terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

UM CADÁVER NO PODER(II)

Intelectualmente e teologicamente, a TL está morta há três décadas. Mas ela nunca foi um movimento intelectual e teológico. Foi e é um movimento político adornado por pretextos teológicos artificiosos e de uma leviandade sem par.

Volto à análise da Teologia da Libertação.

Se a coisa e até o nome que a designa vieram prontos da KGB, isso não quer dizer que seus pais adotivos, Gutierrez, Boff e Frei Betto, não tenham tido nenhum mérito na sua disseminação pelo mundo. Ao contrário, eles desempenharam um papel crucial nas vitórias da TL e no mistério da sua longa sobrevivência.

Os três, mas principalmente os dois brasileiros, atuaram sempre e simultaneamente em dois planos. De um lado, produzindo artificiosas argumentações teológicas para uso do clero, dos intelectuais e da Curia romana. De outro lado, espalhando sermões e discursos populares e devotando-se intensamente à criação da rede de militância que se notabilizaria com o nome de “comunidades eclesiais de base” e viria a constituir a semente do Partido dos Trabalhadores. “Base” é aliás o termo técnico usado tradicionalmente nos partidos comunistas para designar a militância, distinguindo-a dos líderes. Sua adoção pela TL não foi mera coincidência. Quando os pastores se transformaram em comissários políticos, o rebanho tinha mesmo de tornar-se “base”.

No seu livro E a Igreja se Fez Povo, de 1988, Boff confessa que foi tudo um “plano ousado”, concebido segundo as linhas da estratégia da lenta e sutil “ocupação de espaços” preconizada pelo fundador do Partido Comunista Italiano, Antonio Gramsci. Tratava-se de ir preenchendo aos poucos todos os postos decisivos nos seminários e nas universidades leigas, nas ordens religiosas, na mídia católica e na hierarquia eclesiástica, sem muito alarde, até chegar a época em que a grande revolução pudesse exibir-se a céu aberto.

Logo após o conclave que o elegeu, em 1978, o papa João Paulo I teve um encontro com vinte cardeais latino-americanos e ficou muito impressionado com o fato de que a maioria deles apoiava ostensivamente a Teologia da Libertação. Informaram-lhe, na ocasião, que já havia mais de cem mil “comunidades eclesiais de base” disseminando a propaganda revolucionária na América Latina. Até então, João Paulo I conhecia a TL apenas como especulação teórica. Nem de longe imaginava que ela pudesse ter se transformado numa força política de tais dimensões.

Em 1984, quando o cardeal Ratzinger começou a desmontar os argumentos teóricos da “Teologia da Libertação”, já fazia quatro anos que as “comunidades eclesiais de base” tinham se transfigurado num partido de massas, o Partido dos Trabalhadores, cuja militância ignora maciçamente quaisquer especulações teológicas, mas jura que Jesus Cristo era socialista porque assim dizem os líderes do partido.

Dito de outro modo, a pretensa argumentação teológica já tinha cumprido o seu papel de alimentar discussões e minar a autoridade da Igreja, e fôra substituída, funcionalmente, pela pregação aberta do socialismo, onde o esforço aparentemente erudito de aproximar cristianismo e marxismo cedia o passo ao manejo de chavões baratos e jogos de palavras nos quais a militância não procurava nem encontrava uma argumentação racional, mas apenas os símbolos que expressavam e reforçavam a sua unidade grupal e o seu espírito de luta.

O sucesso deste segundo empreendimento foi proporcional ao fracasso do trio na esfera propriamente teológica. É possível que na Europa ou nos EUA um formador de opinião com pretensões de liderança não sobreviva à sua desmoralização intelectual, mas na América Latina, e especialmente no Brasil, a massa militante está a léguas de distância de qualquer preocupação intelectual e continuará dando credibilidade ao seu líder enquanto este dispuser de um suporte político-partidário suficiente.

No caso de Boff e Betto, esse suporte foi nada menos que formidável. Fracassadas as guerrilhas espalhadas em todo o continente pela OLAS, Organización Latino-Americana de Solidariedad fundada por Fidel Castro em 1966, a militância se refugiou maciçamente nas organizações da esquerda não-militar, que iam colocando em prática as idéias de Antonio Gramsci sobre a “ocupação de espaços” e a “revolução cultural”. A estratégia de Gramsci usava a infiltração maciça de agentes comunistas em todos os órgãos da sociedade civil, especialmente ensino e mídia, para disseminar propostas comunistas pontuais, isoladas, sem rótulo de comunismo, de modo a obter pouco a pouco um efeito de conjunto no qual ninguém visse nada de propaganda comunista mas no qual o Partido, ou organização equivalente, acabasse controlando mentalmente a sociedade com “o poder invisível e onipresente de um mandamento divino, de um imperativo categórico” (sic).

Nenhum instrumento se prestava melhor a esse fim do que as “comunidades eclesiais de base”, onde as propostas comunistas podiam ser vendidas com o rótulo de cristianismo. No Brasil, o crescimento avassalador dessas organizações resultou, em 1980, na fundação do Partido dos Trabalhadores, que se apresentou inicialmente como um inocente movimento sindicalista da esquerda cristã e só aos poucos foi revelando os seus vínculos profundos com o governo de Cuba e com várias organizações de guerrilheiros e narcotraficantes. O líder maior do Partido, Luís Inácio “Lula” da Silva, sempre reconheceu Boff e Betto como mentores da organização e dele próprio.

Nascido no bojo do comunismo latino-americano por intermédio das “comunidades eclesiais de base”, o Partido não demoraria a devolver o favor recebido, fundando, em 1990, uma entidade sob a denominação gramscianamente anódina de “Foro de São Paulo”, destinada a unificar as várias correntes de esquerda e a tornar-se o centro de comando estratégico do movimento comunista no continente.

Segundo depoimento do próprio Frei Betto, a decisão de criar o Foro de São Paulo foi tomada numa reunião entre ele, Lula e Fidel Castro, em Havana. Durante dezessete anos o Foro cresceu em segredo, chegando a reunir aproximadamente duzentas organizações filiadas, misturando partidos legalmente constituídos, grupos de seqüestradores como o MIR chileno e quadrilhas de narcotraficantes como as Farc, que juravam nada ter com o tráfico de drogas mas então já costumavam trocar anualmente duzentas toneladas de cocaína colombiana por armas contrabandeadas do Líbano pelo traficante brasileiro Fernandinho Beira-Mar.

Quando Lula foi eleito presidente do Brasil, em 2002, o Foro de São Paulo já havia se tornado a maior e mais poderosa organição política em ação no território latino-americano em qualquer época, mas sua existência era totalmente desconhecida pela população e, quando denunciada por algum investigador, cinicamente negada. O bloqueio chegou ao seu ponto mais intenso quando, em 2005, o sr. Lula, já presidente do Brasil, confessou em detalhes a existência e as atividades do Foro de São Paulo. O discurso foi publicado na página oficial da Presidência da República, mas mesmo assim a grande mídia em peso insistiu em fingir que não sabia de nada.

Por fim, em 2007, o próprio Partido dos Trabalhadores, sentindo que o manto de segredo protetivo já não era necessário, passou a alardear aos quatro ventos os feitos do Foro de São Paulo, como se fossem coisa banal e arqui-sabida. Somente aí os jornais admitiram falar do assunto.

Por que o segredo podia agora ser revelado? Porque, no Brasil, toda oposição ideológica tinha sido eliminada, restando apenas sob o nome de “política” as disputas de cargos e as acusações de corrupção vindas de dentro da própria esquerda; ao passo que, na escala continental, os partidos membros do Foro de São Paulo já dominavam doze países. As “comunidades eclesiais de base” haviam chegado ao poder. Quem, a essa altura, iria se preocupar com discussões teológicas ou com objeções etéreas feitas vinte anos antes por um cardeal que levara a sério o sentido literal dos textos e mal chegara a arranhar a superfície política do problema?

Nos doze anos em que permaneceu no poder, o PT expulsou do cenário toda oposição conservadora, partilhando o espaço político com alguns aliados mais enragés e com uma branda oposição de centro-esquerda, e governou mediante compras de consciências, assassinatos de inconvenientes e a apropriação sistemática de verbas de empresas estatais para financiar o crescimento do partido. A escalada da cleptocracia culminou no episódio da Petrobrás, onde o desvio subiu à escala dos trilhões de reais, configurando, segundo a mídia internacional, o maior caso de corrupção empresarial de todos os tempos. Essa sucessão de escândalos provocou algum malestar na própria esquerda e constantes reclamações na mídia, levando a intelligentzia petista a mobilizar-se em massa para defender o partido. Há mais de uma década os srs. Betto e Boff estão ocupados com essa atividade, na qual a teologia só entra como eventual fornecedora de figuras de linguagem para adornar a propaganda partidária. A TL havia assumido, finalmente, sua mais profunda vocação.

Quem quer que leia os escritos de Gutierrez, Boff e Betto descobre facilmente as suas múltiplas inconsistências e contradições. Elas revelam que esse material não resultou de nenhum esforço teorizante muito sério, mas do mero intuito de manter os teólogos de Roma ocupados em complexas refutações teológicas enquanto a rede militante se espalhava por toda a América Latina, atingindo sobretudo populações pobres desprovidas de qualquer interesse ou capacidade de acompanhar essas altas discussões.

Os boiadeiros chamam isso de “boi-de-piranha”: jogam um boi no rio para que os peixes carnívoros fiquem ocupados em devorá-lo, enquanto uns metros mais adiante a boiada atravessa as aguas em segurança.

