concorrência.

Em seu cerne, a regulação é anti-livre iniciativa, anti-livre mercado e anti-concorrência. A regulação não se baseia nas preferências dos consumidores e nem nos valores subjetivos dos consumidores em relação aos bens e serviços ofertados. Ao contrário, ela faz com que as empresas ajam como se fossem ofertantes monopolistas, de modo que os preços passam a ser determinados pelos custos de produção das empresas e não pela preferência dos consumidores. 

Mas isso é apenas o primeiro passo: uma empresa regulada pode encontrar várias maneiras de fazer as regulações funcionarem em proveito próprio e contra os interesses dos consumidores. 

Por exemplo, não é incomum que grandes empresas façam lobby para criar regulamentações complicadas e onerosas sobre seu próprio setor. Por que elas fazem isso? Para dificultar uma potencial concorrência de empresas novas, pequenas e com pouco capital. Empresas grandes e já estabelecidas têm mais capacidade e mais recursos para atender regulações minuciosas e onerosas. Empresas pequenas, que querem entrar naquele mercado mas que ainda não possuem muitos recursos financeiros, não têm essa capacidade. Empresas grandes podem contratar lobistas (ou podem simplesmente subornar políticos) para elaborar padrões de regulação que elas já atendem ou que podem facilmente atender, mas que são impossíveis de serem atendidos por empresas pequenas e recém-criadas. 

O livro "The Big Ripoff: How Big Business and Big Government Steal Your Money", de Timothy Carney, explica em detalhes como a própria Phillip Morris estimulou a "guerra contra o tabaco" para se beneficiar, como a própria General Motors agitou pela aprovação de rígidas legislações ambientalistas nos EUA (cujas restrições mais rígidas afetariam a concorrência), e como a poderosa megacorporação Archer Daniels Midland se beneficia dos subsídios para o etanol (algo adorado pelos ambientalistas).

O apoio das grandes empresas às regulamentações criadas pelos governos não apenas não é algo raro, como, na realidade, sempre foi a norma.

Caso ainda não esteja convencido, apenas faça a si mesmo a seguinte pergunta: Qual destas tem uma maior probabilidade de ser afetada por vigorosas regulamentações: grandes corporações com boas conexões políticas e com enormes departamentos jurídicos e contábeis, ou micro e pequenas empresas ainda incipientes e em processo de formalização? 

Regulamentações aniquilam a concorrência — e as empresas já estabelecidas adoram que seja assim.

Este arranjo de economia mista é também, como já explicado, ótimo para os governos. Políticos e burocratas adquirem poderes sobre as empresas e, com tais poderes, garantem que seus cofres estejam sempre cheios. Políticos ganham generosas doações de campanha e reguladores ganham fartas propinas. Ambas essas contribuições são feitas pelas grandes empresas e pelos grandes sindicatos em troca da promessa de novas regulamentações que irão lhes favorecer e afetar a concorrência.

Trata-se de uma mistura de socialismo em um arranjo basicamente capitalista, uma mistura suficiente para manter fluidas as receitas do governo e garantir a continuidade dos assistencialismos sociais e corporativos. A porção capitalista dessa economia mista possibilita um confortável estilo de vida para políticos e para milhões de funcionários públicos.

Defensores das regulações não percebem que elas são essencialmente uma forma de controle estatal. É por isso que todos os partidos políticos atuais endossam agências reguladoras e todo o seu aparato burocrático. Afinal, qual político não gostaria de comandar amplos setores da economia? 

Em vez de proteger os inocentes e incautos, regulações estimulam os escroques e incentivam as grandes empresas a manipular o sistema com o intuito de aumentar sua própria fatia de mercado e seus lucros. Como sempre ocorre com todas as interferências governamentais nas questões econômicas e sociais, a regulação gera o efeito exatamente oposto do seu proclamado objetivo. E o pior: em um esforço para se tentar corrigir as inevitáveis consequências desastrosas das regulações, mais e mais regulações vão sendo criadas, levando a um controle estatal da economia cada vez mais paralisante.

Já passou da hora de a população entender a diferença entre livre mercado, que se baseia na liberdade e na concorrência, e capitalismo mercantilista, que se baseia em privilégios concedidos pelo estado.

A conclusão é que os socialistas se reinventaram, trocaram seu rótulo para social-democratas, deixaram de lado sua ânsia de estatizar diretamente os meios de produção e optaram por um mais suave modelo fascista, no qual estado e grandes empresas atuam em conluio para se beneficiar mutuamente e prejudicar o cidadão, que tem de aceitar serviços ruins e caros, pois não há mais livre mercado. Exatamente o intuito original dos socialistas.


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Participaram deste artigo:
Hans F. Sennholz  (1922-2007) foi o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos.  Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim que chegou.  Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic Education, 1992-1997.  Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004, ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade.
Mark Borkowski é o presidente da corretora Mercantile Mergers & Acquisitions Corp., sediada em Toronto.
Leandro Roque é o editor e tradutor do site do  Instituto Ludwig von Mises Brasil.

CONTRA A ABSURDA LEI DA PALMADA

Você é a favor de que pais mantenham seus filhos em cárcere privado, sem água, comida e brinquedo, por dias a fio? Não? Então você tem que defender a proibição do castigo no quarto quando ele for malcriado. Colocar no quarto ou no cantinho é uma violência similar à do sequestro.


Achou meio exagerado? É exatamente esse o raciocínio que justificou a Lei da Palmada, ou Lei do Menino Bernardo. Dar uma palmada é torturar; é violentar. 

No mundo real, por outro lado, palmada não é tortura e não traz danos às crianças. Como documentado, por exemplo, por Judith Rich Harris em The Nurture Assumption, as evidências a esse respeito em geral não controlam variáveis básicas (ex: influência genética, cultura do meio infantil do qual a criança participa, etc.) e descartam interpretações alternativas: crianças são mais violentas porque apanham mais ou apanham mais porque são mais violentas? 

Quando têm algum rigor, os resultados são fracos, e sempre do tipo: crianças que levam palmada podem ser um pouco mais briguentas. 

Mas veja: mesmo que haja algumas consequências negativas, nem por isso se segue que a palmada jamais deva ser usada. A necessidade de controlar a criança no presente pode justificar um pequeno desvio de comportamento futuro. (Ou por acaso é um dever moral deixar que os pimpolhos dominem o lar?) Esse tipo detrade-off é normal na criação dos filhos. 

Peguemos exemplos de outras áreas. Ao levar o filho para a praia ou para uma piscina, os pais estão conscientemente aumentando o risco de morte da criança. Mesmo assim, julgam que a diversão daquele momento justifica o risco. Ao levar o filho para a casa da avó pra passar a noite, os pais voluntariamente aumentam as chances de o filho morrer ou de ter sequelas pela vida toda (ao colocá-lo num carro) para que possam desfrutar uma noite a dois. É tão horrível assim? Não. É natural. 

Pequenos riscos e danos fazem parte da vida, e podem ser justificados por ganhos significativos em outras áreas. Da mesma forma, manter a paz no presente pode justificar um microaumento da probabilidade de que o filho arrume briga no parquinho. 

A palmada é apenas uma alternativa para coibir maus comportamentos. Não é das melhores. Depender menos dela é bom. Aliás, quanto mais palmada se dá, menos eficaz ela se torna. Sua vantagem é ser uma punição imediata com baixo custo e alto poder de coibir malcriação. O castigo, a conversa séria, o "tirar brinquedos" também funcionam em diferentes contextos, mas todos exigem mais tempo e esforço dos pais, que às vezes estão exaustos demais. Às vezes, nada como uma boa palmada, ainda que não seja a ferramenta ideal. 

