sexta-feira, 4 de setembro de 2015

UM BRASIL QUE NUNCA EXISTIU ATÉ AGORA

O Brasil pode estar ganhando muito mais do que perdeu com a descida da Petrobras aos nove círculos do inferno para onde foi arrastada durante os três últimos governos da República. Nunca se roubou tanto da brava gente brasileira, embora se tenha roubado sempre ─ e provavelmente se continuará roubando enquanto o país, na prática, for propriedade do “Estado” e obedecer à sua regra número 1, pela qual é obrigatório, para quem quer produzir alguma coisa, pedir licença a quem não produz nada.


Mas há sinais concretos de que o espetacular surto de corrupção dos últimos anos, quando nossos atuais governantes decidiram transformar o uso privado do patrimônio público em programa, método e sistema de administração, está oferecendo uma oportunidade inédita ao Brasil do futuro ─ a de deixá-lo mais resistente do que jamais foi às epidemias de criminalidade oficial causadas pelos que mandam no governo, dentro e em volta dele, e que agora chegaram ao seu grau de intensidade máxima.

Essa recompensa será a passagem do país a uma situação até agora praticamente desconhecida na história brasileira: a de funcionamento pleno de um estado de direito no território nacional. O trabalho para isso está sendo feito numa modesta jurisdição local, a de Curitiba, pelo juiz Sérgio Moro, titular da 13ª Vara da Justiça Federal, pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. Ninguém está dizendo aqui que o Brasil perdeu pouco, porque a verdade é que perdeu muito. Provavelmente nunca se saberá ao certo ─ a conta começa num número mínimo de 6 bilhões de reais, estimativa oficial da própria Petrobras para o prejuízo sofrido com esse redemoinho de corrupção que a empurrou para o precipício, e vai até cifras não mapeadas pela aritmética comum.

Mas, por maior que seja a perda, sempre será apenas dinheiro ─ e a sabedoria popular diz que tudo o que pode ser pago com dinheiro é barato. Caras, mesmo, são aquelas coisas que o dinheiro não consegue comprar. Uma das mais preciosas é a segurança trazida pelos regimes em que o cidadão vive, no dia a dia da vida real, sob o comando da lei. Não é possível haver civilização se não há estabilidade, e não é possível haver estabilidade sem um sistema judicial que funcione com clareza, para todos e durante o tempo inteiro. Onde a aplicação da lei é incerta, não há lei. Onde não há lei, não pode haver liberdades públicas ou indivi­duais, nem igualdade entre as pessoas, nem proteção verdadeira aos direitos de ninguém; não pode haver democracia.

O esforço do juiz Moro no processo do petrolão, junto com os procuradores federais e os agentes da PF, está colocando a sociedade brasileira sob o império da lei ─ the rule of law, como se diz no direito público dos Estados Unidos e da Inglaterra. Isso não tem preço. A força que realmente sustenta os procedimentos da Justiça Federal na Operação Lava-Jato é a obediência permanente à letra da lei por parte dos responsáveis pelo processo. Não adianta nada buscar a justiça se não há nessa busca o respeito às leis em vigor no país. Elas são as únicas que existem, e é com elas que o Poder Judiciário tem de trabalhar; combater a impunidade não autoriza ninguém a passar por cima do direito de defesa, da obrigação de provar claramente cada acusação feita e de qualquer regra escrita nos códigos da Justiça penal.

Agir dentro da lei ─ é o que o Judiciário federal está fazendo, e é por isso, justamente, que sua conduta está sendo tão decisiva para o avanço do estado de direito no Brasil de hoje. Os fatos, aí, são perfeitamente claros. Todas as decisões do juiz Moro, sem nenhuma exceção, estão sujeitas ao julgamento de tribunais que ficam acima dele; os advogados dos acusados têm o direito de recorrer a essas autoridades superiores contra qualquer dos seus despachos, e vêm fazendo isso desde que o processo começou. Em praticamente todos esses recursos as decisões de Moro foram confirmadas.

Seu trabalho está sendo vigiado o tempo todo pelos 27 desembargadores das oito turmas do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede em Porto Alegre, mais os 33 ministros do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, e, no fim da linha, os onze ministros do Supremo Tribunal Federal. Além disso, ele despacha sob o olhar direto dos onze procuradores federais e dez delegados da PF, pelo menos, que dão expediente na Operação Lava-Jato ─ ao todo, contando com ele próprio, um exército de 93 pessoas. O que mais estaria faltando?

O processo do petrolão, na verdade, é o exato contrário do que têm afirmado desde o começo muitos dos advogados que lideram a defesa ─ mais, naturalmente, o governo e todo o seu sistema de apoio. Sua ideia-mãe, com variações aqui e ali, é que Moro, o Ministério Público e a Polícia Federal estão criando um “regime de exceção” no Brasil, um “estado policial” que nega o direito de defesa, persegue cidadãos sem culpa formada, age com crueldade e prepara um golpe para a “volta da ditadura”. Estariam mancomunados para tirar a liberdade de empreiteiros de obras, diretores da Petrobras, doleiros, o tesoureiro nacional do PT e quem mais estiver sendo investigado por corrupção na Justiça Federal do Paraná. Como assim? Ninguém explica, pois não dá para explicar como seria possível montar uma conspiração secreta com a participação de quase 100 pessoas sem que ninguém falasse nada.

É incompreensível, também, alegar arbitrariedade, violência contra os acusados ou descaso com a produção de provas quando nada menos que 28 cidadãos, todos altamente postados na vida, concordaram até agora, com a plena assistência de seus advogados, em confessar suas culpas, devolver dinheiro ganho ilegalmente e denunciar cumplicidades nos delitos que praticaram. Réus já receberam sentenças das quais não vão apelar. Mais: a “delação premiada”, que levou os envolvidos a colaborar com a Justiça para aliviar suas penas, só existe porque foi criada por lei. Não é uma lei da “ditadura” ou do ex-­presidente Fernando Henrique ─ é a Lei 12850, sancionada em 2013 por ninguém menos que a própria presidente Dilma Rousseff, que ainda na campanha eleitoral do ano passado a apresentava como uma das suas grandes realizações e hoje se diz indignada com ela.

Uma discreta informação surgida no noticiário recente talvez seja a comprovação mais luminosa, pois também é a mais simples, da mudança real que o avanço do estado de direito está produzindo no Brasil. O empresário Emílio Odebrecht, segundo a notícia, queixou-se aos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique, em conversas particulares, por não estar conseguindo fazer nada pela libertação de seu filho Marcelo, acusado de corrupção na Petrobras e preso há dois meses em Curitiba. Lula e FHC disseram-lhe palavras de consolo ─ e isso foi tudo que puderam fazer. Não é preciso pensar mais do que dois minutos para ver que a ação da Justiça está fazendo aparecer um país que jamais existiu antes por aqui.

A Odebrecht é o quarto maior grupo empresarial do Brasil; faturou perto de 34 bilhões de dólares em 2014, emprega cerca de 170 000 pessoas diretamente e influi nos negócios de centenas de outras empresas. Desde quando um dos empresários mais potentes do Brasil, íntimo do primeiríssimo escalão do poder, fala com dois ex-presidentes da República e não consegue tirar o próprio filho da cadeia? Não é assim que este país vem funcionando há 500 anos. Temos leis que não acabam mais ─ mas para que servem se não são aplicadas sempre, por igual e para todo mundo? A Rússia comunista também tinha belíssimas leis ─ previam até a liberdade de imprensa, o voto livre e a independência de poderes. E daí? Lei não é justiça.

Só poderá haver esperança de uma sociedade justa se estiver em funcionamento genuíno um sistema judiciário independente, previsível e capaz de aplicar a lei sempre da mesma maneira ─ e em que os donos do poder não possam demitir os juízes que os incomodam. É o que está acontecendo no petrolão. Marcelo Odebrecht não está preso porque é rico e preside uma empresa gigante. Está preso porque a Justiça, com apoio em fatos, investiga quanto ele está devendo ao Código Penal.

O tiroteio disparado contra Sérgio Moro é uma das mais agressivas campanhas em favor da negação da Justiça que o Brasil já conheceu. É também a comprovação de quanto a ideia de viver sob o império da lei é inaceitável para as forças que mandam na vida pública brasileira. Trata-se do condomínio formado por coronéis da política, que operam nas grandes capitais e andam de jatinho, mas continuam dentro do seu carro de boi mental de sempre, por empresas que vivem de fazer negócios com o governo e por toda a extensa população de parasitas cujo bem-estar material depende, de um jeito ou de outro, da máquina pública. São representados hoje, melhor do que nunca, pelo governo do PT, seu aliado, sócio, protetor e protegido ─ e para manterem o fazendão que chamam de “Estado” estão convencidos de que tudo serve.

Vale, por exemplo, dizer que o combate à corrupção na Petrobras está fazendo o Brasil perder “1% do PIB”, como descobriu a presidente Dilma. A Lava-Jato não pode “paralisar” a economia brasileira, dizem lideranças do PT e do governo ─ por essa maneira de ver as coisas, a economia só crescerá se a ladroagem estiver liberada. A delação de um dos acusados, algum tempo atrás, foi vista como uma manobra internacional para “prejudicar a viagem da presidente aos Estados Unidos”. O ex-presidente Lula compara o combate judicial à corrupção com a perseguição aos judeus na Alemanha nazista.

Vale tudo, também, na tentativa permanente de denunciar o juiz, procuradores e policiais que investigam o petrolão como delinquentes dispostos a violar a lei para satisfazer a “opinião pública”. Personalidades tidas como juristas de elevado saber mostram-se tão convencidas de suas próprias certezas que não pensam mais direito no que estão falando. Uma delas, recentemente, sustentou que o juiz Moro é “um cidadão do sul com volúpia para prender pessoas” ─ e que as confissões dos acusados estão sendo feitas “sob tortura”.

