segunda-feira, 7 de julho de 2014

"A TAÇA É DELES (E A CONTA É NOSSA)"

Os pessimistas e a elite branca deram com os burros n’água: a Copa do Mundo no Brasil é um sucesso. A bola está rolando redondinha, os gramados estão todos verdinhos e o país chegou até aí batendo mais um recorde: gastou com os estádios da Copa mais do que Alemanha e África do Sul juntas. Com brasileiro não há quem possa.

Aos espíritos de porco que ainda têm coragem de reclamar do derrame sem precedentes de dinheiro público promovido pelos faraós brazucas, eis a resposta definitiva e acachapante: a Copa no Brasil tem uma das maiores médias de gols da história. Fim de papo. De que adianta ficar economizando o dinheiro do povo, evitando os superfaturamentos e as negociatas na construção dos estádios, para depois assistir a um monte de zero a zero e outros placares magros? Fartura atrai fartura. Depois da chuva de verbas, a chuva de gols. É a Copa das Copas. Viva Messi, viva Neymar, viva Dilma.

Está todo mundo feliz, e o país mais uma vez se renderá a Lula. O oráculo afirmou que era uma babaquice esse negócio de querer chegar de metrô até dentro do estádio. Que o brasileiro vai a jogo até de jegue. O filho do Brasil mais uma vez tinha razão. 

O país teve sete anos para usar a agenda da Copa e investir seriamente em infraestrutura de transportes. Sete anos para planejar e executar uma expansão decente do metrô nas capitais saturadas, por exemplo — obras caras que dependem do governo federal. Ainda bem que nada disso foi feito, e as capitais continuaram enfrentando sua bagunça a passo de jegue. Seria um desperdício, porque todo mundo sabe que essa mania de querer chegar aos lugares de metrô é uma babaquice da elite branca. 

Felizmente, o dinheiro que seria torrado nessa maluquice foi bem aplicado nos estádios mais caros do mundo, entre outros investimentos estratégicos.

Agora a Copa deu certo, o brasileiro está sorrindo e a popularidade de Dilma voltou a subir — provando de uma vez por todas que planejamento sério é uma babaquice. O que importa é bola na rede.

Nos anos que antecederam a Copa das Copas, os pessimistas encheram a paciência do governo popular com a questão dos aeroportos. Mas o PT resistiu mais uma vez à conspiração dessa burguesia ociosa que reclama de tudo. E deixou para privatizar (que ninguém nos ouça) os aeroportos às vésperas da Copa. Foi perfeito, porque sobrou mais tempo para o bando da companheira Rosemary Noronha parasitar o setor da aviação civil, proporcionando aos brasileiros o que eles mais gostam: ser maltratados nos aeroportos em ruínas, se possível derretendo com a falta de ar-condicionado (o que Dilma chamou carinhosamente de “Padrão Brasil”).

Os pessimistas perderam mais essa. Na última hora, com um show vertiginoso de remendos e puxadinhos (Brasil-sil-sil!), os aeroportos nacionais não obrigaram nem uma única delegação estrangeira a vir para a Copa de jegue. Todas as seleções entraram em campo — a televisão está de prova. E, no que a bola rolou, quem haveria de memorizar detalhes insignificantes, como metade dos elevadores da Favela Antonio Carlos Jobim enguiçados, além de algumas esteiras e escadas rolantes interditadas, entre outros desafios dessa gincana Padrão Brasil?

Ora, calem a boca, senhores pessimistas. A Copa deu certo. A Rosemary também.

Quem vai cronometrar o tempo dos otários nas filas monumentais? Os cronômetros só medem a posse de bola. E bem feito para quem ficou preso nos engarrafamentos a caminho do estádio, de casa ou de qualquer lugar. Lula avisou para ir de jegue. Você ficou engarrafado porque é um membro dessa elite branca que contribui para o aquecimento global. Além de tudo, é ignorante, porque ainda não entendeu que o combustível no Brasil foi privatizado pelos companheiros e seus doleiros de estimação. Como diria o petista André Vargas ao comparsa Alberto Youssef, o petróleo é nosso.

Além de jegue e jabuticaba, o Padrão Brasil tem feriado. Muito feriado. Quantos o freguês desejar. 

Pode haver melhor legado que esse para a mobilidade urbana? Se todo mundo andar de jegue e ninguém precisar ir trabalhar, acabaram-se os problemas viários. Poderemos ter Copa todo mês. E os brasileiros não precisarão mais correr riscos com obras perigosas como os viadutos — que, como se sabe, desabam.

A Copa no Brasil tem tido jogos realmente emocionantes. É o triunfo do único inocente nessa história — o futebol. Viva ele. Os zumbis que ficavam gemendo pelas ruas que “não vai ter Copa” sumiram na paisagem do congraçamento das torcidas. Mas é claro que isso será entendido pela geleia geral brasileira como... gol da Dilma! É a virada dos companheiros, a vitória dos oprimidos palacianos sobre as elites impatrióticas etc. A taça é deles. E a conta é nossa.

Se você não suporta mais essa alquimia macabra, que faz qualquer sucata populista virar ouro eleitoral, faça como os atletas do Felipão: chore.
Por: Guilherme Fiuza Publicado em O Globo


quinta-feira, 3 de julho de 2014

A DOPUTRINA DE ALEKSANDR DUGIN


"Dentre as doutrinas neopagãs, as opiniões de A. DUGIN ocupam uma posição à parte. Em particular, isto se explica pelo status do autor, chefe do movimento “Eurásia” (pelo fato de ser um dos conhecidos ideólogos do movimento “Rússia”), por sua colaboração ativa com o Comitê Islâmico e por ser um político ambicioso."


A doutrina de Aleksandr DUGIN: Novas associações religiosas da Rússia de caráter destrutivo e oculto: um guia.
Departamento Missionário do Patriarcado de Moscou da Igreja Ortodoxa Russa.
Belgorod, 2002

A doutrina de Aleksandr DUGIN

Dentre as doutrinas neopagãs, as opiniões de A. DUGIN ocupam uma posição à parte. Em particular, isto se explica pelo status do autor, chefe do movimento “Eurásia” (pelo fato de ser um dos conhecidos ideólogos do movimento “Rússia”), por sua colaboração ativa com o Comitê Islâmico e por ser um político ambicioso.

Seus ensinamentos, transformados harmoniosamente na ideologia do movimento Eurásia, não podem ser examinados separados da concepção do mundo de seu mentor espiritual René GUÉNON, em cuja biografia estão contidos alguns dados que nos permitem de maneira mais objetiva avaliar o lado espiritual da doutrina de A. DUGIN.

Além disso, ficam também esclarecidos o papel e a posição da Igreja Ortodoxa, elaborados por A. DUGIN em documentos programáticos e outros escritos relacionados com a organização da OPOD (Movimento Pan-russo Social e Político) Eurásia e com a criação da futura União da Eurásia.

Todos os documentos utilizados para a preparação desta seção foram publicados em órgãos periódicos públicos de informação. As opiniões de A. DUGIN, de seus mentores e de seus seguidores foram tiradas de monografias, almanaques, dos órgãos de informação de massa por ele dirigidos e de outras edições, distribuídas basicamente por empresas comerciais controladas pelo movimento Eurásia e por outras estruturas dependentes do autor.

Sobre o autor da doutrina
Aleksandr Gelevitch DUGIN [1] nasceu em 1962 no distrito de Tcheliabinsk. Seu pai foi um general que trabalhou na administração central do sistema de informações do Estado Maior das Forças Armadas da URSS. O papai general colocou o filho, que não concluíra a Escola de Aviadores de Moscou, no arquivo da KGB. DUGIN conhece cerca de 10 línguas europeias, e domina a língua hebraica. As pretensões de A. DUGIN o tornaram, aos 35 anos, o homem número 2 do Partido Nacional Bolchevique de Eduard LIMONOV. Entusiasmou-se pela maçonaria e pelo fascismo. Foi inimigo do “Império Soviético”. Atualmente, defende opiniões totalmente opostas.

Em 1991 foi publicado seu primeiro livro “Caminho do Absoluto” onde estão expostos os fundamentos de sua orientação religiosa. Em 1992 começa a editar a revista “Elementos”. Em 1993 publica o best-seller “Teoria da Conspiração” que se tornou o equivalente do livro de ação inglês “Caça aos Espiões”. No livro “Teoria da Conspiração” foi desenvolvido o tema das relações secretas entre a CIA e a KGB.

Segundo sua própria confissão, A. DUGIN na juventude intitulava-se “um fascista místico” e hoje em dia modificou esta denominação para “fascista ortodoxo”.

A. DUGIN considera o esotérico francês da primeira metade do século vinte René GUÉNON (15.11. 1886 – 07.01. 1951) como seu mestre, como autoridade reconhecida e incontestável, como emissário autêntico da teoria escatológica, considerando-o a figura chave desse período. Escreve: “René GUÉNON é o emissário do supremo centro para a última época, para o período de Kali Yuga, e os princípios da Tradição por ele formulados (o conjunto dos “conhecimentos não humanos transmitidos de uma geração à outra pela casta dos sacerdotes ou por outras instituições semelhantes) servirão de baluarte de salvação para aqueles que terão que, lutar contra “este Mundo” e seu “Príncipe”, fazer renascer a Tradição na sua dimensão autêntica, não humana e “angélical” e, fechando o ciclo, elaborar os fundamentos sagrados da Idade do Ouro que se aproxima.” [2]

Um dos objetos fundamentais das pesquisas de GUÉNON é uma versão da metafísica, na qual as concepções do hinduísmo exerceram uma grande influência.

