sábado, 29 de agosto de 2015

POR QUE NÃO SOU LIBERAL. NEM CONSERVADOR. NEM PORCARIA NENHUMA.


Pensemos numa tempestade que se aproxima.

Vivemos um momento novo, um contexto inédito. A esquerda já não reina soberana na cultura nacional. Pessoas identificadas com diversas correntes políticas colocam-se como opositoras do esquerdismo. Mas, afinal, quem somos nós? Sobram incompreensões várias – o que até é normal em uma conjuntura incipiente. Os debates públicos, em redes sociais e mesmo em grupos fechados parecem definir o seguinte: há, do lado direito, o conservadorismo moral e o liberalismo econômico; do lado esquerdo, há o libertarianismo moral e o socialismo econômico; no meio, há o liberalismo moral e econômico. Mas esse aparente arranjo é tão-somente isso, aparente. 

O que escrevo a seguir define o que não somos. O resto é Síndrome do Diagrama de Nolan, na qual o sujeito sente uma irresistível necessidade de encaixotar os posicionamentos políticos e sociais em categorias cartesianas. Quem faz isso (“Veja bem, não sou de direita, sou um liberal na acepção austro-húngara com compreensão antropomoral turco-otomana) já caiu no joguinho marxista de dividir o mundo entre nós e eles e aceita os rótulos vazios e desmoralizantes que lhes são jogados. Na verdade, essa divisão até existe: ou você vive no mundo real, ou orbita gostosamente, ludicamente, oniricamente, no mundo das idéias. E esse mundo de abstração ideológica, quando realizado, bem sabemos (e melhor sabem soviéticos e chineses), é mortal.

***
O verdadeiro conservadorismo não poderia ser chamado de conservadorismo. Não se trata de um ideário, como o são o liberalismo e o socialismo (e.g.), mas de uma percepção acurada do mundo real, do que deu certo e do que deu errado ao longo da História, com a base de uma moralidade sempiterna, de um Direito Natural fundado na Verdade com "v" maiúsculo. Dizer-se conservador, sem atinência a essas ressalvas, é ser qualquer coisa, menos conservador. 

"A política é a arte do possível", diz o conservador: ele pensa nas políticas de Estado como as que intentam preservar a ordem, a justiça e a liberdade.O ideólogo, ao contrário, pensa na política como um instrumento revolucionário para transformar a sociedade e até mesmo a natureza humana. Em sua marcha para a utopia, o ideólogo é impiedoso.

Russel Kirk, A política da prudência, Capítulo 1

Esse eixo de certo e errado fundador daquilo a que se chama conservadorismo foi percebido em diferentes civilizações, em distintas regiões da Terra e em diversos momentos da História. Não o respeitamos sempre, mas ele segue pétreo, impávido colosso. Isso a que se chama erroneamente de conservadorismo não possui um nome preciso; "realismo" ou "verdadismo", talvez, seriam mais exatos, mas "-ismos" não têm nada a ver com perceber e respeitar a realidade dos fatos. O mesmo se passa com aquilo a que se deu o nome decapitalismo. Novamente, não temos um ideário, um conjunto de idéias abstratas, mas o resultado de uma relação natural, próprio dos seres humanos: a relação de trocas.

Aquilo que chamam de conservadorismo é, na verdade, a defesa da Verdade e da tensão certo-errado como mediadores das relações sociais. É algo que varia superficialmente, que muda de aspecto aqui e ali, mas cujo eixo é sempre o mesmo. É o respeito ao princípio mais básico, sólido e irrefutável que o ser humano já percebeu, o princípio da identidade (A = A). Como num exemplo de C. S. Lewis, em Cristianismo puro e simples: 

Os homens divergiram quanto ao número de esposas que podiam ter, se uma ou quatro; mas sempre concordaram em que você não pode simplesmente ter qualquer mulher que lhe apetecer.

Liberalismo e esquerdismo não são opostos a o que se chama conservadorismo; sequer são diferentes, porque não são da mesma categoria, não havendo, portanto, como estabelecer tal comparação. Estes dois e outros são conjuntos de idéias, excelentes subsídios para masturbação intelectual. As boas idéias que têm, aliás, nada mais são do que a defesa da Verdade dos fatos que descrevem, da prevalência do certo sobre o errado.

[...] só nos resta aceitar a existência de um certo e de um errado. As pessoas podem volta e meia se enganar a respeito deles, da mesma forma que às vezes erram numa soma; mas a existência de ambos não depende de gostos pessoais ou de opiniões, da mesma forma que um cálculo errado não invalida a tabuada. 
C. S. Lewis

Da mesma forma, aquilo que chamam capitalismo é, na verdade, a prática de uma interação social inescapável, também por respeito ao princípio de identidade e à Verdade. Somos todos imensamente distintos, e cada um de nós é incapaz de prover para si tudo de que necessita. Por isso, temos de fazer trocas. Podemos ordenar isso desta ou daquela forma, mas o fundamento será sempre o mesmo. Inclusive, em todas as vezes em que se tentou aplicar aquele saco de idéias chamado socialismo, as relações de troca resistiram – clandestinamente (entre os indivíduos) e formalmente (entre Estado e cidadãos).

Aquilo a que se chama conservadorismo e capitalismo são realidade naturais dos seres humanos. Já os ideários não passam de emulações, de representações quase-teatrais da percepção e, mormente, da incompreensão dessas realidades. Levar a Filosofia Política e a prática política ao CAMPO DAS IDÉIAS é fugir da realidade, ignorando o apreço pelo conhecimento das coisas como são e as possibilidades de interação real com elas.

Pensemos numa tempestade que se aproxima. O socialista/esquerdista nega a realidade da tempestade. Diz que ela não existe de fato, que é mera construção elitista, burguesa, aristocrática, para alienar e dominar as massas pelo medo. Saem, então, a destruir os abrigos que as outras pessoas construíram para si, além de, é claro, não se prepararem para as intempéries. Já o liberal/libertário concorda que há algo a que chamam por aí de tempestade, mas não sabe, não quer saber e tem raiva de quem sabe as propriedades e a origem do fenômeno, motivo pelo qual não compreende de fato aquilo com que se deparará. Crê que com um bomdebate de idéias seja possível impedir a insanidade dos socialistas destruidores de abrigos, além de manter o tempo bom e afastar os raios e a chuva. Para ambos, a tormenta chegará e, impassível, ignorará tanto o esquerdista, que seguirá bramindo que ela não existe, como o liberal, que tentará pará-la com um belo guarda-chuva metafórico de idéias.

Enquanto isso, aquele que chamam de "conservador" e "capitalista" terá (1) admitido a realidade da tempestade, (2) compreendido razoavelmente suas verdades, sua constituição, suas variáveis, sua imanência, antes de querer reformá-la ou negá-la, e (3) terá se preparado devidamente para atravessá-la, com a humildade de quem sabe que não pode ver a existência desde fora (contrapondo-a com idéias) e a altivez de quem entende que há uma realidade anterior, ulterior e imutável ao fenômeno temporal que assola a todos.

À tempestade também se pode chamar “vida real”.

***
Dito isso, para efeitos de classificação, creio que podemos aceitar que sejamos conservadores, que estejamos com Roger Scruton e com o conservadorismo:

Conservadorismo significa encontrar o que você ama e agir para proteger isso. A alternativa é encontrar o que você odeia e tentar destruir. Certamente, a primeira alternativa é um modo melhor de vida do que a segunda.

Mas o que somos integralmente vai muito além disso. Não me ocorre melhor qualificação que essa (conservadores) àquilo que somos, mas me arrisco a dizer que 

somos aqueles que não duvidam de que 1 +1 = 2, nem de que 2 x 2 = 4. 

Como bem observou CS Lewis, até podemos errar a soma de vez em quando, mas sabemos que ela está lá, disponível ao nosso acesso, bastando-nos capacitarmo-nos ou abrimo-nos a sua Verdade.

O que somos de fato, só Deus sabe. Literalmente.

Porém, [...] basta agora perguntar ao leitor como seria uma moralidade totalmente diferente da que conhecemos. Imagine um país que admirasse aquele que foge do campo de batalha, ou em que um homem se orgulhasse de trair as pessoas que mais lhe fizeram bem. O leitor poderia igualmente imaginar um país em que dois e dois são cinco. Os povos discordaram a respeito de quem são as pessoas com quem você deve ser altruísta – sua família, seus compatriotas ou todo o gênero humano; mas sempre concordaram em que você não deve colocar a si mesmo em primeiro lugar. O egoísmo nunca foi admirado. Os homens divergiram quanto ao número de esposas que podiam ter, se uma ou quatro; mas sempre concordaram em que você não pode simplesmente ter qualquer mulher que lhe apetecer.