No seu entender, o sujeito que “está acostumado com um bom padrão de vida e é posto numa sala que não tem nem privada”, como ocorre com os empreiteiros e barões da Petrobras presos em Curitiba, “está sendo torturado”. Para aperfeiçoar seu argumento, disse que um preso é um preso, e outro preso é outro preso. “Se você viveu numa favela”, comparou, dá para aguentar uma cela miserável; com um doutor já não é a mesma coisa. Que mais seria preciso para comprovar a angústia do Brasil velho com a mudança ora em execução pela Justiça Federal?

O autor desses pensamentos, enfim, parece ter falado por todos os que combatem os processos do petrolão ao afirmar que “nem no tempo da ditadura” houve tanto desrespeito à lei numa investigação criminal. É mesmo? Se os que dizem isso tivessem um dia levado um bom inquérito policial-militar no lombo, notariam bem depressa as diferenças entre uma época e outra; saberiam, também, que uma cela no DOI­-Codi não tem absolutamente nada a ver com o xadrez da PF de Curitiba.

É um bom sinal para o Brasil que, após um ano inteiro de esforço, tenha dado resultado zero a tentativa de demonstrar que não há corrupção no governo, ou só um pouquinho, e que tudo não passa de uma armação contra os interesses populares. A campanha fracassou porque sempre foi uma missão impossível ─ pretendeu convencer a maioria da população a acreditar que os reis não estão nus, e essa não é uma opção disponível. O trabalho do juiz Sérgio Moro está mais vivo hoje do que estava quando começou. O estado de direito agradece.
Por: J. R. Guzzo   Publicado na versão impressa de VEJA

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A BATALHA PELA LIBERDADE ECONÔMICA


A batalha pela liberdade econômica – todos os louvores às empresas Uber e Lyft

Eis uma pergunta simples e direta: se um indivíduo é cumpridor das leis, possui licença para dirigir, possui um carro novo, confiável e com a manutenção em dia, e possui todos os seguros necessários, há algum motivo racional para proibi-lo de fazer serviços de transporte de pessoa física?

Ou, colocando de outra maneira: se você, na condição de consumidor, decidir contratar os serviços desse indivíduo, que direito tem uma terceira pessoa de impedir essa transação voluntária, mutuamente benéfica, e que não agride terceiros inocentes?

Infelizmente, os taxistas assumiram o papel dessa "terceira pessoa".

As prefeituras de várias cidades ao redor do mundo concederam um poder monopolista a empresas de táxi: o direito de impedir a entrada de concorrentes no mercado. Na prática, as prefeituras criaram uma reserva de mercado legal para os taxistas.

Em alguns casos, esse monopólio assume a forma de um direito exclusivo concedido pelo governo a indivíduos particulares para fornecer serviços de táxi. Em outros casos, o número de licenças para operar serviços de táxi é fixo, de modo que um aspirante a taxista tem de comprar uma licença já em posse de outro taxista.

Na cidade de Nova York, essa licença é chamada de medalhão. Medalhões individuais (pertencentes a taxistas) já foram vendidos por preços que chegam a US$ 700 mil. Já os medalhões corporativos (pertencentes a empresas de táxi) já chegaram a ser vendidos por US$ 1 milhão. Em outras cidades — como Miami, Filadélfia, Chicago e Boston —, as licenças giram entre US$ 300 mil e US$ 700 mil. Estes são os preços de uma licença para ter um táxi e transportar passageiros. [N. do E.: como demonstrado neste artigo, ter um medalhão de táxi em Nova York foi o melhor investimento do século XX].

Quando um comitê da prefeitura decide quem terá o direito de entrar no mercado de táxis, um potencial entrante tem de entrar na fila para solicitar um "certificado de necessidade e conveniência para o público". Quando isso ocorre, advogados dos taxistas que já estão no mercado — mais frequentemente advogados das empresas de táxi — são enviados para a audiência do comitê para argumentar que não há necessidade nenhuma (não há conveniência para o público) de haver um novo participante no mercado.

Já quando os medalhões são vendidos, o potencial comprador tem de ter o dinheiro em mãos ou tem de se demonstrar apto a conseguir um empréstimo. Nos EUA, há até uma empresa — a Medallion Financial Corp. — especializada em conceder empréstimos para a compra de medalhões.

[N. do E.: no Brasil, além dos custos para obtenção da licença, em cidades como Belo Horizonte ou São Paulo a placa de taxista chega a custar legalmente valores entre 90 e 120 mil reais, além dos custos de transação incorridos. No mercado negro, os valores podem variar significativamente e de cidade pra cidade. Em municípios como São Paulo, uma licença para atuar em local privilegiado pode alcançar no mercado negro valores de até 150 mil reais, e uma placa em Porto Alegre pode custar mais de 400 mil reais.]

Quais são, portanto, os efeitos da regulação estatal do mercado de serviços de táxi? Quando um indivíduo tem de apresentar um argumento jurídico, perante um comitê estatal, para entrar em um mercado, quem tem mais chances de sair vencedor: um indivíduo com recursos limitados ou empresas de táxi já estabelecidas e com poderosos advogados na folha de pagamento?

Não sei quanto a você, mas a minha aposta está nas empresas de táxi já estabelecidas, que saberão sempre utilizar o sistema estatal a seu favor para manter os potenciais concorrentes fora do mercado. 

Uma pergunta natural é: quem são as pessoas menos propensas a conseguir concorrer com advogados corporativos e que não têm dinheiro de sobra para conseguir comprar uma licença? Certamente, pessoas de média ou baixa renda. Há várias pessoas que têm carros, que estão desempregadas e que poderiam entrar no ramo de transporte de passageiros, obtendo assim uma renda anual razoável. Mas elas hoje estão proibidas de fazer isso, pois o estado não deixa.

Eis que entram em cena as empresas Uber e Lyft, que prestam serviços de transporte de pessoas. Ambas as empresas utilizam os serviços de motoristas autônomos (conhecidos como freelancers) cadastrados nessas empresas, os quais fornecem serviços de transporte com seus próprios automóveis. Ambas as empresas operam por meio de aplicativos de smartphone, os quais permitem que os usuários, por meio de um clique no celular, peçam serviços de transporte. Esses pedidos são então direcionados para motoristas cadastrados na Uber e na Lyft, os quais então fornecerão serviços de transporte para essas pessoas.

A legalidade dessas empresas está sendo violentamente questionada por empresas de táxi e por políticos a soldo de empresas de táxi (políticos que recebem generosas doações de campanha de empresas de táxi). Ambos os grupos alegam que o uso de motoristas que não possuem licenças de táxi é ilegal e perigoso.

Os motoristas cadastrados no Uber e no Lyft gostam da idéia de trabalhar quando querem. Alguns deles trabalham em tempo integral. Transportar passageiros é uma boa maneira de ganhar um dinheiro extra. Todos — os consumidores deste serviço e os prestadores deste serviço — estão felizes com o arranjo, exceto as já estabelecidas empresas de táxi e os políticos a soldo delas.

As empresas de táxi só conseguem manter seu monopólio porque o estado proíbe a Uber e a Lyft de atuar legalmente. Ambas as empresas também são proibidas de pegar passageiros em aeroportos, rodoviárias e estações de trem.

Mas esse monopólio não irá durar muito. Temos de ter essa esperança.

Por: Walter Williams, professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

MARXISMO CULTURAL: O CRISTIANISMO DENTRO DE UMA REVOLUÇÃO

O comunismo é o inimigo satânico do cristianismoA. W. Tozer


Parece que o gigante está acordando, ainda que lentamente, ainda que tardiamente. O tema do Marxismo Cultural está entrando nas pautas e sua nociva influência começa agora a ser denunciada de modo mais constante. Graças aos esforços iniciais solitários do professor Olavo de Carvalho, a percepção de uma revolução silenciosa em curso começa a fazer barulho. Ele teve coragem de amarrar o gonzo no pescoço do gato e este agora já não consegue se achegar tão sorrateiro. Temos de dar honra a quem a merece.

Que o marxismo é anticristão em sua essência e terrivelmente mortal em sua história não é novidade para qualquer pessoa de bom senso que conheça o mínimo de teologia cristã e um pouco dos acontecimentos do século XX. Mas a estratégia adotada pelos teóricos comunistas para fazer triunfar sua fé ideológica no Ocidente tornou o inimigo invisível e imperceptível. Eles inverteram o percurso. Ao invés da derrubada violenta do poder político para dominar e moldar a cultura, a vitória viria pela transformação da própria cultura, segundo os moldes marxistas. Isso seria feito de modo sutil e lento até que a sociedade estivesse pronta para aceitar passivamente o domínio totalitário comunista como salvação messiânica.

Escola de Frankfurt, Antonio Gramsci (este principalmente), Georg Lukács, entre outros, foram as mentes que conceberam e disseminaram as sementes de morte em nossa cultura. Esses intelectuais pensaram, escreveram e agiram para inserir no Ocidente o pensamento pró marxista. E funcionou. O dragão vermelho do comunismo logo começou a ser acariciado como um gato persa e mimado pelos intelectuais como a cura incontestável para todos os males humanos. 

Hoje, símbolos religiosos são violentados sexualmente em plena praça pública, com o dinheiro público e ninguém acha isso anormal. Em um país com grande maioria cristã, a Bíblia e os valores cristãos são diariamente difamados nas escolas e universidades fomentando discriminação e ódio. E isso diante de uma platéia repleta de cristãos. Total silêncio. 

Apesar de o comunismo ter assassinado mais de cem milhões no século XX, os livros escolares silenciam e dessa forma uma versão mutilada da história é apresentada à nova geração. Ainda que o socialismo produziu miséria por onde passou é louvado nas cátedras como redentor. Ao invés das críticas merecidas, recebe apologia constante. 

E o pior de tudo. Mesmo o marxismo sendo ateu, materialista, darwinista e anticristão, encontrou entre os cristãos não apenas quem o defendesse, mas ainda quem se utilizasse de seus conceitos para fazer teologia! Isso não é amar o inimigo. É se prostituir com ele!

Um país onde você encontra marxismo defendido inconteste em escolas, universidades, livros, jornais, política e igrejas, ao mesmo tempo em que se diz que o comunismo morreu, com certeza é um país onde o marxismo cultural já triunfou.