Palmada é como ter um pneu remoldado de estepe. Pior e menos seguro, mas, quando necessário, quebra um galho; melhor com ele do que sem. 

O ideal da criação sem palmada pode até ser admirado, mas na maioria dos casos não é realista e por isso não deveria em hipótese alguma ser obrigatório. A proibição só serve para abolir uma ferramenta dos pais, tornando a criação dos filhos algo mais cansativo, sem dar nada em troca. Com essas e outras neuroses perfeccionistas que assolam a relação entre pais e filhos, dá pra entender por que ninguém mais quer tê-los. 

A proibição depende de imaginar um mundo fantasioso da infância perfeita; trata-se de algo similar à mentalidade que proibiu a propaganda infantil (que, como todo mundo sabe de primeira mão, é coisa inofensiva). Nesse sentido, a escolha da Xuxa como garota-propaganda foi perfeita: uma eterna adolescente que vive num mundo de fantasias infantis e conta com serviçais para toda e qualquer tarefa; e cuja filha, aos 15 anos, ainda tem babá

O conteúdo da lei é só o começo dos problemas. É preciso implementar a proibição. E como é que a Justiça vai descobrir se a palmada ainda vigora nos lares? A princípio, é mais uma lei que não pegará. 

Ou será que o estado vai levá-la a sério? Nesse caso, e na ausência de Fiscais da Família visitando-nos toda semana pra interrogar as crianças (ainda é cedo pra isso — quem sabe em 2050), a única saída é estimular a cultura da delação. Seus vizinhos, seus parentes, seus conhecidos; não arrume confusão com eles, ou já sabe… 

Ensinamos as crianças a recorrerem à autoridade ao primeiro sinal de conflito, como se fosse um reflexo. Agora instaremos os adultos a fazê-lo também. Não é a primeira vez. Pode ter certeza de que interessa ao estado quebrar laços de confiança entre as pessoas. Quanto mais as pessoas confiam umas nas outras, menos o poder estatal é necessário. Já tivemos os Fiscais do Sarney, agora podemos ressuscitá-los, não para multar comerciantes, mas para arruinar famílias. Belo e moral! 

Entre a lei que não pega e a vigilância totalitária, minha mulher apontou uma terceira alternativa, e essa é minha aposta. Para o grosso das pessoas, a lei não vai pegar. A vida seguirá como sempre. O custo social da implementação é alto demais. Mas, de vez em quando, quando um conflito ou desavença surgir, apossibilidade de delatar a palmada às autoridades será mais uma opção do cardápio; mais uma tática possível no arsenal de militantes bem-intencionados ou vizinhos invejosos. Virá à tona especialmente em disputas virulentas pela guarda dos filhos. 

A Lei do Menino Bernardo entrará, assim, no rol das leis hipócritas: aquelas que ninguém espera que sejam seguidas, mas que continuam valendo quando convém. Como a Lei Seca. Desastrosa se aplicada de verdade, ela é aplicada arbitrariamente, de vez em quando. Sobrevive como um pequeno exercício de poder para ferrar a vida de algum azarado. 

Agora não há mais escolha: ou se opera no (suposto) ideal, ou se está quebrando a lei e pode-se perder a guarda dos filhos e até mesmo ir para a cadeia por um período de 1 a 4 anos. 

Mas me digam, o que será pior para uma criança: levar uma palmada no bumbum ou ser tirada à força de seus pais, dada aos cuidados da Assistência Social, ir e vir a tribunais familiares, e ser repassada a uma nova família? 

Sendo assim, todo mundo que levou palmada na infância tem agora apenas duas opções: apontar o dedo na cara da mãe e dizer que ela é uma criminosa e que deveria ter sido presa, ou protestar em alto e bom som contra essa lei imbecil.
Por: Joel Pinheiro da Fonseca, mestre em filosofia, editor da revista Dicta&Contradicta e escreve no blog Ad Hominem.


domingo, 15 de junho de 2014

NÃO SE DEIXE EDUCAR PELO ESTADO



Não é nenhuma coincidência que os governos de todos os países do mundo queiram estar no controle da educação das crianças. Os serviços de educação fornecidos pelo aparato estatal supostamente devem ser vistos como uma evidência da bondade do estado e da preocupação de seus burocratas para com nosso bem-estar. Mas o real objetivo é bem menos bajulador, e muito fácil de entender: se toda a propaganda governamental inculcada nas salas de aula conseguir criar raízes dentro das crianças à medida que elas crescem e se tornam adultas, estas crianças não serão nenhuma ameaça ao aparato estatal. Elas mesmas irão prender os grilhões aos seus próprios tornozelos.

H.L. Mencken certa vez disse que o estado não quer apenas fazer com que você obedeça às suas ordens inquestionavelmente. O estado quer fazer com que você queira obedecê-lo voluntariamente. E isso é algo que a educação controlada pelo estado — não importa muito se as escolas são públicas ou privadas, desde que seja o estado quem esteja ditando os currículos — faz muito bem.

Um pensador político há muito esquecido, Étienne de la Boétie, nunca deixava de se questionar por que as pessoas sempre toleravam regimes opressivos. Afinal, os governados estão em maioria esmagadora em relação aos governantes. Sendo assim, as pessoas poderiam pôr um fim a todo o autoritarismo se elas realmente quisessem. E, no entanto, isso raramente acontecia.

Por ora, gostaria apenas de entender como pode ser que tantos homens, tantos burgos, tantas cidades, tantas nações suportam às vezes um tirano só, que tem apenas o poderio que eles lhe dão, que não tem o poder de prejudicá-los senão enquanto eles têm vontade de suportá-lo, que não poderia fazer-lhes mal algum senão quando preferem tolerá-lo a contradizê-lo. Coisa extraordinária, por certo; e, porém, tão comum que se deve mais lastimar-se do que espantar-se ao ver um milhão de homens servir miseravelmente, com o pescoço sob o jugo, não obrigados por uma força maior, mas de algum modo (ao que parece) encantados e enfeitiçados apenas pelo nome de um...

Chamaremos isso de covardia? ... Se cem, se mil aguentam os caprichos de um único homem, não deveríamos dizer que eles não querem e que não ousam atacá-lo, e que não se trata de covardia e sim de desprezo ou desdém? Se não vemos cem, mil homens, mas cem países, mil cidades, um milhão de homens se recusarem a atacar um só, de quem o melhor tratamento fornecido é a imposição da escravidão e da servidão, como poderemos nomear isso? Será covardia? ... Quando mil ou um milhão de homens, ou mil cidades, não se defendem da dominação de um homem, isso não pode ser chamado de covardia, pois a covardia não chega a tamanha ignomínia. . . Logo, que monstro de vício é esse que ainda não merece o título de covardia, que não encontra um nome feio o bastante . . . ?

De la Boétie concluiu que a única maneira pela qual qualquer regime poderia sobreviver seria se o público lhe desse seu consentimento. Tal consentimento poderia ser tanto um apoio entusiasmado quanto uma resignação estóica. Mas se tal consentimento desaparecesse, os dias do regime estariam contados.

E, de fato, é necessário um sistema educacional enormemente distorcido para fazer com que as pessoas emprestem seu consentimento a qualquer arranjo estatal. Afinal, o que é o estado? É um grupo dentro da sociedade que clama para si o direito exclusivo de controlar e espoliar a vida de todos. Para isso, ele utiliza um arranjo especial de leis que permite a ele fazer com os outros tudo aquilo que esses outros são corretamente proibidos de fazer: atacar a vida, a liberdade e a propriedade.