Intelectualmente e teologicamente, a TL está morta há três décadas. Mas ela nunca foi um movimento intelectual e teológico. Foi e é um movimento político adornado por pretextos teológicos artificiosos e de uma leviandade sem par, lançados nas águas de Roma a título de “boi de piranha”. A boiada passou, dominou o território e não existem piranhas de terra firme que possam ameaçá-la.

Sim, a TL está morta, mas o seu cadáver, elevado ao posto mais alto da hierarquia de comando, pesa sobre todo um continente, oprimindo-o, sufocando-o e travando todos os seus movimentos. A América Latina é hoje governada por um defunto.
Por: Olavo de carvalho Publicado no Diário do Comércio. http://olavodecarvalho.org

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

ESPARTA GANHA NA EUROPA

Como bem disse Thomas Sowell: “Os fracassos do socialismo são tão evidentes que somente podem ser ignorados pelos intelectuais”.


Está na hora de a Europa tomar consciência de que sua crise é a crise do socialismo.

Tal como era de se esperar, ganhou a esquerda na Grécia. Como não? Porém, o problema com a Europa é: e o que NÃO É esquerda? Em que país da União Européia hoje não impera o socialismo? Quando Sarkozy, supostamente de direita, governava a França, o gasto público já havia alcançado 57% do PIB e a dívida 125%. Ocorre-me que não parece definível a diferença entre esquerda e direita, além da confusão que impera como conseqüência de que a esquerda considera o fascismo de direita. Conforme esse critério, os Founding Fathers seriam considerados de extrema-direita. Ou seja, que de acordo com a esquerda, que monopolizou a ética, o respeito ao direito de propriedade e a busca da própria felicidade são os determinantes da desigualdade econômica.

Frente a essa confusão ideológica, permitam-me lembrar que o fascismo foi um derivado do socialismo. Foi Lênin que, ao se dar conta do fracasso da economia comunista, propôs e escreveu a NEP (Nova Economia Política), e escreveu: “Os capitalistas estão operando entre nós. Estão operando como ladrões. Fazem lucros mas sabem como fazer as coisas”. 

Igualmente Hayek em seu “Caminho da Servidão”, descreveu claramente as fontes socialistas do nazismo, que é fascismo a la alemã. E Ernst Nolte, em sua análise filosófica do fascismo, chegou à seguinte conclusão: 

“Fascismo é o anti-marxismo que pretende destruir o inimigo pela evolução de uma oposta mas relacionada ideologia, e mediante o uso de quase idênticos mas modificados métodos, sempre, todavia, dentro de um inflexível marco de auto-determinação nacional e autonomia”.

No meio desta confusão ideológica se produziu o triunfo do suposto líder da extrema-esquerda grega, o Sr. Tsipras, nas recentes eleições na Grécia. Tenho a impressão de que continua o triunfo de Esparta sobre Atenas, e Licurgo e Platão estão presentes em um país que enfrenta uma dívida de 321.700 milhões de euros e alcança 175% do PIB. Qual é a proposta? Acaso pode-se acreditar que a Grécia pode pagar essa dívida? Porém, mais confuso continua sendo o fato que põe de manifesto a falácia da esquerda de confundir o fascismo com a direita. O Sr. Tsipras chegou ao poder associado com o partido de ultra-direita “Gregos Independentes”, que coincide com a posição de se negar a aceitar a austeridade proposta pela Alemanha. E, certamente, para maior confusão ideológica, Marine Le Pen, a representante do Partido Nacionalista francês, apoiou o triunfo de Tsipras.

Em virtude destas, que considero realidades políticas e ideológicas, França, Itália e Espanha, e certamente a Grécia, se opõem às medidas de austeridade propostas pela Alemanha. 

Recentemente, Mario Draghi, presidente do BCE, determinou uma política de expansão monetária comprando bônus. Ante esta opção, não só existe uma diversidade de opinião senão que aparentemente prevalece o nacionalismo tradicional europeu. Em primeiro lugar, a causa desse desequilíbrio gerou-se como conseqüência do aumento do gasto público, que provocou, com uma relativa exceção da Alemanha, uma dívida, que embora não alcance à da Grécia, aparece igualmente impagável. Remeto-me às provas. O gasto público na França alcança 57% do PIB, na Itália 50%, na Inglaterra 46,9%, na Espanha 47,9% e na Alemanha 44,8% (dados do FMI do ano de 2012). Segundo os dados de The Economist, o déficit fiscal da França em 2014 alcançou 4,4% do PIB, na Espanha 5,6%, na Itália 3,0% e certamente na Grécia 4,0%.

Ante esses dados podemos ver que dificilmente a dívida européia possa ser paga, e não deveria caber dúvidas de que a política a seguir a fim de superar o desequilíbrio pendente passa inexoravelmente pela redução do gasto público. Como bem assinalou Milton Friedman e recordam os economistas: “O que importa não é o déficit, senão o gasto”. Esta realidade implica em primeiro lugar que, na medida em que o gasto público aumenta, reduz-se a taxa de crescimento econômico. Portanto, não deveria haver dúvidas a respeito de que a política a seguir para solucionar a crise européia passa inexoravelmente pela redução do gasto. Esse nível de gasto é o produto do chamado Estado de Bem-estar. E esse estado de bem-estar, que não é mais que o socialismo via demagogia democrática da pretensão da igualdade econômica, foi o que produziu o estado de mal-estar da crise européia. A respeito podemos ver que hoje o desemprego na Grécia é 25,8%, na Espanha 23,9%, na Itália 13,4% e na França 10,3%.

O tema pendente então é definir qual é a política para conseguir a redução do gasto e ainda possibilitar o pagamento de uma dívida que não implique na quebra do sistema bancário. Em um recente artigo, Paul Krugman reconheceu o fato de que na Grécia o processo de austeridade acordado com o FMI, o BCE e a Comissão Européia ignorou que teria um efeito negativo sobre a renda e o emprego, e que o povo grego está pagando o preço dessa ilusão da elite. Porém, uma vez que aceitamos que a causa da crise foi o aumento inusitado do gasto público, a pergunta que Krugman não responde é qual é então a política a seguir.

Hoje já nos encontramos ante o fato sem precedentes de que o FMI recomenda à União Européia uma maior inflação para conseguir resolver a presente crise. Até há muito pouco, toda a política do FMI era conseguir o equilíbrio monetário, baseado na teoria quantitativa do dinheiro e evitar a inflação. A idéia que compartilho aparentemente é reduzir a dívida pública em termos reais e evitar a quebra do sistema bancário. Para conseguir esse objetivo não há outra solução que os países da União Européia saiam do euro e desvalorizem suas próprias moedas.

No que se refere à necessidade de reduzir o gasto, minha proposta é que não se faça de imediato em termos nominais. A política a seguir seria reduzir os impostos, cujo atual nível implica a violação do direito de propriedade, e assim conseguir um maior investimento e um maior crescimento. A redução dos impostos, ao mesmo tempo em que se mantém o nível do gasto em termos de moeda corrente, determinaria um maior déficit fiscal e a inflação recomendada pelo FMI. A conseqüência seria a redução do gasto e da dívida em termos reais. Por sua vez, a maior taxa de crescimento determinaria do mesmo modo uma redução do gasto e da dívida em relação ao PIB.

Conseguido esse processo em uma primeira instância, deve ser seguido por uma política fiscal adequada de redução do Estado na economia, o que provocaria uma vez mais um maior crescimento econômico na União Européia. Por tudo o que foi dito anteriormente, é evidente que o problema da Europa não é a Grécia senão da União Européia, inclusive a Alemanha, por mais que este país seja atualmente o que apresenta um menor desequilíbrio, não obstante manter um gasto público de 44% do PIB. Em função dessa posição relativa, a Srª Merkel propõe a austeridade à qual se opõe toda a esquerda e a chamada direita européia.

A solução ao problema europeu passa inexoravelmente pela decisão de abandonar o socialismo que, como bem disse Thomas Sowell: “Os fracassos do socialismo são tão evidentes que somente podem ser ignorados pelos intelectuais”. E eu acrescentaria, e pelos políticos, pois é evidente que a demagogia é que leva ao poder. Assim, na suposta busca pela igualdade se produz a desigualdade política e econômica, não como conseqüência do aumento da rentabilidade do capital, senão da corrupção que impera no Estado. Mas, não obstante essa realidade, hoje aparentemente o livro mais popular é “O capitalismo do Século XXI”, escrito pelo economista francês Thomas Picketty, no qual ele propõe que o aumento da taxa de retorno do capital determina a redução da taxa de crescimento econômico e, conseqüentemente, uma maior desigualdade econômica. Estas propostas decididamente são populares, pois como disse Aristóteles, “os pobres sempre vão ser mais que os ricos”. A realidade é que quando cai a rentabilidade do capital se reduz o investimento e conseqüentemente a taxa de crescimento. Está na hora de a Europa tomar consciência de que sua crise é a crise do socialismo.
Por: Armando Ribas Tradução: Graça Salgueiro
Do site: http://www.midiasemmascara.org

domingo, 15 de fevereiro de 2015

ESQUERDA E DIREITA SEGUNDO ROTHBARD

“Aqueles que desistiriam da liberdade essencial para comprar um pouco de segurança temporária não merecem liberdade nem segurança.” (Benjamin Franklin)

O uso de rótulos objetivando simplificar a posição política de um grupo pode gerar muita confusão. Afinal, expressar em uma única palavra todo tipo de crença defendida por um partido ou doutrina é tarefa árdua, que muitas vezes acaba lançando uma névoa nos olhos das pessoas em vez de clarear sua visão. Assim, coisas absurdas ocorrem, como colocar Hitler e Stalin em espectros políticos opostos, aproximando Hitler de Mises em vez de Stalin, somente por conta do rótulo “direita” e “esquerda” criado. Tentando melhorar a compreensão sobre tais conceitos, Murray Rothbard escreveu um pequeno livro chamado justamente Esquerda e Direita, no qual ele fornece instrumentos para dissipar a confusão gerada pelas nomenclaturas.