Se acreditamos que as Escrituras Sagradas revelam a verdade absoluta sobre quem é Deus, sobre quem nós somos e sobre o que o mundo é, percebemos que estamos envolvidos em uma atmosfera pútrida que sufoca nossa alma cristã. Se a moral cristã sobre sexo e família é o padrão divino para a humanidade e estamos sendo criminalizados por acreditar nela, então algo está bem errado. Se o ensino religioso é proibido nas escolas e os símbolos religiosos proibidos em repartições públicas, enquanto algo sinistro como a ideologia de gênero é fomentado e empurrado goela abaixo no sistema educacional, há algo errado.

Nada disso é coincidência. É pura estratégia. É fruto de décadas de marxismo cultural, desde que Antonio Gramsci começou a ser publicado no Brasil na década de 1960. 

Dormimos e o inimigo não semeou o joio. Semeou a erva daninha, o parasita que deseja sufocar e destruir todos os conceitos cristãos que sustentamos. Essa cultura de morte quer nos fazer acreditar que nossas crenças e nossa moral não passam de preconceitos arcaicos a serem escondidos bem fundos em nossas vidas privadas, enquanto eles expõem seus conceitos como verdades eternas.

Quando uma maioria esmagadoramente cristã está vivendo esmagada por uma cultura sutil ou declaradamente anticristã é difícil perceber que alguma coisa está muita errada.
Por: Eguinaldo Hélio de Souza é pastor. Do site: http://www.midiasemmascara.org/


terça-feira, 1 de setembro de 2015

PALESTINOS: A DIFERENÇA ENTRE "NÓS"E "ELES"

Enquanto os israelenses realizam comícios para condenar os ataques terroristas contra o nosso povo, nós comemoramos o assassinato de judeus.


Nós não ensinamos ao nosso povo os princípios da tolerância e da paz. Preferimos continuar avalizando e aplaudindo o terrorismo, principalmente quando direcionado contra judeus.

Não dá para contar quantas vezes eu ouvi de judeus israelenses frases como: "sinto-me envergonhado" e "é lamentável" frente ao crime terrível que custou a vida do bebê palestino Ali Dawabsha na semana passada na aldeia de Duma na Cisjordânia.

A contundente reação do público e de líderes israelenses ao ataque incendiário é, honestamente, um tanto consoladora. A profusa condenação israelense a esse crime deixou a mim e a outros palestinos não só envergonhados como também constrangidos, porque não é assim que nós palestinos reagimos aos ataques terroristas contra judeus, mesmo aos assassinatos hediondos de crianças judias.

Na realidade, nossa reação só fez trazer sentimentos de desgraça e desonra. Enquanto o primeiro-ministro israelense, presidente e outras autoridades reagiram de pronto, de maneira contundente, condenando o assassinato de Dawabsha, nossos líderes raramente reprovam os ataques terroristas contra judeus. E quando um líder palestino como Mahmoud Abbas já emite uma condenação, ela costuma ser vaga e ambígua.

Tome por exemplo o que aconteceu no ano passado após o sequestro e assassinato de três adolescentes israelenses por palestinos na Cisjordânia. O Presidente Abbas não só demorou quatro dias para emitir uma nota condenando o ataque, e mesmo assim a condenação foi, na melhor das hipóteses, titubeante: "a presidência palestina... condena a série de eventos que ocorreram na semana passada, que começou com o sequestro de três jovens israelenses". Abbas então passou a condenar Israel por deter dozenos de membros do Hamas após o sequestro e assassinato dos três jovens.

Já em 2014, quando Abbas condenou um ataque terrorista palestino que matou cinco israelenses em uma sinagoga em Jerusalém, Najat Abu Baker, autoridade da Fatah, alguns dias depois explicou que a condenação de Abbas foi feita "dentro de um contexto diplomático... ele é forçado a falar dessa maneira para o mundo".

A condenação por parte de Abbas ao ataque contra a sinagoga nas vizinhanças de Har Nof em Jerusalém se deu, ao que tudo indica, somente devido à pressão do Secretário de Estado dos Estados Unidos John Kerry, que telefonou duas vezes ao líder palestino exigindo que ele se manifestasse contra os assassinatos. A nota de Abbas dizia que a liderança palestina condenava a "matança de crentes em uma sinagoga e todos os atos de violência, independentemente de onde vierem". A nota também pedia o fim das "incursões e provocações de colonos contra a Mesquita de Al-Aqsa".

A condenação ambígua e apática de Abbas dos ataques de palestinos contra israelenses é motivada unicamente para consumo público, objetivando acima de tudo, acalmar doadores ocidentais, de modo que continuem canalizando fundos para a Autoridade Palestina (AP). Além disso, suas condenações quase sempre procuram culpar Israel pelos ataques terroristas desfechados pelos palestinos, aparentemente na tentativa de justificar o assassinato de judeus nas mãos de terroristas palestinos.

Em contrapartida, os líderes israelenses que condenaram o assassinato do bebê palestino, pareciam firmes e inequívocos. O Primeiro Ministro Netanyahu após visitar os pais e o irmão do bebê morto, que ficaram feridos no ataque incendiário e que estão recebendo tratamento médico em hospitais israelenses, disse o seguinte: "quando você fica ao lado da cama dessa criança pequena e, sabendo que seu irmão, ainda bebê, foi brutalmente assassinado, fica-se chocado, fica-se indignado. Nós condenamos isso. Empregamos tolerância zero contra o terrorismo, independentemente de onde vier, independentemente do lado da cerca que vier".

A condenação clara e contundente de Netanyahu deixou a mim e a outros palestinos pensando quando foi a última vez que ouvimos declarações semelhantes dos nossos líderes. Não me recordo de ter algum dia ouvido Abbas ou outro líder palestino dizer estar chocado e indignado sobre o assassinato de um judeu em um ataque terrorista palestino. Tampouco consigo me lembrar da última vez em que eu ouvi uma autoridade palestina ter visitado vítimas israelenses de um ataque terrorista palestino.

A condenação expressada pelos líderes israelenses sobre o assassinato do bebê é uma voz sincera que reflete a ótica da maioria esmagadora do público israelense. Em contrapartida, as condenações dos ataques terroristas pelos líderes palestinos não refletem o sentimento generalizado das ruas palestinas. Toda vez que Abbas relutantemente condena um ataque terrorista palestino, ele fica diante de uma onda de críticas de muitos palestinos.

Diferentemente do público israelense, muitos palestinos, não raramente correm para justificar e até saudar ataques terroristas contra judeus. Foi o que aconteceu há apenas alguns dias, quando um homem israelense foi morto a tiros perto de Ramala. Várias facções e grupos militares palestinos aplaudiram o assassinato, dizendo que se tratava de "uma reação natural aos crimes israelenses".

Há uma diferença gigantesca na forma dos israelenses e dos palestinos reagirem ao terrorismo. O assassinato de Dawabsha levou milhares de israelenses a comícios contra a violência condenando o abominável crime. Alguém já ouviu falar de algum comício semelhante do lado palestino quando terroristas assassinam civis judeus inocentes? Há alguma autoridade do alto escalão palestino ou figura importante que ousaria se manifestar em público contra o assassinato de judeus em um comício no centro de Ramala ou na Faixa de Gaza? Já houve algum ativista palestino que ousasse realizar um comício em uma cidade palestina para condenar ataques suicidas ou o massacre de uma família inteira de judeus?

Enquanto os israelenses realizam comícios para condenar os ataques terroristas contra o nosso povo, nós comemoramos o assassinato de judeus. Quantas vezes saímos às ruas para distribuir balas e doces em júbilo pela matança de judeus? Essas cenas repugnantes de homens e mulheres comemorando ataques terroristas contra judeus nas ruas da Cisjordânia e Faixa de Gaza jamais foram condenadas pelos nossos líderes. Essas cenas se tornaram corriqueiras toda vez que terroristas palestinos cometem ataques terroristas contra judeus.

Essas cenas contrastam duramente com as declarações e comícios realizados em Israel em consequência dos ataques terroristas contra palestinos. Nossos líderes precisam aprender com o Presidente de Israel Reuven Rivlin, que disse estar "envergonhado" e "penalizado" pelo assassinato do bebê palestino. Quando foi a última vez que um líder palestino fez uso de uma retórica dessa natureza para condenar o assassinato de judeus? As declarações lacônicas emitidas pelo gabinete de Abbas em resposta aos ataques terroristas contra judeus jamais falaram de vergonha e dor.

Nós não ensinamos ao nosso povo os princípios da tolerância e da paz. Preferimos continuar avalizando e aplaudindo o terrorismo, principalmente quando direcionado contra judeus. Queremos que o mundo todo condene o terrorismo somente quando ele ceifa a vida de palestinos. Chegamos a um ponto em que muitos de nós têm medo de se manifestar contra o terrorismo ou simplesmente o aceitam quando ele ceifa a vida de judeus.

O presidente israelense tem bons motivos para estar envergonhado pelo assassinato do bebê. Quando os palestinos terão a sensação de vergonha em relação à forma que nós reagimos em relação ao assassinato de judeus? Quando chegará a hora de pararmos de glorificar terroristas e colocar nomes em ruas e praças públicas em homenagem a eles, e sim condená-los de forma categórica e expulsá-los da nossa sociedade? Nós ainda temos muito a aprender do público e dos líderes israelenses.
Por: Bassam Tawil está estabelecido no Oriente Médio.
Publicado no site do Gatestone Institute.
Tradução: Joseph Skilnik


segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A OLIGARQUIA CONTRA O POVO

A base de apoio do PT é uma casquinha da aparências na superfície de uma sociedade em vias de explodir.


Parem se ser hipócritas: defender “as instituições” contra o povo que as constituiu é traição. A vontade popular é clara e indisfarçável: Fora Dilma, Fora PT, Fora o Foro de São Paulo!

Interrompo temporariamente as considerações teóricas da série “Ilusões democráticas” para analisar brevemente o atual estado de coisas.

A premissa básica para se chegar a compreender a presente situação política do Brasil é a seguinte: o PT não subiu ao poder para implantar o comunismo no Brasil, mas para salvar da extinção o movimento comunista na América Latina e preparar o terreno para uma futura tomada do continente inteiro pelo comunismo internacional.