Por que uma sociedade, qualquer sociedade, permitiria que tal quadrilha desfrutasse incontestavelmente desse privilégio? Mais ainda: por que uma sociedade consideraria legítimo esse privilégio? É aqui que o controle da mente entra em cena. A realidade do estado é inquestionável: trata-se de uma máquina de extorsão, pilhagem e autoritarismo — tudo isso em larga escala. Sendo assim, por que tantas pessoas clamam por sua expansão? Aliás, por que sequer toleramos sua existência? A própria ideia da instituição estado é tão implausível por si só que é preciso que ele, o estado, coloque sobre si um manto de santidade para que consiga apoio popular

E é por isso que a educação autônoma — a verdadeira educação — é uma enorme ameaça para qualquer regime. É por isso que ela é combatida tão veementemente pelo estado e seus burocratas. Se o estado perder o controle daquilo que entra em sua mente, ele perde o segredo de sua própria sobrevivência.

E o estado já está começando a perder este controle. A mídia tradicional, aquela que sempre se esforçou disciplinadamente para carregar água na peneira pelo estado desde tempos imemoriais, já está se sentindo ameaçada por vozes independentes na internet. Não creio que hoje qualquer pessoa com menos de 25 anos leia algum jornal. Algumas escolas públicas nos EUA já estão implementando um programa abertamente despótico, mas necessário para sua sobrevivência: as crianças têm de usar braceletes eletrônicos que monitoram sua exata localização durante os horários de aula. A intenção clara é se certificar de que as crianças estão comparecendo regularmente à escola para ouvir o que o estado tem a lhes dizer.

Como tudo isso irá acabar? Impossível saber de antemão, mas os prospectos da liberdade são animadores. Por mais que a mídia e a classe política operem em conjunto para sustentar a santidade do estado, tal blindagem já foi rompida. E esta tendência é irreversível.

É por isso que o nosso desafio é o mais radical que já foi apresentado ao estado. Nossa intenção não é tornar o estado mais "eficiente", ou dar ideias de como ele pode aumentar suas receitas. Tampouco queremos mudar seu padrão de protecionismo, de privilégios e de redistribuição de riqueza. Nossa intenção não é dizer qual programa de subsídio é o melhor e qual deve ser alterado, ou qual tipo de imposto faria com que o sistema fosse gerido mais harmoniosamente. Não queremos alterações pontuais no estado. Rejeitamos o atual sistema por completo.

E não nos opomos a essa máquina de extorsão, pilhagem e autoritarismo que é o estado por ele ser 'ineficiente' ou 'improdutivo'. Nós nos opomos ao estado porque extorsão, pilhagem e autoritarismo nunca podem ser medidas moralmente aceitáveis.

O estado moderno nada mais é do que uma disputa de poder entre quadrilhas, cada qual visando seus próprios interesses e os de sua base de apoio. Quem está interessado apenas em liberdade, não apenas está sem representação como também é obrigado a sustentar ambos os grupos. Por isso, não imploramos pelas migalhas que eventualmente caem da mesa do banquete totalitário. Tampouco queremos um assento a esta mesa. O que queremos é derrubar a mesa totalmente.

Há muito trabalho a ser feito. Um número incontável de indivíduos foi persuadido de que é do interesse deles ser roubado, proibido de adquirir bens estrangeiros, ter seu poder de compra destruído e ter de obedecer a todas as ordens ditadas por uma elite governamental que na realidade não está nem aí para nosso bem-estar e cujo único objetivo é aumentar seu poder e sua riqueza à custa do nosso padrão de vida.

A mais letal e antissocial instituição da história da humanidade continua a se autodescrever como sendo a fonte essencial de toda a civilização. A partir do momento em que o governo assumiu o controle da educação, as pessoas aprenderam que o estado está ali para protegê-las da pobreza, dos remédios estragados e até dos dias chuvosos; para dar estímulos quando a economia estiver ruim e para nos defender de todos aqueles elementos perigosos ou gananciosos que estão fora da máquina estatal (pois dentro dela eles não existem). Esta visão, por sua vez, é diariamente reforçada e intensificada pela mídia impressa e eletrônica, os porta-vozes do regime.

Se o público foi iludido, cabe a nós a imprescindível tarefa de desiludi-lo. É necessário rasgar o manto de santidade sob o qual o estado se esconde. Esta é a tarefa mais crucial de nossa época. E qualquer um pode fazer sua parte.

Comece consigo próprio. Eduque-se. Aprenda tudo o que puder sobre uma sociedade livre. Leia os grandes, como Frédéric Bastiat, Ludwig von Mises, Murray Rothbard, Henry Hazlitt, Hans Sennholz, George Reisman, Tom Woods,Thomas DiLorenzo e Jesús Huerta de Soto. À medida que você for aprofundando seus conhecimentos, compartilhe o que você está lendo e aprendendo. Crie um blog. Crie um canal no YouTube. Oragnize um grupo de estudos. O que quer que faça, aprenda e espalhe seu conhecimento. Jamais pare.

Se foi por meio da propaganda que as pessoas irrefletida e insensatamente aceitaram as alegações do estado, então será por meio da educação que elas serão trazidas de volta ao seu juízo.

Com a mídia — o suporte indispensável do estado — em franca decadência, será cada vez mais difícil para o aparato estatal fazer com que suas alegações sejam prontamente aceitas; será difícil o estado continuar persuadindo as pessoas a aceitarem suas mentiras e propagandas.

Você certamente já ouviu dizer que a pena é mais poderosa que a espada. Pense na espada como se ela fosse o estado. Pense na pena como se ela fosse você divulgando as ideias da liberdade. Qual, no final, terá mais chances de ganhar os corações e a mente das pessoas?

Tenha sempre em mente esta constatação de Étienne de la Boétie: todo e qualquer governo depende do consentimento das pessoas; tão logo o público retirar seu consentimento, qualquer regime estará condenado.

É por isso que o regime ora nos ridiculariza, ora nos teme. E é por isso que, não obstante todos os horrores que lemos diariamente, podemos ter a ousadia de olhar para o futuro com alguma esperança.

Por: Lew Rockwell,  chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State

Tradução de Leandro Roque  Do site: http://www.mises.org.br/




A DIREITA MATOU TONY RAMOS

De todos os crimes e licenças do roteiro, o mais grave é relativizar algo que é fato (o atentado a Carlos Lacerda, que vitimou o major Rubens Vaz) e dar como certa a inocência de Vargas, o que está longe de ser um ponto pacífico da história brasileira.


Se você sente náuseas com blogueiros bancados por estatais, espere até assistir um filme “baseado em fatos reais” patrocinado por elas. Bem vindo à era da história reescrita pelo cinema nacional chapa-branca.

Como filme, “Getúlio” não inova em nada. A fotografia é óbvia, a trilha é burocrática, a narrativa é claramente inspirada em “A Queda – As Últimas Horas de Hitler (2004)”, as atuações esquemáticas, com momentos constrangedores como quando os atores tentam falar com sotaque gaúcho. Como registro histórico, “Getúlio” é um acinte a serviço de uma agenda política.