Na tentativa de justificar GUÉNON (e, por conseguinte, suas próprias concepções sobre cristianismo), A. DUGIN diz que “a particularidade do tradicionalismo de GUÉNON faz às vezes com que os membros conservadores da Igreja considerem erroneamente o esoterismo e a síntese a que ele se refere como ocultismo e sincretismo.”[3]

E, 1912 GUÉNON se converteu ao Islamismo e adotou o nome árabe de Abd-el-Vakhed-Iakhia – Servidor Único.

Mais adiante [4], todavia, DUGIN indica que “GUÉNON recebeu iniciação maçônica do neo-rosacruz Theodor REUSS, que foi amigo, companheiro de armas e responsável pela iniciação de A. CROWLEY”. [5]

Lembremos que GUÉNON constitui uma autoridade incontestável para A. DUGIN.

O Neopaganismo à luz das concepções metafísicas de R. GUÉNON e de A. DUGIN
As primeiras pesquisas religiosas de A. DUGIN datam do início dos anos 90 do século passado e estão ligadas à fundação do almanaque “Anjo Gentil”, em cujas publicações são examinadas as fontes espirituais dos ensinamentos de um novo messias. Eis o que escreve a equipe de redação nesta edição [6]:

“Nossa tarefa fundamental ... constitui a restauração da tradição integral em toda a sua dimensão total ... O almanaque ‘Anjo Gentil’ combate a favor da restauração do espírito medieval, da forma de pensar medieval , da religiosidade medieval e da concepção de estado medieval.” Entretanto, como veremos a seguir, A DUGIN interpreta estes conceitos “medievais” do ponto de vista do neopaganismo.

Dentro dos limites da Tradição mencionada, DUGIN reconhece a primazia do não ser: “qualquer metafísica tradicional de pleno valor reconhece a prioridade do não ser sobre o ser”. [7] Aqui está uma das posições (respostas) da gnose escatológica de A. DUGIN: “O ser apareceu como prova de que o não ser que o continha antes de sua aparição não é a última instância, e de que, além de seus limites está presente o Outro, que não coincide nem com o ser, nem com o não ser[8]. Do seu ponto de vista o ser “não pode também afirmar sua própria primazia sobre o não ser, pois contradiria a verdade, já que o ser puro não é outra coisa senão a tradução na realidade, sob sua forma lógica, das possibilidade do não ser que o precedeu.”[9]

De maneira generalizada a doutrina espiritual de A. DUGIN está concentrada no almanaque “O Fim do Mundo. Escatologia e Tradição” (Moscou, Ed. Arktogaia, 1998). O próprio A. DUGIN denomina esta publicação de “manual de historia da religião”. Todavia, os aspectos históricos das várias crenças contidas neste trabalho são apresentados sob seu ponto de vista próprio (e totalmente peculiar). Isto contradiz definição do livro como obra histórica e lhe confere um aspecto dogmático. A mistura de concepções cristãs, runologia, conceitos pagãos, várias teorias da cosmogonia é só uma pequena lista das liberdades de um diletante para com os materiais da coletânea.

Ao inserir na coletânea histórica [10] um capítulo do livro “Caminho do Absoluto”, (”Gnose Escatológica”), A. DUGIN constata assim que sua doutrina religiosa já está formada.

Justificando o surgimento de novas religiões e cultos dentro dos limites da Tradição, A. DUGIN escreve literalmente o seguinte: “As normas e as estruturas esotéricas da Tradição se transformam em conformidade com a situação do ambiente cósmico, e, por conseguinte, aparecem novas religiões e tradições, novas redações do culto e novas práticas.”[11]

Esta afirmação tem consequências de longo alcance. Se o ambiente cósmico constitui o não ser que gera o ser, então o surgimento de novas religiões e cultos (possível somente nos limites do ser) é um fato objetivo (do ponto de vista metafísico) e isto significa que cedo ou tarde uma nova religião nos limites do Estado da Eurásia irá aparecer e além disso será absurdo resistir-lhe.

É de se notar que esta afirmação está inserida na seção do “manual” consagrada à analise dos ensinamentos religiosos de A. CROWLEY.

Desta forma, podemos desde já definir a doutrina religiosa de A. DUGIN como uma interpretação da metafísica do hinduísmo combinada a conceitos do marxismo ortodoxo. Sob o aspecto linguístico, esta doutrina reveste a forma de uma terminologia pseudocientífica, extremamente atraente para diletantes que, como o próprio A. DUGIN, não concluíram um curso universitário e que compartilham dos ideais da ideologia comunista.

A Ortodoxia na interpretação de A. DUGIN
DUGIN faz uma análise da Ortodoxia a partir da posição tradicionalista de GUÉNON, avançando a tese: “A Igreja Cristã ... se seguir uma orientação tradicionalista e conservadora, em regra geral, na melhor das hipóteses, constitui o apoio fundamental para a conservação do aspecto esotérico, ritualístico e dogmático... . A Igreja ou limita sua atividade não litúrgica por um moralismo simplificado, ou , o que é pior, tenta ocupar-se da apologética baseada em teorias fundamentalmente profanas, contemporâneas e antitradicionalistas, ou ainda, o que é terrível, tende ao sincretismo, ao ecumenismo e mesmo ao neoespiritualismo mais baixo....”. [12]

Nas obras de A. DUGIN manifesta-se claramente o efeito da lei da dicotomia. Por exemplo, a tentativa de pesquisar as crenças pré-cristãs e pré-ortodoxas da Rússia leva A. DUGIN a conclusões paradoxais. Eis uma delas: “O Cristianismo não substituiu, mas elevou e consolidou a fé antiga pré-cristã.” [13

Escreve: “Quando temos diante de nós uma tradição realmente importante e autêntica, podemos quase sempre descobrir nela seu transcendentalismo e seu caráter imanente, sendo que esta última característica constitui sua parte interior e esotérica.”[14], ou seja, para A. DUGIN o paganismo é também uma suposta Ortodoxia, todavia melhor e mais original. “O aspecto imanente” é a concepção mística do mundo de A. DUGIN e de seus seguidores. Esta concepção provém em particular do fato de que basta pensar em uma “conspiração” e a ideia de conspiração já se torna realidade e, na medida, que sou “eu” que penso, então isto é uma realidade bem mais importante do ponto de vista metafísico do que a realidade concreta [15]

O “aspecto imanente” não distingue ideias que tem seu fundamento na vida quotidiana e também as ideias nominais (ou ordinariamente fictícias), e dá preferência às fictícias. A incapacidade da tentativa de associar o “aspecto imanente” ao Cristianismo manifesta-se de maneira particularmente visível na tentativa de interpretação do Credo, tentada por A. DUGIN, onde ele geralmente descamba para uma franca heresia[14]. Assim, ele afirma que o Credo de Niceia é uma profissão de fé com “uma pequena concessão a preconceitos cristãos”. Além disso, A. DUGIN geralmente chama o Credo de “Fórmula da Fé [16]. Ao fazer isto, considera que os primeiros três membros (ou, na terminologia de A. DUGIN, pontos) fornecem uma imagem absoluta e acabada da metafísica [17]

Nas suas “obras” [18] A. DUGIN simplesmente blasfema ao afirmar certo aspecto real (existencial ou ontológico) da Trindade. Ele nega a revelação de que Deus é o criador do mundo e que este sempre transcende qualquer aspecto material.

DUGIN introduz uma inovação na doutrina da imortalidade da alma. Escreve em particular: “A Alma, uma forma sutil, tecida de substâncias da atmosfera, sobrevive ao corpo no qual ela passou sua vida terrena e pode viver de modo independente mesmo depois da morte corporal ... Mas o caminho para o céu do espírito ... é impossível para a alma individual, pois, este mundo, por definição não admite em si seres revestidos de forma”.[19] Entretanto, de acordo com a doutrina ortodoxa, Deus cria a alma pelo seu sopro criador [20].

DUGIN em um sentido puramente teosófico insiste na “descoberta dentro da personalidade humana” de uma substância radicalmente diferente do velho “eu” habitual do indivíduo. Afirma que esta descoberta se passa durante o batismo [21]. E nisso A. DUGIN vê uma saída para a “salvação” do ser humano.

Tal afirmação contradiz diametralmente a definição de João Damasceno: “a alma é uma substância viva, simples e incorpórea, por natureza invisível aos olhos humanos, imortal, dotada de entendimento e inteligência e não possui uma imagem (forma) determinada”. Ela age com auxílio do corpo orgânico e comunica-lhe vida, crescimento, sentimento e força de geração. A inteligência ou o espírito pertence à alma não como algo diverso, separado dela, mas como sua mais pura parte. O que são os olhos para o corpo, assim é a inteligência para a alma. A alma é um ser livre, dotado de capacidade de vontade e ação. Ela é “suscetível de mudança por parte da vontade”. [22]

As concepções e declarações errôneas e por vezes francamente heréticas de A. DUGIN são complementadas pela runologia, pela doutrina sobre o caráter cíclico das fases cósmicas e pelas demais crenças pagãs.