É fácil comprovar isso pelas atas das assembléias do Foro de São Paulo, o qual foi fundado justamente para a realização desse plano.

Na operação, o Brasil exerceria não somente a função de centro decisório e estratégico, mas o de provedor de recursos para os governos e movimentos comunistas falidos.

No décimo-quinto aniversário do Foro, em 2015, o comando das FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, reconheceu em documento oficial que a fundação desse organismo pelo PT havia pura e simplesmente salvado da extinção o comunismo latino-americano, debilitado e minguante desde a queda do regime soviético.

Para a consecução do plano, era necessário que o PT no governo prosseguisse na aplicação firme e constante da estratégia gramsciana da “ocupação de espaços” e da “revolução cultural”, aliando-se, ao mesmo tempo, a grandes grupos econômicos que pudessem subsidiar e consolidar, pouco importando se por meios lícitos ou ilícitos, a instrumentalização partidária do Estado, o controle da classe política, a supressão de toda oposição ideológica possível e a injeção de dinheiro salvador em vários regimes e movimentos comunistas moribundos.

Basta isso para explicar por que o então presidente Lula pôde ser, numa mesma semana, homenageado no Fórum Social Mundial pela sua fidelidade ao comunismo e no Fórum Econômico de Davos pela sua adesão ao capitalismo, tornando-se assim o enigmático homem de duas cabeças que os “verdadeiros crentes” da direita acusavam de comunista e os da esquerda de vendido ao capitalismo. Mas as duas cabeças, no fundo, pensavam em harmonia: a confusão ideológica só podia favorecer aqueles que, por trás dos discursos eslogans, tinham um plano de longo prazo e a determinação de trocar de máscara quantas vezes fosse necessário para realizá-lo.

O plano era bom, em teoria, mas os estrategistas iluminados do comunopetismo se esqueceram de alguns detalhes:

1. Dominando a estrutura inteira do Estado em vez de se contentar com o Executivo, o partido se transformou no próprio “estamento burocrático” que antes ele jurava combater. Já expliquei isso em artigo anterior (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/150611dc.html).

2. O apoio dos grandes grupos econômicos o descaracterizava ainda mais como “partido dos pobres” e o identificava cada vez mais com a elite privilegiada que ele dizia odiar.

3. O uso maciço das propinas e desvios de verbas como instrumentos de controle da classe política tornava o partido ainda mais cínico, egoísta e desonesto do que essa elite jamais tivera a ousadia de ser. O PT tornou-se a imagem por excelência da elite criminosa e exploradora.

4. O PT havia sido, na década de 90, a força mais ativa nas campanhas que sensibilizaram o povo para o fenômeno da corrupção entre os políticos. Ele criou assim a atmosfera de revolta e até a linguagem do discurso de acusação que haveriam de fazer dele próprio, no devido tempo, o mais odioso dos réus.

5. A “revolução cultural”, a “ocupação de espaços” e a instrumentalição do Estado deram ao PT os meios de fazer uma “revolução por cima”, mas o deixaram desprovido de toda base popular autêntica. Ao longo dos anos, pesquisas atrás de pesquisas demonstravam que o povo brasileiro continuava acentuadamente conservador, odiando com todas as suas forças as políticas abortistas e a “ideologia de gênero” que o partido comungava gostosamente com a elite financeira e com o “proletariado intelectual” das universidades e do show business. Desprovidas as massas de todo meio de expressar-se na mídia e de canais partidários para fazer valer a sua opinião, no coração do povo foi crescendo uma revolta surda, inaudível nas altas esferas, que mais cedo ou mais tarde teria de acabar eclodindo à plena luz do dia, como de fato veio a acontecer, surpreendendo e abalando a elite petista ao ponto de despertar nela as reações mais desesperadas e semiloucas, desde a afetação grotesca de tranqüilidade olímpica até a fanfarronada do apelo às “armas” seguido de trêmulas desculpas esfarrapadas.

A convergência de todos os fatores produziu um resultado que só pessoas de inteligência precária como os nossos congresistas, os nossos cientistas políticos e os nossos analistas midiáticos não conseguiriam prever: quando a mídia pressionada pelas redes sociais e pela pletora de denúncias judiciais desistiu de continuar acobertando os crimes do PT (voltarei a isto em artigo próximo), a revolta contra o esquema comunopetista tomou as ruas, nas maiores manifestações de protesto de toda a nossa História e, mesmo fora dos dias de passeata, continuou se expressando por toda parte sob a forma de vaias e panelaços, obrigando os falsos ídolos a esconder-se em casa, sem poder mostrar suas caras nem mesmo nos restaurantes.

As pesquisas mostram que o apoio popular ao PT é hoje de somente um por cento, já que seis dos famosos sete consideram o governo apenas “regular”, isto é, tolerável.

Como é possível que um partido assim desprezado, odiado e achincalhado pela maioria ostensiva da população continue se achando no direito de governar e habilitado a salvar o país mediante desculpinhas grotescas que, à acusação de crimes, respondem com uma confissão de “erros”?

Em que se funda o poder que o PT, acuado e desmoralizado, continua a desfrutar? Esse poder funda-se em apenas quatro coisas:

1. O apoio da oligarquia cúmplice.

2. A militância subsidiada, cada vez mais escassa, incapaz de mobilizar-se sem o estímulo dos sanduíches de mortadela, dos cinqüenta reais e do transporte em ônibus, tudo pago com dinheiro público.

3. O apoio externos, não só do governo Obama, dos organismos internacionais e de alguns velhos partidos da esquerda européia, mas sobretudo do Foro de São Paulo, já articulado para mover guerra ao Brasil em caso de destituição do PT.

4. Uma militância estudantil , também decrescente, que tudo fará pelas grandes causas idealísticas que a animam: drogas e camisinhas para todos, operações transex pagas pelo governo, banheiros unissex, liberdade de fazer sexo em público no campus, reconhecimento do sexo grupal como “nova modalidade de família” etc. etc.

A base de apoio do PT é uma casquinha da aparências na superfície de uma sociedade em vias de explodir.

O único fator que realmente mantém esse partido no poder é o temor servil com que as forças ditas “de oposição” encaram uma possível crise de governabilidade e, sob a desculpa da “legalidade”, e da “normalidade democrática”, insistem em dar ao comunopetismo uma sobrevida artificial, encarregando a classe política de ajudá-lo a respirar com aparelhos ou pelo menos a matá-lo só aos pouquinhos, de maneira discreta e indolor.

Mas que legalidade é essa? Por favor, leiam:

Constituição Federal, Título I, Art. V, parágrafo único: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente.”

Será que o “diretamente” não vale mais? Foi suprimido? Os representantes eleitos adquiriram o direito de decidir tudo por si, contra a vontade expressa do povo que os elegeu? Só eles, e não o povo, representam agora a “ordem democrática”? Senhores deputados, senadores, generais e importantões em geral : Quem meteu nas suas cabeças que a ordem constitucional é personificada só pelos representantes e não, muito acima deles, por quem os elegeu? Parem se ser hipócritas: defender “as instituições” contra o povo que as constituiu é traição. A vontade popular é clara e indisfarçável: Fora Dilma, Fora PT, Fora o Foro de São Paulo! Contra a vontade popular, a presidente, seus ministros o Congresso inteiro e o comando das Forças Armadas não têm autoridade nenhuma. Se vocês não querem fazer a vontade do povo, saiam do caminho e deixem que ele a faça por si.
Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio. 
Do site: http://www.midiasemmascara.org/  http://olavodecarvalho.org


DIREITOS HUMANOS: A CIVILIZAÇÃO DE JOELHOS

Ao condenar o assassino de 77 pessoas a uma suave pena num verdadeiro hotel de luxo, a Noruega dá razão ao próprio criminoso — o multiculturalismo está destruindo a humanidade


Cerca de 5,3 mil quilômetros separam Bag­­­dá, no Iraque, de Oslo, na Norue­ga. É aproximadamente a mesma distância que separa Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, de Boa Vista, em Ro­raima. Entretanto, quando Jamil Rafal Yasin partiu do Iraque rumo à Noruega, ela sabia que culturalmente estava indo para uma outra galáxia. Fugindo às bombas e aos destroços de seguidas guerras, sua família deixou a bélica terra bíblica dos hurritas em busca da serena pátria do Prêmio Nobel da Paz, considerada pela ONU o me­lhor país do mundo para se viver. E a Noruega não decepcionou Yasin. Quando chegou à pequena cidade portuária de Egersund, na primavera de 2010, aos 18 anos, como refugiada de guerra, a jovem iraquiana sentiu que sua juventude finalmente desabrochava. Já não era mais a menina indefesa que, em meio aos destroços dos bombardeios, suplicava a cada noite por mais um dia de vida. Na Noruega, a bela Yasin pôde trocar as vascas da esperança pelas vastidões do sonho e aprendeu que viver nem é preciso, pois navegar é possível.

A jovem refugiada ingressou na “Videregående Skole”, a escola secundária da Noruega, e logo aprendeu o idioma de Henrik Ibsen (1828-1906), o Shakespeare nórdico. Com sua beleza e inteligência, fez muitos amigos em “Okka-by”, a “nos­sa cidade”, que é como se referem carinhosamente à pequena Egersund os seus pouco mais de 10 mil habitantes. Sentindo-se acolhida, Jamil Rafal Yasin fazia questão de hastear em sua casa a bandeira da Noruega, pois dizia amar o novo país e via nele o seu futuro. Inte­ressada em cinema e política, tinha ideias claras e gostava de debatê-las. Dona de um sorriso cativante e de uma curiosidade insaciável, era também muito participativa e se interessava pela vida da comunidade. Segundo testemunham seus amigos, foi o desejo de ajudar as pessoas que a levou a ingressar, juntamente com seus irmãos, na Arbeidernes Ung­domsfylking (AUF), a Liga da Juventude Operária do Partido Trabalhista Norueguês.