Logo no começo, Rothbard faz uma distinção clara entre conservadores e libertários, mostrando que os primeiros sempre se caracterizaram pelo pessimismo quanto às suas perspectivas de longo prazo, enquanto a “atitude adequada ao libertário é a de inextinguível otimismo quanto aos resultados finais”. Para ele, o “erro do pessimismo é o primeiro passo descendente na escorregadia ladeira que leva ao conservantismo”.

A Velha Ordem, que Rothbard entende como sendo a forma do feudalismo ou do despotismo oriental, caracterizado pela tirania e exploração, é ainda o grande e poderoso inimigo da liberdade. O capitalismo floresceu mais cedo e com maior eficácia precisamente onde o Estado central era fraco ou inexistente. Ele cita como exemplo as cidades italianas e a Holanda do século XVII. A Velha Ordem teve seu domínio abalado pela expansão da indústria e do comércio, a sociedade do status deu lugar, em parte, à “sociedade do contrato”.

Surgiram, nesse contexto, duas grandes vertentes políticas na Europa, centradas nesse novo fenômeno revolucionário. De um lado, o liberalismo, com a esperança, o radicalismo pela liberdade, a defesa do progresso da humanidade. Do outro, o conservantismo, o partido da reação, que almejava restaurar a hierarquia, o estatismo, a teocracia, a servidão e a exploração de classes da Velha Ordem. Uma vez que a razão estava do lado dos liberais, os conservadores “turvavam a atmosfera ideológica apelando para o romantismo, a tradição, a teocracia e o irracionalismo”. Quem compreendeu essa distinção foi Lord Acton, que escreveu que “o liberalismo deseja aquilo que deve ser, sem levar em conta o que é”. Para ele, “o liberalismo é em essência revolucionário”.

Para Rothbard, os socialistas estavam divididos, no começo, entre conservadores autoritários, que glorificavam o estatismo e o coletivismo, e os liberais, que queriam destruir o aparelho do Estado. Ao rejeitar a propriedade privada, entretanto, e especialmente o capital, os socialistas tornavam-se presas de uma contradição crucial: se o Estado deve desaparecer após a revolução, como poderá então o “coletivo” gerir sua própria propriedade, sem que ele próprio se transforme num gigantesco Estado de fato? Esta aversão ao capital e à propriedade privada afastou esses socialistas dos libertários, que enaltecem a função tanto do capital como da propriedade privada para a garantia da liberdade.

O fascismo e o nazismo, segundo Rothbard, representaram o ápice alcançado, em alguns países, “pela guinada moderna rumo ao coletivismo de direita no âmbito dos negócios internos”. Para o autor, portanto, há uma clara distinção entre comunismo e fascismo: enquanto o primeiro desalojou e destronou de modo implacável as elites dominantes estabelecidas, o último consolidou no poder as classes dominantes tradicionais. O fascismo foi um “movimento contra-revolucionário, que cristalizou um conjunto de privilégios de monopólio sobre a sociedade”.

Em seguida, Rothbard analisa o New Deal americano, após a grande depressão, mostrando que tal programa não tinha nada de revolucionário ou progressista, no sentido libertário. Na verdade, era um programa coletivista, com base no planejamento central do Estado. Entre seus componentes estavam a criação de uma rede de cartéis compulsórios para a indústria e agricultura, a expansão de crédito pelo governo, a elevação artificial de salários, a regulamentação governamental etc. O New Deal não significou, resume Rothbard, “uma ruptura qualitativa com o passado dos Estados Unidos”. Foi uma simples extensão quantitativa da teia de privilégios concedidos pelo Estado. Nos aspectos econômicos, ele foi muito parecido com o nazismo, onde o governo controlava praticamente tudo. Ambos foram contrários ao ideal dolaissez-faire, defendido pelos libertários.

Com o aumento da competição livre, algumas empresas buscam abrigo no Estado, pregando proteção através de tarifas e monopólios. Como lembra Rothbard, “o privilégio de monopólio só pode ser criado pelo Estado, não podendo resultar de operações do mercado livre”. Este é um fato não apenas ignorado atualmente, mas invertido, já que muitos culpam o livre mercado pela existência de monopólios, e demandam a intervenção estatal para atacar este mal. É como defender o uso de sanguessugas para a cura da leucemia. Deve ficar bem claro que o libertário combate o mercantilismo com toda a sua força.

Lutar contra os grilhões da burocracia centralizada, a educação uniforme do povo e a brutalidade e opressão exercidas pelos agentes subalternos do Estado, eis o que motiva os libertários na busca pela liberdade. Nesta trajetória, os reacionários que buscam um retrocesso à Velha Ordem estão fadados ao fracasso. Para tanto, a principal tarefa do libertário é “desvencilhar-se de seu desnecessário e debilitante pessimismo”. Os rótulos de “esquerda” e “direita” podem confundir mais que esclarecer nesse caso. Existem aqueles que lutam pela liberdade individual, pelo progresso, pelo avanço. E existem aqueles que criam obstáculos a isso, defendendo o retrocesso, o coletivismo, o resgate da Velha Ordem. Os verdadeiros defensores da liberdade irão triunfar no final das contas.

Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.

Nota do Autor: hoje em dia vejo com muitas ressalvas a postura libertária e revolucionária de Rothbard e seus seguidores. Vale notar que o tipo “conservador” atacado no livro e na resenha não é o que chamo de “boa estirpe”, da tradição britânica que aceita mudanças e tenta preservar o que for de legado positivo, e sim os mais reacionários que idealizam um passado inexistente e rejeitam qualquer mudança social. Rothbard tem coisas interessantes, mas precisa ser lido com muita cautela. Caso contrário, acaba fomentando um lado jacobino nos leitores, especialmente nos mais jovens e idealistas.
Por: Rodrigo Constantino 






sábado, 14 de fevereiro de 2015

O QUE PRETENDE MOSCOU?

“Quando discutia com os seguidores de Dugin na internet em 1998, eles mandavam uma enxurrada de e-mails dizendo ‘Morte nuclear à América’. Naqueles dias tratava-se de uma turma minúscula e insignificante. Hoje eles são os mais influentes ideólogos da Rússia.”


Rússia e Irã assinaram um acordo de cooperação militar. Por que eles fizeram isso agora?

No artigo intitulado “General russo alerta para Terceira Guerra Mundial e fala dos planos nucleares para o mundo” lemos que os russos estão envolvidos em projetos conjuntos de defesa com China, Índia e outros países. O Coronel-General Leonid Ivashov é citado no Pravda dizendo que os EUA não fizeram “upgrade de um único míssil balístico e tampouco construíram novos”. Ele gabou-se da vantagem nuclear russa: “A situação mudou drasticamente e nós estamos à beira de uma guerra — e não uma fria, mas quente. Por conseguinte, a Rússia hodierna está, antes de todos, empreendendo esforços para reconstruir a capacidade defensiva das forças armadas e mudar a doutrina militar”.

Abordando assunto similar, na semana retrasada um analista ucraniano comentou em privado as alegações de Pavel Gubarev (no leste ucraniano) de que o homem de Putin na Chechênia, Ramzon Kadyrov, estava por trás dos ataques terroristas na França: “Se Gubarev diz que Kadyrov está envolvido com terrorismo na França, provavelmente é verdade”. Ele então acrescentou posteriormente: “A Rússia está em velocidade máxima com seu modelo de ameaça bélica”.

Eu disse ao meu colega ucraniano: “Mas Gubarev é homem de confiança de Moscou. Ele é um dos líderes separatistas. Por que ele deduraria Kadyrov — outro de confiança de Moscou?”

O ucraniano respondeu: “Porque essa é a nova estratégia russa. Eles não estão se escondendo mais e eles não ligam mais se as pessoas sabem. Não sou eu quem diz isso. Li a mesma coisa no blog de Illarionov. A fraqueza é associada ao fingimento. Se eles vão enfrentar o Ocidente eles precisam parar de fingir. E é assim que eles mostram suas garras. Eles abrem a grande boca para que vejamos suas presas. Eu sei disso, posso sentir. Recentemente, quando o correspondente da BBC perguntou sobre a prova que a OTAN tem que os russos derrubaram o avião da Malaysian Airlines, um oficial russo disse ‘Tudo isso é mentira, uma fabricação da OTAN.’ E assim eles estão se colocando do lado da Coréia do Norte. ‘Estamos cercados’ dizem. ‘Somos o único povo bom do planeta. O mundo todo está contra nós, exceto a Bielorrússia e o Cazaquistão’. É o que eles dizem”.

Perguntei o que motivava os líderes russos.

Meu colega ucraniano respondeu: “Quando discutia com os seguidores de Dugin na internet em 1998, eles mandavam uma enxurrada de e-mails dizendo ‘Morte nuclear à América’. Naqueles dias tratava-se de uma turma minúscula e insignificante. Hoje eles são os mais influentes ideólogos da Rússia.”