Para não deixar dúvidas, João Jardim, diretor e co-roteirista do filme, disse: “é bom lançar o filme em ano de eleição, para fazer com que as pessoas reflitam antes de votar”. Em diversas entrevistas, Jardim deixa claro que vê similaridades entre o momento político atual brasileiro e aqueles 19 dias que separaram o atentado a Carlos Lacerda na Rua Tonelero e o suicídio de Vargas.

O Getúlio Vargas de João Jardim é o defensor dos trabalhadores que criou a Petrobras, uma das patrocinadoras do filme, o que teria colocado o ex-presidente em oposição aos militares. Em que país João Jardim foi encontrar militares opositores de estatais? No Brasil é que não foi. O regime militar iniciado em 1964 encontrou um país com 50 estatais e devolveu com mais de 500. Se esses são os militares que não gostam de estatais, imagino o que fariam se gostassem.

A Petrobras foi criada a partir de uma campanha ultranacionalista encabeçada pelo general Felicíssimo Cardoso, que entrou para a história como o “general do petróleo”. Felicíssimo esteve à frente da campanha “O Petróleo é Nosso”, criou um think tank (Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional) e uma revista com o objetivo explícito de pressionar o governo a criar a estatal. Se alguém pode ser considerado o “pai” da Petrobras é o general Felicíssimo Cardoso, mas como ele é também tio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fica fácil entender porque seu nome está sendo apagado da história e não é lembrado nos filmes que a Petrobras hoje patrocina.

De todos os crimes e licenças do roteiro, o mais grave é relativizar algo que é fato (o atentado a Carlos Lacerda, que vitimou o major Rubens Vaz) e dar como certa a inocência de Vargas, o que está longe de ser um ponto pacífico da história brasileira. O diretor de “Getúlio” tem todo direito de não acreditar que o ex-ditador, líder de um dos regimes mais autoritários e sangrentos da história do país, o famigerado Estado Novo, não estava diretamente envolvido com o atentado, mas colocar a questão como resolvida e Vargas como inocente é reescrever a história.

O cinema praticamente nasceu produzindo libelos políticos. O clássico “O Nascimento de uma Nação” (D. W. Griffith, 1915) já defendia a agenda política racista do Partido Democrata americano e do presidente da época, Woodrow Wilson, colocando negros como uma sub-raça e enaltecendo a Ku Klux Klan. Griffith inspirou Serguei Eisenstein, seu fã confesso e cineasta-militante do bolchevismo soviético. Desde então, o cinema nunca parou de defender, explicitamente ou não, causas políticas, especialmente os produzidos com patrocínio direto ou indireto de governos.
Em “Getúlio”, o roteiro pretende resolver uma das maiores polêmicas da história do Brasil: Vargas estava envolvido ou não na tentativa de assassinato de Carlos Lacerda? Para o filme, não estava e pronto. Não satisfeito, o roteiro dá piscadelas para teorias conspiratórias lisérgicas como sugerir que Lacerda pudesse ter simulado o próprio atentado, algo que nem o getulista mais empedernido ousaria pensar.

O filme quer passar a idéia de que Vargas, defensor do povo e das estatais, foi vítima de uma armação política suja com o apoio da imprensa golpista. O protagonista do filme tem pouca noção do que seus auxiliares mais próximos faziam dentro do palácio e sua boa fé acabou por custar seu governo. O Getúlio de João Jardim é, evidentemente, o Lula do ideário petista, um pai dos pobres vilipendiado por uma trama que unia a imprensa e a direita inescrupulosa, antidemocrática e sedenta de poder.
Ao colocar Tony Ramos no papel principal, logo o ator mais querido e popular do Brasil, João Jardim buscou criar uma identificação imediata do público com o ex-presidente, uma opção para que o espectador não tivesse qualquer dúvida de quem apoiar desde o início. Já nos créditos finais, o filme subestima mais uma vez a capacidade do público de tirar suas próprias conclusões e coloca uma frase de Tancredo Neves, num didatismo gritante, afirmando que o suicídio de Vargas em 1954 atrasou o golpe militar em dez anos.
“Getúlio” é uma peça de propaganda ideológica dissimulada, com uma leitura muito particular e ideológica da história do Brasil, que faz escolhas que tentam recontar a época torcendo episódios para que se encaixem na narrativa que interessa ao diretor e aos patrocinadores do filme.

Se “Getúlio” for o marco inicial de uma safra de filmes militantes, é mais um motivo para arrumar as malas e buscar o Galeão que tanto assombrava Vargas, um mártir da própria consciência que levou para o túmulo a verdade sobre a tentativa de assassinato de um opositor, o único crime comprovadamente ocorrido naqueles 19 dias de agosto de 1954.
Publicado na Reaçonaria.

Por: Alexandre Borges é diretor do Instituto Liberal.

sábado, 14 de junho de 2014

BILDERBERG


"Você já viu as pessoas que estão em tais encontros? Vão os ministros, os reis, a OTAN, o FMI...
Tais pessoas não se deslocam para conversar sobre o tempo."


No domingo passado (01/06) veio a término a 62ª edição da reunião anual do Clube Bilderberg, a seleta organização que congrega as autoridades máximas da política, economia, aristocracia e do poder militar da Europa e dos Estados Unidos.

Todas as propostas e deliberações, celebradas num hotel de Copenhague, foram feitas no mais absoluto segredo: às portas fechadas, sem acesso dos meios de informação e sem publicação das suas conclusões. Embora o clube diga que suas reuniões não tem um caráter oficial e é apenas um fórum de discussão privado, há quem considere o Bilderberg como o encontro internacional mais importante no mundo, onde são tomadas decisões concretas que afetam a todas as pessoas.

“O efeito mais imediato dessa reunião do clube que acabamos de tomar conhecimento é a abdicação do rei Juan Carlos”, afirma ao El Confidencial a jornalista Cristina Martín Jiménez, que há 10 anos investiga os meandros da instituição. “Note que todas as monarquias estão fazendo o traslado geracional. Eles trabalham em consenso e foi decidido que chegou o momento onde é necessário efetuar esse traslado. Não tenho a menor dúvida que a abdicação do rei é uma decisão consensual do Bilderberg”.

Na opinião da autora de 'Perdidos. Los planes secretos del Club Bilderberg (Martínez Roca)', não é um acaso que a reunião desse ano tenha tido a participação da rainha Sofia, da rainha Beatriz da Holanda (filha do fundador do clube, Bernardo de Holanda) e do príncipe Felipe da Bélgica, que também recebeu a chefia da monarquia no ano passado. “Estão renovando todas as cúpulas dos poderes que trabalham conjuntamente no Bilderberg”, assegura ela.

Uma grande reestruturação militar, econômica e comercial

Porém, embora a abdicação do rei da Espanha afete especialmente nosso país, Martín Jiménez tem por certo que este não foi o tema mais discutido em Copenhague. Neste ano, grande parte das conversações orbitou sobre possíveis conflitos armados na Rússia, China e no Oriente Médio. E é por isso que a presença militar foi especialmente significativa.

Na lista de convidados desse ano estavam o secretário geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen; o general em chefe das Forças Norte-Americanas na Europa, Philip Breedlove – que, segundo informa Charlie Skelton do The Guardian, foi acompanhado de representantes de altos cargos do Ministério da Defesa Norte-Americano; o ex-diretor da CIA, David Petraeus; o chefe do MI6 (o serviço de espionagem britânico), Sir John Sawers; bem como diversos ministros do exterior europeus, entre outros da Espanha, José Manuel García-Margallo (que compareceu acompanhado de Mercedes Millán Rajoy, diplomata espanhola e sobrinha do presidente).