O mais extraordinário, porém, é que sempre que encontramos um homem a afirmar que não acredita na existência do certo e do errado, vemos logo em seguida este mesmo homem mudar de opinião. Ele pode não cumprir a palavra que lhe deu, mas, se você fizer a mesma coisa, ele lhe dirá "Não é justo!" antes que você possa dizer "Cristóvão Colombo". Um país pode dizer que os tratados de nada valem; porém, no momento seguinte, porá sua causa a perder afirmando que o tratado específico que pretende romper não é um tratado justo. Se os tratados de nada valem, se não existe um certo e um errado – em outras palavras, se não existe uma Lei Natural –, qual a diferença entre um tratado justo e um injusto? Será que, agindo assim, eles não deixam o rabo à mostra e demonstram que, digam o que quiserem, conhecem a Lei Natural tanto quanto qualquer outra pessoa?

Parece, portanto, que só nos resta aceitar a existência de um certo e um errado. As pessoas podem volta e meia se enganar a respeito deles, da mesma forma que às vezes erram numa soma; mas a existência de ambos não depende de gostos pessoais ou de opiniões, da mesma forma que um cálculo errado não invalida a tabuada.

C. S. Lewis, Cristianismo puro e simples, Livro I.
POR MATEUS COLOMBO MENDES http://colombomendes.blogspot.com.br/

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A CRISE, PARTE 1 - A POLITIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

As vítimas desta batalha não podem ver que estão sob ataque. Elas não sabem o que é uma arma cultural, ou como a guerra psicológica pavimenta o caminho para sua eventual destruição.


“Devemos organizar os intelectuais”.
Willi Münzenberg

Em Memoirs of a Superfluous Man (Memórias de um homem supérfluo, em tradução livre), Albert Jay Nock explicou que macacos podem ser treinados, mas apenas uma pequena porcentagem de seres humanos pode ser educada. Ele acrescentou que seus alunos nas escolas Ivy League eram, em grande parte, “macaquinhos”. Mas será isto justo, dada a natureza burocrática das universidades de agora e de então? Uma burocracia não pode ensinar a crianças e adultos como pensar. A burocracia pode oferecer testes e currículos padronizados. Pode oferecer programas adaptados a todos, e até mesmo programas de “elite”. Mas tudo é baseado na lei das médias, pensamento grupal, e um tipo de conformismo intelectual. Se Marshall McLuhan estava correto e “o meio é a mensagem”, então se o meio é a escola burocratizada, a mensagem significa a burocratização da mente humana. O fato de que bilhões de dólares têm sido despejados neste tipo de educação, e que produza resultados crescentemente desanimadores ano após ano, atesta um tipo de estupidez em massa – uma preparação para as algemas intelectuais.

Considere o que nossas escolas ensinam agora: o livro texto padrão do ensino médio apresenta o senador Joseph McCarthy como o principal vilão da história americana, e Martin Luther King Jr como o principal herói. Muito pouco é dito sobre George Washington ou os Pais Fundadores. As sempre presentes e subversivas entrelinhas reencaminham-nos para o racismo, o sexismo e o imperialismo americano. Sim, este é o tipo de história que é ensinado nas escolas americanas. Os Pais Fundadores eram proprietários de escravos, certo? George Washington era rico, certo? Mesmo Lincoln era racista. E se um calouro do ensino médio não souber nada mais sobre a história do país, saberá isto. Um julgamento moralista sobre o passado é apresentado, mostrando nossos antepassados como racistas e homofóbicos. Desta forma o passado é descontinuado. Desta maneira uma guerra é travada contra certas tradições e sentimentos, todos apresentados de modo parcial por burocratas educacionais. É claro, tudo que é apresentado é factual – ou na maior parte factual. É apresentado, entretanto, a estudantes que não foram ensinados a ler corretamente. A estes estudantes nunca foram dadas tarefas de organizar suas próprias ideias, desde que suas ideias já foram organizadas para eles. Os fatos utilizados nos livros didáticos são cuidadosamente selecionados com antecedência, através de um processo de cuidadosa edição.

Edmund Burke certa vez comentou sobre os revolucionários franceses:

“É indubitavelmente verdade, embora possa parecer paradoxal. Mas em geral, aqueles que são habitualmente empregados em buscar faltas e mostrá-las são incompetentes para o trabalho de reforma: porque suas mentes não são apenas desguarnecidas de padrões de justiça e bem. Mas, pelo hábito adquirido, não têm nenhum prazer na contemplação destas coisas”. 

O ensino de história tornou-se um tipo de desmontagem do passado, uma difamação de nossos antepassados. Isto não ajuda aos jovens de modo algum. Ao contrário, prejudica-os. Desarma-os frente aos inimigos. Preenche-os com um vago sentimento de culpa. E como diz Burke, deixa-os sem inspiração positiva.

Muitas décadas atrás, Jose Ortega y Gasset observou que a universidade moderna “abandonou quase inteiramente o ensino e transmissão da cultura”. E não há dúvida de que ele estava certo. Ocorreu uma desconexão gigantesca. Falhamos em transmitir nossa história, e também falhamos em transmitir nossa cultura. A outra face desta moeda é a guerra coletivista contra o indivíduo. Amputado de seu patriotismo e senso de autopreservação nacional, o indivíduo é amputado de autonomia por um processo de “facilitação” (dumbing down). Aqueles que são ignorantes ou incompetentes devem ser seres humanos individualmente inúteis. Tais pessoas são facilmente manipuladas por demagogos enganadores.

Robin S. Eubanks escreveu um livro intitulado Credentialed to Destroy: How and Why Education Became a Weapon (em tradução livre: Credenciado para Destruir; Como a Educação Tornou-se uma Arma). Ela argumenta que ultimamente a educação pública tem sido propositadamente projetada para impossibilitar o desenvolvimento intelectual das crianças. Próximo ao fim do livro, na página 358, ela escreve: 

“A educação no século XXI não é mais um fim. É um meio de dominação, enriquecimento e exploração por uns poucos autonomeados. Por isso quando você penetra através das camadas das teorias educacionais contemporâneas... é sempre a consciência humana sendo manipulada e modificada via educação. A educação fica como a última arma na interminável luta contra o indivíduo...”

Fui convidado recentemente para ouvir uma palestra da Srta Eubanks na qual ela disse: “Isto diz respeito a poder político. Não há prosperidade em massa quando poder político e poder econômico são combinados”. E isto é o que as escolas estão tornando possível nas mentes dos estudantes, isto é, a tomada da economia pelo estado. Em seu livro ela destaca educadores que estão citando Karl Marx (de modo elíptico) a respeito da coletivização da mente “pela conversão dos objetivos individuais em objetivos gerais”. De acordo com Eubanks “isto é mais fácil de fazer se o indivíduo é apenas marginalmente letrado com pouco conhecimento factual”.

Isto é uma coisa terrível de se fazer à juventude, e não é a única coisa terrível sendo feita. O ataque à história, a desconexão cultural e a “facilitação” dos alunos é acompanhada por uma franca negação da própria natureza humana. Esta é a parte do assalto à educação que revela o jogo. Por milhares de anos os filósofos têm argumentado a respeito da natureza humana, mas poucos negaram a existência dela. Tal negação é, na verdade, contrária à razão se considerarmos a definição da palavra 'natureza' (como dada pelo Google): “os traços básicos ou inerentes a algo, especialmente quando vistas como características dele” (NT: a busca em português retorna: “o que compõe a substância do ser; essência; combinação específica das qualidades originais, constitucionais ou nativas de um indivíduo, animal ou coisa; caráter inato”). 

Seria absurdo argumentar que seres humanos não têm características básicas ou inerentes. Embora isto seja o que modernos cientistas sociais e educadores têm ensinado a acreditar. Se isto soa estranho, leia o registro no blog Racionally Speaking for 17 November 2008. É intitulado “Existe tal coisa como natureza humana?” (Is there such thing as human nature?) - escrito pelo professor Massimo Pigliucci, um “filósofo” na City University de Nova Iorque. Pigliucci relata um incidente quando estava ministrando um curso na Stony Brook University com outra professora. “Em algum ponto a questão 'natureza humana' veio à tona, e minha colega olhou para mim com um misto de surpresa e piedade. Natureza humana, ela afirmou, é um conceito pitoresco que foi abandonado há muito por estudiosos sérios...”

Em The Blank Slate: The Modern Denial of Human Nature, de Steven Pinker, lemos como a batalha acadêmica contra o próprio conceito de natureza humana tem envolvido “calúnia política” e “ataques pessoais” contra pesquisadores que sustentam a ideia de que a humanidade possui “características básicas e inerentes”. De acordo Pinker, “o tabu sobre a natureza humana não apenas pôs antolhos nos pesquisadores, mas transformou qualquer discussão do tema em heresia que deve ser erradicada. Muitos escritores estão tão desesperados para desacreditar qualquer sugestão de uma constituição inata da natureza humana que lançaram a lógica e a civilidade pela janela”. É claro, isto é esperado na medida em que uma guerra está sendo travada ao nosso redor. Pois esta negação da natureza humana não é um jogo acadêmico tolo. É, de fato, uma guerra travada a sério, de acordo com um conceito estratégico que requer que certas ideias prevaleçam. Estas ideias, verifica-se, estabelecem o estágio de assalto geral aos pilares que sustentam a sociedade civil. Pois como Pinker explica em seu livro: “ A negação da natureza humana tem se espalhado sobre a academia e tem levado à separação entre a vida intelectual e o senso comum”.