Meu amigo ucraniano diz que há um rumor em Moscou. Trata-se de uma guerra nuclear em junho. Não há como confirmar esses rumores. Já ouvimos esses rumores antes — como o rumor de uma jovem russa se escondendo na América Latina. O pai dela era um diplomata russo que mandou-a secretamente para longe antes de embarcar em uma perigosa viagem para alertar o Ocidente. Supõe-se que ele foi morto antes que esse alerta fosse dado. Ele havia sido parte de um time secreto que negociava com oficiais [chineses?] do Extremo Oriente, ou algo do tipo. Ele havia dito à sua filha que sob condição nenhuma viajasse para os Estados Unidos, pois os americanos estavam marcados para morrer. De outra fonte russa eu ouvi sobre os futuros planos de guerra da Rússia. Um ex-militar russo disse que após a derrota dos Estados Unidos, a Rússia pegaria para si o Alaska e partes do Canadá, enquanto a China ocuparia os demais 48 estados.

Você acha uma fantasia absurda?

Seria, se não fosse o fato de que há um discurso secreto proferido em 2005 pelo Ministro da Defesa chinês, Chi Haotian, dizendo que seu plano era aniquilar os americanos. Chi diz que “Na história chinesa das substituições das monarquias, o impiedoso sempre ganhou e o benevolente sempre fracassou”. Mais adiante ele afirmou: “De fato é brutal matar cem ou duzentos mulhões de americanos. Mas esse é o único caminho que assegurará o século chinês; um século em que o PCC [Partido Comunista Chinês] dominará o mundo. Nós, como revolucionários humanitários, não queremos mortes. Mas se a história nos confrontar com a escolha entre a morte de chineses ou a morte de americanos, escolheremos a segunda opção, pois para nós é mais importante salvaguardar as vidas chinesas e a vida do nosso Partido”.

Que idealista! Que humanitário! O benevolente, claro, “sempre fracassa”. Tal é a brutalidade do idealismo chinês. É uma pena que nossos ideais e utopias continuam em sua maioria irrealizados, enquanto os horrores da inumanidade do homem preenchem as páginas da história desde os escritos de Heródoto até o New York Times de ontem. E aqui temos a explicação completa, direto da fonte primária.

Por que deveríamos acreditar seriamente que alguém pretende assassinar em massa o povo americano? Essa é a questão que apresentamos diante das palavras de Chi. Por que os líderes russos ou chineses levariam em consideração a matança de 100 ou 200 milhões de americanos? Respondo essa questão com outra questão. Você não leu a história que Heródoto descreveu a fundação do Império Persa, rodeada de traições e sangue derramado? Você não leu a história de Tucídides que conta o Diálogo Meliano onde os atenienses falam de cenários de poder bruto como forma de exterminar a população masculina de Melos? Essas coisas por acaso não aconteceram? Será possível que jamais acontecerão de novo?

Você poderia rir com desdém, mas é a lei do mais forte.

Acreditar que isso jamais se repetirá é acreditar no equivalente histórico ao coelhinho da Páscoa. Para acreditar nisso a pessoa precisa assistir muita televisão americana, onde os “mocinhos” sempre ganham. Talvez eles ganhem num sentido mais extenso (i.e. metafisicamente), mas não em termos históricos. Ser bom certamente era de grande conforto para Sir Thomas Moore quando ele subiu o cadafalso. Ser bom era talvez um grande conforto para um pequeno punhado das incontáveis vítimas de Stálin. Mas ser bom não é completamente suficiente para a salvação deste mundo — a menos que por “bom” queiramos dizer a “virtude” descrita por Maquiavel (i.e. ser impiedoso e mau porque os outros são impiedosos e maus).

É infantil acreditar que nossas boas intenções nos salvarão das bombas atômicas russas e chinesas. É infantil acreditar que nossas boas intenções nos protegerão da próxima onda de terrorismo islâmico. Ficamos tão fracos e tão ingênuos a ponto de acreditar que os mansos herdaram a Terra e que a implacável ânsia de poder é coisa do passado? A ânsia de poder foi, no final das contas, o romance dos assassinos em massa da história. Foi o romance dos reis persas e de Alexandre O Grande. Foi o romance de Gaius Julius César e da maior parte daqueles que o sucederam. Sim, história é um assunto consternador cheio de ações maldosas em nome do poder. Você não leu sobre o corte da cabeça e das mãos do estadista romano Marcus Cícero, cujos membros foram parar na Rostra no Forum Romanum? E o executor de Cícero por acaso não era o tribuno militar Popílio, que outrora havia sido defendido eloquentemente por Cícero na corte? E o próprio traidor de Cícero não foi levado à ex-esposa de Cícero que forçou o traidor a cortar e comer partes assadas do seu próprio corpo?

Não se iluda achando que a história é o enredo feito para o bem triunfar sobre o mal. Essa era a propaganda da última guerra e será a propaganda da próxima, independente de qual lado ganhe. Já hoje, um lado está começando a contar sua história antes dos demais (para o seu próprio povo). Veja a televisão russa que justifica a “morte nuclear à América”. Veja também o que estão fazendo os líderes russos. Rússia e Irã assinaram um acordo de cooperação militar. Por que eles fizeram isso agora?

Considere o líder da América, o Presidente Barack Obama. Recentemente ele ignorou o Primeiro Ministro de Israel para poder encontrar uma mulher que tornou-se famosa banhando-se de Fruit Loops e leite (não, não estou inventando). Obama estava muito ocupado para Netanyahu, mas não tão ocupado assim para a mulher do Fruit Loops. Isso é o tipo de coisa importante que serve para ver que tipo de liderança temos. É importante calcular nossas chances — não em termos de mísseis, mas de estupidez. Coréia do Norte, China e Irã estão se preparando para a guerra. Apenas nós não conseguimos ver tão claramente a preparação deles da mesma forma que vemos a preparação russa. Sim, a Rússia lidera o bando e o bando está determinado a segui-la. Evidentemente o ditador chinês ainda finge que não apoia Coreia do Norte e Rússia. Devemos acreditar nele? Costumávamos acreditar nas mentiras russas. Hoje mal conseguimos acreditar nos nossos ouvidos quando ouvimos que os russos gabam-se da sua força e da nossa fraqueza. Estariam eles se gabando se estivessem incertos dos seus aliados?

O homem prudente procuraria meios de se defender. O bravo homem falaria verdadeiramente sobre o perigo que se aproxima. O homem justo não mataria o mensageiro que disse que a festa acabou e que o inimigo está nos portões (e já entrou). E last but not least, o homem moderado não teria problemas em aceitar que a festa já acabou.

Contudo não vejo homens virtuosos no comando da América. Não vejo homens prudentes ou bravos ou justos ou moderados. Vejo homens “bem-sucedidos” e ricos no pleno auto-engano. Esses homens não são “bons” ou inocentes em qualquer sentido. Eles não possuem discernimento porque eles são vazios. É isso que fez com que eles tapassem o sol com a peneira. Eles não estão ancorados na virtude. Eles estão à espreita e sem porto seguro.

O Gen. Chi Haotian disse que na história chinesa “o impiedoso sempre ganhou e o benevolente sempre fracassou”. Seu sistema de crenças é o oposto ao de Deus; isto é, a pervertida fé da “ânsia de poder”. Essa é a fé dos Grandes e Poderosos. Esse tipo de gente prevalece em Beijing e Moscou, Pyongyang e Teerã. Talvez até mesmo em Washington e Bruxelas.

Edmund Burke disse: “A única coisa necessária para o triunfo do mal é que o homem de bem não faça nada”. Mesmo se houver homens de bem, a intervenção deles não é garantia de vitória da boa causa. Ela garantiria, entretanto, um tipo de imortalidade. E isso é algo a se contemplar.
Por: Jeffrey Nyquist   http://jrnyquist.com  Tradução: Leonildo Trombela Junior






sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

'MADE IN BRASIL"

No final de 2013, muito se falava sobre a possibilidade da chamada "tempestade perfeita", entendida à época como a combinação profana do rebaixamento da nota da dívida brasileira com o aumento das taxas de juros nos EUA.


Segundo o ex-ministro Delfim Netto, em tal cenário teríamos "uma rápida elevação da taxa de juros no mundo, uma mudança dos fluxos de capitais, um ajuste instantâneo e profundo da nossa taxa de câmbio, uma redução do crédito bancário, uma queda dramática da renda real dos trabalhadores e a volta (...) de taxas de juros reais aos absurdos níveis com que vivemos durante tantos anos, acompanhados por um aumento do desemprego".

Embora a nota da dívida tenha sido rebaixada, não chegamos a perder (ainda!) o "grau de investimento", nosso atestado de bons pagadores. Por outro lado, em que pesem os sinais de recuperação cada vez mais evidentes da economia americana, como mostrado no mais recente relatório do mercado de trabalho, as taxas de juros (no caso para aplicação nos títulos de dez anos do Tesouro) se encontram cerca de um ponto percentual mais baixas do que eram à época, na casa de 1,80% ao ano. A verdade é que essa temida "tempestade perfeita" (ainda) não ocorreu.

No entanto, à falta da ajuda meteorológica estrangeira o governo, com sua competência habitual, tratou de criar a versão brasileira desse desastre climatológico-econômico.

O consenso entre os economistas que contribuem para a pesquisa Focus, do BC, aponta para crescimento nulo em 2015, com a inflação superando 7%, e isso num cenário que não contempla racionamento de energia e água (ainda; perdão pela repetição do advérbio).

Assim, o mercado de trabalho, que não foi bem do ponto de vista de geração de empregos em 2014, deve provavelmente ter desempenho ainda pior em 2015. Nesse contexto, é difícil imaginar que a taxa de desemprego vá permanecer tão baixa quanto nos últimos anos.

É tentador atribuir esse quadro desolador às políticas adotadas no período mais recente e não tenho a menor dúvida de que economistas já conhecidos por seu baixo apego à honestidade intelectual não hesitarão em fazer exatamente isso. Aliás, não parece ser outra a motivação do manifesto "heterodoxo" publicado na semana passada.