Mas nenhum dos sonhos que a Noruega instigou na jovem refugiada iraquiana chegou a se realizar. No final de julho do ano passado, Yasin, juntamente com seus irmãos e amigos, partiu para a ilha de Utøya, a meia hora de Oslo, para participar do encontro anual da juventude do Partido Traba­lhista Norueguês. O multiculturalismo era uma das principais bandeiras do encontro, que reunia jovens de todos os cantos da No­ruega, entre eles, muitos imigrantes, além de representantes de outros países. Misto de festa e debate, reflexão e lazer, o encontro deveria incandescer as mentes juvenis com o velho so­nho da fraternidade entre os po­vos, que, ao longo das eras, co­move filósofos e instiga profetas, até tornar-se pesadelo. Foi o que ocorreu com o sonho de Utøya, que se esvaiu no sangue das dezenas de pessoas chacinadas pelo norueguês Anders Behring Brei­vik, em 22 de julho do ano passado, entre elas a jovem Yasin.

Frieza de terrorista

A exemplo da bela refugiada do Iraque, havia muitos jovens do terceiro mundo, residentes na No­ruega, que estavam entre as vítimas da chacina de Utøya, como a nigeriana Modupe Ellen Awoyemi, 15 anos, da cidade de Drammen, e o muçulmano Ismail Haji Ahmed, 19 anos, de origem somali e residente na cidade norueguesa de Hamar. Filha de Lola Awoyemi, líder da Afrikansk Kvinneforening i Dram­men (Associação das Mu­lheres Africanas em Dram­mem), a adolescente Modupe queria seguir os passos da mãe, uma reconhecida ativista da luta contra a extirpação do clitóris, prática adotada por muitas famílias africanas mesmo quando residem na Europa e gozam de todos os benefícios da civilização. Já o jovem Ismail era um dançarino talentoso, que vinha se apresentando regularmente em espetáculos na Noruega e também atuava como instrutor de danças. A Nigéria é um caldeirão de desigualdades e a Somália, um sinônimo de violência e miséria. Para os imigrantes desses países, a Escandinávia era a materialização do paraíso.

E não só para eles. Os próprios noruegueses que militam na juventude do Partido Trabalhista possivelmente se sentem no paraíso, quando comparam sua vida de conforto e liberdade com a história de vida dos imigrantes. Era o caso do irreverente Aleksander Aas Eriksen, um adolescente de 16 anos que tocava guitarra numa banda de garagem e fundou o grupo de jovens da Cruz Vermelha em Tron­dheim, sua cidade natal. Ou a alegre Guro Vartdal Håvoll, uma estudante de música de 18 anos, que amava as montanhas e se dedicava à defesa do meio ambiente. Ou ainda a meiga e quieta Marianne Sandvik, uma estudante de 16 anos da escola secundária, quarta de uma família de cinco irmãos, que sonhava em trabalhar com jovens carentes. Ou mesmo o altivo Diderik Aamodt Olsen, que, aos 19 anos, era vice-presidente da Juventude Trabalhista de Nesod­den e um dos editores do jornal do partido na cidade. Esses quatro jovens e outras 73 pessoas tiveram seus sonhos interrompidos no fatídico 22 de julho de 2011, uma data que muitos noruegueses comparam à tragédia da Segunda Guerra Mundial.

Cerca de duas horas antes de perpetrar a matança na ilha do Partido Trabalhista Norueguês, o assassino Anders Behring Breivik, com 32 anos na época, já havia explodido bombas no centro de Oslo, matando oito pessoas. Ao todo, ele assassinou friamente 77 pessoas, a maioria jovens. Segundo um dos sobreviventes da chacina, Ivar Benjamin Oesteboe, 16 anos, o assassino ria, enquanto atirava na cabeça de suas vítimas. Quando chegou à ilha, Breivik se identificou como policial, alegando que fora mandado ao acampamento dos jovens trabalhistas para protegê-los, devido aos atentados que tinham acabado de ocorrer na capital norueguesa. Como vestia uniforme de policial, ninguém desconfiou de nada e foi-lhe fácil congregar os jovens em torno de si, a pretexto de que precisava oferecer instruções devido ao atentado ocorrido em Oslo. Usando pistola e arma pesada, o terrorista atirou de surpresa sobre a multidão, dando início à chacina. Enquanto a polícia da Noruega ainda estava atabalhoada com os atentados na capital, Breivik teve cerca de uma hora e meia para percorrer o acampamento, matando os jovens, até que um comando especial da polícia chegou à ilha e ele se entregou.

Cadeias de luxo

Ao optar por ser preso em vez de morto, abdicando de trocar tiro com a polícia, o terrorista-solo Anders Breivik parecia confiar na total ineficiência da Justiça norueguesa. Logo após o atentado, suas primeiras imagens não são as de um preso sendo conduzido à cadeia, mas a de uma autoridade sendo solenemente escoltada. Nes­sas imagens, Breivik aparentava estar sempre de banho tomado, penteado, sem qualquer desalinho. Nem parece que acabara de explodir bombas e chacinar pessoas. É como se a polícia, ao chegar a ilha e vendo um sujeito fortemente armado, tivesse educadamente solicitado a ele que depusesse as armas e, em seguida, tocando-lhe levemente o braço, o ajudasse a subir na viatura, tomando o cuidado de não lhe amarrotar as roupas. Esse padrão de absurda civilidade da polícia norueguesa foi seguido à risca durante todo o processo judicial para apurar os crimes cometidos por Breivik. Toda vez que era levado aos tribunais noruegueses, esse horrendo assassino de 77 pessoas aparecia impecavelmente vestido, como se fosse proferir uma conferência internacional na sede da ONU.

Por mais que uma sistema penal procure não maltratar os prisioneiros, é natural que o preso — senão pelo remorso, ao menos pelo medo — apresente algum traço de preocupação no rosto. Por outro lado, não é natural que seu corpo ostente um bem-estar de fisiculturista. Se o preso aparece tão vistoso, encarnando a máxima latina sobre saúde (“mente sã em corpo sadio”), então há algo errado com o sistema carcerário em que se encontra: não se trata exatamente de cadeia, mas de spa. Foi justamente o que se viu no caso do carniceiro norueguês. Ao longo de todo o processo judicial, que culminou com sua condenação na semana passada, Anders Breivik caçoou da Justiça norueguesa. Ele teve muito mais do que o direito de ampla defesa garantido pelos Estados democráticos – deram-lhe um verdadeiro palanque para que discursasse ao mundo à custa do sangue de suas vítimas. A Noruega curvou-se a seus pés e, ao agir assim, colocou de joelhos toda a civilização. O mundo já foi melhor em termos de Justiça. Que o diga o Tribunal de Nuremberg, responsável pela condenação dos líderes nazistas.

Enquanto aguardava a sentença da Justiça, o Estado norueguês preparou três prisões especiais para Breivik — Ila, Skien e Rinnerike. O bloco médico da prisão de Ila, construído para o caso de ele ser declarado insano, custou 3 milhões de coroas (a moeda da Noruega) ou quase 400 mil euros. E se ele tivesse que ficar preso nesse prédio, como doente mental, seu custo anual ficaria em 20 milhões de coroas (quase 3 milhões de euros). Um valor quatro vezes maior que os 5 milhões de coroas (700 mil euros) que o Estado norueguês terá que gastar para mantê-lo preso como imputável. En­tre­tanto, mesmo tendo sido declarado mentalmente capaz de responder por seus atos, Breivik deverá passar a maior parte do tempo na prisão de Ila, que terá de ser adaptada no­vamente, a um custo de 25 mi­lhões de coroas (3,5 mi­lhões de euros). Talvez por is­so, o prisioneiro mais famoso da Noruega recebeu sua pena com um sorriso: ele ficará 21 anos preso — o máximo que a leniente legislação da Noruega permite — podendo ser solto ou não, dependendo das avaliações que serão feitas no final desse período.

Goiânia e o assassino

Em nome dos direitos humanos, a Noruega já oferecia e vai continuar oferecendo ao assassino de 77 pessoas (e que também feriu outras 67) um verdadeiro hotel cinco estrelas em forma de prisão. Para compensar o fato de não ter contato com os outros presos, Breivik ocupa três celas, cada uma com oito metros quadrados. Na prática, é uma casa com três cômodos: um que funciona como dormitório; outro que funciona como academia, com equipamentos de ginástica; e um terceiro que funciona como escritório. Nessa última cela, o criminoso disporá de um notebook afixado na mesa, sem acesso a Internet. Mas, nesse computador, ele conta com uma versão não conectada da enciclopédia virtual Wikipedia. Além disso, Breivik pode receber visitas semanalmente e está liberado para escrever quantas cartas quiser para quem quiser. O máximo que as autoridades norueguesas fazem é ler previamente as cartas para ver se elas violam alguma lei ou se estimulam atividades ilegais. O criminoso também dispõe de um aparelho de TV e pode solicitar livros da rede pública de bibliotecas.

Sem se preocupar com aluguel, água ou luz, Anders Brei­vik, que se define como escritor, já manifestou seu desejo de escrever livros na cadeia. Pouco antes dos atentados, ele divulgou o manifesto “2083 – A European Declaration of Inde­pendence” (“2083: Uma Decla­ração Europeia de Inde­pen­dên­cia”), em que acusa mais de 90% dos deputados da União Europeia e mais de 95% dos jornalistas de serem partidários do multiculturalismo e do politicamente correto, que, segundo ele, contribuem para a “islamização” da Europa. Nem o Brasil escapa desse novo “Mein Kampf” do pseudo-Hitler norueguês: Breivik critica a miscigenação brasileira (que ele atribuiu ao “marxismo cultural”) e cita até Goiânia, uma vez que, num trecho sobre construção de bombas, ele lembra o acidente com o césio-137, que completa 25 anos no dia 13 de setembro próximo. Agora que sua filosofia sanguinária será financiada pelo próprio Estado norueguês, em hotel de luxo disfarçado de cadeia, a tendência é que Breivik conquiste adeptos em todo o mundo. Ele já conclamou eventuais leitores que compartilham de suas teses a traduzir seu manifesto (escrito em inglês) para o francês, o alemão e o espanhol.