Na guerra psicológica, travada para derrotar a sociedade existente, a eliminação do senso comum pode ser entendida como a negação de nossos instintos básicos. Primeiro, uma negação do instinto de autopreservação; segundo, uma negação dos instintos de maritais; terceiro, a negação dos instintos de maternos. Todas estas negações são observáveis nas políticas externa e doméstica dos EUA. Podem ser vistas em nossa política comercial, nas finanças governamentais, nas Varas de Família e – sim – na educação.

O programa educacional da América atual é a negação da natureza humana, do senso comum humano e dos instintos humanos. Para evitar a violência do caos e a guerra civil um país deve possuir várias instituições onde a autoridade legítima seja exercida. Esta autoridade depende do senso comum e do instinto (isto é, da natureza humana). Para funcionar adequadamente uma família requer a autoridade de um pai, que é a autoridade “patriarcal”. Em termos de governo nacional, podemos nos referir ao patriarcado dos Pais Fundadores.

Não me cabe provar que esta autoridade tenha um componente sexual. Pergunte a qualquer mãe de adolescente. Nenhuma prova adicional é necessária. Se a autoridade masculina é negada, o que acontece à masculinidade e o que acontece à autoridade? Elas colapsam? Estará aquela castrada e esta neutralizada? Para conseguir isto tem-se o recurso da defesa da homossexualidade. Pois o masculino, por natureza, rejeita o homossexual e tem – através de toda a história – se oposto à homossexualidade, a qual considera “efeminada”. Pela normalização da homossexualidade, a autoridade natural do masculino é negada. Uma vez mais, a tática adotada preenche um fim estratégico. O caminho está pavimentado para a revolução. A tradição não pode ser mantida na igreja ou no estado. Ela sucumbe e todas as formas de autoridade sucumbem com ela. Pois todas elas estão enraizadas no patriarcado, e o patriarcado não pode coexistir com sua nêmese. Uma profunda anarquia e mutabilidade surge na sociedade quando a moda suplanta os princípios, a permissividade suplanta a disciplina e o emocionalismo oprime o entendimento racional.

Não é coincidência que a educação atual produza efeitos nocivos à autoridade política e religiosa, aos princípios, à disciplina e à razão. O que é intrigante é o modo pelo qual todos estes desenvolvimentos servem ao interesse estratégico de um poder particular e a uma causa particular – quase como se estivéssemos olhando para um método clandestino para desorganizar a sociedade. Surpreenderia se este método tivesse sido desenvolvido muito tempo atrás por Willi Münzenberg (1889-1940) da Internacional Comunista? “Devemos organizar os intelectuais”, disse ele à Terceira Internacional Comunista. “Devemos evitar sermos puramente organizações comunistas”. Pois nestas circunstâncias muitas sementes devem ser plantadas nas mentes de crianças impressionáveis e adultos jovens. Em The ABC of Communism N.I. Bukharin e E. Preobrazhensky escreveram: “o Partido Comunista não é confrontado apenas com tarefas construtivas, pois nas fases iniciais de sua atividade ele é confrontado do mesmo modo com tarefas destrutivas. No sistema educacional... deve acelerar a destruição de tudo que faça da escola um instrumento de domínio da classe capitalista”.

Isto não implicaria a destruição do senso comum, a negação da natureza humana e do instinto, a negação da autoridade legítima e da ordem civil? Münzenberg acreditava que todos os aspectos da sociedade constituem o novo campo da batalha política. E o patamar superior desta batalha encontra-se na educação; e este patamar superior deve ser confiscado na primeira oportunidade. As vítimas desta batalha não podem ver que estão sob ataque. Elas não sabem o que é uma arma cultural, ou como a guerra psicológica pavimenta o caminho para sua eventual destruição. Nossos líderes e nosso povo acreditam que o instinto é um mito usado por reacionários para preservar o privilégio masculino e sua lamentável "homofobia". Fora com a masculinidade! Ela é reacionária! Ela é uma ameaça! 

“Nenhum pastor, e um rebanho”, escreveu Nietzsche. “Todos desejam o mesmo, todos são iguais: aquele que tem outros sentimentos que vá voluntariamente para o hospício”.

A Suprema Corte declarou que casamento é entre homens ou entre mulheres, e que uniões deste tipo não são diferentes da união entre homem e mulher. Isto mostra que o veneno alcançou órgãos vitais. E não temos antídoto. Na verdade, fabricamos o veneno nós mesmos e não precisamos dos criadores do veneno para continuar a produzi-lo.

“Um pouco de veneno de vez em quando e produzem-se sonhos agradáveis”, escreveu Nietzsche. “E muito veneno no fim, por uma morte agradável”.
POR JEFFREY NYQUIST http://jrnyquist.com/
Tradução: Flávio Ghetti

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

MENTIR, MENTIR... ATÉ QUE SE CONSOLIDE A GOVERNANÇA VERDE MUNDIAL

Abandonar os investimentos em combustíveis fósseis – quer dizer, naqueles viáveis para a atividade humana no mundo – é uma palavra de ordem repetida incessantemente nos arraias do fanatismo verde.


É fora de dúvida que aparecendo combustíveis melhores, menos onerosos, mais eficazes ou acessíveis, será bom ir fazendo a devida substituição, com sensatez e com toda a presteza possível.

Mas nada disso está acontecendo. Os verdes exigem desinvestir sem fornecer alternativas viáveis. O que equivale a parar a civilização hodierna.

Com esse objetivo, eles não hesitam em apelar até para desonestidades científicas, políticas ou administrativas.

Um exemplo recente desses procedimentos desonestos deu-se com a Sérvia.

A manobra visa influenciar a conferência de Paris sobre o clima – COP 21, em dezembro –, a qual tentará fazer passar uma espécie de governança mundial ambientalista, ou governo arbitrário verde, por cima dos países soberanos.

A ocasião é propícia para anúncios demagógicos, sobretudo se servirem para estimular a COP 21 no mau caminho, na estrada do fascismo verde. 

Nesse contexto, a Sérvia anunciou objetivos “exemplares” em matéria de corte de emissões de CO2. 

Porém, seu plano “exemplar” na verdade só produzirá o contrário do que anuncia: aumentará em 15% as emissões de CO2, segundo o jornal “The Guardian”, jornal que aderiu à campanha 'desinestimentista', referido pela agência também ‘desinvestimentista’ VoxEurop.

O trapaceiro compromisso climático da Sérvia foi aclamado pela Comissão Europeia como um passo “exemplar” para os demais países da União Europeia.

Faire flèche de tout bois, diz o adágio francês... Inventar pretextos com base em qualquer coisa...

Belgrado anunciou que em relação a 1990 – quer dizer, à era soviética – até 2030 reduzirá 9,8% de suas emissões de CO2. O sensacional anúncio foi feito na presença do vice-presidente da Comissão Europeia e comissário da União energética, Maroš Šefčovič. 

Na realidade, as emissões de CO2 na Sérvia já diminuíram 25% desde 1990, devido ao colapso da vetusta indústria pesada herdada da era comunista.

Assim, somando e subtraindo, o enganoso anúncio dizia na prática que a Sérvia iria aumentar 15,3% a sua emissão do incompreensivelmente denegrido CO2. O aumento do CO2 é ótimo para o meio ambiente, especialmente para os vegetais. Mas o fanatismo verde demonizou esse gás da vida.

Fontes da UE reconheceram que a trapaça da Sérvia ainda poderia ser maior, pois os valores de 1990 incluíam centrais a carvão de um território disputado – o Kosovo – que não serão computadas em 2030.

Mas o vice-presidente da Comissão Europeia louvou a proposta e prometeu apoiar a candidatura Sérvia de adesão à UE, cujos países-membros se comprometeram a reduzir as emissões de CO2 em 40% até 2030.

“O vosso sucesso atual, na adoção das contribuições previstas e determinadas em nível nacional, constitui um passo exemplar”, enalteceu ainda o líder da UE.

O comissário da UE para o Clima, Miguel Arias Cañete, também incensou a enganação de Belgrado, acrescentando que a Sérvia deu provas de “liderança na região” e que o “exemplo” – não se sabe se é o da fraude – deve ser rapidamente seguido pelos seus vizinhos.

“A proposta sérvia é uma anedota, mas agora que a Comissão diz que é um passo exemplar para a adesão à UE, ninguém ri”, comentou Garret Tankosić-Kelly, responsável do think thank bósnio SEE Change Net, também membro da confraria verde.