A verdade, contudo, é que a "tempestade perfeita" vem sendo gestada domesticamente há anos, mas ganhou velocidade do fim de 2014 para cá.

Do lado da política macroeconômica, a irresponsabilidade foi a norma. A incapacidade de reconhecer que a desaceleração da economia brasileira resultava essencialmente de limitações do lado da oferta levou a políticas de aumento sem precedentes do gasto governamental, assim como ao desmonte da estrutura institucional que impunha alguma disciplina ao setor público. A Lei de Responsabilidade Fiscal foi devidamente imolada no altar da "nova matriz macroeconômica".

Da mesma forma, o descaso com a inflação ficou evidente na condução desastrada da política monetária de 2011 para cá, também implicando considerável retrocesso institucional.

Tão ou mais importante, porém, foi a deterioração da política microeconômica. Retomando velhos vícios no que se refere à intervenção no domínio econômico, o governo desarticulou setores importantes, reduzindo ainda mais o ritmo de expansão da produtividade, agravando o problema do baixo crescimento.

O resultado dessas políticas não poderia ser diferente do observado: estagnação, inflação acima da meta, deficit externos elevados e dívida pública crescente, agravados agora pela gestão desastrosa tanto da Petrobras quanto do setor energético, supostamente áreas de especialidade da presidente.

A "tempestade perfeita" é apenas o ponto culminante dos erros do governo, cuja responsabilidade cabe igualmente aos economistas que não só aplaudiram a política econômica da presidente mas também pediram bis e agora tentam desajeitadamente fingir que nada têm a ver com o problema. 
Por: Alexandre Schwartsman  Publicado na Folha de SP



quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O NOVO IMBECIL COLETIVO

Quando entre os anos 80 e 90 comecei a redigir as notas que viriam a compor O Imbecil Coletivo, os personagens a que ali eu me referia eram indivíduos inteligentes, razoavelmente cultos, apenas corrompidos pela auto-intoxicação ideológica e por um corporativismo de partido que, alçando-os a posições muito superiores aos seus méritos, deformavam completamente sua visão do universo e de si mesmos. Foi por isso que os defini como “um grupo de pessoas de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem com a finalidade de imbecilizar-se umas às outras”.

Essa definição já não se aplica aos novos tagarelas e opinadores, que atuam sobretudo através da internete que hoje estão entre os vinte e os quarenta anos de idade. Tal como seus antecessores, são pessoas de inteligência normal ou superior separadas do pleno uso de seus dons pela intervenção de forças sociais e culturais. A diferença é que essas forças os atacaram numa idade mais tenra e já não são bem as mesmas que lesaram os seus antecessores.

Até os anos 70, os brasileiros recebiam no primário e no ginásio uma educação normal, deficiente o quanto fosse. Só vinham a corromper-se quando chegavam à universidade e, em vez de uma abertura efetiva para o mundo da alta cultura, recebiam doses maciças de doutrinação comunista, oferecida sob o pretexto, àquela altura bastante verossímil, da luta pela restauração das liberdades democráticas. A pressão do ambiente, a imposição do vocabulário e o controle altamente seletivo dos temas e da bibliografia faziam com que a aquisição do status de brasileiro culto se identificasse, na mente de cada estudante, com a absorção do estilo esquerdista de pensar, de sentir e de ser – na verdade, nada mais que um conjunto de cacoetes mentais.

O trabalho dos professores-doutrinadores era complementado pela grande mídia, que, então já amplamente dominada por ativistas e simpatizantes de esquerda, envolvia os intelectuais e artistas de sua preferência ideológica numa aura de prestígio sublime, ao mesmo tempo que jogava na lata de lixo do esquecimento os escritores e pensadores considerados inconvenientes, exceto quando podia explorá-los como exceções que por sua própria raridade e exotismo confirmavam a regra.

Criada e mantida pelas universidades, pelo movimento editorial e pela mídia impressa, a atmosfera de imbecilização ideológica era, por assim dizer, um produto de luxo, só acessível às classes média e alta, deixando intacta a massa popular.

A partir dos anos 80, a elite esquerdista tomou posse da educação pública, aí introduzindo o sistema de alfabetização “socioconstrutivista”, concebido por pedagogos esquerdistas como Emilia Ferrero, Lev Vigotsky e Paulo Freire para implantar na mente infantil as estruturas cognitivas aptas a preparar o desenvolvimento mais ou menos espontâneo de uma cosmovisão socialista, praticamente sem necessidade de “doutrinação” explícita.

Do ponto de vista do aprendizado, do rendimento escolar dos alunos, e sobretudo da alfabetização, os resultados foram catastróficos.

Não há espaço aqui para explicar a coisa toda, mas, em resumidas contas, é o seguinte. Todo idioma compõe-se de uma parte mais ou menos fechada, estável e mecânica – o alfabeto, a ortografia, a lista de fonemas e suas combinações, as regras básicas da morfologia e da sintaxe -- e de uma parte aberta, movente e fluida: o universo inteiro dos significados, dos valores, das nuances e das intenções de discurso. A primeira aprende-se eminentemente por memorização e exercícios repetitivos. A segunda, pelo auto-enriquecimento intelectual permanente, pelo acesso aos bens de alta cultura, pelo uso da inteligência comparativa, crítica e analítica e, last not least, pelo exercício das habilidades pessoais de comunicação e expressão. Sem o domínio adequado da primeira parte, é impossível orientar-se na segunda. Seria como saltar e dançar antes de ter aprendido a andar. É exatamente essa inversão que o socioconstrutivismo impõe aos alunos, pretendendo que participem ativamente – e até criativamente – do “universo da cultura” antes de ter os instrumentos de base necessários à articulação verbal de seus pensamentos, percepções e estados interiores.

O socioconstrutivismo mistura a alfabetização com a aquisição de conteúdos, com a socialização e até com o exercício da reflexão crítica, tornando o processo enormemente complicado e, no caminho, negligenciando a aquisição das habilidades fonético-silábicas elementares sem as quais ninguém pode chegar a um domínio suficiente da linguagem. 

O produto dessa monstruosidade pedagógica são estudantes que chegam ao mestrado e ao doutorado sem conhecimentos mínimos de ortografia e com uma reduzida capacidade de articular experiência e linguagem. Na universidade aprendem a macaquear o jargão de uma ou várias especialidades acadêmicas que, na falta de um domínio razoável da língua geral e literária, compreendem de maneira coisificada, quase fetichista, permanecendo quase sempre insensíveis às nuances de sentido e incapazes de apreender, na prática, a diferença entre um conceito e uma figura de linguagem. Em geral não têm sequer o senso da “forma”, seja no que lêem, seja no que escrevem.

Aplicado em escala nacional, o socioconstrutivismo resultou numa espetacular democratização da inépcia, que hoje se distribui mais ou menos equitativamente entre todos os jovens brasileiros estudantes ou diplomados, sem distinções de credo ou de ideologia. O novo imbecil coletivo, ao contrário do antigo, não tem carteirinha de partido. 
Por: Olavo de Carvalho Do site: http://www.olavodecarvalho.org
Diário do Comércio, 30 de outubro de 2012 




terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

AMENIZANDO AS PERVERSIDADES POR MEIO DE FIGURAS DE LINGUAGEM

Um dos mais ardilosos truques criados pelos defensores de políticas socialistas foi o de recorrer a expressões aparentemente nobres utilizadas para conferir uma aura de legitimidade moral a atos essencialmente maléficos. Assim, confiscar a propriedade alheia e espoliar o dinheiro de terceiros passou a ser chamado de "espalhar a riqueza", "redistribuir a renda", "cuidar dos menos afortunados", e "atender aos desejos da maioria".


Façamos um experimento mental para ver se você aprova um ato essencialmente criminoso.

Imagine que haja várias viúvas já idosas em sua vizinhança. Elas não têm a aptidão física para fazer faxina em suas casas, limpar suas janelas, cozinhar e efetuar outras tarefas domésticas. Tampouco têm elas meios financeiros para contratar alguém para ajudá-las. 

Eis uma pergunta que tenho até receio de fazer: você defenderia um decreto governamental que obrigasse algum dos seus vizinhos a efetuar essas tarefas para as viúvas?

Vou ainda mais adiante: se a pessoa escolhida para obedecer a esse decreto governamental se recusasse a fazê-lo, você apoiaria algum tipo de sanção a ela, como multa, confisco de propriedade ou até mesmo encarceramento?

Tenho a esperança de que a maioria das pessoas iria condenar este decreto estatal. Elas concordariam que se trata de uma espécie de escravidão — mais especificamente, do uso forçoso de uma pessoa para servir aos propósitos de outra.

Agora, será que haveria essa mesma condenação se, em vez de forçar seu vizinho a realmente efetuar as tarefas domésticas para as viúvas, o governo apenas o obrigasse a dar a elas uma determinada quantia monetária mensal? Desta maneira, as viúvas poderiam utilizar esse dinheiro para contratar alguém para efetuar as tarefas domésticas. Por acaso este decreto governamental se difere daquele que obriga alguém a realmente efetuar as tarefas domésticas?

Eu diria que há muito pouca diferença entre os dois decretos. Mudou apenas o mecanismo da servidão. Em ambos os casos, uma pessoa está sendo coercivamente usada para servir aos propósitos de outra pessoa.

Tenho quase certeza de que a maioria dos vizinhos iria querer ajudar essas necessitadas viúvas. Mas também desconfio fortemente que eles considerariam qualquer arranjo que colocasse uma pessoa em uma posição semelhante à servidão algo profundamente ofensivo. 