De acordo com a mencionada lei da dicotomia, utilizada por A. DUGIN largamente para elaborar os seus trabalhos, chega à conclusão inevitável de que existem dois tipos de hinduísmo segundo GUÉNON – um bom e um mau. O “mau” é o ocidental e o “bom”, o oriental, supostamente ortodoxo. A. DUGIN vê “um futuro brilhante” para a ortodoxia com a combinação do princípio esotérico da Igreja (isto é, com a organização eclesiástica) com a gnose esotérica pagã. Esta abordagem, como ele descreve, abre “possibilidades ilimitadas para uma compreensão profunda e inesperada da ortodoxia russa”[23]. Assim, A. DUGIN afirma que na pessoa dos “heréticos gnósticos” já existe um fundo de ortodoxia, faltando somente o aparato metafísico. Por isso, o único caminho consiste em adotar a religião tradicional e, em seguida, tentar, no âmbito desta religião, penetrar pela prática espiritual, ritual e intelectual nos seus aspectos esotéricos interiores, nos seus mistérios” [24]. A. DUGIN aconselha que, “para que os gnósticos não se submetam à influência das ideias cristãs, estes devem aspirar a minimizar a dimensão humana, terrena e secular da Igreja ..., é indispensável a despeito de tudo insistir na totalidade mística e na perfeição da Igreja, destacando seu aspecto atemporal, benéfico e transformador”[25]. Além disso, pensa que: “ a tarefa fundamental para se aplicar os princípios do tradicionalismo integral ao cristianismo e, em particular, para a ortodoxia, pressupõe tornar-se um seguidor imediato e ortodoxo de GUÉNON” [26].

Isto nada mais é que um apelo à criação dentro da ortodoxia de uma nova tendência (seita), isto é, uma tentativa de um simples cisma.

A. DUGIN evidentemente desconhece que a mantenedora da verdadeira tradição – a Igreja – se protege e se protegerá com antecedência contra sociedades secretas no seu seio. Ele apresenta a situação de tal forma que pelo seu desejo pode juntar à Igreja suas convicções pagãs.

Segundo a opinião audaz de A. DUGIN, “Se nós fomos resgatados pelo Cristo, então, em princípio em nós não há pecado, e é necessário ir corajosamente para o mundo da deificação e não contar meticulosamente suas imperfeições” [27]. Pela mesma razão coloca-se em dúvida um lado fundamental da vida espiritual como o arrependimento, como a confissão, em outras palavras, o leitor é de fato conclamado a uma recusa voluntária de participar nos mistérios mais importantes da Igreja, que constituem uma parte obrigatória da vida ortodoxa.

“A revolução religiosa é vista por DUGIN como a preservação de todos os aspectos dogmáticos, rituais, doutrinários e simbólicos da fé ortodoxa. Esta revolução, porém, destrói aquelas contribuições intelectuais, de caráter nobre e protestante ou de soviético conformista, e mais frequentemente de fundo liberal, que erroneamente são assimilados hoje em dia com a Igreja e que afastam dela muitas pessoas dignas, fortes e nobres de tendência revolucionária” [28].

Por seus objetivos, A. DUGIN aproxima-se dos chamados modernistas, adeptos de Kotchetkov, de Men, de Borisov e de Jeludkov - e semelhantes. Ele tenta de modo persistente “assimilar” a ortodoxia ao paganismo, e os modernistas acima citados vão ao seu encontro, expondo a ortodoxia dentro deles, e também no espírito e na alma de seus adeptos. “Este homem se colocou fora da Divindade e da lei humana, escolheu para si um ponto de vista fora do bem e do mal, acima da lei e da felicidade” [29]. E se os representantes das correntes renovadoras acima enumeradas seguem o caminho de uma suposta simplificação, DUGIN, ao contrário, com todas as suas forças esforça-se para tornar o evidente incompreensível e ambíguo, utilizando para tanto o aparato conceptual e linguístico da metafísica.

Podemos supor que as doutrinas religiosas de A. DUGIN constituem uma compilação de crenças ocidentais (protestantes) e orientais (hindus). Não possuem nenhum fundamento espiritual da ortodoxia e não podem ser consideradas uma doutrina religiosa completa no sentido atribuído a este conceito pelos homens de ciência – teólogos e filósofos.

Posição de A. DUGIN com relação ao Islamismo
Uma das primeiras medidas oficiais tomadas pelo movimento “Eurásia” foi uma conferência sobre o Islamismo “Ameaça do Islã e ameaça para o Islã”. A conferência realizou-se no dia 29 de junho de 2001 no prédio do “Hotel-Presidente” sob a presidência do porta-voz da Câmara de Deputados, G. Seleznev, do grão mufti da Rússia Talgat Tadjuddin e de A. Dugin (nesta época ele tinha-se tornado conselheiro de Seleznev para questões de geopolítica). Um número especial da “Revista da Eurásia” foi consagrado às relações do Movimento com o Islã. A Divisão de relações exteriores da igreja ortodoxa do Patriarcado de Moscou publicou nas páginas desta edição um artigo do padre Vsevolod (Tchaplin), artigo este que ocupa apenas um pouco mais de 5% do volume total da revista.

Cabe notar que em todos os artigos sobre o Islã não há qualquer referência às numerosas manifestações extremistas dos pseudomuçulmanos. Além disso, no artigo [31] do autor permanente do jornal, Khoj-Akhed Nukhaev, propõe-se a criação “no território da Chechênia meridional uma casa comum da Eurásia, uma organização construída segundo os princípios da doutrina dos cãs tártaros (reunião dos muçulmanos, cristãos e judeus e todos os homens de boa vontade, prontos para submeter-se a esta organização em torno de uma missão comum de revitalização da Terra e cura da alma da humanidade contemporânea).

As ideias de Kh-A. Nukhaev estão bem próximas das de DUGIN. Por exemplo, ele propõe construir o Estado da Eurásia em duas etapas:

Na primeira etapa será fundada a CUEA – Confederação Unificada dos Estados Autoritários.

Na segunda, ela se transformará na Casa Comum da Eurásia.

Podemos imaginar que o Islamismo é mais próximo de DUGIN como fundamento espiritual da ideia de Eurásia. São interessantes as reflexões de DUGIN a respeito da “terceira capital” [32]. Ao examinar o papel desempenhado pelas cidades de Kiev, Moscou e São Petersburgo na história da Rússia, ele, notando o fato de que na Rússia moscovita a etnia torna-se particularmente grã-russa, designa este estado, todavia, como turco-eslavo. Do seu ponto de vista, a capital ideal da Eurásia seria Kazan. Para confirmar suas palavras, escreve: “Ivan o Grande (Terrível) apresenta-se com o legítimo herdeiro da vontade geopolítica da Horda de Ouro, como um tzar especialmente grão-russo, no qual as raízes eslavas se unem com o sangue tártaro sob o estandarte da ortodoxia bizantina”. Ele considera que “o Tartastan representa o modelo de uma entidade federativa da Eurásia. Graças ao impulso tártaro, turco, os russos se conscientizaram como grão-russos, separando-se para sempre do modelo pequeno-russo de Estado. O elemento tártaro é o fator mais importante tanto para a etno-gênese dos grão-russos como para a forma de governo – para a gênese da própria Rússia – Eurásia”. E, finalmente, a afirmação mais interessante: ”O Islamismo dos cãs tártaros é valioso para a Eurásia não como “uma forma incompleta de ortodoxia”, mas como a variedade ortodoxa do Islamismo. E, inversamente, para o Islamismo ortodoxo não há tradição mais próxima do que a Igreja Ortodoxa” [33].

A. DUGIN considera que os métodos metafísicos servem não só para o estudo da ortodoxia, mas também para o do Islamismo. Assim, ele cita a coincidência da opinião do conhecido metafísico muçulmano Gueidar Djemal com a sua própria: “O Fim é mais fundamental do que o começo ... A Negação é a mais fundamental de todas as realidades”[34]. É revelador que este artigo de A. DUGIN foi por ele publicado no jornal dos comunistas russos “Amanhã” nº 21 (338) no ano 2000. Ao fazê-lo, A. DUGIN revelou um total desconhecimento com um documento analítico com “Jiad do povo tártaro na Rússia”[35], no qual a “proximidade” agressiva do Islã com a ortodoxia foi refletida em mais de uma acepção.

Se levarmos em conta o apelo de A. DUGIN para a superioridade da união com os estados muçulmanos, e a possível tomada do poder por eles da União Européia, surge então a seguinte pergunta:

Qual mecanismo A. DUGIN propõe utilizar para prevenir a repetição da situação que hoje em dia se formou no Afeganistão (tem-se em vista o julgamento de missionários cristãos pelos talibãs)?

Levando-se em conta que, segundo as palavras do Cheiq-ul-Islam Talgat Tadjuddin, a população muçulmana manifesta seu pleno apoio ao presidente Putin, podemos com segurança considerar que ela também assim procederá para com a A. DUGIN, que abertamente demonstrou uma posição favorável em relação às ações do dirigente do país.