“Como é que o resto do mundo pode levar a sério as propostas da UE relativamente ao clima, quando podemos demonstrar que esta permite que os países candidatos à adesão manipulem os dados das suas políticas climáticas na esperança de que ninguém repare?”, perguntou.

“É uma espécie de manipulação”, disse uma fonte da UE.

A Sérvia está fortemente engajada numa onda de construção de centrais a carvão – essas sim produtoras de gases poluentes –, para substituir as periclitantes infraestruturas comunistas. 

Recentemente ela assinou um acordo de 600 milhões de dólares com a China, o maior poluidor do planeta, para construir uma nova central em Kostolac.

Mas não há qualquer protesto dos heróis ‘salvadores do Planeta’. Quando a imagem do socialismo ou do comunismo pode ser lanhada em algo, os ambientalistas radicais guardam obsequioso silêncio.

Esses silenciosos arrebentam em aplausos quando alguém anuncia que se jogou no abismo da utopia anticivilizatória, ainda que seja mentindo. O importante para eles é que o mundo ex-cristão corra para a depauperação geral.

20 índices mostram que a poluição na China atingiu níveis 'apocalípticos':


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A GRANDE MURALHA DA CHINA COMEÇA A SE ESFACELAR

A China foi a grande salvadora da economia mundial em 2008. A implantação de um pacote de estímulos sem precedentes como resposta à crise financeira daquele ano gerou uma explosão de investimentos em infra-estrutura

Houve maciços e esbanjadores projetos de construção na China, os quais envolveram a construção de basicamente qualquer coisa que você seja capaz de imaginar. 



Durante um período de apenas dois anos, 2011 e 2012, o qual representou o ápice da tão aclamada "agressiva política de estímulos" do governo chinês em resposta à recessão do mundo desenvolvido, a China consumiu mais cimento do que os EUA consumiram durante todo o século XX!

A voraz demanda por commodities a serem utilizadas nesse boom da construção civil fez com que os países emergentes produtores dessas commodities — como minério de ferro e petróleo — se beneficiassem desse crescimento chinês e fossem também impulsionados por esse crescimento.

Agora, no entanto, a economia chinesa atingiu o muro. O crescimento econômico está abaixo dos 7% ao ano pela primeira vez em 25 anos, e isso segundo as próprias estatísticas oficiais do país — o que significa que os números reais provavelmente estão muito piores do que isso.

O Banco Central chinês vem adotando várias medidas para estimular a cambaleante economia. Nos últimos 12 meses, a taxa básica de juros foi reduzida de 6% para 4,85%, sendo este o menor valor da história.

A fuga de capitais do país vem aumentando. No segundo trimestre de 2015, US$ 766 bilhões saíram do país. No primeiro trimestre, foram US$ 945 bilhões. Só nas últimas sete semanas, mais de US$ 190 bilhões saíram do país. Nas primeiras três semanas de agosto, US$ 100 bilhões já foram embora, não obstante todas as draconianas leiscriadas pelo governo para impedir "saídas ilícitas de capital".

Como consequência dessa maciça fuga de capitais, o Banco Central chinês optou por desvalorizar a moeda chinesa(o renminbi). Essa recente desvalorização da moeda foi uma medida desesperada e de última instância, a qual serviu apenas para sinalizar que a grande era do crescimento chinês está rapidamente chegando ao fim.

Em julho, as exportações tiveram uma queda de 8,3% em relação ao mesmo mês do ano passado. Os analistas esperavam uma queda de apenas 1%, o que mostra que a situação chinesa é pior do que muitos estimam.

O mercado imobiliário chinês também se encontra em uma situação claudicante. Os preços dos imóveis caíram acentuadamente após décadas de contínuo aumento. Para os milhões de chineses que alocaram sua poupança no setor imobiliário, a situação é perturbadora. 

Adicionalmente, a desaceleração econômica chinesa está enviando ondas de choque para todo o mercado de commodities. O índice global de commodities, da Bloomberg, que acompanha os preços de 22 commodities, caiu para níveis que vigoravam apenas no início deste século.

O minério de ferro é uma matéria-prima essencial para alimentar as siderúrgicas da China; e, como tal, é um bom mensurador para o atual estado da construção civil chinesa. O preço do minério de ferro no porto de Qingdao caiu para US$ 53 a tonelada, menos da metade em relação aos US$ 140 que vigoravam em janeiro de 2014.

Já os dados do setor industrial chinês são desanimadores. O Índice de Gerentes de Compras (Purchasing Managers Index — PMI), o qual é um amplamente reconhecido e respeitado mensurador da produção industrial,caiu para 47. Para ser considerado positivo, ele tem de estar acima de 50. Sempre que o PMI cai abaixo de 50, o setor industrial está em contração. Em julho, o valor havia sido de 48. O atual valor é o menor da série histórica. [N. do E.: para o Brasil, este índice está em 47,2].

O bem-estar dos chineses

As duas áreas nas quais a nova riqueza dos chineses se manifestou explicitamente foram essas: telefones celulares e automóveis. Esses dois mercados estão atualmente em contração.

O mercado chinês de telefones celulares é o maior do mundo. No segundo trimestre deste ano, pela primeira vez na história, as vendas de celulares na China diminuíram. Isso é um alerta de que os números oficiais do governo, que indicam um crescimento de 7% do PIB, são fictícios.

Virou moda falar que a China está vivenciando uma "saturação". Essa "saturação" está se tornando uma nova realidade econômica na China. Durante anos, empresas globais se acostumaram — aliás, o termo mais correto seria "foram mimadas" — com um crescimento econômico artificial. Essa era acabou.

O problema é que vendas em queda são um fenômeno muito pior do que era de se esperar de um mercado meramente "saturado". Um mercado "saturado" implica um crescimento de vendas pequeno ou, no máximo, nulo. Quando as vendas entram em queda, é difícil culpar a "saturação". Algo bem mais complexo está acontecendo, algo que os números oficiais se recusam a reconhecer.

Smartphones não são o único bem de consumo que está vivenciando essa débâcle de vendas em queda após anos de crescimento espetacular. Vários outros produtos estão hoje vivenciando essa mesma contração. Por exemplo, a venda de veículos na China — que é o maior mercado de automóveis do mundo, tanto em termos de produção quanto de vendas — declinou em junho e julho em relação ao mesmo período do ano passado. Mas os incrédulos fabricantes seguem construindo plantas e ampliando as instalações.

Consequentemente, a Volkswagen, cujas vendas na China — seu maior mercado consumidor — vêm caindo há três meses seguidos, está hoje empenhada ao máximo em negar que esteja reduzindo sua produção para lidar com um problema de capacidade ociosa. Sim, a VW está cortando a produção, "mas por outros motivos", segundo a empresa. Capacidade ociosa é algo muito terrível no ramo automotivo. Tal fenômeno simplesmente não pode ser admitido publicamente.

O que esperar

A maior ameaça para todo e qualquer regime político é esta: a frustração de expectativas otimistas.

Quando as massas começam a acreditar que as coisas só irão melhorar, e passam a acreditar que a atual ordem política fará com que as coisas só melhorem, então, caso essas expectativas se concretizem no curto prazo, o regime político irá se tornar obrigado a gerar uma contínua expansão da riqueza. Mas se essa expansão desacelerar, e as massas não anteciparem essa desaceleração, o regime político passará a enfrentar um potencial risco de revolução.

Na China, as massas foram ensinadas a acreditar que o sistema sempre irá fornecer os bens. E, ao longo das últimas três décadas, o sistema de fato forneceu os bens. Os investidores que investiram no país acreditaram que poderiam enriquecer quase que automaticamente. Hoje, eles estão descobrindo que as coisas mudaram.

A classe média chinesa que acreditou que o futuro traria dias cada vez melhores, e que saiu às compras por celulares e carros, está agora enfrentando uma nova realidade: as políticas keynesianas baseadas em expansão do crédito sempre geram uma contração. A China ainda não havia vivenciado um ciclo econômico ao estilo ocidental. Agora irá vivenciar.

A China é uma economia majoritariamente industrial. Ao contrário dos países ricos, sua economia urbana não está baseada no setor de serviços; ela se baseia na exportação de bens de consumo. Foi neste setor que todo o crescimento econômico se concentrou nos últimos 35 anos. E é esse setor que agora está em recessão. [N. do E.: o IMB já havia anunciado a iminência de uma recessão industrial na China ainda no segundo semestre de 2012]. 

O mercado de consumo dos bens chineses, localizado no Ocidente, está secando.

É possível argumentar que a contração chinesa seria inerente ao ciclo interno da economia chinesa, até então baseada em crescimento contínuo sem recessão. Em outras palavras, seria possível dizer que a contração é decorrente das políticas do Banco Central da China. Os estímulos gerados pela expansão do crédito teriam se exaurido. Isso significa que a recessão seria estritamente de geração interna. Entretanto, em um país macicamente industrial que exporta para todo o resto do mundo, as causas da contração são duplas: de um lado, a demanda ocidental está em queda; de outro, as políticas de estímulo do Banco Central chinês não mais estão aditivando a economia.