Após os atentados de 22 de julho de 2011, as autoridades norueguesas — acreditando reforçar o combate às teses tortas do assassino — vêm fazendo uma defesa ainda mais vigorosa do multiculturalismo. A exemplo das autoridades brasileiras, as norueguesas também repetem o mantra de que a principal meta de um sistema penal deve ser a recuperação do criminoso. Esse discurso foi repetido por um dos sobreviventes da chacina, numa carta que conquistou as redes sociais e a imprensa em várias línguas, inclusive em português. A referida carta foi considerada comovente, mas é simplesmente estúpida. Seria imoral se fosse escrita por um adulto, mas como seu autor é um adolescente de 16 anos, dá-se um desconto. Ele começa a carta chamando o criminoso de “Querido Anders Behring Breivik” e, depois de dizer que se paga o mal com o bem, desafia o autor da chacina: “Conseguiste ser o homem mais odiado da No­ruega. Muitos estão com raiva de ti; eu, não. Não tenho medo de ti. Não podes alcançar-nos, somos maiores que tu”.

Cemitério da humanidade

Mais grave é que esse tipo de discurso ecoou por toda a Noruega ao longo do último ano, inclusive agora quando as leis do país acabam de premiar o assassino de 77 pessoas com uma prisão que é um verdadeiro escárnio à memória de suas vítimas. A carta desse jovem é apenas a versão infantil, para não dizer imbecil, do pensamento imoral dos adultos que o formaram. Ela reflete a politização do conceito de “direitos humanos”, que perdeu completamente sua carga transcendental originária e, com isso, tornou-se um veneno para a civilização. No fundo, o multiculturalismo é o cemitério da humanidade, pois ele relativiza o próprio homem. Ao contrário do que que comumente se imagina, os direitos humanos não foram criados pela sanguinária Revolução Francesa. Ela apenas se tornou propagandista deles nos jornais e livros, ao mesmo tempo em que, com a guilhotina, não hesitava em cortar cabeças. A rigor, a Re­vo­lução Francesa corrompeu o conceito de “direitos humanos” dan­do-lhe um caráter estritamente político — o que significa tornar o homem perigosamente dependente do poder de plantão, seja ele político ou cultural.

Os direitos humanos nascem com a filosofia da Grécia Clássica e se consolidam com o cristianismo. Quando Cristo pronuncia sua célebre frase sobre o Império Romano — “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” — ele separa, pela primeira vez na história, a Religião do Estado, desencarnando da figura do Rei a essência de Deus e fazendo nascer a consciência individual, que passaria a ser a única morada legítima da divindade. “O cristianismo, com a sua proclamação da igualdade de todos os seres humanos, independentemente de raça ou posição social, seria compelido, com o correr do tempo, a elevar a condição do indivíduo como tal”, afirma o pedagogo inglês Vaughan Jeffreys (1900-1985). Prova disso é que um dos Padres da Igreja, o cartaginês Tertuliano (cerca de 160-220 d.C.), afirmou: “É um direito humano fundamental, um privilégio da natureza, que todo homem deva adorar segundo suas próprias convicções”. Ou seja, os antigos cristãos já acreditavam que cada pessoa humana dispunha de uma espécie de direito natural — a liberdade, o livre-arbítrio — que lhe fora dado por Deus e não podia ser revogado por nenhuma lei humana.

Séculos mais tarde, Santo Tomás de Aquino (1225-1274) iria radicalizar a defesa dos direitos naturais do homem, buscando limitar o poder dos reis. “Um rei infiel a seus deveres perde o direito à obediência. Não é rebeldia depô-lo, pois ele próprio é um rebelde a quem a nação tem o direito de destronar” — sustenta. Nessa mesma linha de afirmação do indivíduo perante o Estado, o filósofo francês Jean Bodin (1530-1596) defendeu a primazia das “leis da natureza” sobre as leis políticas: “Quanto às leis divinas e naturais, todos os príncipes da terra lhes estão sujeitos, e não está em seu poder transgredi-las, se não quiserem tornar-se culpados de lesa-majestade divina”. E o escolástico espanhol Francisco de Vitória (1483-1546), da Escola de Salamanca, saiu em defesa dos índios, afirmando que “todo índio é um homem, sendo por isso capaz de alcançar salvação ou danação”. E insiste: “Por ser uma pessoa, todo índio tem livre-arbítrio e é, consequentemente, senhor de suas ações. Todo homem tem o direito à própria vida e a integridade física e mental”.

A negação da humanidade

Pelo que se depreende dos exemplos citados, a emancipação do homem — como um ser consciente e autônomo — só é possível através de uma dimensão transcendente, que vá além da matéria física de seu corpo e das fronteiras políticas da sociedade em que vive. Mas o multiculturalismo faz justamente o contrário: em nome de uma falsa tolerância, ele diviniza todas as culturas e, com isso, faz com que a humanidade perca qualquer referencial transcendente, acima dos diversos povos que a compõem. E, hoje, na medida em que o multiculturalismo se radicaliza, tratando como verdadeiros “povos” até meros grupos sociais, o próprio conceito de humanidade perde completamente seu referencial transcendente e passa a depender de quem detém a hegemonia ideológica na sociedade. Foi o que vimos na Cacrolândia, em São Paulo, onde o vício de se drogar e andar feito zumbi pelas ruas, praticando toda sorte de crimes, foi elevado à categoria de “direitos humanos” pelo Ministério Público, a Defen­soria Pública e os intelectuais universitários.

Na Inglaterra, onde os direitos humanos se consolidaram na prática muito antes da Revolução Francesa, eles jamais foram pensados como mero elemento da política — sempre foram vistos como uma lei natural, cuja fonte era divina, portanto, transcendente a toda e qualquer sociedade dada, fazendo do próprio homem um universal, um absoluto, medindo as coisas e não sendo medido por elas. Essa tradição anglo-saxã dos “direitos humanos” como “direitos naturais” foi herdada pelos Estados Unidos, cuja Declaração de Independência antecede e inspira a própria De­claração dos Direitos do Ho­mem da Revo­lução Francesa. E é inegável que a declaração fundadora da nação norte-americana tem um alicerce cristão, em que o humano se alicerça na transcendência das leis naturais e não na particularidade das culturas. É o contrário do multiculturalismo, que, por definição, nega a existência de uma natureza humana para além dos tempos e lugares e acredita que cada homem é produto exclusivo da cultura a que pertence. Sem se dar conta, o multiculturalismo transforma o homem em rês à mercê da sociedade que se lhe impõe como rebanho.

Disso decorre uma grave anomalia social, que nos remete ao carniceiro da Noruega. Se o homem é um produto de sua cultura, já não há que se falar em indivíduo: consciente, livre, responsável. O homem torna-se mero joguete das forças sociais: engajado, dependente, inimputável. Por isso, os noruegueses multiculturalistas acreditam que basta tratar Breivik com bondade que ele se tornará um anjo. É o que ocorre também com as leis penais brasileiras, cada vez mais lenientes com o crime. Essa é uma tendência mundial, criticada pelo psicólogo Steven Pinker no seu livro “Tábula Rasa”: “A ideia romântica de que todo mal é produto da sociedade justificou a libertação de perigosos psicopatas que logo em seguida assassinaram pessoas inocentes. E a convicção de que a humanidade poderia ser reestruturada por gigantescos projetos de engenharia social gerou algumas das maiores atrocidades da história”. A pena excessivamente branda do assassino norueguês é uma dessas atrocidades: ela mostra que Anders Breivik venceu — a civilização está morrendo e a barbárie, cada vez mais, compensa. 

(Publicado em 2 de setembro de 2012 no Jornal Opção)

Postado por José Maria e Silva  Do site: http://palavracesa.blogspot.com.br/

sábado, 29 de agosto de 2015

POR QUE NÃO SOU LIBERAL. NEM CONSERVADOR. NEM PORCARIA NENHUMA.


Pensemos numa tempestade que se aproxima.

Vivemos um momento novo, um contexto inédito. A esquerda já não reina soberana na cultura nacional. Pessoas identificadas com diversas correntes políticas colocam-se como opositoras do esquerdismo. Mas, afinal, quem somos nós? Sobram incompreensões várias – o que até é normal em uma conjuntura incipiente. Os debates públicos, em redes sociais e mesmo em grupos fechados parecem definir o seguinte: há, do lado direito, o conservadorismo moral e o liberalismo econômico; do lado esquerdo, há o libertarianismo moral e o socialismo econômico; no meio, há o liberalismo moral e econômico. Mas esse aparente arranjo é tão-somente isso, aparente. 

O que escrevo a seguir define o que não somos. O resto é Síndrome do Diagrama de Nolan, na qual o sujeito sente uma irresistível necessidade de encaixotar os posicionamentos políticos e sociais em categorias cartesianas. Quem faz isso (“Veja bem, não sou de direita, sou um liberal na acepção austro-húngara com compreensão antropomoral turco-otomana) já caiu no joguinho marxista de dividir o mundo entre nós e eles e aceita os rótulos vazios e desmoralizantes que lhes são jogados. Na verdade, essa divisão até existe: ou você vive no mundo real, ou orbita gostosamente, ludicamente, oniricamente, no mundo das idéias. E esse mundo de abstração ideológica, quando realizado, bem sabemos (e melhor sabem soviéticos e chineses), é mortal.

***
O verdadeiro conservadorismo não poderia ser chamado de conservadorismo. Não se trata de um ideário, como o são o liberalismo e o socialismo (e.g.), mas de uma percepção acurada do mundo real, do que deu certo e do que deu errado ao longo da História, com a base de uma moralidade sempiterna, de um Direito Natural fundado na Verdade com "v" maiúsculo. Dizer-se conservador, sem atinência a essas ressalvas, é ser qualquer coisa, menos conservador. 

"A política é a arte do possível", diz o conservador: ele pensa nas políticas de Estado como as que intentam preservar a ordem, a justiça e a liberdade.O ideólogo, ao contrário, pensa na política como um instrumento revolucionário para transformar a sociedade e até mesmo a natureza humana. Em sua marcha para a utopia, o ideólogo é impiedoso.