Na opinião de Martín Jiménez, o Clube Bilderberg está preparando o cenário para a possibilidade de um grande conflito bélico: “O consenso é que daqui a alguns meses ou um ano haverá uma grande reestruturação militar, econômica e comercial com origem em alguma modificação importante na história mundial: um conflito bélico de grandes dimensões”.

O Clube Bilderberg celebrou sua primeira reunião em 29 e 30 de maio de 1954, no hotel Bilderberg, na Holanda, encontro promovido pelo imigrante polonês e conselheiro político Jozef Retinger, preocupado pelo crescente antiamericanismo provocado pelo Plano Marshall na Europa. Desde então, afirma Martín Jiménez, sua principal preocupação tem sido preservar a hegemonia do Ocidente, que agora está sendo questionada.

“No ano passado, Tony Blair, outro dos líderes que trabalham com os Bilderberg, escreveu um artigo para o Daily Mirror (1) em que dizia claramente que a questão não é a paz, mas sim de falar sobre questões de poder”, explica Martín Jiménez. “Isso foi dito alguns meses antes de reunir-se com o clube na Inglaterra (entre 8 e 9 de junho do ano passado), pois existia uma grande rejeição popular à União Europeia, e recém havia sido criado o UkiP (2), que agora teve grande sucesso nas eleições. Blair interviu afirmando que os trabalhistas e os conservadores teriam de se unir para dar apoio à União Europeia. Estão sendo formados blocos de poder. O Ocidente é um bloco, e ele está sendo reforçado para não permitir a sua invasão por outros blocos.”

Convidados que não vão apenas para papear

A jornalista tem consciência que suas afirmações levantam suspeitas, porém ela está convencida que aquilo que é dito no Bilderberg é de extrema importância. “Eles possuem um mecanismo para desprestigiar aquelas pessoas que os investigam, tachando suas atividades de 'conspiranóia', para que acreditemos que não estão fazendo nada. Dizem que são apenas reuniões informais nas quais as pessoas participam em caráter privado, e que por esse motivo não tem de dar informações. Você já viu as pessoas que estão em tais encontros? Vão os ministros, os reis, a OTAN, o FMI... Tais pessoas não se deslocam para conversar sobre o tempo.”

Além dos grandes líderes militares e da aristocracia, este ano participaram do Bilderberg diretores de corporações como Shell, BP, Fiat, Novartis, Dow Chemicals, Unilever, Airbus e Nestlé; diretores de bancos e instituições financeiras como HSBC, Citigroup, Lazard, Goldman Sachs, Santander, Barclays, American Express, JP Morgan, TD Bank e do Deutsch Bank; e os CEOs e presidentes do Google, LinkedIn e Microsoft; proprietários, editores e representantes de meios de informação como The Financial Times, The Wall Street Journal, Die Zeit, Le Monde, El País e The Washington Post; líderes e políticos de instituições como o Banco Mundial, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, Banco de Compensações Internacionais, o FMI, a Reserva Federal e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos; e políticos europeus, norte-americanos e canadenses como Mark Rutte, o primeiro ministro holandês, ou David Cameron, primeiro ministro britânico.

A representação espanhola incluiu além da rainha Sofia, o ministro de Relações Exteriores, o diretor geral da La Caixa, Juan Maria Nin, e o presidente do grupo Prisa, Juan Luis Cebrián.

O grande grupo de pressão ocidental

As decisões do Bilderberg, afirma Martín Jiménez, são consensuais e tem efeitos diretos sobre as políticas nacionais. Apenas 15 dias após a reunião do clube em 2012, realizada nos Estados Unidos, a Espanha pediu um empréstimo à Europa para fazer o resgate bancário. Uma decisão que, segundo a jornalista, foi tomada na conferência do Clube, que naquele ano havia tido a participação da vice-presidente Soraya Sáenz de Santamaría. O Bilderberg também foi responsável, ainda segundo Martín Jiménez, de colocar Mario Monti, membro do Comitê Diretor do Clube, como primeiro ministro italiano. “E assim os italianos tiveram de engolir um primeiro ministro que não foi eleito nas urnas”, assegura a jornalista.

O Bilderberg também está por trás dos cortes orçamentários realizados no nosso país. “A Fundação Rockfeller (outro dos grandes promotores históricos do clube) tem falado do tema da superpopulação desde os anos 30”, explica ela. “Não é coisa nova. Os mais velhos e os doentes não são úteis, pois são um ônus econômico. Bruxelas pressiona nossos governos eleitos democraticamente para que reduzam as ajudas aos dependentes e o orçamento para a saúde”.

O clube põe suas mãos em tudo aquilo que possa afetar o desempenho de seus sócios (a elite econômica e política). Incluindo o futuro sucessor do PSOE (3). “Segundo minhas investigações, Madina é o candidato que apoiam os membros espanhóis do Bilderberg”, afirma a jornalista. Somente o tempo dirá se ela está certa, ainda que ela mesma reconheça, “há muitas coisas que eles preveem, porém mais tarde seus planos não se desenvolvem como havia sido desejado”.

Notas:
(1) O artigo em questão pode ser lido aqui: http://dailym.ai/1o5bEWP. No trecho referido o líder do Partido Trabalhista diz: 

“(...) Em 1946, Winston Churchill fez seu afamado discurso conclamando por um Estados Unidos da Europa. Ele via um continente assolado por séculos de conflito e recentemente por duas guerras mundiais. Ele via uma França e uma Alemanha – inimigos em ambas as guerras – tornando-se amigos numa nova união. O racional para a Europa [naquele momento] era simples – paz e não a guerra. Em 2013, existe uma nova lógica que é mais forte, clara e mais duradoura: não a paz, mas o poder. O cenário geopolítico para o Século XXI está passando por uma revolução. A questão para a Grã-Bretanha é: qual é o ponto que nos dá mais vantagens nesse novo cenário? Ao fim do século XIX, a Grã-Bretanha era a maior potência mundial. No final do século XX, eram os EUA. No final do século XXI, possivelmente será a China ou, no mínimo, a China e possivelmente a Índia serão tão poderosos quanto os EUA. Nós precisamos compreender quão profunda é essa mudança e como ela irá nos atingir (...)”


(2) UKiP – Partido Independista do Reino Unido. Eurocéptico. Direita. O partido defende a independência da Inglaterra frente à União Europeia (abandonar a UE). O título do seu Manifesto 2014 diz: “Imigração portas-abertas está sucateando os serviços públicos locais no R.U.” Suas propostas envolvem: soberania e livre comércio sem união política. Proteção das fronteiras e imigração sob condições reguladas. Isenção fiscal sobre salário mínimo e sobre a transmissão de heranças. Fim de subsídios e ajudas ao exterior. Combate ao crime. Cassação do direito a voto de prisioneiros. Sair da jurisdição da Corte Europeia de Direitos Humanos. Permitir a fundação de novas 'grammar schools'. Rejeição ao politicamente correto como proteção ao livre discurso (“free speech”).


(3) PSOE – Partido SOCIALISTA Operário Espanhol, fundado em 1879 (o segundo mais antigo da Espanha). Principal partido de oposição. Parte integrante do Partido SOCIALISTA Europeu e da Internacional Socialista. Adepto da Terceira Via, do multiculturalismo, do humanismo laico, progressista.


Por: Miguel Ayuso
Tradução: Francis Lauer


sexta-feira, 13 de junho de 2014

UM PAÍS BOM PRA CACHORRO

A presidente Dilma disse na segunda-feira passada, em resposta às críticas feitas por Ronaldo “Fenômeno”, que “não temos complexo de vira-latas”. Os inimigos do governo estão dizendo que esse discurso foi cachorrada, mas ela falou sério — e dou razão.