O Banco Central chinês está explicitamente em pânico. Ora eles anunciam que irão enrijecer; ora eles anunciam que irão adotar novas medidas de expansão.

Já o governo chinês nunca diz nada. Ele não se pronuncia. Os políticos chineses são comunistas da velha guarda e, como tal, não devem satisfação a ninguém no eleitorado. Consequentemente, eles ficam de boca fechada. Mas não há dúvidas de que o governo central exige que o Banco Central faça de tudo para manter a economia aquecida. O problema é que, desta vez, o Banco Central não está conseguindo cumprir a exigência.

A dramática queda que vem ocorrendo nos últimos dois meses na bolsa de valores de Xangai é um indicativo da encrenca em que se encontra o governo central chinês. O governo estimulou uma insana especulação na bolsa,o que faz com que seu índice mais do que dobrasse em apenas um ano







O governo está desesperado para impedir que a bolsa continue caindo, mas, até agora, o índice segue afundando feito uma pedra. Tudo indica que já está havendo um pânico para sair desse mercado. Isso é o que se deve esperar. Tudo foi uma bolha, e a bolha está agora em processo de estouro. Isso é o que sempre acontece com bolhas.

Investidores chineses não têm experiência com precificações feitas pelo livre mercado. Eles partiram do princípio de que o mundo foi arranjado de modo a enriquecê-los. Eles esperaram anos para entrar na bolsa de valores, e então, há um ano, eles começaram a entrar em revoadas. Esse foi um caso clássico de estouro de uma bolha de ações gerada por uma economia que vivenciou uma expansão artificial.

Era comum ouvir esse mito a respeito do keynesianismo asiático: ele seria diferente do keynesianismo ocidental. Os economistas keynesianos da Ásia, que não se auto-intitulam keynesianos, recorrentemente argumentavam que um planejamento econômico centralizado pelo governo, por meio do Banco Central, poderia sobrepujar os ciclos econômicos típicos das democracias ocidentais. Eles estão prestes a descobrir que as leis econômicas são imutáveis em qualquer hemisfério.


Autores:

Wolf Richter é comentarista economico e fundador da Wolf Street Corp.

Ambrose Evans-Pritchard é colunista do jornal britânico The Telegraph

Gary North é ex-membro adjunto do Mises Institute, e autor de vários livros sobre economia, ética e história.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

NO ZIMBÁBUE NÃO CHORAMOS POR LEÕES


Nota do tradutor, Mateus Colombo Mendes:
Cecil? Quem? Quando se fala na morte do leão Cecil, no Zimbábue, e na comoção mundial que isso causou, não precisamos refletir muito para perceber a desproporção dessa reação em relação ao descaso generalizado para com a indústria do aborto americana e o genocídio de cristãos em parte da África e da Ásia, para dar apenas dois exemplos.

Mas não é preciso extrapolar muito. Podemos fazer aquilo que os autoproclamados humanistas e defensores dos pobres e oprimidos nunca fazem: escutar os seres humanos, os pobres e os oprimidos.

Os autoproclamados progressistas do mundo todo querem nos salvar de nós mesmos. Por exemplo: dizem defender os pobres dos interesses do capital, quando, no Brasil, dois em cada três trabalhadores desejam abrir seu próprio negócio. Ou seja, dois terços da população economicamente ativa não querem a defesa de cafetões sindicais, mas querem empreender, participar dos arranjos do capitalismo. Da mesma forma, os multiculturalistas que sustentam que o Ocidente não deve se meter nas culturas tribais não perguntam para as mulheres que têm suas vaginas mutiladas se elas não gostariam de um pouquinho da “opressão” cristã, intransigente no que diz respeito à defesa da vida humana.
O princípio dos exemplos acima é o mesmo quando se fala em África. O que não faltam são benfeitores querendo proteger a cultura, as raízes tribais africanas, a proximidade do povo de lá com suas origens. Ignoram que tudo que os africanos querem é progresso de verdade, evolução moral, cultural, tecnológica e administrativa. Aliás, quando podem, os africanos se apressam em fugir da vida selvagem, das guerras tribais e da miséria, refugiando-se no regaço da civilização ocidental, com toda sua opressão judaico-cristã e capitalista. Que o diga Goodwell Nzou (foto), conterrâneo do leão Cecil. Doutorando em Biociências pela Wake Forest University (Carolina do Norte), o jovem zimbabuano escreveu ao The New York Times e colocou todos os pingos nos “is” dos “mimimis” progressistas pela morte de Cecil.

Segue minha tradução para o texto de Nzou:

No Zimbábue não choramos por leões

Minha mente estava absorta em uma leitura sobre bioquímica genética quando mensagens de texto e postagens no Facebook me distraíram:
“Sinto muito pelo Cecil.”

“Cecil vivia perto de sua casa no Zimbábue?”

“Cecil? Quem?”, me perguntei. Quando assisti ao noticiário e descobri que as mensagens eram sobre um leão morto por um dentista americano, o garoto da aldeia que há em mim celebrou instintivamente: um leão a menos para ameaçar famílias como a minha.

Meu entusiasmo murchou quando percebi que o caçador estava sendo pintado como o vilão. Experimentei, então, a mais extrema contradição cultural destes cinco anos em que estou estudando nos Estados Unidos.

Será que todos esses americanos que estão assinando petições entendem que os leões realmente matam pessoas? Será que entendem que toda essa conversa de que Cecil era “amado” ou “muito querido” pela população local era exagero da mídia? Será que Jimmy Kimmel [1] se emocionou porque Cecil foi assassinado ou porque o confundiu com o Simba, do Rei Leão?

Na minha aldeia no Zimbábue, cercada por áreas de conservação da vida selvagem, nenhum leão jamais foi amado, ou merecedor de um apelido carinhoso. Eles são objetos de terror.

Quando eu tinha nove anos de idade, um leão solitário rondava aldeias perto de minha casa. Depois que ele matou algumas galinhas e cabras e uma vaca, fomos orientados a ir para a escola em grupos e a parar de brincar na rua. Minhas irmãs não iam mais sozinhas até o rio buscar água ou lavar pratos; minha mãe esperava por meu pai e meus irmãos mais velhos (armados com facões, machados e lanças) para escoltá-la até o mato para buscar lenha.

Uma semana depois, minha mãe reuniu a mim e a nove dos meus irmãos para explicar que seu tio fora atacado, mas escapara, com apenas uma perna machucada. O leão acabou com a vida na aldeia. Ninguém mais se reunia ao redor de fogueiras à noite; ninguém mais se atrevia a passear até a casa de algum vizinho.

Quando o leão foi morto, finalmente, ninguém se importou se seu assassino era alguém da aldeia ou um caçador de troféus branco, se ele foi caçado ou morto ilegalmente. Nós dançamos e cantamos porque vencemos uma das mais temíveis bestas e porque escapamos do pior.

Recentemente, um garoto de 14 anos de idade, em uma aldeia não muito longe da minha, não teve a mesma sorte. Enquanto dormia na lavoura de sua família – como os aldeões fazem para proteger a plantação do pisoteio de hipopótamos, búfalos e elefantes –, foi atacado e morto por um leão.

A morte de Cecil tampouco atraiu a simpatia de zimbabuanos urbanos, apesar de viverem longe do perigo. Muitos inclusive jamais viram um leão, uma vez que safáris são um luxo para a população de um país cujo rendimento médio mensal per capita não passa de 150 dólares.

Não me entendam mal: para os zimbabuanos, animais selvagens têm um significado quase-místico. Pertencemos a clãs, e cada clã tem um totem de animal como um ancestral mitológico. O meu é Nzou, um elefante, e, pela tradição, não posso comer carne de elefante; fazê-lo seria como comer a carne de um parente. Mas nosso respeito por esses animais nunca nos impediu de caçá-los ou de permitir que sejam caçados. (Eu sou familiarizado com animais perigosos; perdi minha perna direita por causa de uma picada de cobra, quando tinha 11 anos.)

A tendência americana [2] de romantizar os animais a quem deram nomes de pessoas e dedicar-lhes um caminhão de hashtags é algo ordinário, e parece um circo absurdo aos meus olhos zimbabuanos. (Na última década, 800 leões foram mortos legalmente, por estrangeiros endinheirados que desembolsaram muita grana para realizar tais proezas.)

A PETA [3] exige que o caçador seja enforcado. Políticos zimbabuanos estão acusando os Estados Unidos de encenar o assassinato de Cecil, como uma manobra para comprometer a imagem de nosso país. E americanos que não saberiam apontar o Zimbábue num mapa estão aplaudindo a exigência nacional de extradição do dentista, ignorando os relatos de que um elefante bebê teria sido abatido para o banquete do último aniversário de nosso presidente.

Nós, zimbabuanos nos perguntamos por que os americanos se importam mais com os animais africanos do que com as pessoas africanas.