Russel Kirk, A política da prudência, Capítulo 1

Esse eixo de certo e errado fundador daquilo a que se chama conservadorismo foi percebido em diferentes civilizações, em distintas regiões da Terra e em diversos momentos da História. Não o respeitamos sempre, mas ele segue pétreo, impávido colosso. Isso a que se chama erroneamente de conservadorismo não possui um nome preciso; "realismo" ou "verdadismo", talvez, seriam mais exatos, mas "-ismos" não têm nada a ver com perceber e respeitar a realidade dos fatos. O mesmo se passa com aquilo a que se deu o nome decapitalismo. Novamente, não temos um ideário, um conjunto de idéias abstratas, mas o resultado de uma relação natural, próprio dos seres humanos: a relação de trocas.

Aquilo que chamam de conservadorismo é, na verdade, a defesa da Verdade e da tensão certo-errado como mediadores das relações sociais. É algo que varia superficialmente, que muda de aspecto aqui e ali, mas cujo eixo é sempre o mesmo. É o respeito ao princípio mais básico, sólido e irrefutável que o ser humano já percebeu, o princípio da identidade (A = A). Como num exemplo de C. S. Lewis, em Cristianismo puro e simples: 

Os homens divergiram quanto ao número de esposas que podiam ter, se uma ou quatro; mas sempre concordaram em que você não pode simplesmente ter qualquer mulher que lhe apetecer.

Liberalismo e esquerdismo não são opostos a o que se chama conservadorismo; sequer são diferentes, porque não são da mesma categoria, não havendo, portanto, como estabelecer tal comparação. Estes dois e outros são conjuntos de idéias, excelentes subsídios para masturbação intelectual. As boas idéias que têm, aliás, nada mais são do que a defesa da Verdade dos fatos que descrevem, da prevalência do certo sobre o errado.

[...] só nos resta aceitar a existência de um certo e de um errado. As pessoas podem volta e meia se enganar a respeito deles, da mesma forma que às vezes erram numa soma; mas a existência de ambos não depende de gostos pessoais ou de opiniões, da mesma forma que um cálculo errado não invalida a tabuada. 
C. S. Lewis

Da mesma forma, aquilo que chamam capitalismo é, na verdade, a prática de uma interação social inescapável, também por respeito ao princípio de identidade e à Verdade. Somos todos imensamente distintos, e cada um de nós é incapaz de prover para si tudo de que necessita. Por isso, temos de fazer trocas. Podemos ordenar isso desta ou daquela forma, mas o fundamento será sempre o mesmo. Inclusive, em todas as vezes em que se tentou aplicar aquele saco de idéias chamado socialismo, as relações de troca resistiram – clandestinamente (entre os indivíduos) e formalmente (entre Estado e cidadãos).

Aquilo a que se chama conservadorismo e capitalismo são realidade naturais dos seres humanos. Já os ideários não passam de emulações, de representações quase-teatrais da percepção e, mormente, da incompreensão dessas realidades. Levar a Filosofia Política e a prática política ao CAMPO DAS IDÉIAS é fugir da realidade, ignorando o apreço pelo conhecimento das coisas como são e as possibilidades de interação real com elas.

Pensemos numa tempestade que se aproxima. O socialista/esquerdista nega a realidade da tempestade. Diz que ela não existe de fato, que é mera construção elitista, burguesa, aristocrática, para alienar e dominar as massas pelo medo. Saem, então, a destruir os abrigos que as outras pessoas construíram para si, além de, é claro, não se prepararem para as intempéries. Já o liberal/libertário concorda que há algo a que chamam por aí de tempestade, mas não sabe, não quer saber e tem raiva de quem sabe as propriedades e a origem do fenômeno, motivo pelo qual não compreende de fato aquilo com que se deparará. Crê que com um bomdebate de idéias seja possível impedir a insanidade dos socialistas destruidores de abrigos, além de manter o tempo bom e afastar os raios e a chuva. Para ambos, a tormenta chegará e, impassível, ignorará tanto o esquerdista, que seguirá bramindo que ela não existe, como o liberal, que tentará pará-la com um belo guarda-chuva metafórico de idéias.

Enquanto isso, aquele que chamam de "conservador" e "capitalista" terá (1) admitido a realidade da tempestade, (2) compreendido razoavelmente suas verdades, sua constituição, suas variáveis, sua imanência, antes de querer reformá-la ou negá-la, e (3) terá se preparado devidamente para atravessá-la, com a humildade de quem sabe que não pode ver a existência desde fora (contrapondo-a com idéias) e a altivez de quem entende que há uma realidade anterior, ulterior e imutável ao fenômeno temporal que assola a todos.

À tempestade também se pode chamar “vida real”.

***
Dito isso, para efeitos de classificação, creio que podemos aceitar que sejamos conservadores, que estejamos com Roger Scruton e com o conservadorismo:

Conservadorismo significa encontrar o que você ama e agir para proteger isso. A alternativa é encontrar o que você odeia e tentar destruir. Certamente, a primeira alternativa é um modo melhor de vida do que a segunda.

Mas o que somos integralmente vai muito além disso. Não me ocorre melhor qualificação que essa (conservadores) àquilo que somos, mas me arrisco a dizer que 

somos aqueles que não duvidam de que 1 +1 = 2, nem de que 2 x 2 = 4. 

Como bem observou CS Lewis, até podemos errar a soma de vez em quando, mas sabemos que ela está lá, disponível ao nosso acesso, bastando-nos capacitarmo-nos ou abrimo-nos a sua Verdade.

O que somos de fato, só Deus sabe. Literalmente.

Porém, [...] basta agora perguntar ao leitor como seria uma moralidade totalmente diferente da que conhecemos. Imagine um país que admirasse aquele que foge do campo de batalha, ou em que um homem se orgulhasse de trair as pessoas que mais lhe fizeram bem. O leitor poderia igualmente imaginar um país em que dois e dois são cinco. Os povos discordaram a respeito de quem são as pessoas com quem você deve ser altruísta – sua família, seus compatriotas ou todo o gênero humano; mas sempre concordaram em que você não deve colocar a si mesmo em primeiro lugar. O egoísmo nunca foi admirado. Os homens divergiram quanto ao número de esposas que podiam ter, se uma ou quatro; mas sempre concordaram em que você não pode simplesmente ter qualquer mulher que lhe apetecer.

O mais extraordinário, porém, é que sempre que encontramos um homem a afirmar que não acredita na existência do certo e do errado, vemos logo em seguida este mesmo homem mudar de opinião. Ele pode não cumprir a palavra que lhe deu, mas, se você fizer a mesma coisa, ele lhe dirá "Não é justo!" antes que você possa dizer "Cristóvão Colombo". Um país pode dizer que os tratados de nada valem; porém, no momento seguinte, porá sua causa a perder afirmando que o tratado específico que pretende romper não é um tratado justo. Se os tratados de nada valem, se não existe um certo e um errado – em outras palavras, se não existe uma Lei Natural –, qual a diferença entre um tratado justo e um injusto? Será que, agindo assim, eles não deixam o rabo à mostra e demonstram que, digam o que quiserem, conhecem a Lei Natural tanto quanto qualquer outra pessoa?

Parece, portanto, que só nos resta aceitar a existência de um certo e um errado. As pessoas podem volta e meia se enganar a respeito deles, da mesma forma que às vezes erram numa soma; mas a existência de ambos não depende de gostos pessoais ou de opiniões, da mesma forma que um cálculo errado não invalida a tabuada.

C. S. Lewis, Cristianismo puro e simples, Livro I.
POR MATEUS COLOMBO MENDES http://colombomendes.blogspot.com.br/

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A CRISE, PARTE 1 - A POLITIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

As vítimas desta batalha não podem ver que estão sob ataque. Elas não sabem o que é uma arma cultural, ou como a guerra psicológica pavimenta o caminho para sua eventual destruição.


“Devemos organizar os intelectuais”.
Willi Münzenberg

Em Memoirs of a Superfluous Man (Memórias de um homem supérfluo, em tradução livre), Albert Jay Nock explicou que macacos podem ser treinados, mas apenas uma pequena porcentagem de seres humanos pode ser educada. Ele acrescentou que seus alunos nas escolas Ivy League eram, em grande parte, “macaquinhos”. Mas será isto justo, dada a natureza burocrática das universidades de agora e de então? Uma burocracia não pode ensinar a crianças e adultos como pensar. A burocracia pode oferecer testes e currículos padronizados. Pode oferecer programas adaptados a todos, e até mesmo programas de “elite”. Mas tudo é baseado na lei das médias, pensamento grupal, e um tipo de conformismo intelectual. Se Marshall McLuhan estava correto e “o meio é a mensagem”, então se o meio é a escola burocratizada, a mensagem significa a burocratização da mente humana. O fato de que bilhões de dólares têm sido despejados neste tipo de educação, e que produza resultados crescentemente desanimadores ano após ano, atesta um tipo de estupidez em massa – uma preparação para as algemas intelectuais.

Considere o que nossas escolas ensinam agora: o livro texto padrão do ensino médio apresenta o senador Joseph McCarthy como o principal vilão da história americana, e Martin Luther King Jr como o principal herói. Muito pouco é dito sobre George Washington ou os Pais Fundadores. As sempre presentes e subversivas entrelinhas reencaminham-nos para o racismo, o sexismo e o imperialismo americano. Sim, este é o tipo de história que é ensinado nas escolas americanas. Os Pais Fundadores eram proprietários de escravos, certo? George Washington era rico, certo? Mesmo Lincoln era racista. E se um calouro do ensino médio não souber nada mais sobre a história do país, saberá isto. Um julgamento moralista sobre o passado é apresentado, mostrando nossos antepassados como racistas e homofóbicos. Desta forma o passado é descontinuado. Desta maneira uma guerra é travada contra certas tradições e sentimentos, todos apresentados de modo parcial por burocratas educacionais. É claro, tudo que é apresentado é factual – ou na maior parte factual. É apresentado, entretanto, a estudantes que não foram ensinados a ler corretamente. A estes estudantes nunca foram dadas tarefas de organizar suas próprias ideias, desde que suas ideias já foram organizadas para eles. Os fatos utilizados nos livros didáticos são cuidadosamente selecionados com antecedência, através de um processo de cuidadosa edição.