Posição em relação à maçonaria contemporânea
Na concepção de A. DUGIN, a maçonaria é em princípio “um movimento iniciático bom, dividido pela influência de forças exteriores num ramo ruim “egípcio” e num bom, cristão e escocês”[36]. Por esta afirmação, A. DUGIN revela sua total incompreensão da teoria maçônica, que nega qualquer religião como base da existência espiritual da sociedade.

Apesar disso, oferece certo interesse a conversa que teve A. DUGIN (ele neste caso se apresentou como autor do almanaque “Anjo Gentil” – AG) com o chefe do ramo francês da “Ordem dos Templários Orientais” (mais tarde reformada por A. CROWLEY), um tal irmão Marcion (Christophe Bouchet) [37] quando da sua chegada na Rússia.

Examinando a ação dos maçons no decurso de alguns séculos, o irmão Marcion analisa o lado oculto da ação da SS na Alemanha de Hitler, considerando que “a maioria dos trabalhos dedicados à pesquisa do nacional-socialismo são simplificações vulgarizadoras que aspiram a apresentá-lo como o um mal absoluto”. Ele, baseado nas publicações de Savitri Devi Mukherji, esposa do brâmane Mukherji, considera que “no interior no Nacional-socialismo existiu uma evidente tendência messiânica”.

Nesta mesma passagem, o irmão Marcion afirma que “tudo o que se diz ter-se passado nos campos de concentração nazistas (e também nos stalinistas) não passa de um enorme exagero”. (Evidentemente o irmão Marcion desconhece os materiais do julgamento de Nurenberg).

Segundo a confissão do irmão Marcion, seções de lojas maçônicas existem em muitos países da Europa Ocidental, incluindo a Iugoslávia, onde, há alguns anos, o número dos seguidores de Crowley era muito grande. À pergunta relacionada com a fé dos maçons ele responde literalmente assim: “Eles creem no poder e na necessidade de dominar, subjugar e governar a si próprios”.

As teorias de Crowley à luz do enfoque metafísico de A. Dugin
A tentativa mal dissimulada de conciliar a ortodoxia com crenças que lhe são opostas deve-nos por de sobreaviso. Neste sentido, A. DUGIN até tenta demonstrar que A. Crowley não é perigoso para qualquer crença como geralmente é descrito. O autor produz uma série de citações que justificam Crowley, tentando provar que ele é somente um dos mais importantes pesquisadores (filósofos) dos nossos tempos. Tal atitude para com o “messias” do satanismo é mais do que reveladora, como também o fato de que, analisando a doutrina de Crowley, ele põe a palavra “satanismo” entre aspas. Exteriormente tenta tomar a posição de um analista independente das diversas crenças, sobre as quais a coletânea contém informações. Na base das reflexões de A. DUGIN também se encontram aqui as concepções metafísicas de Guénon, bem conhecidas por ele. Opondo iniciação e contra-iniciação, ele pensa que “as mais terríveis e sérias deturpações e dessacralizações cabem às pessoas com as melhores intenções, convencidas que são ortodoxas e portadoras do bem mais evidente”. E mais adiante: “Na maioria das vezes os não conformistas religiosos ( “hereges” , “satanistas”) buscam a plenitude da experiência sagrada, que os representantes da ortodoxia não podem lhes oferecer. Não é culpa deles, mas seu infortúnio, e a verdadeira culpa cabe àqueles que permitiram que sua autêntica tradição se transformasse em uma fachada superficial detrás da qual não há simplesmente nada. E talvez precisamente estas forças e grupos suspeitos caminham para a realidade profunda, enquanto que os profanos que permanecem na periferia por todos os meios criam obstáculos” [38].

Por meio de reflexões corriqueiras, A. DUGIN chega mais adiante à conclusão de que o papel “dos satanistas” (ou da Ordem de Seth) na divisão das igrejas ortodoxa, católica e protestante é simplesmente insignificante: pois a formação de A. Crowley se deu no seio da irmandade protestante de Plymouth, cujo propagador foi seu pai. É interessante a seguinte afirmação de A. DUGIN: “todas as vezes que Crowley acentuava o seu “satanismo”, só expressava uma clara compreensão do valor de sua posição diante do campo metafísico que ele conscientemente abandonara. E nada mais”. Desta forma, a doutrina espiritual de A. Crowley se reduz somente a uma negação dos dogmas do protestantismo. Por este mesmo raciocínio, deixa entender que desconhece algo de maléfico nos satanistas russos e na atividade de seitas semelhantes em muitos países do mundo. Mais do que isso, propõe considerar A. Crowley como “herege da heresia”, “um Anticristo no seio do anti-cristianismo”, e que é especialmente indispensável levar em conta, ao se avaliar Crowley, seu autêntico significado para a Rússia [39].

Em outras palavras, A. DUGIN culpa o próprio cristianismo pelo aparecimento das concepções anti-cristãs de A. Crowley: a identificação que Crowley faz de si próprio com o “Anticristo” “não era para ele a expressão do caráter destrutivo de sua missão, mas tão somente uma assimilação de denominações e títulos para provocar, no contexto cultural cristão; títulos estes que os profetas cristãos atribuem, no âmbito de seu contexto religioso (a religião de um Deus que morreu e ressuscitou) a “profetas de uma nova era” [40] que lhes são incompreensíveis”. E de maneira geral, do ponto de vista de A. DUGIN, o próprio A. Crowley de modo “reflexo” e irônico descreve sua magia sexual em termos de Anticristo. Isto é, toda a doutrina de Crowley se reduz a um gracejo! Neste ponto é oportuno lembrar algumas formulações de Crowley em um de seus livros relativo aos sacrifícios humanos: “dependendo dos objetivos místicos devem ser executados esfaqueamentos, espancamentos até a morte, afogamentos, envenenamentos, decapitações, estrangulamentos, autos da fé etc.” [41], ou ainda “O sangue lunar é o melhor, também o é o menstrual, o sangue fresco de uma criança e um fragmento da hóstia sagrada, em seguida, o sangue dos inimigos, depois o de um sacerdote ou de um crente e, em último lugar, o sangue de um animal qualquer” [42]. A. Crowley também recomenda: “O objeto mais conveniente para estes casos é uma criança de sexo masculino, inocente e intelectualmente desenvolvida (“Apontamentos mágicos do irmão “Perturabo” – pseudônimo litúrgico de A. Crowley)”. Dá entender que no período entre 1912 e 1928 ele executou tais sacrifícios numa média de até 150 ao ano [43].

E a parte final do artigo. “Impossível excluir a possibilidade de que o seu negativismo mais repulsivo e evidente, sua antinomia e sua “natureza maléfica” estejam mais próximos da verdade e nos ajudem a adquirir orientações espirituais corretas, pois, não é verdade que o caminho do paraíso esta revestido de maus pensamentos”?[44].

Ao que foi dito não é possível acrescentar mais nada. É verdade, ainda, que no livro “O Fim do Mundo” foi integrada totalmente a obra fundamental de A. Crowley “O Livro da Lei”, o que pode ser considerado uma forma de propaganda para os seguidores de A. DUGIN.

Tentemos formular as posições religiosas de A. DUGIN a partir da breve análise dos materiais acima examinados:
Visão do mundo contrária à Ortodoxia, baseadas na primazia do não ser sobre o ser, com emprego do aparato conceptual e linguístico da metafísica.
Presença na sua doutrina de concepções diretamente ligadas à visão do mundo hindu (tantrismo, metafísica indiana), e também com elementos da Teosofia que refletem as opiniões de R. Guénon (iniciado na Maçonaria, supostamente na Ordem reformada dos Templários Orientais – ou Ordo Templi Orientis, a O.T.O.).
Apelos para “uma reforma” da Ortodoxia, em particular por meio da erosão da Ortodoxia como verdadeira crença, da introdução no interior da Igreja de seus inimigos, da liquidação das tradições ortodoxas, da sua submissão ao Islã e, no final das contas, sua destruição pelo emprego do aparelho administrativo da famigerada União da Eurásia. Como etapa intermediária, uma utilização conjuntural da Ortodoxia para atingir seus próprios objetivos políticos no confronto com os partidários da aliança atlântica na marcha para uma real dominação do mundo.
Uma evidente preferência pelo Islã em detrimento das outras crenças religiosas, no seio de uma relação condescendente para com a maçonaria e o satanismo.
A crença religiosa de A. DUGIN ao contrário das outras doutrinas religiosas tradicionais está dirigida para uma classe social de elite. Para sua compreensão exige-se um preparo específico, em particular de natureza filosófica. E isto coloca esta crença na categoria das ideologias ocultistas e místicas em função da critica que faz das posições conceptuais das principais religiões do mundo.
A arbitrariedade na interpretação dos postulados fundamentais do Cristianismo e uma difusão deste tipo de material através de fontes de informação publicamente acessíveis colocam A. DUGIN fora dos muros da Igreja.

O centro de distribuição da doutrina de A. DUGIN é a loja “Transilvânia” (sita em Moscou, à Rua Tverskaia 6/1 5, telefone 229-87-86/33-45, site www.arktogaia.com). Citemos o conteúdo deste site publicado no jornal:
Filosofia
História das religiões
Geopolítica
Metafísica
Sociologia
Economia
Culturologia
Politologia
Oneirologia
Psicologia das profundezas
Runologia
Geografia sagrada
Teoria da conspiração
Análise dos acontecimentos correntes
Versão na rede das publicações periódicas da Eurásia, links para mensagens, fórum.