Por outro lado, caso todos os moradores dessa vizinhança fossem igualmente obrigados a dar esse dinheiro para o governo, que então o repassaria às viúvas, a consciência deles poderia ficar mais amenizada. Este mecanismo coletivo faz com que aquela vítima de escravidão se torne agora invisível, mas não altera o fato de que há uma pessoa sendo forçosamente usada para servir aos propósitos de outra. Ser obrigado a dar dinheiro para o governo simplesmente oculta um ato que, caso fosse praticado de maneira mais explícita, seria considerado profundamente imoral e depravado.

É por isso que o socialismo é maléfico. Ele recorre a meios perversos — confisco e intimidação — para alcançar objetivos que frequentemente são vistos como nobres. Você ajudar uma pessoa necessitada utilizando o seu próprio dinheiro e os seus próprios bens é uma atitude extremamente admirável e digna de louvor. Ajudar uma pessoa necessitada utilizando coerção e espoliando a propriedade alheia é algo perverso, imoral e digno de condenação. 

Tragicamente, grande parte dos ensinamentos em voga, propugnados desde as igrejas até as salas de aula, defendem que o governo use uma pessoa para servir aos propósitos de outra. Os defensores deste arranjo não têm a honra e a coragem de chamá-lo pelo nome correto, e preferem apenas dizer que ser trata de 'caridade' ou de uma 'função social'.

Alguns argumentam que vivemos em uma democracia, e que, na democracia, a maioria decide. Mas será que o mero consenso da maioria faz com que atos que em outras circunstâncias seriam considerados imorais passem a ser morais e perfeitamente aceitáveis? Em outras palavras, se os membros de uma vizinhança fizessem uma votação e a maioria decidisse que um determinado membro desta vizinhança — sob ameaça de punição — deveria efetuar as tarefas domésticas das viúvas, tal votação tornaria todo este arranjo moral?

Chega a ser inacreditável a quantidade de pessoas que ainda aceita o argumento de que, se a vida é injusta, a solução é confiscar a propriedade das pessoas e dar mais dinheiro e mais poder a políticos. É muita sensatez!
Por: Walter Williams, professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.
Tradução de Leandro Roque
Do site: http://www.mises.org.br

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

BILDERBERG 2015: ENCONTRO SERÁ NOS ALPES AUSTRÍACOS

Enquanto a grande mídia evita cobrir o encontro Bilderberg, considerando-o apenas um grupo de debates, inúmeros exemplos de poder da organização e seus impactos diretos sobre a política global foram documentados nos últimos anos.



A localização e datas do encontro do grupo Bilderberg em 2015 foi confirmada. O evento será realizado no opulento hotel Interalpen, nos Alpes austríacos, próximo a Telfs.

Em uma nota de imprensa a polícia austríaca revelou que a segurança para a reunião estará em operação entre 09 e 15 de junho. Como é de costume nos encontros Bilderberg as reuniões acontecem entre 11 e 14 de junho.

A nota à imprensa da polícia observa que a segurança na reunião Bilderberg será parte da mesma operação de segurança para a reunião do G7, que está programada para ocorrer no início da mesma semana, de 07-08 de junho, em Schloss Emau, na Alemanha.

O local da reunião do G7 fica a apenas 3,6 km da fronteira austríaca. Ambos os eventos vão cobrir questões semelhantes e ocorrem em sequência. A cúpula do G7, entre 7 e 8 de junho; a conferência Bilderberg, entre 9 e 14 de junho, avisa o comunicado.

A unidade anti-terrorista COBRA vai estar sob o controle da operação. Uma zona de 30 milhas em torno do hotel será considerada zona área proibida para vôos, incluíndo paragliders e paraquedas.

Os rumores sobre a localização da reunião dos Bilderberg em 2015, no Interalpen Hotel, foram notadas pela primeira vez em agosto de 2014, após investigadores do grupo descobrirem que o hotel estava reservado para os primeiros fins de semana de junho de 2015. A confirmação oficial veio mais cedo do que nos outros encontros, talvez refletindo a grande notabilidade que o grupo vem ganhando nos últimos anos.


O hotel Interalpen está rodeado por florestas e montanhas ao lado de uma estação de esqui e próximo ao aeroporto de Innsbruck. Suas instalações oferecem espaços para reuniões e eventos. Está situado a uma altitude acima de 1.300 metros do nível do mar em um ambiente exclusivo nos alpes austríacos.

O local é propriedade do grupo Liebherr. Conta com um centro de conferências com capacidade para 400 participantes. O hotel já sediou o encontro em 1988. É a terceira vez que a conferência é realizada na Áustria.

O encontro deste ano segue o modelo da reunião realizada em 2011 em St.Moritz na Suíça. Essa região fica protegida por montanhas, florestas e estradas sinuosas.

Enquanto a grande mídia evita cobrir o encontro Bilderberg, considerando-o apenas um grupo de debates, inúmeros exemplos de poder da organização e seus impactos diretos sobre a política global foram documentados nos últimos anos, com diversas acusações de que o grupo é fundamentalmente de natureza antidemocrática.

Em 2010, Willy Claes, ex-secretário da OTAN e membro do Bilderberg, admitiu que os participantes do grupo são obrigados a implementar as decisões políticas que são formuladas nos encontros.

Em 2013, o advogado italiano Alfonso Luigi Marra solicitou ao Ministério Público de Roma para investigar as atividades criminais clandestinas do grupo, questionando se a reunião de 2011 foi responsável pela escolha de Mario Monti como primeiro-ministro da Itália.

Em 2009, o presidente do Bilderberg, Étienne Davignon, se gabava que a criação da moeda única da Comunidade Européia, o Euro, foi uma criação do grupo.

Por: Steve Watson   Do Infowars.
Tradução: Alex Pereira
Publicado no site da Rádio Vox.




domingo, 8 de fevereiro de 2015

SOBRA PETRÓLEO E FALTA ÁGUA. POR QUÊ?

A água é um recurso renovável, fácil de captar e muito mais abundante que petróleo. Mas então por que as represas estão vazias e os tanques de petróleo transbordam?


Não só o Brasil ou países pobres sofrem com a seca. Faltou água nos Estados Unidos em 1999, quando uma seca de verão atingiu a costa leste. Na Austrália, em 2007, a falta de chuvas levou à ruína produtores de frutas à base de irrigação.

Já as reservas de petróleo só crescem — e o preço do barril está em queda porque a produção está alta demais em relação à demanda mundial. De vez em quando o petróleo encarece; mas faltar, não falta.

A resposta para esse mistério é uma simples palavra: preço.

A beleza do mercado de petróleo, onde há concorrência e preços livres, é que a escassez leva à abundância. Se a oferta de petróleo diminui, o preço sobe. Com preço alto, há incentivo para a economia de gasolina entre os consumidores e para a pesquisa de fontes alternativas, novas reservas e processos de extração.

Foi o que aconteceu de 1973 para cá. A crise do petróleo empurrou o mundo para motores mais econômicos, etanol, carros elétricos, pré-sal e petróleo de xisto. O resultado é abundância e preços baixos em 2015.

O petróleo confirma o que economistas já sabem há algum tempo: o mecanismo de informação e de incentivos criado pelos preços é o melhor sistema de alocação de recursos existente. Não é exagero falar em beleza, como fiz ali acima, pois esse fenômeno é dos mais bonitos da economia.

O mecanismo de preços funciona todo dia no setor de alimentação, o mais essencial de todos. Se falta tomate, o preço sobe. É como se emitissem um alerta a todos os envolvidos, desencadeando uma série de mudanças de atitude. No supermercado, a dona de casa se assusta com o preço e coloca menos tomates na sacola. O dono do restaurante reduz o desperdício de tomates e sobe o valor do espaguete ao sugo, empurrando clientes para a pizza quatro-queijos. O importador aumenta o pedido de tomates enlatados da Itália. O agricultor brasileiro percebe que lucraria mais se destinasse parte da fazenda à plantação de tomates. De repente há tomate demais para uma demanda menor. Pronto: a varinha de condão dos preços livres transformou a escassez em abundância.

O chato é que o mercado de água não é assim. A concorrência entre sistemas de água encanada é difícil, pois é caro demais haver empresas com encanamentos paralelos competindo entre si. [Nota do IMB: isso não é necessariamente verdade, como mostra este artigo. Para um relato histórico sobre como havia concorrência nesse mercado, veja este artigo.]

Por isso empresas de água geralmente são monopólios públicos ou privados. Para evitar abusos da empresa dona do monopólio, o preço é regulado ou tabelado pelo governo.

Com o tabelamento, os superpoderes do preço desaparecem. Ele perde a capacidade de distribuir informação e incentivo. As pessoas utilizam demais o recurso mesmo quando ele é escasso. Fornecedores não têm incentivos para pesquisar novas fontes, pois a água é barata demais. No caso dos tomates, é como se a dona de casa continuasse comprando como antes, sem que ninguém se interessasse em aumentar a produção. Uma hora todos percebem que há uma crise de tomates no país.

Nos anos 80, o congelamento de preços deixava prateleiras vazias no mercado. Em 2015, a regulação do preço da água resulta em torneiras secas. Nos anos 80, o mercado negro vendia, com ágio, a carne e o leite que ninguém encontrava no mercado. Em 2015, serão os caminhões-pipa, vendendo a preço livre, que vão nos livrar do desabastecimento causado pela seca — e pela regulação do preço da água.