Esse tal complexo poderia ser verdadeiro no passado, quando Nelson Rodrigues cunhou a expressão, rosnando e espumando em seu reacionarismo. Mas agora perdeu o sentido, caiu em desuso, os tempos são outros.

Nosso país está diferente. Vejam essas bandeirolas tremulando. É a Copa das Copas, e o tal complexo de vira-latas deixamos lá atrás, quando perdemos em casa. Dessa vez, em casa, só ganhamos porque ninguém vai levar estádio e aeroporto na mala — até porque nem ficou pronto.

Ter Copa em casa nos livra desse sentimento canino de inferioridade em relação ao resto do mundo. Alguns cães até ladram, mas a Copa não vai parar. O brasileiro aguarda o início dos jogos com a língua de fora, vendo pingar na máquina o caldo quente da propaganda. Está embriagado em sua paixão natural — e legítima, diga-se — pelo esporte. Pega a bolinha, pega.

Mas, roendo a outra ponta do osso, e sem querer ser hidrófobo, vemos algumas estatísticas que teimam em demonstrar, com o peso asfixiante dos números, que a propaganda ufanista apelando ao nosso orgulho é latido oco: o cidadão comum que vive no Brasil está mesmo revirando lixo, mesmo que não queira se enxergar dessa forma.

Ora, como péssimos cãezinhos amestrados, estamos, por diversos anos consecutivos, nos últimos lugaresem rankings que medem a educação. O governo consegue gastar 280 bilhões sem ter uma única universidade entre as cem melhores do mundo.

Estamos na coleira quando o assunto é liberdade econômica. Somos o 114º país num total de 178, perdendo para o Quênia, Tunísia, Camboja, Tanzânia e Gabão. E se continuarmos em queda, não demora a chegarmos à categoria em que se enquadram, pela ordem, Coréia do Norte, Cuba, Zimbábue, Venezuela e Irã, campeões de repressão econômica.

No índice de desenvolvimento humano ocupamos a 85º posição entre 186 países. Isso significa que não somos os mais judiados de todos os cães, mas ainda estamos na rabada, e melhorando pouco.

Somos tosados em nossa liberdade de imprensa, ocupando a 108ª posição entre 179 países, e caindo! A cada oito dias é registrada uma violação grave à liberdade de expressão no país.

O Brasil é o primeiro dos dez destinos mais perigosos para um turista. Batemos o nosso próprio recorde de homicídios e temos um número absoluto de 56.337 mortes violentas por ano. Quem mora em Trinidad e Tobago, Angola, Quênia, Uganda, Congo, e Ruanda está mais seguro do que você neste momento. De fato, ninguém sai hoje de casa numa cidade brasileira sem o rabo entre as pernas.

Se quiser mais sarna para se coçar, confira os índices de percepção da corrupção,saneamento, saúde,impostos, suicídio epedofilia.

Estou de acordo, presidente: não temos complexo de vira-latas. Ou, pelo menos, não temos mais o direito à ilusão de nos imaginarmos inferiores ao resto do mundo. Nós já chegamos lá, na maior parte dos casos. Não é mais um complexo, é algo passível de demonstração estatística, e por diversos ângulos.

Mundo cão.
Por: Márcio Santana Sobrinho é jornalista. Do site: http://www.midiasemmascara.org/


quinta-feira, 12 de junho de 2014

ŽIVI HRVATSKA!

Verde e amarelo são duas cores muito bonitas. Pelo menos quando separadas. Juntas, para mim pelo menos, causam brotoejas. Lembram não só a pátria, pela qual não tenho especial apreço, mas também o fanatismo futebolístico. É quando mais aparecem. A Copa, de longe, é o evento mais cultivado no país. Semana da Pátria é obrigação chata de militares e colegiais.

Há quem imagine que detesto futebol. Nada disso. Aliás, o considero um esporte bonito e inteligente. O problema são as multidões e o fanatismo que gera. Jamais entrei em um estádio. Enfim, a bem da verdade, certa vez entrei em um, em construção, para fazer uma reportagem. Foi em janeiro de 1969. Estava começando como repórter no Diário de Notícias, de Porto Alegre, e “seu” Olinto, o diretor de redação, me chamou:

- Janer, vai até o Gigante da Beira-Rio ver o andamento das obras.

Minha resposta quase custou-me o emprego:

- Certo, “seu” Olinto! De que time é mesmo esse estádio?

Perplexidade na redação. A sala era enorme, tínhamos de falar alto. Os redatores não acreditavam no que haviam ouvido. Do setor de esportes, voou pela redação uma pergunta indignada do editor:

- Tu não sabes a que time pertence o maior estádio particular do mundo?

Não sabia. Aliás, sabia até demais para minha erudição na área. Sabia pelo menos que o tal de Gigante tinha algo a ver com futebol. Essa foi a única vez que entrei em um estádio. Não por preconceito. Eu até que era bom no esporte, me lembro que certa vez fiz um gol. Milagres acontecem! Meus colegas não conseguiam acreditar no que haviam visto. Ocorre que multidões me horrorizam, sejam quais forem. Se uma multidão vai para o sul, eu rumo ao norte. Pela mesma razão, jamais assisti a uma tourada. Os réveillons quase sempre me pegam nalguma capital européia. Em vez de comemorar na rua com a multidão, me refugio no quarto do hotel.

O futebol é o início da guerra civil, escreveu Orwell. Civilizada seria a nação em que uma torcida aplaudisse uma jogada brilhante do time adversário. Mas isso pertence ao reino da utopia. Há no entanto um momento em que viro torcedor. É quando o Brasil é finalista. Só então me disponho a torcer... contra o Brasil. Se o Brasil perder na finalíssima, melhor ainda. Me soa como orgasmo interrompido pela chegada do marido.

Ninguém se iluda com essa gente que quer um Brasil sem Copa. Mal a bola começar a rolar, estarão ou nos estádios – que agora, sei lá por quais razões, chamam-se arenas – ou grudados na TV, torcendo pelo hexa. Os protestos são de mentirinha, nada mais que ameaças de desordem para obter ganhos, desde casa própria paga pelos contribuintes, tenham estes ou não casa própria - a aumentos salariais. É claro que continuarão durante a Copa. Mas, no fundo do coração do brasileiro médio, vai morar sempre um fanático. 

Todo leitor mais velho deve lembrar da Copa de 70, que Médici assumiu como coisa do governo. Eram os dias do “milagre econômico” e do “ninguém segura este país!” Torcer pela vitória do Brasil era alinhar-se à ditadura. As esquerdas fizeram boquinha de siri e torciam encabuladas, às escondidas. Isso que a Copa foi no México.

Já que falamos em Médici, vejamos a visão do cronista Nelson Rodrigues sobre 64: “muito antes do primeiro momento eu já achava que só as Forças Armadas podiam salvar o Brasil”. E sobre Médici: “Esse soldado é de uma natureza simples e profunda. Está disposto a tudo para que não façam do Brasil o anti-Brasil. Seja como for, deixará este nome, para sempre: – Emílio Garrastazu Médici”.

Hoje, Nelson parece ter virado porta-voz das esquerdas. Achados seus, como pátria em chuteiras e complexo de vira-latas foram encampados pelo governo e citados canhestramente até por Dona Dilma, vítima da ditadura dos militares que Nelson tanto incensava e chegou inclusive a negar que fossem torturadores.