Edmund Burke certa vez comentou sobre os revolucionários franceses:

“É indubitavelmente verdade, embora possa parecer paradoxal. Mas em geral, aqueles que são habitualmente empregados em buscar faltas e mostrá-las são incompetentes para o trabalho de reforma: porque suas mentes não são apenas desguarnecidas de padrões de justiça e bem. Mas, pelo hábito adquirido, não têm nenhum prazer na contemplação destas coisas”. 

O ensino de história tornou-se um tipo de desmontagem do passado, uma difamação de nossos antepassados. Isto não ajuda aos jovens de modo algum. Ao contrário, prejudica-os. Desarma-os frente aos inimigos. Preenche-os com um vago sentimento de culpa. E como diz Burke, deixa-os sem inspiração positiva.

Muitas décadas atrás, Jose Ortega y Gasset observou que a universidade moderna “abandonou quase inteiramente o ensino e transmissão da cultura”. E não há dúvida de que ele estava certo. Ocorreu uma desconexão gigantesca. Falhamos em transmitir nossa história, e também falhamos em transmitir nossa cultura. A outra face desta moeda é a guerra coletivista contra o indivíduo. Amputado de seu patriotismo e senso de autopreservação nacional, o indivíduo é amputado de autonomia por um processo de “facilitação” (dumbing down). Aqueles que são ignorantes ou incompetentes devem ser seres humanos individualmente inúteis. Tais pessoas são facilmente manipuladas por demagogos enganadores.

Robin S. Eubanks escreveu um livro intitulado Credentialed to Destroy: How and Why Education Became a Weapon (em tradução livre: Credenciado para Destruir; Como a Educação Tornou-se uma Arma). Ela argumenta que ultimamente a educação pública tem sido propositadamente projetada para impossibilitar o desenvolvimento intelectual das crianças. Próximo ao fim do livro, na página 358, ela escreve: 

“A educação no século XXI não é mais um fim. É um meio de dominação, enriquecimento e exploração por uns poucos autonomeados. Por isso quando você penetra através das camadas das teorias educacionais contemporâneas... é sempre a consciência humana sendo manipulada e modificada via educação. A educação fica como a última arma na interminável luta contra o indivíduo...”

Fui convidado recentemente para ouvir uma palestra da Srta Eubanks na qual ela disse: “Isto diz respeito a poder político. Não há prosperidade em massa quando poder político e poder econômico são combinados”. E isto é o que as escolas estão tornando possível nas mentes dos estudantes, isto é, a tomada da economia pelo estado. Em seu livro ela destaca educadores que estão citando Karl Marx (de modo elíptico) a respeito da coletivização da mente “pela conversão dos objetivos individuais em objetivos gerais”. De acordo com Eubanks “isto é mais fácil de fazer se o indivíduo é apenas marginalmente letrado com pouco conhecimento factual”.

Isto é uma coisa terrível de se fazer à juventude, e não é a única coisa terrível sendo feita. O ataque à história, a desconexão cultural e a “facilitação” dos alunos é acompanhada por uma franca negação da própria natureza humana. Esta é a parte do assalto à educação que revela o jogo. Por milhares de anos os filósofos têm argumentado a respeito da natureza humana, mas poucos negaram a existência dela. Tal negação é, na verdade, contrária à razão se considerarmos a definição da palavra 'natureza' (como dada pelo Google): “os traços básicos ou inerentes a algo, especialmente quando vistas como características dele” (NT: a busca em português retorna: “o que compõe a substância do ser; essência; combinação específica das qualidades originais, constitucionais ou nativas de um indivíduo, animal ou coisa; caráter inato”). 

Seria absurdo argumentar que seres humanos não têm características básicas ou inerentes. Embora isto seja o que modernos cientistas sociais e educadores têm ensinado a acreditar. Se isto soa estranho, leia o registro no blog Racionally Speaking for 17 November 2008. É intitulado “Existe tal coisa como natureza humana?” (Is there such thing as human nature?) - escrito pelo professor Massimo Pigliucci, um “filósofo” na City University de Nova Iorque. Pigliucci relata um incidente quando estava ministrando um curso na Stony Brook University com outra professora. “Em algum ponto a questão 'natureza humana' veio à tona, e minha colega olhou para mim com um misto de surpresa e piedade. Natureza humana, ela afirmou, é um conceito pitoresco que foi abandonado há muito por estudiosos sérios...”

Em The Blank Slate: The Modern Denial of Human Nature, de Steven Pinker, lemos como a batalha acadêmica contra o próprio conceito de natureza humana tem envolvido “calúnia política” e “ataques pessoais” contra pesquisadores que sustentam a ideia de que a humanidade possui “características básicas e inerentes”. De acordo Pinker, “o tabu sobre a natureza humana não apenas pôs antolhos nos pesquisadores, mas transformou qualquer discussão do tema em heresia que deve ser erradicada. Muitos escritores estão tão desesperados para desacreditar qualquer sugestão de uma constituição inata da natureza humana que lançaram a lógica e a civilidade pela janela”. É claro, isto é esperado na medida em que uma guerra está sendo travada ao nosso redor. Pois esta negação da natureza humana não é um jogo acadêmico tolo. É, de fato, uma guerra travada a sério, de acordo com um conceito estratégico que requer que certas ideias prevaleçam. Estas ideias, verifica-se, estabelecem o estágio de assalto geral aos pilares que sustentam a sociedade civil. Pois como Pinker explica em seu livro: “ A negação da natureza humana tem se espalhado sobre a academia e tem levado à separação entre a vida intelectual e o senso comum”.

Na guerra psicológica, travada para derrotar a sociedade existente, a eliminação do senso comum pode ser entendida como a negação de nossos instintos básicos. Primeiro, uma negação do instinto de autopreservação; segundo, uma negação dos instintos de maritais; terceiro, a negação dos instintos de maternos. Todas estas negações são observáveis nas políticas externa e doméstica dos EUA. Podem ser vistas em nossa política comercial, nas finanças governamentais, nas Varas de Família e – sim – na educação.

O programa educacional da América atual é a negação da natureza humana, do senso comum humano e dos instintos humanos. Para evitar a violência do caos e a guerra civil um país deve possuir várias instituições onde a autoridade legítima seja exercida. Esta autoridade depende do senso comum e do instinto (isto é, da natureza humana). Para funcionar adequadamente uma família requer a autoridade de um pai, que é a autoridade “patriarcal”. Em termos de governo nacional, podemos nos referir ao patriarcado dos Pais Fundadores.

Não me cabe provar que esta autoridade tenha um componente sexual. Pergunte a qualquer mãe de adolescente. Nenhuma prova adicional é necessária. Se a autoridade masculina é negada, o que acontece à masculinidade e o que acontece à autoridade? Elas colapsam? Estará aquela castrada e esta neutralizada? Para conseguir isto tem-se o recurso da defesa da homossexualidade. Pois o masculino, por natureza, rejeita o homossexual e tem – através de toda a história – se oposto à homossexualidade, a qual considera “efeminada”. Pela normalização da homossexualidade, a autoridade natural do masculino é negada. Uma vez mais, a tática adotada preenche um fim estratégico. O caminho está pavimentado para a revolução. A tradição não pode ser mantida na igreja ou no estado. Ela sucumbe e todas as formas de autoridade sucumbem com ela. Pois todas elas estão enraizadas no patriarcado, e o patriarcado não pode coexistir com sua nêmese. Uma profunda anarquia e mutabilidade surge na sociedade quando a moda suplanta os princípios, a permissividade suplanta a disciplina e o emocionalismo oprime o entendimento racional.

Não é coincidência que a educação atual produza efeitos nocivos à autoridade política e religiosa, aos princípios, à disciplina e à razão. O que é intrigante é o modo pelo qual todos estes desenvolvimentos servem ao interesse estratégico de um poder particular e a uma causa particular – quase como se estivéssemos olhando para um método clandestino para desorganizar a sociedade. Surpreenderia se este método tivesse sido desenvolvido muito tempo atrás por Willi Münzenberg (1889-1940) da Internacional Comunista? “Devemos organizar os intelectuais”, disse ele à Terceira Internacional Comunista. “Devemos evitar sermos puramente organizações comunistas”. Pois nestas circunstâncias muitas sementes devem ser plantadas nas mentes de crianças impressionáveis e adultos jovens. Em The ABC of Communism N.I. Bukharin e E. Preobrazhensky escreveram: “o Partido Comunista não é confrontado apenas com tarefas construtivas, pois nas fases iniciais de sua atividade ele é confrontado do mesmo modo com tarefas destrutivas. No sistema educacional... deve acelerar a destruição de tudo que faça da escola um instrumento de domínio da classe capitalista”.

Isto não implicaria a destruição do senso comum, a negação da natureza humana e do instinto, a negação da autoridade legítima e da ordem civil? Münzenberg acreditava que todos os aspectos da sociedade constituem o novo campo da batalha política. E o patamar superior desta batalha encontra-se na educação; e este patamar superior deve ser confiscado na primeira oportunidade. As vítimas desta batalha não podem ver que estão sob ataque. Elas não sabem o que é uma arma cultural, ou como a guerra psicológica pavimenta o caminho para sua eventual destruição. Nossos líderes e nosso povo acreditam que o instinto é um mito usado por reacionários para preservar o privilégio masculino e sua lamentável "homofobia". Fora com a masculinidade! Ela é reacionária! Ela é uma ameaça! 

“Nenhum pastor, e um rebanho”, escreveu Nietzsche. “Todos desejam o mesmo, todos são iguais: aquele que tem outros sentimentos que vá voluntariamente para o hospício”.

A Suprema Corte declarou que casamento é entre homens ou entre mulheres, e que uniões deste tipo não são diferentes da união entre homem e mulher. Isto mostra que o veneno alcançou órgãos vitais. E não temos antídoto. Na verdade, fabricamos o veneno nós mesmos e não precisamos dos criadores do veneno para continuar a produzi-lo.

“Um pouco de veneno de vez em quando e produzem-se sonhos agradáveis”, escreveu Nietzsche. “E muito veneno no fim, por uma morte agradável”.
POR JEFFREY NYQUIST http://jrnyquist.com/
Tradução: Flávio Ghetti