Três mitos sobre a Sabesp

Muitas falhas podem ser atribuídas à Sabesp, a estatal de saneamento de São Paulo. Mas entre acusações justas há equívocos que exalam pura ignorância econômica. Vejo muita gente dizer, por exemplo, que a seca em São Paulo se agravou porque a Sabesp, ao vender parte de suas ações na Bolsa, "passou a seguir a lógica do mercado", "maximizando lucros e reduzindo investimentos", para "privilegiar acionistas em detrimento do interesse público".

Há nesse raciocínio pelo menos três equívocos graúdos.

Mito 1: "Seguindo a lógica do mercado, a Sabesp reduziu investimentos"

Se a lógica do mercado levasse empresas a reduzir investimentos e privilegiar o lucro dos acionistas, o mundo viveria uma escassez generalizada. Enfrentaríamos falta de Coca-Cola, pois a empresa teria transferido dividendos a acionistas em vez de construir novas fábricas. Supermercados seriam lugares tristes repletos de prateleiras vazias, porque a Nestlé, a Ambev, Unilever e os produtores de frutas e verduras embolsariam lucros em vez de investir o necessário para atender o aumento da demanda.

É verdade que investir em novas tubulações para evitar vazamentos não é tão rentável quanto uma nova fábrica de refrigerantes. No entanto, pela lógica da "maximização de lucros" no longo prazo, a pior coisa que pode acontecer a uma empresa é não ter o que oferecer aos consumidores, como é o caso da Sabesp hoje em dia. A melhor é crescer e conquistar mercados. Por isso previsões de demanda, aquisições, estudos de ampliação e análises do "capex" (o capital destinado a investimentos) são parte do dia a dia de empresas que buscam lucro.

Quem acompanha o mercado financeiro sabe que toda a semana o preço de ações cai porque empresas anunciam projetos e aquisições. Como investimentos geralmente significam menos lucros ou dividendos nos meses seguintes, acionistas interessados no gráfico de curto prazo se livram dos papéis. Isso aconteceu recentemente com ações do Facebook, da Intel, da Microsoft, da Vale, da Lenovo, da Tim, entre muitas outras. O preço da ação costuma se reerguer depois de algumas semanas. Os acionistas mais ligados ao longo prazo entendem que, se a empresa está investindo, terá melhores fundamentos no futuro.

Mito 2: "A Sabesp enriqueceu os acionistas"

Só existe um motivo para uma empresa evitar investimentos e privilegiar os acionistas: se o principal acionista for o próprio governo. No caso de empresas estatais, uma distribuição maior de dividendos resulta em caixa mais gordo aos políticos no poder. E o que político gosta de fazer é gastar dinheiro o mais rápido possível. Diferentemente de donos de empresas, políticos têm um objetivo de curto prazo: a próxima eleição. Poucos resistem à tentação de sacrificar o futuro de estatais ou das contas públicas para gastar em obras ou propaganda.

Foi esse o caso da Sabesp? Se a empresa não sofreu da lógica do mercado, teria sido vítima da lógica da política? Difícil dizer. Segundo esta reportagem da Exame, a Sabesp é uma das empresas de saneamento que mais pagam dividendos no mundo. O governo de São Paulo, dono de 50,3% das ações, é o maior beneficiário desses repasses.

No entanto, entre 2008 e 2013, de acordo com a consultoria Economática, a Sabesp ficou em 28º lugar entre as 30 maiores pagadoras de dividendos do Brasil. O retorno médio aos acionistas foi de 4,9%. É uma boa média, mas bem inferior à Eletropaulo (23%) ou estatais administradas pelo governo federal, como o Banco do Brasil (6,9%).

Sem contar o rendimento das ações, que depende da sorte, os acionistas da Sabesp ganharam de dividendos menos do que se tivessem investido na poupança. "A Sabesp é uma boa pagadora de dividendos, mas não é um caso excepcional", me disse Gianmarcelo Germani, da MoneyMark. "Outras estatais, como a Copel ou a Cemig, pagam dividendos muito superiores."

Mito 3: "Distribuir dividendos vai contra o interesse público"

Se você tem uma empresa e precisa de dinheiro para ampliar o negócio, é geralmente mais barato lançar ações na Bolsa que emprestar no banco. De um dia para o outro, investidores jogam milhões de reais na sua mão. Em troca, esperam uma remuneração anual que, segundo a lei, precisa ser no mínimo 25% dos lucros que você conseguir. As empresas costumam pagar um pouco mais do que manda a lei, para ficar em paz com os acionistas e poder captar mais dinheiro da próxima vez que precisarem.

Se o governo paulista quisesse manter a Sabesp 100% estatal e se recusasse a vender ações, teria que emprestar do BNDES ou de bancos internacionais, ou bancar do próprio bolso investimentos para a ampliação de represas e da rede de abastecimento. Isso significa tirar dinheiro de hospitais e escolas para colocar numa empresa que poderia andar com as próprias pernas. Diversas estatais de saneamento dão prejuízo no Brasil: o rombo que elas causam acaba sendo pago com o imposto dos cidadãos.

É tentador imaginar um acionista milionário nadando no dinheiro enquanto o povo morre de sede, mas isso não passa de ficção marxista. Se a empresa é bem administrada, a participação de investidores provoca melhoria e ampliação de serviços.

É uma tremenda loucura legar a uma estatal algo tão importante quanto o abastecimento de água. Água potável só será abundante quando arranjarmos um jeito de haver concorrência nesse setor, pois monopólios legais (públicos ou privados) sempre vão decepcionar.
Por Leandro Narloch Do site: http://www.mises.org.br

EM BUSCA DA CULTURA

A chamada cultura yuppie mediocrizou os padrões intelectuais dos Estados Unidos


Em artigo escrito já há algum tempo, o publicitário Nizan Guanaes observa que às nossas classes altas falta, sobretudo, cultura. Pura verdade, mas por que somente às classes altas? Ao longo da quase totalidade da história humana, o conjunto dos homens mais cultos e sábios raramente coincidiu com o dos mais ricos e socialmente brilhantes.

“Livros e dinheiro são uma mistura perfeita para elegância, savoir faire e bom gosto”, diz Guanaes. É certo. Mas também é certo que elegância, savoir faire e bom gosto não são propriamente a alta cultura: são a vestimenta mundanizada que ela assume quando desce do círculo das inteligências possantes e criadoras para o âmbito mais vasto dos consumidores abonados, da sociedade chique. São cultura de segunda mão.

O que falta no Brasil não são apenas ricos educados. O que falta são intelectuais capazes de educá-los. Um indício claro, entre inumeráveis outros, é que nenhuma universidade brasileira, estatal ou privada, foi jamais incluída na lista de cem melhores universidades mundiais do Times Higher Education World Ranking de Londres. Não há nessa exclusão nenhuma injustiça. Rogério Cezar de Cerqueira Leite explicou o porquê em Produção científica e lixo acadêmico no Brasil.

Foi talvez sentindo obscuramente a gravidade desse estado de coisas que o próprio Guanaes mandou seu filho estudar na Phillips Exeter Academy, de New Hampshire, tida como a melhor escola preparatória americana, na esperança de colocá-lo depois em alguma universidade da Ivy League, como Harvard, Yale, ou Columbia.

Sem deixar de cumprimentar o publicitário pelo seu zelo paterno, observo que suas próprias ações provam antes o meu diagnóstico da situação do que o dele: se cultura faltasse somente aos homens ricos, bastaria enviar seus filhos a alguma universidade local ou fazê-los conviver com intelectuais de peso em São Paulo ou no Rio, e decorrida uma geração o problema estaria resolvido.

Mas aí é que está: faltam universidades que prestem, e os grandes intelectuais morreram todos, sendo substituídos por duas gerações de tagarelas incompetentes, cabos eleitorais e cultores da própria genitália, como documentei abundantemente em O Imbecil Coletivo (1996) e O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser Um Idiota (2014), além de centenas de artigos, muitos deles neste mesmo Diário do Comércio.

Ricos e até governantes incultos não são, por si, nenhuma tragédia, desde que haja em torno uma classe intelectual séria, capaz de lhes impor certos padrões de julgamento que eles não precisam compreender muito bem, só respeitar.

Foi assim na Europa ao longo de toda a Idade Média e até épocas já bem avançadas dentro da modernidade, quando a casta nobre considerava que a única ocupação digna da sua posição social era a guerra, deixando os estudos para os padres e demais interessados.

O Imperador Carlos Magno só começou a aprender a ler – de má vontade – depois dos trinta anos. Afonso de Albuquerque, sete séculos depois, ainda considerava que saber línguas estrangeiras era coisa para subalternos. A alta cultura não era sinal de posição social elevada, era um ofício especializado. Daí a palavra clerc, “clérigo”, que não designava só os sacerdotes, mas, de modo geral, toda pessoa letrada.

Complementarmente, os homens de estudos eram o que podia haver de mais diferente do grand monde, dos ricos e elegantes. Até bem recentemente, mesmo nos EUA, os intelectuais, sobretudo universitários, primavam por uma vida austera, sem divertimentos nem confortos, a não ser que, por coincidência, viessem eles próprios de alguma família rica.

Tudo mudou nos anos 80, com o advento dos yuppies. Um yuppie é um jovem com diploma de universidade prestigiosa, um emprego regiamente pago em alguma cidade grande, um círculo de amigos importantes que se reúnem em clubes chiquérrimos e uma cabeça repleta de regras de polidez politicamente corretas, um conjunto formidável de não-me-toques que facilitam a aceitação social na mesma medida em que dificultam o pensamento. Foi aí que formação cultural começou a significar elegância, bom gosto e refinamento em vez de conhecimento e seriedade intelectual.