Não nos digam o que fazer com nossos animais, pois vocês permitiram que seus pumas fossem praticamente extintos. Não lamentem o desmatamento de nossas florestas, pois vocês transformaram as suas em selvas de pedra.

E, por favor, não me ofereçam condolências por causa de Cecil, a não ser que vocês também lamentem pelos aldeões mortos pelos irmãos de Cecil, pela violência política [4] ou pela fome. 

***

[1] Jimmy Kimmel, ator e apresentador americano.
[2] Tendência ocidental moderna, podemos afirmar.
[3] PETA, “People for the Ethical Treatment of Animals (PEETA – mais comumente o estilizado PeTA) (em português: Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais) é uma organização não governamental de ambiente fundada em 1980, a qual já conta com mais de 2 milhões de membros e se dedica aos direitos animais” (Wikipedia). A PETA é hoje, na verdade, algo como uma grande corporação do mimimi ambientalista, dedicada a infernizar a vida de quem não comunga de suas opiniões estreitas.

[4] Fatos sobre o Zimbábue, por Alexandre Borges:

É comandado por Robert Mugabe, 91 anos, ditador comunista genocida (perdoem a redundância) que está no poder há 35 anos. Mugabe preside um dos regimes mais corruptos do mundo, mesmo para padrões africanos, e ninguém leva a sério as eleições de araque do país que repetidamente dão vitória a ele. Por ser da etnia "shona", Mugabe não mandou apenas perseguir e exterminar a população branca do país (o que é comemorado por certa esquerda ocidental) mas também 40.000 negros da etnia rival Matabele.

O ditador africano fechou um acordo com o companheiro King-Jong Il em 1980, o que resultou num campo de treinamento de tropas com "tecnologia" genocida nortecoreana. A combinação de um ditador comunista com uma tropa treinada pela Coréia do Norte você pode imaginar.

Ficou famoso por fazer uma reforma agrária em que seu regime torturava e matava os produtores agrícolas, expropriando (ou "coletivizando") suas terras e entregando aos correligionários e amigos, a maioria sem qualquer experiência na área. Resultado: a produção agrícola despencou e o Zimbábue é um dos países com mais famintos e miseráveis do planeta. Mais de 2,2 dos seus 13 milhões de habitantes passam fome. Os companheiros continuam bem alimentados.

O país é conhecido pela pior hiperinflação da história (231.000.000% em 2008). O Zimbábue chegou a imprimir uma nota de 1 trilhão de dólares zimbabuenses. Robert Mugabe é formado em economia pela Universidade de Londres, num curso feito à distância.

O Zimbábue perdeu o controle sobre a AIDS, principal causa das mortes no país, mais até que a violência e a fome.

O regime de Mugabe está em 175º lugar em liberdade econômica no ranking da The Heritage Foundation. É a pior colocação entre os vizinhos e uma das piores do mundo. O direito de propriedade é quase inexistente, o judiciário é subserviente ao regime e é praticamente impossível qualquer atividade econômica sem alguma pilhagem de agentes do governo. Abrir um negócio legalmente leva 400 dias. Seguir todas as regulações do governo inviabiliza qualquer negócio. Importações são complexas e lentas. É o verdadeiro paraíso comunista.

Com leis trabalhistas insanas, típicas de governos de esquerda, muitos trabalhadores, que precisam de licenças governamentais para trabalhar, foram jogados para a informalidade. Grande parte da população está fora do sistema bancário.

Em 1965, quando se tornou independente, o Zimbábue tinha uma das economias mais vibrantes do continente, um setor financeiro moderno e boa infra-estrutura. Nada que um regime comunista não consiga destruir enquanto rouba e empilha cadáveres.
Em 2013, o BNDES (ou seja, seu dinheiro) emprestou US$ 100 milhões ao regime, ou R$ 340 milhões em valores atuais. É um terço de bilhão dos impostos dos brasileiros direto para o bolso de um genocida.

Tirando esses pequenos detalhes, que não chamam atenção do ocidente, voltemos a falar do leão.



Mugabe e Lula - a parceria de sempre entre petistas e ditadores e genocidas.


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

PEDAGOGIA DO OPRIMIDO


Pedagogia do oprimido: uma resenha devastadora do mais famoso livro de Paulo Freire

Know thy enemy!, diz a máxima da Arte da Guerra de Sun Tzu.

Paulo Freire é o “patrono” de nossa educação. Isso, por si só, já deveria ser motivo suficiente para não levá-lo tão a sério. Afinal, o que há para louvar em nosso sistema de ensino, que só produz “vítimas sociais” e nenhum resultado decente nos rankings internacionais?

Não importa: como o homem recebeu vários títulos mundo afora, e porque levou o marxismo para dentro da sala de aula, é exaltado como um gênio, um santo, um ídolo, por todos aqueles que acham desejável transformar o professor num militante ideológico.

A desculpa esfarrapada deles: todos têm suas ideologias, e é impossível deixar a sala de aula livre delas. Se você quer ensinar conhecimento objetivo, matemática, línguas, literatura clássica, então você já seria um doutrinador também, só que do lado da “elite opressora”. Um “burguês alienado” que pretende apenas preservar o status quo, nada mais.

E com esse embuste os doutrinadores disfarçados de professores seguem sua missão “pedagógica”, que tem sido responsável em boa parte pela miséria intelectual de nosso país, uma fábrica de jovens socialistas. Reverter esse quadro é uma das tarefas mais importantes e árduas de todos aqueles que desejam um país mais livre e próspero.

Para tanto, é preciso conhecer melhor o lado de lá, o “inimigo”. Aliás, eis mais uma grande diferença entre a esquerda e a direita: nós, liberais e conservadores, normalmente lemos os principais expoentes da esquerda, enquanto o contrário raramente é verdadeiro.

Com isso em mente, apresento aos meus leitores uma ótima resenha escrita por Marcelo Centenaro do livro mais famoso de Freire, aquele que é carregado em clichês marxistas e que tanta gente influenciou, especialmente nos países menos desenvolvidos (por que será?):
No final de 2014, conversei sobre Paulo Freire com uma pessoa de quem gosto muito e que tem opiniões opostas às minhas. Ela perguntou se eu tinha lido algum dos livros dele. Só A Importância do Ato de Ler, mas há tanto tempo que não me lembro de quase nada, respondi. Nunca li Pedagogia do Oprimido, confessei. Você não pode criticar o que não conhece, acusou ela. Prometi que leria Pedagogia do Oprimido e escreveria uma resenha. Aqui está.

Não é uma leitura fácil. Embora o livro não seja extenso, com pouco mais de 100 páginas, levei dois meses para terminar. Achei a linguagem confusa, com termos inventados ou palavras às quais o autor atribui um sentido peculiar, sem contudo definir claramente esse sentido. Muitas vezes, não há um encadeamento lógico entre um parágrafo e o seguinte, entre uma frase e a próxima, entre uma idéia e outra. Nesse aspecto, lembra muito o estilo do Alcorão. Paulo Freire tem um cacoete de separar os prefixos dos radicais das palavras (co-laboração, ad-mirar, re-criar), como se isso significasse alguma coisa. Há muitas passagens com sentido obscuro (vejam algumas abaixo), muitas repetições, citações de supostas autoridades em educação (como Mao, Lênin, Che, Fidel e Frantz Fanon) e menções freqüentes a que se vai voltar ao assunto depois ou a que já se tratou dele antes.

Logo na introdução, somos brindados com esta afirmação: “Se a sectarização, como afirmamos, é o próprio do reacionário, a radicalização é o próprio do revolucionário. Dai que a pedagogia do oprimido, que implica numa tarefa radical cujas linhas introdutórias pretendemos apresentar neste ensaio e a própria leitura deste texto não possam ser realizadas por sectários.” Minha leitura deste trecho é: “Só quem já concorda comigo pode ler o que escrevo.”

Vou apresentar a seguir o que entendi do livro, procurando ao máximo omitir minhas opiniões, que guardarei para o final da resenha.
Paulo Freire descreve dois tipos de educação, uma característica de uma sociedade opressora, outra característica de uma sociedade livre, ou que luta para se libertar. A educação da sociedade opressora é chamada de “bancária”, sempre entre aspas, porque ela deposita conhecimentos nos alunos. Ou seja, ela reduz o aluno a um objeto passivo do processo educacional, no qual são jogadas informações sobre Português, Matemática, História, Geografia, Inglês, Física, Química, Biologia, Filosofia. Já a educação libertadora é chamada de dialógica, porque se baseia no diálogo entre professores e alunos (educadores e educandos, na linguagem do livro). É um processo do qual todos são sujeitos ativos e cuja finalidade é ampliar a consciência social de todos, especialmente dos alunos, para que se viabilize a revolução que acabará com a opressão. O livro não detalha o que a educação libertadora fará depois dessa libertação. Imaginamos que mantenha os educandos conscientes e imunes a movimentos reacionários e contra-revolucionários.