“Uma outra coisa importantíssima surgiu no Brasil, importantíssima. E eu vou falar o que é. Ela está ligada, de uma certa forma, a uma crônica feita por um senhor que se tivesse nascido em qualquer lugar de língua inglesa seria considerada gênio lá. (…) Ele fez uma crônica ─ ele chamava Nelson Rodrigues, ele era muito engraçado ─ ele fez uma crônica que chamava “Complexo de Vira-lata”. Ele dizia que ─ isso foi na época, se eu não me engano, do jogo com a Suécia, final com a Suécia, não tenho certeza, mas foi na final, um pouco antes da final com a Suécia ─ ele fez uma crônica que ele dizia o seguinte: que o Brasil tinha complexo de vira-lata e que ele não podia ter complexo de vira-lata, e que a equipe era boa, tanto que a equipe era boa que ela era boa tecnicamente, taticamente, fisicamente, artisticamente. Tanto é que nós dessa vez ganhamos a Copa. Mas ele sempre falava desse complexo de vira-lata que pode… a gente pode traduzir como um pessimismo, aquela pessoa que sempre acha que tudo vai dar errado, que ela é menor que os outros. E ele dizia uma coisa, e eu queria dizer isso para vocês. Ele dizia que se uma equipe entra… eu não vou citar literalmente, não, mas se uma equipe entra para jogar com o nome Brasil, se ela entra para jogar com o fundo musical do Hino Nacional, então ela é a pátria de chuteiras”.

Com a Copa, até Nelson, o inimigo figadal das esquerdas, virou gênio para o PT. Como o cronista agora dileto da presidente atesta não ter havido torturas durante a ditadura, é até provável que seus alegados tormentos sejam fruto de uma imaginação fértil. 

Dona Dilma garante que os turistas não levarão as obras viárias de apoio à Copa nem os estádios. No que diz respeito às obras viárias, pelo que dizem os jornais, nem a metade será concluída até o começo da competição. Quanto aos estádios, seria melhor que os levassem. Muitos ficarão como elefantes brancos, monumentos faraônicos vazios de público, em memória de sonhos de poder do PT. 

Mas a hora é de união. Até mesmo um cronista liberal – seja lá o que isto quer dizer – e fanzoca deslumbrado da Disneylândia como Rodrigo Constantino, se abraça à presidente em seu amor pelo Brasil:

“É hora de deixar as diferenças de lado e vestir a camisa do Brasil. Assim que acabar a Copa, serei o primeiro a criticar o governo em tudo que ele merece ser criticado – e a lista é infindável. Aliás, pretendo continuar com as críticas durante os jogos. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Mas enquanto for o Brasil, e não o governo, representado pelos 11 jogadores em campo, pretendo torcer sim, e bastante. Pra cima deles, Neymar!”

Rodrigo Constantino e Dilma Rousseff, mesmo combate, quem diria? Vamos terminar com esses protestos idiotas contra um governo que investe mais em futebol que na educação e saúde. É vício de negativistas profissionais, como se dizia nos saudosos anos Médici. 

Só se vê o que existe no fundo de um lago quando as águas baixam. Imagine então uma Copa que pretende ser a Copa das Copas. A escolha do país-sede foi obra de Lula e o PT quer tirar um caldo desse osso. O oportunismo está mais para tiro no pé. Os tempos são outros e a maior parte da nação parece estar cansada do dito partido dos operários. Hoje, atrapalhar a Copa se tornou, para muitos, obrigação cívica. 

Ocorre ainda que o ano é eleitoral e as eleições ocorrem logo depois dos jogos. O que o PT condenava como recurso da ditadura no governo Médici, agora endossa com entusiasmo. Se a Copa, como organização, for um fiasco, milhões de votos a menos para Dona Dilma. Se o Brasil não emplacar o hexa, provavelmente o PT não emplaque o governo. O que parecia ser um trunfo, passou a ser aposta arriscada. Já prevendo uma eventual derrota, o governo está planejando um governo paralelo para o próximo mandato, a cargo de sovietes sob a tutela do PT. 

De minha parte, continuo o mesmo de sempre, o torcedor das finais. Contra o Brasil. Uma vitória dá ao povão uma sensação ilusória de algum ganho pessoal, quando na verdade só perderam tempo, trabalho e dinheiro. Particularmente nesta Copa, que apesar de ser um evento que gera lucros fabulosos, será patrocinada pelo teu, pelo meu, pelo nosso dinheirinho.

Uma desclassificação, de preferência já nos primeiros jogos, seria para mim uma dádiva dos deuses. Para a nação, um salutar banho de água fria em um público que se deixa nutrir alegremente por pão e circo. 

Que viva a Croácia!
Por: Janer Cristaldo Do site: http://cristaldo.blogspot.com.br/

BIOÉTICA E GUERRA CULTURAL II: ASSASSINANDO LEGADOS CULTURAIS


A medicina no Brasil já sente a decadência cultural, política e moral em suas fileiras, e já é escorraçada e desmoralizada pelo partido governante. 

Uma das formas mais discutidas, porém nem sempre percebidas, de se alterar os valores de uma sociedade é, sem dúvida nenhuma, a manipulação histórica e cultural.

Exemplos literários não saem de nossa cabeça. Quem não se lembra da distopia de Orwell, 1984? O Ministério da Verdade era aquele que cuidava justamente da reescrita da história, num paralelo interessante com as atuais comissões de busca ideológica da verdade.

Uma das absurdidades de nossos dias de analfabetismo funcional é a proposta de vulgarizar Machado de Assis, na qual uma estudiosa iráassassinar Machado, na prática, com dinheiro público, já que conseguiu apoio da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura.[1] Ao invés de elevar a capacidade compreensiva e expressiva de nossas crianças e jovens, o que se propõe é destruir o legado de Machado de Assis sob a desculpa de torná-lo acessível. Por fim, o que se alcança é a acessibilidade de um texto reinventado por outra pessoa.

Além de tornar idéias complexas e sutis em realidades distantes, quase alienígenas, idéias estas anteriormente comunicadas por meio do esforço árduo dos grandes escritores, essa vulgarização acabará por alterar o próprio significado do que Machado desejou transmitir. É, literalmente, a destruição da nossa agonizante cultura, daquele resto que nos alcançou depois de décadas de massacre e mediocrização intelectual.

Mas neste caso, há um precedente importantíssimo na medicina. Hipócrates, um antepassado muito mais distante, já sofreu nas mãos desses reinventores da cultura. A comparação entre o texto original e o que hoje em dia se oferece em códigos de ética pelos próprios conselhos de classe falará por si mesma:

Juramento de Hipócrates Original

Juro por Apolo médico, Asclépio, Hígia, Panacéia (3) e todos os deuses e deusas,fazendo-os testemunhas de que conforme minha capacidade e discernimento cumprireieste juramento e compromisso escrito:

Considerar aquele que me ensinou esta arte igual a meus pais, compartilhar com elemeus recursos e se necessário prover o que lhe faltar; considerar seus filhos meus irmãos, e aos do sexo masculino ensinarei esta arte, se desejarem aprendê-la, sem remuneraçãoou compromisso escrito; compartilhar os preceitos, ensinamentos e todas as demais instruções com os meus filhos, os filhos daquele que me ensinou, os discípulosque assumiram compromisso por escrito e prestaram juramento conforme a leimédica, e com ninguém mais;utilizarei a dieta para benefício dos que sofrem, conforme minha capacidade e discernimento,e além disso evitarei o mal e a injustiça;não darei a quem pedir nenhuma droga mortal e nem darei esse tipo de instrução; domesmo modo, não darei a mulher alguma pessário para abortar; com pureza e santidade conservarei minha vida e minha arte;não operarei ninguém que tenha a doença da pedra, e cederei o lugar aos homensque fazem isso;em quantas casas eu entrar, entrarei para benefício dos que sofrem, evitando todainjustiça voluntária ou outra forma de corrupção, e também atos libidinosos no corpode mulheres e homens, livres ou escravos;o que vir e ouvir durante o tratamento sobre a vida dos homens, sem relação com otratamento e que não for necessário divulgar, calarei, considerando tais coisas segredo.