Nas instalações da “Transilvânia” se encontra também a loja “Artogaia-2”, onde estão expostos praticamente todos os trabalhos de A. DUGIN, bem como obras fundamentais sobre um vasto círculo de problemas de teologia, política e economia (em particular as obras de G. Wirth, A. Crowley e outros apologistas das crenças anticristãs, os documentos programáticos do movimento “Eurásia” e suas publicações periódicas).

Tendo-se em conta as posições atuais de A. DUGIN, líder de um movimento social populista, podemos supor que, no futuro próximo, a base e a esfera de difusão de sua doutrina irá ampliar-se pelo uso das possibilidades oferecidas pela Câmara dos Deputados e pelo Conselho da Federação e por meio de suas possibilidades editoriais e gráficas. Sobretudo, deve-se esperar um visível apoio do governo para o conglomerado editorial “Arktogaia”, e o emprego de outros meios de informação de massa que deverão fazer propaganda da doutrina de A. DUGIN. Já hoje em dia a base gráfica, utilizada para a impressão dos trabalhos do movimento “Eurásia”, é o complexo de produção gráfica “VINITI”, um das mais modernas e poderosas empresas editoriais no sistema de distribuição de informação de caráter técnico-científico e social da Rússia.


Bibliografia:
Referente à seção: “A doutrina de Aleksandr DUGIN”:
  1. Serguei RIUTKIN. “O crítico Dugin”// Internet, www.russ.ru,9.06.98.
  2. “Anjo Gentil” – Moscou. Atogaia, tomo 1, 1991, pag. 10.
  3. Ibidem, pag. 29.
  4. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 359.
  5. Ibidem, pag. 47.
  6. Ibidem, pag. 1.
  7. “Anjo Gentil”, Artogaia, Tomo 1, 1991, pag. 23.
  8. A. Dugin. O Fim do mundo. Escatoçogia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag 19.
  9. Ibidem, pag. 19.
  10. Ibidem, pag.17.
  11. Ibidem, pag. 365.
  12. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Seção “O tradicionalismo de Guénon” .
  13. A. Dugin. A Igreja cristã”. Moscou.Artogaia, 1998, pag. 29.
  14. A. Dugin. “O Mistério da Eurásia”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 19.
  15. A. Dugin “O grande problema metafísico e a tradição”. Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 23.
  16. R. Verchillo. “Contra o novo paganismo” “Tver ortodoxa”, nº 7-8, 199.
  17. “O esoterismo cristão”. Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 67.
  18. A. Dugin. “O Fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 225.
  19. “O esoterismo cristão” Anjo Gentil. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 67.
  20. Ibidem, pag. 68.
  21. A. Dugin. “A metafísica da boa nova”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 12.
  22. Ibidem, pag. 33-34.
  23. Arquimandrita Alípio e arquimandrita Isaías. “Teologia dogmática – ciclo de conferências”. Mosteiro de Troitsko Serguievo, 2000.
  24. A. Dugin. “A metafísica da boa nova”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 148.
  25. A. Dugin. “O mistério da Eurásia”. Moscou. Artogaia, 1996, pag. 55.
  26. Ibidem, pag. 245-246.
  27. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 29.
  28. Ibidem, pag. 10.
  29. Ibidem, pag. 10.
  30. Roman Verchillo. “Contra o novo paganismo” (“A propósito das obras de A. Dugin”). Tver ortodoxa, nº 7-9, julho-agosto de 1999. (Mensageiro do centro de informações e análise do prelado Mark, bispo de Éfeso (fascículo 13).
  31. Khoj-Akhmed Nukhaev. “Não estamos interessados na derrota da Rússia”. Resenha sobre a Eurásia, fascículo especial, pag. 4.
  32. A. Dugin. “A terceira capital”. Na coletânea: “A doutrina da Eurásia: teoria e prática”. Moscou. Artogaia, 2001, pag. 39.
  33. Ibidem, pag. 44.
  34. A. Dugin. “O grande problema metafísico e a tradição”. Anjo Gentil, tomo 1, Artogaia, 1991, pag. 22.
  35. I. N. Lotfullin e F. G. Islaev. “O jiad do povo tártaro na Rússia”. Kazan, 1998, pag. 156.
  36. A. Dugin. “Teoria da conspiração”. Moscou. Artogaia, 1991, tomo 1, pag. 48.
  37. Ibidem.
  38. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Seção: “Teoria geral da conspiração”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 209.
  39. Ibidem, pag. 366.
  40. A. Dugin. “O fim do mundo. Escatologia e tradição”. Moscou. Artogaia, 1998, pag. 362.
  41. Ibidem, pag. 366.
  42. A. Crowley. “A magia – teoria e prática”. Tomo 1. Edições Lokid-Mif, pag. 167-177.
  43. Ibidem, pag. 384 (citação do livro de Crowley: “O livro das leis”, parte 3, versículo 24”.
  44. A. Crowley. “A magia – teoria e prática”. Tomo 1, Edições Lokid-Mif, pag. 17.


Original:
Новые религиозные объединения России деструктивного и оккультного характера: справочник.
Русская православная церковь.
Московская патриархия. Миссионерский отдел Миссионерский отдел Московского Патриархата Русской Православной Церкви.
Белгород, 2002.

ESCRITO POR DEPARTAMENTO MISSIONÁRIO DO PATRIARCADO DE MOSCOU DA IGREJA ORTODOXA RUSSA | 22 JUNHO 2014 
Tradução: 
Luiz H. Guimarães

quarta-feira, 2 de julho de 2014

'SÓ UM INTERVALO'

Um jogo de futebol, mesmo um jogo de abertura de Copa do Mundo e com o time brasileiro em campo, é apenas um jogo de futebol. Para a maioria da população brasileira, as aflições da luta diária e silenciosa pela sobrevivência são bem maiores, na prática, do que qualquer tristeza esportiva; ninguém tem tempo para ficar chorando quando é preciso encarar, logo na madrugada seguinte, três horas de ônibus, metrô e trem para ir até o trabalho. O ex-presidente Lula pode achar que é uma “babaquice” pensar em transporte público de primeira classe para quem vive na terceira, nesta bendita Copa que inventou de trazer para o Brasil sete anos atrás. Pode achar o que quiser, mas não vai aliviar em um grama a selvageria imposta à população para que ela exerça seu direito constitucional de ir do ponto A ao ponto B – e muitos outros prometidos em troca dos 30 bilhões de reais que custará a Copa mais cara da história, num país onde a classe média começa nos 290 reais de renda por mês. Do mesmo modo, as alegrias da vitória são apenas momentos que brilham, depois de leve oscilam, e se desfazem num prazo médio de 48 horas.

A vitória do Brasil sobre a Croácia por 3 a 1, em sua estreia na mais grandiosa e emocionante disputa esportiva do planeta, foi um desses momentos que valem enquanto duram. Não garante nada, é claro, numa competição de alpinismo em que cada passo rumo ao topo é mais difícil que o passo anterior; garante mais, em todo caso, que uma derrota. Mas para a vida do Brasil e dos brasileiros é apenas um intervalo que não muda nada – justamente numa hora em que é urgente mudar tanto. É urgente porque o Brasil se encontra, neste mês de junho de 2014, em estado de desgoverno. A questão, a esta altura, não é dizer que o governo da presidente Dilma Rousseff tem tudo para ficar entre os piores que o país jamais teve. Isso muita gente, e cada vez mais gente, já está cansada de saber – segundo a última pesquisa do Pew Institute, organização americana de imparcialidade e competência indiscutíveis, mais de 70% dos brasileiros estão hoje descontentes com o governo; eram 55% em 2013. Esse nível de frustração, segundo o instituto, “não tem paralelo em anos recentes”. Que mais seria preciso dizer? O problema real, seja qual for o resultado final da Copa, é que o governo federal deixou de existir como autoridade responsável; traiu os eleitores, suprimindo o seu direito de ser governados sob o império da lei, e passou a agir no mundo da treva. Não se sabe se os donos do poder estão sonhando em arrastar o Brasil para uma aventura totalitária. Mas certamente dão a impressão de quererem algo muito parecido com isso.

Lula, Dilma, o PT e as forças postas a seu serviço não aceitam, por tudo o que dizem e sobretudo pelo que fazem, a ideia de perder a eleição presidencial de outubro. Por esse objetivo, mandaram a governança do país para o diabo e empregam 100% de suas energias, sua capacidade de cometer atos ilegais e seu livre acesso ao dinheiro público para impedir que a massa dos insatisfeitos possa eleger para a Presidência qualquer candidato que não se chame Dilma Rousseff. Uma greve ilegal e abusiva dos agentes do metrô de São Paulo, armada na zona escura dos apoios clandestinos ao governo, fez algo inédito: montou piquetes para impedir que os passageiros chegassem aos trens – dentro da estratégia de impor a desordem nos serviços públicos paulistas e, com isso, prejudicar candidatos da oposição. Um decreto da presidente criou, e quer tornar efetivos, uns “conselhos populares” com poderes e competências acima dos do Congresso Nacional e do Judiciário. Num país com 55 000 assassinatos por ano, o governo nega aos cidadãos o direito fundamental à vida, ao tornar-se cúmplice dos criminosos com sua tolerância máxima ao crime – em quase doze anos de governo, Lula e Dilma não disseram uma única palavra contra esse massacre, e muito menos tomaram a mínima providência a respeito. Ambos tiveram, ou compraram, o apoio de 70% do Congresso; o que fizeram de útil com essa imensa maioria? Zero. Ela foi usada apenas para impedir investigações sobre seus crimes, como na espetacular sequência de escândalos na Petrobras, por exemplo, e encher o PT e seus aliados com empregos públicos, verbas e oportunidades de negócio. O uso sistemático da mentira tor­nou-se a forma mais praticada de ação política. A presidente da República não fala ao público na abertura da Copa – fica num discurso pré-fabricado de elogio a seu governo.
Um Brasil como esse perde se perder e perde se ganhar
Por J. R. Guzzo
Publicado na edição impressa de VEJA


terça-feira, 1 de julho de 2014

DILMA, MAIS QUATRO ANOS PRA QUÊ?

Jornalistas estrangeiros perguntaram à presidente Dilma Rousseff por que a economia cresce tão pouco. Ela disse não saber. Foi sincera. Não sabe mesmo. Como não tem o diagnóstico, falta-lhe o prognóstico. Entre o passado, que ela ignora, e o futuro, que ela não antevê, há este enorme presente à espera de medidas corretivas e profiláticas. Ocorre que seu governo é como seu discurso: um caos de fragmentos de ideias nem sempre muito claras, (des)ordenadas por locuções fora do lugar "no que se refere" (sic) ao que tem de ser feito. Ninguém entende nada, a começar da própria Dilma.

Dia desses, o ex-presidente Lula julgou ter encontrado a razão do "malaise". Os empresários, de mau humor, teriam deixado de investir. É mesmo? É próprio das cabeças autoritárias –e esse é o caso do Babalorixá de Banânia– transformar dificuldades que são objetivas, que são técnicas, que têm origem em decisões equivocadas, em mera indisposição subjetiva. Há quanto tempo estão dados os sinais de que o crescimento da economia, ancorado no consumo interno, havia esgotado o seu ciclo? Assim como teve início em razão de circunstâncias que não eram do nosso controle, expirou por motivos igualmente alheios à nossa vontade. E lá ficou Guido Mantega a fazer previsões de crescimento –coitado!–, inicialmente, com margem de erro de dois pontos. Como a situação se deteriorou, ela já está em três...

Dilma pleiteia mais quatro anos, e eu fico cá a me perguntar –e espero, sim, que esta dúvida se alastre: pra quê? Com que amanhãs sorridentes ela vai acenar, que não tenha podido oferecer nesse tempo em que esteve à frente do governo, liderando uma base parlamentar que, no Ocidente, só deve ser menor do que a de Cuba? Qualquer analista razoável sabe que as circunstâncias vindouras são ainda piores dos que as do passado recente. O que poderia fazer a presidente, num cenário ainda mais inóspito, que não tenha conseguido operar em condições mais favoráveis? A resposta é um conjunto vazio.

Mais do que a indignação estridente dos grupelhos de extrema esquerda que estão nas ruas –estes só contribuem para turvar a visão da presidente–, Dilma tem de temer é o silêncio meio melancólico, mas não menos indignado, do homem comum, daquele que não tem uma agenda ideológica e que não pretende reformar a humanidade desde o fim. Contentar-se-ia com uma escola melhor, com uma saúde melhor, com um emprego melhor, com um salário melhor, com uma vida mais previsível. Eu sei, Dilma sabe e sabem os economistas e especialistas que os "gastos com a Copa", se investidos em saúde e educação, seriam de uma danada irrelevância. A conta é falsa, mas o problema para o qual aponta essa não solução é verdadeiro.

De 2002 para cá, o cenário de agora é o mais adverso enfrentado pelos petistas. As migalhas compensatórias já não têm a mesma força de antes para sustentar um projeto de poder. Parece haver no país uma ambição um pouco maior do que a da pobreza agradecida, que reverencia o nhonhô. Está certo o tucano Aécio Neves quando propõe que os programas sociais, ditos de "transferência de renda", passem à condição de políticas de Estado. De resto, eles devem ser apenas o começo da conversa, não o fim. É preciso acabar com a prática nefasta de chantagear os pobres.

A campanha que o PT levou à TV indica que, sem diagnóstico nem prognóstico, restou apenas o terrorismo eleitoral. Dilma pretende que o medo desinformado vença não a esperança, mas as possibilidades de mudança. Pior: sem conseguir entusiasmar nem a sua própria grei, cede a apelos "esquerdopatas" como "controle social da mídia" e criação da sociedade civil por decreto, evidenciando que, sob pressão, pode, sim, voltar à sua natureza. Mais quatro anos pra quê?

Por: Reinaldo Azevedo Publicado na Folha de SP

LONGE DE BERLIM, FORA DO MUNDO

No debate sobre a globalização, o Brasil fica cada vez mais diferente do planeta Terra

"Sem grande debate ideológico, o interesse da reunião é bastante reduzido", escreve Arnaud Leparmentier no Le Monde de 3 de junho a propósito do encontro dos chefes de Estado de esquerda e centro-esquerda em Berlim. Mas, para os brasileiros, o que deveria tornar esse acontecimento instrutivo é precisamente a ausência de debate, pois no Brasil ninguém ainda se deu conta de que o processo de globalização é hoje liderado por um consenso de esquerda. Em Berlim, a apologia do Estado empreendedor e as advertências solenes quanto aos "limites do neoliberalismo", que pareciam ecoar ipsis litteris as falas das Marilenas Chauis ou Marias das Conceições que aqui abundam nos palanques jornalísticos e acadêmicos, foram recitadas por ninguém menos que os chefes de quase todas as nações que mandam no mundo. Pior ainda: isso não suscitou, ali, a menor discussão. Estão todos de acordo.

Em contraste acachapante com esse fato, tão óbvio para a imprensa mundial que esta não o noticiou senão para ressaltar sua falta de novidade, os termos "globalização" e "Nova Ordem Mundial", quando aparecem no discurso de nossa intelligentsia, vêm sempre e sistematicamente associados a "neoliberalismo", com a presunção de que se trata de mais um empreendimento da malvada "direita", dos abomináveis "interesses privados". Há, portanto, duas Novas Ordens Mundiais: uma no planeta Terra, outra na cabeça de nossas classes falantes, fiéis a seu voto de abstinência em matéria de contato com a realidade.

Graças a essa formidável alienação dos intelectuais, nossa opinião pública, levada a enxergar o panorama de hoje segundo as categorias da velha birra nacionalista contra os Estados Unidos, imagina que pode se opor eficazmente ao novo imperialismo global mediante ataques à nação americana, sem nem de longe perceber que dentro desta se desenrola uma briga de foice entre os interesses nacionais ianques e a Nova Ordem Mundial personificada pelo senhor Bill Clinton.

Em decorrência da mesma causa, o conflito político brasileiro vai se polarizando cada vez mais num sentido contrário ao da política mundial: enquanto nesta se perfilam claramente as duas alas, direita e esquerda (liberal e social-democrata) da Nova Ordem Mundial, ambas moderadas e ambas hostis aos excessos truculentos de um lado e de outro, no Brasil a direita simplesmente desapareceu de cena, sendo substituída por uma postiça "direita da esquerda" (leia meu artigo de 29 de maio), não restando, na programação de nosso canal, senão a luta da esquerda com a esquerda mesmo, seja nas pessoas de dona Marta e dona Erundina, seja nas dos senhores Lula e Ciro Gomes.

Ora, a disputa entre uma direita e uma esquerda moderadas é a essência mesma da dinâmica democrática. Já a briga de social-democratas e comunistas é coisa feia. Onde quer que ela tenha monopolizado a cena, correu sangue. Na Rússia, os comunistas esmagaram os social-democratas e seguiu-se a ditadura leninista. Na Alemanha, foi o inverso, e a vaga deixada pelos comunistas foi preenchida pela ascensão do populismo nazista.

O problema de ficar longe do mundo é que a gente vai chegando cada vez mais perto do inferno. Por: Olavo de Carvalho    Época, 10 de junho de 2000

segunda-feira, 30 de junho de 2014

EURASIANISMO E GENOCÍDIO

Não é muito difícil entender que uma ideologia voltada à reconstrução de um dos impérios mais sangrentos de todos os tempos acabará, mais dia menos dia, revelando a sua própria índole cruel e homicida.


Estudantes da Universidade Estatal de Moscou estão exigindo a demissão do prof. Alexandre Duguin por ter defendido, desde o alto da sua cátedra, a matança sistemática dos ucranianos, que segundo ele não pertencem à espécie humana.

“Matem, matem, matem”, disse ele. “Não há mais o que discutir. Digo isso como professor.”

A declaração integral e exata está aos 17m50s deste vídeo:


O Império Eurasiano tal como o concebem Alexandre Duguin e seu principal discípulo, o presidente Vladimir Putin, é uma síntese da extinta URSS com o Império tzarista. Como a teoria que fundamenta o projeto é por sua vez uma fusão de marxismo-leninismo, messianismo russo, nazismo e esoterismo, e como dificilmente se encontra no Ocidente algum leitor que conheça o suficiente de todas essas escolas de pensamento, cada um só enxerga nela a parte que lhe é mais simpática, comprando às cegas o resto do pacote.

Os saudosistas do stalinismo vêem nela a promessa do renascimento da URSS. Conservadores aplaudem o seu moralismo repressivo soi disant religioso. Velhos admiradores de Mussolini e do Führer apreciam a sua concepção francamente antidemocrática do Estado, bem como seu desprezo racista pelos povos destinados à sujeição imperial. Esoteristas, seguidores de René Guénon e Julius Evola, julgam que ela é a encarnação viva de uma “metapolítica” superior, incompreensível ao vulgo, mais ou menos como aquela que é descrita pelo romancista (e esoterista ele próprio) Raymond Abellio em La Fosse de Babel. Muçulmanos acabam às vezes aderindo ao projeto por conta do seu indisfarçado e odiento anti-ocidentalismo, na vaga esperança de utilizá-lo mais tarde como trampolim para a criação do Califado Universal, que por sua vez os “eurasianos” acreditam poder usar para seus próprios fins.

Não seria errado entender o eurasianismo como uma sistematização racionalizada do caos mental internacional. Neste sentido, sua unidade essencial não pode ser buscada no nível ideológico, mas na estratégia de conjunto que articula num projeto de poder mundial uma variedade de discursos ideológicos heterogêneos e, em teoria, conflitantes.

Não se deve pensar, no entanto, que esse traço definidor é único e original. Ao contrário do que geralmente se imagina, todos os movimentos revolucionários, sem exceção, cresceram no terreno fértil da confusão das línguas. O eurasianismo só de destaca dos outros por cultivar, desde a origem, uma consciência muito clara desse fator e, portanto, um aproveitamento engenhoso do confusionismo revolucionário.

Qualquer que seja o caso, o uso da violência genocida como instrumento de ocupação territorial está tão arraigado nos seus princípios estratégicos que, sem isso, o projeto inteiro não faria o menor sentido.

Essa obviedade não impede, no entanto, que cada deslumbrado do eurasianismo continue vendo nele só aquilo que bem entende, tapando os olhos para as partes desagradáveis. Se milhões de idiotas fizeram isso com o marxismo durante um século e meio, recusando-se a enxergar o plano genocida que ele trazia no seu bojo desde o princípio -- e explicando ex post facto os crimes e desvarios como meros acidentes de percurso -- , por que não haveriam de dar uma chance ao mais novo e fascinante estupefaciente revolucionário à venda no mercado? 

***

A propósito do xingamento coletivo à Sra. Dilma Rousseff, que tanto indignou o ex-presidente Lula e o levou abrir guerra contra os que “não sabem do que somos capazes”, coloquei na minha página do Facebook estas duas notinhas, que se tornaram imediatamente virais e acho oportuno reproduzir aqui:

(1) “O governo petista habituou a população a desrespeitar tudo -- a ordem, a família, a moral, as Forças Armadas, a polícia, as leis, o próprio Deus. Se esperava sair ileso e ser aceito como a única coisa respeitável no meio do esculacho universal, então é até mais louco do que parece.”

(2) “O sr. Lula xingou o então presidente Itamar Franco de "f. da p.", disse que a cidade de Pelotas é "exportadora de veados", gabou-se (por brincadeira, segundo Sílvio Tendler) de tentar estuprar um colega de cela e confessou (em entrevista à Playboy) ter nostalgia dos tempos em que os meninos do Nordeste faziam -- se é que faziam – sexo com cabritas e jumentas. É a pessoa adequada para dar lições de respeitabilidade à nação brasileira. Todo mundo sabe do que ele é capaz.”

Por: Olavo de Carvalho

Publicado no Diário do Comércio.

A LUTA DE CLASSES NO BRASIL

A luta de classes, no Brasil, não é entre operários e patrões. É entre o lumpenproletariat que Marx abominava e a maioria da população, especialmente a classe média, aí incluída uma boa parcela do operariado, se não ele todo.


Cada uma dessas facções tem seus aliados permanentes. A primeira tem, acima de tudo, o governo e os partidos de esquerda que o dominam. Aí mesclados, vêm logo os intelectuais acadêmicos e os estudantes universitários.

Destes últimos, cinquenta por cento, segundo um cálculo otimista (v. http://blog.portalexamedeordem.com.br/blog /2012/11/pesquisador-conclui-que-mais-de-50-dos-universitarios-sao-analfabetos-funcionais/), são considerados analfabetos funcionais.

Excluídos irremediavelmente da alta cultura, e não tendo a menor idéia de que são vítimas de si mesmos, encontram no ódio projetivo à sociedade o alívio de uma culpa recalcada no mais fundo do seu inconsciente. Sentem por isso uma afinidade instintiva com os bandidos, drogados, narcotraficantes, prostitutas, prostitutos e outros marginais.

A terceira faixa de aliados do lumpen são as ONGs, as fundações bilionárias e os organismos internacionais, que não cessam de nos impor leis e regulamentos que praticamente inviabilizam a ação da polícia e desarmam a população, a qual assim não tem meios de defender-se nem de ser defendida.

Em seguida, vem a grande mídia, que, mesmo onde discorda do governo em algum ponto de seu específico interesse, não deixa de fazer eco passivo aos mesmos critérios de julgamento moral que orientam os governantes, aplaudindo, por exemplo, a senadora Benedita da Silva quando esta se debulha em lágrimas por um bandidinho estapeado e amarrado a um poste e não diz uma palavra quanto à menina queimada viva no Maranhão ou, mais genericamente, quanto aos setenta mil brasileiros assassinados por ano.

O alto clero católico, por meio da CNBB, comunga dos sentimentos da senadora Benedita. Vêm, por fim, os patrões, os capitalistas, os burgueses. Estes não costumam pronunciar-se de viva voz nessas questões, mas, como aliados e colaboradores ao menos passivos do governo, dão sustentação econômica e psicológica à política pró-lumpenproletariat.

A outra facção – isto é, o restante da população brasileira – encontra apoio em mais ou menos uma dúzia de jornalistas, radialistas e blogueiros execrados pelo restante da sua categoria profissional, entre os quais eu mesmo, o Reinaldo Azevedo, a Rachel Sheherazade, o Felipe Moura Brasil, o Rodrigo Constantino, a Graça Salgueiro.

Tem também algum respaldo – tímido – nas polícias estaduais, em alguns púlpitos evangélicos isolados e ainda em dois ou três parlamentares, como Jair Bolsonaro e Marcos Feliciano, que na Câmara Federal imitam João Batista pregando aos gafanhotos. That’s all, folks.

Nada pode caracterizar melhor a presente situação do que a total inversão das proporções, em que os nominalmente desamparados recebem todo amparo do establishment enquanto a população inerme se torna a imagem odienta do opressor capitalista.

No caso do garoto amarrado no poste, a reação indignada contra os populares que ousaram "fazer justiça com as próprias mãos" partiram especialmente de pessoas que, quatro décadas atrás, faziam exatamente isso.

Entretanto, ninguém, no parlamento ou na mídia, terá a coragem de espremer a presidente Dilma na parede com a pergunta: Quando você assaltava bancos estava cometendo uma injustiça ou fazendo justiça com as próprias mãos? Tertium non datur.

No entender do nosso governo, só quem tem o direito e até o dever de fazer justiça com as próprias mãos quando acha que a Justica falha são os terroristas de esquerda, como José Genoíno e a própria Dilma. Esses têm o direito até de condenar à morte e executar a sentença. Os outros têm a obrigação de aceitar resignadamente o homicídio, o roubo, o estupro como se fossem fatalidades da natureza.

Mais significativo ainda é que, quando a Rachel Scheherazade, com lógica inatacável, explicou a agressão ao delinquentezinho como reação espontânea e quase inevitável de uma população desprovida de proteção estatal, os mesmos que criaram essa situação tenham saído gritando "Apologia do crime! Apologia do crime!", como se eles próprios não viessem há décadas fazendo a apologia dos terroristas que um dia, sentindo cambalear muito menos do que hoje a ordem legal, tomaram a justiça nas suas próprias mãos.

Todas as idéias e atitudes do grupo pró-lumpen, especialmente as dos professores e estudantes universitários, explicam-se por dois fatores igualmente endêmicos: o analfabetismo funcional e o fingimento histérico. Ambos, intimamente associados, deformam o sentido de todas as comunicações verbais e invertem a ordem da realidade.À aliança de marginais, governo, ONGs, capitalistas, igreja, mídia e intelectuais, chamam "povo oprimido". Ao restante, denominam "minoria privilegiada".

De todas as classes que compõem a sociedade brasileira, só uma ainda não tomou partido nessa guerra: as Forças Armadas. Seu silêncio pode tanto refletir uma indecisão perplexa quanto um ódio contido.

Na primeira hipótese, quando acabará a indecisão? Na segunda, ódio a quem? As Forças Armadas são o fiel de balança. O futuro depende inteiramente delas.
Por: Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 9 de fevereiro de 2013 

domingo, 29 de junho de 2014

INVISÍVEL AOS OUTROS

Você já se sentiu invisível no espaço público, caro leitor? Eu já. Aliás, eu me sinto invisível aos olhos dos outros toda santa vez que estou em algum lugar em que há outras pessoas sem relação ou conhecimento entre si. Inicialmente, pensei que o motivo fosse a minha velhice; sabemos que, neste mundo, crianças e velhos são invisíveis, a não ser que se comportem como jovens ou tentem se parecer com eles. Mas mudei de ideia: creio que todos nós sejamos invisíveis aos outros, porque a maioria de nós tem seu olhar totalmente voltado a si mesmo.


Assim, nos tornamos invisíveis às pessoas que cruzam conosco nas ruas, nos transportes públicos, no trânsito e nos corredores dos shoppings, por exemplo. Parece um jogo andar pelas mesmas vias que outras pessoas: ganha quem continua seu caminho independentemente de haver ou não outras pessoas em sentido contrário, e perde quem cede e recua, desvia sua trajetória ou desiste daquele trajeto, vaga, assento.

Eu me lembrei disso ao ler as mensagens de duas mulheres, ambas sem filhos, portanto não acostumadas a frequentar locais em que há agrupamento de crianças. Uma delas é fotógrafa, e a outra tem uma grande amiga que tem um filho com quase dez anos.

A primeira foi contratada por uma escola para registrar sua festa junina com alunos e famílias, e a outra acompanhou a amiga com o filho ao mesmo evento, em outra escola. As duas escreveram contando suas impressões. Ambas reclamaram de crianças malcriadas, que trombaram com elas muitas vezes por correrem sem olhar para o caminho que percorriam. As duas observaram situações muito semelhantes: havia fila para algumas barracas de comidas e de jogos, e as crianças se empurravam, brigavam, se xingavam usando palavrões pesados, tudo para alcançar antes o que almejavam.

Elas têm razão: por mais que nosso discurso afirme a tal educação para a cidadania -que supõe a boa convivência no espaço público, entre outras coisas- não temos conseguido praticar tal ensinamento com os mais novos. Primeiramente, porque não sabemos como fazer isso. Vejo muitas escolas com boa vontade nesse sentido, mas sem saber o que fazer para evitar que seus alunos se confrontem com grosseria e que aprendam a compartilhar respeitosamente o espaço com todos os que lá estão. O instrumento mais utilizado pela escola ainda é a punição, em suas várias formas. Ações afirmativas nesse sentido são difíceis de ser encontradas no espaço escolar.

Além disso, nós também não sabemos ensinar às crianças a boa convivência no espaço público, porque não a praticamos, como eu disse no início de nossa conversa. Ora: como ensinar o que não sabemos, como esperar algo diferente dos mais novos se eles não mais têm matrizes de comportamento adulto que os iluminem? Não posso deixar de fechar esta conversa com um comentário a respeito do fato ocorrido no jogo de abertura da Copa, em que a presidenta Dilma foi xingada pela plateia. De minha casa, onde assisti ao jogo, ouvia uma criança gritar insistentemente: "Dilma 'fdp'". Certamente essa criança não sabia o que fazia, mas seus pais sabiam muito bem, e não a impediram.

Queremos que as crianças respeitem os mais velhos e a autoridade, queremos que saibam se comportar em público, esperamos que sejam pessoas de boa convivência. Mas, sem ensinamentos e com tais exemplos de nossa parte, fica difícil, não é? 
Por: Rosely Sayão Publicado na Folha de SP

sexta-feira, 27 de junho de 2014

FSP TORNA-SE CÚMPLICE DE INVASORES DE PRÉDIOS


Leio nos jornais que a Educafro, ONG que combate o racismo, está protestando contra a ausência de negros nos estádios da Copa do Mundo --que a entidade chama de "apartheid padrão Fifa". "Estamos estarrecidos", diz o frei David Santos, presidente da organização. "Nós somos 50,7% do povo brasileiro, mas quantos negros há nas arenas?" 

Frei David parece não ter entendido a sociedade em que vive. Parece – ou finge – ignorar que, para assistir aos jogos é preciso pagar. E os ingressos não estão exatamente ao alcance de todos. Ou estará pretendendo o frei que sejam reservadas cotas à afrodescentada? Não só negros, mas milhares, senão milhões de brancos, estão privados dos jogos por uma razão simples: comer tem prioridade sobre a Copa. Claro que ninguém vai reclamar da ausência destes milhões. São brancos. Que se lixem.

Querendo bancar o magnânimo, ano passado Jérôme Valcke, secretário-geral da federação, afirmou que na Copa "brancos, negros, povos indígenas e imigrantes" teriam "as mesmas oportunidades para poder desfrutar do evento". 

Oportunidades, claro que têm. O que falta é grana. A Fifa reafirma que seu "objetivo não é beneficiar apenas um grupo em detrimento de outros", mas favorecer a presença de todos. "A maior parte da compra de ingressos ocorreu por meio de sorteios, proporcionando chances iguais e justas para todos os torcedores brasileiros e estrangeiros. A Fifa criou condições para que os interessados de todas as classes sociais possam assistir aos jogos", afirma.

Os sorteios da compra de ingresso, sem dúvida alguma, proporcionam chances iguais e justas para... os que podem comprar. As queixas do frei me lembram as dúvidas de um solipsista – digo, psolista – nas redes sociais, que se perguntava se um pobre terá direito de jantar no Fasano ou no D.O.M. Direito, obviamente tem. Mas ninguém janta apenas empunhando direitos. É preciso puxar cheque ou cartão de crédito do bolso. É o mesmo direito que todos têm a freqüentar um boteco vagabundo. Mas não sem pagar. 
São os eternos utopistas que aspiram a um país da Cocanha ao alcance de todos. Basta deitar sob uma árvore e os frutos caem na boca de cada um. Essas utopias dominaram o século passado. Saldo do sonho: cem milhões de mortos, miséria, fome, canibalismo. Do século só se salvou o capitalismo, que não tem livro nem teorias. Há fome nos regimes capitalistas? Claro que sim. A Cocanha só existe no bestunto de alguns desvairados. As utopias do século passado afundaram e as que ainda sobrevivem – apenas duas – vivem na miséria, escassez e mesmo falta de alimentos.

A mesma utopia está sendo brandida pelos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que estão invadindo prédios em bairros nobres da cidade, exigindo o direito de morar junto aos ricos sem pagar um vintém. Uma pessoa leva uma vida para juntar um patrimônio e conseguir viver bem. Estes senhores acham ser possível pular da miséria para o luxo sem trabalho algum. 

O líder do movimento, Guilherme Boulos, que de sem-teto nada tem, é um aventureiro oriundo da Fefelech - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – que se diz professor de psicanálise. Tem cacife. Infringe tranquilamente as leis e foi recebido pelo prefeito e pelo governador de São Paulo, como também por Dona Dilma.

Atualmente, está sitiando, com outros sedizentes sem-teto, a sede da Câmara Municipal de São Paulo, em uma tentativa de dobrar os vereadores na definição do Plano Diretor, projeto que determina as diretrizes urbanísticas da cidade nos próximos 16 anos. Sem teto mas com smartphones. Ontem os manifestantes – como agora são chamados os delinqüentes que sitiam o Legislativo - tiveram acesso a duas senhas para uso do Wi-Fi, segundo informações do Estadão.

O elevado número de pessoas navegando na rede através do Wi-Fi da Câmara Municipal prejudicou o trabalho dos funcionários e dos jornalistas que acompanhavam as sessões do plenário. A dificuldade aumentou quando parte do sinal foi perdido durante a tarde. 

A atitude é de chantagem. Boulos, filho de papai rico, mais do que ninguém, sabe ser impossível pobres viverem em zonas nobres, mesmo que tenham teto. Se ganharem teto, não terão como suportar o custo de vida do bairro. Ou seja, acabarão vendendo o que lhes foi dado com dinheiro público.

Escreve hoje na Folha de São Paulo o sem-teto-mas-com-smartphone:

“Muitos não conseguem mais morar onde sempre moraram. São expulsos por essa lógica para regiões mais distantes e periféricas. E isso implica uma piora geral nas condições de vida: mais tempo no transporte para ir e voltar do trabalho, serviços públicos ainda piores e menor infraestrutura urbana”. 

Ora, é a dinâmica do capitalismo, regime onde há de tudo mas tudo tem seu preço. O mesmo aconteceu em Lisboa. Com a restauração de bairros antigos, como Alfama e Mouraria, a cidade ficou mais limpa e mais linda, mas muitos dos moradores tiveram de mudar-se. Quem morava nas imediações do Parque das Nações, onde se realizou a Expo 98, a última exposição mundial do século XX, teve de mudar-se para mais longe ainda.

Com o aumento do preço do metro quadrado e dos aluguéis, os “trabalhadores” querem aproximar-se ainda mais dos bairros caros. Trabalhadores que trabalham em quê? Ninguém sabe. Segundo os jornais, Boulos é professor de psicanálise. Mas jornal nenhum informa onde trabalha. Falta também saber quem financia a massa de sem-teto-mas-com-smart que ele lidera. 

A Folha de São Paulo, em gesto de cumplicidade explícita com a invasão de prédios, acaba de contratar Boulos como colunista. A delinquência tem agora um porta-voz bem situado junto à grande imprensa.
Por: Janer Cristaldo  Do site:http://cristaldo.blogspot.com.br/