A educação dialógica se baseia no diálogo e o diálogo começa com a busca do conteúdo programático. Na parte do livro em que há mais orientações práticas, Paulo Freire recomenda que seja formado um grupo de educadores pesquisadores que observará os educandos e conversará com eles, em situações diversas, para conhecer sua realidade e identificar o que ele chama de temas geradores, que possibilitarão a tomada de consciência dos indivíduos. Haverá reuniões com a comunidade, identificação de voluntários, conversas e visitas para compreender a realidade, observações e anotações. Os investigadores farão um diagnóstico da situação. Então discutirão esse diagnóstico com membros da comunidade para avaliar o grau de consciência deles. Constatando que esse nível é baixo, vão apresentar as situações identificadas aos alunos, para discussão e reflexão, com o objetivo de despertar sua consciência para sua situação de opressão. Se o pensamento do povo é mágico (religioso) ou ingênuo (acredita nos valores de direita), isso será superado pelo processo, conforme o povo pensar sobre a maneira que pensa, e conforme agir para mudar sua situação de opressão.
Paulo Freire enfatiza que o revolucionário não pode manipular os educandos. Todo o processo tem de ser construído baseado no diálogo e no respeito entre os líderes e o povo. Porém, os líderes devem ter a prudência de não confiar no povo, porque as pessoas oprimidas têm a opressão inculcada no seu ser. Como exemplo de um líder que jamais permitiu que seu povo fosse manipulado, Paulo Freire apresenta Fidel Castro.

A palavra é o resultado da soma de ação e reflexão. Se nos baseamos apenas na reflexão, temos um “verbalismo” estéril. Se nos baseamos apenas na ação, temos um “ativismo” inepto. Os líderes revolucionários e os educadores devem compreender que a ação e a reflexão caminham juntas de maneira indissociável, ou não se atingem os objetivos da educação e da revolução.
As características da opressão são a conquista dos mais fracos, a criação de divisões artificiais entre os oprimidos para enfraquecê-los, a manipulação das massas e a invasão cultural. Os opressores se impõem em primeiro lugar pela força. Depois, jogam os oprimidos uns contra os outros, para mantê-los subjugados. As pessoas são manipuladas para acreditarem em falsos valores que lhes são prejudiciais, embora elas não percebam isso. Sua cultura de raiz é esquecida e trocada por símbolos vazios importados de fora, num processo que esmaga a identidade do povo.

As características da libertação são a colaboração (que Paulo Freire grafa co-laboração), a união, a organização e a síntese cultural. A colaboração está contida em tudo o que foi dito sobre educação dialógica, que é feita em conjunto pelos educadores e educandos. A união entre os oprimidos é fundamental para que tenham força para resistir contra o opressor. No trecho em que explica a organização, é citado o médico Dr. Orlando Aguirre, diretor da Faculdade de Medicina de uma universidade cubana, que afirmou que a revolução implica em três P: palavra, povo e pólvora. Disse o Dr. Aguirre: “A explosão da pólvora aclara a visualização que tem o povo de sua situação concreta, em busca, na ação, de sua libertação.” E Paulo Freire complementa: “O fato de não ter a liderança o direito de impor arbitrariamente sua palavra não significa dever assumir uma posição liberalista, que levaria as massas à licenciosidade.” Ele afirma que não existe liberdade sem autoridade. Sobre a síntese cultural, diz que a visão de mundo do povo precisa ser valorizada.

Agora, o que penso sobre o texto. O próprio Paulo Freire deixa claro em vários momentos, que seu livro não é sobre educação. Ensinar, transmitir conhecimentos, é uma preocupação da educação “bancária” opressora. Não é essa a função de um educador libertador. Não, sua função é criar os meios para uma revolução libertadora, como foram libertadoras as revoluções promovidas pelos educadores citados: Mao, Lênin, Fidel. Ou seja, a única preocupação do livro é com os meios para viabilizar uma revolução marxista. Se você, meu leitor, é professor e acha que essa é a sua função, talvez encontre conhecimentos úteis no livro. Caso contrário, não há mais nada nele.
Fiz uma coletânea de palavras utilizadas por Paulo Freire que poderiam ter saído de um discurso de Odorico Paraguaçu: “involucra”, em lugar de envolve, “implicitados”, em lugar de implícitos, “gregarizadas”, deve ser um derivado de gregário, “unidade epocal”, em lugar de unidade de tempo, “fatalistamente”, por fatalisticamente, “insertado”, por inserido. Dois erros divertidos: chamar Régis Debray de Régis Debret e achar que o nome do padre Marie-Dominique Chenu OP (onde OP significa Ordo Praedicatorum, Ordem dos Pregadores, sigla que designa a Ordem dos Dominicanos) é O. P. Chenu. É sintomático que alguém com tantas dificuldades com a Língua Portuguesa seja o Patrono da Educação Brasileira, considerado nossa maior autoridade em alfabetização.

Os brasileiros começam a ficar cansados da doutrinação marxista disfarçada de “educação”
Desafio os bravos leitores a encontrar o sentido dos trechos a seguir. A melhor interpretação ganhará um pão com mortadela. Os grifos são de Paulo Freire.

1) «Na verdade, não há eu que se constitua sem um não-eu. Por sua vez, o não-eu constituinte do eu se constitui na constituição do eu constituído. Desta forma, o mundo constituinte da consciência se torna mundo da consciência, um percebido objetivo seu, ao qual se intenciona. Daí, a afirmação de Sartre, anteriormente citada: “consciência e mundo se dão ao mesmo tempo”.»
2) «O ponto de partida deste movimento está nos homens mesmos. Mas, como não há homens sem mundo, sem realidade, o movimento parte das relações homens-mundo. Dai que este ponto de partida esteja sempre nos homens no seu aqui e no seu agora que constituem a situação em que se encontram ora imersos, ora emersos, ora insertados.»

3) «Sem ele [o diálogo], não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação. A que, operando a superação da contradição educador-educandos, se instaura como situação gnosiológica, em que os sujeitos incidem seu ato cognoscente sobre o objeto cognoscível que os mediatiza.»
4) «Esta é a razão pela qual o animal não animaliza seu contorno para animalizar-se, nem tampouco se desanimaliza.»

5) «Somente na medida em que os produtos que resultam da atividade do ser “não pertençam a seus corpos físicos”, ainda que recebam o seu selo, darão surgimento à dimensão significativa do contexto que, assim, se faz mundo.»
6) «Porque, ao contrário do animal, os homens podem tridimensionalizar o tempo (passado-presente-futuro) que, contudo, não são departamentos estanques.» Alguém pode me dizer como é possível tridimensionalizar o tempo?

7) «Uma unidade epocal se caracteriza pelo conjunto de idéias, de concepções, esperanças, dúvidas, valores, desafios, em interação dialética com seus contrários, buscando plenitude. A representação concreta de muitas destas idéias, destes valores, destas concepções e esperanças, como também os obstáculos ao ser mais dos homens, constituem os temas da época.»
Outra característica curiosa são as citações em idiomas diversos. Há citações de Hegel e Karl Jaspers em inglês, de Marx e Erich Fromm em espanhol e de Lukács em francês. Todos esses autores escreveram em alemão. Frantz Fanon, que escreveu em francês, é citado em espanhol. Albert Memmi, que também escreveu em francês, é citado em inglês, e se menciona que há uma edição brasileira de seu livro. Mao é citado em francês. Porque todas essas citações não foram simplesmente traduzidas para o português? E por que Paulo Freire gosta tanto de ditadores, torturadores e assassinos?

Ele afirma que vender seu trabalho é sempre o mesmo que escravizar-se. Porém, desejar não ser mais empregado e tornar-se patrão é escravizar a um outro, tornar-se opressor. Qualquer tipo de contratação de um indivíduo por outro é maligna, é opressão, é escravidão. Só teremos liberdade quando a nenhum indivíduo for permitido contratar ou ser contratado por outro indivíduo. Faz sentido para vocês?
Paulo Freire afirma que os oprimidos devem ser reconhecidos como Pedro, Antônio, Josefa, mas os chama o tempo todo de “massas”. Diz que valoriza a visão de mundo do povo, enquanto não perde uma oportunidade de desdenhar das crenças religiosas desse mesmo povo, chamando-as de mágicas, sincréticas ou mistificações. E ele se dizia católico. 

Como a opressão é uma violência, qualquer violência cometida pelos oprimidos contra os opressores é sempre uma reação justificada. É um raciocínio assustador. Nas palavras dele: “Quem inaugura a tirania não são os tiranizados, mas os tiranos. Quem inaugura o ódio não são os odiados, mas os que primeiro odiaram. Quem inaugura a negação dos homens não são os que tiveram a sua humanidade negada, mas as que a negaram, negando também a sua.” Paulo Freire considera justificados a tirania como resposta a uma tirania anterior e o ódio como resposta a um ódio anterior. E nega a humanidade de quem ele resolver chamar de opressores.
Mais um trecho escabroso: «Mas, o que ocorre, ainda quando a superação da contradição se faça em termos autênticos, com a instalação de uma nova situação concreta, de uma nova realidade inaugurada pelos oprimidos que se libertam, é que os opressores de ontem não se reconheçam em libertação. Pelo contrário, vão sentir-se como se realmente estivessem sendo oprimidos. É que, para eles, “formados” na experiência de opressores, tudo o que não seja o seu direito antigo de oprimir, significa opressão a eles. Vão sentir-se, agora, na nova situação, como oprimidos porque, se antes podiam comer, vestir, calçar, educar-se, passear, ouvir Beethoven, enquanto milhões não comiam, não calçavam, não vestiam, não estudavam nem tampouco passeavam, quanto mais podiam ouvir Beethoven, qualquer restrição a tudo isto, em nome do direito de todos, lhes parece uma profunda violência a seu direito de pessoa. Direito de pessoa que, na situação anterior, não respeitavam nos milhões de pessoas que sofriam e morriam de fome, de dor, de tristeza, de desesperança.»

O fato é que ninguém pode proibir ninguém de comer, vestir, calçar, educar-se, passear ou ouvir Beethoven. E ninguém pode exigir comer, vestir, calçar, educar-se, passear ou ouvir Beethoven às custas dos outros.
Uma última citação abjeta: “Mesmo que haja – e explicavelmente – por parte dos oprimidos, que sempre estiveram submetidos a um regime de expoliação, na luta revolucionária, uma dimensão revanchista, isto não significa que a revolução deva esgotar-se nela.” A revolução não deve se esgotar no revanchismo, mas o revanchismo é parte natural dela. Como alguém que escreveu essas monstruosidades nunca foi processado por incitação à violência e apologia do crime? Como alguém com um pensamento tão anti-social pode ser sequer ouvido, quanto mais cultuado como Patrono da Educação Brasileira?

Chega de doutrinação marxista! Fora Paulo Freire!
Por: Rodrigo Constantino Do site: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

ÍNDICE DE MISÉRIA DISPARA...

Índice de Miséria dispara e explica boa parte da revolta com governo

Somatório de taxa de desemprego e taxa de inflação é o maior dos últimos anos


O economista americano Arthur Okun (1928-1980) é considerado o criador do “índice de miséria”, um indicador que resulta da soma da taxa de inflação com a taxa de desemprego. Okun sabia que tanto a inflação, o pior “imposto” para os pobres, quanto o desemprego são doenças econômicas graves, porque ambos têm efeito devastador sobre o bem-estar da população. Os mais pobres sofrem mais, são os mais afetados por essa perversa conjunção de fatores econômicos.

Pois bem: o Brasil já vive uma severa estagflação, e os economistas escutados pelo Boletim Focus do Banco Central já esperam recessão superior a 2% este ano, e pela primeira vez um quadro recessivo também em 2016. No fundo, tais previsões parecem ainda otimistas demais, e a queda da atividade em 2016 deverá ser maior.




Com esse quadro de recessão, claro que a taxa de desemprego irá sofrer mais. E como a inflação é um fenômeno monetário, ela não necessariamente alivia quando o PIB despenca. Os keynesianos até hoje não compreendem esse fenômeno, e por isso sempre acham que a inflação vai ceder por conta da menor atividade econômica. Não necessariamente, como os Estados Unidos viram na década de 1970 e o Brasil vê hoje, uma vez mais.

Dessa forma, temos o pior quadro possível para a economia, especialmente para os mais pobres: taxa de desemprego em alta e taxa de inflação extremamente resiliente. Isso não é “economês”, e sim uma realidade trágica para milhões de famílias, que sentem a insegurança do desemprego batendo à porta e a mordida do dragão inflacionário no bolso toda vez que faz compras. O Brasil sob o PT está empobrecendo rapidamente, e o índice de miséria mostra bem isso:

Fonte: IBGE

O patamar do índice de miséria não tem precedentes nos últimos anos, e mesmo em 2008, no auge da crise internacional, ele não chegou no mesmo nível assustador. O grande vilão, até agora, é a inflação, em quase 10% ao ano. Mas a taxa de desemprego já aponta para cima, e poderá chegar nos 10% em breve também. Se isso ocorrer, teremos um índice de miséria de incríveis 20%, que colocará o Brasil numa situação terrível em relação ao resto do mundo:


A Argentina, o patinho feio da região, tem um índice acima de 30%, e a Venezuela, caso perdido, tem um acima de 80%. O Brasil petista está se esforçando para chegar lá. A miséria aumenta, a sensação de desesperança cresce, e a presidente Dilma faz cara de paisagem, inclusive desqualificando as manifestações populares que levaram quase um milhão às ruas neste domingo. É muita insensibilidade, muita falta de empatia, muito descaso para com todos aqueles milhões de brasileiros sofrendo com as trapalhadas do governo.

Será que teremos de alcançar o patamar absurdo de 30% de índice de miséria para os políticos compreenderem que é imperativo retirar o PT do poder, em vez de fazer conchavos para mantê-lo como um zumbi até 2018?

Por: Rodrigo Constantino  Do site: http://veja.abril.com.br/b/rodrigo-constantino

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

ILUSÕES DEMOCRÁTICAS ( 1 )

Um direito não é algo que exista em si, é apenas o efeito da obrigação. Proclamar um direito sem definir o titular da obrigação correspondente é cuspir bolhas de sabão, é fingimento histérico. Foi por isso que Deus ditou a Moisés Dez Mandamentos, dez obrigações, não dez direitos.


Um “princípio”, em filosofia, é uma afirmativa autofundante e universalmente válida, que portanto não depende de nenhuma outra nem é limitada por quaisquer considerações externas.

Um mecanismo bem conhecido da mente humana, no entanto, faz com que as afirmativas mais débeis e incertas sejam tomadas como princípios absolutos justamente porque os seus propugnadores não sabem fundamentá-las nem são capazes de atinar com as conseqüências da sua aplicação. Despida de toda conexão lógica e de toda ligação com a realidade da experiência, a idéia solta paira no ar como uma divindade indestrutível, tanto mais hipnoticamente persuasiva quanto mais idiota.

Todos nós gostamos de viver numa democracia. No mínimo, acreditamos, como Churchill, que ela é o pior dos regimes, excetuados todos os outros. Quando vemos a facilidade com que ela se autodestrói, cedendo lugar a toda sorte de tiranias, ficamos consternados e imaginamos que isso se deve à concorrência desleal de concepções antagônicas. Mas essas concepções não teriam o poder mágico de obscurecer as vantagens óbvias de viver numa democracia se esta mesma não sofresse de alguma debilidade intrínseca que a torna vulnerável mesmo aos ataques mais grosseiros e imbecis.

A debilidade principal da democracia reside, segundo entendo, no fato de que, sendo uma excelente idéia prática e nada mais, ela buscou desde o início escorar-se em fundamentos teóricos falsamente absolutos que a colocam num estado permanente de autocontradição e têm de ser diariamente negados, relativizados ou atenuados para que ela possa continuar funcionando. A democracia vive de expedientes antidemocráticos e sorrisos amarelos.

O primeiro e o mais capenga desses fundamentos é a noção de que o ser humano nasce investido de “direitos inalienáveis”. Um direito, como demonstrou Simone Weil no seu majestoso livro L’Enracinement, não é nada senão uma obrigação de alguém mais. Se digo que as crianças têm o direito à alimentação, significa que alguém tem a obrigação de alimentá-las. Um direito não é algo que exista em si, é apenas o efeito da obrigação. Proclamar um direito sem definir o titular da obrigação correspondente é cuspir bolhas de sabão, é fingimento histérico. Foi por isso que Deus ditou a Moisés Dez Mandamentos, dez obrigações, não dez direitos. Mas, quando o Rei Luís XVI disse que A Declaração dos Direitos do Homem nada seria sem uma Declaração dos Deveres, cortaram-lhe a cabeça. A democracia começou tomando uma conseqüência como princípio e matando quem percebesse a inversão.

Isso não quer dizer que os direitos fossem errados, na prática. O problema é que nenhuma sociedade pode sobreviver sem impor obrigações. Como as obrigações foram banidas da esfera dos princípios, a incumbência de defini-las acabou cabendo à legislação comum, donde resultou a criação desse monstrengo que é o poder legislativo permanente, uma corporação de centenas de pessoas que passam o tempo todo criando obrigações e proibições para todas as outras. Milhares, centenas de milhares de obrigações e proibições. Leis em quantidade inabarcável por qualquer cérebro humano. Era preciso ser muito sonso para não perceber que por essa via o Estado logo se tornaria o mediador onipresente de todas as relações humanas, estrangulando a liberdade em nome da qual os direitos foram proclamados.

[Continua] 
Por: Olavo de Carvalho  Publicado no Diário do Comércio.