Esse foi um dos danos maiores produzidos pela desastrosa administração Jimmy Carter. Até os anos 70 os EUA ainda tinham a melhor educação do mundo, toda ela fruto da iniciativa autônoma da sociedade. A intervenção estatal, associada ao império do esquerdismo chique e ao açambarcamento de toda atividade cultural pela burocracia universitária, iniciou o processo de degradação intelectual documentado por Russell Jacoby em The Last Intellectuals: American Culture in the Age of Academe e por Allan Bloom em The Closing of the American Mind, ambos de 1987. 

No Brasil, a palavra “Harvard” ainda pode significar altíssima cultura, mas nos EUA ela evoca antes a pessoa de Barack Hussein Obama, que chegou a diretor da Harvard Law Review sem ter ultrapassado o nível das redações ginasianas e depois fez fama de autor com dois livros escritos inteiramente por Bill Ayers, um terrorista doublé de talentoso artista da palavra. 

Nada mais expressivo do vazio intelectual de Harvard do que o sucesso de John Rawls, o qual, segundo a boutade de Eric Voegelin, escreveu uma Teoria da Justiça sem notar que se tratava de uma teoria da injustiça.

O que hoje resta da antiga pujança intelectual americana refugia-se em grupos autônomos, como o círculo de discípulos do próprio Eric Voegelin, as redações de New Criterion e Commentary, meia dúzia de editoras high brow ou o time seleto de scholars que compõem a equipe de Academic Questions, uma revista acadêmica dedicada ao estudo... da decadência acadêmica.

Em comparação com o que temos no Brasil, é muito, é uma abundância invejável, mas, para o antigo padrão americano, é quase miséria. Os EUA só continuam sendo o paraíso dos estudos superiores no sentido yuppie do termo. Não por coincidência, Guanaes cita como protótipo de pessoa culta a riquíssima, chiquíssima e politicamente corretíssima Ariana Huffington, fundadora do Huffington Post, um front de antijornalismo obamista empenhado em manter acesa a chama do “Yes We Can” contra todos os fatos, contra toda evidência e contra todo o descrédito geral.

Não quero me meter na vida da família Guanaes, mas mandar um filho estudar nos EUA – digo nas grandes universidades, e não nos círculos dos happy few -- é um meio de defendê-lo contra a debacle cultural brasileira? Sim, se o que você quer para ele é uma carreira de yuppie e uma alta cultura constituída de “elegância, savoir faire e bom gosto”. Não, se você quer fazer dele um estudioso sério, capaz de compreender o Brasil e ajudar o país a sair do atoleiro.

Digo isso, também, por outro motivo. Cultura não é só aquisição de conhecimento, é a formação de uma personalidade ao mesmo tempo arraigada na realidade histórico-social concreta e capaz de transcendê-la intelectualmente.

Essa formação só é possível se ela começa pela absorção da cultura local na língua local e se prossegue nesse caminho até abarcar essa cultura como um todo e, então sim, tiver necessidade de ampliar o seu horizonte pelo contato mais aprofundado com outras culturas.

Se um jovem ignorante da sua cultura nacional é transplantado para o ambiente acadêmico de outro país, é melhor que ele fique por lá mesmo, pois, se voltar, dificilmente chegará a compreender o lugar de onde saiu.

O Brasil está repleto de diplomados de universidades estrangeiras, cujos palpites sobre a situação nacional superlotam as colunas de jornais com amostras de incompreensão que raiam a alienação psicótica. O projeto “Ciência Sem Fronteiras” está se encarregando de produzir mais alguns com dinheiro público.

Pode-se retrucar que, nas presentes condições, a aquisição da cultura brasileira se tornou inviável porque o jovem interessado não encontra guiamento nem na universidade, nem fora dela. Não tenho resposta pronta para isso, mas desde quando a dificuldade de resolver um problema torna desnecessário resolvê-lo? 
Por: Olavo de Carvalho 
Do site: http://www.dcomercio.com.br/categoria/opiniao/em_busca_da_cultura

sábado, 7 de fevereiro de 2015

'DILMA, A BREVE?'

O governo Dilma acabou. É caso único na história republicana brasileira. Vitorioso nas urnas, duas semanas depois do pleito já dava sinais de exaustão. De um lado, a forma como obteve a vitória (usando da calúnia e da difamação) enfraqueceu a petista; de outro, o péssimo cenário econômico e as gravíssimas acusações de corrupção emparedaram o governo. Esperava-se que Dilma aproveitasse os louros da vitória para recompor a base política e organizasse um ministério sintonizado com o que tinha prometido na campanha eleitoral. Não foi o que aconteceu. Acabou se sujeitando ao fisiologismo descarado e montou um ministério medíocre, entre os piores já vistos em Pindorama.


A presidente imaginou (ingenuamente) que a vitória obtida nas urnas era mérito seu. Pobre Dilma. Especialmente no segundo turno, quem venceu foi Lula. Sem a participação direta do ex-presidente, ela teria sido derrotada. Vale sempre lembrar que, em vários comícios da campanha, a candidata foi “representada” por Lula. Mas ela entendeu que a vitória daria uma espécie de salvo-conduto para organizar a seu bel-prazer o Ministério e as articulações políticas com o Congresso Nacional. Ledo engano. Em um mês de governo, já gastou o crédito dado a qualquer presidente em início de mandato.

Isolada no Palácio do Planalto, a presidente perdeu a capacidade de iniciativa política. E pior: se cercou de auxiliares ruins, beirando o pusilânime. Nenhum governo sério pode ter na coordenação política Aloizio Mercadante. Na primeira presidência Dilma, ele ocupou três ministérios distintos e não deixou sequer uma simples marca administrativa. Foi um gestor de soma zero. Lula, espertamente, nunca o designou para nenhuma função executiva. Conhece profundamente as limitações do ex-senador e sabe o potencial desagregador do petista. Não satisfeita com a ruinosa escolha, Dilma nomeou para a coordenação política o inexpressivo e desconhecido Pepe Vargas. Não é a primeira vez que a presidente mete os pés pelas mãos ao formar sua equipe política. É inesquecível a dupla Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti, mas naquele momento a conjuntura política e o cenário econômico eram distintos.

Assolada pelo petrolão — que pode colocar em risco o seu mandato —, Dilma passou um mês escondida dos brasileiros. Compareceu à posse — que era o mínimo que se poderia esperar dela —, discursou e sumiu. Reapareceu na ridícula reunião ministerial, discursou sobre um país imaginário, brigou com um funcionário e só. Poderia ter aproveitado o tempo para articular a sua base de sustentação no Congresso. Mas não. Delegou aos auxiliares a atribuição presidencial. Ela dá a impressão de que não gosta da sua função, que não tem qualquer prazer no exercício da presidência e que estaria somente cumprindo uma missão (mas para quem?).

Como seria de se esperar, foi duplamente derrotada na eleição para as mesas diretoras da Câmara e do Senado. Na Câmara foi mais que derrotada, foi humilhada. Seu candidato teve quase que o mesmo número de Júlio Delgado e metade dos votos do vencedor. Em outras palavras, ficou a sensação de que o governo tem seguros apenas 25% dos votos dos deputados. Se fosse no final da gestão, seria ruim mas até compreensível. Porém, a nova presidência mal começou. Mais da metade dos parlamentares forma uma maioria gelatinosa, sem forma e que pode a qualquer momento, dependendo da situação política, se voltar contra Dilma.

No Senado, a vitória com Renan Calheiros pode ter vida curta. Ainda no ano passado foi revelada uma lista de parlamentares envolvidos com o doleiro Alberto Yousseff e dela fazia parte o senador por Alagoas. Caso se confirme, veremos novamente o filme de 2007: ele deverá renunciar à presidência para, ao menos, garantir o seu mandato. E naquela Casa — agora com uma participação mais qualificada da oposição — também a maioria dos senadores vai, primeiro, pensar em garantir o seu futuro político e depois em defender o governo.

Dessa forma, Dilma corre perigo. Sem uma segura base parlamentar, tendo, especialmente na Câmara, um presidente que não reza pela sua cartilha; e com uma pífia coordenação política, poderá ter a curto prazo sérios problemas. De forma mais direta: vai ter de engolir uma CPI sobre a Petrobras. E com o que conhecemos até hoje da Operação Lava Jato, o seu mandato pode ser abreviado — caso, evidentemente, se confirmem as denúncias envolvendo a empresa, políticos, empreiteiras e o Palácio do Planalto.

Lula se mantém em silêncio. Estranho, muito estranho. Por quê? Ele, que sempre falou sobre tudo, mesmo quando não perguntado, agora está homiziado em São Bernardo do Campo. Medo? Teria vergonha da compra da refinaria de “Passadilma”? E o projeto mais desastroso da história do Brasil, a refinaria de “Abreu e Lulla”? Como explicar que tenha custado dez vezes mais do que foi orçada? Conseguiria responder sobre a amizade com Paulo Roberto Costa, mais conhecido como “Paulinho do Lula”? O silêncio é uma forma de confissão? Afinal, foi durante a sua presidência que foram gestados estes escândalos.

Teremos um 2015 agitado, o que é muito bom. Nunca um governo na História da República esteve tão maculado pela corrupção, nunca. O que o Brasil quer saber é se a oposição estará à altura da sua tarefa histórica. Se não cometerá os mesmo erros de 2005, no auge da crise do mensalão, quando não soube ler a conjuntura e abriu caminho para a consolidação do que o ministro Celso de Mello, em um dos votos no julgamento do mensalão, chamou de “projeto criminoso de poder”.
Por: Marco Antonio Villa Publicado em O Globo