Se cumprir e não violar este juramento, que eu possa desfrutar minha vida e minhaarte afamado junto a todos os homens, para sempre; mas se eu o transgredir e nãocumprir, o contrário dessas coisas aconteça.[2]


Juramento de Hipócrates amputado

Prometo que ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência.

Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, os quais terei como preceito de honra.

Nunca me servirei da profissão para corromper os costumes e favorecer o crime.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu, para sempre, a minha vida e a minha arte de boa reputação entre os homens.

Se o infringir ou dele me afastar, suceda-me o contrario.[3]


O médico deixou de ser um herói ou santo, eterno buscador da excelência e da virtude, deixou de ser um professo, um vocacionado, e tornou-se um honrado burguês preocupado com sua reputação entre os homens. E, de forma bem escancarada, simplesmente não se menciona o valor da vida ao proibir a eutanásia, o suicídio assistido e o abortamento voluntário.

E o que veio depois ainda foi mais chocante: o Conselho Federal de Medicina tentou emplacar uma resolução para liberação do abortamento até a 12ª semana!

Numa brincadeira boba com as palavras, o documento justifica-se da seguinte forma: 

É importante frisar que não se decidiu serem os Conselhos de Medicina favoráveis ao aborto, mas, sim, à autonomia da mulher e do médico. É como falar que cebola não faz com que ardam nossos olhos, ela tempera a comida simplesmente! O documento declara, com todas as palavras, que seria feito o abortamento por vontade da gestante até a 12ª semana da gestação.[4]

Felizmente nem todos os conselhos concordaram.[5]

Isso tudo num país majoritariamente contra o aborto e que adota a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica) como Norma Constitucional! No pacto está descrito que pessoa é todo ser humano, e que toda vida do ser humano deve ser protegida desde sua concepção.[6]

Mas voltemos ao Juramento.

É óbvio que o mesmo, assim como a obra de Machado de Assis, deve ser interpretado após o estudo adequado. Leitores incultos – e, às vezes, mal intencionados - enxergam no Juramento o machismo grego como se fosse machismo médico, ou o respeito aos mestres como corporativismo, obviamente uma deturpação inaceitável para alguém que domine o mínimo de metodologia necessária ao ler um documento antigo.

A solução não é destruir o Juramento criando uma versão falsificada e inodora, ou distorcer a interpretação e a correta contextualização do original. Da mesma forma a solução não é destruir Machado de Assis em sua originalidade e genialidade.

A solução também não é proibir a versão original como tentaram fazer com o Monteiro Lobato, enxergando em suas brincadeiras literárias infantis um racismo cruel com a personagem de Tia Anastácia.[7]

A solução, ou a tentativa de evitar a criação de um grande problema, é resgatar a cultura e adquirir os significados e a expressividade de nosso legado. É estudar de forma adequada, respeitosa e prudente. É imperativo saber que essas “pequenas” mudanças culturais podem degenerar em assombrosas mutações civilizacionais.[8]




Destrua a cultura da vida e o legado da medicina hipocrática e cristã, e a sociedade é quem pagará o preço. A medicina no Brasil já sente a decadência cultural, política e moral em suas fileiras, e já é escorraçada e desmoralizada pelo partido governante. Se o médico brasileiro não aprender direito o que é ser médico e qual o valor da alta cultura (a verdadeira e única digna do nome, diga-se de passagem), provavelmente será o pequeno burguês de boas aparências do Juramento de Hipócrates adulterado.[9] Destrua a verdadeira cultura e a memória da medicina, e nossos médicos alcançarão a irrelevância frente à sociedade, tornando-se meros burocratas da saúde.

Notas:



[1] AZEVEDO, Reinaldo. Em vez de uma escola brasileira à altura de Machado, um “Machado” à baixura da escola brasileira. Blog Reinaldo Azevedo. Veja, 2014. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/em-vez-de-uma-escola-brasileira-a-altura-de-machado-um-machado-a-baixura-da-escola-brasileira/>. Acesso em: 03 jun. 2014.


[2] RIBEIRO JR., W.A. Juramento de Hipócrates. Modelo 19, Araraquara, v. 4, n. 9, p. 69-72,1999. Disponível em: <http://warj.med.br/pub/pdf/juramento.pdf>. Acesso em: 03 jun. 2014.


[3]CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO DISTRITO FEDERAL. Código de Ética do Estudante de Medicina 3ª Edição. Brasília, DF, 2004.


[4] CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Circular CFM N° 46/2013. Brasília, DF, 2013. Disponível em: <http://waldircardoso.files.wordpress.com/2013/03/ofc3adcio-circular-cfm-46-2013.pdf>. Acesso em: 03 jun. 2014.


[5] PEREIRA, Sandra Helena. Posição do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) e do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre o abortamento voluntário. Mirabilia (Medicinae), 2013,vol. 1, pp. 7-12.


[6] MINISTÉRIO DAS RELAÇÔES EXTERIORES. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. Em vigor no Brasil desde 1992, conforme o Decreto 678, de 06 nov. 1992. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm>. Acesso em: 03 jun. 2014.


[7] MENDES, Priscilla. Mais uma obra de Monteiro Lobato é questionada por suposto racismo. Brasília: G1 Educação. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/noticia/2012/09/mais-uma-obra-de-monteiro-lobato-e-questionada-por-suposto-racismo.html>. Acesso em: 03 jun. 2014.


[8] Indico as seguintes obras para começar a entender o perigo que uma alteração de idéias pode representar: WEAVER, Richard. Idéias têm Consequências. São Paulo: Vide Editorial, 2012; JONAS, Hans. O Princípio da Responsabilidade. Rio de Janeiro: Editora PUC Rio, 2011.


[9] Para compreender melhor o que é ser médico no contexto histórico e filosófico, e como a benevolência e a busca pela excelência atuam num contexto de amizade com o paciente para estabelecer a Relação Médico-Paciente de forma adequada, sugiro a leitura das obras de Diego Gracia e Edmund Pellegrino. GRACIA-Guillén, Diego.Fundamentos de Bioética. Madrid: Editorial Triacastela, 2011; PELLEGRINO, Edmund. The Philosophy of Medicine Reborn: A Pellegrino Reader. Notre Dame, Indiana: University of Notre Dame Press, 2011.

Por: Hélio Angotti Neto, médico oftalmologista com graduação pela Universidade Federal do Espírito Santo e residência médica e doutorado em Ciências pela Universidade de São Paulo. Coordena o curso de medicina do Centro Universitário do Espírito Santo (UNESC-ES) e é o diretor da seção especializada em humanidades médicas da revista Mirabilia. Membro da Sociedade Brasileira de Bioética, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC, do Center for Bioethics and Human Dignity, da Associação Brasileira de Educação Médica e do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho. Coordena o SEFAM (Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina).