quinta-feira, 28 de agosto de 2014

TERRORISMO E OUTRAS NOTINHAS

A profecia de Fátima, "Os erros da Rússia se espalharão pelo mundo", faz cada vez mais sentido. Estou lendo Death Orders. The Vanguard of Modern Terrorism in Revolutionary Russia, de Anna Geifman (Praeger International, 2010), onde aprendo que o terrorismo foi de cabo a rabo uma invenção russa, que começou como um fenômeno local e hoje é um flagelo mundial.

A autora também desfaz a confusão alimentada pelos espertalhões que disseminam e pelos bobocas que repetem o lugar-comum: “O terrorista é um é, para o outro, um combatente pela liberdade.” O terrorismo, explica a Prof. Geifman, define-se por um traço inconfundível que o distingue da morte de civis causada acidentalmente em ataques a alvos militares: terrorismo é ato de violência premeditadamente, deliberadamente calculado para espalhar o terror na população civil e, assim, fomentar a desordem social com vistas a determinados fins políticos. Nivelar, para distingui-los, o “terrorista” e o “combatente pela liberdade” é uma confusão de gêneros. Disseminada pela malícia ou pela ignorância, obscurece o fato de que o terrorismo é uma tática de combate e não o motivo ideológico do combate.

Atos como a explosão de uma bomba no Aeroporto de Guararapes, em 1966, ou o atentado ao Consulado Americano em São Paulo, em 1968, foram crimes de terrorismo no sentido mais literal e exato do termo, e continuariam a sê-lo mesmo que seus autores estivessem, no seu próprio entender, “combatendo pela liberdade” e não pelo comunismo como de fato estavam.

Não há nada de inexato ou de insultuoso em chamar de terroristas pessoas como Dona Dilma Rousseff ou o srs. Franklin Martins e José Dirceu. É uma simples questão de propriedade vocabular.
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Israelenses defendem seus filhos. Os heróicos palestinos escondem-se atrás dos seus para poder acusar os judeus de matar criancinhas.

"Escudo humano" é invenção da KGB.

Terroristas "palestinos" usam o mesmo truque sujo dos vietcongues. Mesclam-se à população civil para que não seja possível combatê-los sem matar de quebra umas quantas vítimas inocentes e ser assim acusado de trucidar mulheres e crianças. A coisa é guerra assimétrica em todo o esplendor da sua malícia. 
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Hoje em dia a afetação de ódio aos anti-semitas do passado coexiste com o descarado amor aos do presente.
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A autoridade do mainstream é a autoridade da ignorância majoritária. Ninguém pode estar no meio do rebanho e à frente dele ao mesmo tempo.
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O maior problema da esquerda no Brasil é que ela não tem políticos nem empresários de direita para perseguir. Então persegue uns blogueiros e diz que está lutando contra a onipotente burguesia reacionária.
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Uma coisa é usar as expressões "desinformação", "lavagem cerebral", "manipulação de comportamento" ou "seita" como termos técnicos, para designar os fenômenos que objetivamente lhes correspondem. Outra coisa é usá-las como rótulos infamantes para dar ares de coisa maligna a alguma idéia ou conduta que você deseja destruir. Infelizmente, este é o uso mais corrente desses termos no Brasil. Esse cacoete estilístico basta, por si, para identificar um charlatão, ou, na melhor das hipóteses, um palpiteiro ignorante.

Quem quer que saiba o que é “lavagem cerebral”, por exemplo, entende que só é possível aplicá-la a um prisioneiro ou a alguém sobre o qual se tenha controle direto e permanente. Um professor não pode aplicar "lavagem cerebral" a alunos que depois da aula vão para casa, Muito menos é possível fazer "lavagem cerebral" à distância, por internet ou qualquer outro meio.
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Todas as teorias científicas do passado, sem exceção, são ensinadas nas escolas e nos manuais -- para não falar da mídia e do show business -- em versões adaptadas à mentalidade contemporânea, otimizadas, higienizadas, idealizadas, purificadas de todas as suas taras originárias. Quantos dos nossos estudantes de biologia leram A Origem das Espécies? Quantos estudantes de física aprenderam a gravitação universal diretamente nos escritos de Newton? Quantos, por jamais ter lido Galileu, acreditam que ele provou suas teses no confronto com a Inquisição? Ignorar a história da ciência que pratica parece ser uma conditio sine qua nonpara alguém falar em nome da ciência hoje em dia. O Galileu que venceu por argumentos científicos o "obscurantismo inquisitorial" é uma criação ficcional dos séculos posteriores. Na verdade ele levou uma surra intelectual memorável de S. Roberto Belarmino. Suas teses foram corroboradas mais tarde por meios que ele nem poderia imaginar.
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Quando um estudante medíocre domina suficientemente a matemática da ciência física e percebe a sua coerência com os testes empíricos, ele acredita ingenuamente que essa física corresponde à "realidade", sem notar que "realidade" não é um conceito nem físico, nem matemático (nem aliás definível nos termos dequalquer ciência experimental). É de espantar que semelhante imbecil não entenda a diferença entre colocar em dúvida a validade ontológica da relatividade e "contestar Einstein"?

Dentre todos os erros de lógica, a ignoratio elenchi -- não perceber qual o ponto em discussão -- é o mais difícil de corrigir. Nenhum argumento lógico tem o poder de infundir discernimento num cretino. Nenhuma ciência experimental pode ir além da coincidência entre teoria e experimento, o que está infinitamente aquém do necessário para estabelecer uma "realidade" -- coisa que Leibniz já ensinava no século XVIII. 
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O SOFISMA ANTISSEMITA

O antissemitismo em estado cru, aquele dos Protocolos dos Sábios do Sião, sobrevive nos subterrâneos, quase clandestino, mas seus axiomas formam o texto oculto de uma versão repaginada, publicável, da aversão aos judeus. "Israel é aberração; os judeus, não" –o título da coluna de Ricardo Melo (28/7) sintetiza essa versão, que escolhe não dizer seu nome.


O antissemita polido mobiliza um sofisma básico: a distinção entre antissemitismo e antissionismo. Israel, o fruto do sionismo, deve ser destruído, mas nada tenho contra os judeus –eis a afirmação sofística. Israel, contudo, é o Estado judeu: a expressão política de uma nação. A esmagadora maioria dos judeus, em Israel ou fora dele, defende ativamente a existência do Estado de Israel. Um século atrás, a distinção entre antissemitismo e antissionismo era um argumento político admissível; desde pelo menos 1948, não passa de camuflagem do ódio aos judeus.

O sofisma básico é protocolarmente acompanhado por um sofisma auxiliar: Israel é uma criação artificial. O antissemita polido imagina que existem Estados "naturais", um qualificativo apropriado a rios, mares e montanhas, não a obras da história humana. Todos os Estados-nações, esses produtos do nacionalismo, são "artificiais" (a "França de 15 séculos", fundada em 499, na hora do batismo de Clóvis 1º, é um mito católico do século 19). Israel é um Estado construído por colonos, que se estabeleceram em terras previamente povoadas. Alguém sugere extinguir os Estados Unidos, a Austrália ou... o Brasil?

Invariavelmente, junta-se ao sofisma auxiliar a acusação de que Israel promove o "genocídio" dos palestinos. Genocídio é o extermínio deliberado de um povo. A Alemanha de Hitler praticou genocídio contra os judeus, enviando-os às câmaras da morte. O uso abusivo do termo, escolhido por Marco Aurélio Garcia para condenar a ofensiva em curso na faixa de Gaza, tem um propósito definido: identificar Israel ao nazismo. O antissemita polido almeja apropriar-se da tragédia que vitimou milhões de judeus para convertê-la em ferramenta política de negação da legitimidade do Estado judeu.

O "genocídio palestino" só existe no discurso utilitário dos antissemitas. Na faixa de Gaza, tanto hoje quanto em 2008 e 2012, o governo israelense faz "uso desproporcional da força" e também comete crimes de guerra em área com estatuto de território ocupado, bombardeando cidades e campos de refugiados. Essa segunda acusação, mais grave, não consta da nota do Itamaraty, pois nossos "anões diplomáticos" preferem circundar a implicação lógica de estendê-la ao Hamas, que lança foguetes desgovernados sobre Israel e utiliza os civis palestinos como escudos humanos para seus combatentes. A ira santa do antissemita polido é sempre cuidadosamente seletiva.

A análise política diferencia as nações de seus governos eventuais: os governos passam, a nação fica. O antissemita polido decreta uma cláusula de exceção a essa regra quando se trata de Israel. Ele não aponta o dedo para o governo israelense, mas traça um círculo abrangente em torno do Estado judeu. Na sua peculiar gramática discursiva, o complemento necessário da distinção entre antissemitismo e antissionismo é a identificação do governo de Israel ao Estado de Israel.

O ódio aos judeus nasceu nas profundezas da Europa medieval e difundiu-se no mundo moderno, como reação ao cosmopolitismo liberal, a partir das monarquias cristãs conservadoras. "O antissemitismo é o socialismo dos idiotas." A frase, atribuída ao socialista alemão August Bebel, evidencia que a moléstia já contaminava a esquerda no outono do século 19. De lá para cá, sob o impacto do Holocausto, o vírus antissemita sofreu uma mutação, recobrindo-se com a capa de proteína do antissionismo, mas continuou a se multiplicar. Aí está a verdadeira "aberração". 
Por: Demétrio Magnoli Publicado na Folha de SP

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A FORÇA DOS FATOS

A eclosão da crise global gerou análises em setores importantes no Brasil de que ela significava a falência do sistema de livre mercado e a vitória definitiva do intervencionismo governamental não só via regulação, que era necessária, mas, também, via ação direta na economia, com aumento do gasto público para impulsionar a atividade e intervenção no sistema de preços, entre outras medidas.

Essa visão, porém, não prevaleceu nos EUA e no Reino Unido, epicentros da crise, que, sintomaticamente, se recuperam melhor que os países intervencionistas.

Nos EUA, a nova regulação dos mercados reduziu o risco de crédito dos bancos e limitou a intervenção governamental ao apertar o controle das agências de crédito imobiliário paraestatais. O Congresso aprovou ainda dura contenção de gastos do governo, que não levou ao temido abismo fiscal, pelo contrário.

A economia dos EUA cresceu a taxa anualizada de 4% no segundo trimestre, uma recuperação consistente, fundamentada pela maior solidez fiscal, pelos ajustes nas empresas e pela liberdade para empreender e inovar.

Já o Reino Unido elegeu um governo conservador. Ele promoveu forte contenção fiscal, reduziu os riscos do mercado e, nas palavras de seu ministro da Fazenda, George Osborne, é desavergonhadamente pró-negócios. Resultado: o país cresceu a taxa anualizada de 3,1% no segundo trimestre.

Enquanto isso, países com tradição intervencionista, como a Itália e a França, têm economias estagnadas e dificuldades de conciliar a postura de Estado forte com a necessidade de promover investimentos privados e mais empreendedorismo.

O entendimento claro do cenário global é fundamental quando discutimos os caminhos para a retomada do crescimento no Brasil. Aqui na região, países com forte ação intervencionista enfrentam desafios ainda maiores que o resto do mundo. O exemplo mais claro é a Argentina, ameaçada de recessão e de mais crise após a controvérsia do calote técnico, que deve aumentar suas dificuldades cambiais. Já Colômbia, Chile e Peru, com economias mais abertas, crescem a taxas saudáveis.

Importante notar que o maior risco da economia global hoje vem de uma possível ação governamental do Fed (o banco central dos EUA) no mercado, com manutenção de juros muito baixos e excesso de liquidez. Esperemos que o Fed não repita os erros vistos anteriormente.

Em resumo: com o passar dos anos e dos fatos, o quadro da economia global deu uma resposta suficientemente enfática às conclusões precipitadas de alguns analistas depois da crise 2007-2008. Precisamos tomar cuidado para não seguir o caminho de alguns "hermanos". 
Por: Henrique Meirelles Publicado na Folha de SP

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

INFLAÇÃO FIRME, INDUSTRIA FRACA, PAÍS SEM RUMO

Sem tarifaço, mas também sem crescimento econômico, o Brasil da presidente Dilma Rousseff acumulou de janeiro a julho inflação de 3,76%. Essa taxa é maior que a prevista para o ano inteiro em vários vizinhos mais dinâmicos - Chile, Colômbia, Equador e Peru. Até o fim do ano a inflação brasileira baterá também, se nenhuma grande surpresa ocorrer, a do Paraguai e a do México, segunda maior economia latino-americana. Por enquanto, o governo pode alardear mais um bom resultado parcial. No mês passado, a taxa caiu para 0,01%. A queda foi causada principalmente pelo recuo dos preços dos alimentos e pelo ajuste pós-Copa, observado, por exemplo, nas tarifas de transporte aéreo. A variação acumulada em 12 meses ficou em 6,5%, no limite da margem de tolerância.


O acumulado poderá diminuir até dezembro, mas continuará bem acima da meta, 4,5%. Para evitar um impulso maior o governo continuará contendo as tarifas de eletricidade. Poderá permitir ajustes limitados. Enquanto isso, as distribuidoras de energia, socorridas com novo empréstimo de R$ 6,6 bilhões, acumularão novas dívidas.

Haverá um repique da inflação, depois de alguns meses de recuo. Isso ocorreu em todos os anos a partir de 2010. No ano passado foi em agosto, quando a taxa passou de 0,03% para 0,24%. Neste ano, os economistas do mercado previram também para agosto o começo da nova aceleração. Poderão errar por um mês, dificilmente por dois. Os fatores inflacionários mais importantes continuam presentes. A gastança federal permanece, o crédito aumenta e o governo manteve os estímulos fiscais ao consumo. Ainda haverá muito alimento para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a referência oficial para a política anti-inflacionária. Falta saber se os juros básicos de 11% ao ano ainda produzirão efeitos e se a piora das condições de emprego assustará os consumidores e ajudará a frear os preços.

A queda de qualidade do emprego é indiscutível. A melhor empregadora, a indústria, continua demitindo. Além disso, as condições de ocupação nas fábricas estão mais precárias. No setor automobilístico, a adoção do lay-off - suspensão temporária de contratos - aumentou a insegurança. A criação de vagas tem ocorrido principalmente no comércio e nos serviços - mas a maior parte dos serviços, no Brasil, oferece condições de ocupação muito diferentes das observadas nos países desenvolvidos. O chamado emprego decente ainda é encontrado principalmente na indústria, na administração pública e no setor financeiro.

O emprego industrial aumentou 1% em 2011, diminuiu 1,4% em 2012 e encolheu mais 1,1% no ano seguinte. A redução continuou este ano. No primeiro semestre, o número de ocupados na indústria foi 2,3% menor que entre janeiro e junho do ano passado. Em junho, foi 0,5% menor que em maio e 3,1% inferior ao de um ano antes. Estes números foram divulgados na sexta-feira, pouco antes dos novos dados da inflação oficial, no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar disso, a folha de pagamento real da indústria, embora tenha diminuído em junho, ainda foi, no primeiro semestre, 1,3% maior que entre janeiro e junho do ano passado. O aumento do salário médio, portanto, superou a inflação, embora o pessoal empregado tenha diminuído. Isso se explica principalmente pela baixa oferta de mão de obra qualificada ou mesmo qualificável.

Mas o aumento real de salários e de outros custos continua afetando o poder de competição da maior parte da indústria. Apesar do forte estímulo ao consumo, a produção industrial ficou estagnada durante o atual governo. Aumentou 0,4% em 2011, diminuiu 2,3% em 2012 e cresceu apenas 2% em 2013, sem voltar ao nível de dois anos antes. No primeiro semestre deste ano ficou 2,6% abaixo do registrado até junho do ano passado.

Para a indústria a inflação alta dos últimos anos traduziu-se principalmente em custos cada vez maiores. O salário real cresceu mais que a produtividade. Os custos logísticos aumentaram, assim como o peso da burocracia estatal e dos encargos administrativos. O câmbio oscilou, mas a maior parte das fábricas foi incapaz de competir no mercado internacional mesmo nas fases de depreciação do real, quando os produtos brasileiros deveriam ficar mais baratos em dólares.

A inflação elevada atrapalhou duplamente. O efeito indireto foi a elevação de custos. O indireto ocorreu quando o Banco Central interveio no mercado para frear a valorização do dólar e atenuar os efeitos inflacionários do câmbio. Num país com inflação mais civilizada o desajuste cambial, para começar, seria menor ou nulo. Além disso, uma eventual valorização do dólar seria muito menos perigosa para a estabilidade de preços. No Brasil, o Banco Central foi criticado por intervir no câmbio para prevenir uma inflação maior. Os críticos podem ter alguma razão. Mas teriam sido mais eficientes se tivessem, há mais tempo, condenado a tolerância à inflação e cobrado medidas mais fortes e mais sérias contra o desajuste de preços.

O combate à inflação tem dependido só do Banco Central, enquanto o governo mantém o gasto excessivo e o uso ineficiente de recursos públicos. Além disso, a política industrial tem consistido, há muitos anos, de uma combinação ineficiente de protecionismo, favores a grupos e segmentos selecionados e estímulos ao consumo. Tudo isso se combinou com uma diplomacia econômica de centro acadêmico. Em 2002, as vendas de manufaturados corresponderam a 54,71% das exportações brasileiras. No ano passado essa fatia estava reduzida a 38,44%. Em parte por indução, em parte por simples comodismo, a indústria se ajustou ao papel de fornecedora do Mercosul e de mais uns poucos mercados. Consequência: hoje é incapaz de competir nessas áreas e até no mercado interno. Nada mais natural. Por: Rolf Kuntz Publicado no Jornal Estado de SP



domingo, 24 de agosto de 2014

RUMOS INDESEJÁVEIS

O governo petista de Lula da Silva que não entregará facilmente as delícias do poder está sempre pronto a demonstrar o descalabro de sua política internacional. No momento assiste-se ao aprofundamento da bananificação do Brasil, cada vez mais convertido em republiqueta de Terceiro Mundo com as conhecidas marcas esquerdistas e consequente atrelamento ao que há de pior no exterior.


Isto ficou evidente no recente encontro dos Brics, em Fortaleza, quando o governo petista sagrou-se de novo campeão de tiro no pé ou pela culatra, ao perder a presidência para a Índia do Novo Banco de Desenvolvimento criado pelo grupo. A China não abriu mão da sede da entidade ficar em Xangai e postos menos relevantes foram distribuídos ao Brasil, Rússia e África do Sul. Foi criado também o Arranjo Contingente de Reservas, uma espécie de FMI de segunda categoria para dar ajuda aos componentes do bloco. Tudo para funcionar nas calendas gregas.

Negócios da China foram feitos com a China pela governanta, mas, impressionante mesmo foram as conquistas do presidente Russo, Vladimir Putin. Alvo de sanções econômicas dos Estados Unidos e da União Europeia devido à anexação da Criméia, Putin recebeu apoio dos BRICS e adentrou-se com mais força na América Latina. No Brasil, para usar de ironia, ele poderá anexar, por exemplo, o nordeste e instalar nas paradisíacas e quentes praias nordestinas confortáveis dachas a serem usufruídas pelos camaradas da elite branca russa. Algo muito melhor do que a gelada Sibéria.

Putin, o expansionista não brinca em serviço, além de usar a cúpula dos Brics para reduzir seu isolamento internacional aproximou-se da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), criada pelo falecido Chávez e propôs integrá-la à União Econômica Euroasiática que inclui, além da Rússia, países de sua influência como o Casaquistão e a Bielo-Rússia. Ele defendeu muitas outras ideias, como o aumento do peso político dos BRICS através de fóruns como contraponto a ONU, às políticas norte-americanas e de seus aliados. Putin assinou vários acordos com a governanta e foi embora satisfeito com seu êxito.

Enquanto isso, a Guine Equatorial deve ser integrada à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), apoiada pelo Brasil. O país africano é governado pelo ditador Teodoro Obiang, alvo de várias denúncias de violação de direitos humanos, tortura e censura. Isto, aliás, não é novidade, pois o Brasil tem se posicionado há quase 12 anos a favor dos piores ditadores.

A última do governo brasileiro foi continuar contra Israel e a favor do grupo terrorista e radical islâmico, Hamas. Não foram levados em conta os mais de 2.000 foguetes lançados diariamente sobre Israel, os túneis cavados em Gaza e que vão dar em escolas e hospitais israelenses, a não aceitação do Hamas em fazer uma trégua. É como se o governo petista achasse que, se alguém entrasse numa casa armado com uma faca para ferir mortalmente o morador armado com um revólver esse dissesse: “Por favor, me mate, pois não vou me defender”.

O governo Rousseff mandou o Itamaraty chamar o embaixador brasileiro em Tel Aviv, assim como puxou as orelhas do representante israelense em Brasília, pois considerou o uso desproporcional da força por Israel. Isto nunca foi feito com relação á Cuba, Venezuela, Bolívia ou mesmo Coreia do Norte onde Lula abriu uma embaixada. Sobre a Criméia nem uma palavra e todo apoio ao camarada Putin. De fato o Brasil atestas nanismo diplomático.

Marco Aurélio Garcia disse que o ataque a Israel é um genocídio contra os palestinos. Vejamos nossos dados que certamente o assessor da Internacional da Presidência desconhece:

Segundo matéria de Gil Alessi, (UOL, São Paulo, 27/05/2014), “conforme dados de 2012, neste ano nossa taxa de homicídio alcançou o patamar mais elevado, com 29 casos por 100 mil habitantes”. “O índice considerado ‘não epidêmico’ pela Organização Mundial da Saúde é de 10 mortes por cada grupo de 100 mil habitantes”.

“Em 2012 foram 56.337 mortes, o maior número desde 1980”. “O total supera o de vítimas no confronto da Chechênia que durou de 1994 a 1996”.

Sem dúvida, é melhor o governo brasileiro se preocupar com essa situação do que meter o nariz onde não deve, pois não tem moral para isso.

Recorde-se que Israel, um pequeno país que brotou do deserto é hoje um dos mais desenvolvidos do mundo. De lá saem praticamente todos os Prêmios Nobel e o conjunto de invenções que fazem avançar a ciência, a tecnologia e a medicina para o bem da humanidade. Quanto a nós, realmente, somos muito pequenos diante disso.

Estes são alguns de nossos indesejáveis rumos internacionais, orquestrados pelo PT. Outros péssimos caminhos, inclusive, internos ficam para um próximo artigo.
Por: Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga. Do site: http://www.maluvibar.blogspot.com.br/


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

FLOUXINHOS CONTEMPORÂNEOS

O medo é uma emoção básica na vida. Pequenas e grandes frustrações nos assolam por todos os lados.

Mas, já disse isso antes, acho que nunca houve uma época tão medrosa como a nossa, com um dom tão grande para negar esse medo e negar a complexidade e frustração a que estamos todos submetidos.

Associada a essa tendência, produzimos uma gama de "direitos" que mais parecem uma metafísica podre dos costumes para retardados.

Para cada frustração, alguém inventará uma derivação duvidosa da declaração dos direitos do homem. Aliás, vale lembrar que a famosa declaração dos direitos do homem foi cozida em muito sangue que correu pelas mãos dos jacobinos na Revolução Francesa. Imagino que se a revolução francesa fosse hoje, fotos nas redes sociais pedindo paz nas ruas de Paris encheriam os iPhones dos bonzinhos.

Outro dia, conversava eu com um amigo esquisito, historiador, portanto, esse tipo de pessoa que pensa "a longo prazo". Ele descreveu o que eu consideraria uma imagem de pura escatologia apocalíptica: um dia alguém vai declarar que ir ao banheiro é uma forma de repressão, e, portanto, vão inventar um movimento contra a opressão de ter que usar banheiros. "Que a rua seja o meu banheiro!"

A tipologia contemporânea de comportamentos tem crescido assustadoramente. O inteligentinho todo mundo conhece: é o tipo de pessoa que acha que problemas como o do Oriente Médio se resolveriam com um ciclo de cinema e debate sobre filmes que narram a vida de mulheres fazendo bolos ou crianças jogando futebol.

Na verdade, como sempre, a intenção "escondida" é projetar os bons sentimentos do inteligentinho para com o mundo e dizer que ele tem soluções criativas para uma humanidade que nunca foi tão inteligente como ele.

Outro tipo contemporâneo é o bonzinho. Este, com o coração ainda mais cheio de amor, costuma postar fotos dizendo "não" às guerras, de seu iPhone ou de seu MacBook Pro. Mas mais típico ainda é postar fotos de Aspen com camisetas do Che. Este tipo é normalmente teen, mesmo que já tenha passado dos quarenta. Seus pais dizem coisas como "comam menos carne vermelha para ficar menos agressivos".

Mas um novo tipo que logo estará presente nas colunas sociais em eventos culturais são os frouxinhos. Estes homens (gênero, não espécie) descobriram que é difícil ser homem, ainda mais numa época em que está na moda confessar traumas o tempo todo para garantir (supostamente) a simpatia de todos.

E, pior: vivemos numa época de mulheres que crescem profissionalmente, amadurecem publicamente e financeiramente e que, portanto, ainda metem mais medo do que sempre meteram nos homens.

Os homens não confessam, mas morrem de medo das mulheres, principalmente quando as desejam.

Façamos um breve exercício de antropologia contemporânea urbana para ver se conseguimos captar os próximos atos deste novo tipo.

Antes de tudo, um reparo técnico. Vale salientar que a descrição antropológica em questão não é financiada pelo Tea Party (como costumam dizer os bobos das redes sociais quando querem tirar o crédito de alguém que os considera ridículos), tampouco vem sustentada por uma metafísica machista fanática do tipo "homem não chora", ou "lugar de mulher é na cozinha". Risadas?

Vejo-os em passeatas, chorando, com cartazes escritos assim: "Pelo direito de brochar", "pelo direito de arrumar uma mulher que me sustente", "pelo direito de gritar quando aparecer uma barata na sala", "pelo direito de se negar a trocar o pneu", "pelo direito de ter tempo igual ao da mulher na frente do espelho", "pelo direito de ter TPM" (claro, a medicina é machista por isso nunca descreveu a TPM masculina), "pelo direito de colocar a mulher na frente do ladrão", "pelo direito de sair antes da mulher e das crianças numa situação de risco".

Meu Deus, coitadas das meninas, condenadas a ficar se virando em camas vazias com homens que não seguram o tranco da insustentável condição de insegurança, incerteza, contingência, dureza, mentira, frustração, e, finalmente, derrota, que nos assola todos a vida inteira. Por: Luiz Felipe Pondé Publicado na Folha de SP

terça-feira, 19 de agosto de 2014

A RÚSSIA SE PREPARA PARA A GUERRA

“Temos de atacar a Polônia e os Estados bálticos nos lugares em que há mísseis e aeronaves da OTAN. Não podemos permitir que um avião decole e ataque a Rússia, por isso temos de atacar primeiro e impedir com meia hora de antecedência qualquer movimentação de aeronaves. E para certificarmo-nos, faremos bombardeio de saturação. A América não é uma ameaça, mas os estados anões da Europa cessarão de existir. Eles serão varridos. E então a OTAN terá de implorar a nós por negociações, caso contrário daremos a eles novamente um Maio de 45.”

Vladimir Zhirinovsky, agosto de 2014 (Entrevista à uma rede de televisão, 08/08/2014)

“No meu livro eu escrevi, há mais de dez anos, que 2015 e este ano são os anos do ponto de ruptura da civilização atlântica.”
Dr. Victor Kulish, 12 de julho de 2014, autor de Hierarchic Electrodynamics and Free Electron Lasers

No último mês, o grande veterano da política russa, Yevgeny Primakov, deu algumas declarações de vulto durante uma entrevista dada ao programa Rússia além das manchetes. Evidentemente, Primakov justificou a anexação da Criméia, mas admitiu que a entrada de tropas russas no sudeste ucraniano acabaria por criar um “beco sem saída”. De acordo com Primakov, tal ação iria efetivamente cercear certas tendências às quais a Rússia conta para o seu futuro sucesso.

E quais são essas “tendências”?

Primakov não as enunciou diretamente, mas uma pequena lista pode ser obtida: a gradual aproximação alemã da órbita moscovita, o estabelecimento de bases militares no Caribe, o aumento do poder militar chinês no Pacífico e o contínuo declínio da economia americana. A Rússia tem a ganhar com cada uma dessas “tendências”. Mesmo que Moscou esteja ansiosa para esmagar o movimento de independência ucraniano, é melhor esperar. Por que pôr a perder uma situação até então favorável, especialmente levando em conta que os EUA continuam enfraquecendo?

Primakov diz que Moscou deve confiar nos amigos que tem no Ocidente. É evidente que a Rússia tem um bom número de amigos e agentes de influência. E com a crescente maré de violência na Europa, o cidadão médio russo não iria começar a questionar o rearmamento promovido por Putin? Enquanto isso na Ucrânia, uma nova geração está em busca de maior responsabilidade e maior relevância no seu governo. Eles não querem estruturas soviéticas no país deles. Eles não querem que os presidentes sejam lacaios do Kremlin. Eles estão cansados de liberalizações que não trazem uma efetiva liberalização. Eles estão cansados de uma economia em que a classe governante rouba o quanto quer e o resto da sociedade que sofre as consequências. Eles estão cansados da União Soviética, que ainda existe! Sendo assim, a revolução contra Moscou – seja lá como ela chame agora – não pode mais ser impedida sem violência. E violência gera violência.

Talvez o Kremlin pense que pode controlar a Revolução Ucraniana por meio de agentes em Kiev. E os traidores no comando ucraniano mantêm uma ponte improvisada na fronteira para abastecer os separatistas pró-Rússia? Não importa – em longo prazo –, pois os russos ainda estão perdendo no leste ucraniano, de modo que eles terão que enviar tanques [mais cedo ou mais tarde]. Eles terão de retomar a Ucrânia. Eles irão liquidar o espírito de liberdade, caso contrário ele infectará o próprio exército russo, quiçá Moscou. Caso assim for, Putin e seus amigos seriam levados a julgamento e certamente não seriam inocentados.

Sem uma efetiva barreira idiomática, o que impediria a febre de liberdade ucraniana de se espalhar pela Rússia? Provavelmente é por isso que Vladimir Putin plantou uma insurgência artificial no coração do leste ucraniano. Se, portanto, existe agora uma linha divisória militar, como poderiam os ideais da revolução ucraniana espalharem-se pela Rússia? Se os russos estão psicologicamente preparados para pensar em termos bélicos, como poderiam eles pensar em liberdade? Como é dito ao povo russo, dia após dia, que a “junta” em Kiev é financiada pelo governo americano e é liderada pelos neonazistas, como poderia esse mesmo povo russo impor qualquer ameaça ao seu próprio e amado governo? E assim foi instaurada na mídia russa a causa da guerra, e quaisquer incidentes futuros podem surgir para justificar a intervenção contra Kiev. Dê uma olhada nesse excerto dessa matéria sobre a Ucrânia feita pelo Voice of America:

O chefe do serviço de segurança ucraniano disse que os rebeldes pró-Moscou planejavam derrubar um avião de passageiros da companhia aérea russa Aeroflot no dia 17 de junho, dia em que derrubaram o avião do voo MH17 da Malaysian Airlines, que passou no leste ucraniano, diz a notícia do Interfax da Ucrânia citando Valentyn Nalyvaichenko.

Nalyvaichenko disse que sua agência chegou a essa conclusão durante o curso da sua própria investigação sobre a derrubada do voo MH17.

Ele disse que foram usadas baterias antiaéreas com mísseis Buk (terra-ar) e que elas foram transferidas para a Ucrânia com o propósito de derrubar o avião da Aeroflot (com passageiros russos) no momento em que ele passasse pelo território controlado pelas tropas do governo ucraniano.

“Esse ato terrorista foi cinicamente planejado como pretexto para dar início a uma agressão total [à Ucrânia] em resposta ao assassinato em massa de russos inocentes”, disse Nalyvaichenko.

Desprovidos de qualquer prova direta do Sr. Nalyvaichenko, devemos admitir que a história atende aos padrões de ação russa – que é de provocação. Veja os bombardeios aos edifícios russos em 1999 que ocorreram antes da invasão russa à Chechênia. Como se sabe muito bem, esse episódio acabou com o incidente de Ryazan, que mostrou que a FSB (KGB) orquestrou o bombardeio aos edifícios para justificar as ações de Putin na Chechênia. E aqui temos uma alegação de um oficial ucraniano de que a Rússia estava tentando derrubar um avião de passageiros do seu próprio país para culpar os ucranianos e assim ter a desculpa para invadir o país.

Se for esse o caso, então as declarações de Yevgeny Primakov foram ao mesmo tempo astutas e enganosas. Além do mais, isso explicaria em definitivo porque a mídia russa tem rufado os tambores da guerra há alguns meses, isto é, apoiando uma iminente invasão da Ucrânia. Isso significa que Moscou sempre teve em mente uma invasão, porém carecia de um pretexto. Isso significa que as relações da Rússia com o Ocidente estão prestes a se romperem e os líderes russos não ligam para isso. Algo maior está em jogo. E se estudarmos as palavras de Primakov constatamos uma irrefutável admissão de que a guerra está por vir. Primakov diz: “O tom geral [da nossa mídia] está como se estivéssemos preparando o país para a guerra”. Ele faz referência a isso como um tipo de erro: “exageramos na cobertura dos eventos [na Ucrânia]”, admite ele.

A quem ele está tentando enganar?

A mídia russa fez exatamente aquilo que lhe foi delegado. Não há outra explicação. Minha análise sugere que não houve exagero, pois, com efeito, o Kremlin está “preparando o país para a guerra”. Primakov admitiu isso com uma desculpa completamente idiota, como se dissesse um “ops, erramos”. Mas não, isso foi intencional, malicioso e premeditado, e a prova está aqui, nessa transmissão da TV russa direto da Crimeia no dia 9 de agosto de 2014.

Como o leitor pode ver, a política que visa demonizar a Ucrânia e os Estados Unidos na mídia russa continua até os dias atuais. Se a mídia russa estava exagerando na propaganda pré-guerra, então por que os patrões não consertaram esse problema um mês atrás? Se você assistir esse evento midiático russo (linkado acima), você verá uma banda russa de rock vestindo uma máscara de gás enquanto dançarinos vestidos de preto carregam tochas e mantêm uma formação que remonta à uma suástica. Esses dançarinos representam os rebeldes da Praça de Maidan [em Kiev] que partem para o ataque à polícia. Eis que então chegam os soldados russos e dispersam os fascistas. Logo após, um grande grupo de marinheiros cantam o hino nacional da URSS enquanto fogos de artifício explodem sobre uma grande estrutura que tem em seu topo uma gigantesca estrela vermelha. Como lemos em Euromaidan Press, “hoje na Rússia algo assustador aconteceu. Transmitido ao vivo e nacionalmente para a Rússia e filmado na Crimeia, Sevastopol, um musical – que também foi uma cerimônia e um concerto de rock – encenado numa exposição de motocicletas, tentou retratar a Ucrânia e sua revolução... conforme descrita pela propaganda estatal russa...”

A respeito do conteúdo antiamericano, os nazistas vestidos de preto são vistos saudando um emblema do Pravy Sektor [partido ucraniano] que estava embaixo de uma pirâmide com o cifrão do dólar americano e o Olho da Providência na forma que como é visto no Grande Selo dos Estados Unidos. Perceba que uma grande águia listrada cercada de estrelas, que serve para significar os Estados Unidos, é mostrada como se fosse a suprema engenheira dessa revolução neonazista (ucraniana). Se justapormos esse evento midiático com essa curiosa declaração de um ex-diretor do Serviço Central de Inteligência da URSS, Yevgeny Primakov, então somos forçados a admitir que a Rússia ainda está se preparando para a guerra.

Enquanto a televisão russa orienta o país rumo à guerra, os colegas de outrora de Primakov estão trabalhando dia e noite para flanquear a América por meio de várias manobras secretas na fronteira americana. Peço que leia o artigo do dia 20 de julho de James Simpson sobre o agente veterano de patrulha de fronteiras Zach Taylor. Veja o vídeo. Veja o que Taylor diz sobre a crise na fronteira e os russos. Anos atrás eu perguntei a um desertor da GRU russa como os militares russos esperavam trazer para dentro dos EUA armas de destruição em massa para usá-las durante um estágio avançado de uma grande guerra. Ele disse: “Através das mesmas rotas que as drogas entram nos Estados Unidos”. Digo novamente: veja o que Zach Taylor tem a dizer. Veja uma vez, veja duas e compartilhe com seus amigos.

O uso que os russos fazem do crime organizado não é devidamente entendido na América. Ainda assim, veja lá o que foi dito abertamente por um expert em segurança fronteiriça. Aos que estiverem interessados em mais detalhes, leiam o livro Red Cocaine do autor Joseph D. Douglass. O uso estratégico do tráfico de narcóticos está explicado lá. Note como a máfia mexicana está aliada à máfia russa, que por sua vez é instrumento do Kremlin. Se você quiser entender a ameaça à América, a fronteira é nossa primeira linha de defesa; e a fronteira já colapsou. A esse respeito, há muitas coisas que o público americano precisa entender. Há muito nesse assunto que requer nosso cuidadoso estudo. Mas acima de tudo, veja os tolos no nosso governo, na nossa mídia e nas nossas universidades.

Coisas boas vêm àqueles que infiltraram o inimigo. É esse o caminho que o Kremlin toma para chegar à vitória, e tem sido sua profissão de fé desde 1917. Esteja certo de que os russos têm agentes na Casa Branca, na nossa CIA, na nossa NSA, no nosso meio militar e no nosso Departamento de Estado. “Em um mundo globalizado”, observa Primakov, “é impossível falar de uma Rússia isolada. Não estamos isolados dos outros e não isolamos eles, nem mesmo nossos inimigos. Diversificamos nossa orientação econômica..." E isso é verdade. A estratégia russa não é de isolação, é de infiltração e integração. Eis porque a Rússia pode abertamente se preparar para a guerra e não soar qualquer alarme na nossa percepção. Os agentes russos têm nos cercado esse tempo todo, sussurrando doces bagatelas no ouvido coletivo.

O problema está por vir. Você consegue ouvi-lo aproximando? Ou estamos seduzidos pelas doces bagatelas?
Por: JEFFREY NYQUIST Do site: http://jrnyquist.com
Tradução: Leonildo Trombela Junior


SER E FAZER

Todo mundo conhece a perguntinha chata que fazemos para as crianças: "O que você quer ser quando crescer?". As respostas mostram o que as motiva no presente: uma diz que quer ser astronauta, cientista, engenheiro. Outra, ainda modelo, cantora, jogador de futebol etc. Tais respostas apontam o interesse atual das crianças, sua admiração por pessoas ou personagens públicas, e revelam, invariavelmente, seu descompromisso para com o futuro.


Crianças não pensam no que virá, a não ser no que estiver bem próximo e que, certamente, se tornará realidade: as férias, a viagem programada pelos pais, os presentes que esperam ganhar, a festa a que irão, as provas que farão, por exemplo. Por isso, essa pergunta não as afeta.

Mas, terminada a infância e o início da adolescência, a pergunta passa a ser uma cobrança, uma pressão, uma fonte de angústias e preocupações. Por quê? Porque a resposta que darão a ela precisa ser certa –pensam os jovens, influenciados por nós– e determinará o resto da vida deles. Que responsabilidade, hein!?

Eles precisam saber, principalmente por meio de seus pais, que a escolha de um curso, seja ele universitário ou técnico, não é tudo isso que os levamos a pensar. Colocada essa escolha em seu devido lugar, a vida para eles pode ficar menos tensa, mais fácil.

Primeiramente, é importantíssimo que eles saibam que uma profissão não define a pessoa, define apenas sua vida profissional. Parece que deixar clara essa diferença não tem tanta importância assim, não é mesmo? Pois saiba que tem, caro leitor.

Experimente conversar com jovens que passam por essa fase de escolha e veja como eles ficam atormentados com o fato de que o curso que farão os definirá. "Fico desesperado ao pensar que vou ser conhecido pelo resto da minha vida como engenheiro, físico ou médico", me disse um jovem de 17 anos; "Sou muito nova para saber o que quero ser até o fim da minha vida", comentou uma garota em uma mensagem enviada a mim.

Ser e fazer, vida pessoal e vida profissional: tais conceitos estão identificados para muitos jovens, o que é um equívoco. Equívoco que, por sinal, é fácil compreender: nós temos aceitado com facilidade que o trabalho é o que de mais importante fazemos, que é o que nos motiva na vida, dá prazer, realização pessoal etecetera e tal, não é? O conceito que eles têm é fruto da observação de nossas vidas.

Claro que o trabalho é importante em nossa vida: é por meio dele que garantimos nossa sobrevivência, que interferimos na vida em grupo, que ganhamos reconhecimento social. Mas é por meio da vida pessoal que garantimos nosso potencial produtivo, e não o contrário. Podemos, por exemplo, ficar temporariamente sem exercer a profissão, e nesse período a vida pessoal nos ajuda a enfrentar as dificuldades decorrentes dessa situação e até a sustentar um outro trabalho remunerado qualquer. Se os jovens perceberem tal diferença, vai ficar muito mais tranquilo escolher um curso para o vestibular.

Outra coisa importante que eles precisam perceber: um diploma universitário não restringe a vida profissional, e sim a amplia. Cada profissão pode ser exercida em uma variedade incrível de campos. Os jovens precisam mudar a referência que têm a respeito da escolha do curso universitário. Qualquer curso é uma porta que abre muitas outras, e não que fecha a maioria delas. Por: Rosely Sayão Publicado na Folha de SP

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A LISTA DE DESEJOS

Acabou a graça de dar presentes em situações de comemoração e celebração, não é? Hoje, temos listas para quase todas as ocasiões: casamento, chá de cozinha e seus similares –e há similares espantosos, como chá de lingerie–, nascimento de filho e chá de bebê, e agora até para aniversário.


Presente para os filhos? Tudo eles já pediram e apenas mudam, de vez em quando ou frequentemente, a ordem das suas prioridades. Quem tem filho tem sempre à sua disposição uma lista de pedidos de presentes feita por ele, que pode crescer diariamente, e que tanto pode ser informal quanto formal.

A filha de uma amiga, por exemplo, tem uma lista na bolsa escrita à mão pelo filho, que tem a liberdade de sacá-la a qualquer momento para fazer as mudanças que ele julgar necessárias. Ah! E ela funciona tanto como lista de pedidos como também de "checklist" porque, dessa maneira, o garoto controla o que já recebeu e o que ainda está por vir. Sim: essas listas são quase uma garantia de conseguir ter o pedido atendido.

Ninguém mais precisa ter trabalho ao comprar um presente para um conhecido, para um colega de trabalho, para alguma criança e até amigo. Sabe aquele esforço de pensar na pessoa que vai receber o presente e de imaginar o que ela gostaria de ganhar, o que tem relação com ela e seu modo de ser e de viver? Pois é: agora, basta um telefonema ou uma passada rápida nas lojas físicas ou virtuais em que as listas estão, ou até mesmo pedir para uma outra pessoa realizar tal tarefa, e pronto! Problema resolvido!

Não é preciso mais o investimento pessoal do pensar em algo, de procurar até encontrar, de bater perna e cabeça até sentir-se satisfeito com a escolha feita que, além de tudo, precisaria estar dentro do orçamento disponível para tal. Hoje, o presente custa só o gasto financeiro e nem precisa estar dentro do orçamento porque, para não transgredir a lista, às vezes é preciso parcelar o presente em diversas prestações...

E, assim que os convites chegam, acompanhados sem discrição alguma das listas, é uma correria dos convidados para efetuar sem demora sua compra. É que os presentes menos custosos são os primeiros a serem ticados nas listas, e quem demora para cumprir seu compromisso acaba gastando um pouco mais do que gostaria.

Se, por um lado, dar presentes deixou de dar trabalho, por outro deixou também totalmente excluído do ato de presentear o relacionamento entre as pessoas envolvidas. Ganho para o mercado de consumo, perda para as relações humanas afetivas.

Os presentes se tornaram impessoais, objetos de utilidade ou de luxo desejados. Acabou-se o que era doce no que já foi, num passado recente, uma demonstração pessoal de carinho.

Sabe, caro leitor, aquela expressão de surpresa gostosa, ou de um pequeno susto que insiste em se expressar, apesar da vontade de querer que ele passe despercebido, quando recebíamos um mimo? Ou aquela frase transparente de criança, que nunca deixa por menos: "Eu não quero isso!"? Tudo isso acabou. Hoje, tudo o que ocorre é uma operação mental dupla. Quem recebe apenas tica algum item da lista elaborada, e quem presenteia dá-se por satisfeito por ter cumprido seu compromisso.

Que tempos mais chatos. Resta, a quem tiver coragem, a possibilidade de transgredir essas tais listas. Assim, é possível tornar a vida mais saborosa. Por: Rosely Sayão Publicado na Folha de SP

domingo, 17 de agosto de 2014

AS RAZÕES DO ENGASGO DO CONSUMO

Volto hoje à questão da queda do consumo, que tem afetado de forma importante a economia brasileira neste ano de 2014.


O motivo para tal é o clima de quase pânico que tomou conta do setor automobilístico nas últimas semanas. Uma das áreas mais dinâmicas da indústria brasileira, ele representa o maior símbolo do crescimento do consumo que marcou o período Lula. Hoje ele é a prova mais contundente de que vivemos -desde 2011- o início de uma grande ressaca.

Embora vários analistas tenham advertido sobre o fim do ciclo do consumo, o governo manteve inalterada sua política econômica. Quando os sinais de queda ficaram mais claros, no início do mandato da presidenta Dilma, a resposta do Palácio do Planalto foi forçar a expansão do crédito dos bancos públicos e reduzir o superavit primário operacional do Tesouro via gastos adicionais.

Como a economia reage sempre com um intervalo de tempo, entre o início de um ciclo econômico e seu ocaso, somente agora é que essa dura realidade se mostra aos olhos de grande parte da sociedade.

E a queda nas venda de automóveis dos últimos meses -seguida da redução sob várias formas do emprego- é uma realidade que ninguém pode mais esconder. Como a indústria não se preparou para este momento da verdade, mantendo a produção próxima da capacidade máxima, o ajuste será doloroso.

Mas é preciso separar o ajuste cíclico que vamos viver nos próximos meses da dinâmica de longo prazo do setor automobilístico. As vendas de automóveis cresceram entre 2005 e 2013 de uma forma impressionante, passando de 1,66 milhão de unidades anuais para mais de 3,6 milhões, com uma expansão média anual de 10,6% em oito anos.

Entre julho de 2007 e fins de 2013, por vários meses as vendas ficaram no intervalo entre 3,5 milhões e 4 milhões de unidades por ano. O quarto maior mercado consumidor do mundo. Se considerarmos três anos, entre outubro de 2005 e outubro de 2008, as vendas cresceram 50%, ou seja, a uma taxa anual de 15% anuais. IMPRESSIONANTE.

As principais forças por trás desse crescimento de vendas tiveram duas naturezas distintas: entre 2005 e fins de 2008, as forças tinham natureza estrutural, de longo prazo, em razão principalmente do aumento simultâneo da renda, do emprego e do crédito ao consumo.

A partir do início de 2010, com o enfraquecimento das forças expansionistas citadas acima, inicia-se, de forma natural, um período de ajuste nas taxas de crescimento das vendas de automóveis. Dessa forma, chegamos ao início de 2012 com um crescimento zero nas vendas e, nos meses seguintes, a uma taxa de expansão negativa.

O governo reagiu a essa situação elevando a oferta de crédito dos bancos públicos para sustentar a venda de veículos. A resposta do consumidor foi positiva, mas de curta duração, como todo movimento associado a estímulos fora de hora e sem respeito à dinâmica do mercado.

A taxa de crescimento das vendas voltou a atingir 10% ao ano, entre junho de 2012 e junho de 2013, para rapidamente voltar a zero nos três meses seguintes e entrar definitivamente no terreno negativo a partir daí.

Chama-se a esse fenômeno, no jargão do mercado financeiro, de suspiro do morto, ou seja, o fracasso de tentativas artificiais do governo para tentar alterar movimentos estruturais de ajuste do mercado. No caso específico das vendas de automóveis, tentar reconstruir uma dinâmica de consumo que havia se esgotado por razões estruturais.

De agora em diante vamos viver duas fases distintas no mercado de automóveis no Brasil.

Na primeira, teremos um ajuste nos estoques acumulados pela indústria em razão da queda expressiva das vendas nos últimos meses.

Na segunda, as empresas vão ter que fazer um ajuste estrutural na sua capacidade produtiva, para se adaptar a um mercado que deve passar a crescer a taxas não superiores ao aumento da renda dos brasileiros.

Quanto mais demorarem os ajustes de estoque, maiores serão os prejuízos na fase de ajuste nos níveis de produção da indústria.

A pergunta que fica no ar é: como uma indústria tão sofisticada não percebeu a impossibilidade de manter as taxas de crescimento do passado e não se preparou melhor para a fase que vamos viver nesse mercado daqui para a frente?
Por: Luiz Carlos Mendonça de Barros Publicado na Folha de SP

sábado, 16 de agosto de 2014

O OVO E O PINTO

A mente comunista não funciona segundo os cânones da psicologia usual, mas segue uma lógica própria onde se misturam, em doses indistinguíveis, a habilidade dialética, o auto-engano histérico e a mendacidade psicopática.


Meu artigo anterior suscitou uma pergunta interessante na área de comentários: Se há tanta gente nas altas esferas colaborando com o comunismo, como é que ele ainda não dominou o mundo?

A primeira e mais óbvia resposta é que “o comunismo” como regime, como sistema de propriedade, é uma coisa, e o “movimento comunista” enquanto rede de organizações é outra. O primeiro é totalmente inviável, mas por isso mesmo o segundo pode crescer indefinidamente sem jamais ser obrigado a realizá-lo, limitando-se, em vez disso, a colher os lucros do que vai roubando, usurpando, prostituindo e destruindo pelo caminho.

São duas faixas de realidade completamente distintas, que se mesclam numa confusão desnorteante sob a denominação de “comunismo”.

Uma analogia tornará as coisas mais claras. Nenhum ser humano pode levar uma vida razoável com base numa loucura, mas, por isso mesmo, nada o impede de ficar cada vez mais louco: ele se estrepa, mas a loucura progride. A força da loucura consiste precisamente em furtar-se ao teste de realidade. Os comunistas não podem realizar a economia comunista. Se têm uma imensa facilidade em arrebanhar pessoas para que lutem por esse fim irrealizável, é precisamente porque ele é irrealizável, o que é o mesmo que dizer: inacessível a toda avaliação objetiva de resultados. Jamais existirá uma economia comunista da qual seus criadores digam: “Eis aqui o comunismo realizado. Podem julgar-nos e dizer se cumprimos ou não as nossas promessas.” É da natureza mais íntima do ideal comunista ser uma promessa indefinidamente auto-adiável, imune, por isso, a todo julgamento humano. Seu prestígio quase religioso vem exatamente disso: o comunismo traz o Juízo Final do céu para a Terra, mas também sem data marcada.

Daí o aparente paradoxo de um movimento que, quanto mais cresce e mais poderoso se torna, mais se afasta dos seus fins proclamados. A esse paradoxo acrescenta-se um segundo: quanto mais se afasta desses fins, mais o movimento está livre para alegar que foi traído e que tem direito a uma nova oportunidade, com meios mais “puros”. Mas o paradoxo dos paradoxos reside numa faixa ainda mais profunda. Se alguém diz que vai fazer o impossível, com certeza não fará nada ou fará outra coisa. Se fizer, poderá ao mesmo tempo dar a essa coisa o nome daquilo que pretendia e alegar que ela ainda não é, ou que não é de maneira alguma, aquilo que pretendia. Daí a ambigüidade permanente do discurso comunista, que pode sempre se alardear um movimento poderoso destinado a uma vitória inevitável, e ao mesmo tempo minimizar ou negar a sua própria existência, jurando que ela não passa de uma “teoria da conspiração”, de uma invencionice de lacaios do capital.

É alucinante, mas é o que acontece todos os dias. Definitivamente, a mente comunista não funciona segundo os cânones da psicologia usual, mas segue uma lógica própria onde se misturam, em doses indistinguíveis, a habilidade dialética, o auto-engano histérico e a mendacidade psicopática.

Por isso mesmo é que o crescimento vertiginoso do movimento comunista acompanha, pari passu, não a decadência do capitalismo, mas a escalada do seu sucesso. O comunismo como regime, como sistema econômico, não existe nem existirá nunca. O comunismo só pode existir como movimento político que vive de parasitar o capitalismo e, por isso mesmo, cresce com ele.

Mas, por mais que sobreviva e se fortaleça, o corpo parasitado não sai ileso da parasitagem: limitado cada vez mais à função de fornecedor de recursos e pretextos para o parasita, ele vai perdendo todos os valores morais, religiosos e culturais que originalmente o inspiraram e reduzindo-se à mecanicidade do puro jogo econômico, cada vez mais fácil de criticar, enquanto o parasita se adorna de todo o prestígio da moral e da cultura.

O modus operandi dessa parasitagem é duplo: de um lado, as economias comunistas só sobrevivem graças à ajuda capitalista vinda do exterior. De outro lado, em cada nação, o crescimento da economia capitalista alimenta cada vez mais generosamente a cultura comunista.

Na mesma medida em que a mais absoluta inviabilidade impede a construção da economia comunista, o comunismo militante alcança vitória atrás de vitória no seu empenho de transformar o capitalismo numa geringonça infernal e sem sentido.

Toda a lógica do comunismo, em última análise, deriva da idéia hegeliana do “trabalho do negativo”, ou destruição criativa. Mas “destruição criativa” é apenas uma figura de linguagem, uma metonímia. A destruição de uma coisa só pode dar lugar ao crescimento de outra se esta for movida desde dentro por uma força criativa própria, que nada deve à destruição. Esperar que a destruição, por si, crie alguma coisa, é como querer que nasça um pinto de um ovo frito.
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.






sexta-feira, 15 de agosto de 2014

SANTA ALIANÇA

Se o governo do Hamas em Gaza não existisse, o ultranacionalismo israelense teria que inventá-lo


Contam-se mais de 1.900 mortos na faixa de Gaza. Mais de 70% são civis palestinos, entre os quais 448 crianças. Na raiz da tragédia, encontram-se as características geográficas de um território superpovoado, recoberto por cidades e campos de refugiados. Mesmo assim, a dimensão do desastre humanitário não estava escrita nas estrelas, mas inscrita nas opções adotadas pelo Hamas e pelo governo de Israel.

Analistas militares independentes já sabem o que aconteceu. O Hamas ordenou aos residentes da zona-tampão delimitada por Israel que permanecessem em suas casas e utilizou escolas, hospitais e abrigos como depósitos de foguetes, armas e explosivos. Do lado israelense, as regras flexíveis de engajamento da artilharia, bem como a seleção de alvos e munições, atestam a inexistência de um objetivo de minimizar as baixas civis.

O Hamas orientou-se pela avaliação de que o morticínio feriria a imagem internacional de Israel. O gabinete de Benjamin Netanyahu orientou-se pela avaliação de que o morticínio feriria o respaldo interno ao Hamas. Os dois julgamentos estavam corretos e, desastrosamente, ambos os contendores venceram. Hoje, o clamor dos arautos da "solução final" --a destruição de Israel, numa ponta, e o Grande Israel, na outra-- cobre as vozes que insistem em recordar as esperanças suscitadas pelos Acordos de Oslo, de 1993. A pilha de cadáveres civis é o preço, pago pelos palestinos, do triunfo dos extremistas.

Oslo foi, sobretudo, um produto da resistência civil palestina à ocupação israelense. Nos anos da primeira Intifada (1987-1991), as tropas de Israel enfrentaram um levante popular desarmado. Naquelas circunstâncias políticas, o inimigo não podia ser eliminado pela ação de bombardeios. Sob o impacto da intifada, articulou-se na sociedade israelense um amplo "campo da paz", que se conectou com lideranças palestinas dispostas a ultrapassar o tabu da rejeição ao Estado judeu. No fim, o fracasso do processo de Oslo reativou os extremismos simétricos.

O governo autônomo palestino sobreviveu à ruína de Oslo pois serve aos interesses de Israel, do Fatah e do Hamas. Por meio dele, os dois partidos palestinos controlam máquinas quase estatais de poder, que instrumentalizam para aniquilar dissidências. De seu lado, Israel utiliza essa anomalia para, ilegalmente, escapar às obrigações de potência ocupante sem abrir mão da soberania sobre os territórios ocupados. O estatuto de autonomia, junto com os "muros de segurança", separa ocupantes de ocupados, inviabilizando um novo movimento de resistência civil. É o cenário perfeito para os líderes israelenses e palestinos engajados na política do confronto eterno.

Se o governo do Hamas em Gaza não existisse, o ultranacionalismo israelense teria que inventá-lo. A organização fundamentalista continua a pregar a destruição do Estado judeu, fertilizando o solo para a narrativa política que dissocia a segurança da paz. Aos olhos da população de Israel, a guerra de baixa intensidade --conduzida por meio do lançamento de foguetes e de atentados esporádicos a partir de túneis-- justifica as periódicas expedições punitivas. O círculo de ferro do conflito militar perene coesiona os israelenses em torno de um programa de congelamento do status quo.

A santa aliança entre Netanyahu e o Hamas triunfou novamente. O escritor israelense David Grossman captou o cerne do problema ao registrar que, no Israel de hoje, "quem ainda acredita na possibilidade de paz" é visto, "na melhor das hipóteses, como um ingênuo ou um sonhador iludido --e, na pior, como um traidor que enfraquece o país ao encorajá-lo a ser seduzido por falsas expectativas". Essa "corrente fria", escreve Grossman, projeta "um Estado binacional, ou um Estado de apartheid, ou um Estado de soldados, ou de rabinos, ou de colonos, ou de messias". Por: Demétrio Magnoli Folha de SP

A BOLHA DAS BOLHAS

Cresce a preocupação de alguns analistas de que estamos vendo a formação de megabolha de ativos em várias partes do mundo, cujo estouro poderia gerar uma crise de dimensões ainda maiores do que as da década passada. A diferença, agora, é que seria uma bolha de diversos tipos de ativos, enquanto na última crise tivemos o estouro da bolha imobiliária nos EUA.


O FMI não crê na formação da megabolha, mas, por precaução, recomenda aos países diminuir vulnerabilidades.

Para entender as preocupações atuais, temos que olhar a formação recente de bolhas. O período de duas décadas anteriores à grande crise nos EUA foi chamado de a "Grande Moderação", caracterizado por juros e inflação baixos e alto crescimento. A evolução da política monetária, que ganhou potência e credibilidade, a importação de deflação em dólar via produtos chineses e outros fatores mantiveram a inflação em níveis aceitáveis, apesar do juro baixo e da alta liquidez. Mas não impediu grande alta no preço de ativos, principalmente imóveis e ações de tecnologia.

O primeiro resultado foi o estouro da bolha da internet, em 2000. O Fed (BC dos EUA) reagiu com injeção de grande liquidez, política replicada quando os ataques terroristas de 2001 provocaram contração temporária da economia americana. Assim, o preço dos imóveis seguiu em alta.

Mas tudo o que sobe em excesso desce. O preço dos imóveis despencou, incapacitando tomadores de empréstimos imobiliários de honrar pagamentos. Foi o início da última grande crise.

A injeção de liquidez, desde então, é muito mais forte que em estouros de bolhas anteriores. E está elevando os preços de vários ativos no mundo, como imóveis, ações e títulos públicos e privados.

A Espanha emitiu dívida com os juros mais baixos em mais de um século pouco depois de sua severa crise. Países insolventes, como Senegal e Costa do Marfim, voltam a captar valores expressivos a juros historicamente baixos, construindo a próxima crise de dívida soberana. Imóveis em Manhattan voltam a atingir preços impensáveis há poucos meses.

São alertas de que uma megabolha pode se formar em diversos ativos e países, cujo estouro geraria problemas ainda maiores.

É importante que a economia brasileira esteja preparada para todas as eventualidades. É preciso reequilibrar o quanto antes as contas públicas e adotar maior transparência fiscal para que os agentes econômicos sintam mais confiança. E também levar a inflação de volta à meta.

Quanto mais estável e sólida estiver nossa economia, mais protegida estará a população brasileira diante dos riscos da megabolha. Ou do estouro de uma mera bolha. Por: Henrique Meirelles Publicado na Folha deSP

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

MARKETING GEOPOLÍTICO

Uma das últimas modas da mídia foi a Primavera Árabe. Neste caso, quase um caso de estelionato geopolítico. O Egito voltou a ser o que era. A Líbia, terra de tribos, caiu no caos. A Síria estava melhor com o Assad mandando. As mentiras do Bush sobre "smoking guns" no Iraque foram também um estelionato geopolítico. Mas, este, todo mundo reconhece. Já a "primavera árabe", custa a ser vista como é: uma invenção do marketing geopolítico da esquerda de butique.


E este marketing serve para grupos como o Hamas fingirem que querem a paz, quando, na realidade, querem matar os israelenses. Não por acaso, o Hamas louvou o assassinato dos três adolescentes israelenses.

Não quero dizer que não exista uma dinâmica política e social no Oriente Médio, quero dizer que esta dinâmica (caótica, violenta, atávica, tribal, religiosa, racial, comercial) nada tem a ver com o que "filósofos queijos e vinhos" pensam que seja.

Vejamos o caso do Estado de Israel. Aliás, talvez este seja um dos assuntos onde o marketing geopolítico mais faz estrago à reflexão.

Israel é um "anacronismo" contemporâneo. Primeiro porque não faz marketing geopolítico e isso, aliado ao velho antissemitismo hoje travestido de crítica a Israel, cria o caldo no qual grande parte da mídia discute o conflito entre judeus e árabes no Oriente Médio. Os árabes investem pesado em marketing geopolítico. Israel, não.

Importante lembrar que os palestinos são uma cabeça de ponte dos países árabes e do Irã que continuam buscando a eliminação de Israel do mapa da região. O marketing geopolítico árabe oculta este fato. O Hamas não lança foguetes pela criação do Estado Palestino, lança pela destruição do Estado de Israel. Sabia disso?

Desde 1948 alguns países árabes tem uma política chamada "judeus ao mar", apesar de não se falar dela hoje porque pega mal para o marketing geopolítico dos árabes e do Irã. O mesmo marketing que alimenta ideias falsas como "primavera árabe". Muitas vezes temos a impressão de que este fator ("judeus ao mar" como política do Hamas inclusive) não existe.

O filósofo britânico, nascido em Riga, Isaiah Berlin (1909-1997), descreve Israel no artigo "The Origins of Israel" de 1953 (republicado no volume "The Power of Ideas", Princeton University Press, 2000) como um anacronismo porque fundado nos mais puros ideais da "intelligentsia" liberal russa do século 19: liberdade, igualdade, justiça, ciência, democracia, ou seja, a busca de assimilação dos judeus aos modos da vida moderna da Europa ocidental.

Para Berlin, se quisermos entender Israel devemos olhar pro século 19. Entretanto, há um outro componente neste processo: a influência das comunidades religiosas judaicas do Leste Europeu. Esta mistura cria um conflito interno no Estado judeu (identificado hoje no conflito seculares x ortodoxos), ainda que, na sua origem, o ideal era que os judeus das comunidades fechadas do Leste Europeu, em algum momento, seriam assimilados ao modo de vida secular. Isso não aconteceu. Ao contrário, as mulheres ortodoxas são três vezes mais férteis do que as seculares.

Como dizia antes, Israel não trabalha no plano da propaganda geopolítica como o Hamas. O Hamas se esconde atrás da população civil porque sabe que quando Israel é obrigado a revidar, muita gente morre e a mídia internacional embarca de novo no estelionato geopolítico.

Quer exemplos? 1. No dia 15 de julho, um hospital em Gaza foi danificado por mísseis. Por quê? Porque o Hamas colocou uma base de lançamento de foguetes contra Israel ao lado do hospital. 2. Você já se perguntou por que só aparece foto de criança chorando em Gaza? 3. Quando Israel lança panfletos dizendo para as famílias saírem de casa por conta de ataques na região, se você sair, o Hamas considerará você colaborador do sionismo.

Os defensores da política de "judeus ao mar" sabem que militarmente perderam todas as guerras, do contrário Israel não existiria mais. Por isso, investiram na mídia: esperam que muitos palestinos morram para dizer que Israel é mau e eles uns "docinhos de coco".
Por: Luiz Felipe Pondé Publicado na Folha de SP

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

20 ANOS DE PLANO REAL

O Plano Real recebeu intensa atenção da mídia na comemoração de seus 20 anos. Os brasileiros foram lembrados da importância deste evento na sua vida, apesar de milhões deles nunca terem vivido os anos infernais da hiperinflação. Mesmo os que viveram entre 1980 e 1993 –período de chumbo da desorganização econômica do Brasil– já se acostumaram a uma economia com inflação baixa e salários crescendo em termos reais.


Mas a cobertura da imprensa esteve muito focada em questões pontuais e pelas recordações dos técnicos que desenharam o programa. Também fizeram parte da cobertura de jornais, e outros canais da mídia, as advertências sobre os riscos que o Plano Real corre neste fim de mandato da presidente Dilma. Gostaria de trazer ao leitor da Folha outra visão sobre a estabilidade de preços obtida nos últimos 20 anos.

O Plano Real já pode ser visto hoje sob a ótica da história e isto muda totalmente sua compreensão. Muitos dos detalhes relembrados nos últimos dias perdem importância, dando lugar a fenômenos mais complexos e de natureza estrutural que se desenvolveram. Com essas novas lentes de aumento, inúmeras observações –que passavam desapercebidas aos olhos do analista– se impõem.

Em minha opinião, expressada várias vezes neste espaço, a grande vitória do Plano Real foi permitir a formalização das relações econômicas de 70% dos brasileiros. Por formalização entendo a passagem das relações informais para o domínio dos contratos formais. Nesta passagem os dois elementos principais são a carteira de trabalho assinada e o registro das micro e pequenas empresas no cadastro do CNPJ.

Esta passagem corresponde a um salto quântico no funcionamento da economia e na dinâmica social de um país. Gostaria de focar hoje as mudanças sociais que acredito ocorrerão nos próximos anos e que deverão moldar um novo equilíbrio político no país.

Inicialmente vamos medir o grau de formalização dos brasileiros que existia antes da estabilidade e nos dias de hoje. Para tal vamos usar as cinco classes de renda definidas nas pesquisas do IBGE e agrupá-las em apenas duas: as classes A, B e C, que representam os brasileiros que vivem no mundo formal, e as D e E, que correspondem aos que vivem na informalidade.

Outra forma de entender a divisão entre formalidade e informalidade é a de colocar, lado a lado, brasileiros que possuem um futuro com previsibilidade em termos econômicos e brasileiros sem futuro.

Nos cinco anos anteriores ao Plano Real apenas 30% dos brasileiros viviam no mundo formal e 70% viviam na informalidade, ou segundo minha leitura, no grupo dos sem futuro. Para este grupo, verdadeiros cidadãos de segunda classe, apenas o governo poderia dar alguma garantia de segurança social.

A economia de mercado não chegava a eles e, por isto, não tinham acesso ao crédito bancário e comercial e não conseguiam visualizar o peso dos impostos cobrados pelo governo para prover alguns serviços públicos.

Uma forma de entender a Constituição de 1988, com sua marca da garantia de universalidade e gratuidade dos serviços públicos, é olhar para essa profunda divisão que existia na sociedade brasileira, entre os sem futuro e os cidadãos de primeira classe, à época da Constituinte. Fica mais claro entendê-la.

Hoje essa divisão social não existe mais e os brasileiros com futuro são 70% da sociedade.

Os que mudaram de categoria pela formalização sabem que as mudanças que estão ocorrendo estão associadas à sua vida com o mercado, e não com o governo. Eles podem agora avaliar o que aconteceu com os serviços públicos disponíveis nesse mesmo período. Além disso, na formalidade a visualização da carga de impostos pagos fica explícita e a gratuidade por obrigação constitucional passa a ser vista como uma farsa.

Essas mudanças começam, neste ano eleitoral, a mostrar-se de forma mais perceptível ao analista mais cuidadoso. O próprio governo do PT está sentindo –sem entendê-las– alterações de comportamento no cidadão consumidor. Se estiver correto na minha leitura, nos próximos anos é que vamos viver, de forma mais intensa, essa nova dinâmica social criada quando a hiperinflação foi dominada pelo ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso. Por: Luiz Carlos Mendonça de Barros Publicado na Folha de SP

AMARELOU

Acho excessiva a ideia de que a derrota (merecida) do Brasil para a Alemanha demande cuidados especiais para com as crianças ou os adultos. Afinal, "é só futebol". Parece-me um tanto ridícula toda essa frescura com o "Mineiraço". Mas vivemos mesmo num mundo meio ridículo em que todo mundo precisa de "cuidados".


A inflação do afeto tornou-se valor. Esses exageros têm um valor evidente: escondem, como todo mundo sabe, o medo. Isso nunca dá certo na vida real. E a seleção amarelou mesmo. Não aguentou a pressão. E o povo esperava apenas uma coisa: sucesso. Não se perdoa o fracasso, ainda que um monte de gente diga o contrário, e diga isso por mau-caratismo ou porque quer vender autoestima.

Por outro lado, sim, precisamos de cuidados psicológicos para viver. A vida moderna nos brinda com incertezas, ambivalências, dúvidas quanto aos afetos, aos valores, aos horizontes, aos comportamentos. Os modos antigos de vida não servem mais porque (supostamente) não dão conta da complexidade da vida. Já disse nesta coluna algumas vezes que duvido dessa história de que o mundo mudou muito. Acho que tem muito papo furado nessa história de "as novas gerações têm uma outra cabeça" (a frase é ridícula por si só). Mudou o cenário, o enredo continua sendo escrito pelo bobo de "Macbeth".

Mas, sem dúvida, "futebol é mais do que apenas futebol". Não, não estou me contradizendo. O esporte é parte da cultura e, portanto, futebol é, num certo sentido, mais do que futebol. Mesmo que não tenha uma relação direta com o resultado das urnas ou com as decisões de consumo, a seleção é parte do universo de representações culturais que os brasileiros têm de si mesmos. E esse 7 X 1 é mais uma crise de representação num mar de crises de representações no Brasil desde o ano passado.

E nesse sentido, o futebol, como o grande Nelson Rodrigues dizia, é uma tragédia grega. Cai bem chamar os estádios de arenas, já que os jogares são um pouco como gladiadores. E o comportamento da torcida é um pouco como o da torcida que assistia aos gladiadores na antiga Roma: o povo podia passar do desprezo à misericórdia, ou o inverso, em segundos, caso julgasse que um gladiador ou outro merecia uma das duas atitudes. Um dia a seleção brasileira é inspiração para os jovens, outro dia é alvo de laranja podre. O fã é um infiel por excelência.

O povo, ao contrário do que a esquerda mentirosa e os marqueteiros dizem (ambos dizem isso por interesses comerciais, só que os marqueteiros são honestos e confessam), nunca foi de confiança.

Quer um exemplo de que, apesar de todo o blablabá emocional e "psi" ao redor do fracasso da seleção, o mundo não mudou? Vejamos:

Nas antigas arenas romanas, o povo podia ser misericordioso ou cruel segundo alguns critérios, um deles se o gladiador resistia ou não à pressão da luta. Uma velha virtude em jogo: a coragem.

Infelizmente, a seleção brasileira não resistiu à pressão. Amarelou. Claro, não jogava bem, bons jogares sem conjunto e tudo aquilo que os especialistas já falaram. Mas, além disso, ficou clara a dificuldade de suportar a enorme pressão de um povo com uma expectativa excessiva em relação à Copa em casa.

Podemos apontar a diferença entre, por exemplo, holandeses e alemães e seu futebol "científico", por oposição ao nosso latino-americano, o futebol-arte. Mas tudo isso é passado. Não existe futebol-arte, assim como não existem mais vovôs e vovós (estão todos na academia querendo se parecer com os netos). Mas temo que o problema foi além disso.

A seleção foi bem representativa da cultura brasileira dos últimos tempos. Chorona, ressentida, delirante, sem resultados.

Com a era Lula, muitos acreditaram mesmo que sairíamos do buraco com a "bolsa-voto", casas de graça, carros sem impostos e outras invenções baratas.

A palavra "autoestima" foi muito ouvida nos últimos tempos, principalmente na Copa. É comum hoje as pessoas acharem que todo mundo (e a mídia também) deve se preocupar antes de tudo com a autoestima das pessoas. Discordo. É este mundo da autoestima que forma os amarelões.
Por: Luiz Felipe Pondé Publicado na Folha de SP

terça-feira, 12 de agosto de 2014

OS JIHADISTAS TUPINIQUINS

Estamos a menos de dois meses das eleições. Mas não parece. Há um clima de desânimo, de desinteresse, de enfado. Acreditava-se que, após o fim da Copa do Mundo, as atenções estivessem concentradas no processo eleitoral. Ledo engano. A pasmaceira continua a mesma. Agora, o divisor de águas é o horário gratuito que começa dia 19. Para o PT, este é o clima ideal para a eleição presidencial. Quanto menor o interesse popular, maior a chance de permanecer mais um quadriênio no poder. O partido tem, inclusive, estimulado discretamente campanha pelo voto nulo ou branco. Sabe que muitos eleitores estão desanimados com a política, justamente com as mazelas produzidas pelo próprio petismo.

A desmoralização das instituições foi sistematicamente praticada pelo partido. A compra de maioria na Câmara dos Deputados, que deu origem ao processo do mensalão, foi apenas o primeiro passo. Tivemos a transformação do STF em um puxadinho do Palácio do Planalto. O Executivo virou um grande balcão de negócios e passou a ter controle dos outros dois poderes. Tudo isso foi realizado às claras, sem nenhum pudor.

Não há área do governo que nos últimos anos tenha permanecido ilesa frente à sanha petista. Todos os setores da administração pública foram tomados e aparelhados pelo partido. Os bancos, as empresas estatais e até as agências reguladoras se transformaram em correrias de transmissão dos seus interesses partidários.

Imaginava-se que, após a condenação dos mensaleiros, o ímpeto petista de usar a coisa pública ao seu bel-prazer pudesse, ao menos, diminuir. Nada disso. Os episódios envolvendo a Petrobras demonstram justamente o contrário. E mais: neste caso levaram ao descrédito total os trabalhos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito e desmoralizaram mais uma vez o Legislativo.

As ações seguem um plano de que o partido é o elemento central da política, nada pode ocorrer sem a sua anuência. Esta estrutura tentacular tem enorme dificuldade de conviver com a democracia, a alternância no governo e com o equilíbrio entre os poderes. A insistência em impor o projeto dos conselhos populares – uma espécie de sovietes dos trópicos – faz parte desta visão de mundo autoritária.

O maior obstáculo para o PT é a existência do Estado Democrático de Direito. O partido tem como objetivo estratégico miná-lo diuturnamente. Suas ações chocam-se com a “institucionalidade burguesa”.

O PT usará de todos os meios para se manter no poder. Manteve até aqui a campanha em banho-maria, como era do seu interesse. Mas com a permanência de Dilma em um patamar que vai levar a eleição para o segundo turno – isto hoje é líquido e certo -, o partido vai abrir a sua caixa de ferramentas, como o fez em 2006 e 2010.

O uso da internet para desqualificar seus opositores é realizado há um bom tempo. O PT tem um verdadeiro exército de jihadistas prontos para o ataque. O recente episódio de mudanças no perfil de jornalistas na Wikipedia é café pequeno frente ao que vem por aí. O auge do jogo sujo será justamente durante a breve campanha do segundo turno, onde uma calúnia tem muito mais efeito eleitoral, principalmente se divulgada às vésperas da eleição.

As modificações ocorridas no Tribunal Superior Eleitoral passaram em branco. É bom que a oposição fique atenta, pois quem vai presidir a eleição é um ex-funcionário do Partido dos Trabalhadores e ex-advogado de um sentenciado no processo do mensalão, José Dirceu. O presidente do TSE é o ministro Dias Toffolli.

Neste processo chama a atenção a ação de Lula, seu líder máximo – e único, na verdade. Tem se mantido – até o momento – discreto na campanha eleitoral. Visitou alguns estados e mesmo em São Paulo tem participado pouco das atividades. Pode ser que tenha sentido um cheiro de derrota no ar e está buscando preservar sua figura. No caso da eleição paulista, isto já é definitivo. Seu candidato já está derrotado. Esperto como é, pode já estar iniciando a campanha de 2018. E com o figurino de salvador da pátria.

Frente a este quadro é que a oposição precisa exercer o seu papel. Nesta eleição tem agido com mais consistência, buscando alianças regionais e um discurso mais simples e compreensível para o eleitor. Tem atuado melhor, mas distante do que se espera de uma oposição no grave momento histórico que vivemos.

Eduardo Campos tenta – mas tem muita dificuldade – de encarnar o figurino oposicionista. Afinal, permaneceu mais de um decênio apoiando o governo, inclusive exercendo função ministerial. Mas teve ousadia em se lançar candidato.

É Aécio Neves que tem de exercer o papel de opositor do petismo. Tem se esforçado, é verdade, porém a campanha ainda não empolgou. Conseguiu habilmente construir bons palanques estaduais. Diversamente de 2010 rachou o apoio petista no trio de ferro da política brasileira. Em Minas Gerais deve ter uma grande vitória. Em São Paulo, se conseguir colar a sua candidatura à de Geraldo Alckmin, pode ter a maior vitória do partido no estado desde o restabelecimento das eleições diretas. Conseguiu um raro feito no Rio de Janeiro, rachando o bloco de apoio à petista que foi importante em 2010. Deve surpreender no Nordeste tendo uma boa votação, rompendo com o domínio petista, como na Bahia. Mas ainda é pouco.

A máquina autoritária petista pode ser derrotada. Os dois próximos meses são decisivos. O PT vai usar todas as suas armas. Sabe que é uma batalha de vida ou morte, pois longe do aparelho de Estado não consegue mais sobreviver.
Por: Marco Antonio Villa é historiador Publicado em:- O Globo